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IV ENCONTRO DO DINAFON
08 a 10 de dezembro de 2010
Programação e resumos
Pelotas Editora e Gráfica Universitária – UFPel
2010
IV ENCONTRO DO DINAFON
UFRGS 08 a 10 de dezembro de 2010
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dr. Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS) Profª. Dr. Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel)
APOIO
DINAFON
Programa de Pós-Graduação em Letras (UFRGS)
Centro de Letras e Comunicação (UFPel)
IV ENCONTRO DO DINAFON
Programação
&
Resumos
Editora e Gráfica Universitária Rua Lobo da Costa, 447 – Pelotas, RS – CEP 96010-150 Fone/fax: (53) 3227 8411 E-mail: [email protected] Diretor: Carlos Gilberto Costa da Silva Gerência Operacional:João Henrique Bordin
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPel Reitor: Prof. Dr. Antonio Cesar Gonçalves Borges Vice-Reitor: Prof. Dr. Manoel Luiz Brenner de Moraes Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Dr. Luiz Ernani Gonçalves Ávila Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia
CONSELHO EDITORIAL DA EDITORA E GRÁFICA UNIVERSITÁRIA/ UFPel Profª Dr. Carla Rodrigues, Prof. Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira, Profª Dr. Cristina Maria Rosa, Prof. Dr. José Estevan Gaya, Profa. Dra. Flavia Fontana Fernandes, Prof. Dr. Luiz Alberto Brettas, Profª Dr. Francisca Ferreira Michelon, Prof. Dr. Vitor Hugo Borba Manzke, Profª Dr. Luciane Prado Kantorski, Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes, Profª Dr. Vera Lucia Bobrowsky, Prof. Dr. William Silva Barros.
IV Encontro do Dinafon: Programação e resumos. Mirian Rose Brum-de-Paula (Org.). Pelotas: Editora e Gráfica Universitária, 2010. Periodicidade: anual ISSN 1. Lingüística. 2. Fonologia gestual. 3. Teoria da Otimidade
Editoração: Mirian Rose Brum-de-Paula
SUMÁRIO
Apresentação 11 Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel-FAPERGS) Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS)
Palestras e cursos RETROSPECTIVA DA FONOLOGIA GESTUAL NO BRASIL 15 Eleonora Albano (UNICAMP) RETROSPECTIVA DOS ESTUDOS EM FONOLOGIA E TEORIA DA OTIMIDADE NO BRASIL 17 Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel-FAPERGS) Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS) INTRODUÇÃO À FONOLOGIA GESTUAL 19 Márcia Cristina Zimmer (UCPel) Larissa Cristina Berti (UNESP-Marília) PERCURSO E AVANÇOS DA FONOLOGIA GESTUAL – DESAFIOS 20 Beatriz Raposo (USP) PERCURSO E AVANÇOS DA TEORIA DA OTIMIDADE – DESAFIOS 22 Gisela Collischonn (UFRGS) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS) PERCURSO E AVANÇOS ACERCA DA CONSTITUIÇÃO DOS SEGMENTOS– DESAFIOS 24 Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) FONOLOGIA GESTUAL E TEORIA DA OTIMIDADE 25 Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel-FAPERGS)
Pôsteres PADRÕES DE ASPIRAÇÃO DE OBSTRUINTES INICIAIS DO POMERANO (L1), PORTUGUÊS (L2) E INGLÊS (L3) E SUAS TRANSFERÊNCIAS 27 Marta Tessmann Bandeira (UCPel – CAPES)
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE TEMPORAL DE PRODUÇÃO FALADA E CANTADA 28 Antônio Carlos Silvano Pessotti (UNICAMP) REDUÇÃO DOS DITONGOS ORAIS DESCRESCENTES [EJ] E [AJ]: O CONDICIONAMENTO FONOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES 31 Eduardo Elisalde Toledo (UFRGS - CAPES) Guilherme Duarte Garcia (UFRGS - CAPES) ESTUDO DAS VOGAIS DESVOZEADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE INICIAL 33 Francisco de Oliveira Meneses (UNICAMP)
A REDUÇÃO DE DITONGOS NA MORFOLOGIA VERBAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 35 Marco Fonseca (UFMG) DIREÇÕES DA MUDANÇA FÔNICA EM CRIANÇAS COM DESVIOS FONOLÓGICOS 37 Maria Cláudia Camargo de Freitas (UNICAMP) AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM: "DESSECANDO" O NÍVEL FONOLÓGICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 39 Roberto César Reis da Costa (UFBA) PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DE VOGAIS E OBSTRUINTES NA FALA INFANTIL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 40 Larissa Mary Rinaldi (UNICAMP) QUESTÕES METODOLÓGICAS NA ANÁLISE DE COMBINAÇÕES CV NA AQUISIÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 42 Magnun Rochel Madruga (UCPel) Rosane Garcia (UCPel) Márcia Zimmer (UCPel)
CANCELAMENTO OU REORGANIZAÇÃO GESTUAL? UMA DISCUSSÃO ACERCA DA REDUÇÃO DE VOGAIS ÁTONAS 44 Ricardo Fernandes Napoleão (UFMG) METODOLOGIA E ANÁLISE DE UMA VARIAÇÃO ALOFÔNICA GRADIENTE: ESTUDO DAS OCLUSIVAS CORONAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM SITUAÇÃO DE CONTATO 46 Denise Pozzani (UNICAMP) DESEMPENHO DE IDOSOS PRESBIACÚSICOS NA PRODUÇÃO DE FRICATIVAS: UMA ANÁLISE À LUZ DAS TEORIAS LINGÜÍSTICAS DOS SISTEMAS DINÂMICOS Ana Lúcia Pires Afonso da Costa (FEEVALE) 48 DUAS PERSPECTIVAS DE ANÁLISE PARA AS FRICATIVAS POSTERIORES DO ESPANHOL 50 Diego Jiquilin-Ramirez (UNICAMP) ANÁLISES DA FONOLOGIA DESVIANTE POR MEIO DA OT 51 Cristiane Lazzarotto-Volcão (UFSC) A RELEVÂNCIA DA SÍLABA NO ESTUDO DA AQUISIÇÃO DA ESCRITA 53 Luciana Lessa Rodrigues (UNICAMP) FOCALIZAÇÃO EM PB: CONFLITOS ENTRE RESTRIÇÕES SINTÁTICAS E PROSÓDICAS 55 Gabriel de Ávila Othero (UFRGS) Maria Cristina Figueiredo Silva (UFPR) CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E AQUISIÇÃO DA ESCRITA: INTERFERÊNCIAS DA FALA NA ESCRITA DE CRIANÇAS BILINGUES FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E DO DIALETO HUNSRÜCKISCH FALADO NO RIO GRANDE DO SUL 57 Rosemari Lorenz Martins (FEEVALE)
Programação do evento 59
APRESENTAÇÃO
O IV Encontro do DINAFON nasceu a partir do objetivo de
promover a interlocução entre estudiosos e pesquisadores voltados
para os modelos da Fonologia Gestual e da Teoria da Otimidade.
O estabelecimento dessa interlocução, tão valiosa para os
pesquisadores que trabalham com uma ou outra perspectiva teórica,
justifica-se a partir do quadro atual em que se encontram os estudos
de Fonologia nos contextos nacional e internacional. Ao percorrer, nos
últimos 40 anos, uma longa e bela caminhada, os estudos fonológicos,
por meio de diversos modelos de análise, possibilitaram não somente
a descrição de inúmeros sistemas linguísticos, mas, também, o
entendimento de princípios fonológicos que se mostram comuns em
diversos sistemas. Percorrida tal etapa, julgamos que uma das tarefas
dos fonólogos, nos dias atuais, é trazer à discussão uma reflexão
acerca da concepção de gramática fonológica sobre a qual os
modelos representacionais em Fonologia irão se amparar. Em outras
palavras, é preciso discutir não somente as vantagens e
desvantagens do emprego de um determinado modelo de
representação das unidades fonológicas, mas, também, as próprias
teorias de base que motivam uma ou outra formalização
representacional.
O IV Encontro do DINAFON, portanto, convida os
pesquisadores para essa reflexão, discutindo acerca de uma
concepção Gestual de se fazer Fonologia e de sua implementação na
Teoria da Otimidade.
Na Fonologia Gestual, o detalhe fonético, que previamente não
recebia a atenção devida na caracterização das unidades
representacionais básicas em fonologia, caracteriza-se por
apresentar, indiscutivelmente, status linguístico. O detalhe fonético
passa a ser visto, dessa forma, como algo que pode e deve ser
sistematizado por meio da formalização.
Ao considerar-se o gesto fonológico sob uma teoria de
gramática, verifica-se que o modelo da Teoria da Otimidade
caracteriza-se como bastante promissor, não somente em função das
teorias de base cognitiva que motivaram a OT, mas, também, pela
liberdade representacional que tal modelo permite. Conforme explica
McCarthy (2008), a Teoria da Otimidade, enquanto modelo linguístico,
não se mostra diretamente comprometida com um ou outro modelo
representacional. Nesse sentido, é justamente a formalização das
restrições que representa o atual desafio para os estudiosos deste
modelo teórico. Assim, é possível pensar em um conjunto de
restrições que tenham, como unidade básica, o gesto articulatório.
É necessário, no entanto, muito mais do que pensar em uma
nova configuração de restrições; de fato, é preciso discutir como tais
restrições são formalizadas, quais suas teorias de base, além,
sobretudo, das implicações tipológicas de tal reestruturação. Frente a
tais tarefas, as dificuldades a serem enfrentadas não são poucas.
Desta forma, por meio de um diálogo entre pesquisadores que
trabalham com Fonologia Gestual e Teoria da Otimidade, dispostos a
aprender cada vez mais sobre a formalização em Teoria Fonológica,
poderemos iniciar uma reflexão acerca do pensar a representação
gestual à luz de restrições.
Esperamos que o IV Encontro do DINAFON represente
este primeiro contato entre pesquisadores das duas áreas. Para isso,
nossa programação une pesquisadores do Sudeste e do Sul de nosso
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país, regiões essas que caracterizam importantes pólos nos estudos
em Fonologia Gestual e em Teoria da Otimidade, respectivamente.
