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arquitetando INFORMATIVO DO SINDICATO DOS ARQUITETOS E URBANISTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2009 DEZEMBRO 09 NÚMERO Ao registrar a sua ART, indique SARJ ou código 25, como Entidade beneficiada. A sua indicação ajuda o SARJ a promover cursos, palestras, seminários e outras atividades de valorização profissional. ART O caos na política de transporte carioca A realidade de quem transita pela cidade do Rio de Janeiro em meio ao caos do trânsito e a falta de uma política efetiva de transporte. Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas Diretrizes, políticas da carreira, criação do CAU, papel do arquiteto e urbanista na sociedade e Assistência Técnica Gratuita foram alguns dos pontos de discussão do 33º ENSA, realizado em São Paulo. Cresce a preferência por escritórios de grifes internacionais Vários são os projetos e obras que hoje são feitos por arquitetos estrangeiros. Será essa uma prática vista com bons olhos pelos profissionais brasileiros? Páginas 4 e 5 Página 3 Página 7 ANO DE LUTAS E MUITAS CONQUISTAS

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Edição número 09 de dezembro de 2009. Informativo do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Rio de Janeiro - Brasil.

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arquitetandoI N F O R M AT I V O D O S I N D I C AT O D O S A R Q U I T E T O S E U R B A N I S TA S N O E S TA D O D O R I O D E J A N E I R O

2009DEZEMBRO

09NÚMERO

Ao registrar a sua ART, indique SARJ ou código 25, como Entidade beneficiada. A sua indicação ajudao SARJ a promover cursos, palestras, seminários e outras atividades de valorização profissional.A R T

O caos na política de transporte cariocaA realidade de quem transita pela cidade do Rio de Janeiro em meio ao caos do trânsito

e a falta de uma política efetiva de transporte.

Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e UrbanistasDiretrizes, políticas da carreira, criação do CAU, papel do arquiteto e urbanista na sociedade e Assistência

Técnica Gratuita foram alguns dos pontos de discussão do 33º ENSA, realizado em São Paulo.

Cresce a preferência por escritórios de grifes internacionaisVários são os projetos e obras que hoje são feitos por arquitetos estrangeiros.

Será essa uma prática vista com bons olhos pelos profissionais brasileiros?

Páginas 4 e 5

Página 3

Página 7

ANO DE LUTAS E MUITAS CONQUISTAS

222009

ARQUIT

ETANDO

DEZEMBRO

E x p e d i e n t e

arquitetando

arquitetando

arquitetando

arquitetando

arquitetandoINFORMATIVO DO SINDICATO

DOS ARQUITETOS E URBANISTASNO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PRESIDENTE

JEFERSON ROSELO MOTA SALAZAR

VICE-PRESIDENTE

IZIDORO JERÔNIMO DA ROCHA

SECRETÁRIA GERAL

CARMEN M. FIDELIS BATEIRA

TESOUREIRO

ALEXANDER REIS

1º DIRETOR

ALEXANDRE LOURENÇO DA SILVA

2º DIRETOR

EDINALDO JOSÉ DE SOUZA

3º DIRETOR

CLÁUDIO LUIZ O. RIBEIRO

DIRETORES SUPLENTES

MAURÍCIO MONTEIRO CAMPBELL

MARCOS DE FARIA ASEVEDO

DARUIZ CASTELLANI

CONSELHEIROS (TITULARES)JORGE DE ABREU FIGUEIREDO

PAULO OSCAR SAAD

CELSO EVARISTO DA SILVA

CONSELHEIRO (SUPLENTE)MAURI VIEIRA DA SILVA

REPRESENTANTE NA FNA (TITULAR)PAULO OSCAR SAAD

REPRESENTANTE

NO IAB-RJ (TITULAR)MAURÍCIO MONTEIRO CAMPBELL

REPRESENTANTE

NA CUT-RJ (TITULAR)CELSO EVARISTO DA SILVA

EDITOR

NILO SERGIO GOMES

REPORTAGEM: RAFAELA PEREIRA

PROJETO GRÁFICO / DIAGRAMAÇÃO

JUAREZ QUIRINO

FOTOS

ARQUIVO SARJ

TIRAGEM

11 MIL EXEMPLARES

IMPRESSÃO

NEWSTEC GRÁFICA

Sede do SARJ

RUA EVARISTO DA VEIGA, 47/706 - CENTRO

RIO DE JANEIRO /RJ - CEP 20031-040

TELS.:(21)2240-1181 /

(21)2544-6983 (TEL/FAX)

Funcionamento

DE SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA,

DAS 09:00H ÁS 18:00H

Internet

[email protected]

www.sarj.org.br

Mais um ano que se encerra. Não foi um

ano fácil, como não tem sido fácil a luta co-

tidiana dos arquitetos e urbanistas brasi-

leiros. Mas, indiscutivelmente, o SARJ teve

um destacado papel em diversas frentes,

conquistando avanços importantes para a

nossa categoria profissional. Fomos infle-

xíveis na defesa dos interesses dos arquite-

tos e urbanistas, no debate sobre o Projeto

de Lei que cria o Conselho de Arquitetura e

Urbanismo – CAU (PL 4413/2008). Organi-

zamos grupos de trabalho, elaboramos

propostas e realizamos, junto com o CREA-

RJ, um seminário sobre o CAU, com a pre-

sença do deputado federal Luiz Carlos Bu-

sato (PTB/RS), Relator do PL.

Fomos a única entidade profissional de ar-

quitetos e urbanistas no país que apresen-

tou emendas ao PL que cria o CAU. Para

tanto, contamos com o valioso apoio do

deputado federal Carlos Santana (PT/RJ).

