jornal aduff especial greve 2012

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Seção sindical do Andes Filiado à CSP/CONLUTAS Associação dos Docentes da UFF Jornal Especial GREVE de 2012 Jornal Especial GREVE de 2012 www.aduff.org.br Outubro de 2012 www.aduff.org.br Outubro de 2012 Depois de anos sem paralisação, movimento docente constroi a maior greve de sua história, e dá início a um intenso processo de mobilização nas universidades federais e no conjunto do funcionalismo público Greve impulsiona a luta Greve impulsiona a luta Alvaro Neiva

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Jornal que traz retrospectiva e balanço da greve dos docentes das Instituições Federais de Ensino, que durou quatro meses, em 2012

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Page 1: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

Seção sindical do AndesFiliado à CSP/CONLUTAS

Associação dos Docentes da UFF

ADUFFSSind

Jornal EspecialGREVE de 2012Jornal EspecialGREVE de 2012

www.aduff.org.br • Outubro de 2012 www.aduff.org.br • Outubro de 2012

Depois de anos sem paralisação, movimento docente constroi a maior greve de sua história, e dá início a um intenso processo de mobilização nas universidades federais e no conjunto do funcionalismo público

Greve impulsiona a luta

Greve impulsiona a luta

Alvaro Neiva

Page 2: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

2Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

“A mobilização precisa continuar, demonstrando que a intensidade conquistada durante a greve persiste com outras estratégias de enfrentamento ao governo e à administração central

Rua Professor Lara Vilela, 110 - São Domingos - Niterói - RJ - CEP 24.210-590 Telefones: (21) 2622.2649 e 2620.1811

EditorAlvaro Neiva

Projeto Gráfico e DiagramaçãoLuiz Fernando Nabuco

A greve docente nas Universidades fede-rais, deflagrada nacionalmente em 17

de maio de 2012, constituiu-se como a mais forte e intensa de toda a história do nosso sindicato nacional. Na UFF, por conta dos processos internos, avaliamos em AG no dia 17 de maio a necessidade de mais uma semana de mobilização para a deflagração da greve, o que aconteceu a partir do dia 22 de maio. Na semana que antecedeu à deflagração da greve na UFF, a diretoria do sindicato e o comando de mobilização participaram de vá-rias reuniões departamentais, de colegiado de unidade, além de panfletar em salas de aula, nos diferentes campi da Universidade, com o objetivo de mobilizar os professores a debater nossa pauta – Carreira Docente e Condições de Trabalho. O adiamento em uma semana para deflagração da greve se mostrou acerta-do, na medida em que foi possível mobilizar um maior número de professores e impulsio-nar a categoria ao processo de greve.

Seguindo as orientações do Coman-do Nacional de Greve, do Comando Local de Greve e as deliberações das AG, efetiva-mos uma ampla mobilização que consistiu: 1) articulação com os demais segmentos da Universidade (técnico–administrativos e estudantes), que resultou na composição do Comando Unificado de Greve da UFF; 2) visitas às unidades buscando mobilizar professores no sentido de aderirem à gre-ve; 3) integração ao Comando Estadual de Greve formado pelos três segmentos das instituições federais de ensino do estado; 4) realização e participação em atos pú-blicos (barcas, Praça XV, Praia de Icaraí, HUAP, Candelária, Cinelândia, Hospital Miguel Couto); 5) realização de atividades político-culturais como Universidade na Praça e Luau; 6) participação em diversos eventos na Universidade para debater a greve e explicitar a pauta de reivindicações; 7) incorporação das demandas da Creche UFF, em especial no que tange às condições de trabalho e de estudo; 8) participação em espaços institucionais da UFF, como Conselho Universitário, Conselho de En-sino e Pesquisa, Fórum de Coordenadores e Fórum de Chefes de Departamentos, para divulgação da pauta da greve e debate sobre a mobilização interna; 9) audiências periódicas com a reitoria para tratar da pauta e exigir posicionamentos diante da ANDIFES, MEC e governo, assim como cobrar respostas para o ponto de pauta so-bre condições de trabalho e 10) integração ao Comando Nacional de Greve (CNG).

Todo esse processo resultou em ampla mobilização da categoria, com destaque para os professores recém-ingressos na Universi-dade que, premidos pelas precárias condições

de trabalho, em especial pela ausência de estrutura para o desenvolvimento do tripé da Universidade pública, qual seja, o ensino, a pesquisa e a extensão, tiveram participação entusiástica na greve. Vale destacar que tal precarização e a insatisfação com a deses-truturação da carreira docente mobilizaram também os docentes mais antigos da Univer-sidade, com adesão de diversos programas de pós-graduação. Destaca-se como de extrema relevância a mobilização dos programas de pós-graduação, assim como a greve defla-grada pela Associação de Pós-Graduandos da UFF, em ano de avaliação trienal dos programas de pós-graduação pela CAPES, representando um importante marco e de-monstrando a insatisfação dos professores e alunos pela precarização e o excesso de tra-balho que também atinge esse segmento.

Outro destaque do nosso movimento foi a ampla mobiliza-ção dos campi do inte-rior, onde os docentes mantiveram, em várias unidades, atividades se-manais de greve, além de participarem das atividades realizadas na sede (assembléias) e nos atos em Niterói, no Rio e em Brasília, motivando a unidade da categoria e dando visibilidade à precari-zação das condições de trabalho no interior, derivadas do processo de expansão precariza-da advinda do REUNI.

Para organizar o processo de mobi-lização constituiu-se, a partir da AG, um Comando Local de Greve (CLG), aberto a todos os professores, independente de serem ou não sindicalizados. O CLG se reuniu periodicamente, em algumas sema-nas diariamente, para organizar as ações de mobilização, atos, AG, avaliações etc. Mantivemos durante todo o período da greve representante docente no Comando Nacional de Greve do ANDES-SN, em alguns momentos chegamos a ter até três professores representando as deliberações de nossas AG. Participamos ativamente de todos os atos nacionais, com ampla delega-ção de professores e viabilizamos a partici-pação dos discentes no CNG estudantil e nos atos nacionais. Organizamos um co-mando unificado local, representantes do CLG-ADUFF, CLG-SINTUFF e CLG-DCE. Também participamos ativamente do Comando Estadual de Greve que reuniu além das Universidades federais do estado, representantes das categorias da base do SI-

NASEFE, FASUBRA e estudantes. Todos em torno da construção de ações unificadas para pressionar o governo.

Ainda como estratégia de mobiliza-ção e divulgação de nossa pauta, realizamos seminários preparatórios à greve e durante o movimento paredista, antecedendo às AG, que discutiram Carreira Docente e Condições de Trabalho e, após a entrada no Congresso do PL 4368/2012, um se-minário para debatê-lo.

Durante os 120 dias de greve tive-mos um bom número de novas filiações demonstrando a proximidade do sindicato com a categoria, realizamos AG com bons debates e boa participação docente, com a aprovação de encaminhamentos que forta-leceram a greve local e nacionalmente.

Internamente, nesse processo de greve, travamos duros embates com os

segmentos conserva-dores, tanto docentes como com a reitoria. Enfrentamos no Mi-nistério Público uma ação impetrada contra a Creche UFF para que essa retomasse suas atividades. O CLG-ADUFF e a assessoria jurídica da ADUFF, junto com o grupo gestor da Creche UFF respondeu ao ques-tionamento do MP conseguindo manter

a greve nessa unidade em sintonia com a Universidade como um todo. Essa ação, que expressa o alto grau de conservado-rismo, individualismo e despolitização de alguns segmentos, apenas contribuiu para fortalecer a articulação entre as entidades em luta e reafirmar o direito legal e legíti-mo de todos os trabalhadores à greve. Em relação ao CEP, enfrentamos a aprovação de uma nota de interpretação dúbia que suspendeu o calendário escolar, mas, ao mesmo tempo, garantiu aos professores não grevistas, a conclusão do semestre letivo em um evidente desrespeito ao di-reito de greve dos estudantes. Quando da suspensão do movimento, no momento do debate sobre a recomposição do calendário escolar, enfrentamos o conservadorismo da reitoria, que, de forma autoritária, tentou aprovar um calendário estendido, que so-mente viabilizaria a sua recomposição em 2015, em uma clara ação para desmobilizar os futuros processos de greve.

