isa braga - visionvox · 2019. 5. 23. · meu cérebro por causa da dor que sentia por falta dele...

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Isa Braga

Destino

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Dedico este livro ao Mayonne

Enquanto você lutar pelo que quer e acredita, sempre haverá um final feliz para cada história.

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Sinopse

Quando tudo parecia ter chegado ao fim, até mesmo a vida de Melissa, o inimaginável

aconteceu.

Melissa encontrou Jeziel através de um portal gerado por seus poderes. Ele não estava

morto. Raika havia mentido.

Ainda era prisioneiro no castelo de Cordomad, e Erkas havia drenado tanto de sua força

que ele mal conseguia se mover.

Melissa depois de ter pranteado seu luto por ele, mal podia acreditar que Jeziel estava

vivo e belo como sempre, bem diante de seus olhos.

O poder que de tão forte estava matando Melissa teve força suficiente para fortalecer

Jeziel e libertá-lo da prisão. Trazê-lo de volta para ela e dar-lhes uma nova chance

juntos.

Mas o poder de Melissa teria que ir além de seus limites. Teria que ser forte o suficiente

a partir de agora para conseguir derrotar Cordomad ou ela perderia Jeziel novamente.

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Capítulo 1

O nada absoluto permaneceu por um tempo, talvez o tempo da eternidade.

Não deu para mensurar por quanto tempo estive sem consciência.

Uma luz branca clareou meus olhos e sem que eu entendesse como, passei a

sentir novamente a vida em mim.

Meus olhos puderam detectar formas e cores novamente, apesar de não ter

muito que ver, apenas um grande espaço de luz e cores sem nada abaixo de meus pés, sem nada

acima da minha cabeça além de muita luz. A luz que apesar de intensamente brilhante não

ofuscava.

Não sabia onde estava, nem o que fazia ali ou o que devia fazer ali. Também

não sentia calor nem frio, pois não havia vento. Não sentia meus pés tocarem em nada apesar de

estar de pé. Até os flashes de luz que passavam por mim não me davam nenhuma sensação. Mas

eu continuava me sentindo eu mesma ali.

Estendi minhas mãos diante dos meus olhos e pude ver nitidamente a forma

conhecida das minhas mãos, de meus braços. Toquei meu rosto e senti a ponta de meus dedos

em minha pele. Eu sabia que estava ali e tendo sensações, mas não em corpo.

Eu não sabia o que pensar. Eu havia morrido? Havia sido transportada para

alguma outra dimensão? Estava sonhando? E apesar de não saber de nada do que estava

acontecendo, estava me sentindo tranquila e muito bem.

Depois do meu auto-exame, a luz ao meu redor clareou ainda mais. Curiosa

com o que estava acontecendo prestei atenção na mudança repentina daquele lugar e de repente

a imagem mais perfeita, mais divina, mais sublime surgiu diante de mim.

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Jeziel estava de pé a minha frente. Perfeito como ele é, lindo como nunca o vi

antes, e com o único sorriso capaz de me tirar o fôlego estampado em seu rosto.

Eu não sabia o que pensar e não sabia o que falar. De boca aberta olhava ele

extasiada. Sem saber se era real, num lugar cercada de tanta luz como nos meus antigos sonhos.

Fiquei paralisada olhando sua imagem com medo de que qualquer movimento

meu pudesse fazê-lo desaparecer.

- Oi meu Mel – Sua voz doce ecoou em todo o meu ser como se fizesse parte de

mim. Como se estivesse dentro de mim. Seu sorriso torto surgiu no canto de seus lábios me

fazendo quase delirar. Aquilo era um delírio. O general estava certo, eu não resisti.

Perdida em meu delírio deixei meus olhos se alimentar com a figura de Jeziel.

Seu cabelo caído despreocupadamente sobre sua testa, seus olhos castanhos continham o mesmo

mistério que sempre encontrava quando o olhava, seus traços que compunham o rosto mais

lindo que vi em toda minha vida.

Eu não podia acreditar que o estava vendo.

- Se eu não tivesse morrido e vindo para o céu acho que poderia cair durinha e

morta agora mesmo – Pensei.

Ele riu.

O sorriso dele trouxe de volta uma sensação de felicidade que a muito tempo eu

não sentia.

- Continua pensando engraçado. – Ele falou divertido – Você não esta no céu.

- Então o inferno não é tão ruim como eu pensava – Pensei com medo de me

mover ou de falar algo que me fizesse perder a visão.

- Estava com saudades dessa sua cabecinha. – E ele abriu os braços me

chamando para si com o sorriso mais lindo do universo.

Diante daqueles braços abertos me chamando continuei paralisada. Ele

parecia tão real e tão irreal ao mesmo tempo que estava difícil decidir atender ao

chamado ou continuar parada por medo de perder a visão.

- Venha pra mim Mel... Do que esta com medo? Estou esperando por

esse momento à tanto tempo. Não me deixe esperar mais.

Jeziel estava tão feliz que seu rosto glorioso espelhava luz.

Deixei então de lado o medo de me mover. Eu não podia recusar aquele

chamado ainda que fosse só uma ilusão. Corri até seus braços me lançando com tudo em

seu abraço tão meu e pude sentir ele me envolvendo com tanta ternura e com tanto calor

que já não me parecia uma ilusão. E ali me senti a pessoa mais feliz de todos os

mundos.

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Depois de tanto tempo... o aconchego de seus braços, o calor de seu

corpo, o perfume de sua pele eram o mesmo de que me lembrava e era tão real que me

assustou.

Me afastei e olhei para seu rosto, espantada.

Ele me puxou de volta para si.

- Sou eu meu amor, seu Leo! – Ele afagava meus cabelos enquanto me

apertava em seus braços. – Estou aqui com você.

Sua voz, suas mão em mim eram o maior alivio que eu poderia querer

depois de ter chorado sua morte e pranteado em luto imaginado que jamais o sentiria

novamente. Ali estava eu de volta aos seus braços. Meu paraíso particular.

Meu cérebro por causa da dor que sentia por falta dele devia ter

desenvolvido esse mecanismo de defesa paralelo. Sua imagem que de tão real eu podia

tocá-la e senti-la. Estava inteiramente grata a esse momento fosse ele qual fosse.

- Amor, esta tudo bem. Estamos juntos de novo. - Ele me dizia. Seus

braços em volta de mim me diziam que era real, mas eu me recusava a acreditar. Só

podia ser um sonho e quando eu acordasse. Se acordasse. Iria doer muito mais do que já

tinha doido algum dia. Então que eu ficasse agarrada a ele pelo tempo que eu pudesse.

Pelo tempo que durasse a ilusão. Ele continuava sendo o Leo por quem me apaixonei.

Ele me afastou me segurando pelos ombros e me olhando agora sério.

- Melissa olhe para mim. Sou eu. Isso não é uma ilusão, nem sonho. Eu

estou aqui com você.

Meu Deus... parecia mesmo ser verdade.

- Leo... Não acredito que... Como isso é possível?

- Só esta sendo possível graças a seus dons.

- Meus dons... aqueles que eu não sei usar, e que iriam me matar?

- Há esses mesmos.

Olhei mais uma vez para ele totalmente incrédula.

Aquilo não era real... nada disso podia ser real. Nosso encontro agora...

não era real.

- É real Melissa. – ele reafirmou respondendo aos meus pensamentos.

- Já entendi tudo.- falei buscando ter razão - Eu não morri. Isso é fato. O

que aconteceu foi que não suportei os poderes e enlouqueci. E você é fruto da minha

imaginação.

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- Ah pelo amor de Deus Mel... você não esta louca. Que mania de

duvidar do que te falo. Da última vez tive que brilhar pra te convencer de que eu era de

outra dimensão. O que quer que eu faça agora para te provar que sou eu quem você esta

vendo? E que é de verdade?

- Mas você esta morto! Raika me falou que...

- Eu não estou morto. – Me interrompeu se afastando para olhar em meus

olhos - Ela mentiu para você. Para que você não tivesse mais esperança e desistisse de

me procurar e lhe desse a coroa em troca de sua volta para casa.

- O que aconteceu?

- Quando eles perceberam que você fez contato comigo, me trancafiaram

numa das torres do castelo onde a coroa não pudesse me revelar a você.

- Mas eu te vi sem vida naquela pedra, cercado de espelhos.

- Eu não estava sem vida, estava apenas fraco. Naquele momento, eu

tinha sido levado para a sala dos espelhos onde Erkas através de seus feitiços estava

extraindo meus poderes. Só por isso eles não me mataram antes. Erkas tem sede de

poder. E ela esperava me esgotar antes de me matar.

- Mas você esta tão bem agora...

- Mas cheguei bem perto de não poder ter esse encontro com você. Se

não fosse você eu estaria...

- Como assim... eu? O que eu fiz?

- Você me amou Melissa. Isso foi o suficiente para te levar até onde eu

estava. E me salvar. Seu amor Mel... me salvou. – Ele falou ternamente.

- Meu amor? – questionei confusa.

Não entendi.

- Seu amor me salvou, me libertou dos feitiços de Erkas e da prisão de

Cordomad. A sua decisão de entregar-me sua vida naquele momento ainda que não

houvesse mais esperança de estarmos juntos, nos uniu novamente.

Me lembrei de quando ele estava deitado, morto sobre uma pedra

totalmente sem vida e que me foi chegado o momento de escolher viver sem Leo ou me

entregar ao mesmo destino que o dele. Lembrei também de ter escolhido não viver sem

ele. Me uniria a ele onde quer que ele estivesse.

- Lembra quando te falei que seu amor não estava à prova, e sim até onde

ele te levaria? – Confirmei com a cabeça me lembrando que nesse dia aprendi a usar

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meu dom para acender fogo. – Seu amor te trouxe até aqui. E foi forte o suficiente para

me libertar.

- Eu não sei o que fiz, só sei que queria te entregar tudo que eu tinha e

assim me esvaziar de mim mesma e me tornar uma com você onde quer que você

estivesse.

- E ao tomar essa decisão, a força e o poder que estavam te consumindo...

te destruindo, encontrou um canal de passagem para liberar seu poder passando por

mim. E foi o excesso de força em você que me fortaleceu novamente. Como uma

descarga elétrica renovando e ativando minhas forças.

- O general Euri disse que eu estava morrendo, E... tem certeza que não

estamos mortos? – perguntei confusa e me sentindo ridícula.

- Melissa... – Ele exclamou diante da minha absurda conclusão.

- Então que lugar é esse?

- Minha mente. Pela primeira vez você conseguiu entrar nela.

Isso era interessante eu estava mesmo na mente dele. A angustia e a dor

que senti por sua falta acabou me levando até ele? Ele estava mesmo vivo? Aqui a

minha frente falando comigo e... sorrindo?

- Como eu vim parar aqui? Digo... na sua mente. Você não estava

aprisionado no castelo? Prisioneiro e incomunicável?

- Consegui sair com sua visita inesperada. A sua força, além de me

fortalecer, abriu um portal para mim. – Ele sorriu – Você tem o dom Melissa... o dom de

poder ir aonde quiser só com o poder da sua mente. E esse dom me transportou para

fora do castelo.

- Onde você esta agora?

- Na colina do rei. Você de alguma forma me mandou para cá.

- Eu não posso acreditar...

- Acredite, porque em algumas horas estarei a caminho do arraial do

exército onde você esta.

- Esta vindo para cá?! - Isso era bom de mais para ser verdade. - E

Cordomad e a feiticeira... E Raika?

Me preocupei com o fato dele estar sozinho contra todos eles.

- Me transportarei por um portal direto daqui para a arraial. Chegarei aí

antes que eles percebam minha ausência.

Então era verdade. Jeziel estava vivo, livre, bem e... vindo pra cá.

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Uma alegria incomum invadiu meu coração. Finalmente convencida de

que não estava sonhando, o abracei novamente deixando meu rosto descansar em seu

peito.

- Fico tão feliz que Raika seja uma mentirosa. – Falei aliviada.

- Nada que venha dela me deixa feliz – Disse ele com ódio na voz.

Falando em Raika me lembrei então de tudo que tinha acontecido. Do

porque estávamos separados e a magoa tocou meu coração.

- Ela me enfeitiçou. Melissa... você sabe disso. – como no passado ele

respondeu ao meu pensamento.

Respirei fundo e me afastei dele.

- Sim...

Ele se aproximou segurando minhas duas mãos entre as dele.

- Me perdoa. Eu fui tão tolo. Não percebi o que estava acontecendo. Eu

sei que pedir perdão não vai apagar tudo que te fiz sofrer. Mas nunca foi minha

intenção. O dom de Raika é tão... tão...

- Sedutor? – perguntei magoada.

- Eu ia dizer asqueroso. Você não tem idéia de como ela age. Mas nada é

de verdade. Nada.

- Então não era de verdade o beijo que você deu nela na minha frente?

- Entenda, não foi pela minha vontade. Foi um comando dado em minha

mente.

- Mas mesmo depois disso você ficou com ela! –gritei. Agora eu iria

lavar a roupa suja.

- Eu nunca estive com Raika! – ele gritou de volta revoltado.

- Ah não... claro que não.quem será que me abandonou e veio com Raika

para Andaluz?!

- Droga Melissa... eu não acredito que depois de tudo que passamos você

vai brigar comigo.

- Eu?!... eu?! Eu que não acredito que depois de tudo que me fez passar,

vai me dizer que meu sofrimento foi a toa.

- Eu não estou dizendo isso. E eu sofri também Melissa, e muito por sua

causa.

- Ah com certeza! Segundo o que Raika me disse, seu sofrimento foi

realmente grande nos braços dela. Raika me falou sobre... vocês dois juntos. De

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que vocês tiveram uma intimidade que nunca teve comigo, por que tinha medo

de eu surtar por causa dos meus dons não desenvolvidos.

- Nem tudo que ela falou é verdade. Como você mesmo disse ela é uma

mentirosa. – Ele completou - Não fiquei com ela da maneira como ela insinuou.

Vai ter crise de ciúmes agora?- Ele me olhou de canto de olho.

- É que ela me disse coisas...

Ele me cortou na metade da frase.

– Eu é que deveria ter uma crise, não é mesmo? O tal do Aragorn me

parece ser bem interessante para você.

- Eu... É... Ele... – Eu gaguejava totalmente sem graça. Não sabia o que

dizer.

- Não precisa falar nada, eu sei tudo. Raika fazia questão de me deixar

ver vocês dois juntos para me torturar. Ela é muito boa nisso. E afinal, não estávamos

mesmo namorando. Não posso cobrar nada de você.

- Por favor me perdoe. Eu estava confusa e nem tinha certeza se

ficaríamos juntos. Eu só queria conseguir chegar até você e fazer o que eu pudesse para

te libertar.

- Isso você já fez. E agora? O que vai fazer em relação a nós dois?

Baixei meu rosto. Agora que estava mesmo de frente a Jeziel eu não

sabia o que fazer... Cruzei toda andaluz em busca desse encontro e agora não sabia o

que fazer.

- Melissa, eu sei que te fiz sofrer muito ao te deixar sozinha e me deixar

levar por Raika, sei que não devo colocar a culpa nela porque eu mesmo devia ter

percebido que havia algo errado. Você tentou me avisar, mas eu estava cego apesar de

nunca em nenhum desses momentos ter deixado de te amar.

Agora estou aqui a te dizer que meu amor por você não é o mesmo de

antes. Ele cresceu dentro de mim e que eu preciso de você mais do que já precisei um

dia. Se você puder esquecer... não, esquecer não, mas verdadeiramente me perdoar pelo

que eu fiz a você e me aceitar de volta a sua vida, eu prometo que nunca mais você

passara por algo assim.

Ele se aproximou me fazendo olhar nos olhos dele.

- Mel... por favor, me perdoa. Eu amo você.

- Nós passamos por tantas coisas Leo e...

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- Eu sei. Você esta pensando que nosso amor possa estar gravemente

ferido. Mas o que posso te dizer é que independente de tudo que aconteceu e de todos

que estiveram entre nós, nada conseguiu apagar nosso amor. Nada... e você tanto quanto

eu sabe disso. Sente isso. Você nasceu pra mim Melissa. Nosso amor já estava escrito

pra ser eterno. Isso nunca vai mudar.

Abracei-o escondendo meu rosto em seu peito. Ele tinha razão. Isso

nunca ia mudar.

- É você que eu amo. – falei recostada em seu peito ouvindo seu coração

se acelerar.

Ele buscou novamente ver meu rosto.

- Então volta pra mim. Não me deixe sofrer eternamente pelo pior erro da

minha vida. Esse tempo todo longe de você já me foi castigo suficiente.

- Ah Leo... – o abracei ainda mais forte.

Leo me afastou um pouco para ver meu rosto.

Ele colocou nos lábios o meu sorriso preferido. - Então você me perdoa?

Como eu recusaria um pedido selado com aquele sorriso.

Ele me olhou de uma forma indescritível e cada vez que seu olhar

cruzava o meu me sentia derreter. Era incrível como nada do que sentia com ele tivesse

mudado. Era como se ele nunca tivesse me deixado.

- Eu te perdôo. – respondi e senti um enorme peso sendo tirado do meu

coração.

- Obrigado. E... você quer ser minha namorada?... De novo? Quer ser

minha namorada aqui em Andaluz, na sua dimensão ou em qualquer lugar do universo?

Eu abri um sorriso largo.

- É claro que quero. E aceitarei seu pedido quantas milhões de vezes você

me fizer. – Não precisava pensar para dar essa resposta.

- Fico feliz que tenha aceitado. Quero que ao sair daqui o cosmos saiba

que você é minha. - Seus olhos encontraram os meus novamente e quase me perdi em

seu mistério.

- Você agora é oficialmente minha namorada. De novo.

Como sempre, no passado como quando eu estava com ele, eu mal podia

acreditar no que estava acontecendo. Leo... o meu Leo era meu de novo.

Ele se curvou para mim. Com seu rosto a centímetros do meu passou

seus dedos suavemente por meus lábios.

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- Você não sabe quanto me desesperei ao pensar que jamais encontraria

seus lábios nos meus novamente. Pensei que jamais veria esse brilho em seus olhos

quando encontra com os meus, ver seu jeito tímido quando vê meu olhar em você. Senti

tanta saudade do seu cheiro, do calor da sua pele, do seu toque, da sua voz...

Quando pensei que ele iria me beijar, que ele iria me saciar com a porção

da minha vida que estava nele, que eu iria matar a saudade que estava a meses de sentir

sua boca, algo estranho aconteceu, um brilho dourado surgiu pela minha pele.

Jeziel se afastou um pouco. Seu rosto não parecia satisfeito com a luz que

brilhava em mim.

Olhei espantada para meus braços estendendo as mãos para ver aquele

brilho tão novo em mim.

- O que aconteceu com minha luz? Ela esta... Dourada...

- Essa luz não é sua. É de Aragorn. Ele esta te chamando de volta.

- Eu não quero ir. Quero ficar com você aqui.

- É preciso. Volte e me espere. Mais algumas horas e estarei ao seu lado

pra sempre.

- Não. – Estava com medo de deixá-lo.

- Você tem que voltar. E avise que estou chegando.

Sem mover um só músculo me senti afastando de Leo. Seus braços

ficaram estendidos para mim por um tempo e seu sorriso perfeito permaneceu até que

ele desapareceu totalmente dos meus olhos. Uma rajada de ar entrou em meus pulmões

de uma vez fazendo doer como se estivessem sendo rasgados. Ao abrir os olhos vi

Aragorn com suas mãos sobre mim e que estávamos na casa dos gêmeos.

- Melissa! – A surpresa em sua voz foi tão grande quanto o sorriso que

ele abriu ao ver meus olhos abertos. – Esta viva.

Sua luz dourada ainda brilhava em mim mais a medida que eu

recuperava as forças ela ia desaparecendo.

Aragorn me abraçou de forma suave temendo pela minha fragilidade,

mas vi em seus olhos dourados a alegria por eu estar bem.

- Jeziel! – Foi a primeira palavra que eu disse.

- O que? - Perguntou Aragorn.

- Ele esta vivo! – Anunciei eufórica.

O general Euri também estava ali e me olhou espantado.

- General, ele esta vivo e esta vindo para cá.

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- Melissa você esta delirando.

- Não. Eu o vi – Eu estava muito agitada

- Calma Melissa, você precisa se acalmar – Disse Aragorn no jeito

protetor dele tentando me fazer acomodar sobre o travesseiro.

- Aragorn, ele não morreu, foi tudo armação de Cordomad, mentira de

Raika. Mas agora ele esta bem e esta vindo para cá.

Diante da incredulidade deles pensando que eu estivesse delirando, tive

que desbloquear minha mente para que eles pudessem constatar que o que eu falava era

real.

- Veja em minha mente, veja o que aconteceu! - Eu falava ansiosa.

Nada além do que menos de um minuto foram necessários para que todos

que ali estavam confirmassem o que disse.

- Meu Deus é verdade. – Falou general Euri maravilhado.

Aragorn tirou seus braços de mim se colocando em pé. Ele não ficou

satisfeito com a notícia nem com o que viu em minha lembrança do encontro que tive. E

ele tinha seus motivos.

- Aragorn... – Eu não queria que ele ficasse chateado. – Me desculpe.

Nossos olhares congelaram um no outro. Eu não podia ler o pensamento

de Aragorn mais podia ler em seu rosto tantas emoções e tanta dor que meu peito ardeu

junto com o dele.

Num respirar profundo ele ergueu seus olhos para o teto da casa,

imaginei que ele pretendia ver o céu para buscar alivio e respostas. Quando baixou

novamente seu rosto, todo ele estava num traço firme e sem emoção. Como se todo ele

agora estivesse congelado.

Aragorn não me olhou. Deu as costas para mim e saiu pela porta. O

General tentou se aproximar de mim, mas me levantei da cama e fui atrás de Aragorn.

Eu sabia o que ele iria fazer.

- Por favor... Aragorn espere, você não pode ir embora. – Ele parou, mas

não se virou para me olhar. – Jeziel esta vivo, mas nada mudou entre nós. Você

continua sendo meu melhor amigo.

Ele riu sem humor.

- Eu nunca fui seu melhor amigo. – Ele se virou para me olhar e seus

olhos de ouro estavam cheios de tristeza - Eu amo você Melissa.

- E não pode me amar como amigo, e ficar comigo aqui?

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- Para ver você que amo nos braços de outro? Não obrigado, meu tempo

chegou ao fim. Você agora é dele. Todo o cosmo sabe disso.

- Não precisa ser assim – Falei desolada.

- Como você gostaria que fosse? Que eu ficasse tão feliz quanto você

com a vinda dele e então seriamos grandes amigos e daí você poderia ter a melhor parte

de nós dois? Não Melissa, você não pode ter tudo, ninguém pode. Nossa vida é feita de

escolhas e você escolheu a ele.

- Você é importante para mim, não quero que vá embora.

- Quando ele chegar, o que vai fazer? Vai achar tempo para mim?

Mesmo que como amigo, ou vai passar todo o tempo ao lado dele enquanto eu ficarei

esperando por você? Ou vai ficar ao meu lado deixando-o esperando. Você é uma só

Melissa, e não acho que ele vá querer dividir sua atenção comigo, eu não faria isso.

Ele tinha razão. Mas eu daria um jeito, eles podiam sim ser amigos, se

quisessem. O que eu não queria era ter que abrir mão da amizade de Aragorn.

- Por favor... – Segurei sua mão com meus olhos suplicantes.

- Melissa se você tem alguma consideração por mim, me deixe partir.

Quero que seja feliz ao lado do homem que escolheu para amar. Era o que você queria

desde que chegou aqui, encontrá-lo, e ele esta vindo pra você.

Era difícil demais aceitar que ele fosse embora. E porque era tão difícil

eu sabia. Ele também fazia parte de mim. Não me dei ao trabalho de bloquear minha

mente, queria que ele soubesse como eu me sentia e não conseguia dizer uma só palavra

que transmitisse o que estava sentindo ao vê-lo partir. E o quanto ele era importante

para mim.

- Isso não ajuda em nada. – Respondeu ao ler meu pensamento - E não

muda o fato de que é ele quem você ama.

Eu não tinha argumentos. Mas vê-lo partir estava dilacerando meu

coração.

- Nunca mais vamos nos ver? – Perguntei angustiada.

- Não acho que vá sentir minha falta depois que Jeziel chegar.

- Isso não é verdade.

- Adeus Melissa. Ele se soltou da minha mão - E faça um favor para nós

dois para que tudo isso valha a pena. Seja feliz.

Ele voltou a andar e depois que atingiu uma distância de onde eu estava,

jogou a chave de seu portal ao chão para que ele se abrisse. Antes de atravessá-lo, ele se

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virou novamente para mim. Nos seus olhos de ouro estava uma dor reflexa e profunda e

seus lábios tentando disfarçar a dor sorriu para mim em despedida com seu sorriso que

sempre o deixava com cara de anjo maroto.

- Adeus minha estrela.

Ao primeiro passo que ele deu de costas eu corri em direção a ele, antes

que o alcançasse ele adentrou totalmente no portal que se fechou automaticamente.

Caí ao chão desolada. As lágrimas inundaram meu rosto. Será que minha

vida era destinada a ver as pessoas que eu amo partir?

Por um tempo fiquei parada olhando para o ar aonde tinha visto o portal

se fechar. Quis me convencer que era melhor para nós que ele tivesse escolhido partir.

Com minha mente fazendo uma retrospectiva dos nossos momentos juntos que iriam

ficar em minha memória para sempre. Eu sorria e chorava. Assim Aragorn se foi da

minha vida.

Uma mão pousou suave sobre meu ombro.

- Minha filha, Jeziel esta vindo. Vamos preparar uma festa para sua

chegada. Talvez você queira se preparar também.

Apesar da dor no coração pela partida de Aragorn, pude me sentir feliz,

pois meu Leo estava voltando para mim.

No quarto onde diziam ser meu, me preparei com os presentes do

General Euri para encontrar com o amor da minha vida. Encontrei um vestido prateado

no meio de todas as outras dezenas de vestidos estocados no quarto.

Todo o arraial estava eufórico. Eles tinham aproveitado as horas de

espera preparando realmente uma festa. Luzes por todos os lados, as pessoas estavam

bem vestidas e com um sorriso de esperança em seus rostos. Os músicos já tocavam

algumas melodias para que alguns casais dançassem.

As horas passavam lentamente principalmente porque não sabia a que

horas exata meu Leo chegaria. A ansiedade só aumentava a saudade e o desespero que

eu queria evitar por de alguma forma, por mais que eu soubesse que o que tinha

acontecido a pouco, o nosso encontro tinha sido real, o medo a insegurança me fazia

pensar que pudesse ainda ser fruto da minha imaginação.

No meio da noite, parada diante alguns músicos que tocavam uma

musica suave e romântica, ouvi a voz de Leo no meu coração.

- Melissa – Sua voz soou mais alta que a música.

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Olhei para trás e a alguns metros Leo estava da mesma forma como na

visão. Tão lindo como um príncipe e tão perfeito, vinha caminhando.

A alegria da realidade inundou meu peito. Não era um sonho afinal. Era

real. Ele estava aqui. Ele voltou pra mim.

Disparei em sua direção e o céu que estava escurecido ganhou um brilho

especial, quando rompendo as espessas nuvens a lua clara de Andaluz surgiu como

testemunha do nosso reencontro.

Eu corria e pela ansiedade o caminho pareceu mais longo do que

realmente era. Venci a distância e atirei-me sobre Leo que me pegou erguendo-me do

chão girando comigo em seus braços. Abri meus braços livre para plainar no céu.

Segurei seu rosto com as duas mãos e ele me deixou deslizar por seu corpo até que

meus pés tocassem o solo. Ele segurou minhas mãos em seu rosto beijando a palma de

cada uma delas. Em seguida com as costas de seus dedos suavemente acariciou meu

rosto, e segurando-me gentilmente aproximou seus lábios a centímetros dos meus. Ele

fechou seus olhos e uma lágrima escapou escorrendo por seu rosto.

Eu entendi o significado daquela lágrima, pois semelhante descia pela

minha face. Tanto ele como eu pensávamos que jamais iríamos nos ver outra vez, e

estarmos agora juntos era demais para qualquer emoção.

Seus lábios tocaram os meus numa busca para saber se tudo aquilo não

era só mais um sonho. E ao sentir seus lábios meu coração descompassado me revelou.

Meu Leo estava mesmo junto a mim novamente.

Impetuosamente me Agarrei em seu beijo tão meu como se fosse a

primeira vez. Ou a última. Todo meu corpo respondeu a chamada dele e tudo que estava

nele correspondeu ao meu apelo apaixonado. Leo me apertou tão forte em seus braços

que eu mal podia respirar. E em seu beijo lhe entreguei mais uma vez minha alma, meu

coração, todo o meu ser.

Os lábios de Jeziel sempre tiveram esse poder de me fazer sentir a mesma

emoção do nosso primeiro beijo.

De olhos fechados eu percebia a luminosidade que emanava de cada poro

de seu corpo. Eu também devia estar brilhando, pois meus olhos estavam ardendo. Eu

sabia bem o que significava. A luz tinha rompido de meu coração e estava se unindo a

ele.

- Eu te amo. – Ele falava quando seus lábios encontravam uma brecha

dos meus.

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- Eu te amo. – Eu falava entre seus lábios sem querer lhe dar descanso. E

eu passaria toda a minha vida assim o beijando... beijando... beijando, se não fosse um

som de alguém limpando a garganta chamando nossa atenção nos lembrando que não

estávamos sozinhos.

Leo contra vontade se afastou me abraçando de lado pela cintura.

Quando abri meus olhos, me vi totalmente sem graça diante de uma

platéia de centenas de homens e mulheres que testemunhavam nosso amor.

- General. – Leo falou em forma solene.

- Meu senhor. – Respondeu o general com reverencia e submissão. –

Estávamos a muito tempo esperando por sua chegada. Seu exército esta preparado

aguardando suas ordens.

- Seu trabalho e esforço tem sido essenciais para que tudo esteja andando

como devia general Euri. Mas hoje a única ordem que tenho para dar é... Vamos

comemorar!

Todos deram um brado de júbilo e se espalharam por toda a área da festa

obedecendo a ordem.

- Gostaria de descansar senhor ou de alguma outra coisa? – Falou o

general sendo solicito.

- Na verdade me sinto muito bem, mas tenho dois pedidos importantes a

fazer general

- Claro meu senhor, o que o senhor quiser.

- Primeiro quero que me permita ficar um bom tempo com Melissa,

estava sentindo muito sua falta e quero poder ficar só com ela hoje.

- O senhor sabe que não me oponho a isso.

- E o segundo é... Me chame pelo meu nome. Deixemos essas

formalidades para outras ocasiões. – Leo falou com um sorriso no rosto.

- Claro Jeziel. – Respondeu com um sorriso. - Você se parece muito com

seu pai. Muito mesmo. – O general me deu um olhar cúmplice acompanhado de uma

piscadela e se retirou.

Leo se afastou de mim segurando minha mão. Ficamos nos olhando sem

falar nada. Mais que qualquer palavra, mais que um poema, Só o brilho em seu olhar me

dizia que ele estava feliz. Aqueles olhos eram tudo que eu precisava para ser também a

pessoa mais feliz do mundo.

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Leo olhou para as pessoas na festa, a satisfação em seu rosto de vê-los

era perceptível. Pensei que iríamos nos juntar a eles, mas ele me puxou para o lado

contrário.

Andamos para dentro da floresta iluminada pelo luar e pelo colar de Leo

que reluzia ao toque da minha pele. Ele me abraçou pelas costas, e como sendo um

andamos no mesmo passo. Qualquer movimento que ele fazia o mantinha colado a mim.

E era tão maravilhoso seu toque. Estava de volta meu sorriso, minha calma, minha

segurança, meu prazer... Leo estava de volta, meu amor estava de volta, minha vida

estava de volta.

Ele sentou sobre a relva me recostando em seu peito. Ao longe podíamos

ouvir o som dos músicos na festa.

Leo suspirou fundo pensativo.

- Quantas vezes imaginei nós dois debaixo desse céu. Cheguei mesmo a

pensar que jamais seria possível, mas agora aqui com você, nada me parece impossível.

Apertei seus braços sobre mim.

- Prometa que jamais me deixara novamente. – Eu suplicava temerosa de

que aquele momento pudesse ter um fim. – Estar com você é a parte mais perfeita de

mim. Sem você não me reconheço, sem você meu coração perde a direção, não sabe

aonde ir nem aonde chegar. – Me virei para olhá-lo de frente. Queria dizer olhando em

seus olhos a intensidade do amor que me tomava por completo e que era todo dele.

Queria usar palavras perfeitas e tocantes como dos filmes de romance, mas ao fitar seu

rosto lindo perdi o fôlego e as palavras. O poder que ele exercia sobre mim era mágico.

Ele abriu meu sorriso mais perfeito percebendo que eu tinha

desconectado do mundo por causa dele. Eu também continuava sendo a mesma Melissa

que sempre fui ao lado do meu Leo.

- Você me olhou exatamente da mesma forma quando nos esbarramos na

pizzaria na primeira vez que a vi. – Ele falou relembrando.

Eu me lembrei. Meu santo graal tinha vindo para mim como um presente

celestial naquela noite. Seus olhos, sua voz, suas mãos me amparando... E nada mais foi

como antes depois daquele momento.

- Foi um dos melhores dias da minha vida, mesmo que não te reconheci

de imediato, mas te ver com essa carinha assustada e de boca aberta exatamente como

esta agora, foi algo sublime.

Fechei minha boca.

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- Você nem reparou em mim. – Falei fingindo estar sentida – Deve ter me

achado uma louca.

- Eu te achei linda... Só não pedi seu telefone naquele dia porque estava

determinado em encontrar o amor da minha vida que depois descobri ser você.

- Mentiroso. – Dei um tapa em seu braço.

- Verdade. – Ele me puxou para si – Você é linda, sempre foi à pessoa

mais linda que já vi.

- Então você conseguiu disfarçar muito bem. – Brinquei me lembrando

da expressão que ele fez ao me ver com a boca cheia de pizza. - Se aquele foi um dos

dias mais felizes da sua vida, quais foram os outros? – Perguntei curiosa.

- A lista é grande.

- Me conte os mais importantes para você.

- No dia em que você respondeu ao meu chamado e veio se encontrar

comigo na pizzaria, o dia em que você perdeu o colar – Ele passou os dedos sobre a rosa

que brilhava. - Foi mais um deles, pois estava se confirmando que era você quem eu

procurava a minha vida inteira.

- Outro dia?

- O dia em que te beijei pela primeira vez. – Os olhos dele brilharam –

Esse é o segundo da lista.

- Segundo? – Teria havido um dia melhor do que aquele? - E qual esta

em primeiro?

- Esse dia agora. – Ele falou firme - Esse momento com você é o dia mais

feliz da minha vida.

Ele não me perguntou qual era o meu, provavelmente porque ele já devia

conhecer muito bem meus pensamentos. Mas colocando na forma de que talvez agente

nunca mais se visse e estávamos ali juntos, eu perfeitamente feliz em seus braços... Se

eu tivesse que falar esse dia seria o segundo da minha lista até porque estar em seus

braços, meu paraíso particular, ainda ocupava o primeiro lugar.

A noite passou fácil ao lado de Leo. No horizonte uma faixa azul claro

mostrava que o amanhecer estava chegando. E nós recordamos quantas madrugadas

passamos em claro só para estarmos na companhia um do outro. O dia sempre pareceu

ser curto mesmo que tivéssemos passado por ele juntos a cada segundo, e a noite

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também não comportava nossa paixão. O tempo era sempre curto demais. E hoje não foi

diferente.

Quando o sol apareceu os pássaros revoando cantavam alegremente. Não

havia nuvens no céu e todo aquele lugar estava mais claro, iluminado e colorido do que

nunca. De todas as manhãs que tinha visto nascer em Andaluz, essa era sem dúvida a

mais perfeita de todas elas.

- Vamos, não podemos passar o dia todo aqui.

- Porque não? – Protestei.

- Vou deixar você na casa de seu pai para descansar enquanto eu tomo

algumas providencias.

- De jeito nenhum você vai me deixar sozinha em algum canto para ficar

andando por ai. Você prometeu, lembra? Não vai mais me deixar.

- Eu não estou te deixando, você só vai descansar.

- Eu vou aonde você for. – Bati o pé.

- Como você ficou obstinada de repente?

- A atmosfera de Andaluz mexeu comigo.

- Estou vendo. Mas não acho que tenha sido a atmosfera e sim uma má

companhia

- Má companhia?

- Aquele seu amigo te deixou muito mal acostumada, Fazendo todas as

suas vontades.

Ele falava de Aragorn. Não podia concordar que era uma má companhia,

mas muito da minha mudança se devia a ele.

- Estou brincando. – Disse Jeziel se redimindo quando viu minha cara –

Eu tenho que agradecê-lo por ter cuidado tão bem de você pra mim.

Não era por ele que Aragorn cuidou bem de mim, mas isso não vinha ao

caso agora.

Meu relacionamento com Leo era bem diferente do de Aragorn. Leo

nunca aceitou um não como resposta, e acho que não seria agora que ele começaria.

Ele se colocou de pé me rebocando pela floresta até a casa do general

Euri, e do seu jeito me convenceu a ficar enquanto ele e o general saíram para resolver

coisas relacionadas à segurança daquele esconderijo, pois Cordomad iria atrás de Leo

com todo seu exército. Quando ele falou um frio passou pela minha espinha. Não podia

imaginar um exército inteiro atrás do meu Leo. Por isso aceitei ficar descansando, se é

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que seria possível depois de uma noticia dessas. Mas o general me garantiu que o lugar

era totalmente seguro. Protegido contra qualquer invasor. Mesmo assim não consegui

relaxar.

Meu dia foi horrível, eu não estava acostumada a ficar sozinha, e naquele

lugar não tinha nada o que fazer.

Andei de um lado para o outro percebendo o quanto nostálgico o general

era. Fotos da minha família espalhados por todos os cômodos, até um par de sapatinhos

de bebê que julguei ser de Biel dentro de uma caixinha de vidro como um troféu. O que

me fez sentir saudades de casa. Tanto tempo que eu estava em Andaluz, não havia dado

noticias. Sabia que minha mãe devia estar louca de preocupação, e Biel então... Era

melhor nem pensar nisso.

Alguém bateu na porta. Fui abrir meio receosa, mas era a garota de

cabelos brancos espetados, irmã dos gêmeos curandeiros.

- Jeziel me pediu que eu te fizesse companhia. – Ela falou num sorriso

sem graça – Ele e seu pai ainda vão demorar um pouco. Ele não quer te deixar sozinha.

Me aborreci de imediato. E minha cara com certeza expressou isso.

- Meu nome é Vogue – se apresentou.

Estiquei meu sorriso tão próprio tentando ser gentil e disfarçar minha

insatisfação. Além de não ter a companhia de Leo teria que ficar com alguém que eu

mal conhecia e sinceramente não tinha o menor interesse em fazer amizade. Não por

ela, eu só não era esse tipo de pessoa expansiva e comunicativa. E Leo sabia disso. Eu

ficaria muito mais a vontade sozinha. Devia ter alguma coisa por trás disso. - Pensei.

- Entre. – Convidei já que tinha que ser educada.

Ficamos as duas sem ter o que dizer uma para outra de pé no meio da

sala. Um clima super estranho.

- Então... É... Você é de outra dimensão? – Ela começou o assunto

querendo quebrar o gelo. Mas ela já sabia disso.

- Sou. – Respondi querendo colaborar.

- Seu pai fala muito sobre lá, e nos ensina coisas que ele aprendeu por lá

também.

- É mesmo, como o que?

- Musicas, alguns jogos, lutas marciais... Algumas coisas que ele julga

ser útil para nós.

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- Interessante. Qual seria a finalidade?

- Imagino que nos preparar para a batalha ou para vivermos em outro

lugar se as coisas não derem certo.

Então eles tinham um plano “B”. Fiquei pensando na possibilidade de um

bando de andaluzianos se mudar de vez para minha dimensão, e em como isso poderia

ser complicado.

- Você iria embora de Andaluz?

- Talvez, se eu tivesse um bom motivo. Como o que você teve para vir

para cá.

O silencio voltou.

- Você tem um irmão não é mesmo?

- Sim, Biel, meu irmãozão.

- Eu já vi fotos dele quando criança, seu pai me mostrou. Mas e hoje,

como ele esta?

- Meu irmão é lindo, e não é corujice minha. Um metro e oitenta e seis, forte e

atlético, sua voz é grave, e o sorriso dele é o que mais gosto de ver. – Eu ficava toda

orgulhosa em falar do meu irmão e vogue percebeu isso.

- Você parece gostar muito dele.

- Amo meu irmão. – Falei sentindo uma ponta de saudade - E os seus?

Deve ser interessante ter irmãos gêmeos.

- Na verdade é irritante, eles pensam juntos, falam juntos, andam juntos,

tudo em sincronia. Fico sempre de escanteio. Às vezes acho que eles nem lembram que

eu existo. A não ser para cozinhar para eles.

- Ah!... – Falei solidaria.

- Mas seu irmão deve ser muito apegado a você? Deve ficar no seu pé o

tempo todo, sendo ele um protetor...

- E é, mas ele é legal. Não fica no meu pé.

- Ele tem alguém lá, como uma namorada?

- Ele já teve várias namoradas, mas nenhuma que o interessasse

realmente. Agora ele esta só, e estudando na Inglaterra.

- Várias? – O tom de voz dela era meio de decepção e eu não entendi por

que.

- E você, não tem um namorado?

- Ainda não.

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- E porque não? Você é tão bonita. – Falei sendo sincera ela era

realmente muito bonita apesar da cor incomum de seus olhos.

- Estou esperando o meu verdadeiro amor, e não quero me envolver com

mais ninguém.

- E como vai saber quem é seu verdadeiro amor sem se envolver?

- Eu já sei quem ele é.

Fiquei confusa. Haveria uma profecia sobre ela também?

- Então porque não estão juntos?

- Ele anda meio ocupado ultimamente.

Ocupado para amar ou ocupado para estar ao lado dela? – Pensei - como

Leo anda ocupado.

- E seu amigo Aragorn, será que ele esta bem? – Ela falou mudando a

direção da conversa.

- Espero que sim. – Falei deprimida.

- Ele não quis ficar?

Não era uma pergunta realmente. Eu sabia que ela compreendia o motivo

da partida dele.

- Não.

- Acha que vai vê-lo novamente?

- Acho que não. Ele é muito cabeça dura.

- Eu percebi. Quando você estava... – Ela tentou encontrar a palavra

certa- Morrendo, ele brigou com todo mundo para te manter viva.– Ela reprimiu um

sorriso. - Todos nós já tínhamos desistido. Ele, mesmo te vendo sem respiração sem

batimentos cardíacos e gelada manteve a esperança. Depois de um tempo que você não

reagiu, pensei que ele iria enlouquecer. Ele ficou desesperado Melissa, pegou meus

irmãos pelo pescoço e os suspendeu eles até quase o teto. “ Vocês dizem que são

curandeiros... Faça alguma coisa ou vocês é quem vão precisar de cura!” – Dessa vez

ela não conteve o riso. – Quando Aragorn colocou eles novamente no chão, diante da

ameaça os dois começaram a correr feito loucos pela casa usando todo tipo de

procedimento sobre você. Quando ele viu que nada iria adiantar, se sentou ao seu lado e

ministrou do poder dele sobre seu corpo sem vida. Quando seu pai tentou afastá-lo

achando que ele tinha perdido o juízo tentando te ressuscitar ele puxou a espada para o

general. - “Se alguém tocar nela eu mato! ” - Aragorn rugiu para o seu pai.

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- Eu não sabia disso. – Falei pesarosa me sentindo culpada. Uma pessoa

que goste tanto da outra assim devia ter direito a algo mais do que eu pude oferecer.

- Foi uma surpresa quando você despertou. – Ela continuou - Todo

mundo já te dava como morta e de repente você acorda tagarelando daquele jeito. Acho

que a surpresa maior foi do seu amigo. Ele se esforçou para que você voltasse para ele,

mas você acordou para outro. Por isso ele foi embora tão rápido.

- Eu sinto muito... – Eu falava a ela mais minhas desculpas eram para

Aragorn.

- Fazer o que não é... A vida é assim mesmo.

- Será que podemos fazer alguma coisa? – Preferi mudar de assunto -

Estou ficando entediada aqui.

- O que gostaria de fazer?

- Dar uma volta. Me leve até Leo.

- Não será possível, eles não estão aqui.

- E onde estão?

- Foram visitar outros aliados fora do arraial. Eles estão preparando

estratégias para atacar Cordomad.

Não me senti bem pensando numa guerra onde Leo tivesse que arriscar

sua vida que me era tão preciosa. E menos ainda com o fato de Leo estar se ocupando

com algo que não fosse eu depois do nosso reencontro. Depois de tanto tempo

separados. Eu esperava que pudéssemos ficar juntos. Nem vinte e quatro horas havia se

passado desde seu retorno e eu nem tinha tido um tempo de excelência com meu Leo.

- Podemos pelo menos dar uma volta por aí?

- Claro, mas não tem muitas atrações neste lado de Andaluz, é mesmo só

um lugar seguro e escondido dos olhos do exército inimigo.

- Não tem problema, eu não quero é ficar aqui parada.

Desde que cheguei a Andaluz minha vida tinha se transformado em uma

aventura. Ficar ali parada estava me dando nos nervos. Sem uma floresta para atravessar

sem animais ferozes para me assustar sem inimigos para me atacar. Aquilo estava um

tédio.

Vogue me levou para um passeio pelo meio do arraial e pela primeira vez

reparei realmente no lugar que eu estava. Vendo as pessoas, cada uma em suas

atividades, me pareceu um lugar bem normal, não um quartel general.

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Casas foram construídas ao longo dos anos, crianças corriam livres pelas

ruas, amigos conversavam alegremente nos portões das casas, e cada um deles quando

me via reverenciava gentilmente me deixando constrangida. Era uma cidade. E pessoas

que posso dizer comuns habitavam nela, com exceção é claro de alguns homens que

passavam por nós armados até os dentes com espadas lanças escudos e flechas me

lembrando os filmes de gladiadores, mas mesmo esses tinham um ar tranqüilo.

Caminhamos até o alto da colina com vogue respirando e andando com

dificuldade. Eu no entanto estava muito bem. Minha cruzada a pé por Andaluz e meus

mergulhos com Aragorn no mar me dera um condicionamento físico excelente.

Foi uma bela visão do alto. Podíamos ver o sol se pondo no horizonte

deixando um rastro alaranjado nas nuvens. Mesmo com o sol se escondendo a luz

natural que emanava de cada árvore, de cada pedra, mantinha a paisagem clara como o

amanhecer. Vogue se sentou no chão recobrando o fôlego e eu me mantive ali

desejando ter uma forma de guardar aquela imagem.

Durante um tempo fiquei parada observando o sol sumir e a noite chegar.

Lembrei-me que não estava sozinha e tinha ignorado a presença de vogue

completamente. Me virei para vê-la mais ela já não estava lá. Em seu lugar Leo estava

de pé me observando sem fazer um só ruído. Seus olhos cheios de admiração me

deixaram confusa.

- A quanto tempo esta aqui?

- Pouco tempo.

- Porque não me chamou?

- Queria ficar te olhando um pouco. Ainda estou me acostumando a ter

você de volta.

- E vogue?

- Foi para casa. acho que ela não acompanhara seu pique por muito

tempo.

Ele andou ate mim me abraçando ternamente.

- Senti saudades. – Falei manhosa em seus braços.

