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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental ABES – Trabalhos Técnicos 1 IV-010 – IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PITIMBU (RN) DECORRENTES DAS FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Aldan Nóbrega Borges (1) Engenheiro Civil/UFRN, Licenciado em Construção Civil/CEFET/PR, Especialista em Desenho/UFRN, Professor de Construção Civil do Centro Federal de Educação Tecnológica do RN (CEFET/RN), Mestrando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental/PPgES/LARHISA/UFRN. María Del Pilar Durante Ingunza Geóloga/Universidad Complutense de Madrid, Mestre em Meio Ambiente/Universidad Politécnica de Madrid, Doutora em Engenharia Sanitária e Ambiental/ Universidad Politécnica de Madrid, Professora Adjunto I da UFRN/Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. Luiz Pereira de Brito Engenheiro Civil/UFRN, Mestre em Engenharia Química/UFPB, Doutor em Engenharia Sanitária e Ambiental/ Universidad Politécnica de Madrid, Professor Adjunto IV da UFRN/Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. Endereço (1) : Rua Rio Grande do Norte, 808 – Neópolis – Natal/RN - CEP.: 59080-190 - Fone: (84) 217. 2839 - E-mail: [email protected] RESUMO Existe atualmente uma preocupação com o processo crescente de ocupação humana desordenada e a conseqüente degradação da bacia hidrográfica do rio Pitimbu (BHRP), promovendo uma deterioração da qualidade de suas águas, como conseqüência compromete a qualidade de vida da população. A BHRP merece uma atenção especial, na medida em que o seu sistema aquático formado pelo rio Pitimbu e lagoa do Jiqui é considerado como um importante manancial de água doce superficial para a grande Natal. Dada a relevância desse sistema aquático, essa temática tem estado em destaque nos últimos anos, inclusive está sendo alvo de alertas e denúncias por parte de diversos segmentos sociais no que tange ao processo de degradação ambiental. Diante desse cenário, faz-se mister investigar as atuais condições ambientais da BHRP, visando avaliar qualitativamente as implicações ambientais decorrentes das formas de uso e ocupação do solo na bacia em tela. Na presente pesquisa, buscou-se evidenciar a problemática à luz de uma abordagem teórica que contemple o inter-relacionamento das variáveis da paisagem, procurando caracterizar os relacionamentos entre os elementos naturais do meio e a dinâmica de uso e ocupação do solo atual. A área é ambientalmente frágil e, diante dos diversos usos e ocupação do solo identificados, constata-se que a BHRP vem sofrendo um processo de degradação acentuado, tornando assim, iminente o risco de interrupção no abastecimento público de água na região. Conclui-se, portanto, que os fatos analisados indicam a necessidade premente de se promover a gestão integrada da bacia hidrográfica do rio Pitimbu, contando-se, sobretudo, com uma atitude pró-ativa da população envolvida, no sentido de provocar os órgãos responsáveis por essa problemática. PALAVRAS-CHAVE: Bacia hidrográfica, Recursos hídricos, Impacto ambiental, Saneamento ambiental, Rio Pitimbu, Lagoa do Jiqui. INTRODUÇÃO As águas doces superficiais existentes, passíveis de serem utilizadas pelo Homem de forma economicamente viável e sem grandes impactos ao meio ambiente, correspondem somente 0,001% da água do Planeta. Apesar de trata-se de um recurso extremamente escasso, os recursos hídricos disponíveis no globo são hoje suficientes para atender as necessidades de todos os seres humanos. Contudo, o problema da escassez da água está relacionada, dentre outras questões, à desigual distribuição entre as diversas regiões, nas exigências cada vez FOTO NÃO DISPONIVEL

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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABES – Trabalhos Técnicos 1

IV-010 – IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIOPITIMBU (RN) DECORRENTES DAS FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO DO

SOLO

Aldan Nóbrega Borges(1)

Engenheiro Civil/UFRN, Licenciado em Construção Civil/CEFET/PR, Especialista emDesenho/UFRN, Professor de Construção Civil do Centro Federal de Educação Tecnológicado RN (CEFET/RN), Mestrando em Recursos Hídricos e SaneamentoAmbiental/PPgES/LARHISA/UFRN.María Del Pilar Durante IngunzaGeóloga/Universidad Complutense de Madrid, Mestre em Meio Ambiente/UniversidadPolitécnica de Madrid, Doutora em Engenharia Sanitária e Ambiental/ UniversidadPolitécnica de Madrid, Professora Adjunto I da UFRN/Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos eSaneamento Ambiental.Luiz Pereira de BritoEngenheiro Civil/UFRN, Mestre em Engenharia Química/UFPB, Doutor em Engenharia Sanitária e Ambiental/Universidad Politécnica de Madrid, Professor Adjunto IV da UFRN/Programa de Pós-graduação em RecursosHídricos e Saneamento Ambiental.

