jornal ganapati - 2010 09 setembro

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  • 8/3/2019 Jornal Ganapati - 2010 09 Setembro

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    Ganapati

    Ecologia - Vegetarianismo - tica - Espiritualidade

    M

    eus artigos sobre a situao eco-lgica da Terra podero ter sus-citado nos leitores e nas leitoras

    no poucas angstias. E bom que assimseja, pois so as angstias que nos tiramda inrcia, nos fazem pensar, ler, conver-sar, discutir e buscar novos caminhos. Atranquilidade em tempos sombrios comoos nossos se agura como uma irrespon-sabilidade. Cada um e todos devemos agirrpido e juntos porque tudo urgente.Temos que nos mobilizar para denir umnovo rumo nossa vida neste Planeta, casoquisermos continuar habitando nele.

    Os tempos de abundncia e comodida-

    de pertencem ao passado. O que est ocor-rendo no uma simples crise, mas umairreversibilidade. A Terra mudou de modoque no tem mais retorno e ns temosque mudar com ela. Comeou o tempo daconscincia da nitude de todas as coisas,tambm daquilo que nos parecia mais pe-rene: a persistncia da vitalidade da Terra,o equilbrio da biosfera e a imortalidadeda espcie humana. Todas estas realida-des esto experimentando um processo decaos. No incio ele se apresenta destrutivo,

    deixando cair tudo que acidental e mera-mente agregado, mas em seguida, se revelacriativo, dando forma nova ao que perenee essencial para a vida.

    At agora vivamos sob a era do punhocerrado para dominar, subjugar e destruir.Agora comea a era da mo estendida eaberta para se entrelaar com outras mose, na colaborao e na solidariedade, cons-truir o bem viver comunitrio e o bemcomum da Terra e da humanidade. Adeus

    ao inveterado individualismo e bem-vindaa cooperao de todos com todos.

    Como os astrofsicos e os cosmlogosnos asseguram, o universo est ainda emgnese, em processo de expanso e de au-to-criao. H uma Energia de Fundo quesubjaz a todos os eventos, sustenta cadaser e ordena todas as energias para frentee para cima rumo a formas cada vez maiscomplexas e conscientes. Ns somos umaemergncia criativa dela.

    Ela est sempre em ao mas se mos-tra especialmente ativa em momentos decrise sistmica quando se acumulam asforas para provocar rupturas e possibilitarsaltos de qualidade. ento que ocorrem

    as emergncias: algo novo, ainda noexistente mas contido nas virtualidades doUniverso.

    Estimo que estamos s portas de umadestas emergncias: a noosfera (mentese coraes unidos), a fase planetria daconscincia e a unicao da espcie hu-mana, reunida na mesma Casa Comum, oplaneta Terra.

    Ento, nos identicaremos como ir-mos e irms que se sentam juntos mesa,

    para conviver, comer, beber e desfrutar dosfrutos da Me Terra, depois de haver traba-

    lhado de forma cooperativa e respeitando anatureza. Conrmaremos assim o que dis-se o lsofo do Princpio Esperana, ErnstBloch:o gnesis no est no comeo masno m.

    Fao minhas as palavras do pai da eco-logia norte-americana, o antroplogo dasculturas e telogo Thomas Berry: Nonos faltaro nunca as energias necessriaspara forjar o futuro. Vivemos, na verdade,imersos num oceano de Energia, maior doque podemos imaginar. Esta Energia nospertence, no pela via da dominao mas

    pela via da invocao.Temos que invocar esta Energia de

    Fundo. Ela sempre est ai, disponvel.Basta abrir-se a ela com a disposio deacolh-la e de fazer as transformaes queela inspira.

    Pelo fato de ser uma Energia benfaze- ja e criadora, ela nos permite proclamarcom o poeta Thiago de Mello, no meiodos impasses e das ameaas que pesamsobre nosso futuro: Faz escuro, mas eucanto. Sim, cantaremos o advento desta

    emergncianova para a Terra e para ahumanidade.Porque amamos as estrelas, no temos

    medo da noite escura. Elas so inalcan-veis mas nos orientam. L nas estrelas seencontra nossa origem, pois somos feitosdo p delas. Elas nos guiaro e nos faronovamente brilhar. Porque para isso queemergimos neste Planeta: para brilhar. Esse o propsito do universo e o desgnio doCriador.

    01

    DISTRIBUIO GRATUITA

    Sentimentos como a angstia nos fazem

    repensar e buscar novos caminhos Leonardo Boff

    SETEMBRO 2010 N11

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    Meu pai est morrendo. Lenta, dolorosamente. Tudo que possofazer acariciar suas mos, seus ps. Ajudo no banho, feito nacama do hospital. Durmo ao seu lado quando durmo.Fico acordada ouvindo-o respirar atravs de uma mscara presaem sua cabea por tiras negras.Parece um instrumento de tortura medieval. Mdicos e enfermei-ros me garantem que isso alivia sua diculdade respiratria.Procuro acompanhar o ritmo do aparelho. Fico tonta. Inspiraorpida, expirao longa. No h pausa nenhuma entre inspirao-expirao-inspirao.O pulmo est comprometido, pneumonia, lquidos. A siotera-peuta vem fazer aspirao. Um pequeno tubo plstico entra pelanarina e chega ao pulmo. Suga sangue, catarro. Desagradvel.Meu pai, com 94 anos de idade, franze o nariz.Lembro-me dos yoguis - limpeza interna. gua pura aquecida e

    sal. Entrando de uma narina e saindo de outra. A limpeza de engu-lir gaze. Tantas formas de prtica antigas e ecientes.Mas, para yoguis, para pessoas treinadas.No hospital no perguntam se a pessoa est interessada nessasprticas yoguicas. Esto fazendo o melhor pelo paciente.Ficam perguntas em minha ignorante mente Zen. Seria adequadooperar um senhor de 94 anos de idade, sendo tratado de pneumo-nia?Pois descobriram que havia um hematoma entre a caixa cranianae o crebro de meu pai.Resultado de queda antiga ou recente? Resultado de anticoagu-lantes usados em massa depois de uma cirurgia onde colocaram

    prtese em seu fmur direito?Ele sangra muito foi o comentrio do neuro cirurgio.Minha irm mais nova no queria fazer a cirurgia. Que ele fossemorrendo aos poucos, naturalmente, que no fosse ferido, cutuca-do, maltratado. Que dessem um sedativo, caso piorasse.Parecia to bem. Queria a alta. Voltar para casa. A pneumoniaestava controlada.Mas vieram os veredictos dos especialistas: se no zer a cirurgiaestar sendo condenado a uma morte muito sofrida.De tantas e tantas foi operado.Estava eu liderando um treinamento zen intensivo. Sentava-meem zazen e imediatamente voltava ao quarto do hospital. Sim,

    em todos os perodos de zazen eu me via no quarto, com ele.Queria o seu bem, no sua dor, seu sofrimento.Houve pioras, houve melhoras.Ns monges somos proibidos de matar. No podemos usar ne-nhum meio para terminar com a vida, nem mesmo mantras, pen-samentos.Oro por meu pai. Oro para que tenha tranqilidade em suas di-culdades.Tudo que comea termina.No h encontro sem despedida.

