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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2012 - ANO XIV - N o 180 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória Teremos eleições municipais em outu- bro deste ano. Os pré-candidatos a prefeito que pleiteiam esse importante cargo para a vida da cidade se mobilizam. O cenário político se desenha e nele observamos os mais diversos personagens se articulando. Para que possamos escolher o melhor candidato para administrar o município é preciso que nós, eleitores, busquemos conhecê-lo, bem como a sua formação, história de vida, capacidade de trabalho e disposição para estar 24 horas a serviço da comunidade. De acordo com nossas tradições político-constitucionais e o sistema de organização municipal vigente no país, a posição do prefeito como chefe do Exe- cutivo confere-lhe papel de grande relevo na condução dos negócios do município e da comunidade local. Amplas são suas atribuições, e grandes, portanto, suas responsabilidades, tanto do ponto de vista legal, como pelo fato de que é o principal depositário da confiança popular para a solução dos problemas do município. Como chefe do Executivo, o prefeito tem funções políticas, executivas e administrativas. A importância dessas funções resulta do fato de que o prefeito não é funcionário, mas agente político responsável pelo ramo executivo de uma unidade de governo autônomo – o Município. Como tal, o prefeito não é subordinado a outra autoridade, apenas à lei. Acatará a lei e os mandados judiciais, como qualquer autoridade e qualquer pessoa. Por ser agente político conduzido ao cargo por eleição popular, com o apoio da maioria do eleitorado local, o prefeito torna- se porta-voz natural dos interesses e reivindicações municipais perante a Câmara e outras esferas de governo, além de quaisquer forças que possam contribuir para o bem-estar da população e o progresso do município. As funções políticas do prefeito não se esgotam na sua capacidade de lidar com a Câmara, negociar convênios ou obter benefícios ou auxílios para o município. A lei atribui a ele a prática de uma série de atos de natureza política como apresentar projetos de leis à Câmara Municipal, sancionar, promulgar, fazer publicar e vetar leis, convocar extraordinariamente a Câmara quando necessário e representar o município em todas as circunstâncias. As funções executivas e adminis- trativas do prefeito constituem, porém, a sua principal responsabilidade. Como chefe do Executivo Municipal, cabem-lhe, sobretudo, as funções que caracterizam universalmente as chefias de alto nível: planejar, comandar, coordenar, controlar e manter contatos externos. Pelo exposto, conclui-se que não é fácil escolher um candidato que reúna essas características para exercer o cargo de prefeito. É preciso uma análise criteriosa. Piquete não pode mais se lançar a uma aventura de escolher um candidato despreparado. Precisamos, a exemplo de outros municípios, entrar maduramente no século XXI. As eleições de outubro Há um ano, tomou posse a primeira mulher eleita para ocupar o cargo de Presidente do Brasil. Quando foi lançada candidata, houve muita espe- culação e criou-se uma enorme expec- tativa sobre seu nome. Muitos, por preconceito, apontavam que, por ser mulher, não teria pulso firme para conduzir o país e dominar as investidas políticas. Pesquisa Datafolha realizada no início deste mês aponta o contrário. A presidente Dilma Roussef atingiu, ao final do primeiro ano de seu governo, índice de aprovação maior do que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. A maioria dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa. Quando de discurso como presidente eleita, Dilma, após agradecer a todos os brasileiros e ressaltar o avanço democrático do país, falou sobre a importância da mulher: “Registro aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda a nossa sociedade”. Prometeu que em seu governo não haveria compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Comprometeu-se com uma política econômica responsável, de combate à inflação e seriedade nas contas públicas. A pesquisa Datafolha mostra a coerência das palavras da presidente: Dilma demonstrou firmeza nas crises e passou a imagem de que é rápida para decidir e não titubeia para demitir quem se envolve em irregularidades. Fica claro, ainda, que sua imagem não foi abalada pelos escândalos, em 2011, no mais alto escalão do governo, em que sete ministros caíram, sendo seis sob suspeita de corrupção. Ao contrário, tem melhorado dia-a-dia: ela é considerada decidida, muito inteligente, preparada intelectualmente e sincera, pela maioria dos brasileiros. Amplas são as atribuições do prefeito, e grandes, portanto, suas responsabilidades, tanto do ponto de vista legal, como pelo fato de que é o principal depositário da confiança popular para a solução dos problemas do município.

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ANO XIV - No. 180

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Page 1: JANEIRO 2012

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2012 - ANO XIV - No 180

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

Teremos eleições municipais em outu-bro deste ano. Os pré-candidatos a prefeitoque pleiteiam esse importante cargo para avida da cidade se mobilizam. O cenáriopolítico se desenha e nele observamos osmais diversos personagens se articulando.

Para que possamos escolher o melhorcandidato para administrar o município épreciso que nós, eleitores, busquemosconhecê-lo, bem como a sua formação,história de vida, capacidade de trabalho edisposição para estar 24 horas a serviço dacomunidade.

De acordo com nossas tradiçõespolítico-constitucionais e o sistema deorganização municipal vigente no país, aposição do prefeito como chefe do Exe-cutivo confere-lhe papel de grande relevona condução dos negócios do município eda comunidade local. Amplas são suasatribuições, e grandes, portanto, suasresponsabilidades, tanto do ponto de vistalegal, como pelo fato de que é o principaldepositário da confiança popular para asolução dos problemas do município.

Como chefe do Executivo, o prefeitotem funções políticas, executivas eadministrativas. A importância dessasfunções resulta do fato de que o prefeitonão é funcionário, mas agente políticoresponsável pelo ramo executivo de umaunidade de governo autônomo – oMunicípio. Como tal, o prefeito não ésubordinado a outra autoridade, apenasà lei . Acatará a lei e os mandadosjudiciais, como qualquer autoridade equalquer pessoa.

Por ser agente político conduzido aocargo por eleição popular, com o apoio damaioria do eleitorado local, o prefeito torna-se porta-voz natural dos interesses ereivindicações municipais perante aCâmara e outras esferas de governo, alémde quaisquer forças que possam contribuirpara o bem-estar da população e o progressodo município.

As funções políticas do prefeito não seesgotam na sua capacidade de lidar com aCâmara, negociar convênios ou obterbenefícios ou auxílios para o município. Alei atribui a ele a prática de uma série deatos de natureza política como apresentarprojetos de leis à Câmara Municipal,sancionar, promulgar, fazer publicar e vetarleis, convocar extraordinariamente aCâmara quando necessário e representar omunicípio em todas as circunstâncias.

