jornal impressÃo edicao 189 caderno1

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Ao 30 • úmero 189 • Outubro de 2012 • Belo Horzote/MG Guerra santa digital Reportagem dcute uo de ova mída para expoção de creça peoa PáGinAs 8 a 11 SEM MEIAS PALAVRAS Entrevista exclusiva com Jorge Kajuru DO!S – Codo liáio, a acssívl, Hip Hop, Ld Zppli foados ico    F    o    t    o    s    :    j     é    s    s    i    c    a    a    m    a    r    a    l    m    o    t    a    g    e    m    :    g    u    i    l    h    e    r    m    e    p    a    c    e    l    l    i

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Ao 30 • úmero 189 • Outubro de 2012 • Belo Horzote/MG

Guerra santa digitalReportagem dcute uo de ova mída para expoção de creça peoa

PáGinAs 8 a 11

SEM MEIASPALAVRAS

Entrevistaexclusiva comJorge Kajuru

DO!S – Codo liáio, a acssívl, Hip Hop, Ld Zppli foados pâico

   F   o   t   o   s   :   j    é   s   s   i   c   a   a   m   a

   r   a   l

   m   o   t   a   g   e   m   :   g   u   i   l   h   e   r

   m   e   p   a   c   e   l   l   i

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Piias palavas ImPreSSãO2 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

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EsTAGiáRiOsCamla FretaGulherme PacellJéca Amaral

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ParceraLACP – Lab. de Cração PublctraLaboratro de ModaLaboratro de Covergêca de Mída

ilutraçõe

Paulo Herque Ferade(aluo de Publcdade e Propagada)

Modelo da capaHago soare

iMPREssÃO / TiRAGEMsempre Edtora2000 exemplare

elio o lho Joal-laboaóiodo país a expoco 2009

o 2º lho a expoco 2003

O joral iMPREssÃO é um projeto deeo coordeado pelo profeoreMauríco Gulherme e Leo Cuha, com oaluo do curo de Comucação socal- Habltação em Joralmo - do UBH.

Memo como projeto do curo de Jora-lmo, o joral et aberto a colaboraçõede aluo e profeore de outro curodo Cetro Uvertro. Epera-e que oaluo poam exerctar a prtca e dvul-gar ua produçõe ete epaço.

Partcpe do iMPREssÃO e faça cotatocom a oa equpe:

Rua Damata, 463Lagoha – BH/MGCEP: 31.110-320Telefoe: (31) 3207 -2811Emal: [email protected]

Gustavo Pedersoli7° PERÍODO

Há um velho ditado, bastante difun-dido no Brasil, de que religião e futebolnão se discutem. Contudo, amparada noselementos que norteiam o jornalismo –a curiosidade e a dúvida –, a equipe doImpressão decidiu encarar a difícil – masnão menos instigante – tarefa de discutir,de forma clara e isenta, esses dois assun-tos que estão fortemente presentes emnosso cotidiano.

Com relação à religião, uma grandereportagem procura discutir os limites

aceitáveis da liberdade de expressão re-ligiosa em redes sociais. Até que ponto vai o direito de apologia a determinadasdoutrinas, por meio de imagens e frases,sem que se atinja a convicção de outraspessoas?

O futebol entra em campo em umasurpreendente entrevista com o jornalis-ta Jorge Kajuru, que solta o verbo ao fa-lar sobre sua vida pessoal, a conturbadacarreira na televisão e no rádio, a percep-ção dos rumos tomados pelo jornalismoe seu futuro na profissão.

O primeiro caderno ganha um tommais leve com uma divertida e pertinen-te matéria sobre o dia a dia de quemmora nas repúblicas estudantis em OuroPreto. No campo político, uma matériaesclarecedora incita os leitores a conhe-cerem e entenderem o funcionamentodo processo eleitoral brasileiro, traçando

uma detalhada análise dos sistemas de votação e elegibilidade vigentes.O caderno Dois, por sua vez, está re-

cheado de matérias que discutem a apro-priação do espaço público como, porexemplo, as que debatem a acessibilida-

de de portadores de necessidades espe-ciais a eventos na cidade e a utilização doespaço urbano para a promoção de mo- vimentos culturais. Seguindo essa linha,outra interessante matéria apresenta oefervescente circuito literário localizadona Rua Fernandes Tourinho, na regiãoda Savassi, onde três livrarias – num es-paço de pouco mais de 150 metros – cha-mam a atenção de quem passa no local.

Essa miscelânea de discussões e ques-tionamentos faz jus à proposta editorialdo Impressão, que, além de sempre sepautar na informação objetiva e impar-cial, tem como um de seus princípios

promover o discernimento e o amadu-recimento intelectual de seus leitores.Indagar, além de necessário e prudente,é um direito individual. Como disse ofilósofo grego Platão: “Uma vida nãoquestionada não merece ser vivida”.

Questionar: princípiodo bom jornalismo

Camila Freitas2°PERÍODO

Guilherme Pacelli4°PERÍODOEdição: Dany Starling

Um misto de euforia e nervosismomarcaram nossa quarta-feira, último dia10 de outubro. Não sabíamos como noscomportar, e muito menos como come-çar uma entrevista com um dos homensmais críticos e polêmicos do jornalismoesportivo brasileiro. Ao chegarmos aoestúdio da BHNews, fomos muito bemrecepcionados pelos apresentadores da-quele dia, do programa Esporte News,Pequetito e Emersom Pancieri, nos dei-

 xando mais nervosos do que nunca esentindo a responsabilidade que tínha-

mos nos ombros.Os minutos de espera parecerameternos, devido à nossa ansiedade. Final-mente, o momento tão aguardado da en-trevista chegou. Jorge Kajuru estava nosesperando em uma sala com uma mesade reuniões e uma TV grande que trans-mitia o Esporte News, no qual Kajurufaria uma participação especial.

Durante a entrevista, que mais pa-recia uma conversa informal, Kajuru seencontrava à vontade para falar o quequisesse. Ele nos deixou perplexos comtanta informação, e emocionados ao per-cebermos que, mesmo sofrendo tanto

com a possível perda total da visão elecontinua uma pessoa proativa. A impres-

são que tínhamos dele se esvaiu, trans-formando-se em admiração pela cora-gem e força ao enfrentar as dificuldades.Conhecer e entrevistar Jorge Kajuru foiuma aula para uma jovem e inexperienteequipe de futuros jornalistas.

Mesmo tentando, de todos os mo-dos, passar a impressão de um homemforte, resistente e sem medo do que a vida propõe, ele carrega muitas marcase cicatrizes, que ainda estão se curando.Muitos dizem que ele é louco e outrosque é um gênio, mas em nossa concep-ção, ele talvez seja os dois. Com certeza,como Kajuru, só o Kajuru.

Entrevistando o homem-bomba

e d Impressão, n úd d BhNw, n en pn, p j K

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Viso cíicaImPreSSãO 3BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

 ARTIGOS

Pedro Thiago

7° PERÍODO

Belo Horizonte sempre foi umacidade marcada pela discrição,pela calmaria cultural e pelaeterna imagem bucólica dosjardins e ruas arborizadas, ina-bitados, a não ser por carros,transeuntes e certamente algumfotógrafo.

Porém uma tentativa do pre-feito em reforçar a discrição nacidade, inflou uma parcela dapopulação, principalmente ar-tistas e produtores culturais. Re-correndo ao deboche e ao ques-

tionamento dos valores moraisda família mineira.Foi na internet que o minei-

ro começou a tramar sua pri-meira praia. Manifestações con-trárias pipocaram por diversosespaços virtuais e virou debatenas redes sociais. Logo surgiu aconvocatória virtual para “Praiada Estação”: Tragam instrumen-tos, roupas de banho, óculos desol, protetor de pele e jacarés in-fláveis para a praia de cimento.

Chocante. A população deBelo Horizonte se deparou comhomens, mulheres, crianças,

cachorros, ciclistas e ativistassociais em trajes de banho, em plenocentro da cidade. A viagem de 400quilômetros até o mar tornava-se des-necessária.

O estranhamento inicial se tor-nou em sensação, afinal, uma cidaderepleta de jovens e expressões sociais,até então abaladas pelo conservado-rismo mineiro, encontrou no espaço

público, alvo de restrição, um lugar

de manifestação e novas relações.Os sólidos valores da família mi-neira começavam a ruir. Isso ficou

evidente quando, em 2011, o prefei-to recebeu uma sonora vaia duran-te a posse do Conselho Municipalde Cultura: “Pessoal, isso não é domineiro”, argumentava o mestre decerimônias. Era a primeira manifes-tação, em espaço institucional, darevolução cultural que vive, hoje,Belo Horizonte.

 A praia da Estação se tornou um

espaço para manifestações de diver-

sas urgências, desde a repressão so-frida pela população de rua, ao pro-cesso de verticalização desordenada

da cidade.Os mesmos “banhistas” que se re-frescavam na praia, realizavam açõesde solidariedade e sensibilização pe-las questões das comunidades queocupavam terrenos ociosos e esta- vam ameaçadas de despejo. As redessociais levaram o drama para outroscidadãos alheios aos problemas.

Mas o interessante é a política sob

carnaval. Os assuntos são sérios, as

questões são debatidas com veracida-de na praia, mas sempre com espaçopara a diversão, o lúdico, os rostos co-

loridos, batuques e cerveja. A Praia da Estação reuniuuma geração que pensa eusa a cidade de outra for-ma. As pessoas veem oespaço público como umespaço de interação, alémdo circuito barzinho/shop-ping Center.

Houve desdobramentosinteressantes do movimen-to praiano mineiro. O car-naval deste ano reuniu 21

blocos nas ruas da cidade,em 13 dias de programa-ção. Alguns blocos chega-ram a ter 10 mil foliões,que tiraram o sossego daaté então cidade do descan-so.

 A Praia atingiu sua ma-turidade política com osurgimento do MovimentoFora Lacerda, que se arti-cula nas redes sociais e usaas praças públicas comoescritório. Recentementeo movimento realizou umapasseata com 5 mil pessoas

no centro da cidade. Nem a visita doex-presidente Lula, na Praça da Esta-ção, reuniu tanta gente.

