jogo e exercicio

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Ano 2 / Número 3 - Dezembro 2011 10 NP Prof. Bruno Gonçalves A “magia” das Oficinas do Esporte Prof. Marcelo Jabu Vila Romana F.C. Esporte e suas contribuições Prof. Sergio Hortelan O JOGO: Por que sim? Por que não? Prof. Rodrigo Paiva “Quando um não quer, dois não brincam” Prof. Fabio D´Angelo

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texto que favorece o entendimento do papel do jogo e exercício na escola e educação fíci escolar

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Page 1: JOGO E EXERCICIO

Ano 2 / Número 3 - Dezembro 2011

10 NP

Prof. Bruno GonçalvesA “magia” das Oficinas do Esporte

Prof. Marcelo JabuVila Romana F.C.

Esporte e suas contribuições

Prof. Sergio Hortelan

O JOGO: Por que sim? Por que não?

Prof. Rodrigo Paiva

“Quando um não quer, dois não brincam”

Prof. Fabio D́ Angelo

Page 2: JOGO E EXERCICIO

Você acaba de receber a terceira edição da Revista

Cordel Pedagógico, Oficinas do Esporte – IEE. Neste

segundo ano de publicação decidimos manter a

estrutura da revista, com a inovação de convidarmos

profissionais não vinculados ao IEE para manifestar

suas opiniões e suas visões sobre o ensino do esporte

para crianças.

Nesta EDIÇÃO o tema central é o JOGO. Nas Oficinas

do Esporte encaramos o JOGO como o principal

conteúdo de ensino. É o JOGO que fortalece o

nosso método para o ensino de um esporte que

seja inclusivo e para todos. Queremos convidar o

leitor para uma reflexão sobre a idéia equivocada

de que o esporte, ensinado através do jogo, se

resume ao “recrear” ou apenas “ocupar” o

tempo livre dos pequenos. O nosso compromisso

é com o ensino e, como tal, enxergamos no jogo

um potencial educativo que mobil iza

interessantes aprendizagens nas dimensões

social, afetiva, moral, cognitiva e motora. O desafio

está para todos os professores do programa em olhar

para o futuro, sem esquecer do presente. Assim, nas

Oficinas, as crianças praticam aquilo que está na base

dos esportes, isto é, as brincadeiras. As crianças

aprendem a brincar de fazer esporte e os professores

ensinam sobre solidariedade, ética, respeito e

cidadania.

Nossa vontade é motivar o leitor para conhecer o

admirável trabalho realizado por todos os professores

das Oficinas do Esporte e ampliar ainda mais sua visão

sobre o ensino do esporte educacional para as

crianças.

Responsáveis pelo ProgramaOficinas do Esporte

Coordenação GeralFábio D´Angelo

Zona Sul - SP e Caravana do EsporteBruno Gonçalves

O.S. Instituto Esporte & Educação - SPCibele Venâncio

Zona Leste - SPMafalda Marques

Heliópolis - SPBianca Lima

Rio de JaneiroLívia Resende

FICHA TÉCNICA

Redação

Profº FÁBIO D´ANGELO

ArteProfº BRUNO GONÇALVES

COLABORADORES da 3ª EDIÇÃOprofessores(as)

Adriana Vieira Ângela Aparecida Lopes

Bárbara PivátoBianca Lima

Douglas Eduardo Silva João Batista FreireMafalda MarquesMarilene TavaresRomildes Lopes

Tatiane Maciel GarciaTayane Santos Araújo

Boa leitura!

Caro Leitor,

Page 3: JOGO E EXERCICIO

12345

COM A PALAVRA

ENTREVISTA

JOGO 10

PONTO FINAL

p 4

p 8

p 9

p 15

p 28

índice

PARA PENSAR

Cultura Esportiva: Jogando para Valer

“Sabedoria das Artes Marciais”

Lutas para as crianças

Conhecimento do Corpo

Jogos da Família

p 17

p 19

p 21

p 23

p 25

p 12

A MAGIA DAS OFICINAS

Prof. Bruno Gonçalves

Prof. Fabio D́ Angelo

Prof. Marcelo Jabu

Prof. Sergio Hortelan

Prof. Rodrigo Paiva

10

NOSSA PRÁTICANP

Prof. Fabrício de Souza

C

E

b www.esporteeducacao.org.br/blog/oficinas

Page 4: JOGO E EXERCICIO

Nos últimos anos tenho participado de

inúmeras discussões referentes às diferentes

metodológicas de ensino existentes na

dimensão educacional do esporte. Não

pretendo teorizá-las aqui, mas acho

fundamental diferenciar duas orientações

metodológicas bastante contrastantes:

Muitos autores já tentaram definir

conceitualmente o que são os exercícios e os

jogos. A verdade é que ainda hoje há

divergências quanto ao uso destes conceitos,

portanto, farei, intencionalmente, uma

“simplificação”.

Compreendo por exercícios as atividades

repetitivas, previsíveis e com objetivos

alheios/externos ao aluno. Refiro-me às

atividades, propostas pelo professor, que não

envolvam os alunos num contexto que

ultrapasse a dimensão técnica/as habilidades

motoras da modalidade praticada, que não

favoreçam o desenvolvimento de outras

competências relacionadas, inclusive ao

próprio esporte. Em geral, os exercícios são

amplamente utilizados em programas de

ensino de esportes sob a justificativa de

“facilitarem a observação individual”,

“favorecerem a correção/o aperfeiçoamento

da técnica”, “por serem mais específicos”,

“a c e l e ra r e m a a p r e n d i za g e m d o s

fundamentos”, “focarem a atenção dos

alunos nos movimentos realizados”,

“diminuírem a bagunça nas aulas”, entre

outras. Quando penso em exercícios,

freqüentemente me recordo de situações da

infância em que me via obrigado a realizar

algo que me era imposto, que eu realmente

não via motivos para realizar, a não ser, é

lógico, para fugir da punição de não fazê-los.

Foi assim com a matemática, com a física,

com o português e por fim, com os esportes.

Acho fundamental dizer que embora eu, e

provavelmente todas as crianças do mundo,

nunca tenha gostado de realizar exercícios,

hoje reconheço que eles me proporcionaram

muitas aprendizagens. Enfatizo isso para não

dar a impressão de que nada se aprende com

a prática de exercícios, sejam eles mais

cognitivos (como uma equação de segundo

grau, por exemplo) ou motores (treinar uma

manchete contra a parede).

Quando ouço as justificativas que acabei de

comentar, nunca deixo de considerá-las

como válidas, como pertinentes e como

parcialmente verdadeiras. Digo parcialmente

porque quando o professor organiza em sua

aula exercícios bem planejados, é grande a

probabilidade de que a execução, a

aprendizagem e o aperfeiçoamento técnico

dos fundamentos da modalidade que

pretende ensinar sejam efetivamente

favorecidos, justamente sob o argumento de

facilitarem e diminuírem a demanda de

atenção necessária para a execução dos

gestos motores.

COM A PALAVRA

O exercício e o jogo. O exercício e o jogo.

4

Prof. Rodrigo PaivaC

Page 5: JOGO E EXERCICIO

Considero fundamental salientar que os

estudos no campo do comportamento motor

são vastos e sugerem que, quanto menos

experientes forem os alunos em uma

modalidade esportiva, maior a necessidade

de certa “previsibilidade” no contexto de

aprendizagem, neste sentido, os exercícios

podem ajudar os “novatos”. Seriam,

portanto, os exercícios um bom modelo

metodológico para o ensino do esporte em

sua dimensão educacional? Talvez. Sim e não.

Isso mesmo, parece confuso, mas tentarei

explicar a seguir.

Para entendermos melhor as potencialidades

e as limitações do exercício como proposta

m e t o d o l ó g i c a , e s t a b e l e c e r e m o s

comparações com outro método, o jogo.

Como disse, tenho participado de discussões

sobre a adoção do jogo como método de

ensino de esportes. Busquei compreender

um pouco sobre o que é efetivamente JOGO,

mas confesso que não fui muito além da

superficialidade no entendimento deste

fenômeno. Não porque minha dedicação foi

pequena, mas sim pela abrangência de

produções referentes ao jogo, em diversas

áreas, em diversos países e em diferentes

momentos históricos. Permitam-me, de

forma ousada e pretensiosa, defender minha

compreensão simplória e limitada do que é

jogo: Jogo é toda atividade estruturada com

início e fim conhecidos que acontece em

determinado local, com regras previamente

combinadas pelos envolvidos (mas que são

absolutamente obrigatórias), repleta de

tensão e alegria e que busca um ou mais

vencedores. Ufa!!!

O Jogo, nesta perspectiva, é uma combinação

de conceitos. Sei que definir jogo é uma

tarefa igualmente difícil e arriscada, mas

prefiro defender meu ponto de vista a omitir-

me. Quando proponho que os jogos têm

início e fim conhecidos, sugiro que sabemos

exatamente como e quando o jogo termina,

mesmo que esse fim não esteja diretamente

relacionado com o relógio, ou seja, sabemos

que o xadrez pode durar dias, mas quando o

rei é posto em xeque, o jogo acaba. Todo jogo

ocorre num determinado campo, quadra,

rua, tabuleiro, na tela da TV, num pedaço de

papel, etc., portanto num espaço definido.