As funções executivas e adminis-trativas do prefeito constituem, porém, asua principal responsabilidade. Comochefe do Executivo Municipal, cabem-lhe,sobretudo, as funções que caracterizamuniversalmente as chefias de alto nível:planejar, comandar, coordenar, controlare manter contatos externos.

Pelo exposto, conclui-se que não é fácilescolher um candidato que reúna essascaracterísticas para exercer o cargo deprefeito. É preciso uma análise criteriosa.Piquete não pode mais se lançar a umaaventura de escolher um candidatodespreparado. Precisamos, a exemplo deoutros municípios, entrar maduramente noséculo XXI.

As eleições de outubro

Há um ano, tomou posse a primeiramulher eleita para ocupar o cargo dePresidente do Brasil. Quando foilançada candidata, houve muita espe-culação e criou-se uma enorme expec-tativa sobre seu nome. Muitos, porpreconceito, apontavam que, por sermulher, não teria pulso firme paraconduzir o país e dominar as investidaspolíticas.

Pesquisa Datafolha realizada noinício deste mês aponta o contrário. Apresidente Dilma Roussef atingiu, aofinal do primeiro ano de seu governo,índice de aprovação maior do que oalcançado nesse estágio por todos ospresidentes que a antecederam desde avolta das eleições diretas. A maioria dosbrasileiros consideram sua gestão ótimaou boa.

Quando de discurso como presidenteeleita, Dilma, após agradecer a todosos brasileiros e ressaltar o avançodemocrático do país, falou sobre aimportância da mulher: “Registro aquimeu primeiro compromisso após aeleição: honrar as mulheres brasileiras,para que este fato, até hoje inédito, setransforme num evento natural. E queele possa se repetir e se ampliar nasempresas, nas instituições civis, nasentidades representativas de toda anossa sociedade”. Prometeu que em seugoverno não haveria compromisso como erro, o desvio e o malfeito.Comprometeu-se com uma políticaeconômica responsável, de combate àinflação e seriedade nas contas públicas.

A pesquisa Datafolha mostra acoerência das palavras da presidente:Dilma demonstrou firmeza nas crises epassou a imagem de que é rápida paradecidir e não titubeia para demitir quemse envolve em irregularidades. Ficaclaro, ainda, que sua imagem não foiabalada pelos escândalos, em 2011, nomais alto escalão do governo, em quesete ministros caíram, sendo seis sobsuspeita de corrupção. Ao contrário,tem melhorado dia-a-dia: ela éconsiderada decidida, muito inteligente,preparada intelectualmente e sincera,pela maioria dos brasileiros.

Amplas são as atribuições do prefeito, e grandes, portanto, suas responsabilidades, tanto do ponto devista legal, como pelo fato de que é o principal depositário da confiança popular para a solução dosproblemas do município.

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Página 2 Piquete, janeiro de 2012

Foto Arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:

Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Para abrilhantar os desfiles cívicospromovidos pela Fábrica de Pólvora eExplosivos de Piquete, foi criada, em1938, uma banda de música formada poroperários da referida instituição, sendo quea maioria integrava a Corporação MusicalEuterpe Piquetense.

Os músicos da Euterpe que não eramoperários acabaram incorporados à novabanda, tornando-se funcionários públicosfederais. A Banda tinha como finalidadeconferir maior solenidade às festividadesoficiais de paradas, comemorações e, ainda,recepções às autoridades militares quevisitavam a Fábrica. Quando formada, eraconstituída por um efetivo reduzido: ummestre, um contra-mestre e 24 músicos. Paraseu bom desempenho, contava com diretore auxiliares. O diretor da Banda podia serum oficial militar ou técnico civil indicadopela Diretoria da Fábrica; competia a eleorientar e supervisionar as atividades, alémde organizar retretas e concertos periódicosem logradouros da cidade e nos diversoscírculos da Fábrica – Cassino, GrêmioGeneral Carneiro, Grêmio Duque de Caxias.Cabia-lhe também manter conjuntos mu-sicais de jazz, orquestra e regionais, e zelarpelo aprimoramento musical dos com-ponentes da Banda e dos conjuntos,respondendo, ainda, pela boa apresentaçãodos músicos sob sua direção.

O recrutamento de novos músicos erafeito por meio de um concurso, que constavade provas de rudimentos de português,aritmética, geografia, história do Brasil,teoria musical, solfejo e rudimentos deharmonia. Na prova prática, era necessárioexecutar dois trechos clássicos: um esco-lhido pelo candidato e outro, por uma

comissão composta pelo diretor da Banda,mestre de música e um músico de 1a Classe.

Desde a criação da Banda exerceu afunção de mestre de música o maestro JoãoEvangelista e de contra-mestre o maestroJosé de Castro Ferreira. O mestre demúsica, auxiliar imediato do diretor, era oencarregado pela Banda e pelos conjuntosmusicais, cabendo-lhe a responsabilidadedireta pela perfeita apresentação dosmúsicos, bem como a conservação doinstrumental e do salão da banda. Sob suaguarda ficavam os documentos rela-cionados à vida da Banda, como a escri-turação do movimento financeiro e dosconjuntos. Ao contra-mestre competiasubstituí-lo eventualmente.

Havia entre os músicos uma disciplinairretocável. Eles deveriam se esforçar pelopróprio desenvolvimento, procurandomelhorar cada vez mais os conhecimentostécnicos. Havia, ainda, copista e arquivistaescolhidos entre eles. Os músicos da Bandada Fábrica eram classificados em 1a, 2a e 3a

classes, e o instrumental era composto porclarinete, piston, trombone, bombardino,bumbo, prato e caixa. Os ensaios acon-teciam na sede da Banda, um prédioexistente junto ao antigo Contingente. ABanda ensaiava no primeiro expediente e aorquestra e o jazz no segundo, com inícioàs oito e às treze horas, respectivamente.Mensalmente eram adquiridas partituras,ampliando-se, sempre, o já vasto repertório.A qualidade musical de seus profissionaisera indiscutível. A Banda e os conjuntosmusicais da Fábrica executavam músicasmarciais, sinfônicas e populares. Concor-riam para dar maior brilhantismo àsfestividades sociais do pessoal da Fábrica.

O sucesso de seus músicos extrapolavafronteiras, de maneira que, tanto a bandacomo os Jazz Bands eram frequentementerequisitados para bailes, retretas e desfilesnas cidades da região. Quem ouviu oudançou sob o ritmo desses músicos pôdetestemunhar o que de melhor se produziuem música não só em Piquete e região, maspelo interior do Brasil.