Estas emendas foram no sentido de retirar

do PL a figura do “acervo de produção”, uma

excrescência jurídica que transferia o acer-

vo técnico e o direito autoral dos profissio-

nais para as empresas. Junto com o IAB-RJ,

elaboramos e entregamos ao deputado

Busato um relatório de avaliação de todas

as emendas apresentadas ao PL e partici-

pamos das Audiências Públicas no Con-

gresso Nacional sobre o CAU. Trabalho re-

conhecido pelo deputado Busato, que to-

mou este relatório de avaliação como base

para a elaboração do seu próprio Parecer,

que foi aprovado por unanimidade pela

Comissão de Trabalho, Administração e Ser-

viço Público da Câmara dos Deputados.

Resgatamos com essa ação aquilo que é o

bem mais precioso para os arquitetos e ur-

banistas: o direito inalienável sobre a sua

produção intelectual.

Em outra frente, promovemos seminários

sobre a implantação da Assistência Técni-

ca Pública, objeto da Lei 11.888/2008, do

deputado federal Zézeu Ribeiro (PT/BA).

Esta lei é um importante instrumento para

garantir a qualidade de vida para a popu-

lação com renda familiar de até três salári-

os mínimos, dotar os municípios de um ar-

cabouço legal para reduzir o déficit habi-

tacional e melhorar as condições de pla-

nejamento do uso do solo. E uma grande

oportunidade para arquitetos e engenhei-

ros mostrarem a função social das profis-

sões, sendo remunerados pelo poder públi-

co. Como resultado deste esforço, já trami-

ta na Câmara Municipal de Araruama a

primeira Lei Municipal de Assistência Téc-

nica Pública e Gratuita no Estado do Rio

de Janeiro, fruto do seminário promovido

pelo SARJ, em parceria com a Câmara de

Vereadores e com apoio da Prefeitura, do

CREA-RJ, da FNA, do SENGE-RJ e da Associ-

ação Leste-Fluminense de Engenheiros e

Arquitetos – ALFEA.

O autor deste Projeto de Lei, o engenheiro e

vereador Osvaldo Norberto Gonçalves Filho,

foi um dos mais destacados incentivadores

da parceria SARJ/Câmara de Vereadores,

junto com o presidente da Casa, o vereador

José Eurico e o coordenador regional do

CREA, o engenheiro Octávio Caetano Junior.

Os próximos seminários serão nas cidades

de Petrópolis e Volta Redonda, em datas a

serem divulgadas pelo Sindicato.

Diversos seminários, cursos, palestras e

importantes debates foram realizados

Um ano de lutas e conquistas

USA (Unidade de Serviçosde Arquitetura) para

dezembro/09: R$ 37,29

HORA TÉCNICA(dezembro/09):• para trabalhos

até 168h = 97,07

• para trabalhosacima de 168h = 72,81

SALÁRIO MÍNIMOPROFISSIONAL:

• 6 horas X 6 saláriosmínimos = 2.790,00

• 7 horas X 7,5 saláriosmínimos = 3.487,50

• 8 horas X 9 saláriosmínimos = 4.185,00

I n d i c a d o r e s

ao longo do ano. Buscamos estimular a

reflexão através do blog do SARJ na in-

ternet, espaço virtual de discussão que

tem contado com a contribuição impres-

cindível de diversos colegas de profissão.

Vale à pena conhecer.

O SARJ participou com destaque do I Fórum

de Valorização Profissional, de 3 a 5 de de-

zembro, em Manaus, no qual Sindicatos de

Arquitetos e de Engenheiros de todo o país

debateram formas de valorizar as profis-

sões junto à sociedade, entre elas, uma

campanha institucional nacional.

Grandes embates se avizinham, com a

chegada do próximo ano, principalmen-

te relacionados com a Copa do Mundo de

2014 e com as Olimpíadas de 2016, em que

as autoridades colocaram a cidade e o

país a serviço dos jogos. Defendemos a re-

alização dos jogos, mas com outra con-

cepção: os jogos a serviço da sociedade e

da justiça social. Finalmente não pode-

mos deixar de manifestar nosso desejo de

um ano repleto de felicidades e realiza-

ções para todos. Afinal, somos otimistas

e convictos de que uma sociedade melhor

e mais justa é possível.

E d i t o r i a l

O U T U B R O

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2009DEZEMBRO

ARQUIT

ETANDO

O 33º ENSA foi realizado em SãoPaulo, em novembro último, simul-taneamente à VIII Bienal Internacio-nal de Arquitetura, e celebrou os 30anos de fundação da FNA. Cerca de80 delegados, representando sindi-catos de todo o país, discutiram asdiretrizes políticas referentes à ca-tegoria, no âmbito dos sindicatos eda própria Federação, na perspecti-va da criação do conselho próprio(CAU) ora em tramitação no Con-gresso Nacional.

O SARJ apresentou tese sobrea política sindical a ser adotadatanto pelas entidades de base (ossindicatos) como pela própria Fe-deração, incluindo a discussão so-bre o papel do arquiteto e urba-nista na sociedade, ou seja, a fun-ção social deste profissional narealidade brasileira na cidade e nocampo, à luz das conjunturas in-ternacional e nacional, respectiva-mente. O SARJ reafirmou o enten-dimento e o compromisso deconstruir e propagar a idéia de quearquitetar e urbanizar uma outracidade é tão possível quanto ne-cessário e urgente e que, para tan-to, somos, arquitetos e urbanistas,os protagonistas privilegiados des-te projeto, juntamente com a so-ciedade civil, para ser implemen-tado pelo poder público.

Com relação ao teor das dis-cussões e proposições do Encon-tro, um ponto que se mostroucomo unanimidade entre sindica-

33º ENSA – Encontro Nacional deSindicatos de Arquitetos e Urbanistas

tos presentes é a necessidade dea Federação modificar a sua rela-ção com os sindicatos, integran-do-os e fortalecendo-os de manei-ra a que tenham uma participaçãomais ativa na condução e gestãoda Federação.