Endereço(1): Rua Rio Grande do Norte, 808 – Neópolis – Natal/RN - CEP.: 59080-190 - Fone: (84) 217.2839 - E-mail: [email protected]

RESUMO

Existe atualmente uma preocupação com o processo crescente de ocupação humana desordenada e aconseqüente degradação da bacia hidrográfica do rio Pitimbu (BHRP), promovendo uma deterioração daqualidade de suas águas, como conseqüência compromete a qualidade de vida da população.A BHRP merece uma atenção especial, na medida em que o seu sistema aquático formado pelo rio Pitimbu elagoa do Jiqui é considerado como um importante manancial de água doce superficial para a grande Natal.Dada a relevância desse sistema aquático, essa temática tem estado em destaque nos últimos anos, inclusive estásendo alvo de alertas e denúncias por parte de diversos segmentos sociais no que tange ao processo dedegradação ambiental.Diante desse cenário, faz-se mister investigar as atuais condições ambientais da BHRP, visando avaliarqualitativamente as implicações ambientais decorrentes das formas de uso e ocupação do solo na bacia em tela.Na presente pesquisa, buscou-se evidenciar a problemática à luz de uma abordagem teórica que contemple ointer-relacionamento das variáveis da paisagem, procurando caracterizar os relacionamentos entre os elementosnaturais do meio e a dinâmica de uso e ocupação do solo atual.A área é ambientalmente frágil e, diante dos diversos usos e ocupação do solo identificados, constata-se que aBHRP vem sofrendo um processo de degradação acentuado, tornando assim, iminente o risco de interrupção noabastecimento público de água na região.Conclui-se, portanto, que os fatos analisados indicam a necessidade premente de se promover a gestão integradada bacia hidrográfica do rio Pitimbu, contando-se, sobretudo, com uma atitude pró-ativa da populaçãoenvolvida, no sentido de provocar os órgãos responsáveis por essa problemática.

PALAVRAS-CHAVE: Bacia hidrográfica, Recursos hídricos, Impacto ambiental, Saneamento ambiental, RioPitimbu, Lagoa do Jiqui.

INTRODUÇÃO

As águas doces superficiais existentes, passíveis de serem utilizadas pelo Homem de forma economicamenteviável e sem grandes impactos ao meio ambiente, correspondem somente 0,001% da água do Planeta. Apesar detrata-se de um recurso extremamente escasso, os recursos hídricos disponíveis no globo são hoje suficientespara atender as necessidades de todos os seres humanos. Contudo, o problema da escassez da água estárelacionada, dentre outras questões, à desigual distribuição entre as diversas regiões, nas exigências cada vez

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maiores de consumo, principalmente nos sistemas produtivos, na poluição e contaminação dos recursosnaturais (SERHID, 1999).

Com isso, a ocupação humana nas bacias hidrográficas, de forma cada vez mais desordenada, através deatividades de desmatamentos, queimadas, práticas agrícolas perniciosas, atividades extrativistas agressivas,ocupações urbanas generalizadas, gerando a impermeabilização dos solos, lançamento de esgotos industriais edomésticos nos rios e lagos, tem promovido uma deterioração da qualidade das águas naturais, com riscos depropagação de doenças de veiculação hídrica ao próprio ser humano. Essa temática tem ocupado lugar dedestaque nas conferências internacionais, onde estima-se que “80 por cento de todas as moléstias e mais de umterço dos óbitos dos países em desenvolvimento sejam causados pelo consumo de água contaminada e, emmédia, até um décimo do tempo produtivo de cada pessoa se perde devido a doenças relacionadas com aágua” (CNUMAD, 1992).

Entretanto, a crescente conscientização da sociedade, no que tange às questões ambientais, notadamente pelarápida e gigantesca degradação e poluição ambiental e seus problemas sócio-econômicos subseqüentes, temproporcionado uma reflexão sobre as perspectivas futuras da humanidade, promovendo um profundoquestionamento sobre as condutas sociais de consumo, além da busca de alternativas que visem harmonizar asatividades humanas com as sadias condições ambientais, impelindo, desse modo, a necessidade de se estabelecerum novo paradigma de desenvolvimento menos agressivo ambientalmente, de tal forma que se obtenha umaconvivência mais harmoniosa entre as ações antrópicas e os processos naturais, sem que isso venha ameaçar ascondições de sustentabilidade dos ecossistemas e a manutenção da própria espécie humana.

Nesse contexto, a bacia hidrográfica do rio Pitimbu (BHRP) merece uma atenção especial, na medida em que oseu sistema aquático formado pelo rio Pitimbu e lagoa do Jiqui constitui como importante manancial de águadoce superficial para a grande Natal, na qual, cerca de 65% da população é servida com águas provenientes dasfontes subterrâneas e os demais 35% são atendidos por retiradas das lagoas do Jiqui e Extremoz1. Cumpresalientar que 75% das áreas ao sul do rio Potengi são atendidas por aqüíferos subterrâneos e os demais 25%,provêm da lagoa do Jiqui. Ademais, em termos qualitativos, esta lagoa tem um papel fundamental noabastecimento d'água da grande Natal, tendo em vista que, “no caso particular da captação DUNAS2,fortemente impactada pela ocupação desordenada do solo em torno da sua área, a água produzida pelamesma é recalcada para o reservatório R-3, onde é diluída com água proveniente da lagoa do Jiqui, cujoteor médio de nitrato medido no período de dez/96 a dez/99 foi de 0,27 mg/l” (CONPLAM, 2000).