    2

    Treinamento intensivoMonja Coen

    O corpo como uma carroa. Quando essa quebra e no podeser usada, a devemos abandonar.Meu pai no quer morrer.Meu pai quer viver.Iniciaram a sedao. Teve pneumotrax. Furo na pleura. Teriasido o aparelho de respirao forte usada incessantemente?O que pensa meu pai? O que no pensa?V para a luz innita. Radiante luz, mais forte que a do sol.Por do sol. A luz bate em meus olhos e reetida aos olhos demeu pai.Verde luz envolve parte de seu rosto. Olhei demais para o sol, malvejo sua face, pai.Minha irm mais velha chora, acarinhando, abraando, querendocoloc-lo em seu colo.Ele olha. Olhos azuis que olham.Ele quer as lhas felizes.Bom pai. No queria me despedir de voc. Queria car mais umpouco, queria acreditar que voc sobreviveria a anestesia geralapesar da pneumonia.Tenho raiva do cirurgio e quero culp-lo por no ver meu pai ever apenas o hematoma.Ele viu o crebro e no viu os pulmes. A especialidade limitou

    sua capacidade de avaliao?Ou no?Choro orando o Sutra do Corao da Grande Sabedoria Comple-ta.Anoiteceu.Prtica incessante do caminho.Gate gate para gate parasamgate Bodhi svahaIndo indo, tendo ido, tendo chegado e ainda assim indo. Salve aIluminao.Pai, agradeo sua vida minha vida, ensinamentos, ternura, cuida-dos, alimentos, limites ilimitados.Beijo suas mos inchadas de tanto soro e saio do quarto querendo

    voltar.H volta meu pai?Onde dorme agora? Onde sonha? O que sonha? Pensa? No pen-sa?Triste escrevo a tristeza.A despedida de meu pai. Di.Respiro fundo, solto lentamente.Lenta a mente.Isso Zen. Isto Yoga. Isto vidamorte. Ns.Mos em preceMonja Coen

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    Quem morre? - Pablo Neruda

    Proposta da verdadeMaria Lcia Lauria Chiappetta

    Morre lentamente quem no viaja, quem no l, quem no ouve msica, quem no en-contra graa em si mesmo.

    Morre lentamente quem destri o seu amor-prprio, quem no se deixa ajudar.Morre lentamente quem se transforma em escravo do hbito, repetindo todos os dias

    os mesmos trajetos, quem no muda de marca, no se arrisca a vestir uma nova cor ou noconversa com quem no conhece.

    Morre lentamente quem faz da televiso o seu guru.Morre lentamente quem evita uma paixo, quem prefere o preto sobre o branco e os pon-

    tos sobre os is em detrimento de um redemoinho de emoes, justamente as que resgatamo brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, coraes aos tropeos e sentimentos.

    Morre lentamente quem no vira a mesa quando est infeliz com o seu trabalho, quemno arrisca o certo pelo incerto para ir atrs de um sonho, quem no se permite pelo menosuma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

    Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua m sorte ou da chuva incessante.

    Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de inici-lo, no pergunta sobre um assunto que desconhece ou noresponde quando lhe indagam sobre algo que sabe.Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforo muito maior do que o simples

    fato de respirar.Somente a perseverana far com que conquistemos um estgio esplndido de felicidade.

    Um zro de espantoinsinua batalhas escusas,tangentes sobejando intrigas.

    O bem curva-se em cu enevoado,vislumbra-se a mesquinhez estampada no convvio,enquanto passos sutis sugerem a verdade enganadora.

    Lcida viso apreende a farsae reincide a destoante harmonia.O descompasso acontecee escancara-se a fragilidade do demrito.

    Ao persistir e misticar a justiaenlevo ou verdade,deagra-se o milagre,desfaz-se o equvoco:a mscara mal ajustadadissolve-se na face caricata.

    E se no se comprovaou no se aquilata o peso enredadotrapos da alma perversaestampa-se a aura ameaadae se desfaz na fronte.Aviva-se e desgua a sordidezrevelando, em crueza, a feio distorcida.

    Olhar Literrio

    03

    O J ornal Tam bm Canta

    Cano da AmricaMilton Nascimento

    Amigo coisa para se guardarDebaixo de sete chavesDentro do coraoAssim falava a cano que na Amrica ouviMas quem cantava chorouAo ver o seu amigo partirMas quem cou, no pensamento voouCom seu canto que o outro lembrouE quem voou, no pensamento couCom a lembrana que o outro cantouAmigo coisa para se guardarNo lado esquerdo do peitoMesmo que o tempo e a distncia digam noMesmo esquecendo a canoO que importa ouvirA voz que vem do coraoPois seja o que vier, venha o que vierQualquer dia, amigo, eu voltoA te encontrarQualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

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    P

    arece que o mundo est despertando, ainda que muito len-tamente, para as questes do meio ambiente. verdade queisso est ocorrendo pela fora de diversas catstrofes ser-

    vindo de exemplo sobre o preo a pagar se continuar a alimentara destruio da natureza. De qualquer forma, as notcias sobre oassunto esto circulando em maior volume.

    Uma boa ilustrao do despertar da sociedade para as ameaasda natureza depredada o que acontece na rea empresarial. Ath pouco tempo as organizaes apoiavam, quando apoiavam,as causas verdes apenas como estratgia de marketing. Era umaforma de ganhar a simpatia de consumidores conscientes, comovinha fazendo a Coca-Cola, que patrocinava diversas iniciativassociais como uma forma de manter a sua marca em evidncia.Mas nos ltimos anos a situao mudou. As empresas comearama descobrir que as coisas eram mais srias do que se imagina-

    va. A Coca, por exemplo, foi tomada pela conscincia de que asgeleiras que derretiam nos polos no eram apenas uma birra danatureza, ou uma bandeira de luta de pessoas que queriam pre-servar a natureza como forma de contestar o modelo econmi-co atual. A empresa entendeu pelos cientistas contratados que odesabamento das geleiras tinha origem no aquecimento global esignicava perda de gua doce. Isso geraria escassez crescente dematria-prima para a fabricao dos seus mais de 3 mil produtos,ameaando o futuro dos seus negcios.

    Essa constatao dos executivos da Coca teve como conse-quncia um investimento de bilhes de dlares para colocar emfuncionamento projetos de reutilizao e tratamento de gua em

    suas fbricas em todos os pases onde est presente. O mesmo ca-minho foi feito pelas outras empresas como IBM, General Elec-tric e Walmart, que tambm adotaram programas de preservaodo meio ambiente, porque so essenciais para as suas sobrevivn-cias.

    inteligvel o fato de as empresas despertarem para a defesado meio ambiente em razo da ameaa aos seus negcios. Mastambm importante perceber que a atitude de se movimentar

    apenas quando preciso defender a sua prpria existncia, ouquando v ameaado o seu patamar de conforto, no ajuda a cons-truir a autntica sustentao: no soma foras com o movimentoglobal pela defesa do meio ambiente.

    Alis, tenho a impresso de que algo muito pior do que aessem sustentao pode estar ocorrendo, porque as razes econ-micas mesmo quando tm preocupao lateral em defender anatureza ou a pobreza -, no tm como prioridade a construoda sustentabilidade emocional do ser humano. Ao fechar os olhos verdadeira origem de toda a destruio, possivelmente est sealimentando um cenrio muito mais grave do que se vislumbra.Pois, a no ser que se enfrente diretamente a violncia contra asvidas sobre a qual a sociedade construda, no ser possvelpreservar nada sua volta. Ou se busca a sustentabilidade dasemoes humanas, ou no ser possvel estancar as mortes da

    natureza, dos animais e dos prprios seres humanos. razovel esperar equilbrio nas relaes com o meio am-

    biente numa sociedade sem sustentao emocional? Que acreditaser normal alimentar-se da morte de outras vidas? Que acreditaque a sua vida mais importante do que a dos seres animais? Queensina s suas crianas que se pode causar sofrimento e mortepelo prazer? Como esperar que, com esse tipo de ensinamento,elas no cometam violncia, que no matem e que no destruamas escolas, as cidades, a natureza?

    A verdade que as aes de reciclar gua, papel, embala-gens, de coleta seletiva de lixo, de reduzir desperdcios, de fazerreorestamento, s ganhariam sentido maior do que de simples

    sobrevivncia dos negcios, se fossem exerccios para construira sustentabilidade emocional, com objetivo de mudar a relaocom todas as vidas envolvidas no equilbrio da natureza. Semesse olhar de combate a todos os tipos de violncia, no h pos-sibilidade de esperar uma vida diferente da que existe. No hsonho possvel de vida melhor para hoje, muito menos para asfuturas geraes.