- Eu também meu Mel. - Ele me olhou fitando com cuidado meu rosto. –

Você não dormiu?

- Não estava com sono. – Mas pela expressão que ele me fez ao me fitar

eu devia estar horrível.

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- Que pena. Eu tinha planejado uma noite especial para nós dois, mais

acho que você não vão agüentar ficar de olhos abertos.

- Agüento sim... O que é? – Perguntei animada.

- Não. Vamos deixar para outro dia você precisa dormir Melissa.

- Não estou com sono, quero ficar com você. E além de tudo você

também não dormiu. Se você vai ficar acordado eu também vou.

- Teimosa. Você vai dormir e amanha a noite a gente sai.

- Amanha a noite?! – Me afastei dele e falei histérica - Quer dizer que

não vai passar o dia comigo novamente?

- Eu preciso resolver algumas coisas relacionadas com a tomada do reino.

- Porque você? Deixe que o general resolva isso.

- Eu tenho obrigações meu Mel. – Me falou amavelmente.

- Que graça tem eu ter vindo de outra dimensão, enfrentado montanhas,

tempestades, os soldados de Cordomad, ter passado ilesa até aqui para te encontrar e

você ficar resolvendo coisas e me deixando sozinha?

- Você não ficou sozinha.

- Quero ir com você amanha – falei birrenta.

- Eu tenho que atravessar o portal para outros lugares, e é muito arriscado

levá-la. Você esta segura aqui. E você não estará sozinha, Vogue te fará companhia

enquanto eu e seu pai estivermos fora.

Cruzei os braços irritada. Não queria a companhia de Vogue, não queria

ficar sozinha naquele lugar, não queria que ele fosse a lugar algum sem mim. Aquele

dia inteiro sem Leo tinha sido mais que eu aceitaria.

- Você não vai querer brigar comigo agora, vai? – Falou intolerante

vendo minha carranca emburrada.

- Não quero brigar, mas não vou ficar aqui sozinha. Ou você fica comigo

ou me leva com você.

Ele respirou fundo para recompor a paciência.

- Meu amor, você sabe bem o que vim fazer em Andaluz. Eu preciso

organizar tudo com o exército e com nossos aliados, não temos muito tempo. Mais isso

é bom. Quanto mais cedo acabar mais cedo estaremos juntos como antes.

- Não quero saber de briga, de guerra, só quero você. – Falei mal

humorada.

Ele sorriu complacente.

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- Eu também, só que não temos escolha. Enquanto não derrotarmos

Cordomad não teremos paz. Nem aqui nem em qualquer outro lugar.

- Quer dizer que para eu poder ficar com você em paz vamos ter que

derrotar Cordomad? – O olhar dele afirmava a resposta - Droga nunca seremos um casal

normal. não é mesmo?

- Com o amor forte o suficiente para governar um mundo inteiro? Você

não achava que seria normal, achava?

- Preferia que fosse. – Falei emburrada.

Ele me puxou pela mão para junto de seu corpo com um sorriso

provocante nos lábios.

- Mas não sermos um casal normal tem suas vantagens. – Ele sussurrava

entre meus cabelos procurando pelo meu pescoço o que me fez arrepiar e seu hálito

quente na minha pele deu corda no meu coração que passou a palpitar imediatamente.

Enquanto suas mãos me seguravam pela cintura sua boca passeava desenhando meu

queixo em busca dos meus lábios. Ele sempre dava um jeito de quebrar minha

resistência.

- Não adianta, sei o que você esta tentando fazer. – Eu ainda tentava

manter firme minha posição.

- E o que eu poderia estar tentando fazer? – Seu rosto se embrenhou no

outro lado do meu rosto se afundando em meus cabelos.

- Você quer me deixar tonta para que eu aceite ficar ... Aqui... Sozinha...

– Meu fôlego estava acelerando.

- Te deixar tonta? Não estou pensando nisso. Só estou matando um pouco

as saudades que estava de você. – Falou próximo a minha orelha fazendo meus

pensamentos vacilarem.

Era incrível a sensação que o toque dele provocava em mim e ele sabia

bem disso e usava ao seu favor.

- Vê as vantagens de nosso amor não ser comum?

- Leo, isso não é justo – Falei já abaixando a guarda.

- É muito justo do meu ponto de vista. - Ele me olhou do jeito que só ele

sabe me provocando um curto circuito mental. E quando ele me olhava assim eu me

esquecia de tudo. O que tomava minha mente agora era o desejo desesperado de tê-lo

para mim.

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Minhas mãos se prenderam em seus cabelos o trazendo direto para meus

lábios sedentos, e com uma impaciência gerada pela paixão buscava o Máximo que

poderia arrancar daquele beijo. Quando ele me apertou mais contra seu corpo pude

sentir as batidas de seu coração tão fortes e descompassada quanto as minhas. Ele

lançou um de seus braços por trás de minhas pernas me segurando no colo e baixou

comigo sobre a relva daquela montanha me colocando sentada entre suas pernas. Meus

lábios se negavam a se afastar dos dele. Sua mão navegou desde meu tornozelo aos

meus cabelos se entrelaçando nos cachos. Tive a impressão que ele prendeu sua mão de

propósito para que ela não se atrevesse a ir a outro lugar. Beijei-o com mais urgência.

Quando ele ameaçou se afastar de meus lábios protestei segurando seu rosto para

mantê-lo junto a mim mas suas mãos extremamente quentes as seguraram e ele escapou.

Olhei para ele decepcionada querendo entender porque ele me privara do

seu beijo que era tão essencial para mim.

- Você esta calorosa hoje, nem parece mesmo estar cansada.

- E não estou. Podemos curtir essa noite como você havia planejado.

Ele se apoiou com as mãos no solo e eu recostei sobre seu peito.

- Ainda acho que você precisa de um descanso. – Ele deu uma esticada

tentando alongar o corpo. - E pra falar a verdade eu também preciso.

Me virei para ver seu rosto e ele estava mesmo refletindo cansaço.

- Vou te levar para casa de seu pai.

Me incomodei com a colocação de seu pai na frase.

- Eu não quero ir para lá. Não gosto de ficar naquela casa.

- E porque não?

- Eu não sinto ele como meu pai. Eu nunca tive um pai, não fico a

vontade com ele.

- Mas ele é seu pai.

- Eu sei disso, mas passei minha vida inteira sem ele, e agora de repente

ele me aparece me dando ordens e conselhos querendo cuidar de mim. Isso é um pouco

bizarro na verdade.

- Acho que só esta sendo rebelde.

Ele podia ter razão mais ainda não mudava o fato de não me sentir bem

com ele.

- Nós podemos passar a noite aqui. Improvisar um acampamento...

Podemos acender uma fogueira para ficar aquecidos, eu aprendi a fazer fogueira com

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pedras. Pode? Só aqui mesmo para pedras pegarem fogo – Eu falava animada – Agente

fica conversando a noite inteira juntinhos até cair no sono e...

Ele não me deixou terminar.

- Você mudou muito. Para quem não gostava nem de pisar na grama...

- Agente aprende outras formas de vida quando não se tem opções. –

Sorri orgulhosa comigo mesma - Dormi mais na floresta do que em uma cama.

- Mas agora você tem opções, e uma cama confortável e quentinha

esperando por você. – Ele falou não gostando muito da minha sugestão. Se colocou de

pé me ajudando a levantar e percebi uma mudança súbita em seu estado de humor.

- Esta aborrecido comigo?

Ele não respondeu de imediato.

- Por que não quero ir para casa do general Euri? – Especulei.

- Não estou aborrecido.

- Como se eu não conhecesse seu jeito.

- Não gosto das suas lembranças de viajem. Me desculpe.

- E porque não? Foi uma boa experiência para mim, como você disse me

ajudou a mudar e deixar de ser tão mimada.

- Houve mudança sim, mas você continua a mesma menina mimada de

sempre.

- Bom. Mas aprendi a lutar e a usar a espada, montar um acampamento a

acender fogueira, a dormir sob as estrelas e... – Me calei de repente. Entendi o porquê

Leo não gostava das minhas lembranças de viajem. Todas elas incluíam Aragorn. Parei

de tagarelar tentando não provocá-lo mais até porque não me orgulhava de algumas

coisas que aconteceram durante a minha jornada. Não queria dar motivos para ele se

aborrecer mais.

Enrosquei meus braços no dele enquanto caminhávamos pelas ruas da

cidade criada no meio do arraial esperando que ele percebesse que não tive a intenção

de demonstrar alguma importância naquilo. Estar com ele é que era importante para

mim.

Ao chegar na casa do general Euri Leo abriu a porta sem cerimônia e

quase me empurrou porta a dentro.

- Boa noite general – Leo cumprimentou o general que estava sentado no

sofá da sala aparentemente nos aguardando.

- Boa noite meninos. Melissa como passou o seu dia?

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- Já tive melhores – Respondi azeda.

Leo apertou minha mão repreendendo meu comportamento.

- Seja gentil - Falou sussurrando entre dentes.

Estiquei meu sorriso clássico de um canto ao outro do rosto obedecendo

contra gosto. – Mas não foi dos piores – Completei esperando que fosse o bastante.

Leo apertou minha mão de novo. Olhei para ele carrancuda. O que ele queria? Estava

sendo gentil ao Máximo.

- Não se preocupe Jeziel essa menina puxou ao pai. Geniosa. – Ele tinha

um sorriso suave nos lábios como se esperasse pela minha reação e não se importasse.

Leo me puxou me fazendo sentar ao lado dele noutro sofá da sala.

- Vocês devem estar famintos. O jantar esta pronto na cozinha e fiz algo

especial de sobremesa para você Melissa. – O general se dirigia a mim com uma

naturalidade irritante.

Não tive o interesse de perguntar o que era, mas com o cutucão de Leo na

minha costela estiquei o sorriso novamente em agradecimento.

Depois de um tempo tedioso em que tive que ouvir a conversa de Leo

com o general sobre estratégias de invasão e sobre as pessoas que eles iriam encontrar

no outro dia, Leo me rebocou para a cozinha.

No centro da mesa um bolo sobre uma bandeja de cristal me chamou

atenção. Me aproximei querendo saber se era verdadeiro e o cheiro me deu água na

boca.

- Chocolate! – Exclamei surpresa – Um bolo de chocolate?! - Leo sorriu

com minha alegria por uma coisa tão simples - Eu não sabia que aqui tinha chocolate.

- E não tem.

- Então como...

- Ernest trouxe um grande estoque das coisas que ele achou que eu

sentiria falta quando voltasse para Andaluz. Paternalista de mais. – Senti o peso da

saudade na voz dele. – E hoje eu e seu pai fomos a minha antiga casa em Andaluz e

trouxemos as coisas que estavam lá, inclusive o chocolate. – Ele deu uma piscadela –

Espero que não se importe por eu ter pegado a sua receita secreta e dado para seu pai.

Ele queria muito fazer alguma coisa para te agradar. E eu sei que bolo de chocolate,

com calda de chocolate, recheio de chocolate e cobertura de chocolate é o seu preferido.

- Ele fez esse bolo? – Perguntei incrédula, estava tão bem feito como por

um confeiteiro profissional. Algo que eu nunca consegui fazer. Meus bolos sempre

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pareceram mais com um vulcão em erupção escorrendo calda de chocolate por todo

lado. Mas o sabor era o que sempre importava.

- Fez especialmente para você. – Leo pesou sentimento nas palavras para

me fazer sentir culpada por ter dito que não gostava de estar com ele.

Mas não conseguiu. O bolo podia ter me agradado, mas nada tinha

mudado por causa disso.

Rejeitei o jantar e parti direto para a sobremesa. Com meu paladar se

regozijando com tamanha delicia eu fechava os olhos e quase me sentia de volta sentada

na mesa da cozinha em minha casa. Era um sabor particularmente familiar e

reconfortante.

- Acho que agora depois de ter comido metade do bolo sozinha você vai

conseguir, dormir não é?

Eu não tinha percebido mais era verdade, metade do bolo se fora.

Quando me movi na cadeira me virando para a porta o general estava lá

parado me observando. Estava tão satisfeita e entorpecida pela glicose que me senti

obrigada a ser educada.

- Obrigada pelo bolo, deve ter dado um trabalhão.

- Valeu a pena, só por ver você contente, mesmo que seja efeito do

chocolate, já paga o trabalho. – Havia um lampejo paterno em seus olhos enquanto me

fitava. O que me deixou constrangida.

Bocejei me esticando na cadeira.

- Dormir? – Perguntou Leo.

Noutro bocejo afirmei com a cabeça. O sono resolveu aparecer me

deixando molenga. Leo me apoiou até meu suposto quarto. E me deu um beijo na testa

que eu conhecia bem, era meu beijo de despedida.

- Aonde vai? – Perguntei surpresa.

- Para meu quarto – Respondeu no mesmo tom surpreso.

- Não vai ficar aqui comigo? - Ele olhou censurando-me. – O que? Você

sempre ficou comigo. Porque isso agora? – Falei alto demais, Leo tapou minha boca

com a mão para que ninguém me ouvisse.

- Quando estamos sozinhos, o que não é o caso aqui. – sussurrou.

Cruzei os braços emburrada e ele tirou a mão da minha boca.

- Você só deve estar brincando... O que o general tem a ver com isso? –

sussurrei.

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- Ele é seu pai Melissa.

- Você só fala isso agora. Estou gostando menos ainda desse fato.

Ele sacudiu a cabeça.

- Fica comigo, não vou dormir sem você.

- Tente – Ele falou duro.

- Leo... – Choraminguei fazendo beicinho.

- Não me olha assim...

Percebendo que ele estava tentado a ceder fiz cara de desolada. Ele sorriu

da minha expressão.

- Boa noite Mel – Ele falou se virando para a porta.

Não respondi.

O vi sair e fechar a porta atrás de si com os olhos semi cerrados,

incrédula de que ele realmente me deixaria ali sozinha. Mas ele foi. Minha cara de

dengo não funcionava com ele.

- Não acredito que ele esta com medo do general – Pensei.

- Não é medo Mel, é que não me parece certo – Ele respondeu dentro da

minha cabeça.

- Sai da minha cabeça! – Brami chateada – Se você quer ficar longe de

mim que fique então. E não se atreva a vir invadir meus sonhos.

- Mel, que disparate é esse? – Ele falou irritado.

- Boa noite Jeziel .– Bloqueie minha mente.

Ouvi a porta do quarto dele bater ruidosamente. Ele estava irritado. Mas

eu sabia que era só porque ele não gostava de ser contrariado. Eu é que me sentia

contrariada agora. Ele iria dormir lá e antes que eu acordasse ele iria sair novamente

para passar o dia fora em seu sei lá o que, e eu ficaria o dia sozinha novamente.

– Droga! – Me joguei na cama desaforadamente. Eu não gostava de

brigar com ele, mas ele tinha que saber que eu não estava feliz com isso.

O sono foi embora por causa da irritação. Levantei, apaguei a luz para

ver se a escuridão me ajudaria a pegar no sono. E nada. Olhei a noite através da janela e

pude avistar as estrelas que brilhavam indiferentes ao meu estado de humor. Depois de

um certo tempo fitando as estrelas me peguei murmurando baixo uma música agradável.

Levei um tempo para reconhecer que era a música de Aragorn. Instintivamente em

busca de conforto ela surgiu em meus lábios. Fiquei admirada em constatar que eu já

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havia decorado. Deitei-me novamente com o rosto virado para a janela e cantarolei a

melodia a meio tom e sem perceber dormi tranquilamente.

Quando acordei o sol já estava alto. Andei pela casa constatando que o

general e Leo já tinham partido para suas obrigações militares.

E eu teria o dia inteiro de tédio e nada pra fazer.

Dispensei a companhia de Vogue assim que ela bateu na porta. Eu queria

mesmo ficar sozinha. E passei o dia no quarto.

Quando a noite chegou Leo me trouxe uma rosa escondida nas costas.

Toda a minha irritação e mau humor se foram.

- Quer dar uma volta comigo? – Falou se redimindo me entregando a

rosa.

Aceitei de prontidão e pulei em seus braços, doida para matar a saudade

de um dia inteiro sem vê-lo.

O povo do arraial era um povo festeiro e animado, toda noite tinha festa.

Eu não havia percebido isso no tempo em que Aragorn estava aqui. Eu sempre tinha que

estar na casa do general antes de anoitecer.

Nos reunimos numa mesa grande com alguns soldados que mesmo

embalados pela bebida se comportavam muito bem. Muito diferente de outras “festas”

que eu tinha participado.

Eles me olhavam respeitosamente, mas com uma curiosidade e uma

admiração evidente. Leo ao meu lado parecia satisfeito e até orgulhoso por eu estar no

centro das atenções de seus soldados. A conversa da mesa era basicamente sobre

estratégias militares. Já estava ficando entediada.

Eu enrolava uma mexa de cabelo no dedo, impaciente ouvindo os

homens conversarem animados sobre armas, lutas, mortes e fugas. Era o mesmo que ver

meu irmão e seus amigos falarem de futebol. Leo também estava absorto na conversa.

Enquanto o assunto parecia que ia varar a noite, eu tive uma idéia. Se não

tirasse Leo dali eu não iria ter sua atenção.

Me levantei da mesa sob o olhar atento de Leo, mas dei a parecer que só

ia conversar com Vogue. O que fez ele voltar a atenção na conversa novamente.

Caminhei para o lado onde Vogue estava e observei se Leo me seguia

com o olhar. Ele estava distraído, então pude passar direto por ela e me afastar das luzes

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da festa rumo a algumas árvores que margeavam o rio. Eu sabia que Leo viria atrás de

mim assim que desse por minha falta.

- Melissa. – Ouvi sua voz chamar em minha mente. Mas não respondi.

Iria ficar escondida até ele me encontrar.

Não demorou muito e o vi vindo por entre as árvores a minha procura.

Me escondi atrás de uma e esperei que ele passasse por mim. Quando ele estava de

costas cheguei por trás silenciosamente e lhe tapei os olhos. Ele segurou minhas mãos e

se virou para mim. Eu me aproximei e lhe beijei selando seus lábios.

- A conversa estava maçante?

- Só um pouco.

- Muitos daqueles soldados ficaram tristes por você ter saído da mesa.

- Por quê?- Falei curiosa.

- Por privarem eles de sua beleza real. Eles te acham linda.

- E você?

- Acho que você é muito mais do que os olhos possam ver. Você é

perfeita.

- E você é um puxa saco.

- Eu não me classificaria dessa forma. Eu diria que sou um romântico

incorrigível. Um amante apaixonado pela minha musa que é você.

- Tão piegas... Mas adorei.

- Eu posso passar a noite inteira recitando mais pieguices a você. Até

você se sentir enjoada.

- Só quero te ouvir dizer que me ama.

- Eu te amo.

Abri um sorriso.

- Esta mesmo feliz por estar aqui comigo?

- Muito feliz.

- Não sente falta da sua mãe, do seu irmão?

- Sinto, mas eles estão mais seguros comigo aqui.

- Sabe que seu irmão vai quebrar minha cara quando ele descobrir que eu

estou com você?

- Não creio que ele faça isso. Ele gosta de você. Ficou tão triste quanto eu

quando soube que terminamos. E vai ficar feliz quando me ver feliz ao seu lado.

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- Espero que você esteja certa. Você imagina o que eles podem ter

pensado do seu sumiço?

- Eu não disse nada, mas Biel me conhece. Ele sabe que eu iria atrás de

você. E se eu não estivesse em outra dimensão ele já teria nos encontrado.

- Logo tudo isso vai ter acabado e você vai poder encontrar sua família

novamente.

- E enquanto isso, que tal pensarmos em nós dois? Foi para isso que te

atraí para cá. Para ficarmos juntos e a sós.

- Que malandrinha...

- Estratégia querido. De tanto ouvir vocês falarem já estou aprendendo

algumas.

Ele riu.

A noite ficamos ali entre as árvores até a festa acabar. Quando voltamos

para a casa do general fiquei feliz com a notícia de que Leo não iria precisar sair por um

tempo. O General iria levar alguns soldados consigo e assim teríamos mais tempo

juntos.

À noite quando o general chegava relatava tudo que tinha acontecido. Ele

era realmente um bom general. Para Jeziel cabia uma saída rápida com ele de vez em

quando. Nunca mais passou o dia inteiro longe de mim.

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CAPÍTULO 2

O tempo passava voando. E nesses dias nós passeávamos pelo arraial,

e apesar de não poder sair dali não me sentia entediada. Tudo que eu fazia ao lado de

meu Leo era maravilhoso. Nadávamos no rio, mostrei-lhe as técnicas que eu tinha

aprendido com a espada sob o olhar admirado dele. Ele continuou me ajudando a

desenvolver meus dons para que eu não tivesse mais problemas com sua força, e eles

estavam mais definidos. Descobri outros dons que nem sequer sabia que poderia

realizar, principalmente o trazer as lembranças que passavam como um filme para mim.

Eu podia também ver melhor a mente dele e não só ler o que ele pensava, mas buscar

lembranças do passado. Muitas ele não deixou que eu visse. As dele com Raika e do

tempo em que ele passou encarcerado.

– “Dessas nem eu quero me lembrar. E não vai ser bom para você.” –

Ele alegava.

Eu não discutia. Ele tinha razão, seria melhor mesmo que eu não visse

nada.

Ficamos especialmente unidos, mas do que em qualquer época em nossa

vida. Minha alegria de viver tinha voltado. Eu estava tão feliz, por isso o tempo parecia

voar. Não achei que alguém pudesse ser mais feliz que eu em todo o universo. Segura,

num lugar paradisíaco, e com meu Leo. O que mais eu poderia querer?

- Minha amada namorada. – Leo me falava com um brilho especial nos

olhos enquanto andava comigo a beira do rio.

- Esta feliz? – perguntei, mas era notória a felicidade estampada em seu

rosto.

- Eu estaria pouco feliz se pudesse dizer o quanto. - Ele confirmou.

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- Mais poesias... Shakespeare?

- Suas preferidas.

- Como ainda se lembra?

- Jamais me esqueço do que é importante para você.

Ele passou os braços ao redor de mim e me puxou carinhosamente para

junto de seu corpo. Ficou abraçado comigo sem me dizer palavra. Eu sempre achava

interessante como ele conseguia ficar ao meu lado por minutos a fio, absorto em seus

próprios pensamentos, como se eu fosse parte dele. Sem se preocupar em falar nada. Eu

que ficava um pouco ansiosa querendo ouvir sua voz e ter sua atenção para mim.

Mas eu sabia que ele estava pensando em algo importante. Eu poderia até ler seu

pensamento se quisesse, mas de verdade não gostava muito disso. Ele e o general me

diziam que eu tinha que me acostumar e parar de rejeitar meus dons. Ainda assim não

achava natural invadir a mente de ninguém.

- No que esta pensando?

- Que tenho que te levar para casa. Sua mãe e seu irmão merecem uma

explicação do que aconteceu a você. Tem quase um ano que você esta aqui em Andaluz.

Já pensou em como eles devem estar?

- Em segurança. E é assim que quero que permaneçam. Você sabe que se

eu voltar Cordomad vai atrás de mim e com certeza vai usar minha família para me

obrigar a fazer o que ele quer.

Ele respirou fundo.

- Eu sei. – Ele entrou em seus pensamentos novamente.

- Que tal deixar isso para lá já que não temos muito que fazer, e se

preocupar comigo.

- Me preocupar com você? – Falou confuso.

- Sim, eu que estou aqui louca por mais um beijo e você se perdendo em

pensamentos.

- Eu já te disse que não entendo porque você anda excessivamente

carente da minha atenção ultimamente, mesmo me tendo a todo tempo ao seu lado?

- E eu já disse que te amo hoje mais que ontem, e que minha busca

desenfreada por sua atenção é excesso de paixão? E que eu sou completa, absoluta e

totalmente carente de você e do seu amor?

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Seus olhos brilharam para mim, e suas mãos deslizaram por minhas

costas se embrenhando por meus cabelos e me beijou de forma que todo meu ser se

fundia em seu ser, e todo meu mundo estava contido naquele beijo.

De olhos fechados depois do beijo, Leo ainda segurava meu rosto junto

ao dele.

- Você é a história mais linda que o destino poderia escrever, e a escreveu

pra mim. Amo você.

Ele não tinha cansado de me dizer palavras profundamente sentimentais,

e apesar de achá-las exageradas. Adorava ouvi-lo dizê-las. O general é que quando

ouvia fazia uma cara de espanto tentando imaginar de onde Leo tirara tantas frases

melosas.

Os dias se passavam como num conto de fadas ao lado do meu Leo.

Tínhamos sempre muita coisa para fazer juntos, ele também me ensinava a escrita deles

lendo comigo alguns de seus livros. Era um pouco complicado, mas já estava

conseguindo desenhar meu nome e o dele.

Das coisas que Ernest trouxera da minha dimensão para Leo estavam seu

saxofone que agora ele sempre tocava pra mim. E um aparelho de TV e DVD com seus

filmes preferidos, que ele ainda não tinha descoberto como fazê-los funcionar. E roupas

que ficavam tão perfeitas nele que era difícil imaginá-las em meros mortais. O general

fazia a mesma cara de Biel quando me pegava olhando extasiada para Jeziel. Mas eu

não conseguia evitar. Quanto mais tempo eu passava ao lado dele, mais divino ele se

tornava aos meus olhos.

- Amanhã precisarei que você venha comigo Jeziel a um arraial ao sul.

Amigos nossos esperam sua visita, e precisamos mostrá-los que estamos prontos para

agir. – o general falou durante nosso jantar enquanto ele passava o relatório do dia.

- Amanhã? – Perguntei insatisfeita.

- Tudo bem general. – Respondeu Jeziel.

Olhei para ele emburrada.

- Jeziel já teve umas férias merecidas bem longas, agora ele precisa

trabalhar. – Falou o general diante da minha evidente recusa.

- Deixe-me ir com vocês?

- Quero você segura e protegida aqui meu amor.

- Isso não é justo. – Lamentei.

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- Falta pouco para darmos um fim nessa guerra e então vamos poder

passar cada dia e cada segundo dos dias juntos.

- Meleca... - resmunguei contrariada.

- Meu Mel, prometo que assim que puder eu volto correndo para você.

Não vai nem dar tempo de você sentir minha falta.

- Já estou sentindo sua falta agora.

Ele sorriu.

- Então mata essa saudade porque eu estou bem aqui.

- Ai... – resmungou o general enjoado com tanta pieguices. – você

parecem personagens de novela em revista.

O general saiu da cozinha e Leo virou minha cadeira de frente a ele.

Joguei meus braços o abraçando pelo pescoço, e ele embrenhou seu rosto

em meus cabelos. Inspirando por eles o ar.

- Já disse que você tem cheiro de maçã? Doce, suave e apetitosa.

- Bobo. – Dei um empurrão em seus ombros. – Você só esta falando isso

para me convencer a te deixar ir.

- Mel eu preciso ir. Você sabe. Não posso fazer nada quanto a isso.

- Pode sim. Você não vai ser o rei desse lugar? De uma ordem e pronto.

Mande alguém te representar.

Ele sorriu.

- Agora você me quer rei?

- Tem que ter alguma vantagem nisso. E se eu for mesmo me tornar

rainha, vou fazer um decreto proibindo qualquer um de te levar aonde eu não possa ir,

ou tirar sua atenção de mim por mais de cinco minutos, com pena de ser decapitado se

ao menos tentar.

- Nossa, pelo jeito você será uma rainha muito cruel.

- Serei cruel com todos que tentarem tirar você de mim.

No outro dia quando acordei não encontrei ninguém em casa. Eles

deviam ter saído bem cedo.

Novamente o tédio voltou, principalmente porque nas semanas que se

seguiram Leo saía antes de eu acordar e sempre voltava tarde da noite e cansado. Não

tivemos mais um tempo só nosso, ele estava envolvido demais com a estratégia de

guerra e preocupado demais para ficar comigo por inteiro. Eu estava ficando chateada e

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mal humorada. E ele impaciente com minhas reclamações. Eu tinha ficado muito mal

acostumada, como ele mesmo disse, e agora não queria aceitar que ele precisasse sair.

Eu até que tentava me distrair enquanto ele estava fora, mas não tinha

nada naquele lugar que me distraísse. Algumas vezes participei dos treinamentos de

luta, mais assistindo na verdade do que realmente participando, só para ter o que fazer.

Ficava por horas sentadas a beira do rio atirando pedras nas águas só para ver o tempo

passar. E o que me deixava mais irritada é que ele não queria se comunicar comigo

enquanto estivesse fora. Ele alegava que precisava se concentrar no que estava fazendo

e eu era uma distração e tanto.

Ele me contou que ficou numa situação no mínimo constrangedora

quando no meio de uma conversa extremamente seria eu lhe contara uma das minhas

tradicionais piadas o fazendo explodir em gargalhadas na frente de toda uma mesa de

conselheiros velhos e sem senso de humor. Ou quando um de seus capitães tivera que

repetir todo um de seus planos que ele não prestou atenção porque eu estava lhe

trazendo a memória um de nossos momentos e de nossos beijos que eu mais tinha

gostado em detalhes. Então tinha que me conformar em ficar entediada e sozinha.

Quando ele chegou essa noite eu estava deprimida.

- Não gosto de te ver com essa carinha triste. – Ele falou me adulando.

- Estou me sentindo muito sozinha. Será que nem amanhã posso ir com

você? – Eu pedia todos os dias. Uma hora ele tinha que ceder.

- Eu já te expliquei que é perigoso. – respondeu pacientemente pela

milionésima vez - Para cada arraial que vamos temos que passar por fronteiras não

protegidas e covil dos soldados de Cordomad. Eu não me perdoaria se algo acontecesse

a você.

Baixei os olhos entristecida.

- E se eu prometer que fico com você amanhã, você ficara mais feliz?

Abri um sorriso.

- Vai ficar comigo amanhã... O dia inteiro?

- Se isso te fizer feliz?

- Claro que faz. Vou ser a pessoa mais feliz do mundo se você ficar um

dia inteiro comigo.

- Tudo bem, mas depois de amanhã eu preciso voltar as minhas

responsabilidades, e sem ver você com esse rostinho triste.

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No outro dia de manha acordei me espreguiçando na cama satisfeita

porque iria ter um dia inteiro com meu amor. Levantei-me animada e ansiosa, queria

logo me encontrar com meu Leo e não perder nenhum minuto desse dia que seria

maravilhoso.

Saí para a sala para encontrar Leo que devia estar me esperando lá, mas

ele não estava. Não devia ter acordado ainda aproveitando o dia de folga para dormir

mais um pouco. Mas quando cheguei a seu quarto a cama estava vazia. Um bilhete

sobre ela na letra dele acabou com meu dia.

Desculpe amor, eu precisei sair. Sei que prometi que ficaria com você, mas

aconteceu um imprevisto. Depois eu compenso com você minha falha. Volto o mais

rápido que eu puder para seus braços.

Te amo.

Seu Leo.

Por todo o dia fiquei remoendo minha chateação. Ele me deixou sozinha

depois que prometeu que ficaria comigo. Eu não devia ser mais importante para ele que

essa maldita guerra.

Passei o dia trancada em casa. Não estava com humor para ver ninguém.

E já tinha me prometido que quando ele chegasse, eu não iria sair correndo para seus

braços como eu sempre fazia. Por isso ele me tratava assim, era muito fácil quebrar suas

promessas já que eu sempre estava disponível a ele.

Tarde da noite ouvi a porta abrir e Leo e o general entraram por ela. Eu

estava sentada no sofá e ali continuei. Leo se posicionou em minha frente tirando uma

rosa que ele trazia escondida nas costas. Ele sempre fazia isso quando chegava a noite

para dizer que havia pensado em mim.

Apesar do meu coração disparar, não por causa da rosa mas por vê-lo,

algo que mesmo depois de tanto tempo e ainda irritada acontecia, não fiz festa nem me

empolguei com a rosa. Ele ficou um pouco decepcionado, mas não quis forçar nenhuma

aproximação. Me mantive o mais fria com ele possível, se não fosse sempre meu

coração que me entregava ao seu toque minha encenação de magoada tinha saído

melhor.

Ele passou boa parte da noite tentando me acalmar e encontrar um espaço

para ficar bem comigo, mas me mantive irredutível. Quando ele pegava em minha mão

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eu a retirava, se ele me abraçasse eu ficava dura feito uma pedra, quando ele tentava me

beijar eu não correspondia.

- Vou me deitar. – Anunciei na sala me colocando de pé sob o olhar

surpreso de Leo. Eu nunca agi assim, era lógico que ele estava estranhando.

- Ainda esta cedo, não quer dar uma volta comigo? – Ele falou segurando

minha mão.

- Não. Obrigada. – Puxei minha mão da dele e caminhei para o quarto. O

general também me olhou surpreso.

Minutos após ter entrado no quarto e trancado a porta vi o trinco se

mover. Provavelmente era Leo tentando conversar comigo. Apesar de meus dedos

coçarem para que eu abrisse a porta, resisti firmemente. Não iria dar o braço a torcer,

não antes dele se arrastar arrependido pedindo meu perdão por ter me deixado sozinha

depois de ter prometido que ficaria comigo. Ele tinha que saber que o que estava

fazendo comigo não era justo. Eu tinha atravessado dois mundos inteiros para ficar com

ele e agora a única coisa que não tenho é ele ao meu lado.

A música de Aragorn servia perfeitamente de sonífero quando estava

agitada. E dormi um sono tranqüilo e sem sonhos.

Depois do terceiro dia de gelo em Leo e de suas tentativas frustradas em

me fazer compreender que ele precisava se ausentar e que eu não poderia acompanhá-lo,

levantei de manhã para cumprir minha rotina tediosa que já tinha se instaurado. - Me

arrastava pela casa, comia alguma coisa na cozinha, dava uma volta pelos cômodos

remexendo gavetas e armários e retornava para o quarto esperando de mau humor a

chegada de Leo e do general para minha demonstração nada sutil de insatisfação.

Quando saí do quarto fiquei surpresa ao ver Leo sentado tranquilamente

no sofá com os braços abertos sobre a cabeceira e pelo jeito ele estava esperando que eu

acordasse. Continuei meu papel de garota ofendida e caminhei rumo a cozinha sem dar

importância em sua presença. Mesmo com meu coração dizendo: corra para ele.

Ele se levantou correndo e bloqueou a passagem. Tombou a cabeça de

lado me olhando profundamente. Eu tive que desviar os olhos dele antes que minha

resistência fosse pro espaço.

- Bom dia! – Ele falou com a voz que desgelava meu coração.

- Bom dia - Respondi secamente tentando passar por baixo de seu braço.

Eu tinha que resistir a ele.

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Ele baixou o braço me impedindo. O fuzilei com os olhos.

- Tirei o dia para ficar com você hoje. – Anunciou.

- Hoje? Não devia se incomodar, afinal amanhã seu serviço vai estar

acumulado. – Eu falava ranzinza - Tem certeza que não seria melhor você ir? Deve ter

um vilão para matar ou um mundo pra salvar em algum lugar do universo.

- Melissa – Sua voz era grave – Porque esta agindo feito uma criança?

- Arghhh! – Resmunguei e empurrei seu braço que me bloqueava

entrando para cozinha.

- Não quer ficar comigo? Quer mesmo que eu vá embora? – Falou em

tom de desafio.

- De que adianta ficar comigo agora, logo acontece um imprevisto e eu

fico sozinha de novo. – Repliquei.

- Mel, sei que esta chateada, mas seja compreensiva, logo que tudo isso

acabar teremos todo o tempo juntos novamente. Deixei de fazer várias coisas que eu

precisava para ficar com você hoje, para termos um tempo só nosso.

- Um tempo? Você acha que estou feliz tendo um tempo com você?

Quero você para mim inteiro. Um tempo é muito pouco.

- Manhosa, teimosa e birrenta, é exatamente isso que você é! – falou

impaciente.

- Pode me chamar do que quiser, mas não quero te dividir com ninguém.

- E com quem você esta me dividindo? Não tenho tempo nem para você.

- Para mim você não tem tempo, mas tem para toda a Andaluz.

- Mel, eu serei o rei de Andaluz. É normal que eu me dedique a ela.

- Por mim você não precisa ser nada. Não quero um rei, não quero um

herói, só quero você... Será que não entende isso?

- Como você pode ser tão possessiva?

Cruzei os braços inflexível . Será que todo mundo pensava isso de mim?

Leo se virou saindo da cozinha.

- Aonde você vai? – perguntei irritada.

- Fazer o que você me mandou. Procurar um mundo pra salvar. Estou

perdendo meu tempo aqui. – Ele falou irritado.

Ele sempre fazia isso, ele sempre conseguia inverter a situação e me

deixar mal.

- Você não pode me deixar aqui sozinha de novo.

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- Pensei que preferisse não aceitar só um tempo comigo? – Ele se virou

me olhando nervoso.

Fechei o semblante em reação ao dele. Ele esperava que eu abaixasse a

guarda o que não fiz. Diante da minha teimosia ele voltou a caminhar indo para a porta.

- Leo! – Chamei irritada quase gritando.

- Acho que você precisa de mais tempo para pensar no que esta fazendo.

– Ele respondeu de costas e saiu pela porta.

Não me movi, ele não iria sair e me deixar daquele jeito.

Alguns minutos depois resolvi ir á sala para ver o que ele estava fazendo.

Ele não estava lá e em nenhum lugar da casa.

- Não acredito. – Resmunguei para mim mesma - Ele saiu. Burra...

Burra... Burra, ele estava aqui com você querendo ficar numa boa e você o fez ir

embora. Você perdeu totalmente o juízo, quase morreu para ficar com ele e agora esta

se fazendo de difícil? Será que você não pode ser mais madura e parar de palhaçada?

Brigar com Leo... Onde estava com a cabeça?

Eu não suportava brigar com ele mesmo que achasse que estava certa.

Uma agonia dentro de mim quis me fazer chorar. Mas não ia me permitir já que eu

mesmo tinha provocado aquela situação. Respirei fundo tentando conter as lágrimas e

passei a buscar alguma coisa que pudesse concertar meu erro.

- Leo... – Tentei me comunicar com ele em pensamento.

- Jeziel?! – Chamei-o e não houve resposta. – droga de mundo que não

tem um telefone celular. E de que adiantaria ele nunca me atendeu mesmo.

Percebi que aquele iria ser um dia bem longo. Mas foi bom para me dar

tempo de pensar e me arrepender amargamente pela minha birra.

Ao entardecer me preparei para receber Leo e o general e desta vez sem

meu costumeiro mal humor. Estava disposta a fazer as pazes com Leo e deixar de

meninice. Não que estivesse satisfeita em passar o dia sozinha, mas brigar com ele

estava fora de cogitação. Meu coração não suportava.

Resolvi preparar o jantar para me redimir e já estava no sofá ansiosa

esperando por eles.

Quando ambos passaram pela porta apresentei um sorriso de bem vindos

ao lar. O general retribuiu minha gentileza com outro sorriso, mas Leo manteve seu

rosto frio e inexpressivo. E dessa vez não trazia uma rosa. Ele ainda não havia

esquecido o episódio desta manhã.

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- Eu fiz o jantar. – Quis me mostrar amigável.

- Estou sentindo o cheiro daqui. – Disse o general animado - Estou

mesmo com fome.

Leo não esboçou nenhuma reação. Sentou-se no sofá distante do que eu

estava e se manteve calado.

- Como foi o dia de vocês? – Perguntei me dirigindo a ele esperando que

uma conversa amena quebrasse o gelo.

- Bom. – Ele respondeu secamente.

- Ah... Aconteceu algo interessante? – Quis esticar o assunto para manter

contato.

Ele respirou fundo sem responder visivelmente desinteressado. O general

percebeu o clima e saiu para a cozinha.

Diante do gelo que agora Leo dava, pagando na mesma moeda meu

comportamento dos últimos dias, fui incapaz de conseguir um dialogo com ele.

Me levantei e atravessei a sala me sentando ao lado dele para diminuir a

distância entre nós. Ele não se mexeu seu corpo ficou imóvel como uma estátua.

- Esta chateado comigo? - Eu sabia que estava, mas queria que ele me

falasse alguma coisa. Desde a hora que ele passou pela porta ele se mostrava indiferente

comigo. Isso estava me matando.

Ele não respondeu.

- Me desculpe. – Falei baixo.

Ele virou o rosto para me olhar e seus olhos estavam descontentes.

- Não queria te deixar aborrecido.

- Vou me deitar se não se importa, amanhã tenho o dia cheio. Tenho que

recuperar o atraso desta manhã.

Ele se foi e eu fiquei sentada no sofá desolada. Quando ergui a cabeça o

general Euri estava recostado na parede ao lado da porta da cozinha me observando.

- Você me lembra muito sua mãe quando me apaixonei por ela. E ela era

exatamente assim, teimosa e cabeça dura. Mas foi isso que me fez ficar com ela.

Ela era tão complicada e ao mesmo tempo tão perfeita, ela me deixava

louco, e ainda assim não podia viver sem ela.

Ele andou ate o sofá e se sentou ao meu lado.

- Sabe que foi ela que me conquistou? Eu não sei o que ela viu em mim.

Eu andava muito absorto em meu trabalho querendo manter em segredo minha real

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identidade, fugindo de qualquer contato que pudesse me envolver mais que o necessário

naquele mundo. Esperando que a qualquer momento eu pudesse voltar a Andaluz. Mas

ela insistiu. Me rondava no trabalho, perguntava de mim aos colegas. Sempre dava um

jeito de estar onde eu estava. Forçava sempre que podia se sentar ao meu lado. Um dia

incomodado com aquilo e determinado a dar um fim nas investidas dela de uma vez por

todas preparei um discurso, e iria convidá-la para sairmos e dizer educadamente que eu

não tinha interesse nela, que deveríamos ser somente colegas de trabalho. Quando então

a convidei para almoçar comigo naquele dia... Você tinha que ver o brilho nos olhos e

no sorriso dela. Foi á coisa mais linda que vi em todo aquele mundo. Desconcertei-me

totalmente. Ela aceitou de imediato. Me senti um pouco mal por não ter me expressado

direito e deixado que ela gerasse esperanças comigo, mas estava decidido que na hora

do almoço iria dar um ponto final naquilo e acabar com as esperanças dela. Eu não

podia e não queria me envolver com ninguém.

Na hora do almoço, uma outra colega me trouxe um bilhete onde Eliana

pedia mil desculpas e lamentava amargamente por não poder almoçar comigo. Ela fora

designada para uma reunião de última hora do outro lado da cidade. Mas me garantia

que no outro dia almoçaríamos juntos. E o que mais me chamou atenção no bilhete foi

que ela escreveu meu nome fazendo do pingo do “I” um coração.

Eu escutava tudo aquilo com muita atenção. Minha mãe já havia me

contado, mas ouvir a versão do general era interessante.

- No outro dia – Ele continuou – Eliana não apareceu. Eu esperei que ela

chegasse mais tarde imaginando que devia estar fazendo algum trabalho fora e nada.

No segundo dia a mesma coisa. Ela não deu as caras na empresa. No terceiro dia já

estava preocupado e resolvi então perguntar a colega que sentava na mesa ao lado da

dela se ela sabia o que teria acontecido. E ela me relatou que Eliana havia tido um

torção no tornozelo e teria que ficar de repouso em casa durante uma semana. Por quase

um ano eu trabalhava incomodado com os olhares dela e suas investidas fugindo das

suas indiretas e fingindo não reparar seus suspiros quando eu passava, desejando que ela

mudasse de departamento ou de emprego para me deixar em paz. Mas quando percebi

que ainda faltavam quatro dias para vê-la novamente, senti uma ligeira depressão. A

colega percebeu. Tanto que me entregou um papel dobrado meio escondendo dos

outros.

– “Aqui esta o telefone e o endereço dela se você quiser fazer uma

visita...” – Ela me disse com um sorriso cúmplice nos lábios. Voltei para minha sala

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constrangido em ver que aquela colega de trabalho tivesse interpretado mal minha

preocupação com Eliana. O papel formigava em meu bolso. Mas eu não iria ligar. De

jeito nenhum.

No outro dia a empresa cheia de funcionários estava para mim vazia. Um

buraco enorme deixado por sua mãe queria me fazer cair dentro dele. Eu estava sentindo

falta de alguém que queria ver longe. Não estava entendendo. À noite em minha casa

procurei pelo papel perdido no bolso da calça que estava já no cesto de roupas sujas e li

o número do telefone. Sem perceber disquei seu número e quando ouvi sua voz falar alô

por duas vezes, desliguei sem me identificar.

Uma alegria inundou meu coração quando ouvi a voz dela, aquela mesma

voz que antes me irritava. Eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo

comigo. Fui trabalhar no dia seguinte no mesmo vazio do dia anterior. Quando o

telefone da mesa da amiga dela tocou, eu pela primeira vez tive a curiosidade de saber

quem era. Entrei na mente dela e vi que era Eliana, e meu coração disparou quando

depois de trocar quatro ou cinco palavras com a amiga ela perguntou por mim. Dizendo

que o que ela mais sentia falta era não estar me vendo todos os dias. Eu fingia estar

mexendo em alguns papeis, mesmo que a mesa em que estava sua amiga era bem

distante da minha, tinha que tomar cuidado para que não percebessem nada. As duas

continuavam falando sobre mim

“ - ...Porque não desiste desse cara. Ele não parece querer alguma coisa

com você e além do mais ele é meio estranho.”

- Ele não é estranho, ele é perfeito. A coisa mais linda que já vi em toda

a minha vida.

- Mas tem meses que você esta tentando se aproximar e nada. – A amiga

dela disse.

- Mas eu não posso desistir. Nem se eu quisesse conseguiria. Estou

loucamente apaixonada por ele. - Sua mãe falou.

- Aquilo mexeu comigo. – Ele sorriu saudoso - No sexto dia trabalhar ali

estava insuportável sem Eliana eu não conseguia me concentrar. Fiquei ligado na mente

da amiga dela o dia todo para ver se Eliana telefonaria, mas ela não ligou. Ao sair do

trabalho, feliz por amanhã ser o sétimo dia de repouso e Eliana estar de volta. Não

consegui me conter. Dirigi até o endereço que estava anotado no papel e parei o carro

do outro lado da rua observando a casa dela.

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Havia somente a luz da sala acesa, e invadi a casa em pensamento

buscando um pouco de alívio ouvindo a mente dela. Ela estava feliz por poder voltar ao

trabalho no outro dia e li em sua mente que estava ansiosa em me ver. Ela pensou em

roupas que deveria usar e daí percebi que todo o cuidado dela com suas roupas com o

perfume com a maquiagem era para chamar minha atenção. Tanto tempo ela tentando se

aproximar e eu desprezando seu interesse.

E quando ela colocou uma música no CD player e começou a pensar em

mim fiquei totalmente constrangido. Ela me observava andando, sentado, falando,

calado, comendo alguma coisa, conversando com alguém... Cada lembrança dela de

mim era muito nítida e detalhista. Num momento ela se deitou no sofá e começou a

fantasiar que se aproximava de mim e me beijava. Ela chamava meu nome e aquilo para

mim foi de mais. Saí do carro ouvindo seu chamado. Sua fantasia era tão intensa que eu

podia sentir o calor de seus lábios. Quando bati na porta meu coração batia acelerado.

Ela abriu, e quando me viu parado na porta da sua casa ela não me

perguntou o que eu estaria fazendo ali, nem ficou assustada com minha visita

inesperada. O sorriso mais lindo e perfeito iluminou seu rosto. Eu perdi a razão e sem

dizer uma palavra segurei seu rosto e a beijei abrasadoramente. E naquele beijo percebi

que eu também estava completa e eternamente apaixonado por ela.

Ele terminou a história fechando os olhos e suspirando profundamente.