Entendendo, assim como o CNG, que após o envio do PL 4368/2012 pelo Executivo ao Congresso Nacional, nos-

sa estratégia de mobilização deveria ser alterada, optamos por submeter à AG a suspensão unificada da greve. Suspensão que evidencia a nítida disposição de sua re-tomada como estratégia política, diante da agenda de enfrentamentos com o governo configurada no cenário pós-greve.

Avaliamos que a mobilização precisa continuar, em especial no que se refere às ações articuladas entre os três segmentos – professores, técnicos e alunos –, demons-trando que a intensidade conquistada durante a greve continua com outras es-tratégias de enfrentamento ao governo e à administração central. A transformação de nosso CLG em Comissão de Mobilização reflete a materialidade da disposição para continuarmos na luta. Nesse passo, demos início às visitas aos departamentos de ensi-no, a articulação com os demais segmentos e a intensificação dos embates referentes à pauta local, como é o caso da luta contra a privatização do HU, através da EBSERH.

A força e a mobilização conquistadas no período da greve devem continuar, ten-do em vista o não atendimento das nossas pautas de reivindicação pelo governo e o processo de tramitação do PL 4368/2012, fruto do simulacro de acordo entre o go-verno e seu braço sindical. Vale ressaltar que inicialmente o governo apontava para 0% de aumento em 2012 e 2013, passando ao montante de R$ 4,2 bilhões, certamente pela força do movimento paredista. A partir das avaliações políticas tanto da direção nacional do ANDES- SN, como da reunião do Setor das Federais, realizada nos dias 29 e 30 de setembro, consideramos que o maior saldo dessa greve foi a mobilização da categoria, o fortalecimento do sindicato nacional e dos sindicatos de base, o envolvimento de novos professores na construção da luta, o enfra-quecimento do PROIFES em suas bases, a visibilidade dada às nossas precárias condi-ções de trabalho, a denúncia dos malefícios da expansão precarizada e a defesa da univer-sidade pública e de qualidade, a interlocução com a sociedade, a articulação com outras categorias do SPF e o desgaste imposto ao governo federal. Todos esses elementos são centrais para a continuidade da luta, que não se esgotou com a suspensão da greve, ao con-trário, ganhou novos contornos.

A LUTA QUE SE PERDE É A LUTA QUE SE ABANDONA. A GREVE FOI SUSPENSA, MAS NÃO ABAN-DONAMOS A LUTA!

Diretoria da ADUFF-SSIND

Gestão Mobilização Docente e Trabalho de Base

Editorial

A maior greve de nossa história

Biênio 2012/2014Gestão Mobilização Docente

e Trabalho de Base

Presidente: Eblin Farage – Serviço Social • 1º Vice-Presidente: Elza Dely – Educação • 2º Vice-Presidente: Wanderson Melo – Serviço Social PURO • Secretário-Geral: Claudia March – Saúde da Comunidade • 1º Secretário: Elizabeth Carla – Enfermagem PURO • 1º Tesoureiro: Francine Helfreich – Serviço Social • 2º Tesoureiro: Angela Siqueira – Aposentada – Educação • Diretoria de Comunicação (Titular): Verônica Fernandez – Saúde da Comunidade • Diretoria de Comunicação (Suplente): Katia Lima – Serviço Social • Diretoria Política Sindical (Titular): Sonia Lucio – Serviço Social • Diretoria Política Sindical (Suplente): Ana Cristina Troncoso – Psicologia PURO • Diretoria Cultural (Titular): Dora Costa – Educação • Diretoria Cultural (Suplente): Sonia Maria – Aposentada – Farmácia • Diretoria Acadêmica (Titular): Renata de Freitas – Matemática • Diretoria Acadêmica (Suplente): Teresinha Monteiro – Aposentada – Serviço Social

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ImpressãoGráfica EDG (5500 exemplares)

Page 3: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

Outubro de 20123ADUFF • Jornal Especial da Greve

A Campanha 2012 do ANDES-SN, aprovada

no 31º Congresso, realizado em janeiro, em Manaus, e protocolada junto ao governo desde fevereiro, tinha dois pontos de pauta: a) reestruturação da carreira docen-te, prevista no Acordo 04/2011, descumprido pelo governo fe-deral, com valorização do piso e incorporação das gratificações; b) valorização e melhoria das condi-ções de trabalho docente nas Ifes.

As negociações sobre a reestruturação da carreira docente se arrastam desde 2010, quando o governo fe-deral apresentou uma minuta de projeto de lei sobre o tema. A proposta foi rechaçada pela categoria e, no 30º Congresso do ANDES-SN, em janeiro de 2011, aprovou uma pro-posta de reestruturação da carreira, já em formato de projeto de lei.

Ao longo de 2011, as nego-ciações avançaram lentamente e, no mês de agosto, o ANDES-SN assinou um acordo de ca-ráter emergencial que avançava rumo ao projeto de carreira com a incorporação de uma das gra-tificações ao vencimento básico e previa a formação de um Gru-po de Trabalho para avançar no debate sobre a reestruturação da carreira, com previsão de con-cluir os trabalhos até o final de abril de 2012.

Ao longo dos primeiros meses de 2012, o ANDES-SN intensificou o trabalho de base, buscando levar ao conjunto da categoria o im-portante debate sobre a rees-truturação da carreira.

Alegando que o faleci-mento do secretário Duvanier Paiva atrapalhou o andamento dos trabalhos, o governo marcou nova reunião do GT Carreira

somente para o final de março, véspera final do prazo previsto no acordo para que o GT se extinguisse. Com muito custo, o governo se comprometeu a re-alizar nova reunião do GT nos dias 13, 19 e 25 de abril.

A pauta da valorização das condições de trabalho docente nas IFE também era solenemen-te ignorada pelo governo federal. Pelo contrário, o governo chegava a falar na possibilidade de realizar um Reuni 2, intensificando um projeto de expansão das universi-dades federais que acarretou um veloz aumento da precarização das condições de trabalho. Mes-mo a grande maioria da Andifes (Associação Nacional dos Diri-gentes das Instituições Federais de Ensino Superior), que apoiou o Reuni, mostrou-se contrária a uma possibilidade de novo pro-grama de expansão. Os próprios reitores afirmam que não houve os investimentos necessários para garantir que a expansão dos últimos anos acontecesse com a qualidade necessária.

Diante da falta de qual-quer avanço nas negociações, a categoria começou a indicar a necessidade de construir uma greve forte. E, diante da insatis-fação dos docentes, o que surgiu

Depois de anos sem construir uma greve nacional, docentes das federais defendem projeto de carreira do ANDES-SN que valorize o trabalho docente e lutam pela melhoria das condições de trabalho, fruto da expansão precarizada

foi exatamente a maior greve da história do ANDES-SN.

Carreira docente

Desde o início, a categoria aponta que a necessidade de reestruturação da carreira do-cente não se trata de uma pauta meramente corporativa, pois valoriza a atividade docente e, dessa forma, motiva a entrada e permanência dos profissionais nas instituições federais de en-sino, fortalecendo, portanto, a Universidade pública.

A proposta da categoria, aprovada no 30º Congresso do ANDES-SN, poderia ser resu-mida como: uma carreira única de professor federal, com incor-poração das gratificações em 13 níveis remuneratórios, variação de 5% entre níveis a partir do piso para regime de 20 horas cor-respondente ao salário mínimo do Dieese (atualmente calculado em R$ 2.329,35), e percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho. A malha remuneratória atual não obedece a qualquer sequência lógica.

Condições de trabalho

A pauta da melhoria das condições de trabalho não estava tão bem detalhada. O

que havia era um sentimento forte de docentes antigos e novos que os docentes vivem um processo de grande in-tensificação de trabalho, sob condições de infraestrutura absolutamente precárias.

Salas lotadas, excesso de disciplinas e de orientações na graduação e na pós-graduação, ausência de laboratórios e de bibliotecas, de estrutura para pesquisa e extensão, e de uma política efetiva de assistência estudantil. Em muitos campi, a situação é tão ruim que fal-tam até mesmo bebedouros e papel higiênico.