Todas as regras do jogo podem ser

c o m b i n a d a s d e a c o r d o c o m a s

características, interesses e

necessidades dos jogadores,

n o e n t a n t o , a p ó s t a l

combinação essas regras

devem ser totalmente cumpridas.

Ao jogar dentro das regras combinadas, os

participantes buscam superar uns aos outros

(tensão), tendo mais ou menos êxito (alegria)

dependendo da forma como jogam. Por fim,

mas não menos importante, e talvez o mais

controverso, defendo a idéia de que

todo jogo solicita um (ou

mais) vencedor (es), em

busca de um objetivo

comum (Jogo Cooperativo)

ou contrário.

Há aproximadamente 3

anos (2008), iniciamos

alguns estudos para

justificar o jogo como

modelo metodológico

de ensino de esporte

e d u c a c i o n a l n o

Instituto Esporte e

Educação. Identificamos

que muitos autores

sugerem que os

5

Page 6: JOGO E EXERCICIO

o s j o g o s s ã o m a i s “ m o t i v a n t e s ”,

“envolventes”, “imprevisíveis” e “divertidos”.

No entanto continuamos nos perguntando, o

jogo se justifica por tudo isso ou por

efetivamente ensinar o que pretendemos? È

possível ensinarmos esportes por meio de

jogos? Seria o jogo um método de ensino que

se justifica por efetivamente proporcionar

aprendizagem, ou apenas, por servir de

motivador para os alunos que não se

envolvem com os exercícios? Desenvolvemos

uma pesquisa interessantíssima onde dois

grupos de alunos foram avaliados quanto ao

método de ensino utilizado para a

aprendizagem do voleibol, em outras

palavras, um grupo foi ensinado durante

alguns meses exclusivamente por meio de

exercícios e outro por meio de jogos. Os

resultados nos mostraram que ambos os

grupos, de exercícios e jogos, melhoraram

muito suas habilidades motoras, seus

gestos técnicos, suas competências da

modal idade. Vale dizer que as

habilidades motoras, ou seja, a

qualidade técnica do movimento do

grupo de exercício, foram levemente

melhores do que do grupo de jogo. O

mesmo não se observou quanto à

habilidade de manter a bola em jogo

(fluência), de movimentação em

quadra de acordo com a ação do

adversário (tática), assim como a

freqüência nas aulas (participação) e

avaliação do período (motivação).

O que quero dizer com isso? Bom, que

tanto os alunos que aprenderam

jogando, quanto os que praticaram

e x e r c í c i o s , m e l h o r a r a m s u a s

habilidades técnicas/motoras. Embora o

grupo que praticou exercícios tenha

demonstrado alguns movimentos mais

elaborados, isso não se configurou em

melhores resultados no jogo, ou seja, bons

m o v i m e n t o s n ã o s i g n i f i c a m ,

necessariamente, vitória garantida. Isso

mesmo, jogar ou praticar exercícios

proporcionam efeitos de aprendizagem

motora semelhantes. No entanto, os alunos

que aprenderam por meio do método jogo,

viram-se favorecidos por aspectos não só

inerentes à motricidade, mas também

relacionados com a capacidade de análise

crítica do jogo, dos posicionamentos dos

adversários, da habilidade de deslocar-se

rapidamente e manter a bola em jogo por

mais tempo, da maior participação do grupo

n a s a u l a s e s e p e rc e b e ra m m a i s

animados/motivados para a continuidade do

programa de aprendizagem de

esportes, faltando muito menos às

aulas. Pense nisso.

Se por um lado, o exercício

p ro d u z , efet ivamente ,

avanços significativos no

âmbito do movimento, da

m o t r i c i d a d e , d a

habilidade motora ou

f u n d a m e n t o d a

modal idade, por outro,

diminui a motivação das

crianças e jovens que querem,

apenas, aprender a praticar

esporte com competência. Se

os exercíc ios realmente

aumentam a previsibilidade

para a aprendizagem motora

dos fundamentos e facilitam

a observação sistemática do

6

Page 7: JOGO E EXERCICIO

do professor sobre aspectos específicos do

movimento de todos os alunos, por outro

lado, os jogos possibilitam igualmente a

aprendizagem dos movimentos e dos

a s p e c t o s m o t o r e s , f a v o r e c e m o

desenvolvimento de relações pessoais mais

próximas, uma vez que potencializam

interações humanas, estimulam a tomada de

decisão (tática/cognição), a autonomia moral

(considerando que cumprir as regras

combinadas envolve disposição intelectual e

moral), entre tantas outras possibilidades,

deixamos como último ponto de reflexão:

Se o jogo, enquanto espaço de

ensino/aprendizagem de habilidades

motoras, técnicas e esportivas é igualmente

eficiente (uma vez que não temos a intenção

de afirmar qual é a melhor metodologia)

quanto à aprendizagem por tarefas

repetitivas, adicionados os aspectos

cognitivos, motivacionais, emocionais e

interpessoais da aprendizagem pelo jogo (e

ausentes nas tarefas repetitivas dos

exercícios), justifica-se a opção por

ensinar/aprender a jogar jogando. Em outras

palavras, se o jogo ensina tudo o que método

tradicional de ensino por tarefas repetitivas

ensina, além das vantagens educacionais que

ele acrescenta, por qual motivo, nas aulas de

Educação Física, os esportes continuam a ser

ensinados segundo o modelo tradicional?

Agora é com você professor (a). Jogos e

exercícios, Por que sim? Por que não?

“o jogo se justifica por tudo isso

ou por efetivamente ensinar o

que pretendemos? “

“o jogo se justifica por tudo isso

ou por efetivamente ensinar o

que pretendemos? “

Participe do FÓRUM virtual das OFICINAS DO ESPORTE !

oficinasdoesporte.ning.comf7

Page 8: JOGO E EXERCICIO

O esporte contribuiu para a sua formação pessoal

e profissional?

- Sim e muito. Fui atleta de Handebol desde os 13

anos, treinando em vários clubes. Convivi a minha

vida inteira com diferentes grupos de pessoas

dentro do esporte e aprendi sobre diversidade,

convivência e cidadania. A prática esportiva me

levou à formação acadêmica como professor de

educação física no ano de 1986, na Fefisa. O amor

por essa profissão fez com que buscasse mais

conhecimentos e, em 1987, conclui uma

especialização na USP. Em 2002 conclui o meu

mestrado na Universidade de Guarulhos e em

2008 me tornei treinador nível III pela Federação

Espanhola de Handebol. Os valores que o esporte

me ensinou fez com que hoje eu tenha uma família

(esposa e 3 filhas) maravilhosa, seja uma pessoa

batalhadora, persistente, forte e realizada.

O que você tem feito depois que deixou de jogar

Handebol? Continua trabalhando com o esporte?

- Assim que parei de jogar, me formei em educação

física e, desde então, venho trabalhando em

escolas e clubes na tentativa de formar atletas e

cidadãos. O esporte é mais uma ferramenta na

educação do ser humano e complementa o

aprendizado que ele tem na escola e na família.

Trabalho no Esporte Clube Pinheiros há 18 anos

como supervisor técnico do departamento de

Handebol e treinador das categorias Júnior e

Adulto. Atuo também como professor

universitário na Faculdade de Educação Física do

Centro Universitário da Ítalo, disciplina de

Handebol.

O que pensa do esporte como meio educacional?

- Acredito no esporte educacional como um

importante meio de formação do cidadão. O

esporte pode ser desenvolvido claramente dentro

da escola e em outros espaços

como os CEUS, comunidades,

associações, etc. Mesmo

dentro de grandes clubes que

visam o trabalho competitivo,

acredito que o atleta deve ser o resultado da soma

da formação da performance mais a formação do

cidadão.

Para você qual deve ser o legado dos grandes

eventos como Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas

2016 para as crianças e os jovens brasileiros?

- Temos no Brasil um abismo social enorme. O

governo deveria se empenhar e aumentar a

possibilidade de uma melhor educação para

todos. Não acredito que a Copa de 2014 e as

Olimpíadas de 2016 deixem legados importantes

para a formação de nossas crianças e jovens

brasileiros.

Como você avalia as políticas públicas de esporte

educacional no nosso país?

- Há ainda muito por fazer. Ainda não vejo grandes

ações do governo no desenvolvimento do esporte

educacional, que possa melhorar a qualidade de

vida da nossa população.

Se você fosse o ministro do esporte, quais seriam

as suas principais ações?

- A primeira idéia seria diminuir esse abismo social

e aumentar as possibilidades de melhoria

educacional através da prática do esporte. Faria

isso para todas as camadas da população, de

maneira organizada, planejada e com a utilização

de tecnologias e recursos de baixo custo.

Continuaria também investindo no esporte

competitivo, como uma possibilidade de

desenvolver talentos esportivos que sirvam de

estímulo para os nossos jovens.

