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João Pinto Soares dos Reis Porto, Novembro de 2009 PGO - FMUP

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João Pinto Soares dos Reis

Porto, Novembro de 2009

PGO - FMUP

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[EMBRIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO CRANIOFACIAL]          Novembro de 2009 

 

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ÍNDICE

Introdução 03

Embriologia, crescimento e desenvolvimento crânio facial 04

Natureza do crescimento esquelético 07

Desenvolvimento da cabeça 09

Desenvolvimento do crânio 14

• Viscerocrânio e maxila 16

Desenvolvimento da face 17

• Músculos faciais 18

• Músculos da mastigação 18

Desenvolvimento das cavidades nasais 19

Desenvolvimento da língua 20

Desenvolvimento do palato 22

Desenvolvimento dos dentes 22

Conclusão 26

Bibliografia 29

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INTRODUÇÃO

No âmbito do Módulo I referente ao Curso de Pós-Graduação em

Ortodontia, ano lectivo 2009/2010, surge a necessidade de se elaborar este

trabalho, servindo o mesmo como instrumento de avaliação na mencionada

disciplina.

Sendo assim são objectivos do trabalho:

• Compreender os conceitos relevantes sobre o crescimento e

desenvolvimento craniofacial e suas especificações;

• Identificar as fases do período pré-natal tendo em conta as suas

características inerentes;

• Adquirir conhecimentos essências sobre embriologia craniofacial;

• Dar resposta ao método de avaliação escolhido para o referido curso;

Optou-se por uma metodologia descritiva tendo como apoio a pesquisa

bibliográfica alusiva ao tema em análise.

Este trabalho, encontra-se estruturado nas seguintes partes:

• Embriologia e desenvolvimento craniofacial;

• Natureza do sistema esquelético;

• Desenvolvimento do crânio, face, cavidades nasais, língua, palato e

dentes;

A temática deste trabalho “Embriologia e Desenvolvimento Craniofacial”

é bastante pertinente, na medida em que nos sensibiliza para o facto de que

em ortodontia, o crescimento e o desenvolvimento craniofacial surgem como

um pilar fundamental a ter em conta para uma adequada prática clínica.

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EMBRIOLOGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CRANIOFACIAL

De uma maneira global, a embriologia, nos seus mais diversos planos,

sempre fascinou o Homem, desde as grandes especulações das sociedades

primitivas, até às mais sofisticadas técnicas de inseminação artificial. A

Embriologia engloba o estudo das transformações sucessivas de um ovo até à

constituição de um indivíduo autónomo e independente, semelhante aos seus

progenitores.

Na embriologia, a fecundação é considerada um momento crucial, dando

inicio a um processo de crescimento, desenvolvimento e maturação de um

futuro ser.

O crescimento, enfatiza, mudanças a nível de dimensão, durante o

desenvolvimento, podendo resultar num aumento ou diminuição do tamanho e

variar na forma, proporção, complexidade ou textura. Trata-se de um fenómeno

anatómico e quantitativo resultado directo da divisão celular. O crescimento é

um aumento gradativo em tamanho, rumo às dimensões faciais características

da espécie.

Por conseguinte, o desenvolvimento pode ser definido como sendo o

aumento da complexidade, sendo um fenómeno fisiológico e comportamental.

No desenvolvimento craniofacial, estes factos são creditados às mudanças

estruturais de crescimento, através das quais os tecidos se vão diferenciando

até atingir as características somáticas e funcionais da espécie.

Todo o crescimento e desenvolvimento englobam um período pré-natal

que pode ser dividido em três etapas mais ou menos distintas:

• Implantação do blastócito;

• Fase embrionária;

• Fase fetal;

A primeira fase pré-natal corresponde às três primeiras semanas de

desenvolvimento e que tem início através do processo de fertilização no qual

um gâmeta masculino (espermatozóide) e um gâmeta feminino (ovócito) se

unem formando um zigoto.

Como resultado, a fertilização, ocasiona uma série de divisões mitóticas

(clivagem) que resultam num aumento do número de células (blastômeros)

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que, por sua vez, se tornam menores a cada divisão. Depois de três divisões,

os blastômeros passam por uma compactação, tornando-se uma bola de

células fortemente aderidas e dispostas numa camada interna e externa. Os

blastômeros compactados dividem-se e formam uma mórula com 16 células.

Quando a mórula entra no útero, no terceiro ou quarto dia após a fertilização,

começa a aparecer uma cavidade, formando-se um blastocito. A massa celular

interna, que se formou aquando da compactação, dá origem ao embrião

propriamente dito (embrioblasto), enquanto que, a massa celular externa, que

envolve as células internas e a cavidade do blastocito dá origem ao trofoblasto.

Na segunda semana

de gestação o embrioblasto

forma duas camadas

(epiblasto e hipoblasto)

enquanto que o trofoblasto

e a mesoderme extra-

embrionária diferenciam-se

em duas camadas, dando

origem à cavidade

amniótica e ao saco vitelino.

Na terceira semana de desenvolvimento, o evento mais característico é

a gastrulação que se inicia com o aparecimento da linha primitiva, que, por sua

vez, apresenta o nó primitivo na sua extremidade cefálica. Nesta região do nó e

da linha, ocorre a invaginação de células do embrioblasto, formando-se as três

camadas germinativas do embrião. Células da camada germinativa

mesodérmica intra-embrionária estabelecem contacto com a mesoderme extra-

embrionária que recobre o saco vitelino. Células pronotocordal intercalam-se

na endoderme e formam a placa notocordal, que constitui o eixo da linha média

e que serve de base para o esqueleto axial. As extremidades cefálicas e caudal

do embrião são estabelecidas com a formação da linha primitiva. As

vilosidades primárias adquirem um eixo central mesenquimatoso onde surgem

pequenos capilares. Quando estes capilares entram em contacto com os

capilares da placa coriônica e do pedículo do embrião, o sistema viloso está

pronto para suprir o embrião de nutrientes e oxigénio.