Músicos da Foto: José de CastroFerreira (regente), Pedro Galli, Cabral,Augusto Souza, José Maria, W.Galli, B.Prado, J.V.Soares, H.Maziero, J.Aquino,Luiz de Barros, Bandeira, Lorena,Waldomiro, F.Assis, P.Galvão, A.Viana,B.Chaves, S.Miranda, J.Augusto, Jorgede Freitas, José Divino, A.M.Camargo,Lira, J.R.Fernandes, R. Gerônimo, J.Ribeiro, J. Brasil, L.V. Soares, RosmindoTeodoro, C.V.Soares, Arneiro, J.M.Barbosa e José Gonçalves.

A Banda de Música da Fábrica de Piquete

***************

Banda de Música da Fábrica de Piquete em sua formação original. Uma das melhores bandas do interior de São Paulo, contava com músicos escolhidospor meio de concurso e conferia solenidade às comemorações e recepções às autoridades militares que visitavam a Fábrica. Foto de 1939.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, janeiro de 2012

Hugo do Hospital

Para muitos, o ato de ler um livro (nãoimporta se literário, filosófico ou mesmocientífico) vem sempre acompanhado deuma interrogação muito amarga quefazemos a nós mesmos (ou que um outrofaz a nós): “estou entendendo o que leio?”

Muitas vezes a resposta é negativa,resultando numa desistência da leitura ounuma perda de compromisso com o texto.Fecha-se o livro e se busca uma outraatividade com que se ocupar.

Se é assim, acredito que naquelapergunta se encontram decisivas causasda coibição de muitas leituras quepodiam ter sido, mas que não foram. Ditode outra maneira: encarna-se naquelaspoucas palavras um poderoso discurso derepressão intelectual que impõe que sóuns poucos, os especialistas, têm o‘domínio’ sobre o texto, isto é, o direitode dizer que efetivamente leram.

Além de ter esse efeito repressivo, apergunta em si é, sem dúvida, questio-nável. Pois pressupõe a ideia de um livroem geral como algo morto, ou seja, comopalavras onde o único objetivo do leitor édesvendar o que o autor quis dizer. Ora,muitos filósofos (como, por exemplo,Merleau-Ponty) discordam dessa tese, poisdefendem que um texto é algo que superaa categoria do “querer dizer”, isto é, seusentido fica sempre em aberto. Numapalavra, um texto não é esgotável: elenunca pode ser dominado e, portanto, estávivo.

Como consequência dessa concepçãomais ampla de ‘texto’, abrimos espaço paraum outro modo, também mais amplo, dever o ato da leitura: tão importante quanto‘entender’ o que se lê é ser tocado dealguma maneira um pouco inesperada, serlevado a pensar.

A música em geral ilustra bem o quequero dizer: não é necessário umconhecimento técnico dela (saber quaissão as notas, as harmonias etc.) para sersensibilizado pelos sons; o mesmo podeacontecer com as leituras. “Um cam-ponês pode ler Espinosa”, disse oescritor Bernard Malamud em seu livro“O faz-tudo”.

Sintetizando assim tudo o que disse:aquela pergunta carrega um preconceitoe, como tal, reprime e empobrece opensamento possível.

(Fábio Iijima é aluno do curso de

Filosofia da USP)

Ler é igual aentender?

Fábio IijimaHá quase 50 anos trabalhando noHospital da FPV, Hugo venceu muitasdificuldades para poder ser reconhecidocomo Hugo enfermeiro. Segundo dos quatrofilhos do casal Pedro Dias e MauríliaAmélia Dias, teve uma infância “normal”na Vila Barão, em Piquete, onde nasceu a12 de maio de 1934.

Hugo cursou o primário no AntônioJoão, transferindo-se, depois, para a escolada Fábrica e, em seguida, para a EscolaAgrícola, de onde saiu para servir oExército. Após um ano no Contingente,tentou ingressar na Fábrica como ex-alunoda Escola Agrícola, mas a falta de docu-mentação comprobatória do Curso oimpediu. Foi trabalhar, então, com o senhorBenfica, “grande chefe”, na Rodovia. Nessetrabalho permaneceu por oito meses,enquanto terminava o colegial. A convitedo irmão Nelson Laurindo, que trabalhavano Palácio do Governo, em São Paulo, foipara a capital. Lá, empregou-se numa“fábrica enorme” que existia no Sacomã.Não se adaptou bem na cidade grande eretornou a Piquete após dois anos. Ávidopor trabalhar, resolveu que iria “aprendera aplicar injeção”. Mais uma vez, outro deseus irmãos lhe foi útil: José Olympio Dias,o Catito, funcionário da FPV, conseguiu-lhe uma vaga no local onde permaneceriaaté os dias de hoje: o Hospital da FPV.

A chance foi-lhe proporcionada pormeio do então diretor, Dr. Antonino.

“Ingressei como um estagiário... Nãotive escola de Enfermagem. Os livros, ocontato com os médicos, o apoio dasirmãs... Foi assim que fui aprendendo...”,diz. “Eu lia bulas e mais bulas de remédiopara saber tudo sobre eles: posologia,contra-indicações, efeitos colaterais...”,afirma, orgulhoso. Hugo destaca aenfermeira D. Amelinha: “eu trabalhava atéas 16h e depois ia para a casa dela, lá noPortão da Limeira... Ficava lá com ela meensinando tudo que sabia...”. Fala, ainda,da força que lhe deram as Irmãs Salesianas:“Me acompanhavam, me orientavam... Eusó tenho a agradecê-las... Adotaram-mecomo a um filho!”.

Capítulo especial de sua carreira profis-sional poderia ser sobre as explosões daFábrica: “Passei por várias... Era muitotriste... Numa das últimas, a maior, comcerca de vinte e três mortos, vieram de‘Taubaté pra baixo’ muitas ambulâncias,médicos e enfermeiros...”.

Depois de vários anos de experiência,começou a sentir a ausência do Certi-ficado... Surgiu, então, um concursoestadual. Foi aprovado, após dois dias deprovas teóricas, prova prática realizada noHospital das Clínicas e prova oral. “Naprova prática, sortearam-me um pacienteque havia sido operado da próstata... Foibom, pois tinha acompanhado muitosdesses casos em Piquete, operados pelo Dr.Marcelo Bustamante...”. Conseguiu,então, seu registro no Conselho Regionalde Enfermagem.

