jornal dos trabalhadores das universidades públicas estaduais rj

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1 Ana Lucia Vaz Jéssica Santos Entrevista com Virgínia Fontes sobre os 50 anos da revolução cubana Aprovação recorde no Pré-vestibular do Sintuperj Uerj: Falta oncurso público, sobra exploração É hora de fortalecer o sindicato. Seja representante de base 8 8 7 7 6 6 3 3 Jornal do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais - RJ Ano IV - Nº 21 - fevereiro/março de 2009 Aprovado o projeto da categoria de avaliação para progressão na carreira. Páginas 4 e 5

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última página entrevista com Vírginia Fontes

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Page 1: Jornal dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais RJ

FEVEREIRO/MARÇO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 1Ana Lucia Vaz

Jéssica Santos

Entrevista com Virgínia Fontes sobre os 50 anosda revolução cubana Aprovação recorde no Pré-vestibular do Sintuperj

Uerj: Falta oncurso público,sobra exploração

É hora de fortalecer o sindicato. Seja representante de base

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Jornal do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais - RJ

Ano IV - Nº 21 - fevereiro/março de 2009

Aprovado o projeto da categoria de avaliaçãopara progressão na carreira. Páginas 4 e 5

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JORNAL DO SINTUPERJ | FEVEREIRO/MARÇO DE 20092

EXPEDIENTE: JORNAL DO SINTUPERJRua São Francisco Xavier, 524 - sala 1020 D - Maracanã - Rio de Janeiro/RJ CEP: 20.550-013 - Tel: (21) 2587-7126 / 2234-0945internet: www.sintuperj.org.br / [email protected] /[email protected]

Coordenação de Imprensa: Rosalina Barros e Denize Santa RitaConselho Editorial: Alberto Dias Mendes, Carlos Alberto Crespo, Denize Santa Rita, José Arnaldo Gama da Silva, Rosalina Barros, Sandro Hilário e Tania NiskierJornalista: Ana Lucia Vaz (MTb 18058-RJ)Estagiários: Jessica Santos e Tatiana LimaProgramação Visual: Daniel CostaTiragem: 4.500 exemplares - Fechamento: 17/02/2009

Nossa Opinião

2009 começa com vitórias

tória não é só dos alunos e do sindicato. É da sociedade que terá mais algumas dezenas de trabalhadores se formando nas universidades. Trabalhadores cons-cientes de seu papel na democratização da sociedade. Na página 7, fazemos uma justa homenagem aos principais responsáveis por essa vitória.

A luta, porém, nem sempre traz boas notícias. A plenária dos con-tratados, realizada dia 29, expôs os absurdos a que a Uerj tem coragem de submeter seus trabalhadores. Veja na

página 6. A defesa de condições dignas para esses trabalha-dores é obrigação moral de qualquer sindicato compro-metido com a classe trabalhadora. Mas a solução do proble-ma, a longo prazo, é a realização de concursos, garan-tindo que todo o quadro da universi-dade seja preenchi-do por servidores públicos pelo regi-me estatutário. A

necessidade de concurso é enorme.E como nossa luta começa mas

não termina dentro da Uerj, na página 8 você pode conferir a entrevista com a professora Virgínia Fontes sobre a atualidade do socialismo, 50 anos depois da revolução cubana. Porque a luta começa por salários justos, condi-ções de trabalho etc, mas se alimenta dos sonhos. As utopias que nos fazem caminhar acreditando que um mundo melhor é possível.

Boa leitura!

Mantendo o estado de greve e a disposição de luta em defesa dos inte-resses dos trabalhadores, o Sintuperj começou o ano com muitas atividades e boas notícias.

Nosso plano de carreira está em movimento. Com o primeiro programa de avaliação específica para fins de progressão já em curso, abrimos o debate sobre valorização profissional, tão indispensável à categoria. O Conse-lho Universitário referendou o projeto aprovado pelos técnico-administrati-vos em assembléia, sem nenhuma alte-ração. Uma vitória histórica! Conheça os detalhes nas pá-ginas 4 e 5.

Vencida esta pequena batalha, seguem as outras. Para fortalecer nos-sa luta e garan-tir conquistas este ano , p rec i samos aprofundar nossa organização nos lo-cais de trabalho. As eleições para repre-sentantes sindicais de base começaram dia 4 de fevereiro e vão até dia 8 de abril. A sua partici-pação é fundamental para que o nosso movimento se democratize ainda mais e aumente sua representatividade em cada unidade e em cada setor da Uerj e Uenf. Veja detalhes na página 3.

Mas as boas notícias não param por aí. O Pré-vestibular do Sintuperj está em clima de festa. Dos cerca de 70 alunos que concluíram o curso, 40 já estão aprovados em universidades pú-blicas. Mais de 50% de aprovação! A vi-

O parágrafo único do Artigo 8º, da lei estadual de 2005, que “dispõe sobre a contratação de pessoal”, é claro: “A remuneração do pessoal contratado por prazo determinado obedecerá aos padrões remuneratórios dos planos de carreira do órgão ou entidade contratante”. Mas a Uerj não obedece à lei. Os trabalhadores contratados costumam receber menos que os servidores.

A remuneração diferenciada para trabalhos iguais, além de desobedecer à lei estadual, é inconstitucional. Em julho do ano passado, o reitor Ricardo Vieiralves editou o Ato Executivo de Decisão Admi-nistrativa (AEDA) 041, para regulamentar a contratação de trabalhadores temporá-rios. Embora repita a lei 4.599 em muitos aspectos, o Ato do reitor é omisso no que diz respeito à isonomia salarial.

No Artigo 18, o AEDA estabelece que: “O contratado não poderá perceber remuneração inferior ao salário mínimo nacional, observando-se a carga horária exercida”. Muitos contratados receberam exatamente o salário mínimo nacional: 415 reais até o mês passado, 465 reais a partir de fevereiro. Mas o menor salário da

Uerj, que já é mínimo, é de 782 reais.O AEDA da UERJ não assegura a

seus trabalhadores nem mesmo o salário mínimo do Estado, de 512 reais! Ou seja, o governo estadual manda os “outros” pagarem um salário mínimo superior ao nacional. Mas as instituições públicas do estado não precisam cumprir sua lei.