ENTREVISTA

8

Prof. Sergio HortelanE

Page 9: JOGO E EXERCICIO

Acredito que todos nós, em algum momento

da vida, já tenhamos tido a seguinte

experiência: - Voltar como adulto para um

lugar que tenha sido muito freqüentado por

nós quando éramos crianças!

Quando a gente se depara com um retorno

desses, normalmente a gente se espanta com

a pequenez do lugar, que na nossa memória

está registrado como um lugar muito amplo

aonde se fazia muitas aventuras, proezas e

malabarismos.

Naquele quintalzinho, naquela árvore,

naquela garagem, naquele barranco onde

vivemos tantas estórias, certamente hoje mal

seria possível correr ou se pendurar!

M e r g u l h a n d o m a i s f u n d o n e s s a s

recordações, vão emergindo os espaços em

que a gente jogava futebol, e em cada um

deles, o “tipo de futebol” que era jogado:

- “Gol a gol” no corredor lateral entre a

cozinha e o quintal.

- “Controle” na porta da garagem da mãe do

gordo.

- “Chute-em-gol-rebatida-drible” na própria

rua com dois tijolos como meta.

- “Bobinho” em qualquer lugar disponível.

- “Contra” o time da Rua Ribeiro de Barros,

maior rival da nossa rua, a Frei Henrique de

Coimbra, no terreno baldio do lado da minha

casa.

A gente adaptava uma maneira de jogar para

cada espaço disponível e para o número de

jogadores em cada situação, assim, se tinha

muita gente se faziam times e jogávamos “gol

PARA PENSARVILA ROMANA F.C.

9

Prof. Marcelo Jabu!

Page 10: JOGO E EXERCICIO

caixote”, se só tinham duas crianças e estava

chovendo, o jeito era fazer “gol a gol” na

garagem...mas algum jeito a gente dava para

poder jogar Futebol!

Para cada situação existiam regras e

convenções específicas que eram negociadas

na hora, bem como a maneira mais justa de

equilibrar os times, o que ia valer e o que não

ia, quem ia “jogar na frente” e quem ia “jogar

atrás”, se tinha alguém “café-com-leite” e,

dependendo não me lembro do quê, que

“vira-seis e acaba-doze”.

Em cada um desses contextos, uma ou mais

h a b i l i d a d e s e r a m e x i g i d a s m a i s

intensamente dos jogadores, o drible curto

no “dois-toques”, a pontaria nos pênaltis, a

força do chute no “gol a gol”, a técnica de

domínio no alto no “controle” e assim por

diante, e certamente essa variedade de

desafios contribuía para que todos nós

fossemos nos aperfeiçoando como jogadores

dia após dia, naquele tempo de criança em

que se vive cada dia com um imenso apetite

para aprender e se divertir. Chegamos a

desenvolver requintes de habilidade ao jogar

na pracinha Tupã que era uma descida bem

íngreme, e nos fundos do prédio do Os car,

onde o “campo” era em curva, e um goleiro

não enxergava o outro!

Começo a lembrar também da carga afetiva e

simbólica que essas vivências de rua

permitiram, povoando minha memória com

imagens das comemorações de cada gol, das

rivalidades entre crianças e turmas, das

narrações paralelas a cada jogada, da

cumplicidade que se constrói entre parceiros,

das estratégias e táticas estabelecidas entre

as equipes, da ousadia necessária para cada

drible. Tudo isso era vivido por nós como se a

gente fosse “de verdade”, mesmo que a gente

soubesse no fundo que éramos apenas

crianças desejando, imaginando e sonhando

acordados em ser jogadores de futebol , e

nem sei de onde a gente tirava imagens para

representar esses papéis, pois ninguém tinha

televisão, poucas chances a gente tinha de ir

aos estádios e a maioria dos jogos

profissionais eram acompanhados pelo rádio

ou conferidos nas fotos dos jornais

pendurados na banca do Seu Donizette no dia

seg uinte. Talvez por isso mesmo nesta época,

imaginar era imaginar mesmo, era inventar

na cabeça o quase desconhecido através da

emoção pura!

Nessas manhãs, tardes, noites e madrugadas

jogando futebol na rua aprendemos quem é

“fominha” e quem não é, quem é desleal e

10

Page 11: JOGO E EXERCICIO

quem não é, quem é ousado, quem é

divertido, quem é honesto e quem é otário.

Suados e sujos até o pescoço construímos

nosso universo de imagens e personagens

futebolísticos com os quais a gente se

divertia:

- O chapéu, o lençol, a caneta, o drible da

vaca, a chaleira, a bicicleta, a letra, a

embaixadinha, o bico, a matada, o de

primeira, a prensada é da defesa... e, sem

nunca termos lido Piaget, nem PCN,

praticamos e aprendemos o que é a inclusão

e a diversidade.

Voltando do sonho, fico pensando o quanto

poderíamos ter aprendido a mais se, naquela

época, tivéssemos ao nosso lado um

professor de Educação Física sensível e

inteligente, que soubesse aproveitar toda

essa riqueza para nos ensinar a aprender

ainda mais sobre Futebol!

Depois, a rua de terra foi asfaltada, começou

a passar ônibus, os muros subiram com

grades, os terrenos foram sumindo, todo

mundo começou a trabalhar, apareceu uma

televisão na sala, mas afinal, isso já é outra

história, e vocês vão me dar licença por que a

minha mãe está me chamando para tomar

banho!

11

visite a página da Incubadora de Jogos!

incubadoradejogos.weebly.com

Marcelo Jabu tem dois ofícios, é professor de Educação Física e

carpinteiro, construtor de brinquedos didáticos.

Marcelo Jabu tem dois ofícios, é professor de Educação Física e

carpinteiro, construtor de brinquedos didáticos.

Page 12: JOGO E EXERCICIO

Desde 2008 o programa das Oficinas do e constante, de fazer um simples e esquecido

Esporte está presente nas formações e na cabo de vassoura, virar um brinquedo

grande arena da Caravana do Esporte, em educativo, desafiador, auto-organizador,

diferentes cidades e regiões do Brasil. São agregador, estimulador de parcerias e

mais de 60 mil crianças atendidas sorrisos de crianças, jovens e adultos. Faço

diretamente e aproximadamente 5 mil isso também, com tampinhas, latas, cordas,

professores, que receberam a metodologia bolas de meia, tiras de pano coloridas, caixas

utilizada pelo programa das Oficinas do de papelão, garrafas pet, entre outros

Esporte, nesses três anos. materiais que a imaginação de muitos outros

bons mostradores(as) de brinquedos, e a

Mas isso são números! Eu gostaria de lhes minha própria criatividade fornecem.

contar, algo que os números não falam. Vou

lhes contar da “magia” que as Oficinas do Mas como faço isso? Como faço a “magia”

Esporte trás para a Caravana. É isso mesmo, acontecer? – Eu vos digo e sem demora. Mas

ela trás “magia”. antes, quero dizer que só consigo tal feito,

porque fui estimulado a praticar as mais

Eu não sou bruxo, já adianto! - Considero-me habilidosas artes da pesquisa, do estudo

apenas um “bom” mostrador de brinquedos. constante, da reflexão sobre a prática e

E como tal, me proponho o desafio, prazeroso principalmente da indignação com formas

A MAGIA DAS OFICINAS

AS OFICINAS DO ESPORTE, A CARAVANA E A MAGIA!

Prof. Bruno Gonçalves

12

Page 13: JOGO E EXERCICIO

Terceiro passo: - Quando as crianças

chegarem, finja que está dando os últimos

reparos. Fique de costas para elas e deixe que

te observem, não diga nada. Elas já te viram

de longe, estão imaginado e se perguntando,

o que será que você tanto faz, e por que está

tão desatento(a), afinal, elas estão chegando,

e em GRANDE número.