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Após a terceira semana de desenvolvimento, dá-se inicio à fase

embrionária que corresponde ao período entre a quarta e a oitava semana,

durante o qual, cada uma das três camadas germinativas, ectoderme,

mesoderme e endoderma dão origem aos seus próprios tecidos e órgãos,

sendo estabelecidas as principais características da forma do corpo. Esta

diferenciação ocorre no sentido céfalo-caudal.

A ectoderma dá origem aos órgãos e às estruturas que entram em

contacto com o mundo externo: sistema nervoso central e periférico, epitélio

sensorial do ouvido, nariz e olho, pele, pêlos e unhas, esmalte do dente,

hipófise, glândulas mamárias e sudoríparas.

Componentes importantes da mesoderme são o mesoderme paraxial, o

intermediário e a placa lateral. O mesoderme paraxial dá origem ao

mesênquima da cabeça, ao miótomo (tecido muscular), ao esclerótomo

(cartilagem e osso) e ao dermátomo (tecido subcutâneo da pele) - tecidos de

sustentação do corpo - e ao sistema vascular (coração, artérias, veias, vasos

linfáticos) e a todas as células sanguíneas. Para além do referido, origina,

igualmente, o sistema urogenital (rins, gônadas e seus ductos, excepto a

bexiga), o baço e o córtex adrenal.

A camada germinativa endodérmica dá origem ao revestimento epitelial

do tracto gastrointestinal, respiratório e bexiga. Forma o parênquima da tiróide,

das paratiróides, do fígado, do pâncreas, e da cavidade auditiva.

Em consequência da formação dos sistemas de órgãos e do rápido

crescimento do sistema nervoso central, o disco embrionário que se encontra

achatado inicialmente, começa a dobrar-se cefalocaudalmente, formando as

pregas cefálicas e caudal. O disco também se dobra transversalmente (pregas

laterais) dando ao corpo uma forma arredondada. A ligação com o saco vitelino

e com a placenta é mantida, respectivamente, através do ducto vitelino e do

cordão umbilical.

Posto isto, o período entre o inicio da nona semana e o fim da vida intra-

uterina é denominado de período fetal e caracteriza-se pelo rápido crescimento

do corpo e pela maturação dos sistemas de órgãos. O aumento do

comprimento é particularmente notável durante o terceiro, quarto e quinto mês

de gestação, enquanto que o ganho de peso é mais notável durante os dois

últimos meses. Outra alteração notável é a desaceleração relativa do

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crescimento da cabeça. Durante o quinto mês, os movimentos fetais são

claramente perceptíveis pela mãe e o feto apresenta-se recoberto por uma

pelagem fina e curta.

NATUREZA DO CRESCIMENTO ESQUELÉTICO O sistema esquelético desenvolve-se a partir da mesoderme paraxial,

lateral e da crista neural. A mesoderme paraxial forma uma série de segmentos

de tecido em volta do tubo neural denominados de somitômeros na região

cefálica e de somitos na região occipital. Por sua vez, estes somitos,

diferenciam-se em esclerótomo na zona ventromedial e em dermomiótomo na

zona dorsolateral.

As células do esclerótomo, no final da quarta semana, tornam-se

polimórficas, formando o mesênquima ou tecido conjuntivo embrionário. As

células destes tecidos migram e diferenciam-se em fibroblastos, condroblastos

ou osteoblastos.

A capacidade de formação óssea do mesênquima não se restringe às

células do esclerótomo, ocorrendo também na camada mesodérmica somática

da parede corporal, o que contribui para a formação das cinturas escapular e

pélvica assim como dos ossos longos do corpo.

Na região da cabeça, as células da crista neural diferenciam-se em

mesênquima e têm um papel importante na formação dos ossos da face e do

crânio. Os somitos e somitômeros occipitais, também contribuem, para a

formação da abóbada craniana e da base do crânio, existindo três

possibilidades de crescimento, que irão permitir fazer a distinção entre

crescimento dos tecidos moles e dos tecidos duros e que são:

• Aumento do tamanho das células (hipertrofia), que ocorre em várias

circunstâncias específicas;

• Aumento do número de células (hiperplasia), que é consideravelmente

importante em todas as formas de crescimento;

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• Aumento do tamanho das células que segregam material extracelular,

sendo este mineralizado - fenómeno de extrema importância no

crescimento esquelético.

O crescimento dos tecidos moles e da cartilagem não calcificada, dá-se,

pela combinação de hiperplasia e hipertrofia. Todavia, a secreção de material

extracelular pode acompanhar este processo. Este tipo de crescimento é

importante dado que a maior parte do sistema esquelético é originalmente

modelada em cartilagem através de um processo denominado de ossificação

endocondral.

Quando se inicia a mineralização do tecido duro, o crescimento

intersticial passa a ser impossível. O crescimento dá-se unicamente na

superfície dos tecidos mineralizados através de hiperplasia, hipoplasia e

secreção de material extracelular. Esta deposição de novo tecido duro, ocorre

devido à actividade das células do periósteo e é denominada de aposição

directa ou superficial.