Pelo artigo 5º da lei 4.599, “é vedado o desvio de função da pessoa contratada”. O Artigo 24 do AEDA diz o mesmo. Mas, no dia-a-dia dos contrata-dos, vale mais a lógica do “chefe mandou tem que fazer” e há vários casos de desvio de função.

O artigo 13, do AEDA 041, sobre os direitos dos contratados, possui apenas sete itens. Já o artigo 12, sobre os deve-res, tem 12 itens. O artigo 11, sobre o que é proibido ao contratado, tem 10 itens.

Entre outras, o artigo veda ao con-tratado o direito de dedicar-se a palestras “estranhas ao serviço”, “promover mani-festações de cunho político-partidário” ou de “agravo ou desagravo a outros agentes públicos”. A proibição fere o di-reito constitucional de livre organização e manifestação.

25 anos de luta pela justiça social: porque os sonhos não envelhecem jamais

Arquivo MST/João Zinclar

A luta

começa por

salários justos,

condições de

trabalho etc, mas

se alimenta dos

sonhos.

Seus Direitos

Contratados têm direito a salários iguais

Retratos da Vida

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FEVEREIRO/MARÇO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 3

A força do sindicatodepende de vocêO movimento sindical brasileiro tem

mostrado, em geral, relativa difi culdade para encaminhar as lutas da classe tra-balhadora. Apesar de todos os esforços, ainda não temos uma ampla mobilização e participação da categoria nas ações e decisões políticas dos sindicatos. Um dos motivos é a falta de organização no local de trabalho, onde ocorre parte importante dos confl itos sociais e a exploração dos trabalhadores.

O movimento sindical, dentro da Uerj, enfrenta difi culdades semelhantes. Na gre-ve do ano passado, a categoria deu belas demonstrações de disposição de luta. Mas é certo que uma organização mais efetiva nos locais de trabalho teria possibilitado maiores conquistas. Entramos o ano em estado de greve, e precisamos acumular forças para conquistar nossos direitos, como o reajuste salarial.

Por isso, é urgente investir na eleição para representantes sindicais de base. Isso criará uma nova perspectiva para a atual direção e para o conjunto dos trabalhadores da Uerj, fortalecendo nossas lutas.

Os representantes sindicais de base são fundamentais para o crescimento da mobilização dos trabalhadores em cada

De 4 de fevereiro a 8 de abril, será realizado o processo de eleição dos representantes sindicais de base do Sintuperj. Durante este período, os trabalhadores da Uerj organizarão reuniões para escolha de seus representantes. Cada local de trabalho pode indicar, no mínimo, um representante. Nos locais de trabalho com mais de dez trabalhadores, poderá ser eleito um representante para cada dez presentes na reunião de eleição.

Notícias do Sintuperj

local de trabalho. A força do sindicato de-pende da sua representatividade em todas as unidades, com a participação dos traba-lhadores nas atividades organizadas pelo sindicato. E, principalmente, nas decisões do movimento.

Portanto, as eleições de representantes sindicais de base são estratégicas Elas são o alicerse para o aprofundamento e a consoli-dação da prática democrática no movimento sindical. Além disso, elas fortalecem nosso Sindicato para os enfrentamentos de massa e movimentos grevistas e para o confronto com os setores dominantes.

A participação efetiva dos represen-tantes, em cada local de trabalho, contribui para a elevação da consciência coletiva de luta e mobiliza a categoria para as dispu-tas sociais e trabalhistas, fortalecendo a unidade entre os servidores.

Os representantes sindicais de base são companheiros de luta, com capacidade para atuarem como sujeitos na organização do movimento e na construção de uma sociedade justa e solidária.

A importância doConselho de RepresentantesContudo, a eleição dos representantes

de base é apenas o primeiro passo. Elas devem ser acompanhadas pela instalação

do Conselho de Representantes Sindicais, instância deliberativa prevista no estatuto do Sindicato. A atuação do Conselho, soma-da a uma política de formação permanente, servirá como instrumento para amadurecer nossa prática política, social e cultural.

As greves dos trabalhadores que fi ze-ram história pelo seu poder de pressão, em geral, foram dirigidas por sindicatos que contavam com representantes de base, ou comissões por local de trabalho, fortalecen-do a mobilização da categoria.

É fundamental eleger o maior número de representantes sindicais, por meio de um amplo processo de mobilização e formação. Nossas futuras vitórias dependem da nossa organização em cada local de trabalho. Para conquistar reajuste salarial, garantir a progressão na carreira de maneira justa e corrigir as distorções do Plano de Carreira, por exemplo, precisamos de um movimento forte, enraizado em cada local de trabalho, através dos representantes de base. Mais ainda, para defender a saúde e a segu-rança dos trabalhadores, exigir condições de trabalho dignas e respeito aos direitos trabalhistas e combater arbitrariedades, a luta começa no local de trabalho. E o repre-sentante de base terá papel fundamental para aproximar o sindicato das demandas específi cas de seu local de trabalho.

O que dizo estatuto

Da Organização do SINTUPERJ

Art. 9º. O SINTUPERJ éconstituído pelas seguintes Instâncias Deliberativas hierarquizadas e Organismos:

I. Das Instâncias:a) Congresso do SINTUPERJ;b) Assembléia Geral;c) Diretoria Executiva;d) As sembléias por Delegacias;e) Delegacia Sindical

II. Dos Organismos:a) Representantes Sindicais de Base;b) Conselho de Representantes

de Base;c) Conselho Fiscal.

Dos Representantes Sindicais de Base

Art. 54. Os representantessindicais de base representamo Sindicato nos locais de trabalhoe tem como objetivos:

I. Implementar as decisõesdos fóruns deliberativos do SINTUPERJ, no local de trabalho;II. Defender os interessesdos Sindicali-zados nos locaisde trabalho;III. Manter contato permanentecom a Delegacia Sindical e/ou Diretoria Executiva do SINTUPERJ.

Art. 55. A indicação dos representantes sindicais debase será feita diretamente pelos Sindicalizados nos respectivos locais de trabalho, homologada em Assembléia Geral. Parágrafo Único – O mandato dos representantes sindicais de base será de 12 (doze) meses.