“Ninguém deveria ser sub-metido a trabalhar, a ensinar ou a aprender num ambiente assim. Sofrem professores, estudantes e técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino. E num olhar mais amplo, sofre todo o povo brasileiro, que utili-zará dos serviços de profissionais formados em situações precárias e que, se ainda não têm, pode vir a ter seus filhos estudando nessas condições”, dizia a carta à sociedade brasileira, manifesto lançado pelo Comando Nacio-nal de Greve do ANDES-SN imediatamente após a deflagra-ção da greve.

Plano de carreira e condições de trabalho mobilizam docentes

Luiz Fernando Nabuco

Page 4: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

4Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

A greve nacional dos do-centes das Instituições

Federais de Ensino, deflagrada nacionalmente em 17 de maio, espalhou-se rapidamente pelo Brasil, ganhando força dentro das universidades e junto à so-ciedade. Diante de uma pauta que não se limitava a questões corporativas, mas representava a defesa de um projeto de educa-ção pública, a greve impulsionou as mobilizações de outros seg-mentos. A Fasubra (Federação dos Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Supe-rior), junto com outras catego-rias do serviço público federal, indicou a deflagração da greve para 11 de junho (ver matéria na página 5). Porém, antes mesmo disso, o Sintuff (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFF) aprovou a deflagração da greve para o dia 1º de junho. Em Assembleia realizada em 21 de maio, mais de 700 estudantes da UFF também decidiram en-trar em greve. Diariamente, no final de maio, novas assembleias decretavam greve estudantil em diversas universidades do Brasil. Os docentes e servidores da base do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Edu-cação Básica, Profissional e Tec-nológica) também entraram em greve, transformando na maior paralisação da educação federal.

Em Assembleia realizada no dia 30 de maio, com cerca de 350 servidores, o Sintuff entendeu que a greve crescia rapidamente e não fazia senti-do esperar o dia 11. Portanto, a Assembleia deliberou pela ante-cipação da greve em relação ao calendário da Fasubra. A pauta da greve dos servidores técnico-administrativos trazia como principais pontos o reajuste sa-larial de 22%, piso de três salá-rios mínimos, step de 5%, defesa do adicional de insalubridade e combate à implantação da EB-SERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) nos hos-pitais universitários.

A greve dos estudantes

da UFF retomou a pauta da ocupação da reitoria realizada em agosto de 2011, e ainda não atendidas. Além disso, defende-ram a necessidade de unidade com docentes e servidores téc-nico-administrativos, no sentido de dar visibilidade aos proble-mas que atingem a universidade hoje, em função da expansão precarizada do ensino superior implantada pelo governo federal nos últimos anos.

Para além das particula-ridades das pautas específicas – também importantes –, os três segmentos construíram uma pauta conjunta: condições de tra-balho e de formação profissional. Essa pauta representa a defesa da Universidade pública, que vem enfrentando um processo de su-cateamento ao longo de anos.

A implantação do REUNI tem sido um capítulo importan-te deste processo. O aumento do número de alunos em cada sala da graduação, somado ao aumento do número de cur-sos de graduação e da relação professor/aluno na graduação (metas do referido Programa), está configurando o professor do ensino terciário, conforme expressão do Banco Mun-dial. Turmas lotadas, aulas em contêineres e em porões, pro-fessores sobrecarregados com excesso de disciplinas, ausência de laboratórios. Os quadros de servidores técnico-administra-tivos estão defasados e os sa-lários muito baixos fazem com que os trabalhadores estejam permanentemente deixando as universidades.

Essa unidade se construiu ao longo de toda a greve, com atividades conjuntas dentro dos muros da Universidade e nas ruas. Tanto na UFF, quanto em nível estadual, tivemos experi-ências importantes dos Coman-dos de Greve Unificados (ver quadro), que ajudaram a orga-nizar essa atuação conjunta. O desafio é manter essa unidade entre os três segmentos para as lutas que seguem colocadas, em defesa da educação pública.

Paralisação se amplia para setores da educação

Força da greve e pauta de reivindicações — diretamente vinculada à defesa da educação pública gratuita e de qualidade — motiva servidores técnico-administrativos e estudantes a também entrarem em greve

Comandos Unificados organizam atividades conjuntas

Assim que as Assembleias dos servidores técnico-admi-nistrativos e dos estudantes aprovaram, no final de maio, a deflagração de suas greves, identificamos a necessidade de atuação mais coletiva pos-sível. Surgiu, então, o Coman-do Local Unificado de Greve, que debatia as atividades conjuntas que realizaríamos na UFF e em Niterói.

A participação nesse espaço sempre foi aberta a qualquer pessoa de qualquer um dos segmentos, independente de fazer parte da direção dos sin-dicatos. Esses espaços demo-cráticos abriram espaço para a

participação de novos ativistas.Em nível estadual, demos

início a uma articulação entre as seções sindicais do ANDES-SN em greve (ADUFF, ADU-FRJ, ADUNI-RIO, ADUR-RJ e ADCEFET-RJ). Essas reuniões começaram a planejar os atos unificados que começamos a realizar ainda no mês de maio – o primeiro foi na Praça XV.

Vimos a necessidade e o potencial de construir mobili-zações em parceria com os de-mais segmentos da educação federal em greve e, logo, aquele espaço de articulação entre as seções sindicais do ANDES-SN foi transformado em um Comando Estadual Unificado de Greve. Além de docentes, técnicos e estudantes das Ins-tituições Federais, começaram a participar representantes da

UERJ, que também iniciavam um processo de luta em defesa da Dedicação Exclusiva.

Dessa articulação, surgiram todas as mobilizações que to-maram as ruas do Rio ao longo de quatro meses. Em junho, co-meçamos a nos reunir, também, com representantes das demais categorias de servidores pú-blicos federais, ampliando a unidade. Graças a toda essa unidade, conseguimos construir, ao longo da greve, algumas das maiores mobilizações que o Rio viu ao longo dos últimos anos. Contudo, entendemos que era importante manter o espaço de articulação entre as categorias ligadas à educação. Mesmo depois da greve, este espaço segue articulado, e deve ser fundamental para a organização das lutas futuras.

Alvaro Neiva

Passeata unificada critica falta de investimentos do governo federal na educação pública

Page 5: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

A Marcha Unificada dos Servidores Públicos Federais, realizada no dia 5

de junho, levou mais de 15 mil trabalha-dores e estudantes à Esplanada dos Mi-nistérios, em Brasília. Naquele momento, a greve nacional dos docentes das Insti-tuições Federais de Ensino já completava três semanas, e outras entidades ligadas à educação – o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas (Fasubra) – já tinham aprovado a deflagração de suas greves para a semana seguinte. Após a marcha, uma plenária ampliada com a pre-sença de mais de 800 representantes das 31 entidades que compõem o Fórum Nacio-nal das Entidades de Servidores Públicos Federais deliberou pela construção de uma greve geral do funcionalismo federal. O dia 11 de junho foi sugerido como indicativo para o início da greve conjunta.

A partir dali, a cada dia, a cada semana, novas categorias do funcionalismo federal aderiam à greve. Os atos públicos se inten-sificaram, sempre aglutinando as diversas categorias em greve. Ainda no mês de ju-nho, o centro do Rio de Janeiro foi palco de duas grandes manifestações unificadas. No dia 12 de junho, o ato “Educação e saúde pública: namore essa idéia” foi o primeiro, e reuniu cerca de cinco mil manifestantes. Na semana seguinte, durante a Cúpula dos

Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, ocorreu a Grande Marcha dos Povos contra a Mercantili-zação da Vida, que unificou os servidores públicos em greve a diversos movimentos – camponeses, indígenas, ambientalistas, entre outros.

No dia 18 de julho, ocorreu a se-gunda Marcha Unificada dos Servidores Públicos Federais, que contou com a participação de diversas categorias em greve, e também do movimento estudan-til e dos movimentos populares, reunindo cerca de 20 mil pessoas em Brasília. “Essa belíssima Marcha que realizamos hoje é resultado da indignação dos servidores públicos federais pela falta de compro-misso do governo com as políticas sociais, especialmente com a educação e a saúde”, afirmou a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira.