Com a realização de palestras e mini-cursos, procuraremos, durante o
evento, prover oportunidades para um maior entendimento entre estes
modelos, para darmos início a um diálogo entre as propostas em
questão. Desejamos a todos os participantes um excelente encontro,
caracterizado, sobretudo, pelo compartilhamento de conhecimento.
Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS)
Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel)
Porto Alegre, dezembro de 2010
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Retrospectiva da Fonologia Gestual no Brasil Eleonora C. Albano
(Lafape-IEL/Dinafon-CNPq)
Esta palestra visa a dar um panorama da Fonologia Gestual no
Brasil à luz da sua história no âmbito internacional.
O modelo, também conhecido como Fonologia Articulatória,
surgiu na década de 1980 em Haskins Laboratories, New Haven,
Connecticut, a partir da interlocução dos seus proponentes, Catherine
Browman e Louis Goldstein (1989, 1992), com alguns estudiosos das
funções cognitivas da motricidade humana e animal (p. ex., Kelso
1995).
Sua trajetória foi marcada por uma forte rejeição até a virada
do século (Albano 2002) e crescente aceitação na última década.
A rejeição inicial foi causada pela crença, arraigada entre
fonólogos e foneticistas, de que o detalhe fonético é puramente
biológico e, portanto, mecânico e não-lingüístico. Nos últimos anos, a
evidência acumulada sobre a inexistência de um mecanismo fonético
universal reverteu, finalmente, esse quadro, dando lugar a uma
intensa discussão do potencial explicativo do modelo.
Nesse afã, os seguintes temas estão entre os mais abordados:
tratamento unificado de processos fônicos categóricos e gradientes;
novos rumos para o estudo da aquisição da fonologia e seus desvios;
novo olhar sobre a controvérsia acerca do caráter gradual da
mudança fonética; e inserção num quadro de referência
transdisciplinar universal.
No Brasil, a trajetória do modelo confunde-se com a desta
autora e colaboradores, tendo completado 30 anos este ano.
Nela se podem distinguir três fases: 1) a de preparação,
correspondente à década de 1980, constituída, sobretudo, de leituras,
discussões e estudos de caso, já que faltavam, no Brasil, recursos
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materiais para a experimentação na área; 2) a de implantação e
consolidação de condições laboratoriais de pesquisa, correspondente
à década de 1990, na qual afluíram muitos recursos materiais e
humanos ao Laboratório de Fonética e Psicolingüística (LAFAPE) do
IEL-Unicamp; 3) a de reflexão (cf. Albano 2001) sobre os desafios
teóricos e metodológicos propostos ao modelo pelo português e
outras línguas faladas no País. Não por acaso, essa fase corresponde
à década de 2000, na qual a internet e o movimento do software livre
fizeram grandes contribuições ao progresso do campo fora dos
grandes centros internacionais.
Um indício do amadurecimento da reflexão brasileira sobre o
modelo é a adesão, a partir de 2005, de um expressivo contingente
não-endógeno ao grupo Dinafon. Após a renovação, o grupo teve por
tarefa precípua fazer face, em seus encontros anuais, ao desafio de
acompanhar os sucessivos e significativos aportes ao modelo trazidos
por um contingente interdisciplinar ampliado de adeptos (p.ex., Nam et
al. no prelo).
Recentemente, na “São Paulo School of Advanced Studies in
Speech Dynamics” (SPSASSD), realizada em São Paulo em junho
passado, o Dinafon teve a oportunidade única de interagir
intensamente não só com adeptos, mas também com críticos do
modelo, todos oriundos de centros internacionais de excelência.
Assim, as perspectivas abertas pelo evento cobram do grupo,
agora, um novo patamar de amadurecimento: saber catalisar a
possível conjunção entre a sua experiência com a metodologia
experimental e a experiência de grupos brasileiros afins com o aparato
formal da Fonologia contemporânea.
É esse o objetivo da presente edição deste encontro.
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Referências bibliográficas
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Retrospectiva dos estudos em Fonologia e Teoria da Otimidade no Brasil
Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel-ELO/ Dinafon - FAPERGS*)
Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS/ Dinafon - CNPq**)
O surgimento da Teoria da Otimidade em 1993, com a
publicação de Constraint Interaction in Generative Grammar, de
Prince e Smolensky, trouxe a possibilidade de formalização dos
sistemas linguísticos pela interação de restrições voltadas a diferentes
unidades gramaticais. No modelo híbrido – com pressupostos
gerativistas e conexionistas – do início da década de 90, as regras,
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então, deram lugar às restrições, e o processamento derivacional, ao
paralelo. Provida de algoritmos de aprendizagem, aplicados à
construção das gramáticas, a teoria mostrou-se igualmente adequada
à formalização de dados variáveis e daqueles relativos ao processo de
aquisição da linguagem, tanto de L1 quanto de L2. Seguindo a
tendência dos trabalhos internacionais, no Brasil, a OT teve seu início
com estudos sobre o sistema fonológico da língua portuguesa e suas
interfaces com aquisição e variação. No transcorrer de mais de uma
década, várias são as pesquisas desenvolvidas, em diferentes centros
acadêmicos, principalmente naqueles localizados no Sul do Brasil.
Tais pesquisas abarcam as áreas de descrição do português,
aquisição de L1, aquisição de L2, variação e mudança linguística e
aquisição da escrita. As reformulações sofridas pelo modelo original
foram igualmente acompanhadas pelos pesquisadores, aplicando-as
em seus trabalhos, como: OT Transderivacional (BENUA, 1997), OT
Estratal (KIPARSKY, 1998, 2000), OT Estocástica (BOERSMA, 1998;
BOERSMA E HAYES01), Teoria da Simpatia (MCCARTHY, 1999),
Gramática Harmônica (SMOLENSKY e LEGENDRE, 2006) e OT-CC
(McCARTHY, 2007). Ao longo de seu percurso, a OT tem sido utilizada
de forma a abarcar diferentes posicionamentos teóricos a respeito de
como se dá a gramática de uma língua, o que possibilita desencadear
novas reflexões acerca dos primitivos representacionais que a
constituem, reflexões essas que sugerem a agenda de pesquisas, em
OT, dos anos vindouros.
*Edital Pesquisador Gaúcho – processo 1015742/2010 ** Edital Universal - processo 479095/2010-8
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Introdução à Fonologia Gestual Márcia Cristina Zimmer
(UCPel) Larissa Cristina Berti
(UNESP-Marília)
O mini-curso abordará princípios dos Sistemas Dinâmicos,
relacionando-os à dinamicidade da fala, através da noção de dinâmica
da tarefa e da introdução do primitivo de análise da Fonologia Gestual:
o gesto articulatório. A seguir, será apresentada uma análise dos
processos fonológicos na aquisição do PB (L1) e do inglês (L2) à luz
da FG.
Referências bibliográficas
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Percurso e avanços da Fonologia Gestual – Desafios Beatriz Raposo de Medeiros
(USP)
Atribuímos à Fonologia Gestual (ou Fonologia Articulatória) a
possibilidade de mais de um percurso e propomos que o modelo
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teórico em que se calca possa ser entendido de vários pontos de
partida. Há aqueles estudiosos que partem da Psicologia (Carol
Fowler, Elliot Saltzman), há aqueles que se fundamentam nas
Ciências Biológicas (Scott Kelso), há aqueles que partem da
Linguística, (Louis Goldstein), e que aceitam o desafio de propor um
primitivo fonológico, o gesto articulatório, diferente daquele aceito pela
corrente principal, a qual tem sido profícua em originar modelos
fonológicos (Prosódica, Geometria de Traços, do Governo, Gerativa
Natural, entre outras).
Assim, de origem multidisciplinar e propositora de uma unidade
linguística ao mesmo tempo abstrata e ancorada nos movimentos em
organização ao longo do tempo, a Fonologia Gestual desenvolve-se
passo a passo e não conhece a mesma disseminação e divulgação de
seus princípios que conhece a fonologia gerativista. Neste quadro,
seus avanços são mais verticais, ou seja, são mais aperfeiçoamentos
de suas idéias – à guisa de exemplo, poderíamos ter a proposição da
sílaba como modo de oscilador acoplado – do que solução de grande
número de problemas em curto prazo.
Advém daí que, por sua natureza especialmente complexa, e
por ter um liame natural e mesmo vital com tantas outras áreas do
saber, os percursos são sempre desafiadores e os avanços, não raro,
são resultados que podem iluminar questões ainda circulares para
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muitos de nós afeitos aos sons das línguas. Um exemplo, é a
preocupação da Fonologia Gestual de explicar a “cola” (glue, em
inglês”) dos gestos (ou átomos) entre si, como no caso de uma sílaba
CV, considerada universal. A “cola”, em termos bem sucintos, é a
capacidade de dois gestos articulatórios, um consonantal e outro
vocálico, se sincronizarem como em uma dança. No caso da
sequência CV, o início de um gesto se dá ao mesmo tempo que o
início do outro, embora o alvo do gesto vocálico seja alcançado
depois. Esta grande capacidade de entrainment dos gestos (ou
átomos da fala) é considerada como estabilidade gestual.
Provavelmente, por serem mais estáveis, são mais eficazes como
unidades distintivas, e por isso mais encontrados nas línguas do
mundo.
Percurso e avanços da Teoria da Otimidade – Desafios Gisela Collischonn
(UFRGS) Luiz Carlos Schwindt
(UFRGS) Diz-se que as questões relativas às representações
tornaram-se menos relevantes na fonologia com o advento da Teoria
da Otimalidade (OT). Em nossa comunicação, vamos refletir, em
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primeiro lugar, sobre algumas das razões por que as unidades
representacionais deixaram de ser objeto principal de discussão com
o advento da OT (baseados em algumas das retrospectivas contidas
em de Lacy, 2007). Em segundo lugar, vamos discutir como a OT
afeta a concepção de entidades representacionais, abordando as
seguintes questões: (i) as entidades representacionais são pré-
definidas em OT ou são também produto da interação entre
restrições?(ii) estas entidades têm de respeitar um princípio de
uniformidade/coerência teórica?(iii) até que ponto a concepção que
tínhamos anteriormente a respeito dessas entidades foi afetada pela
mudança de perspectiva produzida pela OT? Em terceiro lugar, vamos
discutir como a OT dá conta dos níveis representacionais, abordando
as seguintes questões: (i) em que medida as restrições e a interação
entre elas são expedientes suficientes para dar conta de interações
que traduzem as derivações da fonologia pré-OT (problema da
opacidade e da derivação morfológica per se - relações BO / OO)? (ii)
se admitimos algum tipo de representação intermediária, entre input e
output, em OT (OT serial, Serialismo Harmônico etc.), em que medida
se enfraquecem as pressuposições básicas da teoria? Mostraremos,
por fim, como o problema das representações tem sido foco de
importantes desenvolvimentos na Teoria da Otimalidade.