O auge do desenvolvimento do esqueleto cartilaginoso ocorre durante o

terceiro mês de vida intra-uterina. Nesta fase, uma lâmina contínua de

cartilagem, estende-se da cápsula nasal, posteriormente, até ao Orifício

Magnum na base craniana. Nos estágios precoces, o tamanho extremamente

pequeno do embrião faz com que o condroesqueleto seja maleável e composto

por lâminas finas. Pelo facto de a cartilagem ser um tecido quase avascular, é

nutrida por difusão das camadas mais externas. Nos estágios posteriores não é

possível esta nutrição por difusão, sendo este tecido, suprido, por vasos

sanguíneos internos.

No quarto mês de vida intra-uterina, diferenciam-se elementos

vasculares em vários pontos do condrocrânio. Estas zonas tornam-se os

centros de ossificação (local onde a cartilagem se transforma em osso).

A cartilagem contínua a crescer e a ossificar rapidamente, resultando

num crescimento relativo e rápido da porção óssea e numa diminuição da

porção cartilaginosa.

O resultado deste processo de ossificação apresenta pequenas áreas de

cartilagem interpostas entre grandes porções de osso, que tomam

configurações típicas dos ossos etmóide, esfenóide ou occipital. O crescimento

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nas conexões cartilaginosas, entre os centros de ossificação, é semelhante ao

crescimento dos membros.

Nos membros (ossos longos) as áreas de ossificação apresentam-se no

centro e nas extremidades, originando a diáfise no centro e em cada

extremidade uma epífise. Entre as epífises e a diáfise existe uma área de

cartilagem não-calcificada (lâmina epifisária) que é o maior centro de

crescimento, responsável pelo aumento em comprimento. O aumento da

espessura e a remodelação externa é responsabilidade do periósteo que se

encontra à superfície destes ossos.

As células da lâmina epifisária sofrem uma rápida divisão celular,

segregam a matriz extracelular e degeneram-se quando a matriz inicia a

mineralização, sendo a cartilagem substituída por osso.

Verifica-se que, se a velocidade de proliferação das células

cartilaginosas, for igual ou superior à velocidade com que elas amadurecem, o

crescimento é contínuo. No entanto, no período final do crescimento normal, a

velocidade de maturação é maior que a de proliferação, sendo a cartilagem

substituída por osso e a lâmina epifisária desaparece, terminando deste modo

o crescimento do osso (excepto à superfície).

Outro modo pelo qual são formados os ossos é a secreção de matriz

óssea directamente nos tecidos conjuntivos, sem a formação intermediária de

cartilagem (formação óssea intra-membranosa). Este tipo de ossificação ocorre

na abóbada craniana e nos maxilares.

Independente da localização e da formação óssea intramembranosa, o

crescimento intersticial na massa mineralizada, é impossível, o que implica

uma formação por aposição do novo osso à superfície, tratando-se de um

processo fundamental no crescimento

DESENVOLVIMENTO DA CABEÇA

O mesênquima que forma a região da cabeça origina-se a partir da

mesoderme paraxial e da placa lateral. Da crista neural e das regiões da

ectoderme formam-se os placóides ectodérmicos. O mesoderme paraxial

(somitos e somitômeros) forma o soalho da caixa craniana e uma pequena

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porção da região occipital, todos os músculos voluntários da região crânio

facial, a derme e o tecido conjuntivo da região dorsal da cabeça, e as meninges

caudais do prosencefalo. O mesoderme lateral forma as cartilagens laríngeas

(aritenóide e cricóide) e o tecido conjuntivo dessa região. As células da crista

neural têm origem no neuroectoderma das regiões do prosencefalo,

mesencefalo e romboencefalo e migram ventralmente para os arcos faríngeos

e rostralmente em torno do prosencefalo e do cálice óptico, na região facial.

Nesses locais, formam-se as estruturas esqueléticas da região média

da face e dos arcos faríngeos, além de todos os outros tecidos dessas regiões,

incluindo cartilagem, ossos, dentina, tendões, derme, aracnóide, neurónios

sensoriais e estroma glandular. Células dos placóides ectodérmicos,

juntamente com células da crista neural, formam os neurónios do quinto,

sétimo, nono e decimo gânglios sensoriais cranianos.

A característica mais típica do desenvolvimento da cabeça e pescoço é

a formação dos arcos faríngeos ou branquiais. Estes arcos aparecem na quarta

e quinta semanas de desenvolvimento e contribuem para dar a aparência

externa, característica do embrião. De inicio, eles são constituídos por barras

de tecido mesenquimal, separadas por fendas denominadas fendas faríngeas

(branquiais). Simultaneamente ao desenvolvimento dos arcos e fendas, várias

bolsas, as bolsas faríngeas, aparecem ao longo das paredes laterais do

intestino faríngeo, a porção mais cefálica do intestino anterior.

Os arcos faríngeos não contribuem apenas para a formação do pescoço

mas também desempenham um papel importante na formação da face. No final

da quarta semana, o centro da face é formado pelo estomodeu, envolto pelo

primeiro par de arcos faríngeos. Quando o embrião atinge 52 semanas de vida,

é possível reconhecer cinco saliências mesenquimais: as saliências

mandibulares (primeiro arco faríngeo), caudais ao etmóide; as saliências

maxilares (porção dorsal do primeiro arco faríngeo), laterais ao etmóide; e a

saliência frontonasal, uma elevação discretamente arredondada em posição

cefálica ao etmóide. O desenvolvimento da face é complementado,

posteriormente, pela formação das saliências nasais.