Em 9 de agosto, cerca de oito mil trabalhadores tomaram o centro do Rio de Janeiro. O ato fez parte de uma jorna-da nacional de lutas unificada, convocada pela CSP Conlutas, CUT e CTB, para pressionar o governo federal a negociar com os servidores públicos federais. Na-quele momento, já eram 31 categorias do funcionalismo federal em greve. Os ma-nifestantes alternavam discursos, com pa-lavras de ordem como “Contra o arrocho salarial, servidor vai fazer greve geral” e “A greve está na rua, Dilma a culpa é sua”.

Como o governo federal tinha assi-nado o acordo com o sindicato cartorial, o Proifes, na semana anterior, o clima de indignação era grande. Manifestantes queimaram um boneco representando o Proifes, sob os aplausos de milhares de pessoas. Além dos trabalhadores da educação federal, estavam presentes tra-balhadores da saúde, da cultura, auditores fiscais e de órgãos como IBGE, IBAMA, Fiocruz, Arquivo Nacional, das agências reguladoras e muitos outros. Movimentos populares também estiveram presentes, criticando as opções políticas do governo federal e manifestando sua solidariedade aos servidores públicos.

Na semana seguinte, dia 15 de agos-to, pela terceira vez no ano, aconteceu a Marcha Unificada dos Servidores Públi-cos Federais, em Brasília. Dessa vez, o ato contou com mais de dez mil pessoas. O sentimento predominante era de grande indignação com o governo federal, que demonstrava intransigência, e chegou a determinar o corte de pontos dos traba-lhadores, desrespeitando o direito consti-tucional dos servidores públicos à greve.

Um dos temas mais destacados du-rante o ato foi a reação contra o Decreto 7.777, editado no final de julho pela pre-sidente Dilma Rousseff, repassando para atividades da esfera federal servidores dos estados e municípios, com o intuito de substituir os trabalhadores em greve. O decreto autorizava ainda a terceirização

Onda de greves no serviço público federal

Paralisação da educação federal unifica categorias, e impulsiona conjunto do

funcionalismo a construir uma grande greve dos servidores

federais

Outubro de 20125ADUFF • Jornal Especial da Greve

destes serviços. As entidades alegavam que, além de contrariar a resolução 151 da Organização Internacional do Traba-lho (OIT), da qual o Brasil é signatário, o decreto representava o desmonte e a pre-carização do serviço público, ao autorizar o cumprimento de atividades por profis-sionais despreparados para as funções.

Mesmo com todos esses ataques, a reposta do funcionalismo federal foi resistência e unidade contra o arrocho salarial e em defesa dos serviços públi-cos. A adesão de setores estratégicos do funcionalismo, como a Polícia Federal, inclusive a Polícia Rodoviária Federal, fez o governo recuar e abrir diálogo.

No dia 31 de agosto se encerrou o prazo para o governo enviar ao Congresso Nacional a proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2013. O movimento dos servidores públicos federais conse-guiu uma expressiva vitória, obrigando o governo a negociar e a ceder reajustes a diversas categorias, ao contrário do reajuste zero para todo o funcionalismo público, pretendido inicialmente.

Ainda que nem todas as catego-rias tenham tido suas reivindicações atendidas, o processo demonstra a força dos servidores públicos federais, quando demonstram unidade e lutam. Novos ataques estão no horizonte, como a ame-aça ao direito de greve no funcionalismo público, e a experiência da greve conjunta de 2012 será fundamental.

Luiz Fernando Nabuco

Passeata dos servidores públicos federais toma as ruas do centro do Rio

Page 6: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

6Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

Greve ganha as ruas do País

Ato Unificado na Praça XV, em 28 de maio

Logo no início da greve, acontece o pri-meiro ato unificado entre docentes, técnico-administrativos e estudantes da UFF, UFRJ, Uni-Rio e Rural, na Praça XV, no Centro do Rio. Com um pequeno carro de som, centenas de pessoas entoaram palavras de ordem e dis-tribuíram milhares de panfletos com a “Carta à sociedade”, em que explicamos os motivos que nos levaram a deflagrar a greve.

Educação e saúde públicas: namore essa ideia, em 12 de junho

Buscávamos uma data para realizar nosso segundo ato público unificado no cen-tro do Rio. A greve crescia e a expectativa era que este fosse bem maior que o primeiro. Buscávamos uma data e foi sugerido o dia 12 de junho. Alguém levantou a preocupação: “É dia dos namorados, será que atrapalha?”. Aproveitamos a data, usando-a como mote: “Educação e saúde públicas: namore essa ideia”. Os panfletos foram produzidos em formato de coração. A passeata foi divertida e muito bem recebida pela população, curiosa pelos panfletos originais.

Educação em greve se junta à Marcha Mundial dos Povos, 20 de junho

Na segunda quinzena de junho, o Rio de Janeiro sediava a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Milhares de ativistas do mundo todo vieram à cidade para participar da Cúpula dos Povos. Era uma oportunidade singular de pautar a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. No dia 20 de junho, ocorreu a Marcha Mundial dos Povos, com o objetivo de unificar diversas lutas, e contou com a presença de mais de 80 mil manifestantes, que pararam o centro do Rio. A educação formou uma coluna inicial, com mais de cinco pessoas, que se concentrou cedo na Assembleia Legislativa e depois se uniu à grande marcha.

Protesto diante do Banco Central, 28 de junho

Como forma de protestar contra a política econômica, que retira verbas dos investimentos nos serviços públicos essenciais, como educação e saúde, mas mantém a remuneração ao capi-tal financeiro, aconteceram, no dia 28 de junho, protestos em frente às sedes do Banco Central, por todo o Brasil, convocados por ANDES-SN, Fasubra e Sinasefe. No Rio, a manifestação começou como uma esquete na Candelária, e depois fomos em passeata até o Banco Central, na Avenida Presidente Vargas. Os materiais mostravam à população que, enquanto o paga-mento dos serviços da dívida pública consome mais de 47% do orçamento, a educação fica com apenas 3,1%.

Universidade na Praça, em Macaé,

em 28 de junho

Docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes levam produções da Universidade e apre-sentam os motivos da greve para a sociedade, em Macaé.

Durante quatro meses, os docentes es-tiveram ao lado de estudantes e ser-

vidores técnico-administrativos e de outras categorias do funcionalismo público nas ruas de Niterói, do Rio de Janeiro, do Brasil. Icaraí, Praça do Araribóia, Candelária, Rio

Branco, Banco Central, Praça XV, Mara-canã, Esplanada dos Ministérios... muitos foram os lugares que ocupamos, levando faixas, cartazes, panfletos. Muitas passeatas, Universidade na Praça, aulas públicas, rodas de samba e até mesmo luaus levaram a nossa

greve para as ruas, onde recebemos amplo apoio popular à nossa luta e o reconheci-mento da legitimidade de nossas reivindi-cações. Nestas páginas, apresentamos um pequeno painel com algumas dos principais atos públicos que realizamos neste período.

Alvaro Neiva

Andrew Costa

Andrew Costa

Alvaro Neiva

Page 7: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

Outubro de 20127ADUFF • Jornal Especial da Greve

Greve ganha as ruas do País

Passeata unificada dos Servidores

Públicos Federais, 9 de agosto

O governo federal endureceu com os grevistas, com ameaças e corte de ponto, em algumas categorias. Ao invés de amedron-tar, essas medidas só fortalecerão a unidade entre as categorias, e intensificaram a mo-bilização. No dia 9 de agosto, quase dez mil servidores públicos federais tomaram as ruas do centro do Rio, criticando o arrocho salarial defendido pela presidente Dilma. No encerramento do ato, na Cinelândia, manifestantes queimaram um boneco re-presentando o Proifes — sindicato cartorial que assinou a farsa de acordo proposto pelo governo ao movimento docente —, sob os aplausos de milhares de pessoas.