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Percursos e avanços acerca da constituição dos segmentos – desafios
Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPel)
Ana Ruth Moresco Miranda (UCPel)
A visão de traços como unidades constitutivas dos segmentos
tem sido crucial para teorias fonológicas, desde a Escola de Praga até
a Teoria da Otimidade (OT), em um percurso que registra diferentes
modelos fonológicos e diversas abordagens. A OT não inova em
relação a modelos de traços, mas, por seus pressupostos e
formalização, suscita questões relevantes sobre segmentos e traços.
Dentre tais questões, este trabalho discute dois aspectos que se
mostram de interesse central para a explicitação do funcionamento de
segmentos e traços nos sistemas linguísticos: o status dos traços na
OT e os traços em restrições de fidelidade e de marcação posicional.
Quanto ao status dos traços, a OT toma especialmente dois
caminhos: aquele apontado pelo SPE (Chomsky e Halle, 1968) e o
definido pela Fonologia Autossegmental (Goldsmith, 1976) e pela
Geometria de Traços (Clements, 1985, 1989; Clements e Hume,
1995). Seguindo o SPE, a OT confere aos traços o status de atributos
de segmentos – essa é abordagem frequente, já que a OT, como
modelo voltado para o output, tende a focalizar o segmento em lugar
do traço – daí decorre uma teoria segmental de fidelidade a traços.
Aderindo à Fonologia Autossegmental, a OT concede aos traços o
status de autossegmentos, que podem funcionar isolada ou
solidariamente em processos fonológicos – essa visão dá o alicerce a
uma teoria autossegmental de fidelidade de traços. Com relação à
formulação de restrições de fidelidade e de marcação posicional com
traços, o trabalho discute sua pertinência e apresenta exemplos de
seu papel na formalização e na explicação de fenômenos da fonologia
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do português e de outros sistemas linguísticos. Defende sua
adequação na análise de fenômenos observados em posições
consideradas proeminentes, os quais se apresentam como desafios
para a teoria, já que, apesar de recorrentes nas línguas do mundo,
mostram complexidade descritiva e formal.
Fonologia Gestual e Teoria da Otimidade Ubiratã Kickhöfel Alves
(UFRGS/ Dinafon - CNPq*) Giovana Ferreira-Gonçalves
(UFPel-ELO/ Dinafon – FAPERGS**)
Curso acerca da utilização dos gestos articulatórios, enquanto
primitivos fonológicos, em uma gramática formalizada pela Teoria da
Otimidade. O curso iniciará com a apresentação dos pressupostos
básicos da Teoria da Otimidade, desde o seu surgimento, como um
modelo híbrido em 1993, até a proposta da Gramática Harmônica,
revista por Smolensky e Legendre em 2006. Logo após, haverá uma
retomada de aspectos centrais à Fonologia Gestual, dando-se, na
sequência, ênfase à utilização da FG na Teoria da Otimidade, por
meio da apresentação da proposta de Gafos (2002).
Referências bibliográficas ALBANO, E. C. O Gesto e suas Bordas: esboço de Fonologia Acústico-Articulatória do Português Brasileiro. Campinas: Mercado de Letras/ São Paulo: FAPESP, 2001.
BISOL, L.; SCHWINDT, L. Teoria da Otimidade: Fonologia. Campinas: Pontes Editores, 2010.
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* Edital Universal - processo 479095/2010-8 ** Edital Pesquisador Gaúcho – processo 1015742/2010
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Padrões de aspiração de obstruintes iniciais do pomerano (L1), português (L2) e inglês (L3) e suas transferências
Marta Tessmann Bandeira (UCPel – CAPES)
Na literatura concernente ao multilinguismo, há grande
dissenso sobre qual língua exerce maior influência sobre a terceira
língua falada por multilíngues: seria a L1 ou a L2? Em estudo anterior
envolvendo crianças multilíngues, Bandeira (2010) encontrou
diferença significativa entre as médias de VOT (Voice Onset Time)
obtidas por multilíngues e monolíngues na produção de plosivas do
inglês (L3), apontando grande influência da L1 dos participantes na
produção das oclusivas aspiradas do inglês como L3 (no caso dos
bi/multilíngues) e como L2 (no caso dos monolíngues). A partir desse
achado, está se expandindo o estudo para outras faixas etárias, com o
intuito de averiguar se a tendência de transferência predominante de
padrões de VOT da L1 (pomerano) para os padrões das plosivas
surdas da L3 produzidas por bi/multilíngues se mantem em diferentes
grupos etários. O objetivo deste trabalho, então, é reportar dados
iniciais relativos à dinâmica da transferência de padrões de VOT
obstruintes inicial /ph /, /th/ e /kh/ de três línguas - de pomerano (L1),
português brasileiro (L2), e inglês (L3) - de participantes multilíngues
em três faixas etárias: 10 crianças de 8 a 11 anos, 10 adolescentes de
13 a 17 e 10 jovens de 19 a 25 anos, residentes em Arroio do Padre.
Foram coletados dados de fala e feitas análises acústicas com o
software Praat, versão 5.1.43 (BOERSMA, 2010), o que possibilitou a
medição dos valores de VOT das plosivas iniciais em três contextos:
/p/, /t/ e /k/ seguidos das vogais / i/, /a/, /u/ em inglês e pomerano. Em
PB, /p/, /k/ seguidos das mesmas vogais, e /t/ seguido de /e/, /a/, /u/.
O instrumento de coleta consiste de 18 palavras em português, 18 em
inglês e 18 em pomerano, repetidas 5 vezes cada, distribuídas entre
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os segmentos /p, t, k/, nos diferentes contextos. Foram analisados 300
tokens de cada obstruinte em cada língua (6 palavras x 5 repetições x
10 sujeitos). A análise estatística ainda está em andamento, mas
espera-se discutir os resultados parciais a partir de uma visão
dinâmica da produção da fala (ALBANO, 2001).
Palavras-chave multilinguismo, transferência de padrões de VOT
Procedimentos de análise temporal de produção falada e cantada
Antônio Carlos Silvano Pessotti
(UNICAMP)
A produção vocal, falada ou cantada, pode ser observada
como uma série, cadeia de eventos gestuais dinâmicos. Com isso, os
dados extraídos dessa cadeia sonora podem ser tratados como séries
temporais, mesmo que sejam assimétricos. O presente estudo mostra
resultados parciais da análise de dados de produção falada e cantada
como séries temporais, com ênfase no uso da técnica do
Empenamento Dinâmico Temporal (Dynamic Time Warping, doravante
DTW, Itakura, 1975; Myers, Rabner e Rosenberg, 1980; Coleman,
2005; Mori et cols. 2006). DTW é usado para ajustar séries temporais,
e permite avaliar a dissimilaridade, ou melhor, a não-semelhança entre
séries comparadas (Meyer e Buchta, 2009).
Os dados de produção cantada e falada foram gravados em
estúdio profissional por três grupos de informantes, mulheres,
sopranos: não-cantoras (NC), cantoras não profissionais (CN) e
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cantoras profissionais (CP). Os corpora são formados com o texto da
canção de câmara brasileira Conselhos (Carlos Gomes), sendo cinco
repetições lidas, cinco cantadas sem acompanhamento musical
digitalizado e cinco cantadas com acompanhamento. Como as
informantes NC não cantaram, o total de sílabas na produção falada
foi de 14400 (192 x 5 x 15); na produção cantada, 9600 (192 x 5 x 10)
sílabas, tanto na produção sem acompanhamento, quanto na
produção com acompanhamento.
Foram criadas rotinas (scripts) específicas dentro dos
programas Praat (www.praat.org) e R (www.r-project.org), ambos de
domínio público, para extrair e analisar os dados. O acompanhamento
musical digitalizado, a linha melódica e a duração silábica (obtidas da
partitura) foram usadas como referência para a produção cantada, e
criados com o programa MuseScore, versão 0.95
(www.musescore.org).
As variáveis acústicas são: pitch (semitom, com referência em
440Hz), duração (segundos), formantes (F1 e F2, em Bark). As
variáveis categóricas são: padrão acentual (segundo Mattoso Câmara,
1970), força acentual silábica (fraco, w, forte, s), sintagma fonológico,
sintagma entoacional (Nespor e Vogel, 1986; Selkirk, 1984). Os dados
de pitch e de duração foram convertidos em séries temporais, com os
rótulos silábicos como referência no tempo, permitindo a comparação
global (o total de cada repetição) e local (por sintagma, fonológico e
entoacional).
O DTW retorna um índice de dissimilaridade (Meyer e Buchta,
2009; Mori et cols, 2006) aqui usado para avaliar o grau de
semelhança entre as produções. Até o momento, o índice foi
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computado globalmente para cada repetição. Futuramente serão
apresentados os resultados locais, obtidos para cada nível
sintagmático, fonológico e entoacional. No momento, com esses
índices globais, foram calculadas as medidas de coeficiente de
variabilidade, além de teste ANOVA.
Observou-se a estabilidade entoacional e duracional da
produção falada intra-sujeito (p < 0,001), ou melhor, possivelmente
cada informante procurou manter-se estável nas repetições. Certa
estabilidade inter-sujeitos foi observada dentro dos grupos (NC, CN e
CP) e não entre grupos (p > 0,1). A produção cantada sem
acompanhamento teve variabilidade entoacional significativa (p >
0,03) entre as informantes CN, e não significativa para as CP (p < 0).
