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DO!SJornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBHA o 30 • úmero 189 • Outubro de 2012 • Belo Hor zo te/MG

Desvendamos o corredorl ter r o de Belo Hor zo te

páGinAs 6 e 7

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Ac ibi i a Impressão2 Belo HorIzonte, outuBro de 2012

As di culdades e as conquistas do acesso à arte

Marc la MartinsRaqu l Braga6º PeRíodoe içã : dany Starling

Tornar a cultura acessível talvez seja ogrande projeto dessa década – tanto queos eventos culturais gratuitos têm crescidoem número e tamanho, especialmente emBelo Horizonte. O sem número de proje-tos promovidos por governo e iniciativaprivada também reforçam a máxima deque se tornou definitiva a consciência deque a cultura é um direito de todos.

Mas quem são todos? A pergunta nosfaz repensar se o olhar sobre as minoriastem sido tão includente quanto deveria.Não só do aspecto econômico vive a igual-dade – o cardápio cultural deve atendertambém a quem tem outros tipos de limi-tações. As físicas, por exemplo.

O artigo 12 da Lei nº 10.098, tambémconhecida como Lei da Acessibilidade,prevê que “locais de espetáculos, confe-rências, aulas e outros de natureza similardeverão dispor de espaços reservados parapessoas que utilizam cadeira de rodas e delugares específicos para pessoas com defi-ciência auditiva e visual, inclusive acompa-nhante, de acordo com a ABNT, de modoa facilitar-lhes as condições de acesso, cir-culação e comunicação”. Mas será que os45,6 milhões de brasileiros que possuemdeficiência conseguem realmente usufruirdos espaços culturais?

Convidamos a cadeirante Cláudia An-drade de Barros e a deficiente visual Ana

Pereira Borges para nos ajudar a fazer umaleitura urbana. Elas visitaram conoscodois dos principais espaços culturais dacidade: o Palácio das Artes e a Praça da Li-berdade. Os desafios encontrados por elassão vividos, diariamente, pelos portadoresde deficiência que querem participar daagenda cultural em Belo Horizonte.

Embora a capital esteja caminhandopara um nível considerado bom de aces-sibilidade, de acordo com o coordenadormunicipal de Direitos das Pessoas Porta-doras de Deficiência, José Carlos DiasFilho, muitos espaços fizeram adaptações,mas ainda deixam a desejar. Para Cláu-dia Barros, um dos maiores problemasé receber informação de que um lugar éadaptado e perceber, na prática, que ain-da existem muitas falhas. “O que mais meincomoda é acessibilidade pela metade”,ressalta.

Dias Filho reforça que o conceito deacessibilidade é mais abrangente do quea simples eliminação de barreiras físicas.“Antigamente, predominava essa ideia,mas hoje a acessibilidade incluiu tambémas barreiras de comunicação”, explica. A Lei determina, por exemplo, que os espa-ços culturais possuam intérprete de libras,

audiodescrição, adaptação de materiais dedivulgação e sites acessíveis. O problema éque, embora a Lei de Acessibilidade tenhasido instituída em 2000, a realidade aindaestá distante do ideal.

A Assembleia Legislativa aprovou,no último dia 25, a Proposta de Emen-da Constitucional (PEC) apresentadapelo deputado estadual Dalmo Ribeiro(PSDB), que prevê que as atividades e osserviços a cargo do Estado na busca daequidade no espaço público devem ser ar-ticulados com os municípios. “Essas açõesdevem prezar pela inclusão social das pes-soas com deficiência”, diz Ribeiro. No in-terior, as atrações culturais acessíveis sãoainda mais raras do que na capital.

Atualmente, a efetivação das medidasprevistas na Lei depende, essencialmente,de uma fiscalização eficaz. “A fiscalizaçãocomeça de forma educativa. Cada órgão

deve agir nas áreas de sua competência. OMinistério Público, a Defensoria Pública eo Procon ficam responsáveis por fiscalizarde todos e pela autuação”, explica Dias.Caso as alterações necessárias não sejamfeitas pelo local notificado, são aplicadasmultas. Mas é de extrema importânciaque os cidadãos também atuem como fis-calizadores e levantem a bandeira da aces-sibilidade.

L itura urbanaCom ajuda da cadeirante Cláudia e da

deficiente visual Ana, visitamos o Paláciodas Artes e a Praça da Liberdade. O Palá-cio foi escolhido por ser o grande centrocultural da cidade, e a praça por receberos principais eventos artísticos da capital.Cláudia coordena o Centro de Educação Ambiental do Bairro Serra Verde, emBelo Horizonte, e Ana estuda Jornalismono Centro Universitário de Belo Horizon-te (UniBh).

Cultura sem

barr iras

Não só do aspecto

econômico

vive a igualdade –

o cardápio cultural

deve atender

também a

quem tem

outros tipos

de limitações.

As físicas, por exemplo.

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Ac ibi i aImpressão 3Belo HorIzonte, outuBro de 2012

Paláci , a xc lência a ac ssibili a

É bem no coração da cidade quefica o espaço cultural mais famoso deBelo Horizonte. O Palácio das Artes é

mesmo majestade no quesito progra-mação cultural: recebe os principaisshows, peças e exposições do circuito

nacional e internacional. Mas seráque esse reinado é para todos?

Chegamos ao Palácio das Artes

pouco depois das 10h e o local nosrecebeu de portas abertas e largas,adequadas para a passagem de cadei-rantes. A entrada também conta comuma rampa e corrimão. Bem em fren-te ao local, duas vagas são reservadaspara deficientes.

Cláudia e Ana avaliaram ohalldoPalácio como um local bem adapta-do, sem desníveis e sinalizado. Anasó fez uma ressalva: “O piso é muitoescorregadio”. O relações públicasOliver Zuccoli foi convidado a nosacompanhar na visita. “Para fazer visi-ta guiada, basta agendar um horário”,comenta.

Segundo Zuccoli, a parte adminis-trativa do prédio ainda possui a es-trutura original, mas a parte externafoi toda adaptada. O Grande Teatropossui rampas de acesso e poltronasreservadas para cadeirantes. Deficien-tes visuais são orientados pelos segu-ranças do local, que os acompanhamaté as poltronas.

Ana não teve dificuldade para aces-sar o piso inferior; foi pela escada, quetem corrimão e piso antideslizante. JáCláudia passou aperto no elevadorpara deficientes. “Ele é aberto. A úni-

ca segurança da pessoa é segurar numapoio. Além disso, é muito apertado,corre o risco do pé do cadeirante fi-

car preso entre a parede e o chão doelevador na hora da subida”, afirma.Segundo ela, um vidro fechando o ele- vador resolveria o problema. Já os ba-nheiros estão de parabéns, na opiniãodas duas. As portas são largas, o apoioestá bem posicionado e existe uma piamais baixa.

O Cine Humberto Mauro estátotalmente preparado para receberCláudia, mas Ana não conseguiriater acesso aos filmes: a sala não con-ta com o recurso de audiodescrição.“Não conheço nenhuma sala em BeloHorizonte que seja adaptada paradeficientes visuais”, conta a estudan-

te de jornalismo, que vai ao cinema,mas só consegue acompanhar a partefalada dos filmes.

Na opinião de Zucolli, o Paláciorecebeu no ano passado uma exposi-ção sensorial, mas eventos desse tipoainda são pouco comuns.