    Momento de Reflexo

    prefervel mil vezes afrontar o mundo estando de acordo com a suaconscincia que afrontar a sua conscincia para ser agradvel ao mundo. Tudo

    est bem com voc, mesmo que tudo parea estar completamente errado, se tempaz interior. Inversamente, tudo est errado com voc, mesmo que exteriormente

    tudo parea estar bem, se no est em paz com sua conscincia.

    Mahatma Gandhi

    Sem vida emocional sustentvel no

    haver planeta sustentvel Henri Kobata

    Fonte: ANDA

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    O silncio, s vezes, a melhor resposta. Dalai Lama

    Durante dois sbados falamos aqui na coluna sobre o si-lncio, elemento raro nessa sociedade do barulho da qualfazemos parte. Sem dvida este tema possui muitas rami-

    caes, tendo seus dois lados da moeda. Faamos uma reexo:existe o silncio positivo e negativo? Como voc deniria ambos?J experimentou algum em sua vida?H que se ter discernimento para us-lo quando preciso, e quebr-lo quando necessrio. No para qualquer pessoa essa capacidadede adequao s ocasies. Uma das diculdades da maioria de ns se colocar no momento presente. Se estamos comendo, pensa-mos em tudo, menos na comida, na mastigao, nas cores dos ali-mentos, na apurao do sabor, na consistncia, enm, raramenteestamos concentrados no ato presente. Se experimentarmos exer-

    citar nossa mente para o agora, estaremos aos poucos exercitan-do o silncio interno, evitando interferncias passadas e futuras ediminuindo o estado de ansiedade que se instala pela necessidadede controle como se fosse possvel controlar todas as coisas -.Silenciar exige um aprendizado na forma de ser e estar no mundo.No existe aqui a pretenso em esgotar o assunto, at porque, ele complexo e mltiplo. Temos os mais variados tipos de silncio, assim como, suas diversas conseqncias. O silncio dos opri-midos, da indiferena, dos poderosos quando calam suas vtimas.

    O silncio da cumplicidade, dos amantes que se entreolham, dolho emudecido pelo autoritarismo dos pais, da criana vtima dobullyng, do medo e da desesperana. O silncio fruto da paz, queproduz a msica que surge dos espaos entre as notas, o silncioamoroso, compassivo. O silncio das multides, da solido e daunio. Para Rubens Alves Deus a beleza que se ouve no siln-cio. Fernando Pessoa falou do silncio das palavras e dizia preciso que haja silncio dentro da alma. Clarice Lispector diziaAh! tenho medo de Deus e do silncio. Notamos que o silncioao mesmo tempo em que acalma, acalenta, pode tornar-se umatormenta, algo to insuportvel, quanto a insustentvel leveza doser. Temos o silncio que fala, que se torna arma, que traz em si afora da eternidade e da criao. Para Jean Baudrillard o verdadei-ro e nico problema o silncio da massa o silncio da maioriasilenciosa. Precisamos parar para sentir a fora e o poder que o

    ele e suas formas tm em nossas vidas. Encontrar meios de com- preend-lo, desvend-lo e principalmente vivenci-lo faz partedas etapas necessrias ao crescimento e desenvolvimento huma-no. no silncio que teremos a chance de encontrar o nosso maiortesouro: ns mesmos. Que a sua busca seja verdadeira, sem medo,dia a dia, embebida na coragem de ser voc. E de repente no vaziopleno do silncio voc se faz gente e sua alma se acende!

    05

    Colaboradora Ganapati: [email protected]

    Conceio CavalcantiA vontade da a lma

    Dizemos levar os animais a srio. Todos

    ns concordamos que errado causar so-frimento ou morte aos animais sem ne-cessidade. Mas o que isso quer dizer? Nomnimo, quer dizer que errado causarsofrimento e morte aos animais s porquesentimos prazer ou nos divertimos fazen-

    do isso, ou ento porque conveniente, ou porque puro hbito. Mas aesmagadora maioria dos usos que fazemos dos animais quase todosos usos no tem nenhuma justicativa, a no ser nosso prazer, divertimento, hbito ou convenincia. A

    maioria dos animais morta para a produo de comida. Segundo a Organizao das Naes Unidas paraAgricultura e Alimentao (FAO), os humanos matam aproximadamente 53 bilhes de animais isto, 53.000.000.000 para comida por ano, fora os peixes e outros animais marinhos. Esse nmero estcrescendo e poder dobrar na segunda metade do sculo.

    145 milhes........mortos a cada dia

    6 milhes...........mortos a cada hora

    100.000.............mortos a cada minuto

    1.680.................mortos a cada segundo

    Animais: Nossa Esqu izofrenia Mora l

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    Entrevistando Vilmar Berna

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    O que ecologia e que relao tem com

    a espiritualidade humana?

    VSDB: Apesar da atual divulgao so-bre meio ambiente, RIO 92 e polticas de proteo ambiental, a populao mantmainda uma viso simplista, supercial eromntica sobre a questo. Para a maio-ria, proteger o meio ambiente protegero verde, cuidar das plantas e rvores, nodestruir orestas, no incendiar matas.Muito poucos tem noo da necessidadede relaes mais harmoniosas entre o serhumano e a natureza. Talvez o mais difcilseja compreender que nossa espcie no a dona do planeta, no pode fazer com a

    natureza o que quiser. Por mais especialque nossa espcie possa parecer, ela no mais importante que qualquer outra, jque, na natureza, tudo est interrelacio-nado, o que fere a Terra, fere tambm oslhos da Terra, como j armou o caci-que Seatle, em 1855, antes de inventaremo termo ecologia. E isso pode ser um durogolpe em nossa noo de importncia, ao ponto de nos considerarmos imagem esemelhana de Deus. Assim como a menosde cinco sculos tivemos de aceitar o fato

    de que nosso planeta no era o centro doUniverso, hoje precisamos compreenderque muito menos o Universo existe paranos servir. No podemos usar e abusar doplaneta, sem sofrer as conseqncias.

    Segundo o historiador americano Lyn

    White, a origem do mal-estar ecolgi-

    co est na atitude diante da natureza

    promovida pela religio judeu-crist.

    Quanto armao, o cristianismo

    responsvel ou no?

    VSDB: Caso a religio judeu-crist fosse

    a responsvel por nossas relaes predat-rias com o planeta, no haveria poluioou degradao ambientais em povos comoutras religies, como os maometanos, porexemplo. Pases ateus, ento, seriam para-sos ecolgicos, e no o que acontece. Oshomens pr-histricos j tocavam fogo nasravinas e orestas como tcnica de caapara empurrar mamutes e dentes-de-sabre para lodaais, para mat-los mais facil-mente. Eles nem conheciam qualquer dasreligies que existem hoje. Por outro lado,

    a religio insere-se num contexto cultural.Ao desmatar, queimar, poluir, utilizar oudesperdiar recursos naturais ou energti-cos, cada ser humano est reproduzindo oque aprendeu ao longo da histria e cul-tura de seu povo. Portanto, ao destrui-

    dora no um ato isolado de um ou outroindivduo, ou responsabilidade de algumareligio, mas reete as relaes culturais,sociais e tecnolgicas de sua sociedade.Por exemplo, impossvel pretender queseres humanos explorados, injustiados edesprovidos de seus direitos de cidadosconsigam compreender que no devamexplorar outros seres vivos, como animaise plantas, considerados inferiores peloshumanos. A atual relao de nossa espciecom a natureza apenas um reexo do atu-al estgio de desenvolvimento das relaeshumanas entre ns prprios. Vivemos sen-do explorados, achamos natural explorar

    os outros.

    Ultimamente, os mass media se lan-

    aram em defesa da ecologia, ademais

    criaram-se ctedras universitrias de

    ecologia, enm, observa-se uma paixo

    ecolgica. No existem interesses pol-

    ticos e econmicos das grandes empre-

    sas e pases desenvolvidos?