- A história é linda. Minha mãe já me contou um milhão de vezes. Essa

era inclusive uma das historinhas que ela me contava quando eu não queria dormir. Mas

como pode amá-la tanto e abandoná-la desse jeito? – Havia uma pontada de acusação

em minha voz.

- Não existe amor sem renuncia Melissa. Eu tive que renunciar minha

vida ao lado dela ao lado da minha família para mantê-los seguros.

- Você fez isso por Andaluz, e não por nós.

- Esta enganada, é claro que amo Andaluz, mais o meu maior desejo é

poder estar com sua mãe de novo e sei que só teremos paz para ficarmos juntos em

segurança quando Cordomad for derrotado. Enquanto ele estiver no poder fará de tudo

para destruir minha família que é uma ameaça a ele. Não posso permitir isso. Doeu por

todo esse tempo ficar longe de vocês, e dói ainda hoje, mas doeria muito mais se alguma

coisa lhes acontecesse. Pode entender isso?

Respirei buscando ser compreensiva.

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- Por isso Leo esta se esforçando tanto - O general prosseguiu - Ele sabe

que para poder ficar com você em paz e para sempre, tem que derrotar Cordomad, ou

vocês nunca estarão seguros para viver esse amor.

Não comentei nada. O que ele falava começava a fazer algum sentido na

minha cabeça.

- Não seja tão insensível com ele. É tão difícil para ele ficar distante de

você como você sente. Ele fica o dia inteiro ao meu lado e sua mente fica aberta a mim

para podermos pensar juntos e em todo o tempo ele pensa em você ansioso para te

encontrar a noite. Ele te ama Mel, com todas as forças dele. Acho que jamais você terá a

dimensão correta desse amor. Mas eu posso te garantir que nem o trono de Andaluz é

tão importante para ele como você. Ele vai derrotar Cordomad para poder viver feliz

com você. Você é o trono e a coroa de Andaluz para ele.

- Ele esta com raiva de mim. – Falei chorosa.

- Não esta não. Só está magoado com o que você fez hoje de manhã, mas

vai passar. Ele te ama demais para ficar longe de você por muito tempo.

Fiquei pensando em quanto tempo levaria para Leo esquecer o que eu

tinha feito. Ele também era bem cabeça dura.

- Bem... – O general exclamou se levantando – Vou passar a noite no

arraial com alguns soldados nos preparando para amanhã. Precisamos de estratégias

para entrar no castelo e é melhor planejar desde agora.

Ele saiu sorrindo para mim me dando a impressão que ele planejara me

deixar sozinha com Leo para podermos conversar.

Fui até o quarto de Leo colando o ouvido na porta tentando ouvir algum

ruído interno procurando ver se ele ainda estava acordado. Nem um som foi captado

por meu ouvido.

Girei o trinco da porta suavemente e ela estava trancada. Ele não queria

mesmo falar comigo. Eu estava decidida que não iria deixar essa noite passar sem fazer

as pazes com meu Leo. O general tinha razão, eu não devia ser tão incompreensiva em

relação a que Leo estava fazendo, já que ele estava pensando em nós.

Já que a porta estava trancada e ele bloqueara sua mente para não ser

incomodado por mim, tive uma idéia maluca para chegar até ele. Eu sei que iria parecer

apelação, mas o que eu poderia fazer? Eu iria apelar, mesmo usar de métodos

desesperados se fosse preciso, mas essa noite eu não iria dormir sem me reconciliar com

o meu Leo.

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Dei a volta por fora da casa e me empoleirei na janela de seu quarto. -

Situações extremas exigiam medidas extremas. - Entrei sorrateiramente pela janela e me

dirigi até a cama onde ele estava dormindo cansado.

Fiquei feliz que ele não percebeu minha peripécia de invasora nem os

movimentos da cama enquanto eu subia sobre ela para chegar até ele. Em passos de gato

me enfiei debaixo da coberta e me aninhei em seus braços que me acolheram num

movimento reflexo e sem consciência. Alguns segundos se passaram até que ele

despertasse e visse que era eu em seus braços.

Ele abriu os olhos evidentemente assustado desenroscando seus braços de

mim e se sentando confuso sobre a cama.

- O que esta fazendo aqui?!- Falou surpreso e sonolento.

- As pazes.

Ele ergueu uma sobrancelha me fitando curioso.

- Como entrou aqui? – Falou espantando o sono.

- Pela janela.

Agora ele me olhava perplexo.

- Pela janela?! – Ele olhou para janela incrédulo - Porque fez isso?

- Você trancou a porta, e eu não queria dormir mais uma noite brigada

com você.

Ele cruzou os braços me encarando.

- Me desculpe amor, nunca mais vou te perturbar por causa de suas

obrigações. - Falei tentando convencê-lo.

Ele continuou parado me olhando.

- É serio. Se você precisa mesmo resolver essas coisas de exército e tudo

mais, eu vou entender.

Ele tombou a cabeça de lado desconfiado.

- Não acredita em mim? – Perguntei na defensiva.

- Eu te conheço bem de mais para saber que amanhã mesmo você vai

resmungar alguma coisa.

- Me de uma chance! – Supliquei. Ele parecia irredutível. - Eu estou aqui

implorando seu perdão, prometendo que vou mudar e aceitando tudo que você quiser

fazer, só pelo direito de estar bem com você. Será que não pode ver que estou falando

sério?

- Sei que esta. Hoje. Mas amanha...

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- Tá já entendi. – Bradei carrancuda - Você não quer fazer as pazes.

Prefere me magoar e me fazer sofrer pelo que eu fiz não é?

- Eu te magoar e te fazer sofrer? Quando foi que eu passei a ser o vilão

dessa história? Você não estava aqui para me pedir desculpas?

- Você é impossível. Eu vou embora. – Levantei emburrada da cama

rumo a janela.

- Vai pular a janela de novo?

- Foi por aqui que entrei, não foi?

- Não seja ridícula – Ele me alcançou antes que eu colocasse os dois pés

no para peito da janela e me puxou de volta para o quarto.

Olhei emburrada para ele, mas no fundo estava feliz, se ele não me

deixou sair é porque estava disposto a me perdoar.

- Não precisa usar a janela, – Ele escancarou a porta do quarto com a cara

fechada - Vá pela porta. – Acenou para a saída.

- Arghh!! – Eu bufei ultrajada. E marchei até a porta.

Quando ia passando por ela ele me puxou pela mão me fazendo girar e

bater de frente a seu peito.

- Marrentinha que eu amo... Você acha mesmo que eu iria te deixar sair

desse quarto sem me dar um beijo? – Seus olhos agora brilhavam e meu sorriso

sufocante estava em seu rosto. - Ele estava brincando, me fazendo de boba.

Ele bateu a porta atrás de nós e me olhou esperando que minha raiva

passasse o que não demorou muito porque era impossível ficar indiferente diante

daquele olhar.

Quando ele viu que minha ira tinha cedido e se transformado em desejo

ele se agarrou a minha boca me beijando fervorosamente. As sensações de sempre

surgiram. Frio, calor, tontura, tremor, falta de ar e hiper-ventilação tudo ao mesmo

tempo, me deixavam alucinadamente ligada numa imantação no corpo dele. Ele

retornou comigo até a cama deixando seu corpo cair sobre o meu. E de uma forma

abrasadora e apaixonada ele se aninhou moldando cada parte dele a mim. Suas mãos

percorriam sensualmente meu corpo de uma forma que ele nunca se atrevera. Nossa

relação estava alcançando um nível novo. Quando comecei a ofegar no mesmo ritmo da

sua respiração, Leo se deixou cair ao meu lado reorganizando seus cabelos com as

mãos.

- O que foi? - Perguntei ainda ofegante.

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Ele se apoiou no cotovelo com seu rosto perto do meu de forma que eu

podia ver seus olhos brilhando.

- Alguém precisa ter juízo aqui já que não temos mais Ernest para bater

na porta. – Ele falou com um sorriso leve nos lábios.

Juízo? Uma palavra que não tinha nenhum sentido agora com o que eu

estava sentindo. Mas ele sempre reagia assim quando achava que estávamos indo longe

demais. Sempre falava em ter juízo.

Abracei seu pescoço trazendo sua boca de volta a minha. Ele cauteloso

mantinha ainda uma distância considerável do meu corpo. Eu lutava contra a distância,

mas ele venceu, como sempre. Sabia que agora não conseguiria nada. Ele estava

concentrado em ter juízo. Mas não me chateei. Pelo menos estávamos juntos e bem de

novo.

Leo se sentou recostado na cabeceira me puxando para seu peito. Ele

estava comigo da forma silenciosa que ele era capaz de ficar por horas.

- Leo – Chamei sua atenção para mim – Ainda esta aqui?

Ele me apertou mais um pouco.

- Sempre estou com você. Sabe disso. – Beijou o alto da minha cabeça

- No que esta pensando?

- Que daqui a alguns dias tudo isso... Essa guerra terá acabado, e tanto

Andaluz como nós dois poderemos ser felizes.

- Você tem certeza?

- Você não tem?

- Não acho que será tão fácil como você imagina.

- Fácil não será, mas não é impossível.

- Leo, Cordomad não pode ser morto como um homem comum – Me

lembrei da terrível experiência de ver seu pescoço cortado e se regenerando

automaticamente.

- Ele protege sua alma com a magia de Erkas a feiticeira sua

companheira, a dele a dela e de Raika estão confinadas numa esfera numa câmara do

castelo chamada sala das almas.

- Eu sei. Já vi a esfera que as guarda.

Ele se moveu bruscamente me virando para si.

- Você já viu? Como?

- Num sonho.

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- E como ela é? Você pôde ver como chegar lá?

- Não há entradas. Não vi nenhuma porta nem janela. Nada. Não tem

como entrar lá.

- Você entrou.

- Em visão, eu não estava realmente lá.

- Me conte exatamente o que aconteceu. – Ele estava agitado.

- Leo foi só uma visão.

- Não é tão simples como você pensa. Quando você me viu também

através da coroa eu pensava que era uma ilusão da minha mente de tão nítida que era

sua presença. Eu não podia te ver, mas te ouvia e imagino que se tivesse me tocado eu

poderia sentir. – Ele pensou por alguns segundos. – Acho que se você tivesse tentado

poderia ter chegado até a mim naquele dia. Como no dia em que você me libertou. Sua

mente criou um portal. Não precisou de nenhuma chave. Esse é mais um dos seus

poderes. É muito, muito raro, mais existem pessoas que podem se transportar levando

objetos e até outras pessoas para qualquer lugar que queiram. E pode ser esse o seu

caso, e se for mesmo, nós temos uma vantagem sobre Cordomad.

Diante da empolgação dele não podia me negar a contar-lhe.

- Bem, eu me encontrei numa sala redonda pequena cercada de cortina de

um pano pesado vinho, e como te falei não havia portas nenhum tipo de entrada ou

saída visível. Havia uma esfera negra; eu tentei chegar a ela, mas quando tentei fui

atingida por uma energia estranha que me repeliu e alguns segundos depois a feiticeira

Erkas apareceu. Só sei que é ela porque Ernest me contou. E ela parecia ter notado

minha presença, mas como não me viu nada pode fazer. E depois sumiu dos meus olhos.

- Ela pôde te perceber – Isso é incrível – E também levou um tempo até

ela chegar a sala para defender a esfera. Isso quer dizer que temos um tempo até que

eles saibam que estamos lá. Isso é ótimo.

- No que você esta pensando?

Ele sorriu com um brilho esfuziante.

- Onde esta a coroa?

Apontei para meu quarto. Ele se levantou num pulo e buscou a coroa.

Ele a admirou em suas mão por instantes.

- Não havia visto ainda a coroa. Minha mãe nunca me falou onde ela

estava. Para mantê-la em segurança. Isso foi muito útil. – Ele estendeu a coroa para

mim. – Tome.

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- O que quer que eu faça?

- Quero que você tente encontrar a esfera novamente. Deixe sua mente

aberta para que eu possa te acompanhar.

Coloquei a coroa e quando Leo a viu sobre minha cabeça, não pude

decifrar seu rosto. Ele parecia tão maravilhado de ver aquele acessório em mim que seus

olhos se abriram mais junto com sua boca. Ele ficou me olhando indefinidamente.

- O que foi Leo? – Perguntei se ele tinha visto algo ao colocar a coroa

que eu não tinha percebido.

- Só estou te admirado. Você será a rainha mais linda que Andaluz já

teve. Agora tente encontrar a esfera.

- Leve-me a esfera. Leve-me a sala das almas. – Disse a coroa.

Visões rápidas como flashes passaram diante de meus olhos, salas, câmaras e

recamaras do castelo eram vasculhados por meus olhos em questão de segundos como

um filme sendo acelerado. Várias pessoas, vários rostos desconhecidos eram captados

pela visão da coroa. E subindo uma escada em espiral a visão parou de frente a uma

parede de pedras acinzentadas pelo musgo e pelo tempo. Não havia porta nem mesmo

uma pequena fissura. Eu sabia que atrás daquela parede estava a sala das almas, mas

não consegui transpassá-la. Leo estava acompanhando minha visão.

- Esta é a torre mais alta do castelo. Com certeza escolheram-na para

fazer de esconderijo da esfera porque é a de mais difícil acesso. Ninguém achara essa

sala se não conhecer bem o castelo. – Falou Leo.

- Leve-me para dentro da sala. - E eu passei. Mas não era a sala das

almas. Uma recamara localizada ao lado da sala das almas com suas paredes feitas de

espelhos e mais nada. Apesar de não ver meu reflexo nos espelhos me senti muito mal.

Um lugar sinistro e que estava preparado para receber alguém. Quis sair daquele lugar

na impressão de que alguma coisa maligna estava ali. E pelo medo que senti a visão se

foi.

- A sala das almas esta exatamente ao lado dessa sala de espelhos onde

eu estava aprisionado. Mas foi bom você sair. Tem algo muito estranho naquele lugar –

Leo teve a mesma impressão que eu.

- Conseguiu descobrir alguma coisa?

- Essa sala esta em uma das doze torres do castelo. Sei que ela é a mais

alta, mas quem vê de fora, não sabe a diferença. Todas elas tem o mesmo tamanho.

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Somente por dentro se é capaz de identificar e não é para qualquer um. Só para quem

conhece o castelo.

- O general Euri deve conhecer. Ele era da guarda real.

- Cordomad fez algumas reformas desde que usurpou o trono. Ele não

iria deixar na planta original sabendo que os soldados que não se uniram a ele poderiam

querer invadir o castelo para atacá-lo. Tudo esta mudado agora.

Retirei a coroa de minha cabeça.

- Parece que não adiantou de nada...

- Claro que adiantou. Se confirmarmos esse seu dom ele será nossa arma

secreta. Você poderá abrir o portal para entrarmos na sala das almas.

- Entrarmos quem?

- Eu, e os soldados que estão preparados para essa missão. Mas primeiro

temos que resgatar a profetisa Tamala. Só ela além de Erkas sabe como destruir a

esfera.

- Não basta destruí-la? Quebrá-la?

- Ela é protegida por magia Mel. Temos que saber como combatê-la.

Me lembrei da discussão que tive com o general quando ainda pensava

que Leo estava morto. Ele afirmava que se eu pude entrar lá mesmo que sem estar lá

realmente era sinal que havia um portal que possibilitava a entrada naquele lugar. O que

eu não imaginava era que eu seria esse portal.

- Essa é nossa primeira missão. Resgatar Tamala. – Ele pareceu

preocupado. – O que não será fácil. Não sabemos como ela esta nem onde.

Me lembrei de Aragorn relatando ao general o contato que teve com

Tamala enquanto eu supostamente morria.

- Aragorn sabe onde ela esta.

- Como ele pode saber?

- Ela entrou em contato com ele... O general Euri não te falou?

- Não, ele não me comentou nada sobre isso. – Ele ficou pensativo.

- Então, - Tirei-o de seus pensamentos - Por algum motivo que ninguém

sabe qual é, ela conseguiu se comunicar com Aragorn, mesmo sem que ela o

conhecesse.

Ele ficou admirado.

- Mas isso não nos adianta de nada. Ele não esta aqui. Talvez por isso o

general não tenha achado importante me contar.

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- Se ele pode se comunicar com ela, ele pode também saber como

encontrá-la. Assim como eu posso encontrar a esfera. E se é disso que precisamos para

acabar com tudo isso e vivermos em paz. Devíamos tentar.

- Não. Sei o que esta pensando e a resposta é não. Não vamos atrás do

seu amigo Aragorn.

- Mas se ele pode ajudar...

- Se ele estivesse interesse em derrotar Cordomad ele não teria ido

embora. O interesse dele é outro e tenho certeza que ele não vai se arriscar a entrar

nessa guerra para que eu fique numa boa com você.

- Você o esta julgando mal. Ele faria qualquer coisa para me ajudar.

- Será que estou? Então porque ele não ficou quando soube que eu estava

vivo?

- Ele se foi por que não queria ser um empecilho entre nós dois. Ele sabe

que te amo. E não queria nos atrapalhar.

- Você acha mesmo isso Melissa? – Leo estava ficando impaciente - Ele

se foi porque não queria te ver em meus braços. Ele ama você. E seria capaz de acabar

comigo para ter você com ele. Não acho que ele se disporá a nos ajudar.

- Ele não é assim - Tentei defende-lo e fiquei emburrada com o mau

julgamento de Leo a Aragorn.

- Esta fora de cogitação a ajuda dele. – Leo estava ficando irritado.

- Esta bem. – Peguei seu rosto em minhas mãos e o beijei ternamente. –

Não esta mais aqui quem falou. Não quero estragar nossa noite a sós brigando com

você.

Ele respirou fundo e retribuiu meu beijo. Um pouco tenso ele me beijava

irritado, não sei se comigo ou com a idéia que tive, mas estava disposta a dar um fim em

seu mal estar enchendo ele de beijos. Logo sua irritação cedeu e ele voltou a me beijar e

me envolver com paixão novamente.

“ Esta fora de cogitação” foi o que Leo me dissera, mas eu sabia que o que

ele realmente não queria era que eu me envolvesse com Aragorn novamente fosse por

qualquer motivo. Só que tudo que eu mais queria agora era ter meu Leo de volta. E

assim como o general Euri e como Leo mesmo falou, só teríamos paz com a derrota de

Cordomad e pelo jeito a profetiza Tamala era chave fundamental para a vitória. Eles não

sabiam como chegar até ela, e Aragorn sabia.

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Enquanto Leo dormia tranquilamente com a cabeça em meu colo. Eu

pensava numa maneira de poder encontrar Aragorn. Ele não precisaria se envolver

diretamente já que Leo não queria, mas poderia me dar as informações de que eu

precisava. Aragorn não me negaria ajuda. Eu sei. Só que teria que fazer isso sem que

Leo ou o general soubessem. Mas como? Aragorn estava em sua ilha sem acesso algum

para quem estava de fora. A coroa poderia me levar até Aragorn? eu teria que descobrir

uma forma. E sozinha.

Tentei me mover sem que Leo acordasse. Eu queria pegar a coroa e fazer

uma tentativa. Quando eu ia descendo da cama Leo acordou me segurando.

- Aonde você vai?

- Lugar nenhum. – Respondi sobressaltada.

Venha, já esta quase amanhecendo. Durma. Daqui a pouco eu tenho que

sair. Deixe-me desfrutar mais da sua companhia.

Ele me puxou para deitar ao seu lado num abraço de conchinha.

Apesar de estar sem sono agitada pela idéia de conseguir um meio de

resgatarmos a profetisa, fiquei quieta para que Leo pudesse dormir.

A noite passou e eu não dormi um só minuto, ansiosa. Leo levantou se

despedindo de mim para se encontrar com o general. Me deu meu beijo de despedida na

testa e me olhou meio atravessado. Me preocupei se ele teria captado algo das minhas

intenções.

- Não vai reclamar, nem ficar emburrada, ou fazer beicinho porque tenho

que sair e te deixar? Não vai pedir para eu te levar comigo?– Ele falou desconfiado.

- Não vou mais brigar com você por causa disso. – Falei disfarçando. Ele

estava certo em desconfiar. Se eu não quisesse mesmo que ele ficasse distante para eu

poder colocar meus planos em pratica. Teria dado um chilique.

- Tem certeza que é só isso?

- O que mais poderia ser? – Falei fingindo estar ofendida. Não queria que

ele ficasse com um pé atrás comigo logo agora.

- Tudo bem. Então até mais tarde.

Ele já ia saindo, quando se virou bruscamente para mim. Me sobressaltei

achando que ele agora tivesse descoberto alguma coisa.

- Que tal sairmos para um passeio esta noite?

- Claro! - Respondi uma oitava acima, empolgada demais com um

simples convite. Na verdade estava histérica por causa do peso em minha consciência,

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mais Leo não percebeu. O que foi um alívio. Eu estava dissimulando. Isso era terrível.

Mas era por uma boa causa.

Quando ele saiu corri até a coroa que estava sobre o criado ao lado da

cama e coloquei sobre minha cabeça. Pensei em como eu poderia entrar em contato com

Aragorn ilhado em seu esconderijo particular. Não havia acesso até ele, mas a coroa já

tinha me levado a lugares bem protegidos então não devia ser impossível.

- Mostre-me Aragorn. – Uma visão como um filme acelerado passou

diante dos meus olhos, percorrendo campos montanhas e viajando por cima do mar de

Andaluz, e tudo que eu conseguia ver era água e mais água para qualquer lado que eu

me virasse. A ilha era realmente protegida. Ela estava ali, eu sabia disso, mesmo que

não pudesse vê-la ela estava exatamente ali. A coroa tinha me levado na localização

exata onde Aragorn estava.

- Onde esta a ilha marfim? – Falei a coroa que deu um giro de 360 graus

na minha visão me deixando tonta. Era ali, mas eu não conseguia ver nada a não ser o

mar infinito. Então tive outra idéia. Se eu não poderia ver a ilha, mas ela estava ali,

talvez Aragorn pudesse me ouvir.

- Aragorn... – Chamei por ele, mas não ouve resposta. Tentei chamar

mais alto – Aragorn fala comigo. - Só o silêncio, mas não podia desistir agora. Tinha

que dar certo.

– Aragorn sou eu, se você pode me ouvir me responda. Preciso muito

falar com você.

- Talvez Aragorn não esteja em sua ilha – Pensei -

- Melissa?! – Sua voz surpresa ecoou no infinito.

- Sim... Sou eu Aragorn, que bom que pode me ouvir.

- Ouvi desde que me chamou a primeira vez.

- E porque não me respondeu?

- Pensei que fosse algum truque daquela tal de Tamala.

- Ela ainda fala com você?

- Infelizmente. Mas tenho ignorado. E tem dado certo. O que quer

Melissa? – Sua voz dura me mostrou que seu humor não estava dos melhores. Resolvi

não falar nada que pudesse fazê-lo me ignorar como estava fazendo com Tamala.

- Será que posso me encontrar com você para conversarmos?

- Sobre o que quer falar?

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Eu teria que apelar para a curiosidade dele. Se eu contasse ele não iria me

encontrar.

- Só posso falar pessoalmente.

- O que você esta armando garota?

- Nada. Só quero ver um velho amigo.

- Sei. E esse seu velho amigo deve estar velho o bastante para não

perceber que você esta escondendo alguma coisa.

Ele me conhecia bem.

- Por favor Aragorn. É muito importante.

- Importante para quem?

- Para mim. E só você pode me ajudar.

- Não.

- Aragorn...

- Não e ponto final.

- Poxa. Não há mais ninguém que eu confie, ninguém com quem eu possa

contar, se você não me ajudar não sei o que pode acontecer. – Apelei para o

sentimentalismo. Ele não respondeu. Na verdade parecia que eu estava falando sozinha.

- Aragorn... Aragorn? – Não havia resposta.

- E agora? Ele era minha esperança, só ele poderia me ajudar – Pensei

angustiada, avaliando que teria que descobrir outra solução para meu problema, me

esquecendo que estava ainda com a coroa e que Aragorn poderia estar me ouvindo-

Vou ter que descobrir uma forma de resolver isso sozinha então. Pode ser perigoso,

mas vou ter que tentar. – Tenho que pensar numa outra solução já que Aragorn se

recusava a me ajudar.

- Droga Melissa. O que você esta planejando fazer? Não vai colocar sua

vida em risco vai?

- Aragorn, você não foi embora?

- Não. – Ele bufou – No que precisa de mim garota? E fale logo antes

que eu mude de idéia.

Eu sorri com minha vitória.

- Venha me ver para podermos conversar.

- De jeito nenhum irei até aí.

- E eu não tenho como chegar até você.

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- Podemos nos encontrar em um lugar neutro. - Ele disse com alguma

idéia formulada.

- Como eu faço para sair daqui?

- Lembra-se do lugar em que chegamos neste arraial?

- Me lembro.

- Vá até ele. E espere que vou abrir um portal para você passar, quando

o portal se abrir passe por ele rapidamente. E por favor tome cuidado.

- Quando?

- Em meia hora. Agora vá.

Desta vez a presença dele desapareceu por completo. A visão do mar

desapareceu. Retirei a coroa e saí para chegar ao lugar. Era um bom tempo de

caminhada e eu apressei o passo, passando por olhares curiosos, mas os ignorei.

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CapÍtulo 3

No lugar marcado parei esperando ver algum sinal. Em pouco tempo

uma luz rasgou no ar formando numa fissura como se o ar fosse rasgado abrindo-se em

uma passagem. Senti um frio na barriga. Nunca havia passado por um portal sozinha

isso era estranho para mim. Mas Aragorn dissera que eu devia passar rápido por ele.

Passei e ao chegar do outro lado o portal se fechou atrás de mim. Me vi

na floresta e percorri com os olhos aquele lugar iluminado por feixes de luz do sol que

conseguia atravessar as copas enormes e frondosas das árvores.

- Aragorn – Chamei-o preocupada em estar naquele lugar sozinha.

- Estou aqui. – Sua voz veio por de trás de mim. Quando olhei em sua

direção ele aparecia saindo de trás de uma árvore e seu rosto estava sério, mas tão lindo

quanto me lembrava dele.

- Aragorn – Corria até ele o abraçando num gesto natural de quem sente

saudades de um amigo e o reencontra. Ele não retribuiu o abraço. Seus braços ficaram

enrijecidos ao longo de seu corpo. Com a frieza da sua recepção o soltei constrangida.

- Bem, Estamos aqui. Para que precisa de minha ajuda? – Ele falou

seriamente. Não estava para muitas conversas e queria deixar isso bem claro.

- Esta com raiva de mim? – perguntei me sentindo magoada. Eu devia ter

um dom de provocar a ira nas pessoas que eu amava.

Ele me olhou indefinidamente.

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- Me desculpe. Eu não estava preparado para te ver. Não sei como devo

agir com você ou como devo te tratar depois de tudo.

- Seja comigo o que você sempre foi. Eu ainda sou a mesma Melissa

cabeça dura, e inconseqüente que você conheceu.

- Disso não resta dúvidas. – Ele quase esboçou um sorriso. – Mas não

pode ser como era antes. Pelo menos não para mim.

- Senti sua falta. – Falei sinceramente.

- Mesmo? Conseguiu encontrar tempo para se lembrar de mim?

- Na verdade tenho tido muito tempo livre. – Desabafei.

- Onde esta seu namorado?

- Ocupado demais para mim. – Falei sem pensar, mas não quis parecer

que o acusava – Ele anda o dia todo se reunindo com aliados e preparando estratégias

para derrotar Cordomad.

- E porque não esta com ele?

- Ele acha muito perigoso que eu ande com ele.

- Ele não acha perigoso que você esteja aqui comigo?

- Na verdade... Ele... Não sabe. Ninguém sabe.

- Ah não... – Exclamou - Você gosta mesmo de se meter em encrencas

não é?

- Não vejo como estar aqui com você pode ser encrenca para mim. –

Falei na defensiva.

- Repete isso de novo. Eu quero decorar o que disse. – Ironizou.

Olhei para ele cruzando os braços irritada.

- Me diga. O que ele vai pensar quando souber que você saiu escondida

para se encontrar comigo?

- Nada. Ele... Não vai saber.

- Não vai contar para ele. – Agora ele cruzou os braços me fitando. – Por

quê? Ele ficaria com ciúmes de mim? – Um sorriso malicioso apareceu no canto de seus

lábios.

- Ele não tem motivos para ter ciúmes. Você é meu amigo.

- Se ele não tivesse mesmo motivos você não precisaria esconder dele. –

Ele descruzou os braços e veio se aproximando de mim com os olhos de ouro ardentes.

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- Talvez eu conte... - Engoli seco - Quando voltar – Dei um passo para

trás tentando fugir da atmosfera que ele estava criando. Ele percebeu meu desconforto e

parou a uma ínfima distância de mim.

- Você sabe que sou mais que um amigo para você Melissa. Eu sinto isso

e você também.

- Eu amo Leo.

- E ama a mim.

- São formas diferentes de amor.

- Mas me ama. – Tentou se aproximar de novo.

Dei mais um passo para trás.

- Vê se cresce Aragorn. – Falei irritada.

Ele deu aquele sorriso de anjo maroto.

- Você ainda não disse o que quer de mim.

Respirei fundo para recompor meus nervos.

- Preciso que você me diga como chegar até Tamala.

- Como é?!

- A profetisa. Precisamos dela para derrotar Cordomad. Só ela poderá

dizer como destruir a esfera onde estão guardadas as almas. E precisamos resgatá-la da

prisão onde ela esta e só você fez contato com ela até agora.

- Precisamos, quem?

- Leo e eu. A esfera é protegida por magia. Só Tamala pode nos dizer

como destruí-la.

- Você só deve estar brincando. Porque acha que eu ajudaria seu

namorado?

- Ajude a mim então.

- Por quê?

- Enquanto não derrotarmos Cordomad não poderei estar em paz nem

aqui nem em minha dimensão. E derrotar a Cordomad só é possível destruindo sua

alma.

- Você quer paz para viver tranquilamente com o seu Leo? E quer minha

ajuda para isso?

Olhei para ele que me olhava irado.

- Qual a parte do eu te amo Melissa, que você não entendeu?

- O que?- Não entendi sua conotação.

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- Porque você acha que eu ajudaria você a ser feliz com ele, sendo que

tudo que eu queria era que ele desaparecesse para que eu pudesse ficar com você.

Inclusive se eu mesmo puder fazer com que ele suma da sua vida, pode ter certeza que o

farei.

- Aragorn! – Falei surpresa. Leo tinha razão? – Você não faria isso.

- Faria sim. – Ele sorriu maldoso - O mundo estava bem melhor quando

eu nem sabia que ele existia.

- Você é um... Você é... - Rhunf... - Não acredito nisso. Você não faria

mal a ele.

- Quer apostar?

- Porque esta dizendo isso?

- Eu estive pensando o quanto fui idiota.

- Do que você esta falando?

- De que hoje você poderia estar comigo Melissa, se eu tivesse sido um

pouco mais inteligente. Eu poderia ter mantido você na ilha, eu podia ter te tomado em

meus braços. Não pense que eu não sonhei com isso todas as vezes que te via se deitar

em minha cama para tentar dormir, assustada com seus pesadelos. Mas eu fui tão... –

Ele não conseguia encontrar as palavras - Você estava ali para mim. Tão vulnerável, tão

carente. Eu sabia que se eu tentasse você não iria resistir. E eu teria tanto amor para te

dar. Você seria feliz comigo Melissa.

- Mas você não é assim Aragorn, por isso é meu amigo. Porque sempre

pude confiar em você.

- Não vejo vantagem nisso. Principalmente porque fui eu quem saiu

perdendo. Era pra você estar comigo agora. Mas acontece que não esta. Então eu acho

melhor você voltar para o seu namorado e me deixar de uma vez por todas em paz. Se

quer ajuda peça a ele.

- Não foi uma boa idéia ter vindo até aqui. Você não se importa comigo.

Sua amizade era só interesse esperando ter uma oportunidade. Eu estava enganada ao

pensar que poderia me ajudar. – Falei sentida.

- Te ajudar a ser feliz com outro? Me dá um tempo.

- Você é muito egoísta. Só pensa em si mesmo. Devia pensar em livrar

Andaluz das garras de Cordomad.

- Então minta para mim e diga que realmente se importa com Andaluz. O

que você quer é se livrar de Cordomad para ter seu Leo só para você. – Ele me afrontou

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– Na qualidade de egoístas estamos empatados. Mas pelo menos você é mais esperta do

que eu. Sabe lutar pelo que quer. Coisa que eu não fiz.

- Você é meu amigo Aragorn, e me prometeu que sempre estaria ao meu

lado. Por isso estou te procurando agora.

- Se é isso que te fez me procurar, eu retiro minha promessa. Assim você

não virá mais atrás de mim. – Falou irritado.

- Você me dá nos nervos. – Grunhi.

- O que você esperava de mim? Um herói altruísta e otário? Já fiz muito

saindo da sua vida e do caminho dele. Não me peça mais que isso.

- Basta você me dizer onde fica a prisão em que Tamala esta. Não precisa

mais que isso.

- Não. – Ele foi categórico - Deixe que ele procure. Quem sabe eu dou a

sorte de Cordomad encontrar com ele primeiro.

- Eu vou embora. – Gritei para ele exacerbada – Abra esse maldito portal

para eu ir.

- E se eu não quiser abrir? Eu posso simplesmente te carregar comigo

para a ilha marfim e consertar o que eu fiz de errado. Não tem ninguém aqui para me

impedir e ninguém sabe que esta comigo. O seu Leo jamais te encontraria lá.

- Aragorn... – Um frio na espinha me alertou. Aragorn estava com os

olhos irreconhecíveis. Dourados como sempre, mas me causavam arrepios. Ele estava

nitidamente irado comigo. Tanto tempo se passou desde a última vez que eu o vi. Eu

sabia que quando ele partiu do arraial me deixando por causa de Leo não estava

satisfeito, mas não pensei que ele tivesse ficado com raiva. – Deixe-me voltar.

Ele segurou meu braço.

- Ai! – Protestei diante da força que ele me segurava. – Me solte Aragorn

você esta me machucando.

- Nunca mais me peça ajuda para seu Leo. Se você acha que estou te

machucando, tente imaginar a dor que você esta me causando agora. – Falou

exasperado.

Ele tinha razão. Eu estava sendo cruel e egoísta. No que eu estava

pensando? É claro que sei. Estava pensando em ter minha vida de contos de fadas com

Leo novamente e em nenhum momento me preocupei com os sentimentos de Aragorn.

Eu sabia a forma que ele me amava, e quis usar isso ao meu favor. Eu sempre era o

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monstro em relação aos sentimentos de Aragorn por mim. Eu sempre o explorava. Não

devia ter metido ele nisso.

- Me desculpe. – Falei profundamente sentida.

- Esta com pena de mim?! - Seus dentes trincaram e seu rosto se

endureceu ao olhar meu rosto.

- Você tem razão em estar com raiva de mim. Por favor me desculpe.

- Eu não quero sua pena, quero seu amor.

Com ira nos olhos Aragorn segurou meus cabelos pela raiz fazendo

minha cabeça pender para trás, tentei empurrá-lo, mas minha força contra a dele era

ridícula. Ele colou seus lábios contra os meus brutalmente e me beijou abrasadoramente

enquanto dizia que me amava na mesma fúria. Eu murmurava entre seus lábios tentando

afastá-lo num protesto inteligível, mas ele não cedeu. Tentei esmurrar suas costas

enquanto ele me apertava contra seu corpo. Sua força era demais para mim. E ele não

parecia se importar se estava me beijando contra a minha vontade. Toda ansiedade toda

a paixão e saudade, toda a decepção, toda raiva que ele sentia de mim parecia ser

derramada através daquele beijo. Quando ele finalmente e bruscamente se afastou eu me

sentia ultrajada.

Com o rosto molhado em lágrimas, assustada e decepcionada com ele.

Não conseguia falar. Nunca pensei que ele fosse capaz de algo assim. Mas eu não podia

culpá-lo. Eu tinha pedido por isso vindo atrás dele ferir ainda mais seus sentimentos.

Sentindo ainda a pressão em meus lábios por causa da violência com que ele me beijou,

levei a mão até a boca olhando para ele espantada.

Os olhos dele de repente se mostraram assustados. Ele se virou de costas

para mim arrumando os cabelos com as mãos.

- Eu não devia ter feito isso. Perdi o controle. Me desculpe. – agora ele se

desculpava e parecia profundamente arrependido.

- Quero ir pra casa. – Falei segurando um soluço que estava subindo

junto com o choro pelo meu peito. Em poucos segundos eu entraria em prantos.

- Melissa me desculpe. – Ele se aproximou de mim novamente dessa vez

amigavelmente.

- Não se aproxime de mim! – Gritei lançando meus braços para o

esmurrar no peito. Enquanto eu tentava mantê-lo longe de mim, ele me abraçou

angustiado.

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- Me perdoe... Melissa me perdoe. Eu não queria... – A voz dele estava

embargada. Seus braços ao meu redor venceram minhas forças e minha raiva. Ele ainda

era o meu amigo Aragorn. E eu ainda queria bem a ele. Eu só não sabia que o ofenderia

tanto. Mas devia saber. Deixei que ele me envolvesse em seus braços enquanto eu

chorava convulsivamente.

Quando o choro finalmente acabou pude ver o rosto de Aragorn agora

cheio de culpa. Ele se afastou de mim se colocando encostado no tronco de uma árvore

como se precisasse de apoio para permanecer de pé. Ele sempre fora tão forte, mas

agora me parecia muito fragilizado.

- Você lembra do que falou a seu pai sobre mim no dia que chegamos ao

arraial? Que eu era a única pessoa em que você confiava?

Minha memória alcançou esse dia e me lembrei de cada palavra que

dissera.

- Só tem uma pessoa que eu confio em toda Andaluz, essa pessoa é

Aragorn. Ele me entende, me aceita do jeito que eu sou cheia de defeitos e fraquezas,

não espera que eu seja a salvadora do mundo, e não me quer só para resolver seus

problemas ou os de Andaluz. Pelo contrario. Eu só trago problemas a ele e ele continua

me ajudando.

- Você lembra?

Acenei com a cabeça.

- Você conseguiu traduzir em poucas palavras a seu pai o meu

sentimento por você. Eu te amo Melissa com todos seus defeitos e fraquezas não espero

que seja perfeita nem que resolva os problemas do mundo. Te amo porque você é

exatamente essa coisinha complicada, confusa e meiga como só você é. O que eu fiz

agora foi imperdoável eu sei. Mas por favor, me entenda como eu entendo você.

Também não tenho a pretensão de ser perfeito, não quero ser um grande herói. Sou

fraco e inconseqüente muitas vezes. cometo loucuras e sempre me arrependo de cada

uma delas como me arrependi do que fiz agora. Mas não foi para te ofender. Foi só uma

forma de expressar o desespero que eu sinto cada vez que penso que não estou com

você. Que te perdi sem ao menos ter a chance de lutar. Eu me apaixonei por alguém

que nasceu para uma outra pessoa. Nunca havia me apaixonado por ninguém. E tinha

que ser logo por alguém que eu jamais poderei ter em meus braços. Pode compreender o

que é isso? E vê-la me pedir ajuda para te manter ainda mais distante de mim me

enlouqueceu.

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Eu sabia exatamente o que ele estava sentindo. Foi como passar

novamente pela dor do dia em que Ernest veio me dizer que Leo teria que ficar com

Raika, pois ela era a filha legitima de Andaluz e assim a prometida de Jeziel. Estar

apaixonado por alguém que não se podia ter era algo cruel. Me lembro que Leo

escolheu ficar com ela, mesmo sabendo que eu o amava. E mesmo dizendo que me

amava. Ainda que induzido por magia ou o que quer que fosse. Ele a escolheu

destroçando meu coração. Me dando uma sentença de morte em viver cada um de meus

dias sofrendo pelo amor que eu não poderia ter.

Durante muito tempo não houve vida em mim e como me esforcei para

esquecê-lo. Mas era impossível, porque ele já tinha sido tatuado em minha existência. E

jamais sairia. Não podia condenar Aragorn pelo que ele estava sentindo e eu não estava

ajudando em nada. Leo pelo menos foi mais humano comigo partindo e me deixando

em paz. Eu ao contrário, estava torturando Aragorn.

Me aproximei dele o abraçando pela cintura e escondendo meu rosto em

seu peito. seus braços me envolveram, e eu queria que ele soubesse que aquele abraço

não era um pedido de desculpas nem um consolo. Era mais que solidariedade. Eu era

grata pelo amor que ele sentia por mim mesmo que eu não o merecesse e que uma parte

em mim tinha uma parte dele que eu não abriria mão. Nem do seu amor ainda que não

pudesse correspondê-lo como ele esperava. Nem da sua amizade.

- Eu amo você Aragorn.

Ele me afastou de seu peito para ver meu rosto.

- Amigos também dizem eu te amo. Sabia?– Falei antes que ele tirasse

alguma conclusão precipitada e o magoasse ainda mais.

- Garota... – Ele me abraçou novamente. - Ainda sou a pessoa que você

confia?

- Sempre. – Disse com sinceridade.

- Então você me perdoa?

- Com uma condição. – Brinquei. – Que você me ajude a encontrar

Tamala. Daí vou saber que você continua sendo meu amigo.

- Isso é chantagem – Ele brincou. Sua raiva já havia passado. - Eu não

devia, mas vou te ajudar. – Ele me desvencilhou de sua cintura.

- Sério? – Olhei seu rosto que pela primeira vez estava sereno como

sempre o vi.

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- Você precisa de mim e eu jurei que sempre que você precisasse estaria

com você. Já que aquele seu namorado parece não dar conta de resolver seus

problemas...

Ele me provocava falando de Leo, mas eu estava tão contente por ele

aceitar me ajudar que deixei essa passar.

- Só tem um problema. Não sei como chegar até ela. Então vou ter que

me esforçar para localizar onde ela esta aprisionada. E não é tão fácil. Principalmente

porque em todas as vezes que ela tentou nesses últimos dias eu a ignorei. Por uns três ou

quatro dias que ela não me procura. Pode ter desistido. Ou quem sabe morrido.

- Por favor Aragorn, você tem que tentar.

- Vou fazer isso por você. Mas pode demorar alguns dias. E não quero

que ninguém saiba que estou te ajudando. Seu pai não gosta de mim e seu namorado

não confia em mim. E com razão. Mas eles podem pensar que estou tirando proveito

para me aproximar de você. O que eu poderia fazer... E talvez até faça... Mas você pode

confiar em mim. – Sua voz agora estava como costumava ser.

- Eu sei que posso.

- Então vá para casa. - Ele pegou uma pedra cristalina e pontuda em seu

bolso e entregou a mim.

- O que é isso?

- Uma chave de outro portal até minha ilha. Se você precisar me ver

novamente pode ir ate lá.

- Não existia somente um?

- Este eu mesmo criei. Bem, ele não vai exatamente até a ilha. Ele te

levara a onde eu estiver. Eu tinha mesmo a intenção de dá-lo a você. Antes de... - Ele se

interrompeu - Mas por favor mantenha-o seguro. Não quero ter a surpresa de ver um

soldado de Cordomad me encontrando desprevenido.

- Como ele abre o portal?

- Segure-o firme e pense em mim. Em qualquer lugar de Andaluz que eu

estiver você me encontrará.

- Obrigada Aragorn. Você é realmente um grande amigo.

- É. Já que não posso ser outra coisa, é melhor me conformar com isso. –

Falou com voz divertida.

- Como vou voltar para casa?

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- Essa mesma chave te leva de volta ao lugar que saiu. Do ponto de

partida a mim e de mim ao ponto de partida.

Apertei a pedra forte na mão e ela brilhou dourado. O mesmo brilho que

emanava de Aragorn.

- Posso te ver amanhã? – Falei enquanto o brilho da pedra me envolvia.

- Sempre. - Ele respondeu com o sorriso de anjo maroto.

Em segundos o brilho da pedra me ofuscou e quando retrocedeu, eu já

estava de volta ao arraial exatamente no mesmo local da partida.

Voltei andando para casa do general Euri satisfeita em saber que Aragorn

iria me ajudar. Eu não poderia contar a Leo nem ao general. Somente quando soubesse a

localização de Tamala eu contaria a eles o que eu tinha feito.

Foi uma manhã bem intensa e por não ter dormido a noite, o cansaço me

pegou. Me deitei na cama para relaxar e pensar em tudo que tinha acontecido e acabei

pegando no sono.

Quando acordei já era noite e Leo estava sentado a beira da cama

acariciando meu rosto.

Um remorso me bateu por ver Leo tão carinhoso comigo e eu ter que

esconder o que tinha feito. Esconder que eu tinha desobedecido sua vontade e ido atrás

de Aragorn. Pior seria se eu tivesse que contar-lhe que mesmo sem meu consentimento

Aragorn me beijara a força. Eu preferia deletar aquele acontecimento da minha memória

e da minha vida. Não era um beijo de amor, então não era importante.

- Meu Mel – Leo exclamou assim que sorri para ele. – Se tiver algo

melhor que seu sorriso...

- Que tal meu beijo?- Lacei seu pescoço com as mãos e o puxei para um

beijo apaixonado e abrasador.

- Ei... Esta bem o beijo venceu... – Ele tentava se livrar de meus braços –

Quer se comportar, seu pai esta em casa. – Ele sussurrava – Mas não dei ouvidos e o

puxei mais para mim. Ao vê-lo tentando fugir de mim me sentei ao seu redor

envolvendo com as pernas a sua cintura ele me olhou espantado, mas me fiz de boba

pulei para seu colo e me agarrei novamente em seus lábios enroscando meus dedos em

seus cabelos.

- Mel – Ele arfou – Melissa o que... – Ele tentava falar, mas eu não queria

liberar seus lábios para poder ouvi-lo. Depois de um tempo tentando ele conseguiu se

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liberar dos meus braços e pernas. Se colocou de pé se afastando da cama me olhando

espantado.

Sua forma de me olhar foi engraçada. Eu comecei a rir.

- Esta rindo do que? – Perguntou confuso.

- Você esta vermelho, fugindo e com medo de mim... – Achei graça por

eu causar algum tipo de constrangimento logo em Jeziel.

- Medo não seria a palavra correta, mas sim estou fugindo de você. Para

onde foi a Melissa tímida e comportada que eu conhecia, o que você fez dela?

Eu sorri olhando para ele, mas realmente não sabia o que tinha

acontecido com a antiga Melissa. Talvez ela nunca tivesse existido ou quem sabe só

estava cansada de ser a boazinha e comportada. Uma nova Melissa estava surgindo. E

estava na hora de deixar que a nova Melissa aparecesse de uma vez por todas. A

Melissa que era capaz de expressar seus sentimentos e seus desejos sem medo. A

Melissa que não queria nem saber se o pai estava na sala enquanto ela agarrava seu

namorado no quarto, a Melissa que era apaixonada por Jeziel e estava cometendo

loucuras só para ficar de uma vez por todas ao lado dele. Não sei o que aquela manhã

fez comigo, mas estava me sentindo diferente e ousada e pronta para lutar pelo que eu

queria.

Aragorn tinha razão, eu era bastante egoísta para não me preocupar com

nada nem com ninguém. Eu queria Jeziel para mim. Só ele. E já havia perdido muito

tempo dando voltas e mais voltas esperando tê-lo finalmente.