Marcha unificada dos Servidores Públicos

Federais, em Brasília, em 18 de julho

A Jornada de Luta dos Servidores Públicos Federais, que contou com a participação de diver-sas categorias em greve, e também do movimento estudantil e do movimento popular, reuniu cerca de 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Um dos maiores protestos já enfren-tados pelo governo Dilma, foi uma manifestação de força das categorias em greve, cobrando o atendimento às suas reivindicações, simbolizadas na defesa do serviço público de qualidade. Essa foi a segunda de três marchas unificadas em Brasília.

Vigília da negociação, e luau na

Praia de Icaraí, 1 de agosto

Enquanto o governo endurecia no processo de negociação, o movi-mento grevista ampliava suas formas de manifestação e de diálogo com a sociedade. O governo marcou uma reunião de negociação para 20 horas e, como parte da vigília nacional, o Comando Local de Greve da UFF organizou um luau, com roda de samba e jongo, na Praia de Icaraí.

Ato “Negocia, Dilma”, no Theatro Municipal, em 27 de agosto

De última hora, os servidores públicos federais do Rio de Janeiro ficaram sabendo que a presidente Dil-ma Roussef participaria de uma solenidade no Theatro Municipal no dia 27 de agosto. Às pressas, decidiram convocar uma manifestação para pressionar a presidente a negociar com as categorias em greve. Apesar do tempo escasso, centenas de manifestantes compareceram com faixas, cartazes, bandeiras e panfletos. Porém, a comi-tiva presidencial deixou claro que não estava disposta a dialogar com os grevistas. Um forte aparato policial foi armado no entorno da Cinelândia para evitar que os manifestantes se aproximassem da presidente. Efe-tivos da Guarda Municipal, Polícia Militar e Tropa de Choque estavam a postos, além de dezenas de grades, isolando o Theatro Municipal da população, que mais uma vez manifestou-se solidária aos grevistas.

Ato por educação, saúde e moradia, no Maracanã, em 24 de agosto

Após se concentrar em frente ao Maracanã em obras, o ato públi-co em defesa da educação, saúde e habitação se dirigiu à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ali, na véspera, o Batalhão de Choque havia dispersado uma reunião estudantil com muita violência, inclusive bombas. Docentes, servidores e estudantes das universidades federais em greve marcaram o ato ali para manifestarem sua solida-riedade ao movimento da UERJ. Mas também para chamar a atenção para o fato de que, enquanto educação, saúde e habitação sofrem com o contingenciamento de investimentos, o poder público gasta bilhões com as obras da Copa do Mundo.

Luiz Fernando Nabuco

Alvaro Neiva

Bruno Marinoni

Luiz Fernando Nabuco

Luiz Fernando Nabuco

Page 8: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

8Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

Depois de quase dois meses adian-do reuniões e sem abrir um

processo de negociação real, gover-no federal apresentou uma proposta que não apenas não atendia à pauta de reivindicações, como aumentava a desestruturação da carreira docente. Apesar do amplo rechaço da categoria — a proposta foi rejeitada por todas as assembleias de base — o governo fez pequenas modificações e assinou aquele acordo nocivo apenas com o Proifes, seu braço sindical.

Mais de três semanas depois do início da greve, em reunião de nego-ciação no dia 12 de junho, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Sérgio Mendonça, pediu uma “trégua” de vinte dias na greve, para que o go-verno apresentasse uma proposta de reestruturação da carreira. Diante da negativa enfática dos representantes do ANDES-SN, Mendonça se com-prometeu a apresentar uma proposta em nova reunião, uma semana depois. Aquela reunião também foi cancelada.

Em 6 de julho, após mais algu-mas semanas de “enrolação”, a Se-cretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento emite a mensagem 552047. A mensagem tinha caráter de orientação aos diri-gentes de recursos humanos da Ad-ministração Pública Federal, para que informem no SIAPE na rubrica “falta por greve”, com o objetivo de cortar o ponto dos servidores grevistas.

Encenação

No dia 13 de julho, em nova reu-nião, Sérgio Mendonça apresentou às entidades do movimento docente uma proposta, com tabelas e tópicos com “aspectos conceituais” sobre a carreira docente. Ao mesmo tempo, do outro lado da Esplanada dos Ministérios, os ministros Aloizio Mercadante, da Educação, e Miriam Belchior, do Planejamento, Orçamento e Gestão, davam uma entrevista coletiva, apre-sentando os “altos reajustes” a que os docentes teriam direito, e mostrando o impacto orçamentário daquela pro-posta, prevista para ser implementada entre 2013 e 2015.

Nova reunião ficou agendada para o dia 23 de julho, prazo necessário para que a proposta fosse avaliada pelas as-sembleias de base. “Houve um tensio-namento para que as entidades dessem um retorno mais rápido, mas argumen-

Negociação ou farsa?Governo desrespeita a categoria e assina acordo com entidade cartorial que não representa docentes em greve, ignorando pauta de reivindicações do movimento

após ANDES-SN, Sinasefe e Con-dsef apresentarem as respostas das assembleias de base, que rejeitaram, mais uma vez, a proposta do governo.

“Todas as assembleias votaram pela rejeição da proposta. No entan-to, o governo opta por assinar acordo com uma entidade que é sua parceira, e que não tem representatividade jun-to à categoria. Nós vamos continuar firmes na greve e são as assembleias de base que determinarão os rumos do movimento”, afirmou, naquele mo-mento, Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.

Mais uma vez, todas as Assem-bleias de base aprovaram a manutenção da greve e apontaram a necessidade de intensificação das mobilizações. Nas semanas seguintes, os docentes rea-lizaram atos públicos e começaram a

pressionar parlamentares no Congres-so Nacional, para cobrarem do governo a reabertura imediata das negociações.

No dia 22 de agosto, o Comando Nacional de Greve do ANDES-SN apresentou oficialmente a contrapro-posta elaborada pelos docentes, que reafirmava tanto ao governo quanto à sociedade a disposição da categoria em negociar a restruturação da carrei-ra docente. O documento foi entregue aos parlamentares e protocolado junto aos ministérios da Educação e do Pla-nejamento, Orçamento e Gestão.

Porém, o governo manteve sua intransigência e enviou ao Congresso Nacional, em 31 de agosto, o Projeto de Lei 4368/2012, “que dispõe sobre a estruturação do plano de carreira e cargos do magistério federal” (ver ma-téria na página 12).

tamos que o governo demorou para apresentar uma proposta e não seria justo exigir que deci-díssemos em dois dias”, conta Marinalva Oliveira.

A análise do Comando Nacional de Greve e dos Co-mandos Locais de Greve logo detectou que a proposta do governo não dialogava com a proposta de reestrutura-ção da carreira apresentada pelo ANDES-SN, e que o escalonamento do reajusta faria com que uma parcela ínfima da categoria (cerca de 10%) tivesse ganhos reais nesse período.

Submetida à ava-liação da categoria, a proposta do governo foi rejeitada em todas as assembleias realizadas, inclusive nas seções sindicais ligadas ao Proifes. Para o CNG /ANDES-SN, a ca-tegoria, ao rejeitar unanimemente nas assembleias a pri-meira proposta do governo, o fez por três motivos: por discordar da deses-truturação da car-reira, por entender que ela traria per-das salariais quando considerada a inflação entre 2010 e 2015 e por entender que a proposta feria a autonomia universitária, ao im-por barreiras no desenvolvimento da carreira incompatíveis com a atividade acadêmica.

Na reunião seguinte, em 24 de julho, o governo apresentou modifica-ções pontuais em relação à proposta já apresentada, com ajustes nas tabelas. O governo afirmou que o montante orça-mentário para atender à nova proposta subia de R$3,9 bilhões para R$ 4,2 bi-lhões, em três anos. Porém, não havia qualquer mudança substantiva.