Art. 56. A escolha de Representantes Sindicais de base será feita através da realização de reunião por localde trabalho, observando-sea proporção de 01 (um) Representante Sindical para cada 10 (dez) presentes, e mais 1 (um) Representante Sindical a cadafração maior ou igual a 05 (cinco).§ 1º. Aqueles setores quetiverem menos de 10 (dez) trabalhadores elegerão 01 (um) Representante Sindical.§ 2º. É competência das Delegacias Sindicais e/ou da Diretoria Executiva do SINTUPERJ, a convocação de eleição dos Representantes Sindicais.§ 3º. Compete autonomamente à Reunião por local de trabalho o controle do mandato dos Representantes Sindicais.

Eleição dos representantes debase fortalece o sindicato

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JORNAL DO SINTUPERJ | FEVEREIRO/MARÇO DE 20094

Representantes dos técnico-administrativos votam a favor do projeto referendado em assembléia

Fotos: Ana Lucia Vaz

Notícias do Sintuperj

Por 46 votos a favor, nenhum voto contra e apenas três abstenções, o Conselho Universitário aprovou, na sessão do dia 13 de fevereiro, o projeto de avaliação específi ca para progressão na carreira dos servidores técnico-administrativos, referendado na assembléia do dia 11.

O debate, no Conselho, se deu com base no projeto apresentado pelos servi-dores técnico-administrativos.

O projeto da reitoria sugeria uma concepção inaceitável para a categoria. Após diversas reuniões entre o sindicato, membros da bancada técnico-administra-tiva e representantes da administração central, alguns eixos principais foram negociados entre as partes. Isto resultou na elaboração de novo projeto detalhado, que buscou o consenso e respeitou as reivindicações dos servidores técnico-administrativos.

Como relator do projeto, o conse-lheiro e diretor do Sintuperj, Jorge Luis (Gaúcho), abriu o debate, na sessão do dia 13, destacando a importância da votação no Conselho e os motivos para rejeitar o projeto da reitoria (Veja a ín-tegra do relato).

Após o relato, Ricardo Vieiralves retirou o projeto da reitoria, acatou o substitutivo incluindo, como ressalva, que a resolução tivesse caráter provisório. Isto é, o projeto servirá somente para a avaliação deste ano, e deverá ser revisto para as próximas progressões.

Como será a avaliação em 2009O Programa de Avaliação Específi ca

para Progressão (PAEP), aprovado pelo Conselho Universitário, é composto de auto-avaliação e de avaliação coletiva, realizada entre os servidores técnico-administrativos que trabalham juntos. A avaliação coletiva será discutida pela equipe e preenchida por um representan-te. Haverá, ainda, a pontuação por quali-fi cação, que depende da comprovação de participação em cursos, seminários etc.

A lei 4.796, de 2006, que instituiu o Plano de Cargos e Carreira dos servidores técnico-administrativos prevê a avaliação para progressão a cada dois anos, em seu artigo 5º. A progressão por avaliação, portanto, deveria ter ocorrido em julho de 2008. Caso nenhuma avaliação fosse colocada em prática até julho de 2009,

13 de janeiro: Servidores técnico-administrativos defi nem, em assembléia geral, os eixos de uma avaliação especí-fi ca para progressão na carreira, ainda este ano.

Segunda quinzena de janeiro: Sintu-perj e membros da bancada se reúnem com representantes da reitoria e da SRH e defende os eixos gerais, aprovados pela categoria inicialmente: tempo de serviço e auto-avaliação. Na reunião seguinte, o sindicato apresenta proposta de minuta detalhando o processo de avaliação com base nos eixos defi nidos pela categoria. A reitoria fi se compromete a analisar a proposta e marcar nova reunião.

29 de janeiro: Sem que a nova reunião fosse realizada, no início da tarde o diretor do Sintuperj e conselheiro Jorge Luís (Gaúcho), foi surpreendido com sua indicação para relatar, na sessão do dia seguinte, o processo que trata da avaliação. No processo encaminhado, a proposta da reitoria mantinha-se com alterações mínimas.

30 de janeiro: O projeto de avaliação foi retirado de pauta. Na sessão do Consun, vários conselheiros protestam pois não

todos os servidores progrediriam ape-nas um nível. Em função do atraso da discussão, o processo de avaliação, este ano, começa imediatamente, em caráter extraordinário, e deverá ser concluído em no máximo 45 dias.

Uma vitória históricaO projeto aprovado pelo Conselho

Universitário possibilita a primeira pro-gressão para todos os trabalhadores, o que poderá signifi car um acréscimo de 3%, 6% ou 9% aos vencimentos.

O acúmulo da discussão feita ao longo da greve, e nas diversas assembléias deste ano, permitiu a construção de um projeto de avaliação justo e realista. Diante da demonstração de maturidade da categoria, a reitoria recuou de seu projeto, acatando o que foi aprovado pelos servidores, em assembléia. O Conselho Universitário votou quase por unanimidade na proposta oriunda da assembléia dos servidores. Houve apenas três abstenções, incluindo a de um repre-sentante dos técnico-administrativos. A bancada estudantil saudou a capacidade de negociação do Sintuperj e votou em apoio à decisão da assembléia dos técnico-administrativos.

A luta continuaO debate no Consun sobre a ava-

liação para progressão dos servidores técnico-administrativos motivou alguns docentes a tecerem comentários sobre possíveis desdobramentos do Plano de Carreira Docente. Os estudantes apro-veitaram o debate para reivindicar um processo de avaliação também para os docentes. A reitoria sugeriu que os discentes apresentassem proposta de resolução sobre o tema.

O fundamental é que, além de garantir a primeira progressão por ava-liação, a implantação do PAEP abre um debate fundamental para a universidade. Trata-se da defi nição de um plano de de-senvolvimento institucional que dê bases a um processo de avaliação institucional permanente.

Para ter qualidade, uma instituição precisa de boas condições de trabalho e profi ssionais capacitados. Isso exige defi -nição de metas institucionais e coletivas, política de qualifi cação profi ssional e um processo amplo e democrático de avalia-ção institucional. Essa luta é nossa.

tiveram acesso prévio à pauta.

Início de fevereiro: em novas reuniões, surge uma proposta de eixos que bus-cam consenso entre as partes. São eles: auto-avaliação, avaliação pelos pares e pontuação por qualifi cação.