Inicialmente frequentada aos sá-bados de verão, reunindo pessoas di-ferentes, promovendo novas relaçõese novas aspirações em relação à vidacoletiva na cidade. A Praia da Esta-ção se tornou uma possibilidade delazer para os belo-horizontinos.

Kelle Lopes7º PERÍODO

 As Olimpíadas tiveram origem nacidade de Olympia, na Grécia Antiga.Os jogos eram realizados em homena-gem aos deuses. Os primeiros jogos daera moderna aconteceram em Atenas,no ano de 1896, sem a presença dedivindades.

Um dos maiores eventos esporti- vos do mundo, realizado há 116 anos,sofreu retrocessos nesta edição. Nãoem sua formulação, organização ou

modalidades, mas na importância erelevância do seu trato.Nos Jogos Olímpicos de 2012, ocorri-dos na cidade de Londres, o direito decobertura e exibição passou das mãosdos Marinhos para as dos Macedos.Desde então, o número de espectado-res brasileiros, diminuiu consideravel-mente.

De acordo com a coluna OutroCanal, do jornal Folha de S. Paulo, aRede Record alcançou números abai- xo das expectativas durante a trans-

missão dos jogos de Londres, fazendocom que a queda de público chegassea 40%.

De acordo com o Ibope, a médiadas transmissões de 2012 foi de 6,3pontos. Na última edição das Olim-píadas, em 2008, a Globo chegou aregistrar média de 14,3 pontos. Cadaponto representa 60 mil domicíliosda Grande São Paulo. Ou seja, usan-do uma simples calculadora, constata--se a discrepância nos números.

O site norte-americano TheHollywood Reporter escreveu artigo

sobre a audiência dos Jogos Olímpi-cos da Record e avaliou como “baixa”.“A rede, que está transmitindo os Jo-gos Olímpicos pela primeira vez, au-mentou suas avaliações sobre a rivalTV Globo, mas ainda vem em tercei-ro lugar”, afirmou.

Isso se dá pela má qualidade daRede Record que não consegue sertão eficiente quanto o Sistema Globo?Não! Isso acontece graças à informa-ção comercial, que vem se sobrepon-do ao direito de informação pública.

É inegável que a TV Globo, duranteseus 47 anos de existência, consoli-dou-se de tal forma que, qualquerassunto transmitido logo se torna no-tícia: desde um caso de corrupção nogoverno até uma adolescente que fi-cou famosa na internet, porque estavamorando no Canadá.

O fato é que a maioria dos teles-pectadores está acomodada. Sim, aco-modada, e não alienada. Uma vez queo processo de comunicação há tem-pos não é visto sob o tripé emissor--mensagem-receptor.

É certo que, nos primórdios da te-levisão – até a consolidação – pela suagrande influência e poder aquisitivo,o jornalismo global detinha, na maio-ria das vezes, as informações mais rá-pidas, precisas e exclusivas. Mas essarealidade não mais condiz com o sécu-lo XXI. Se ainda vemos que continuatendo vazão, a falha é de quem? DaRecord, que não é a Globo; do teles-pectador, que só assiste a uma emis-sora; ou da informação, tratada comomercadoria?

Nas Olimpíadas de Londres 2012,assistimos a uma série de quedas:queda dos atletas, do número de me-dalhas conquistadas pelo Brasil, daaudiência em “TV aberta” e dos tor-cedores.

É justo sermos “obrigados” aacompanhar os jogos em apenas umaemissora, a partir de uma linha edi-torial? Ou é justo que, ao buscarmosinformações em outros canais, nosdeparemos com imagens estáticas,apresentando a prova da corrida comobstáculos? É ético delimitar a infor-

mação que deve ser pública para umasó detentora dos direitos de exibição?

Se for dinheiro que move essa má-quina, que os direitos de transmissãosejam liberados para todos que quei-ram e possam pagar. Que o chamadobem público seja abrangente, e nãorestrito a quem assina primeiro a li-citação. Precisamos da concorrênciaentre as emissoras, não no sentido deconseguir o direito de cobertura, masem quem faz com mais qualidade erespeito a seus espectadores.

 A praia do mineiro

 A informação é pública ou comercial?

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Ouos papos ImPreSSãO4 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Camila Freitas2°PERÍODO Guilherme Pacelli4° PERÍODO

Edição: Dany Starling Já há um bom tempo longe da TV 

aberta, e bem mais magro do que àépoca em que se tornou conhecidopela forma irreverente como apresen-tava seus programas, Jorge Kajururecebeu a reportagem do Impressão

para um bate papo na TV BHNews,canal a cabo da capital onde trabalhadesde maio desse ano. Usando ócu-los bem diferentes, com uma lenteredonda e outra quadrada, brincona orelha esquerda e uma caneta namão – que quase não soltava –, mos-trou que, apesar do novo visual, não

largou o estilo ácido pelo qual ficouconhecido. Durante quase uma horade conversa, Kajuru se mostrou bemà vontade. Enquanto comia um san-duíche de queijo e presunto, falou so-bre esporte e jornalismo, mas não sefurtou a contar detalhes de sua vidapessoal e os altos e baixos na carrei-ra. Filosofou, deu conselhos e, claro,cutucou bastante seus desafetos.

IMPRESSÃO: Kajuru, vocêestá há muito tempo fora da

TV aberta. Por quê?KAJURU: A Band me demitiu ao vivo, uma coisa que não vou esque-cer jamais. Daí em diante, eu virei

um rótulo, até porque, no Brasil, issoacontece com facilidade. Me botaramcomo doido. Ah, esse cara é doido,não pode ir pro ar. Todo mundo temmedo de me colocar ao vivo. Entre- vistas, só gravadas. Quando eu façoprograma ao vivo, uma vez por mês,a diretoria desce toda para o estúdio.O programa se chama Kajuru sobcontrole [exibido pela TV EsporteInterativo], tem uma mulher comigo,exatamente para me controlar.

I: Por que demitiram você ao vivo?K: Não tem motivo. Eu não xinguei

o Aécio [Neves, então governadorde Minas Gerais], não usei nenhumadjetivo contra ele. Eu apenas estavana porta do Mineirão e as pessoasestavam revoltadas. O ingresso esta- va muito caro. Em junho de 2004,o preço era de R$ 400 no câmbionegro. E eu, ao vivo pela Band. Nãoescolhi o lugar, foi a Band que deter-minou. Eu entrava ao vivo no BrasilUrgente, apresentado pelo Datena,no Jornal da Band, com Carlos Nasci-mento, e depois faria o meu progra-

ma, Esporte Total Segunda Edição, quecomeçava às 20h15. O povo chegavae desabafava comigo, reclamando do Aécio. Estava dando audiência de-

mais. Mas fui demitido, exatamente,às 20h28. Foi uma decepção.

I: Foi a maior decepção desua carreira?K: Em termos de emissora, sim. Masse você perguntar sobre decepção jor-nalística... Vou falar uma coisa quenunca falei antes. É muito triste umpaís onde algumas empresas prefe-rem patrocinar e se associar ao Mil-ton Neves do que ao Jorge Kajuru.Desculpe a falta de modéstia. É duro.Não é fácil viver nesse país, nessemundo. Às vezes, dá preguiça dele.

I: Você voltaria para a Band?K: Aqui em Belo Horizonte, aconte-ceu uma coisa que me deixou muitofeliz. O sobrinho do João Saad [presi-dente e dono da Band], Bruno Saad,que comanda a Band aqui em Mi-nas, conversou comigo. Cara a cara,olho no olho. Ele me convidou paraum projeto de rádio e disse que mequeria em um projeto de televisão,mas que eu fosse entrando aos pou-cos. Não quis porque não aprecio oprograma esportivo diário deles. Não

sei nem o nome [o programa chama--se Golasô], de tão ruim que é. Poronde quer que eu vá aqui em Mi-nas, ninguém conhece o programa.

E quem assistiu não quer ver nuncamais. Além disso, eu teria que traba-lhar com o Éder [Aleixo, ex-jogadore comentarista]. Estou muito velhopara trabalhar com o Éder. Eu gostode escolher a equipe com a qual voutrabalhar. Para eu aceitar o projetoda Band, teria que ter liberdade deescolha. Em tudo: equipe, programa,quadros. Se for para trabalhar emalgo sob a gestão deles, não quero.Porque eu já trabalhei lá, fui demi-tido ao vivo. Não quero passar porisso de novo.

I: Quais os grandes pecados

de quem faz jornalismo es-portivo no Brasil?K: Em primeiro lugar, a ignorância. A ignorância é a maior multinacio-nal do mundo, já dizia o Millôr Fer-nandes. Quantos jornalistas hoje, eaí é um pecado, não sabem quem foiMillôr Fernandes? Quem sabe quemfoi João Saldanha, para mim o maiorcomentarista de todos os tempos?Por isso o maior pecado é a igno-rância, a falta de estudo, a falta deconhecimento, a falta de procurar as

Sarcasmo na ponta

da língua

K df, n n n n n d

Fotos: jéssica amaral

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Ouos paposImPreSSãO 5BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

o n j K f xdd Impressão b, n d

boas referências no jornalismo. Achar que fazer bom jornalismoe entender de futebol é ler noGoogle. Me espanta e me eno-ja o tanto de comentaristas deGoogle. O sujeito vai falar sobreo jogo, mas não comenta tatica-mente. Se o jogo est[a 0x0, eletem que falar porque está 0x0,os esquemas táticos, a escalaçãodos times. Mas não, prefere irao Google e buscar informaçõesdo tipo: “Ah, em 1932, tal time venceu três jogos consecutivos”.Informação é importante, maspara antes ou depois do jogo.

Quando a bola está rolando, eletem que falar sobre o que estáacontecendo no campo.