Acordo forjado

Em uma atitude de total des-respeito com as reivindicações dos professores federais, depois de quase 80 dias de greve, o governo federal anunciou no dia 1 de agosto a decisão de assinar o acordo com o Proifes. A afirmativa foi feita em nova reunião,

Arte de Luiz Fernando Nabuco sobre foto de Alvaro Neiva

Page 9: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

Outubro de 20129ADUFF • Jornal Especial da Greve

A greve realizada este ano pelos docentes das Instituições Federais de Ensino

(IFE) foi a mais longa e intensa da categoria, causada, principalmente, pela insatisfação dos professores com a desestruturação na carreira e as precárias condições de trabalho, mas também fruto do intenso trabalho de mobilização realizado desde 2010. “Mas, para avaliar um movimento paredista de tamanha envergadura é necessário remontar ao tempo. Esta é uma avaliação preliminar e necessita de distanciamento temporal e maturação para avaliar a complexidade e a conseqüência dos fatos”, afirma a Diretoria Nacional no documento.

No texto, a direção do ANDES-SN recupera toda a movimentação que houve desde 2010, quando o Ministério do Pla-nejamento entregou para o ANDES-SN uma minuta de projeto de lei sobre estru-turação da carreira dos docentes federais do magistério. Foi a primeira vez, desde a década de 80, que o governo materializava uma posição sobre o tema.

A partir de discussões na base, a cate-goria aprovou, em janeiro de 2011, no 30º Congresso do ANDES-SN, em forma de projeto de lei, uma proposta do movimento docente para a reestruturação da carreira, que foi protocolada nos ministérios da Educação e do Planejamento.

Em 2011, o governo, como de cos-tume, negou-se a negociar com o conjunto dos servidores e tratou de pontos pontuais

Greve deste ano foi a mais longa e intensa da categoria

Essa é a avaliação política preliminar feita pela diretoria do ANDES-SN da paralisação dos docentes das IFE

com algumas carreiras. No final de agosto, o ANDES-SN assinou um acordo com o governo, que recuperava direitos relativos a princípios ordenadores da proposta de car-reira do Sindicato Nacional e fazia algumas inflexões rumo à proposta de carreira do ANDS-SN. Também foi possível negociar a incorporação de gratificações de cunho produtivista ao vencimento básico e uma pequena correção geral da tabela.

Discussões

Depois de várias protelações, foi realizada uma oficina, em dezembro de 2011, em que ficaram claras as divergên-cias entre as propostas do ANDES-SN, Proifes e governo. O governo marcou nova reunião do GT apenas para o final de março, véspera final do prazo previsto no acordo para que o GT se extinguisse.

Nesse período, a Direção Nacional buscava negociar, junto com o Fórum dos Servidores Públicos Federais, o atendimento de uma pauta unificada. Como nos anos an-teriores, o governo disse que não negociaria.

Paralelamente, a diretoria do ANDES-SN passou a percorrer o país para enraizar a pauta de reivindicações e mobilizar a cate-goria. Na avaliação do Sindicato, era possível afirmar que o inimigo era forte e a disputa se daria entre projetos estratégicos para a edu-cação pública no país. A partir dessa análise, a Diretoria Nacional passou a trabalhar poli-ticamente para a construção da greve.

Estava posta a necessidade de co-meçar uma greve forte e coesa em todas as IFE para mostrar ao governo o tamanho da indignação da categoria. “Já não basta denunciar o descaso do governo com os professores das universidades públicas fede-rais e o descumprimento dos compromissos firmados. Para garantir seus direitos, os do-centes de todo o país deverão voltar às ruas”,

incitava o Informandes de março.Em abril, a Direção Nacional defendeu

a paralisação. “A categoria não agüenta mais esperar pelos bons tempos, que nunca chegam. É hora de se preparar para a luta. Cabe, agora, o debate nas assembleias gerais, a mobilização e a construção da greve pelos professores”.

Greve

A categoria respondeu ao chamado e no dia 17 de maio a greve começava com a adesão de 33 IFE. Como rastilho de pólvora, a paralisação cresceu em número de adesões, em pouco tempo já eram 47 das 49 IFE em greve, inclusive naquelas que eram base do Proifes.

O governo se viu obrigado a reco-nhecer a greve e a estabelecer uma mesa de negociações, contrariando uma postura que tinha tomado ano passado de não negociar com categorias em greve. Após 57 dias do início da greve, o Ministério do Planejamen-to apresenta a primeira proposta, montada sob as mesmas premissas daquela apresenta-da pelo governo em agosto de 2010, ampla-mente rejeitada pela categoria. O Comando Nacional de Greve (CNG/ANDES-SN) entrega ao governo, a partir das deliberações da base, um documento com uma análise dos elementos que levaram os docentes a rejeitar a proposta, indicando qual seria o caminho para as negociações avançarem.

O governo, no entanto, numa atitude antissindical, resolve encerrar as negociações de forma unilaterial, assinando um simulacro de acordo com o Proifes. A greve continuou.

Nesse segundo momento, a paralisa-ção é marcada por ações como audiências públicas com parlamentares sobre a pauta de reivindicações, o que leva deputados e senadores a cobrarem do governo a rea-bertura de negociações.

O CNG/ANDES, também a partir de

uma deliberação da base, apresenta sua contra-proposta, atendendo aos limites de piso e teto constantes na proposta do governo, mas de acordo com os princípios do plano de carreira aprovado pela categoria no 30º Congresso. Esse texto foi protocolado nos ministério da Educação e do Planejamento, e na Presidên-cia da República. “Em nenhum desses espa-ços, o movimento docente obteve resposta, mostrando a intransigência e a indisposição em negociar por parte dos representantes do governo federal”, diz o documento.

Durante agosto, o governo tentou isolar e enfraquecer a greve dos docentes, fechando acordos com os servidores técnico-adminis-trativos, e outras categorias do funcionalismo público, já que estava imposto o prazo de 31 de agosto para que as previsões orçamentárias fossem incluídas no Orçamento de 2013. Diante dessa realidade, a categoria deliberou encerrar a greve de forma unificada no perío-do entre 17 a 24 de setembro.

Para o ANDES-SN, embora as reivindicações dos docentes não tenham sido atendidas em seu núcleo central, o governo não foi feliz em seu intento, pois a greve demonstrou a capacidade de rea-ção da categoria.

“Elementos importantíssimos ficam de saldo”, avalia a Direção Nacional. Entre eles, a qualidade e a amplitude da greve, com a paralisação do conjunto das ativida-des docentes de ensino, pesquisa e exten-são. “O envolvimento amplo de docentes recém-contratados e o retorno daqueles que outrora atuaram mais intimamente no âm-bito sindical, incluindo muitos aposentados. Ampliação das filiações em várias institui-ções com conseqüente enraizamento do sindicato na categoria. Consideráveis avan-ços na inserção do ANDES-SN na base, em contrapartida ao processo de fragilização do Proifes”, pontua a avaliação política.

Greve deste ano foi a mais longa e intensa da categoria

Luiz Fernando Nabuco

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10Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

Algo que era absoluta-mente normal há alguns

anos e pouco a pouco, foi se tornando absolutamente in-comum foi uma das marcas da greve nacional dos docentes das instituições federais, em 2012: a ampla adesão dos docentes dos programas de pós-graduação. A lógica pro-dutivista, principal responsá-vel por ter tornado a greve na pós-graduação mais rara, foi justamente a causa dessa gran-de adesão, neste ano. O fato de uma das pautas da greve ser a precarização das condi-ções de trabalho sensibilizou profundamente os docentes vinculados aos programas de pós-graduação, que se veem cada vez mais sobrecarregados de tarefas.

Segundo Katia Lima, diretora da ADUFF e pro-fessora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Desen-volvimento Regional da UFF, “a profunda reconfiguração na política de pós-graduação e pesquisa no Brasil tem rebati-mento direto na intensificação do trabalho docente.