Com acompanhamento, a variabilidade entoacional dos dois grupos
(CN e CP) não foi significativa (p < 0). A variabilidade duracional nas
duas produções cantadas (sem e com acompanhamento) também não
foi significativa.
Referências bibliográficas
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- 30 -
MATTOSO CÂMARA Jr, J. Contribuição à Estilística Portuguesa. de Janeiro; Ao Livro Técnico; 1977.
MATTOSO CÂMARA Jr, J. Estrutura da Língua Portuguesa. São Paulo; Vozes; 1970, reeditada em 2001.
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NESPOR, M e VOGEL, I. Prosodic Phonology; Dordrecht, Netherlands; Foris Publications; 1986.
R Development Core Team. R: A Language and Environment for Statistical Computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, URL http://www.R-project.org/ ; 2009.
SELKIRK, E.O. Phonology and syntax: The relation between sound and structure. Cambridge, MA: MIT Press; 1984.
Redução dos ditongos orais descrescentes [ej] e [aj]: o condicionamento fonológico e suas implicações
Eduardo Elisalde Toledo (UFRGS - CAPES)
Guilherme Duarte Garcia (UFRGS - CAPES)
No Português Brasileiro, os ditongos orais decrescentes [ej],
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[aj] e [ow] podem sofrer a regra variável de apagamento do glides
palatal e velar; assim, vocábulos como [ow]tro, p[ej]xe e c[aj]xa,
apresentam as formas variáveis [o]tro p[e]xe e c[a]xa. Estudos
variacionistas (CABREIRA, 1996; AMARAL, 2005, entre outros)
indicam frequências bastante elevadas de aplicação da regra de
monotongação para o ditongo [ow], caracterizando-a como uma regra
variável a caminho da categoricidade na fala; a ocorrência das formas
com manutenção do ditongo em [ow] parece estar associada a
contextos formais de comunicação. Devido ao escopo mais restrito da
variação dos ditongos [ej] e [aj] em comparação ao ditongo [ow], neste
trabalho analisamos apenas os dois primeiros. Segundo estudos
sociolinguísticos das mais diversas regiões do Brasil (ARAÚJO, 1999,
PEREIRA, 2004, CARVALHO, 2007), os casos de monotongação em
vocábulos como qu[e]xo, engenh[e]ro e f[a]xa apresentam de modo
inconteste o papel influenciador de um fator linguístico condicionante:
o contexto fonológico seguinte, fricativa palatal (como em baixo e
queijo, por exemplo) para ambos os ditongos e tepe para o ditongo [ej]
(como em dinheiro, por exemplo). Este trabalho visa a explorar a
motivação fonológica para a aplicação dessa regra variável apenas
nos contextos seguintes em que estão presentes os segmentos de
fricativa palatal e de tepe. Para tal, comparamos diferentes
perspectivas téoricas que discutem os temas da representação
fonológica de segmentos e constituintes, Fonologia Autossegmental
(CLEMENTS, 1985, 1989; CLEMENTS & HUME, 1995) e Fonologia
Prosódica (NESPOR & VOGEL, 1986), assim como as possíveis
restrições envolvidas na aplicação da regra variável de redução de
ditongos, Teoria da Otimidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993;
MCCARTHY & PRINCE, 1993). Este trabalho é um passo inicial para
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verificarmos o fenômeno da monotongação em línguas do mundo,
buscando caracterizar sua ocorrência e seu condicionamento
fonológico.
Estudo das vogais desvozeadas do português brasileiro: análise inicial
Francisco de Oliveira Meneses (UNICAMP)
O desvozeamento vocálico tem sido documentado em um
grande número de línguas, tais como o coreano (Jun e Beckman,
1993), o grego (Dauer, 1980), o turco (Jannedy, 1995), o francês
(Cedergren, 1986; Hayes, 2001), o búlgaro (Andreeva e Koreman,
2008) e principalmente o japonês (Kondo, 1997; Tsuchida 1997).
Muitas vezes classificado como uma síncope (apagamento total de um
gesto vocálico), o desvozeamento se mostra como um fenômeno
bastante variável, recorrente em inúmeras línguas naturais e atestado
em contextos diversos (Chitoran e Marsico, 2010; Chitoran e Iskarous,
2008). Aparentemente, algumas condições são decisivas para a
ocorrência do fenômeno: a presença de vogais altas, especialmente
acompanhadas de consoantes surdas, e ambientes de vogais não
acentuadas. Em geral, as vogais desvozeadas caracterizam-se
articulatoriamente pela falta de vibração das pregas vocais e
acusticamente pela ausência de periodicidade no sinal acústico. A
representação tradicional do desvozeamento das vogais mostra o
processo por meio de mudança categórica de [+voz] para [-voz]
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(Hayes, 2001). Suh-Ah e Beckman (1993) argumentam que o
processo de desvozeamento pode ser considerado como um processo
articulatório de sobreposição temporal de gestos, onde a gesto glotal
da vogal é sobreposto pelo da consoante surda precedente ou
procedente. Conforme Chitoran e Marsico (2010), com base em um
levantamento extenso de línguas, o desvozeamento vocálico pode ser
desmembrado em dois tipos: Posicional e Não-Posicional. De acordo
com os autores, o primeiro diz respeito ao fenômeno relacionado à
posição de final de palavras, frases ou fronteira entre sintagmas. O
segundo, por sua vez, está ligado a fatores como altura vocálica,
acento e contexto consonantal, independente da posição. Os achados
nas mais variadas línguas nos mostram com clareza a variabilidade e
recorrência do ensurdecimento das vogais. No entanto, nenhum
estudo específico explorou, até então, este fenômeno vocálico no
Português Brasileiro. Uma análise profunda desse tipo de variação
será o objetivo do projeto intitulado “Estudo das vogais desvozeadas
do Português Brasileiro: efeitos da relação CV e VC” que pretende (i)
analisar as condições em que as vogais se apresentam com maior ou
menor grau de desvozeamento e (ii) aquilatar os efeitos das relações
CV e VC sobre o desvozeamento das vogais. Os resultados vão
contribuir para se estabelecer mais detalhadamente as características
das vogais desvozeadas do Português Brasileiro. O objetivo deste
trabalho, primeiro passo do referido projeto de pesquisa, é apresentar
uma primeira perspectiva e impressões em torno de dados
relacionados ao desvozeamento.
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A redução de ditongos na morfologia verbal do português brasileiro
Marco Fonseca (UFMG)
O presente trabalho apresenta uma proposta de análise da
redução de alguns ditongos para monotongos em algumas formas
verbais do português brasileiro. A análise, nessa etapa, restringe-se a
formas verbais por limitações metológicas. Observamos, por exemplo,
que ocorre a redução do ditongo [ãw] -> [U] em formas verbais como
falaram -> falar[U], mas não ocorre a redução do ditongo [ãw] em
formas como falariam -> *falari[U]. Observamos também que a
redução do ditongo [ãw] em formas como falam ocorre não como
fal[U], mas como fal[«]. O objetivo deste trabalho é avaliar se a
redução de ditongos decorre estritamente de fatores fonéticos ou
fonológicos ou se a organização lexical atua nos casos de redução
dos ditongos analisados. A análise do fenômeno se baseará na
Fonologia de uso (Bybee, 2001) e na Teoria de Exemplares
(Pierrehumbert, 2001). Em consonância com esses modelos serão
considerados efeitos de frequência de tipo e de ocorrência através de
consultas através do Projeto Aspa (www.projetoaspa.org). Os dados
analisados foram obtidos através do projeto mineirês
(www.letras.ufmg.br/projetomineires).
Inicialmente consideraremos análises anteriores sobre a
redução do ditongo no português brasileiro (Bisol (1989), Câmara Jr.
(1997), Battisti (2002), Bopp da Silva (2005)). Tais trabalhos sugerem
que fatores como sexo, escolaridade, região geográfica e faixa etária
condicionam a redução do ditongo, bem como contexto fonológico
adjacente ao ditongo e a classe gramatical da palavra em que o
ditongo acontece. O trabalho que apresentamos nesta pesquisa
contribui adicionalmente com estes resultados ao considerar efeitos
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de frequuência e a organização lexical. Sugerimos que a frequência
de ocorrência atua na implementação do fenômeno de redução do
ditongo em formas verbais no português brasileiro. Explicamos desta
maneira pois fenômenos linguísticos aparentemente idênticos, como a
redução de [ãw] -> [u] apresentam comportamentos diferentes em
diferentes grupos de verbos. Adicionalmente, sugerimos que a
organização lexical opera em redes que conectam categorias
específicas. (Bybee (1995)).
Referências bibliográficas
BATTISTI, E. A redução dos ditongos nasais átonos. In. BISOL, L; BRESCANCINI, C.R. Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre, Edipucrs: 2002.
BISOL, L. O ditongo da perspectiva da fonologia atual. D.E.L.T.A. Vol. 5, nº 2, pp. 1885-224, 1989.
BOPP DA SILVA, T. A redução da nasalidade em ditongos de sílaba átona em final de palavra entre falantes bilíngües e monolíngües do Rio Grande do Sul. Dissertação de Mestrado, Instituto de Letras, UFRGS: 2005.
BYBEE,J.L.Morphology:Astudyoftherelationbetweenmeaningandform.Philadelphia:Benjamins,1985.
CÂMARA Jr., M.. Estrutura da Língua Portuguesa. Editora Vozes. 26ª ed. Petrópolis. 1997.
PIERREHUMBERT J. Exemplardynamics:Wordfrequency,lenition,andcontrast.
Amsterdam. 137-157. 2001.
