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Projeto Capão Xavier motiva discussões Página 9 Mineração Igreja e Manuelzão são parceiros em favor das águas Página 11 Campanha da Fraternidade Projeto define prazo para a volta do peixe ao rio Páginas 2 e 3 Meta 2010 Peixamento Peixamento Prática pode gerar problemas Prática pode gerar problemas ambientais ambientais Página 8 Miyleus micans, popularmente conhecido como Pacu, é uma espécie que só ocorre naturalmente na bacia do São Francisco

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Projeto Capão Xavier motivadiscussõesPágina 9

MineraçãoIgreja e Manuelzão são parceirosem favor das águasPágina 11

Campanha da FraternidadeProjeto define prazo para a voltado peixe ao rioPáginas 2 e 3

Meta 2010

PeixamentoPeixamentoPrática pode gerar problemas Prática pode gerar problemas ambientaisambientais

Página 8

Miyleus micans, popularmente conhecidocomo Pacu, é uma espécie que só ocorrenaturalmente na bacia do São Francisco

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OPINIÃO

MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 20042

CartasAqui você confere trechos de correspondências

enviadas ao Projeto Manuelzão.

Caros amigos,

tudo que se relaciona à natureza me emociona, masquando se fala de rios aí é demais!

Conheço bem o norte mineiro e suas cachoeiras,faço uma idéia de como era lindo aqueles grandes riosno passado, um passado que o homem insiste em apa-gar, pois quando se permite a poluição e o assoreamen-to de um rio,nós o estamos matando e com ele morre-mos um pouco. Matar um rio é se suicidar aos poucos,apagamos a história e matamos a vida. O Rio dasVelhas, como o Tietê, faz parte da história do Brasil.Bandeirantes navegaram suas águas com seus batelões,eram as estradas de outrora.

Meus parabéns, ver seu trabalho na Globo, aindaque resumido, me fez bem, matei saudades e me enchide esperança. Espero que este trabalho não termine poraí, que ele seja apenas o embrião de algo muito maior,que é trazer de volta a beleza de nossos rios.

Aureliano Justo dos Santos Filho, profissão garçom, cidadeSão Paulo

O que iria acontecer com o homem?Enxadas, enxadões alavancas cortam e arrancam!

Os machados?Abrem crateras e as espingardas?Matam os mansos e também as feras.

As redes e anzóis?Fisgam os peixinhos e as avesinhas

Cortam as árvores onde podem repousar

Os macacosNão tendo onde possam saltar!E as emas onde irão esconder?Suas moradas não podem fazer.

Porque o progresso, agressivo e cruelmaior assassino anulando felizesexistências, e os destinos.

Beneficiando o homem sedento e famintopelas riquezas vaidades.Sustentando luxos e, títulos de nobreza.

É aquele que desmancha o santuáriodevastando as matas e florestassecando os rios envenenando a atmosfera,desolam e deformam toda beleza

E as riquezas que o homem acumulou?O que aconteceu?O homem abraçado com as ambições eegoísmo morreu.

Morreu?De que morreu o homem?O homem se matou tornou-se um suicida Morreu sim.Como? Morreu de sede e também de fome.

Maria Geralda Diniz, Belo Horizonte

Meta 2010: unir esforçospara salvar toda a bacia

CCoooorrddeennaaddoorreess (Professores da UFMG)Apolo Heringer Lisboa- Coordenador geral [email protected]ônio Leite Alves RadicchiMarcus Vinícius Polignano Antônio Thomáz Gonzaga da Mata MachadoTarcísio Márcio de Magalhães Pinheiro

EEnnvviiee ssuuaa ccoonnttrriibbuuiiççããoo ppaarraa oo JJoorrnnaall MMaannuueellzzããoo..

RReeddaaççããoo ee EEddiiççããooElton Antunes (MTb 4415 DRT/MG), Marina Torres (MTb 8577DRT/MG), Louraidan Larsen, Carolina Silveira, Marco Antônio Pessoae Pedro Amorim CorrêaTelefones: (31) 3248-9697e (31) 3499-5193 [email protected]

PPrroojjeettoo GGrrááffiiccoo ee DDiiaaggrraammaaççããooProcópio de Castro

IIlluussttrraaççããooHenrique Milen

IImmpprreessssããooFumarc

TTiirraaggeemm100.000 exemplares

É permitida a reprodução de matérias e artigos, desde que citados afonte e o autor. Os artigos assinados não exprimem, necessaria-mente, a opinião dos editores do jornal e do Projeto Manuelzão.

CCoonnttaattooss ccoomm oo PPrroojjeettoo::Secretaria Administrativa - Tel: (31) 3248-9818/17 Telefax (31) 3248-9817www.manuelzao.ufmg.br - [email protected]ão vai à escola - (31) 3248-9810Gascom - Grupo de Articulação e Suporte aos Comitês Manuelzão - (31) 3248-9819

AMeta 2010 tem o objetivo operacionalcomum de navegar, pescar e nadar no Riodas Velhas em sua passagem pela região

metropolitana de Belo Horizonte. Isso significaenquadrar a qualidade deste trecho na Classe II, com ascaracterísticas definidas pela legislação ambiental. EstaMeta será uma realidade em 2010, se conseguirmosarticular interesses e sonhos de todos os atores e seg-mentos sociais, com a determinação estratégica de,agindo em seu pior trecho, beneficiar todo o rio.

Esta Meta ousada e realista marcará a história deMinas Gerais pelo impacto que terá na mobilizaçãosocial, no estabelecimento de parcerias público-pri-vadas, no fortalecimento do planejamento estratégicocom lógica de bacia. A lógica exclusivamente munici-palista não dá conta de equacionar e resolver nossasquestões ambientais, nem de planejá-las.

A Meta 2010 está sendo discutida no Comitê deBacia Hidrográfica do Rio das Velhas, com os prefeitosmunicipais, com os deputados, com as câmaras munici-pais, com os técnicos, ONGs e com o governador deMinas Gerais.

Estamos convencidos de que: a) não se pode co-meçar por cálculos orçamentários. Sabemos que a razãoexclusivamente técnica e orçamentária paralisa, enquan-to a paixão move-nos e remove montanhas. b) pre-cisamos do imaginário que dê coesão à mobilização detoda a sociedade, integrando esforços e recursos, comum foco estratégico, apontando para resultados à vista,embora a longo prazo (2010), beneficiando a toda bacia.

A Meta 2010 significa a definição clara de uma pri-oridade para salvar o conjunto da bacia do Rio dasVelhas, significa não pulverizar recursos públicos e pri-vados, convencer a todos os agentes governamentais,privados e das organizações sociais de sua viabilidadetécnica, relevância social e racionalidade estratégica,significa convocar a sociedade para um objetivo comprazos definidos, para compartilhar sua energia criativae emoções.

Minas Gerais irá com a realização desta Metamostrar ao Brasil do Rio São Francisco que o fator deci-sivo não é o dinheiro, mas o desejo, e a capacidade, detomar decisões corretas com respaldo técnico e social.

A área, foco de nossa intervenção, vai da foz doItabirito até a foz do Rio Jequitibá, que recebe o esgotode Sete Lagoas. Precisamos realizar uma intervençãointegral de recuperação nas sub-bacias que estão com-

preendidas nesta área. Mas não podemos descuidar dapreservação e conservação da bacia do Rio Cipó, comsua riqueza de fauna e flora. A bacia do Cipó, com seusecossistemas, sobretudo o das águas, são fundamentaisno repovoamento em peixes da bacia do Velhas. Assim,recuperação da região mais densamente povoada nacalha metropolitana e a conservação e preservação dabacia do Cipó, são partes de uma estratégia e de umapriorização integrada.

O olho do problema já está equacionado, com asETEs Arrudas e Onça. Precisamos garantir que até2006, no máximo, estas ETEs estejam tratando 100%dos esgotos de suas áreas. Logo depois, na ordem deagressão ao Velhas, temos as sub-bacias do Ribeirão daMata, Jequitibá, Água Suja e Itabirito, além das áreasurbanas de Sabará e Santa Luzia. As áreas urbanas deRio Acima e Raposos, têm população menor, e serãoincluídas, mas sem a prioridade das primeiras.

A Expedição que desceu o Velhas e agora a propos-ta desta Meta são necessárias porque Minas Gerais, nopassado, optou por um modelo de desenvolvimento nãosustentável social e ambientalmente. As modalidades deuso e ocupação do solo e dos cursos d'água nos legaramcórregos e ribeirões invadidos, retificados, encaixotadose enterrados, transformados em esgotos e lixeiras dosdejetos domésticos e industriais. Em nome do progressotudo foi permitido. Os resultados foram a morte dosrios, o desaparecimento dos peixes, prejuízos à econo-mia, mal estar social e inundações. Apesar da crescentetomada de consciência da sociedade, as questões funda-mentais estão apenas tangenciadas. A mentalidade seto-rial, utilitarista e imediatista ainda é amplamentehegemônica.

A Meta 2010 expressa a crença em novos tempos,ela é fruto do movimento social. O Projeto Manuelzãovincula a concretização da sua proposta a uma açãocoordenada no território da bacia hidrográfica. A idéiacentral é trazer o peixe de volta às águas desta bacia, deforma natural, através da renaturalização e despoluiçãoda bacia. Este objetivo operacional pontual comum ala-vanca uma série complexa de ações transdisciplinares etransinstitucionais, transformando a volta do peixe emindicador de qualidade de vida e de meio ambiente. Amobilização social e a credibilidade pelos resultados jáobtidos tornaram possível a Expedição que desceu oVelhas e agora o lançamento da Meta 2010, com a mag-nitude social que está adquirindo.

Editorial

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OPINIÃO3MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Governo abraça Meta 2010

A"Meta 2010: Navegar, pescar e nadar nacalha metropolitana do Rio das Velhas",elaborada a partir da Expedição Manuelzão

desce o Rio das Velhas, foi apresentada pelo coorde-nador do Projeto, Apolo Heringer, ao governador deMinas, Aécio Neves. Posteriormente, Apolo reuniu-se

com José Carlos Car-valho, secretário deestado do meio ambi-ente, que informou adecisão do governo:adotar a meta comoplano de trabalho. Ementrevista ao JornalManuelzão, José Car-los Carvalho avalia ameta e explica comoserá a atuação dosórgãos estaduais para aimplementação da pro-posta.

Jornal Manuelzão - Qual é a sua apreciação sobrea Meta 2010?

José Carlos Carvalho - Grandes projetos e grandesrealizações nascem dos sonhos de gente empreendedoraque trabalha sério para concretizá-los. A Meta 2010 sesitua no universo de ambições coletivas que informamos sonhos pelos quais vale a pena lutar e juntar esforços.A Secretaria de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável jamais ficaria de fora de ações que podemdar à nossa gente mais orgulho de ser mineiro.

JM - Que razões levaram o Governo Mineiro aaceitar a proposta da Meta?

JCC - A preocupação constante e o compromissocom a melhoria das condições ambientais do estado. Arecuperação de um rio é feito que marca qualquercomunidade, pois representa, de certo modo, a recupe-ração simultânea de nossa humanidade, já que todossabemos da imprescindibilidade da água para a existên-cia e garantia de vida. Conservar nossos mananciais deágua é uma das prioridades básicas da SEMAD. OsComitês de Bacias que estamos, através de vigorosa

ação do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM),implantando e apoiando em todo Estado, testemunhamnossa preocupação com o uso racional e inteligentedesse recurso. Nada mais coerente com essa postura doque o nosso apoio às atividades que visam recuperar oRio das Velhas, principal tributário do São Franciscoque hoje surge no cenário nacional como a grandeesperança de redenção do semi-árido brasileiro.

JM - Como será a participação do GovernoEstadual nesse projeto?

JCC - Antes de mais nada, queremos estar presentes eativos nas discussões sobre prioridades e encaminhamen-to das ações de suporte ao empreendimento. Em todo oprocesso, todos os nossos órgãos vinculados estarãoincluindo em seus planos de ação trabalhos capazes decontribuir para a concretização deste Projeto. Entre elas asatividades de recomposição de matas protetoras denascentes, de educação ambiental e de comunicação,visando a tornar as populações ao longo da calha do Riodas Velhas cada vez mais conscientes da importância departicipar da sua recuperação e revigoramento.

Neste ano, o Projeto Manuelzão fez seu sétimoaniversário. Comemorando esta trajetória,citamos aqui o comentário feito há seis anos

pelo professor Francisco César de Sá Barreto (ex-reitorda Universidade Federal de Minas Gerais durante operíodo 1998/2002; ex-presidente da SociedadeBrasileira de Física no período 1993/1997; e membrotitular da Academia Brasileira de Ciências).