Katia chama atenção para alguns eixos desta recon-figuração: o direcionamento da pós-graduação e da pes-quisa operado pelo arcabouço jurídico do Estado brasileiro tem sido fundamental para o estabelecimento de um pa-drão mercantil de produção de conhecimentos; o produ-tivismo, como regra geral da sociabilidade docente mate-rializa o padrão mercantil de produção do conhecimento; está em curso a redefinição das atribuições e a privatiza-ção dos meios de produção do trabalho docente (livros, laboratórios, computadores e equipamentos) que não são mais viabilizados, em sua maioria, pela universidade, mas pelos docentes que con-correm a editais e bolsas de produtividade; existe o com-partilhamento de uma cultura

da produtividade/desempe-nho, pois a política é elabo-rada, difundida e monitorada pelos órgãos de fomento como CAPES, CNPq e Fundações de Amparo à Pesquisa, mas é apropriada por parte significa-tiva dos docentes; a estratégia utilizada para difusão dessa cultura da produtividade/desempenho é a política de avaliação: na pós-graduação, através das notas atribuídas aos programas pela CAPES e na produção docente, pelo direcionamento da produção e difusão do conhecimento conduzido pelo sistema Qua-lis da CAPES. De acordo com ela, essa estratégia estimula a competitividade entre univer-sidades, entre programas de pós-graduação e entre docen-tes, reconfigurando o trabalho docente, representando a per-da da autonomia e a subsun-ção do trabalho intelectual à lógica mercantil/produtivista.

Tudo isso é fundamental para compreender o surpre-endente índice de adesão dos docentes dos programas de pós-graduação a essa greve, após anos alheios às mobiliza-ções do movimento docente.

Assim como os servido-res técnico-administrativos e os estudantes da graduação, os estudantes da pós-graduação também entenderam que essa era uma greve em defesa da uni-versidade pública, gratuita e de qualidade, e também aderiram às mobilizações. Os estudan-tes de pós-graduação da UFF e da UFRJ, em assembleias gerais, decidiram paralisar as atividades. As Associações de Pós-Graduandos da UFPE, UFSJ, UFBA, UFV e o Fórum de Pós-Graduandos da UFPR são algumas das entidades que aprovaram moções de apoio ao movimento grevista.

Mobilizações junto à Capes

Em 27 de junho, a As-sociação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) enviou às agências nacionais de fo-

mento – Capes e CNPq – um pedido para que os prazos dos projetos (defesa de disser-tação, depósito etc.) fossem adaptados aos calendários acadêmicos das universidades em greve, inclusive no tocante à concessão de bolsas.

“Enviamos esta soli-citação à Capes e ao CNPq por dois motivos. O primei-ro é garantir o direito dos pós-graduandos seguirem o mesmo calendário das univer-sidades, muitos deles altera-dos em função da greve. Isso pode significar a alteração de uma data de depósito de dis-sertação ou tese, o que pode vir a exigir, por exemplo, uma extensão do tempo de bolsa deste pesquisador. O segun-do motivo é pautar os mais diversos órgãos de governo sobre uma forte greve que toma conta das universidades federais e exige respostas, tanto no sentido de que sejam cumpridos os compromissos com os docentes, quanto no sentido de estabelecer com-promissos para a estruturação e expansão das universidades

Suspensão das aulas também na pós-graduaçãoSe antigamente era comum e recentemente tornou-se raro, em função da lógica produtivista, adesão de docentes da pós-graduação foi intensa na greve de 2012

públicas brasileiras”, afirmou a presidenta da ANPG, Lua-na Bonone.

Em 7 de agosto, quase três meses após o início da greve nas Instituições Federais de Ensino, representantes do Comando Nacional de Greve do ANDES-SN realizaram um ato em frente ao prédio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministé-rio da Educação). Os docentes reivindicaram que a Capes reconhecesse o momento de excepcionalidade da paralisa-ção e suspendesse os prazos relacionados à conclusão de dissertações e teses de bolsistas vinculados à instituição, relató-rios de bolsistas de produtivi-dade e de projetos de pesquisa e também editais concernentes ao trabalho acadêmico.

Servidores da Capes deflagram greve

Poucos dias depois, cul-minando o processo de intensa mobilização do conjunto dos servidores públicos federais, os servidores da Capes tam-

bém deflagraram greve, no dia 13 de agosto. A associação que representa a categoria, AsCa-pes, informou que “a postura intransigente do Governo força os servidores da Carreira de Ciência e Tecnologia a se mobilizarem para uma greve geral da categoria”. “Sabemos da importância do trabalho desenvolvido pela Capes, executada de modo muito responsável pelos servidores da Fundação, contudo não há alternativa que senão a mo-bilização de todos para que a Carreira de Ciência e Tecno-logia seja ouvida e respeitada como merece”, dizia a nota.

“Agora são as chamadas carreiras de Ciência e Tec-nologia que aderem à greve nacional dos SPF, assim como demais categorias por conta da intransigência do governo em negociar e atender a pauta do funcionalismo. Há pouco tempo, alguns teimavam em usar tais carreiras como re-ferência para o movimento docente”, afirmou à época Luiz Henrique Schuch, vice-presidente do ANDES-SN.

CNG/ANDES-SN faz protesto e protocola documento na Capes, solicitando ampliações dos prazos da pós-graduação em função da greve

Page 11: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

Outubro de 201211ADUFF • Jornal Especial da Greve

O Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) da UFF, reunido no dia

25 de setembro, ratificou a proposta de calendário elaborada por uma comissão de docentes, composta no Fórum de Coordenadores de curso, com a participação de um repre-sentante do movimento grevista. De acordo com o novo calendário, o segundo semestre letivo de 2012 começa no dia 26 de novembro e se encerra em 28 de março. O novo calendário, muito semelhante ao aprovado na Assembleia Geral dos docentes de 17 de setembro, que decidiu pelo fim da greve, garante a integralidade na reposição das aulas e também o cumprimento pleno do segundo semestre letivo. Porém, ao contrário da proposta aprovada inicialmente pela reitoria, reduz os recessos, de modo a garantir que o calendário seja restabelecido o mais rapidamente possível.

Em audiência com a ADUFF, no dia 18, a reitoria não se mostrou sensível ao calendário aprovado na Assembleia Geral, e sinalizou que aprovaria no CEP um calendário que não havia sido discutido em

nenhuma instância da universidade. No dia seguinte, em uma reunião que durou menos de dez minutos, o CEP aprovou o calendário apresen-tado pela reitoria. Nele, a previsão de conclusão do segundo semestre letivo de 2012 era em 22 de abril de 2013. Aquela proposta, além de contrariar a proposta aprovada na Assembleia Geral, desagradou profundamente aos coordenadores de curso. Em reunião do Fórum de Coordenadores de curso, realizada no dia 20 de setembro, ficou clara essa insatisfação, e foi criada uma comissão para elaborar uma nova proposta. A ADUFF participou da reunião, manifestando suas críticas ao calendário elaborado pela reitoria, e indicou o professor José Raphael Bokehi para compor a comissão, junto com alguns coordenadores de curso e representantes do CEP.

Essa comissão aprovou a nova proposta, muito parecida à aprovada na Assembleia Geral dos docentes da UFF. Essa proposta foi ratificada pelo Fórum de Coordenadores de curso.

Na reunião extraordinária do CEP do dia 25, o calendário defen-dido pelo Fórum de Coordenadores de curso e pela ADUFF foi apro-vado por imensa maioria. Além do calendário escolar, foi aprovado o calendário administrativo e uma re-solução do CEP que autorizava “que os alunos solicitem na Coordenação do respectivo Curso de Gradua-ção trancamento de matrícula ou cancelamento de disciplinas do 1º semestre de 2012, até o dia 28 de

setembro de 2012 (sexta-feira). Os alunos ingressantes no 1º semestre de 2012, de qualquer modalidade, não poderão solicitar o trancamento de matrícula, devendo cursar ao menos uma disciplina, para que possa atender ao artigo 57 do Regula-mento de Cursos de Graduação”. A medi-da tinha como objetivo preservar os estudantes que aderiram a greve de serem prejudicados por do-centes que não aderiram.

