jornal cenário, 1ª edição, dezembro, de 2007

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CENÁRIO REGIONAL um serviço de utilidade pública ano I número I dezembro de 2007 distribuição gratuita Uma outra Motuca Com a desativação da Usina Santa Luiza, Motuca vai passar por uma grande transformação. Já a partir do ano que vem, terá sua população diminuída, pois muitos dos funcionários que optaram em trabalhar nas usinas próximas irão se mudar para as cidades onde estão situadas. Além disso, mesmo com a garantia do grupo em empregar todos os funcionários, o desemprego na cidade vai aumentar. Certamente, a Prefeitura de Motuca é a maior prejudicada com a desativação da Usina. Ela vai deixar de arrecadar cerca de R$ 2,5 milhões a partir de 2010. O município é conside- rado modelo pela infraestrutura construída nos tempos de bonança. Agora, terá que se adaptar aos poucos recursos. Na Prefeitura, já se fala em dispensa de funcionários e na redução de verbas para as áreas de esporte, cultura e lazer. O efeito Usina também vai refletir nas vendas do comércio e pode acarretar em mais desempregos. É nos tempos de crise e de dificuldade que o ser huma- no realmente cresce. E assim como Motuca, a população também vai mudar. O povo motuquense foi vítima de um jogo mercadológico e sentiu na pele seus efeitos. Agora, a sensação de conforto dará lugar a um aumento no nível de consciência. E somente com uma população apta a pensar e a encontrar soluções para os problemas é que o município vai progredir. Cidade no dia do anúncio da desativação da Usina Santa Luiza Município vai deixar de arrecadar 2,5 milhões Empresa fecha na melhor safra de sua história Grupo comprou Usina para evitar concorrência externa Pág. 02 Pág. 03 Pág. 04 Valor representa 25% das receitas do orçamento, cuja previsão para este ano é de R$ 9,97 milhões. Usina Santa Luiza bateu recorde de moagem de cana na safra 2007/2008, com 1,760 milhões de toneladas. Um dos principais interessados na compra da empresa era um grupo francês, dono da Usina São Carlos, de Jabotical.

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Edição inaugural do Jornal Cenário, exclusiva sobre o fechamento da Usina Santa Luiza, em dezembro de 2007.

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Page 1: Jornal cenário, 1ª edição, dezembro, de 2007

CENÁRIO REGIONALum serviço de utilidade pública

ano I número I dezembro de 2007 distribuição gratuita

Uma outra MotucaCom a desativação da Usina Santa Luiza, Motuca vai

passar por uma grande transformação. Já a partir do ano que vem, terá sua população diminuída, pois muitos dos funcionários que optaram em trabalhar nas usinas próximas irão se mudar para as cidades onde estão situadas. Além disso, mesmo com a garantia do grupo em empregar todos os funcionários, o desemprego na cidade vai aumentar.

Certamente, a Prefeitura de Motuca é a maior prejudicada com a desativação da Usina. Ela vai deixar de arrecadar cerca de R$ 2,5 milhões a partir de 2010. O município é conside-rado modelo pela infraestrutura construída nos tempos de bonança. Agora, terá que se adaptar aos poucos recursos. Na Prefeitura, já se fala em dispensa de funcionários e na redução de verbas para as áreas de esporte, cultura e lazer. O efeito Usina também vai refletir nas vendas do comércio e pode acarretar em mais desempregos.

É nos tempos de crise e de dificuldade que o ser huma-no realmente cresce. E assim como Motuca, a população também vai mudar. O povo motuquense foi vítima de um jogo mercadológico e sentiu na pele seus efeitos. Agora, a sensação de conforto dará lugar a um aumento no nível de consciência. E somente com uma população apta a pensar e a encontrar soluções para os problemas é que o município vai progredir. Cidade no dia do anúncio da desativação da Usina Santa Luiza

Município vai deixar de arrecadar 2,5 milhões

Empresa fecha na melhor safra de sua história

Grupo comprou Usina para evitar concorrência externa

Pág. 02 Pág. 03 Pág. 04

Valor representa 25% das receitas do orçamento, cuja previsão para este ano é de R$ 9,97 milhões.