"O raio emitido durante uma tempestade, o contornoda costa brasileira, a folha de samambaia, renda-por-tuguesa, terremotos na Califórnia, o batimento de umcoração saudável, o movimento financeiro das ações nabolsa de valores são acontecimentos ou fenômenos quepossuem características comuns. São sistemas comple-xos, caóticos, que apresentam propriedades de auto-si-milaridade e auto-organização e possuem dimensões

geométricas fractais. Fenômenos dessa natureza podemser construídos ou simulados a partir de regras muitosimples e, em geral, possuem uma variável de controle,a mais relevante, que é responsável pelo seu comporta-mento. A projeção das demais variáveis nesta variávelcontrole permite o acompanhamento da evolução do sis-tema complexo. ‘A volta do peixe ao rio’, que é o motedo Projeto Manuelzão é a expressão-síntese que repre-senta um sistema complexo, a bacia hidrográfica do Riodas Velhas, um sistema integrado e diversificado, cujavariável relevante é o peixe. Se o peixe volta ao rio, tudomais acontece, acompanhando simultaneamente, ouquase, esse retorno. Da mesma forma que muitos fenô-menos aconteceram propiciando o quase desapareci-mento do peixe. Toda a região se organiza nos maisdiferentes aspectos: sociais, administrativos, político,

econômicos, ecológicos, educacionais, nas suastradições folclóricas,etc. É um sistema inte-grado, apesar de diver-sificado; um sistemacomplexo, funcionandona sua criticalidade; umsistema cujo comporta-mento global é definidoa partir do peixe devolta ao rio. ProjetoManuelzão, um exem-plo de sucesso a serseguido, um exemplode complexidade, tãocomum na natureza."

Projeto Manuelzão comemora sete anosde trabalho pela volta do peixe ao rio

EEmmbbaarrqquuee nneessttaa iiddééiiaa!!EEmmbbaarrqquuee nneessttaa iiddééiiaa!!

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Foto: Arquivo Projeto Manuelzão

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COMITÊS

MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 20044

CBH Velhas decide reconhecer comitêsde sub-bacias

"OComitê da Bacia Hidrográfica do Riodas Velhas não dá conta de fazer agestão de uma bacia deste tamanho,

estando sediado em Belo Horizonte". Assim o presi-dente do comitê, Apolo Heringer, resumiu a importânciade uma gestão descentralizada da bacia do Rio dasVelhas. Em reunião realizada no dia nove de dezembrodo ano passado, os membros do CBH Velhas discutirame aprovaram que os comitês de afluentes serão reco-nhecidos como subcomitês consultivos, com ativa par-ticipação na gestão ambiental das águas.

Nessa reunião também foi eleita uma comissão quevai elaborar e apresentar uma proposta de regimentopara os subcomitês. Essa regulamentação será encami-nhada a todos os comitês de sub-bacias, e aqueles quedesejam ser reconhecidos oficialmente pelo CBHVelhas terão que se adaptar. Segundo Apolo, o reco-nhecimento dos subcomitês vai dinamizar a gestão daságuas, pois eles poderão encaminhar formalmente pro-jetos, sugestões, críticas, metas etc. "Os comitês vãoassumir um papel de co-gestores da bacia do Rio dasVelhas", afirma Apolo.

CCoommiittêêss ssee pprreeppaarraammOs comitês dos ribeirões Arrudas e Onça já vêm

sendo articulados com vistas ao reconhecimento peloCBH Velhas. Para atender às leis federal e estadual degestão das águas, a coordenação dos comitês deve ser

formada por uma equipeonde estejam representados,de maneira igualitária, asociedade civil organizada,os setores governamentais eos empresários usuários daágua. O Comitê do RibeirãoArrudas se reuniu no dia 14de fevereiro para eleger osseus 18 representantes, seisde cada setor. Da mesmaforma, o Comitê do Ribeirãoda Onça já nasceu com aparticipação dos três setorese marcou para o dia 16 demarço uma reunião, em queApolo vai discutir o reco-nhecimento e as medidasnecessárias.

O articulador do Comitêdo Ribeirão Arrudas,Antônio Leite, também dágrande importância ao reconhecimento dos subcomitês.Segundo ele, até mesmo os representantes dos afluentesmais remotos do Rio das Velhas vão poder ter voz juntoa um órgão legalmente reconhecido. Para isso, Antônioressalta a necessidade de "organização da base", ou seja,da articulação dos pequenos comitês para que se possacriar um "fórum oficial para ouvir as demandas dessabase".

Membro do comitê do Ribeirão da Onça, TarcísioPinheiro diz que a descentralização é fundamental paraa gestão das águas. Ele afirma que é uma forma deaproximar as deliberações do CBH Velhas dos locaisonde os problemas acontecem, o que permite maior par-ticipação e mobilização social. Para Apolo, a propostanasceu vitoriosa, permitindo uma transferência real depoder de gestão.

Comitê do Onça criado com a participação dos três setores da sociedade

Moradores de General Carneiro, distrito deSabará, denunciam o despejo de entulhonesta localidade às margens do Ribeirão

Arrudas. O local mais afetado foi a área conhecida comoCampo do Marzagão. Segundo o representante comer-cial e morador da região, Ronisley de Souza, há aproxi-madamente seis meses o entulho vem sendo depositado.

Ronisley ainda afirma que alguns moradores sãoconiventes com o despejo, pois esta seria uma forma deaumentar o terreno, diminuindo o leito do rio. O entu-lho é derramado próximo aos barrancos e empurrado emdireção ao ribeirão. Em uma outra região, conhecidacomo Campinho, próxima ao Campo do Marzagão, tam-bém é possível ver um bota-fora com as marcas dospneus dos caminhões e tratores. Ronisley diz que não háuma fiscalização eficiente e que já foram feitas denún-cias. O gráfico industrial Ronaldo Moraes, também

morador de General Carneiro,ressalta que além do assoreamentodo rio, o despejo de entulho "atra-palha o lazer", já que Campo doMarzagão é usado em partidas defutebol.

Segundo o engenheiro florestalda Secretaria Municipal de MeioAmbiente de Sabará, Marcos dosSantos, a maioria dos caminhõesque despejam o entulho vem deBelo Horizonte. Ele diz que exis-tem outros pontos de bota-fora, amaioria ao longo da rodoviaBorba Gato, que liga BeloHorizonte a General Carneiro.Marcos afirma que esta região éusada devido à proximidade da

capital e ao fato de não possuir uma fiscalização policialintensiva, como acontece nas rodovias maiores.

Marcos ainda atesta que a administração regional daprefeitura já tomou algumas providências, como, porexemplo, fechar a entrada do Campo do Marzagão paraimpedir o acesso de caminhões. Ele diz que a Prefeiturade Sabará não tem condições de fiscalizar durante as 24horas do dia e muitos caminhões fazem o despejodurante a noite. Também foi realizada uma parceria coma Polícia Ambiental para tornar a fiscalização mais efe-tiva. Segundo o sargento da Polícia Militar de MeioAmbiente, José Orlando de Oliveira, os motoristas queforem flagrados serão detidos, multados e terão os ca-minhões apreendidos.

As legislações ambientais de Belo Horizonte eSabará tratam dos bota-foras. O artigo 140 do Decreto11.601 de 9 de Janeiro de 2004 proíbe "a utilização demargens de cursos d´água para bota-fora" em BeloHorizonte. Já em Sabará, o artigo 31 do decreto 258 de06 de março de 2002 regulamenta que a movimentaçãode terra para este fim, se pode causar degradação ambi-ental, depende de autorização prévia da SecretariaMunicipal de Meio Ambiente.

Para o secretário de administração regional daPrefeitura de Sabará, José Borges, é necessária umaação em conjunto com a Prefeitura de Belo Horizonte."Tínhamos que ter uma fiscalização permanente paracoibir a vinda de caminhões de BH", diz.

Bota-fora às margens do Arrudas

Comitês dos afluentes se adaptam para conseguir o reconhecimento legalMARCO ANTÔNIO PESSOA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

MARCO ANTÔNIO PESSOA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

Em Sabará, o entulho é despejado e empurrado em direção ao Ribeirão Arrudas

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Foto: Pablo Curty

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COMITÊS

MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004 5

Proteção legal não garante conservação

Acriação da Área de Proteção Ambiental(APA) Serra do Cabral, no município deLassance, não tem sido suficiente para

garantir que a região seja conservada. Apesar da APA tersido implantada em 29 de maio de 2001, de acordo coma Lei Municipal 827, a falta de infra-estrutura adequadade fiscalização ainda compromete as riquezas da Serra.Queimadas, extração mineral, criação de gado e des-matamento são alguns dos problemas que ocorrem naárea.

A Serra do Cabral está localizada na região centro-norte de Minas, no Baixo Velhas, e ocupa uma área de11.500 km2. As veredas que surgem em meio aos ter-renos arenosos compõem o cenário da Serra, que tam-bém exibe as belezas das flores do cerrado. Córregoscristalinos sinalizam uma das grandes riquezas do local:a água. Nas rochas da região também é encontradogrande número de pinturas rupestres.

Toda a riqueza da Serra está, entretanto, ameaçadapela falta dos cuidados necessários à manutenção epreservação da APA. É o que aponta o engenheiro flo-restal responsável pelo relatório de levantamento daAPA, Marcos Aurélio Sartori. Segundo a Prefeitura deLassance, ainda não existe uma equipe treinada pararealizar a fiscalização da área. Também não há pontosde apoio na Serra.

As queimadas são freqüentes na região e ocorrem,sobretudo, no período de seca, que compreende osmeses de julho a setembro. O coordenador do comitêlocal do Projeto Manuelzão, Walandir Ferreira Filho,explica que quando o fogo entra nas áreas de pedreirapode durar até um mês sem que ninguém veja. A própriacomunidade ajuda a combater os incêndios.

Além da destruição da vegetação nativa, asqueimadas também acarretam a migração de animaispara outras regiões. Segundo Walandir, muitos animaisacabam descendo e morrendo nas estradas, e tambémpodem causar problemas aos moradores, como é o casoda onça, que migra para os locais de pastagem.

Outro problema na Serra apontado pelo coordenadordo comitê é a extração de cristal que, segundo ele,ocorre ilegalmente. O pisoteio do gado nas regiões devereda também ajuda a comprometer os olhos d'água. O

relatório de levantamento da APA mostra que asqueimadas das veredas e do cerrado para renovação depastagem têm ocasionado a eliminação de espécies ve-getais nativas.

CCoonnsscciieennttiizzaaççããooAbrir o caminho, sem controlar a passagem: o que

deveria facilitar pode acabar comprometendo. Os ca-minhos para chegar aos atrativos naturais da Serra doCabral são cada vez mais conhecidos. Segundo aprefeitura, foram abertas estradas que dão acesso aosprincipais pontos turísticos da região, rica emcachoeiras, veredas e rochas com registros primitivos.Mas, além de não haver fiscalização, também não há

infra-estrutura para receber os visitantes.O coordenador do comitê local do Manuelzão desta-

ca a importância de que haja uma conscientização maiorsobre a APA. Walandir aponta que há uma deficiênciamuito grande de informação. "O poder público passapouco o que está rolando", afirma. Para ele, o que pre-cisaria ser feito é envolver os moradores na fiscalizaçãoe colocar pontos de apoio e referência por causa dofogo, divulgando que a área é uma APA. Segundo aprefeitura, são feitas campanhas de conscientização nasreuniões dos conselhos comunitários e também têm sidofeitos investimentos em infra-estrutura para ecoturismo.A prefeitura afirma, ainda, que deverão ser construídasbarreiras de fiscalização até maio.

AAPPAA - SSeerrrraa ddoo CCaabbrraall

A Serra do Cabral se estende pelos territórios de seis municípios: Lassance, Augusto de Lima, Buenópolis, Joaquim Felício,Francisco Dumont e Várzea da Palma. Apenas Várzea da Palma não criou uma Área de Proteção Ambiental. Dessa forma, a Serrado Cabral conta com cinco unidades de conservação municipais.

A responsabilidade pela fiscalização das áreas é das prefeituras, que deveminvestir 50% do ICMS Ecológico nas áreas deproteção. De acordo com a Lei Estadual 12.040/95, sobre o Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), os municí-pios que preservam os recursos naturais e promovem o saneamento ambiental somam pontos que determinam o percentual dareceita de ICMS que irão receber. O secretário de agropecuária, meio ambiente e extensão de Lassance, Cláudio Kinoshita, nãosoube informarsobre a aplicação do imposto no município.

A instalação de uma APA não impede que haja o uso da terra, mas exige cuidados maiores no manejo. Kinoshita explica queas atividades já implantadas podem continuar, mas não existe mais a possibilidade de abrir a exploração de novas áreas.