    VSDB: Embora a populao esteja usan-do cada vez mais roupas e objetos pesso-ais com marcas e mensagens de defesa

    da natureza, bem como lendo ou assistin-do nos rgos de comunicao notcias e programas sobre o assunto, isso no temrevertido em formao de conscinciaambiental, mas apenas em maior volumede informao. No fundo, estas informa-es, apesar da boa inteno, s reforamo preconceito de que ecologia assunto deplantas e bichos. Uma questo muito sim-ptica na viso da populao, mas no m-nimo secundria num pas como o Brasil,com milhes de menores abandonados egente passando fome. importante com-

    bater a viso romntica da ecologia, analos seres humanos tambm fazem parte danatureza. Por outro lado, natural que osambientalistas quem satisfeitos ao ver di-rigentes de pases desenvolvidos, ditos deprimeiro mundo, levantarem a bandeiraambiental. como se vssemos reconheci-das nossas lutas em defesa do planeta. Mas preciso ver o que h por trs dessa sbitaconverso causa ambiental. Claro, queuma parte disso devido presso da opi-nio pblica, cada vez mais consciente dos

    problemas ambientais, mas no s isso. muito conveniente para as lideranas dospases do primeiro mundo exigir dos pa-ses de segundo e terceiro mundo quecuidem do meio ambiente. E convenientepor diversos motivos. Passam a imagem de

    que esto avanados no cuidado ambien-tal e ainda aumentam seus lucros com aexportao de produtos para despoluio,controle e monitoramento ambiental, usama questo ambiental como barreira comer-cial para sobretaxar produtos industriali-zados do segundo e terceiro mundo e,ainda lucram ao desviar a ateno da hu-manidade da base principal do problema:um modelo de desenvolvimento vendidocomo o nico possvel, baseado na explo-rao ilimitada de recursos naturais e nasuper-explorao da mo de obra dos tra- balhadores. O prprio conceito de pasesde primeiro, segundo e terceiro mundo j

    revela uma falsa ideologia, quando sugereuma corrida pelo desenvolvimento, ondeos melhores chegaram primeiro e cabe aosdemais seguir os mesmos passos. Essa vi-so irreal pois pressupe que o planeta ea cincia sero capazes de fornecer mat-rias primas, absorver resduos e encontrarsolues para os problemas do crescimentoindenidamente. Esconde o fato de que, nahiptese de todos alcanarem um mesmopadro de consumo que um Estados Uni-dos, por exemplo, sero precisos diversos

    planetas terras de recursos naturais. Ladoa lado com a crise ambiental existe umacrise de justia. Concentrar o discurso nacrise ambiental uma boa estratgia parapases do primeiro mundo, grandes bene-cirios e divulgadores do atual modelopredatrio de desenvolvimento. como seo discurso ambiental fosse uma espcie decortina de fumaa para despistar a atenoda opinio pblica para a crise de justia,evitando serem desmascarados como vi-les da humanidade.

    A natureza pode ser parceira do homem.Tal armao perdeu sua evidncia para

    o homem tecnolgico e mais, ele nem ao

    menos v seu sentido. O que o senhor

    pensa disso?

    VSDB: Antes de se propor uma relaomais harmnica e menos predatria denossa espcie com as outras, consideradasinferiores, preciso engajar a ecologia naslutas contra a explorao de um indivduo pelo outro em nossa prpria espcie. Oucontinuaremos contribuindo para romanti-

    zar as relaes ser humano-planeta terra,e tornar as questes ecolgicas cada vezmais supruas, elitistas e secundrias,reservadas apenas a um pequeno grupode iniciados, que adoram discursar sobreos prprios umbigos. As rvores no so

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    derrubadas, a fauna sacricada ou o meioambiente poludo por desconhecimento denossa espcie dos impactos dessas aessobre a natureza. No por falta de co-nhecimento ou de saber tecnolgico que omeio ambiente destrudo, mas devido aoatual estgio de desenvolvimento existentenas relaes sociais de nossa espcie. Cer-tos caadores e desmatadores, por exem- plo, possuem muito mais conhecimentos

    sobre ecologia, natureza e a vida silvestreque muitos ecologistas, mas usam essesconhecimentos para destruir e matar.

    Quais os maiores perigos que a humani-

    dade pode experimentar, caso continue

    destruindo o meio ambiente?

    VSDB: So vrios os problemas, desde orisco hipottico mas no improvvel deuma guerra nuclear, at o aquecimento glo-bal devido aos gases efeito- estufa, a per-da macia da biodiversidade, etc. Alguns

    especialistas tm destacado o crescimento populacional como sendo o mais grave,o que pode no ser verdadeiro, apesar dagravidade do problema. Em 90, 51,5%da populao mundial tinha menos de 25anos, segundo a ONU. Ou seja, somos umplaneta com 2,7 bilhes de jovens, todosquerendo emprego, melhor qualidade devida e, naturalmente, lhos. At quandoo planeta conseguir suportar a demanda?Mas quem sabe quanto de populao o pla-neta capaz de suportar? O problema noest s na quantidade de indivduos, masna forma como esse indivduo vem tratan-do o planeta. Por exemplo, uma nica pes-soa vivendo em 20 mil hectares no meio daoresta amaznica, ou no Pantanal, podecausar mais danos com uso do fogo e mo-to-serra, que 2.000 pessoas com conscin-cia ambiental num edifcio de So Paulo.Ainda segundo a ONU, existem no planetacerca de 1,1 bilho de pessoas vivendo emabsoluta pobreza, 1 bilho de analfabetose cerca de 13,5 milhes de crianas commenos de cinco anos que morrem de fome

    a cada ano. Dados como esses levaram aConferncia Mundial Sobre Populao eDesenvolvimento, realizada em setem-bro de 1994, no Cairo, Egito, a denir um programa para o controle da populaomundial nos prximos 20 anos, como se omaior perigo para o planeta fosse a explo-so demogrca nos pases pobres. Mas eos pases ricos? Quando sero obrigados arever seu modelo predatrio e socialmenteinjusto de desenvolvimento, baseado emlucros crescentes, que coloca um fardo

    ecolgico excessivo sobre pases pobrese em desenvolvimento, reduzidos con-dio de meros exportadores de matriasprimas e em lixeira do primeiro mundodesenvolvido?

    Em dezembro de 1997, a organizao

    ambientalista Conservation Internatio-

    nal armou que o Brasil o campeo

    mundial de biodiversidade. O que fazer

    para tornar til sem destruir esta rique-

    za?

    VSDB: No h respostas prontas. Perce-bemos que os limites devem ser colocadoscaso a caso, em funo das caractersticasde cada lugar. Isso pressupe embate de

    idias, possvel apenas num ambiente de-mocrtico, principalmente com uma im-prensa livre. Nossa gerao tem um papelmuito importante na histria da humani-dade. a gerao da transio entre duasvises distintas de mundo. No temos to-das as respostas, muito menos a soluo detodos os problemas, mas j somos capazesde dizer no ao progresso sem limites e di-zer sim ao progresso com responsabilidadeambiental, ainda que, s vezes, no saiba-mos direito que caminhos so os melhores

    para nos levar a esse novo desao. Confor-me j foi anunciado, o Brasil ocupa uma posio estratgica em termos mundiaisdevido sua incomparvel e rica biodiver-sidade. Se por um lado temos uma natu-reza exuberante, por outro carecemos deinvestimentos em pesquisa e na formaode mo-de-obra e estruturas que permitamo adequado aproveitamento e at mesmo acompreenso desta riqueza, o que nos temconduzido a um tipo de garimpo muitomais predatrio que o do ouro ou qualqueroutro metal. O garimpo gentico. Sem umabase legal adequada, o Brasil tem permi-tido que o saber dos ndios e populaestradicionais sobre a biodiversidade sejaapropriado por terceiros, sem que estespovos ou o prprio pas receba uma con-trapartida pelo uso dessa biodiversidade. Ocorreto que o conhecimento destes povosfosse respeitado e remunerado adequada-mente e que as comunidades participassemconjuntamente dos projetos de pesquisa.Existe, hoje, no mundo, uma verdadeiraguerra silenciosa dos pases ricos, que de-

    tm a tecnologia contra os pases pobres ouem desenvolvimento, que detm a biodi-versidade. Durante a RIO 92 esse conitocou bem claro e os EUA simplesmenterecusaram-se a assinar o tratado da Bio-diversidade, enquanto no se reconheces-se sua propriedade sobre o conhecimentogentico que possui de plantas e animaisde outros pases que, desnecessrio dizer,foram retirados desses pases sem seuconsentimento, sem qualquer remunera-o sobre as espcies ou sobre o saber dos

    povos tradicionais. A biodiversidade couassim reduzida condio de armazm defragmentos genticos, transformados peloslaboratrios em mercadorias comerciali-zveis. Mais que a simples apropriao deuma espcie de planta ou bicho, a apro-

    priao privada da vida, que assume umvalor monetrio.