Olhando para Jeziel a minha frente tive a impressão que o tinha só pela

metade. Eu queria mais dele. Tudo que eu pudesse ter de meu Leo seria pouco. Havia

aberto mão de tantas coisas para estar com ele como o conforto e a segurança da minha

casa, minha família que deixei para trás para vir ate ele, o amor de Aragorn que apesar

de precioso não era suficiente para preencher meu coração. Agora eu estava disposta a

pegar e possuir todas as partes de Jeziel que achava que eram minhas por direito. Até

mesmo as que ele mesmo escondia de mim. Quando estávamos juntos ainda faltava

alguma coisa, ainda tinha uma barreira, uma linha intransponível entre nós que eu me

dispus nesse exato momento a dar um fim nela. Antes tinha o empecilho de meus dons

não estarem desenvolvidos, mas eu tinha evoluído bastante com eles. Jeziel não fugiria

mais. Não sabia exatamente o que tinha despertado esse meu fulgor, mas ele não

perderia por esperar.

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Olhei para ele me sentindo maliciosa e ele ergueu uma das sobrancelhas

me fitando receoso.

- Se você ainda quer dar um passeio comigo é melhor se levantar antes

que fique muito tarde.

- Aonde vamos? – Perguntei empolgada.

- De preferência num lugar publico e com muita gente ao redor. – Ele

estava desconfiado - Você esta impossível hoje.

Me levantei enquanto ele saía do quarto. Tomei um banho revigorante e

procurei por uma roupa que me deixasse atraente aos olhos de Leo. Ele sempre gostava

quando eu me vestia de preto e encontrei um vestidinho preto no enorme closet que o

general Euri fez para mim. Decotado no busto e com o corte acima do joelho, não era

exatamente o que eu queria, Mas me serviria muito bem para aquela noite. Maquiagem,

cabelo, perfume, tudo minuciosamente preparado para deixar meu Leo de queixo caído.

E foi exatamente assim que ele ficou quando me viu caminhar até ele na sala.

O general pareceu não gostar muito do que viu e Jeziel piscou

repetidamente olhando para mim. Sua expressão de bobo ao me ver me disse que não

seria tão difícil conseguir o que eu queria. Se eu usasse as armas certas.

- Vamos?! – Chamei-o que ainda me olhava extasiado.

- Você vai sair assim?!- Perguntou o general perturbado - Com essa

roupa? – de novo ele me lembrou Biel.

- Você mesmo me deu essa roupa. – Justifiquei.

- Eu acho que confundi os tamanhos.

- Não se preocupe. Estou bem protegida. Leo esta comigo. – Segurei suas

mãos dando um beijo rápido em seus lábios.

O general olhou desconfiado para Leo que respondeu com um sorriso

bem sem graça.

- O que é? Você resolveu me deixar em maus lençóis com seu pai de

repente? – Ele perguntou assim que saímos pela porta sob o olhar mal humorado do

general.

- Não. Só queria estar bonita para você. – Falei num ar inocente – Não

gostou?

- Você esta linda Mel. Só que não é o tipo de roupa que você costuma

usar normalmente.

- Só que essa não é uma noite normal. É uma noite especial ao seu lado.

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- Eu já disse que você fica linda de qualquer jeito e que não precisa se

preocupar com nada disso?

- Humm... Não sei, mas é bom ouvir isso.

Segurei sua mão e andamos pelas ruas até o lugar da festa. O povo estava

agitado e animado pelo som das músicas e pelas bebidas. Ao chegar os olhos de todos

se fixaram em mim. Leo apesar de manter a pose de príncipe e de ser respeitado por

todos como tal não conseguiu disfarçar a insatisfação em ver o olhar dos homens

furtivamente escapulindo para mim.

Eu estava radiante e muito a vontade. Era bom pra variar ver Leo

ciumento.

Sentados na mesa, Leo olhou mal encarado para um homem com duas

vezes o seu tamanho que passou sorrindo para mim.

- Dança comigo? – Convidei-o assim que uma música mais suave

começou a tocar.

Ele me segurou pela mão e me levou até a pista de dança. Envolvendo

minha cintura com seus braços e eu abracei-o pelo pescoço diminuindo ainda mais a

distância entre nós. Leo era sempre muito confiante e seguro, nesta noite não sei se pelo

vestido ou pelos olhares dos outros ele não estava muito a vontade.

- Amo você – Eu disse olhando em seus olhos o pegando de surpresa

chamando sua atenção para mim.

- Eu sei disso mais do que você imagina. Mas porque esta me dizendo

isso agora?

- Porque descobri que sou realmente capaz de fazer qualquer coisa para

estar com você.

- Como o que por exemplo? – Ele perguntou desconfiado.

- Qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Uma grande loucura por

exemplo. – Me lembrei do que fiz na manhã e sabia que ele não ficaria feliz se

soubesse, mas era por uma boa causa. E quando tudo terminasse bem, ele iria me

agradecer e entender que foi por amor.

- Você esta com alguma grande loucura para fazer em mente? – Me

sondou.

Não sei o que ele viu em meu olhar, Leo sempre foi muito perspicaz.

Logo encontrei uma forma de distraí-lo do assunto. Quando um homem passou com

uma bandeja cheia de bebidas eu apanhei um copo.

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Eu estava me sentindo... diferente... Ousada.

- Vá devagar com essa bebida. Você não esta acostumada. – me

repreendeu.

Dei um grande gole e ele tentou tomar o copo de minha mão. Eu

consegui driblá-lo tomando outro gole.

- Ta bom já chega. – Ele tomou o copo da minha mão colocando sobre

outra bandeja que passava por nós.

Nos sentamos novamente na mesa sob meus protestos. A bebida subia

rápido, principalmente para mim que não era muito tolerante ao álcool.

- Você esta bem? – Leo falou preocupado.

- Estou maravilhosa. – Não sei se minha voz saiu como devia, mas eu me

sentia mesmo maravilhosa.

- Essa bebida gera euforia. Logo passa. Se você parar de beber. – Ele

falou segurando meu braço estendido tentando pegar mais uma taça de bebida que

passava sobre uma bandeja ao lado da mesa.

- O que você tem Melissa? Porque esta agindo dessa maneira?

A pergunta de Leo deu um estalo em minha mente. Eu realmente não

estava agindo como eu mesma. Talvez a manhã que saí escondida para ver Aragorn,

talvez o fato de estar escondendo dele meus planos de ajudá-lo a encontrar Tamala

mesmo sem o seu consentimento. Ele jamais aprovaria o que estou tentando fazer.

Provavelmente ele ficaria possesso se soubesse que o desobedeci e fui atrás de Aragorn

ou teria uma síncope se suspeitasse que eu iria encontrá-lo novamente pela manhã assim

que Leo saísse. Minha mente estava bloqueada, pois eu sabia que Leo iria querer buscar

direto na fonte a causa do meu comportamento inconseqüente.

Leo me olhava como um pai olha um filho rebelde. Sorri para ele

disfarçando minha loucura sabendo que eu devia me comportar melhor se não quisesse

que ele desconfiasse de alguma coisa. Se ele ao menos soubesse que era por amor...

Que toda aquela loucura era por amá-lo tanto que eu não podia mais esperar uma

eternidade para tê-lo comigo pra sempre e definitivamente.

Estendi a mão até seu rosto e ao meu toque seu semblante de pai irado se

desfez. Os olhos dele brilharam podendo ver nos meus a intensidade do amor que eu

sentia. Mesmo que ele não lesse minha mente agora, tudo em mim declarava esse amor.

- Acho melhor irmos para outro lugar.

Ele levantou me puxando para fora.

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- Aonde vamos? – Perguntei percebendo que ele nos levava para um

lugar afastado da multidão.

- Vamos para um lugar onde possamos ficar a sós.

A sós... que ótimo.

Chegamos após passar por algumas árvores e arbustos enormes a beira do

rio de águas quentes, claras, iluminadas pelas pedras cristalinas no fundo. Um lugar

perfeito, isolado e muito agradável.

Leo se sentou recostado em um tronco de árvore de frente ao rio que

deixava subir uma fina camada de vapor pela água quente. Me sentei entre suas pernas

recostada em seu peito.

Ficamos em silêncio observando a correnteza fraca das águas do rio. Ele

brincava enroscando uma mecha dos meus cabelos nos dedos. Ele podia ficar absorto

em pensamentos assim por horas. Eu não sabia no que ele podia estar pensando. Se em

estratégias para guerra. Se em nós, em nosso futuro ou nosso passado. Mas sabia em que

eu estava pensando. Em como era agradável estar em seus braços... - Meu paraíso

particular. - Em sua companhia, e ainda que passássemos a noite inteira assim colados

um no outro ainda seria pouco para mim. Meu tempo com ele era sempre pouco

demais. Eu queria mais do tempo dele, mais dos pensamentos dele dos braços dos

carinhos, mais do perfume de sua pele, mais do seu toque.

- Diz que me ama! – Eu falei retirando-o de seus pensamentos.

- Eu te amo. – Ele respondeu me apertando mais em seus braços.

- O quanto você me ama?

- Te amo mais que minha vida possa suportar.

- Mais do que tudo?

- Mais do que tudo. – Ele entrou no jogo.

- Mais do que a todos?

- Muito mais.

- Faria qualquer coisa que eu pedisse, Por amor?

- Por amor? Qualquer coisa.

- Então me beije.

Ele segurou delicadamente meu rosto virando-o para si e seus lábios

tocaram os meus carinhosamente obedecendo ao meu comando.

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Apesar de nunca ser indiferente ao seu beijo e mesmo com meu coração

reagindo aos pulos sempre que ele me beijava, não era esse tipo de beijo que eu queria

agora.

Me movimentei em seus braços ficando de frente a ele agarrando com

paixão seus cabelos o peso do meu corpo sobre o dele o fez deitar. Aproveitei para

explorar com os lábios seu pescoço, seu queixo e voltar a sua boca. O perfume de sua

pele era inebriante e o calor da sua respiração pesada e descompassada me davam uma

sensação de poder. Resolvi explorar mais seu corpo agora com as mãos. Enquanto seus

braços, sua nuca e seu rosto eram meus alvos ele não protestou, mas quando me Atrevi a

passear pelo seu peito com as mãos descendo por seu ventre ele as segurou detendo-as.

Girou sobre mim invertendo nossas posições. Eu estava deitada ao chão agora e Leo

segurava meus braços sobre minha cabeça. Seus olhos em mim estavam cheios de

desejo e cobiça. Fechei os meus esperando por ele que se curvou escondendo seu rosto

em meu pescoço. E o ouvi sussurrando para si mesmo algo inteligível sobre se controlar

e ter juízo. – eu já estava irritada com essa palavra.

- Era mesmo um beijo que você estava pedindo? - Falou quando ele

soltou minhas mãos e se sentou ao meu lado respirando fundo.

Não acreditei que ele estava mesmo me deixando ali de lado. Estiquei os

braços o puxando para mim que me beijou cautelosamente.

- O que foi amor? – Perguntei.

- Você esta muito impulsiva meu Mel. Não quero me arriscar a perder o

controle com você.

- Porque não? – Falei me colocando de joelhos a sua frente. – Eu quero

que você perca o controle comigo. – falei quase num apelo.

Me lancei em seu pescoço tentando beijá-lo novamente ele me segurou

pelos braços .

- Melissa, tenha um pouco de juízo. – Ele falou nervoso, mas não estava

bravo comigo, só estava apreensivo e desconcertado com minha investida.

- Não quero ter juízo. Quero ter você... Só você... Agora - Eu falava

enquanto me dedicava mais em seus lábios. Senti que ele estava baixando a guarda e

aproveitei para intensificar mais fervor em meus beijos.

- Mel... Não faça assim...

- Por que não?

-Não sei até onde posso resistir.

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- Não resista. - Sussurrei em seu ouvido.

Ele dizia não. Mas seu corpo suas mãos e seus lábios me diziam sim.

Quis investir ainda mais, só que como sempre Leo estava disposto a não ceder a minha

vontade naquele momento. De alguma forma que nem percebi ele conseguiu se levantar

e de pé me estendeu a mão para que eu me colocasse de pé com ele.

- Vamos para casa.

- Não quero ir. – Cruzei os braços emburrada. Ele não poderia

simplesmente me ignorar daquele jeito. Eu estava ofendida.

- Melissa, você sabe que eu te amo. – Ele tentou argumentar vendo minha

cara de desiludida me segurando pelos cotovelos me fazendo levantar. – Mas as coisas

não podem ser assim.

- Porque não? Se você me ama e eu te amo, o que mais é necessário para

eu poder ter você pra mim por completo? - Olhei para ele entristecida - Você não me

deseja... Não me quer como eu quero você...

Ele sorriu compreensivo.

– Você não faz idéia do quanto... - E me abraçou carinhosamente.

- Então?

- Vai chegar o momento meu Mel. – Ele me deu um beijo na testa e

começou a andar comigo pelo caminho de volta. Eu sabia que ele estava botando um

ponto final naquela conversa por hoje. Mas não tinha problema. Eu poderia tentar um

outro dia. Eu podia ficar bem obsessiva quando queria realmente uma coisa.

De volta a casa do general Euri nos surpreendemos com uma comitiva de

homens a nossa espera. Ao passarmos pela porta todos se levantaram e nos

reverenciaram.

O general Euri se colocou de frente a Jeziel.

- Jeziel, teremos que nos adiantar com a invasão ao castelo. Cordomad

tem conseguido encontrar nossos aliados e nosso exército a noroeste de Andaluz foi

totalmente dizimado.

- Como é? – Jeziel perguntou espantado.

- Senhor, esta ficando muito perigoso Cordomad esta chegando muito

perto de descobrir onde estamos e não podemos ficar parados esperando que ele faça

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conosco o que fez com os outros arraiais. Devemos atacá-lo agora. - Falou um homem

de estatura baixa de barba cheia e voz grave.

- Devemos aproveitar o elemento surpresa. Cordomad e seu exército

jamais esperariam que o atacássemos depois de uma baixa tão grande. E podemos reunir

todo nosso exército em toda Andaluz em poucas horas. Ao amanhecer já estaríamos

preparados. – Falou outro homem de olhos apreensivos e gestos afoitos.

- Senhor precisamos das suas ordens. Nos devíamos...

- Acalmem-se todos – Jeziel interrompeu andando para o centro da sala.

– Não vamos invadir o castelo. Temos nossos planos e vamos segui-los.

- Mas Senhor...

- Será que vocês não percebem que é exatamente isso que Cordomad

quer? Que nós percamos a confiança e partirmos para o ataque desorientados? Não

estamos todos esses meses nos preparando para jogar tudo para o alto agora. Não vou

entrar no jogo de Cordomad.

- Senhor com todo o respeito, nós já estamos fazendo o jogo dele. É isso

que ele quer que fiquemos indefesos e escondidos em blocos para que ele destrua a

todos nós um a um como ele tem feito. Quanto tempo resta para que ele chegue ate nós?

- Estamos bem protegidos. – Leo argumentou.

- Gostaríamos que o Senhor levasse em consideração a proteção também

de seus outros soldados que se encontram em outros arraiais.

- Só que eu me preocupo. – Arrazoou Jeziel.

- Falo não só por mim, mas pensamos que o senhor poderia se dedicar

mais a nossa causa. Temos perdido muito tempo. – O homem barbudo olhou

sugestivamente para mim.

Jeziel encarou o homem barbudo com os olhos repreensivos.

O que aquele homem estava tentando dizer? Que meu Leo que já não

tinha nenhum tempo decente comigo, estava perdendo tempo em me dar um mínimo de

atenção? Quem ele pensa que é?

- Jeziel tem razão – Falou o general Euri - Cordomad esta esperando por

nós. Esse ataque de Cordomad foi uma provocação. Ele quer que vamos atrás dele. Se

sairmos sem estarmos preparados e com a vantagem que ele tem estaremos totalmente

vulneráveis.

- Mas não podemos ficar parados. – Argumentou outro homem.

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- Antes de tudo temos que resgatar a profetisa. Só ela sabe como destruir

Cordomad. – Argumentou o general.

- E o que estamos esperando?

Esse barbudo estava me dando nos nervos. Porque Leo não o mandava

calar a boca. Quem seria o rei ali afinal?

Todos começaram a falar ao mesmo tempo. Um trovão de vozes graves e

nervosas invadiu toda a sala.

- Senhores – Leo falou uma só vez e todos se calaram. – Concordo com

vocês. Precisamos acelerar nosso ataque. – Todos em uníssono estavam satisfeitos –

Leo continuou.- Mas nada adianta um ataque se não podemos retirar Cordomad do

poder. E para tirarmos ele do trono precisamos matá-lo. E tenho que lembrá-los de que

ele não morre? De que precisamos destruir a esfera em que esta contida a alma dele e da

feiticeira?

Todos se calaram.

- Então vamos libertar a profetisa! – Gritou um homem grandalhão do

outro lado da sala.

- Claro...Vamos agora. – Falou Jeziel no mesmo tom do homenzarrão. -

Mas esperem... Alguém sabe onde ela esta?

- No castelo. Ela esta aprisionada no castelo. – Respondeu o grandalhão.

- Disso eu já sei. Quero saber se alguém tem a idéia de como entrar lá e

conseguir sair com ela e com vida?

Todos olharam uns para os outros esperando uma resposta.

- Vê senhores, não podemos simplesmente sair atacando sem uma

mínima garantia de êxito.

- Precisamos fazer alguma coisa. – Falou o barbudo irritante.

Se esse barbudo não se calasse logo, eu iria atirar alguma coisa nele.

Todos começaram a se agitar novamente.

- Senhores, senhores. Controlem-se, Jeziel sabe o que esta fazendo. Além

do mais, ele tem se preparado para ir em resgate da profetisa Tamala. – disse o general.

Ele tem se preparado? Como assim, ele iria invadir o castelo sozinho? –

Pensei aflita.

Olhei para Leo assustada. Ele me olhou. Com certeza sabia o que tinha

me assustado.

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- Já esta quase tudo preparado. Eu só preciso encontrar a entrada secreta

do castelo. Estamos buscando uma forma de entrar pela mesma a qual minha mãe e o

general Euri conseguiram escapar quando Cordomad invadiu. As antigas entradas

foram bloqueadas, mas ainda é possível encontrar o túnel. E nós estamos bem perto.

Dois ou três dias apenas.

Como é? Ele estava mesmo pensando em entrar sozinho no castelo?

Enfrentar sozinho Cordomad e seus soldados?

- Você não pode ir lá só – Falei aterrorizada.

- É muito arriscado levar mais alguém. Cordomad esta esperando um

exército invadir o castelo. Dois ou três de nós é o suficiente para resgatar Tamala sem

chamar a atenção. Podemos passar despercebidos. E quem sabe conseguir sair de lá.- ele

explicou.

- Quem sabe?! – O desespero era tangível na minha voz. - Não. Você não

vai. Não vou perder você de novo. Não vou deixar que você vá e seja aprisionado por

Cordomad outra vez.

- De todos que estamos aqui somente eu estive no castelo. Eu posso

encontrar Tamala.

- Não. Você não vai! – Eu gritei angustiada. Todos olharam para mim.

Mas eu não me importava com o que estavam pensando. Não me importavam se

estavam me achando infantil, egoísta, louca... Ou o que quer que fosse. Eu só queria

meu Leo perto de mim. Não ia permitir que ele se arriscasse assim.

Leo segurou minha mão. Acho que somente ele podia ver o desespero em

meus olhos.

- Então senhor, o que vamos fazer? Estamos esperando que nosso futuro

rei faça alguma coisa. Não podemos esperar mais. – O cara chato barbudo e irritante

estava falando de novo. Eu quase me movi para socar a cara dele. Eu podia... Eu sabia

bem como enfiar aquele nariz intrometido dele para dentro da sua cara feia. Mas Leo

estava me segurando e me olhava preocupado enquanto eu fuzilava aquela miniatura de

andaluziano com meus olhos irados.

- Me dêem mais uns dias. Se eu não conseguir entrar nós partimos para o

plano “B” reuniremos nosso exército e atacaremos Cordomad.

Larguei a mão de Leo. Ele não estava me ouvindo. Não estava me dando

atenção. Ele iria entrar naquele castelo novamente. A imagem dele acorrentado e

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torturado invadiu minha mente enquanto eu corria para o quarto para longe daqueles

homens que estavam querendo lançar meu Leo à cova dos leões.

Me atirei na cama e as lágrimas já cobriam meu rosto. Eu não poderia

deixar, teria que fazer algo antes de Leo se arriscar. Aragorn prometeu me ajudar.

Tentar contato com a profetisa. E ele disse que não seria fácil. Mas ele teria que

conseguir. Assim eu poderia ajudar Leo. Seria mais fácil se ele soubesse como chegar a

prisão onde ela é mantida. Mas tinha que ser logo. Leo falou em dias... Alguns dias.

Quantos dias seriam alguns? Três... Quatro... Quantos dias eu teria para conseguir

impedir que ele fosse até lá?

Ouvi os homens saindo e se despedindo.

- Melissa tem razão Jeziel. É muito arriscado para você. Não podemos

correr o risco de Cordomad te aprisionar novamente. – Falou o general Euri assim que

todos saíram.

Finalmente alguém com bom senso.

- General, o Senhor conhece outro que possa fazer isso? Outro que esteve

no castelo depois das mudanças de Cordomad, além de mim? Aquele lugar esta um

labirinto, nós podemos perder mais soldados, e o pior, deixar Cordomad alerta se

fracassarmos na primeira tentativa.

- Não sei. Não gosto dessa idéia. Logo você Jeziel de primeira?

- Por isso ela é boa. Cordomad não espera por mim. Ele não espera que

eu me arrisque tanto. E ninguém mais tem poder suficiente para enfrentar Cordomad se

ele aparecer. E nós precisamos tirar Tamala de lá viva.

- Você sabe que nenhum portal te colocara dentro do castelo. Você terá

que entrar e andar por ele escapando dos soldados e da magia de Erkas.

- O tempo que eu estive lá pude acompanhar a rotina dos soldados e o

fato de Erkas proteger aquele lugar com magia é para nós uma vantagem a mais.

Ironicamente seus soldados confiam demais nela e se tornam relapso ás vezes. Eu posso

tirar vantagem disso.

- Já esta decidido? – o general conferiu.

- É o que temos que fazer. – Leo confirmou.

- Então eu vou com você.

- Não general. Eu preciso do senhor aqui se alguma coisa der errado.

Alguém tem que ficar por Melissa.

- Como posso ficar, sabendo que sua vida corre risco?

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- Cordomad não me matará enquanto não tiver a coroa em seu poder.

Mesmo que ele me pegue. Minha maior preocupação é que Melissa possa ficar bem.

Independente do que aconteça comigo. Mas não se preocupe general. Vai dar tudo certo.

Eu ouvia Leo e o general conversando e tudo que eu queria era que tudo

fosse um pesadelo. Eu queria acordar e me ver novamente em meu quarto para mais um

dia de aula tranqüilo e comum e encontrar com meu Leo me esperando na porta de casa

para me levar para a escola. Tudo era tão mais simples.

A mão de Jeziel retirou os cabelos grudados nas lágrimas em meu rosto.

- Não se preocupe. Esta tudo sobre controle. Eu não estou correndo risco

Mel. Verdade. Eu sei o que estou fazendo.

Me sentei na cama e o abracei.

- Não posso te perder. – Falei angustiada. – Não de novo.

- E você não vai... – Ele tentava ver meu rosto - Ei... Não confia em

mim? Vai dar tudo certo. Antes que você perceba estaremos livres de Cordomad e toda

sua corja e poderemos viver cada dia do nosso amor como se fosse eterno. É isso que

você quer não é? - Balancei a cabeça em seu peito. – Então é isso que terá. Eu te darei

um conto de fadas eterno. Um reino, um castelo, um rei, e te Farei a rainha mais feliz do

mundo.

- Eu só quero você pra ser feliz.

- Se é o que você quer, então vou te suprir da minha presença a cada dia.

Melhor, a cada segundo da sua vida em qualquer lugar que você esteja. Dormindo,

acordada tomando banho ou comendo... Não me afastarei um milímetro de você. Assim

que tudo isso acabar. Você vai ficar tão cheia de mim que vai me mandar embora.

- Impossível.

- Espero que sim. Estou contando com isso. E é por isso que tenho que ir

até lá Melissa. Para te dar o final feliz da nossa história o mais rápido possível. – Ele

beijou o alto da minha cabeça.

Nos braços de Leo fiquei pensando em nós. Não no futuro feliz que ele

me descreveu que me parecia tão distante, mas no nosso passado que costumava ser tão

seguro e simples. Adormeci e como a muito tempo Leo não fazia, ele veio acompanhar

meus sonhos. Neste sonho estávamos na beira do rio que estávamos a pouco. Eu

reconheci o lugar assim que ele se abriu diante de meus olhos. Leo devia ter gostado de

estar ali comigo para me levar de volta aquele lugar. Ele andava comigo de mãos dadas.

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E uma brisa que trazia pétalas de rosas brancas perfumando e decorando o vento

passava por nós. Eu estava tão feliz e tudo estava tão perfeito ali. Eu poderia viver

naquele sonho para sempre somente eu e meu Leo.

CAPÍTULO 4

Quando o sol entrou pela janela do quarto me fazendo acordar, nem

Leo nem o general estavam mais em casa. Havia um bilhete sobre o criado ao lado da

minha cama.

Amo você

Amo você

Amo você

Não fique brava, tive que sair de novo antes de você acordar.

Mas a noite estou de volta. Não se preocupe comigo. E se cuide.

Seu pai achou que você estava um pouco deprimida e fez outro bolo de

chocolate enquanto você dormia. Sei que vai gostar. Vê se deixa um pedaço

para mim.

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Li e reli o bilhete mais duas vezes só para ter a nítida impressão de ouvir

sua voz dizer “Amo você” até conseguir me mover do quarto. Por incrível que podia

parecer eu não estava com a menor vontade de comer bolo.

Me preparei para ir de encontro a Aragorn. Agora mais do que nunca ele

tinha que conseguir contatar a profetisa. Jeziel não poderia entrar as escuras naquele

castelo. Ele teria mais chance se soubesse a localização exata dela. Seria mais rápido e

menos arriscado.

Peguei a pedra chave escondida na mochila e me concentrei em pensar

em Aragorn. O brilho dourado da pedra surgiu se intensificando até me ofuscar

totalmente a vista e quando a luz gradativamente ia desaparecendo o rosto de Aragorn

estava a minha frente. Ele esperava por mim.

- Bom dia Melissa – Ele falou sem muita emoção na voz.

- Não parece feliz em me ver... – Reclamei.

- Se fosse em outra situação talvez estivesse. Mas sei que só veio por

causa dele.

Olhei para ele sem resposta. Sabia que ele não estava nem um pouco

satisfeito com isso, mas ele prometera me ajudar e eu precisava mesmo da sua ajuda.

- Tudo bem minha amiga, o que posso fazer por você hoje?

- Temos que entrar em contato com Tamala Aragorn. Jeziel esta

planejando entrar no castelo para resgatá-la.

- Que bom que ele tem esse instinto suicida, assim não vou precisar

esperar tanto para que ele...

- Argh! Por favor Aragorn você prometeu. – O interrompi irritada. Não

estava disposta a agüentar seu humor macabro hoje.

- Tudo bem – Ele ergueu as mãos em defensiva - Nada de torcer pela

morte dele hoje... Pelo menos não na sua frente.

Bufei cansada.

Andamos pela ilha até sua casa. Tudo estava da mesma forma como da

última vez que estive aqui. E me senti bem por estar ali. Confortada e segura.

- Seja bem vinda. – Exclamou Aragorn assim que cheguei a porta. –

Fique a vontade a casa é sua. Bem, não é literalmente, mas pode vir a ser se você

quiser...

Olhei para ele de cara fechada. Seu humor estava impossível hoje. Logo

hoje.

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- Desculpe Melissa eu só queria te relaxar um pouco. Você esta muito

tensa e sua cabeça esta embaralhando as coisas.

- Só estou preocupada. – Disse me deixando cair em seu sofá. – Teve

uma reunião ontem a noite e...

- Tudo bem, não precisa me contar, já vi tudo em sua mente.

Eu não bloqueava minha mente para Aragorn já tinha um bom tempo.

Não tinha o que esconder dele. E era bom que eu não precisasse falar tudo que tivesse

acontecido.

- Não posso deixar que isso aconteça - Falei com a voz embargada me

lembrando da visão de Leo acorrentado. Aragorn viu em minha mente e respirou

pesado. Ele podia não gostar de Leo, mas não conseguia ficar indiferente ao que eu

estava sentindo.

- Tentei encontrar Tamala. Mas não houve nenhuma resposta. É como eu

disse, ela se comunicou comigo e vendo que a ignorava deve ter desistido.

- Você não pode desistir Aragorn.

- Não estou desistindo, mas não vai ser fácil. Naquele castelo há várias

masmorras. Ela pode estar em qualquer uma delas, ou eles podem tê-la levado para

outra prisão. Até mesmo fora do castelo.

- Não temos muito tempo.

- Vou fazer o que puder, eu prometo.

- E os braceletes? Eles não podem ajudar?

- Já tentei, mas nem com eles tenho conseguido contato.

- O que iremos fazer?

- Eu tive uma idéia, mas pode não ser muito segura. Mas como sei que

você esta disposta a fazer qualquer coisa. Nós podemos tentar e se der certo...

- O que é? – Falei aflita. Ele tinha razão eu estava disposta a fazer

qualquer coisa.

- Podemos encontrar a antiga casa da profetisa. Ela deve estar sendo

vigiada, mas poderíamos chegar até lá e derrotar os soldados que estiverem de vigia.

Daí teremos um tempo antes de Cordomad perceber e procurarmos nas coisas dela algo

que possa nos levar a um contato direto.

Não entendi e ele se prontificou a me explicar melhor.

- Para conseguir me comunicar com alguém eu preciso ter algum tipo de

ligação com essa pessoa. Seja pessoal ou um mero objeto, mas que haja real ligação.

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Não sei o que fez com que ela conseguisse se comunicar comigo, porque nem a

conheço, mas provavelmente sejam os seus poderes. Mas eu vou precisar de algo mais

concreto para conseguir contatá-la já que ela não me procura mais. Como uma peça de

roupa ou um objeto pessoal.

- Podemos fazer isso. – Falei decidida. – Então vamos lá agora!

- Não acho que você vá conseguir lutar com esse vestidinho...

Nem me dei conta que ainda estava com o mesmo vestido de ontem a

noite. Aragorn tinha razão eu precisaria me preparar e também pegar meu bastão e

minha espada.

- Não vamos a lugar nenhum hoje. Quero primeiro ter certeza de que

você esta em condições de enfrentar os soldados de Cordomad.

- Mas eu estou.

- Vamos primeiro testar suas habilidades. – Ele se levantou me puxando

pela mão. – venha comigo.

Saímos pelos fundos da casa. Ele pegou duas espadas jogando uma para

mim.

- Vamos ver se você lembra do seu treinamento.

Ele se lançou sobre mim com golpes a cima de lado a baixo girando

tentando me pegar pelas costas e em todos me saí bem.

- Muito bom, mas você só esta se defendendo. Quero ver seu ataque.

Me lancei para cima dele e de todos os golpes ele saía facilmente

- Vamos lá Melissa você pode mais que isso. Ponha mais força nesse

pulso. Assim você só vai fazer minha barba.

Eu me esforcei mais no ataque, mas não parecia estar fazendo progresso

Aragorn parecia irritado com minha falta de destreza. Tinha muito tempo que eu não

treinava para valer.

- Vamos lá, onde esta aquela garota que enfrentou o próprio Cordomad? -

Ele gritava me provocando - Soldados para você é moleza. Vamos lá faça melhor...

Esta com medo de quebrar uma unha?

Aquela falação dele já estava me deixando irritada.

- Vamos lá garota eu sei que você consegue... Me assuste pelo menos...

Vamos...

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Tentei atingi-lo com outro golpe, mas ele girou a espada dele na minha

lançando-a a metros da minha mão me segurando por trás com a espada dele no meu

pescoço.

- Melhor mudarmos de estratégia. – Ele falou entre meus cabelos perto de

minha orelha. - Não é uma boa idéia te fazer lutar... Garota.

Dei uma cotovelada em seu estomago. Ele estava tirando uma casquinha.

Ele se encolheu com a mão no estomago.

- Esse é o espírito. Mas acho que é melhor eu ir sozinho.

- De jeito nenhum. – Não poderia deixá-lo enfrentar os soldados de

Cordomad só. Eu já tinha lutado ao lado dele. E tinha aprendido muito. Desta vez eu

poderia ser uma ajuda extra. Principalmente porque a maior interessada era eu. E ele

não desistiria se eu estivesse envolvida.

Andei até onde a espada havia voado e me posicionei.

- Mais uma vez...

- Você tem que se esforçar mais. Eles não serão tão bonzinhos quanto eu.

Durante horas treinamos até que meus braços não conseguiam mais

segurar a espada. Eles doíam das pancadas que Aragorn simulava para que eu estivesse

preparada para os golpes. Sentamo-nos na areia e ele comprimia os músculos do meu

braço para aliviar a tensão e a dor.

- Quando vamos?- Perguntei ansiosa.

- Em duas semanas. Pretendo preparar você melhor para essa luta já que

pretende mesmo ir comigo.

Um frio subiu pela minha espinha. Eu não gostava nem de brigas

escolares. Quanto mais uma peleja armada e inevitável contra soldados preparados e

armados até os dentes. Já tinha os visto em combate e sabia que eles não brincavam em

serviço. Eram gladiadores ferozes e cruéis.

- Você consegue. Treinou muito bem. E eu estarei lá com você. Não vou

deixar nada de mal te acontecer.

Eu sabia disso. Da última vez ele se lançou na minha frente para me

defender e quase acabou morto. Ele me defenderia eu tinha certeza. Mas, e ele?

- Confia em mim?- Ele estava lendo meus pensamentos. Não levaria você

comigo se achasse que morreria te deixando para eles.

- Confio. – Eu sorri e ele correspondeu. Seus olhos de ouro confiantes em

mim.

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- Vá para casa e descanse. Amanha treinaremos mais. E nada de bebidas

essa noite.

Ah droga, ele tinha visto isso na minha mente também. E mais o que?

Minha tentativa patética de seduzir Jeziel? Essa história dele ter acesso livre a minha

cabeça não era muito boa.

Ele sorriu não dando a mínima para minhas preocupações, então deixei

passar. Ele sabia que eu amava Leo não era nenhuma surpresa. E além do mais quem

não quer ver estrelas não olha pro céu. Ele deu de ombros e vi que tinha captado esse

pensamento também.

- Amanhã traga sua coroa. E seu bastão. – Deu um beijo no alto da minha

cabeça e se afastou para que eu pudesse abrir o portal. – É bom ter você de volta mesmo

que só sua metade. – Ele me disse com voz amigável.

- Até amanhã. – Gritei pra ele enquanto a luz me envolvia.

O portal me levou em segundos de volta a meu quarto. A casa ainda

estava vazia. Por pouco tempo. Uma batida urgente na porta de entrada me chamou

atenção. Quando abri para ver quem era, a garota de cabelos brancos, Vogue, estava

ansiosa na porta.

Olhei para ela sem entender a cara de assustada que ela fazia.

- Melissa... que bom que esta tudo bem.

- Porque não estaria? – Perguntei desconfiada.

- Eu vim te procurar mais cedo. Jeziel e seu pai queriam que eu te fizesse

companhia eles estavam te achando um pouco triste e não seria bom que você ficasse

só. Mas quando bati na porta você não atendeu. A porta estava aberta então entrei para

ver se ainda estava dormindo, mas você não estava em casa. Aonde foi?

- Eu. Fui dar. Uma... Volta. Por aí. – Eu sabia que não ia colar, primeiro

porque eu estava falando como uma idiota, e depois se ela estava mesmo preocupada

devia ter me procurado por todo o arraial.

- Ah claro... Uma volta... Então... Tudo bem... – Agora ela estava falando

feito idiota. Eu sabia que não ia colar.

- Vogue você pode por favor não comentar nada com meu pai – A

palavra pai saiu meio forçada e ela percebeu – Nem com Jeziel. Eles não precisam se

preocupar a toa. Eles já tem muita coisa para pensar. - Ela me olhou desconfiada. - E eu

estou perfeitamente bem. Como vê.

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- Certo. Mas posso te fazer companhia até eles chegarem? Não quero que

eles pensem que fui relapsa em algum momento com você.

- Claro. – Tínhamos um acordo. Ela ficaria feliz em esconder que eu

sumi se eles não soubessem que ela me perdeu de vista.

- Aceita um pedaço de bolo?

- Ótimo. – Ela aceitou com um sorriso.

Na cozinha enquanto ela me olhava parecendo querer sondar alguma

coisa, ou na minha mente ou na minha expressão, Vogue respirou fundo antes de me

falar.

- Posso te dizer algo?

- Claro.

- Eu sei que não é da minha conta, mas sair dos limites do arraial é muito

perigoso. Cordomad esta esperando uma única oportunidade de colocar as mãos em

você. Ele sabe que se te pegar ele te obrigara a lhe entregar a coroa.

- Eu já estive com Cordomad e ele não conseguiu o que queria. – Me

gabei.

- Mas se Cordomad capturar você... Jeziel não vai ficar parado. Ele é

capaz de se entregar para entrar no castelo atrás de você. Daí ele vai usar Jeziel e

ameaçando-o de morte. Você negaria a coroa? Ou a entregaria para que ele lhe poupasse

a vida?

Olhei para ela indefinidamente.

- Jeziel não seria tão...

- Tolo? Seria sim. – Ela respirou fundo. - Então onde quer que você

esteja dando suas voltas, lembre-se que se você colocar sua vida em risco coloca a dele

também.

Fiquei irritada com aquela conversa, mas tinha que reconhecer que

Vogue tinha razão. Só que eu não podia ficar parada vendo Jeziel se arriscar por

Andaluz e por mim e não fazer nada. Se eu pudesse fazer alguma coisa, e eu podia, Eu

iria ajudá-lo. Sei que ninguém aprovaria o que estou fazendo, mas quando eu chegar

com a resposta de onde esta Tamala e como resgatá-la ele irá ficar satisfeito. Todos vão.

E poderemos finalmente destruir Cordomad de uma vez por todas.

Dei mais algumas garfadas no bolo e vogue também se deliciando ainda

mais com a iguaria do que eu.

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- Bem... Me conte mais sobre seu mundo... E sobre seu irmão. Porque ele

não veio com você? – Falou querendo amenizar o clima pesado que ficou entre nós. Ela

estava muito curiosa e eu não entendia bem o porquê. Sempre que ela se aproximava de

mim tinha uma pergunta sobre Biel. Mais devia ser uma curiosidade natural afinal é um

mundo que ela não conhece.

Resolvi colaborar e responder suas perguntas para preencher o tempo e

distraí-la do ultimo assunto.

- Biel não sabe que Andaluz existe.

- Ah... – Ela pareceu decepcionada. – Então como ele virá?

- Virá? Biel... De jeito nenhum! No que depender de mim ele jamais porá

os pés nesse lugar de loucos, nem saberá que esse lugar aqui existe.

Ela me pareceu chocada e ofendida.

- Me desculpe não queria ofender. Sei que você ama Andaluz.

Ela estava irritada. Eu a ofendera de verdade.

Já estava preparada para ouvir Vogue falar um monte de verdades na

minha cara como uma defensora de sua dimensão quando a porta se abriu e ouvi Jeziel

chamar por meu nome. Ela se recompôs e ainda assim seu semblante permaneceu

fechado. Fiquei feliz por ele ter chegado cedo e por poder fugir do mau humor que

estava nos olhos de Vogue.

Pulei da cadeira e saltei para os braços do meu Leo.

- Nossa, que recepção calorosa. – Ele me abraçou se virando para Vogue

dispensando ela por mais um serviço de babá. – Obrigado Vogue por ter feito

companhia a Melissa o dia todo.

- A claro... O dia todo... – Ela respondeu ranzinza.

- O que foi com ela? - Ele me perguntou baixinho enquanto ela saia pela

porta da frente.

- Acho que ela gosta da minha companhia tanto quanto gosto da dela. -

Ele me olhou atravessado.

- Sua companhia é perfeita, não consigo imaginar alguém não querer

ficar o tempo todo com você.

- Você é suspeito para advogar em meu favor.

- Não acho que o fato de eu ser completa e loucamente apaixonado por

você possa interferir em meu julgamento.

- Claro que não. Você é totalmente impar.

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O sorriso lindo dele me distraiu. Como alguém podia ser tão perfeito?

- Bem, nós temos a noite toda. O que gostaria de fazer?

- Que tal ficarmos em casa essa noite? – Eu estava cansada. Aragorn

puxou bastante no treinamento me preparando para enfrentar os soldados de Cordomad.

E ainda estava sentindo meus braços doloridos.

- Certeza?! Imaginei que estivesse entediada por passar o dia em casa.

- Prefiro ficar aqui com você. – Falei evitando seu olhar. Não gostava de

esconder as coisas dele. Mas era preciso.

Me soltei de seus braços. Não estava me sentindo correta com ele,

disfarcei indo para mesa cutucar a cobertura do bolo com o dedo.

- E o general? – Perguntei.

- Ele ficou resolvendo algumas coisas.

- E como esta a procura por Tamala?

- Difícil. Não temos como entrar em contato com ela. Seu pai teve uma

idéia meio arriscada mais ele acha que pode dar certo.

Não gostei da palavra arriscada... Principalmente porque meu Leo estaria

envolvido nela.

- Que tipo de risco?

- Não quero que se preocupe com isso. Esta tudo sobre controle Mel.

- Não gosto de imaginar que você esteja correndo perigo.

- E não estou. – Ele me abraçou pelas costas – Você é quem esta. – Falou

sussurrando em meu ouvido. – Querendo ficar comigo... Sozinha... Aqui. Sua voz

melodiosa espantou todo meu cansaço.

Me virei dentro do laço de seus braços beijando-o impetuosamente para

que ele soubesse que eu aceitava o desafio.

Ele passou um dos braços por trás de meus joelhos me pegando nos

braços e me carregando até o sofá.

E a noite passava calma e silenciosa.

Estava cansada, mas Leo ainda estava mais cansado que eu. Tive um

tempo para pensar e apreciar seu rosto perfeito dormindo tranquilamente com a cabeça

em meu colo. Suavemente eu delineava cada traço com as pontas dos meus dedos. E

imaginava quanto tempo ainda faltava para que o motivo do meu cansaço e do dele

acabasse.

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Só percebi que tinha adormecido quando Leo me despertou no meio da

madrugada com sua mão em meu rosto. Faltava poucas horas para amanhecer e

acabamos em nos aninhar no sofá mesmo, e dormimos até o sol realmente aparecer.

Não foi surpresa quando com um beijo na testa Leo me acordou já pronto

pra sair.

- Até a noite? – Ele se despedia como se me pedisse desculpas por ter que

sair novamente. Ele sabia que me aborrecia, mas no momento o fato dele ter que passar

o dia fora era bem providencial. Afinal eu também tinha meus planos.

- Até a noite. – Respondi conformada. - Vai lembrar que te amo?

- Vai ser difícil já que minha cabeça só lembra que te ama. Mas tudo bem

farei um esforço extra.

Ele deu uma piscadela para mim da porta.

Assim que Leo saiu me arrumei também para sair. Coloquei minha roupa

de filme épico e peguei a mochila que estava com as coisas que iria precisar para meu

treino do dia.

Pelos dias seguintes eu sempre passava o dia na ilha Marfim com

Aragorn e meu treinamento. Lógico que ele sempre me dava um tempo de descanso e

nessas horas nós voltávamos a ser os amigos que éramos no tempo em que eu estava

com ele na ilha. Ele sempre muito divertido e atencioso preenchia minhas tardes com

nossos passeios pela vegetação da ilha e mergulhos no mar. E se acabava de rir me

vendo tentar ler alguma coisa em seus livros. Eu ainda não dominava sua linguagem e

trocava as palavras.

- E Arine se lavou.. e bem próxima os pentes dele se sacudiu e... – eu lia

com dificuldade – Peraí... essa Arine se lava vai até o pobre coitado dormindo e se

sacode? Que tipo de literatura é essa? E o que tem os pentes a ver com isso?

Aragorn sorrindo puxou o livro da minha mão e releu.

- E Ariane, se moveu e próxima aos lábios dele os tocou... – Aragorn caiu

na risada me devolvendo o livro.

- Eu não vou ler mais. Você fica rindo de mim. – resmunguei fechando o

livro.

- É bem mais divertido que descobrir porque coelho usa óculos. – ele

continuou a rir.

Aquilo para ele era uma comedia hilariante.

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No fim da tarde eu voltava para o arraial, e completava minha noite com

meu Leo. Que graças a Deus e por estar muito ocupado e preocupado com estratégias,

não desconfiava de nada.

- Estou me sentindo culpado por estar te deixando tão sozinha. – Jeziel

falou enroscado comigo no sofá.

- Eu estou bem.

- Estou vendo que esta, mas isso também esta me preocupando.

- Por quê? – perguntei cismada. Ele estaria desconfiando de alguma

coisa?

- Temo que você já esteja se acostumando a ficar sem mim.

- Só estou te deixando em paz para que você possa fazer o que precisa

para podermos ficar juntos novamente. – E eu também – Pensei.

- Isso tudo vai acabar logo. Pois não suporto mais ficar tanto tempo longe

de você. – me disse me apertando mais em seus braços.

Fiquei aliviada ele não desconfiava de nada.

Noutro dia pela manha, Quando já estava pronta para ir a ilha, uma batida

impaciente na porta me assustou. Eu não precisava ver para saber que era Vogue. Com

certeza Leo devia tê-la escalado como minha babá novamente. Ele estava incomodado

com minha aparente falta de companhia.

Outra batida impaciente e irritada. Eu não iria abrir a porta. Ela que

deslocasse o pulso de tanta insistência. Se consegui a colaboração dela daquela vez,

hoje poderia ter a mesma sorte.

Fechei a porta do quarto, coloquei a mochila nas costas e com a chave do

portal que me levaria até Aragorn na mão, em segundos já estava na ilha marfim.

Quando a luz parou de ofuscar minhas vistas. Aragorn estava saindo de

um mergulho no mar de águas cristalinas de Andaluz.

- Vejo que minha amiga veio preparada hoje. E mais descansada. –

Aragorn me falou num tom relaxado - Uma boa noite de sono?

- Mais ou menos.

Ele me olhou.

- E porque mais ou menos?

- É difícil dormir tranquilamente com todos os problemas para resolver.

- Eu cantaria para você se estivesse ao seu lado. – Insinuou.

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Não quis comentar para não dar motivos para ele se chatear ou se animar

comigo.

Diante do meu silêncio Aragorn sorriu da própria piada.

- Então vamos começar nosso dia. Temos muita coisa para fazer.

A base do meu treinamento foi usar as técnicas que ele já havia me

passado incluindo o uso da coroa, que realmente facilitava muito. Ela me dava uma

visão melhor do que estava ao meu redor e ampliava minha destreza e força, eu podia

preparar com alguns segundos de antecedência um contra ataque ou um ataque

eficientemente. Duas semanas de treinamento intensivo tinha dado um grande efeito.

Horas a fio. Aragorn me treinou, se não fosse meu pedido de

misericórdia, mais uns minutos e eu não poderia sequer mexer os braços.

- Da pra gente fazer outra coisa agora? Estou realmente cansada.

Ele baixou a espada compreensivamente.

- Tudo bem. Até porque não quero que você esteja exausta amanhã.

- Iremos Amanha?

- Acho que seja o melhor dia. Antes que seu Leo resolva entrar naquele

castelo.

- Como faremos?

- Nos aproximaremos o máximo que pudermos através de um portal, mas

teremos que andar um bom pedaço. Não quero que os soldados de Cordomad percebam

nossa chegada.

- Tudo bem. – Falei tentando me convencer de que eu estava preparada.