Não obstante a relevância desse sistema aquático para a grande Natal, observa-se que sua bacia hidrográfica temsido palco de intervenções que estão provocando sua degradação ambiental, podendo, inclusive, culminar como colapso do abastecimento público d'água. Isso pode ser constatado através de alertas e denúncias feitas pordiversos segmentos da sociedade (cientistas, ONGs, manifestações populares), as quais estão freqüentementesendo veiculadas pela mídia local e regional.

Verifica-se, porém, que as pesquisas até aqui realizadas na BHRP trazem em seu bojo uma preocupação com oprocesso crescente de urbanização e a conseqüente degradação ambiental da bacia em tela, entretanto carecemde estudos voltados para a identificação e análise dos problemas ambientais por ela suportados, com vistas aproporcionar uma orientação quanto ao uso, monitoramento e gerenciamento dos recursos naturais, ou seja,fornecer subsídios para os processos de planejamento urbano e regional, que contemplem toda área da bacia.

Diante desse cenário, faz-se mister investigar as atuais condições ambientais da BHRP, visando avaliarqualitativamente as implicações ambientais decorrentes das formas de uso e ocupação do solo na bacia emevidência.

Ademais, entende-se que, somente a partir do conhecimento do real estado de conservação desse geoambiente,palco das intervenções antrópicas, dos seus comportamentos e interrelações e das suas perspectivas para ofuturo, é que se tem a possibilidade de contribuir para a promoção da sua preservação.

1 A lagoa de Extremoz situa-se a 15 Km da cidade do Natal (RN), no município homônimo. É responsável peloabastecimento d’água de aproximadamente 150.000 habitantes (Duarte, 1999).2 Dunas é a denominação dada ao aqüífero livre existente na grande Natal (Nunes, 1996).

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METODOLOGIA

Para a concretização dos objetivos propostos na presente pesquisa, buscou-se evidenciar a problemática à luz deuma abordagem teórica que contemple o inter-relacionamento das variáveis da paisagem, procurandocaracterizar os relacionamentos entre os elementos naturais do meio e a dinâmica de uso e ocupação do soloatual.

Os procedimentos metodológicos aqui empregados compreendem, basicamente, das seguintes etapas:

I - pesquisa bibliográfica e documental: levantamento do referencial bibliográfico; busca de informaçõesdisponíveis sobre a BHRP, através da consulta a trabalhos acadêmicos desenvolvidos na bacia, a trabalhostécnicos disponíveis nos órgãos públicos local, regional e nacional; e, à legislação pertinente;

II - levantamento de dados e informações efetuadas em campo: visitas sistematizadas à bacia, visando aobtenção e atualização de dados e informações obtidos no item anterior, através da observação direta, darealização de ensaios fotográficos e de entrevistas semi-estruturadas.

A locação dos empreendimentos potencialmente poluidores, bem como dos pontos críticos depoluição/degradação ambiental, está sendo feita com a utilização de um equipamento GPS, tendo em vista aconfecção de uma carta temática que será denominada “carta inventário”;

III - feitura do diagnóstico ambiental: descrição do meio ambiente físico, biótico e antrópico, na perspectiva dese levantar a situação ambiental em que se encontra a bacia.

Pretende-se ainda obter informações utilizando-se dos recursos de imagens orbitais e sub-orbitais, através dafotointerpretação;

IV – identificação preliminar dos impactos ambientais: elaboração de uma matriz interativa adaptada do métodode avaliação de impactos denominado Matriz de Leopold (1971), apresentando o cruzamento das ações versuscomponentes/fatores ambientais;

V – análise e discussões finais: a metodologia de análise envolve, basicamente, as seguintes etapas:

• sistematização das informações e dados disponíveis;• confecção da carta inventário (georeferenciada);• rasterização, vetorização e georeferenciamento dos mapas e cartas utilizados;• análise das implicações ambientais na BHRP, as quais estarão consubstanciadas nas referênciasbibliográficas supramencionadas, na matriz de identificação dos impactos, na proposta de macrozoneamento dagrande Natal feita por Nunes (1996), nas cartas de uso e ocupação do solo da região em análise e na legislaçãoambiental e das águas superficiais, no âmbito Federal, Estadual e Municipal.

ASPECTOS GEOAMBIENTAIS DA ÁREA EM ESTUDO

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A bacia hidrográfica do rio Pitimbu possui uma área de contribuição de aproximadamente 128,76 km2

(Medeiros Sobrinho, 1999). Constitui um polígono irregular, cujo retângulo envolvente situa-se entre osparalelos 5o50'00” e 5o57'53" de latitude sul e os meridianos 35o11'08" e 35o23'19" de longitude oeste. Éformada territorialmente por parcelas dos municípios de Macaíba, Natal e Parnamirim, integrantes da RegiãoMetropolitana de Natal3 (Fig. 01).