    No livro Ecologia Para Ler, Pensar e

    Agir (Paulus, 94), o senhor fala que o

    mundo mais pacco, justo, fraterno e

    ecolgico no comea no outro, mas em

    ns mesmos. Por qu?

    VSDB: Por trs de nossos problemas am-bientais, no est apenas a ao de polui-

    dores, o desmantelamento dos rgos p-blicos de controle ambiental, ou a falta deconscincia ambiental, mas tambm umtipo de atitude e valores, que julga natu-ral explorar ao meio ambiente e aos nossossemelhantes para atingir um modelo de de-senvolvimento que, por si s, gera agres-ses ambientais e problemas sociais. Logo,no basta exigir mudana de comportamen-to de empresas e governos. Precisamos sercapazes de enfrentar a ns prprios, poisno haver planeta suciente capaz de su-

    prir as necessidades de quem acha que afelicidade e o sucesso esto na posse decada vez mais bens materiais. Tambmno basta se tornar mais consciente dosproblemas ambientais sem se tornar tam-bm mais ativo, crtico participativo. Emoutras palavras, o comportamento dos ci-dados em relao ao seu meio ambiente, indissocivel do exerccio da cidadania.S que tem gente que acha mais fcil -car reclamando que ningum ajuda, masno se pergunta se est fazendo a sua par-te. Acha mais prtico car esperando queo governo ou algum poltico salvador daptria faa alguma coisa - anal, costumaargumentar, j se paga tanto de impostos-, em vez de arregaar as mangas por suacomunidade ou escola. Na base da falta departicipao no est a ausncia da consci-ncia ambiental, mas de cidadania. Ento,como convencer os outros a modicaremseus hbitos, se no modicamos os nos-sos primeiro? Como exigir que os poluido-res deixem de envenenar o ar da comuni-dade, se os fumantes jogam sua fumaa no

    ar de quem est do lado, mesmo sabendoque incomoda e prejudica a sade do vi-zinho? Se queremos uma natureza preser-vada, devemos comear mudando nossoshbitos, comportamentos e atitudes como planeta, os animais, as plantas, o meioambiente e, principalmente, com o nossoprximo, pois no h coerncia em quemama os animais e as plantas mas explora,humilha, discrimina, odeia seus semelhan-tes. Sem coerncia, a comunicao va-zia, seja atuando em nvel familiar, seja no

    bairro, seja atravs do prprio trabalho naescola, na Prefeitura, na comunidade, naempresa, sindicato etc.

    Entrevista concedida Revista Cooperador Pau-

    lino. Vilmar Sidnei Demamam Berna ambientelista,

    gacho, nascido em Porto Alegre.

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    M

    udar pode no ser fcil, mas mudando e continuandoa mudar mesmo quando no for fcil, que nos livramosdo medo da mudana e podemos ento ser mais livres.

    Quando um indivduo muda o paradigma de expanso da suaconscincia, ele passa a ser referncia para os outros. Sua rmezaafetar outras pessoas; sua convico lhe dar coragem e, muitos,juntos, podem provocar grandes mudanas, mudanas histricas.O grandioso poder do exemplo.

    Isso sempre aconteceu em um momento ou outro na histriada humanidade e provocou mudanas de paradigmas. Nos ltimoscem anos, a abolio dos escravos, o direito das mulheres ao votoso alguns exemplos de mudanas signicativas que partiram deindivduos que no aceitaram um padro contrrio aos seus princ-pios e tiveram coragem e determinao para provocar mudanas.

    Coragem no ausncia de medo, mas enfrentar o medo.

    Ns que vivemos na poca atual estamos tendo a oportunida-de de participar de uma dessas grandes mudanas. A mudana queprioriza os valores morais, os princpios, a tica. A mudana quenos far tambm sentir a dor ou a alegria de um irmo nosso doreino mineral, vegetal ou animal, como se fosse a nossa prpriador ou nossa prpria alegria.

    No to estranho assim olhar um rio de guas poludas eftidas e sentir sua dor No difcil sentirmos a alegria de umriacho de guas claras e lmpidas, correndo e cantando em seu ca-minho. Certamente podemos sentir sua alegria. Eles no precisamfalar a nossa linguagem, alis, bem limitada.

    Nem precisamos ir at a Amaznia para assistir a espetculos

    degradantes de desorestamento e de negligncia com o reino ve-getal. s sairmos s ruas, nas cidades e olharmos para nossasirms, cimentadas at o tronco, sem ter como armazenar gua,sem considerao, muitas vezes usadas como lixeiras em sua base.Falta amor e gratido pela beleza, pela sombra, pela puricaodo ar, pela energia positiva, por nada, apenas por existirem, comodireito que tm.

    Por outro lado, quando estamos num bosque preservado, comrvores nativas, exuberantes, sentimo-nos parte de sua harmonia.Mesmo quando observamos uma s rvore na calada, bem cuida-da, sentimos sua harmonia, e somos envolvidos por ela.

    E o que estamos fazendo ao reino animal? Explorao, explo-rao e mais explorao. E dor, e sofrimento. Desrespeito ao direi-

    to vida, desrespeito a todos os seus direitos. Estamos degolando-os vivos, queimando e mastigando sua car-ne. Estamos arrancando sua pele e vestindo-a sobre nossa pele. Estamos connando-os em pequenos espaos s para quando,e se tivermos vontade, olharmos para eles e satisfazermos nossacuriosidade. Estamos aprisionando os alados, por inveja ou vaidade, para quecantem s para ns, quando tm o cu por direito. Estamos connando seres aquticos a pequenos ou grandesaqurios, para olhar ou nadar com eles por breves momentos, sub-metendo-os a toda uma vida de submisso, quando eles tm por

    direito a imensido das guas. Estamos apoiando a ridicularizao de grandes animais, rindoda sua dor e do roubo de sua dignidade em espetculos circenses,como se fazia no passado com anes e mulheres barbadas e ensi-namos nossas crianas a rirem tambm. Estamos jogando-os em arenas com os genitais fortemente

    amarrados, para que pulem de aio e de dor, enquanto gritamose rimos, alheios ao seu sofrimento. Estamos comprando-os como objetos, e descartando-os comoobjetos, na primeira diculdade.

    Todas essas barbaridades somos ns que fazemos quandoapoiamos o consumo da explorao. Somos ns que patrocinamose mantemos esses horrores acontecendo; e depois, com a barrigacheia de cadveres, com a nossa aura manchada de dor e desamor,com indiferena pelo destino dos irmos dos outros reinos, quere-mos para ns mesmos a paz?...

    So quatro os reinos na face da Terra, com iguais direitos; e te-mos nos ocupado de apenas um deles, o reino humano. Enquantoassim pensarmos e agirmos, estaremos nos limitando a conhecer eviver apenas um quarto de nossas vidas.