Uma outra discussão que mo-bilizou as atenções dos delegadosdo Encontro foi a respeito do pa-pel dos sindicatos no tocante àAssistência Técnica Gratuita, isto é,a aplicação prática da Lei 11.888/08, que assegura a prestação daassistência técnica gratuita paraProjeto e Construção de Habita-ção de Interesse Social, com o po-der público garantindo os custosdesta assistência. A lei está em vi-gor desde junho último e, de acor-do com o presidente do SARJ, afaixa da população com renda deaté três salários mínimos é a quemais necessita desses serviços, pornão ter condições de contratar pro-fissionais.

“Esta é uma lei que beneficia atodos, inclusive, aos estados e muni-cípios, cujo ganho é o retorno social,com a redução de custos na saúde,pois serão habitações com bons ní-veis de salubridade, que não vão cau-sar danos à saúde dos moradores”,diz Jeferson Salazar. Além disso, ha-verá expressiva redução de habita-ções irregulares ou em áreas de ris-co, como as encostas dos morros. Osmunicípios, com a assistência técni-ca aos projetos e construções de

habitação de interesse social, terãoà disposição cadastro que irá permi-tir o monitoramento do uso do es-paço urbano.

“Ou seja, é uma lei que trazbenefícios a todas as partes envol-vidas e possibilita que a popula-ção perceba, mais concretamen-te, o trabalho e a função social doarquiteto”, diz Jeferson Salazar. OSARJ já promoveu, em parceriacom o poder público, semináriosno Rio, na capital, e em Araruama,na Região dos Lagos, e está orga-nizando os próximos que serãorealizados em Petrópolis, na regiãoSerrana, e em Volta Redonda, noSul Fluminense.

O Encontro decidiu tambémpela criação de uma “Estatuinte”,ou seja, um Grupo de Trabalho in-tegrado pelo presidente da FNA,Ângelo Arruda; Valeska Pinto (SP)e Eduardo Bimbi (RS), ambos, vice-presidentes da Federação; Anto-

nio Menezes Jr. (DF); Diogo Pai-xão (Goiás); Jandira França (Bahia);Eduardo Fajardo (MG); RaimundoNonato (Pará) e Ana Carmem (Per-nambuco).

Este Grupo irá elaborar propos-tas para a reforma estatutária da Fe-deração, que serão debatidas e de-cididas no ENSA extraordinário queocorrerá entre 18 e 21 de março de2010, no Rio, às vésperas do FórumUrbano Mundial, que também serealizará na capital carioca, sob osauspícios da Organização das Na-ções Unidas (ONU). O GT vai elabo-rar também propostas para o regi-me de funcionamento da diretoriada Federação e do processo eleito-ral da entidade maior dos arquitetose urbanistas. De acordo com o pre-sidente do SARJ, Jeferson Salazar,que coordena o GT, o alvo de todasessas questões é avançar na demo-cratização da FNA, inclusive, de suagestão e do processo eleitoral.

O Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos

e Urbanistas (ENSA) é o fórum maior onde os

sindicatos, juntamente com a Federação Nacional

dos Arquitetos (FNA), discutem, propõem e

legitimam a política sindical a ser adotada

e implementada pelas entidades

Mesa de discussão do 33º ENSA. Da esquerda para a direita,Eduardo Bimbi (FNA), Paulo Saad (RJ), Ângelo Arruda (FNA),

Jeferson Salazar (RJ) e Eduardo Fajardo (MG)

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ARQUIT

ETANDO

DEZEMBRO

De acordo com a ConstituiçãoBrasileira, é livre o exercício de qual-quer trabalho, ofício ou profissão,atendidas as qualificações profissio-nais que a lei estabelecer. No casoda Arquitetura, a que regulamentao exercício da profissão é a lei 5.194de 1966. Pela letra da lei, o exercí-cio no país é assegurado aos quepossuem diploma registrado de fa-culdade ou escola superior de arqui-tetura; aos que possuem diploma defaculdade ou escola estrangeira deensino superior de arquitetura, de-vidamente revalidado e registradono país, bem como os que tenhamexercício amparado por convêniosinternacionais de intercâmbio; e aosestrangeiros contratados que te-nham seus diplomas registradostemporariamente, a critério dosConselhos Federal e Regionais deEngenharia, Arquitetura e Agrono-mia, considerados a escassez de pro-fissionais de determinada especiali-dade e o interesse nacional.

Contudo, será que essa legisla-ção continua a contemplar a neces-sidade da sociedade atual?

Para o arquiteto Antonio JoséPedral, subsecretário municipal deurbanismo de São Gonçalo, essa éuma legislação defasada e atrasadano tempo. “ Ela sempre foi muitocorporativista e voltada para o pro-fissional brasileiro, que também está

defasado no tempo. É preciso umaatualização da legislação e tambémda profissão”, analisa Pedral. MauroAlmada, arquiteto e integrante daONG Vivercidades, também fazcoro com ele. “A legislação sobrea profissão precisa ser revista omais rapidamente possível”, diz.

Independentemente da altera-ção da lei, essa é uma situação queprecisa ser pautada pela sociedadecom muito cuidado. Não adianta odiscurso de proibir a entrada de pro-fissionais estrangeiros no país e mui-to menos liberar todo o mercadopara eles. Essa é uma conta que pre-cisa ser equacionada.

Para Almada, o mercado brasi-leiro poderia ser aberto aos estran-geiros em condições especiais.Concursos públicos internacionais,estrangeiros já naturalizados noBrasil e no caso de um arquitetobrasileiro precisar de uma consul-toria estrangeira.