Mata do Morcego motiva caminhada ecológica

CAROLINA SILVEIRA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

Veredas surgem em meio à seca do cerrado na Serra do Cabral

Falta de fiscalização coloca em risco riquezas naturais da Serra do Cabral, em Lassance

Aestação de metrô do bairro Eldorado,município de Contagem, foi o ponto de par-tida da caminhada ecológica que aconteceu

na manhã do dia 25 de janeiro. A mobilização foi orga-nizada pelo Comitê Manuelzão do Córrego Ferrugem ereuniu representantes de diversos setores da sociedade.O objetivo era conhecer melhor as belezas e os proble-mas da Mata do Morcego, localizada próximo à divisaintermunicipal de Belo Horizonte e Contagem.

Aproximadamente 40 pessoas se reuniram em frenteà estação do metrô e, antes do início da caminhada, fi-zeram uma roda e se apresentaram. Participaram da visi-ta, além dos membros do Comitê Ferrugem, integrantesdas ONGs Vibra Mais (Vida para Bacia do RibeirãoArrudas - Meio Ambiente e Integração Social),Conviverde, Asamor (Associação dos Amigos da Mata

do Morcego), da Casa do Movimento Popular e doCentro de Ecologia Integral. A Secretaria de MeioAmbiente de Contagem e a Copasa também estavam

representadas. A caminhada contou ainda com a pre-sença de moradores do bairro, professoras, radialistas ecrianças.

Durante o trajeto da caminhada dentro do bairro, osparticipantes paravam para observar trechos de córregoscanalizados. Na visita, foi possível constatar a existên-cia de um bota-fora próximo a uma das nascentes daregião. Na mata, por sua vez, o passeio é cercado de flo-res e pássaros e em alguns momentos era possível ver oCórrego dos Carneiros, afluente do Ferrugem.

A Mata do Morcego tem esse nome por ter o forma-to de um morcego de asas abertas. O Córrego dosCarneiros possui dois braços, que correm um em cada"asa da mata". Os membros da Asamor temem adegradação da área verde, que abriga as nascentes docórrego. A associação luta pela criação de um parque naregião, que deverá se chamar Parque Ecológico ManuelNardi, em homenagem a Manuelzão.

CAROLINA SILVEIRA E SÍLVIA ARAÚJO

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

Antes de entrar na mata, participantes observam bota-fora

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MEIO AMBIENTE6 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

A culpa é da chuva?

"Chuva causa destruição." "Chuva matasete pessoas." Todo ano, essasmanchetes se repetem. Mudam perso-

nagens, mas as tragédias acontecem da mesma forma. E,apesar de sua incontestável importância, a chuva pareceser vista como a grande vilã, que causa estragos, "levavidas, casas", como menciona uma campanha dearrecadação de donativos. Mas será que é mesmo achuva a grande responsável pelas perdas decorrentes deinundações e deslizamentos de terra?

Como afirma a geóloga e professora da UFMG,Maria Giovana Parizzi, "a natureza tem os seus fenô-menos. A questão é como conviver com esses fenô-menos e tirar proveito deles, ou pelo menos ter quali-dade de vida nessa convivência". Giovana explica que,muitas vezes, o homem agride o ambiente e induz fenô-menos, como deslizamentos, por ocupar espaços deforma inadequada.

QQuuaannddoo aa áágguuaa ssoobbeeNeste ano, como em tantos outros, houve várias

enchentes, cheias de rios. Mas por que ocorrem as inun-dações? Isto é, por que tantas ruas e casas são tomadaspela água? O primeiro fator que devemos considerar é aocupação inadequada de áreas que podem ser alagadasno período chuvoso.

Por isso, é importante haver planejamento urbano.Giovana explica que quando se planeja uma cidade,considera-se qual é o índice pluviométrico da região, ouseja, quanto chove a cada ano. Assim, definem-se asdimensões de galerias pluviais a serem construídas e asáreas normalmente alagadas às margens dos rios.

Entretanto, a geóloga alerta que mesmo quandomédias de chuvas não se alteram, os rios em muitoslugares recebem mais águas. Por quê? "Antes a águainfiltrava mais. Agora a água corre superficialmente eprocura os lugares mais baixos, os vales. Isso se deve àimpermeabilização do solo. Com asfalto, cimento, aágua da chuva não encontra caminho para infiltrar naterra, para poder chegar numa nascente e abastecer o rio.Ela corre superficialmente e chega até o rio de uma vez.A natureza proporciona um determinado intervalo quan-do não há ocupação, mas o homem acelera esse proces-so, porque ele impede que a água infiltre".

Muita gente, então, pensa que as canalizaçõespodem resolver os problemas de convivência com cur-sos d'água nas cidades. Mas não é bem assim. "Riosextravasam seu leito, mesmo canalizados", afirmaGiovana. Além disso, a canalização geralmente desres-peita o curso normal de um rio, e o retifica. A trajetóriaé maior quando o rio é cheio de curvas do que quandose faz uma reta, então se perde área, concentra volume eaumenta velocidade da água. (Veja mais sobre canaliza-ções na pag. 7)

QQuuaannddoo aa tteerrrraa ddeesscceeOutra séria questão no período chuvoso é a ocorrên-

cia de deslizamentos de terra, tecnicamente chamadosde escorregamentos. Giovana Parizzi explica que escor-regamentos são associados à gravidade. "A água infiltrano terreno, aumenta o peso do material, que cai pelagravidade." É um fenômeno que acontece naturalmente,mesmo em matas. As características naturais do terrenointerferem. Por exemplo, em Belo Horizonte, há o filito,

um tipo de rocha lisa, extrema-mente suscetível a escorrega-mentos.

Mas, em muitos casos, ohomem pode provocar e ace-lerar deslizamentos. "Àsvezes, os cortes que as pessoasfazem, quando preparam o ter-reno para construir as casas,são completamente inadequa-dos. São cortes que expõemalguma estrutura da rocha,provocando uma situação dedesequilíbrio", explica ageóloga.

Giovana ressalta: "ao cons-truir no morro, é preciso muitocritério para colocar fundaçãoadequada, porque a inclinaçãojá é um aspecto que favoreceescorregamento". E expõe um problema social: "a obratem que ser muito bem feita e é mais cara. As pessoas dafavela não têm condição de custear. É necessária a ori-entação de profissionais, como geólogos, engenheiros, eé preciso financiar. Quem vai financiar um barraco?"

Além das obras inadequadas, outro fator muitasvezes associado aos deslizamentos é a erosão, que, porsua vez, está associada à ausência de cobertura vegetal.Se uma área está sem vegetação, a chuva começa a terum impacto direto no solo e a arrancar partículas dessesolo. A água vai escoando e erodindo o terreno.Formam-se então buracos, valas, onde, muitas vezes,ocorrem escorregamentos.

É importante saber que tipo de vegetação é melhorpara proteger o solo, pois dependendo do que se plantapode-se favorecer o escorregamento. É o caso, porexemplo, de bananeiras, que têm raízes rasas e colabo-ram para a retenção de água superficialmente no solo,favorecendo deslizamentos.

MMeeddiiddaassAo falar das medidas necessárias para minimizar os

efeitos negativos da chuva, Giovana pondera as dificul-dades atuais decorrentes do processo histórico. "Ascidades já estão prontas. Então, para refazer as coisas épreciso retirar pessoas, mudar a concepção do que éurbanização. Parece que não se tinha uma idéia dos ver-dadeiros efeitos que as chuvas iriam ter nas cidades. Acidade se expande rapidamente e há uma perda de con-trole da qualidade da construção e um crescimento de-

sordenado", avalia.No caso das inundações, a geóloga acredita que é

preciso fazer um mapeamento das áreas possíveis deserem alagadas. Reconhecer onde acontecem problemasno caso de enchentes e analisar por quê. Se for imper-meabilização, tem que se pensar em fazer alguns tiposde pavimentações para permitir que a água infiltre oucriar áreas de infiltração. Deve-se retardar a chegada daágua ao rio e fazer com chegue com menos velocidade.Giovana explica que é um projeto grande, e não é rápi-do. Para ser concretizado, várias gestões de governo têmque assumi-lo e priorizar verbas.

No caso dos deslizamentos, para uma soluçãodefinitiva também é necessário muito investimento."Primeiramente, pessoas que estão morando em áreasque não têm a mínima condição de recebê-las, tem queser retiradas. Não há como fazer obra com barracos ali.Se a reconstrução fica muito cara, por causa da fun-dação necessária, pode ser mais viável encontrar umlocal mais adequado para construir. Tudo depende deestudo, para ver o que é melhor. Como existe uma dis-puta por espaço muito grande, talvez seja necessárioconstruir prédios."

Segundo a geóloga, várias vezes a ocupação acon-tece antes da urbanização, e urbanizar um local já ocu-pado é muito mais difícil, pode ser até impossível. Porisso, ela considera fundamental que o poder públicoplaneje onde urbanizar, e evite que áreas que não têmcondição de receber moradores sejam ocupadas. "É pre-ciso administrar a ocupação".

Bairro Ribeiro de Abreu, em BH: riscos de deslizamentos e inundações

EEmm BBeelloo HHoorriizzoonntteeEm BH, existe desde 1993 o Programa Estrutural em

Áreas de Risco (Pear), que é operacionalizado pelaCompanhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). O Pearrealiza vistorias, ações preventivas durante o ano e de mo-nitoramento no período chuvoso.

Os trabalhos começaram com um diagnóstico de áreas,que, em 94, apontava a estimativa de 15 mil famílias emrisco alto e muito alto nas vilas e favelas. A Urbel está fazen-do a atualização desse diagnóstico. Com os números levan-tados até o momento, a previsão é de 10 mil.

A Urbel formou 45 Núcleos de Defesa Civil com osmoradores. Eles são treinados para evidenciar sinais de peri-go, monitorar as chuvas, conhecer os cuidados necessários,e atuam como multiplicadores nas comunidades.

Entenda como acontecem inundações e deslizamentos de terraMARINA TORRES

Jornalista

DDiiccaass

Não jogue lixo nas encostas e córregos. Isso aumenta o peri-go de deslizamentos e enchentes.

Não plante bananeiras nos morros.Fique atento aos sinais de deslizamentos:· Cercas, árvores e postes inclinados;· Trincas nas paredes ou no chão, perto de barrancos;· Muros e paredes embarrigados.Fique atento aos sinais de inundação:· A água do córrego sobe rapidamente (mesmo se não esti-

ver chovendo) e fica barrenta. Telefones úteis: 199 - Defesa Civil 193 - Corpo de BombeirosDisque Vistoria Urbel - 3277-6409

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MEIO AMBIENTE7MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Canalizações alteram cursos d'água

As águas de um rio ou córrego naturalmenteprovocam um processo de erosão, cavam umescoamento e esculpem o caminho por onde

passam. No momento em que as cidades se desen-volvem, o ser humano provoca alterações nesse leitonatural. As pessoas, então, começam a colocar revesti-mentos resistentes nos leitos dos rios e assim surge otermo canalização, que pode ser feita de diversasmaneiras, com ou sem concreto, segundo José RobertoChamps.

Champs é gerente do Programa Diretor deDrenagem Urbana de Belo Horizonte e coordenador doDrenurbs, Programa de Recuperação dos Fundos deVale e dos Córregos em Leito Natural. Após a criação doDrenurbs, qualquer forma de canalização deixou de seradotada na capital.

Porém, para muitas pessoas, tal prática continuasendo a melhor forma de se integrar um rio ao municí-pio. Célia Zatti, da Superintendência de PlanejamentoAmbiental de Contagem, explica que isso ocorre aindaporque esse paradigma de não canalizar é relativamenterecente. "É uma mudança cultural dificílima de fazer,pois está muito internalizada ainda a idéia de que essemétodo seja sinônimo de saneamento", diz.

UUssoo ddee ggaabbiiããooA cidade de Vespasiano, região metropolitana de

Belo Horizonte, faz parte da bacia do Ribeirão da Mata,e é uma das mais afetadas por suas cheias. Com o obje-tivo de minimizar esse impacto durante o período chu-voso, a prefeitura propôs um projeto de canalização deum trecho do ribeirão que corta o centro do município.

A proposta da prefeitura para tentar conter essasenchentes consiste, resumidamente, em alargar a calhado ribeirão num percurso de 1.300 metros, para melho-rar sua vazão, e conter as margens colocando gabião(conjunto de pedras revestido por tela metálica).Segundo Paulo Diniz, secretário municipal de planeja-mento, a canalização precisa ser feita, pois "não há outraalternativa" para conter as cheias do ribeirão.

"Hoje não adotamos mais o uso do gabião em BH,pois já adquirimos razoável experiência com ele", contaChamps, referindo-se ao Córrego da Ressaca (região daPampulha) e ao Córrego Bom Sucesso (região doBarreiro). Ele explica que essa estrutura flexível, quepermanentemente está se acomodando, pode sofrer rup-tura a qualquer momento, devido à instabilidade dosolo. "Tivemos vários desses exemplos de colapso do

gabião devido à instabilidade de paredes nos leitos decórregos", lembra.