Após essa pequena encenação, sente-se para

fazer a roda de conversa, tranquilamente. A equivocadas“magia” vai logo se manifestar. Observe... as que eu faria com as tampinhas de garrafas. crianças vão sentar, e sem você pedir. Você os

cumprimenta cordialmente, sem pressa, pois Pois bem, vou falar da arena, que é onde uma assim você estará ditando o ritmo da aula, e parte da “magia” das Oficinas do Esporte indo na contra-mão deles, pois a curiosidade acontece, a outra parte, deixo para a próxima já esta pronta para entrar em ação, e algo edição. fantástico vai acontecer. Dê um sorriso, e

conte até três.Primeiro passo da “magia”: - Monte um

cenário. Um cenário bonito e organizado. - O que será que tem naquela caixa? - O que Distribua, ou melhor, exponha os materiais e vamos fazer aqui? - Nem tem gol? - Vixi! Olha os brinquedos da melhor forma possível, o tanto de cabo de vassoura! - Cadê o gol? como se você fosse vendê-los. Consiga caixas Você é atleta do quê? - O que vamos fazer ou alguns sacos grandes para colocar os seus nessa lona? Ah... é aqui que eu vi um negócio materiais e os decore. Na Caravana eu colorido bem grande de pano! – Vamos jogar disponho de uma “caixinha” de 1 metro de a bola naquele pano grande, é? – O professor, largura, por 1 de comprimento, que pesa uns o que tem naquela caixa? – Nos vamos jogar 95 kg cheia, ela é toda pintada, muito bonita, futebol?e fácil de carregar! – Que o digam, meus companheiros de caravana. Alias, muito Percebe? - Já começou! As crianças já estão obrigado a todos!querendo aprender. Isso é o principal, pois é

Segundo passo: - Deixe os materiais, meio

escondidos, principalmente os brinquedos

mais conhecidos, como por exemplo: bolas,

bambolês, cones, latas, etc. Utilize sacos

coloridos, e guarde as tampinhas e as bolas

de meia, de forma que ninguém possa saber

o que tem dentro. Deixe os cabos de vassoura

juntos e visíveis.

de ensinar. Sem isso, sabe lá o

13

Page 14: JOGO E EXERCICIO

chato aprender sem vontade. As crianças perceber o outro, de mudar sua forma de

querem saber, e por quererem saber, pensar, de solucionar problemas, de conviver

perguntam, e quando as respostas não são e cooperar.

suficientes, elas querem mexer, querem por

as mãos onde os seus olhos já colocaram. Quinto passo: - é aquele em que você, os

ajuda a perceber..., a tomarem consciência

Quarto passo: - é mostrar os brinquedos de do que estão aprendendo. Nesse momento é

forma entusiasmada e desafiadora, pois você quem faz as perguntas. Então capriche!

aquelas tampinhas, não são tampinhas

comuns, aquelas bolas de meia, aquelas Esses são os passos que utilizo para realizar a

cordas, e cabos de vassoura não são comuns. “magia” das Oficinas do Esporte na Caravana.

São brinquedos “banhados” em uma A “magia” de educar através do jogo e do

metodologia que a cada dia se fortalece. São esporte, mesmo com vento forte, terreno

brinquedos capazes de mobilizar seus ruim, frio, ou debaixo de um sol escaldante,

músculos, seu intelecto, sua imaginação, onde a temperatura ultrapassa com

sentidos, vontades, sua capacidade de facilidade 45°C, ainda assim ela acontece.

“Magia” que têm por princípio, garantir

direitos, - e como diz o Ale, “Se é direito,

dever ser assegurado”. Dessa “magia”, nós,

NÃO abrimos mão.

Eu convido você a realizar a “magia” das

Oficinas do Esporte em sua escola, venha ser

um bom mostrador(a) de brinquedos.

14

Page 15: JOGO E EXERCICIO

ATAQUE DEFESA

“Batalha do Futebol: Ataque contra Defesa”

Onde surgiu o jogo?

O Jogo “Batalha do Futebol” foi construído

nas aulas de futebol do núcleo Délio de

Carvalho, durante o desenvolvimento de uma

U n i d a d e D i d át i ca co m o fo co n a

aprendizagem dos gestos específicos da

modalidade.

Qual a história do jogo?

O jogo é novo, ele foi criado recentemente

pelos alunos do Núcleo. Durante as aulas

tínhamos como desafio praticar e aprender

os gestos específicos do futebol, também

chamados de fundamentos, de uma forma

mais motivante e prazerosa, para além do

simples “treinamento” e execução de

exercícios. Neste Jogo, que chamamos de

“Batalha do Futebol”, conseguimos realizar o

drible, o passe, a condução e a finalização de

forma mais integrada e com uma

participação mais efetiva e ativa dos alunos.

Qual o material necessário para jogar?

Para a realização do jogo são necessárias

bolas variadas, com pesos e tamanhos

diferentes. O número de bolas depende do

número de jogadores em cada equipe. As

bolas são utilizadas, na versão inicial, para

que os jogadores possam “cumprir” as

funções de ataque. Para a defesa usamos

cones ou garrafas pet e os coletes servem

para diferenciar os times.

Como o jogo acontece?

Dividimos duas equipes, com o mesmo

número de jogadores, nas funções de ataque

e defesa. A equipe da defesa terá cones

(espalhados em qualquer espaço do campo)

e a equipe do ataque usará as bolas. Função

das equipes: Ao sinal do professor, a defesa

deverá proteger seu cône, tentar roubar a

bola do adversário e chutar ao gol. Ao mesmo

tempo, a equipe que estiver no ataque,

deverá chutar as bolas com objetivo de

derrubar os cones. A cada gol efetivado ou a

cada cône derrubado conta-se um ponto para

a equipe. Antes da prática o professor

combina o tempo de duração de cada

período. Ao término de cada período, os

jogadores invertem as posições de jogo.

Quando as duas equipes passarem pelas

posições de ataque e defesa todos devem

15

JOGO 10 Prof. Fabrício de Souza

Crianças de 6 à 10 anos

“Batalha do Futebol: Ataque contra Defesa”

Page 16: JOGO E EXERCICIO

contar o número de gols realizados e quantos

cones derrubaram. O vencedor será aquela

equipe que fizer o maior número de pontos

(gols e cones derrubados).

Qual a relação do jogo com o esporte?

A “Batalha do Futebol” pode ser considerado

um Jogo Pré-desportivo da modalidade.

Como no jogo oficial, ele estimula a

aprendizagem e o aperfeiçoamento das

habilidades motoras específicas e também

algumas noções e estratégias de ataque e

defesa.

O que se aprende nesse jogo?

Na dimensão da motricidade este jogo

contribui para a melhora das habilidades

motoras relacionadas com o futebol (drible,

passe, condução e finalização). Os alunos

também aprendem mais do que o esporte

quando resolvem conflitos, constroem

coletivamente as regras, discutem e fazem

acordos sobre as estratégias de ataque e

defesa. O “Batalha do Futebol” também é um

bom jogo para aprender sobre o respeito à

diversidades e às diferenças de habilidades

de cada jogador.

NOSSA PRÁTICA

A Terceira edição do Cordel Pedagógico reuniu cinco bons projetos

didáticos, que demonstram a essência das Oficinas do Esporte, o

“Jogar para Aprender”. Confira!

A Terceira edição do Cordel Pedagógico reuniu cinco bons projetos

didáticos, que demonstram a essência das Oficinas do Esporte, o

“Jogar para Aprender”. Confira!

16

NP

Page 17: JOGO E EXERCICIO

O que foi feito e com que objetivo? esportes a serem estudados. Estipulamos que

O trabalho, em linhas gerais, teve como os alunos com melhor comportamento nas

objetivos desenvolver as habilidades sócio- aulas teriam a oportunidade de escolher os

afetivas e ampliar o universo cultural esportivo esportes a serem estudados. Para isso

dos alunos. Durante o projeto as crianças foram pensamos na confecção de um “dinheiro

convidadas a participar mais ativamente das virtual” que seria utilizado por todos para a

aulas, principalmente na escolha e na seleção “compra” dos esportes. Alunos com as atitudes

dos esportes a serem estudados. A idéia era mais positivas teriam mais “dinheiro” para

ensinar algumas habilidades relacionadas com comprar no mercado dos esportes, suas

atividades preferidas. No início conversamos

com o grupo sobre como surgiu o dinheiro, qual

a sua função e como são feitos. A seguir

mapeamos e selecionamos os esportes que as

crianças gostariam de praticar. Utilizamos

revistas e jornais para a construção de um

painel dos esportes que seriam vendidos no

mercado dos esportes. Tintas de tecido,

cartolinas, cabos de vassoura e outros materiais

foram utilizados para construção do “dinheiro”.

Para a aquisição do dinheiro definimos algumas

regras: fazer a aula sem falar “palavrão”, realizar o trabalho em grupo, com a convivência entre

jogos com a participação de todos, chegar no os meninos e as meninas e com a consciência e

horário, realizar as pesquisas sobre os esportes, a importância das regras. Tudo isso sempre

etc. Assim que os alunos conseguiam o dinheiro relacionado com o aprendizado dos esportes, já

compravam o tema/esporte da próxima aula ou que a sua prática demanda a capacidade e a

os materiais esportivos que se encontravam no disponibilidade de todos para jogar de acordo

mercado construído com caixas, bolas, redes, com regras comuns e unificadas.

cones, raquetes, tecidos, papel, garrafas,

tampinhas, etc. Além de utilizamos todo este Como foi feito?

material, os alunos e seus amigos emprestaram Para motivar os alunos construímos uma

equipamentos como saco de boxe, berimbau e brincadeira que chamamos de “Jogando para

cama elástica. Toda esta variedade de material Valer”. Definimos, em conjunto com os alunos,

contribuiu para que pudéssemos estudar e algumas regras para a participação nas aulas e

praticar esportes ainda não conhecidos pelas relacionamos as mesmas com os jogos e os

Momento da compra dos Esportes

1 PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO C.E.U. PARQUE VEREDAS

Alunos: 08 a 12 anos - Período de realização: 3 meses - Professores: Douglas Eduardo e Janaina Lima

“Jogando para Valer”

PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO C.E.U. PARQUE VEREDAS

“Jogando para Valer”