“Eu não sou contra a contratação,mas desde que seja por vias maisdemocráticas. Se você tem umaobra importante que mereça serobjeto de concurso público interna-cional e um arquiteto estrangeiro

ganhar esse concurso, eu acho quedeve ser permitido que ele cons-trua aqui, desde que ele tenha umparceiro local. No caso do contratopara consultoria seria uma licençaespecífica para um único trabalho,sob condições limitadas”, explica oarquiteto.

Antonio José Pedral tambémaponta o concurso público, nacio-nal ou internacional, como uma op-ção democrática e viável. “Pensoque tem de haver maior intercâm-bio internacional para se ver comoestá sendo produzida a arquitetura

EM OUTROS PAÍSESMuitos sabem que Oscar Niemeyer tem projetos seus em várias partes do mundo.

Assim, como aqui no país existem obras assinadas por arquitetos estrangeiros, comoÁlvaro Siza Viera, por exemplo, que projetou o Museu Iberê Carmargo, em PortoAlegre, inaugurado em maio deste ano.

O arquiteto Mauro Almada explica ser necessário formalizar acordos dereciprocidade com Portugal, por exemplo, e até mesmo com os países que integram oMercosul. Lembrando do que aconteceu na União Européia, Almada projeta o futuro.

“Desde quando fizeram a unificação européia, qualquer profissional nos paísesmembros pode exercer a profissão em todos os países da Europa, sem ter que fazerprova ou reconhecimento de diploma. Agora, para que isso fosse permitido, elesfizeram uma padronização da legislação em cada país. Nos Estados Unidos algosemelhante aconteceu. E no Mercosul a ideia era fazer algo parecido. Brasil,Argentina, Paraguai e Uruguai teriam essa possibilidade”, salienta Almada.

no mundo todo. E, ao contrário dalicitação, onde o projeto já foi con-cebido e você licita para escolherquem vai construir ou desenvolvê-lo, nos concursos admitem-se novasidéias, soluções, correndo-se o riscopositivo do produto final ser mais in-teressante e criativo. E essa associa-ção a escritórios brasileiros seria umaforma de melhorar a qualidade téc-nica dos escritórios brasileiros. O paísdeve encontrar uma nova fórmula,que incorpore a possibilidade des-ses escritórios estrangeiros trabalha-rem no Brasil”, compara Pedral.

Arquitetos estrangeiros no país:nem xenofobia, nem liberdade totalMuseu da Imagem e do Som, Cidade da Música e

São Paulo Companhia de Dança são alguns dos

exemplos, dentre tantos outros projetos, de obras

públicas brasileiras feitas por arquitetos

estrangeiros. Contudo, como essa prática é vista

pelos arquitetos brasileiros? E a sociedade, como

analisa essa escolha por escritórios de grifes

internacionais para obras públicas brasileiras?

O U T U B R O

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2009DEZEMBRO

ARQUIT

ETANDO

O Museu da Imagem do Som e a

polêmica Cidade da Música são duas

obras cariocas que chamaram a aten-

ção da opinião pública, provocando

reações de diversos segmentos da

sociedade. No Museu da Imagem e

do Som (MIS), que terá sua sede em

Copacabana, o escritório vencedor

foi o americano Diller Scofidio +

Renfro. O orçamento inicial é de R$

65 milhões e a previsão de término

das obras em 2012.

“Esse projeto rompe com a conti-

nuidade da quadra em Copacabana.

Há erro de concepção, talvez de uma

pessoa que não conheça Copacaba-

na e nem o Rio de Janeiro. De certo

tinham outros projetos melhores,

mas a grife chamou mais atenção”,

critica o subprefeito de São Gonçalo.

Já a Cidade da Música, na Barra da

Tijuca, é um projeto pensado pelo

então prefeito César Maia, para ser

sede da Orquestra Sinfônica Brasilei-

ra, ter salas de espetáculos, concer-

tos, ballet e ópera, além de salas de

aula, cinemas, restaurantes e outras

atrações culturais. Na época, a esco-

lha pelo escritório foi feita por con-

curso fechado e o arquiteto escolhi-

do foi o francês Chistian de Portzam-

parc. Porém, o que poderia ser um

belo projeto acabou saindo do tom

e desafinando.

Altos valores gastos, acusações de

malversação de dinheiro público, su-

perfaturamento, atrasos nos prazos.

Como exemplo, a dificuldade em de-

finir os valores reais desse projeto –

no início das obras, em 2002, o valor

previsto para o projeto era R$ 90 mi-

lhões. Em dezembro de 2008, esse va-

lor passou para R$ 520 milhões. Po-

rém, o valor final dessa obra pode fi-

car em torno de R$ 670 milhões. Desse

total, R$ 431 milhões já foram pagos

pelos cofres públicos. Isso sem levar

em consideração que a obra deveria

durar dois anos e já dura sete.

Esses são alguns dos problemas

gerados pelo projeto. Até uma Comis-

são Parlamentar de Inquérito foi cria-

da, a CPI da Cidade da Música. No re-

latório final dessa CPI, divulgado re-

centemente, há a recomendação pelo

indiciamento de Cesar Maia e de mais

E que órgão seria o responsável

por essa fiscalização? De acordo

com a legislação, seria o CREA. “O

CREA é uma instituição envelhecida

no tempo e que não atende mais às

reivindicações dos arquitetos. É um

organismo que se acha com o po-

der de punir, mas, no entanto, 95%

das construções no Brasil são feitas

de maneira ilegal. Talvez, a criação

do Conselho de Arquitetura e Urba-

nismo dê uma refrigerada na estru-

tura de arquitetura”, aposta o subse-

cretário de Urbanismo.

Com a chegada da temporada

dos Jogos Olímpicos a sociedade

precisa ficar atenta, pois a contra-

tação de escritórios estrangeiros

para construção e recuperação de

estádios de futebol vai se intensifi-

car. De acordo com o arquiteto Cel-

so Evaristo da Silva, os compromis-

sos externos firmados para garan-

tir a vinda dos jogos para o Brasil,

certamente também trouxeram al-

gumas obrigações.