Outro problema relaciona-se com a tela do gabião.Ela reduz a velocidade da água, devido à sua alta rugosi-dade, e cria uma resistência ao escoamento. O coorde-nador do Drenurbs explica ainda que a tela é um fator deretenção de resíduos e lixo. Ao serem retidos, propiciamo aparecimento de uma vegetação que muitas vezes setorna prejudicial também ao escoamento.

Além disso, as pedras, ao reterem material orgânicode esgotos e lixos, favorecem o aparecimento de ratos,baratas e escorpiões. "Temos alguns gabiões que sãoverdadeiros viveiros desses animais", conta. Dessaforma, os peixes e outros animais aquáticos que antesviviam naquele ambiente, com o gabião, são substituí-dos por essa fauna nociva ao ser humano.

OOuuttrraa pprrooppoossttaaSegundo Patrícia Salomão, da Secretaria de Obras e

de Serviços Públicos da Prefeitura de Vespasiano, "apopulação espera ações para acabar com as enchentesque assolam o comércio e o centro da cidade". Por isso,defende o projeto da canalização, que custará 14 mi-lhões de reais, provenientes do Ministério da Integração,dos Transportes, da Copasa (renovação de contrato) emais 20% do município. "Não temos condições de fazermais nada", diz.

Em fevereiro, a Feam deu parecer contrário à obra, eirá apresentar uma proposta alternativa para revitaliza-ção do Ribeirão da Mata. A discussão agora será levadaao Conselho Estadual de Política Ambiental, que irádecidir pela aprovação ou não do projeto apresentadopela prefeitura. Antes, porém, o Copam aguardará oparecer do Comitê da Bacia do Rio das Velhas (CBHVelhas), que ainda não foi consultado.

PPaassssaaggiinnhhaa ccaannaalliizzaaddooJá em Curvelo, localizada no Baixo Velhas, houve a

canalização (com uso de cimento) de um dos afluentes

do Córrego Santo Antônio no ano passado. A prefeiturapossui um projeto, em andamento, de recuperação dessecórrego que passa dentro da cidade. A idéia é fazer inter-ceptores nas suas duas margens levando o esgoto, futu-ramente, para uma estação de tratamento. "É uma pers-pectiva de investimento de dez anos que será negociadocom a Copasa", conta o secretário de planejamento,Dalton Canabrava Filho

"O afluente Passaginha era meramente uma grota. Opercentual de esgoto chegava próximo de 90%", explicaDalton sobre a razão de tê-lo canalizado. Célia Zattiafirma: "conheço esses argumentos, e não são ver-dadeiros. São usados para dificultar outro tipo desolução, como a integração do córrego natural ao ambi-ente urbano".

Além da canalização, foram construídos algunsinterceptores às margens do Passaginha que levamesgoto até próximo à foz do córrego no Santo Antônio.Está prevista também uma avenida sanitária (via detráfego com interceptores) de 800 metros. Champsesclarece que "a Copasa sempre defendeu a necessi-dade de urbanizar o fundo de vale para poder colocaros interceptores". Porém, ele discorda dessa posição."É preciso sanear a cidade real, ou seja, colocar osinterceptores de esgoto nas margens dos córregos,mesmo que não tenham sido implantadas essasavenidas sanitárias".

RReessuullttaaddoossCanalizações como essas de Curvelo e Vespasiano

trazem uma série de conseqüências ambientais negati-vas. Um dos motivos alegados para a construção dessestipos de obras é o fato de que contribuem para evitarinundações. "Na verdade, a enchente eliminada no tre-cho canalizado, devido a retificações, foi apenas trans-ferida para mais à frente", explica Champs.

Outro efeito danoso dessas canalizações é provoca-do pelo aumento da velocidade da água, que contribuipara eliminar as comunidades aquáticas. Além disso, háo prejuízo do ponto de vista cênico, como alertaChamps. Se antes havia um curso d'água natural, comsua beleza natural, "passa a ter agora uma cicatriz ali nosolo".

Colapso da parede em gabião do Córrego da Ressaca

MMeeddiiddaass ppaarraa rreeccuuppeerraaççããoo

Suponhamos um córrego passando dentro de umacidade, assoreado devido ao processo de acúmulo de se-dimentos gerado por erosões, recebendo esgoto e lixo domunicípio, tendo ainda uma população vivendo às suasmargens, sujeita a inundações e deslizamentos. De queforma recuperar um córrego como esse, incorporá-lo comsuas condições naturais à paisagem urbana?

O primeiro passo é agir na bacia hidrográfica. À medi-da que toda bacia esteja saneada, com esgoto e lixo cole-tado, erosões combatidas, não se terá poluição dentrodesse córrego. Outra ação é promover a remoção dasfamílias que moram nas áreas de risco de inundação, o quesignifica indenizá-las, e proporcionar outras moradias.

Por último, Champs destaca ainda a participação dacomunidade que mora na região. "Proteger os mananciaisde água, criar comitês de defesa do córrego, estimular odesenvolvimento de uma consciência coletiva e crítica deproteção da natureza" são alguns dos fatores apontadospor ele durante o processo de educação ambiental e recu-peração de um córrego.

Diferentes formas de intervenção prejudicam condições naturais de rios e córregos

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Estudante de Comunicação Social da UFMG

Córrego Passaginha canalizado ano passado, em Curvelo

Foto: SUDECAP

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REPORTAGEM ESPECIAL8 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Peixamento não é melhor alternativapara repovoar rios

Naquele rio que passa próximo à sua casa, poralgum motivo, os peixes começaram a mor-rer e o número de espécies do local está só

diminuindo. A solução mais lógica para o problema,então, seria a introdução de mais peixes no local paraque haja o seu repovoamento, certo? Bom, as coisas nãosão tão simples assim.

Embora o peixamento, como é conhecida essa práti-ca, pareça ser recomendável, ele pode causar uma sériede consequências negativas para o lugar. Assim, o queseria um aliado para a recuperação ambiental, podeacabar contribuindo para a degradação. "Peixamentonão resolve problema de rio nenhum, não é a solução. Éuma técnica de manejo, apenas uma ferramenta pra usarquando julgar necessário", alerta o biólogo CarlosBernardo Mascarenhas, o Cacá, coordenador do sub-projeto SOS Rio das Velhas, do Projeto Manuelzão.

Atualmente, peixamento realizado com espéciesexóticas é considerado crime ambiental (leia box).Mesmo assim, grande parte das introduções artificiaisde peixes é feita com essas espécies não nativas. Umpeixe africano, como a Tilápia, por exemplo, é exóticoaos rios brasileiros. "Pessoas com a média de 30 anosque moram na beira do Rio das Velhas acham que atilápia é uma espécie nativa. Introduzida na década de70, ela se adaptou", esclarece Cacá. Atualmente, sãosete espécies exóticas no Velhas, de um total de 107reconhecidas.

Ainda referindo-se à tilápia, o biólogo explica que

ela come de tudo, desde material vegetal até outros pei-xes. Assim, uma espécie nativa que tenha hábitos ali-mentares semelhantes irá sofrer concorrência. Ou ainda:peixes menores e menos resistentes podem virar presasfáceis, ocorrendo o desequilíbrio do ecossistema natu-ral.

É essencial ainda estudar geneticamente uma espécieantes de introduzi-la no meio aquático. "Peixes usadosnessa prática precisam ser de boa qualidade, compará-vel com a observada na natureza e ter variabilidadegenética razoável", pondera o biólogo. De forma con-trária, a alteração da composição genética das popu-lações originais será uma das conseqüências. Podeacontecer de uma espécie que possua uma doençagenética, por exemplo, cruzar com uma outra saudável(hibridismo), afetando a fauna local e provocandomudanças ambientais irreversíveis.

MMoonniittoorraammeennttooDepois de avaliar o ambiente, saber se ele está propí-

cio para receber mais peixes, escolher a espécie adequa-da, ainda há que se monitorar. "Quando recomendamoso peixamento, pedimos controle do peixe (marcação emonitoramento), o que muitas vezes não é cumprido",afirma Marcelo Amarante, coordenador de gestão dapesca e agricultura do IEF (Instituto Estadual deFlorestas).

Existem técnicas para marcar o peixe e acompanhá-lo até a vida adulta. Apesar de ser algo dispendioso,Cacá acredita que o monitoramento seja uma ferramen-ta primordial para se continuar fazendo ou não o peixa-mento. "É o mesmo que dar um remédio para umpaciente e não fazer seu acompanhamento: para certaspessoas a dose pode ser pouca, para outras, provocaralergia", compara o biólogo.

Quando você passar por um rio próximo de ondemora, e achar que antigamente ele tinha mais peixes,dificilmente a técnica do peixamento irá solucionar oproblema. No Rio das Velhas, por exemplo, onde aindase joga esgoto, existem a mineração e a retirada de águapara a irrigação, alterando o meio ambiente, não adiantasimplesmente pegar o peixe e jogá-lo novamente no rio.Ele irá morrer devido à poluição ou a outro problemaambiental. São necessárias ações para que o rio volte aser o mais próximo do que ele era antes. Isso irá fazercom que haja o aumento das populações de peixes e orepovoamento natural.

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A partir da década de 30, o Departamento Nacional deObras contra a Seca (Dnocs) passa a ser referência no país,em termos de piscicultura (criação de peixes em tanquesartificiais). Espécies criadas em açudes no Nordeste sãointroduzidas em rios e reservatórios das regiões sul e su-deste, apontando o uso freqüente de espécies exóticasnessa prática.

Após esse período, a piscicultura nacional passa poroutra fase de desenvolvimento na década de 70. Comoforma de minimizar os impactos causados pelas barragens,os peixamentos tornaram-se constantes.

"A mudança de mentalidade está ocorrendo. Furnas,por exemplo, possuía espécie exótica, e hoje já não astem", garante Cacá. Sobre a legislação atual, embora nãoproíba o método do peixamento, ela exige licenciamentopara tal, e considera crime ambiental a prática realizadacom espécies exóticas, segundo as leis número 9.605/98(federal) e a de número 12.265/96 (estadual).

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Ainda é comum a Justiça exigir o peixamento, como medida compensatória, em casos de crimes ambientais praticados porempresas mineiras. Quando o assunto é mortandade de peixes, essa prática é uma das medidas mais usadas para o repovoa-mento de um rio. Tanto a Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente), quanto o IEF atuam nesses casos e ambos afirmamque indicam o peixamento somente depois de estudo prévio. "O método é recomendada após uma mortandade, mas primeiropedimos análise das condições locais para tal", explica Alcione Ribeiro de Matos, coordenadora de Atendimento de Eventos comMortandades de Peixes da Feam.

O coordenador da Promotoria de Meio Ambiente da Bacia do Rio das Velhas e do Paraopeba, Dr. Carlos Eduardo Dutra, afir-ma que "antes de ocorrer o peixamento, também exige um estudo das espécies e do local". O promotor diz que para determi-nar que a prática seja efetivada, consulta órgãos ambientais, como a Feam, o IEF, o Projeto Manuelzão e toda a comunidadeenvolvida.

Isso nem sempre ocorre em toda bacia do Rio das Velhas e com todos os promotores. Em 2001, Lagoa Santa recebeu pei-xamento com tilápia (espécie exótica) sem fazer qualquer consulta aos órgãos citados. "A promotoria de lá exigiu que assim ofosse e não nos consultou", conta Marcelo Amarante, do IEF.

Introdução artificial de peixes pode provocar desequilíbrio na fauna aquáticaLOURAIDAN LARSEN

Estudante de Comunicação Social da UFMG

Piscicultura na região de Curvelo

Foto: Carlos Bernado M. Alves

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Tilápia: espécie exótica encontrada no Rio das Velhas

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REPORTAGEM ESPECIAL9MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Exploração de nova mina gera polêmica

Quem mora em áreas cercadas por morros,onde operam mineradoras, certamente játestemunhou a transformação de montanhas

em crateras. O histórico de degradação causado poressas atividades acaba gerando receio diante do inícioda exploração de mais uma reserva. A MBR(Minerações Brasileiras Reunidas) já se prepara paracomeçar os trabalhos na mina de Capão Xavier, municí-pio de Nova Lima, Alto Velhas. Argumentos contráriose favoráveis vêm alimentando as discussões em torno doprojeto.

A área a ser explorada é uma jazida de minério deferro pertencente à MBR e localizada próxima a quatromananciais que abastecem a cidade de Belo Horizonte:os ribeirões Mutuca, Fechos, Catarina e Barreiro. Umaação popular está sendo movida, desde dezembro passa-do e pretende impedir qualquer ato que viabilize aexploração da mina de Capão Xavier. O grupo que movea ação é composto por três pessoas: o engenheiro civilRicardo Santiago, o jornalista Gustavo Gazzinelli e oadvogado Otávio Freitas.