    Todos ns somos luz e todos ns temos sombras acumuladasao longo de vidas. hora de decidir qual delas queremos paraconduzir nossa vida , qual delas escolhemos para irradiar para oUniverso em nossa volta e qual delas escolhemos para nos acom-panhar em nossa morte.

    hora de mudar de ponto. hora de decidir ter ideais pelos quais valha a pena trabalhar. hora de jogar fora a depresso (quem trabalha por um ideal

    no tem tempo para depresso), jogar fora a confuso, a omisso,

    de enfrentar os receios, de ter f, de escolher a paz interna, parapoder estar sereno mesmo em meio a uma guerra ou guerra detodos os dias

    hora de deixar de ser o que no . Esse o primeiro passopara saber o que se .

    hora de ser responsvel por si prprio e pelas consequnciasde suas escolhas.

    hora de pararmos com as crticas e agirmos para fazer o queacreditamos que deve ser feito, do jeito que deve ser feito.

    hora de andar na contramo do padro vigente, se perceberque esse padro no bom.

    Assim, cada um fazendo o bem que pode fazer, vamos conta-

    giando de compaixo uns aos outros, vamos fortalecendo as aespositivas uns dos outros, vamos inspirando uns aos outros, vamosapoiando uns aos outros, at que sejamos tantos andando na con-tramo, que formemos um novo caminho, um novo sentido, umanova opo, um novo padro.

    8

    Escolher a Pa zNina Rosa

    Fonte: Instituto Nina Rosa

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    Pensamentos do Ms

    A natureza faz do homem um ser natu-

    ral. A sociedade faz dele um ser social.

    Somente o homem capaz de fazer de

    si um ser livre.

    Rudolf Steiner

    Podemos escolher o que semear, mas

    somos obrigados a colher aquilo o

    que plantamos.

    Provrbio Chins

    S conheo duas coisas infnitas: o uni-

    verso e a estupidez humana. E mesmo

    assim, tenho dvidas sobre o univer-

    so.

    Einstein

    De tanto ver triunfar as nulidades, de

    tanto ver prosperar a desonra, de tan-

    to ver crescer a injustia, de tanto ver

    agigantarem-se os poderes nas mos

    dos maus, o homem chega a desanimar

    da virtude, a rir-se da honra, a ter ver-

    gonha de ser honesto.

    Ruy Barbosa

    A Terra tem o sufciente para a necessi-

    dade de todos, mas no para a gann-

    cia de uns poucos.

    No semblante de um animal, que no fala, h um discurso que somente um

    esprito sbio realmente entende!

    Mahatma Ghandi

    No a terra que frgil. Ns que so-

    mos frgeis. A natureza tem resistido a

    catstrofes muito piores do que as que

    produzimos. Nada do que fazemos

    destruir a natureza. Mas podemos

    facilmente nos destruir.

    James Love Lock

    Nunca duvide da capacidade de um

    pequeno grupo de dedicados cidados

    para mudar rumos do planeta. Na ver-

    dade, eles so a nica esperana para

    que isso possa ocorrer.

    Margaret Mead

    Eu nasci esprita , por causa da minha famlia. Desde muito criana j frequentava a reunio de minha tia Aparecida. Lganhei a base da minha formao espiritual. Com palavras, dilogos, oraes e conselhos.Com o tempo a gente aprende a compreender todas as religies, a buscar em cada uma delas o que ela tem de melhor, de maisconstrutivo. Mas algumas atitudes tomadas em nome delas so completamente inaceitveis. o caso do abuso sexual na igrejacatlica. E da opresso e do terrorismo praticados em nome do fanatismo muulmano.

    E inaceitvel o que se faz com animais em nome de prticas religiosas. No admito a tortura de animais em nome dos cha-mados cultos afro-brasileiros. Nem o massacre de carneiros em datas festivas muulmanas, nem a matana de perus no dia de

    Ao de Graas nos EUA. No admito os horrores praticados na Semana Santa na famigerada Farra do Boi, em Santa Catarina.Nem o sacrifcio de bovinos praticados por um dos ramos do budismo no Nepal e na ndia.

    So tradies religiosas? Religio quer dizer religar, que a reconexo com Deus. Cada um interpreta essa palavra comoquiser, mas no vejo como esse processo de redeno pode passar pela crueldade contra seres indefesos e pelos rios de sanguederramados em sacrifcios. Todas as religies devem ser respeitadas. E todas as religies devem respeitar todas as criaturas.

    Isso religio? Dagomir Marquezi

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    Quais foram suas razes para escrever Por qu amamos osces ?

    Escrevi Por qu amamos os ces para ambos carnistas eveg*s. Escrevi o livro para ajudar os carnistas a entenderem nosimplesmentr porque eles no deveriam comer animais, mas por-que eles comemanimais, e ajud-los a se sentirem convidados naconversao, ao invs de sentirem numa pregao. Escrevi o livropara os veg*s paras ajud-los a ter embasamento, e mais capaci-tados a articular suas opes; para entender os carnistas nas suasvidas e comunicar mais efetivamente; e entender o sistema que

    esto trabalhando para transformar.Que tipo de pesquisa voc fez para escrever Por qu amamosos ces?

    Por qu amamos os ces baseado na minha pesquisa dedoutorado sobre a psicologia de comer carne, para a qual entrevis-tei aougueiros, matadores, veganos, vegetarianos e carnistas. Eutambm passei alguns anos anos aps receber meu Ph.D pesqui-sando sistemas de opresso e estratgia de mudana social.

    Se tal elaborado mecanismo de defesa necessrio para que aspessoas se sintam confortveis comendo outros animais, por quemais pessoas simplesmente no se tornam vegetarianas?

    Quando entendemos a profundidade e a largura do carnismo,podemos perceber que pedir a algum que pare de comer animaisno simplesmente pedir por uma mudana de comportamento,mas um salto de conscincia. Este tipo de salto no pode ocorrerat que a pessoa se sinta segura o suciente para se mover parafora do sistema carnstico e olhar para o mundo com um par dife-rente de olhos.

    Por que voc acha que importante para o movimento de di-reitos animais incorporar o conceito de carnismo na advocacia ve-gana?

    Eu acho que vital para o movimento fazer o carnismo o fococentral de sua advocacia por vrias razes chave. Primeiro, aespblicas para os carnistas fundamental para a advocacia vegana,ns temos que entender o que as pessoas esto tentando alcanar.

    Portanto, a princpio, assumimos os fatos que vendero a ideo-logia (Se somente ao saberem da verdade sobre a produo dacarne, ovos e leite, voc nunca mais consumiria produtos animaisnovamente) e falhamos ao perceber que h uma psicologia com-plexa que permite aos carnistas ignorar tais fatos.

    E mais, o carnismo tem uma estrutura especca e se no com-preendermos essa estrutura teremos grandes desvantagens; esta-mos lutando de olhos vendados contra uma entidade nunca vista.Na verdade, o objetico do movimento vegano no simplesmentea abolio da produo de produtos animais, mas a transformaodo carnismo o sistema que faz tal produo possvel, antes detudo.

    E nalmente, ao compreender que comer animais no sim-plesmente uma questo de ticas pessoal, mas o resultado nal deum intrnseco e profundo sistema de crenas, ns radicalmentemudaremos o que pensamos e falamos sobre o assunto.

    M

    elanie Joy uma psicloga social, Ph.D, e autora do li-vro Por que amamos ces, comemos porcos e vestimosvacas (traduo livre, ainda no disponvel em potu-

    gus), que explora a ideologia por trs de comer carne e por quealguns animais so considerados de companhia, enquanto outrosso considerados comida. A Dra. Joy professora de psicologia naUniversidade de Massachussets, em Boston e tem estudado a psi-cologia do especismo h alguns anos. O Mercy for Animals tevea oportunidade de conversar com a Dra. Joy sobre seu novo livro,veja aqui o que ela tem a dizer:

    Em Por que amamos ces, comemos porcos e vestimosvacasvoc usa o termo carnismo em sua discusso sobre o por-que nossa sociedade v vacas, porcos e galinhas como comida en-quanto roedores, cachorros e papagaio como de estimao. Podeexplicar o que voc quer dizer com carnismo?