“Os projetos das instalações que

chegam para satisfazer a FIFA na

Copa do Mundo tem o mesmo de-

senho que beneficiam alguns. A ci-

dade não deve servir aos jogos, mas,

ao contrário, os jogos devem acres-

centar recursos que se traduzam em

melhor qualidade de vida aos seus

habitantes. É importante lembrar

que a gestão das cidades é realiza-

da sob a ótica nada democrática do

entendimento de que a cidade é um

bem disponível para a iniciativa pri-

vada lucrar. E os poderes, historica-

mente, são os postos avançados

destes interesses. A cidade é uma

dez pessoas envolvidas nas obras,

entre autoridades, arquitetos e en-

genheiros. Se essa recomendação for

adiante, o ex-prefeito poderá ser in-

diciado por supostas violações à Lei

de Responsabilidade Fiscal, à Lei Ge-

ral das Licitações, a crimes de respon-

sabilidade e improbidade adminis-

trativa. Espera-se também que o Mi-

nistério Público instaure outro inqu-

érito, mas dessa vez na área criminal.

Em ambos os casos o que houve

foi uma contratação direta, sem licita-

ção pública e sem concurso público

de projeto. A pergunta que fica é: como

que o destino dessas duas grandes

obras públicas foi escolhido dessa

maneira?

“Eram projetos públicos monu-

mentais, onde o certo era terem feito

um concurso público, mesmo que in-

ternacional. Mas o que houve foi a

contratação de um arquiteto, sem lici-

tação. Como ele não pode exercer a

profissão aqui, no país, outra pessoa

assina o projeto para que haja a apro-

vação junto à prefeitura e, concomi-

tantemente, a regulamentação junto

ao CREA. Mas essa é uma prática erra-

da. Esses dois casos devem ser pegos

como exemplo do que não deve ser

feito”, explica o arquiteto.

Ele conta ainda que, no caso do

Museu da Imagem e do Som, os arqui-

tetos foram escolhidos em um con-

curso fechado, que poucos ficaram sa-

bendo de sua realização. “Dos arquite-

tos escolhidos para concorrerem, ape-

nas um era carioca. Como se faz um

concurso dessa importância, do Mu-

seu da Imagem e do Som, no Rio de

Janeiro, e só se contrata um carioca?”,

questiona Almada.

Para Antonio José Pedral, nos

dois casos houve uma busca do

poder público por nomes-chave no

mercado internacional para, prin-

cipalmente, dar visibilidade de ma-

rketing. “Deveria ter havido um

concurso internacional, como em

Paris se fez para as diversas obras

de remodelação. Se já tivéssemos

o Conselho de Arquitetura e Urba-

nismo (CAU), ele poderia ser o ór-

gão para conduzir esse concurso”,

aponta Pedral.

MIS e Cidade da Música

Jogos Olímpicos

presa dos interesses econômicos”,

analisa Evaristo.

Quando perguntado sobre a

qualidade dos projetos e se eles re-

presentam a demanda dos brasilei-

ros, Evaristo é taxativo em respon-

der: não! “Nossa realidade merece

soluções práticas voltadas para

atender nossas necessidades, nos-

so jeito de viver. Soluções propos-

tas como as construídas no Enge-

nhão, em que tubos estruturais im-

pedem a visão dos espectadores

dos eventos esportivos, são um

contra-senso, um erro clamoroso”,

cita o arquiteto.

Para Pedral essa é uma avaliação

que só poderemos fazer depois. “Acre-

dito que os escritórios internacionais

estarão aportando aqui nos próximos

dias, se já não estiverem. E isso com o

respaldo do Governo Federal e do

Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Essa

é a solução mais rápida. Ao invés de

formar aqui no Brasil você busca so-

lução mais rápida. A gente só vai po-

der avaliar se isso vai ser bom ou não

depois”, finaliza Pedral.

662009

ARQUIT

ETANDO

DEZEMBRO

As obras de construção do mega-projeto Complexo do Açu (DistritoIndustrial), no município Norte Flu-minense de São João da Barra, cons-tituem-se como empreendimento pi-loto para concretização, em territóriobrasileiro, do modelo da Cidade Em-presa, o qual possui a lógica da apre-sentação/gestão sócioespacial do ter-ritório pelo setor financeiro, onde acidade deve ser competitiva e que,para tanto, deve ser administrada porquem é do ramo. Ou seja, quem en-tende e opera negócios e cujo esta-tuto é o do mercado, à revelia e pre-juízo da Lei Federal nº 10.257/01(Es-tatuto da cidade).

Este modelo não é novo e vemse consolidando a partir das parce-rias que o poder público vem fir-mando com o setor privado, emnome de “novos paradigmas” e da“contemporaneidade” ou “moderni-dade”, como são marketizadas pe-las mídias e tais projetos.

O megalômano projeto do em-presário Eike Batista, que em nomedo desenvolvimento e preservaçãodo meio ambiente, está destruindoáreas de proteção permanente, comoos ecossistemas das lagoas locais. Paraavaliarmos a dimensão do crime am-biental que está sendo consumado éoportuno sabermos que a região éconsiderada santuário ecológico, comenorme acervo paleontológico, estan-do em exame, na Unesco, pedido paraque a Lagoa Salgada, que integra oecossistema regional, seja considera-da “monumento paleontológico dahumanidade”, pela riqueza de dadose informações que possui em suascamadas geológicas.

O complexo envolve uma área de7,5 mil hectares na Praia do Açu, com90 quilômetros quadrados de retroá-

rea. Será, quando concluído, o maiorporto privado da América Latina, comseis berços de atracação para naviosgraneleiros e quatro berços para na-vios de carga geral, com terminal paraminério de ferro, plantas de pelotiza-ção, usinas termoelétricas, complexosiderúrgico e pólo metal-mecânico.