Usina Santa Luiza bateu recorde de moagem de cana na safra 2007/2008, com 1,760 milhões de toneladas.

Um dos principais interessados na compra da empresa era um grupo francês,dono da Usina São Carlos, de Jabotical.

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Com a paralisação da Usi-na Santa Luiza, o município de Motuca vai deixar de arre-cadar cerca de R$ 2,5 milhões de impostos a partir de 2010. O valor representa 25% das receitas do orçamento, cuja previsão para este ano é de R$ 9,97 milhões. A maior perda será do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que neste ano pode chegar a R$ 4,450 milhões. Do total do ICMS arrecadado pelo município, 48% é proveniente da Usina.

Em janeiro de 2008, a pre-feitura vai criar uma comis-são para estudar os impactos que a diminuição na receita trará para o município. Se-gundo o Prefeito Hamilton Falvo (Mirtão), no momento não existe possibilidade de demissão de funcionários da prefeitura. “Os funcionários

podem ficar tranqüilos por enquanto, pois a perda dos impostos não vai afetar no ano que vem”, conta.

Pela lei de responsabili-dade fiscal, o município não deve ultrapassar 54% dos gastos públicos com funcio-nalismo. Atualmente, a folha

de pagamento dos funcio-nários da prefeitura está em cerca de 44%. Com a receita prevista para 2010, o total de gastos chegaria a 60%. “Se não houver aumento de impostos, haverá a dispensa de funcionários nos próximos anos”, ressalta o prefeito.

Município vai deixar de arrecadar 2,5 milhõesValor representa 25% das receitas da Prefeitura; maior perda será com ICMS

Cenário Regional um serviço de utilidade pública Página 02

De acordo com o dire-tor financeiro da prefeitura, Nelson Scopelli, o município pode realizar medidas para atingir as metas previstas na lei. A primeira seria a dispen-sa de funcionários nomeados. Depois, a transferência da-queles que possuem cargos comissionados para os cargos de origem, com a finalidade de diminuição de salários. A terceira medida, a redução nas despesas com cultura, esporte e lazer. Se mesmo assim a meta não for atingida, poderá haver a dispensa dos funcionários efetivos. “Se isso acontecer, é necessária a criação de uma comissão para que haja critérios nas demissões”, explica Scopelli.

CompromissoPara minimizar os impactos na receita do município, São

Martinho, Cosan e Santa Cruz se comprometeram, junto com as autoridades da cidade, a encontrar alterna-tivas para a geração de no-vas receitas. Inicialmente, o grupo estuda a possibilidade de utilizar as instalações da Usina Santa Luiza para esto-cagem de açúcar e álcool, o que acarretaria em impostos para os cofres públicos, além de oferecer apoio na divul-gação institucional do muni-cípio e no desenvol vimento de atividades de capacitação profissional da população.

Segundo o economista Eduardo Roes Morales, ci-dades como Motuca possuem maior dificuldade para atrair grandes empresas. “Muni-cípios pequenos oferecem pouca estrutura e escassez de mão de obra qualificada” explica. “Entre ir para uma cidade pequena e ir para uma grande, as empresas escolhem as grandes”. Uma das saídas, segundo Morales, seria o poder público investir em projetos de geração de empregos.

O Economista cita o exemplo de Ibitinga-SP, onde toda a população foi mobilizada para estruturar o município. “Ela tornou-se a cidade do bordado porque houve um planejamento”, conta. “Atualmente, o setor emprega muitas pessoas e Ibitinga é conhecida em todo o país, gerando, inclusive, receita com o turismo”.

GBADe acordo com o prefeito Mirtão, em sua gestão foram

realizadas visitas a empresas com o objetivo de atraí-las para o Motuca. “Estamos correndo atrás, oferecendo locais, mas é muito difícil”, conta. O prefeito desmente a procura da empresa GBA Caldeiraria e Montagens In-dustriais, de Guariba-SP. “É tudo especulação”, afirma. “Quem nos procurou foram prestadores de serviço da GBA”. Mirtão relata que foi oferecido terreno e que está aguardando a resposta final dos empresários.