- 36 -
Direções da mudança fônica em crianças com desvios fonológicos
Maria Cláudia Camargo de Freitas (UNICAMP)
Na tentativa de apreender e caracterizar movimentos
realizados por crianças com desvio fonológico (DF) em direção ao
estável na língua durante a aquisição fônica, realizou-se um estudo
longitudinal contemplando tanto aspectos relativos à produção quanto
à percepção de fala. A fim de uniformizar a amostra, uma classe de
sons foi colocada em foco: as obstruintes desvozeadas. Foram
selecionadas quatro crianças com produções desviantes de sons
obstruintes desvozeados. As dificuldades observadas, no início do
processo de coleta, estavam relacionadas ao local de constrição de
sons oclusivos, para duas crianças, e de sons fricativos, para as
outras duas. Quatro crianças, sem alterações fônicas, com idade e
sexo compatíveis aos das crianças com DF, foram selecionadas como
sujeitos controle. No total, foram realizadas quatro coletas, em
ambiente acusticamente tratado, com intervalo de aproximadamente
um mês. Os dados relativos à produção consistiram em gravações de
um corpus composto por palavras dissílabas paroxítonas iniciadas por
sons obstruintes desvozeados seguidos das vogais [a], [i] ou [u].
Foram registradas cinco repetições de cada palavra do corpus –
inseridas em uma frase-veículo. Na etapa de percepção, realizou-se
um experimento de discriminação – modelo XAB – com estímulos
naturais, produzido no software PERCEVAL. Os estímulos foram
compostos por sílabas nas quais os sons obstruintes desvozeados
eram sempre seguidos da vogal [a]. Todos os contrastes entre
obstruintes desvozeadas foram contemplados – total de sessenta
estímulos. Para viabilizar a realização deste experimento por crianças
foi criada uma interface lúdica – que se assemelhava a um jogo. A
- 37 -
análise inicial, guiada pelos princípios da Fonologia Gestual, tem
mostrado que a aquisição fônica desviante é marcada por
instabilidades. O sistema fônico de crianças com DF mostra-se
significativamente mais instável e flutuante que o do grupo controle
não apenas em relação à produção mas, também, à percepção. São
exemplos dessa instabilidade na produção: flutuações nas diferentes
tentativas em marcar o contraste fônico em aquisição e presença de
produções marcadas por inserções, prolongamentos e/ou pausas. Por
ser um estudo longitudinal, pode-se observar que à medida que uma
criança se aproximou ao padrão na língua esses fenômenos tenderam
ao desaparecimento. No tocante à percepção, importantes variações
no padrão de discriminação auditiva foram identificadas nas diferentes
coletas de crianças com DF, com aumento de contrastes
discriminados no decorrer das coletas. As crianças do grupo controle
apresentaram número significativamente maior de contrastes
discriminados desde a primeira coleta. Ressalta-se, ainda, que foram
identificados vínculos entre mudanças no padrão de produção e
percepção de fala nas crianças investigadas. Assim, não apenas a
produção mas também a percepção de crianças com DF parecem
refletir as consequências uma organização fônica singular, que é
desestabilizada e reestruturada durante o processo de
estabelecimento de contrastes fônicos para se adequar ao padrão na
língua.
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Avaliação da linguagem: "dessecando" o nível fonológico da língua brasileira de sinais Roberto César Reis da Costa
(UFBA)
Stokoe (1960) foi o precursor na descrição e análise de uma
língua de sinais: a Língua Americana de Sinais (ASL). Nesse sentido,
esse pesquisador observou que a ASL deve ser considerada uma
língua natural por ser adquirida naturalmente por crianças surdas
filhas de pais surdos. Além disso, ele constatou que essa língua,
apesar da modalidade viso-gestual, possui a mesma complexidade
das línguas orais-auditivas, bem como gramática e sintaxe
autônomas. Recentemente, as análises lingüísticas têm descrito as
diversas línguas de sinais, comprovando que elas podem ser
analisadas sob as óticas morfológicas, fonológicas, semânticas,
sintáticas, lexicais, pragmáticas e discursivas. No que se refere à
Língua Brasileira de Sinais (Libras), Ferreira Brito (1995) e Karnopp
(1999) descreveram que os aspectos fonológicos que regem tal língua
são: (1) Configurações de Mão (CM); (2) Movimento (M); (3) Locação
(L) ou Ponto de Articulação (PA); (4) Orientação da Mão (OM); e,
finalmente, (5) Expressões Não-manuais (ENM). Uma vez que há
escassez de instrumento de avaliação da linguagem na perspectiva
fonológica para a língua brasileira de sinais, o estudo a ser
apresentado teve como objetivo elaborar e propor um instrumental
avaliativo que se adéqüe às especificidades da fonologia da língua
brasileira de sinais. O instrumental elaborado levou em conta as
peculiaridades lingüísticas da Libras, sobretudo no que tange aos
parâmetros morfológicos e fonológicos, e foi aplicado em sessões de
atendimento com 25 sujeitos surdos com idade variando entre 08 e 16
anos, que estudam numa escola que prioriza o ensino através da
Libras. Os sujeitos participantes da pesquisa, apesar de terem sido
- 39 -
filhos surdos de pais ouvintes, utilizam-se da língua de sinais como
primeira língua. Pôde-se constatar que os desafios encontrados na
elaboração do instrumento se deram no tocante à: (1) realização do
balanceamento fonológico para os parâmetros CM e M; e (2)
sistematização de um padrão ou modelo de sinal durante a produção
eliciada, já que houve manifestações de variantes morfológico-
fonológicas para algumas das figuras previamente selecionadas.
Procedimentos para a análise de vogais e obstruintes na fala infantil do português brasileiro
Larissa Mary Rinaldi (UNICAMP)
Este trabalho pretende criar uma base de dados de referência
da fala infantil, para o estudo de vogais e obstruintes do Português
Brasileiro (doravante PB). Os sujeitos (9 crianças) têm de 5 a 7 anos
de idade, sem história de patologias de fala. Para isso, desenvolveu-
se uma ferramenta lúdica para a coleta da fala dos sujeitos. A
metodologia é centrada em uma história infantil, intitulada "Deu a
louca nos Contos de Fadas", e usa um jogo de percurso de tabuleiro
para gerar a emissão de 57 palavras criadas para o instrumento. O
total de palavras alvo é 36. Elas foram criadas pondo-se em
correspondência cada obstruinte do PB (fricativas e oclusivas) com as
vogais [a], [i] e [u]. A metodologia permite a coleta de todos os sons do
PB na posição de ataque inicial e medial. Este estudo utilizou-o
- 40 -
apenas para observar obstruintes e vogais em posição tônica inicial.
Gravou-se também uma adulta em mesmo contexto lúdico. Em
análise preliminar, notou-se que os parâmetros acústicos estáticos
nem sempre eram capazes de descrever a variação e a dinâmica dos
fenômenos da fala infantil. Por isso usamos dois tipos de análise: uma
de parâmetros acústicos estáticos e uma de parâmetros acústicos
dinâmicos, baseada em inspeção de forma de onda e
espectrogramas. Para a análise estatística optou-se pelo Modelo
Linear Geral (GLM) com uma Análise de Variância de Medidas
Repetidas. O alpha foi estabelecido em 0,05. Como resultado das
análises de parâmetros acústicos de vogais obtivemos que, conforme
esperado, F1 diferenciou [a] de [i] e [u], F2 diferenciou as três vogais e
F3 diferenciou [i] de [a] e [u], e as freqüências dos três formantes é
mais alta do que o esperado para adultos. Porém os espaços
vocálicos adulto e infantil apresentaram áreas muito semelhantes. A
análise dinâmica de forma de onda e espectrogramas indica que em
cerca de 9% dos casos houve demora para estabilização de F2. Como
resultado das análises de parâmetros estáticos de consoantes
fricativas, obtivemos que a assimetria e o centróide foram eficazes
para diferenciar os três locais de constrição, o vozeamento e a
interação entre local e vozeamento. A curtose não distinguiu as
fricativas em nenhum parâmetro. A variância somente diferenciou
local de constrição. A análise dinâmica revelou desvozeamento parcial
em fricativas vozeadas e vozeamento parcial em fricativas
desvozeadas. Como resultado das análises de parâmetros estáticos
de consoantes oclusivas, obtivemos que a assimetria e o centróide
foram eficazes para diferenciar os três locais de constrição, o
vozeamento e a interação entre local e vozeamento. A curtose e a
variância foram eficazes para diferenciar os três locais de constrição e
- 41 -
o vozeamento, porém não para sua associação. O VOT foi eficaz para
diferenciar não somente vozeamento, mas também o local de
constrição. A análise dinâmica revelou desvozeamento parcial em
oclusivas vozeadas e vozeamento parcial em oclusivas desvozeadas.
Esses fenômenos podem ser iluminados pela fonologia Gestual
(Browman & Goldstein, 1992; Ball & Kent, 1997; Scobbie, 1998;
Albano, 2001; Kent & Read , 2002; Shadle, 2006; Goldstein, Byrd &
Saltzman 2006).
Questões metodológicas na análise de combinações CV na aquisição do Português Brasileiro
Magnun Rochel Madruga (UCPel)
Rosane Garcia (UCPel)
Márcia Zimmer (UCPel)
As relações de coocorrência CV, estudadas por MacNeilage e
Davis (2000) e MacNeilage et al (2000), focalizam a combinação
prevalente de algumas consoantes com algumas vogais no período do
balbucio e primeiras palavras. A formação de coocorrências – moldes
- são explicadas a partir da teoria Frame/Content, que prediz ser a
inércia biomecânica a base sensório-motora da sílaba, molde (Frame),
de origem estômato-gnática, precedente ao conteúdo fônico (Content).
Nessa linha, os movimentos não comunicativos seriam o molde para a
emergência de conteúdo linguístico - fônico - e a relação do
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movimento com seus efeitos acústicos teria privilegiado a fala, na
filogênese, como principal via de comunicação. Neste trabalho,
objetivamos principalmente discutir (1) a natureza da coocorrência CV
na aquisição do Português Brasileiro (PB) e (2) contrastar os
resultados obtidos através de diferentes testes estatísticos. Para isso,
são apresentados resultados parciais do fenômeno em três posições
lexicais: átona inicial, tônica e postônica final. Esses dados advêm de
coletas longitudinais de aquisição do PB de doze crianças cujas faixas
etárias situam-se entre 1:5 e 2:5 (anos:meses) do Banco de dados
LIDES. Para a explicação do fenômeno, discutimos os dados a partir
da perspectiva da Fonologia Gestual (BROWMAN; GOLDSTEIN,
1986, 1989, 1990, 1992; ALBANO, 2001). Desse modo, consideram-
se os gestos como unidades emergentes da interação entre a
motricidade oro-facial pré-adaptada para a comunicação e também
pela busca de coordenação motora no desenvolvimento da criança
(ALBANO, 2009). Os resultados encontrados evidenciam que o
desenvolvimento infantil parece ser subordinado a princípios da
dinâmica e da motricidade em geral e que, gradualmente, com o
aumento do vocabulário, a criança vai adquirindo vieses imbricados no
sistema linguístico, ao passo que domina as unidades fônicas e a
dinâmica da associação entre elas. Tal fato é evidenciado pela
modificação dos vieses de combinações conforme a posição lexical
investigada e pela frequência de types e tokens, já que se verifica, aí,
a separação entre o que a língua parece preferir e as formas que as
crianças empregam no seu uso.