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Desenvolvimento dos arcos faríngeos

Cada arco faríngeo consiste num núcleo mesenquimatoso coberto,

externamente, por ectoderma da superfície e internamente, por epitélio de

origem endodérmica. Alem do mesênquima derivado da mesoderme paraxial e

da placa lateral, o núcleo de cada arco recebe um número substancial de

células da crista neural, que migram para os arcos para contribuir para a

formação dos componentes esqueléticos da face. O mesoderme original dos

arcos dá origem à musculatura da cabeça e do pescoço. Desse modo, cada

arco faríngeo caracteriza-se por apresentar os seus próprios componentes

musculares, que, por sua vez, possuem o seu próprio nervo craniano. Além

disso, cada arco possui o seu próprio componente arterial.

O primeiro arco faríngeo consiste numa porção dorsal (processo maxilar,

que se estende para a frente sob a região do olho) e, numa porção ventral

(processo mandibular, que contem a cartilagem de Meckel). Durante o

desenvolvimento posterior, a cartilagem de Meckel desaparece, à excepção de

duas porções na sua extremidade dorsal, que persistem e formam o martelo e

a bigorna. O mesênquima do processo maxilar da origem à pré-maxila, à

maxila, ao osso zigomático e à parte do osso temporal, através da ossificação

membranosa. A mandíbula também é formada pela ossificação membranosa

do tecido mesenquimatoso que envolve a cartilagem de Meckel.

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Componentes dos arcos faríngeos.

A musculatura do primeiro arco faríngeo inclui os músculos da

mastigação (temporal, masseter e pterigóides lateral e medial), ventre muscular

anterior do digástrico, milo-hióide, tensor do tímpano, e tensor do palato. A

inervação dos músculos do primeiro arco é feita pelo ramo mandibular do nervo

trigêmio. Como o mesênquima do primeiro arco também contribui para a derme

da face, a inervação sensitiva da pele da face é feita pelos nervos oftálmicos e

maxilar e pelos ramos mandibulares do nervo trigêmio.

A cartilagem do segundo arco faríngeo ou arco hióide (cartilagem de

Reichert) dá origem ao estribo, ao processo estilóide do osso temporal, ao

ligamento estilóide e, ventralmente, ao corno menor do hióide e à porção

superior do corpo do osso hióide. Os músculos do arco hióide são o estapédio,

o estilo-hióide, o ventre muscular posterior do digástrico, o auricular e os

músculos da expressão facial. O nervo facial é o nervo do segundo arco e

inerva todos estes músculos.

A cartilagem do terceiro arco faríngeo produz a porção inferior do corpo

e o corno maior do osso hióide. A musculatura é limitada aos músculos

estilofaríngeos. Estes músculos são inervados pelo nervo glossofaríngeo que é

o nervo do terceiro arco.

Os componentes cartilaginosos do quarto e sexto arcos faríngeos

fundem-se e formam as cartilagens tiróide, cricóide, aritenóide e cuneiforme da

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laringe. Os músculos do quarto arco são o cricotiróide, levantador do véu do

palato e os constritores da faringe e são inervados pelo ramo laríngeo do nervo

vago que é o nervo do quarto arco. Os músculos intrínsecos da laringe são

supridos pelo ramo laríngeo recorrente do vago, o nervo do sexto arco.

O embrião humano possui cinco pares de bolsas faríngeas. A última

dessas é atípica e frequentemente é considerada parte da quarta bolsa.

A primeira bolsa faríngea forma um divertículo em forma de pedículo, o

recesso tubotimpânico, que entra em contacto com o revestimento epitelial da

primeira fenda faríngea, o futuro meato auditivo externo. A porção distal do

divertículo alarga-se, formando uma estrutura em forma de saco que é a

cavidade timpânica (do ouvido médio) primitiva, enquanto a porção proximal

permanece estreita, formando a tuba auditiva (de Eustáquio). O revestimento

da cavidade timpânica participa, posteriormente, na formação da membrana

timpânica (tímpano).

O revestimento epitelial da

segunda bolsa faríngea prolifera e forma

brotos que penetram no mesênquima

circunjacente. Esses brotos são

invadidos, secundariamente, por tecido

mesodérmico, formando o primórdio da

tonsila palatina. Durante o terceiro e o

quinto mês, a tonsila é infiltrada por

tecido linfático. Parte da bolsa

permanece e é encontrada no adulto na

forma de fenda intratonsilar.

A terceira e quarta bolsa são

caracterizadas, em sua extremidade

distal, por uma asa dorsal e outra ventral.

Na quinta semana o epitélio da asa

dorsal da terceira bolsa se diferencia na paratiróide inferior, enquanto a asa

ventral forma o timo. Esses dois primórdios das glândulas perdem a sua

ligação com a parede da faringe e o timo migra em numa direcção caudal e

medial, arrastando consigo a paratiróide inferior.

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O epitélio da asa dorsal da quarta bolsa faríngea forma a paratiróide

superior. Quando a paratiróide perde contacto com a parede da laringe, ela

prende-se à superfície dorsal da tiróide, que migra no sentido caudal e forma a

paratiróide superior.

A quinta bolsa faríngea costuma ser considerada uma parte da quarta

bolsa. Ela da origem ao corpo ultimobranquial que, mais tarde, é incorporado

pela tiróide. As células do corpo ultimobranquial dão origem as células

parafoliculares ou células C, da tiróide. Estas células segregam calcitonina.

O embrião de cinco semanas é caracterizado pela presença de quatro

fendas faríngeas, das quais somente uma contribui para a estrutura definitiva

do embrião. A porção dorsal da primeira fenda penetra no mesênquima

subjacente e dá origem ao meato auditivo externo. O revestimento epitelial no

fundo do meato participa na formação do tímpano.

DESENVOLVIMENTO DO CRÂNIO

O crânio pode ser dividido em duas partes: neurocrânio, que forma uma

caixa protectora em torno do encéfalo e viscerocrânio, que forma o esqueleto

da face. Por sua vez, o neurocrânio é dividido, de modo conveniente, em duas

partes:

• Porção membranosa, constituída por ossos chatos e que formam a

abóbada craniana:

• Porção cartilaginosa denominada de condrocrânio e que forma os ossos

da base do crânio.