17

Page 18: JOGO E EXERCICIO

crianças. Nos três meses de duração do projeto comportamento e nas suas atitudes. Eles

conseguimos estudar esportes tradicionais passaram a valorizar as aulas de esporte como

como o futebol, o vôlei, a natação e o basquete um espaço de inclusão e participação de todos.

e também esportes não convencionais como o A responsabilidade para com as questões de

boxe, a capoeira, o frisbee, o futebol americano horários, de palavrões e de exclusões durante

e o beisebol. os jogos melhorou muito. Hoje em dia as aulas

são menos diretivas e as crianças participam

Por que deu certo? mais ativamente da estruturação das

Um aspecto importante para o sucesso do atividades. Elas transportam os materiais,

projeto foi a interação dos professores com os organizam o “campo” de jogo, distribuem

alunos durante as aulas. Conseguimos, a cada melhor os materiais e as funções e monitoram

dia de trabalho, construir coletivamente as de forma mais independente o andamento dos

propostas e isso motivou os alunos na jogos e demais atividades. Finalizamos o

participação e no comprometimento com as projeto com os alunos mais tranqüilos e mais

tarefas. A brincadeira “Jogando para Valer”, que disponíveis para aprender novos esportes.

incluiu a confecção do dinheiro e a montagem Prova disso é que agora esportes como o

do mercado dos esportes, mobilizou as crianças frisbee, o beisebol e o futebol americano estão

para um cuidado e uma atenção maior com as entre os preferidos da turma. 75 % dos

questões atitudinais. Percebemos os meninos e esportes mapeados no início do projeto foram

as meninas mais atentos em relação ao respeito estudados e concluídos. Os alunos puderam

às diferenças e individualidades. No início valorizar mais as suas conquistas e hoje

tínhamos a preocupação de que as regras p e r c e b e m - s e m a i s p r o t a g o n i s t a s e

fossem cumpridas apenas para que os alunos p a r t i c i p a n t e s d o s e u p r o c e s s o d e

pudessem ter o dinheiro para comprar os aprendizagem.

esportes, mas com o passar do tempo

identificamos as crianças mais conscientes e O que nós aprendemos?

esclarecidas quanto à regra como um fator que Aprendemos que é possível desenvolver uma

normatiza e permite a vida em grupo. prática mais dialogada com os alunos. Desta

forma seus interesses e suas necessidades são

A variedade de material também ajudou muito. respeitados e nós conseguimos realmente

C o n s e g u i m o s a d a p t a r e c o n s t r u i r fidelizar as crianças no projeto. Aprendemos

equipamentos que deram condições aos alunos que o professor deve ser um facilitador para as

de praticar esportes até então não conhecidos. aprendizagens dos alunos, cativando-os e

Por exemplo, o futebol americano foi praticado motivando-os para as conquistas e os avanços.

com a bola de futebol, o frisbee com diversos O segredo é não dar a resposta e sim fazer as

tipos de tampas de latas, o beisebol com cabos boas perguntas. Assim, o aluno passa a ser parte

de vassoura, etc. Foi interessante perceber que integrante do processo e se compromete muito

os alunos estão cada vez mais valorizando as mais com a sua aprendizagem.

aulas como um espaço de convivência, onde é

possível “jogar” e estar junto.

Qual a diferença que o trabalho fez?

Os a lunos evo lu í ram mui to no seu

18

“O segredo é não dar a resposta e

sim fazer as boas perguntas.”

“O segredo é não dar a resposta e

sim fazer as boas perguntas.”

Page 19: JOGO E EXERCICIO

Alunos: 10 a 14 anos - Período de realização: 2 meses - Professores: Tatiane Maciel, Renato Santos,

Jéssica Guimarães e Janaína Rodrigues.

2 PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO CARLOS PASQUALEPÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO CARLOS PASQUALE

O que foi feito e com quais objetivos?

Quando se fala em artes marciais logo nos

vêm à cabeça algumas palavras como

treinamento, competição, lutas, brigas, etc.

Este projeto foi realizado com o intuito de

mostrar que podemos sim, ensinar artes

marciais por meio de jogos e brincadeiras,

sem que o foco seja o rendimento ou o vencer

a qualquer custo. Nosso objetivo, com a

prática inicial e básica do Taekwondo, era que

os alunos incorporassem atitudes de respeito

e valorizassem a luta como uma prática que

favorece a construção de amizades e do bom

convívio entre as pessoas.

Como foi feito?

O projeto teve origem em uma avaliação

diagnóstica realizada no início do ano onde os

alunos puderam falar sobre as modalidades

esportivas que gostariam de aprender. As

Lutas foram apontadas como a modalidade

favorita. Neste trabalho inicialmente nos

deparamos com o desafio de integrar os

meninos e as meninas durante as aulas, mais

precisamente no aprendizado e na prática

das lutas. Aproveitamos a oportunidade para

discutir as questões de gênero e esclarecer

que as meninas podem e devem praticar

artes marciais, assim como qualquer outro

esporte. Em seguida foi decidido com os

alunos a modalidade de artes marciais (lutas)

a ser aprendida durante este projeto.

Chegamos, após algum tempo de discussão,

ao Taekwondo. Foi observada, neste

momento pelos professores, a necessidade

de uma orientação aos alunos sobre as artes

marciais como uma prática que não tem nada

a ver com “pancadaria”. Trabalhamos com os

meninos e as meninas que para ser um bom

praticante de qualquer luta é necessário

entender sua filosofia, refletir e criticar com

bom senso, ter disciplina, ordem, rotina,

normas e regras. Na 2ª etapa, para o

desenvolvimento dos jogos de lutas

utilizamos os mais diversos materiais

(bexigas, barbantes, cordas, bambolês, tnt,

pregadores de roupas, giz e cones). Os jogos

foram realizados de diferentes formas e

envolveram os gestos específicos da

modalidade como os chutes, os socos e as

formas de ataque e defesa, etc. No início e no

“Sabedoria das Artes Marciais”“Sabedoria das Artes Marciais”

19

Page 20: JOGO E EXERCICIO

Preparação para pega pega “step”

término das aulas, durante as rodas de

conversa, discutíamos sobre as variáveis dos

jogos propostos, os conteúdos que os jogos

envolviam e as atitudes necessárias para o

seu desenvolvimento. As idéias dos alunos

eram anotadas e colocadas em práticas nas

aulas posteriores. Na fase final fizemos uma

avaliação das principais aprendizagens

adquiridas nas aulas e realizamos um festival

de Taekwondo com os principais jogos

construídos pelos alunos.

Por que deu certo?

Os jogos com diferentes formatos, materiais e

variações ajudaram muito na execução do

projeto. Trabalhar com a luta na forma de

jogos favoreceu a participação dos alunos e

os motivou a praticar a modalidade

escolhida. As rodas de conversa em grandes e

pequenos grupos, os bons questionamentos,

as possibilidades de criar e participar

ativamente da construção dos jogos foram

pontos chaves para o sucesso deste trabalho.

Isso aumentou o comprometimento de todos

e diminuiu as tensões existentes entre os

meninos e as meninas. O apoio da

coordenação e direção da escola foi

importante, pois nos deu segurança para

trabalhar com um tema que normalmente

não faz parte das aulas de educação física na

escola.

Qual é a diferença que o trabalho fez?

Pela primeira vez na escola os alunos tiveram

contato com as lutas. Eles aprenderam que é

possível tematizar esta modalidade dentro da

escola e que os meninos e as meninas podem,

juntos, participar de uma aula legal e

motivante dentro da temática artes marciais.

Os alunos aprenderam também a socializar

seus conhecimentos e a trocar suas

experiências, cada um do seu jeito e com as

suas limitações. Percebemos os estudantes

mais participativos, tomando a iniciativa de

ajudar na organização e no encaminhamento

das atividades. Após as aulas do projeto,

avaliamos que os alunos mudaram muito sua

postura. Eles passaram a ter atitudes mais

positivas e respeitosas nas demais oficinas e

se tornaram referências de boas atitudes.

Eles também fizeram mais amizades, alguns

perderam a timidez e outros se mostraram

mais criativos. Foi muito bom ver que alguns

alunos sentiram-se mais úteis por poder

ajudar e passaram a manifestar sua opinião

sem ser menosprezados pelos demais

colegas.

O que nós aprendemos?

Aprendemos que para ensinar não é preciso

“impor” as atividades. Basta prestar mais

atenção nos alunos e nas experiências que

eles trazem consigo. Explorar o lado criativo

dos alunos fez com que as aulas fluíssem de

forma mais divertida e natural. Aprendemos

que aluno motivado é aluno presente.

20

Aprendemos que para ensinar... Basta

prestar mais atenção nos alunos e nas

experiências que eles trazem consigo.

Aprendemos que para ensinar... Basta

prestar mais atenção nos alunos e nas

experiências que eles trazem consigo.

Page 21: JOGO E EXERCICIO

3 PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DANÚBIO

O que foi feito e com quais objetivos?