A ação questiona a legalidade do projeto e cita a LeiEstadual 10.793/92, que proíbe uma série de atividades,entre elas, extração mineral ou vegetal, em áreas demananciais. Eles temem que se comprometa o abasteci-mento da capital, tanto em termos da quantidade deágua, quanto da qualidade. A ação é movida contra oEstado de Minas Gerais, a Feam (Fundação Estadual deMeio Ambiente), o Copam (Conselho Estadual dePolítica Ambiental), a Copasa e a MBR. O engenheiroacusa os órgãos públicos de estarem sendo "coniventescom as ilegalidades cometidas pela mineradora". Em 17de dezembro passado foi concedida uma limiar favorá-vel à ação popular, porém a MBR conseguiu que elafosse suspensa. A advogada do grupo que move a açãojá apresentou argumentos para que a liminar seja recon-siderada e, independente deste resultado, a ação conti-nuará tramitando até que se tenha uma decisão final.

O gerente de meio ambiente da MBR, LeandroQuadros Amorim, argumenta que a lei proíbe a ativi-dade desde que esta interfira nos padrões mínimos dequalidade das águas, o que, segundo ele, não é o caso deCapão Xavier. De acordo com a ação, o empreendimen-to compromete os mananciais, já que os expõe a perigo,ainda que eles sejam monitorados. O superintendente derecursos hídricos e de meio ambiente da Copasa, ValterVilela Cunha, afirma que a companhia está segura emrelação ao projeto apresentado pela MBR no que dizrespeito aos recursos hídricos.

Leandro coloca que foram feitos estudos sobre osmananciais da região durante cinco anos, juntamentecom a Copasa. Quando a exploração da jazida alcançaro lençol subterrâneo, será feito o bombeamento dessaágua para rebaixar o nível do lençol e dar continuidadeà extração. Leandro diz que não haverá comprometi-mento dos mananciais do Parque Estadual Serra do RolaMoça, como se temia, mas poderá haver uma redução de40% no volume de água do manancial de Fechos, quefaz parte do sistema de captação da Copasa.

Segundo o gerente, essa redução será compensadacom repasse para a Copasa da água subterrânea que serábombeada. Ele afirma que essa diminuição do volumede água em Fechos poderá ser revertida com o fim dasatividades de extração, quando, segundo ele, será for-

mado um lago na cava que foi aberta. "O nível d'águavai voltar à posição original e isso faz com que os flu-xos subterrâneos voltem a correr", explica Leandro.

Ricardo Santiago questiona que a lei não abre a pos-sibilidade de se fazerem trocas. "Se uma lei diz que évedada a instalação ou a concessão de licenças para aexploração de atividade mineral à montante da captaçãode águas de abastecimento público, essa lei tem que serrespeitada", argumenta o engenheiro. Deputados daComissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais daAssembléia Legislativa de Minas Gerais fizeram, noúltimo dia três de março, uma visita às instalações daMBR e deve ser marcada uma audiência pública paraque todos os envolvidos possam debater a questão.

LLiicceenncciiaammeennttooO processo de licenciamento da mina teve início no

dia 27 de agosto de 2002. Das três licenças exigidas pelaFeam para que o empreendimento seja feito, a MBR jáobteve duas e aguarda que o órgão conceda a terceira,que é a de operação. Também foi firmado um termo decompromisso com o IEF (Instituto Estadual deFlorestas) e, em dezembro do ano passado, a Câmara deProteção à Biodiversidade do Copam aprovou o planode compensações ambientais apresentado pela empresa.Ainda devem ser feitas discussões com o Comitê daBacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas).

Um dos pontos do plano de compensação ambientalapresentado pela MBR é a doação de áreas rurais, numtotal aproximado de 1.018 hectares, para o ParqueEstadual Serra do Rola Moça. De acordo com a propos-ta de doação dos terrenos, deverá ser feito um investi-mento imediato de 422 mil reais no parque, que rece-berá, durante a vida útil da mina, uma receita anual de

100 mil reais. Está sendo desenvolvido, ainda, um pro-grama de salvamento da flora local.

Para a implantação da atividade, também foram assi-nados acordos com a Copasa e com as prefeituras deBelo Horizonte e de Nova Lima. No bairro JardimCanadá, situado próximo à mina, também foram feitasnegociações com um grupo de moradores e com aAssociação Comunitária São Judas Tadeu. O presidenteda associação, Edmar Rodrigues Viana, diz que a maio-ria dos moradores é favorável e acredita que haverámelhoras no bairro com os investimentos prometidospela MBR, que devem chegar a dez milhões de reais,segundo o gerente de meio ambiente da empresa.

Ação popular tenta impedir início das atividades mineradoras na jazida de Capão Xavier

CAROLINA SILVEIRA E MARCO ANTÔNIO PESSOA

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

Ao centro da foto, região que a MBR pretende explorar

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Uma mineração envolve as seguintes estruturas: acava, de onde é retirado o produto, as instalações industri-ais para o beneficiamento do minério, pilhas de estéril, for-madas com um material sem valor econômico retirado dacava e as barragens de rejeitos, formadas com as sobras dobeneficiamento. Leandro Quadros Amorim explica que emCapão Xavier haverá apenas a cava, porque serão uti-lizadas as instalações já prontas da Mina da Mutuca, loca-lizada próxima à nova jazida e que encerrou seus trabalhosapós 40 anos de atividade. O rejeito e o estéril serão colo-cados na cava da Mutuca, de forma a reestabelecer atopografia do local. Tudo será levado para a Mutuca emuma estrada particular da MBR, que já foi construída. Amina de Capão Xavier possui uma reserva estimada de 173milhões de toneladas de minério de ferro e sua vida útildeve ser de 22 anos, de acordo com os dados da empresa.

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CIDADANIA10 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Plástico é usado para fazer artesanato

Foi assistindo a um programa de TV, que DonaAlcedir aprendeu a fazer artesanato com gar-rafas de plástico. Desde o ano passado, a dona

de casa Alcedir Martins Maestre junta as pets de refri-gerante que usa em casa com as que ganha de seus vizi-nhos para fazer vasos de flores. Olhando de longe, vio-letas, hortências, tulipas que enfeitam sua casa, emRibeirão das Neves, Grande BH, nem parecem ser deplástico. Parecem reais. "Onde eu vou que encontro umaflor bonita eu falo: ah, essa vai dar para fazer", conta.

No seu quintal, há todo tipo de folhagem, e é deleque surge a maioria de suas inspirações. "Por eu ter aplanta aqui em casa mesmo, posso copiar da próprianatureza". O material que usa para fazer seu artesanato

é simples. Além das garrafas pet, gasta também tintaplástica, verniz e, em algumas flores, grampos, argila eargamassa.

Alcedir explica que faz os moldes olhando para asflores de verdade. Ela conta que a samambaia é a maisdifícil de fazer: precisa cortar cerca de 25 garrafas, eleva quase uma semana para deixá-la pronta. "Dá umtrabalho arretado". Nessa folhagem, usa duas mãos detintas, depois a coloca para secar e passa verniz. Asamambaia é a única que não dá para usar molde, "façopor meio de golpe de vista mesmo", explica.

"Chegou um tempo que a mamãe tava com os dedosdas mãos tudo em calo", lembra sua filha LucimarMaestre, que diz já terem sido usadas mais de 3.000 gar-rafas e criados mais de 200 vasos de flores. Só para sefazer uma hortência, por exemplo, são gastas mais de 15pets.

Dona Alcedir nunca fez exposição de seus trabalhos,devido à dificuldade de transporte. "Não temos carro,mas, pelo boca-a-boca mesmo, dependendo do mês,vendemos cerca de duas flores por dia". Ela diz quemuitas pessoas a procuram para comprar e dar as floresde presente de aniversário. A média de preço é de 15reais por vaso de flor.

A família de Alcedir é toda de artistas. Ela conta quesempre fez pintura em pano de prato, e que mexia comtricô. Suas filhas também trabalham com pintura e seumarido fazia esculturas em madeira. Sobre o motivomaior de fazer das garrafas verdadeiras flores, a artistaexplica: "minha vida toda eu adoro plantas. As árvoresda minha rua fui eu que plantei. Quando saio de casa evejo uma planta que acho bonita, pego e trago pra cá, oupra servir de molde ou pra plantar aqui no quintal".

"Parecia que o córrego estava morto.Conversando com o meu cunhado Nízio,a gente resolveu mexer nele. Então ele

deu uma enxadada no córrego e a gente viu a água bro-tar, viu que ele ainda estava vivo. A partir desse dia eucomecei o trabalho de melhorar essa região, de protegero córrego". Foi assim que Ernesto Soares da Conceição,mais conhecido como Seu Nonô, começou a cuidar danascente de um pequeno córrego no quintal de sua casa.Com apenas 300 metros de extensão, é o único afluentevivo do Córrego da Baleia, já que todos os outros foramsoterrados ou canalizados.

Esses cursos d`água fazem parte da bacia doRibeirão Arrudas. O córrego ainda não tem nome, masSeu Nonô pensa em batizá-lo de Córrego dos Joãos, jáque na região há muitos moradores com esse nome,incluindo o seu pai. Seu Nonô tem 61 anos, é aposenta-do e vive no bairro Paraíso, região Leste de BeloHorizonte, desde 1947. Durante sua infância, ele e seusirmãos brincavam no córrego, que era limpo. O aposen-tado conta que a poluição foi ocorrendo gradativamente:"não dá para precisar quando o córrego ficou poluído.Eu só posso dizer que, em 1991, ele já estava pratica-mente morto". Foi nesse ano que Seu Nonô iniciou seutrabalho.

Começou a limpeza retirando grande quantidade delixo e entulho que obstruía a nascente. Até hoje, Seu

Nonô já retirou do córrego cerca de 700 sacos de lixocontendo material plástico e 45 caçambas cheias deentulho.

Entretanto, a nascente continuava poluída pelo esgo-to da vizinhança, que era escoado diretamente para suaságuas. Seu Nonô decidiu então canalizar esse esgoto,

construindo um desvio paralelo ao curso do córrego, deforma que ele só fosse despejado mais à frente, já pró-ximo ao córrego da Baleia. Nossa equipe de reportagemprocurou a Copasa, que até o fechamento do jornal, nãoinformou se há projetos para construção de interceptoresde esgoto na região.

RReessuullttaaddoossCom a limpeza do córrego, ocorreu o aparecimento

de pássaros na região, o que colaborou para a dissemi-nação de sementes. A área, cuja vegetação era escassa,aos poucos foi sendo revitalizada, resultando nadiminuição do assoreamento do córrego. Seu Nonôacompanha essas mudanças, e já identificou mais de 60variedades de espécies vegetais. Ele também conta quea região, depois da limpeza, passou a ser moradia de seismicos, sendo dois deles filhotes.

O trabalho de Seu Nonô proporcionou melhoria daqualidade de vida na região. "Depois que eu comeceiesse projeto o mau cheiro acabou. Aqui tinha muito rato,mosquito, pernilongo, e agora não tem mais". Segundoele, o ideal seria que todo o córrego fosse revitalizado.

Seu Nonô tem motivado a comunidade a cuidar docórrego. Ele afirma que uma de suas vitórias mais signi-ficativas foi a conscientização das pessoas sobre anecessidade da revitalização: "uma das coisas maisimportantes que eu consegui foi o não capeamento docórrego, o que muitas pessoas já quiseram fazer. Aminha política é não manilhar córrego nenhum, mas simdeixá-los abertos e limpos".

Garrafas deixam de ir para o lixo e são transformadas em flores

LOURAIDAN LARSEN

Estudante de Comunicação Social da UFMG

CLÁUDIA MENDONÇA E GÉSIO PASSOS

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

Alcedir exibe samambaia feita com garrafas petBromélias e hortências feitas com plástico reaproveitado

Morador de BH preserva nascente no quintal de casa

"O rio deve ser livre como um pássaroAlegre como as flores do campoDeixar e levar saudadesMas nunca morto e triste Em uma caixa de concreto."

(Seu Nonô)

Foto: Louraidan Larsen

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CIDADANIA11MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Água é tema da Campanha daFraternidade deste anoIgreja trabalha para alertar a população sobre a importância dos recursos hídricos

"Água, fonte de vida". Com este lema, aCampanha da Fraternidade, organizadapela Conferência Nacional dos Bispos

do Brasil (CNBB), trata o tema "Fraternidade e Água"em 2004. Dessa forma, a Igreja Católica pretende cons-cientizar a sociedade de que a água é uma necessidade eum direito de todos, e mobilizar a população para queeste direito seja garantido para todas as gerações.