5 de fevereiro: A assembléia dos ser-vidores técnico-administrativos aprova a alteração dos eixos da avaliação, na busca de entendimento.

11 de fevereiro: Apesar das diversas tentativas do sindicato e do relator do processo, não houve nova reunião com a reitoria, desde o dia 5 de fevereiro. A assembléia da categoria aprova o projeto de avaliação específi ca, com base nos eixos defi nidos na assembléia do dia 5 e decide que o relator o encaminhe como o projeto-base para debate no Conselho.

13 de fevereiro: É aprovado pelo Con-sun o projeto discutido nas assembléias e referendado pela categoria.

Para conhecer a íntegra doPrograma de Avaliação Específi capara Progressão (PAEP), acesse nossa página: www.sintuperj.org.br

Vitória dos servidores téComeça a progressão por avaliação específi ca, n

CRONOLOGIA

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FEVEREIRO/MARÇO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 5

Assembléia debate projeto de avaliação específi caVera, da Fasubra, participa do seminário sobre avaliação, promovido pelo Sintuperj

Jéssica Santos

Jorge Luis (Gaúcho) propõe que o projeto proposto pela categoria sirva de base para o debate

Magnífi co Reitor e Ilustres Conse-lheiros, o processo nº 871/2009/UERJ, que por indicação do presidente deste Egrégio Conselho passo a relatar, refere-se ao projeto de avaliação específi ca para progressão na carreira dos servidores técnico-administrativos da UERJ, con-forme disposto no art. 12, inciso I, da lei 4.796/06, que instituiu o Plano de Carreira.

Apresento algumas considerações, a guisa de esclarecimentos, aos membros deste Conselho.

1) É extremamente positiva a preo-cupação deste Conselho em dar conseqü-ência ao dispositivo legal que prevê pro-gressão a cada dois anos para os servidores técnico-administrativos, o que deveria ter ocorrido em julho de 2008. Por tratar-se de matéria ainda embrionária, reconheça-mos nossa difi culdade em dar celeridade ao processo. Por outro lado, uma demora maior em defi nir esse processo resultaria em grandes perdas e engessamento da carreira dos trabalhadores.

2) Como relator, preocupei-me, primeiramente, em estudar o tema e con-sultar meus pares a fi m de que o projeto pudesse conter eixos justos e corretos, evitando maiores distorções já tão in-desejáveis ao curso tranqüilo de nossa Universidade. O desejo dos servidores em ver sua carreira efetivada plenamente foi o maior motivo de minha aceitação a relatar a proposta e buscar encontros, reuniões e diálogos que pudessem contribuir para a melhoria da proposta. Neste sentido, buscamos, inclusive com a Administração

Central, informações e construções que viabilizassem um projeto mais consensual possível e livre de maiores críticas.

3) No entanto, é preciso também reconhecer que os trâmites que deram início ao processo de avaliação proposto pela Reitoria/SRH não levaram em conta a defi ciência da Universidade no que tange à inexistência de um projeto previamente estabelecido acerca de objetivos e metas para o funcionamento pleno da instituição. É o Plano de Desenvolvimento Institucional que garante, entre outras coisas, a viabilização de um processo de avaliação amplo, justo, transparente e democrático, que envolva toda a comunidade universitária. Esse as-pecto – a ausência de um PDI -, é de enorme relevância e não pode ser desconsiderado por nenhum conselheiro. Também é necessário sublinhar que não foi implementada uma política de qualifi cação e formação profi s-sional, conforme o disposto no Art. 10 da lei que instituiu o PCC dos servidores.

Some-se a isto o fato do projeto da Administração ter sido apresentado durante um período de greve, em apenas uma das

unidades da UERJ. Embora reconheçamos a importância do Hospital Universitário Pedro Ernesto, tal fato causou enorme desconforto ao conjunto dos servidores técnico-administrativos, já que os servido-res de outras unidades sentiram-se alijados do projeto referido acima.

4) Abro aqui um parênteses para ressaltar a indispensável atuação do Sin-tuperj que, de forma responsável, como aliás deve ser a representação sindical, realizou um seminário com representante da Federação dos Sindicatos dos Traba-lhadores das Universidades Brasileiras (FASUBRA), além de diversas assembléias, no intuito de encontrar uma proposta de regulamentação de avaliação específi ca para a progressão na carreira que fosse compatível com a valorização dos servi-dores em nossa universidade.

Fruto deste intenso trabalho, surgiu uma proposta que foi apresentada à Rei-toria com eixos centrais que a permeiam: I - Auto-Avaliação; II - Avaliação da equipe; e III - Tabela de Capacitação.

RESSALTO que as tentativas de esta-belecer o melhor plano para a universidade possibilitaram reuniões realizadas entre representantes da Administração Superior, representantes do Sintuperj e alguns con-selheiros da bancada de servidores técnico-administrativos do Consun. Nestas reuniões, foram consensuados itens nevrálgicos, o que foi fundamental para que o relato pudesse ser o mais próximo do interesse das partes. Diante disso, tomei a iniciativa de elaborar nova proposta de resolução que regulamenta a avaliação para progressão na carreira dos

écnico-adminsitrativosnos moldes aprovados em assembléia

servidores técnico-administrativos, que foi referendada na assembléia realizada no dia 11 de fevereiro. Destaco aqui que o referendo à negociação entre trabalha-dores e reitoria é um avanço no processo político interno e uma demonstração da maturidade que alcançamos no debate sobre o tema em questão.

Desta forma, apresento aos Ilustres Conselheiros, os eixos principais aprova-dos pela categoria em assembléia e que compõem a matriz essencial da minha proposta de Resolução:

I - a tempo é exíguo e precisamos aprovar a Resolução o mais rápido pos-sível; II - a palavra desempenho é peri-gosa e polêmica, remetendo ao projeto dos governos que permitiria, inclusive, a demissão dos servidores públicos em casos que o executivo chama de “insu-fi ciência de desempenho”; III - a Lei 4796/06 conferiu ao Conselho o poder de regulamentar a progressão. Portanto, cabe-nos aprovar o crescimento do ser-vidor na Instituição e não seu impedi-mento; IV - a Resolução deve ser o mais simples possível, com critérios objetivos a fi m de evitar problemas futuros para a própria universidade; V - a Resolução deve ser única e exclusivamente para fi ns de progressão.