3 A Região Metropolitana de Natal foi criada através da Lei Complementar n0 152, de 16 de janeiro de 1997,publicada no Diário Oficial de 06 de fevereiro do mesmo ano. É composta pelos seguintes municípios: Natal,Macaíba, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Ceará-Mirim (Passos, 1998). Entretanto, aindanão foi regulamentada.

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FIGURA 01: Localização da área em estudo.

Base cartográfica: DSG, 1983 - Delimitação da BHRP: Medeiros Sobrinho, 1999 - Adaptação: Borges,2001.

CARACTERÍSTICAS GEOAMBIENTAIS

Segundo a classificação de Köppen (Vianello; Alves, 1991, p. 385), a área em estudo apresenta característicasde clima Tropical chuvoso (As’), com temporada de chuvas se deslocando do verão para o outono, de fevereiroa agosto, quando os totais mensais, em média, excedem os 100mm. Os meses mais secos são outubro,novembro e dezembro, com o total de precipitação, em média, abaixo de 40mm, cuja precipitação média ficaem torno de 1.648mm. Apresenta temperaturas elevadas ao longo de todo o ano, com médias anuais de 26,40Cverificados no período de 1984-94 (FUNPEC, 1998).

A estratigrafia da grande Natal, área estudada por Nunes (1996) e Moreira; Souza (1998), na qual a baciahidrográfica do rio Pitimbu está inserta, é constituída por rochas cristalinas do embasamento pré-cambriano,arenitos e calcários mesozóicos aflorantes, sedimentos areno-argilosos tércio-quaternários atribuídos àFormação Barreiras e quaternários à Formação Potengi, arenitos praiais holocênicos (beach-rocks), areias dedunas sub-recentes e recentes, areias de praias, aluviões recentes e sedimentos indiscriminados de manguesdepositados nos estuários.

Sobrepostas à Formação Barreiras encontram-se, na área em tela, sedimentos arenosos, com pouca argila,friáveis, permeáveis e espessos, de coloração amarelo avermelhada, às quais chegam ao litoral nas falésias,sendo denominados por Nunes (op. cit.) de cobertura de alteração intempérica latossolizada e cobertura dealteração intempérica arenosa quartzosa, o qual afirma que essa “unidade tem origem certamente dadissipação dos campos dunares, através da mistura de material eólico, com outros da formação subjacente”(p. 43).

As unidades morfológicas encontradas na região da BHRP são dunas fixas, que acompanham o “GrabenParnamirim” na direção Noroeste-Sudeste, localizadas à margem esquerda do rio Pitimbu na área de Natal e as

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formas tabulares, ou seja, os Tabuleiros Costeiros, são encontrados predominantemente nos municípios deMacaíba e Parnamirim. De acordo com Costa; Salim (1972), “o Grupo Barreiras foi movimentado no GrabenParnamirim, originando um relevo deprimido de que se aproveitou uma transgressão dunar antiga paraacomodar-se nela” (p. 137).

A característica pedológica da BHRP é de solos bastante intemperizados, relacionados ao clima da região, bemcomo ao material de origem. É formada, basicamente pelas unidades de Areias Quartzosas distróficas, AreiasQuartzosas Marinhas distróficas, Solos Aluviais eutróficos, Latossolos Amarelo distróficos e PodzólicosVermelho Amarelo distróficos.

O rio Pitimbu “possui sua gênese relacionada aos processos tectônicos, apresentando um traçadomorfológico de vale estrutural, onde ocorre o “Graben Parnamirim”. Caracteriza-se como um terraçofluvial entalhado por sedimentos oriundos do processos de acumulação fluvial” (Santos, 1999, p. 38). Nasceno município de Macaíba, precisamente na comunidade de Lagoa seca. Deságua na lagoa do Jiqui(Parnamirim), da qual parte em direção às praias de Pirangi do Norte e do Sul, recebendo o nome de rio Pium(rio Pirangi), onde lança suas águas no mar depois de ter-se juntado aos riachos Taborda e Pium. Na realidade,a BHRP pode ser compreendida como uma sub-bacia da bacia hidrográfica do rio Pirangi.

Ressalta-se que o rio Pitimbu está enquadrado na Classe 2 da Resolução CONAMA n0 20/86 (CONAMA,1998), cuja classificação primeira se deu através do Decreto N0 9.100/84, que “enquadra cursos ereservatórios d’água do Estado na classificação estabelecida na Portaria n0 13, de 15 de janeiro de 1976,do Ministério do Interior”, enquadrando-o, naquela oportunidade, na classificação II da aludida Portaria(Governo do Estado do RN, 1984).