I: Você falou sobre pro-curar as boas referên-cias. Quem são essas boasreferências atualmente?K: Aqui em Minas, temos o Tos-tão, que sequer é jornalista, masem todas as suas colunas ele dáexemplo de como se fazer bomjornalismo. O Juca Kfouri, em-bora tática não seja o forte dele.Ele é jornalista investigativo, fazdenúncia, crítica. Infelizmente,

não está mais na televisão aber-ta, o que é uma sacanagem. Ou-tro que também está fora da TV,e muitos nem devem se lembrardele, mas que para mim foi omaior depois do João Saldanha,é o Juarez Soares, o China. Elefoi demitido pela Band a pedidodo Ricardo Teixeira e do Clubedos 13. Aqui em BH, tambémgosto do Emanuel Carneiro e doLélio Gustavo. É preciso que osjovens procurem essas boas re-ferências, esses bons exemplos,e entendam que, sozinhos, nãochegarão a lugar nenhum.

I: Você nunca teve medode falar o que pensa. Jádeixou de falar algo parapoupar alguém?K: Eu não falo o que penso; faloo que sinto. Mas depende. Tempessoas que você deve contar atédez antes de falar. O Mano Me-nezes, por exemplo. Eu o critico,meto o pau nele como técnico,mas não o conheço. Não tenhoo direito de usar adjetivos comele. Mas tem gente que não es-tou nem aí. Começo a xingar enão paro mais. CBF, Congresso

Nacional, eu disparo a falar.

I: Deve haver limitespara se falar o que pen-sa, ou sente?K: Se o que você disser ofendera pessoa, sim. Conte até dez,porque eu não contei. Fui pro-cessado 128 vezes, perdi váriosempregos e fui rotulado no Bra-sil como doido. Então, se vocêquiser ofender alguém, pensenas palavras que vai usar. Seja

irônico. Mande a pessoa para“Punta Del Este”. Diga que vaimandar o Ricardo Teixeira parao báratro. Ele nem sabe o queé isso, vai procurar no dicioná-rio [N.E: báratro é sinônimode abismo, despenhadeiro. Emsentido figurado, é sinônimo deinferno]. Hoje, eu levo na brin-cadeira. Se você ofender alguémsem pensar antes, vai usar umadjetivo que não precisava, e éum exagero. É aí que você perdeo emprego, é processado.

I: Você foi demitido ao

 vivo, teve sua rádio emGoiânia fechada. Vocêtem medo de novasrepresálias?K: Não tenho medo de nada.Só lamento que minha rádio te-nha sido cassada por um gângs-ter, que não pode ser chamadode ser humano. Que não apenasperseguiu a rádio, perseguiu mi-nha família. É muito difícil vivernum país onde não brigam asideias, brigam os homens, e às vezes os homens brigam de mor-te. Em Goiás, um jornalista foiassassinado na porta da rádio

devido a uma opinião emitida.Fico pensando porque não fui as-sassinado até hoje. Se o cara deuuma opinião e morreu, quantaseu já dei? Enquanto existir esseMarconi Perillo [governador deGoiás], eu temo. Até porque, elefez filho, né? Podem surgir no- vos Marconis Perillos . Eu não te-nho medo de morrer, mas tenhomedo que outros Kajurus, quepodem aparecer no jornalismobrasileiro, sofram o que eu sofri.Não quero meu sofrimento praninguém. Faz de conta que Deusdeu essa lição só para mim. É um

sofrimento que não desejo parao meu pior inimigo. Esse Mar-coni Perillo destruiu a minha vida, mas não desejo isso para ofilho dele. Aprendi a rezar pormeus inimigos.

I: O que pode ser feitopara impedir que casossemelhantes ao seuaconteçam?K: Isso só vai mudar daqui amuito tempo, com muitos Jo-aquins Barbosas no país. Comeducação. Não há como discu-tir isso sem falar na escuridão

da educação no Brasil. Um paísonde não há liberdade de im-prensa, há liberdade de empresa.

I: Em algum momen-to, você pensou emdesistir?K: Primeiro, não tenham dó demim. Estou feliz, tomo minhacerveja, tomo um bom vinhoquando sobra um dinheirinho.Estou doente no momento, daalma e da visão. Mas não estou

triste, não desisto. Nunca de-sisti de querer falar, de querertrabalhar, ter um programa detelevisão. Falei no programa doRoberto Cabrini [Conexão Re- pórter ] que ia parar, mas estavano fundo do poço da depres-são. Nunca pensei em desistirda minha carreira, mas da vida,sim. Talvez em função de tudoisso. Precisei, e preciso, periodi-camente, de um psiquiatra, desocorro psicológico. Desistir da vida é um desejo difícil de sairda minha cabeça, estou muitodecepcionado com o ser huma-

no em geral.

I: Como é o Kajuru lon-ge dos holofotes, naintimidade?K: Hoje, o Kajuru não está aímais. É preferível ficar com aimagem do velho Kajuru. O Ka-juru de hoje não está bem, estádoente. Mas não precisa que nin-guém tenha dó dele, porque eletem dinheiro para ir ao médico.Tem que ter dó de quem não temdinheiro para ir ao médico. Temque ter dó de quem não tem hos-pital para ir. É de quem não tem

um amigo para conversar, por-que eu ainda tenho.Mas não posso mentir, o

Kajuru de hoje não é legal. OKajuru de hoje tem transtornobipolar, essa doença terrível queeu descobri há quatro anos. Umadoença muito grave, que qual-quer um de vocês pode ter e nãosabe. Eu tenho que tomar um re-médio chamado Carbolitium, umchumbo grosso, porque o bipolar vai da euforia total de compraruma passagem avião com umamulher gostosa que conheceu, seapaixonou e foi para Paris com

ela, à depressão profunda, quese você tiver um revólver, você dáum tiro na cabeça.

 Agora, o Kajuru que vocêperguntou, de 51 anos de idade,36 anos de carreira, esse Kajuru,eu vou ter um pouquinho de fal-ta de modéstia. Esse Kajuru foiraro na raça humana. AqueleKajuru que vocês viram lá atrás,era imperdível, era brilhante emtodos os sentidos. Não tinhaum sorriso mais bonito do queo dele, não tinha um raciocíniomais rápido do que o dele. Nãotinha um poema que ele não sa-

bia, não tinha uma música quenão cantava, não tinha umamulher que resistia ao encantodele, mesmo sendo feio pra c*.Dono de uma lábia extraordiná-ria. É esse Kajuru que fica pramim. E estou lutando, indo aosmédicos, para esse Kajuru voltar.E ele vai voltar. Deus quer, eusei que ele quer. Nossa Senhora Aparecida, de quem minha mãesempre foi devota, quer. Então,ele vai voltar.

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U dia a... ImPreSSãO6 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Bárbara BragaBárbara GuimarãesJade Vieira6° PERÍODOEdição: Dany Starling

O dia amanheceu bonitoe com ar de feriado. Climaperfeito para ir a Ouro Preto,

cidade a 98 quilômetros deBelo Horizonte. A ansiedadee a música que saía do somdo carro foram os principaiscombustíveis da viagem. Pas-sados os caminhões e a nebli-na da serra, o trajeto ganhounovo formato. Depois de pas-sar pela venda das panelas depedra, avistam-se resquíciosda antiga Vila Rica. A sensa-ção de mergulho no tempo éinevitável quando se chega aocentro histórico e se avista oMuseu da Inconfidência, naPraça Tiradentes. Cada es-

quina possui uma história es-pecífica do período colonialbrasileiro.

 Até mesmo o nome dacidade faz referência a esseperíodo e tem relação com oouro escuro, recoberto comuma camada de óxido de fer-ro, descoberto naquela épocae muito comum na região atéhoje. Apesar dos três séculosde vida, Ouro Preto pode edeve ser considerada jovem,muito em função de sua po-pulação, recheada de estu-dantes universitários.

 Ao analisar as ladeiras,as ruas com calçamentos eas igrejas que compõem aestética local, percebe-se queexiste muita coisa além doque é mostrado na televisãodurante as datas comemo-rativas, como o tradicionalCarnaval, a Festa do Doze ouas comemorações de 21 deabril. Para aqueles que aindanão conhecem, as repúblicasuniversitárias de Ouro Preto

ajudam a reescrever a históriado primeiro Patrimônio His-tórico da Humanidade.

Como visitantes, conse-guimos enxergar os dois la-dos que a cidade apresenta:a vida tradicional dos “na-tivos”, a presença das artesbarroca e rococó, a trajetória

dos Inconfidentes e demaishábitos dos moradores e, nooutro extremo, a irreverênciada vida universitária. Umbelo exemplo de junção entreo tradicional e o moderno. Antes de se transformar emum dos principais “museus”do país, Ouro Preto, então Vila Rica, foi a capital minei-ra, antes de Belo Horizonte.Nessa época, a Escola de Mi-nas tomou posse de todos osprédios e casas da cidade.

Esses imóveis se transfor-maram nas famosas repúbli-

cas. As casas, na maior partedos casos, abrigam alunosda Universidade Federal deOuro Preto (Ufop). Com aexpansão das escolas de en-sino superior pelos quatrocantos do país, morar emrepública tornou-se algo co-mum. No início, todas asmoradias eram de proprie-dade da Ufop, e os alunosque precisavam do serviçonão tinham despesas com oaluguel. Hoje, as residênciasque adotam esse sistema sãoconsideradas repúblicas fe-

derais, ou seja, de posse dainstituição.

Batalha do bixoPara conquistar uma vaga

dentro dessas casas, o calourodeve passar por um períodode adaptação, geralmente deseis meses, chamado "bata-lha". A pessoa que quer en-trar em uma república, sejaela particular ou federal, échamada de bixo. E a grande

diferença de Ouro Preto éque os bixos são os calourosdas repúblicas, não da univer-sidade. “A gente prega respei-to e convivência. Durante abatalha, eles precisam execu-tar certos tipos de atividades,para o bem-estar da casa epara a gente ver se realmente

querem morar aqui”, afirmaLeonardo Rebouças, o Torci-colo, estudante de Engenha-ria Civil e morador da repú-blica particular Notre Dame.O bixo é responsável pelostrabalhos da casa, como aten-der a porta e o telefone, cui-dar dos serviços domésticos ereparos da moradia, além debuscar convivência harmo-niosa com o restante da casa.Depois de ter cumprido a ba-talha, o bixo é julgado pelosmoradores. Se for de comumacordo da casa que ele tenha

realizado todas as tarefas econquistado afinidade comtodos, é escolhido para mo-rar no local. “Já aconteceu dealgumas pessoas não daremcerto e acabarem saindo. Etem o caso da pessoa não seadaptar e pedir para sair. Os vetados são indicados paraoutra república”, diz o estu-dante de Ciências da Com-putação Pedro Henrique, oBactéria da Notre Dame.