A abobada craniana é composta por ossos achatados que são formados

por ossificação intramembranosa, sem precursores cartilaginosos.

O condrocrânio é muito importante para o crescimento da face,

sustentando a face e o cérebro como uma barra de cartilagem que vai desde o

foramen magnum até à região do septo nasal.

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Vista dorsal do condrocrânio

Inicialmente o condrocrânio é constituído por um certo número de

cartilagens separadas. As cartilagens dispostas em frente ao limite da

notocorda, que terminam ao nível da hipófise no centro da sela turca, derivam

de células da crista neural, formando o condrocrânio precordal. As cartilagens

colocadas numa posição posterior a esse limite originam-se da mesoderme

paraxial e formam o condrocrânio cordal. A base do crânio forma-se, na oitava

semana, quando essas mesmas cartilagens se fundem e se ossificam por

ossificação endocondral.

A base occipital é formada pela cartilagem paracordal e pelos corpos de

três esclerótomos occipitais. Numa posição frontal à placa da base do occipital

ficam as cartilagens hipofisárias e as trabéculas cranianas. Essas cartilagens

fundem-se logo, formando, respectivamente o corpo do esfenóide e do

etmóide. Desta maneira, forma-se uma placa cartilaginosa mediana, alongada,

que se estende da região nasal até à borda anterior do foramen magno.

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Outras condensações mesenquimais surgem de ambos os lados da

placa mediana. A mais frontal, a asa orbital, forma a asa menor do osso

esfenóide. Caudalmente, ela é seguida pela asa temporal, que dá origem à asa

maior do esfenóide. Um terceiro componente, a cápsula periótica, dá origem às

porções petrosa e mastóide do osso temporal. Mais tarde, esses componentes

fundem-se, com a placa mediana e uns com os outros, excepto nas aberturas

pelas quais os nervos cranianos saem do crânio.

Viscerocrânio e Maxila

O viscerocrânio é

constituído pelos ossos da

face e é formado

principalmente pelos dois

primeiros arcos faríngeos.

O primeiro arco dá origem

à porção dorsal,

denominada de processo

maxilar, que se estende

para a frente sob a região

do olho e dá origem à

maxila, ao osso zigomático e à parte do osso temporal. A porção ventral

denominada de processo mandibular contém a cartilagem de Meckel. O

mesênquima em torno da cartilagem de Meckel, condensa-se e ossifica por

ossificação membranosa, dando origem à mandíbula. A cartilagem de Meckel

desaparece, excepto no ligamento esfenomandibular. Mais tarde, a

extremidade dorsal do processo mandibular, juntamente com a do segundo

arco faríngeo, dá origem à bigorna, ao martelo e ao estribo. A ossificação

destes três ossículos começa no quarto mês, tornando-os os primeiros ossos a

ficarem completamente ossificados. O mesênquima do qual se formam os

ossos da face, inclusive os ossos nasais e lacrimais, deriva das células da

crista neural.

De referir que ao longo da superfície do corpo da mandíbula forma-se

osso entre os folículos dentários. Adjacente a este crescimento, o tecido

conjuntivo fibroso da cartilagem sinfisal une as duas metades da mandíbula,

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formando um centro de crescimento ate ao primeiro ano de vida pós-natal,

dando-se então a calcificação de toda esta cartilagem. Na altura do nascimento

o ângulo da mandíbula é formado por 130 graus em relação ao côndilo.

Inicialmente a face é pequena comparativamente ao neurocrânio. Este

aspecto é causado pela ausência virtual dos seios aéreos paranasais e pelo

tamanho pequeno dos ossos maxilares. Com o aparecimento dos dentes e o

desenvolvimento dos seios aéreos, a face perde as suas características

infantis.

DESENVOLVIMENTO DA FACE

A face apresenta um crescimento por remodelação (que produz a forma,

o tamanho e o ajustamento de um osso), crescimento por deslocamento

primário (aumento do próprio osso) e secundário (movimento de todo o osso

causado pelo crescimento separado de outros ossos).

As saliências faciais aparecem no final da quarta semana e consistem,

primariamente, no mesênquima originário das células da crista neural e são

formadas principalmente pelo primeiro par de arcos faríngeos. As saliências

maxilares podem ser encontradas numa posição lateral ao estomodeu,

enquanto as saliências mandibulares podem ser encontradas numa posição

caudal a essa estrutura. A saliência frontonasal, formada pela proliferação do

mesênquima ventral às vesículas cerebrais, constitui a borda superior do

estomodeu. De ambos os lados da saliência frontonasal aparecem

espessamentos locais da ectoderma da superfície, os placóides nasais

(olfativos), que se originam sob a influência indutora da porção ventral do

prosencéfalo.

Durante a quinta semana, os placóides nasais invaginam-se, formando

as fossetas nasais. As saliências da borda externa das fossetas são as

saliências nasais laterais enquanto que as da borda interna constituem as

saliências nasais mediais.

O lábio superior é formado por duas saliências nasais médias e duas

saliências maxilares. As saliências nasais laterais não participam na formação

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do lábio superior. O lábio inferior e a mandíbula formam-se a partir das

saliências mandibulares que se fundem na linha média.