Um frio na barriga, aquela ansiedade de véspera me fez estremecer.

- Ei garota... Esta tudo bem. Você vai se sair muito bem. Confie em mim.

– As mãos de Aragorn pousaram sobre meus ombros. Eu nem havia percebido que

precisava de apoio até ele me segurar e eu sentir minhas pernas faltarem.

- Não é a primeira vez, certo, que você vai enfrentar um inimigo.

- Mas é a primeira pré-meditada. Isso é diferente. E assustador.

- Não pense nisso. Não pense em nada. Só pense no que esta te fazendo

lutar. Apesar de não gostar dela pessoalmente... Se é uma boa causa, você vai ver que

tem bastante força.

Eu sabia que Aragorn estava certo. Eu tinha uma boa causa. Proteger o

meu amor, meu Leo. Mesmo assim tive que me sentar no chão e controlar meus

pensamentos que insistiam em ser pessimistas provocando uma hiper-ventilação.

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Eu me imaginava lutando e sendo atingida por uma espada, minha cabeça

sendo cortada ou minhas entranhas sendo dilaceradas, algum membro sendo arrancado

de mim. Eu não estava me sentindo bem.

- Melissa, olhe para mim... Você pode. Você consegue. Você é mais forte

do que imagina. Eu já te vi lutar, e posso te dizer que me surpreendi. Você parece ser

tão vulnerável, com esse seu jeitinho delicado. Mas quando impunha uma espada ou

gira seu bastão... A Melissa que eu conheço se transforma de uma garota frágil para

Uma guerreira de verdade.

As palavras de Aragorn estavam me acalmando, e mais, estava me dando

confiança. Ele acreditava em mim. Ele confiava que eu era capaz de fazer algo além de

beicinho. Isso era bom. Comecei a me senti segura e a hiper-ventilação estava passando.

Ele sorriu pra mim.

- Vem, vamos comer alguma coisa. – Aragorn me ergueu do chão me

conduzindo até sua casa.

Já mais tranqüila dentro de casa, era bom estar ali. Sem supervisão, sem

olhares curiosos, sem reverencias. Nem aparências. Confortável.

Aragorn exercitava sua memória me lembrando de alguns episódios

engraçados que passamos juntos. Eu sabia que ele fazia isso para me distrair das minhas

preocupações. Como da vez que ele tentou me ensinar a caçar e eu corri por toda a

floresta atrás de uma ave que se assemelhava muito com uma galinha japonesa com toda

aquela penugem branquinha, só que mais redondinha. E que também não voava.

- ...E quando finalmente conseguiu encurralá-la – Ele falava entre risos –

Você ficou com pena dela e quis levá-la pra casa. Ao invés de matá-la você deu água

julgando que ela estivesse cansada de correr por tanto tempo – Risos – E comida - Mais

risos – Aquele bicho nos seguiu durante dias. Pensei que teria que caçar para nós três.

- Ah não tem graça... Quando ela me olhou com aqueles olhinhos

redondinhos e assustados... Não tinha como assar uma criaturinha tão fofinha. – Me

justifiquei.

- Então eu desisti de te ensinar a caçar, mas a cara de choro que você

fazia toda vez que eu chegava com o nosso jantar era de cortar o coração.

Eu nem sabia que ele reparava nisso.

- É. Mas eu sempre comia sua caça. Sem reclamar.

Ele me olhou pensativo.

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- Parece que faz tanto tempo. E quanta coisa mudou. Nessa época eu

pensava que teria que cuidar de você para sempre. Você sozinha neste mundo, indefesa

e confusa. Eu estava feliz com a idéia.

- Mas você teve a sorte de se livrar de mim e pode levar sua vida

tranqüila nessa ilha paradisíaca. – Falei para mudar a tensão que estava se formando na

conversa.

Ele percebeu. E imitou meu gesto.

- Nem tanto. De vez em quando aparece alguém doida por aqui tentando

se matar e eu tenho que interferir. Bem não estou me referindo especificamente a você

garota.

- Ah, claro que não. Até parece que mais alguém além de mim veio até

essa ilha.

Ele me olhou disfarçando algo.

- Quer nadar um pouco?

- Quem? – Perguntei logo que percebi ele querendo mudar de assunto.

Ele tentou desconversar novamente, mas meu olhar em cima dele fez

com que ele finalmente falasse.

- Eu fui visitar Erzoul, e Lariana pediu para que a trouxesse aqui para

conhecer a ilha.

- Conhecer a ilha? – Falei desconfiada.

- É.

- E vocês dois... Estão... Juntos? Resolveram então tentar de novo?

- Não diria juntos. Mas estamos tentando.

Eu era realmente possessiva. Ele percebeu a diferença do meu humor na

minha face.

- Ficou incomodada?

- Claro que não. O que eu tenho a ver com isso? Vocês são adultos... E,

podem... Fazer o que quiserem.

Seus lábios contraídos me deram a impressão de que ele estava

reprimindo um riso. Mas seus olhos estavam brilhando de satisfação. Com certeza ele

estava feliz em ver minha reação.

Tentei disfarçar.

- Quantas vezes ela veio ate aqui conhecer a ilha?

- Algumas.

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- Algumas quantas? Se ela vem tanto aqui porque não a encontrei ainda?

– Ele devia estar falando para me provocar.

- Ela vem sempre à noite. Porque tanto interesse? Gostaria que eu

marcasse um encontro para você com ela? Nem achei que vocês tivessem se dado tão

bem. – Ele estava se divertindo.

- Não... É... Por nada. Quer dizer que ela vem à noite. Ainda vai voltar?

- Espero que sim.

- Espera?! – Minha voz saiu profundamente desiludida.

- Melissa, você não esperava que eu ficasse aqui morrendo de amor por

você?

Não sei o que eu esperava.

- Claro que não Aragorn. Me desculpe por me meter na sua vida. Quero

que seja feliz. De verdade.

- Eu estou fazendo o que posso para que você fique bem e feliz garota.

- Eu sei. Ninguém poderia ter um melhor amigo que você.

- É isso que você espera de mim e tenho me esforçado para honrar o

titulo de melhor amigo.

- Bem amigo, preciso ir. Daqui a pouco anoitece, e Leo vai chegar logo.

Preciso estar lá para recebê-lo. – Era melhor esquecer o que tinha ouvido. Mas não

estava nada satisfeita.

- Amanha é o grande dia. Descanse bem essa noite.

- Vou tentar, é meio difícil com Leo. Ele chega sempre com muitas

saudades e passa a noite toda me paparicando e sempre quer me levar para algum lugar

deserto para ficarmos a sós... Sabe como é. – Estava tagarelando e não sabia por que

estava dizendo essas coisas. – Sabia sim – Queria provocar Aragorn.

- Até amanha Melissa – agora ele estava sem humor.

- Se Lariana vier... Hoje, mande lembranças. – Dei um sorriso amarelo,

me levantei e andei ate o lado de fora da casa.

Com outro sorriso amarelo me despedi de Aragorn segurando a pedra

chave para em poucos segundos me ver dentro do meu quarto novamente.

Lariana e Aragorn? Era só o que me faltava. – pensei descontente assim

que estava em meu quarto novamente.

- Então é assim que você esta dando uma volta? – Me sobressaltei ao

ouvir a voz acusadora de Vogue deitada na minha cama.

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Ela estava deitada ali com uma cara de poucos amigos.

- A cama é bem confortável, mas passar todo o dia aqui foi bem

entediante. - Ela se levantou e me encarou. – A onde você passou o dia?... Minha

senhora...

- Primeiro eu não sou sua senhora e depois não é da sua conta. – Falei

ranzinza.

- É sim. Principalmente se fui designada para vigiar cada passo seu.

- E quem te colocou como minha vigia?

- Seu pai e seu namorado que se preocupam muito com você.

- Sei me cuidar sozinha. Como você vê estou inteirinha. Não preciso de

você.

- Quem vai decidir isso são os que me deram as ordens. Vamos ver o que

eles pensam a respeito de seus passeios fora do arraial. E esse portal não é muito

comum. Ele é forjada através do calor da própria luz de quem a presenteia, para levá-la

diretamente a ela. Uma chave dessas é confeccionada em casos especiais. De mãe para

filhos ou de casais apaixonados. Você não tem filhos e sua mãe nem sabe que você esta

aqui... Só posso supor que seja a segunda opção.

- Essa chave me leva a um amigo.

- Muito especial pelo jeito. Seria seu amigo Aragorn? Acho que Jeziel

não vai gostar disso.

- Você não vai contar a ele.

- Não vou?! Me calei daquela vez porque imaginei que você estivesse

realmente dando umas voltas pelo arraial sem querer minha companhia. Mas você esta

saindo para se encontrar com Aragorn. Isso eu não posso esconder.

- Eu não fui me encontrar com ele.

- Não?!

- Não da forma como esta insinuando. Eu fui realmente vê-lo, mas foi

para lhe pedir ajuda. Ele foi o único que teve contato com a profetisa Tamala desde que

ela foi aprisionada e ele poderia ajudar a encontrá-la sem colocar Jeziel em risco. Eu

não posso permitir que ele se arrisque.

- E porque não falou isso a ele?

- Ele não quer ajuda de Aragorn, acho que sente ciúmes, não sei, mas eu

tinha que fazer alguma coisa e assim que Aragorn entrar em contato novamente com

Tamala, eu poderei falar a ele e tudo será mais fácil.

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- Me desculpe ter pensado mal de você. Mas de qualquer forma terei que

contar a ele. Pois é você que esta se colocando em risco para ajudá-lo.

- Por favor Vogue – supliquei - Não conte nada agora. Eu não estou

correndo nenhum risco. Na ilha de Aragorn não há acesso. Os soldados nem mesmo o

próprio Cordomad não podem me encontrar lá.

- Não posso fazer isso. Se alguma coisa acontece com você. Eles jamais

me perdoariam por ter guardado esse segredo.

- Por favor... – insisti - Então me de só mais um dia. Amanhã Aragorn vai

conseguir fazer contato. E eu vou conseguir a localização exata de Tamala. Se Jeziel

souber vai me amarrar pessoalmente no pé da cama. Ou me colocar para dormir por

uma semana. E não poderei ajudá-lo.

Ela me olhou desconfiada.

- Não sei...- hesitou.

- Só mais um dia. Vai ser bom para todos nós.

Eu tinha que convencê-la. Amanhã seria o grande dia. Quando eu

voltasse para casa voltaria com a resposta que poderia mudar a estratégia de Leo entrar

sozinho naquele castelo. Eu sabia que era muito arriscado para ele. E estava me

empenhando e colocando sim minha própria vida em risco para que ele não precisasse ir

até lá. Estava confiante que daria tudo certo. Eu sabia que Aragorn não deixaria que

nenhum mal me acontecesse.

Vogue andou de um lado para o outro pensativa. Fiquei ansiosa olhando

seu rosto que se retorcia em dúvida, medo e angustia procurando em sua mente a forma

mais certa de agir. Mas eu sabia que ela se importava com o futuro de Andaluz e com a

segurança de seu futuro rei.

- Esta bem. Só mais um dia. Mas se amanhã essa resposta não vier,

acabaram-se seus passeios até a ilha marfim. Esta bem?

- Claro. O que você quiser. – Exclamei aliviada.

Eu poderia até dar um abraço nela se eu não gostasse dela tão pouco.

- Que tal você tirar essa sua roupa de guerreira enquanto eles não

chegam. Ou vai dar motivos para perguntas.

Ela tinha razão. Eu precisava me vestir com outra coisa.

Vogue saiu do quarto me dando liberdade para um banho e para

organizar meus pensamentos. Ela teria que manter sua promessa de não falar nada a

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Jeziel, e eu teria que conseguir a todo o custo a localização de Tamala. Aragorn me

garantiu que iria dar tudo certo e eu estava contando com isso.

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CAPÍTULO 5

Uma hora depois Leo chegou, acompanhado do general Euri. A face

dos dois estavam preocupadas. O general mal me cumprimentou e passou rapidamente

para seu escritório. Leo me deu um beijo suave nos lábios e me pediu um tempo para

tomar banho. O comportamento dos dois me deixou preocupada. Vogue se despediu, me

lembrando que amanhã cedo estaria de volta para me esperar. E eu me sentei na sala

esperando por Leo.

Enquanto ele tomava banho, eu gastei o tempo focalizando os motivos

que teriam deixado Leo e o general daquele jeito. Como ele estava demorando resolvi ir

até o escritório do general ver se descobria alguma coisa.

Três batidas leve na porta e ouvi a voz grave do general me convidar.

- Entre Melissa. – Até a voz dele estava carregada de preocupação.

Uma mesa de madeira rústica estava coberta de papeis e mapas abertos.

Deviam ser os planos de guerra. O escritório dele era todo em materiais rústicos e as

paredes cobertas de armas medievais. Somente uma foto antiga de minha mãe num

quadro pendurado na parede por trás da cabeça dele diferenciava aquele lugar de uma

sala de tortura. Ele percebeu meu espanto.

- Essas armas são uma coleção particular. Algumas trouxe comigo da sua

dimensão.

- O que esta acontecendo general? Porque estão tão preocupados?

- Bem. – Ele ergueu o corpo de sobre a mesa entrelaçando os dedos das

mãos – Nosso cronômetro esta correndo e nosso tempo diminuindo. Cordomad esta

ganhando mais terreno e destruindo muitos aliados nossos. Hoje mais um exército foi

dizimado. E é provável que logo ele consiga chegar até aqui.

Olhei para ele assustada.

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- Jeziel não pode esperar mais. Ele terá que entrar no castelo e tentar

resgatar Tamala. Amanhã.

- Não! – Gritei - Ele não pode. Não amanhã. Amanhã eu vou... - O

general me olhou desconfiado. Achei que ele pudesse ter captado algo e logo tentei

concertar a situação. – Eu tinha preparado um passeio amanhã... Especial... Para nós

dois.

Ele sorriu com certeza me achando bem fútil. Deve ter aceitado a

mentira.

- Você vai ter que deixar esse passeio especial para outro dia. – Ele me

olhou reprimindo um sorriso nos lábios que me lembrava Biel. – Ou você pode adiantá-

lo para hoje. Sei que Jeziel quer mesmo ter um tempo especial com você esta noite.

Se ele estava sorrindo devia ser algo que eu iria gostar e Leo devia ter

contado a ele. Mas seu sorriso durou pouco. A preocupação estava mais evidente em seu

rosto. Logo ele curvou a cabeça e voltou a ler e a marcar os papeis que estavam sobre a

mesa.

- Oi meu Mel – A voz suave de Jeziel sussurrando por trás de em minha

orelha fez meu corpo tremer.

Quando me virei, o olhar iluminado e o sorriso deslumbrante naquele

rosto tão perfeito me chocaram. Como se eu o visse pela primeira vez. Pela resposta do

meu coração eu sabia que jamais me acostumaria, jamais ver seu rosto seria um lugar

comum para mim. Num impulso o abracei. Para que aquele ser que mais parecia fruto

de minha imaginação não pudesse fugir. Como se minha mente fosse tão criativa assim.

- Você esta forte – Ele protestou diante do meu abraço apertado. – O que

andou fazendo, se exercitando?

- Desculpe. – Afrouxei meus braços e já ia o soltando. O treinamento de

Aragorn realmente exercitava meus músculos.

- Não, não me solte. Basta que não me sufoque. – Ele riu.

Eu amava o senso de humor dele.

- O General me disse que você queria ter um tempo especial comigo

hoje. – Falei empolgada.

- É verdade. Planejei algo especial e espero que goste.

- Estou ansiosa.

- General. – Leo se despediu do general que estava absorto em seus

papeis.

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- Ah! Claro meus filhos, saiam e divirtam-se. – Ele estava muito distraído

em seus planos.

Saímos, mas não fomos muito longe. Ele estava com algumas pedras nas

mãos e eu já sabia do que se tratava. A chave de um portal.

- Vai me levar para fora do arraial hoje?

- Falei que era especial. Você deve estar cansada da mesma paisagem de

sempre. E não há perigo algum onde vou te levar. Seu pai e eu esta tarde conferimos o

local. Estaremos seguros.

Leo abriu a mão que retinha as pequenas pedrinhas e elas flutuaram no ar

num sentido giratório cada uma servindo de sustento gravitacional para a outra. Logo

que a velocidade aumentou a ponto das cinco pedrinhas se tornarem um aro de luz no

ar. O espaço central delas se expandiu e o portal se abriu. Leo me puxou pela mão e

atravessamos o portal chegando no alto de uma montanha iluminada pela lua que estava

caprichosamente maior esta noite. No alto daquela montanha imaginei ser possível tocá-

la. Uma lua cheia em Andaluz.

Além da lua enorme e clara que fazia com que o colar de Leo em minha

pele se iluminasse, percebi que Leo havia dedicado tempo para essa noite ser especial.

Um tapete branco de pelos e bastante felpudo estava colocado no cume da montanha ao

lado de uma mesa preparada com jantar a luz de velas. Não que as velas fossem

necessárias com a claridade da lua, mas estava tudo muito lindo e romântico.

Olhei para ele sorridente e ele me parecia um pouco nervoso. Ou ansioso.

Ao ver seu rosto a ansiedade me cutucou também. Ele não teria se dado

ao trabalho de preparar tudo se fosse somente um jantar a luz de velas. Eu sabia que

algo realmente grande iria acontecer esta noite e um frio na espinha unido a um suor frio

nas mãos me pegou de surpresa.

Aquele tapete felpudo repleto de pequenas almofadas redondas era muito

sugestivo. Minha mente, bloqueada a ele, começo a ter um milhão de ideias, uma porção

de possibilidades e de acontecimentos sobre aquelas almofadas. E uma idéia em

particular estava me deixando bem nervosa: Nossa primeira noite de amor.

Uma alegria e um medo do desconhecido estavam me deixando meio

travada. Quantas noites eu sonhei em me entregar por completo a Leo, o amor da minha

vida. Quantas vezes esperei por isso. E agora esta noite, tudo aconteceria. Leo não devia

ter feito surpresa. Eu queria ter me preparado emocionalmente, e quem sabe ter vestido

algo mais sexy, mas a surpresa dele realmente me pegou de surpresa.

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Eu sabia que tinha forçado a barra algumas vezes, e ele sempre dava um

jeito de escapulir. Talvez ele imaginasse que eu já estava mais que preparada, mas nesse

momento eu realmente não me sentia pronta. Eu estava com medo.

- O que foi amor? Você esta tensa. – Ele notou a mudança do meu

espírito.

- Nada... É só a surpresa. Tudo esta muito lindo – disfarcei a ansiedade.

- Pra você. – Ele estendeu a mão me apontando a mesa.

Caminhei um pouco zonza e com as pernas meio bambas até a cadeira e

me sentei.

- Mel, o que você tem? Se não estiver se sentindo bem podemos ir

embora. Agente vem cá outro dia.

- Não. – Falei histérica pigarreei um pouco pra controlar a voz. – Estou

bem. Mesmo. De verdade. Estou bem. – Eu falava mais para convencer a mim mesma

do que a ele.

Leo se sentou do outro lado e jantamos tranquilamente. Bem, nem tão

tranquilamente porque devido a minha ansiedade a comida mal passava pela minha

garganta. Comi bem de vagar e Leo também não parecia com muita pressa para comer.

Ambos estávamos ansiosos e nervosos.

Quando nosso jantar acabou Leo me conduziu ao tapete de peles branco.

No caminho até lá minhas pernas bambearam umas duas vezes, mas Leo parecia se

sentir mais seguro a cada passo. Ao nos acomodarmos sobre o tapete ficamos por um

bom tempo em silêncio admirado a lua. Leo me sustentava escorada a seu corpo e eu

pude perceber quando seu coração se acelerou. Aquilo era novidade para mim, Leo era

sempre tão controlado e seguro. A ansiedade voltou a emanar do corpo dele quando ele

se movimentou para me dar um beijo.

É agora. – Pensei – Tudo vai acontecer. Esperei tanto por isso não é

lógico todo esse nervosismo, todo esse medo. É meu Leo. Que eu amo. Minha vida já é

dele. Meu coração, cada um dos meus pensamentos a força em minha alma. Agora meu

corpo seria dele. Como tem que ser.

Fechei meus olhos e me entreguei a seu beijo. Carinhosamente ele

acariciou meu rosto enquanto me beijava. Sua mão percorreu a decida por meu pescoço

e meu ombro passeando por meu braço e cada lugar por onde sua mão passava uma

força magnética que vinha de seu toque me deixava sem ar. Quando sua mão alcançou a

minha ele afastou seus lábios dos meus esperando que eu abrisse meus olhos e foi o que

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fiz. Ao encontrar os dele tive que piscar algumas vezes para que meus olhos que agora

ardiam pudessem encontrar um foco. Por ver o sorriso que ele colocou nos lábios,

percebi que ele estava muito satisfeito em ver que meus olhos brilhavam como os dele.

- Mel. – Ele se movimentou se colocando de frente a mim. – Você sabe

que te amo. Você sabe que minha vida já pertence a você. Meu coração, cada um dos

meus pensamentos, minha alma, pertence a você... – Me pareceu que ele tinha lido meus

pensamentos, mas não tinha como, eu o estava mantendo bloqueado. - ...E eu esperei

muito tempo por esse momento. Quantas vezes eu sonhei com esse dia. – Ele estava

copiando meus pensamentos novamente. - Estou um pouco nervoso. Você deve ter

notado, mas é porque é um dia muito especial para mim. E quero que seja um dos dias

mais especiais da sua vida também.

Eu o olhava com certeza com cara de boba sem conseguir pronunciar

nem uma palavra. Eu queria falar algo, eu sabia que ele estava esperando ouvir algo de

mim, mas eu estava travada.

- Você esta nervosa?

- Um pouco. – Admiti.

- Eu também.

- Mesmo nervosa eu te amo. – Falei finalmente.

O sorriso dele me desconcertou. Como um homem lindo desse jeito

poderia estar nervoso por estar comigo?

- Eu pretendia que esse dia fosse mais pra frente, depois de algumas

coisas resolvidas, mas mediante a minha ida amanhã ao castelo não quis adiar mais.

Pois quero entrar naquele castelo com um motivo a mais para conseguir sair de lá.

Meu coração saltou angustiado.

- Não se preocupe. Tudo vai sair bem. Eu só estou adiantando esse dia

porque quero entrar mais feliz naquele lugar que já estou.

- Não quero que você vá. – falei me esquecendo de todo o resto e me

preocupando somente com a vida dele.

- Eu preciso.

- Espere mais alguns dias. – eu realmente precisava que ele não saísse

amanhã para o castelo antes de eu voltar de Aragorn com a resposta.

- Cada segundo que passa Cordomad avança. Temos que detê-lo o mais

rápido possível.

- Leo por favor... – Falei angustiada.

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Ele colocou o dedo nos meus lábios me fazendo calar.

- Shhhh!!! Não vim aqui para falar sobre isso. Tenho algo muito mais

importante para fazer agora.

Seus lábios substituíram o seu dedo, e de uma forma ardente ele me

beijou. Eu ainda estava preocupada. Como ele poderia pensar em... Outra coisa, se ele

iria se arriscar tanto amanhã.

Mas sua boca estava tão quente e meu coração tão acelerado, que me

decidi a deixar as preocupações de lado e viver cada segundo daquela noite com meu

Leo. Independente do que acontecesse amanhã hoje é que era nosso momento especial.

E eu iria vive-lo.

Leo se afastou de mim novamente parando seu rosto a centímetros do

meu. Ele colocou a mão no bolso e retirou de lá algo pequeno que ele fechou na palma

de sua mão. Olhei curiosa para a mão dele em punho e fiquei imaginando o que seria.

- Melissa – Ele chamou minha atenção para seu rosto. – Eu nasci para te

amar. E você nasceu para ser minha. Não existe nada em todo o universo que eu deseje

mais do que ter você para mim... Pra sempre. E com todos os poderem que tenho, você é

a única que tem o poder de me dar o que eu necessito pra viver. E nesta noite sob essa

lua como testemunha, sob as estrelas desse céu eu preciso que você use do poder que

tem para me fazer o homem mais feliz de todo o universo.

Ele se afastou alguns centímetros e ergueu o objeto pequeno que estava

em sua mão, mas meu foco estava em seus olhos brilhantes iluminados pela lua.

- Melissa, quer se casar comigo?

Quando ouvi suas palavras aí sim olhei para o pequeno objeto que ele

mantinha entre seus dedos. Uma aliança dourada tecida perfeitamente em fios de ouro

um se entrelaçando ao outro como se um dependesse do outro para existir.

Ele escolheu a aliança perfeita que tinha tudo a ver com nosso amor.

Duas vidas total e completamente dependente uma da outra. Os traços daquela aliança

não eram aleatórios eram a trama de nossas vidas.

Uma emoção tão forte chocou meu coração e meus sentidos. Meus olhos

agora olhavam embaçados para aquele pequeno circulo dourado nos dedos de Leo. Por

causa das lágrimas que surgiram involuntariamente. Voltei meus olhos para os dele que

esperavam ansiosos pela minha resposta.

Não estava de frente a um espelho mais podia sentir meu rosto em estado

de choque. Me esqueci como se falava. Uma bola enorme estava bloqueando a

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passagem das palavras pela minha garganta. E com minha demora em responder seu

sorriso foi diminuindo. Os olhos dele entristecendo-se diante dos meus me deixando

angustiada. Como ele ainda poderia pensar... Como poderia passar pela cabeça dele que

eu teria outra resposta para dizer que não fosse um sonoro...

- Sim... Sim, sim, sim, meu amor... Minha vida. Quero me casar com

você. – As palavras saíram tão apressadas da minha boca que eu quase me atropelava

nelas.

O sorriso dele voltou a brilhar em seu rosto.

Agora que consegui falar não conseguia mais parar. Então continuei.

– Eu quero estar com você para sempre. Lado a lado todos os dias. Cada

minuto e segundo da minha vida. Ficar velhinha ao seu lado e de cabelos brancos e você

também velhinho ao meu lado e nós dois juntos para sempre – Eu estava tagarelando.

- Já entendi – Ele falou reprimindo um riso – Obrigado por aceitar. Você

me deu um susto é verdade, mas já estou convencido.

Eu estava histérica, eufórica, nervosa... Leo notou. Eu estava fazendo

papel de boba pra variar, no nosso momento especial. Ele não pareceu se incomodar

com meu ataque.

Então era esta a ocasião? Ele me trouxera aqui para me pedir em

casamento. E eu com cada idéia na cabeça...

Leo segurou minha mão direita e delicadamente escorregou a aliança

mais perfeita pelo meu dedo. Enquanto ele concentrado fazia isso eu reorganizava meus

pensamentos e minhas emoções.

- Agora Melissa, você é minha noiva. E espero que por bem pouco

tempo. - Olhei para ele confusa. Meu cérebro ainda não estava funcionado bem. – Logo

quero poder te chamar de minha esposa.

Ele deu um beijo em minha mão sobre a aliança e uni minhas mãos em

seu rosto o puxando para mim. Para mais um beijo apaixonado.

De volta a casa do general, em meu quarto, ergui a mão para cima

enquanto me jogava de costas sobre a cama. Leo foi se deitar em seu quarto, o general

já estava dormindo, e eu fiquei devaneando observando a aliança. Eu estava tão feliz

que devia ser um crime. Ninguém tinha o direito de se sentir tão feliz dessa maneira.

Mas eu estava. Ele dissera que eu o transformaria no homem mais feliz do universo.

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Mas ele é quem tinha feito isso comigo. Eu me sentia a mulher mais feliz... Mais feliz...

Muito mais do que feliz, de todo o universo.

Tá. Eu estava feliz demais para ficar sozinha.

Saí sorrateiramente do meu quarto tentando não fazer barulho e não

acordar o general, e me esgueirei até a porta do quarto de Leo. Vagarosamente abri a

porta e entrei com cuidado no escuro até chegar a sua cama e me aconchegar em seus

braços. Ele já estava dormindo profundamente, e instintivamente me abraçou. – fiquei

contente por ele não acordar - E eu ali dormi encerrando um dos dias mais felizes da

minha vida. Faltava muito pouco agora para Leo e eu estarmos definitivamente juntos

para sempre.

Por toda a noite sonhei com meu casamento. Eu vestida de noiva, flores

por todos os lados, um orquestra tocando a marcha nupcial e Leo no altar me esperando.

Quando abri meus olhos e vi que Leo ainda dormia ao meu lado me lembrei que daqui a

pouco ele iria se levantar para colocar sua vida em perigo. Como eu poderia permitir

isso? ou melhor, como eu poderia impedir?

Tive uma idéia motivada pelo sonho. Se desse certo eu poderia ganhar

mais tempo com Leo fora daquele castelo.

Aproveitei enquanto ele dormia e projetei cada palavra do meu plano.

Tinha que funcionar. E usando inescrupulosamente do amor de Leo por mim, eu poderia

conseguir o que queria. Podia não ser emocionalmente correto. Mas essa era a única

arma que eu tinha em mãos. Precisava usá-la.

Quando ele finalmente abriu os olhos eu estava sentada de pernas

cruzadas sobre a cama olhando para ele.

- Minha linda noiva. Acordou cedo hoje... – seu sono profundo não

deixou que ele soubesse que dormi ao seu lado.

Dei um sorriso forçado e simulando estar entristecida para ele. Fazia

parte do plano.

- O que foi meu amor? – Ele perguntou preocupado diante da minha

tristeza.

- Nada. Falei com a voz embargada.

- Nada não pode ser, você não estaria com essa voz por nada. – Ele se

sentou na cama me olhando preocupado.

- É porque eu sonhei com você.

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- Me desculpe, deitei-me cansado demais para participar desse sonho

com você. Não quer me contar o que houve?

- Sonhei com nosso casamento. Foi tudo tão lindo.

- E não era para você estar feliz então?

- Não quero mais ser sua noiva. – Falei decidida.

- O que?! – Ele agora estava assustado. Meu plano estava funcionado.

- Você mesmo disse que queria que fosse por pouco tempo... Eu também

quero.

Ele me olhou confuso.

- Quero me casar com você agora.

Primeiro ele me olhou absorvendo a informação e depois soltou uma

gargalhada me abraçando.

- Tudo isso por causa de um sonho?

- Não. É pela sua ida aquele castelo. Não sei o que te aguarda lá. Mais sei

que Raika continua morando no castelo. E se ela conseguir colocar as mãos em você,

tenho medo que ela te enfeitice de novo.

- Antes dela tocar em mim, arranco-lhe o braço. – Ele falou com ódio na

voz.

- Mas você corre esse risco. E eu me sentirei mais segura se já estiver

casada com você.

- Mas Mel. Não podemos nos casar hoje, agora... Isso é impossível. – Ele

estava caindo direitinho.

- Porque impossível? Arrumamos um pastor, um juiz, ou um capitão de

algum navio que possa nos casar...

- Mel, você não quer uma festa como toda noiva... Não quer sua família

presente... Convidados? Eu estava planejando voltar a sua dimensão primeiro e buscar

sua mãe e seu irmão.

- Minha família não esta aqui, não faço questão de festa. Quero você e

ponto final.

- Não estou te entendendo. – Ele falou cismado.

- Somente case-se comigo. – Reforcei.

- agora?

- Sim, agora mesmo.

- O que você esta tramando? – Ele estava desconfiado.

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- Eu só quero que você, ao invés de ir ao castelo hoje, case-se comigo e

depois da nossa lua de mel você vai resgatar Tamala.

- Por quê?

- Porque eu sei que nossa união te tornara mais forte quando estivermos

em plena união, então será mais fácil derrotar Cordomad. Não é assim que acontece?

Quando um casal se une... quando eles fazem amor seus dons são passados de um para o

outro numa união perfeita entre alma espírito e corpo?

- Não quero que nosso amor seja usado para isso. Nossa força se

aumentara sim, mas não quero usá-lo como arma de guerra.

- E qual o problema se nós nos amamos e queremos ficar juntos, só

estaremos abreviando esse dia. Não será uma arma de guerra apesar de ser muito útil

para você.

- Não. – Falou determinado.

- Não vai se casar comigo?

- Não agora. Não por essa razão.

Eu estava perdendo terreno. E me desesperando. Eu nunca conseguira

mesmo fazer com que Jeziel me dissesse sim em algo que ele não queria. Mas eu tinha

que conseguir, dessa vez eu tinha que conseguir.

- Tudo bem... Não precisa se casar comigo, mas você me ama e eu te

amo. Não há nada que impeça de nos unirmos ainda mais e te acrescentara força e poder

do mesmo jeito.

- Do que você esta falando?

Agarrei seu rosto e me atirei sobre ele o beijando fervorosamente. Ele

meio que retribuía e meio que tentava entender o que eu estava fazendo. Como ele

estava meio lento para perceber onde eu queria chegar o que não era de seu costume,

entre seus lábios quis me fazer entender, empurrei seu peito para que ele se deitasse

enquanto eu me colocava sobre ele para o dominar.

- Me ame.

- Eu amo você – Ele falou meio aturdido.

Tentei arrancar sua camisa abrindo ferozmente seus botões

- Eu disse me ame Leo. Me possua. Quero ser sua agora.

Eu quase pude ouvir o estalo em sua mente. Enquanto ele estava num

momento de choque e confusão, aproveitei para puxar meu vestido por cima da minha

cabeça.

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Semi nua sobre seu corpo, Leo teve que piscar rápido e várias vezes para

acreditar no que estava vendo e no que eu estava fazendo.

Eu também não estava acreditando.

Ele olhou para meu corpo sentado sobre o dele e teve que respirar de

boca aberta para oxigenar o cérebro. Seus olhos pararam em mim por alguns segundo o

que me pareceram horas esperando sua reação. Eu não tinha nenhuma experiência

nesses assuntos, mas já tinha aprendido a interpretar o olhar de Leo quando ele me

desejava. E agora ele me olhava assim.

Suas mãos deslizaram por minhas pernas e num golpe ele me jogou sobre

a cama invertendo nossas posições. Pensei mesmo que tinha conseguido dessa vez pela

forma em que Leo me olhava e me segurava respirando irregularmente.

Mas ele tinha outros planos quando me deitou sob seu corpo. O lençol da

cama se amarrou em meu corpo pelo poder da mente de Leo enquanto ele segurava

minhas mãos.

- O que pensa que esta fazendo?! – Ele gritou irritado se afastando da

cama.

Quando ele falou naquele tom eu me senti tão constrangida que queria

enfiar minha cabeça num buraco. A vergonha chegou ainda que atrasada e vendo ele me

olhar chocado e repreendendo-me, comecei a chorar.

Nunca em toda a minha vida eu tinha feito algo semelhante. Sempre tão

recatada e casta. Mas eu estava desesperada. E de vergonha de medo e de desespero

meu choro só aumentou.

Leo agora me olhava preocupado, mas ainda mantinha distância de mim.

- Desculpe-me, eu não queria gritar com você. – Sua voz estava mais

calma - Mas você me assustou.

Eu estava morrendo de vergonha do que tinha feito, mas não podia perder

o foco. Eu tinha agido daquela forma para impedir de qualquer forma Leo de ir até

aquele castelo. Era um plano e tinha que funcionar.

- Você não me deseja. Eu já havia percebido isso em todas as vezes que

você me rejeita. Por isso não quer se casar comigo nem me amar agora. – Eu estava

exagerando bastante e usando de chantagem emocional também. Aproveitando as

lágrimas que caiam compulsivamente.

- Você sabe que isso não é verdade Melissa. – Ele estava irritado de

novo.

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- É verdade sim. - Me levantei da cama enrolada no lençol amarrado em

mim e teatralmente tentava arrancar a aliança do meu dedo. É claro que eu não faria

isso, mas minhas mãos tremiam tanto que ele não iria perceber que eu não estava

conseguindo de propósito.

- Você pode ficar com essa aliança. Eu não quero mais me casar com

você! – Falei alguns palavrões me dirigindo a aliança que falsamente não queria sair do

meu dedo. E Leo se aproximou. Ele me segurou pelos ombros tentando me conter.

O rosto dele estava tão angustiado que me senti um monstro por estar

fazendo aquilo com ele. Mas me sentiria pior se o visse caindo nas garras de Cordomad

sem ter feito nada para impedir. Eu não tinha força para amarrá-lo ou para prendê-lo em

algum lugar. Então teria que usar de outros métodos. Os métodos que toda mulher usa.

Choro, chilique, um punhado de palavras sem nexo e acusadoras ainda que não sejam

verdades para fazê-lo se sentir culpado até ceder a minha vontade.

- Mel, por favor, pare com isso. – A voz dele era de cortar o coração –

Tudo bem amor. Eu amo você. E te desejo. Não vou te magoar mais. Eu faço como

você quer.

De que parte ele estaria falando?

- Mas vamos fazer as coisas como tem que ser feitas. Como é o certo a se

fazer. Primeiro agente se casa.

Ah! Desta parte.

Parei de tentar fingidamente arrancar a aliança. Ele segurou minha mão e

a beijou por cima da aliança como fez no momento em que a colocou ali.

- Quando?

- Não pode ser hoje como você imagina. Temos que ter um mínimo

tempo para preparar a cerimônia.

- Quando? – exigi ainda com a voz chorosa.

- Já que esta com tanta pressa, podemos nos preparar para daqui a três

dias?

- E você não vai ao castelo até se casar comigo? – Não era uma pergunta

era uma exigência e condição. Ele entendeu bem.

- Não vou, mas terei que continuar com as visitas aos nossos aliados. Esta

bem? – Ele também estava fazendo suas exigências.

- Concordo. – Até porque ele não poderia estar por perto. Como eu me

encontraria com Aragorn?

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- Mas tem certeza que não vai se arrepender depois, Por não ter dado a

sua mãe e ao seu irmão o prazer de te ver casando? Eles que te amam tanto...

- Faremos uma segunda cerimônia para eles, se for o caso. – sugeri.

- Esta bem. – ele aceitou - Você esta ficando mais cabeça dura a cada dia.

Vitória afinal. Sei que não joguei limpo. Mas há jogos e jogos.

Maquiavelicamente falando.

Fiquei com raiva de mim. Mas era para o próprio bem de Jeziel.

Depois da discussão ficamos no quarto fazendo as pazes e foi bem em

um dos beijos de reconciliação que o general Euri abriu a porta sem bater e me flagrou

ainda enrolada no lençol e Leo com a camisa parcialmente destruída por minha revolta

contra os seus botões.

- O que esta acontecendo aqui?! – Ele falou com a cara ficando meio

roxa. Não era uma cena muito inocente para quem estava de fora. Eu tinha que admitir.

Leo se afastou de mim em questão de milésimos de segundos. Eu até

pensei que ele iria dizer o famoso clichê “Não é nada disso que o senhor esta

pensando” e Leo sabia literalmente o que ele estava pensando.

- Jeziel. Você é meu senhor e é o herdeiro do trono, futuro rei de

Andaluz... Mas ela é minha filha. Sei que será sua companheira, mas Melissa é minha

filha. Eu não posso admitir um comportamento desses.

Achei que ele estava ficando meio verde.

- Acalme-se general não é nada disso que o senhor esta pensando.

Ele falou o clichê.

Os dois se calaram e ficaram se encarando. Leo desbloqueou sua mente

para que o general pudesse saber a verdade. Por um momento eu vi a cor verde de raiva

ir gradativamente sumindo do seu rosto. Mas de repente ele me olhou com os olhos

faiscando fogo. E seu rosto ficando roxo de novo. Não queria nem imaginar qual a cena

que ele vira que o provocou esse acesso. Será que Leo não poderia me poupar um pouco

mais. Já tinha passado minha cota de constrangimento por um dia. O olhar de ira do

general voltou para Leo me fazendo pensar que ele devia ter visto algo na mente de Leo

daquele momento que eu não pude ver.

- General a culpa é minha. – Pensei em me desculpar.

- Eu sei. E isso me faz refletir em que tipo de educação Eliana deu a

você. Isso não é um comportamento adequado.

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- Você não tem o direito de questionar a educação da minha mãe! Você

não estava lá, isso te isenta de quaisquer legalidade. – Falei revoltada.

- Não fale assim comigo mocinha. – Ele estava roxo de novo.

- Não fale você comigo Victor.

- Melissa! – Jeziel chamou minha atenção.

- Não! Ele tem que se colocar no lugar dele. Quem ele pensa que é para

se meter na minha vida, para falar da minha mãe! Ela lutou a vida inteira para criar a

mim e a meu irmão. Abriu mão da sua própria vida para fazer o papel que era dele

porque ele nos abandonou. Ela mal para em casa por causa do trabalho. Não tem tempo

para ela mesma ou para arrumar um namorado, para se divertir. Se matando em viagens

pela empresa. Ela passa mais tempo dentro de um avião do que com os pés em terra

para nos dar uma condição de vida melhor. E ele quer questionar a educação que ela me

deu?

Você não sabe nada. Não conhece ela não conhece minha família não

conhece a mim. Não tenho que dar explicações de meus comportamentos para você.

Você Victor pode ser muita coisa aqui em Andaluz um general respeitado, um guerreiro

poderoso, um bom estrategista. Mas para mim você não passa do Victor imprestável

pendurado em uma foto na parede da minha casa. Um nada. Para mim você é nada.

Saí do quarto sem olhar para ele ou para Leo e encontrei Vogue ao passar

pela sala. O olhar dela em mim reprovava meu comportamento. Mais uma que achava

que poderia me julgar.

Entrei para meu quarto batendo fortemente a porta dando o recado que

não queria ser incomodada. Eu estava muito nervosa, e descontrolada. Meus nervos a

flor da pele por causa de tudo que estava acontecendo. Eu numa dimensão estranha

longe da minha família. Leo que nunca tinha tempo para mim querendo se matar por

causa de uma desconhecida. Eu tendo que mentir e enganar o amor da minha vida para

salvá-lo... Essa tal Vogue no meu pé forçando uma amizade. Victor querendo agir como

um pai zeloso. Eu hoje iria enfrentar os soldados de Cordomad que com certeza não iria

me dar descanso e colocar a vida de Aragorn em risco também. Isso tudo estava prestes

a explodir dentro da minha cabeça.

A porta se abriu lentamente. Leo entrou fechando a porta atrás de si.

- Melissa o que esta acontecendo? Você não é assim...

- Talvez eu seja a partir de agora. Talvez eu sempre fui assim e não sabia.

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- Pare com isso amor. Você é a garota mais doce que eu já conheci. Meu

mel. Você só esta nervosa. E pelo jeito infeliz. – Ele se colocou em minha frente me

fitando com os olhos cuidadosos. – Não gosto de te ver assim. Nós vamos nos casar

daqui a três dias. Era para você estar feliz. Não era isso que você queria? Alguma coisa

a mais esta te perturbando. Se você me disser, eu posso te ajudar.

Abaixei meu rosto. Eu queria mesmo poder contar a ele que todo aquele

meu comportamento constrangedor foi para mantê-lo em segurança. Mas ele nunca

entenderia e jamais aceitaria e sairia com certeza correndo para o castelo.

Seus braços me envolveram e seu queixo pousou sobre minha cabeça.

- Você não me deixa mais participar de seus pensamentos. Não sei mais o

que se passa nessa sua cabecinha. Queria tanto que você ainda confiasse em mim.

Eu confiava nele. Ele devia saber disso. Eu é que não era de confiança.

Droga, agora eu o estava magoando.

- Eu amo você. – disse para confortá-lo.

- O amor nem sempre vem acompanhado da confiança. Ela tem que ser

conquistada e eu perdi a sua. - Ele suspirou – Às vezes acho que você confia mais

naquele seu amigo Aragorn do que em mim.

Não era verdade eu confiava nos dois. A diferença é que eu não precisava

esconder nada de Aragorn. Ele conhecia meus segredos e meus pensamentos e não iria

me impedir jamais de fazer o que eu queria ainda que ele não concordasse. Aragorn

respeitava a minha vontade e Leo super protetor me queria numa redoma de vidro

blindado para que nada me atingisse.

Aragorn não me achava tão frágil quanto ele achava. Até porque o

contexto da minha vida com Leo até ali fora diferente da que tive com Aragorn. Leo me

vira na cidade com dificuldade de fazer uma simples trilha sem tropeçar em cada pedra

do caminho e com medo de insetos e desmaiando a menor mudança de emoção.

Aragorn me vira passar noites e noites na floresta enfrentando animais, grandes

obstáculos e lutando contra o próprio Cordomad. Por mais que Leo soubesse disso a

obsessão dele pela minha segurança ainda era mais forte.

- Não. Não perdeu. Por favor, não me faça me sentir pior do que já estou.

- Não quero que se sinta mal. Só quero que me deixe te ajudar.

Eu o abracei mais forte.

- Você foi muito cruel com seu pai hoje. – Ele falava mansamente para

não provocar minha ira. Mas eu já estava cansada de brigar. Não reagi. – Ele só quer o

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seu bem. A reação dele foi a reação normal de um bom pai. Acho que ele só não voou

no meu pescoço por respeito ao meu pai. Você tinha que ver os pensamentos dele. Ele

estava completamente possesso por sua causa. Queria defender você. Defender a sua

honra. Se eu não tivesse deixado ele ver o que realmente tinha acontecido através de

meus pensamentos, provavelmente eu não conseguiria ter algum pensamento por vários

dias. – Seu corpo tremeu junto ao meu com o riso sufocado que ele deu. Ele conseguia

mesmo fazer piada de tudo.

- Me desculpe – Falei envergonhada.

- Você não deve desculpas a mim e sim a ele.

- Ah não, isso não.

- Isso sim. Até porque seu casamento é em três dias e você vai precisar

fazer as pazes com ele de qualquer maneira. Quem vai te levar ao altar para mim?

Eu podia pensar em meia dúzia de pessoas. Até no velho barbudo

irritante.

Leo não podia ver meu pensamento mais lia a expressão em meu rosto e

o que ele viu não lhe agradou em nada.

- Melissa. Não faça isso. Não tire isso dele. Ele tem esperado tanto por

esse dia como nós. Sei que esta zangada agora, mas quando essa raiva passar e você

compreender o sacrifício que seu pai fez por você, vai se arrepender de tê-lo privado

disso.

- Esta bem. – Falei para deixá-lo feliz. Não sei como Leo conseguia ainda

ter tanta paciência comigo.

- Agora quero que se arrume. Vogue vai levá-la a uma pessoa que vai

confeccionar seu vestido de noiva. E depois a alguns amigos que irão se responsabilizar

pelos preparativos do nosso casamento.

- Mais hoje?

- Sim você só tem três dias. Esqueceu? É muita coisa para organizar em

pouco tempo.

E agora como eu iria até Aragorn?

Vendo minha cara de angustia Leo sorriu.

- Você quem pediu. Minha parte eu fiz. Aceitei me casar com você o

mais rápido possível. Agora é sua vez de agir como noiva. Vestido, decoração, Buffet...

Tudo que um casamento exige. Mas não se preocupe Vogue vai te ajudar em tudo.

Vogue a garota chata. – Pensei.

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- O que foi Melissa porque essa cara agora?

- Não gosto dela. Garota metida e quer ser a dona da verdade.

Ele me olhou espantado.

– Isso é novidade para mim. Mas de qualquer forma é melhor ir se

acostumando com ela.

- Por quê?

- Algo me diz que vocês ainda vão passar muito tempo juntas. – Ele

sorriu com uma sobrancelha arqueada. Ele estava me escondendo algo.

Bufei irritada e ele me deu um beijo na testa.

- Aonde você vai?