Hoje é dia de rock! Assim como a vida estudan-

til, as festas, que em OuroPreto são chamadas de rock,são um verdadeiro conviteà diversão. Rock é qualquertipo de confraternização queenvolva os estudantes, de umchurrasco entre os moradoresda casa ao tradicional Carna- val. Algumas repúblicas seunem e promovem encontrosque duram até o amanhecer.Pela já conhecida política daboa vizinhança, os estudan-

tes avisam aos moradoresmais próximos que uma fes-ta será realizada, convidandotambém os não-estudantesa participar. Tudo é muitobem regulamentado, já quea Prefeitura exige que asfestas tenham alvará de fun-cionamento e uma perícia é

feita em todos os locais ondeacontecerão os rocks.Mas nem só de rock que

se vive em Ouro Preto. Osuniversitários também en-frentam problemas duranteo período da graduação, que,em algumas situações, fazemcom que saiam do padrãofestivo. Viver fora da rotinaimposta pela tradição da ci-dade universitária pode sercomplicado. Foi o que ocor-reu com o aluno do sétimoperíodo do curso de Enge-nharia de Minas, Guilherme

 Alzamora. Quando o jovem,natural de Betim, chegou àcidade em 2009, logo pro-curou uma república paramorar. Bastou um mês paraque Guilherme fosse atrás deuma nova alternativa de mo-radia. “Ainda não tinha con-seguido estudar para as pro- vas e senti que, voltando paracasa todos os fins de semana,eu dificilmente seria escolhi-do depois da batalha. Nessetempo apareceu um aparta-mento para alugar, penseibastante e achei que seria

a melhor opção”, explica. Atualmente, o estudantemora sozinho, mas é a favorde que todo calouro passepor essa experiência, poisconsidera como “única” aoportunidade de conviverem uma república em OuroPreto. “Só estando em umapara saber o que se aprendelá dentro com os mais velhos,que vai além dos assuntos dafaculdade”, afirma.

Identidade secreta Absoluta, Bactéria, Se-

dex, Mordaça, X-Barra,Poka-Pilha, Reage, Cigana,Bola Cheia, Marka-Texto ePanguá. Esses são alguns dosapelidos que os estudantes deOuro Preto receberam, apósserem testados durante os seis

primeiros meses em suas res-pectivas repúblicas. Vencidaa batalha do primeiro semes-tre, quem antes era conheci-do apenas como “bixo” ga-nha um novo nome, em tomde gozação, que faz alusão aalguma mancada ou situaçãoengraçada vivida pelo estu-dante. União de criatividadee bom humor, certos apelidosganham destaque, como foi ocaso da moradora da Repú-blica Maria Bonita FlavianeFioravante, que passou a serconhecida como Dislexia por

sempre trocar palavras nomeio das frases. Ou ainda oestudante Raphael Stort, quetambém responde por Wil-son, apelido que recebeu dosamigos por, aparentemente,não ter nenhuma expressãofacial, tal qual a bola de vôleicompanheira de Tom Hanksno filme Náufrago.

De acordo com estudofeito pelo professor do cursode Turismo da UFOP, JaimeSaad, “os cognomes são cria-dos em Ouro Preto porque láé um ‘não lugar’, uma espécie

de ‘Terra do Nunca’, onde aspessoas ganham outra iden-tidade”. Por isso os estudan-tes recebem um apelido e,durante a vida universitária,período de aproveitar e de seconhecer, a pessoa vai usar eabusar da alcunha sem "sujar"seu nome. Depois que sair delá, voltarão a usar o nome debatismo, que não tem marcanenhuma, e adentrar a vidasocial sem nenhum receio.

Terra do Nunca

hó ên n nn o p

reproDuÇÃo: arquivo pessoal

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CohcioImPreSSãO 7BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Iara Rodrigues8°PERÍODO

 Alessandra FerreiraLúcia Miranda7°PERÍODOEdição: Dany Starling

Como um mineiro éconhecido por pessoas deoutros Estados? Todos nóssabemos que é por ser come-dor de queijo. Não há umapessoa que, ao descobrir que

somos de Minas, ou quandonos visitam, não pede umqueijo minas, canastra ou ofamoso queijo do Serro. Porser um alimento sempre pre-sente na mesa dos mineiros,o queijo tem um aspecto que vai além do gastronômico. Équase um gênero de primeiranecessidade para a maioriadas famílias de Minas Gerais.

Na casa da empresária Eli-zabeth da Glória de Oliveiranão fica sem queijo minas.O sogro de Elizabeth, fazen-deiro da região de Rezende

Costa, localizado no Campodas Vertentes, fazia questãode ter sempre um queijo emsua mesa para receber as visi-tas e para consumo familiar. Adaptada a essa tradição, ela vai todas as semanas no Mer-cado Central comprar queijocanastra curado.

Na fazenda, os finais detarde eram tradicionais. To-dos em volta da mesa bebe-ricando um cafezinho bemquente acompanhando o de-licioso queijo. Elizabeth fazquestão de manter o costume

em sua casa. “O dia em queficamos sem queijo, meus fi-lhos e netos reclamam”, con-ta a empresária.

Mesmo que não seja pre-sença diária na mesa de todosos mineiros, é muito difícilencontrar um que não gostede saborear a iguaria ou, pelomenos, produtos feitos comele. O queijo não é apenasum dos pilares da economiamineira, mas também umforte traço da cultura dessepovo, que não abre mão desuas tradições.

 A produção do queijo éeconomicamente expressivano Estado. Cerca de 30 milfamílias vivem de produzi--lo, o que gera em torno de150 mil empregos diretos eindiretos. Helvécio Ratton,cineasta e diretor do docu-mentário O mineiro e o queijo, lançado em 2011 afirma ementrevista ao site Uai, “só oMercado Central de BeloHorizonte vende 80 tonela-

das de queijo minas artesa-nal por mês”.

Para o professor de Filo-sofia do UniBH, Luiz Henri-que Magalhães, a relação doqueijo com o povo mineirotranscende a questão úni-ca do alimento. É tambémuma manifestação da cultu-ra e tem lugar privilegiadono sistema simbólico de umpovo. Luiz acredita que vá-rios fatores e interesses das

mais diversas ordens interfe-rem nesse processo, como adisponibilidade da matériaprima, viabilidade comerciale a relação com festividades.

 O queijo e o mineiroO documentário O mi-

neiro e o queijo retrata, deforma sutil e muito agradá- vel, a rotina e a paixão dosprodutores mineiros de quei-jo artesanal. O filme apresen-ta também as dificuldadesenfrentadas pelos produtoresem vender seus queijos fora

de Minas Gerais. A simpatiae simplicidade dos minei-ros é um algo a mais no fil-me, que aborda ainda temasacerca da economia e leis defabricação ultrapassadas.

Os produtores são ospersonagens principais, quecontam também com a par-ticipação de autoridadesenvolvidas na questão da li-beração da venda do queijoartesanal. Eles expõem suasidéias de forma simples e cati- vante com o famoso sotaquemineiro. É bem evidente a

paixão que essas pessoas têmpelo que fazem. A tradiçãoque passa de pai para filhoé maior do que a simplesprodução de um produtopara comercialização esustento familiar.

 As histórias vividas por es-sas famílias são refletidas naqualidade e gosto do queijo. Além das condições de cli-ma, vegetação e criação dosrebanhos para a produçãodo leite, está incluso o sen-timento de paixão usado nafabricação dos queijos. O que

faz esse alimento tão especialé, ironicamente, o que tornaa sua comercialização fora doestado quase impossível.

O cineasta e comenta-rista de gastronomia Rusty Marcelini colaborou com apesquisa e produção do do-cumentário. Segundo ele, osbrasileiros e os mineiros co-nhecem muito pouco sobreo queijo minas. “Em 2005,quando o queijo foi tombado

como patrimônio materialdo município do Serro, eunão o conhecia. Não sabiaque tinha que passar peloprocesso de maturação, quetem que ser feito com leitecru”, relata o comentarista.

O cuidado de higieniza-ção exigido para a produçãoartesanal foi atendido por vários produtores para que atradição mineira não caísseem esquecimento. A fabri-

cação de queijos europeusé também citada no docu-mentário. Naquele conti-nente, vários países criaramuma política própria para amanutenção e comercializa-ção de seus queijos para omundo inteiro.

Legislação A imposição das grandes

empresas, por não quereremconcorrência nas gôndolasdos supermercados, faz comque a liberação e incentivoà produção artesanal seja

cada vez mais contrária aosprodutores. A legislação bra-sileira é inspirada numa leinorte-americana da décadade 1950 e adaptada ao Brasilporque pensava-se que aquipoderia se desenvolver a mes-ma bactéria encontrada du-rante a produção de queijosnos Estados Unidos. Porém,nenhuma análise de clima,solo e temperatura regionalfoi feita, o que deixa a lei semjustificava sustentável hojeem dia.

 Ainda de acordo com

Rusty, há um desinteressedos legisladores de ir ao locale ver o trabalho que é feitono interior de Minas Gerais.“Era um período completa-mente diferente, as estradaseram todas de terra, não ti-nha geladeira. Era outro tem-po. Essa lei é totalmente an-tiquada, mas acabou ficandodurante muito tempo e hojenão encaixa mais”, afirma oespecialista, sobre a exigênciada lei Nº 1.283, de 18 de de-zembro de 1950.

 As exigências descabidas

acabaram por desencantarmuitos dos pecuaristas. Al-guns queijeiros preferiramabandonar a prática e, paramanter o sustento de suasfamílias, decidiram fecharsuas fabriquetas de laticínio eapenas vendem o leite que se-ria utilizado para a produçãodos queijos.