Palavras-chave: combinação CV; Fonologia Gestual; aquisição do Português Brasileiro
- 43 -
Cancelamento ou reorganização gestual? Uma discussão acerca da redução de vogais átonas
Ricardo Fernandes Napoleão (UFMG)
Este trabalho propõe uma discussão sobre a natureza dos
processos fonéticos e fonológicos relacionados às reduções de vogais
altas em posições átonas no português de Belo Horizonte. Analisam-
se as ocorrências sob a perspectiva da Fonologia articulatória
(BROWMAN & GOLDSTEIN, 1986, 1992), da Teoria dos Modelos de
exemplares (PIERREHUMBERT, 2001, 2003) e da Fonologia do uso
(BYBEE, 2001, 2007). Há duas perspectivas de análise dos processos
fonéticos e fonológicos relacionados às reduções de vogais altas
átonas no português brasileiro (PB). A primeira postula a ocorrência
de cancelamento da vogal em questão (BISOL & HORA, 1993;
ABAURRE & PAGOTTO, 2002; LEITE, 2006; ABAURRE &
SANDALO, 2007), ao passo que estudos em diversas línguas
tipologicamente distintas (HASEWAGA, 1999; SMITH, 2002;
CHITORAN & BABALIYEVA, 2007; DELFORGE, 2008) indicam que
reduções vocálicas possam dar margem ao desvozeamento. Em uma
ampla revisão da literatura, Gordon (1998) cita como
desencadeadores do desvozeamento alguns condicionamentos como
a altura da vogal, a posição do acento, as consoantes vizinhas, a
distância das bordas prosódicas e a velocidade da fala. Avaliaremos
neste trabalho se esses fatores, de motivação fonética observados por
Gordon (1998), são igualmente observados nas reduções vocálicas do
PB.
Um estudo preliminar realizado com dados de Minas Gerais
(NAPOLEÃO, 2010, em comunicação) reforça a hipótese do
desvozeamento em concordância com os fatores levantados por
Gordon (1998). A análise acústica de palavras contendo sílabas do
- 44 -
tipo CVC em posição pretônica, onde [u] ocupava o núcleo e [s] a
coda silábica, como por exemplo na palavra custódia, demonstrou a
presença ocasional de vogais desvozeadas, emparelhada com a
frequência de ocorrência do item (ver BYBEE, 2007, sobre o papel da
frequência em mudanças sonoras foneticamente motivadas). Contudo,
Chitoran & Marsico (2010) propõem que o desvozeamento seja um
ponto na escala que vai da articulação da vogal plena ao seu
cancelamento, no extremo oposto. Essa perspectiva englobaria
portanto as duas possibilidades de análise numa só abordagem, na
qual o cancelamento seria um estágio posterior do processo de
variação e estaria em direção de consolidar a mudança.
Potencialmente, efeitos de freqüência lexical atuam em consonância
com o desvozeamento.
Modelos teóricos que levam em conta o papel do detalhe
fonético nas representações mentais permitem uma interpretação
adequada dos dados observados. Assim, o desvozeamento pode ser
explicado sucintamente pela Fonologia articulatória, na medida em
que ele pode ser analisado como decorrência da sobreposição dos
gestos da vogal e da consoante desvozeada em vizinhança fonética
(ver CHITORAN & ISKAROUS, 2008). Efeitos de freqüência lexical
oferecem indícios do percurso da implementação do desvozeamento.
A existência de gradualidade entre o desvozeamento e a não-
ocorrência da vogal merecerão atenção em estudos futuros que
relacionem a produção com a percepção.
- 45 -
Metodologia e análise de uma variação alofônica gradiente: estudo das oclusivas coronais do português brasileiro em
situação de contato Denise Pozzani
(UNICAMP)
A palatalização de /t/ e /d/ é um fenômeno muito comum em
vários dialetos do português brasileiro. Descritas muitas vezes como
sons com certa instabilidade em suas fronteiras e uma relação
temporal complexa, as africadas demandam uma descrição detalhada
de sua estrutura. As motivações deste trabalho nasceram da
observação recorrente de que uma parte dos falantes mais jovens de
Jundiaí-SP começa a produzir algum tipo de ruído ao pronunciar as
oclusivas /t/ e /d/ seguidas da vogal alta anterior, especialmente os
que estão em contato com dialetos que já produzem africadas pós-
alveolares.
Tais falantes tentam disfarçar sua pronúncia, e começam a
implantar uma variação lingüística, que é o nosso objeto de estudo. As
consoantes não se parecem tanto com africadas padrão do português
brasileiro, com ruído produzido na região pós-alveolar, mas têm
características contínuas “entre” as oclusivas alveolares e as
correspondentes palatalizadas. Para compreender essa mudança,
tentando descrever as sutilezas dos processos envolvidos nesse
grupo de falantes que produz informações gradientes.
De fato, a implantação da variação inovadora se dá de forma
gradiente, e as diferenças intrínsecas a cada falante podem também
dar indícios de diferentes coordenações entre gestos articulatórios.
Sendo assim, realizamos uma reflexão sobre as africadas à luz
de um modelo dinâmico de produção de fala, a Fonologia Articulatória,
cujas postulações teóricas dão importância à dinâmica dos processos
fonológicos, em que os fatores tempo e magnitude são relevantes e se
- 46 -
relacionam diretamente à idéia de movimento dos articuladores.
Atualmente, realizamos cinco estudos de caso com sujeitos de
Jundiaí, que realizam africadas apenas esporadicamente.
Primeiramente, construímos um corpus para a gravação de dados de
fala semi-espontânea dos sujeitos, com a leitura de boletins
jornalísticos, com palavras-alvo de nossa investigação. A estratégia
teve por objetivo desviar a atenção dos falantes da própria fala, visto
que os boletins apresentavam notícias reais e de relativo interesse.
Para continuar verificando como as africadas dos sujeitos de nossa
pesquisa se apresentam no momento de cada coleta, resolvemos
também aplicar uma tarefa de repetição, que nos mostrasse como os
falantes produzem certas palavras, com oclusivas alveolares antes de
[i], a partir de estímulos disfarçados ou encobertos. O objetivo da
tarefa é tentar verificar se os sujeitos produzem africadas em uma
situação em que aspectos como frequência de ocorrência e tonicidade
estão controlados.
A metodologia de análise se dá a partir da investigação dos
quatro primeiros momentos espectrais do ruído: centróide, desvio
padrão, assimetria e curtose. Para a análise das produções, utilizamos
testes estatísticos paramétricos e não paramétricos.
Os resultados aferidos até o momento mostram que a
frequência de ocorrência parece não ter tanta importância para a
implantação da mudança. Além disso, percebe-se que as medidas de
momentos espectrais em ambas as tarefas apontam para uma alta
instabilidade da produção dos sujeitos, sendo que uns estão mais
adiantados, enquanto outros apresentam mais produções na região
alveolar.
- 47 -
Desempenho de idosos presbiacúsicos na produção de fricativas: uma análise à luz das Teorias Lingüísticas dos
Sistemas Dinâmicos Ana Lúcia Pires Afonso da Costa
(FEEVALE)
O estudo teve como objetivo avaliar o desempenho dos idosos
com presbiacusia, usuários e não usuários de aparelho de
amplificação sonora individual (doravante AASI) na produção das
fricativas alveolares e palatais (/s/, /z/, /�/ e /�/). A análise foi
realizada sob o olhar das teorias linguísticas dos sistemas dinâmicos e
da fonologia gestual. O estudo contou com 8 idosos entre 60 e 75 de
idade, (3 participantes usuários de AASI, 3 não usuários e 2 com
audição normal). Para a gravação utilizou-se software Audacity. As
fricativas foram acompanhadas das vogais /a, i, u/ . Os parâmetros
acústicos foram analisados no software PRAAT. A análise da duração
relativa e absoluta, passou por tratamento estatístico utilizando os
testes KRUSKAL-WALLIS e WILCOXON. Na análise da duração
relativa, foi encontrada diferença significativa nas fricativa /s/ em
‘suco’, /S/ em ‘chuta’ e na fricativa /Z/ em ‘jato’ (p= 0,04), entre os
grupos de usuários e não usuários de AASI. Na análise de duração
absoluta, encontramos diferença significativa (p=0,04) entre os 3
grupos na produção de ‘sapo’. Na análise do centróide houve
aproximação dos valores do centróide das alveolares e das palatais
por provável undershoot da ponta da língua sugerindo modificação da
orquestração gestual envolvendo a variável do trato LCPL (local de
constrição da ponta da língua), tendendo ao LCCL (local de constrição
do corpo da língua). No parâmetro variância foi encontrado indicativo
de produção gradiente, sendo que a maior variância foi observada na
palavra ‘zaga’. Os valores da assimetria podem ser positivos ou
- 48 -
negativos, conforme sua distribuição se encontre à direita (positiva) ou
à esquerda (negativa) da média. MacFarland (1996) e Jongman
(2000), estabelecem medidas de assimetria para as fricativas
alveolares sempre menores do que as das palatais e valores de
assimetria da fricativa /s/ é sempre negativo e de /�/ sempre positivos.
Entre os homens a premissa de assimetria de /s/ menor do que em
/�/ não é respeitada. No sujeito usuário de AASI os valores de
assimetria das alveolares foi maior do que nas palatais, nos demais
sujeitos a premissa se cumpriu. No grupo de mulheres com perda, a
assimetria das fricativas alveolares foi menor do que a das palatais.