Pouco tempo depois de começar nohospital, conheceu uma jovem que tra-balharia na Pediatria... De início, avaliou-a de longe, observando a forma de trabalho,o trato com as crianças, a responsa-bilidade... “Eu gostei... Aprovei e decidi queela seria minha esposa...”. Era Therezinha,com quem se casou em 25 de dezembro de1965. Tiveram duas filhas, que lhes deramquatro netos e dois genros, seus “filhosadotivos, amigos e companheiros...”.

Hugo foi eleito vereador em 1976. Nummandato de seis anos, relata que participoude várias comissões: “Eu não podia deixá-las nas mãos da oposição, mas me prepa-rava muito, estudando em casa o materialque chegava às minhas mãos”.

Hugo enfermeiro é prova viva de queforça de vontade e de-dicação são a base paraa realização profis-sional. Hoje, aindaatuando como enfer-meiro, faz questão deressaltar a gratidãoque sente por todos osque o ajudaram nessalonga carreira. Reco-nhece a Medicinacomo um ofício com-plexo, que exigeconhecimento pro-fundo em cada área eagradece por podercolaborar...

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O ESTAFETA Piquete, janeiro de 2012Página 4

Superamos o natal do consumismo, paratranscendermos através da Grande Ideia.A de que a mensagem justificadora da festaafinal sobrenada ao oceano das inquietaçõesque incomodam os mortais animados pelaspropagandas incisivas à busca dos lucrosversus os prazeres efêmeros.

O divino se humaniza para deixar liçõesimorredouras que, entretanto, nem sempresão bem entendidas, cobertas que estão pelapoeira luminosa das luzes artificiais. Aohumanizar-se, a figura divina atinge oponto catártico do sacrifício, e nele, prometea purificação. Em nome da paz, daharmonia e do perdão. Redentoramente. Aotransubstanciar-se, transforma novamentea substância humana representada no pãoe no vinho em substância divina, na hóstiaelaborada do trigo das boas colheitas.Portanto, o humano se mostra em Deus; eo divino, no homem, para, sacrificialmenteanunciar a cerimônia catártica do sanguederramado na promessa redentora.

E a carne se faz, com o sangue, aelaboração simbólica do acesso às portasdo Paraíso, que se abrem aos justos lavadoscom o sangue do Cordeiro, conforme oApocalipse. Atinge-se aí o máximo da obracriadora e redentora, marca da cristandade,apanágio dos sábios escolhidos na

A grande revelaçãoproclamação dos grandes eventos,marcadores épicos da trajetória. Dosanúncios aos fatos registrados pelosseguidores eleitos elabora-se a grandenarrativa iniciada pelas palavrasanunciadas por Samuel e João, ambos filhosde mães cuja esterilidade as condenava pornão possuírem o dom da vida, até que ei-las gerando profetas promissores.

Porém, para ser entendida, a mensagemexige recolhimento e dedicação. Oargumento básico das transmutações já forapreparado por Heráclito de Éfeso quandomostrou a dinâmica terrestre construída pormutações de matérias, cujos princípiosbásicos se encontram na água, na terra eno fogo.

Na água se recobre a terra, e dela seafasta, e que, combinada com a argila,permite a elaboração da nova espécie,humanizada para ser imortal. Entretanto,somente ao divino é consagrada aimortalidade. Daquele que, nascendo emorrendo, mantém a divindade da qual éportador. E como divisor de tempo, marcaa passagem e divide a História – no antes eno depois.

Dá testemunho da Verdade e confirmasimbolicamente cada etapa. A recepçãosobre as variações que o arbítrio humano

constrói à luz da razão e da sabedoria.Crédulos e incrédulos alinham-se paratentar explicar o espetáculo de que são partee do qual buscam não só os efeitos, mas ascausas, e nestas, a origem. Físicos à procurada “partícula de Deus”, nome dado aobóson de Higgs, partícula das que, emcolisão já experimentada em aparelhopróprio – o Grande Colisor de Hádrons –em Genebra, na Suíça, pretendem explicara origem do universo.

O estudo baseia-se na descobertaiminente da tal partícula, “que dá massa atodas as demais que formam o átomo” eque também é dada como modelo padrãopara as outras. Essa seria uma partículaelementar surgida logo após o Big-bang,admitida fisicamente como a grandeexplosão original, a grande combustão – ofogo.

Deus estaria na partícula que, submetidaàs colisões sucessivas, teria gerado a vida,ou seja, as condições nas quais o humanodeveria surgir para dar nome aos elementose com eles construir uma história.

O humano questiona-se e codifica-separa tentar explicar as duas naturezas: adivina e a humana. Aceitá-las ou não, eis odesafio da grande aventura.

Dóli de Castro Ferreira

Muitos irão iniciar a leitura deste textopensando que estou louco... Lazer e culturaem Piquete? Isso não existe aqui... Será?Onde podemos encontrar lazer em Piquete?Isso depende do que procuramos... Precisode muito pouco para me divertir. Bastam-me os amigos reunidos, um bom papo, umamúsica agradável... Se o calor está forte,quem duvidaria do prazer que é ummergulho no Curiaco, por exemplo? Se forfinal de tarde, por que não uma caminhadaaté o Portão da Limeira, aproveitando aoportunidade para fotografar pássaros,natureza e prédios que contam a históriade nossa cidade? Aqui já estamos na searacultura... E existem lugares como a EstaçãoFerroviária da Estrela que combinam muitobem com um bom livro... Quer visitar ummuseu, já que já não existe mais nenhumem Piquete? Então faça um “tour virtual”pelos melhores museus do mundo por meioda Internet (teoricamente, existem pontosde acesso gratuitos no portal de entrada domunicípio; há que se conferir). Depois deconhecer as obras-primas dos pintores mais

presentes em São Luiz do Paraitinga e emseus moradores, por exemplo, e nãoquestionarmos o abandono de praças e ruasem Piquete. Isso sem falar na inércia damaioria de nossa população. Fere-nos oorgulho bairrista ver uma cidade há poucodestruída pelas águas e evidenciar suacapacidade de recuperação, enquanto aabençoada Piquete patina no marasmo.Claro... As obras em São Luiz foramsubsidiadas pelo Estado, mas sem oempenho da população luizense jamaisseriam concluídos.