Agenda AcadêmicaNa reunião do Conselho de

Ensino e Pesquisa, a presidente da ADUFF, Eblin Farage, manifestou sua concordância com as propostas aprovadas. Questionou apenas a de-cisão do CEP de manter a realização da Agenda Acadêmica em outubro. A professora Haidée Rodrigues leu resolução da Escola de Serviço Social, afirmando que, diante da de-cisão de manter a data da Agenda Acadêmica, seria importante que a UFF confirmasse que, para os mo-nitores, a Agenda Acadêmica teria apenas o caráter de congraçamento, sem a divulgação de notas para as apresentações na primeira etapa. É importante destacar que o calendá-rio escolar da UFF foi suspenso a partir de 6 de junho, segundo reso-lução do próprio Conselho de Ensi-

Reitoria cede e Conselho define calendário semelhante ao aprovado em Assembleia

Administração, porém, demonstra intransigência em relação à data da Agenda Acadêmica e mantém cronograma, apesar dos quatro meses de greve

Conforme o aprovado no CEP, o calendário escolar

de 2012, fica assim:• 1º semestre letivo

(continuação):24/09 a 05/11/12

• 2º semestre letivo:19/11/2012 a 28/03/2013

no e Pesquisa. Logo, a definição da data da Agenda Acadêmica deveria considerar esse período de suspen-são do calendário.

Em Assembleia Geral da ADUFF realizada no dia 2 de outu-bro, foi aprovada a redação de uma “Nota pública” manifestando o posi-cionamento crítico à manutenção da data de realização da Agenda Aca-dêmica, a despeito dos quase quatro meses de greve.

“Compreendemos que a Agenda Acadêmica é um momen-to importante de sistematização e apresentação dos trabalhos realiza-dos por docentes e discentes no âm-bito do ensino, pesquisa e extensão, buscando promover a integração da comunidade acadêmica. A atividade, prevista no calendário acadêmico e já programada no planejamento anual dos docentes, é baseada em trabalho construído nos diversos programas da instituição durante todo o ano. Compreendemos a importância do evento, e, por isso, fomos contrários a sua manutenção neste período já que desconsidera o longo período de greve e a parcialidade dos trabalhos desenvolvidos, tendo em vista a sus-pensão do calendário acadêmico”, diz a nota.

“Por isso, consideramos que seria necessário reavaliar a data da Agenda Acadêmica, para que pu-desse ser garantido todo o período de reposição e o início do segundo semestre letivo de 2012. Porém, o que prevaleceu foram os interesses e os acordos firmados com finan-ciadores externos do evento, o que evidencia, em toda a comunidade acadêmica, a disputa por concepções de universidade e, em especial, põe em xeque o conceito de autonomia universitária”, conclui a nota.

Pressão do movimento grevista leva reunião do Conselho de Ensino e Pesquisa da UFF a aprovar suspensão do calendário acadêmico

Page 12: Jornal ADUFF Especial Greve 2012

12Outubro de 2012 ADUFF • Jornal Especial da Greve

Nacionalmente, a greve dos docentes foi encerrada de

maneira unificada na semana de 17 a 24 de setembro. Mas o conjunto das Assembleias realizadas apontou que a pauta não foi conquistada e que a luta deve continuar. Neste momento, a prioridade é continuar inter-vindo na disputa a respeito do Projeto de Lei 4368/12, resulta-do do simulacro de acordo entre o governo e o Proifes.

Essa decisão das Assem-bleias foi reforçada na reunião do Setor das Instituições Fe-derais de Ensino, realizada nos dias 29 e 30 de setembro, em Brasília. “Por ampla maioria, foi reafirmado o movimento que a Diretoria Nacional já vinha de-senvolvendo, por indicação do Comando Nacional de Greve (CNG), de intervir na tramita-ção do PL”, afirma Luiz Henri-que Schuch, 1º vice-presidente do ANDES-SN.

No dia 14 de setembro co-meçou a correr o prazo de cinco sessões com quorum do plená-rio da Câmara dos Deputados para apresentação de emendas. Nos dias 18 e 19, diretores do ANDES-SN, juntamente com integrantes da Comissão Nacional de Mobilização que permaneceram em Brasília, es-tiveram no Congresso Nacional conversando com deputados das Comissões por onde tramitará o PL — Trabalho, Administra-ção e Serviço Público (Ctasp), Educação e Cultura (CEC), Finanças e Tributação (CFT) e de Constituição, Justiça e Cida-dania (CCJC) — e entregando um memorial com a posição do Sindicato Nacional.

Foram entregues uma Car-ta aos Parlamentares, o texto do projeto de lei com sugestões de alterações feitas pelo Sindicato Nacional, a contraproposta ela-borada pelo Comando Nacional de Greve (CNG/ANDES-SN) a partir das propostas das assem-bleias de base e protocolada nos ministérios do Planejamento e da Educação e na Presidência da Re-pública em agosto, uma avaliação jurídica preliminar do PLe uma avaliação política do CNG.

As observações apontadas pelo ANDES-SN buscam rever-ter, no PL 4368/12, os elementos que desestruturam a carreira do-cente, retiram direitos e agridem a Constituição Federal. “Sabemos que há limites quanto à criação de novas despesas no orçamento de 2013 e, também, quanto à prerro-gativa do Poder Executivo de ini-ciativa exclusiva sobre esse tema, portanto, as intervenções devem ser precisas”, explica Schuch.

Desde que o PL 4368/12 começou a tramitar só foi reali-zada uma sessão com quorum, o que dará mais tempo para que o ANDES-SN busque ampliar o apoio entre os par-lamentares. Alguns deputados já apresentaram emendas que contemplam a proposta do ANDES-SN. Cada comissão terá o prazo de até 20 sessões com quorum regimental para discutir e votar o PL 4368/12. Depois disso, o PL será envia-do para o Senado Federal, sem precisar passar pelo plenário.

No período eleitoral, os parlamentares trabalhavam

em esquema de plantão, per-manecendo apenas um dia por semana em Brasília, o que dificultava a pressão sobre eles. Por isso a reunião do setor das Intituições Federais de Ensino também decidiu que as seções sindicais deverão procurar os deputados em suas bases, buscando obter o compromis-so em relação às proposições apresentadas pelo Sindicato.

A Comissão de Mobilização da ADUFF já está trabalhando com essa diretriz. Esse trabalho tem sido feito de forma articulada com as demais seções sindicais do ANDES-SN no Rio de Janeiro, e também com os docentes vincu-lados ao Sinasefe. Em 22 de se-tembro, aconteceu um seminário unificado, que apontou caminhos e estratégias muito semelhantes às aprovadas na reunião do Setor das Federais.

Correlação de forçasO PL 4368/2012, resul-

tante do simulacro de acordo assinado com o Proifes, também contém itens do acordo relativo

Segue a mobilização para modificar Projeto de Lei

aos servidores técnico-admi-nistrativos, que foi assinado pela Fasubra e pelo Sinasefe. Na avaliação do ANDES-SN, qualquer mudança no texto vai depender da correlação de for-ças estabelecidas no Congresso Nacional, lembrando que o go-verno fará de tudo para aprovar o projeto sem alterações.

Luiz Henrique Schuch, que tem acompanhado a trami-tação de projetos de interesses dos docentes no Congresso Na-cional, lembra que na luta a ser travada no Congresso Nacional em torno do PL 4368/12 não poderá ser desconsiderado que “o avanço na disputa pela nossa pauta dependerá fundamental-mente da correlação de forças, tendo de um lado as ações po-líticas e alianças que pudermos aglutinar e de outro o núcleo que tem se oposto ao atendimento de nossas reivindicações, cen-trado no Poder Executivo que, por sua vez, tem demonstrado capacidade de hegemonizar as principais decisões do Legislati-vo, valendo-se de normas e ritos

Encerrada a greve, categoria deve seguir na luta para conquistar mudanças no PL que trata sobre a carreira

Luiz Fernando Nabuco

institucionais, além da tradicio-nal troca de favores”.

Ele lembra que o or-çamento federal tem de ser votado até o final do ano legislativo de 2012 em um processo de tramitação que costuma ser muito disputado, passando por comissões e sub-comissões, relatorias, prazos para emendas, entre outros movimentos internos ao par-lamento. E mesmo depois de entrar em vigor, o orçamento pode sofrer reprogramações e suplementações, sempre por iniciativa do Poder Executivo. “E no caso das despesas com pessoal as limitações legais são maiores”, afirma.

“É evidente que os mo-vimentos sociais se levantam, pressionam e influenciam o processo legislativo, mas temos de ter a consciência que a luta no legislativo é muito dura. Com isso, a categoria está anali-sando e definindo as estratégias de luta em relação ao que deve ser feito”, afirma o diretor do ANDES-SN.