A escolha da água como tema da Campanha reflete apreocupação com o risco de sua escassez e de agrava-mento das condições de vida para grande parte da po-pulação mundial. Segundo a ONU (Organização dasNações Unidas), 40% da humanidade terá problemas defalta de água em 2025. "É urgente e fundamental que,em todos os povos e nações, seja fomentada uma cons-ciência profunda dos riscos que o planeta corre, pelosdescuidos a que as águas vêm sendo submetidas, emespecial, a água potável", alerta o arcebispo metropoli-tano de Belo Horizonte, Cardeal Dom SerafimFernandes de Araújo. “A Igreja quer estar ao lado detodas as iniciativas em favor da preservação da água”,completa.

Em Belo Horizonte, existe uma comissão arqui-diocesana responsável pelo desenvolvimento da

Campanha, que conta com o apoio de ONGs e doConselho Nacional de Igrejas Cristãs - Seção MinasGerais (CONIC-MG). A comissão propõe que todas asparóquias organizem celebrações utilizando a simbolo-gia da água e formem equipes paroquiais que pro-gramem atividades específicas, tais como: estudo dotexto-base da Campanha, conhecimento da realidadelocal em relação à água e adoção de nascentes ou córre-gos. Sugere-se, ainda, o apoio a projetos de educaçãoambiental, como o Projeto Manuelzão, o Amigo daÁgua, e o estímulo à participação das pessoas noscomitês de bacias hidrográficas.

A Campanha apóia também encontros que tenhamcomo centro de discussão a água, como o "Formaçãopara lideranças jovens - Campanha da Fraternidade2004", promovido pelo Projeto Amigo da Água e CentroMarista de Pastoral (CMP) no dia 15 de fevereiro, noColégio Marista Dom Silvério. O evento reuniu diver-sos jovens e procurou, por meio de oficinas e palestras,despertar nas pessoas sentimentos em relação à água aoaprofundar-se em seu conhecimento, capacitando lide-ranças para disseminação do aprendizado. Ao final dasatividades, foram propostas e estimuladas atitudes pes-soais e coletivas em defesa da água.

No sábado, dia 28 de fevereiro, a Arquidiocese deBelo Horizonte lançou oficialmente a Campanha emum evento na cidade de Rio Acima, a 41 km de BH. Aescolha do local, às margens do Rio das Velhas, ocor-reu, segundo a coordenadora da Campanha na arqui-diocese de BH, Eva Torres, por ser um rio de grandeimportância, já que abastece e leva vida para BeloHorizonte e outras cidades. O evento contou com a par-ticipação de representantes de diversas paróquias, doCardeal Dom Serafim, do secretário de meio ambientede Minas Gerais, José Carlos Carvalho, de membros doProjeto Manuelzão, de ONGs como o Amigo da Água,e da sociedade em geral.

PEDRO AMORIM CORRÊA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

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O objetivo de enquadrar as águas do Rio das Velhas, na região metropolitana de BH, como Classe II até o ano de 2010, parapodermos navegar, pescar e nadar nesta região, surgiu como resultado da Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhas. Essa éa proposta da "Meta 2010". Segundo o coordenador geral do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, "a Expedição nos deuum conhecimento mais próximo da problemática porque passamos a conviver com o rio de dentro pra fora, vendo o continentea partir das águas".

Para a concretização da Meta, o Projeto Manuelzão contará com importantes parcerias e apoios, mobilizando entidadespúblicas, privadas, e setores da sociedade em geral. Apolo afirma que o casamento dos temas e valores da Campanha daFraternidade e da Meta 2010 fortalece a mobilização social e a concretização dos objetivos de ambos. "A defesa da biodiversi-dade é estar de bem com Deus", afirma o coordenador. Para ele, essa parceria caracteriza-se pela ligação da ciência e da teolo-gia, tendo como ponte a água. O Cardeal Dom Serafim acredita que "a Igreja e o Projeto Manuelzão estão se dando as mãos, esomente vão 'largar' as mãos, quando forem pescar, juntos, no Rio das Velhas". O lançamento oficial da Meta será no dia 22 demarço (Dia da Água), mas haverá pré-lançamentos durante a Campanha da Fraternidade.

O Cardeal Dom Serafim Fernandes fala, às margens do Velhas,sobre a Campanha da Fraternidade 2004

"Do chão árido brota a vida. O segredo está na águaderramada por mãos cuidadosas. A água é umanecessidade de todos os seres vivos e um direito dapessoa." (Cartaz da campanha)

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Segundo a CNBB, o objetivo geral da Campanha da Fraternidade é provocar a renovação da vida da Igreja e a transformaçãoda sociedade, a partir de problemas específicos, educando para a vida em fraternidade. A 1ª edição da Campanha da Fraternidadeaconteceu em 1964, com o tema "Igreja em Renovação". A 1ª fase da Campanha, que durou até 1972, abraçava temas em buscada renovação interna da Igreja. Posteriormente, a Igreja voltou sua preocupação para a realidade social do povo, com temascomo trabalho, saúde, vida, violência e educação. Na 3ª e atual fase, a Igreja volta-se para situações existenciais do povobrasileiro. A escolha dos temas vem sendo feita cada vez mais com a participação das regionais da CNBB, que recolhem sugestõesdas Dioceses.

Foto: Pedro Amorim Corrêa

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MANUELZÃO VAI À ESCOLA12 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Avolta às aulas na Escola Municipal UniãoComunitária (EMUC) traz além de disci-plinas como matemática e português o

retorno das atividades ambientais da escola. Por su-gestão dos próprios alunos, essas ações são parte do cur-rículo escolar desde 2002 na EMUC, localizada no bair-ro Cardoso A, na região do Barreiro em Belo Horizonte.As atividades ambientais abrangeram, até hoje, visitas àEstação de Água de Ibirité, diagnóstico do ambiente naReserva da UFMG e sensibilização sobre questõescomo o consumismo e o desperdício. "Através da reali-dade cotidiana, os alunos podem observar questõescomo poluição das águas, preservação da natureza ecidadania", comenta a professora, idealizadora e orien-

tadora das atividades, Tamara Félix Lana.A partir do trabalho de campo realizado, de uma

palestra dada aos alunos pelo Centro de EcologiaIntegral e dos estudos sobre o meio ambiente feitosdurante as aulas, os estudantes criaram o ManualECOmunitário. Essa cartilha, abordando o tema lixo-água-comunidade, foi distribuída pelas crianças de portaem porta aos moradores dos bairros Santa Cruz,Miramar, Cardoso A e Urucuia, com a ajuda do Grupode Escoteiros Coronel Vicente Torres Júnior.

Atualmente, é feita pela EMUC a coleta seletiva dolixo. Toda semana o lixo separado é recolhido peloSistema de Limpeza Urbana (SLU) e reciclado."Catamos papel, juntamos lixo reciclável e entregamospara que algumas famílias carentes vendam", conta aaluna Naiane Almeida, de 12 anos.

Os projetos ambientais desenvolvidos na escola con-

tam com as parcerias do Projeto Manuelzão, da ONGVibra Mais e do Projeto Amigo da Água. Desde 2002, oProjeto Manuelzão apóia as ações ambientais da EMUCque, de certa forma, impulsionaram a mobilização dacomunidade para a articulação, em agosto de 2003, doComitê Barreiro-Bacia do Ribeirão Arrudas.

Este ano, está incluída no calendário escolar aDezena Ecológica, dez dias de festividades, palestras eapresentações na EMUC, programada para os dias 27 demaio a 5 de junho. Os coordenadores das atividadesambientais também pretendem, em 2004, adotar umapequena praça rotatória no bairro. Além disso, seráintensificado o trabalho de campo com os alunos, quetem o objetivo de conseguir uma maior integração entreescola e comunidade. Serão feitas, ainda, visitas àsnascentes do Córrego Urucuia e encontros commoradores da região.

Ao longo de três anos, a parceria entre oProjeto Manuelzão/UFMG e a Secretaria deEstado da Educação de Minas Gerais

(SEE/MG) tem procurado construir o processo de edu-cação ambiental comprometido com os princípiosdefinidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs) e pela Lei Federal 9.795.

A lei 9.795 de 27/04/1999, que tornou obrigatória aeducação ambiental no ensino fundamental, definiu osprincípios básicos que deverão nortear o processopedagógico, que são: o enfoque humanista, holístico,democrático e participativo; a abordagem articulada dasquestões ambientais se faz pelo pluralismo de idéias; apermanente avaliação crítica do processo; a vinculaçãoentre ética, educação, trabalho e práticas sociais.

Dessa forma, o Manuelzão Vai à Escola almeja amudança de comportamento/hábito das pessoas, atravésde uma educação ambiental comprometida com a for-mação do cidadão; a interação entre homem e naturezade forma harmoniosa e busca a construção dessa idéiajunto às escolas da bacia do Rio das Velhas.

Para consolidar essa nova compreensão, o ProgramaGestão Ambiental Escolar (PGAE) convida a escola arepensar as suas relações com o meio ambiente em quese encontra, tornando-a mais aberta à participação dacomunidade e mais democrática.

Esse novo Programa tem como objetivo estabeleceruma nova prática que configure a relaçãohomem/natureza através do compromisso da escola coma solução de problemas concretos, nos municípios, nasáreas de saúde, cidadania e desenvolvimento sustentá-vel, tendo os cursos d'água como eixo de mobilizaçãopara solução de problemas ambientais e a volta dos

peixes como indicador da qualidade das águas e donosso trabalho.

O Programa foi lançado nos meses de setembro eoutubro de 2003, no Centro de Referência do Professor,da SEE-MG, com a apresentação do seu conteúdo e pro-posta de trabalho. Desde já, algumas escolas abraçarama idéia e iniciaram os trabalhos tendo como parceiros osestagiários de Pedagogia da UEMG (Universidade doEstado de Minas Gerais). As parcerias com a PUC(Pontifícia Universidade Católica) e com o CentroUniversitário FUMEC estão sendo realizadas para que aelaboração de projetos de Educação Ambiental tenhaincentivo e acompanhamento nas escolas.

O documento de referência do Programa estádisponível para download no site do Projeto Manuelzão(www.manuelzao.ufmg.br). Mais informações comLísia, Simone ou Regina (Manuelzão Vai à Escola) notelefax (31) 3248-9810.

OComitê Manuelzão do Brejinho, localizadona região da Pampulha em BH, há três anosluta pela criação de um parque municipal. A

área era uma propriedade particular, mas já foi desapro-priada pela prefeitura, que se comprometeu a imple-mentar o parque.

Com a criação do parque, espera-se garantir apreservação da nascente do Brejinho e de outros cincocórregos da região.

Dentro do processo de mobilização em defesa dacriação do parque, o comitê realizou o concurso dedesenhos "O Parque dos Meus Sonhos". Crianças deescolas da região fizeram ilustrações, mostrando comoelas desejam que o parque seja.

Ao lado, você confere alguns dos desenhos sele-cionados no concurso, feitos por: 1) Paula, 11 anos;2) Jessica, 11 anos; 3) Pedro, 3 anos; 4) Iago, 11 anos.

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As águas que brotam na nascente do Brejinho chegamao Rio das Velhas que as leva ao São Francisco. Por isso, onome completo do Comitê do Brejinho é "Comitê Águas doSão Francisco e Nascentes do Brejinho".

O parque dos meus sonhos

FRANCIELE PEREIRA E LÍLIAN DE SOUZA

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

LÍSIA GODINHO E SIMONE ESTEVES

Colaboradoras

Estudantes participam de projetos ambientais

O que é o Programa Gestão Ambiental Escolar?

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MANUELZÃO VAI À ESCOLA13MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Premiando a educação

Estava cheia a sala do Centro de Referência doProfessor (CRP) da Secretaria de Estado daEducação, na manhã do dia 17 de dezembro.

Foi lá que ocorreu a entrega dos prêmios do concurso deredações e desenhos sobre a Expedição Manuelzãodesce o Rio das Velhas. Havia muitos estudantes, pro-fessores e diretores de várias escolas da bacia do Rio dasVelhas.

O coordenador geral do Projeto Manuelzão, ApoloHeringer, falou na abertura da solenidade sobre aimportância de se revitalizar o Velhas, principalmentesuas águas que passam por Belo Horizonte. "Espero queas crianças que estão aqui continuem amigas do rio eque as escolas continuem a trabalhar questões doProjeto", disse.

Em seguida, foi a vez dos caiaqueiros Ronald Guerra(o Roninho) e Rafael Bernardes falarem sobre aExpedição e sobre o apoio recebido das escolas durantea viagem. Rafael contou que esse apoio foi "imenso"."As escolas estiveram em todos os eventos e acompa-nharam a gente de perto nas margens do rio", lembrouRoninho.