Esse curso d’água apresenta-se perene em toda sua extensão, tendo em vista que é alimentado por águas deressurgência dos aqüíferos livre (dunas) e Barreiras. A constância do nível de suas águas se deve à funçãoregularizadora do armazenamento subterrâneo em toda sua bacia hidrográfica. Em virtude dessearmazenamento, as variações anuais das precipitações pluviométricas são compensadas, verificando-se descargaaproximadamente constante das fontes que alimentam esse curso d’água. Em medições efetuadas no ponto decaptação da lagoa do Jiqui, no período de fevereiro de 92 a janeiro de 93, encontrou-se uma oscilação máximano nível da água de apenas 23cm (Pereira, 1993).

Desde o ano de 1960, a lagoa do Jiqui é utilizada como manancial para abastecimento público. Atualmente, aCompanhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) explota água desse manancial a uma vazãode 490 l/s (13,5 x 106 m3/ano) visando atender a demanda de uma população estimada de 130.000 habitantes dazona sul da cidade do Natal, o que corresponde a 30% da população dessa região. Essa exploração está bastantepróxima do valor limite mínimo prevista para uma margem de 99% de garantia (Lima, 1977 apud Duarte,1999). Ressalta-se ainda que essa região corresponde a 16% do volume total produzida para cidade (CAERN,1997 apud Duarte, 1999).

Costa (1995), estudando a alteração da cobertura vegetal natural da BHRP, explica que dadas as característicasclimáticas e pedológicas, o mosaico vegetacional que ocorre na área em realce é bastante complexo. Dessemodo classificou a vegetação natural4 ocorrente na bacia como Savana Florestada e como FormaçõesPioneiras, onde predomina a vegetação de restinga.

A vegetação secundária resulta da intervenção humana para uso da terra, provocando, geralmente, adescaracterização da vegetação nativa. Assim, esta representa uma regressão em função das freqüentesmodificações daquela. Esse processo se dá através da sucessão de espécies que normalmente estão seqüenciadascomo terófitos, geófitos, caméfitos, nanofanerófitos, microfanerófitos e mesofanerófltos.

INTERVENÇÕES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PITIMBU (BHRP)

As intervenções na BHRP não diferem, em termos gerais, daquelas encontradas nas diversas baciashidrográficas que formam cursos d’água onde a ocupação humana ocorre de forma desordenada.

4 Vegetação natural é aqui compreendida como vegetação nativa original que não sofreu intervenção antrópicaque a descaracterizasse (COSTA, 1995).

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Entretanto, dada a importância desse manancial para a manutenção e melhoria da qualidade de vida dapopulação que direta ou indiretamente se utiliza desse bem natural, cabe aqui descrever os principais tipos deação que estão proporcionando uma degradação contínua dessa unidade ambiental, vislumbrando-sedisponibilizar informações que subsidiem um macrozoneamento da área que promova um desenvolvimento dasociedade envolvida, numa perspectiva de sustentabilidade, contribuindo, desse modo, para a conservação dessabacia.

O trabalho de campo permitiu a constatação das seguintes ações na bacia em destaque: barramentos construídospara contenção de água, desprovidos de projeto de Engenharia; explotação d’água indiscriminada para irrigaçãoe outros fins, uso de praguicidas em plantações diversas, notadamente naquelas insertas na planície deinundação do rio, sem qualquer orientação técnica; pecuária de gado bovino e suíno à margem do rio; queimadada vegetação nativa; supressão da mata ciliar e de outras coberturas vegetais pertencentes à áreas de recarga doaqüífero livre responsável pela perenidade do rio, concorrendo para o aumento do processo erosivo em suasmargens, culminando com o assoreamento de trechos desse rio; retirada de sedimentos para comercialização eimplantação de edificações e empreendimentos; deposição de resíduos sólidos (Lixo) e líquidos de origemdoméstica e industrial na bacia e no próprio rio Pitimbu; encaminhamento das águas oriundas da drenagemurbana e de rodovias para o rio e áreas circunvizinhas; lavagem de roupas, banho de pessoas (lazer) e de animaisem diversos pontos do rio, contaminando a água (Coliformes) e contribuindo para a elevação do nível denutrientes, provocando o contínuo processo de eutrofização desse manancial; Expansão urbana desenfreada eimplantação de indústrias em locais impróprios; entre outros.

Desde a nascente até a entrada da lagoa do Jiqui, o rio Pitimbu estende-se por 31km. Nos 13 km iniciais,constata-se que o rio corta áreas rurais pertencentes ao Município de Macaíba, principalmente. A partir daí, aproximidade com a periferia de Parnamirim e Natal, condiciona uma maior ocupação da bacia, verificando-se apresença de indústrias e de crescimento populacional em direção as suas margens. Nesse trecho, determinam-sealguns pontos em que a intersecção do curso d’água com estradas vicinais, inclusive com as BRs 101 e 304,configuram-se em locais aos quais as populações circunvizinhas acorrem para utilizar-se de suas águas para osmais diversos fins (lavagem de roupas, recreação, banho de animais, entre outros).Na área da bacia que pertence ao Município de Macaíba, consideram-se como ações mais impactantes osbarramentos no leito do rio e a implantação do Centro Industrial Avançado do Rio Grande do Norte (CIA/RN).