Por fim, chegamos ao café e aosdois jardins, onde encontramos lixei-ras e bebedouros adaptados. Os jar-dins são muito usados para eventos aoar livre, um convite à vivência da arte– que, felizmente, se estende tambémaos deficientes físicos.

Lib r a para qu m?Quae sera tamen, a acessibilidade vai ter de che-

gar à Praça da Liberdade. Contudo, na opinião dequem vive o problema, a adaptação já está mais doque tardia. Não é para menos: o local é um dosmais movimentados e populares espaços culturaisda capital, mas ainda é uma opção que deficientesfísicos têm de descartar.

Logo que chegamos à praça, surgiu o primeiroproblema: a calçada ao lado da vaga de deficientesera mais alta do que o adequado, o que exigiu maisesforço de Cláudia. Ela aproveitou para dar seu tes-temunho a respeito de estacionamentos na capital.“Quase sempre as vagas estão ocupadas por pessoassem deficiência. É um absurdo. Antes eu brigavacom o governo, que não reservava os locais, masagora tenho que reclamar da população, que nãorespeita”, desabafa.

Atravessar a rua foi outro problema: toda a cal-çada da praça é cercada por uma canaleta de água,o que a torna ainda mais alta. Não existe rampapara cadeirantes nem nenhum tipo de sinalizaçãopara deficientes visuais. Na praça, Ana falou quesua principal dificuldade é ter noção de onde está.“Não há nenhum tipo de orientação, nada que mepermita saber se ainda estou na praça, ou se descipara a avenida”, explica. Além disso, o piso próxi-mo aos jardins é rebaixado, inclusive nos lugaresonde havia bocas de lobo.Para atravessar de um lado para o outro da pra-ça, mais problemas. Existe uma rampa de acesso,porém muito íngreme. O calçamento do corredorcentral é de pedrinhas, o que faz com que a cadeirafique trepidando. A solução é simples: basta colo-car uma faixa de cimento. Outra faixa deveria serfeita verticalmente no corredor, para que o cadei-rante pudesse se movimentar de forma mais ágil.“Durante um evento, preciso subir a rampa no iní-cio do corredor e me movimentar pela praça, nor-malmente lotada, para chegar na outra rampa, jáno final”, explica Cláudia.

Para elas, muitos dos espaços cultu-rais no entorno da praça apresentamproblemas na estrutura. “Existe um de-grau logo na entrada do Museu das Mi-nas e do Metal”, observa Cláudia. Anaafirma que não sabe de nenhuma atra-ção adaptada para deficientes visuais nocircuito cultural da Praça da Liberdade,que foi inaugurado recentemente, noque deveria ser a era da acessibilidade.

Por fim, depois de um passeio cheiode percalços, chegamos ao coreto cen-tral, onde só pode subir quem encarauma escada, sem piso tátil. Nós ficamosdo lado de baixo: a Liberdade aindanão é para todos.

Avaliação do Palácio foi positiva, mas há espaço para melhorias

Fotos: Marcela Martins e Raquel Braga

Apesar dos avanços, cadeirantes aindaenfrentam di culdades para transitarpela capital

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p fImpressão 5Belo HorIzonte, outuBro de 2012

P qu n gran min ir Ator Glicério Rosário se destaca na TV e no cinema

Sh ila F rnan s6º PeRíodoe içã : dany Starling

Ele é mineiro, tem 40 anos, 23 de-dicados à arte. O trabalho desse poliva-lente artista é reconhecido e premiadoem Belo Horizonte com justiça, poisdomina como ninguém a atividadeque escolheu como ofício. Seu traba-lho se divide em atuar, dirigir e escre- ver o próprio texto. Sua versatilidadepode ser comprovada também nas cria-tivas campanhas publicitárias, para as

quais o ator é muito solicitado.Glicério Rosário fez sua estreia emteatro com uma montagem amadorana escola em que estudava, com o tex-to Pluft, o Fantasminha, de Maria ClaraMachado, em 1989. Ali, o jovem, en-tão com 17 anos, encantou-se com apossibilidade de ser artista e poder secomunicar com o mundo de um mododiferente e totalmente novo. Logo de-pois, participou da montagem de umtexto do escritor Guimarães Rosa,Pri-meiras Estórias, em 1992, sob a batutado diretor João das Neves. Dessa ex-periência, surge o primeiro grupo deteatro de que fez parte, Reviu a Volta,

então amador.Mas naquela época existia uma bar-reira que separava o teatro amador doprofissional. O próprio ator tinha seuspreconceitos: “Quando comecei, haviauma visão mais aguerrida dos palcos,por causa do trabalho em grupo. Nomercado, existia forte dicotomia emrelação ao teatro feito dessa forma eaquele realizado por produtores. Eusó havia trabalhado assim e tinha umaposição carregada de pré-conceitos. Além disso, via com desconfiança toda

atividade teatral que envolvesse dinhei-ro. Mas após passar por movimentos efestivais, consegui mudar meu modode ver as coisas. Não só minha visãoficou mais flexível, como também a re-alidade político-cultural mudou. Hoje,entendo que grupos de teatro podemser ótimos produtores e, ao mesmotempo, consigam provar suas qualida-des artísticas”.

Foi exatamente o trabalho em gru-po que amadureceu o ator e o preparoupara sua estreia como profissional, em1992, com a Cia. Sonho e Drama no

espetáculoCaminho da Roça, dirigidopor Cida Falabella. Após esse traba-lho, vieram novos desafios. Nos anosde 2006 e 2007, Glicério participou dedois longas metragens:Batismo de San- guee Pequenas Histórias, produções mi-neiras com direção de Helvécio Ratton.

Com corpo miúdo e cabelos ruivos,Glicério se agiganta quando está nopalco. Prova disso é seu recente traba-lho,São Francisco de Assis à Foz, peça te-atral que concebeu, assim como crioua montagem, em parceria com Geral-do Octaviano. O espetáculo recebeu,na premiação do Sesc Sated 2011, deuma só vez, os prêmios de melhor ator,

diretor e espetáculo.Devido às impecáveis apresenta-ções, o ator chamou a atenção de pro-dutores de elenco da Rede Globo. Em2010, foi convidado a viver o Setem-brino emCordel Encantado, novela quefoi ao ar às 18h. Antes disso, já haviaparticipado de outras novelas na TV eminisséries, mas em participações me-nores. Foi emCordelque o ator teve achance de mostrar seu trabalho para ogrande público e, também, usufruir daoportunidade de contracenar com ato-

res de nome, como Marcelo Novaes eMarcos Caruso.

O trabalho em TV foi decisivo parasua carreira. “Fazer novela derrubou vários preconceitos meus quanto àqualidade de interpretação do ator emtelevisão. Mostrou-me a necessidade deuma técnica específica (atuar para a câ-mera) e as possibilidades de se fazer umtrabalho com qualidade”, avalia. “Con-segui entender o quanto o teatro auxi-lia a interpretação para a câmera, maso quanto é necessário fazer a distin-

ção de um e outro veículo. Trabalharcom atores tarimbados ajuda muitopara quem está pouco habituado à lin-guagem. No meu caso, devo ter dadomuita sorte, pois tive relacionamentosprofissionais muitos saudáveis, mesmocom aqueles que são considerados ce-lebridades. Destaco a parceria e o com-panheirismo do Marcelo Novaes, comquem fiz dupla na novela. Aprendi bas-tante com ele”, completa.