No inicio, as saliências maxilares e nasais laterais são separadas pelo

sulco nasolacrimal. A ectoderma do soalho desse sulco forma um cordão

epitelial maciço que se destaca da ectoderma sobrejacente. Após ser

canalizado, o cordão forma o ducto nasolacrimal. A sua extremidade superior

alarga-se, formando o suco lacrimal. O ducto nasolacrimal vai desde o canto

medial do olho para o meato inferior da cavidade nasal, e as saliências

maxilares aumentam para formar a mucosa jugal e a maxila.

Músculos Faciais

Os primórdios dos músculos faciais surgem na quarta semana na porção

ventrolateral do arco hióide. Esta massa muscular na quinta semana desdobra-

se devido à elevação da cabeça, abrindo-se então em leque e aparecem os

músculos estilo-hióideo e digástrico.

No período entre a quinta e a nona semana ocorre a diferenciação dos

músculos faciais, ocorrendo a separação entre a camada superficial e

profunda. A camada superficial forma o músculo platisma, os músculos da

mandíbula à mucosa jugal e da região frontal à temporal. A camada profunda

origina o esfíncter do pescoço que origina músculos como o occipital, orbicular,

canino e incisivo dos lábios superiores. Durante a décima terceira semana com

origem no esfíncter do pescoço diferenciam-se também os músculos bucinador

e orbicular dos olhos.

Desenvolve-se então a almofada adiposa que reveste o músculo

bucinador, esta estrutura cresce e aprofunda-se entre o músculo temporal e

masseter.

Músculos da Mastigação

Os músculos da mastigação diferenciam-se no mesênquima do arco

mandibular, estando em estreita relação com a cartilagem de Merkel e as

cartilagens da base do crânio, sendo independentes, inserindo-se no esqueleto

ósseo mais tarde.

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Os músculos pterigoideus

diferenciam-se na sétima semana

relacionando-se de imediato com as

cartilagens da base do crânio e com as

cartilagens condilares.

O músculo temporal começa o

desenvolvimento ocupando o espaço

anterior à cápsula óptica. A par da

ossificação do osso temporal na décima

terceira semana, o músculo insere-se na

superfície ampla deste osso. A formação

típica fetal dos músculos mastigatorios surge

durante a vigésima segunda semana.

DESENVOLVIMENTO DAS CAVIDADES NASAIS

O nariz é formado por cinco saliências faciais. A saliência frontal dá

origem à ponte; as saliências nasais e mediais, fundidas, fornecem a crista e as

saliências nasais laterais formam os lados (asas do nariz).

Até à formação óssea, o suporte esquelético da face superior é a

cápsula nasal. Lateral e inferiormente cresce osso devido aos centros de

ossificação que têm origem na cartilagem da base craniana. Deste modo,

formam-se os centros de ossificação nasal que crescem formando os

correspondentes ossos que ficam separados por suturas: pré-maxilar, lacrimal,

zigomático, palatino e temporal.

Durante a sexta semana, as fossetas nasais aprofundam-se

consideravelmente, em parte por causa do crescimento das saliências nasais

circundantes, e em parte por causa da sua penetração no mesênquima

subjacente. No inicio, a membrana oronasal separa as fossetas da cavidade

oral primitiva por meio dos cornetos primitivos. Posteriormente, com a formação

do palato secundário e o desenvolvimento posterior das cavidades nasais

primitivas, os cornetos definitivos vão-se situar na junção da cavidade nasal

com a faringe.

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A cápsula nasal é uma grande e importante cartilagem da face que

termina o seu crescimento numa fase pós-natal e é formada pelo septo médio e

por duas asas de cartilagem laterais.

DESENVOLVIMENTO DA LÍNGUA

A língua desenvolve-se entre a quarta e a nona semana de vida intra-

uterina.

A língua aparece no embrião de aproximadamente quatro semanas na

forma de duas saliências laterais da língua e uma saliência medial, o tubérculo

impar. Essas três saliências têm origem no primeiro arco faríngeo. Uma

segunda saliência medial, a cópula, ou eminência hipobranquial, é formada

pelo mesoderma do segundo, terceiro e parte do quarto arco faríngeo.

Finalmente, uma terceira saliência medial, formada pela porção posterior do

quarto arco, assinala o desenvolvimento da epiglote, imediatamente atrás

dessa saliência esta o orifício laríngeo, que é ladeado pelas saliências

aritenóides.

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Língua com 5 semanas(A) e 5 meses (B) 

 

Ao crescerem, as saliências laterais sobrepõem-se ao tubérculo impar e

fundem-se, formando os dois terços anteriores ou corpo da língua. Como a

mucosa que recobre o corpo da língua tem origem no primeiro arco faríngeo, a

inervação sensitiva dessa área é feita pelo ramo mandibular do nervo trigêmio.

O corpo da língua é separado do terço posterior por uma fenda em V, o sulco

terminal.

A porção posterior da língua tem origem no segundo, terceiro e parte do

quarto arco faríngeo. O facto da inervação sensitiva dessa parte da língua ser

suprida pelo nervo glossofaríngeo indica que o tecido do terceiro arco se

sobrepõe ao do segundo. É também inervada pelo nervo vago, o nervo do

quarto arco.

A epiglote e a porção da extremidade posterior da língua são inervadas

pelo nervo laríngeo superior, reflectindo o seu desenvolvimento do quarto arco.

Alguns dos músculos da língua são derivados de mioblastos que se originaram

dos somitos occipitais. Assim, a musculatura da língua é inervada pelo nervo

hipoglosso.

A inervação sensorial especial (paladar) para os 2/3 anteriores do corpo

da língua é fornecida pelo ramo da corda timpânica do nervo facial enquanto ao

nível do 1/3 posterior é suprido pelo nervo glossofaríngeo.

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DESENVOLVIMENTO DO PALATO O palato desenvolve-se entre a oitava e a décima semana e os ossos

que o formam têm origem em diversos centros de ossificação.