Foi observado que os barramentos foram construídos sem o devido respaldo técnico de Engenhariaobjetivando-se a acumulação de água para utilização na irrigação e em outras atividades afins. O usoindiscriminado desse líquido tem provocado conflitos por apresentar escassez de água em terras que ficam àjusante de um determinado barramento, agravando-se esse quadro, quando do período menos favorável deprecipitação pluviométrica na área.

Além do mais, esse modelo de intervenção, carente de planejamento, provocou o rompimento de uma barragemquando do aumento da precipitação pluviométrica no ano de 2000 (Fig. 02), gerando diversos problemas àjusante da mesma, notadamente o transporte de sedimentos e de outros materiais sobrenadantes, os quaischegaram a alcançar a lagoa do Jiqui, degradando a qualidade da sua água.

Esse fato pode ser constatado através da matéria jornalística veiculada em um jornal da cidade de Natal, cujotítulo é “Falta d’água na segunda feira, em Natal, foi por motivo de sujeira” (Diário de Natal, 07/06/2000). Oconteúdo dessa matéria revela que o nível de cor da água chegou à 450uh e de turbidez a 260ut. Segundo oDiretor de operações e Desenvolvimento Técnico da CAERN, Valmir Melo da Silva, “Nenhuma estação domundo tem condições de tratar uma água com esses níveis”.

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FIGURA 02 – Fazenda Novo Horizonte - Panorâmica do rompimento da

Foto: Aldan Borges (10/12/2000). barragem no rio Pitimbu ocorrido em junho de 2000.

O CIA/RN – criado pela lei estadual n0 7.007/97 - está localizado no Município de Macaíba, cuja implantação éjustificada pelo crescimento da economia estadual e da conseqüente expansão do setor secundário, culminandocom a necessidade da criação de indústrias para atender à demanda desenvolvimentista. Ressalta-se que essecomplexo industrial está assentado em um nicho formador do rio Pitimbu, que se revela como principalcontribuinte desse rio, constituindo-se em uma área de fragilidade ambiental.

As intervenções estabelecidas com a implantação do CIA, têm promovido consideráveis transformaçõesgeoambientais qualitativas e quantitativas no nicho formador do rio Pitimbu, podendo culminar com ocomprometimento do abastecimento d’água para a cidade de Natal, visto que, ao provocar um desequilíbrio nasvariáveis clima, relevo, hidrografia, solo e vegetação há uma irreversível descaracterização da paisagem.Portanto, a tomada de decisão do Estado, enquanto estrutura responsável pelo fomento do desenvolvimento, emimplementar um empreendimento dessa envergadura em um ambiente que constitui área de preservaçãopermanente (Leis n0S 4.771/65 e 9.605/98), e sobretudo, com a relevância sócio-ambiental a qual a área édetentora, torna explícita sua ação negligente. Não sendo, portanto, uma opção ecologicamente correta,negando desse modo, a perspectiva de se trabalhar a filosofia mundialmente requerida do desenvolvimentosustentável. Essa decisão governamental mostra-se contraditória, também, por ser de um lado responsável peloabastecimento público de água da capital do RN e, de outro, contribuir significativamente para a redução dadisponibilidade hídrica, na medida em que intervém no principal afluente do rio Pitimbu. Sugere atenção àsrecomendações constantes no RIMA do CIA, o qual atenta para ações mitigadoras dos impactos negativos econsiderar as propostas de Borges et al. (1999) no tocante ao SITEL. Ademais, que o fato sirva como marcoreferenciador reflexivo para futuras ações governamentais dessa natureza.

Entre os aspectos mais relevantes que se pode destacar no tema impacto ambiental no Município deParnamirim, tratam-se da expansão urbana desordenada, do esgotamento sanitário e dos despejos líquidosindustriais.

A área que compreende Nova Parnamirim, notadamente àquela que está inserta na bacia hidrográfica do rioPitimbu, encontra-se em franco “desenvolvimento”, com uma expansão urbana desenfreada e desordenada, aqual vem verdadeiramente descaracterizando toda a paisagem local, com desmatamento para implantação deloteamentos, construção de condomínios de casas e apartamentos, postos de gasolina e outros estabelecimentoscomerciais e pequenas indústrias.

É importante destacar que esse fato provoca um maior impacto adverso ao rio Pitimbu, na medida em que nãose dispõe de uma infra-estrutura de saneamento básico na região em apreço, podendo culminar com acontaminação desse rio, sem mencionar as demais conseqüências advindas desse tipo de intervenção, como porexemplo, a impermeabilização do solo, assoreamento do rio, interferência no micro-clima local, com a reduçãoda cobertura vegetal, dentre outros fatores.