Piquete é belo demais... Piquete temtudo de que precisamos... O que falta é o“despertar” dos piquetenses, que têm queacreditar que a força para revitalizar aCidade Paisagem está em nossas própriasmãos. O lazer e o acúmulo de cultura e deconhecimento dependem em grande partede nossa própria iniciativa. Valorizemo-nos. Questionemos o errado e teremos ocerto num futuro próximo. Isso é cidadania!Isso é qualidade de vida!.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Piquete: lazer, cultura e qualidadade de vida por meio da cidadania

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famosos, faça uma cópia das imagens quemais gostar em seu computador, monte umapequena apresentação e discuta com osamigos (olha eles aí de novo...) numa tardeagradável... Estaríamos próximos a umsarau... Coisa de gente chata, de velhos?Tenham certeza de que não...

O que não podemos dizer é que “aquinão tem nada pra fazer...”. Quem quer umaatividade prazerosa – que não dormir, éclaro... – encontra.

É claro que faltam opções de lazerpúblico em Piquete. Reparem que citeilocais rurais ou aqueles preservados pelaIMBEL/FPV. É aí que entra nosso espíritocidadão.

Todos já ouviram algo semelhante: “oslivros nos proporcionam viajar sem sair decasa”. Pois então... Ao ler um bom livro –e não precisa ser um clássico sisudo deMachado de Assis, por exemplo. Temos queler o que nos atrai – estamos conhecendolugares que, talvez, nunca visitemos. Aoassistirmos um filme, descobrimos oslugares lindos do Brasil e do mundo. Aovisitarmos museus, descortinamos cons-truções deslumbrantes, observamos obrasde arte históricas – MASP, Louvre – ou devanguarda, no MoMA (Museu de ArteModerna de Nova Iorque)...

Todos apreciamos o que é belo. E éassim que formamos nossos gostos, estabe-lecemos nossas preferências... Por meio doconhecimento... Por meio de viagens, sejamelas físicas ou as que a internet nos permite.Tornamo-nos, assim, mais críticos, poisteremos padrões de comparação. É difícilevidenciar a organização e a força da união

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O ESTAFETA Página 5Piquete, janeiro de 2012

O Vale do Paraíba Paulista põe na linhade frente as Figureiras de Taubaté.Pernambuco responde com MestreVitalino. Ninguém pode ignorar as mode-ladoras de argila alagoanas do baixo SãoFrancisco. E seria possível ignorar aspaneleiras capixabas?

O elemento comum das pastascerâmicas é a argila cujo tipo mais puro é ocaulim.

A tradição barrista brasileira tem umavertente ibérica importante. Azulejos eartefatos de barro eram conhecidos naPenínsula Ibérica ainda antes da formaçãoda nação portuguesa. Figuras que repre-sentavam tipos populares e cenas docotidiano brotavam das mãos dos habitantesda Península.

A vertente indígena, entretanto,surpreendeu os especialistas europeus,quando tiveram acesso às peças trans-portadas pelos naturalistas e viajantes quecomeçaram a recolhê-las já no século XVI.

Os índios do Xingu têm suas feiras detroca, chamadas moitará. Produtos muitoprocurados nessas ocasiões são as enormespanelas decoradas e os vasos zoomorfos datribo Waurá. São trocados, por exemplo,pelos arcos e óleo de pequi dos Kamayuráe pelos colares e cintos de conchas da triboKalapalo.

Muito conhecidas também são aschamadas “bonecas” Karajá, da ilha doBananal. São figuras femininas compinturas rituais, algumas vezes em posiçãoem pé, outras em posição sentada embancos zoomorfos.

Durante suas férias na Universidade deSão Paulo, o professor Claude Lévi-Straussvisitava as populações indígenas de Mato

Grosso, entre elas os Kadiwéu (caduveo-guaicurus, índios cavaleiros).

Certa vez, surpreendeu-se com umacaravana de índios com animais carregadosde grandes vasos decorados – cerâmicapintada e gravada.

Lévi-Strauss acompanhou os índios atésua aldeia nas terras baixas da margemesquerda do rio Paraguai, perto das colinasda serra da Bodoquena (MS).

Verificou que as mulheres trabalhavama argila apenas com as mãos. Ainda fresca,a massa era decorada com impressõescavadas por pequenas cordas e pintada comóxido de ferro que se encontrava na serra.

A massa era cozida em fogo de chãoescavado, ao ar livre. Ainda quente, eradecorada com vernizes de resina derretida(cor preta – pau-santo; cor amarela –anjico). Já fria, recebia uma aplicação depó branco, geralmente cinzas, para realçaras impressões.

A cerâmica estudada pelos arqueólogosdestaca os sítios da ilha de Marajó, do rioTapajós (Santarém) e a tradição tupi-guarani que abrange todo o litoralbrasileiro, do Nordeste ao Prata e, nointerior, alcança o Paraguai e o Araguaia.

A fase marajoara é a mais conhecida.Procedente da Colômbia e do Equador, foiintroduzida em Marajó por volta do ano1000 da nossa era.

Urnas funerárias, vasos com grandesgargalos são as versões mais encontradiças.Peças de feitura esmerada foram encon-tradas dentro de urnas grosseiras – um povoque desconhecia a roda de oleiro foi capazde produzir vasos globulares.

Toda a superfície das peças era decoradacom arabescos e desenhos caprichosos

inspirados em formas geométricas.A cerâmica tapajônica ou santarêmica

é representada pelos vasos chamados decariátides e os gargalos, com relevos deformas humanas e animais da fauna local.

São pintados com ornatos geométricos.Encontram-se em pequena

profundidade nas chamadas “terras pretas”ou perto dos lagos.

O mais antigo sítio de tradição tupi-guarani data de mais de 3935 anos elocaliza-se no município de Tenente Portela(RS).

A tradição cerâmica tupi-guarani écaracterizada por um estilo corrugado,associado a vasos decorados com pinturaspolicrômicas.

As urnas funerárias apresentam comotampa uma urna emborcada.

As cores preferidas são o vermelho,vermelho e preto sobre uma camada deengobe branco. São usados motivos geomé-tricos em incisões de estiletes e impressõesde dedos e unhas, técnica decorativarepetida em todo o país.

Os primeiros habitantes do Brasil já sededicavam à cerâmica.

E o povo brasileiro não esqueceu a arteancestral.

Não temos apenas “pernas compridaspara correr atrás de bola e fugir da polícia”.

Deus nos deu mãos habilidosas, argilade primeira, inclusive caulim, paraexercitarmos esta atividade de grandevalor artístico e utilitário.

Nas feiras, nos museus, nos templos,nos presépios com satisfação encontramossempre revelada mais esta habilidade dopovo brasileiro.

Abigayl Lea da Silva

Brasil de Barro

Reproduções

Page 6: JANEIRO 2012

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, janeiro de 2012

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Novo ovo, ano avo...