EEmmooççããooA aluna Joice Pereira, da Escola Estadual Joaquim

de Paula Ferreira, de Várzea da Palma (Baixo Velhas),junto com a professora e a diretora, viajou mais de 400Km para receber seu prêmio na categoria redação. Alémde Várzea, estiveram presentes premiados de Curvelo,Sabará, Santa Luzia, Caeté, São José da Lapa, RioAcima e Raposos.

"Vi a emoção dela me ligando, a menina nem acre-ditou", recorda Ivone Félix, professora da estudanteMariana de Souza, de 11 anos, premiada pelo melhordesenho da 5ª série. Ela conta que nove turmas seenvolveram com o concurso na Escola EstadualSebastião Ribeiro de Brito, em Caeté, onde trabalha. "Agente fica meio mãezona. Passamos por várias 'torturas'no momento da seleção dos mais de trezentos alunosque participaram do concurso", brinca Ivone.

O desenho da menina Mariana se chamou "Lamentodo Rio". Ela explica que colocou um rio chorando e, ao

invés do homem estar pescando, eleestava usando a vara para jogar lixo."Fiquei meio boba na hora, depois queeu acreditei. Quando dei a notícia nasala de aula, todos me aplaudiram egostaram", diz, sorrindo, ao falar sobreo momento em que ficou sabendo quehavia sido premiada.

BBiicciicclleettaaO encerramento da solenidade se

deu com o sorteio de uma bicicletaentre os ganhadores do concurso. JúniorErnesto, de 18 anos, foi o felizardo. Elefez o desenho chamado "A importânciado rio para a nossa cidade", e concorreupela Escola Estadual Dom Cirilo dePaulo Freitas, de Raposos. Quandosoube do resultado do concurso, levouum susto. "Não estava esperando. Foiuma emoção grande". Para ele, a Expedição foi umimportante passo para revitalizar o Rio das Velhas.

Estiveram também presentes no evento membrosdo CRP e das Superintendências Regionais de Ensino,além de alunos e professores da rede estadual e redesmunicipais de educação da bacia. O professor MarcusVinícius Polignano, coordenador do Subprojeto

Manuelzão vai à escola, encerrou falando sobre aimportância da educação ambiental para a revitaliza-ção do Velhas e sobre o papel dos professores nessetrabalho. "Além das informações, vocês passam paraas crianças o carinho e a dedicação de vocês. Queromais uma vez prestar aqui minhas homenagens avocês", disse.

Estudantes e professores da bacia vêm a BH para receber prêmios do concurso de desenho e redação

LOURAIDAN LARSEN

Estudante de Comunicação Social da UFMG

Da esquerda para a direita: a aluna premiada Mariana de Souza, sua mãe e sua pro-fessora Ivone Félix, durante a solenidade

Promovido pelo Projeto Manuelzão e pela Secretaria deEstado da Educação (SEE), o concurso envolveu estudantesde várias escolas da bacia do Rio das Velhas e foi divididoem categorias. Alunos da educação infantil participaramcom desenhos. Estudantes do ciclo básico (1ª a 3ª série),ciclo intermediário (4ª a 6ª série), ciclo avançado (7ª e 8ªsérie) e ensino médio concorreram com desenhos eredações. Ao todo, nove trabalhos foram premiados, sendoum da educação infantil e dois de cada uma das demaiscategorias.

Os estudantes vencedores receberam troféus com ca-ricatura do Manuelzão, camisetas do Projeto, brindes doClube Atlético Mineiro, do Cruzeiro Esporte Clube e daÁgua de Cheiro, além da bicicleta sorteada entre eles.

O Projeto Manuelzão em parceria com a SEE desen-

volve trabalhos de educação ambiental com 1.377 escolaspúblicas municipais e estaduais em toda a bacia. Durante aExpedição, realizada pelo Projeto de 13 de setembro a 11de outubro de 2003 em toda a extensão do Rio das Velhas,ocorreram dezenas de apresentações de estudantes.

Em cada parada da viagem, os expedicionários eramsaudados com homenagens organizadas pelas escolas.Crianças e jovens fizeram declamações de poesias, apre-sentações de dança, teatro, sempre destacando aimportância de cuidar do meio ambiente. Os eventos foramparte de um amplo processo de mobilização, que resultoutambém na produção dos trabalhos para o concurso.

Veja relação dos premiados e de suas escolas no sitewww.manuelzao.ufmg.br

Foi realizada a Semana da Saúde em SãoGonçalo do Bação, distrito de Itabirito, entreos dias 12 e 16 de janeiro. Os participantes

assistiram vídeos ecológicos, palestras preventivassobre saúde bucal e hipertensão arterial e também sobrelixo e meio ambiente.

A Semana foi promovida pelos estudantes deMedicina do Internato Rural da UFMG, sob a coorde-nação da aluna Marina Lemos. Houve também concur-so de redação e desenho para crianças sobre o lixo e omeio ambiente.

Ao lado, os desenhos de Thaís de Fátima SilvérioAugusto e a redação de Tainara Pimenta SilvérioAugusto, ganhadoras do concurso. “Espero que as pes-soas se conscientizem e salvem nossos rios”, deseja amenina Thaís.

Semana da Saúde em São Gonçalo do BaçãoO rio ontem e o de hoje

Antigamente, no tempo da minha vovó, nossos rioseram limpos. Podíamos utilizar suas águas para váriascoisas:

· lavar roupas, vasilhas e alimentos· irrigar plantações· e as crianças podiam nadar nos rios· tinha muitos peixes nos riosPassaram alguns anos e as cidades foram crescendo,

crescendo...Fábricas foram construídas à beira dos rios, poluição

na certa, porque o esgoto das fábricas vai parar nos rios,e o mesmo destino do esgoto das casas, tudo pro rio.

O Projeto Manuelzão está aí para melhorar esta situ-ação. E se todos ajudarem o rio Itabirito e o Rio dasVelhas nós poderemos fazer tudo que nossos avôs fize-ram quando eram crianças.

THIAGO LANZA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

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ACONTECE14 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

"Um dos mais bem sucedidos movi-mentos para revitalização das águas deMinas Gerais". Assim o Projeto Ma-nuelzão foi apresentado pelo programaRepórter Eco, veiculado no dia 18 dejaneiro pela TV Cultura, de São Paulo. Damesma forma, o Globo Rural, nos dias 28de dezembro e quatro de janeiro, e oBiodiversidade em Debate, em primeiro defevereiro, discutiram a questão das águas.A bacia do Rio das Velhas e o ProjetoManuelzão ganharam espaço na televisãoem programas exibidos para os quatro can-tos do Brasil.

A degradação da bacia, as atividadesmineradoras e industriais, a história e osesforços do Projeto Manuelzão para revi-talizar o Rio das Velhas, estes e outros temas foramabordados pelos programas. As pequenas nascentes doVelhas em Ouro Preto, o encontro com o esgoto daregião metropolitana trazido pelos ribeirões Arrudas eOnça e o e o desaguar no Rio São Francisco puderamser vistos em todas as outras bacias do país.

A Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhasapareceu com destaque, sendo que uma das edições doGlobo Rural foi inteiramente dedicada a ela. Isso mostraque um dos seus objetivos foi alcançado: chamar aatenção para a bacia do Velhas e para a necessidade desua recuperação.

Manuelzão nna TTV

Equipe do Globo Rural em entrevista com os expedicionários

Já começaram os trabalhos para a cri-ação oficial do Comitê da Bacia do RioParaúna, o maior afluente do Rio dasVelhas. Localizado na região do BaixoVelhas, o rio nasce no município deConceição do Mato Dentro e deságua entrePresidente Juscelino e Santo Hipólito. Adata prevista para a criação do comitê é 26de junho.

A articulação para a criar o Comitê doParaúna já está sendo realizada há aproxi-madamente dois anos com eventos loca-lizados e pontuais. No período de 6 a 9 defevereiro, foram realizadas reuniões com apopulação e os prefeitos locais onde foiformalizada a proposta do comitê. Foimontada uma comissão composta por ummembro do Gascom (Grupo de Articulaçãoe Suporte aos Comitês Manuelzão) e ummembro de cada município da bacia doRio Paraúna. Esta comissão se reunirá na primeiraquinzena de março para discutir o planejamento demobilização.

O Rio Paraúna, apesar de receber as águas limpas do

Rio Cipó, tem problemas principalmente no que dizrespeito às atividades ligadas ao garimpo, ao lançamen-to de esgotos e ao desmatamento. O comitê será degrande importância para discutir essas questões.

Será realizado nos próximos dias dois e três abril o 4ºSeminário do Projeto Lixo e Cidadania na Bacia doVelhas. O evento é realizado pela Feam (FundaçãoEstadual do Meio Ambiente) em parceria com o ProjetoManuelzão, e acontecerá no Sesc Venda Nova, noAuditório do Teatro Cine. O seminário constitui o encer-ramento da primeira fase do Projeto Lixo e Cidadania,com apresentação e avaliação dos resultados e das pro-postas para o desenvolvimento da segunda fase.

O Projeto Lixo e Cidadania existe há dois anos e temo objetivo de prestar assessoria técnica para a imple-mentação de melhorias nas áreas de destinação final dosresíduos sólidos em municípios da bacia do Rio dasVelhas. No seminário vão ser realizadas palestras eapresentações que visam discutir o que já foi realizadoe elaborar propostas e metas para a continuidade doProjeto. As inscrições são realizadas até o dia 19 demarço. Mais informações podem ser obtidas pelos tele-fones (31)3298-6455 ou 3298-6453 com Darlin Silva,Jane Pimenta ou Gilvan Brunetti.

Cerca de 250 crianças e adolescentes, moradores daPedreira Prado Lopes, região noroeste de BeloHorizonte, participaram do Projeto Colônia de Férias"Circuito da Criança". As atividades ocorreram duranteo mês de janeiro no Colégio Municipal de BeloHorizonte e contemplaram oficinas de dança, reci-clagem, entre outras, além de visitas a locais como oParque das Mangabeiras e Museu de Arte da Pampulha.

O "Circuito da Criança" procurou despertar uma cul-tura de paz, propiciando às crianças de baixa renda umciclo de cultura e lazer, contribuindo para a diminuiçãode possíveis contatos com as drogas e a violência e for-talecendo as entidades locais.

O projeto foi idealizado pelo Instituto HartmannRegueira, uma organização sem fins econômicos, quedesenvolve ações sociais e de responsabilidade empre-sarial. Diversos parceiros colaboraram para a realizaçãoda colônia de férias, como o Projeto Manuelzão, que seidentifica com o compromisso de cidadania e educaçãoambiental do Circuito.

Criação ddo CComitê ddo PParaúna

Férias eeducativas

Lixo ee CCidadania

Rio Paraúna: maior afluente do Velhas terá um comitê

Foi criada no dia 21 de outubro, a FlorestaEstadual do Uaimii, em São Bartolomeu, distrito deOuro Preto, região do Alto Velhas. Segundo o membrodo Comitê Manuelzão das Andorinhas, Ronald Guerra(Roninho), essa unidade de preservação é muitoimportante para a área, que sofre com a exploraçãopredatória da candeia, árvore utilizada na fabricaçãode mourões para cercas.

O governador Aécio Neves esteve presente noParque Estadual do Itacolomi para as comemoraçõesda Semana Florestal e, entre outros atos, assinou odecreto de criação da Floresta do Uaimii. Nessa ce-rimônia também foi entregue a ele a carta daExpedição Manuelzão desce o Rio das Velhas.

Segundo a consultora contratada pelo Ibama(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis), Celma Melgaço, não se optoupor um parque e sim pela floresta, pois a exploração

da candeia é uma importante fonte de renda para apopulação local. A criação de um parque inviabilizariaessa prática. Com instituição da floresta é possívelpromover o manejo sustentável da candeia e o desen-volvimento do turismo, além de preservar a biodiver-sidade. A unidade de conservação ainda tem o objeti-vo de guardar a região para pesquisa da árvore, proje-to desenvolvido pela Universidade Federal de Lavras.Porém, Roninho denuncia que mesmo após a criaçãoda floresta, o roubo de madeira ainda é um problemana área. Segundo o diretor de desenvolvimento flores-tal sustentável do IEF (Instituto Estadual deFlorestas), Geraldo Fausto, a denúncia será apuradapara que se tomem as medidas necessárias.

O Projeto Manuelzão, as universidades federais deLavras e Ouro Preto, o IEF e o Ibama participaram dogrupo técnico que desenvolveu a proposta de criaçãoda floresta.

Criada aa FFloresta EEstadual ddo UUaimii

O Projeto Manuelzão recebeu, no último diadois de março, em Uberaba, a Comenda da PazChico Xavier. A homenagem é dada pelo Governodo Estado a pessoas e entidades que tenham sedestacado na promoção da paz. Na foto, AntônioLeite, um dos coordenadores do ProjetoManuelzão, recebe a medalha do Presidente dehonra do comitê que administra a Comenda, oprefeito de Uberaba, Marcos Montes.