 A exposição da forma sim-ples de viver é um dos fatoresmarcantes e envolventes do

documentário. A narraçãofica em sua maioria por con-ta dos próprios produtorese expõe um traço a mais da“mineiridade” do diretor e

participantes. Com belas pai-sagens de Minas Gerais, Ser-ro, Canastra e região do AltoParanaíba enchem as vistasdo espectador.

 Aspectos culturais do queijoIguaria tradicional da culinária mineira corre risco de perder sua identicação

com o Estado devido à falta de conhecimento de sua produção

Queijo e sua produção: as várias etapas do processo.

Fotos: luiz heNrique magalhÃes

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Camila Freitas2° PERÍODODany Starling7° PERÍODOGuilherme PacelliJéssica Amaral4° PERÍODOEdição: João Luís Chagas

Mais de um bilhão de pessoas co-nectadas, espalhadas por 213 países.Somente no Brasil, 54 milhões de usu-ários. Disponível em 70 idiomas, 2,7bilhões de “curtir” por dia. Os núme-ros do Facebook, de fato, impressio-nam. Evidenciamo fascínio das redessociais, fenômeno que tem transfor-mado a forma de as pessoas lidaremcom a internet. Se antes a rede era,tão somente, fonte de informações,hoje, a troca de conteúdo, por partede quem acessa, é seu grande mote.

Orkut, Youtube,Linkedin, Goo-gle+, Twitter, Facebook. São mui-

tas as redes sociais disponíveis, cadauma com seu estilo, suas ferramentase suas particularidades. O poder deatração dessas ferramentas é tão gran-de que pesquisas de universidades dosEstados Unidos e da Noruega já com-provaram o condão viciante das redes.Para muitas pessoas, ficar afastado doFacebook gera sintomas análogos àssíndromes de dependência química,como alteração de humor, intolerân-cia, conflito, estados de ausência erecaída.

O Brasil tem números curiososa respeito do Facebook. Os conteú-dos mais compartilhados são fotos

(68%, maior média mundial), notí-cias do dia (49%), recomendações decompras (48%), análise de produtos(47%) e esportes (41%). Outro temabastante discutido, que coloca o paísno primeiro lugar do ranking, é a re-ligião: 39% dos brasileiros conectadosao site postaalgo sobre o assunto comfrequência, ao contrário do que acon-tece em países como Austrália (8%),França (3%) e Japão (1%).

 A profissão de fé é levada a sérionas redes sociais. Em seus perfis, aspessoas fazem questão de deixar clarose são cristãs (evangélicas ou católi-cas), espíritas, umbandistas, budistas,

etc. É como se fosse necessário carre-gar um crachá, um documento, paraatestar a crença, de modo que não pai-re qualquer dúvida a respeito.

Não bastasse essa confirmação, émaciça a manifestação religiosa naspostagens dos usuários. Versículos daBíblia, trechos de outros livros sagra-dos, imagens com mensagens falandode Deus e demais divindades, con-selhos, orações, trechos de cânticos, vídeos com pregações. Tudo é válidona hora de espalhar aos quatro can-tos (e, nesse ponto, a abrangência doFacebook é significativa) seus motivosde culto.

Tais postagens, contudo, têm gera-do reações contrárias dentro do pró-prio Facebook. Na própria linguagemda rede, uns curtem, outros não. Oque suscita discussões das mais varia-das espécies. A mais recorrente, con-tudo, é sobre até onde vai o direitoda pessoa em lotar a timeline (páginaonde se concentram as postagens dosusuários “amigos”) alheia com mensa-gens de cunho religioso. É invasivo?Não é?

Para a professora de Antropologia

e doutora em Ciências Sociais Maria

Cristina Leite Peixoto, não há pro-blema. “As pessoas podem se expres-sar. Eu posso divulgar minhas ideias,porque não? Posso divulgar os valoresda minha religião. Quem não quiserouvir, ou ler, que despreze. É tão fá-cil, basta ignorar ou excluir da redesocial”, avalia, além de ressaltar: “Nãofica um pastor pregando na Praça 7?Não podemos ouvir as palestras emum centro espírita? É a mesma coisa,só que agora no espaço virtual”.

Cristina, contudo, apontalimites que devem ser seguidospor aqueles que se valem doFacebook para manifestar sua reli-

gião. “A própria expressão tem umlimite. Não posso impor minhacrença religiosa aos outros, muitomenos desrespeitar a crençaalheia, dizer que é ridícula, que écoisa do capeta. Isso é completamenteerrado”, entende a professora.

Para o jornalista, professor eespecialista em redes sociais JorgeRocha, as discussões sobre religiãonas redes sociais são inócuas. “Prin-cipalmente no Facebook, é fácil veruma guerra entre religiosos e ateus.

Dossiê ImPreSSãO8 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Reclamaçõe obre o coteúdo e o exceo d

Ai

Meage de louvor e agradecmeto;

image com trecho e ctaçõe bíblca;

Pot que defedem o dreto de mafetaçã

Crítca à prtca relgoa e ao ateímo ;

Correte em buca de ovo adepto;

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Parece aquelas confusões típicas

de mesas de bar no Rio de Janeiro,nos anos 1970: muitas farpas tro-cadas e nenhum resultado além dobate boca. Aqui, nesse caso, há, ain-da, o agravante de não haver, nemmesmo, mesas viradas ou coposquebrados”, ironiza.

Intolerância Ainda que de pouco efeito prático,

as discussões sobre religião no Face-book são acaloradas, com agressõesde ambas as partes. Os religiosos nãoaceitam mensagens que decretam anão-existência de Deus (ou a divinda-de de sua crença) e os ateus se incomo-

dam pelo excesso de postagens propa-lando as mais diferentes crenças. Otiroteio verbal começa e não tem horapara terminar.

“O excesso de mensagens enche osaco, mas o que realmente incomodasão as manifestações preconceituosas.Dizer que quem não acredita em Deusnão é nada, ou que os ateus são de-generados, é uma ofensa muito gran-de”, afirma o estudante de CiênciasSociais e blogueiro Robson Fernandode Souza. “Não sou obrigado a ler pre-

gação. Essas eu ignoro. Mas não aceitoque metam o bedelho no direito dosoutros por conta de religião”.

Dono do blog Consciência (www.consciencia.blog.br ), que existe desde2010, Robson se dedica a denunciarpostagens que agridam ateus e outrasminorias nas redes sociais. “Muitos

religiosos atacam homossexuais e mu-lheres em seus comentários. Isso éinaceitável”. Segundo ele, entretanto,a intolerância diminuiu nos últimosanos. “A sociedade tem ficado maisconsciente. Com isso, o preconceitodiminui. Muitos religiosos entrampara condenar um post agressivo e sepreocupam em transmitir uma mensa-gem mais positiva”.

Criada em 2008, a Associação Bra-sileira de Ateus e Agnósticos (Atea)possui uma página no Facebook commais de 200 mil curtidores. De acordocom seu estatuto, uma de suas missõesé “combater o preconceito e a desin-

formação a respeito do ateísmo”. Paraa entidade, o mero compartilhamen-to de mensagens de cunho religioso“é o menor dos males da religião”. Oproblema, novamente, diz respeito àsatitudes agressivas.

Quem pensa que a briga se dá ape-nas entre quem tem religião e quemnão tem, todavia, se engana. São re-correntes as rixas entre crenças dife-rentes. Quando Ana Paula Wallers-tein postou uma foto condenando aadoração de imagens em sua páginaImagens Gospel e Amizade, o mundoquase caiu sobre sua cabeça.

“Muitos católicos entraram na

página para brigar comigo. Me ataca-ram, xingaram, ameaçaram denunciara página. Tudo por algo que eu acre-dito, que minha fé acredita”, diz AnaPaula, que é evangélica. “Felizmente,são poucos os casos de intolerância,pelo menos comigo. As pessoas já seacostumaram a ver o Facebook comoum lugar propício à evangelização”,afirma.

Para Daniel Marques, editor dapágina Umbanda, Eu Curto, “não hámotivos para desavenças. Somos todosfilhos do Pai Criador. Sempre há umou outro usuário que tenta denegrirnossas mensagens, mas nossa postura

é a de não gerar polêmica. Em geral,apagamos o que é inoportuno e semnexo. Quando os próprios usuários seexaltam, mediamos da mesma forma,retirando os comentários e indicandonossa política de atuação. Preconceitosó gera mais preconceito”.

Poeta, tradutor, linguista e profes-sor da UnB, Marcos Bagno é mais in-cisivo em suas críticas. “Fico irritadoquando vejo posts de cunho religiosoem minha timeline. Sobretudo por-que, hoje, no Brasil, com o declíniodo catolicismo, vem surgindo umamilitância evangélica extremamenteconservadora, moralista, homofóbica,

misógina e politicamente reacionária.Se fosse uma questão de crer ou nãoem deus(es), tudo bem, mas quandoessa ideia vem misturada com umaideologia retrógrada, não consigo fi-car calado”, desabafa.

 Ateu, Bagno faz duras críticas aosreligiosos que, para ele, usam o Fa-cebook livremente para propagar suafé, mas não convivem bem com pon-tos de vista contrários. “Quando elestopam com argumentos que apelampara a racionalidade e o bom senso,

DossiêImPreSSãO 9BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

e potage

ds ais cous o Facbook 

o da creça;

reproDuÇÃo

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Dossiê ImPreSSãO10 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

ficam irritados, pessoalmente ofen-didos e partem para a agressão oua comiseração. Uma pessoa já escre- veu que tinha dó de mim por eu nãoacreditar em deus. Respondi que soumuito feliz, não preciso desse tipo decompaixão e que ela dedicasse suapenaaos perseguidos, torturados e

queimados em fogueiras pelas insti-tuições religiosas”.Quem está nas redes sociais, con-

tudo, dispõe de meios para evitarque sua timeline fique repleta demensagens que julgue desagradá- veis. “Há os que seguem a máxima‘o Facebook é meu e posto o que euquiser’. Prefiro pensar em filtros queme permitam acessar conteúdos queeu realmente queira consumir. Nãoé essa parte da graça das mídias di-gitais?”, indaga Jorge Rocha. Bagnoconcorda. “No caso do Facebook,podemos simplesmente bloquear asmensagens de alguém que não nos

interessa. Fica fácil controlar, ao me-nos na nossa página pessoal, aquiloque não nos agrada”.