Glicério, porém, não sossega. Malterminou de fazer a novela e já estáse preparando para encarar mais umdesafio. “Estou ensaiando com o ator

Claudio Marcio uma nova montagemcom a direção de Geraldo Octaviano.É uma criação inspirada em Edgar Allan Poe e seu famoso poema ‘O cor- vo’. A ideia é fazer um espetáculo cô-mico que homenageia o estilo trágico. A previsão é estrear no fim de outubrodeste ano. Em cinema, vou participardo longa de Helvécio Ratton,O segredodos diamantes, que será rodado na cida-de do Serro”.

Toda essa dedicação ao trabalhomostra o entusiasmo do autor com acena cultural de Belo Horizonte e como fortalecimento das políticas culturais,como investimentos em pesquisas, leis

de incentivos e programas de governoque favorecem a arte e estimulam a ca-pacidade criativa dos artistas mineiros.De acordo com Glicério, “a criaçãoteatral está menos polarizada que há10 anos. Fatores como campanhas depopularização do teatro, festivais nacio-nais e internacionais, leis de incentivoe captação influem muito nisso. Creioque, hoje em dia, apesar das dificulda-des que ainda existem, as montagensrealizadas conseguem ter mais recursosque viabilizam a pesquisa, a produção ea circulação. Isso contribui para a quan-tidade e a qualidade do que é feito”.

Glicério em ação na peça São Francisco de Assis à Foz

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li a a Impressão6 Belo HorIzonte, outuBro de 2012

Para g sLivrarias Ouvidor, Scriptum e Quixote transformam um pedacinho

dany Starling7º PeRíodoe içã : J ã Lu s Chagas

Acordar mais tarde, sem a correria do dia a dia ea obrigação de chegar cedo ao trabalho ou na escola.Colocar uma roupa mais despojada, confortável, umsapato que não aperte os pés. Dirigir por ruas mais vazias, livres do costumeiro trânsito infernal. Encon-trar os amigos e, em meio a um café, botar o papo emdia. As manhãs de sábado são um autêntico convite àliberdade, à indolência e ao prazer.

Nos últimos anos, os belo-horizontinos encontra-ram uma alternativa agradável para aproveitar essasmanhãs. Fora dos parques, praças e clubes, o pontode encontro é na Savassi, bairro tradicional da capi-tal mineira, famoso pelos barzinhos com mesas nascalçadas, mas também por suas livrarias. Charmosas,modernas e intimistas, elas proporcionam um lazerincomum, porém saboroso, aos moradores da cidade.

São dezenas delas, espalhadas pelas ruas e aveni-das do bairro. Mas um pedacinho em especial podeser considerado o circuito cultural da Savassi. Afinal,são três livrarias num espaço de pouco mais de 150metros. Do começo da Rua Fernandes Tourinho,cruzando a Pernambuco, até a esquina com a Getúlio Vargas, estão a Scriptum, a Quixote e a Ouvidor. Ver-dadeiro deleite para os amantes dos livros.

Nem só de livros, contudo, vive a tríade da Fer-nandes Tourinho. Afinal, eles podem ser compradosem qualquer lugar. Na internet, pelo telefone ou nasinsossasmegastores dos shopping-centers. Mesmo naslivrarias de rua o cliente encontra um clima aconche-gante, atendentes simpáticos e que conhecem do as-sunto, além de obras que fogem à mesmice dosbest sellers e dos títulos de autoajuda.

A Quixote vai além. Enquanto escolhe qual livro vai comprar, o cliente pode tomar café, suco, cerveja

ou, até mesmo, um bom vinho. Numa dessas manhãsde sábado, um frequentador degustava uma cachaci-nha, enquanto liaO Terceiro Reich em Guerra , últi-mo volume da trilogia sobre a Alemanha Nazista.

C nc rrência sau áv lSe não possuem o serviço de bar

e lanchonete, a Ouvidor e a Scrip-tum têm boas opções gastronômicasem seus vizinhos de porta. Mesinhasnas calçadas misturam sucos, salga-dos e tortas apetitosas com livros dasmais variadas espécies. A união agra-da aos consumidores, que, muitas vezes, saem de casa de barriga vazia edeixam para tomar o café da manhãjunto à sua leitura favorita.

“Como trabalhamos com obrasselecionadas, o preço influenciamuito pouco na decisão de compra.É o mesmo praticado na internet ounas grandes redes. Mas, na livrariade rua, o cliente encontra, além dolivro, um lugar especial, com músi-ca ambiente agradável e a opção detomar seu café, sua cerveja e encon-trar amigos. É um espaço de convi- vência”, avalia o dono da Quixote, Alencar Perdigão.

Há nove anos na Fernandes Tou-rinho, Alencar revela que a presençada Scriptum e da Ouvidor – além doCafé da Travessa, fechado este ano– influenciaram na decisão quandoescolheu o ponto de sua loja. “Já eraum lugar registrado, um verdadeirocorredor cultural de Belo Horizonte,onde as pessoas estavam habituadas

a passear”. A chegada de mais uma livraria tornourua ainda mais atraente.

Quixote está há nove anos na Fernandes Tourinho; Scriptum, há 11. Ambas, contudo, consideradajovens quando comparadas com a Ouvidor. Pioneirtal como o explorador português que dá nome à ruonde está instalada, ela desbravou o local em 1974. que garante ao menos três gerações de clientes fiéque passam, de pai para filho, o gosto pela leiturapela convivência entre os livros.

Quem conhece bem essa história é o atendent Adriano dos Santos, que chegou à Ouvidor quandainda era adolescente. Hoje, 26 anos depois, ele vboa parte de sua clientela crescer. “Muitos meninoque vinham trazidos por seus pais, chegam, hoje coseus filhos, que vão escolher e comprar seus primros livros. A renovação é muito grande. E gratificantambém”, conta.

Experiente, Adriano viu a chegada das outras livrias na vizinhança. O que, para ele, não é problem“A concorrência estimula. Talvez não trabalhássemtanto para manter a qualidade da loja e do atendimento se elas não estivessem por aqui”, entende vendedor, que comemora o aumento na circulação dclientes. “A pessoa sai de casa para ir a uma livrarmas acaba passando nas outras, não tem jeito”.

Para Welbert Belfort, o Betinho, dono da Scriptum, a circulação de clientes é importante sob doaspectos. “Você conjuga cultura e economia. Ter trlivrarias tão próximas é um chamariz muito forte. público transita pelas lojas, compra um livro aqui, otro acolá. Todos saem ganhando”, afirma o livreirque trabalhou na Livraria Leitura por dois anos antde investir em um negócio próprio.

ev nt s bstácul sSe uma simples visita às livrarias já é diverti

os eventos promovidos pela Ouvidor, Scriptum Quixote despertam a atenção do público habitual atraem mais visitantes. Os sábados são marcados plançamentos de livros, debates com autores, leitur

Fotos: jéssica amaral

Pioneira: Livraria Ouvidor está na Fernandes Tourinho desde 1974

Livros, cafés e guloseimas. Quixote se transforma em espaço de convi

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li a aImpressão 7Belo HorIzonte, outuBro de 2012

ar l ra Rua Fernandes Tourinho em corredor cultural de Belo Horizonte

de textos ou oficinas literárias, muitas vezes, nas trêslojas ao mesmo tempo, de modo a unir centenas depessoas nos dois quarteirões. “O sábado já se tornoucaracterístico e os clientes se habituaram. Trazem afamília, os amigos. Outros autores aparecem para tro-car ideias, iniciar um novo projeto”, explica Betinho.