Em vista das considerações acima apresentadas, encaminho em anexo a proposta de Resolução deste relator para ser apreciada por este Conselho.

RJ, 13 de fevereiro de 2009Jorge Luis Mattos de Lemos

Íntegra do relato apresentado pelo Conselho Universitário

Page 6: Jornal dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais RJ

JORNAL DO SINTUPERJ | FEVEREIRO/MARÇO DE 20096

“As aposentadorias e os baixos salários

vão reduzindo o quadro de pessoal com o

tempo. Os contratos suprem as necessidades

por determinado período, mas o problema

persiste porque faltam funcionários”. Rejane Amaral

Uma servidora do Hospital Univer-sitário Pedro Ernesto (Hupe), expressa assim a sobrecarga de trabalho provocada pela falta de funcionários. O problema atinge toda a Universidade e parece não estar nem perto de ser resolvido. O último concurso para técnico-administrativos de nível médio foi realizado em 1994. Em 2001, houve concursos para funções de nível superior. Não há previsão para a realização de nenhum novo concurso.

Enquanto isso, os contratos tem-porários vão tapando alguns buracos. No Hupe, avalia-se que cerca de metade dos trabalhadores seja temporário. Além de nenhum direito, a maioria recebe salários vergonhosos e, em geral, inferiores aos dos servidores estatutários que cumprem a mesma função.

Falta de pessoal no HupeSomente no Centro Cirúrgico do

Hupe, seriam necessários cerca de 100 anestesistas. Hoje, são 30. “Emergen-cialmente teria que duplicar o número de vagas”, diz o chefe do Centro Cirúrgico, Edmar Santos. Segundo ele, o último con-curso foi realizado em 2002. Os aprovados ainda estão sendo chamados, mas o salário no mercado é muito maior, o que faz com que alguns desistam. No sistema de con-tratos, pior ainda. Segundo Edmar, o que se paga em contrato é tão pouco, que é impossível algum anestesista aceitar.

Também faltam intensivistas para manter os CTIs. Um dos setores com problemas para manter o seu pleno fun-cionamento é o CTI Cardíaco. O setor está funcionando com menos 30% dos seus técnicos de enfermagem, afastados por problemas de saúde. Não há intensivistas,

Concurso público

“Estamos funcionando, mas aos trancos e barrancos”

“Tenho vergonha de dizer meu salário”O desabafo é de uma trabalhadora con-

tratada pela Uerj, durante a plenária convo-cada pelo Sintuperj, dia 29 de janeiro.

O trabalhador contratado não tem carteira assinada, 13º, nem qualquer tipo de indenização por demissão. Muito pelo contrário, o contrato tem prazo de dois anos, que pode ser estendido por mais um ano. Depois disso, pela lei, o contrato termina. “Mesmo com um trabalho honesto, com empenho, depois de dois anos tem que dar as costas e ir embora. Sem indenização, sem nada! É beijinho, beijinho, tchau, tchau”, lamentou-se uma técnica de enfermagem.

Uma trabalhadora responsável por algu-mas contratações, diz que se sente “constran-gida” quando tem que informar o salário: 415 reais, descontados INSS e taxa bancária de dez reais, o contratado recebe 369 reais. “Muitos desistem, porque esse valor não paga nem a

nem médicos plantonista.A estrutura física também é proble-

ma, no CTI Cardíaco. Dez camas e dois apa-relhos de ar-condicionado (são quatro, ao todo) estão quebrados. No início do ano, o CTI chegou a fechar porque um pedaço do teto caiu. Falta manutenção. Mas no setor responsável, as condições de trabalho não são melhores. Confi nados em contêineres, dependendo de pessoal contratado (e mes-

mo assim pouco), que trabalha com baixos salários e sem equipamentos adequados, a Manutenção não consegue resolver a infi nidade de problemas do Hospital.

Rosely Silveira, técnica de enferma-gem da Gastroenterologia, há 22 anos no Hupe, desabafa, entre um atendimento e outro: “São tantas promessas...”. Como em todos os setores, o pessoal trabalha sobrecarregado pela falta de funcionário. “As melhorias no hospital são importantes, não só para os funcionários, mas para os pacientes”, afi rma Rosely.

DegradaçãoQuem resume bem o sentimento ge-

neralizado dos servidores da Uerj é Manuel

Carlos de Lima, eletricista lotado no Setor de Manutenção do campus Maracanã. Há mais de 30 anos na Universidade, Manuel lembra: “Quando entrei, as coisas eram bem melhores do que agora. Tínhamos condições de trabalho e de salário.” Apesar das difi culdades, não perde o amor pelo trabalho. “A casa é boa para trabalhar. Mas o problema é que está havendo uma falta de consideração dos governantes.”

Em 1979, havia 23 eletricistas. “De lá pra cá, muitos se aposentaram, alguns faleceram.” No concurso, entraram quatro eletricistas, mas dois já pediram demissão. “Acharam coisa melhor e foram embora”, comenta. Hoje são cerca de 12 funcioná-rios. Quase a metade. Já o trabalho, tri-plicou. Segundo Manuel Carlos, em 1979, o campus era 30% do que é hoje.

Como garantir a manutenção do campus, nessas condições? Demir Chagas, também funcionário da Manutenção, ex-plica: “O setor está devastado e a falta de pessoal prejudica o serviço. Vai se fazendo o necessário, priorizando o que está pior.”

É difícil achar um setor, na Uerj, onde não falte trabalhador. Nos campi

externos a situação é a mesma. Na biblio-teca setorial da Faculdade de Formação de Professores (FFP), em São Gonçalo, por exemplo, ligada à Rede Sirius, há carência de pessoal à tarde e à noite, justamente quando a demanda por atendimento é maior. Para Rejane Rosa Amaral, chefe da biblioteca, o concurso é importante para suprir essa e outras necessidades da instituição. “As aposentadorias e os baixos salários vão reduzindo o quadro de pessoal com o tempo. Os contratos suprem as necessidades por determinado período, mas o problema persiste porque faltam funcionários.”