    Carnismo o nome que uso para o sistema invisvel de crena,ou ideologia, que nos ensina, do momento que somos desmama-dos, no sentir desgosto quanto a comer animais que nossa culturaconsidera comestveis. Carnismo essencialmente o oposto dovegetarianismo ou veganismo. Assim, uso o termo carnista paradescrever aquele que come animais.

    Normalmente, nos referimos aos carnistas como onvoros,carnvoros ou comedores de carne. Mas esses termos soinacurados e prejudicial aos direitos animais; eles reinforam asuposio que comer animais natural e normal, dois dos maisarraigados mitos usados para justicar o carnismo.

    O termo onvoro e carnvoro descreve uma disposio psi-

    colgica, ao invs de uma escolha ideolgica; um onvoro umanimal, humano ou no-humano, que pode ingerir tanto plantasou animais e carnvoro um animal que precisa ingerir carne parasobreviver. E o termo comedor de carne foca no comportamentode comer carne, como se fosse um ato parte de um sistema decrenas quando se consome animais. (Perceba como no conside-ramos veg*s como comedores de planta.)

    Em resumo, quando comer animais no uma necessidade, uma escolha e escolha sempre tem raiz em crenas. A invisibi-lidade do carnismo, entretanto, faz comer animais parecer comose apenas os veg*s que trazem mesa do suas jantar prpriascrenas.

    Em Por que amamos ces, voc descreve os mecanismos

    de defesa que os carnistas usam para se manter confortveis emcomer animais. Pode nos dizer mais sobre esses mecanismos?

    A maioria das pessoas se preocupam com os animais e noquerem que sofram. E mesmo assim a maioria das pessoas comeanimais. O carnismo precisa bloquear a ateno da pessoa entre adiscrepncia de seus valores e prticas, e faz isso usando uma s-rie de mecanismos de defesa que funcionam tanto no nvel socialquanto psicolgico. O primeiro sistema de defesa a invisibili-dade e a primeira forma de permancer invisvel se manter semnome: se no o vemos, no podemos falar sobre isso, e se nopodemos falar sobre isso, no podemos question-lo ou desa-lo.Outro mecanismo de defesa a justicativa; em meu livro des-

    crevi o que chamo de Trs Ns da Justifcativa: comer animais normal, natural e necessrio. No de surpreender que esses mes-mos argumentos foram usados para dar suporte a outras ideologiasviolentas. Os Trs Ns perde muito do seu poder quando so ex-postos como argumentos de defesa ao invs da verdade absolutaque a cultura carnstica as apresenta.

    0

    Anderson Santos

    *Foi usado veg*s para se referir tanto a vegetarianos quanto a veganos

    Traduzido com permisso do blog da ong Mercy for Animals

    Fonte vista-se (www.vista-se.com.br)

    Por que am am os ces, comem os

    porcos e vestimos vaca s

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    Q

    uem est mais preparado para um futuro cheio de aguaceiros, vendavais,secas e calor dos infernos? Uma consultoria de risco britnica chamadaMaplecroft criou um ranking da vulnerabilidade aos riscos das mudanas

    climticas, em que classica 168 pases. Para elaborar o ranking, o estudo levou emconta os seguintes fatores: ecossistemas e recursos naturais, economia, pobreza, sa-de, agricultura, infra-estrutura, instituies e governos. Do que, de olhos fechados, jd para desconar quem est melhor e quem est pior o Brasil ocupa um razovel42 lugar. Vale lembrar que no se trata apenas de analisar onde vai car mais quenteou frio, com mais ou menos chuvas fortes. O negcio que a fragilidade diante dissotudo desemboca em escassez de alimentos e de gua potvel, epidemias de doenas,migraes de populaes inteiras, instabilidade poltica e at guerras. Um quadronada animador para quem vive em pases que esto na rabeira do ranking.

    Os menos vulnerveis, 1. Canad, 2. Irlanda, 3. Noruega, 4. Dinamarca, 5. Sucia,6. Finlndia,7. Nova Zelndia, 8. Frana, 9. Uruguai,10. Sua.

    Os mais vulnerveis, 164. Nger, 165. Imen, 166. Burundi, 167. Somlia, 168. Ilhas Comores. At que o Brasil no est toruim das pernas. No ranking de 168 pases, ocupa a 42 colocao. Mas est pior que a Argentina (raios!), na 36, o Chile, na29, e o Uruguai, que o 9 pas menos vulnervel e o nico latino-americano no top ten. Se o Canad ca muito longe, melhorfugir para Montevidu.

    O Canad est com tudo no que diz respeito preparao para o que vem por a. Tem baixa densidade populacional, farturade espao, economia forte e instituies slidas. Se oplaneta tiver de recomear do zero, Ado e Eva sero canadenses.Ilhas Comores? Pois , se voc no sabia que existiam, h grande risco de nunca car sabendo. O pas africano o mais vul-nervel do ranking, e h previso de que seja devastado por tempestades constantes, aumento do nvel do mar e um colapso naagricultura. Dureza... Aids, guerras civis, governos truculentos, misria, fome... Alm disso tudo e tambm por causa disso

    tudo -, a frica tem a maioria dos pases mais indefesos contra osperigos das mudanas climticas.

    Salve-se quem puder.Os animais j entenderam que a casa pegou fogo. Na Amrica

    do Norte e na Europa, pesquisadores constataram que pssaros, in-setos e at plantas tm mudado seus habitats para regies mais altas,geralmente mais ao norte, procura de temperaturas amenas. Se osprojetos de adaptao no correrem na mesma velocidade das mudan-as climticas, capaz que o bicho-homem tenha de fazer o mesmo.A ONU estima que, at 2050, as mudanas climticas podero tirar200 milhes de pessoas de suas cidades. Vale a torcida para que boassolues de adaptao comecem a aparecer tambm no Brasil. S faltatermos que mudar para a Argentina...

    Escolha onde voc quer mora rDagomir Marquezi

    Fonte: SUPERINTERESSANTE

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    Compre com moderaoPense duas vezes antes de comprar um produto. Voc realmen-

    te precisa dele? Consumir menos a atitude individual mais im-portante que voc pode tomar para diminuir as emisses de gasescausadores do efeito estufa.

    Dedique-se a aes comunitriasNo se deixe inuenciar pelos anncios publicitrios. Para ti-

    rar da cabea a idia de fazer compras, voc pode, por exemplo,passar mais tempo com a famlia e dedicar-se a atividades comu-nitrias.

    Escolha bem os produtosJ que vai comprar, d preferncia a produtos sustentveis,como os eletrodomsticos que consomem menos energia. Evite ouso de sacolas plsticas e colabore para aumentar a reciclagem deembalagens.

    Selecione o fabricanteConsuma produtos ticos, fabricados por empresas reconhe-

    cidas por adotar boas prticas no seu relacionamento com os par-ceiros de negcios, a includos os clientes, os funcionrios e osfornecedores.

    Use o transporte coletivo e caminheEvite o transporte individual e utilize mais o transporte pbli-

    co. Se tiver de usar o carro para locomover-se no dia-a-dia, procu-re compartilhar a viagem com outras pessoas que fazem o mesmoroteiro. Caminhe mais.

    O medo est profundamente arraigado na conscincia do ho-mem. Encontra-se sedimentado nas prprias clulas que compemo seu corpo fsico, pelo conhecimento que elas tm da existncia

    de uma vida imortal da qual no participam integralmente, j queos planos materiais esto sujeitos decomposio, desintegra-o e ilusria morte.

    A cada instante ocupamos uma posio na roda da vida: ora emcima, ora embaixo, ora aqui, ora ali; recebemos elogios e crticas,atuamos de formas certas e erradas, somos vistos de vrios modose temos as mais variadas perspectivas. Mas com o tempo acaba-mos aprendendo, de tanto viver situaes diversicadas, a estarneutros diante de qualquer circunstncia e a nos respaldar em umarealidade mais profunda.