Os estragos nos ecossistemas daregião são os mais amplos e abran-gentes. Além da previsível mortan-dade de peixes, tartarugas e cama-rões, a retirada de 2 milhões demetros cúbicos de granito, para aconstrução dos quebra-mares doPorto do Açu, vai praticamente des-montar boa parte do Morro da Ita-óca, declarado, em 1992, Reserva daBiosfera da Mata Atlântica.

O megaprojeto afeta também avida humana da população local, ondecerca de 4 mil pescadores estão tam-bém recorrendo à justiça, reivindican-do indenização pela brusca mudançaem suas formas de vida, secularmen-te dependentes da pesca, tanto comoalimento básico quanto como princi-pal atividade profissional desenvol-vida desde os seus mais primórdiosantepassados.

“Há um dano material e moral aesses pescadores”, diz o advogadoLeonardo Amarante, responsávelpelos três processos ingressados naJustiça em nome da Federação dosPescadores. Na área onde hoje éconstruído o porto, três colônias depescadores estão afetadas e deslo-cadas da região em que sempre vi-veram desde seus primeiros ances-trais. Como é da natureza da esma-gadora maioria das empresas capi-talistas, a de Eike Batista tambémse recusa a admitir o dano e a pa-gar o prejuízo causado a milharesde trabalhadores e suas famílias.

Minúcias e males do megaprojeto do AçuMinúcias e males do megaprojeto do AçuMinúcias e males do megaprojeto do AçuMinúcias e males do megaprojeto do AçuMinúcias e males do megaprojeto do Açu

Em 19 de maio último foi publi-cado na imprensa “Fato Relevante”,anunciando a assinatura de Memo-rando de Entendimentos entre asempresas MMX Mineração e Metáli-cos S.A., LLX Logística S.A. e WuhanIron and Steel Co., conhecida por Wis-co, empresa chinesa, considerada “pri-meiro complexo mínero-siderúrgicogigante estabelecido após a funda-ção da República Popular da China” euma das empresas âncora sob a lide-rança daquele governo.

E o que consta deste “memoran-do de entendimentos”? A construçãopela Wisco chinesa de uma siderúr-gica integrada “no Distrito Industrialdo Super Porto do Açu”, que irá pro-duzir 5 milhões de toneladas por anode “produtos siderúrgicos”, na qual ogrupo EBX, de Eike Batista, terá parti-cipação minoritária. Toda a produção,diz o memorando, poderá ser expor-tada pela Wisco, por contrato de lon-go prazo. Ou seja, as empresas brasi-leiras fornecerão montanhas de mi-nério de ferro que a estatal chinesairá processar, laminar, agregar valor eexportar, integralmente. O memoran-do de entendimentos prevê ainda “ofornecimento de produtos siderúrgi-cos pela Wisco para a BEX (“Brasil Es-taleiros S.A.” – empresa do grupo EBXdedicada à construção de navios eequipamentos off-shore)”.

Não é o que pensam procurado-res do Ministério Público Federal doRio de Janeiro e de Minas Gerais. Combase em estudos do professor ArthurSoffiati, do Instituto de Ciências daSociedade e Desenvolvimento Regi-onal, da Universidade Federal Flumi-nense, em Campos, para quem o me-gaprojeto contem diversas irregula-ridades, o MPF de Campos dos Goyta-cazes ingressou com Ação Pública na1ª Vara Federal do município, pedin-do a imediata paralisação das obras.A Justiça Federal ainda não se pro-nunciou sobre a ação civil impetradaem agosto último.

A primeira irregularidade é o fatode se tratar de projeto em área daMarinha brasileira, o que, de acordocom a Constituição exige a realiza-ção de processo de licitação pública.Outra é a cessão da área pela prefei-tura de São João da Barra às empre-sas do grupo EBX, que se deu de for-ma obscura. Uma terceira é que asobras do porto, já iniciadas e em rit-

mo acelerado, receberam licença doInstituto Estadual do Ambiente (Inea)sem o devido estudo de impacto am-biental (EIA), exigidos por lei.

Os procuradores do MPF de Cam-pos arrolam também como réus o Ins-tituto Estadual de Ambiente (Inea), porconceder licença sem as exigênciaslegais cabíveis, e a Agência Nacionalde Transportes Aquaviários (Antac),que não realizou a licitação pública,exigência constitucional, sob a alega-ção de se tratar de um porto de pe-queno porte. Em declarações à im-prensa da região Norte Fluminense, oprofessor da UFF Arthur Saffioti disseque o projeto do porto é “uma excres-cência em termos de geologia. Ele vaiconstruir um porto de pedra dentrodo mar, criando uma espécie de ilhaem forma de L que não existe nestetrecho da costa”.

Já o MPF de Minas Gerais ajuizouação civil pública com vistas a impe-dir a continuidade das obras de insta-lação do Mineroduto Minas-Rio. Asrazões são muito parecidas com as doMPF de Campos: irregularidades naconcessão, pelo Ibama, de licença paraa obra, que terá 525 quilômetros deextensão, desde o município mineirode Conceição do Mato Dentro, ondefica uma das minas da MMX, do gru-po EBC, até o Porto do Açu.

O mineroduto será construído naSerra do Espinhaço, de grande impor-tância ambiental, pois declarada Re-serva da Biosfera, atravessando emterras e vegetação da Mata Atlântica,com impacto negativo sobre cerca de600 cursos d’água e sobre o própriooceano, já que a água que levará, peloduto, as toneladas de minério até oporto será posteriormente despejadano mar de São João da Barra.