O problema das bibliotecas é gene-ralizado. Algumas sem condições de fun-cionar plenamente, outras mantidas quase exclusivamente por pessoal contratado.

Sem previsão de novos concursosNo ano passado, o reitor Ricardo Viei-

ralves afi rmou em diversas ocasiões que, em 2009, seria realizado concurso pelo menos para técnico de enfermagem. No entanto, nem esse concurso tem previsão de sair da promessa. Segundo a Superin-tendência de Recursos Humanos, nada foi discutido nesse sentido. A informação é que a Uerj não tem orçamento.

De acordo com dados do DataUerj, anuário estatístico produzido pelo Núcleo de Informações e Estudos de Conjuntu-ra (NIESC-VR), o quadro de servidores técnico-administrativos vem diminuindo ao longo dos anos. Em 2003, a população ativa da Uerj era de 4.141 servidores téni-co-administrativos. Em 2007, esse número caiu para 3.374. Ou seja, uma redução de 20%. Dados mais atualizados ainda não foram divulgados pelo DataUerj.

passagem e a alimentação do mês.”No ano passado, o reitor Ricardo

Vieiralves editou um Ato Excecutivo de Decisão Administrativa que regulamenta os contratos da Uerj (AEDA 041/08). O AEDA de Vieiralves repete a lei, na maioria dos aspectos, mas se omite no fundamental: os salários. Nem a garantia de respeito à isonomia de salários entre funções iguais, previsto na lei estadual (4.599/05), está na Aeda.

Mas a plenária não foi apenas para protestos. Muitos falaram do amor pelo trabalho e da disposição de reivindicar seus direitos. Ao fi nal da plenária, foi formada uma comissão que solicitou à reitoria uma reunião para tratar da situ-ação dos contratados. Até o fechamento deste jornal, a Reitoria ainda não havia marcado a data da reunião.Plenária dos contratados, dia 29 de janeiro, no campus Maracanã

Ana Lucia Vaz

Page 7: Jornal dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais RJ

FEVEREIRO/MARÇO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 7Fotos: Jéssica Santos

O Pré-vestibular do Sintuperj já tem 41 aprovados em universidades públicas. Dos cerca de 75 alunos que fi zeram o curso até o fi nal do ano letivo, mais de 50% pas-sou. Um índice de aprovação de dar inveja a qualquer curso do gênero.

“Costumo dizer para meus amigos que existem duas fases na minha vida: uma antes e outra depois do pré. Aprendi muita coisa e me desenvolvi muito”, disse Rafael Ferreira, 20 anos, um dos 41 apro-vados, em discurso emocionado durante a Aula Inaugural 2009, dia 2 de fevereiro.

O resultado animador transformou a Aula Inaugural numa grande festa de con-fraternização. Os estudantes das turmas de 2008 aprovados no vestibular foram homenageados pelo sindicato. Um a um subiram ao palco ao som de muitos aplau-sos, brincadeiras e risos da platéia.

Para Rafael, o pré-vestibular de um sindicato é diferente. “O interesse comum de todos que se inscrevem num pré, inde-pendente de qualquer coisa, é passar no vestibular. Mas, ao longo do tempo, você vê que o pré trabalha o social, trabalha a cidadania, te faz conhecer alguns direitos. Sem contar que nós assistimos à luta e isso sensibiliza.”

Liz Nogueira, 18 anos, que estudará Ciências Atuariais na Uerj, concorda: “Ver a luta acaba nos envolvendo. Eu nem ligava para os problemas da faculdade, só queria estar estudando. Mas aí você começa a parar para refl etir. Achei legal poder ter uma outra visão de mundo porque não é certo fi car pensando só em si mesmo”. E se entusiasma: “Agora que vou estudar na Uerj, estou até pensando em participar do DCE”.

Contagiados pelo clima de festa, os novos alunos estavam ansiosos para o início das aulas. “Estou super animada. Como parei de estudar há muito tempo, para mim é um desafi o que tenho que superar”, disse Maria Regina.

Os professores presentes saudaram os novos alunos. Ao fi nal da comemoração, a professora de Biologia do Pré, Cristiane Perei-ra, fez palestra sobre o aquecimento global.

Universidade cidadãO Pré-vestibular do Sintuperj “é uma

sementinha do projeto maior da Fasubra, de Universidade Cidadã”, explicou Alberto Mendes, coordenador de Formação Sindical do Sintuperj.

Muitos trabalhadores, dentro da uni-versidade pública, só têm o nível fundamen-tal e médio. “O primeiro objetivo do pré era possibilitar que esse trabalhador de nível médio cursasse uma universidade”, disse Alberto, que era presidente da então Asuerj, quando o Pré-vestibular foi criado.

Além de realizar um sonho, o aces-so à universidade melhora a capacitação profi ssional do trabalhador. Atualmente, com o plano de carreira aprovado, o pré-vestibular pode ajudar o servidor a avançar na carreira.

Mas o objetivo dos pré-vestibulares comunitários vai além. “O pré-vestibular tem como meta a aprovação no vestibular, mas o objetivo estratégico é a formação e conscientização do trabalhador, da sua situação, da sua condição de explorado, para que ele possa ser a força motriz da transformação”, explicou Alberto.

Não estamos sozinhosDe acordo com pesquisa do CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico), existem cerca de 400 pré-vestibulares comunitários somen-te na cidade do Rio de Janeiro. No Brasil inteiro, são em torno de 2 mil.

Para Alberto Mendes, “houve uma sensibilização da sociedade para esse projeto estratégico de formação”. Quase todos os pré-vestibulares são ligados a alguma organização social. Associação de moradores, sindicato, Igreja Católica, etc. “Outro fator, nos últimos 5 anos, sem dúvida, foi a lei de cotas. Acho que deu um boom de criação de pré-vestibulares”, conclui Alberto.

Uma pedagogia transformadoraO movimento de pré-vestibulares

comunitários surgiu na década de 90. A

principal marca é o pro-jeto político de com-bate à desigualdade social. Eram ações de solidariedade com os mais pobres, ou es-paço para estudantes universitários prati-carem a docência. Po-rém, foram os objetivos políticos dos militantes sociais que tiveram mais peso na criação dos cursos comunitários.