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CONSCIÊNCIA

15MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

OProjeto Manuelzão está aderindo a uma tec-nologia que une conhecimentos de infor-mática, geografia, cartografia e ciências

afins. Trata-se do geoprocessamento, que pode serentendido, de forma simplificada, como uma ciênciaque combina informações de variadas fontes e formatos,como dados dispostos em tabelas, fotos tiradas viasatélite, e mostra o resultado dessa combinação pormeio de mapas digitalizados.

A principal vantagem que o geoprocessamento ofe-rece em relação à cartografia tradicional é a possibili-dade de visualizar e analisar as informações de formaintegrada e, portanto, mais próxima da realidade. Isso dámaior embasamento para planejar e tomar decisões. "Osdados são mais úteis quando localizados e analisados noespaço geográfico", afirma Carlos Alberto Moura, ana-lista de Desenvolvimento de Sistemas e Geoinformáticada Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais).

Cada ponto no mapa é referido por suas coordenadasgeográficas, latitude e longitude, e contém as infor-mações disponíveis, como população e relevo, porexemplo. A partir daí, basta clicar no ponto ou delimitaruma região para visualizar dados que possibilitam ao

usuário fazer estudos com maior pre-cisão. Os principais programas decomputador utilizados para integrarinformações, criar bancos de dados egerar análises são os chamadosSistemas de Informações Geográficas(SIGs).

É exatamente por essas possibili-dades que o Projeto Manuelzão estádesenvolvendo trabalhos com o geo-processamento. Imaginemos, porexemplo, que os alunos de uma escolasituada na bacia do Rio das Velhassejam acometidos por uma doença cujocontágio se dá pela água. O Projeto, apartir de sua base de dados, poderálocalizar a escola e obter uma série deinformações como: de onde vem aágua que a abastece, qual o trajeto queela percorre e quais as possibilidadesde que seja contaminada ao longo dopercurso. Ao mesmo tempo, poderáassociar informações sobre o históricoda doença na região e saber quais asunidades de assistência médica maispróximas.

A implementação do geoprocessamento no ProjetoManuelzão começou em fevereiro de 2003. "O Projetocresceu muito e com isso veio a necessidade de organi-zar e gerir melhor as suas atividades", explica SílviaMagalhães, coordenadora dessa implementação.

Segundo Sílvia, a etapa inicial desse processo noManuelzão consiste na coleta de dados e sua sistemati-zação. O primeiro passo foi a aquisição de toda a basecartográfica digital disponível no projeto GeoMinas(ver box) e outras instituições. Após análise dessasinformações, iniciou-se a divisão da bacia do Rio dasVelhas em sub-bacias, etapa que já está 80% concluída.Os rios já estão todos localizados e nomeados.

A coordenadora explica que são diversas as situ-ações em que o Manuelzão poderá aplicar o geoproces-samento, de forma a contribuir para o objetivo principaldo Projeto, que é revitalizar a bacia do Rio das Velhas."Ele poderá mostrar as características físicas de cadasub-bacia: cobertura vegetal, uso e ocupação, localiza-ção dos comitês de bacia, escolas, focos de doençasrelacionadas ao ambiente".

No caso das escolas (são aproximadamente 1.500em toda a bacia), o Projeto conseguiu dados sobre as deBelo Horizonte e está financiando a coleta de infor-mações sobre as que estão em outros municípios. A par-tir disso, poderão ser realizados diversos tipos de análi-

ses, como a quantidade de alunos nasescolas com relação à população emidade escolar na bacia. A espacializa-ção geográfica de cada escola é feitacom uso de aparelho receptor deGPS (Global Position System), sis-tema que fornece as coordenadasgeográficas de um local. O objetivodo trabalho é mobilizar a comu-nidade escolar para os problemas dabacia onde ela está situada e, pormeio desse grupo, atingir a popu-lação em geral.

O geoprocessamento passa entãoa exercer um papel fundamental noplanejamento, na articulação e nomonitoramento das ações doscomitês das sub-bacias, fazendo comque essas atuações não sejam maistão pontuais e intuitivas. A criação decomitês a partir de agora será ante-cedida e subsidiada pela criação dabase cartográfica da região. Isso jáestá sendo aplicado na implantaçãodos comitês dos rios Cipó e Paraúna.

O Cipó é afluente do Paraúna, mas os comitês são se-parados porque os rios apresentam feições diferentes edemandam diretrizes específicas.

Um aspecto privilegiado pelo geoprocessamento édesenvolver a noção de pertencimento das pessoas,fazendo-as perceber que não devem se prender adivisões políticas (como bairros e municípios), mas que,principalmente, estão inseridas na bacia do Velhas e emsuas sub-bacias.

Para aproximar o trabalho do geoprocessamento e apopulação, produzindo resultados mais efetivos, serácriado um curso de capacitação para as pessoas envolvi-das no Projeto Manuelzão. O objetivo é dar noções bási-cas de como ler mapas, localizar as regiões que per-tencem à bacia, o que são processos erosivos e biomo-nitoramento, por exemplo. "Quem atua na mobilizaçãocomeça a difundir essas informações técnicas paraimplementar ações sustentáveis", afirma Sílvia.

O exemplo mais recente da importância do geopro-cessamento para o Manuelzão foi o trabalho desen-volvido durante a Expedição Manuelzão desce o Rio dasVelhas, em que "a base cartográfica criada foi funda-mental para a orientação em campo, o que foi reco-nhecido por todos", diz a coordenadora.

TTrrooccaa ddee iinnffoorrmmaaççõõeess

O Projeto GeoMinas foi criado em 1995 com o objetivode integrar o uso da tecnologia de geoprocessamento. Ainiciativa partiu de um grupo de pessoas ligadas ao entãogovernador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo.

A construção de uma base de dados geográfica é umatarefa onerosa. A solução encontrada pelo GeoMinas é aformação de convênios para a troca de informações.Assim, todos se beneficiam de dados gerados pelos outrose evitam duplicar esforços. Ao todo, 42 instituições fazemparte do projeto.

Projeto Manuelzão trabalha com tecnologia avançada

Atividade auxilia na combinação de dados e no planejamento de açõesELIZIANE LARA E NAIARA MAGALHÃES

Estudantes de Comunicação Social da UFMG

Expedicionários consultam mapas durante a viagem

Foto: Arquivo do Projeto Manuelzão

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Geoprocessamento ajuda a planejar

Sílvia Magalhães, responsável pela implementação do geoprocessamernto no ProjetoManuelzão

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PERFIL16 MMAANNUUEELLZZÃÃOO Belo Horizonte, Março / 2004

Viajar no trem que vinha para Belo Horizontee passava exatamente sobre o Rio dasVelhas. A travessia sobre as águas era o

momento mais esperado. Ana Mansoldo nasceu nacidade de Caeté, mas, quando criança, ia constante-mente para a capital. "Aquela quantidade de água, asmulheres lavando roupa, outros procurando ouro. Eraum quadro que nunca me esqueço", lembra com cari-nho.

Ana Mansoldo é psicóloga e trabalha no Setor deAção Comunitária da Copasa há dez anos. Conta quesempre foi muito ligada à questão ambiental de umaforma bem amadora, por pura paixão. Ana cresceu emcontato com a natureza: subindo em árvores, pegandofruta no pé, andando descalça, pegando chuva. "Umainfância muito diferente das de hoje", lamenta. Tãodiferente quanto sua infância, é o atual Rio das Velhas,se comparado ao que a encantou quando criança.

Na década de 70, Ana voltou a fazer a travessia, masdessa vez de forma definitiva. Mudou-se para BeloHorizonte, onde estudou e formou-se em psicologia. Elaconsidera que a formação nesta área foi fundamentalpara o papel que exerce hoje. "Pra lidar com educaçãoambiental você está educando pessoas, e psicologia élidar com pessoas", enfatiza.

Em 1994, foi aprovada em concurso público paraanalista de programas comunitários na Copasa. Foiquando começou a trabalhar com educação sanitária,diretamente com a comunidade, e onde despertou suaindagação de "como cuidar" do meio ambiente. "Vocêvê o descaso que se tem com os córregos, com questõesde saneamento, as condições precárias em que as pes-soas vivem", relata com tristeza.

ÁÁgguuaa NNoossssaa ddee TTooddaa VViiddaaO prazer de trabalhar com mobilização social fez

com que a psicóloga aprimorasse seus conhecimentoscom um curso de Especialização em EducaçãoAmbiental. Segundo ela, o conhecimento acumuladonos estudos lhe "abriu portas para trabalhar com maispropriedade dentro da educação ambiental". Ao final docurso, para poder oferecer à comunidade todo oarcabouço teórico adquirido e formar multiplicadores,Ana Mansoldo elaborou o projeto "Água Nossa de TodaVida".

Ana mantém contato com o Projeto Manuelzão

desde que foi criado, em 1997. Sempre se identificoucom a ideologia e freqüentava, de vez em quando, algu-mas reuniões de comitês. Essa ligação foi fundamentalpara a operacionalização do "Água Nossa de TodaVida". Após ser apresentado à diretoria, que o aprovou,tornou-se necessário firmar parcerias para colocá-lo emprática. Então, Ana apresentou sua idéia ao ProjetoManuelzão e surgiu daí a proposta de levar o trabalhopara dentro dos próprios comitês. Para isso, foi firmadoum convênio entre Projeto Manuelzão, Copasa ePrefeitura de Belo Horizonte, onde foram divididasresponsabilidades.

O trabalho começou em agosto de 2002, basica-mente na sub-bacia do Onça. Ana ressalta a importânciada mobilização, que foi feita com pessoas dos comitês,escolas, centro de saúde, e comunidade em geral. OProjeto Manuelzão mobilizou a população para partici-par das atividades. Até o momento, foram oito turmas, ea previsão é de se abrirem mais quatro no primeirosemestre deste ano. "Esse negócio de ser educadora éuma coisa que está no meu jeito de ser. Sentou na minhafrente, começo a dar aula", conta com entusiasmo.

Segundo a psicóloga, já foram formados cerca de240 educadores ambientais, com idades entre cinco e 90

anos. Ela acredita que esta diferença é a representaçãoda diversidade. "Tem freiras, padres, idosos, crianças,pessoas de todas as fés, cores, ideologias, preocupadoscom a questão ambiental".

Ana dividiu o projeto "Água Nossa de Toda Vida"em dois módulos, sendo o primeiro teórico e o segundoprático. Para ela, o ponto mais importante dos trabalhosestá no segundo módulo, quando os alunos partem paraas visitas técnicas, conhecendo as estações de tratamen-to de água, de esgoto e, principalmente, os bairros. Elaconsidera essa fase crucial, pois a maioria das pessoastem conhecimento apenas do que está mais perto de suascasas. "Cada um conhece seu entorno, mas não o todo",afirma.

A psicóloga acredita, ainda, no que chama de ecolo-gia integral. "As coisas são interligadas e tudo tem a vercom tudo". Segundo ela, todo o trabalho gira em tornode ampliar a percepção das pessoas, para que possamenxergar o mundo e o ambiente de uma outra forma,mais relacionada. "Não adianta querer cuidar da água senão cuida da árvore, de você, do seu filho, vizinho, doemocional, espiritual. É tudo muito interligado", alerta.

DDoo llaaddoo ddee ddeennttrrooAna conta que sempre se emociona quando os então

formados educadores ambientais dizem que perceberamo quanto são importantes para o meio ambiente. "Issopra mim é extremamente gratificante", afirma. "Umacoisa que falo pra eles é que não existe lado de fora, estátudo no lado de dentro". Segundo a psicóloga, as pes-soas contam que não conseguem mais jogar papel nasruas, porque "lembram que estão dentro, que fazemparte do ambiente". É dessa forma que o trabalhoalcança seu êxito e Ana sente-se gratificada, quando aspessoas ampliam suas visões e incorporam o papel deum educador ambiental.

Ela lembra com carinho que, no final do ano passa-do, um líder comunitário a ligou para contar que, pelaprimeira vez em muitos anos, o ribeirão não transbor-dou, porque havia menor quantidade de lixo dentro dele.Ana acha que as pessoas não pararam de jogar o lixo,mas acredita que tenham diminuído a ponto do ribeirãonão transbordar. Ana Mansoldo conta que está muitogratificada com o trabalho, pois, para ela, não é buro-crático, mas um trabalho feito com crença. Sabe tambémque o trabalho feito ainda é muito pequeno, mas temcerteza de que os frutos logo virão: "o que é de pequenonele é a semente, porque a gente deixa uma sementinhanum lugar e ela vai florescer".

Educadora por naturezaPsicóloga Ana Mansoldo tem vida e trabalho ligados ao meio ambiente

PEDRO AMORIM CORRÊA

Estudante de Comunicação Social da UFMG

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