Sob aspecto sócioespacial do ter-ritório, os danos não serão menos gra-ves, muitos deles irreparáveis, não sópara a população de São João da Bar-ra e seu entorno como também paraestado e o país, além de ser o motorde partida para a implantação de umnovo modelo de cidade (à revelia doPDU local) e, conseqüentemente, deuma nova cultura e uma nova socie-dade. Coincidência ou não, cabe re-gistrar que em novembro de 2009 foiaprovado, na Alerj, decreto legislativo(4121/09), que deixa vulnerável a pre-servação do patrimônio ambiental dolitoral do Estado do Rio de Janeiro.

Complexo siderúrgico do Açu

A lógica da cidade como empresaA lógica da cidade como empresaA lógica da cidade como empresaA lógica da cidade como empresaA lógica da cidade como empresa

O U T U B R O

7

2009DEZEMBRO

ARQUIT

ETANDO

Diante de tudo aquilo que já foi

pesquisado, estudado e até mesmo

manifestado por diversas vezes pela

sociedade para os governos, além dos

fatos que são recorrentes nas vias

públicas, fica claro que o referido fra-

casso é resultado de uma política

pública equivocada e danosa que

vem sendo implementada na contra-

mão de tais estudos e pesquisas. Es-

tes já mostraram, fartamente, que o

problema consiste na adoção de uma

matriz que privilegia soluções de ca-

ráter privativo/individual em detri-

mento de soluções de caráter públi-

co/coletivo, segundo uma concepção

sistêmica integrada, onde seja garan-

tindo o direito constitucional de ir e

vir da população, com eficácia, quali-

dade e tarifa socialmente justa.

Podemos, assim, autorizados por

este quadro, declarar que a responsa-

bilidade pelos danos urbanísticos que

se acumulam sobre a cidade e a po-

pulação são provocadas por uma de-

sadministração relativa às políticas

publicas setoriais, uma vez que não

só a concepção da matriz é equivoca-

da, mas também o aparato fiscaliza-

tório (agências reguladoras) se mos-

tra operando contrariamente ao fim

para o qual foi destinado, o que po-

demos considerar como um ato de

improbidade e prevaricação de for-

ma contribuída.

De acordo com Ricardo Esteves, ar-

quiteto urbanista da Faculdade de Ar-

quitetura e Urbanismo da UFRJ, o prin-

cipal problema no trânsito carioca é a

falta de uma política de transporte.

“Assim, a gente acaba tendo que re-

solver o problema de circulação cada

um do seu jeito. É um sistema social-

A constatação do fracasso da política de transportes

no Rio de Janeiro é realidade que se constata,

cotidianamente, na vida da população como dano

urbanístico, que atinge praticamente todos os

modais que transitam no espaço territorial urbano

e interurbano, notoriamente identificados e

publicizados nas mais diversas formas de

ocorrências de trânsito, nas matérias publicadas em

jornais e revistas, nos textos e estudos elaborados

por especialistas, assim como pelas ações que vem

sendo desencadeadas pelo Ministério Público.

mente injusto, pois acaba privilegian-

do o proprietário de carro particular”,

expõe Esteves.

O arquiteto e urbanista Alex Reis

explica que para o bom funcionamen-

to de um sistema de transporte é pre-

ciso atrelar outras ações. “Políticas de

uso do solo, participação da socieda-

de, envolvimento das esferas de go-

verno. Hoje, são vans, ônibus, metrô e

trem concorrendo entre si, quando na

verdade cada um deveria ter um pa-

pel de acordo com a sua tecnologia,

para assim oferecer melhor serviço

para a sociedade”, aponta.

Os prejuízos dotrânsito caótico

De acordo com legislação munici-

pal, é o Plano Diretor que deveria pro-

piciar à população melhores condições

de acesso aos transportes e também à

terra, à habitação, ao trabalho, ao sane-

amento básico e aos equipamentos e

serviços urbanos. “O Estatuto da Cida-

de obriga as cidades com mais de

500.000 habitantes a elaborarem para-

lelamente ao PDU um PDTU, um plano

de transporte, mas o Rio de Janeiro não

tem nem um plano e nem ao menos

nada digno para receber esse nome.

Acredito que o Ministério Público de-

veria ser acionado para fazer pressão”,

aponta Ricardo Esteves. Já Alex Reis diz

que o Plano Diretor nunca foi realiza-

do da maneira que deveria, com a par-

ticipação efetiva da sociedade.

Os engarrafamentos, além de au-

mentarem o nível de estresse da soci-

edade e serem ambientalmente insus-

tentáveis, são responsáveis por pre-

juízos à economia. Na Grande São Pau-

lo, por exemplo, o custo do engarra-

famento chega a R$ 4,1 bilhões, por

ano, segundo dados da Secretaria Es-

tadual de Transportes Metropolita-

nos. Só a cidade de São Paulo, de acor-

do com pesquisa do Instituto de Es-

tado Avançados da USP, perde anual-

mente R$ 11 milhões em tempo e com-

bustível.

Apesar de esses números perten-

cerem à realidade paulista, os especi-

alistas afirmam que a cidade do Rio

de Janeiro caminha para ter o trânsi-

to semelhante ao de São Paulo. “Se a

gente voltar no tempo, nós vivemos

hoje o que São Paulo já viveu. Perde-

se muito na economia. São empresas

que deixam de se localizar aqui, ou

que fecham as portas porque se tor-

narem inviáveis. Fora os custos para

cidade, em termos de estresse, meio

ambiente, acidente e produção de ru-

ídos, essa é uma conta muito maior

do que se a gente investisse em trans-

porte”, compara Esteves.

Mudanças no metrôQuem passa pela Av. Presidente

Vargas ou Praça da Bandeira já deve

ter notado os canteiros de obras, ho-

mens e máquinas trabalhando, dia

após dia. Tudo isso para ser construí-

da a linha do Metro Rio que ligará o

bairro da Pavuna diretamente com a

Zona Sul, sem ter que passar pela es-

tação do Estácio.