Segundo o professor de Ge-ografi a do Sintuperj, Cláudio Alves, o cuidado com a formação pessoal dos estudantes faz muita diferença. “A preocu-pação com o ser humano é bem maior nos comunitários. Mas as diferenças passam mesmo pelos objetivos. Pré-vestibulares como o do Sintuperj não só aprovam pessoas nos vestibulares, mas também democratizam o conhecimento, constroem cidadania, poli-tizam os indivíduos, tudo no intuito de criar uma sociedade mais justa”.

Leandro Gonçalves, professor de Matemática, acredita que, além do foco político, o método didático adotado pelos cursos comunitários torna o trabalho mais dinâmico: “A liberdade de você adotar o seu material e método didático para traba-lhar com os alunos e o bom trânsito entre a coordenação e professores, sem dúvida é um ganho a mais para os pré-vestibulares que são comunitários”.

Professores e alunos participam ativamente da construção do curso. Com isso, o aluno desenvolve maior compro-misso com sua formação. O professor de Física, Rodrigo Morais, afi rma que “é bom demais ver os alunos crescendo junto com o projeto, e tendo voz ativa nas decisões relativas ao andamento do Pré. Quando um aluno que cursa um pré vestibular do mercado da educação não consegue a aprovação, acaba realmente perdendo um ano, pois se encontra perdido em meio à pressão social. Aqui, os vencedores

não são só os aprovados, são todos que cursaram o Pré, pois de alguma forma o conhecimento adquirido ao longo do ano mudou suas vidas”.

Um belo exemplo é a técnica-ad-ministrativa Fátima Diniz, que trabalha no setor de Oftalmologia, do Hospital Universitário Pedro Ernesto, há 12 anos. Quando resolveu tentar o curso superior de Contabilidade da Uerj, se inscreveu no Pré-vestibular do Sintuperj. Ela se destacou como vice-representante de turma. O envolvimento foi tanto que decidiu concorrer à direção do sindicato, em 2008, para trabalhar de forma mais ativa no projeto do pré-vestibular.

“Sou aluna, ex-representante de turma e agora coordenadora. Vejo o quan-to o projeto cresceu e de forma coletiva. Um exemplo: foi com o esforço dos alunos do Pré na festa junina que o curso pode comprar equipamentos. A turma montou uma barraca e com o dinheiro arrecadado pode comprar e doar para o curso uma televisão, dvd e data-show”, explica Fátima Diniz, que no último período não para de sorrir com os resultados do curso. A conquista de 41 vagas é mérito, prin-cipalmente, dos alunos aprovados. Mas teve a participação de todos. Da Fátima, com certeza, intensamente!

Os novos universitários são chamados para a homenagem sob o aplauso de todos

Notícias do Sintuperj

Pré-vestibular dá aula de cidadania e bons resultados

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JORNAL DO SINTUPERJ | FEVEREIRO/MARÇO DE 20098

De um lado, prateleiras de livros até o teto, do outro, uma bandeira MST repousando sobre uma poltrona, na sala de estar. Sobre a mesa, publicações do jornal Brasil de Fato e revistas de História. Foi neste ambiente, em sua casa, que a historiadora e professora de pós-graduação da UFF, Virginia Fontes, concedeu entrevista ao jornal do Sintuperj, para falar dos 50 anos da revolução cubana.Entre um café e vários cigarros, a ex-moradora de Jacarepaguá, que cresceu e viveu na zona norte, descreveu Cuba como a “Madureira da minha infância”: um bairro onde qualquer um pode morar. “Não se pode dizer que Madureira é preta, branca. Madureira tem todas as cores do mundo”. Diferente do Leblon, cercado de serviços bons e caros, mas seletivo. “O Leblon é bronzeado”, ironiza.“Eu não quero morar num mundo que seja o Leblon. Quero Madureira”.

Por Tatiana Lima

SINTUPERJ: Este ano a revolução cubana faz cinqüenta anos. Cuba ainda é um símbolo do socialismo, hoje?VIRGÍNIA: Cuba é um processo revolucioná-rio absolutamente maravilhoso na América Latina. Aquela pequena ilha, na ponta do país mais poderoso do planeta, conseguiu se autonomizar. Primeiro, numa luta de liberta-ção nacional que, em seguida, se converteu num processo de revolução socialista. Par-tilho, participo emotiva e intelectualmente desse simbolismo que Cuba representa do socialismo, da necessidade do socialismo. SINTUPERJ: Então Cuba ainda represen-ta essa necessidade nos dias atuais?VIRGÍNIA: A necessidade e a urgência! Mais do que cinqüenta anos atrás. Se há cinqüenta anos, a dominação capitalista já era uma dominação imperialista, hoje, o controle multinacional controla a vida, controla a patente da vida: tem patente de planta, tem patente de vida biológica, patente proprietária que controla as águas doces e salgadas e está procurando controlar os ares. Não estou falando só do ar, mas do conjunto dos ares: o oxigênio que a gente respira, o ar que está sobre a nossa cabeça e o cosmo, que está bem além da nossa cabeça. E quando eu digo multinacional, isso não ex-clui os capitais brasileiros. O grande capital monopolista brasileiro participa como sócio subalterno dessa multinacionalização. SINTUPERJ: Cuba mostra para o mundo a atualidade do socialismo?VIRGÍNIA: Lógico. Cuba é uma experiência que eu prefi ro chamar de longa luta pelo socialismo. Não é possível um socialismo totalmente realizado num único país, mas