Os valores positivos para as palatais e negativos para as alveolares
não foram encontrados. Na análise do parâmetro curtose, em nove
das 48 produções, os resultados foram negativos, sugerindo
diminuição dos picos nestas produções ou achatamento desses picos.
A previsão de que os valores da curtose sejam maiores nas fricativas
alveolares do que nas palatais observadas por Jongman (2000) e
MacFarland (1996) não foi observada. Conclusão:
Os diversos parâmetros apontaram para produções gradientes,
de forma mais evidentes na população com perda e em especial na
população usuária de AASI. A pesquisa teve caráter exploratório,
ficando a sugestão de novas pesquisas, com medidas dos parâmetros
acústicos, maior número de participantes e utilização de técnica de
imageamento por ultrassom (Ultrasound Tongue Imaging) para
observação externa dos movimentos dos órgãos fono-articulatórios,
levando a conclusões mais precisas sobre as correspondências
acústico-articulatórias.
- 49 -
Duas perspectivas de análise para as fricativas posteriores do espanhol
Diego Jiquilin-Ramirez (UNICAMP)
O presente trabalho investiga, em dois vieses, as alofonias das
fricativas posteriores do espanhol. O primeiro deles trata das
variações entre sujeitos, o que corresponde, em termos mais gerais,
às diferenças entre dialetos do espanhol. A segunda abordagem cuida
das alofonias em um mesmo sujeito.
De modo a caracterizar os dialetos, de acordo com o primeiro
ponto de vista, dividimos os informantes em três grandes zonas
dialetais: i) a paraguaia, ii) a caribenha e iii) a peninsular.
Notadamente, as fricativas de i) e iii) se realizam, em maior tendência,
na região velar; iii) se diferencia de i) devido ao fato de que o falante
realiza uma fricção acentuada durante a produção daquele fone. Já
em ii) a fricativa é caracteristicamente reconhecida como uma glotal.
Tais constatações foram feitas segundo análises quantitativas dos
espectrogramas de nossos 15 informantes.
No mesmo sujeito, a variação alofônica parece estar
condicionada ao contexto vocálico de fronteiras. Foram realizadas
tanto uma análise quantitativa, que investigou a trajetória formântica, a
sonoridade e a quantidade de energia nos espectrogramas, como uma
análise quantitativa. Através deste último método pudemos quantificar
em termos estatísticos cada fricativa segundo seu entorno, através
dos parâmetros dos momentos espectrais: os valores de centróide e
de variança são bastante altos entre [u]s e menores entre [i]s;
assimetria e curtose são consideravelmente altos entre [i]s e mais
baixos entre [u]s; no contexto [a]_[a], os quatro momentos espectrais,
comparado aos outros entornos, localizam-se numa porção central
- 50 -
das médias dos momentos.
As variações intrasujeito revelam que as fricativas posteriores
oscilam em sonoridade em todos os contextos vocálicos, enquanto
que a quantidade de energia é maior no seguinte contexto [a]_[a],
muito baixa em [u]_[u] e intermediária entre [i]s. A movimentação dos
formantes também trazem informações importantes: entre [i]s a
fricativa tem um comportamento semelhante ao dos sons
palatais/velares e às vezes velares/uvulares; entre [u]s o alofone se
assemelha majoritariamente aos velares/uvulares; entre [a]s,
finalmente, o comportamento generalizado é o de ativação do gesto
glotálico.
Já que o fonema para a fricativa aqui abordada é apenas um,
/x/, o estudo vem mostrar que foneticamente a gama de variação do
som é bastante diversificada. Desse modo, o quadro teórico adotado
para a interpretação dos dados, i. e. a Fonologia Gestual,
acertadamente dá conta da dinâmica da produção das fricativas
posteriores do espanhol.
Análises da fonologia desviante por meio da OT
Cristiane Lazzarotto-Volcão (UFSC)
O objetivo deste estudo é analisar três casos de Desvio
Fonológico (DF), com base na Teoria da Otimidade (Optimality Theory
- 51 -
– OT), apresentada por Prince e Smolensky (1993) e McCarthy e
Prince (1993). Como decorrência, o trabalho visa a contribuir com a
clínica da linguagem, através da utilização de um modelo teórico
baseado em restrições, pouco utilizado nesse contexto, buscando
avaliações e tratamentos mais eficazes e eficientes. O corpus,
constituído por dados de três sujeitos com DF, com idades variando
de 3:11 a 6:3, que não receberam tratamento fonoaudiológico prévio,
bem como parte das análises aqui demonstradas, fazem parte da
minha dissertação de mestrado (LAZZAROTTO, 2005). A partir da
análise realizada, a pesquisa evidenciou que as hierarquias de
restrições conseguem representar o que ocorre em cada sistema
consonantal estudado, sendo capaz de estabelecer relações entre
diferentes fenômenos fonológicos as quais não são captadas por
outros modelos teóricos. O Algoritmo de Aprendizagem de Tesar e
Smolensky (2000) mostrou-se adequado na condução da montagem
das Hierarquias Atuais de cada sujeito, representativas de parte de
suas gramáticas. A pesquisa levou à conclusão de que o
planejamento fonoterapêutico deve considerar como segmento-alvo
aquele capaz de demover o maior número de restrições de marcação,
a fim de que o tratamento com apenas um alvo faça surgir, no sistema
com desvios, outras estruturas ainda não dele integrantes. O estudo
também revelou que a avaliação e o planejamento terapêutico com
base na OT, para casos de DF, apresentam vantagens em relação
aos procedimentos que utilizam outras abordagens, como a Fonologia
Natural. Com esse encaminhamento, os fatos observados ao longo
desta pesquisa parecem sugerir que uma análise baseada na OT
pode superar aquelas realizadas com base em outros modelos
derivacionais. Para tanto, é necessário que os alvos propostos com
base na hierarquia representativa do sistema de cada sujeito possam
- 52 -
ser testados na terapia fonoaudiológica, o que aponta para a
necessidade de novas pesquisas que utilizem a OT na avaliação, no
planejamento terapêutico, na terapia de crianças que apresentam DF.
A relevância da sílaba no estudo da aquisição da escrita Luciana Lessa Rodrigues
(UNICAMP)
Este estudo tem como proposta geral analisar a aquisição da
escrita no que diz respeito a sua relação com aspectos fônicos.
Análises iniciais detectaram distinções nessa aquisição nas diferentes
posições da sílaba (ataque, núcleo ou coda). Desse modo, este
trabalho teve como objetivo descrever algumas relações entre posição
silábica e aquisição da escrita por crianças pré-escolares. O material
utilizado nesta análise consistiu de 9 produções de texto de 14
crianças que cursavam o Pré III em uma Escola Municipal de
Educação Infantil no interior do estado de São Paulo. As coletas
desses textos foram realizadas entre os meses de março e dezembro
de 2008, com intervalo de aproximadamente um mês entre elas.
Foram levantadas as omissões e substituições de grafemas, de
acordo com a posição silábica em que ocorreram – ataque, núcleo ou
coda. A porcentagem desses fenômenos foi obtida a partir do total de
possibilidades de ocorrência dos grafemas em cada posição silábica.
De maneira geral, os resultados mostraram que as crianças mais
omitiram do que substituiram os grafemas, e, além disso, as
substituições foram preferencialmente relacionadas a ambigüidades
- 53 -
ortográficas. Assim, o foco dos resultados se voltou, neste momento,
para a análise das ocorrências de omissões. As porcentagens de
ocorrência de omissões, de acordo com as posições silábicas, foram
as seguintes: (a) Março: 60,84% no ataque, 16,03% no núcleo e não
houve possibilidade de ocorrência de grafemas na coda; (b) Abril:
45,34% no ataque, 29,68% no núcleo e 78,43% na coda; (c) Maio:
11,11% no ataque, 13,25% no núcleo e 43,59% na coda; (d) Junho:
8,89% no ataque, 11,54% no núcleo e 18,37% na coda; (e) Agosto:
1,09% no ataque, 1,32% no núcleo e 17,72% na coda; (f) Setembro:
16,81% no ataque, 9,52% no núcleo e 32,14% na coda; (g) Outubro:
0,76% no ataque, 2,82% no núcleo e 12,61% na coda; (h) Novembro:
12,91% no ataque, 11,28% no núcleo e 29,29% na coda; e (j)
Dezembro: 13,86% no ataque, 17,39% no núcleo e 28,99% na coda.
De maneira geral, pode-se notar inicialmente que, a partir da coleta de
Maio, as omissões começaram a ocorrer em menor quantidade
quando comparadas com as omissões ocorridas em Março e Abril.
Mais especificamente, com exceção da coleta referente ao mês de
março – em que não houve possibilidade de ocorrência de codas –
observou-se, em todas as coletas, maior porcentagem de omissões na
posição de coda. Além disso, houve uma pequena, porém
interessante alternância entre as omissões de ataque e núcleo
silábicos. Nas primeiras coletas, a tendência mais comum entre os
sujeitos é a omissão do ataque e o registro das vogais que preenchem
o núcleo das sílabas. Ao longo das coletas, alguns sujeitos passam a
omitir mais o núcleo e registrar preferencialmente o ataque silábico.
Esses resultados iniciais confirmam a importância da sílaba nos
estudos sobre aspectos fonológicos da aquisição da escrita.
- 54 -
Focalização em PB: conflitos entre restrições sintáticas e prosódicas Gabriel de Ávila Othero
(UFRGS) Maria Cristina Figueiredo Silva
(UFPR)
Há um longo debate na literatura a respeito dos mecanismos
de marcação de foco utilizados nas línguas, especialmente nas
línguas românicas. Alguns autores acreditam que a marcação de foco
deva se refletir na estrutura sintática das frases e, assim, seja
dependente de operações sintáticas abstratas (cf. Cinque 1993, Costa
1998, entre outros); outros autores acreditam que o fenômeno envolva
basicamente elementos de estrutura informacional da frase (como
informações contextuais do tipo “dado/novo”, cf. Givón 1989); para
outros, ainda, o fenômeno é prosodicamente motivado (cf. Zubizarreta
1998, Menuzzi & Mioto 2006, entre outros). Neste trabalho vamos
defender que, no fenômeno de focalização, estejam atuando,
paralelamente, diferentes componentes da gramática da língua,
especialmente condições de boa formação sintática, de marcação
prosódica e de organização informacional da frase. Em nosso estudo,
abordaremos construções que veiculam foco informacional em
português e tentaremos responder algumas questões que, embora já
abordadas na literatura da área, não receberam um tratamento
unificado como o que propomos aqui:
i. quais são as restrições sintáticas que atuam na marcação de
foco informacional em português brasileiro (PB)?
ii. em que se diferenciam o PB e o português europeu (PE)
com respeito à expressão de foco informacional, em particular no
aspecto sintático da organização da sentença? Como formalizar essa
diferença na gramática das duas variedades do português?