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Como exemplo dessa análise, surge no cenário o empreendimento Pitimbu Resorts S/A. Trata-se de umComplexo financiado pelo FINOR, estando localizado em uma área que abrange parte da planície de inundaçãoe da vertente direita desse rio.

As conseqüências ambientais decorrentes dessa implantação pode ser vista pelo recorte do Barreiras esignificativa movimentação de terra, precedidos pelo desmatamento da cobertura vegetal nativa sobre essepacote sedimentar, expondo o material às erosões eólica e pluvial, com o escoamento de correntes de massa emdireção ao rio Pitimbu, causando o seu assoreamento, constitui-se na paisagem atual da área na qual esseempreendimento está sendo implantado em uma área de 5,94ha. Porém, há intenção do empreendedor deconstruir o Complexo Pitimbu Resorts em uma área com aproximadamente 200ha (Brito et al., 2000).

Quanto ao esgotamento sanitário em Parnamirim, têm-se como uma intervenção mais impactante, o sistema dedrenagem de águas pluviais que atende ao Cemitério Público Municipal e adjacências. Trata-se de um sistemaque atende a uma extensa área desse município e encaminha-se para a localidade de Passagem de Areia, cujolançamento é feito diretamente em um nicho formador do rio Pitimbu. No entanto, foi verificado que, além decoletar águas pluviais, esse sistema recebe contribuição clandestina de efluentes líquidos (esgotamentosanitário) de inúmeras edificações ao logo de todo o seu curso (Fig. 03).

Considera-se de bom alvitre mencionar que esse fato fora denunciado pelo Vereador desse município, Sr.Gildásio, em 30 de maio de 2000, o qual afirma que esse sistema de drenagem de águas pluviais implantado noCemitério e adjacências é utilizado pela população em geral e pelo poder público local como ponto deesgotamento sanitário, bem como de despejo de efluentes provenientes de caminhões limpa-fossa.

No que se refere ao lançamento de efluentes líquidos industriais, destacam-se as indústrias de refrigerantesSIDORE e INPASA. A primeira, localizada à margem da BR–304, despeja seus resíduos industriais in naturadiretamente na calha coletora de águas pluviais oriundas da citada BR, cuja destinação final é o rio Pitimbu(Fig. 04). A segunda, localizada à margem da BR–101, também lança seus efluentes, a céu aberto em terras doex-matadouro VITALLE, diretamente na planície de inundação do rio em tela (Fig. 05).

FIGURA 03 – Ponto de lançamento dos efluentes líquidos Foto: Aldan Borges (16/02/2001).provenientes do sistema de drenagem de águas pluviais/Esgotamento sanitário que atende ao CemitérioPúblico Municipal de Parnamirim (RN) e adjacências.

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FIGURA 04 – Sistema de drenagem de águas pluviais da BR-304Foto: Aldan Borges (06/01/2001).– Efluentes líquidos industriais provenientes da Indústria derefrigerantes SIDORE e esgotamento sanitário da favela localizada ao lado da referida indústria –Destino: rio Pitimbu (Moita Verde - BR-304 – Parnamirim/RN - Indústria de refrigerantes SIDORE(BR-304 – Parnamirim/RN) - Efluente com aspecto turvo e cor verde. Exala um odor característico desoda cáustica.

FIGURA 05 – INPASA – Parnamirim/RNFoto: Aldan Borges (06/01/2001)- Ponto de lançamento dos efluentes líquidos industriais em terras daVITALLE à margem direita do rio Pitimbu - Efluente com aspecto leitoso.

O Município de Natal, emerge nesse cenário por contribuir com a menor área territorial pertencente à BHRP, aqual encontra-se quase que totalmente inserida na Zona de Proteção Ambiental (ZPA-3), em vias deregulamentação. Todavia, nos últimos anos, a aludida área encontra-se sob forte pressão do capital imobiliáriocom a intenção de implantar condomínios habitacionais nessa área. Destarte, passa a correr o risco de perderessa condição mínima de proteção ambiental.

Ainda segundo informações obtidas nesta pesquisa, cabe revelar que fora implantado um conjunto habitacionalna década de 80, denominado Cidade Satélite, em uma área desprovida de Saneamento Básico. Ressalta-se que apaisagem local apresenta uma Geologia constituída por paleodunas quaternárias de alto poder de infiltração, asquais compunham um vasto campo de dunas que recobrem o Barreiras. Assim sendo, verifica-se que essecenário põe em risco de contaminação por Nitrato o aqüífero livre, podendo estender-se ao rio Pitimbu.

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Marinho5 ratifica essa hipótese ao afirmar que a contaminação do rio Pitimbu por Nitrato é iminente. Explicaque isso poderá ocorrer através do processo de nitrificação desenvolvido durante a infiltração no solo dosefluentes do sistema de esgotamento sanitário fossa-sumidouro, utilizado na aludida área. Como exemplo,Marinho informa a evolução cronológica da concentração de Nitrato na água de um poço tubular na CidadeSatélite. Os dados revelam que em 1987 o valor era de 6mg/l. Já em 2000, a concentração desse íon eleva-separa 30mg/l.