é possível, e é brilhante, acompanhar a luta pelo socialismo em Cuba. A gente tem muito para aprender com eles. SINTUPERJ: Você acha que seria neces-sária uma revolução no Brasil?VIRGÍNIA: Sem sombra de dúvida. Somente por um processo revolucionário o Brasil poderia conseguir frear ou reverter as de-sigualdades brutais e crescentes da socieda-de. Apesar dos programas de governo feitos pra diminuir uma parcela do sofrimento dos que sofrem mais. Isso não signifi ca redução das desigualdades. A necessidade de uma revolução está colocada do ponto de vista do signifi cado da vida humana. Efetivamente da vida humana! A gente vive em cidades embarreiradas, cidades carcerá-rias. Você anda aqui pelo meu bairro e vê: quantos apartamentos não possuem grades nas janelas? Se for 1% é muito. A grande maioria está cheia de grades, de vigias e sei lá mais o quê. Isso é vida social? Que vida social é essa que a gente é educado desde a mais tenra infância a competir pelo que é meu, incapaz de pensar de forma coletiva? Isso não e obrigatório e nem natural, é construído dentro da sociedade. SINTUPERJ: O que é o socialismo?VIRGÍNIA: A luta pelo socialismo é a luta por uma sociedade onde ninguém possa explorar a força de trabalho alheia. A Internacional Socialista diz assim: uma sociedade onde ninguém tenha direitos sem deveres, nem deveres sem direitos. Portanto, uma sociedade na qual tende a desaparecer a propriedade dos meios de produção, num primeiro momento e, em seguida, a própria idéia de propriedade. Se todo mundo está feliz e satisfeito, você não precisa ser dono do bolo para comer um pedaço de bolo. Aqui é o contrario, o dono do bolo não permite que ninguém coma do bolo. Ele até joga o bolo fora, mas ninguém pode comer. Mas esse horizonte não pode ser realizado num só país. O país está encerrado numa malha de redes internacionais, nas quais a propriedade impõe e se impõe. Ainda que a luta interna exista, ela não tem como superar de maneira decisiva e defi nitiva isso. Então, socialismo não é uma defi nição de sociedade fi nalizada é uma defi nição de processo de luta a longo prazo. SINTUPERJ: Muitos acusam Cuba de ser uma ditadura. Fidel era um ditador? VIRGÍNIA: Considerar o Fidel um ditador é um raciocínio torto, banhado em precon-ceito. O processo revolucionário do qual Fidel participou, como um dos principais líderes – junto com Che, Raul e outros tan-tos – em nenhum momento impôs alguém. Se Fidel permaneceu no poder ao longo desses 50 anos foi porque tinha um papel fundamental. Fidel não tem propriedade, não tem riqueza. Já tentaram assassinar Fidel de todas as formas. Não há nenhuma suspeita de corrupção sobre Fidel. Meus

amigos cubanos dizem uma coisa que me emocionou muito, a primeira vez que eu ouvi. Uma frase mais ou menos assim: é maravilhoso que Cuba tenha podido contar, em seu processo revolucionário, com pes-soas capazes de se doar como Fidel Castro. Fidel Castro não nos manda, não decide o que nós vamos fazer. Fidel Castro nos ajuda a ver o mundo. É uma percepção de mundo de gente que vive em Cuba. A comparação de Fidel com um ditador não dá conta dessa relação afetuosa que se estabeleceu em Cuba entre Fidel e a população cubana. SINTUPERJ: E com a saída de Fidel?Virgínia: Sempre foi o desejo dos Estados Unidos. Eles tinham certeza de que quando Fidel saísse, acabava a revolução cubana. Fidel saiu e não acabou. Essa relação amoro-sa entre a população cubana e Fidel Castro não signifi ca que ele decida o que a popu-lação vai fazer. O poder dele era também de convencimento, e esse convencimento não se destrói fácil. SINTUPERJ: Mas uma parte da população se mostra insatisfeita e até foge, né?VIRGÍNIA: A emigração cubana é com-preensível, como é compreensível a emi-gração brasileira para os Estados Unidos. As pessoas têm horizonte mais ou menos igualitário em Cuba, mas não têm acesso a tudo. Você imagina se hoje o governo brasileiro resolvesse dar a todos o mínimo, igualitariamente. Educação, saúde... não teria computador para todo mundo, como já não tem. Não teria celular para todo mundo, como não tem. Algumas coisas a gente não poderia ter imediatamente, po-deria tentar ter para frente, mas teria que, primeiro, garantir essa base igualitária. Além disso, em Cuba existe um permanente estímulo do governo norte-americano à essa emigração cubana. Os cubanos são os únicos que entram nos Estados Unidos e imediatamente têm direito a tudo: carta de trabalho, apoio, local pra morar etc. São recebidos como todos deveriam ser. Mas só os cubanos têm esse privilégio. Imagina se os brasileiros chegassem lá e ainda tivessem apoio do governo americano para se instalar. Consegue ter uma idéia do que isso representaria? SINTUPERJ: Mas isso não põe em risco o processo socialista? Fala-se na entrada de novos produtos, como celulares.VIRGÍNIA: Cuba tem muito mais conta-to com o mundo do que a grande maio-ria da população brasileira. O mundo inteiro vai a Cuba. Cuba abriga turmas de médicos, de músicos, de teatrólo-gos, de sociólogos do mundo inteiro. A gente chega a Havana e encontra gente de todas as nacionalidades no cotidiano da cidade. O problema é a entrada de um determinado tipo

Entrevista Virgínia Fontes

“Cuba é a Madureira da minha infância”“Cuba é a Madureira da minha infância”

Se todo mundo

está feliz e

satisfeito, você não

precisa ser dono do

bolo para comer

um pedaço de bolo. o, saúde... nãoo mundo, comoular para todogumas coisas adiatamente, po-, mas teria que,ase igualitária.um permanentete-americano àcubanos são ostados Unidos eo a tudo: cartaa morar etc. Sãoriam ser. Mas sóégio. chegassem lá everno americanoer uma idéia do

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um pedaço de bolo.

de consumo que impulsiona a concorrência e a propriedade capitalista. Como o governo cubano vai conseguir fazer isso? Imagina: televisão, dvd, celular, câmera fotográfi ca, tudo isso é feito para ser jogado fora um ano depois. Um desperdício social brutal. Nenhuma sociedade socialista pode conviver com isso. Ou ela se destrói, entra na lógica da destruição capitalista, ou enfrenta isso, tentando oferecer objetos mais duráveis, cuja serventia não se esgote no lucro ime-diato da empresa. Esse é o desafi o de Cuba. Será que Cuba vai ser capaz de fazer frente? E tem outro problema. Cuba não fala pelo celular e tem menos computadores porque os Estados Unidos bloqueiam a conexão de Cuba com o mundo. Eles proíbem a colocação de um cabo submarino entre Cuba e Miami. Agora, Cuba vai resolver isso através de um cabo com a Venezuela. Repara a loucura! É um cabo muito mais extenso.

Tatiana Lima