- Não vou tentar invadir o castelo, se é isso que te preocupa. Vou sair

com seu pai para resolver algumas coisas e adiantar outras. Já que vou me casar, tenho

que garantir alguns dias de folga do trabalho para poder curtir minha lua de mel... Com

meu Mel. – O rosto dele estava tão lindo e radiante que eu paralisei em seu olhar

quando ele me deu uma piscadela. – Eu volto logo para ficar com você.

Eu mal podia acreditar. Iria mesmo me casar com o ser mais perfeito de

todo universo? Aquilo tudo seria meu em poucos dias? Se for um sonho, por favor não

me acordem.

Leo saiu pela porta. E rapidamente me vesti para sair. Não coloquei

minha roupa de gladiadora, guardei-a na mochila junto com a coroa e o restante das

coisas. Se eu teria que ir com Vogue até a tal mulher costureira não dava para ir

naqueles trajes e também não queria que ela desconfiasse que eu pretendia lutar.

Eu já tinha que pensar numa forma de me livra da metida da Vogue. Eu

iria com ela até a costureira para manter as aparências, mas depois eu teria que ir ate

Aragorn antes que ficasse muito tarde. Leo avisara que voltaria logo. Eu também teria

que estar de volta antes dele.

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CAPÍTULO 6

- Porque a mochila? – Perguntou Vogue no caminho até a costureira. –

Esta pretendendo fugir?

- Não vou fugir. Estou somente levando algumas coisas para Aragon.

- Essa não. Você vai até lá hoje?

- Preciso ir.

- Você esta maluca. Jeziel e o general voltarão logo.

- Serei rápida.

- Não posso permitir. Você vai acabar me complicando.

- Mas é hoje que Aragorn me dará a resposta sobre a localização de

Tamala.

- Você não precisa mais ter pressa. Conseguiu convencer Jeziel a se casar

com você à invadir o castelo. Isso te dá mais três dias sem contar com a lua de mel.

- E depois de casada quando você acha que eu vou poder sair e ver

Aragorn. Se hoje Jeziel coloca você como minha babá depois de casados ele colocara

todo o exército.

- Bem faz ele. Você dá mesmo muito trabalho.

Bufei irritada.

Chegamos a casa da costureira.

- Bom dia – Uma senhora simpática e bem afeiçoada nos recepcionou na

porta. – Eu aguardava a chegada de vocês. Meu senhor Jeziel esteve aqui poucos

minutos antes e me pediu que eu fizesse tudo conforme a vontade de minha senhora.

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Enquanto entravamos ela tagarelava sobre o privilégio de poder fazer

meu vestido... de me conhecer pessoalmente e blá, blá, blá... Eu não estava muito

interessada naquela conversa. Estava preocupada em como driblar a vigília de Vogue

assim que eu saísse dali.

Eu pensava em várias formas enquanto a mulher tagarelava ao meu redor

tirando minhas medidas. Vogue nem piscava o olho enquanto eu ficava parada feito

uma estatua servindo de modelo para a costureira.

- Bem aqui estão alguns modelos. Minha senhora pode escolher.

Ela me deu um bloco de papeis desenhados com modelos de vestidos que

mais pareciam cortinas plissadas e bregas. Eu não iria me casar com nada daquilo. Um

amontoado de panos torcidos e retorcidos de cores estampadas. Pela minha expressão

elas viram que eu não gostei.

- Mas se a senhora permitir posso desenhar outro modelo.

De acordo com os que ela me mostrara não achei que conseguisse fazer

algo diferente.

- A senhora se incomoda se eu desenhar? – Sugeri.

- Fique a vontade – Ela limpou a mesa numa braçada jogando ao chão

papeis e panos e colocou diante de mim uma folha em branco e o lápis preto.

A única coisa que eu fazia relativamente bem era desenhar, e tentei ao

Máximo me fazer entender através de meus rabiscos. Um corpete colado tomara que

caia sem decote, com a saia se alongando até o chão, com uma sobre saia com o decote

largo de lado deixando a primeira saia parcialmente a mostra. Coloquei alguns detalhes

como uma alça transversal em jóia e pedraria na segunda saia circulando toda a calda.

Um modelo que eu tinha visto a muito tempo atrás numa revista de moda.

- Todas as pedras deviam ser em um azul suave combinado com o colar

de Leo que eu usarei. – Falava explicando os detalhes.

A costureira virou a folha do meu rabisco e por cima dos traços que eu

havia feito fez seu desenho artístico perfeito. Ela conseguira captar exatamente o que eu

queria.

- E o tecido será de que cor?

- Branco. O mais puro branco que você encontrar. Branco como a lua de

Andaluz.

De repente eu estava sonhando com meu vestido e conseguindo me ver

dentro dele.

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Pela primeira vez desde que Leo concordara em se casar comigo tão as

pressas, eu estava mesmo sentindo o prazer e a emoção do que iria ser meu casamento.

Uma lágrima escorreu de meus olhos caindo sobre a folha de desenho. Eu estava

emocionada e meu coração estava ardendo no peito.

Mas eu ainda tinha coisas para fazer até minha felicidade ser completa.

Eu precisava ir até Aragorn e descobrir onde estava Tamala. E precisava me livrar da

babá Vogue.

- Então mãos a obra - Disse a costureira – Tenho apenas poucos dias para

fazer essa obra prima.

- E nós temos que ir em outros lugares. – Falou vogue.

- Mas antes eu gostaria de comer alguma coisa. Não tomei meu café da

manhã e vou acabar caindo pelo meio da rua. – Uma idéia estava se formando em minha

cabeça.

- Eu posso preparar algo para minha senhora comer. – Disse a costureira

toda solicita.

- Não, a senhora tem que se dedicar ao meu vestido de noiva. Sei que

vogue não vai se incomodar em preparar algo para mim, não é? – Olhei para ela toda

suplicante.

- Não vou? – Falou ela desconfiada.

- Pode usar minha cozinha. - Disse a mulher para Vogue. - Tem tudo que

você precisa lá.

Vogue me olhou tentando captar alguma mudança de intenção.

- Eu estou realmente com fome. Por favor, prometo que não vou sair

daqui. Quero observar o trabalho Da ... da... Como é mesmo o nome da senhora?

- Zama. – Ela respondeu alegremente.

- Vou ficar aqui e observar o trabalho da dona Zama.

Assim que ela cruzou a porta da cozinha eu coloquei meu plano em

pratica.

- Dona Zama a onde fica seu banheiro?

- Ali querida, no final daquele corredor. – Ela apontou a minha esquerda.

Andei pela casa elogiando cada objeto e mantendo dona Zama falando

para que vogue pensasse que eu ainda estava na sala.

- E como a senhora se tornou costureira?

- É uma longa história minha filha.

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- Ah! Eu gostaria muito de saber. Me encanto com longas estórias.

Ela empolgada por meu interesse em sua vida simples, começou a falar e

eu realmente peguei só o começo onde ela contava que a avó ensinou a mãe que passou

a arte para outras irmãs e... - A voz dela foi ficando mais distante enquanto eu andava

disfarçadamente rumo ao banheiro. Entrei e fechei a porta de vagar e dona Zama ainda

falava de sua vida quando eu peguei a pedra chave do portal de Aragorn e em segundos

ela brilhou na minha mão e num átimo eu estava na ilha marfim.

- Você demorou. – Aragorn já esperava por mim ansioso. – Vamos a

alguma festa? – ele ironizou vendo meu vestido.

- Me de só um segundo para trocar de roupa. - Disparei para seu quarto

para me vestir de forma mais adequada. Para uma luta.

Caída no pé da cama uma peça de roupa feminina chamou minha

atenção. Lariana devia ter vindo visitar Aragorn à noite. Meu estado emocional já não

estava bastante abalado para que eu não precisasse passar também por aquilo?

Droga eu iria me casar em três dias, porque era tão difícil aceitar que

Aragorn tivesse sua vida sem mim, e que ficasse bem com alguém? Ele era meu amigo

eu preciso querer vê-lo feliz. Mas tinha que ser logo com ela? Porque ele não se

interessou por outra pessoa? De preferência que eu não conhecesse e não soubesse que

tiveram um caso mal resolvido.

Respirei fundo algumas vezes para controlar meu gênio. – Tudo bem...

Ele é um homem livre e vai ficar com quem ele bem entender. - Repeti para mim

mesma - Você esta noiva e vai se casar com o homem que ama daqui a alguns dias.

Espanta esse espírito de possessão e deixe Aragorn e sua vida amorosa em paz. –

Respirei mais uma vez e saí do quarto. Aragorn me esperava com uma bandeja de frutas

nas mãos.

- Seu café da manhã.

- Obrigada.

Sentei-me no chão próximo a uma mesinha no canto da sala colocando a

bandeja sobre ela. As frutas estavam apetitosas eu estava mesmo com fome.

- Fiquei impressionado com sua peripécia esta manhã. Conseguiu segurar

o seu Leo por mais alguns dias. – Ele falou se sentando ao meu lado.

Ele já sabia de tudo. Tinha colhido tudo de minha mente. Eu ainda me

espantava em como eles conseguiam ver as coisas dentro da mente uns dos outros.

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- E a propósito, meus parabéns. – Seu olho alcançou minha mão direita

onde estava a aliança. – Posso ver? – Ele estendeu a mão para acolher a minha. Seus

dedos fizeram a aliança girar no meu. – No seu mundo isso é um símbolo de

propriedade? Agora você é propriedade dele?

- É um símbolo de compromisso. Ninguém pode ser proprietário de

ninguém.

Ele soltou minha mão. Os olhos dele estavam vazios.

- O que foi Aragorn?

- Não me importaria em me tornar propriedade de alguém. Pelo menos

teria alguém para lutar por mim como você esta fazendo por ele.

- Ele também não é propriedade minha.

- Você esta lutando para que ninguém venha te levar o que é seu. Como

você costuma pensar “Meu Leo”. Eu vejo isso em seus pensamentos.

- Mas não é como você esta falando. É algo mais de entrega do que de

posse.

- É como o que você sente por mim?

- Que tipo de conversa é essa? – Perguntei incomodada.

- Eu posso ler seus pensamentos Melissa, posso ver cada um dos seus

mínimos pensamentos. Vejo como você pensa nele e como pensa em mim vejo o que

você espera dele e o que espera de mim. Mas não posso sentir o que sente... Cada

emoção por trás de cada pensamento é um mistério. Por isso é tão difícil saber qual a

diferença do que você sente por mim e do que sente por ele. Eu gostaria realmente de

entender.

- Não sei se conseguiria te fazer entender a diferença.

- Por favor, tente.

- Você é meu amigo Aragorn. Eu o amo, mas como amigo. Não vou dizer

que não confundi meus sentimentos. Você é atraente, e me faz tão bem estar com você e

num momento de carência minha, me confundi com o que sentia. Mas Jeziel é a

essência da minha vida. Eu preciso dele. É como uma fome ou uma sede que nunca

cessa. E o único suprimento capaz de me saciar é ele. O toque dele, os olhos, a voz... O

sorriso. A vida dele. Não é algo fácil de explicar. Eu não sei se deveria ser realmente

assim. Não sei como os outros apaixonados se sentem, mas é o que posso te dizer. Sem

ele eu não vivo. E não falo da vida física, não falo deste corpo. Estou falando de algo

muito maior. É de algo que me mantém conectada ao universo e que me permite viver a

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beleza da cada dia somente se estiver ligada nele. Ele é a minha fonte, minha energia,

minha força vital. Ele é a minha vida. Perder Jeziel seria como perder a mim mesma. E

eu sei exatamente o que estou te dizendo. Porque infelizmente já passei por isso. E a dor

é descomunal de mais para que eu possa suportá-la novamente. Por isso estou lutando

por ele. Não posso perdê-lo ou perderei a mim mesma mais uma vez.

- Me lembro em como você ficou quando pensou que ele estivesse morto.

Não comia, não falava. Os olhos vidrados em um ponto cego sem piscar... Nunca havia

visto nos olhos de alguém tanta dor. Te ver daquela maneira estava me deixando louco.

Eu pensei que com os dias a sua dor iria passar, mas você ficava cada vez pior. Eu não

sabia o que fazer.

- Sou eternamente grata. Você me amou Aragorn e seu amor por mim foi

o que me salvou ali. Você não me deixou morrer. Você é o melhor amigo que alguém

possa querer. – Sorri para ele.

- Então porque você se incomoda por eu ficar com alguém? Porque sente

ciúmes? Sabe que você me confunde. Quando eu penso que você não quer mesmo nada

comigo e resolvo cuidar da minha vida você se aborrece em saber que tenho me

encontrado com Lariana. E fica possessa ao ver uma peça de mulher no meu quarto. Eu

não entendo isso. Não entendo esse seu sentimento. E a propósito a roupa não é de

Lariana.

- Não?! – Falei chocada e com o gosto amargo do ciúmes na minha boca.

Ele estava trazendo mais alguém aqui?

- Esta vendo? É disso que eu estou falando. Essa sua reação me deixa

louco.

- De quem é a roupa Aragorn?

- É sua garota. É o vestido que você usou em Barock. Lembra daquela

festa onde você dançou comigo a primeira vez? Você esqueceu esse vestido aqui e eu o

tinha como lembrança sua. Ele deve ter caído por ali. Mas você fica cega de ciúmes em

pensar que eu possa estar com alguém.

Ele tinha razão. Não era normal minha reação. Nem correta.

Ficamos nos olhando por um bom tempo. Ele com certeza estava

avaliando meus pensamentos que agora buscavam uma resposta para Aragorn.

- Eu tenho medo. Meus ciúmes é medo. – Falei angustiada.

- Medo do que?

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- Medo que você se interesse por alguém e deixe de me amar. Tenho

medo de perder seu amor, de você se apaixonar por outra pessoa e não ser mais o amigo

fiel que eu preciso tanto. Que eu posso contar a qualquer momento.

- Você não acha que isso é um pouco egoísta?

- Acho. – Levei o dedo na boca mordendo a ponta da unha. Eu era

ciumenta, egoísta possessiva e ele sabia disso. - Mas você ainda me ama assim não é?

- Amo. Mas seria mais saudável para nós dois se eu pudesse te amar

como você me ama. Só como amigo. Pelo menos seria mais seguro para mim.

- E se a mulher por quem você se apaixonar sentir ciúmes de nossa

amizade e te impedir de me ver? Lariana mesmo... Eu vi o olhar dela para mim.

- Como o seu Leo sente ciúmes mim? Eu poderia sair escondido como

você faz – ele abriu aquele sorriso maroto que o deixava com cara de anjo levado. – E

garanto que te levaria para fazer coisas mais divertidas do que procurar briga com

Cordomad. Se é que pode haver algo mais divertido que isso.

Eu sorri para ele.

- Você não vai perder meu amor garota, ele é seu. Mesmo que eu consiga

algum dia amar alguém, seu lugar esta reservado em meu coração. Só que daqui a

alguns dias sua vida tomara outro rumo e não haverá espaço para mim nela. Você

precisa seguir seu destino e eu, procurar o meu.

- Isso é uma despedida?

- Talvez. Mas não fique triste. Ainda temos uma diversão a nossa espera.

– Ele se levantou me puxando pela mão. - E já estamos atrasados para ela.

- Como nos velhos tempos? – Perguntei fitando seus olhos dourados.

- Como nos velhos tempos.

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CAPÍTULO 7

Depois de atravessarmos a fronteira Aragorn me anunciou que

andaríamos por um bom tempo até a casa de Tamala que estava protegida pelos

soldados de Cordomad.

Teríamos que pega-los de surpresa num ataque rápido e certeiro sem dar-

lhes tempo de defesa e ao primeiro sinal de que a casa estava desprotegida eu deveria

entrar e pegar algo pessoal dela. Esse era nosso plano.

- Geralmente são quarto soldados que fazem a guarda em situações como

essa. Dois a frente e dois atrás da casa - Disse Aragorn - Mas não gosto da idéia de

deixar você lutando sozinha longe dos meus olhos. Então vamos atacá-los juntos

eliminando os dois primeiros e os outros dois virão até nós para defender seus postos.

- Certo – Falei confiante.

- Em momento algum se afaste de mim esta bem? – me instruiu.

- Pode ter certeza que estarei colada em você. Acha que eu sou, idiota?

- Essa é minha garota. - Ele pousou a mão na minha cabeça e bagunçou

minha franja.

Andando pela floresta com Aragorn eu podia dizer que estava

relativamente calma e bem segura. Era mesmo como nos velhos tempos.

Aragorn estava muito concentrado.

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- Fica logo ali. - Ele me apontou uma pequena casa de madeira que dava

para ver do alto da montanha em que estávamos.

Nos deitamos no chão para não sermos avistados.

- Essa não! – Ele exclamou.

- O que foi?

- Não tem somente quatro soldados como eu imaginava.

- E quantos são?

Ele observou mais um tempo.

- São quinze ao todo – Cordomad deve ter previsto que alguém tentaria

encontrar uma forma de entrar em contato com ela. E ele esta jogando pesado. Ele se

deitou com o rosto para cima – Quinze soldados? Pelo amor de Deus!

Ele olhou para mim novamente.

- Eles são muitos. É melhor voltarmos e pensarmos em outra estratégia.

- Não. De jeito nenhum. Não há tempo. Não posso voltar sem a resposta

de onde esta Tamala.

- Volta sem a resposta, mas pelo menos volta viva.

- Não... Não... Não... Não... Nós viemos até aqui e vamos até o fim.

- Melissa você não vê o risco que esta correndo? Não posso deixar que

faça isso.

- Nós precisamos. É a única maneira. Eu sei que você consegue, e você

me fez acreditar que eu consigo também. Você me treinou bem Aragorn. Estamos

preparados.

Ele respirou fundo me olhando e sabendo que eu não iria mesmo desistir.

Eu não podia. Essa era a minha única chance.

- Então eu vou e você fica aqui e me espera. Se algo der errado você

volta para a ilha e de lá para o seu arraial.

- Não. Eu vim para lutar ao seu lado e é isso que vou fazer. – Eu estava

decidida – Uns três eu sei que derrubo para você.

- Ótimo. Problema resolvido. Ficam sobrando quantos então para mim,

deixe me fazer as contas... Um.. Cinco... Nove... Doze! Há! Moleza.

Nos rimos juntos.

- Você é doida, sabia disso? O seu Leo não sabe o que esta arrumando se

casando com você. Alguém devia alertá-lo.

- Mas doido é você que cai na minha conversa.

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- Você deve ter razão.

- Sempre fizemos uma bela dupla.

- É já que não podemos ser um casal... Uma dupla esta bem para mim. –

Falou humorado.

- Então... Você canta e eu ateio o fogo?- Perguntei no mesmo tom.

- Uma hora tem que dar certo. - Ele falou brincalhão - Vamos lá, hora da

diversão.

Descemos a montanha nos esgueirando atrás das árvores. O movimento

dos soldados eram despreocupados. Eles não deviam estar esperando que alguém fosse

louco o suficiente para enfrentar quinze homens de uma vez. É lógico que eles não

conheciam Aragorn.

Nos escondemos atrás de um arbusto enorme onde um soldado estava de

vigia. Aragorn saiu sorrateiramente do arbusto e cutucou o homem no ombro. Quando o

soldado se virou para ver quem estava chamando Aragorn deu um soco tão forte de

baixo para cima no queixo do homem que ele caiu feito um saco de batatas. Em silêncio

Aragorn rebocou o soldado para trás dos arbustos. Aragorn retirou as roupas do soldado

e o amarrou com a boca vedada. Vestiu as roupas do soldado que incluía uma capa com

um capuz bem providencial. Que escondia boa parte do rosto dele.

- Você me espera aqui. Vou diminuir o contingente deles.

Aragorn saiu despreocupadamente de trás do arbusto. Não seria difícil

para ele se comportar como um soldado de Cordomad já que ele havia participado do

mesmo exército. Vi por detrás das folhas quando Aragorn se aproximou de outro

soldado.

- Você precisa ver isso! – Ouvi Aragorn falar. - Venha é bem ali atrás

daquele arbusto.

O soldado acompanhou Aragorn despreocupadamente até o arbusto que

eu estava junto com o outro soldado ainda desmaiado. Quando eles deram a volta no

arbusto e que o soldado viu o companheiro amarrado e desmaiado o choque no rosto

dele foi hilário. Quando ele olhou para mim sentada ao lado eu sorri e acenei com a

mão.

Ele se preparou para desembainhar a espada se virando para Aragorn, e

antes que ele conseguisse, Aragorn lhe deu uma cruzada de direita que quase pude ouvir

os passarinhos cantando ao redor de sua cabeça.

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O soldado caiu desgovernado e apagado no chão e eu o amarrei como

Aragorn fez com o primeiro.

Mais três vezes Aragorn usou este método baixando o contingente deles

para dez homens. Aragorn resolveu sair dali já que o arbusto estava ficando pequeno

para esconder cinco homens amarrados atrás dele. Pulamos para uma árvore de tronco

largo. E um soldado perto da casa deu por falta dos outros cinco.

Ele gritou por eles, mas não teve resposta.

- Fique aqui. Só vá até lá quando a porta estiver liberada. Entre e pegue o

que precisamos depois saia de lá o mais rápido possível.

- Estou aqui! – Aragorn saiu de trás da árvore simulando que estava

prendendo as calças.

- Onde você estava? – Gritou o homem com Aragorn pensando que fosse

um de seus soldados.

- Bem senhor eu estava um pouco apertado então...

- E onde estão os outros?

- Não sei senhor.

- Você fica aqui. – Ordenou o outro homem.

Ouvi quando ele chamou mais dois soldados pelo nome e os ordenou que

fizessem uma busca pela floresta. Dei uma espiada por trás da árvore e Aragorn me

parecia muito tranqüilo apesar de estar no covil do inimigo. Era incrível a concentração

dele.

Assim que os dois homens sumiram da vista se embrenhando na floresta,

Aragorn desembainhou a espada e meu coração gelou. Ele chamou o homem que

parecia ser o comandante daquela pequena guarda, e quando este se virou e viu a espada

desembainhada de Aragorn também sacou da sua. Aragorn avançou primeiro e o soar da

espada dele contra a do comandante ressoou em toda a floresta. Foi travada uma luta e

quando os homens que estavam guardando a pequena porta de entrada se levantaram

para ajudar o comandante eu saí do meu lugar rumo a casa. Ainda vi quando o olhar de

Aragorn me viu saindo de trás da árvore e eu corri meio agachada e sem ser notada pela

lateral da casa até a porta de entrada.

Me esgueirei para dentro da casa. Até ali tudo estava dando certo. A casa

estava vazia e meio escura com todas as janelas e portas fechadas eu não conseguia ver

nada e não sabia o que pegar. Entrei por um cômodo. Era o quarto de Tamala sobre a

cama dela um pano fino e cumprido de cor rosa que me pareceu com uma echarpe

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estava estendido como se tivesse sido jogado casualmente ali. Passei a mão no pano e o

enfiei dentro do decote da minha roupa. Voltei à sala. Tinha conseguido pegar o que

precisava e agora era só sair e partir dali com Aragorn. Podia não ser tão fácil como

havia sido até agora, pois a voz de vários outros homens e o soar de várias espadas

estavam lá fora. Espiei pela fresta da porta de saída e Aragorn agora lutava com vários

soldados ao mesmo tempo. Já havia três homens caídos imóveis no chão e outros cinco

homens se revezavam tentando atingir Aragorn.

Puxei minha espada por cima da minha cabeça e me preparei para lutar.

Quando saí correndo pela porta rumo a luta Aragorn me olhou e por incrível que pareça,

sorriu, Enquanto mais um homem caia ao fio da sua espada.

Seu sorriso me deu confiança e parti para o meio da confusão. Minha

espada atingiu em cheio a espada erguida de um soldado que se preparava para atacar

Aragorn. Seu espanto foi tão grande ao me ver que no titubear dele Aragorn lhe deu um

golpe fatal.

- Pensei que você fosse ficar mais um tempo dentro da casa quem sabe

nos preparar um lanche. – Ele ironizou colando suas costas a minha defendendo minha

retaguarda

- E deixar você com toda a diversão? De jeito nenhum.

- Só sobraram quatro, dois para mim, dois para você. Como tínhamos

planejado.

- Você vai começar a cantar agora? – Brinquei. E nem imagino de onde

me saia o humor numa hora dessas.

- Espero que a platéia goste. – Ele falava no mesmo humor, sem em um

só minuto dar descanso a sua espada. A minha também estava trabalhando bem.

- Essa não. – Falei desanimada quando meus olhos encontraram dois

homens descendo correndo a montanha.

- O que foi?

- Aqueles dois que tinham ido para a floresta estão voltando. Agora serão

seis.

- Cinco – Aragorn falou com a voz forçada enquanto cravava a espada na

barriga de outro soldado.

Aquilo devia ter me assustado, mais eu estava concentrada demais na luta

para me deixar perturbar. Quando os outros dois chegaram a roda, Aragorn trocou de

lado comigo.

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- Fique com esses e deixe os dois comigo eles estão descansados podem

ser problema.

Continuamos a nossa luta equilibrada e de repente, uma luz brilhou

ofuscando a vista de todos. Um portal se abriu e eu tremi imaginando que mais soldados

de Cordomad estavam vindo.

Três pessoas passaram por aquele feixe de luz com suas espadas em

punho e entraram na luta, mas contra os soldados de Cordomad. Quando o brilho do

portal finalmente se desfez meus olhos puderam ver surpresos de quem se tratavam.

Vogue, o General Euri e Jeziel lutavam contra os soldados de Cordomad comigo e

Aragorn. À luta agora estava contrabalançada. Era um para cada um.

- Tire ela daqui! – Bradou Jeziel para Vogue que me puxou pelo braço

me levando para longe da luta. Tentei me libertar de seu braço, mas ela estava

determinada a cumprir a ordem dele. Um a um os homens de Cordomad foram caindo.

Até que não restou mais nenhum.

- O que você fez? – Perguntei a Vogue num tom de acusação arrancando

meu braço de sua mão.

- Eles voltaram cedo, e você tinha desaparecido. Fugido na verdade, e eu

tive que contar. – Vogue tentava se justificar, mas não parecia nada arrependida.

Os corpos que jaziam no chão já se desfaziam em fumaça e consegui me

desprender de Vogue e caminhei de volta ao rumo onde Aragorn, Jeziel e o general que

estavam parados se encarando.

Vi Leo malabar a espada e apontar para Aragorn. Seus olhos estavam

furiosos.

Aragorn não deixou por menos. Se Jeziel estava se exibindo ele tinha

agora um rival a altura. A espada de Aragorn girou tão rápido que só pude ver o brilho

dela. Mas aquilo não era um show de talentos e o clima estava bastante hostil. Quando

percebi o que estava acontecendo corri me adiantando para não deixar que eles fizessem

alguma besteira.

Aragorn estava com a roupa do soldado de Cordomad. Jeziel iria cometer

um equivoco.

- Parem! - Eu gritei, e fui completamente ignorada.

O general Euri se afastou e Jeziel disparou num ataque furioso contra

Aragorn que se defendeu e contra-atacou com tudo.

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A luta era ferina e por mais que eu corresse para alcançá-los e por mais

que gritasse para que parassem e me ouvissem, a distância lhes dava vantagem para que

a luta continuasse.

- Leo, não. Consegui segurar seu braço quando ele se preparava para

mais um golpe contra Aragorn – Pare... É Aragorn. – Falei ofegante, certa de que a luta

acabaria assim que o mal entendido fosse desfeito.

- Eu sei – Ele falou entre dentes encarando Aragorn com tanto ódio nos

olhos que eu quase não o reconheci.

O choque da resposta me paralisou diante dele. O general Euri me pegou

pelos ombros me retirando da linha de frente.

Aragorn não esperou muito. Quando me vi ao lado do general a uns dois

metros da luta ele saltou sobre Jeziel e suas espadas voltaram a se chocar.

- Aragorn! - Eu chamei por ele enquanto o general me mantinha presa ao

seu lado.

Desta vez Aragorn me olhou por segundos. E continuou a golpear Jeziel

com toda ferocidade.

Os dois se odiavam.

- Aragorn, por favor, é Jeziel. – Ele mais do que ninguém sabia o que ele

significava para mim.

A resposta dele saiu como um rugido no fundo da sua garganta. O

desespero já estava tomando conta de mim. Seus golpes não cessavam, os dois eram

exímios com a espada, a luta estava equilibrada, mas alguém teria que sair perdendo.

Cai de joelhos segurando o rosto com as mãos. Eu não poderia ver os dois se matando.

O barulho de metal batendo nas pedras perto de mim me fez abrir os

olhos. A espada de Aragorn. Ele jogou a espada aos meus pés. Atendendo a minha

súplica.

Olhei para ele agradecida enquanto ele ainda estava de frente a

Jeziel que furioso rompeu com a espada erguida para dar o golpe final em Aragorn.

Meus olhos pararam na cena e quando ele correndo e bradando avançava contra

Aragorn se aproximou a centímetros dele que não moveu um músculo. Jeziel largou a

espada e com toda a força socou o rosto de Aragorn que caiu de joelhos.

- O que você estava pensando?! – Gritou para Aragorn – Trazer Melissa

para este lugar, colocar a vida dela em risco assim!

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Aragorn se levantou tão rápido acertando um soco no queixo de Jeziel

que cambaleou para trás.

- Só fiz o que ela me pediu para fazer. – Aragorn respondeu.

- Isso é ridículo. Se ela te pedir para se jogar de um penhasco você faz? –

Jeziel estava furioso.

- Se ela pedir com muito jeitinho... – Falou num tom sarcástico.

- Seu... – Jeziel deu outro soco em Aragorn que o empurrou com a cabeça

até que ele caísse no chão e ficasse sob si.

Jeziel num giro rápido ficou sobre Aragorn.

- Você não tem o direito de colocar a vida dela em perigo assim. Nunca

mais quero que se aproxime dela.

- Isso não é escolha sua. Se ela quiser me ver, você não pode impedir.

- Quer apostar? Se você estiver morto ela não terá como ver você.

- Parem! – Eu gritei exasperada me levantando do chão. –Jeziel! –

Chamei a atenção dele para mim. – Agora já chega! Eu sou a culpada. Eu quis vir até

aqui para poder pegar um objeto e descobrir para você onde esta Tamala. Aragorn só fez

o que eu pedi. Ele sabia que se ele não me ajudasse eu faria isso sozinha.

Aragorn tentou se levantar e Jeziel o empurrou de volta ao solo se

levantando primeiro.

- Isso foi uma grande idiotice Melissa – Jeziel bradou comigo.

- Ei, não fale com a garota assim. – Repreendeu Aragorn.

- Ela é minha noiva, e falo como eu bem entender. – Retrucou Jeziel.

- Isso não te dá o direito de falar com ela dessa maneira. – Aragorn

estava ficando nervoso de novo.

- E só porque ainda deixei seus dentes na boca, não quer dizer que tem o

direito de falar comigo assim.

Outro soco na boca de Aragorn. E outro soco na barriga de Jeziel.

Os dois se olharam ferozmente.

- Vocês não vão se matar agora mesmo. Dá para acabar com essa briga

logo? – Falou o general Euri. – Melissa esta bem Jeziel, e esta aqui. Isso é que importa.

Viemos aqui para buscá-la, já podemos ir para casa.

Jeziel caminhou até mim, dando as costas para Aragorn. Ele me abraçou

aflito.

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- Você sabe que quase me matou de preocupação? Que idéia foi essa,

Mel? Fugir do arraial e vir aqui?! E que roupas são essas? – Ele me afastou do seu corpo

para avaliar meu modelito. – Quem você esta pensando que é? Xena?!

- Foi Ernest que fez para mim. – Respondi desconcertada. Eu não gostava

mesmo daquela roupa.

- Ele não era um bom estilista. – falou melhorando seu humor agora que

me via bem.

- Não estou para suas piadas. – Falei mal humorada.

Me afastei dele e fui ate Aragorn conferir os estragos que Jeziel tinha

feito.

Apesar de alguns vermelhões no rosto e um corte no lábio inferior, nada

parecia ser muito grave.

E enquanto eu examinava seu rosto com minhas mãos o segurando

Aragorn sorria maliciosamente para Jeziel. Já que ele não podia matá-lo fisicamente por

minha causa iria matá-lo de raiva.

Jeziel o fuzilava com os olhos.

Depois me virei para Jeziel examinando seu rosto nenhuma marca

nenhum arranhão. Nada. O que me fez pensar que Aragorn não usou realmente sua

força. Naquele mesmo dia eu tinha visto ele derrubar cinco homens com apenas um

soco. Eles provavelmente estavam desacordados até agora. E Jeziel não tinha uma

marquinha sequer?

Olhei para Aragorn agradecida.

- Vamos embora. – Falou Jeziel.

- Não. Nós viemos aqui para que Aragorn pudesse entrar em contato com

Tamala. – Andei de volta até Aragorn e retirei o pano fino rosa de dentro do meu decote

que peguei na casa. Entreguei na mão de Aragorn e ele o enrolou na sua mão. Aspirando

meu perfume que estava nele olhando provocativamente para Jeziel.

- Aragorn! – Reclamei enquanto via Jeziel fechar a mão em punho tão

forte que pude ouvir suas juntas estalando.

- Não precisamos da ajuda dele Melissa. – Jeziel estava tão nervoso que a

voz dele estava alterada.

- Precisamos sim. - Falei não me deixando perturbar pela raiva dele. -

Ele é o único que pode entrar em contato com Tamala e saber a localização exata de

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onde ela esta. E então você pode entrar no castelo sem tantos riscos e libertá-la. E ai

vamos saber como destruir a esfera.

- Se você não entendeu eu vou te explicar melhor. – Jeziel estava irritado.

Não, irritado não seria a palavra correta. Ele estava possesso. – Eu. Não quero. A ajuda

dele para nada. Nem mesmo se minha vida dependesse disso.

- Isso é infantilidade Leo. Você só esta com ciúmes. – Falei tentando

trazê-lo a razão.

- É Leo, você esta com ciúmes. – Aragorn falou provocativamente.

- Cale a boca! – Jeziel avançou para Aragorn, mas eu o bloqueei com

minhas mãos em seu peito e pude sentir cada músculo estressadamente contraídos.

- Ele é muito temperamental não é? – Aragorn provocava.

- Aragorn, por favor... – Supliquei.

- Tudo bem. Vou colaborar.

- Vamos Jeziel. Esta não é uma área segura para nós. Logo o exército de

Cordomad virá atrás de seus soldados e precisamos estar bem longe daqui. – Falou o

general.

- Vocês não vão querer saber onde esta Tamala? - Perguntou Aragorn

presunçoso.

- Você conseguiu contato? – Perguntou o general.

- Estou vendo ela agora. Não pensei que fosse tão fácil.

- Aragorn você é demais. – Falei animada.

- Não precisamos da sua ajuda – Repetiu Jeziel.

- Melissa, você lutou por isso, e é para você que eu vou falar.

Me movimentei para ir até ele, mas Jeziel segurou firme meu braço.

- Você é surdo, ou louco? Eu já disse que não.

- Você esta machucando o braço dela. – Aragorn murmurou entre dentes.

A mania dele de me defender não iria mudar só por Jeziel. – Que tipo de homem é

você?

- O tipo que você gostaria de ser para estar no meu lugar.

Aragorn andou até Jeziel dando-lhe um empurrão em seu braço fazendo

que ele me largasse. Jeziel com as duas mãos deu um empurrão no peito de Aragorn

fazendo que ele desse dois passos para trás.

A briga iria começar novamente.

- Parem! - Brami irritada.

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- Vamos Melissa, vamos embora antes que esses dois se matem. – Falou

o general Euri para mim.

Eu tinha que concordar. Os dois estavam se encarando como dois

cachorros de briga. Só faltavam rosnar. Com aqueles dois se digladiando para me

defender um do outro a coisa não iria acabar bem.

- Aragorn eu vou para casa. Mantenha o contato com Tamala, e veja

todas as informações possíveis. Amanhã eu te vejo. – Falei para tranqüilizá-lo.

- Não aposte nisso bad boy. – Jeziel falou para Aragorn por trás de mim.

- Vê o que te falei sobre propriedade? – Aragorn falou a mim me

lembrando da conversa que tivemos mais cedo. – Vou te acompanhar Melissa até você

estar totalmente segura como eu te prometi.

- Não precisamos da sua companhia. Sabemos o rumo de casa. – Falou

Jeziel.

Eu sabia que ele estava nervoso e com razão, mas já estava me irritando.

Nunca vi agir tão imaturo. Será que ele não poderia ser agradecido um pouco, afinal

Aragorn também arriscou sua vida para que a dele ficasse em segurança.

- Então vamos logo. - Falou o general – Já esta começando a ficar

perigosos e nós temos um bom pedaço de caminhada até podermos abrir um novo portal

para o arraial.

Aragorn se aproximou de mim sem se importar com o olhar irado de

Jeziel.

Da forma que ele sempre fazia quando queria dizer que me amava sem

palavras ajeitou minha franja.

– Estou orgulhoso de você. Eu disse que você era capaz. – Me

cumprimentou - Te espero amanhã garota. - Aragorn falou notoriamente para irritar

Jeziel. - Jogou sua pedra que se espatifou no chão e abriu o portal para a ilha marfim.

Antes do portal se fechar ainda pude ver o sorriso maroto de Aragorn para mim.

Quando o portal se fechou totalmente Jeziel se virou para mim e me

olhou decepcionado. Eu detestava aquele olhar dele. Fazia eu me senti tão culpada. Eu

preferia que ele brigasse ou gritasse comigo.

- Era para isso que você queria se casar comigo às pressas? – A voz dele

voltou quase ao normal, mas trazia um desapontamento que me deu um peso no

coração. Ainda que eu estivesse satisfeita com tudo dado certo, era difícil ver o desgosto

de meu Leo comigo. - Para impedir que eu fosse ao castelo e te desse tempo para você

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tentar se matar na companhia desse bad boy? – Ele me olhou angustiado. Eu sabia como

ele estava se sentindo. Usado e enganado – Você tem idéia de como eu ficaria se algo te

acontecesse?

- Desculpa amor, eu só queria te ajudar...

Ele respirou fundo e soltou o ar do pulmão pela boca.

- Não faça mais isso comigo Mel. Por favor. Se você me ama não faça

mais isso. Eu não suportaria... Simplesmente não suportaria te perder.

- Vamos Jeziel. – Chamou o general apreensivo.

Ele pegou minha mão e começamos a andar pela floresta. Teríamos que

chegar a um ponto especifico para abertura do portal. Seus olhos ainda estavam frios em

mim. Mas a medida que íamos caminhando seu semblante ia ficando mais leve.

O general Euri ia alguns metros à frente, Vogue a nossa retaguarda

sabendo que era melhor ela não entrar na minha área de visão. Jeziel e eu de mãos

dadas.

Ele segurava tão forte minha mão que eu mal podia sentir meus dedos.

- Tudo bem Leo eu não vou fugir. – Falei mexendo minha mão na dele

- Me desculpe... Te machuquei? - Ele afrouxou beijando minha mão.

- Não. – Olhei para ele que estava olhando fixamente para frente, os

ombros rijos.

- Você esta tão tenso, tão nervoso... Pode relaxar agora, já acabou.

- Tem certeza? Amanhã você não vai sair atrás daquele...

- É por isso que esta nervoso?

Ele respirou fundo.

- Não gosto dele perto de você.

- Ele é só um amigo...

- Um amigo apaixonado.

- É você que eu amo.

- E ele ama Você.

- Leo, – Parei no meio da floresta fazendo-o olhar em meus olhos – o

que eu fiz foi por você. Não tem nada a ver com ele, Aragorn só me ajudou. E eu sou

grata a ele por isso.

- Não gostei disso, – Ele balançava a cabeça e cerrava os lábios - não

gostei mesmo.

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- Eu já pedi desculpas e peço mais um milhão de vezes se for preciso.

Mas vê se entende que eu não podia ficar de braços cruzados enquanto você planejava

se arriscar sozinho às escuras para resgatar a profetisa.

- Mas você se arriscou muito.

- E me arriscaria de novo para garantir que esteja bem. Se você me disse

que não suportaria que nada acontecesse a mim meu sentimento em relação a você não é

diferente. Eu preciso de você, já que não posso impedir essa guerra, quero no mínimo

garantir que você volte para mim.

- E se eu prometer que sempre... Sempre voltarei para você.

- Então me prometa que você lutara pela sua vida como se fosse a minha

própria. – supliquei a ele.

- E você me promete que guardara a sua vida como se fosse a minha? –

Ele me suplicou.

- Minha vida é a sua. – Falei sentindo meus olhos marearem.

- E a sua vida é a minha. – Leo colocou as mãos sob meus cabelos me

aproximando para si e me beijando carinhosamente. Não importava a intensidade do

beijo, meu coração sempre disparava, minha pele sempre se aquecia e minha respiração

acelerava. E ele sempre percebia e se aproveitava da minha vulnerabilidade para me

deixar ainda mais zonza quando com os lábios ainda colados nos meus ele sussurrava -

Eu te amo.

Quando ele se afastou de mim e me olhou, vi que toda a raiva que

tomava seus olhos antes desapareceu. Ele estava calmo e feliz novamente.

- Vamos embora, a senhorita tem um casamento para preparar.

A felicidade tomou meu ser com a lembrança. Daqui a alguns dias eu

seria finalmente e para sempre a esposa de Jeziel.

Ele me olhou novamente avaliando meu modelo medieval.

- Você não gostou mesmo dessa roupa? – Falei constrangida diante do

olhar dele.

- Na verdade você esta bem sexy. Leve ela em nossa lua de mel.

Eu sorri.

- Porque esta rindo?

- Ernest falou que você iria gostar.

- É, ele me conhecia muito bem

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Revirei meus olhos teatralmente e voltei a andar. Leo ficou por trás de

mim me olhando caminhar. Ele não tinha perdido essa mania.

Alguns passos à frente Leo correu para me alcançar me abraçando por

trás. O clima estava agora mais ameno, ele estava mais relaxado. Fiquei feliz em ver que

ele não estava mais bravo comigo.

O general andava tranquilamente a nossa frente e Vogue ainda mantinha

uma distância considerável de mim. Mas uma hora ela teria que se aproximar e eu

estava disposta a acertar nossas diferenças assim que pudesse.

- Mel, – Leo chamou minha atenção. - pensou no que te disse?

- Sobre o que? - Não captei sobre o que ele falava.

- Seu pai.

- Ah não... – Choraminguei.

- Ele esta muito triste com a briga que teve com você.

- Leo...

- Melissa, dá uma chance a ele. Desde que vocês se encontraram que

você tem sido hostil. Ele te ama, ele é seu pai. E não te abandonou, ele te protegeu. A

você e sua família. – Bufei enquanto ele insistia. – Você acha que foi fácil para ele

passar todos esses anos sozinho, se lembrando de vocês e do que tinha deixado para

trás? Ele tinha uma vida ao lado de sua mãe, ele a amava, eles eram felizes. Não foi

fácil para ele deixá-la. Assim como não é fácil para nós nos separarmos.

- Não é a mesma coisa.

- Mel, não seja tão dura. Tudo foi arrancado dele. A família o amor, os

filhos... E você esta tendo o privilegio de encontrar seu pai. Quantos queriam poder ter o

que você tem agora e esta desperdiçando sendo rebelde e boba. – Ele suspirou fundo –

Eu mesmo queria poder ver meu pai. Você não sabe como é afortunada. É um momento

tão especial em minha vida, meu casamento com você, e não tenho com quem dividir

minha felicidade. Você além de poder dividir, pode proporcionar um momento de

alegria mais que merecido a ele. Algo que ele espera à tanto tempo.

- Ele espera esse tempo todo para me levar até o altar? – Ridicularizei.

- É muito mais do que simplesmente te levar ao altar. Para ele é a

confirmação que o sonho de poder estar com sua família novamente se realizara.

Ouvindo ele falar dessa forma, a raiva que eu estava do general ia

passando. Leo tinha o poder de me convencer do que queria. E ele tinha razão. Meu

comportamento era rebeldia pura. E eu iria me casar logo. Teria que assumir uma

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postura mais madura diante da vida. Podia bem começar por aí. Me dando bem com

meu... É... Pai.

- Vá até lá... – Leo me incentivou.

Eu olhei adiante onde o general caminhava e respirei fundo. Acelerei a

passada e Leo diminuiu a dele para nos dar privacidade. Quando o alcancei me

posicionei ao seu lado. Ele me olhou surpreso e esticou os olhos para trás procurando

por Jeziel. Quando ele conferiu que estava tudo bem continuou andando.

- É... – Limpei a garganta – General... Bem, sobre essa manhã eu queria...

Me... Desculpar. – Estava me sentindo uma idiota mais tinha que fazer aquilo.

- Tudo bem Melissa, não estou com raiva.

- Mais devia. Eu fui muito arrogante e petulante. Não foi essa a educação

de minha mãe.

- Esta desculpada.

- E só fiquei nervosa e preocupada de que Jeziel fosse até o castelo. Eu

precisava vir até aqui escondida dele. Eu estava no meu limite de estresse e acabei

descontando em você.

- Tudo bem Melissa eu entendo. Esta tudo bem mesmo. – Ele realmente

não parecia estar zangado comigo.

- Daqui a alguns dias é meu casamento. Algo muito especial para mim. E

queria te pedir para me acompanhar até o altar.

Ele olhou para mim surpreso de novo.

- Tem certeza disso?! – Ele falou cismado olhando por cima do ombro

para Jeziel provavelmente achando que a idéia não tinha sido minha.

- Tenho. Afinal você é meu pai. Quem mais faria isso?

Ele parou me olhando de frente.

- O que você disse?!

- Que tenho certeza que quero que me leve ao altar.

- Por quê?

- Porque você é meu... Pai.

- Você me chamou de pai?! – Ele abriu aquele sorriso que sempre me

lembrava Biel. E de repente o sorriso dele sumiu dando lugar a uma expressão

indefinida.

Não entendi porque ele estava com aquela cara, afinal era o que ele era,

meu pai. Ele me olhava fixamente esperando que eu falasse mais alguma coisa.

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- Não gostou? Prefere que te chame de general?

- Eu... – Ele parecia estar sem palavra - É que...

- O que foi então? – Perguntei impaciente.

- Quando saí de casa de volta a Andaluz, você era um bebezinho, mal

balbuciava alguma coisa. Nunca te vi me chamando de pai - Ele estava emocionado. - E

eu sonhei tanto com isso.

Ver um homem daquele tamanho mareando os olhos foi desconcertante.

Ele estava fazendo forças para conter as lágrimas. Mordendo os lábios e me olhando

como se olha um bebê fofinho. Aquilo foi estranho. Ele me segurou pelos ombros me

olhou paternalmente e me abraçou. No primeiro momento me senti desconfortável, mas

era impossível não reagir a tanto afeto depositado naquele abraço.

Quebrei minhas resistências num suspiro. Eu estava ali para me dar bem

com ele, então tinha que colaborar. E o abracei também. Me senti acolhida, amada e

estranhamente familiarizada com seus braços, até o cheiro da pele dele era agradável e

me dava uma sensação de bem estar incrível. E em pensar que fui privada de tudo isso

durante tantos anos, mas agora eu estava ali. E era como Jeziel falara. Eu era uma

privilegiada por poder ter aquilo agora. Ele jamais poderia.

Abraçada ao meu pai abri os olhos e vi Leo que me olhava orgulhoso. E

li em seus lábios enquanto ele soletrava em silêncio – Eu. Te. Amo. - Fechei os olhos

novamente e aproveitei mais alguns segundos nos braços de meu pai.

- Quanta Ternura... – A voz de sereia que eu reconheceria a qualquer

hora, vinha do alto da árvore em que estávamos em baixo.

- Raika! - Brami assim que a vi surgir em minha frente pulando da árvore

como um tigre.