Alencar e Betinho se orgulham do trabalho reali-zado pelas livrarias, mas lamentam a falta de incen-tivo público. “Os governantes gostam de apontar aSavassi como circuito cultural de Belo Horizonte, masnão fazem nada para ajudar. Não temos nenhum tipode apoio, seja do governo municipal ou estadual. Aslivrarias só permanecem graças à resistência dos do-nos”, revela Betinho.

Alencar faz coro com o colega. “A concentração delivrarias não ganha menção sequer no catálogo da Be-lotur e não aparece nos guias de turismo. Se a admi-nistração pública se preocupa com a cultura, deveriaatentar para esse ponto. Na França, por exemplo, ogoverno subsidia aluguéis e dá incentivos fiscais. EmBH, nós não temos nenhum tipo de ajuda”, lamenta.

A reforma da Praça Diogo de Vasconcelos tam-bém foi criticada, não somente por ter provocado ofechamento da Travessa. “Tiraram 300 vagas de esta-cionamento da região. No rotativo, esse número ga-nha muito mais proporção. O beneficiado com tudoisso foi o [shopping] Pátio Savassi”, reclama Betinho,entre um cigarro e outro.

Betinho revela que os donos de livraria estão seunindo para levar essas questões ao poder público. “Jáfizemos uma reunião prévia e outra será feita agora nofim de outubro”. Além das queixas aos governantes,os livreiros discutem a possível formação de uma pes-soa jurídica única para fins de importação, comprasem maior volume, maior rapidez na chegada de lança-mentos e redução dos custos.

Se os problemas são grandes e as despesas aumen-tam sem parar, onde os livreiros encontram motiva-ção para continuar com seus negócios? “Na satisfaçãode ver o cliente achar a obra que procurava há tempose não encontrava. Seja para seu lazer ou trabalho. Isso

faz valer a pena”, diz Betinho. Para Alencar, “viver nomeio dos livros é fundamental. Promover ideias, fazerparte do circuito. Mesmo com a ansiedade de não po-der ler tudo que gostaria”.

Ao contrário de outras capitais, como São Pauloe Rio de Janeiro, em Belo Horizonte ainda é possí-

vel encontrar livrarias de rua. Talvez não tanto comose gostaria. Ainda se lê muito pouco no Brasil e, nacapital mineira, os números não fogem da média na-cional. Mas, abnegadas, Ouvidor, Scriptum e Quixoteseguem firmes. Verdadeiros baluartes, refúgios da cul-tura, da arte, da leitura. Para o nosso bem.

ncia

Scriptum, livraria e editora: 75 títulos lançados nos últimos sete anos

C h ça a i ci ai iv a ia a sava i

liv a ia Ca iRua i co de te , 1.169Tel: 3261-4634

s a Ca é C a ARua per ambuco, 1.150Tel: 3261-6045www.livrariastatus.com.br

mi i ia aRua paraíba, 1.419. Tel: 3223-8092www.mineiriana.com.br

C a hia livRua paraíba, 1.342. Tel: 3227-3957

liv a ia o viRua Fer a de Tour ho, 253Tel: 3221-7473

liv a ia sc iRua Fer a de Tour ho, 99Tel: 3223-1789www.scriptum.com.br

Ca é liv a ia Q ixRua Fer a de Tour ho, 274Tel: 3227-3017www.livrariaquixote.com.br

Ca é c l aRua A tô o de Albuquerque, 781Tel: 3225-9973www.cafecomletras.com.br

liv a ia l i aAve da Cr tóvão Colombo, 167Tel: 3287-5206www.leitura.com.br

Ouv dor, scr tum e Qu xote ão ão a ú ca l vrar a da sava .Co ra o o to baca a de cultura l ter r a a reg ão.

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L ilan Stauff rNatana l Vi ira6º PeRíodoe içã :dany Starling

“A cidade se explica pela possibili-dade da diferença. E a diferença se sus-tenta pela possibilidade de construçãode espaços de cultura em comum”. Ins-pirado pelo raciocínio de Aristóteles, oprofessor da Faculdade de Educaçãoda Universidade Federal Fluminense(UFF), Paulo Carrano, acredita que acidade deve se constituir de pessoas ecoletivos diferentes. Tais espaços pre-cisam ser postos em contato, a fim deconstruir um ambiente dialógico, semperder as peculiaridades.

Exemplo das tramas urbanas, ine-rente à ideia de Carrano, é o movi-mento Hip Hop, que constitui-se deexpressões em várias áreas, com voz,cor e forma. Ao mesmo tempo em quemediam a comunicação entre os parti-cipantes dessa cultura com a socieda-de, o grafite, a dança e o rap – pilaresdo movimento – promovem a busca doexercício da cidadania. Em BH, o HipHop tem se destacado pelo surgimentoou reafirmação de muitos jovens arti-culadores, que participam do Duelode MCs. O evento ocorre nas noites desexta-feira, embaixo do Viaduto SantaTeresa, e leva ao “palco” dois duelistas,que improvisam versos.

O encarregado de estoque DouglasNascimento, conhecido como “MCDouglas Din”, reflete no rap sua noçãoparticular de cidadania. Ele acredita naforça do exemplo. “Nasci e vivo na fa- vela. Sei que muitos que estão nas dro-gas e no crime já receberam conselhos.Meu exemplo é prático. Procuro saberdas questões da cidade e das pessoas e,em cima disso, discuto os temas”, argu-

menta o MC. Além das visões otimistas, as tramascontemporâneas também abrem espa-ço à crítica. A professora e pós-doutoraem Cidades e Culturas Urbanas Re-gina Helena Alves, titular do Depar-tamento de História da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG), nãoidentifica o Duelo de MCs como fontede irradiação e ação da cidadania. Paraela, a expressão da inconformidade dosparticipantes com o suposto descasodo poder público, em relação a proble-mas que assolam a região onde ocorreo Duelo – conhecida pelo consumo de

drogas –, perdeu a potência política.“Eles podem falar da cidadania porquea cidadania é uma palavra vazia de con-teúdo. Você não sabe o que significaisso, exatamente. Estão dizendo o quê,afinal? Que a luta política é ter o ba-nheiro?”, problematiza Regina, ao citarpedidos dos participantes à prefeitura:banheiros químicos e iluminação em-baixo do viaduto.

Questões amplas, como a violência,a corrupção, a prostituição ou a açãoda polícia nas favelas seriam, na visãode Regina, mais importantes de seremdiscutidas. No entanto, avalia que o

problema não diz respeito, especifica-mente, ao movimento Hip Hop, demaneira geral, mas a outro de ordemmaior. “Existe uma institucionalizaçãoda marca, da imagem cultural da pe-riferia”, explica. A professora acreditaque o uso dessa figura – da periferiapobre, dos jovens que tentam melho-rar o padrão por meio de shows de rapou funk, ou pela pintura –, entre ou-tras coisas, acabou por criar um produ-to de troca ou venda, que nada tem a ver com a expressão da cidadania. “Háquem ganhe com isso”.

Já a história do almoxarife Daniel

Felippetto ilustra de que maneira oHip Hop mudou sua forma de expres-são. “Eu desenhava algumas coisas emcasa, mas, nas ruas, só pichava. E faziapor ibope, status ou para ganhar respei-to. Não havia uma mensagem”, admi-te. “Perna”, apelido usado por Danielpara assinar seus grafites, passou a ob-servar o traçado dos desenhos a spray nos muros e começou a se aprimorar.“Fico feliz quando alguém olha paraum grafite meu e diz que é arte”. Hoje,desenvolvendo estilo próprio, ele pro-cura transmitir, nas cores e nas formas,alegria e paz, ou mesmo um protesto,dependendo da ocasião. Recentemen-

te, inclusive, o desenhista teve uma per-sonagem reconhecida pela BibliotecaNacional. Sua criação foi patenteada e,agora, sonha em ver seus desenhos emcamisas, blusas e bonés.