Partimos da seguinte pergunta para iniciar esta

unidade didática: Será que as crianças sabem a

diferença entre Luta e Briga?. Partindo do

pressuposto de que luta é “arte” e “equilíbrio” e

que não tem nada a ver com briga,

desenvolvemos este projeto com o objetivo de

que os pequenos aprendessem mais sobre

respeito, convivência, consciência corporal e

ampliação cultural.

Como foi feito?

Partimos inicialmente de uma avaliação

diagnóstica realizada nas rodas de conversa.

Através das perguntas: Qual a modalidade de

lutas que vocês conhecem? Vocês conhecem

pessoas (familiares ou amigos) que praticam

alguma luta? Qual a diferença entre lutar e

brigar? detectamos o conhecimento que as

crianças tinham sobre o assunto. Nesta etapa,

através das respostas dos alunos, percebemos

que eles tinham algum conhecimento sobre as

modalidades de lutas conhecidas como judô,

kung fu, capoeira e o sumô. Apresentamos

algumas fotos, assistimos a um vídeo infantil

sobre lutas e resolvemos explorar mais estas

modalidades. Organizamos então uma

seqüência de aulas com este objetivo. Através

de jogos e brincadeiras com materiais como

colchonetes, bambolês, fitas, pregador e lona,

as crianças tiveram acesso aos fundamentos a à

história das modalidades escolhidas.

Convidamos professores colegas, especialistas

em algumas modalidades, para ajudar na

apresentação das lutas e na condução das

práticas. Nas aulas de capoeira a professora

Mafalda trouxe um pouco da história da

modalidade e ensinou como tocar os

instrumentos. As crianças aprenderam a fazer a

roda e a executar alguns dos gestos específicos

da capoeira. Nas aulas de judô, com a ajuda do

professor Alex, os alunos aprenderam sobre os

costumes e os principais posicionamentos da

modalidade. Nas aulas de sumô e kung fu

utilizamos um pequeno espaço forrado com

lonas e colchonetes. Trabalhos em pequenos

grupos, basicamente em duplas, com

brincadeiras como pega-pega rabinho, luta do

saci, cai não cai e empurra-empurra ajudaram

para que as crianças aprendessem um pouco

mais sobre as modalidades. A cada modalidade

de lutas estudada fomos sugerindo desafios,

incentivando assim novas aprendizagens nas

dimensões do saber e do fazer. Durante as

práticas sempre trabalhamos com os valores

das lutas que sugerem o respeito ao próximo, a

PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DANÚBIO

Alunos: 3 a 7 anos - Período de realização: 4 meses - Professores: Thayane e Mizael

“Lutas para as crianças”“Lutas para as crianças”

21

Page 22: JOGO E EXERCICIO

manutenção da integridade física e a postura do

lutador frente ao seu oponente. Finalizamos os

projeto com uma apresentação aos colegas das

outras turmas, onde as crianças puderam

mostrar as aprendizagens adquiridas durante as

aulas.

Por que deu certo?

O ensino das lutas através de jogos e

brincadeiras foi uma estratégia muito acertada.

As crianças eram pequenas e o grupo bastante

heterogêneo, o que demandou muita atenção

por parte dos professores. A possibilidade de

utilizarmos um material adequado (lona e

colchões) ajudou na segurança das crianças.

Elas não demonstraram “medo” e participaram

ativamente das propostas.

A participação dos professores Mafalda e Alex,

especialistas em lutas, ajudou na condução das

atividades. Eles trouxeram atividades,

equipamentos e materiais que motivaram os

pequenos a aprender mais sobre as

modalidades estudadas e nós, os professores,

nos sentimos mais “seguros” para desenvolver

as propostas.

Qual a diferença que o trabalho fez?

O trabalho contribuiu para que as crianças

ampliassem seu conhecimento sobre as

diferentes modalidades de lutas. Além disso,

eles entenderam a diferença entre o lutar e o

brigar. Todos sabem e verbal izam a

compreensão da luta como uma prática

corporal que se caracteriza pela existência de

regras e pela necessidade de respeito ao

próximo. Foi interessante perceber as crianças

incorporando a rotina e os costumes das

diferentes lutas. Elas aprenderam que cada luta

tem a sua forma de saudação e cumprimento,

os seus equipamentos específicos, as suas

regras e a sua “cultura”. Finalizamos o projeto

com os alunos mais “críticos” sobre as

modalidades e os desenhos que passam na

televisão sobre a temática. Eles são

“pequenos”, mas já sabem que a luta, como

todo o esporte, deve servir para que as pessoas

vivam e convivam de forma amigável e pacífica.

O que nós aprendemos?

Esta foi a primeira vez que desenvolvemos um

projeto na temática lutas. Temos muito que

aprender, mas ficamos felizes com os

resultados. Aprendemos que é possível ensinar

lutas para os pequenos, desde que as devidas

adaptações sejam feitas. Foi muito bom trazer

os colegas especialistas para nos ajudar.

Aprendemos muito com eles e estamos

dispostos a continuar estudando sobre o

assunto. Aliás, este foi o nosso maior

aprendizado... Trabalhar e desenvolver projetos

com temas não muito conhecidos exige do

professor estudo e aprofundamento.

Aprendemos assim o real sentido do conceito

do professor como pesquisador.

“...desenvolver projetos com temas não

muito conhecidos exigem do professor

estudo e aprofundamento.”

“...desenvolver projetos com temas não

muito conhecidos exigem do professor

estudo e aprofundamento.”

22

Page 23: JOGO E EXERCICIO

Alunos: 9 e 10 anos - Período de Realização: 2 meses - Professor: Allan Aparecido

4 PÓLO HELIÓPOLIS - NÚCLEO CAMPOS SALLESPÓLO HELIÓPOLIS - NÚCLEO CAMPOS SALLES

“Conhecimento do Corpo”

O que foi feito e com quais Objetivos?

Após um mapeamento identificamos que os

nossos alunos conheciam pouco sobre o seu

próprio corpo e as suas possibilidades de

exploração e utilização. Pensamos assim em

desenvolver uma seqüência didática com o

objetivo de ensinar as crianças a identificar os

diferentes segmentos corporais. A idéia era

fazer com que os alunos aumentassem a sua

consciência sobre o corpo, principalmente

durante a realização dos esportes e dos jogos.

A nossa hipótese era a de que, com este

trabalho, as crianças aprendessem mais

sobre seus potenciais e seus limites na prática

das atividades propostas nas aulas.

Como foi feito?

Na primeira etapa do trabalho fizemos uma

avaliação dos conhecimentos prévios sobre o

conteúdo principal da unidade. Investigamos

o que as crianças sabiam “sobre” os

segmentos do corpo e quais as possibilidades

de movimentação de cada uma das suas

“partes” (Cabeça, Pescoço, Ombros, Braços,

Cotovelos, Mãos, Tronco, Cintura, Coxas,

Joelhos, Tornozelos e Pés). Para isso os alunos

utilizaram um mapa ilustrado. Um a um eles

foram convidados a identificar e nomear, no

mapa, cada parte do corpo que conheciam e

sabiam utilizar nos diferentes jogos e

brincadeiras. Na segunda fase os alunos

desenvolveram ações esportivas e, ao fim de

cada jogo, foram incentivados a levantar e a

nomear os segmentos corporais mais

utilizados nas modalidades ou nos jogos

vivenciados. Alguns destes jogos foram

retirados do Guia da Prática Pedagógica das

Oficinas do Esporte. Os jogos Mapa do corpo,

feito de tampinhas de garrafas pet, e o Jogo

do Robô foram os mais trabalhados e

ajudaram muito para que as crianças

evoluíssem na aquisição de uma maior e

melhor consciência sobre o corpo. Na etapa

seguinte assistimos a um vídeo que “falava”

sobre os membros e os segmentos do corpo

humano, além da sua estrutura óssea e

muscular. Fizemos também uma parceria

com a professora da sala de informática e os

alunos puderam brincar com jogos

interativos sobre o corpo humano. Esta

atividade foi muito interessante. As crianças

gostaram muito de utilizar os computadores

e aprenderam ainda mais sobre o corpo

humano e suas poss ib i l idades de

movimentação e interação com o meio. Na

“Conhecimento do Corpo”

23

Page 24: JOGO E EXERCICIO

última fase do projeto retomamos a atividade

diagnóstica feita com o mapa ilustrado e

realizamos uma avaliação final para

sabermos qual era o conhecimento atual

destes alunos após todo o processo de

aprendizado desta unidade.

Por que deu Certo?

As estratégias utilizadas durante as aulas

foram bastante eficientes. O mapa ilustrado

do corpo humano, as brincadeiras do guia da

prática pedagógica, os registros, os desenhos

e a atividade realizada na sala de informática

contribuíram muito para o sucesso do

projeto. Estas atividades motivaram as

crianças e elas se envolveram bastante com

as propostas. A parceria realizada no núcleo

com as professoras polivalentes para a

utilização da sala de informática o do material

de ciências foi fundamental. A participação

dos monitores também ajudou muito.