    Assim, permanecendo nesse ponto de neutralidade, chegamosa descobrir como viver sem medo algum. Podemos ento compre-

    ender a presso que se ocultava atrs desse sentimento: ela nosmove a uma maior responsabilidade e ateno para com as leis dosvrios nveis da existncia.

    Nos momentos em que o medo nos invade, vale imensamenteuma mudana total de atitude e uma coligao rme com a Luz. medida que cultivamos a aspirao a uma existncia mais abran-gente que no se deixa tocar pelos acontecimentos, medida quereconhecemos em nosso interior um elo indestrutvel com a Hie-rarquia, e medida que nos vemos ser conduzidos ao destino parans traado desde o incio dos tempos, nada de externo tem podersuciente para nos abalar. Instala-se em ns um estado de totalaceitao de tudo o que nos dado viver, somos ajudados a nosliberar dos apegos que nos aprisionam e entramos na grande liber-

    dade de ser o que somos em unio com a fonte que nos alenta.

    2

    Como voc pode

    contribuir pa ra um

    mundo ma is sustentvel,

    segundo Tim J ackson

    Prosseguir sem medo

    Tim Jackson mestre em flosofa pela Universidade de Western Ontario, no

    Canad, e Ph.D em fsica pela Universidade de St. Andrews, na Esccia.

    Extrado do boletim Sinais de Figueira, de Trigueirinho | Irdin Editora

    www.trigueirinho.org.br | www.irdin.org.br | www.vigiliapermanente.org

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    O

    Sistema de Yoga baseado nos Yoga -Sutras de Patanjali

    (presume-se que 600 a.C.) possui oito partes, que podemser consideradas independentes, ou como etapas que

    acontecem numa sucesso natural.

    So elas: Yama ou Auto-Restries (os cinco mandamentos),Nyama ou Observncias (as cinco regras),Postura, Prnymaou Controle Consciente sobre as Correntes Prnicas do DuploEtrico, Pratyhra ou Abstrao, Dhran ou Concentrao,

    Dhyna ou Contemplao,Samdhiou xtase.

    Vamos tratar neste texto, de forma bastante resumida, deNya-ma ou Observncias (as cinco regras), que representam regrasdisciplinares e construtivas, apresentadas a seguir:pureza ou pu-rifcao interna ou externa, contentamento ou a capacidade de

    manter-se satisfeito acontea o que acontecer, austeridade ouaspirao ardente, autoestudo e auto-entrega ou submisso

    Ishivara, ou ao Divino.

    Pureza ou purifcao interna ou externa.Refere-se principalmente, pureza do corpo fsico e da men-

    te. A puricao do corpo fsico pode ser obtida atravs da noutilizao de carnes, bebidas alcolicas e outros complementosda dieta na alimentao. A puricao da mente, responsvel pelaexpresso das emoes e dos pensamentos, passa pela exclusogradativa de todos os pensamentos e emoes desarmnicas damente, ao transmut-los de maneira persistente, por outros de na-

    tureza mais elevados.Uma mente pura tem pensamentos puros e sente emoes puras.O sistema hindu de cultura espiritual recomenda como auxiliarpara a puricao mental, a utilizao de oraes e recitao demantras que produzem vibraes em nveis de frequncia maisaltos e criam um forte inuxo, de foras espirituais, vindo dosplanos superiores.

    Contentamento ou a capacidade de manter-se emequilbrio acontea o que acontecer.

    De maneira geral, as pessoas esto sujeitas a diferentes tiposde situaes e reagem de diferentes formas. Alguns mais calmos econtrolados tm reaes mais equilibradas. Outros mais domina-

    dos por suas emoes, incapazes de manter a mente em equilbrio,apresentam reaes descontroladas, tornando-se refns das suaspaixes. Vivem sob o domnio dos seus arroubos emocionais eem funo dos acontecimentos. Torna-se necessria uma maiorintrospeco, ao reetir e analisar mais as respostas emocionaisao meio. Que elas tenham um predomnio mental sobre o pura-mente emocional, substituindo o foco do exterior para um olharmais profundo interior. E a necessidade de mudar o estado deconstante perturbao para um de serenidade e equilbrio, atravsde um exerccio deliberado da vontade e, principalmente, com oauxlio de outros meios disponveis, tais como: meditaes, psi-coterapias, caminhadas ao ar livre, recitaes de mantra, etc.

    Atento s circunstncias que perturbam a paz interior, procuran-do san-las, consciente de que no se pode atingi-la, apenas, poruma simples armao da vontade. E considerar que se atua namaioria das vezes, de acordo com os condicionamentos incons-

    cientes. No perder o foco do objetivo maior que o de adquirira capacidade de se manter em equilbrio e, consequente, lucidezacontea o que acontecer.

    Austeridade ou aspirao ardenteA aspirao ardente capaz de gerar uma maior austeridade

    na vida daquele que deseja um crescimento espiritual.Observar em si tudo aquilo que precisa mudar e colocar em pr-tica uma realidade de autotransformao. A qualidade de focarno seu caminho espiritual deve ser to profunda que obstculoalgum vai faz-lo hesitar, ou vacilar...Esta a cincia de construo do carter por meio da puricaodos nossos corpos fsico, emocional e mental atravs da discipli-na e sob o controle da vontade.

    AutoestudoO auto-estudo desenvolve-se atravs de uma profunda e cui-dadosa anlise das causas dos desejos, das aspiraes e sentimen-tos que impulsionam e movem o nosso cotidiano. Uma primeiraetapa seria um estudo detalhado e integral da literatura do Yogae, em seguida, uma reexo sobre os contedos mais profundosabordados.A reexo prepara a mente para o acolhimento doconhecimento real emanado do interior. Obtm-se um maiordiscernimento dos problemas da vida e quanto mais forte essalucidez, mais profundo o desejo de uma soluo real, despida dosvus da iluso. Iluminada por esta luz, todos os questionamentoscomeam a ter uma resposta mais clara e verdadeira. O uso de

    mantras de grande utilidade nessa fase, j que vo auxiliar naharmonizao das emoes e pensamentos e, torn-los mais sen-sveis s vibraes mais sutis.Ao desenvolver o estudo, a reexo, a meditao e outros meiossimilares, disponveis, vamos nos tornar mais capazes de extrairtodo o conhecimento, proveniente do interior, atravs dos nossosprprios recursos.

    Auto-entrega ou submisso Ishivara, ou ao Di-vino

    Auto-entrega ou submisso a Deus apresenta um sentido mui-to mais profundo que o usual, ao signicar o exerccio de desen-volvimento do poder para atingir o samadhi. Algo bem maior que

    o esforo mental dos seres comuns para uma entrega, vontadede Deus. Auto-entrega ou submisso vontade de Deus deve sig-nicar uma armao mental de que os propsitos do Divino sosuperiores e que a pessoa se submete a estes propsitos, sejamquais forem s circunstncias, num movimento interior profundode autotransformao. A aspirao ardente, o auto-estudo e a auto-entrega ou devoo Ishivara ou Deus, constituem a Kriy-Yoga.O signicado da palavra snscrita Kriy preliminar ou prtica.A Kriy-Yoga praticada para atenuar os klesas ( ignorncia oufalta de percepo da realidade, egosmo, atrao e repulso e oforte desejo de viver) e produzir o samadhi.

    Nyamas ou observncias nos Yoga-Sutra

    de Pa tanjali

    Fontes pesquisadas: I. K. Taimni A Cincia do Yoga; Rohit Mehta Yoga a

    Arte da Integrao; Alice A. Bailey A Luz da Alma.

    Colaboradora Ganapati: [email protected]

    Mos que ajudam so mais santas que lbios que oram. Sathya Sai Baba

    Jeanine Japiassu

  • 8/3/2019 Jornal Ganapati - 2010 09 Setembro

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