Para Regina Alves, o grafite estáinstitucionalizado e perdeu potênciacontestadora e de subjeção. “O grafi-te hoje é primitivo. Existe uma açãopolítica para promovê-lo, por meio deONGs e projetos, porque o pichadorincomoda. Não quer dizer que isto seja‘menor’. É claro que o cara é um ar-tista. O que perdemos foi o lugar damistura da contestação”.

d iê Hi H Impressão8 Belo HorIzonte, outuBro de 2012

Diversidade de opiniões marca debate sobre o movimento Hip Hop em Belo Horizonte

A cidade discute a cidade

o ba a j v q K a a ci a

plural dade, co vergê c a dede a e o õe acerca da c dade

que e co tró todo o d a . O mo-v me to A Juve tude oKu a a C da-de?, cr ado em 2002 elo Ob erva-tór o da Juve tude (OJ), da UFMG, éfruto de a caracterí t ca re e te

o e aço urba o de Belo Hor zo te.Mot vado ela erce ção de que “ac dade e t r vat zada”, o ó -dou-tor em C ê c a soc a e coorde a-

dor do OJ, Juarez Dayrell, orga zou,or me o do oKu a, o amb e te de

e co tro e d logo ara o mov -mentos que levam em seu discurso aocu ação do e aço colet vo.

“A er ect va de Belo Hor zo tehoje é a te tat va de e co tru r ac dade ara ouco ”, acred ta o ro-fe or, c ta do eve to “ úbl co ”em que ão cobrado gre o . “Oe aço úbl co é úbl co, ma aqu

h uma te tat va de co tr ção. Daforma como vêm ag do o o go-ver a te , a le tura obre democra-c a ouco va re olver. Acho que e ade c ê c a e relac o a à que tão da

o tura olít ca e do rojeto de erhuma o que e rete de”, lame ta.

Dayrell acred ta o exercíc o deuma cidadania que nasce no seio da

ró r a oc edade e ão daquela queé a re e tada elo me o o c a .

A m, co tró - e o e t do da ocu-ação do e aço úbl co. “se cada

qual e egme ta o eu e aço, ate dê c a é e t mular a v olê c a. porque, a m, ão h o exercíc o da co -v vê c a com a d fere ça”, com leta.

De ta forma, o e aço urba o deBelo Hor zo te re e c a o e co tro,o co fro to e a co v vê c a com a

art cular dade or me o de mob -l zaçõe de c dadão , r c alme -

te de jove , ara ocu ar a c dade.“pra a da E tação”, “Fora Lacerda”,“Co tra Co a”, “Duelo de MC ” ãoexem lo de mov me to juvebelo-hor zo t o que trazem co -

go o d re to de re e ar e recr ar ac dade.

A ece dade de agregar eve -to como e e e romover a trocade ex er ê c a e de a e tre elemot vou o OJ a cr ar o “oKu a”. no

íc o, a at v dade ro o ta e-gu am a l ha de debate de temaco derado , elo orga zadore ,releva te ara a juve tude. Com ca-r ter ma acadêm co e voltado araeducadore , e oa de e volv amte e e e a re e tavam. pa adoalgum tem o, Juarez Dayrell lembraque “o ró r o jove começarama que t o ar e dema dar e aço

ró r o”.

Daniel “Perna” Felippetto prefere transmitir paz e alegria nos seus gra ttes

crédito

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d iê Hi HImpressão 9Belo HorIzonte, outuBro de 2012

Rafa l Arru aJ ã Lu s ChagasThalvan s Guimarã s6º PeRíodo

Fundado há pouco mais de um anoem Igarapé, na Região Metropolitanade Belo Horizonte, o Movimento deRua busca promover os elementos da

cultura Hip Hop nos municípios queficam próximos à capital. Danças, gra-fites, músicas, rimas improvisadas edesenhos são apresentados ao público,que, a princípio, demonstra certo re-ceio em relação ao conteúdo, porém,se familiariza assim que conhece demaneira mais profunda. Desse modo,as cidades de Betim, Brumadinho, São Joaquim de Bicas e Santa Luzia acom-panham um trabalho que busca desco-brir talentos, incentivar manifestaçõesculturais e quebrar preconceitos. Oprojeto é baseado no coletivo Famíliade Rua, de Belo Horizonte, criado em2007 e que promove, entre vários even-

tos, o duelo de MCs sob o ViadutoSanta Tereza, no Centro da cidade.Principal idealizador do Movimen-

to de Rua, o DJ e MC Allan Belchior,de 22 anos, é o porta-voz do grupo.Bem articulado, conta como foramseus primeiros passos no mundo HipHop. “Tudo começou na esquina darua da minha casa. Ali, conheci osgarotos mais velhos, que gostavam defazer rima. Ouvia os versos e pensava:

como eles conseguem fazer isso? Acha- va impossível. Porém, com o passar dotempo, fui treinando e sentindo quepoderia melhorar. Hoje, tenho facili-dade no improviso”, afirma Allan, co-nhecido como Two-Pé.

Para ser um bom MC, é preciso termuita criatividade. Saber ouvir mú-sicas e ter gosto pela leitura de livros,

jornais e dicionário. Até a Bíblia ajudaa ampliar o repertório dorapper . Du-rante o duelo, cada participante tem45 segundos para apresentar sua rima.No total, são dez sequências por com-bate – cinco para cada MC. A decisãodo vencedor é dada pelo voto dos jura-dos e do público. Se houver empate,um terceiro jurado é chamado. Aosque desejam aprender a rimar, Allandá um conselho. “Não fiquem pensan-do no que vão falar. Simplesmente dei- xem a imaginação fluir na hora. Ouvirrimas de outros compositores tambémé importante. Leitura, então, nem sefala. Tudo isso vem para acrescentar à

fluência do MC no duelo”, disse. Além de Two-Pé, outros talentos fo-ram revelados no Movimento de Rua,como os MCs Game, Roque Junior eLilrinox, ob-boy(dançarino) Daniel e ografiteiro Bomb. O grupo demorou umbom tempo para se consolidar na re-gião. No começo, apenas um boombox – caixa de som portátil – era utilizadopara fazer as mixagens das composiçõese pouca gente acompanhava o trabalho

dos integrantes. Porém, em setembrodeste ano, durante a realização da quin-ta apresentação na Praça da Matriz, emIgarapé, mais de quinhentas pessoasacompanharam a vitória de MC Cri-zim, de Belo Horizonte, que bateu 12adversários no duelo de rimas. Criati- vidade e ousadia não faltaram nas im-provisações protagonizadas pelos talen-

tosos rappers, que levantaram o astraldo público presente na praça.Embora os eventos realizados te-

nham recebido aceitação positiva dopúblico em geral, Allan afirma que oapoio das autoridades ainda é fraco.“Em Igarapé, a única coisa que conse-gui foi o alvará da prefeitura para colo-car o duelo de MCs em correto funcio-namento. Fui até a administração deIgarapé, apresentei os projetos que, emminha opinião, podem mudar muitascoisas para melhor, mas eles não de-ram ouvidos. Todas as edições dos due-los de MCs que apresentamos foramsem apoio. Equipamento, estrutura,

organização, divulgação, foi tudo porconta dos integrantes do Movimentode Rua”, revelou.