O fim do mundo

Olha a gente aqui emplacando mais umano novo... Ouvem-se apenas alguns acordesretardados do “Adeus Ano Velho, Feliz AnoNovo... Muito dinheiro no bolso, saúde pradar e vender”. Bem, cantar a gente cantou...Honestidade nas intenções não faltou...Hoje, infelizmente, o batuque do cotidianotrazendo o ritmo da realidade faz o “muitodinheiro no bolso” parecer filosofia deirmão de estrada. Você lê quando passa ocaminhão e... bau-bau. Saúde! Esta, nego,você vai ter que ter nem que morra praconsevá-la, pois, além da falta de médicos,tá aí um aumento nos remédios pra serdigerido. Mas, olhe, estando bastantesaudável, você pode, como diz a letratradicional, vender um pouco de saúde aosbem aquinhoados.. Com a vantagem delascar ágio à vontade...

Estava com o propósito de fazer umaprevisão para este ano, mas estou emba-tucado. Não manjo nada de astrologia,jogação de búzios e outras mutretasadivinhatórias. Bola de cristal não tenhoe nem sou vidente, evidente, senão já teriaacertado umas vezes sozinho na MegaSena e não estaria escrevendo besteiras,mas na Riviera Francesa fazendo o que nãotenho a menor ideia do que se faz por lá...Aprenderia, ora...

Sou turrão e não deixo uma vontadepassar em branco. Cada um como pode...Com uma sapiência aritmética, concluí, porconta e risco, que o 7 vai reger este ano... Jácomeça bem, ou quase, ele é primo; logo,parente... Esperança de se viver um anocomo se todos fossem uma só família...

Façamos uma análise do 7... Foi nosétimo dia que Deus terminou a criação domundo, abençoando-o e santificando-o... Eaposentou-se... Desconhece-se a pensão queEle recebe, mas, se for a de aposentadobrasileiro, tá lascado... Aqui, no final dajornada, o trabalhador não é premiado, épunido. Mas o 7 vai inspirá-lo a olhar paraessa gente.

Um estudioso chamado Heydon vê no 7um número inteiramente religioso: repre-

senta o triunfo do espírito sobre a matéria.E notem a premonição de nossas autori-dades monetárias. Nossas cédulas vêmcomo santinhos com a mensagem rogativapara não desvalorizarem “Deus seja lou-vado”. Na esfera superior, o 7 é o nome deDeus com 7 letras. Na esfera do intelecto,7 são os anjos diante do trono de Deus(Gabriel, Miguel, Haniel, Rafael, Camael,Zadquiel, Zafiel). Imaginem a gente passaro ano com uma defesa dessas pela frente!

Na esfera infernal, a coisa aparentementeé trágica. Mas só no bagaço. Confiram suas7 moradas: 1) Inferno: não é lugar estranhopara essa sub-raça votante que sobrevivenesse país; 2) Portas da Morte: aí estãomuitos dos hospitais conveniados; 3)Sombra da morte: aquela, tocaiada, espe-rando você para assaltar, e... 4) Fosso dadestruição: canaletas e tubulações quejorram tudo o que não presta nos rios,matando-os. 5) Lama da morte: basta umachuvinha mais forte. 6) Perdição: aí, emtodos os sentidos, há dispensabilidade decomentários. 7) Profundezas da terra: localonde a fome, a miséria e a desnutrição estãolevando um número cada vez maior depessoas a comer grama pela raiz. Verifi-caram como são somente coisas cor-riqueiras, normais, com que a gente já estáacostumado? Logo, não deve ser computadocomo algo mais ruim. Já basta ser ruim...

O 7 é o número da realeza e do triunfo,da fama e da honra, da reputação e davitória. Indicativo que outros países poderãonos chamar de idiotas mas nunca decaloteiros. A nação pode até ser vendida esumir do mapa em função de seus políticostrambiqueiros, mas inexistiremos muito bemreputados.

Uma coisa só me preocupa no 7... Suasvibrações são lunares... Oremos para queelas não sejam tão fortes, ao ponto de levaressa turma que já anda com a cabeça nomundo da lua a transformar esse ano numaapoteose de lunaticidades... Caso contrário,não há futurólogo que resista!

Poxa, como não me lembro dessapassagem? Minha cabeça sempre fora umaenciclopédia, mormente com as coisas queaconteceram na minha pródiga infância.

Lembro-me dos papagaios e bolinhas-de-gude coloridos, das guerras de esti-lingue, do caminhãozinho de bombeirosque ganhei pelo Natal de 1945...

Como poderia me esquecer das históriase causos contados ao pé do fogão-a-lenha,da lanterna improvisada de lata de azeitona,da serpentina que saía do fogão pra aquecera água da caixa d’água, dos banhos nabanheira do banheiro...

Então, essa do fim do mundo tenhocerteza de que não estava em órbita ainda...

Meus irmãos mais velhos contam queno início da década de 40 as emissoras derádio passaram a noticiar o fim do mundo.Diziam que o mundo ia acabar no próximodomingo. Papai, muito católico, prevenidoe zeloso com a prole, alugou um táxi e, nodia anterior ao fim do mundo, correu praAparecida do Norte. Naquele tempo acidade era conhecida assim.

Meus familiares rezaram o sábadotodinho. À noite, hospedaram-se num hotelno entorno da Basílica. No domingo, apósassistirem à missa das 10h, saíram proalmoço e, de tardinha, já que o mundo nãose acabava mesmo, tomaram o táxi de voltaa Piquete.

Houve, recentemente, na Inglaterra,pesquisa sobre o fim do mundo. A pergunta“O que você faria se o mundo acabasseamanhã?” obtivera respostas diversas.Dentre elas, 3% dos entrevistados disseramque juntariam os familiares e correriampara uma igreja.

Papai, naqueles idos de 1940, agiracorretamente em reunir a família numaigreja. Diz a máxima “Família que rezaunida permanece unida”.

Não pude me lembrar desse fatosimplesmente porque estava em plane-jamento...

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.net

ou

Você sabia......que 9 de janeiro é considerado o “Dia do Fico”?

Por volta de 1821, quando as Cortes Gerais eExtraordinárias da Nação Portuguesa aventaram aideia de transformar o Brasil de novo numa colônia,os liberais se uniram ao Partido Brasileiro, a fim demanter a autoridade do Brasil. Portugal então exigiudo Príncipe Regente seu retorno imediato à Europa.