O palato primário deriva do segmento intermaxilar e o palato definitivo é

formado por duas projecções em forma de prateleiras originarias das saliências

maxilares. Os processos laterais do palato aparecem na sexta semana do

desenvolvimento e são dirigidas obliquamente para baixo, de ambos os lados

da língua. Na sétima semana os processos do palato elevam-se ate atingirem

uma posição horizontal acima da língua, fundindo-se para formar o palato

secundário.

Na porção anterior, os processos fundem-se com o palato primário

triangular, e o forame dos incisivos constitui o ponto de referência na linha

média entre os palatos primário e secundário.

Na décima quarta semana, o palato ósseos já se encontra bastante

diferenciado com uma sutura na linha média, separando os ossos dá pré-

maxila, maxila e palatino; surge também uma sutura bilateral entre as faces

palatinas da pré-maxila e da maxila.

DESENVOLVIMENTO DOS DENTES

A forma da face é determinada não só pela expansão dos seios

paranasais, mas também pelo crescimento da mandíbula e da maxila para

acomodar os dentes.

Os dentes originam-se de uma interacção epitélio-mesenquimatosa

entre o epitélio oral sobrejacente e o mesênquima subjacente derivado de

células da crista neural.

Na sexta semana, o desenvolvimento da camada basal do revestimento

epitelial da cavidade oral forma uma estrutura em forma de C, a lâmina

dentária, ao longo de toda a extensão dos maxilares superior e inferior. Essa

lâmina dá origem a vários brotos de dentes, dez na maxila e dez na mandíbula,

que formam os primórdios dos componentes ectodérmicos dos dentes. Logo

que a superfície profunda dos brotos sofre uma invaginação, dá-se inicio à fase

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de capuz do desenvolvimento do dente. Esse capuz consiste numa camada

externa (epitélio dental externo), numa camada interna (epitélio dental interno),

e num núcleo central de células frouxamente organizadas denominado de

retículo estrelado. O mesênquima, que na dentição tem origem na crista neural,

forma a papila dentária.

 

Formação do dente em desenvolvimento 

A – 8 semanas; B – 10 semanas; C – 3 meses; D – 6 meses 

 

Com o crescimento do capuz dentário e o aprofundamento da sua

inserção, o dente assume a forma de um sino. Células mesenquimais da papila

adjacentes à camada dentária interna diferenciam-se em odontoblastos que,

mais tarde, irão produzir dentina. Com o espessamento da camada de dentina,

os odontoblastos recuam para o interior da papila dentária, deixando um fino

prolongamento citoplasmático (prolongamento da dentina) embutido na

dentina. A camada de odontoblastos persiste por toda a vida do dente e

fornece pré-dentina continuamente. As restantes células da papila dentária

formam a polpa do dente.

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Enquanto isto, as células epiteliais do epitélio dental externo

diferenciam-se em ameloblastos (formadores de esmalte). Essas células

produzem longos prismas de esmalte que são depositados sobre a dentina. A

camada que faz contacto entre o esmalte e a dentina também é conhecida por

junção amelodentinária.

O esmalte é, inicialmente, depositado sobre o ápice do dente,

espalhando-se, a partir daí, para o colo. Quando o esmalte fica espesso, os

ameloblastos recuam para o reticulo estrelado. Aí regridem temporariamente,

deixando uma membrana delgada (cutícula dentária) sobre a superfície do

esmalte, que se desprende, gradualmente, após a erupção do dente.

A formação da raiz do dente começa quando as camadas epiteliais

dentárias penetram no mesênquima subjacente e formam a bainha epitelial da

raiz. As células da papila dentária produzem uma camada de dentina contínua

com a coroa. Com o depósito continuado de dentina, a câmara da polpa sofre

um estreitamento até formar um canal contendo os vasos sanguíneos e os

nervos do dente.

As células mesenquimais, no aspecto esterno do dente e em contacto

com a dentina da raiz diferenciam-se em cementoblastos. Essas células

produzem uma fina camada de osso especializado, o cemento. Externamente à

camada de cemento, o mesênquima dá origem ao ligamento periodontol, que

prende o dente firmemente, funcionante de amortecedor contra os impactos.

Com o alongamento da raiz, a coroa vai sendo gradativamente

empurrada através das camadas de tecido subjacente em direcção à cavidade

oral. A erupção dos dentes decíduos ou dentes de leite ocorre entre o sexto e o

vigésimo quarto mês após o nascimento.

Os brotos para os dentes permanentes, que ficam no aspecto lingual dos

dentes de leite, formam-se durante o terceiro mês do desenvolvimento. Estes

brotos permanecem latentes ate, aproximadamente, o sexto ano de vida pós-

natal. A partir daí, começam a crescer, empurrando a parte inferior dos dentes

de leite. Com o crescimento dos dentes permanentes, a raiz dos dentes

decíduos é reabsorvida por osteoclastos.

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De referir que a pré-maxila desenvolvem-se os incisivos superiores e na

maxila os caninos e os molares superiores.

 

Reposição dos  dentes decíduos por dentes permanentes numa criança de 8/9 anos.

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CONCLUSÃO O conhecimento de conceitos básicos sobre o crescimento e o

desenvolvimento craniofacial é fundamental para um perfeito entendimento da

prática ortodôntica e para uma consequente actuação terapêutica adequada.

O crescimento craniofacial é um assunto dominado pelos ortodontistas,

podendo ser definido como sendo um aspecto quantitativo do desenvolvimento

biológico. Resulta directamente da divisão celular ou indirectamente da

actividade biológica como por exemplo dos ossos ou dentes. Enfatiza as

mudanças normais de dimensão durante o desenvolvimento; pode resultar em

aumento ou diminuição de tamanho, e variar em forma ou proporção, em

complexidade e textura.