Assim como ocorre em Igarapé, nasoutras cidades o apoio dos governantestambém não é o esperado. Em Betim, Allan conta que existe um espaço pró-prio para a realização dos duelos deMC’s, mas a administração local nãose responsabiliza pela coordenação.“Em Betim, existe o local adequado.

Porém, é como se você jogasse um ossopara dezenas de cachorros e deixasseque eles se virassem, para ver quemficaria com a comida. Lá é a mesmacoisa, não tem a organização que nósgostaríamos. Mas não podemos recla-mar, só de ter o espaço, já é um passopositivo”, comentou.

Pr c nc it orgulhTanto a Família de Rua, em BeloHorizonte, quanto o Movimento deRua, nas cidades da Região Metropo-litana, já foram alvo de preconceito.Recentemente, em nota publicada emum jornal da capital, um famoso colu-nista social disse que “o desempenhode cantores de rap assustou os convi-dados do Baile da OAB, sobretudo asmulheres”. O baile, realizado na Serra-ria Souza Pinto, aconteceu no mesmodia em que uma edição do Duelo deMCs, que sempre ocorre sob o Viadu-to Santa Tereza. Para ir de um local atéo outro, basta atravessar a Avenida dos

Andradas, via que os separa. O colu-nista, infeliz em seu comentário, deua entender que o evento de Hip Hopatrapalhou a festa da alta sociedade voltada para os advogados.

Uma coisa que contribui para a vi-são preconceituosa é justamente o usode drogas em locais públicos. Como oduelo de MCs é um evento que ocorrenas ruas, qualquer um pode chegar e fa-zer o uso de entorpecentes no meio dedezenas de pessoas. “Todos nós somostotalmente contrários ao uso de drogadurante o evento, justamente para nãoafastar as boas pessoas do convívio. Po-rém, é difícil fazer o controle. A gentenão pode impedir quem usa cocaína,loló, maconha. Se de dez pessoas pre-sentes no Duelo, apenas uma utilizaresses tipos de drogas, o restante é mal visto pelas pessoas. Infelizmente, omundo é assim”, afirma Allan.

Para Dyonatan Antunes, de 21anos, também conhecido como MCGame, vai ser difícil ocorrer a quebratotal do preconceito por parte de algu-mas pessoas. “O preconceito sempreexistiu, em qualquer lugar e classe. De-pende muito do modo como enxerga-mos as coisas. Em minha opinião, tal- vez pelo fato de o rap ser um som que vem das ruas, criado muitas vezes porjovens de periferia, visando a culturada liberdade de expressão e descreven-do a realidade do nosso país”, analisou.Segundo Game, muitas pessoas julgame condenam o Hip Hop sem conheceros modos em que os MCs encontramas informações das composições. “Mui-tas pessoas entendem de maneira erra-da os recados transmitidos pelos MCs.Isso acaba prejudicando um pouco aimagem do rap nacional e, por essesmotivos, bons compositores acabamperdendo seus espaços”, disse.

Movimento de Rua leva elementos do Hip Hop às cidades da Região Metropolitana

A art impr vis

nas ruas int ri r

Desa o de MCs na Praça da Matriz, no centro de Igarapé

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Rafa lla Arru a8º PeRíodoe içã :dany Starling

Na atual cidade de New Essex, Estados Unidos,um homem recém-saído da prisão retorna à liberda-de com o desejo único de vingança. Condenado a14 anos após estuprar uma jovem, Max Cady (Ro-bert De Niro) parte em busca de Sam Bowden (Nick Nolte), advogado que havia assumido sua defesa nocaso e, logo após, abandonado ao tomar conheci-mento do grave estado em que a moça atacada seencontrava. Na cadeia, Cady descobre que infor-mações acerca da vida promíscua da vítima, capazesde reduzir sua pena, haviam sido omitidas pelo ex--advogado. Agora, nas ruas, ele quer se vingar, e paraisso não medirá consequências. Bowden, a esposa

Leigh (Jessica Lange) e a filha adolescente Danny (Juliette Lewis) serão os alvos desse violento psico-pata, em uma trama surpreendente sobre traição, vingança e assassinatos.

A estrutura narrativa linear deCabo do Medore- vela de, forma gradual, o perfil dos personagens. Emfragmentos breves, apresenta os protagonistas queconstituem um único núcleo narrativo: Max Cady e a família de Sam Bowden. A partir da primeira vi-rada violenta e dramática da história, com o estuproda amante de Bowden, Lori Davis (Illeana Douglas),as ameaças de Cady tornam-se fatos, o que garanteexpectativa e suspense para os próximos aconteci-mentos. O vilão revela sua perversidade e deixa clarodo que realmente é capaz.

Irônico e destemido, Cady não teme as leis e a

possibilidade de retornar à prisão. Violento, usa detoda a força física para agredir e matar. Cruel, lançamão de tortura psicológica ao fazer ameaças constan-tes e sugerir às suas vítimas as mais constrangedo-ras situações. O corpo forte e coberto por tatuagensconstitui-se numa arma letal, resultado da prepara-ção durante os anos na cadeia. Fanático religioso,recita trechos da Bíblia em momentos cruciais datrama, como durante a agressão encomendada porBowden ou no embate final, na casa flutuante. A for-te ligação com a religião e a visão estranha que pos-sui de Deus, inclusive, contribuem para tornar Cady um personagem interessante e curioso não apenasdo ponto de vista físico, mas também moral e psi-cológico. Ele surpreende em atitudes não esperadas,como ao se esconder sob um carro em fuga ou ao

se disfarçar com as roupas da empregada da família,

após assassiná-la. Também ao se aproximar de Lori

e Danny, sem revelar quem realmente é, Cady geragrande expectativa sobre quando e como se mani-festará.

A sequência entre Cady e Danny na escola é umdesses exemplos. Ao se encontrarem – após uma tra-gédia bem planejada pelo vilão –, a jovem não temconsciência da ameaça a que está submetida, o quegarante a tensão da conversa do início ao fim. Sabe-mos do mal que Cady quer fazer, mas ainda não sa-bemos de que maneira. Sabemos do que ele é capaz,enquanto ela acredita estar apenas conversando comum professor. Com diálogos inteligentes e repletosde subjetividades, a inocência de Danny, brilhante-mente representada por Juliette Lewis, se contrapõeà malícia de Cady em uma sequência envolvente. Elarepresenta o estereótipo da adolescente em fase de

transição e questionamentos, e seus trejeitos físicos,andar e olhares, nos fazem percebê-la como umajovem imatura e inexperiente, presa fácil para umamente perversa como a de Max Cady.

Sam Bowden, apresentado como um frio advo-gado e pai de família, também revela mais de seucaráter ao longo da trama, ao trair a esposa e ter pro-blemas de relacionamento com a filha. Enquantoalega sensatez ao ter abandonado a defesa de Cady 14 anos antes, Bowden se vale de métodos ilegaispara capturá-lo, quando paga capangas para agredirseu algoz. Assim, à medida que as ameaças de Cady aumentam e Bowden sente-se acuado, percebemosnele grande determinação em proteger sua família,nem que, para isso, semelhante ao rival, vá até asúltimas consequências.