- Oi maninha, nos encontramos de novo. – Ela falou enquanto endireitava

seu corpo se colocando de pé.

- Melissa! - Jeziel gritou correndo em disparada em minha direção. Raika

ficou entre nós, e o General me colocou atrás de seu corpo. Vogue também correu com

a espada em punho.

- Calma gente, eu só quero conversar. – Disse Raika numa voz suave e

melodiosa. Como ela conseguia fazer aquilo?

- Ninguém quer conversa com você Raika. – Jeziel falou apontando a

espada para ela.

Ela se virou para ele.

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- Oi amor... Senti saudades. E você?

Jeziel não respondeu. Seu rosto estava tão duro e irado que mal dava para

ver seus olhos.

- Ingrato. Depois de tantos momentos bons e de tanta paixão agora você

faz cara feia para mim?

- Nunca houve momentos bons ao seu lado.

- Eu sei que esta bravo comigo, só porque eu te aprisionei no castelo, mas

foi só manha porque você não quis me dar o que eu queria tanto. Briguinha de amor. Eu

já te perdoei. Agente pode voltar a ficar juntos de novo.

Raika se aproximava de Jeziel. Eu vi quando ele piscou rapidamente para

manter a concentração. Eu sabia o que ela estava fazendo.

- Não se aproxime dele sua bruxa. – Gritei avançando contra ela, mas o

general me segurou me mantendo ao seu lado.

- Melissa... Maninha... Vejo que esta com a coroa. – Ela olhava para

minha cabeça - E eu vim aqui fazer uma proposta. - Ela veio andando em minha direção

arrumando o cabelo prateado como se estivesse pousando para fotos. – Você me dá a

coroa e eu deixo vocês em paz.

- Nunca! – Eu gritei.

- Não é a resposta certa. Porque eu posso te obrigar. Ou você me dá ela

por bem ou me da por mal. – A voz dela não se alterava eu estava ficando enojada.

- Qual a parte difícil do nunca que você não entendeu maninha... – O

humor sarcástico de Aragorn estava me contagiando.

Ela colocou um sorriso no rosto que mais parecia uma bonequinha

sorrindo.

- Tem gente demais aqui que importa para você que eu posso machucar.

– Sem nem mesmo erguer um fio da sobrancelha Raika olhou para o general que estava

em minha frente me defendendo e ele de repente largou a espada segurando a cabeça e

caiu ao chão gemendo de dor numa tortura invisível.

Jeziel e Vogue avançaram contra ela e antes que eles a alcançassem, uma

chuva de capas pretas desceu das árvores ao nosso redor. Homens que de tantos nem

dava para ser contados. Os Drevors de Cordomad. Raika dessa vez não nos subestimou.

Raika cessou a tortura do general que tentava se levantar com dificuldade. Jeziel e

vogue estavam cercados por vários Drevors. Raika olhava para mim ainda com sua

carinha de anjo.

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- Já que você não quer conversar direito comigo aqui, teremos que levá-la

para o castelo - Ameaçou Raika com a voz tão doce que parecia um convite. – Meu pai

vai gostar muito de te ver novamente. Sabe que ele ficou encantado com você! - Um

sorrisinho tilintou por entre seus lábios – E quem não se encanta, não é mesmo. Você é

tão linda. Na verdade ele me deixou pessoalmente encarregada de garantir que você não

falte ao encontro que ele marcou como da última vez em que você estava com aquele

seu namorado gostosão... Como é mesmo o nome dele? A sim, Aragorn. A propósito

onde ele esta? Tive informações que ele estaria com você também. E eu tinha

esperanças de vê-lo novamente. – Suspirou - Acho que iríamos nos dar muito bem.

Assim como você vai se dar muito bem com meu pai.

- Cordomad jamais colocara um dedo em Melissa. – Rugiu Jeziel.

Raika se virou para Jeziel.

- Você fica tão sexy ciumento. Me lembro bem dos seus ataques de

ciúmes por minha causa... Tão fofo. – Ela deu a volta em Jeziel – Mas você sabe como é

meu pai. Quando ele quer uma coisa ele pega. E ele gostou de Melissa. Desse jeitinho

meigo e doce que ela tem, e ele ficou impressionado também com a coragem dela. Sabia

que ela enfrentou meu pai? Ninguém jamais fez isso. Ele ficou... Apaixonado.

- Você me dá nojo. Você e sua família desprezível. – Jeziel falou

exasperado.

Raika mandou um beijo para ele, e se virou para mim.

- Vamos Melissa, esta atrasada para seu encontro.

Dois Drevors se aproximaram por trás de mim e peguei meu bastão

jogando minha mochila ao chão para me movimentar melhor. O general também se

preparou com a espada e Jeziel e Vogue iniciaram a peleja com os outros Drevors.

O soar das espadas se chocando ecoava nas árvores. Eu lutei com meu

bastão buscando ajuda da coroa que estava sobre minha cabeça. Jeziel golpeava

mortalmente os Drevors tentando se aproximar de mim. Vi quando ele, o general e

Vogue quase simultaneamente se iluminaram cada um em sua luz. Segui o exemplo

deles sabendo que poderia ganhar mais força. Rompi a luz de dentro de mim e continuei

a lutar agora com mais agilidade. Mesmo assim era pouco para lutar contra tantos

Drevors ao mesmo tempo. Jeziel não tirava os olhos de mim e cada movimento dele se

chegava mais perto. Estendi a mão para ele e ele estendeu a sua para mim.

- Ah! já cansei da brincadeira. - Resmungou Raika entediada - Vamos

embora.

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Sob a ordem dela os Drevors se transformaram em fumaça negra e era

tão densa que eu não podia ver mais nada. Não podia ver o general, nem vogue, nem a

mão de Leo que estava a centímetros da minha.

- Melissa! – Ouvi a voz dele me gritar. Parecia perto, mas ela foi ficando

mais distante.

- Leo! – gritei desesperada. Não conseguia ver nada do que estava

acontecendo.

- Melissa! – a voz de Leo agora estava também desesperada.

Ouvi ainda a voz do general e de Vogue me gritarem, mas estava tudo

muito confuso. Não conseguia identificar de onde vinham às vozes para me guiar.

Tudo isso aconteceu em poucos segundos. Senti algo me pegando pelos

braços, mas olhei e só havia fumaça e de repente meus pés saíram do chão. Estava

sendo carregada. Um portal magnético se abriu em minha frente. Era só o que eu

conseguia ver e fui conduzida para aquele portal por mãos invisíveis.

- Leo!- Gritei mais uma vez para ele.

- Melissa... Não! – O grito de Leo era cheio de terror.

Contra minha vontade e apesar da minha resistência, atravessei o portal e

quando ele se fechou atrás de mim, a fumaça negra que me envolvia se dissipou.

Me vi numa sala enorme e fria. As paredes cobertas por enormes e

aparentemente pesadas cortinas cor de areia e fui me virando tentando identificar onde

eu estava. – Estava ofegante e assustada - Uma porta enorme de madeira com uma

trava em bronze, uma cama grande de colchas claras, e uma poltrona no canto da parede

que quando vi me assustou, pois Cordomad estava sentado confortável e

despreocupadamente nela.

- Você fica linda de azul – Ele se referia a minha luz que ainda brilhava -

Esta atrasada para o nosso encontro. – Falou num tom cordial - Meses de atraso na

verdade.

A presença dele era desconcertante. Principalmente naquele lugar. Havia

algo nele... Uma força, uma energia que emanava dele que perturbava de forma atrativa.

Mas eu sabia que ele devia estar usando seu poder tão peculiar de sedução. Então me

mantive com a guarda levantada e concentrada contra sua influência. Fiquei feliz de

ainda estar com a coroa.

- Onde esta Jeziel? Quero vê-lo agora! – Bradei usando toda a força de

meus pulmões.

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- Ele esta exatamente no lugar que o deixou. Da última vez que ele

esteve aqui, não foi um bom hóspede, tenho que dizer. Por isso preferi desta vez ter a

sua companhia.

- Onde eu estou?

- No lugar mais seguro de Andaluz. Meu castelo.

- Me deixe ir embora. – Bradei me impondo, mas eu estava muito

assustada e minha voz saiu mais como uma súplica que uma ordem.

- Claro, logo que você ceder ao meu pedido de entregar a coroa.

- Sei que se eu te der a coroa você não me deixara partir.

- Como pode saber?

Ele se levantou da poltrona e andou em minha direção. Quanto mais ele

se aproximava mais a força que emanava dele me comprimia. Quando ele chegou diante

de mim com as costas de sua mão deslizou pelo meu rosto, meu pescoço e desenhou

meu decote. Eu queria reagir, mas meus músculos estavam paralisados. O toque da pele

dele era como uma descarga elétrica. Precisei de muita força para não me deixar

sucumbir.

- Por favor, me deixe ir embora.

Cordomad fitou meus olhos profundamente e por mais que eu não

quisesse não deu para deixar de admirá-lo. Cada traço de seu rosto, o azul hipnótico de

seus olhos, o desenho de seus lábios, como alguém sendo tão mal podia ser tão perfeito?

Eu não sabia a idade que ele devia ter, mas ele era tão jovem quanto Aragorn, seu rosto

não trazia nenhuma marca, nenhuma ruga, sua juventude devia ser fruto de seu dom ou

da magia de Erkas.

- Sabe que eu posso ter qualquer mulher deste reino? – Ele pegou uma

mecha do meu cabelo levando até seu rosto para sentir o perfume. - Mas elas se atiram

aos meus pés. Todas elas. E isso é um pouco frustrante. Se é que me entende. Mas você

resiste. E isso é excitante. Um desafio pra mim, e eu adoro desafios. – Ele me olhou de

uma forma que devia ser proibido se olhar para alguém, de tão desconcertante. Eu não

quis falar nem me mover nem piscar para não perder a concentração.

E ele se afastou e eu pude me sentir um pouco mais forte contra seu

poder.

- Você é intrigante, te vejo tão frágil, tão dócil, mas também tão bravia e

indomável. Você se tornou uma nova mulher quando chegou aqui. E eu me sinto até

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mesmo um pouco responsável por essa sua mudança. Que tenho que acrescentar que na

minha opinião abrilhantou ainda mais a sua personalidade.

- Não me importo com o que pensa ao meu respeito. Quero que você me

deixe ir embora agora. – consegui finalmente falar com autoridade.

- Você sabe que não posso fazer isso. Mas posso transformar a sua

estadia aqui em um dos momentos mais agradáveis de sua vida. – Cordomad se

aproximou pelas minhas costas e com as pontas dos dedos ele passeava pelos meus

braços. O toque era semelhante a brasas que ardiam, mas não queimavam. Era

realmente difícil manter a concentração... Era realmente difícil não render ao apelo que

todo meu corpo fazia pelo toque dele. Fechei meus olhos numa reação involuntária, mas

tinha consciência de que ele estava me seduzindo com seu poder. Me lembrei de Raika e

do que ela exercia sobre os homens e o quanto Leo ficou envolvido com ela por não

saber que estava sendo induzido em sua mente a crer que ela era irresistível. Pela

primeira vez pude saber o que ele sentia, e tinha que admitir, a vontade de se entregar

era tão forte quanto a de resistir. Uma luta... Um choque tão grande de sentimentos que

apelavam dentro de mim que eu tinha medo de esperar para ver quem iria vencer.

- Não! – Gritei me afastando de Cordomad reunindo todas as minhas

forças e toda a minha consciência para não me esquecer que ele era meu inimigo. E que

por trás de toda aquela beleza, charme e sedução, tudo que ele queria era tirar minha

vida e a de Jeziel.

Um sorriso confiante e estonteante surgiu nos lábios de Cordomad, ele

estava jogando comigo e acreditava em sua vitória.

- Vou te deixar descansar hoje. Amanhã nos vemos novamente. – Ele

andou até a porta que se abriu sozinha. – A propósito, não tente fugir. Não vai adiantar.

Tem Drevors do lado de fora dessa porta, e seu quarto, só para te alertar, é a prova de

portais e de quaisquer tipos de comunicação.

Ele saiu e a porta bateu. Ouvi o barulho da tranca que ecoou pelo quarto

frio.

Corri até a porta tentando abri-la e bati com meus punhos com toda a

força.

- Deixe-me sair daqui – Gritei e bati na porta até não haver mais forças

em mim. Me deixei escorregar até o chão totalmente exausta e aflita. – Como eu iria sair

dali? E Leo, Como ele estaria agora? A minha prisão naquele lugar levaria ele a fazer a

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última coisa que eu poderia querer. Que ele entrasse naquele castelo. E esperando por

isso Cordomad me manteria presa ali.

Meu corpo estava cansado, mais minha mente estava a mil. Porque

Cordomad não me jogou no calabouço como fez com Tamala? Porque não amarrou

meus pés e mãos como fez com Leo? Talvez ele não me achasse perigosa o bastante

para ter que me amarrar, ou talvez ele tivesse planos específicos para mim, e pensar

nisso me dava muito medo.

Mas o que eu realmente queria saber agora era como e onde estava meu

Leo.

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CAPITULO 8

Aconteceu muito rápido. Num minuto eu estava de mãos

dadas com Melissa. O perigo parecia ter passado. Já estávamos a poucos metros de onde

estaríamos seguros para abrir o portal que nos levaria de volta para o arraial, e de

repente ela já não estava mais comigo.

Eu corria em disparada pela floresta já não sabia à quanto tempo. Meus

músculos protestavam de dor, meus pulmões já não inspiravam ar suficiente, meu

coração ardia em meu peito como uma brasa. Mas eu não podia parar, tinha que chegar

ao castelo. Era para lá que eles a tinham levado.

Enquanto eu corria podia ouvir a voz do general Euri atrás de mim me

pedindo para parar. Vogue também gritava, mas eu não iria atendê-los. Se quisessem

que me alcançassem.

As últimas imagens de Melissa passavam a todo o momento em minha

mente. Seu rostinho assustado, seus olhos e sua boca ligeiramente arregalados ao ver a

maldita bruxa Raika descer daquela árvore a sua frente. Nenhum de nós esperava

aquilo. Como eu fui idiota. Como eu não pude avaliar o perigo daquele lugar? Logo eu,

sempre tão prudente.

Correr... Correr, eu tinha que correr. O que restava de minhas forças eram

poucas, mas ver Melissa em meu pensamento me incentivava a vencer meus limites e

continuar correndo.

Quando os Drevors desceram daquelas árvores, eu soube que só nos

restaria lutar. Usei toda minha força; rompi minha luz para ter mais condições de lutar

com eles e vi quando Melissa me olhou e fez o mesmo.

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Eu estava desesperado, eles eram muitos. Homens que davam

tranquilamente dois de seu tamanho lutando contra ela. Eu tinha que me aproximar e fui

lutando e derrubando os Drevors que se colocavam entre nós. Eu tinha que lutar e

vencer, e não conseguia tirar os olhos de Melissa.

Tão frágil... Eu estava apavorado em vê-la no meio daqueles soldados

treinados para matar, e ela só com seu bastão. Mas também admirado, ela estava se

saindo muito bem, nunca havia visto lutando a não ser em sua mente, em suas

memórias, mais ler seus pensamentos era como ler uma história. Suas lembranças eram

reais, mas eram inofensivas. Vendo-a ali eu podia quase sentir cada pancada contra seu

bastão. Aquilo estava me deixando louco. Se alguma coisa acontecesse a ela...

Consegui me aproximar, estendi minha mão para que ela agarrasse. Eu

precisava dela perto de mim. Eu precisava tocá-la e senti-la ao meu lado eu iria defendê-

la com minha própria vida. Nada nem ninguém a atingiriam junto a mim. A milímetros

de meus dedos eu já podia sentir o calor de sua pele, quando uma densa nuvem negra

tomou toda a floresta. Eram os Drevors se metamorfoseando para sua forma mais vil.

Sombra e fumaça.

- Melissa! – Eu gritei para localizá-la. Eu não podia perdê-la, ela estava

tão próxima, mas eu estava completamente cego pela sombra. Ouvi quando ela chamou

meu nome. Pude sentir o medo em sua voz. Corri na direção que pensei ser a dela para

poder protegê-la e tira-la dali. Enquanto eu gritava seu nome, ela me respondia ainda

mais apavorada e sua voz ficava cada momento mais distante. Corri na direção do

último som de sua voz, e quando em meio aquela densa nuvem negra eu pude vê-la, ela

estava sendo carregada através de um portal.

– Melissa... Não!– Gritei de angustia. Minha voz foi o último eco que

ouvi na floresta. A fumaça negra se dissipou totalmente e Melissa não estava lá.

- Eu falhei – Repeti para mim enquanto olhava impotentemente para o

lugar em que o portal se fechara.

- Jeziel – A voz do general Euri se aproximando não foi o suficiente para

me tirar do estado de choque que eu estava. – Jeziel! – Ele me pegou pelos braços me

sacudindo freneticamente querendo me despertar.

Olhei para ele com os olhos vazios e frios.

- Eu falhei general, eles levaram Melissa. – A verdade saía de minha

boca como um veneno pronto para me matar.

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- Jeziel, precisamos sair daqui, voltar ao arraial agora e preparar o

exército.

Arraial? Exército? Eu não conseguia pensar em nada. Só em Melissa. E

ela tinha sido capturada por Raika.

Quando eu por as minhas mãos em Raika, vou lhe dar uma morte lenta e

dolorosa. – Pensei.

Foi impossível não lembrar de tudo que ela fez para me separar de

Melissa.

Raika, tão bonita como uma flor, tão delicada como uma violeta, mais tão

vil e venenosa como um escorpião. Seu veneno não só mata aos poucos como te tortura

dolorosamente. Era assim que eu me sentia a cada dia que estava ao seu lado envolvido

pela suas garras malignas. Torturado e morrendo aos poucos.

Por mais que ela se esforçasse para me fazer acreditar que ela era a

minha prometida, e por mais que eu me esforçasse para viver com isso, - Principalmente

porque Melissa permeava meus pensamentos a cada instante , quando ela me tocava eu

sentia, - mesmo sendo dominado pelo seu dom asqueroso - um desespero imensurável

por não ser Melissa ali comigo. Ernest me dizia que era remorso, que eu estava chateado

por ter feito Melissa sofrer, e com o tempo essa sensação passaria e eu poderia viver

feliz com Raika. O que eu duvidava muito. Por que por mais que eu acreditasse que

Raika seria minha rainha, e que a profecia deveria se cumprir comigo ao lado dela,

ainda era Melissa que eu amava. Ele não conseguia entender isso.

Quando nós descobrimos toda a verdade. Quando Raika revelou quem

ela realmente era, não sei quem ficou mais decepcionado consigo mesmo, ele ou eu.

Não podíamos acreditar que fomos tão facilmente seduzidos e enganados, e que

deixamos para trás ferida e magoada a verdadeira outra metade da minha vida.

Foi um alívio por um lado saber que o que eu sentia por Melissa era amor

e eu poderia me permitir sentir a cada segundo do amor que eu tentava sufocar dentro de

mim com receio de prejudicar Andaluz e o povo que confiava em mim, mas também

caiu sobre mim uma onda de desespero por pensar que jamais a teria comigo

novamente, pois a tinha abandonado e trocado meu verdadeiro amor por uma nociva e

ardilosa criatura chamada Raika que me seduziu com seu desprezível e danoso feitiço.

Pensar em Raika só me provocava um único sentimento. Ódio. E o ódio

que senti foi como um trovão dentro de mim. Minha luz rompeu como uma explosão e

ganhou um novo tom de azul quase escuro demais para ser chamado de azul. Ao romper

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essa nova cor, uma potência que fluiu de mim repeliu o general Euri que ainda me

segurava pelos ombros e o lançou a metros a frente.

- Jeziel, controle-se. - Gritou ele comigo enquanto se levantava do chão.

Vogue deu alguns passos para trás. Bem fez ela, eu não estava mesmo em mim.

Olhei para minha mão observando aquele novo tom de luz e

respirei fundo para me concentrar. Fiz com que a luz recuasse para dentro do meu ser e

olhei o general Euri segurando a cabeça. Ele devia ter ficado meio tonto com o impacto.

Olhei para o lado onde estava Vogue e vi em suas mãos a mochila de

Melissa. Seu bastão também estava com ela. Melissa estaria totalmente indefesa naquele

castelo e eu pessoalmente sabia o quanto eles podiam ser cruéis. O pensamento de vê-la

ferida encarcerada sendo torturada por Cordomad, como fizeram comigo me deixou

maluco, e eu recomecei a correr. Eu iria entrar naquele castelo a qualquer custo.

Derrubaria aqueles muros com meu punho se fosse preciso, mas não deixaria que a

ferissem.

Eu ainda estava correndo enquanto todos esses pensamentos me

atormentavam.

- Jeziel, por favor pare. – O general atrás de mim continuava tentando me

alcançar. Ele era forte, mas eu era jovem, não iria deixar que ele me retardasse.

- Jeziel por favor me escute – O general entrou em minha mente. – Não

vai adiantar você entrar lá agora, é isso que Cordomad quer... Que você se desespere e

faça uma besteira. Dentro do castelo você ficara vulnerável e se ele te pegar, Melissa

não hesitara em dar a ele o que ele quer. E vocês dois estarão perdidos.

Os pensamentos dele pareciam lógicos, mais eu não tinha tempo de

pensar nisso agora. Armadilha ou não eu não deixaria Melissa naquele lugar sozinha.

- Eles não vão feri-la, pense Jeziel, Cordomad não pode pegar a coroa

coagindo-a ele tem que convencê-la a dar a ele. Eles não vão machucá-la.

Ele tinha razão. A coroa tinha que ser passada de bom grado. Só assim

ela funcionaria como Cordomad queria. Só que me preocupava também saber que

Cordomad tinha o poder de convencimento praticamente infalível, como Raika. Se eu

estivesse de posse da coroa quando ela me envolvia em seus ardis, eu a teria entregue.

Quando Raika usava seu poder, não havia nada que eu não fizesse por ela, e esse dom

ela tinha herdado de seu pai que agora estava com Melissa em suas mãos. Ou talvez ele

não fizesse nada a ela enquanto não convencesse a trocar a coroa por mim ou por sua

liberdade.

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Diminui o passo até parar totalmente refletindo no que ele dizia. General

Euri e Vogue me alcançaram ofegantes.

- Precisamos... Voltar... Ao arraial e preparar... A invasão. - Ele falou

entrecortado recobrando o fôlego.

Apesar de me doer pensar em deixar Melissa mais tempo nas mãos

daqueles ordinários, eu precisava ser prudente e mais inteligente que eles. Não poderia

errar com Melissa de novo. Eu sabia que ela estaria esperando por mim. E dessa vez eu

não iria falhar.

De volta ao arraial, era estranho chegar ali na casa do general sem ela.

- Fique aqui e descanse. – O general falou pousando sua mão em meu

ombro para me confortar – Você precisa estar com a cabeça descansada para liderar seu

exército.

Vogue não disse uma palavra. Ela colocou a mochila de Melissa que

tinha apanhado na floresta sobre o sofá e saiu de cabeça baixa.

Não me dei o trabalho de ver no que ela estava pensando, mas talvez

estivesse arrependida por ter me contado que Melissa tinha ido atrás de Aragorn.

Assim que cheguei de outra reunião com aliados e fui atrás de Melissa,

Vogue estava esperando pelo lado de fora da porta da costureira. Sua expressão quando

me viu foi de espanto, logo percebi que tinha algo errado. Ela não esperava que eu

voltasse tão rápido, mas mesmo na reunião eu não estava tranqüilo. Melissa não me saía

da cabeça, Pensei que era só por estar preocupado por ela estar chateada. Ela é cabeça

dura e muito manhosa, e mesmo tendo que ser duro com ela às vezes, não gosto de ver a

carinha de choro que ela faz quando é contrariada. Eu ia mesmo voltar mais cedo para

ficar com ela, e acabei adiantando no tempo pela minha impaciência. Mas eu tinha razão

em estar preocupado, Melissa estava colocando sua vida em risco.

Vogue não iria me falar nada se eu não a tivesse pressionado para que ela

me contasse onde Melissa estava. Ela ficou branca, amarela, um pouco verde, depois

branca de novo antes de me falar que Melissa tinha saído escondida para se encontrar

com Aragorn. Acho que depois dessa notícia quem mudou de cor fui eu. Eu fiquei tão

possesso de raiva que mal sentia meus pés no chão. Eu podia sentir todo meu sangue

ferver em minhas veias como a lava de um vulcão pronta a explodir subindo para minha

cabeça. Eu sabia que aquilo era obra dele. Melissa não tinha como sair do arraial, mas

ele provavelmente devia ter dado um jeito de tirá-la daqui, a onde ela estava segura.

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Desespero não era a palavra certa para definir o que eu senti ao tentar

encontrá-la com minha mente e vê-la digladiando contra os soldados de Cordomad. Dei

graças a Deus pela mente dela estar aberta. Talvez ela estivesse distraída ou ocupada

com a luta para se lembrar de bloqueá-la. Só assim pude encontrá-la. E quando chamei

o general para irmos buscar Melissa, nos adiantamos e conseguimos abrir um portal no

lugar exato da luta. Quando atravessamos o portal, os soldados não tiveram nem tempo

de perceber o que estava acontecendo e com a fúria que eu estava não dei a chance de

nenhum se aproximar de mim, os derrubava antes que eles dessem pela minha presença.

E quando todos estavam ao chão, ainda tinha um que eu queria derrubar. Aragorn.

Olhei para ele sentindo meus olhos queimar em fúria. Ele também me

olhou na mesma intensidade. Até então eu só tinha visto o rosto dele através das

lembranças de Melissa, era estranho encará-lo naquele momento sabendo o que ele

representava para ela e podendo ler diretamente em sua mente o que ela representava

para ele. Mas se eu acabasse com a raça dele, jamais ele se aproximaria de Melissa

novamente. E ele estava bem a minha frente, era só lhe atingir com um golpe certeiro,

mas Melissa estava ali, e quando dei por mim, ela estava segurando meu braço. E eu

sabia que se eu o matasse ela não deixaria de me amar, mas jamais me perdoaria por ter

feito algo a seu amigo. Tive que me conter muito para não completar meus planos de

exterminar aquele bad boy de Andaluz de uma vez por todas. Mas por ela, só por ela eu

me controlei. Jamais poderia fazer algo que a magoasse. Só que não foi fácil ter que

encarar a cara pretensiosa dele deixando claro em minha mente que ele estava satisfeito

por Melissa confiar mais nele do que em mim.

Ele tinha algo dela que eu havia perdido no dia em que a deixei. E ele

sabia disso. E estava confiando nisso para ainda alimentar a esperança de tê-la com ele.

Ele crê que se eu vacilar mais uma vez, e é o que ele espera que eu faça, ele terá uma

chance para tentar conquistá-la.

Quando o general afastou Melissa de mim eu queria dar um fim às

pretensões dele, mas ele mais se defendia do que me atacava. Eu podia ver que ele não

estava dando o melhor de si naquela luta apesar de também querer acabar comigo. Pude

ver na mente dele quando me lancei para mais um golpe de espada, que ele mesmo

sedento para me dar um golpe fatal se importava demais com o que Melissa sentiria se

ele me ferisse. Quando ele jogou a sua espada perto de Melissa entregando a luta, eu me

enfureci ainda mais. Ele era capaz de morrer ao fio da minha espada só para não vê-la

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magoada, só para provar que se importava mais com ela que eu? Então eu entendi

porque ela confiava nele. Ele realmente faria tudo por ela e ela sabia disso.

Quando deixei minha espada cair e parti para a briga corporal eu estava

muito irritado. Como ele se atrevera a provocar esse sentimento em Melissa? Como ele

conseguiu preencher uma parte no coração dela que deveria ser todo meu? Ele não tinha

esse direito. E se ele a amava tanto, como era capaz de colocar a vida dela em risco

daquela maneira? Mas ele estava muito confiante em si, e para minha surpresa, na

própria Melissa, de que eles dariam conta de elaborar o que haviam planejado para

derrotar os soldados de Cordomad.

Ele conhecia um lado dela que eu não ousaria me firmar. Seu lado

guerreira forte e determinada. Não que eu não acreditasse que ela fosse capaz, mas por

eu sempre vê-la como minha pequena, meiga e doce Mel. Aragorn tinha outra visão de

quem era a Melissa que eu amava.

Estava esperando impacientemente pelo general enquanto ele se reunia

junto com os outros os nossos aliados.

Fui para o quarto de Melissa e me deitei sobre sua cama, não queria me

dar descanso, queria mesmo era sentir seu perfume que estava impregnado em cada

travesseiro em cada lençol naquele lugar. O cheiro da pele dela sempre me fascinava

mais que os perfumes caros que sua mãe lhe presenteava. Um cheiro semelhante a

maçã. Em Andaluz não havia maçã, nem uma fruta semelhante ou com o aroma

parecido. Então seu perfume era único e inigualável. E eu queria poder desfrutá-lo

direto da fonte agora. Apesar de querer sentir seu perfume em seu quarto estava me

sentindo sufocado. Não era falta de ar, era falta dela que eu amava. E a dor da sua

ausência, me fez voltar no tempo.

Para diminuir a dor me deparei recordando alguns de nossos momentos.

Foi algo tão mágico a primeira vez que me deparei com ela na pizzaria. Quando ela

esbarrou em mim... Foi hilário. Ela ia caindo de costas depois de colidir comigo e eu a

sustentei pelos braços. Seu rostinho assustado e encabulado me olhando foi a coisa mais

perfeita que eu já tinha visto. Eu a segurei até ter certeza de que ela estava bem. Me

parecia um pouco tonta e pálida. - Você esta bem? – Eu perguntei querendo me

certificar que poderia largá-la, apesar de não ser exatamente essa a minha vontade na

hora, mas Ernest antenado como sempre em minha mente percebeu meu leve interesse

na garota.

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- Jeziel não se distraia. Você não vai encontrar a futura rainha de

Andaluz numa pizzaria. – Falou em minha mente - Ele tinha seus próprios conceitos.

Pelo que sei hoje ele estava totalmente errado.

Quando ela balançou a cabeça afirmativamente eu a soltei me dirigindo

para a mesa.

- Se o futuro rei de Andaluz pode estar numa pizzaria agora, porque a

rainha não estaria? – Cutuquei Ernest, mais deixei passar. Eu não achei que seria tão

fácil ou tão rápido encontrá-la.

Na mesa com Ernest me deu uma repentina curiosidade em ver aquela

garota de novo. E me surpreendi ao vê-la olhando em minha direção. Tentei captar algo

em sua mente, mas tudo que ela pensava era - Não faça nada idiota... Não faça nada

idiota... – Eu fiquei curioso para saber o que aquilo queria dizer. E acho que ela tentou

esboçar um sorriso para mim. Sua boca estava cheia de pizza e com o sorriso suas

bochechas se arredondaram. Foi engraçadinho de se ver. Mas ela se constrangeu com

meu olhar e abaixou os olhos. Eu ainda fiquei olhando para ela por um tempo esperando

que ela olhasse para mim de novo, mas Ernest me deu uma bronca me fazendo irritar.

Ele passou o resto da hora me lembrando de minhas prioridades e de meu foco. Me

desliguei dela então e quando procurei por Melissa de novo em sua mesa, já tinha saído.

No outro dia na escola foi bem interessante. Eu sabia cada pensamento

dos garotos e garotas daquela escola quando me viram. Admiração, inveja, excitação,

curiosidade. Letícia foi a que mais me surpreendeu com seus pensamentos. Como

alguém podia ser tão rápida para pensar loucuras. Em meu pequeno trajeto dentro da

sala ela conseguiu me ver com ela em três situações diferentes. No carro, numa ilha

deserta, e em cima do seu telhado. - A última me deixou um pouco intrigado - Mas

quando me cheguei a minha mesa, lá estava à garota da pizzaria. Eu iria me sentar bem

ao lado dela. Esperei que ela falasse algo comigo, mas ela estava constrangida demais

pelo esbarrão. E até me diverti em pensar que ela seria minha companheira de sala. Tive

que conter um sorriso quando pensei - Ernest não vai gostar de saber disso.

Deitado em sua cama me lembrei de seus olhos, de seu sorriso... E da

falta que eles estavam me fazendo agora. Me lembrei da confusão que lia em sua mente

quando ela voltou do intervalo naquele meu primeiro dia de aula. Percebi que ela estava

inquieta. Tentando ver alguma coisa em mim. Eu continuei quieto em meu lugar, mas

com a inquietude dela eu fui buscar em sua mente o que a estava deixando tão agitada.

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E em sua mente ela queria tirar uma dúvida, queria ver meus olhos e compará-lo aos

olhos que ela tinha visto em um sonho. E qual não foi a minha surpresa quando eu

percebi que os olhos do sonho dela eram realmente os meus. Eu sabia muito bem,

porque eu tinha monitorado esse sonho buscando pela minha amada.

Entrei mais fundo em sua mente e em sua memória encontrei cada

detalhe do meu primeiro contato com ela que julgava ser um sonho. Na hora eu fiquei

nervoso. Não sabia o que fazer. Era ela? Era realmente ela? E como a ansiedade dela em

ver meus olhos era tão grande como a minha que ela me reconhecesse acabei sendo um

pouco rude. – Algum problema? Esta se sentindo mal? – Falei querendo que ela tirasse

sua atenção de mim naquele momento. Eu precisava organizar meus pensamentos.

Voltei os olhos para o livro fingindo ler, pois o que eu lia mesmo era sua mente.

Ela não sabia, mas a partir daquele momento eu monitoraria cada um de

seus pensamentos. Não como invasor, mas com uma curiosidade em conhecer cada

gosto, cada sentimento e cada sonho da pessoa que poderia ser a minha amada.

Quando ia saído da escola olhei para seu rosto mais uma vez quando

passava por ela de bicicleta. Queria confinar em minha memória cada traço, cada

expressão, e aproveitei para encontrar em sua mente seu endereço.

Quando cheguei em casa e mostrei para Ernest o que tinha acontecido,

mesmo vendo detalhe por detalhe em minha mente, ele se mostrou cético.

- Leo meu filho, vá com calma. Sei que esta ansioso, é normal que esteja,

mas você tem que ser mais prudente. Não faça nada antes de ter plena certeza.

- Só pode ser ela – Eu disse a ele um pouco empolgado.

- E se você estiver só admirado com sua beleza?

- Ela é linda não é? A minha princesa...

- Ela é linda. - Ele concordou - Mas não sabemos se é ela a sua princesa.

- Algo dentro de mim diz que minha busca chegou ao fim.

- Leo, tome cuidado, eu não estou tão certo como você esta. Me parece

muita coincidência, me parece muito fácil esse encontro casual de vocês. Temos que

avaliar cada ponto.

- Anos procurando sem nunca ter encontrado um fio de esperança você

considera fácil?! – Falei a ele irritado – Não Ernest meu amigo, não foi nada fácil

suportar essa solidão e a saudade de uma pessoa que eu nem conhecia, e hoje pela

primeira vez desde que nasci sinto que o vazio que me assombrava esta sendo

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preenchido. Meu coração Ernest, meu coração esta feliz. – Abri um sorriso enorme para

ele.

- Sabe o que eu acho? Que você é um romântico incondicional. Você esta

feliz? Vá enfrente, continue feliz então. Não serei eu a estragar esse seu momento de

felicidade. Mas tenho pena da sua princesa seja ela quem for. Pois vai ter que suportar

você derramar sobre ela toda essa sua melodramática personalidade romanesca. Espero

sinceramente que ela não fique enjoada. – Eu ri me lembrando disso. Com a colocação

dele, acabei me vigiando mais quando estava perto dela. Só não nesses últimos dias aqui

em Andaluz que bombardeei seus ouvidos com toda minha paixão incontida. Sei que ela

achava exagero, mas se derramava ao me ouvir declarando meu amor por ela nas formas

mais piegas possíveis.

Era impossível estar em seu quarto envolvido por seu perfume e não me

lembrar da pessoa doce que ela é e viajava em minhas recordações.

No dia seguinte da escola, eu já esperava para vê-la novamente sentado

em minha mesa sabendo que em poucos minutos ela se sentaria ao meu lado. Eu estava

querendo seguir o conselho de Ernest e ser mais prudente, então tentei não pensar nela e

me distrai olhando o movimento fora da sala pela janela que dava para o ginásio da

escola. Letícia pulou na minha frente puxando conversa me tirando da minha distração.

Só percebi que Melissa tinha entrado quando ela se prendeu na cadeira atrás dela

fazendo barulho. Tão linda no seu jeitinho desastrado. Não sei como ela não percebeu

meu sorriso involuntário por vê-la naquela manha. Ela abaixou o rosto tão rápido,

envergonhada, que nem me reparou direito. Letícia, no entanto tagarelava sem parar se

debruçando sobre minha mesa. Enquanto eu fingia prestar atenção. Mas minha atenção

estava mesmo em Melissa sentada tão perto de mim e ainda tão distante da minha vida.

Eu respondia a Letícia com Monossílabas e ela não parecia se importar

em falar mais que ouvir o que já estava me irritando e a Melissa também. Até que

finalmente nosso professor chegou. Letícia teve que sentar-se em seu lugar e eu pude

prestar mais atenção nos pensamentos de Melissa. E ela estava me ignorando. Pelo

menos tentando ela estava, mas eu só podia ver as palavras em seu pensamento, não

podia saber exatamente o que ela estava sentindo. Parecia incomodada comigo ao seu

lado e então me preocupei em que ela não devia gostar de estar perto de mim.

Passei toda minha vida procurando por alguém que viria a ser minha

companheira para sempre e de certa forma eu já era apaixonado por ela antes de

conhecê-la, isso porque ela já fazia parte de mim. Mas essa pessoa não me conhecia,

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não me esperava. Como eu podia supor que ela se apaixonasse perdidamente ao me ver

uma única vez, ou duas?

Meu coração angustiou-se. Talvez ela não gostasse mesmo da minha

presença perto dela. Ela estava me ignorando eu percebi isso. Mesmo quando ela olhava

disfarçadamente para mim na sua cabeça eu não conseguia captar nada. Ela estava

deliberadamente me ignorando. Na hora do intervalo, na lanchonete, Letícia me cercou.

Ela estava forçando uma amizade na qual eu não estava interessado. Com os

pensamentos dela sobre mim acabei perdendo a fome. E também estava preocupado

ainda em saber por que Melissa estava me ignorando. Dei uma desculpa para me livrar

de Letícia e voltei para sala de aula onde sabia que Melissa estaria. Quando abri a porta,

ela me olhou espantada. Achei lindo o pequenino “O” que ela fez com a boca quando

me viu. Segurei-me para não sorrir enquanto ouvia seus pensamentos. - Ele vai mesmo

sentar do meu lado aqui... Na sala... Sozinho... Claro sua tonta, é aqui a mesa dele. –

Não entendi. Do que ela poderia ter medo? Sentei-me ao seu lado imaginando poder

conversar com ela e descobrir alguma coisa que minha mente não tivesse capitado. Mas

ela não estava se sentindo bem. Sua franja estava colando na testa por causa do suor frio

e ela estava esverdeando.

- Você esta bem? – Perguntei preocupado.

- Acho que estou um pouco tonta – Ela respondeu sem me olhar. E

percebi que era a primeira vez que ouvia sua voz fora de sua mente. Não exatamente a

primeira vez, mas era a primeira em que eu prestava atenção. E não tinha percebido

antes em como sua voz era agradável e suave mesmo cercada de seu mal estar. Ela não

parecia mesmo bem. Achei que eu devia fazer alguma coisa.

- Tem algo que eu possa fazer por você? Chamar alguém da enfermaria?

– Perguntei preocupado, mas ansioso também por poder ouvir mais um pouco de sua

voz.

- Não. Já estou ficando melhor. Obrigada. – Ela respondeu de uma forma

tão gentil que me encantou. Apesar de eu estar imaginando que ela não estava gostando

da minha companhia.

- Você não parece bem, é melhor eu ir procurar alguém da enfermaria. –

Eu disse a ela querendo poupá-la de mim mesmo. Mas logo seus pensamentos, além de

espantar meus temores de que ela não gostava da minha presença, também me trouxe

uma grata alegria.

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- Não, eu vou ficar bem. – Ela respondeu rapidamente e pensou: - Afinal

o que eu diria para a enfermeira? Que tinha entrado em colapso por causa do meu

lindo colega de sala? Que ridículo.

Ela estava assim por minha causa. Eu havia causado aquela sensação

nela. A minha presença não a perturbava, minha presença a deslumbrava. Isso foi muito

bom de descobrir. Descobrir naquele momento como ela se sentia em relação a mim me

fez querer tocá-la. Eu queria tocar sua mão, seu rosto, tocar em seus cabelos que ela

estava soltando. Mas eu não podia. Tudo que me restava então era olhar

indefinidamente para aquela garota que já estava me conquistando.

Quando ela me olhou finalmente, eu estava reprimindo um sorriso. Não

me contive em saber que era por mim que ela estava daquele jeito. Mas não era de

deboche nem vaidade, era de alegria. E em sua mente ela estava desconcertada por

imaginar que eu teria percebido o motivo de seu desconforto. Resolvi então dar um

tempo a ela para que seus nervos voltassem a seu estado original virando meu rosto para

o professor dando um tempo para ela se acalmar. E no auditório não pude deixar de

ouvir as lamurias e reclamações mal humoradas de Melissa contra Letícia que estava

sentada ao meu lado. Melissa estava enciumada, e aquilo me divertiu muito. Ela achou

que eu estava sorrindo por causa das cantadas mal elaboradas de Letícia, mas eu estava

mesmo era adorando ver Melissa com ciúmes. E por todas as semanas seguintes ao lado

dela me deliciei com seus pensamentos ciumentos tentando ser indiferente. E cada dia a

seu lado eu me apaixonava mais pelo seu jeito meigo e atrapalhado.

Eu jamais tinha visto alguém tão linda quanto ela. Sua simplicidade, tão

tímida, tão insegura. Era meu avesso. Por isso Ernest duvidou que ela pudesse ser a

futura rainha de Andaluz. Mas era ela. Eu só tinha que esperar o momento certo para me

chegar.

Os dias se passavam e eu estava ficando aflito. Ernest é que me segurava

muitas vezes.

- Leo me escute. Você não pode simplesmente chegar até essa garota que

você nem sabe se é realmente a sua prometida e dizer: Ola! eu sou um cara de outra

dimensão e vim aqui te buscar para se casar comigo.

Eu realmente estava me esforçando muito para não abordá-la dessa

forma, mas quando eu via aquela carinha de menina que ganhara de natal, a boneca que

pediu ao papai Noel quando olhava para mim, a minha vontade era de segurá-la em

meus braços e beijá-la. Mas eu tinha que esperar e não deixar que ela percebesse nada.

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Mas eu não me continha. Ernest ficava louco, literalmente louco comigo por causa

disso. Eu entrava em seus sonhos, eu procurava por seus pensamentos enquanto ela

estava em casa, só para ver se ela se lembrava de mim, e minha alegria dobrava quando

eu me flagrava em seus pensamentos.

E no dia que eu não quis mais adiar, no dia em que resolvi que já era o

momento de começar a me revelar a Melissa, e tirar todas as dúvidas que ainda podiam

haver sobre ser ela ou não minha princesa, aceitei o convite feito por Letícia para irmos

a pizzaria. Eu daria um jeito de ela estar lá, assim poderia ter um momento com ela fora

do ambiente escolar. E lá da pizzaria eu a chamei. E abri um largo sorriso quando a vi

entrando respondendo ao meu chamado. Era o primeiro passo. Ela podia realmente me

ouvir. E daí trabalhei para que ela soubesse quem eu era e quem realmente ela era. E aos

poucos, não sem trauma eu tenho que admitir, em que ela foi se envolvendo mais

comigo, mesmo me achando um louco ela tinha que acabar acreditando no que eu dizia,

era incontestável, principalmente com as provas que dei e com as coisas que ela viu e

experimentou. Só Ernest ainda não tinha se convencido totalmente. Mas não havia mais

duvidas nem para mim nem para ela.

Então decidi pedi-la em namoro, porque meu amor por ela já estava tão

grande em meu coração que não dava mais para adiar. Queria tê-la para mim. Chamá-la

de minha... Ernest para variar não iria gostar nada da minha decisão, iria achá-la

precipitada se eu tivesse contado a ele, mas preferi contar-lhe só depois que ela me

dissesse sim. Aquele foi o dia mais longo de toda a minha vida. Apesar de ter passado

todo ele na companhia de Melissa, mas estava ansioso demais para ouvir o seu sim.

Me lembro que conversei com Biel que ao me ouvir dizendo que eu iria

pedir sua irmã caçula em namoro a respiração dele parou, seus olhos se esbugalharam, o

músculo de seu ombro se inflou e a veia do pescoço engrossou e latejou bem diante de

meus olhos. Pensei que teria que usar meus poderes para contê-lo, mas sua cor foi

voltando ao normal seus olhos voltando a órbita natural e ele soltou o ar numa lufada

me olhando de canto de olho, por segundos que para mim passaram-se horas, porque eu

tentava ler o pensamento dele, mas o choque foi tão grande que ele não pensava em

nada. De repente ele me deu um tapa no braço de uns cinqüenta quilos que me

desequilibrou. Já estava preparado para reagir, mas ele abriu um largo sorriso e disse:

- Eu gosto de você. Tudo bem. Mas cuide muito bem da minha

irmãzinha. Tô de olho em você. - Esses detalhes eu não contei a ela.

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No chalé eu estava tão ansioso. Tinha esperado tanto tempo por aquele

momento. E segurei a emoção em meu coração e a pedi em namoro. Ela nem piscou, me

respondeu que queria ser minha para sempre. Minha alegria foi tão forte e a emoção tão

intensa que a luz em mim transcendeu e nos envolveu de uma forma que eu nunca achei

ser possível. Meus sentidos estavam tendo vontade própria. Eu buscava ter controle em

mim para que nada acontecesse a Melissa, os dons dela ainda não haviam sido

desenvolvidos. Brinquei com meus lábios em seu rosto e me deliciava com seu cheiro

de maçã. Senti seu corpo tremer e li sua mente para saber seus pensamentos, mas os

dela estavam tão tomados pelos sentidos como os meus. Então não resisti quando vi

seus olhos se fechando e ela se entregando em meus braços.

Percebi que nossa história estaria realmente se entrelaçando a partir

daquele momento para sempre. Quando nossos lábios se tocaram foi a emoção mais

forte que já havia sentido em toda a minha vida. Nunca tinha provado algo tão intenso e

tão doce. Sua boca quente e macia e seu sabor era algo que nem mesmo em todas as

vezes que havia sonhado com esse momento, poderia se igualar. Beijá-la era

transcendental. E eu poderia fazer isso e só isso para sempre e sempre... Eu ainda a

beijava quando senti uma força emanar de seu corpo em reação, talvez a primeira reação

de seus dons fora despertado por aquele momento ao que o meu transmitia a ela. A

acolhi mais em meus braços e ela me abraçou ainda mais forte como se ainda pudesse

haver algum espaço entre nós. Naquele primeiro beijo aconteceu a fusão de nosso amor

e de nossas vidas.

E tanta coisa aconteceu depois disso. Quantas coisas surgiram para nos

separar. E ainda estamos aqui lutando pelo nosso amor. Um dia porei fim nessa luta e

poderemos viver nosso amor como esta escrito.

Pensar assim estava me deixando deprimido.

Às vezes me pergunto, se eu não tivesse caído nos feitiços de Raika

como estaríamos agora? Provavelmente já teríamos derrotado Cordomad. Mas eu fui tão

idiota. Não sei como eu não percebi logo. Acreditando que Raika era mesmo filha do

general e sendo filha legítima de Andaluz, dotada de seus poderes apesar de fingir estar

com problemas para acioná-los em outra dimensão, me deixei levar.