É imprescindível ressaltar que ao longo de toda planície de inundação do rio Pitimbu, constatou-se que emvários pontos há ressurgência do aqüífero livre. No entanto, aqueles locais em que há afloramento da FormaçãoBarreiras (Grupo Barreiras), sobretudo com a vegetação preservada, há uma forte presença da ressurgênciadesse aqüífero, contribuindo, desse modo, para a perenidade desse rio. Também, foi verificado que aproximidade dos cordões dunares da planície de inundação em alguns trechos desse rio, proporciona umaretroalimentação de suas águas, tendo em vista serem “verdadeiros filtros naturais6” que, particularmente coma sua cobertura vegetal preservada, retêm as águas pluviais e vão, aos poucos, alimentando esse curso d’águapermanentemente. Essa constatação evidencia, portanto, a importância de se preservar a vegetação existente,bem como promover o reflorestamento daquelas áreas já degradadas.

Em última análise, portanto, pode-se afirmar que o escoamento de base predominante em toda bacia torna o rioPitimbu mais vulnerável à contaminação por substâncias químicas.

CONCLUSÕES

Pelas características físicas da área, percebe-se que esta é ambientalmente frágil e, diante dos diversos usos eocupação do solo identificados, sobretudo com a forte pressão urbana que hoje se configura, constata-se que abacia hidrográfica do rio Pitimbu vem sofrendo um processo de degradação acentuado. Conseqüentemente, essefato está poluindo e contaminando o rio Pitimbu pelos agentes físicos, químicos e biológicos, bem comoacelerando o seu assoreamento com a supressão da vegetação de áreas significativas que recobre,principalmente, as suas margens, tornando assim, iminente o risco de interrupção no abastecimento público deágua na região.

O Município de Natal possui uma legislação própria para conservação parcial da bacia (Plano Diretor e Códigodo Meio Ambiente) e ressalta-se que um grande percentual da área desse município, que pertence à bacia,constitui uma Zona de Proteção Ambiental (ZPA–3). Entretanto, a carência de um sistema de coleta, tratamentoe destinação dos efluentes domésticos e industriais, bem como de um sistema de captação de águas pluviais,contribuem para agravar a situação supramencionada, através da poluição e contaminação subterrânea do riopor Nitrato. Assim sendo, entende-se que a ocupação da bacia, nos limites da Natal, deve obedecer aosparâmetros e diretrizes gerais de uso e ocupação do solo contidos no documento que fundamenta o projeto deLei de criação da Zona de Proteção Ambiental 3 (ZPA-3), a qual encontra-se em processo de regulamentação.Porém, a prática revela um cenário contrário a esses preceitos, tendo em vista a ausência de um efetivo controlefiscal do órgão gestor municipal.

Enquanto que Macaíba se destaca nessa problemática, principalmente, por neste está inserto o Centro IndustrialAvançado (CIA/RN), tratando-se do mais recente pólo industrial do Estado, assentado em uma regiãoecologicamente protegida por legislação federal e estadual, pois constitui-se em um dos poucos nichosformadores do rio Pitimbu. Também pela existência de barramentos, ao longo do curso do rio Pitimbu,construídos sem o devido respaldo técnico de Engenharia, colocando em risco, dentre outros aspectos, aqualidade da água da lagoa do Jiqui.

Considera-se importante ressaltar, sobretudo, o papel exercido pelo Município de Parnamirim nesse contexto.Primeiro, por contribuir com a maior área física na bacia; por possuir um parque industrial desde a década de70, atraindo, desse modo, um contingente populacional, proveniente em sua maioria do interior do Estado;somente recentemente passou a dispor de uma legislação que possibilite o ordenamento do território doMunicípio (Plano Diretor), não se encontrando alguma referência na Lei Orgânica à áreas de proteção

5 Elmo Marinho – Geólogo e pesquisador do Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente do Estado do RioGrande do Norte (IDEMA) – Palestra à comunidade do Bairro Pitimbu em 17 de maio de 2000.6 Vilaça – Entrevista semi-estruturada em 1999.

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ambiental. Por conseguinte, é alvo de especulação imobiliária, inclusive, por estar no entorno da Capital, e esta,por sua vez, é palco de imigração oriunda do Sudeste do País e até de alguns países do Globo.

Conclui-se, portanto, que os fatos analisados indicam a necessidade premente de se promover a gestão integradada bacia hidrográfica do rio Pitimbu, conforme prescreve a Lei no 9.433/97 (BRASIL, 1997) que institui aPolítica Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Nacional de RecursosHídricos, contando-se, sobretudo, com uma atitude pró-ativa da população envolvida, no sentido de provocaros órgãos responsáveis por essa problemática, pois, somente dessa forma, “a dinâmica ambiental, tecida pelahistória humana, dependerá da capacidade de reavaliação que o homem e/ou grupos tenham sobre asociedade que gestam, sobre o futuro comum que constroem.” (Valêncio, 1995, p. 119).

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