“Ide” virtual“Ide por todo o mundo e pregai o

evangelho a toda criatura”. A lição,apreendida do livro de Marcos (capí-tulo 16, versículo 15), é seguida à ris-ca pelos cristãos mais entusiasmados. As redes sociais potencializaram asações de evangelismo, já que é pos-sível espalhar mensagens religiosas aum número muito mais expressivode pessoas que por métodos conven-cionais.

 As próprias igrejas estimulam essetipo de evangelização. Promovemcursos, palestras e debates sobre oassunto, além de publicarem guias etutoriais em seus sites. O uso do Fa-cebook ganhou contornos estratégi-cos, sempre no intuito de aumentaro número de postagens e comparti-lhamentos. E atrair novos fiéis, ob- viamente.

Muitos cristãos, contudo, fazemesse trabalho de maneira indepen-dente e intuitiva, sem a ajuda ou ofomento de suas igrejas. Ana Paula Wallerstein, por exemplo, teve a ideiade criar uma página no Facebook tão

logo conheceu a rede social. “Fiquei viciada no face. Quando descobri apossibilidade de construir algo nele,não pensei duas vezes”, conta. Donade comunidades sobre religião noOrkut que nunca ultrapassaram cin-co mil pessoas, ela se surpreendeucom a repercussão de sua fanpage:em pouco mais de um ano, a Ima-gens Gospel e Amizade já reúne maisde 400 mil curtidores.

“Nunca podia imaginar. Mexoum pouco no Photoshop, então eumesmo crio as artes com mensagensevangélicas que posto na página, masnunca fiz um curso de redes sociais,

é tudo intuitivo. Quando percebi, jáestava com mais de cem mil curti-dores. O crescimento é assustador”,conta Ana Paula, que é dona de casaem São Paulo e se dedica à página àtarde, após cuidar de seus afazeresdomésticos.

No Sul de Minas Gerais, o casalde namorados Marianne Carvalhoe Caio César de Souza criou umapágina no Facebook para aproximaros participantes da célula (grupo dejovens, de número reduzido, que se

reúne para cultos e estudos bíblicos)de sua igreja. Se no começo o espaçoficou mesmo limitado aos membros,a páginaDNA de Deusganhou corpoe hoje já conta com mais de sete milseguidores, amealhados em poucomais de dois meses.

“Com o crescimento da página,

resolvemos apostar, de fato, no evan-gelismo pela internet. Mas não foialgo de caso pensado, pelo contrário,foi surpreendente. Numa só noite,tivemos mais de 300 novos curtido-res”, conta Marianne, que mora emCristina, cidade próxima a São Lou-

renço. “Ao todo, devo ficar umas seishoras online. O Caio posta mais pelocelular”, diz a jovem de 17 anos, quefrequenta a Igreja Sara Nossa Terra.

Mesmo com o aumento constantede fãs, Marianne tenta interagir como maior número possível de internau-tas. “Procuro sempre conversar comas pessoas. Pergunto se elas estão naigreja, se gostaram das mensagens.O retorno é sempre muito bom”,revela. “Nossa igreja nos apoia, masnão divulgamos seu nome, nem o de

nenhuma outra denominação. Nãoexiste vínculo”, garante.

Membro da Igreja Presbiterianade Caieiras (cidade da Grande SãoPaulo), Ana Paula se emociona comalgumas manifestações que vê em suapágina. “Criei um álbum somentecom orações. Só ali são milhares de

compartilhamentos, com as pessoasrealmente fazendo suas preces”. Opróximo passo, segundo ela, é gravarclipes cantando músicas gospel e pos-tar no Facebook. “Já prego e canto naminha igreja. Quero levar isso para omundo virtual”.

 A busca por novos fiéis no meioonline não se restringe ao cristianis-mo. De acordo com o umbandistaDaniel Marques, “é nas redes sociaisque as pessoas passam boa parte dotempo quando navegam pela inter-net. A religião que não perceber issosofrerá, no futuro, por não ocuparesse espaço virtual”, entende. “Vive-mos um momento muito particular,em que as pessoas estão em busca deum maior sentido em suas vidas, embusca do resgate de uma espiritua-

lidade que, no fundo, todos temosdentro de nós”.

 Assim como as páginas evangé-licas, a Umbanda, eu curto não está vinculada a nenhum tipo de terreiro,tenda ou centro específico. De acordocom Daniel, um dos trabalhos maisfortes da fanpage é o de instruir quem

conhece pouco sobre a religião. “Hámuita dúvida sobre várias questõesumbandistas. Rituais, velas, cores,Orixás. Nem sempre essas respostassão encontradas na internet. Por issomantemos um canal aberto para sanardúvidas, de forma irrestrita”.

 Alertas Ainda que os trabalhos realizados

por Ana Paula, Marianne e Danielsejam reconhecidamente bem suce-didos, alguns cuidados devem ser to-mados por aqueles que desejam ini-ciar ações de evangelismo pelas redessociais ou mesmo dar prosseguimen-

to ao que já vem sendo feito. Jornalist a com MBA em mí-dias digitais e evangélica, Elisandra Amâncio tem rodado o país dandoaulas sobre como evangelizar nas re-des para igrejas e cursos de pastores.Segundo ela, a principal dificuldadedos alunos é em entender como fun-ciona a linguagem de cada página.“Muita gente confunde o twitter como facebook, não sabe o que é curtir,compartilhar, retuitar. É precisoconhecer a dinâmica da rede e seupúblico-alvo. Além disso, mesmo nomeio evangélico, há os que refutamo trabalho no meio virtual, conside-

ram perda de tempo”.Elisandra frisa em suas palestrasa importância do bom senso na horade postar. “Oriento os alunos paranão serem chatos, não encherem atimeline dos outros, não praticaremspam. Quem quer evangelizar nasredes sociais não pode ser inconve-niente, mas usar o meio virtual paramudar a vida das pessoas, seja comuma palavra, uma música ou umaimagem. O problema não está noconteúdo, mas no excesso”.

Uma das reclamações de quem vêsua timeline repleta de mensagensde cunho religioso é a da “orkutiza-

ção” do Facebook. Popular no Bra-sil na década passada, o Orkut viuuma migração em massa para a novarede nos últimos dois anos, o que aencharcou de imagens e fotos de gos-to duvidoso, inclusive as relativas acrenças, o que motivou muitosusuá-rios a procurar uma nova rede social.

O professor Jorge Rocha, contu-do, condena o termo. “Orkutizaçãosempre soou mal para mim, andocansado de ler que tal coisa “orkuti-zou”. Penso que há o fenômeno cha-mado ‘a rede social do momento’.Houve uma migração de concentra-ção do twitter para o Facebook, por

exemplo, o que não foi atribuídoà talorkutização. Não acho que isso pos-sa gerar uma evasão, até porque, não vejo, no momento, nenhuma redesocial sendo construída ou reelabo-rada para fazer frente à criação doZuckberg”.

Possibilidade de negóciosSe num primeiro momento a ideia

de quem cria uma página no Face-book para evangelizar é apenas levarmensagens religiosas para o meio vir-

Umbanda, Eu curto e Atea: religião em debate no facebook 

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tual, o crescimento volumoso no nú-mero de curtidores e fãs fez com quealguns encarassem a tarefa como pro-

fissão. E ganhando dinheiro com isso. A partir de um vídeo postado no

 Youtube, o escritor Raphael Montei-

ro conheceu a estudante Izabel Zattapelo Facebook. Hoje eles mantêm di- versas páginas nas redes sociais, umadelas a Orar, Refletir e Amar, de viésreligioso, que já conta com mais de250 mil curtidores. Além das mensa-gens tradicionais, contudo, as pági-nas dedicam posts periódicos para o

site pessoal de Raphael, que anunciaseus livros e palestras.“Hoje o maior acesso do meu

site vem por meio do Facebook, fazparte do processo”, assume Raphael.“Temos outras páginas que são mo-netizadas, onde, muitas vezes, faze-mos promoções e sorteios de livros”,diz ele. O escritor garante, contudo,que essa não é sua principal motiva-ção para manter as páginas no ar. “Éuma maneira de me relacionar comas pessoas, de passar o que eu penso.Não estou preocupado em vender li- vros, há uma série de si tes onde elessão disponibilizados de graça. Além

disso, trata-se de um público muitoespecífico, de vestibulandos, jovensentre 17 e 20 anos”.

 Ana Paula Wallerstein, por outrolado, não se incomoda em assumirque a Imagens Gospel e Amizadese tornou fonte de renda. “Encarocomo trabalho. Foi uma decisão di-

fícil, tive medo de misturar religiãocom dinheiro. Mas nunca anuncieique vendia o espaço. As pessoas éque me procuraram”, diz a dona decasa, que recebe cerca de mil reaispor mês com anúncios de uma lojade roupas do Paraná e de um cantorgospel.

O caminho da publicidade nasfanpages, contudo, ainda é bastanteincipiente. Os analistas ainda nãoencontraram uma fórmula que per-mita ganhos vultuosos dentro doFacebook. Para Elisandra, a explica-ção vem do próprio comportamentodos usuários. “As pessoas até aceitamas propagandas nas páginas, mas ig-noram. Por conta disso, o retorno émuito pequeno”.

Seja para evangelizar, ganhar di-nheiro ou simplesmente deixar claropara amigos e conhecidos qual é suafé. A verdade é que a religião, sejaela qual for, invadiu de vez as redes

sociais. E assim como qualquer con- vívio social que se preze, é precisoequilíbrio na hora de agir. Como dizo velho ditado, “meu direito acabaquando começa o do outro”. Agindoassim, o usuário terá total liberdadede propagar suas crenças, sem inco-modar ninguém.