Conseguimos dar uma atenção mais

“ indiv idual izada” para as cr ianças,

principalmente aos alunos que apresentaram

alguma dificuldade de aprendizagem do

conteúdo programado. O projeto deu certo

porque as expectativas de aprendizagem

foram alcançadas e os resultados revelaram

crianças mais espertas e conscientes sobre o

seu “corpo”.

Qual a diferença que o trabalho Fez?

Após o trabalho realizado percebemos uma

evolução na capacidade dos meninos e das

meninas em controlar e coordenar seus

movimentos corporais dentro dos jogos e das

brincadeiras. As crianças ampliaram seu

conhecimento corporal e passaram a nomear

e a dizer corretamente os nomes dos

segmentos utilizados em cada uma das

atividades propostas. Na atividade de

identificação das partes do corpo no mapa

ilustrado, realizada ao final do projeto,

percebemos que todos os alunos evoluíram

na aprendizagem e no conhecimento sobre o

seu corpo. O Jogo Mapa do Corpo pode

ilustrar a evolução das crianças no conteúdo

estudado. Ao longo da seqüência didática, a

cada vez que brincávamos com este jogo, os

“mapas” construídos eram mais detalhados e

completos. Os meninos e as meninas ficaram

mais “exigentes” na brincadeira, desde a

qualidade do “desenho” até a sua forma e o

seu conteúdo.

O que nós aprendemos?

Nós, os professores, aprendemos que uma

educação que se diz integrada precisa

va lor izar a l inguagem corpora l . O

depoimento das professoras “da sala” foi

muito importante. Elas passaram a valorizar

mais o trabalho das Oficinas do Esporte e

incorporaram na sua rotina atividades que

“falam” sobre o corpo e o movimento.

Aprendemos que a parceria é fundamental

para o êxito do trabalho. Para isso é

necessário que o professor de educação física

“saia” da quadra e procure pelos colegas. Eles

têm como nos ajudar, principalmente na

utilização dos recursos didáticos existente

nos núcleos (escolas).

24

Page 25: JOGO E EXERCICIO

5“Jogos da Família”

PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DÉLIO DE CARVALHOPÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DÉLIO DE CARVALHO

Alunos: 3 a 6 anos - Período de realização: 4 meses - Professores: Jefferson e Mafalda

O que foi feito e com que objetivo?

Entendemos o jogo como um fenômeno

c u l t u r a l q u e e s t á e m c o n s t a n t e

transformação. Alguns dos jogos praticados

pelas crianças nos dias de hoje não são os

mesmos praticados no passado, ou seja, os

jogos, ao longo do tempo, ganham novas

formas e configurações. No nosso núcleo

temos um currículo que, na área cultural,

propõe a transmissão às gerações atuais dos

conhecimentos que foram construídos

socialmente. Por que então não desenvolver

um projeto sobre os jogos e os esportes mais

praticados pelos seus familiares em tempos

"passados"? O objetivo principal deste

trabalho era ensinar aos pequenos que os

jogos não nascem do nada. Eles são

construções sociais e culturais que fazem

parte da história e da evolução de um povo.

Como foi feito?

Iniciamos o trabalho solicitando aos alunos

que fizessem um mapeamento dos jogos

mais praticados pela sua família. Para

contemplar a todos não restringimos apenas

aos pais e mães. A partir do mapeamento

construímos um portfólio com todas as

informações enviadas. Textos, desenhos,

fotos e depoimentos foram organizados e

levados para as rodas de conversa. Nas rodas

utilizamos o mapeamento com os alunos,

fizemos perguntas (De quem é este jogo?

“Jogos da Família”

25

“...os jogos não nascem do nada. Eles são construções sociais e culturais que

fazem parte da história e da evolução de um povo.”

“...os jogos não nascem do nada. Eles são construções sociais e culturais que

fazem parte da história e da evolução de um povo.”

Page 26: JOGO E EXERCICIO

Quem conhece? Quem da sua família

praticava este jogo? Quem sabe como joga?

Que material podemos utilizar neste jogo?) e

selecionamos os jogos que foram estudados

e aprendidos. Durante as aulas, conforme

estudávamos cada jogo, estabelecíamos

relações com os esportes, suas regras, sua

estrutura e o seu funcionamento. As práticas

foram realizadas em grandes e pequenos

grupos, trios, duplas e individualmente. As

brincadeiras com bola foram as mais

praticadas. Brincamos na quadra, no campo e

com bolas de diferentes pesos, tamanhos,

cores e texturas. Jogamos boliche, bola ao

cesto, limpa casa e futebol. A corda também

foi um brinquedo bastante explorado. Com a

corda brincamos de pular, de correr e saltar,

passar por baixo, etc. Brincadeiras como

zerinho, aumenta-aumenta e chicotinho

queimado estiveram presentes nas aulas.

Alguns avós e pais das crianças estiveram

presentes em algumas aulas e ensinaram

como eram as suas brincadeiras com bola e

com corda no tempo de crianças. Algumas

brincadeiras, já com traços dos esportes,

foram ensinadas e aprendidas. Jogamos

peteca, tênis, taco e capoeira. Nestas

vivências as crianças conseguiram ver nas

brincadeiras a presença do esporte, muitas

vezes praticados pelos adultos.

Durante as aulas os meninos e as meninas

tiveram a oportunidade de brincar muito e,

mais do que isso, puderam perceber que

"brincar" não é só atividade de criança. Elas

acharam muito interessante quando alguns

pais disseram que quando crianças também

brincavam muito com a bola e com

a corda. Mesmo sem ter a

dimensão do tempo dos adultos,

os alunos puderam viver concretamente a

idéia do brincar como uma necessidade e um

direito de todas as idades.

Por que deu certo?

O mapeamento foi de suma importância para

que pudéssemos organizar e sistematizar as

etapas do trabalho. A partir do diagnóstico

conseguimos dimensionar melhor o tempo e

as aulas que seriam necessárias para dar

conta das nossas expectativas. O contato com

os pais motivou muito os alunos para o

trabalho. Elas não imaginavam que seus pais

e seus avós um dia também foram crianças.

Através do portfólio, elaborado com as

figuras esportivas e os desenhos de jogos e

brincadeiras, possibilitamos que as crianças

ampliassem seu conhecimento sobre os

jogos e os esportes. A parceria estabelecida

com as famílias foi o ponto "forte" do projeto.

Esta estratégia deu muito certo e fez com que

as crianças realizassem as práticas motivadas

para aprender e ensinar uns aos outros. O

diário de bordo, principal instrumento de

registro utilizado durante as aulas, contribuiu

para a nossa reflexão sobre o andamento das

"coisas" e permitiu que fizéssemos os ajustes

e as regulações necessárias para o bom

26

Page 27: JOGO E EXERCICIO

andamento das aulas. Este instrumento

ajudou muito para que pudéssemos olhar

para os avanços e as dif iculdades

e n c o n t r a d a s a o d e c o r r e r d o

desenvolvimento do projeto.

Qual a diferença que o trabalho fez?

O envolvimento dos alunos e dos seus

responsáveis foi fundamental neste trabalho.

O projeto estreitou os laços entre os

professores e a comunidade. Os pais e os avós

passaram a ter mais clareza da seriedade e da

dedicação de todos que trabalham no

programa. Já as crianças ampliaram muito a

sua visão sobre os jogos e os esportes. Além

de terem seu repertório de jogos aumentado,

tiveram a oportunidade de aprender sobre

este fenômeno cultural como algo que

evoluiu e evolui através dos tempos. É

interessante observar que as brincadeiras

estudadas e aprendidas durante este projeto

passaram a fazer parte da rotina das crianças

no núcleo. É muito comum, nas horas livres e

nos momentos que antecedem ou sucedem

as aulas, vermos as crianças pulando corda,

brincando de aumenta-aumenta, jogando

futebol ou capoeira. É muito bom ver que as

crianças estão brincando bastante e que

umas ensinam para as outras novos jogos e

esportes.

O que nós aprendemos?

Aprendemos sobre a importância de

sistematizar o trabalho desenvolvido.

Conseguimos colocar em prática as etapas de

antecipação, observação e regulação do

planejamento. Apuramos nosso senso de

observação e, com um olhar diferenciado,

pudemos refletir e fazer as intervenções

necessárias para que o projeto pudesse dar

c e r to . L e va r e m c o n s i d e ra ç ã o o s

conhecimentos prévios das crianças e as

experiências da própria família nos ajudou

também a dar os "passos" certos em todas as

etapas do projeto. Aprendemos que

podemos aprender uns com os outros e

também a valorizar a parceria do núcleo com

as famílias. Isso ajuda na fidelização das

crianças e solidifica a programa junto à

comunidade.

O que nós aprendemos?

Aprendemos sobre a importância de

sistematizar o trabalho desenvolvido.