Municípios pequenos possuem dificuldade para atrair empresas

Prefeito descarta possibilidade de demissão no próximo ano

Economista sugere investimentos em projetos de geração de empregos

Jornalista responsável:Jairo Figueiredo FalvoMTB 44.652/SPTelefone:(16) 3348 1185 - 8141 9125e-mail: [email protected]

Expediente:

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Empresa fecha na melhor safra de sua história

raquara, não existe legislação que impeça uma empresa de fechar. “Isso é próprio do sis-tema capitalista e as empresas não são obrigadas a fazer o que a lei não exige”, relata. No entanto, Morales comenta que faltou responsabilidade social do grupo. “Uma deci-são como essa traz um grande impacto social, pois atinge praticamente todas as famílias do município, que direta ou indiretamente possuíam algu-ma ligação com a empresa”.

Usina Santa Luiza moeu 1,760 milhões de toneladas de cana e era considerada eficiente

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Construída em 1958, a Usina Santa Luiza completaria 50 anos no que vem. Quando fechou, empregava 1.169 funcionários efetivos

A Usina Santa Luiza bateu recorde de moagem de cana na safra 2007/2008, com 1,760 milhões de toneladas. A empresa era considerada eficiente. Possuía capacidade para moer 1,8 milhões de toneladas de cana em terras férteis e favoráveis para co-lheita mecanizada. O grupo comunicou oficialmente a paralisação da empresa em dez de dezembro, cerca de uma semana após o término da safra.

No mesmo dia do anúncio da paralisação da Usina, o grupo iniciou a rescisão de contrato de quase todos os 1.169 funcionários efetivos. Cerca de 90 permaneceram para realizar trabalhos de segurança e de retirada de açúcar. Apesar do aparato de segurança preparado, com escolta armada e helicópte-

ro sobrevoando a Usina e a cidade, o dia do fechamento da empresa foi tranqüilo, sem manifestações.

A proximidade com as empresas compradoras, que possuem capacidade de moa-gem maior que a Usina Santa Luiza, foi fator decisivo para a paralisação. As safras das Usinas São Martinho, Bon--fim (pertencente à Cosan) e Santa Cruz terminaram antes da Santa Luiza. A São Martinho parou de moer em outubro.

Segundo o assessor do grupo, João Pereira Pinto, a paralisação da Usina traz uma economia de escala. “As empresas possuem terras espalhadas pela região, muito próximas daqui”, explica. “A partir da próxima safra have-rá uma sinergia de trabalho entre elas”.

O assessor conta que os contratos com os fornece-dores serão honrados e que os prestadores de serviços serão mantidos. Segundo o Presidente dos Fornecedores de Cana de Araraquara (Ca-nasol), José Carlos Bassanesi Teixeira, a transferência da cana para outras usinas vai aumentar o valor dos fre-tes. Já o empresário Jonas Graciliano de Lacerda, que fornecia marmitas para a Santa Luiza, relata que os diretores do grupo ainda não confirmaram a permanência de seus serviços.

RumoresO Prefeito Mirtão revela

que procurou os diretores do grupo assim que aumen-taram os rumores sobre o fechamento da Usina. “Fui conversar com eles, mas não

confirmaram se fechariam ou não”. Mirtão também conta que entrou em contato com os deputados Lobe Netto, Dimas Ramalho e Roberto Massafera, que prometeram conversar com o governador do estado. “A gente correu quase dois meses sem sosse-go”, relata.

De acordo com o econo-mista Eduardo Roes Morales, coordenador do curso de Administração de Empresas de uma universidade de Ara-

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Assim que anunciou a paralisação da Usina Santa Luiza, o grupo controlador garantiu vagas para os 1.169 funcionários nas Usinas São Martinho, Santa Cruz e Bonfim, pertencente à Cosan, mas não descartou a possibilidade de irem para outras empresas. Para os que não aceitarem a recolo-cação, o grupo oferece um pacote de benefícios. En-quanto alguns empregados observam a mudança como uma oportunidade para me-lhorar a carreira, outros se preocupam com a possibi-lidade de serem demitidos por falta de escolaridade. O reajustamento em empresas modernas e com estruturas superiores que a Usina Santa Luiza representa melhores condições de trabalho e de

perspectivas profissionais. No entanto, essas Usinas são mais rigorosas com relação à capacitação profissional.