Os liberais, em resposta, reuniram oito mil assinaturas em prol de sua permanência noBrasil e pressionaram-no a ficar. Foi então que, a 9 de janeiro de 1822, contrariando asordens emanadas por Portugal, D. Pedro declarou: “Se é para o bem de todos e felicidade

geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.Este episódio, conhecido como Dia do Fico, foi o prenúncio da Independência do

Brasil, que viria a ser proclamada em 7 de setembro de 1822.

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O ESTAFETAPiquete, janeiro de 2012 Página 7

Comecei a escrever assistindo a umespecial sobre Elis Regina, gravado em2002 com seus filhos Maria Rita e JoãoMarcelo Bôscoli.

Lembro-me da morte de Elis, inclusivede onde eu estava... Era o ano de 1982...Já na época fiquei triste, pois gostava desua voz... Hoje, ainda me emociono ao vê-la cantar ‘interpretando tanto’... Noespecial há uma cena que me emocionou:Elis, Dina Sfat e Regina Duarte, cada umacom um filho ao colo, musicando –aparentemente em uma homenagemmães-filhos – trechos do “Poema Enjoa-dinho”, de Vinícius de Moraes... ReginaDuarte ainda nos entretém... Mas Elis eDina Sfat não o fazem mais ao vivo...

Elis, Dina Sfat, Raul Cortez, MárioLago, Vinícius de Moraes, Tom Jobim,Pixinguinha, Cazuza, Cássia Eller, BertaLoram, Cláudio Corrêa e Castro, FrankSinatra, John Lennon... São estrelas quedeixaram órfãos seus admiradores, empo-brecendo o mundo das artes...

Hoje, muito se fala de Michel Teló, quevem derrubando todas as fronteiras comsua toada “Ai, se eu te pego”, provocandoamor e ódio por onde quer que passe...

Elis Regina, num trecho do especial,diz sobre sua filha Maria Rita: “(...) Euquero que ela ria muito... Quero para elatudo legal pra c... Mas também não sei...De repente, o meu legal não é o legaldela”...

Neste momento passou alguém emfrente à minha casa “divulgando” MichelTeló... Pensei, então, no tema deste texto...Gente, o legal de alguém pode não ser onosso legal... O meu legal – de que eugosto – é MPB, são clássicos do Rock,Mozart, Rachmaninoff, Heitor Villa-Lobos, Tchai-kovski... Mas eu também medivirto com Michel Teló... E o importanteé se divertir, é rir... Caso contrário,tornamo-nos amargos, infelizes, párias...Há momentos (e muitos) em que temosde ser sérios... Mas também há aquelesem que a diversão deve se sobressair...Não compraria um CD de Teló; nãoouviria suas músicas por opção. Aindaassim, penso ter que respeitar os milhõesde fãs que o perse-guem mundo afora, poiscada um tem o direito de ouvir o que gosta.O que faço quando “Ai, se eu te pego” meincomoda é mudar de canal, de rádio...Acredito que, assim como acontece comtodos os atuais “sucessos comerciais”,logo passará a fase do “Ai, se eu te pego”,para surgir outro... Isso não acontecerájamais com nomes como os citadosacima... E nenhum fã de Teló ousariaacreditar no contrário...

O refrão de Teló é “Assim você memata... Ai, se eu te pego, ai, ai...”. Serespeitarmos o individualismo, soa comocanção, como brincadeira... Se nosincomodarmos a ponto de denegrir oartista e a música, alegando ausência demelodia, má-qualidade musical, a letra setransforma numa ameaça, num precon-ceito tosco... Deixemos de lado a intole-rância e vamos rir... Aos que quiserem rircom Elis, por exemplo, o momento éoportuno, pois serão muitas as homena-gens nestes 30 anos de sua partida...Vamos lá, deixa o que você gosta te pegar!Deixa quem você gosta te pegar!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Ai, se eu te pego!

As imagens de dependentes de crackvagando pelas ruas de São Paulo comozumbis, neste mês de janeiro, correram omundo e chamaram a atenção para essegrave problema social que cresce e seespalha por todo o Brasil.

A violência e a criminalidade, associadasao consumo dessa e de outras drogas têmcrescido assustadoramente. Vivemos umaverdadeira epidemia de crack. A situação éde tal gravidade, que a presidente DilmaRousseff fez referência a ele em seu discursode posse, em janeiro do ano passado.

Por ter custo barato, essa drogaderivada da cocaína é uma das maisdevastadoras. A partir das grandes cidades,o crack ganhou o interior do país, comomostra um levantamento realizado em2010 pela Confederação Nacional dosMunicípios, que aponta seu consumo em91% deles.

Chamamos de droga qualquer substânciacapaz de produzir uma modificação nofuncionamento de nosso corpo. Porém, apalavra tem sido usada para designar umgrupo de substâncias que atuam preferen-cialmente no cérebro alterando seu funcio-namento. Quando o cérebro se acostuma auma droga e passa a exigi-la, a pessoa setorna dependente químico, ou seja, passa a

Crack – essa pedra matadepender da droga. O que leva uma pessoaà dependência é um processo complexo queenvolve alterações neurofisiológicas ecomponentes psicológicos e sociais.Dependentes todos somos: de ar, de água,de comida, de afeto e, principalmente, deprazer, uma sensação essencial para apreservação do indivíduo e da espécie. Oproblema está em se procurar maneirasartificiais (drogas) de se sentir prazerestimulando o cérebro a criar sensações defelicidade.

Em geral, a pessoa começa com o usorecreativo de alguma substância que traga asensação de bem-estar. Depois, enganadapela falsa ideia de que detém o controle dasituação, ela passa para o uso abusivo. Adroga, então, altera o círculo cerebral doprazer criando um apetite específico paraaquelas substâncias. A pessoa sente, cadavez mais, necessidade de usá-la. A partir daí,não se tem mais uma relação de autonomiacom a droga; em vez de a pessoa comandar,é a droga que a comanda.

A dependência se caracteriza como umaperda de controle. Perder o controle umavez na vida acontece com todo mundo. Masquando isso se torna uma roti-na e o indiví-duo começa a se prejudicar, estabelece-se anecessidade de tratamento.

Dengue é uma virose transmitida pelosmosquitos Aedes aegypti e Aedes albo-pictus, que picam apenas durante o dia,ao contrário do comum, o Culex, que atacasempre à noite.

A doença ocorre principalmente emáreas tropicais e subtropicais do mundo,inclusive no Brasil. Incide no verão, duranteou imediatamente após períodos chuvosos.