- 55 -
iii. por que sentenças clivadas plenas e reduzidas são aceitas
para focalizar informacionalmente o sujeito, mas não o objeto, em PB?
iv. qual a relação da propriedade da marcação de foco com a
inversão verbo-sujeito em PB e em PE?
Para responder às perguntas acima, estudamos as estruturas
com foco informacional no PB recaindo sobre o sujeito e sobre o
objeto da sentença, apresentando resultados recentes de testes que
mostram o uso da família de construções clivadas na expressão de
foco informacional. Desenvolvemos nossa análise dentro do quadro
da Teoria da Otimidade (TO), que permite colocar em pé de igualdade
condições de natureza sintática, prosódica e de estrutura
informacional da frase, por exemplo. Dessa forma, podemos adotar
um tratamento formal unificado do fenômeno, mostrando como
restrições de diferentes naturezas atuam simultaneamente na
gramática do português na marcação de desse tipo de foco,
mostrando também a interação dessas condições com outras
propriedades da gramática do português, como a inversão verbo-
sujeito.
Referências bibliográficas
COSTA, J. Word order variation – a constraint-based approach. The Hague: Holland Academic Graphics, 1998.
CINQUE, G. A null theory of phrase and compound stress. Linguistic Inquiry 24, 1993.
GIVÓN, T. Mind, code and context: essays in Pragmatics. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1989.
MENUZZI, S. M.; MIOTO, C. Advérbios monossilábicos pós-verbais no PB: sobre a relação entre sintaxe e prosódia. Revista de Estudos da Linguagem, v. 14, n. 2, 2006.
ZUBIZARRETA, M. L. Focus, prosody and word order. Cambridge: MIT Press, 1998.
- 56 -
Consciência fonológica e aquisição da escrita: interferências da fala na escrita de crianças bilingues
falantes do Português Brasileiro e do dialeto Hunsrückisch falado no Rio Grande do Sul
Rosemari Lorenz Martins (FEEVALE)
Muitos descendentes de alemães, bilíngues ou não, que moram
em regiões onde ainda se usa o dileto alemão no cotidiano, quando
falam Português, trocam fonemas sonoros e surdos, além de não
fazerem diferenciação entre /�, R/. Observando-se a escrita de
algumas pessoas desse grupo, percebe-se que, em alguns casos,
elas também cometem erros na escrita no que tange ao uso dos
grafemas que representam esses fonemas. Sabendo-se disso e com
o intuito de contribuir com esse tipo de falante para que não seja
estigmatizado, este trabalho tem como objetivo principal verificar se
crianças bilíngues - falantes do português brasileiro e do dialeto
Hunsrückisch falado no Rio Grande do Sul – que trocam os fonemas
/p, b/; /k, g/; /t, d/; /� �/; /f, v /; /�, �/; /�, R/ na fala, transferem essas
trocas para a escrita, além de verificar se essas crianças têm
consciência das trocas que fazem nas duas modalidades. Para tanto,
foram coletados dados de fala e de escrita de 36 crianças bilíngues,
residentes em Morro Reuter, matriculadas em cinco escolas
municipais, três localizadas na zona rural e duas, na zona urbana,
que estão no 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental no corrente ano.
Também foram coletados dados de fala e escrita de pais ou
cuidadores e das professoras das crianças, para verificar se as trocas
que as crianças fazem podem também ser observadas nas
produções dos adultos. Resultados preliminares mostram que a
relação entre fala e escrita é fraca no caso desses informantes, o que
pode l evar à conclusão de que as trocas estejam relacionadas ao
- 57 -
sistema do português adquirido pela criança e não ao fato de ser
bilíngue falante do dialeto Hunsrückisch, conforme o senso comum, o
que evidencia que se trata de um fato linguístico e não de um
problema decorrente do bilinguismo. A relação entre os dados das
crianças e dos adultos, contudo, confirmam que crianças cujos pais
fazem trocas fazem as mesmas trocas, principalmente na fala. Esta é
uma pesquisa em andamento, que se inscreve na aquisição da
linguagem e na fonologia.
Palavras-chave Aquisição da escrita. Bilinguismo. Variação linguística.
- 58 -
PROGRAMAÇÃO
IV ENCONTRO DO DINAFON - UFRGS 08 a 10 de dezembro de 2010
- 60 -
08/12 Local: Auditório Celso Pedro Luft – Instituto de
Letras/UFRGS – Campus do Vale
9h – ABERTURA – PROPOSTA DO ENCONTRO Profª. Dr. Eleonora Albano
9h30min – PALESTRA I - RETROSPECTIVA DOS ESTUDOS
ACERCA DA FONOLOGIA GESTUAL NO BRASIL Profª. Dr. Eleonora Albano (UNICAMP)
10h45min – INTERVALO
11h – PALESTRA II - RETROSPECTIVA DOS ESTUDOS EM
FONOLOGIA E TEORIA DA OTIMIDADE NO BRASIL Profª. Dr. Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel)
Prof. Dr. Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS)
14h – 16h45 – CURSO INTRODUTÓRIO – FONOLOGIA GESTUAL
Profª. Dr. Márcia Cristina Zimmer (UCPel) Profª. Dr. Larissa Cristina Berti (UNESP-Marília)
16h45 – PÔSTERES
1) Padrões de aspiração de obstruintes iniciais do pomerano (L1), português (L2) e inglês (L3) e suas transferências
Marta Tessmann Bandeira (UCPel – CAPES)
2) Procedimentos de análise temporal de produção falada e cantada
Antônio Carlos Silvano Pessotti (UNICAMP)
3) Redução dos ditongos orais descrescentes [ej] e [aj]: o condicionamento fonológico e suas implicações
Eduardo Elisalde Toledo (UFRGS - CAPES) Guilherme Duarte Garcia (UFRGS - CAPES)
4) Estudo das vogais desvozeadas do português brasileiro:
análise inicial Francisco de Oliveira Meneses (UNICAMP)
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5) A redução de ditongos na morfologia verbal do português brasileiro Marco Fonseca (UFMG) 6) Direções da mudança fônica em crianças com desvios fonológicos Maria Cláudia Camargo de Freitas (UNICAMP) 7) Avaliação da linguagem: "dessecando" o nível fonológico da língua brasileira de sinais Roberto César Reis da Costa (UFBA) 8) Procedimentos para a análise de vogais e obstruintes na fala infantil do português brasileiro Larissa Mary Rinaldi (UNICAMP) 9) Questões metodológicas na análise de combinações CV na aquisição do Português Brasileiro Magnun Rochel Madruga (UCPel) Rosane Garcia (UCPel) Márcia Zimmer (UCPel)
09/12 Local: Auditório Celso Pedro Luft – Instituto de Letras/UFRGS – Campus do Vale 9h – PALESTRA III - PERCURSO E AVANÇOS DA FONOLOGIA GESTUAL - DESAFIOS Profª. Dr. Beatriz Raposo (USP) 10h – Palestra IV - PERCURSO E AVANÇOS DA TEORIA DA OTIMIDADE - DESAFIOS Profª. Dr. Gisela Collischonn (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Carlos Schwindt (UFRGS) 11h – INTERVALO
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11h15min – PALESTRA V - PERCURSO E AVANÇOS ACERCA DA CONSTITUIÇÃO DOS SEGMENTOS - DESAFIOS Profª. Dr. Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPel) Profª. Dr. Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) 14h – 16h45 - CURSO INTRODUTÓRIO – FONOLOGIA GESTUAL E TEORIA DA OTIMIDADE Prof. Dr. Ubiratã K. Alves (UFRGS) Profª. Dr. Giovana Ferreira-Gonçalves (UFPel) 16h45 - PÔSTERES 1) Cancelamento ou reorganização gestual? Uma discussão acerca da redução de vogais átonas Ricardo Fernandes Napoleão (UFMG) 2) Metodologia e análise de uma variação alofônica gradiente: estudo das oclusivas coronais do português brasileiro em situação de contato Denise Pozzani (UNICAMP) 3) Desempenho de idosos presbiacúsicos na produção de fricativas: uma análise à luz das Teorias Lingüísticas dos Sistemas Dinâmicos Ana Lúcia Pires Afonso da Costa (FEEVALE) 4) Duas perspectivas de análise para as fricativas posteriores do espanhol Diego Jiquilin-Ramirez (UNICAMP) 5) Análises da fonologia desviante por meio da OT Cristiane Lazzarotto-Volcão (UFSC) 6) A relevância da sílaba no estudo da aquisição da escrita Luciana Lessa Rodrigues (UNICAMP) 7) Focalização em PB: conflitos entre restrições sintáticas e prosódicas Gabriel de Ávila Othero (UFRGS) Maria Cristina Figueiredo Silva (UFPR)
- 63 -
8) Consciência fonológica e aquisição da escrita: interferências da fala na escrita de crianças bilingues falantes do Português Brasileiro e do dialeto Hunsrückisch falado no Rio Grande do Sul Rosemari Lorenz Martins (FEEVALE)
10/12 Reunião do DINAFON
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EVENTO
IV ENCONTRO DO DINAFON - UFRGS 08 a 10 de dezembro de 2010
PUBLICAÇÃO Editora e Gráfica Universitária – UFPel
Dezembro de 2010
Publicação disponível no site do Grupo de Pesquisa Emergência da Linguagem Oral - ELO/ CNPq
http://letras.ufpel.edu.br/elo
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