DossiêImPreSSãO 11BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Budisosddhartha Gautama, ou Buda, fo um prícpe atco que vveu a regão doatual nepal, etre 563 a.C e 483 a.C. Ele e torou um gua eprtual e eu e-ameto deram orgem ao Budmo. Etre o preceto da relgão, etão ocarma, uma “le” de caua e efeto.

nascio d Jsus Cisonão e abe a data exata do acmeto de Jeu. Por coveção, adotou-e oda 25 de dezembro. Juto dele acem a relgõe crtã, que hoje correpo-dem a 33% da população mudal. O acotecmeto também é uado uver-almete como um marco croolgco, dcado o ao 1.

IslaisoMoamé, ou Muhammad, morreu a 8 de juho de 632 e fo o quto e últmoprofeta mulçumao. segudo a creça mulçumaa, recebeu a últma me-age de Deu, que ma tarde foram complada o Alcorão. A ele também éatrbuída a ucação da Arba.

espiiisoAla Kardec, peudômo do pedagogo fracê Hppolyte Rval, é codera-do o maor etudoo do eprtmo. Etre 1857 e 1868, ecreveu a bblograabca da Doutra Eprta, que cote em cco lvro: O lvro do Epírto,O Lvro do Médu, O Evagelho egudo o Eprtmo, O Céu e o ifero eA Gêee.

JudaísoDurate a ii Guerra Mudal, ma de 6 mlhõe de judeu foram aaadopela Alemaha nazta, o que cou cohecdo como Holocauto. O motvoda peregução foram varado, dede a buca por uma “raça” araa até amb-ção pela rqueza que ee grupo pouía.

UbadaCrada, ocalmete, pelo Médum Zélo de Morae, a Umbada é a úca rel-gão bralera. Por ter orge afrcaa, eu egudore empre foram vítmade precoceto. A prtca umbadta fo legalzada em 1945 – etão o pra-tcate puderam expor, publcamete, ua potura relgoa.

 ad  posts n d án

macas acocios das picipais ligiõs

reproDuÇÃo

Fotos: reproDuÇÃo

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Joal Daqui ImPreSSãO12 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

 a mm B d c2° perÍoDoEdição: João Luis Chagas

O jornalismo hiperlocal éum instrumento de comuni-cação entre os moradores e asassociações de bairro. Nestecenário, as comunidades dãopreferênca aos jornais impres-sos, por questões financeiras

e práticas. Essas publicaçõescumprem um importantepapel de interlocução, dando voz à população.

Na região Noroeste, váriosjornais impressos circulamhá bastante tempo. A maio-ria das publicações divulgaas realizações das associaçõesde moradores e reivindicamos direitos da população. O Jornal da Floresta, fundadoem novembro de 2008, é umporta-voz da comunidade. As pautas são sempre volta-das às sugestões e denúncias

dos moradores por e-maile telefone.Mateus Rabelo, diretor

responsável, conta que, pormeio do jornal, já foramrealizadas muitas mudan-ças no bairro Floresta. “Jáconseguimos instalações desemáforos, mudanças decirculação de vias, recapea-mento de ruas e remaneja-mento de árvores, além doProjeto Olho Vivo, que seráinstalado após uma grandemobilização”, garante.

 A interação com a comu-

nidade e suas reivindicaçõestambém é o principal obje-

tivo do jornal Nosso Grito.“A comunidade participae dá ideias. As pautas sãosempre os trabalhos realiza-dos pela associação em proldos moradores”, conta JairoNascimento, presidente da Associação de Moradores dobairro Santo André, existentehá 32 anos.

O Nosso Grito, há 15 anosem circulação, surgiu para

suprir a necessidade de infor-mar a população. O jornal,que não tem periodicidadedeterminada, divulga a açãocomunitária e denuncia ir-regularidades, além de esta-belecer grande diálogo en-tre a comunidade do bairroSanto André e a associaçãode moradores.

Dentre as conquistas daassociação estão obras deasfaltamento e programashabitacionais. Também exis-tem projetos a médio e longoprazo como a implementação

do sistema de transporte al-ternativo para o bairro. “Esta-mos perto do centro, de doiscemitérios, dois shoppingse centros de saúde, e nãotemos acesso ao transportepúblico. A função do trans-porte suplementar é benefi-ciar os bairros Santo André,São Cristóvão, Bonfim entreoutros”, esclarece.

O  Jornal da Floresta, men-sal e distribuído gratuitamen-te, também conquistou mais visibilidade para a Associa-ção de Moradores. “O lema

da associação é ‘mobilização,participação e conquista’.

Com o jornal, conseguimoscredibilidade para buscarmelhorias”, afirma Matheus,que viu no jornal uma opor-tunidade de ter a própria em-presa e de seguir na carreirajornalística. “Eu já tinha oexemplo de um amigo quetem um jornal no bairro Bu-ritis. Ele me prestou consul-toria”, conta.

 Já a Gazeta da Lagoinha

foi fundada por um técnicoem publicidade. Creso Cam-pos já tinha experiência naárea de comunicação e jornalimpresso quando fundou, noinício dos anos 2000, a Ga-zeta da Lagoinha. O publici-tário já havia trabalhado emoutros veículos de comuni-cação antes do jornal. “Tra-balhei em agências locais eemissoras de rádio. Tambémjá atuei na área comercial vendendo anúncios publi-citários de porta em porta”,conta.

O jornal, gratuito e men-sal, conta com a coluna deTostão, ex-morador do Con-junto Habitacional IAPI. Além disso, divulga e reivin-dica ações para os moradoresdo bairro Lagoinha.

Creso já montou sua pró-pria agência de publicidade efoi diretor de mídias da filialmineira da agência multina-cional Standard Oghit Mat-tee, entre 1975 e 1980. Comtanta experiência na área decomunicação, o publicitárioaponta as dificuldades de se

manter um jornal hiperlocal:“Se for por idealismo, você tem que prover recursos. De-

pendemos de anúncios docomércio local, falta patrocí-nio. Muitas vezes tenho quebancar com meu próprio di-nheiro”, afirma.

 A pequena equipe do  Jor- nal da Floresta também enfren-ta dificuldades para pagar ascontas. “A maior dificuldadeé a questão financeira, depen-demos dos comerciantes dobairro”, explica Matheus. Se-gundo o jornalista, que tam-bém faz a captação de novos

anunciantes, somente a cria-ção das artes dos anúncios,a impressão e a distribuiçãosão terceirizadas.

 Apesar do impresso obterêxito no âmbito da interaçãocom a comunidade, existemoutras mídias que podem serexploradas para os mesmosfins. Mateus Rabelo contaque o  Jornal da Floresta pre-tende se expandir para umapágina da web, mas ainda é

apenas um projeto de cria-ção, por depender de dispo-nibilidade para manutençãoe atualização.

 Jairo Nascimento, doNosso Grito, afirma que o veículo de comunicação dobairro Santo André continu-ará sendo o impresso. Paraele, rádios comunitárias nãotem mais espaço em MinasGerais. “Na Noroeste, crieia Rádio Progressiva, noBairro Aparecida, a Ati- va, e no Santo André, a

Integração FM, mas todasforam fechadas. Rádio comu-nitária é muito perseguida,é envolvida por todauma burocracia”.

O jornal impresso aindaé a melhor opção quando setrata de jornalismo hiperlo-cal, pois é uma forma práticae direta de informar a comu-nidade sobre seus direitosenquanto incentiva a noçãode coletividade.

 A voz das comunidadesB d B hn n n

a comunicação entre os moradores e o relacionamento com a prefeitura

Creso Campos enfreta diculdades para manter o Diário da Lagoinha.

j, d N g, x n ndd

Fotos: arthur möller 

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eu sava láImPreSSãO 13BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Jéssica Amaral4° PERÍODOEdição: João Luis Chagas

Em meio a diversos acontecimen-tos cotidianos que pipocam com ashoras em um sábado quase pacatonas ruas e avenidas de belo horizon-te, algumas mulheres escolheram fa-zer parte de um deles. Em São Pau-lo, Campinas, Rio de Janeiro, Portoalegre, Florianópolis e Recife, maismulheres se reuniam no mesmo diacom um mesmo propósito: participarda primeira Marcha Nacional Contraa Mídia Machista. Eu fui uma delas.

O motivo da marcha? Um comer-cial de cerveja. Nele homens imagina-

 vam o que fariam se fossem invisíveis. As imagens os mostravam apalpandoas mulheres, sem que elas vissem. Além disso, os rapazes invadiam o

banheiro feminino para arrancar aroupa das garotas que lá estavam. Achei bem estranho uma propagandacom essas cenas ir ao ar. Era inevi-tável não me incomodar com o teordaquelas imagens.

Mas o que eu faria quanto aqui-lo? Não sabia como e o que exata-mente. Cruzei os dedos e perma-neci na espera que ele saísse do ar.Dias depois, recebi um convite noFacebook. Uma colega da faculda-de criou uma página que discutia arepresentação da mulher na mídia,

incentivada pelo mesmo comercial.Pessoas de várias cidades do Brasilforam convidadas a discutir o conte-údo da publicidade. Havia surgido a

oportunidade de fazer algo, e melhorainda, coletivamente.No dia antes de chegar a Praça da

Estação, onde nos encontraríamos,escrevi minhas frases em cartazes, queeram a minha voz. Imaginei cada mu-lher que estava a caminho da marchacom suas idéias como eu. Peguei oônibus e me encontrei com as pessoasque participariam da marcha. Fizemosmais cartazes e trocamos mais idéias.Saímos de lá marchando e gritando,subimos até a Rua da Bahia, onde a Alem (Associação Lésbica de Minas)

se juntou a nós Éramos mais de 100pessoas, homens e mulheres.

 As pessoas que estavam às ruasnaquele sábado pacato se depararam

com vozes, quebrando o silêncio habi-tual do fim de semana belo-horizonti-no. Todos os olhos que passaram pornós, ainda que estranhados ou desa-creditados, levaram a marca das ideiasque passearam por ali.

Continuamos a caminhada, na-quela tarde de sol forte, ainda quecansadas, até a Praça da Liberdade. Asoutras mulheres do Brasil também so-maram seus passos aos nossos adianteno feminismo, deixando em mim, na-quele dia, a vontade de andar sem fimpor essa causa.