Um mosquito aparentemente ino-fensivo tornou-se um dos principaisproblemas de saúde pública no mundo. AOrganização Mundial da Saúde (OMS)estima que, entre 50 e 100 milhões depessoas se infectam com a dengue pormeio desses mosquitos, anualmente, emmais de 100 países. Cerca de 550 milpessoas contaminadas necessitam dehospitalização e 20 mil morrem emconsequência da doença, a cada ano.

A dengue é uma doença febril agudacausada por um vírus de evolução benigna,na maioria dos casos. A doença podeapresentar duas formas: a clássica, quegeralmente causa febre, dores no corpo enas articulações, mas raramente mata; e ahemorrágica, a forma grave da doença, queapresenta todos os sintomas da versãoclássica, mas provoca sangramento echoque, podendo levar à morte. O vírusapresenta quatro sorotipos diferentes.Quando uma pessoa é contaminada por umsorotipo, torna-se resistente a ele, mas nãoaos demais.

O Aedes aegypti

Considera-se a erradicação da doençapraticamente impossível atualmente devidoao crescimento desordenado das cidades eao alto consumo de produtos descartáveis eindustrializados, como pneus e vasilhames,locais muito utilizados pelo Aedes aegyptipara se reproduzir.

O mosquito é considerado um animalurbano, que se reproduz em qualquerrecipiente utilizado para armazenar água,tanto em áreas sombrias como ensolaradas.Macho e fêmea se alimentam da seiva dasplantas, mas é a fêmea que pica o serhumano em busca de sangue para maturarseus ovos. Em média, a fêmea coloca de 150a 200 ovos de cada vez. Apesar de viverapenas 30 dias, é capaz de realizar inúmerasposturas. Os ovos são postos milímetrosacima da superfície e eclodem quando chovepor apenas 30 minutos. Em um período deapenas 5 a 7 dias, as larvas transformam-seem mosquitos.

Dengue: o perigo está por perto...

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O ESTAFETA Piquete, janeiro de 2012Página 8

Quem percorre a rua Coronel Peder-neiras, próximo à igreja de São José sedepara com um antigo prédio que, final-mente, vem sendo reformado. Chama aatenção o tamanho desse imóvel, suasjanelas e portas de grandes dimensões.Na porta de madeira maciça estãoesculpidas as letras “COC”. Poucossabem o que elas representam. Sabem,apenas, que esse imenso salão, conhecidocomo “Salão Padre Juca”, foi construídono início da década de 50, como SalãoParoquial, e, por muitos anos utilizadopara reuniões da Congregação Marianada Vila São José, de Irmandades eConferências Vicentinas, para cinema eteatro e shows beneficentes.

COC são as iniciais de Círculo doOperariado Católico, movimento surgidono Brasil na década de 30. Nesse períodohistórico, ideologias contrárias à for-mação brasileira chegavam e se multi-plicavam por todo o país. Piquete, porser cidade operária, era um alvo empotencial para essas investidas.

Nos meados dos anos 30, o discursoanunciador do “perigo comunista” seforma diante de uma memória atribuídaa uma nova construção da identidadenacional brasileira, que o estado var-guista assume como função estratégica nocontrole dos sindicatos e seus trabalha-dores. Essa pretensão atuava conforme osprincípios baseados na ordem moral epolítico-religiosa do pós-30, herdados doshábitos e costumes de uma cultura seculardominante. O ano de 1935, no Brasil,marca um momento de intensa perseguiçãoaos comunistas. Após a Intentona Comu-nista, surge, com maior intensidade, aimagem do comunismo como “inimigo dapátria e da família cristã”.

A Igreja desse período assume relaçãode afinidade com o Estado Getulista e suadefesa intransigente do ideal tridentino nasquestões sociais. Ocorre o incentivo aocatecismo, o fortalecimento da imprensa

católica e das diversas associações religio-sas, como a Pia União das Filhas de Maria,Congregação Mariana, Liga FemininaCatólica, além da proteção à classetrabalhadora. Buscava-se a construção de

uma sociedade ideal, longe dos “víciosmodernos”, o que se daria no sentido devigilância e controle de seus moradores nocotidiano da cidade.

É na construção de uma memóriadominante, atribuída à sagrada instituiçãoda família, que a Igreja penetra nos espaçosde sociabilidade das cidades construindovalores culturais e simbólicos, agindo comomediadora dos princípios da ordem católicano mundo do trabalho. Desde então, apresença do Círculo Operário e de outrasentidades católicas mostra-se como fator deagregação dos valores atribuídos à imagemde uma sociedade dita moderna e anti-comunista.

A inciativa de construir o Círculo do

Círculo do Operariado CatólicoOperariado Católico (COC) em Piquetecoube ao padre Juca (José Franciso VonAtzingen), que requereu junto à CâmaraMunicipal fosse votada uma lei que tornassede utilidade pública um terreno havia muito

abandonado. No dia 15 de dezembro de1949, foi lançada a pedra fundamentaldo COC. A convite dos alunos daprimeira turma do Ginásio da FPV, veiode Lorena para celebrar a missa em açãode graças o bispo diocesana D. LuizGonzaga Peluso. Após a missa, seguiu-se a cerimônia do lançamento da pedrafundamental e a bênção da mesma pelobispo, no Largo da “Praça GeneralAquino”, em frente à igreja de São José.Em seguida à bênção, na presença deautoridades, fizeram uso da palavra oprefeito, Luiz Vieira Soares, Paulo Lódi,o bispo diocesano e o tenente-coronelJosé Carneiro da Rocha Menezesrepresentando o general Aquino. Foiassinada uma ata pelos presentes e amesma foi colocada na base do futuroedifício. À frente desse trabalho esteveo Padre Juca. A planta do edifício foifeita por Elydio Moura da Silva. Acomissão construtora formada erapresidida por Paulo Lódi, Juca Pinto eJosé Cipriano. Os construtores foram os

Congregados Marianos: aos domingos,após a reunião da Congregação, era feitauma escala para o trabalho no sábadoseguinte, de maneira que todos os Con-gregados participaram ativamente da obra.O madeiramento do telhado, bem comoportas e janelas, vieram do Paraná. Foramcomprados por intermédio do Padre Juca,por um preço especial. Após dois anos, asede foi inaugurada.

A obra executada no prédio do COC é

resultado de doações e ainda há

necessidade de diversos itens para sua

finalização. Os interessados podem se

dirigir ao prédio para colaborar com

materiais de construção, por exemplo.

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