Conseguimos colocar em prática as etapas de

antecipação, observação e regulação do

planejamento. Apuramos nosso senso de

observação e, com um olhar diferenciado,

pudemos refletir e fazer as intervenções

necessárias para que o projeto pudesse dar

c e r to . L e va r e m c o n s i d e ra ç ã o o s

conhecimentos prévios das crianças e as

experiências da própria família nos ajudou

também a dar os "passos" certos em todas as

etapas do projeto. Aprendemos que

podemos aprender uns com os outros e

também a valorizar a parceria do núcleo com

as famílias. Isso ajuda na fidelização das

crianças e solidifica a programa junto à

comunidade.

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Page 28: JOGO E EXERCICIO

Nós costumamos dizer que nas Oficinas do melhor percepção do próprio corpo, enfim,

Esporte as crianças Jogam para Aprender, pode ampliar suas chances de dar significado

mas aprender o que? Nas aulas das oficinas, a às coisas do mundo em que vive”.

brincadeira é o principal conteúdo, ou

melhor, o tema gerador de uma pedagogia Na dimensão social e moral, foco deste texto,

que pretende ser forte no ensino de a intenção das oficinas é envolver os alunos

conhecimentos relativos às questões em br incadeiras que favoreçam o

intelectuais, motoras, morais, sociais, desenvolvimento de atitudes cooperativas,

afetivas e estéticas. Isso quer dizer que os fruto das aprendizagens advindas dos

pequenos devem aprender sobre o esporte, diálogos, da construção coletiva de regras,

mas principalmente sobre a vida. das discussões e das tomadas de decisão.

N e s t e s e n t i d o n o s s o o l h a r e s t á

Como professores compromissados com o freqüentemente voltado para a possibilidade

presente e também com o futuro dos nossos de a criança evoluir da autocentração para

alunos acreditamos que é possível termos posturas cada vez mais descentradas, ou seja,

pessoas melhores, vivendo em um mundo para a capacidade de conviver e brincar em

melhor. Alguns fazem isso através da arte, grupo, junto com os amigos, de

outros através da música ou até mesmo da uma forma saudável e

dança. Nós queremos fazê-lo ensinando o harmônica.

esporte. Como diz o Prof. João Freire, “O

esporte nas oficinas é fim, mas também é Saber o que queremos

meio”. É fim porque, quando uma criança ensinar é importante,

vai a um local qualquer aprendê-lo, precisa mas fundamental, tanto

ser satisfeita quanto a isso. Porém, quanto o conteúdo, é o

também é meio, porquanto, quando o método, o jeito de fazer.

aprende, pode aprender também valores, Na educação das atitudes

pode fortalecer seu pensamento, pode o método das oficinas é

aprender a lidar melhor com suas emoções, recheado de algumas

pode desenvolver uma melhor apreciação orientações didáticas que

estética das coisas, pode desenvolver uma incluem ações como

PONTO FINAL“Quando um não quer, dois não brincam”“Quando um não quer, dois não brincam”

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Prof. Fabio D́ Angelo

Page 29: JOGO E EXERCICIO

as transitar do brinquedo individualizado para construir coletivamente, gerar interações e as brincadeiras em grandes grupos, com regras provocar o conflito. É brincando com as cordas, unificadas e comuns para todos. Sabendo o com as bolas, com as caixas, com as garrafas, momento certo de dar e/ou retirar o apoio com as latas e com as tampinhas que conseguimos gerar interações entre as crianças mobilizamos e convidamos as crianças a e, assim, respeitadas nas suas características e vencerem o seu egocentrismo. Se no início necessidades, elas vão aprendendo a diferença parece que o mundo gira no entorno do umbigo entre o “estar juntos” e o “brincar juntos”. A esta de cada uma delas, com o tempo ensinamos e, pedagogia damos o nome de “pedagogia da todas aprendem, a brincar juntas. Como isso é contradição”, um jeito de ensinar que possível? É só ter paciência e não dar “moleza” desencadeia a tomada de consciência e a aos pequenos. compreensão do quanto é “trabalhoso”, mas

também “prazeroso” brincar com os amigos.Estamos falando menos de uma pedagogia

diretiva e autoritária e mais de uma pedagogia Sabemos que a educação esportiva pode seguir que não aponta para aquilo que as crianças já muitos caminhos. Nossa opção foi escolher c o n h e c e m o u f a z e m , n e m p a r a aquele de ensinar para que as pessoas sejam comportamentos que já dominam, mas sim mais solidárias, mais responsáveis; para que para o que não se conhece, não se realiza ou saibam agir coletivamente. Para educar não se domina suficientemente. O segredo está atitudes e construir valores precisamos dar em provocar conflitos que levem os pequenos

“O esporte nas oficinas é fim,

mas também é meio”.

“O esporte nas oficinas é fim,

mas também é meio”.

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Page 30: JOGO E EXERCICIO

tempo ao tempo e criar espaços de ajuda mútua

e reciprocidade, onde as relações de troca entre

onseguimos associar a ação à reflexão, pois ao

falarem sobre o que foi “brincado”, as crianças

confrontam a prática com o pensar sobre este

fazer. Trazem para o plano da imaginação a

brincadeira em curso ou já terminada, e podem

vê-la na imaginação, isto é, olhando para

dentro. É assim que os pequenos aprendem a

“ver” e a entender o que aconteceu. A isso

damos o nome de tomada de consciência. Está é

uma estratégia que fortalece o pensamento das nome de tomada de consciência. Está é uma crianças e ajuda a integrar o fazer e o estratégia que fortalece o pensamento das compreender. Alguém mais desavisado pode crianças e ajuda a integrar o fazer e o dizer: basta então fazer roda de conversa que o compreender. Alguém mais desavisado pode problema da educação das atitudes está dizer: basta então fazer roda de conversa que o resolvido. É claro que não!!! Nós temos a problema da educação das atitudes está clareza de que a “roda” não vai resolver todos os resolvido. É claro que não!!! Nós temos a "problemas", mas ela é o "simbolo" de uma clareza de que a “roda” não vai resolver todos os educação comprometida com a construção da "problemas", mas ela é o "simbolo" de uma autonomia. Quando as crianças percebem seu educação comprometida com a construção da professor e seus colegas atentos e disponíveis autonomia. Quando as crianças percebem seu para ouví-los, elas se sentem mais seguras e professor e seus colegas atentos e disponíveis confiantes para "falar" sobre as "coisas" da aula, para ouví-los, elas se sentem mais seguras e sobre as dificuldades e as “pedras” que estão no confiantes para "falar" sobre as "coisas" da aula, caminho da boa convivência. Com o tempo, elas sobre as dificuldades e as “pedras” que estão no vão aprimorando a qualidade da sua "fala", com caminho da boa convivência. Com o tempo, elas argumentos mais sólidos e consistentes no vão aprimorando a qualidade da sua "fala", com sentido de fortalecer o grupo, sem esquecer, é argumentos mais sólidos e consistentes no lógico, das diferenças e das individualidades. sentido de fortalecer o grupo, sem esquecer, é as crianças e a construção coletiva sejam lógico, das diferenças e das individualidades. valorizadas. Nas oficinas as rodas de conversa,

que com freqüência acontecem durante as Este é um jeito de fazer educação que se apóia aulas, são os espaços privilegiados da na cooperação e não na coação. Vamos e construção coletiva. Nas rodas conseguimos venhamos, brincar em grupo ou praticar associar a ação à reflexão, pois ao falarem sobre esporte, de acordo com regras comuns e o que foi “brincado”, as crianças confrontam a unificadas, não é tarefa fácil. O desafio está prática com o pensar sobre este fazer. Trazem j u s t a m e n t e n a c o m p r e e n s ã o e n o para o plano da imaginação a brincadeira em entendimento, por parte de todos, que no curso ou já terminada, e podem vê-la na espaço da brincadeira em grupo vale o dito imaginação, isto é, olhando para dentro. É assim popular “QUANDO UM NÃO QUER, DOIS NÃO que os pequenos aprendem a “ver” e a BRINCAM”.entender o que aconteceu. A isso damos o

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Page 31: JOGO E EXERCICIO

Alan Leão, Alex, Alexandre Arena, Ana Mozer,

Bárbara Pivato, Bethania Brotto, Bianca Lima, Bruno Gonçalves, Caio Martins,

Carlinhos, Cibele Venáncio, Cibelle Regielle, Claudinei Quirino, Denise,

Douglas Eduardo, Everaldo Cortes, Fabiana, Fábio D´Angelo, Fabrício de Souza, Isabel,

Jefferson, João Batista Freire, Janaina Lima, Janaína Rodrigues, Jéssica Guimarães,

José Camelo, Leandro Moreira, Lívia Resende, Luiz Machado, Mafalda Marques,

Marcelo Jabu, Marilene Tavares, Marta, Mizael, Moreira de Acopiara, Renata Parente,

Renata, Renato Santos, Ricardo Pereira, Rodrigo Paiva, Romildes Lopes, Sergio Hortelan,

Tatiane Maciel, Thayane Santos, Tiago Baia, Vanessa Coutinho, Vanessa Pessoa,

Yara Letícia, ... aos coordenadores de pólo, estagiários, e a todos os alunos.

Allan Aparecido, Ângela Albertinni,

Page 32: JOGO E EXERCICIO