“Cervejão com

estuprão, não!”Comercial de cerveja provoca discussão nas redes sociais e protestos nas

ruas de cidades brasileiras. Em BH, mais de 100 pessoas aderiram

reproDuÇÃo: DuDu maceDo

 Após a Marcha das Vadias, ruas de BH recebem outra manifestação bem humorada

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taas copoâas ImPreSSãO14 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Jonathan Maxuell6° PERÍODOEdição: Dany Starling

É mais ou menos assim: você vota no candidato A,defensor de bandeiras comoa maior intervenção do Esta-do na economia, mas quemse elege é o candidato B,que defende exatamente ocontrário. E com o seu voto.Desde a Grécia Antiga, ondenasceu a democracia, eleiçãoé um sistema de escolha emque se elegem os candidatosque mais tiverem votos. Puralógica. Mas não é bem assimque acontece no Brasil.

 A Constituição Federal e

o Código Eleitoral definem edetalham o uso de dois siste-mas eleitorais: o majoritárioe o proporcional. No primei-ro, são eleitos os prefeitos, osgovernadores, os senadores eo presidente da República.Nesse caso, a lógica é válida.Ganha quem tem mais vo-tos, podendo as eleições terdois turnos nas cidades commais de 200 mil eleitores. A situação muda mesmo é no

proporcional.“No sistema proporcio-

nal, há mais respeito às mi-norias, pois se busca maior

representatividade ideológi-ca nas casas legislativas”. Édessa forma que o advogadoeleitoral Wederson Advincu-la expõe a principal particu-laridade do sistema que elege vereadores e deputados esta-duais, distritais e federais.

Esse “respeito às mino-rias” se dá por meio de umcomplexo cálculo dos cha-mados quocientes eleitorale partidário. “Neste sistema,nem sempre são eleitos osmais votados, pois os votos vão para o partido e não

para os candidatos, que pre-enchem as vagas conformeo número de cadeiras obti-das”, destaca Advincula, quetambém é membro da Co-missão de Direito Eleitoralda Ordem dos Advogadosdo Brasil em Minas Gerais(OAB-MG) e coordenadorde Direito Eleitoral da Es-cola Superior de Advocacia(ESA/MG).

Para ficar mais claro,

 vamos pensar nas últimaseleições para a Câmara dosDeputados, em 2010. O can-didato Francisco Everardo

Oliveira Silva, o palhaço Ti-ririca, recebeu 1,35 milhãode votos dos paulistas. Foio mais votado do país, coma segunda maior votação dahistória das eleições brasilei-ras para deputado. Tirica sófica atrás de Enéas Carneiro,morto em 2007, que recebeu1.573.112 votos no pleito de

2002. A legenda de Tiririca,o Partido da República (PR),estava coligada com o PT, oPCdoB, o PRB e o PTdoB.

Isso quer dizer que qualqueruma dessas siglas poderia serbeneficiada pelos votos da-dos no palhaço. E foram.

Por causa da expressiva votação em Tiririca, que ul-trapassou o quociente eleito-ral, ou seja, a quantidade de votos que precisava para seeleger, outros três candidatosda coligação conquistaramcadeira na Câmara: OtonielLima, do PRB (95.971 vo-tos), Delegado Protógenes,do PCdoB (94.906 votos),e Vanderlei Siraque, do PT

(93.314 votos). Nenhum de-les havia atingido o quocien-te eleitoral. E o caso Tiriricanão é isolado. Segundo le- vantamento do Departamen-to Intersindical de AssessoriaParlamentar (Diap), dos 513deputados federais, apenas35 se elegeram por contaprópria.

O advogado eleitoral Flá- vio Britto explica que, nosistema proporcional ado-

tado pelo Brasil, “ao atingirdeterminada votação – oquociente –, aqueles votosexcedentes começam a ir

para os outros candidatos dopartido ou da coligação, queserão beneficiados”. Todaessa complexidade deixa oseleitores desestimulados. “Émuito confuso, não entendonada”, protesta a nutricionis-ta Fernanda Moraes. Seu ir-mão, o administrador DanielMoraes, faz coro: “Não hádúvidas de que votar é muitoimportante, mas não saber oque vai acontecer com esse voto é desanimador”.

 Apesar das críticas, o es-pecialista Wederson Advin-

cula observa que, apesar de omodelo “aparentar ser umaaberração, decorre de umaevolução eleitoral, sendo quequase a totalidade dos paísesdemocráticos adota algumaconfiguração do sistema pro-porcional”.

O tal quocientePara que os votos nas

eleições proporcionais sejamdevidamente distribuídos,

 A jornada do votoSeu voto pode eleger o candidato que você não escolheu.

ennd fnn n B

Quociente eleitoral benecia minorias; sistema, contudo, gera polêmica

 Votação

expressiva não é

nôn d

 vitória.qneleitoral é

fndn d nLegislativo.

Fotos: DivulgaÇÃo

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levando em consideração osprincípios democráticos dorespeito à vontade da maio-ria e da consagração da re-presentação das minorias,calculam-se os quocienteseleitoral e partidário. Advin-cula explica que “as vagas de

deputados e vereadores sãodistribuídas de acordo comos votos obtidos pela legen-da ou coligação e somadosaos votos recebidos nominal-mente pelos candidatos da-quele partido ou coligação”.

Desse modo, para umcandidato a deputado sereleito, ele não depende ape-nas de um grande número de votos. Considera-se tambéma votação que o partido oua coligação obtiveram. Aqui,entra em cena o quocienteeleitoral, definido como o

total de votos válidos divi-dido pelo número de vagasexistentes. Esse quocientedelimita o número mínimode votos que um partido oucoligação deve alcançar paraeleger um candidato. “Éimportante destacar que sóentram nesse cálculo os vá-lidos. Ou seja, não são com-putados os brancos e nulos”,afirma Flávio Britto.

 Analista judiciário eprofessor da UniversidadeCatólica do Salvador, JaimeBarreiros usa um exemplo

didático para explicar comoé realizado o cálculo do quo-

ciente eleitoral. “Imagineque em um município haja1,2 milhão de eleitores, e queum milhão compareça às ur-nas no dia da eleição. Desses,200 mil votam em branco ounulo. Restam 800 mil votos,que são os válidos. Imagine,

ainda, que estejam em dispu-ta 40 vagas. O quociente elei-toral será descoberto a partirda divisão do número de vo-tos válidos (800 mil) pelo nú-mero de cadeiras (40). Serãonecessários, portanto, pelomenos 20 mil votos para umcandidato ser eleito”.

Descoberto esse número,a saga continua. Mas agora oprotagonista é o quocientepartidário, que indica o nú-mero de candidatos que cadalegenda elegerá caso alcanceo quociente eleitoral. O cál-

culo é simples: cada agremia-ção tem seus votos divididospelo quociente eleitoral.Obtém-se, assim, o quocien-te partidário. “No caso doexemplo citado, um partidoou coligação que recebessecem mil votos teria garantidoo direito a cinco das vagasem disputa”, encerra o pro-fessor Barreiros.

O problema é que quasenunca essas divisões resul-tam em um número inteiro.Então, nem todas as vagasem disputa são preenchidas

a partir dos cálculos dos quo-cientes eleitoral e partidário.

 As vagas restantes são dividi-das usando-se o método dedistribuição das sobras entreos partidos que atingiramo quociente eleitoral. Esseprocesso é repetido quantas vezes forem necessárias, atéque não haja mais vacância.

Reforma eleitoralO Código Eleitoral bra-

sileiro é de 1965, o únicoainda não revisto após a pro-mulgação da Constituição de1988. Wederson Advinculaacredita que “há grande de-satualização, pois [o código]não acompanhou a evoluçãodos mecanismos e instru-mentos democráticos.”

Como estudioso de sis-temas eleitorais de diversospaíses, o especialista entendeque, apesar dessa desatualiza-

ção, não existe a necessidadede ampla reforma no sistemabrasileiro. Até porque não vislumbra “grandes mudan-ças na legislação eleitoral emcurto prazo”. As soluçõespara possíveis equívocos po-dem ser aplicadas de formagradativa e contínua. “Apre-sentamos hoje um evoluídoestágio democrático. As dis-torções, portanto, são pon-tuais e podem ser corrigidassem maiores traumas”, con-clui o advogado.

InformatizaçãoNem só de complicações

 vive nosso sistema eleitoral. Apesar de todas as peculia-ridades que dificultam oentendimento da maioria dapopulação sobre sua lógicade funcionamento, o siste-ma brasileiro se destaca nomundo como um dos mais

modernos. O principal mo-tivo é o pioneirismo no usoda urna eletrônica, criada eimplementada no Brasil noano de 1996. As máquinastrazem mais agilidade e segu-rança ao processo eleitoral.

 A informatização daseleições é uma caracterís-tica que posiciona o Brasilna vanguarda mundial. Deacordo com dados do Tribu-nal Superior Eleitoral (TSE),a eleição de 2010 foi a maisinformatizada já realizada nomundo. Foram 135 milhões

de eleitores, mais de dois mi-lhões de mesários, 456 milurnas eletrônicas, 420 mil se-ções eleitorais, 22 mil candi-datos, 3.027 zonas eleitoraise 27 partidos políticos.

Organizadas pelo TSE,em âmbito nacional, e pelostribunais regionais eleitorais(TREs), em âmbito estadu-al, os pleitos brasileiros cha-mam a atenção de autorida-des estrangeiras, que buscamcompreender como é pos-sível realizar eleições como nível de segurança, celeri-

dade e transparência que oBrasil atingiu.

taas copoâasImPreSSãO   15BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

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esaio ImPreSSãO16 BeLO HOrIZOnte, OUtUBrO De 2012

Pano pra manga? 

Não, mangas para árvores!Fotos: Jéssica Amaral4° PERÍODO

Inspirados por participar da Bienal Brasileira de Design de2012, os alunos do curso de Design de Moda do UniBHderam asas à imaginação na hora de produzir. Mangas ar-tesanais foram confeccionadas pelos estudantes e enfeitam

as árvores do campus Antônio Carlos, na Lagoinha.