O assessor do grupo, João Pereira Pinto, afirma que existe o comprometimento de não haver demissões. “As empresas possuem progra-mas de treinamento que irão capacitar àqueles que pos-suem baixa qualificação”. A permanência na empresa, se-gundo o assessor, depende do rendimento nas atividades. “A partir do momento que estão empregados, eles têm que demonstrar dedicação e produtividade para a empre-sa”, conta. O grupo também garantiu salários melhores ou equiparados aos da Usina Santa Luiza.

Segundo o torneiro mecâ-nico Carlos Alexandre Costa,

transferido para a Usina Santa Cruz, a mudança de empresa foi vantajosa. “Eu já queria trabalhar na Santa Cruz, pois o trabalho lá é melhor”, relata. “Além disso, o meu salário aumentou”. Costa, que ganhava R$ 3,25 por hora e passará a ganhar R$ 3,80, conta que preten-de se mudar para Américo Brasiliense, cidade onde está situada a empresa.

O tratorista Edenilton Ferreira Silva relata que vai continuar trabalhando no armazém da Santa Luiza até abril, na estocagem de açú-car. Silva conta que espera trabalhar próximo à Motuca. “Eu gostaria de trabalhar nas instalações da Usina Santa Luiza, que é próximo da minha casa.”, diz. “Se não, já que vão disponibilizar con-

Funcionários se dividem quanto ao futuro profissionalGrupo assegura emprego para todos os empregados; mesmo para os que possuem baixa escolaridade

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dução, gostaria de trabalhar aqui por perto”.

O presidente do Sindicato dos Ali-mentos, Antônio Gonçalves Filho, revela que foi cha-mado para uma reunião com os di-retores do grupo, antes do anúncio da paralisação. “Eles garantiram que nenhum fun-cionário ficaria sem emprego e que iriam trabalhar nas Usinas próximas a Motu-ca”. Segundo o presidente, existem perdas e ganhos na recolocação dos funcioná-rios. “Na Santa Luiza o valor do tíquete alimentação era

As Usinas São Martinho, Santa Cruz e a Cosan se uniram para a aquisição da Usina Santa Luiza com o objetivo de evitar a compra da empresa por algum grupo estrangeiro. “A Santa Luiza fica no meio, entre as duas usinas, uma delas, da Cosan. Se algum outro grupo a com-prasse, poderíamos ter uma situação que implicaria em disputa por cana e por terra, o que não seria bom para o grupo”, explica o gerente de relações com investidores da Cosan, Guilherme Prado, em entrevista para o jornal Ga-

Grupo comprou Usina para evitar concorrência externa

-zeta Mercantil, publicado em onze de dezembro.

Um dos principais interes-sados na compra da empresa era o grupo francês Coinbra/Louis Dreyfus. A Usina Santa Luiza está próxima de uma das três unidades do grupo, a Usina São Carlos, de Jaboti-cal-SP, com capacidade para moer 2 milhões de toneladas de cana por safra.

O valor da aquisição da Usina Santa Luiza foi de R$ 179,3 milhões, pagos a vista. Na transação, o grupo tam-bém comprou a Agropecuária Aquidaban e assumiu uma

dívida de R$ 40,4 milhões. A Usina São Martinho adquiriu a participação de 41,67% da empresa, a Cosan 33,33% e a Usina Santa Cruz 25%.

Com a desativação da Usi-na Santa Luiza, a cana vai ser dividida proporcionalmente às cotas de participação das empresas compradoras. A São Martinho vai re-ceber 750 mil toneladas de cana-de--açúcar na safra 2008/2009. A Cosan, na unidade Bonfim, de Guariba, vai absorver 600 mil toneladas. A Usina Santa Cruz, de Américo Brasiliense, as 450 mil toneladas restantes.

Proprietários da Usina São Carlos estavam interessados em adquirir a empresa

Edenilton quer ir para uma Usina próxima

maior que o da Santa Cruz”, compara. “Só que a Santa Cruz tem uma vantagem, a participação mensal e anual de resultados.”