Nos aspectos técnicos de direção, o uso de violên-cia extrema (mostrada com realismo), a abordagemde conflitos familiares, a tensão psicológica íntima vivida pelos personagens e a submersão destes emuma atmosfera de traição e assassinatos são elemen-tos que confirmam o estilo de Martin Scorcese. Bas-ta lembramos deTaxi Driver , Os Bons Companheiros e Touro Indomável, obras de destaque do cineasta.Por tratar-se de um suspense,Cabo do Medopriori-za a surpresa e a expectativa e tem na trilha sono-ra e na fotografia elementos essenciais de reforçodo gênero.

Cabo do Medorepresenta mais um suspensehollywoodianode qualidade. Com uma trama en- volvente, personagens fortes e um clima sombrioe ameaçador, é mais um exemplo da condução fas-

cinante de Scorcese em parceria com o brilhante

Robert De Niro.

V cê já vi ? Impressão10 Belo HorIzonte, outuBro de 2012

Cab Mtí g ê :Cabo do Medotí igi a :Cape Fear pai :E tado U doA :1991Gê :su e edi ç : Mart scorce er i a a a :We ley str ck, a art r doroma ce de Joh D. MacDo aldRemake de Círculo do Medo, de 1962, comd reção de Jee L. Thom o

Robert de Niro e Nick Nolte duelam em Cabo do Medo , de Martin Scorsese

Fotos: reprodução

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Marina Fráguas6º P re içã : J ã Lu s Chagas

Pisar na avenida do samba pela primeira vez éalgo indescritível para a maioria dos sambistas, afinse qualquer mortal que se preze, goste de samba ounão. Estar no “chão de esmeraldas” da Mangueirapode mudar o rumo de muitos bambas e, para ThaísGulin, rendeu um belo trabalho e uma identidadebem definida. Nascido de uma fantasia de Tropicá-lia, sob aborrecimentos dos amigos que diziam que

sua distração atrapalharia todo o desfile da Sapucaí,surgiu o “anti-samba”ôÔÔôôÔôÔ, no qual Thaísteve a inspiração para mesclar samba com batidas derock no final.

Da música, surgiu um álbum inteiro. EmôÔÔôôÔôÔ, título que também dá nome ao álbum,o desempenho da moça com cara e jeito de meninafoi revelado, bem como toda sua força, expressivida-de, sensualidade e uma voz bela e surpreendente. Suabanda, pertencente à classe de novos bons artistas daMPB, é composta por Fernando Caneca (guitarra e violão), Lancaster Lopes (baixo), Leo Brandão (tecla-dos e acordeom), Thiago Silva (bateria) e Johnson Almeida (trombone).

essa m ça tá if r ntMesmo antes deôÔÔôôÔôÔ, Thaís se mostrouinfluenciada por artistas livres, como ela mesma de-

fine. Até se tornar cantora, Gulin estudou teatro,atuou no cinema, participou de musicais e, após umtempo no exterior, aos 17 anos, foi morar no Riode Janeiro. A curitibana ruiva, misteriosa e com jeitodespojado, fez várias peças até enveredar de vez paraoutros palcos. Na cidade maravilhosa, montou seurepertório, conheceu pessoas do meio e conseguiudescobrir seu talento também como compositora.

A cantora preparou-se muito bem para essa estreiafonográfica. Estudou canto e violão no Conservató-rio de MPB de Curitiba. Lá, montou seu repertório,conheceu pessoas do meio e conseguiu descobrir seutalento como compositora. Bacharelada em MúsicaBrasileira na Uni-Rio, a moça simpática e de sorrisofácil, demorou três anos para conceber, formatar e,finalmente, gravar seu primeiro disco, em 2007, in-tituladoThaís Gulin, pela gravadora carioca Rob Di-gital. Com o lançamento do CD, Thaís apresentou,então, com muita consistência e qualidade artística onovo nome da música brasileira.

Thaís tem uma voz forte, capaz de alternar entrea agressividade e a sutileza, o que lhe conferiu o sta-tus de revelação musical por críticos daRolling StoneBrasile Folha de S. Paulo. A cantora também foi indi-cada à categoria “cantora revelação” no Prêmio Ri- val BR de Música Brasileira. No entanto, seu álbumôÔÔôôÔôÔe sua turnê de lançamento, na estradadesde o ano passado, foi o que adquiriu mais notorie-dade na imprensa e lançou um repertório mais mar-cante e alegre, mesclando sambas a psicodélicas can-ções. Hoje, Thaís vem causando surpresa e interessecom seu último trabalho, muito elogiado pela crtica.

Assumindo referências musicais como Tom Zé,Björk, Gal Costa, Nara Leão, Ney Matogrosso, pas-sando também por Cássia Eller e João Gilberto, acantora conseguiu tornar autêntico um trabalho quereuniu diversas influências diferentes. O disco, queretrata os dez anos em que viveu no Rio, mistura afantasia da atmosfera carioca ao realismo e à agressi- vidade da cidade encarnados na sociedade.

S m atrapalhar nrContendo composições de sua autoria, como

“Horas Cariocas”, o álbum conta com os parceirosKassin e Alê Siqueira no jazz instrumental “TheGlory Hole”; Moreno Veloso - embalador e convi-dativo “Frevinho” me deixa te mostrar pro mundo,eu quero te ensinar a festa - em que o arranjo per-feitamente equilibrado mostra o perfeccionismoda cantora na produção do seu trabalho. AdrianaCalcanhotto também contribui de forma formidá- vel para a canção “Encantada”; e Ana Carolina, quemostrou que pode fazer diferente do que vem sendoapresentado em sua carreira, com seus ótimos versosem “Quantas Bocas”.

No time dos veteranos, Tom Zé garante humor ea imersão no universo lúdico com “Ali sim, Alice” –feita especialmente para Thaís. Segundo ela, a cançãode Tom Zé se deu por meio de um pedido. “Ligueipara ele e a sua esposa atendeu ao telefone. Disse aela que queria muito que ele fizesse uma música paraeste segundo CD e ela mesma respondeu: ‘Sim, cla-ro! Ele irá fazer, com certeza!’”, conta, descontraída.

Apesar de linguagens diferentes, “Horas Cario-cas” se comunica, incrivelmente, com “Se Eu Soubes-se”. Nessa última, Chico Buarque oferece à amada abela e biográfica canção em que ambos participamnas gravações. “O Francisco disse que queria fazeruma canção para meu novo álbum. Eu respondi quesim, que seria ótimo”, conta. Certamente, Chico eTom Zé imaginaram uma menina linda, meiga dan-çando balé ao som de uma caixinha de músicas.

Thaís coloca seus anos de teatro e sua carreira deatriz em prática, mesclando talentos diversos e que

se completam de forma surpreendente. Ao longo dodisco, o espectador vai conhecendo a cantora, quetransmite suavidade, combinada com suas caracterís-ticas bem definidas. Em “Cinema Americano”, Tha-ís coloca sua sensibilidade e força irradiada da alma,e a mesma firmeza é possível notar, em sua presença,a sensualidade e o traço forte de “Revendo Amigos”.

Para Thaís, o álbum conseguiu pegar os timbresque as sensações causam. A harpa, os pianos agu-dos, a guitarra distorcida, tudo isso é capaz de gerara sensação de amor, dor, mistério, tudo aquilo queinebria. Os arranjos se encaixaram muito bem emtodas as faixas e, não podendo esquecer das mençõeshonrosas às faixas “Água” e sua malemolência, e aoindiede “Little Boxes”.