O crescimento ocorre desde o nascimento até à maturidade

(estabilização do estágio adulto, atingido através do crescimento e

desenvolvimento) em zonas distais, em diferentes graus, através de surtos,

apresentando certo ritmo. O crescimento é um processo físico-químico

característico da matéria viva. O crescimento é o aumento gradativo em

tamanho rumo as dimensões faciais que são características da espécie.

O desenvolvimento pode ser definido como toda a série de eventos em

sequência normal entre a fertilização do ovo e o estado adulto. No

desenvolvimento crânio facial, estes factos estão relacionados com as

mudanças estruturais, através das quais os tecidos vão se diferenciando até

atingir as características somáticas e funcionais da espécie. Esse

desenvolvimento ocorre desde a fecundação até a maturidade do indivíduo,

levando a um aprimoramento gradativo das funções que originam a maturidade

fisiológica.

O período pré-natal pode ser dividido em três etapas: implantação do

blastocito que corresponde às três primeiras semanas do desenvolvimento e

onde se evidencia a diferenciação dos epitélios germinativos e das membranas

extra-embrionárias; fase embrionária, da quarta à oitava semana, nas quais o

crescimento é muito rápido, constituindo-se os principais sistemas de órgãos e

finalmente fase fetal, na qual ocorre um complemento parcial no crescimento

com alterações significativas na forma externa.

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Durante as quatro primeiras semanas de vida intra-uterina estabelece-se

o plano fundamental da estruturação individual da face. Formam-se

primariamente o prosencéfalo que é visível pela expansão da extremidade

cefálica do embrião. Diferenciam-se duas áreas nessa zona do prosencéfalo: a

área nasal e a cabeça. Bem como outros tecidos que migram a fim de formar

os processos maxilares e o arco mandibular. A região abaixo do prosencéfalo

do embrião segmenta-se nos cinco arcos branquiais de aspecto tubular,

limitadas por fendas e sulcos.

A face média e inferior desenvolvem-se em grande parte tendo como

origem o primeiro e segundo arco, denominados por arco mandibular e arco

hióide, respectivamente. O terceiro arco contribui também para a formação da

base da língua. Estes arcos branquiais estão na origem de tecidos epiteliais,

conjuntivos, vasculares, musculares e esqueléticos.

Ainda durante a mesma fase, a zona posterior da fenda bucal

(ectoderma) contacta com o intestino anterior (formado por endoderma),

estabelecendo-se a continuidade entre o tracto gastrointestinal e o rascunho da

“cavidade oral”. Estabeleceu-se que a diferenciação da face ocorre entre a

quinta e a sétima semanas da vida pré-natal, ocorrendo variadíssimos eventos

que condicionam a formação da face. Na quinta semana a fenda bucal está

rodeada pelo arco mandibular abaixo, e pela área frontal acima. Identifica-se

um sulco na linha média que desaparece por volta da sexta semana.

Surgem então duas Áreas Ovais salientes um pouco acima na zona

lateral da futura boca. À medida que crescem os tecidos que as circundam, os

centros destas saliências tornam-se depressões e depois cavidades que irão

dar origem às futuras narinas e as massas de tecido que as circundam irão

originar a ponte e as faces laterais do nariz. O tecido entre as fendas nasais é

denominado por processo nasal mediano e os tecidos laterais às fendas nasais

são chamados por processos nasais laterais.

No decurso de desenvolvimento as fendas nasais alongam-se e as suas

margens anteriores elevam-se originando a forma de ferradura das narinas. À

medida que crescem para a frente, as extremidades inferiores dessas

ferraduras entram em contacto umas com as outras.

O tecido abaixo de cada narina primitiva forma a primeira separação da

cavidade nasal e cavidade oral – lábio superior e palato primário; sendo o seu

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modo de fusão um processo extremamente importante, dado que, qualquer

falha no desenvolvimento pode originar um lábio leporino e/ou fenda palatina

(prevalência de 1 em cada 800 nascimentos).

No decurso da 6ª semana e meia as proporções faciais demonstram

alterações significativas devido a um aumento na dimensão lateral das fendas

nasais. Ocorre simultaneamente uma expansão da região anterior do cérebro

que leva a que as regiões maxilares laterais cresçam para a zona frontal da

face. Deste modo a zona nasal representa agora uma pequena proporção da

face comparativamente com estágios anteriores. Por volta da sétima semana já

é possível diferenciar a face humana da face dos restantes mamíferos, devido

essencialmente à localização anterior dos olhos, diferenciação do nariz e

aumento da mandíbula.

No intervalo entre décima segunda e a trigésima sexta semana, a

estrutura craniofacial aumenta em comprimento, em largura e em altura,

mantendo uma proporção constante entre a largura e comprimento. No

crescimento pós-natal esta proporção é gradualmente reduzida estabelecendo-

se aproximadamente em 2:1 no individuo adulto. A abóbada craniana é

proporcionalmente maior que a face no período embrionário, sendo cerca de

cinco vezes maior nos quatro meses seguintes devido ao crescimento facial.

Todavia ocorre um surto de crescimento do crânio nos últimos meses pré-

natais alcançando uma proporção 8 vezes maior do crânio relativamente à face

ao nascimento.

A realização de todo este trabalho foi de extrema importância, permitindo

não só a aquisição mas também o aprofundamento de conhecimentos, que

contribuem de forma crucial para o meu crescimento não só pessoal mas

profissional e para uma prática ortodôntica adequada.

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BIBLIOGRAFIA

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