Essas são iniciativas que vão aju-

dar a melhorar o engarrafamento, mas

Ricardo Esteves e Alex Reis são taxati-

vos: esse é uma medida apenas palia-

tiva. “A linha está sendo construída, mas

só teremos novas composições em

2011. Ou seja, o percurso da linha 2 vai

aumentar, mas a quantidade de trens

será a mesma. É uma equação que

não está muito bem explicada”, re-

vela Reis, que acrescenta: “o gestor

público não planeja a longo

prazo, quer fazer tudo dentro

do seu tempo à frente do go-

verno. Com esse imediatis-

mo pode-se oferecer

quantas linhas de metrô

quiserem, mas se não

planejarem vão satu-

rar do mesmo jeito”.

Esteves lembra

a existência de

um plano para

o metro, idea-

lizado pelo

governo do Estado, que previa seis li-

nhas. Mas a que está sendo construí-

da não estava planejada nesse proje-

to inicial. “Essa nova linha vai ajudar a

melhorar o trânsito carioca, mas não é

a solução e nem estava previsto. As

gestões públicas, municipais e esta-

duais, formulam seus planos, mas elas

mesmas depois não executam e nem

há pressão. Eu defendo o plano do

metrô, defendo o sistema de bonde

que a prefeitura criou, mas que não

executa”, aponta Ricardo Esteves.

Com a proximidade dos Jogos

Olímpicos que ocorrerão na cidade,

será preciso planejar o trânsito para

receber milhares de centenas de pes-

soas de todo o mundo. Contudo, esse

é um assunto que ainda não entrou

nas pautas de discussão com a im-

portância que deveria.

Alex Reis lembra que os meios de

transportes estarão mais direcionados

para Barra da Tijuca, aumentando a

especulação imobiliária. “A cidade,

como um todo, não vai ganhar muito.

Apenas regiões isoladas, para que se

atenda ao desejo de um aumento no

valor dos imóveis da região”, avalia.

A indagação que urbanistas e

usuários fazem é até quando a po-

pulação do Rio irá ficar refém de ad-

ministradores públicos e empreende-

dores que concebem a coisa publica

segundo a lógica do mercado? Com

a palavra, o Ministério Público.

O fracasso da política de transportes

882009

ARQUIT

ETANDO

DEZEMBRO

Remetente: Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Rio de Janeiro

Rua Evaristo da Veiga, 47 / 706 - Rio de Janeiro / RJ – CEP 20031-040 – Tels. : (21) 2240-1181 / 2544-6983

A c e s s e w w w . s a r j . o r g . b r : a c a s a [ v i r t u a l ] d o a r q u i t e t o .

SARJ

SARJ na InternetDesde outubro está no ar o

blogue do Sindicato dos

Arquitetos e Urbanistas do Rio

de Janeiro, no endereço

blogsarj. wordpress.com. Como

foi dito no post inaugural, a

intenção é construir um fórum

on line, capaz de provocar e

sustentar debates relevantes

para profissionais da

arquitetura e todos os que

prezam pela cidade.

A possibilidade de comentários

dos leitores favorece o diálogo,

a troca de informações e

opiniões. Assim, o Blogsarj não

se restringe a divulgar os

posicionamentos do Sindicato,

mas sobretudo a ser um canal

de discussão e análises. Por

isso, já recebeu a colaboração

de diversos e inspirados

articulistas, que trataram de

temas como as Olimpíadas de

2016 (arq. Ana Paula

Medeiros), o papel social do

arquiteto (arq. Fernando Lara) e a

necessidade de ampliação dos

horizontes profissionais (arq.

Jorge Figueiredo). Também há

espaço para vídeos, animações,

fotos e exercícios lúdicos, pois

eles também devem pontuar e

enriquecer nossa rotina de

trabalho.

O site do Sarj permanece como

referência para o

acompanhamento das atividades

do Sindicato, além de manter o

visitante informado sobre cursos,

eventos e as notícias mais

relevantes do setor.

Os arquitetos

podem ter sua

página dentro do

site, com currículo,

projetos e fotos

que serão

acessados por

internautas e por

aqueles à procura

de profissionais.

Diploma do Méritoda ArquiteturaJorge de Abreu Figueiredo, ex-presidente do SARJ, recebeu uma

justa homenagem pelos seus serviços prestados em prol da

arquitetura no país. No último dia 11, em cerimônia realizada no

CREA-RJ, Jorge recebeu o Diploma do Mérito da Arquitetura.

“Foram nove anos como conselheiro do CREA, representando o

IAB e o SARJ. Foi uma honra receber esse título”, revela, animado,

o ex-presidente do Sindicato.

Arquiteto das curvasNo dia 15 de dezembro Oscar Niemeyer completou 102 anos.

“Ninguém na minha idade comemora mais aniversário”, diz ele

sempre quando é perguntado sobre sua idade.

Apesar disso, esse aniversário teve o direito de ser bem

comemorado. Niemeyer volta à ativa após um período de repouso

forçado – em outubro foi internado e submetido a duas cirurgias

abdominais. E esse tempo em que esteve em tratamento o fez sentir

saudades do seu dia-a-dia em seu escritório em Copacabana.

Com sua inegável capacidade de gerar novas idéias, buscar soluções

até então desconhecidas e ousar na técnica, Niemeyer trabalhou

com linhas claras e poéticas, ajudando na revolução da arquitetura

moderna e introduzindo linhas curvas e o concreto armado.

Ele é o autor de obras como Brasília, junto com Lucio Costa; Museu

de Arte Moderna de Niterói; Parque do Ibirapuera, em São Paulo; o

sambódromo, no Rio de Janeiro; o Memorial da América Latina; a

sede do Partido Comunista Frances; e seu projeto mais recente é o

novo centro administrativo do governo de Minas Gerais, próximo ao

aeroporto mineiro de Confins.