Thaís, que possui o selo Slap, da Som Livre, de-dicado à divulgação de novos artistas, embora estejafora do cenário independente, se insere na peculiari-dade e autenticidade do gênero contemporâneo, quenão foca no comercial. Longe de estereótipos clássi-cos como “nova MPB”, e de ser taxada como jovemartista que se espelha em seus precedentes, a cantoradeixa claro seu estilo e proposta definidos.

Para aqueles que esperam nada mais do que umajovem bela e com boa voz, para a imprensa que nãose cansa de referir-se a ela como “a namorada do Chi-co”, e para os demais que querem conhecer melhorseu trabalho, as músicas cantadas por Thaís deixamtodos boquiabertos e duplamente atônitos pela sur-presa e pela vontade de cantar todas as músicas doálbum.

V cê já vi ?Impressão 11Belo HorIzonte, outuBro de 2012

L v za lib r a n n v

álbum Tha s Gulin reprodução

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C ô ica Impressão12 Belo HorIzonte, outuBro de 2012

J ã Lu s Chagas6º PeRíodo

Dia 13 de agosto de 2012.

Este foi, possivelmente, umdos dias mais felizes da minha vida. O motivo? A confirma-ção do show de um certo se-nhor que atende pelo nomede Robert Plant. Para os quenão conhecem, ele foi o voca-lista da maior banda de Rock que esta pequena bolota azuljá viu: o LED ZEPPELIN.Desculpem-me os fãs dos Be-atles, mas essa é a mais pura verdade. Enquanto John Len-non se trancou em seu mun-dinho com Yoko Ono, o LedZeppelin fazia shows arreba-

tadores. Multidões assistiamaos espetácu-los psicodé-licos pro-m o v i d o spor Ro-bert Plant,

Jimmy Page, John Bonham

e Paul Jones. Osacordes, as letras e as

melodias do Led fizerama cabeça de muita gente nosanos 70. Meu pai foi um dosque foram tocados pelo som“maluco, pesado e poético”

produzido pelo quarteto.Se existe uma pessoa res-ponsável pelo meu gostomusical, essa pessoa é papai.Ele me apresentou a todos osclássicos do rock dos anos 60e 70. Foi ouvindo Led Zeppe-lin que aprendi as maiores li-ções que meu velho ensinou. A primeira delas foi quando,acidentalmente, arranhei umCD do Led que ele tinha aca-bado de comprar. Meu paificou nervoso, afinal de con-tas, ele tinha encomendado odisco para um amigo que ti-

nha ido aos Estados Unidos.Naquela época, 1992, achardiscos de bandas estrangeiras

não era fácil como hoje. Masacho que ele ficou nervoso,mesmo, porque eu coloqueia culpa na minha irmã. Nesse

dia, achei que tomaria umasurra daquelas, mas não foi oque aconteceu. Ele me sentouno colo e me deu uma liçãode moral e vida daquelas quea gente nunca esquece.

Anos mais tarde, quandojá tinha meus 13 anos, fuipego tentando roubar um CDem uma loja. O CD era umacoletânea do Led Zeppelin.Da polícia eu escapei, mas dasurra em casa não teve jeito.O “telefone” que tomei dóiaté hoje, mas a tristeza domeu pai eu jamais esquece-

rei. Depois de uma semanasem falar direito comigo, o velho me surpreendeu, mepresenteou com o CD queeu tentei roubar dias antes.Quando me entregou o disco,olhou nos meus olhos e dis-se, “O que é seu, É SEU. Oque é dos outros, É DOSOUTROS”.

Com 20 anos, chutei obalde. Estava cansado da fa-culdade que tinha escolhido,do curso que tinha escolhido,da vida que estava escolhen-do. Vendi o carro e me man-dei para a Inglaterra. Lá, laveibanheiros, servi cervejas, tro-quei carpetes, dirigi vans, fizentregas de pizza e todo tipode serviço que me dessem.Com o dinheiro que ganhei,pude presentear meu pai comuma das coisas que ele semprequis ter, mas que nunca pude-ra comprar, um LP. Tratava-sedo LED ZEPPELIN IV, quetinha sido lançado em 1971.No dia em que o presenteei,os olhos se encheram de lágri-mas. Nos abraçamos e, naque-le dia, lá no aeroporto, perce-bi o quanto aquele homemfrio, ríspido e rabugento eraimportante na minha vida.

M us h róis

Ja Vi ira6º P r

Estou no 6º período da faculdade e uma coisaestá me incomodando muito: a formatura. Não ape-nas formar – o que gera muito pânico, por não sabercomo será minha entrada no mercado -, mas o bailepropriamente dito. Que mulher nunca sonhou comfesta de quinze anos, baile de formatura e festa no ca-samento? O ritual dos quinze anos nunca quis ter, enão tive. No meu casamento, quero uma coisa linda,mas pode ser bem simples. Mas o baile de formatura... Ah, esse é o meu sonho! Só que ele está sendo frustra-do em 5,4,3,2,1... já!

Primeiro me imaginei na faculdade com aquelaturma de 50 pessoas, lindas e maravilhosas.Fail! Naminha sala não vão se formar nem vinte. Segundo:abri o portal do jornalEstado de Minase me depareicom a seguinte notícia: “Preço de aluguel de salão def BH i é 647%” E l il

R$ 2 mil e R$ 14 mil. O quê? Estou chocada! Bem quemeu salário do estágio podia variar assim também.

E não é só o lugar que me preocupa e me ameaçao bolso. Iluminação, decoração, banda,buffet, convi-tes, cerimonial, fotografia e filmagem... É muita coisapra pouco tempo e dinheiro. Se a comissão da salativesse organizado isso logo no começo do curso, atéque daria para pagar em suaves prestações. Ou não.Porque mesmo com todo o dinheiro desembolsado,roubado ou emprestado, não seria o suficiente parapagar toda a festa. Ainda teríamos que arrecadar granacom venda de rifas, festas e brindes. Você está enten-dendo? Além de me virar para arrumar dinheiro paraparcelar, teria que arregaçar as mangas para conseguirmais! Assim não sobraria nem blusa.

Mas, ainda assim, eu queria essa festa mais quetudo. Mesmo que fosse igual aos eventos aterrorizan-tes deFormaturas Infernais– um livro que reúne contosde terror que envolvem o tão esperado baile. Porém,

precisaria muito dinheiro. A morte, os vampiros e osfantasmas também querem luxo na hora de aterrori-zar, ou você acha que não? Ok! Estou voltando para arealidade, já que estes seres jamais iriam a minha festa.

Tenho que pensar numa solução, não posso deixarminha formatura ir por água abaixo ou ficar viajandona maionese... Isso! Formatura, água, viajar... Cruzei-ro Marítimo! A questão toda não é reunir a galera ecurtir a festa? Então podemos fazer isso numa viagempelo litoral, com muita diversão. E ainda conhecer vários lugares bacanas. Um cruzeiro de nove dias, pas-sando pelo Rio de Janeiro, Itajaí, Buenos Aires e Pun-ta Del Este sairia por aproximadamente R$1.100 porpessoa, podendo parcelar em até 10 vezes sem juros.Com esse valor, provavelmente, não pagaríamos nemo salão do baile. É isso! Tenho que convencer minhaturma. Vão me perguntar: “E a família e os amigos?”.Fácil, estes poderão aproveitar a colação de grau e,talvez, um jantar depois da entrega dos diplomas. O

S nhar custa car