Mas eu tinha que ter percebido. Todas as vezes que ela me tocava, todas

as vezes que ela me beijava era como se um grande buraco negro se abrisse em mim. Eu

não estava feliz como ficava com Melissa. A atração que Raika provocava era algo

mental como uma indução do que eu tinha que fazer, não do que eu queria. Era algo

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maligno e forte, muito forte. E agora me preocupo com Melissa também sendo sujeita a

esse tipo de comando. Cordomad tem o mesmo poder que a filha. Ela herdou dele mais

apurado e mais maligno. Mesmo assim ele ainda é perigoso. - Se ele encostar um dedo,

um só dedo em Melissa... Eu...

Pensar em Cordomad e no que ele poderia fazer com Melissa fazia com

que uma angustia amarga subisse pela minha garganta. Eu tinha certeza que ele iria usar

seus poderes para fazê-la confiar nele e lhe entregar a coroa. Se ele usasse só a metade

do que Raika usou comigo ele conseguiria tudo dela.

Pensar assim não estava me ajudando. Eu tinha que me concentrar agora.

– Respirei fundo - Eu precisaria preparar uma estratégia inteligente que me desse

vantagens diante de Cordomad para salvar Melissa e resgatar Tamala. E dessa vez não

haveria erros. Dessa vez Cordomad iria ser vencido de uma vez por todas.

Em todos esses dias em que estive estudando uma forma de entrar no

castelo, só descobri que ele é intransponível. Nenhum portal me levara para dentro dele.

Terei que encontrar uma passagem antiga. Mas como? Todos os mapas que tivemos

acesso eram antigos de mais. Nenhum deles poderia nos indicar um caminho seguro. Só

alguém que conhecesse o castelo por dentro, suas câmaras suas passagens secretas, a

rotina de guarda... Mas quem? Talvez se conseguíssemos aprisionar um dos soldados de

Cordomad e obrigá-lo a nós contar das passagens... Poderia dar certo. Eu tinha

planejado entrar para o resgate de Tamala, mas seria pela rede fluvial. Mas essa

passagem só me levaria até as celas das prisões subterrâneas onde Ernest foi mantido

preso e por ali ele conseguira escapar. Não seria útil agora. Melissa provavelmente

devia estar numa das doze torres. Cordomad gostava de manter seus prisioneiros

perigosos perto de si. Ele me manteve a todo tempo preso a grilhões na sala do seu

trono. Ele mantinha uma guarda permanente me vigiando, mas na maioria do tempo sob

seu olhar vigilante. Somente quando me encontrava sem força alguma, e que ele julgou

que eu não era mais uma ameaça aos seus planos, me trancafiou na sala das almas

deitado sobre uma cama onde poderia ter sido meu leito de morte se não fosse Melissa

conseguir romper o escudo contra portais e comunicações que havia naquele lugar e me

encontrar. E com a força que ainda restava nela conseguiu me despertar e abrir um

portal tridimensional sem ajuda de nenhum objeto, somente com o túnel provocado pela

sua mente eu pude sair daquele lugar. Se ela pelo menos soubesse como isso

funcionava. Ela poderia sair de lá. E ela esta com a coroa. Isso também ajudaria muito.

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Mas depois da minha escapada, creio que Erkas deve ter intensificado a força do escudo

sobre o castelo.

- O general esta demorando – Falei para mim mesmo saindo do quarto de

Melissa e me dirigindo a porta de saída da casa.

Do lado de fora da casa pude ver muitos homens e mulheres preparados e

armados esperando apenas um comando para poder agir. Havia uma ansiedade contida

nos olhos de cada um. Muitos deles esperavam por anos para que esse dia chegasse.

Todos criam fielmente que o dia da vitoria havia chegado. Eu não podia duvidar, mas

também não podia confiar tanto nisso depois da captura de Melissa. Se por algum

motivo ela cedesse e entregasse a coroa a Cordomad estaríamos perdidos. Mas eu

aguardava esperançosamente que ela fosse forte o suficiente, até mais forte do que eu,

para resistir as investidas e as mentiras de Cordomad e aos feitiços de Erkas.

Minha Melissa. Eu queria pensar nela de outra forma agora, como uma

garota forte e guerreira, como Aragorn a via, mas só conseguia vê-la em sua fragilidade

e por isso me sentia tão responsável pelo que tinha acontecido e tão preocupado com o

que poderia acontecer.

Eu devia ter prestado mais atenção nela, eu sabia que pelo fato dela não

me deixar entrar em sua mente nos últimos dias ela devia estar escondendo algo. Mas

inocentemente imaginei que fosse só por estar chateada por eu não poder ficar com ela

pelo tempo que ela queria. Pensei que estivesse escondendo de mim sua rabugice. Ela

sempre foi assim desde que a ensinei bloquear seus pensamentos. Ela passou a me

esconder o que sentia quando estava insatisfeita. Ela não queria me preocupar, ainda

que eu pudesse ler a expressão em seu rosto, e saber que tinha algo errado, Melissa

sempre tentava disfarçar e eu fingia não ver para não constrange-la. Mas agora vejo que

não foi uma boa idéia.

Comecei caminhar por entre a multidão que cada minuto aumentava se

posicionando em fileiras segundo a ordem de seus comandantes. Muitos olhavam para

mim reverenciando e com o punho fechado sobre o peito, se mostravam preparados e

confiantes para a peleja. O treinamento deles era pesado, e vários tinham dons

extraordinários, eles estavam mesmo preparados. Mas não queria olhar diretamente em

seus rostos sabendo que alguns deles que agora me olhavam confiantes, eu não mais os

veria. A batalha seria renhida. Ambos os lados esperam por isso à muito tempo. Muitos

iriam morrer.

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Pela primeira vez desde meu nascimento eu sentia o peso e a

responsabilidade do que nasci para fazer. Herdar um trono... Não, herdar não...

Recuperar o trono de meu pai. Não será tão fácil. Na verdade nunca imaginei que fosse,

mas eu não tinha ainda a dimensão do que realmente seria e do que precisaria acontecer

para que eu me sentasse no trono de Andaluz. Não queria que aquilo fosse necessário.

Não queria que nenhuma espada precisasse ser erguida. Não queria que nenhuma vida

fosse perdida.

Passei rapidamente pelas fileiras indo em direção ao último lugar que

estive com Melissa a sós. Me sentei sobre a relva e mirei o pico da montanha do outro

lado do arraial.

Estava tentando me manter calmo, mas a angustia de saber que Melissa

estava em poder de Cordomad não me deixava. E tinha outro agravante. A coroa para

ele é importante, mas o reino, o trono importa mais. Ele não a deixará viva se por um

segundo ele ver seu trono ameaçado. Ele sabe que minha vida esta ligada a dela, que

Melissa não hesitara em trocá-la para me manter a salvo. Somente por isso ele me

manteve vivo, para não perder totalmente a oportunidade de colocar as mãos na coroa

trocando-a por mim. Quando meu exército atacar o de Cordomad e invadir o castelo, no

desespero em ver sua derrota iminente e ao imaginar que não teria mais nada a perder,

Cordomad poderá matar Melissa para se vingar e me ferir. Como ele fez com minha

mãe quando percebeu que ela não teria mais a coroa para lhe dar.

Por tantos anos ele perseguiu a mim e Melissa, sem sucesso, tentando

destruir a profecia. E agora ela esta bem diante dele. Com coroa ou sem coroa eu tenho

certeza que ele não vai ariscar e não vai esperar muito para eliminar todos os riscos que

ele corre. Eu teria que chegar a Melissa antes mesmo do castelo ser invadido. Eu

planejaria isso.

- Jeziel! Meu Senhor... – A voz assustada de Vogue correndo em minha

direção me tirou de meus pensamentos. Me virei para vê-la e ela apontava para trás –

Ali vamos, um portal esta se abrindo e não é nenhum conhecido, podem ser os Drevors.

Me levantei num salto desembainhando minha espada e corri junto com

Vogue até a luz de um portal que se demorava a abrir. Os soldados de meu exército

estavam atrás de mim e Vogue ao meu lado. Todos em posição de luta. Quem quer que

estivesse tentando invadir nossa fortaleza não nos pegaria desprevenidos.

A luz que vinha do portal era ofuscante. Eu protegia meus olhos com as

mãos tentando identificar o que atravessaria por ali e no meio da luz um homem alto de

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calças jeans, tênis e camiseta atravessou sozinho a porta de luz. Eu ouvi o ranger de

espadas sendo desembainhadas atrás de mim e quando a luz do portal desapareceu

alguém que eu jamais poderia supor estava parado a cinqüenta metros de mim com os

olhos surpresos olhando toda aquela multidão hostil o recepcionando.

- Biel?! - Eu gritei surpreso.

Seus olhos me encontraram e ele veio andando em minha direção. Na

verdade ele estava quase Marchando. Eu quase podia sentir o impacto de seus pés sob o

solo.

- Este é Biel?! – Vogue ao meu lado exclamou surpresa.

Ergui minha mão para o exército agitado atrás de mim dando sinal de que

eles não precisariam se preocupar. Era um amigo.

Dei alguns passos na direção de Biel e vi seu sorriso se abrir para mim,

mas quando ele estava a milímetros de nos encontrarmos seu sorriso se transformou

numa expressão feroz com seus dentes serrados. Seu punho se fechou, e antes que eu

pudesse pensar ele me atingiu com um soco no queixo.

- Onde esta minha irmã?! – Sua voz bradou ecoando em toda planície.

Por mais que eu quisesse falar, minha boca estava meio frouxa com o

soco. Caramba, não me lembrava dele ser tão forte.

Como não o respondi ele me pegou pelo colarinho tirando meus pés do

chão, vi nos olhos dele um brilho irado e de repente ele começou a brilhar numa cor

prateada.

- Eu só vou perguntar mais uma vez! - Me ameaçou.

- Me coloque no chão Biel eu vou explicar tudo. – Também não me

lembrava dele ser tão alto.

- Me explicar porque você atraiu a minha irmã para Cafundolândia em

outro mundo sem falar comigo?! – Ele não me colocou no chão.

Os soldados agora começavam a caminhar exasperados em nossa direção

eles não iriam deixar que Biel me fizesse algum mal e eu estava preocupado com o que

fariam a ele.

- Me coloque no chão Biel por favor – Ele não cedeu ao meu pedido.

- Biel! – O general Euri atravessava a multidão gritando para que Biel lhe

desse atenção.

Ele olhou a sua direita vendo aquele homem que corria em sua direção o

chamando pelo nome.

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- Pai? – Biel o reconheceu de primeira – Pai! – Biel agora gritou me

largando no chão e indo em direção ao general.

- Sou eu meu filho, sou eu! - Os dois se abraçaram e os soldados se

acalmaram novamente.

Eu observava a cena enquanto segurava meu queixo sentindo alguns de

meus dentes dormentes.

- Você veio meu filho, que bom. – O general falava animado.

- Pai que loucura é essa, porque não me contou?

- Você era muito pequeno, não iria entender.

- Já estou bem grande e ainda não entendo.

- Não se preocupe tudo vai se explicar por si só.

- Onde esta Melissa?

O semblante de alegria do general caiu quando ouviu o nome da filha que

estava aprisionada.

Biel percebeu a mudança e ficou angustiado.

- O que aconteceu com ela pai? Me diga de uma vez. Na última semana

os pesadelos que tinha com ela ficaram piores e então abandonei a Inglaterra e voltei

para casa para procurá-la. Eu sabia que ela tinha ido atrás daquele ali - Biel apontou

revoltado em minha direção - Não me deixando nenhuma informação que me desse uma

direção ao menos, meses se passaram sem nenhuma notícia, eu já estava desesperado e

mamãe também. Então a quatro noites atrás eu acordei brilhando feito um vaga-lume e

sentindo tanta força que seria capaz de levantar um trator. Sem contar que eu estava

lutando feito o Bruce Lee. – Ele falou isso todo orgulhoso fazendo gestos de luta - E

além disso, uma necessidade louca de encontrá-la. Eu sabia que tinha algo errado com

ela ou que iria acontecer. Como na época em que éramos crianças e ela se metia em

enrascadas, eu sempre pressentia e ia até ela para ajudar. E era tão forte a sensação que

comecei a procurar nas coisas dela uma pista de onde ela poderia estar e foi ai que

encontrei a carta que você deixou a ela em seu aniversário, e com as informações

contidas na carta pude pegar as que você tinha deixado para mim que ela não me

entregou.

- Ela não queria que você viesse para cá meu filho. Ela temia pela sua

segurança. – Respondeu o general.

- Onde ela esta pai... Onde esta minha irmã?

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- Vamos até minha casa, lá conversaremos melhor. – O general lançou o

braço sobre o ombro do filho e caminharam rumo a casa. – Você não vem Jeziel? –

Perguntou o general olhando para trás.

Não sabia se seria uma boa idéia, se Biel estaria mais calmo, mas eu

precisava participar da conversa e os segui.

Quando o general e Biel passaram por Vogue pude ver o olhar extasiado

que ela deu respondendo ao olhar também pasmado que Biel lançou sobre ela. Eu já

sabia o que era, mesmo assim fiquei admirado que no meio de toda aquela confusão

pudesse acontecer... O amor a primeira vista.

- Quem é aquela garota pai, a de cabelo curto arrepiado. – Biel falou

interessado.

- Depois meu filho. Agora temos coisas mais urgentes a conversar.

Biel deu uma olhada para trás tentando ver Vogue novamente.

Na casa do general Biel ficou a par de tudo o que acontecera e de tudo

que estava acontecendo. Fiquei surpreso porque ele não pareceu confuso ou duvidoso.

Ele entendia cada palavra e tudo que seu pai lhe dizia caia a ele como respostas de toda

uma vida de questões.

- Então quer dizer que mesmo Melissa aprisionada por esse tal de

Cordomad, ela não corre perigo?

- Potencialmente não enquanto Cordomad não se sentir ameaçado. Mas

não sabemos qual será sua reação quando o nosso exército atacá-los. – Disse o general.

- Então precisamos ir pegá-la antes do exército atacar, precisamos tirá-la

de lá primeiro. - Exclamou Biel.

- Era nisso que eu estava pensando Biel, mas não é tão fácil. – Eu falei

baixo - Nenhum portal atravessa aqueles muros e para entrarmos no castelo e

conseguirmos resgatá-la precisaríamos de alguém que conhece as passagens. O que não

temos.

- Não podemos somente esperar o que ele vai fazer. – Rebateu Biel.

- Eu sei disso e por isso estou planejando entrar no castelo por outras

vias. – Expliquei.

- Jeziel você sabe que é perigoso. – Falou o general nervoso - Cordomad

não vai estar tão às escuras quanto esperávamos que ele estivesse para podermos

resgatar Tamala. É Melissa que esta lá e ele sabe que você ira atrás dela.

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- General, o Senhor tem razão, mas não posso deixar Melissa nas garras

dele. Eu estava pensando em como seria. Eu entraria lá resgatando-a e o exército se

posicionaria para o ataque assim que Melissa estiver comigo mando-lhes um sinal e o

exército invade o castelo.

- Falando assim parece fácil, mas lembre-se que você não sabe onde no

castelo ela esta. Poderia levar horas e até dias para encontrá-la naquele lugar imenso que

mais parece um labirinto. Os soldados e até mesmo Cordomad poderiam te encontrar

antes que você conseguisse estar a centenas de metros dela. E mesmo que seus planos

funcionassem, como vamos destruir Cordomad sem Tamala para nos orientar em como

destruir a esfera?

- General eu tenho que arriscar. Não posso... O Senhor sabe que não

posso deixá-la a mercê das loucuras dele. E lá dentro eu poderei localizar Tamala

também.

- Você não pode ir só – Murmurou o general reconhecendo que essa era a

saída.

- Eu vou com ele – Falou Biel em sua voz de trovão – Afinal é a minha

irmã que eles estão mantendo presa.

- Precisamos então de uma estratégia melhor. Pois temos três alvos a

serem alcançados. Melissa, Tamala e a esfera. Todos se encontram em lugares

desconhecidos e protegidos pela magia de Erkas. Se formos os três cada um com seu

alvo e objetivo poderemos conseguir.

Eu podia ver na mente do general o que ele estava tramando, mas ele fez

questão de explicar em voz alta para que Biel também pudesse compreender.

- Nós três entraremos no castelo pelo calabouço subterrâneo e uma vez lá

dentro nos separaremos em busca de nosso objetivo tentando passar invisíveis ao

Máximo possível. Biel, você vai atrás de Tamala, vai libertá-la e descobrir com ela a

forma de destruir a esfera que contém as almas de Cordomad de Erkas e de Raika. Só

assim poderemos derrotá-los. Jeziel vai atrás de Melissa. Eu sei que você não ficaria

tranqüilo fazendo outra coisa- me olhou compreensivo- e eu vou descobrir onde eles

escondem a esfera e com a informação de Biel através de Tamala, poderei destruí-la.

Dando assim condições a quem quer que enfrente Cordomad, de vencê-lo.

- Mas general, precisamos de você aqui para comandar o exército.

- E quem mais Jeziel, teria condições de ir com vocês?

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Eu podia pensar em uma única pessoa tão forte e tão preparada para uma

missão dessas. E ainda que não fosse de minha plena vontade eu tinha que reconhecer

que ele era o único capaz de conseguir algum resultado, pois ele conhecia o exército de

Cordomad e também o castelo.

- Aragorn – Falei.

O general me olhou surpreso. Ele também sabia que Aragorn seria o

único a conseguir. Mas jamais sugeriria isso sabendo como me sentia em relação a ele.

- Quem é esse Aragorn? - Falou Biel curioso ao ver a expressão do pai.

- Um jovem desertor da guarda real de Cordomad, ele já foi um Drevors.

E conhece a forma como o exército de Cordomad trabalha e também conhece o castelo

por dentro. – Respondeu o general.

- Então o que estamos esperando? Chamem esse homem.

- Tem certeza Jeziel? – O general olhou para mim cismado.

- E porque ele não teria? Qual o problema se ele pode nos ajudar? –

Falou Biel.

- Bem, talvez ele não aceite lutar do meu lado.

- E porque não? – Biel estava ficando curioso.

- Biel – Falou o general – Aragorn ajudou sua irmã quando ela estava

sozinha e perdida por Andaluz. Ele lutou contra soldados e contra Drevors e até contra o

próprio Cordomad e a manteve bem e viva até chegar a mim.

- Ótimo, já estou gostando desse carinha.

- Só que ele ficou muito próximo de Melissa e acabou se apaixonando

por ela. E bem... Ele e Jeziel não se dão muito bem, posso dizer.

- Ah! – Exclamou Biel com a boca aberta me olhando compreendendo a

dificuldade.

- Mas não se trata de mim e sim de Melissa – Respondi – Não me

importo em falar com ele, nem em dar-lhe um beijo se for preciso, o que quero é que

Melissa esteja bem e se para isso eu precisar dele – Engoli seco - Não tem problema.

- Não acho que ele pense assim. Acho que quando ele souber que Melissa

esta aprisionada ele vai lá resgatá-la, sozinho, e não nos ajudara em nada. – Falou o

general – Ele é bem capaz de fazer isso.

- É um risco – Ecoei em resposta aos pensamentos do general.

- É um risco? – Biel não entendeu.

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- Ele não se importa com o reino nem com Cordomad e tenho certeza que

ele não quer Jeziel como rei em Andaluz. Ele é capaz de salvar Melissa porque ele a

ama, mas nos deixaria para trás para Cordomad.

- Legal!... – Falou Biel pensativo enquanto nós o olhávamos estarrecidos

– Não. Quero dizer... Se esse carinha gosta tanto de Melissa a ponto de salva-la e deixar

Jeziel para morrer ele é muito inteligente, quer dizer... Ele conseguiria o que queria e...

Bom... Acho que não tem nada a ver... Só pensei. Vocês entenderam não é.

- Que cunhado eu fui arrumar – Soltei.

- Não cara, me desculpe. Não que eu queira isso, você sabe que gosto de

você. É que vocês tem razão, se é assim como dizem ele pode mesmo querer fazer isso.

É realmente arriscado.

- Por isso é melhor pensarmos bem - Disse o general novamente a mim.

As horas passaram e ainda pensávamos na melhor estratégia para resgatar

Melissa.

Já estava amanhecendo. Biel dormia sentado no sofá e o general e eu

traçávamos sobre os mapas estratégias para a batalha. O sol surgiu radiante pela janela

acordando Biel. Eu e o general não tínhamos nem sequer sentado a noite inteira.

- Sonhei com aquela garota do cabelo arrepiado – Foram as primeiras

palavras de Biel pela manhã.

O general me deu um olhar cúmplice.

- O nome dela é Vogue – Falei.

- Vogue, Que espécie de nome é esse?

- Em Andaluz é um nome bem comum, como Maria ou Ana. – Falou o

general.

- Vê se não comenta nada sobre o nome dela, ela pode se chatear – Dei a

dica.

- Claro que não. Mas quando a veremos novamente?

Alguém bateu a porta.

- Agora – Respondi a Biel que andou para atender.

- Ola Biel – Falou Vogue numa voz melodiosa. Com certeza tentando

impressioná-lo. Perda de tempo, ele já estava prá lá de impressionado.

Desde a primeira vez que vogue vira uma foto de Biel quando ela ainda

era criança, se apaixonou imediatamente por ele. Por toda a adolescência ela esperou o

dia que pudesse vê-lo pessoalmente. Eu não conseguia Entender exatamente como isso

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aconteceu com ela até porque na foto Biel também era só uma criança, mas é mais uma

daquelas coisas que o destino reserva para acontecer. Unir duas pessoas pelos laços do

amor mesmo antes de se conhecerem como comigo e Melissa. Eu só me perguntava em

como Melissa enfrentaria isso já que ela deixou bem claro que não ia com a cara de

Vogue. E o irmão que ela adora agora ia começar a ser despertado pelo amor que ele

nunca sentiu por ninguém. Logo por Vogue.

- Oi Vogue – Respondeu Biel totalmente encantado.

Respirei fundo vendo a cena e me lembrando das vezes que eu ia me

encontra com Melissa e a via abrindo a porta com o olhar tão apaixonado quanto o meu.

E meu coração respondeu agudamente de saudades dela.

O general bateu sua mão em meu ombro se solidarizando com minha dor.

- Logo vocês estarão juntos novamente. Creia nisso.

- Eu a amo demais general – Falei num desabafo.

- Eu sei meu filho... Eu sei.

- General esqueça todos os riscos, eu preciso ir até ela. Não me importa

se Aragorn me deixar para morrer. Se Melissa estiver bem eu estarei feliz. Ele pode

conseguir. Talvez tenha mais chances do que eu. Não posso deixar a vida de Melissa

nas mãos inimigas por ciúmes. Eu vou atrás dele.

- Como fará isso?- Perguntou o general.

Peguei a mochila de Melissa sobre o sofá e vasculhei suas coisas, eu

sabia que ela tinha a chave, Vogue havia me contado. E encontrei a pedra que me

levaria ate a ilha chamada marfim.

Abri a mão mostrando a pedra.

- Vou fazer uma visitinha a ele.

Biel gritou da porta.

- Vou com você.

E vogue anunciou.

- Eu também.

Sabia que não seria fácil a minha conversa com Aragorn. Mas sabia

também que ele não deixaria de fazer o que pudesse para resgatar Melissa e isso era o

que me importava agora.

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Capítulo 9

Aprisionada Acordei com a enorme porta sendo aberta e me empurrando

pelo chão.

- Afaste-se – Uma voz grave e amedrontadora vinha por trás da grossa

porta de madeira.

Me levantei assustada e sentindo todo meu corpo rígido. Eu não achei

que tinha dormido atrás da porta, me pareceu mais que eu havia desmaiado de tanto

esforço que fizera tentando abri-la. Quando me afastei, um homem mal encarado entrou

em minha cela trazendo uma bandeja de alimentos e uma muda de roupas e as colocou

sobre a cama.

- Você tem dez minutos. – Me falou o homem.

Olhei para a porta na intenção de sair correndo por ela, mas ele

me olhou de uma forma tão amedrontadora que desisti antes mesmo de tentar. Ao sair

ele bateu a porta e eu permaneci em pé onde ele me deixara. Eu sabia que eles queriam

que eu me alimentasse e me vestisse, mas fosse para o que fosse eu não faria o jogo

deles.

Dez minutos depois eu ainda estava de pé no mesmo lugar apesar de me

sentir exausta. A porta se abriu novamente e por ela passou uma mulher que mais

parecia uma ninfa com seu vestido longo e preto. Seu decote deixava parte de seus seios

e de seu ventre expostos e outro decote na saia expunha suas cochas. Ela era linda e

pude identificá-la assim que a vi me lembrando da visão que tive com ela na sala das

almas. Era Erkas a feiticeira, rainha de Andaluz e mãe de Raika. E eu me questionei

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porque os vilões de Andaluz não podiam ser figuras feias e asquerosas com verrugas e

descabeladas como os vilões nos filmes da minha dimensão. Ou talvez aquela beleza

toda fosse fruto de feitiços e magias como julguei a de Cordomad. Mesmo pensando

assim foi impossível não me sentir um ínfimo parasita ao lado daquela mulher

exuberante.

- Vejo que não aceitou nossa cortesia - Sua voz conseguia ser tão doce e

tão melodiosa como a de Raika. – Infelizmente querida você vai ter que ceder aos

nossos cuidados. Cordomad vira te ver mais tarde, e sei que ele quer te ver bem bonita.

- O que você quer? – Gritei exacerbada ignorando sua falsa educação.

- Calma Melissa, eu não quero nada, já tenho tudo que quero. Meu reino,

meu trono, meus súditos, e cada momento que passa tenho mais poder, graças a uma

amiguinha sua que também se encontra hospedada aqui no castelo. Eu só vim te ver por

curiosidade. – Ela andou até mim serpenteando numa passarela invisível. Me circulou

observando-me de cima a baixo – Afinal eu tinha que ver pessoalmente a pessoinha que

arrebata os corações e causa tanta confusão. E agora que te vejo entendo menos ainda o

que é que Cordomad viu em você. Não que eu me importe sabe, eu também tenho os

meus brinquedinhos... Mas você? – Ela falou com desdém - Não é exatamente o que eu

imaginava. É claro que você tem uma certa beleza exótica, afinal você não é desse

mundo e isso pode ser um atrativo, mas você é tão... tão... Simples – Os lábios carnudos

e vermelhos dela se retorceram em desaprovação. – Erkas deu um sorrisinho que me

lembrou Raika – Homens, nunca vamos entendê-los. Mas de qualquer forma você tem

um compromisso e precisa se preparar para ele. – Entrem. – Ela falou direcionada a

porta.

Uma dezena de mulheres, cada uma mais bonita que a outra entrou em

minha cela. Algumas empurrando uma enorme banheira cheia de espuma e pétalas de

rosas, outras com seus braços cheios de tecidos e escovas. Quando se aproximaram de

mim eu ameacei lutar, mas Erkas me olhou e todo o meu corpo já não respondia aos

meus comandos. Ela havia me paralisado.

Aquelas mulheres então conseguiram se aproximar retirando minhas

peças de roupa e antes que me colocassem na banheira Erkas estendeu sua mão pegando

a coroa que ainda estava sobre minha cabeça. Ela a olhou examinando cada pedra,

colocou sobre a cabeça acho que avaliando seu poder. Apesar de não conseguir me

mexer me apavorei. Ela estava com a coroa. depois a arrancou de sobre sua cabeça com

desprezo e a lançou sobre a cama.

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- Esses feitiços antigos são mesmo uma droga não! – Ela exclamou

parecendo chateada. - Quem poderia quebrá-los?

Olhei para ela espantada. Ela tinha mesmo largado a coroa? Então era

verdade. Somente se eu a desse a alguém que poderiam usufruir de seus poderes. E eu

sabia que eram muitos só não sabia como usá-los. Era de certo frustrante não ser capaz

de usá-los ao meu favor.

- Então queridinha, aproveite seu banho relaxante. Mais tarde nos

veremos.

Era irritante a forma mansa e envolvente que toda essa família falava.

Suas vozes de seda por cima de intenções sarcásticas e cruéis. Eles eram sem dúvida a

pior espécie de seres em todo o universo. O tipo que é capaz de mandar alguém direto

para morte com um beijo.

Eu ainda não conseguia me mover, não tinha controle nem mesmo em

um dedo sequer e aquelas mulheres me lavavam e me perfumavam cuidadosamente,

preparando-me como um presente ou como um prato para ser apetitoso. Eu estava

irritada, mas nem mesmo meu rosto conseguia expressar meu desgosto.

Elas me retiraram da banheira me secaram me pentearam me vestiram

sempre caladas. Colocaram jóias em meus pés e em meus braços. E puseram diante de

mim um espelho para que eu me admirasse.

O vestido rubramente vermelho de cetim me fazia sentir nua na verdade.

Seus imensos decotes faziam questão de deixar meu corpo a amostra eu estava

totalmente desconfortável com aquilo. - E ainda imóvel - Notei quando as mulheres se

prepararam para sair levando consigo minhas roupas épicas que eu tinha a intenção de

assim que tivesse meus movimentos de volta as vestir novamente.

Elas saíram e novamente eu estava sozinha. Quando a porta se fechou

meus movimentos voltaram. Corri até a cama pegando de volta minha coroa.

- Quero ver Leo – Falei a coroa, mas em minha mente um giro de

trezentos e sessenta graus dentro daquela cela era tudo que eu conseguia ver. Ela não

conseguia romper a barreira mágica que havia ali. Tentei mais algumas vezes até que

minha cabeça começou a doer de tanto ver a mesma imagem da prisão girando em

minha mente.

Depois de um tempo a porta novamente se abriu. Um homem de trajes

marciais entrou por ela.

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- O rei Cordomad te espera. – Ele apontou a mão para fora da cela

indicando que eu passasse por ela. Não queria ver Cordomad, mas imaginei que fora

daquela proteção da minha prisão eu conseguiria fazer contato com Leo. Então

atravessei a porta seguida por mais dois homens encapuzados e guiada por mais dois.

Saindo dali pude ter um noção de onde eu estava. O corredor por onde

passávamos era enorme em sua largura e altura. Colunas gigantescas iam até o teto que

de tão alto mal conseguia vê-lo. Armas no estilo medieval penduradas pelas paredes e

quadros enormes pintados com paisagens de Andaluz se alternavam em cada bloco das

paredes que de tão brancas chegavam a ser cristalinas. O piso de tão brilhante parecia

espelho. Me lembrei de Jeziel me contando o quão belo era o palácio. Ele tinha razão.

Suntuoso, glorioso, esplêndido em sua arquitetura, decoração e imponência.

Descemos uma escada branca em espiral e chegamos a uma sala toda em

vidro decorada num estilo do século dezoito. Andaluz parecia mesmo estar parada no

tempo. Se não fossem os dons extraordinários que cada um carregava em si eu poderia

chamá-los de retrógrados, mas tudo era perfeito e de muito bom gosto.

Pela parede de vidro pude ver um jardim fabuloso. Os homens me

guiaram até lá, e ao chegar ao jardim lá estava Cordomad de costas mexendo num

canteiro de rosas.

- Seja bem vinda – Ele falou estando ainda de costas. Quando se virou

tinha em sua mão uma rosa amarela. Pensei que ele iria dá-la a mim, mas ele não o fez.

Deitou-a na palma de sua outra mão e a observava com admiração.

Um frio e calculista assassino sanguinário; tirano, cruel e mercenário que

gostava de rosas. – Pensei – Que choque de interesses. O que mais me falta ver nesse

mundo?

Quando ele finalmente olhou para mim seus olhos percorreram todo meu

corpo, principalmente sob os decotes. Tentei juntar os tecidos com as mãos, mas não

adiantou. Havia muito pouco pano.

- Não se preocupe, Você esta linda. Tanto quanto imaginei que ficaria

nesse vestido. – Ele falou tentando ser galanteador. Na verdade senti medo.

Enquanto ele andava pelo seu jardim eu tentava silenciosamente contato

com Leo esperando que a coroa me ajudasse. Eu estava ao ar livre podia funcionar.

Leo... - Eu falava em minha mente. Dali eu podia ver vários lugares que

eu julgava ser dentro do castelo, mas não consegui contato externo.

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- Venha! – Cordomad estendeu a mão para que eu a segurasse. Recusei-

me. Primeiro que não tinha a menor intenção de ter contato físico com ele e depois que

me lembrava que o seu poder se intensificava sobre sua vítima pelo toque. Quando me

retrai ele deu um sorriso malicioso que me provava que se ele quisesse me tocar mesmo

a força eu não teria como impedi-lo. Ele andou e eu então o segui até uma mesa

tipicamente de jardim.

Ele me acomodou na cadeira sem tocar em minha pele e se sentou a

minha frente. A beleza dele era algo estranho. Por mais que eu não quisesse olhá-lo uma

força que vinha dele me obrigava. A expressão, “presença magnética”, se aplicava

literalmente a ele.

- Como passou sua noite Melissa? Espero que não tenha perdido uma

noite de sono.

- Dormi muito bem obrigada – Já que ele queria jogar eu jogaria também.

E enquanto estivesse ali fora tentaria algum contato com Leo.

- Fico feliz que tenha descansado.

Dei um sorriso forçado. E minha mente estava vagando tentando achar

uma brecha que me permitisse passar e me comunicar.

- Minha esposa Erkas me disse que você não foi muito receptiva a ela

essa manhã. E que rejeitou seu café. Não quero que fique fraca, - falou em voz Cortez -

nem que pensem que estou te maltratando. Não é essa a minha intenção.

Eu já estava olhando em seus olhos, mas uma curiosidade brilhou nos

meus ele percebeu.

- Que espécie de prisão é essa? – Perguntei.

- Não quero que pense em seu quarto como uma prisão e sim como uma

hospedagem.

- Numa hospedagem eu teria a chave do meu quarto.

- É isso que a esta incomodando? – Ele me fitou pensativo – Nós

podemos dar um jeito nisso. Se eu puder confiar que você não vai fugir... – Ele me

olhou esperando uma resposta. Como não falei nada ele prosseguiu – Esta vendo, são só

medidas de segurança. Mas não se preocupe, ninguém vai te ferir aqui. Se eu quisesse

realmente te machucar não acha que eu já teria feito?

- É por causa da coroa. Eu sei.

- Antes era. Agora não é mais só por isso. – Ele me olhou de uma forma

tão profunda que minha carne tremeu.

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- Você pode, por favor parar de fazer isso para podermos conversar.

- Fazer o que?

- Parar de tentar me seduzir com seus poderes. – Era bom ele saber que

eu sabia o que ele estava fazendo.

Ele riu.

- Desculpe-me Melissa, mas é algo involuntário. Não que eu ache ruim,

mas na maioria das vezes acontece até mesmo sem eu perceber. Um dom natural sabe...

Olhei para ele duvidando do que ele falava.

- O que quer de mim Cordomad? Você sabe que eu não te darei a coroa.

- Talvez não agora, mas eu tenho tempo, todo o tempo do mundo para

esperar sua decisão.

- Você não tem tanto tempo quanto pensa. Leo vira me buscar.

- Leo? - Ele pareceu confuso – A sim, Jeziel. – Os olhos dele ficaram

inexpressivos olhando através de mim – Será pior para ele. Mas eu acho que ele não vai

ser tão tolo em vir até aqui. Sendo que bem que se ele vier vai me poupar um bocado de

trabalho. Mas ele sabe que estamos preparados para evitar uma invasão. Não creio que

ele seja tão tolo, ainda mais com o general Euri como estrategista. – Ele voltou a me

olhar – Não se firme nisso Melissa. Ainda que seu Jeziel queira dar uma de herói, ele

vai acabar exatamente onde eu quero. – o olhar dele trazia uma sentença de morte.

- Você não pode machucá-lo. – Falei angustiada diante da expressão dele.

- Isso vai depender de você. Esta em suas mãos o destino daquele que

você ama. Se você me desse à coroa agora eu te deixaria ir para casa se encontrar com

Jeziel e nunca mais eu os atormentaria novamente.

- Eu não posso acreditar nisso.

- Claro que pode Melissa. Você só ouviu um lado da história, mas se

ouvir a minha, verá que não sou tão mal como falam de mim.

- Você matou o pai de Jeziel para tomar o reino – acusei.

- Política Melissa, somente política. Eu sou um revolucionário e quero

que meu povo tenha o direito de ser realmente livre e poder fazer suas próprias escolhas.

Jeriel era um rei controlador. Ele mantinha toda Andaluz debaixo de sua vontade e não

dividia o poder dele com mais ninguém. Todas as vilas, todas as regiões de Andaluz

eram governadas por ele com mãos de ferro. Nem todos estavam satisfeitos com seu

governo. Queríamos mais, queríamos liberdade para andar livremente por todas as

aldeias por todos os vilarejos, queríamos liberdade para amar a quem quiséssemos. Até

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nosso amor era controlado por ele. Hoje o que eu dei ao povo de Andaluz foi a

liberdade. Liberdade de escolher com quem quer viver sua vida e o que quer fazer dela.

E você andou por Andaluz Melissa, você conheceu várias pessoas. E eu te pergunto,

onde esta a insatisfação na forma de vida que eles levam agora? Quem reclamou da vida

que tem hoje? A não ser os rebeldes. Você tem outra opinião além daqueles que querem

me destruir?

Eu olhava atônita vendo-o defender sua causa.

- Diga-me Melissa, agora que esta de frente a mim, você me vê realmente

como uma pessoa má, ou só me acha mal porque foi envenenada pelos meus inimigos

antes mesmo de me conhecer?

Fiquei em silêncio.

- Eu poderia ter te matado não acha? Ou poderia te matar agora mesmo e

sem levantar um dedo. – tremi novamente - Essa coroa não é tão importante para mim

quanto você pensa. Eu já tenho o reino. Posso matá-la e mesmo sem a coroa continuarei

reinado. Mas acontece que não sou tão cruel quanto me julgam.

- Então porque tanto trabalho, porque não me deixa simplesmente ir

embora?

- Porque seu Leo quer meu trono. E isso eu não posso permitir. Se eu

tivesse a certeza que vocês iriam embora; simplesmente fossem embora, eu deixaria

vocês partirem. Mas Jeziel quer meu trono a todo custo mesmo que para isso ele tenha

que sacrificar você.

- Me sacrificar? – falei confusa.

- Me desculpe querida, mas você não pode negar que por causa do trono

de Andaluz ele é capaz de fazer qualquer coisa. Ele te deixou... Ele te abandonou

mesmo sabendo que você o amava. Enquanto ele pensava que você era a escolhida ele

estava com você, mas não pensou duas vezes em vir com Raika para cá quando achou

que ela seria a futura rainha de sua profecia. Ele queria o trono ainda que custasse a

você o sofrimento ao qual te fez passar. Na verdade ele não pensou em você, ele só

pensou em conseguir me destruir e tomar meu reino. Não pensou em sua dor ou em seu

amor, não honrou as promessas que ele havia feito de que vocês ficariam sempre

juntos... E porque você esta aqui hoje? Porque acreditou que ele precisava de você.

Você sim se sacrificou por ele. Ele não fez isso por você Melissa, e eu nem acredito que

ele te ame tanto como fala. Talvez ele esteja firmado na profecia em busca do trono. A

profecia diz que vocês dois conseguirão me derrotar. Será que toda essa luta de Jeziel é

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realmente porque ele te ama ou porque ele precisa de você como uma arma contra mim?

Você Melissa é o amor ou a arma dele?

As palavras dele estavam me chocando. Seria verdade o que ele me

dizia? Que Leo estava comigo somente pelo trono. Se ele tivesse outra opção para

derrotar Cordomad ele ainda estaria comigo?

Não. Eu não podia pensar assim. Leo me amava eu sabia disso.

Cordomad estava tentando me confundir e me enfraquecer, era só isso. Eu tinha que ser

firme e acreditar no amor do meu Leo. Não me deixar enganar pelos ardis de

Cordomad.

- Mas vejo que essa conversa esta te aborrecendo. Podemos mudar de

assunto?

Olhei para o rosto de Cordomad e ele continuava sereno como estava

quando cheguei. Aquilo me irritou.

- Me diga Melissa, como é o seu mundo? Raika me dissera que é muito

diferente do meu e muito divertido também. Estou querendo ampliar os horizontes de

Andaluz e dar ao meu povo mais diversão e evolução. O que você sugere que eu exporte

do seu mundo para o meu?

- Óleo de peroba! – Falei num tom manso como o dele.

- O que seria esse tal óleo de peroba? – Perguntou curioso.

- É uma espécie de óleo que usamos para lustrar madeira e evitar que elas

rachem pela secura. Iria cair muito bem nessa sua cara de pau!

O humor de Aragorn mais uma vez me influenciou. Cordomad me olhou

captando a mensagem.

- Ah! Isso não foi muito gentil, não é? – Ele se levantou da cadeira

circulando a mesa e se posicionando atrás de mim. – Eu compreendo que você esteja

nervosa. – Falou em voz sedutora. Sua mão pousou sobre meus ombros e com o toque

dele uma descarga elétrica correu por todo meu corpo. Ele me segurou pelos braços me

fazendo levantar ficando com seu corpo colado por trás do meu. Suas mãos deslizavam

pelos meus braços e meus sentidos quase se perderam. Seu poder era tão nocivo quanto

o encanto de uma serpente contra sua vítima. Uma hipnose sensorial.

Cordomad percebeu minha fragilidade e roçou seus lábios pelos meus

cabelos em busca da minha orelha e sussurrou com a voz rouca e macia.

– Mas você será gentil pra mim... não é mesmo? Sei que me quer...

Eu pisquei várias vezes antes de responder

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- Não. – Minha voz não saiu tão determinada como era necessário e

minha força estava se tornando em gelatina.

- Eu não acredito em você – Ele ainda sussurrava em meu ouvido agora

me segurando pela cintura forçando meu corpo contra o dele.

- Não! – Busquei toda força em mim e o pouco de sanidade que ele não

havia corrompido com seu poder e me afastei dele bruscamente. – Eu não quero você!

Afaste-se de mim.

Os olhos dele estavam ferozes em mim, não como se fossem de raiva

mais como de uma fera que aprecia a visão de sua presa indefesa antes de atacá-la.

- Você foi a primeira mulher que me disse não – Ele parecia deliciado

com isso.

Agora mais controlada eu podia responder.

- E esse não será o último. Pode apostar nisso. – Falei mal humorada.

Ele riu evidentemente se divertindo com minha ameaça. E eu sabia o por

que. Na hora que ele quisesse me obrigar eu não teria forças para reagir ao seu poder.

Ele não tinha usado todo seu potencial comigo ainda. Ele estava testando os meus

limites. Só não sabia por quê. Era provável que ele estivesse mesmo só se divertindo as

minhas custas.

- Eu gosto desse seu jeito. Você é fascinante Melissa. Mas infelizmente

vou ter que privá-la de minha companhia por algum tempo. A algumas coisas pendentes

precisando da minha presença para serem resolvidas. Sabe como é a vida de um rei.

Queixas e mais queixas, problemas e mais problemas, e tudo sou eu quem resolve. Seu

Leo não tem idéia do que ele esta querendo para si. Se ele fosse um pouquinho

inteligente, tinha se mandado daqui com você assim que teve oportunidade e ido viver

feliz, tranquilamente, só com você em algum lugar. Ah é... Mas ele quer o trono, viver

feliz com você não é tão importante. Que pena.

Cordomad saiu e eu dei graças por me livrar de sua influência. Logo os

quatro homens que me levaram até ali já estavam ao meu redor. O da frente fez sinal

com a mão para que eu caminhasse de volta a minha cela.

Por todo o caminho de volta tentei algum contato externo, mas mesmo

com a coroa eu não conseguia nada.

Como que eu consegui ver e ouvir Leo enquanto ele estava aprisionado

aqui?

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De volta a minha cela, me sentei com as pernas cruzadas sobre a cama.

Eu estava irritada comigo mesma. Não havia gostado da reação que minha mente teve

ao ouvir Cordomad tentando me colocar contra Leo com aquela estória de que ele me

tinha como uma arma. Eu sabia o que ele queria fazer. Se por algum minuto eu duvidar

do amor de Leo por mim naquele lugar, eu não me esforçaria tanto para manter a coroa

fora do poder dele. E também não gostei nadinha da reação do meu corpo ao toque

maligno dele. Eu tinha que ser mais forte. E para que essa droga de coroa estava sobre

minha cabeça se ela não estava me ajudando em nada? Eu tinha que fazer alguma coisa.

Eu tinha que conseguir usá-la ao meu favor.

Eu estava totalmente vulnerável ali. E por ser imprestavelmente leiga

com meus dons eles não me tratavam como uma prisioneira real. Porque eu não dei

ouvidos a Leo, Porque não me esforcei mais para poder desenvolvê-los? Agora estou

aqui com essa coroa cheia de poderes e totalmente inútil. Do que adianta tê-la se não

sei usá-la? Todos a querem e eu a tenho. De que me adianta?

- Mas quem sabe... – Falei a mim mesma. Eu não poderia simplesmente

ficar de braços cruzados me lamentando. Eu poderia fazer algo. Eu poderia tentar

aprender a usar seus poderes ao meu favor a partir de agora. Não teria nada a perder.

Me levantei e fui até a porta coloquei meu ouvido tentando perceber

algum som ou vozes. Como não ouvi nada do outro lado corri para a cama novamente e

me concentrei. A coroa poderia não me servir agora para me comunicar com quem

estivesse de fora, mas ela poderia servir a mim aqui dentro.

- Então coroa linda, vamos trabalhar. – Falei num sussurro.

Não sabia exatamente o que fazer, então resolvi perguntar a coroa o que

ela poderia fazer principalmente para me proteger de Cordomad e de sua sedução

maligna. – Me mostre.

A visão de um feixe de luz saindo pelos poros de Cordomad que vinham

sutilmente flutuando pelo ar até se encontrar com a minha pele me surpreendeu. A coroa

estava me mostrando como o poder dele funcionava. Era invisível aos meus olhos, não a

ela. Então pude perceber como acontecia. Mesmo distante ele mantinha contato com a

sua vítima por isso mesmo sem o contato propriamente físico a atração magnética

acontecia. A coroa me mostrou ainda quando as mãos de Cordomad tocaram minha

pele. Uma carga extra de energia e luz vinha de suas mãos por isso a sensação de

impotência e falta de reação. Estava compreendendo como funcionava, ainda tinha que

aprender a me defender. O foco da coroa que estava em Cordomad mudou para mim me

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mostrando uma outra forma de energia, dessa vez fluindo de meus poros num brilho

espelhado. De certa forma repelia também sutilmente as forças que emanavam de

Cordomad fazendo que elas se revertessem para ele como se ele as estivesse enviando a

um espelho e refletindo a ele de volta. Ai estava a minha defesa eu poderia refleti-la de

volta a ele. Era como um escudo. E se eu realmente desse conta de realizá-lo estaria

protegida contra suas investidas. E contra Erkas posso usar o espelho? A coroa me

mostrou também o brilho espelhado em mim e agora Erkas estava em minha visão. Mas

ele não repelia o poder dela contra mim. Ela não usava seus dons, eram seus feitiços e

contra eles somente outro feitiço teria poder.

Então eu não tinha como me defender dos feitiços de Erkas. Isso não era

nada bom. Ainda mais depois de a ouvi dizer que estava ficando cada dia mais forte

com a ajuda de uma amiguinha minha que também se encontra aqui. Pelo que eu saiba

somente Tamala além de mim estaria aprisionada no castelo. O que será que eles

deviam estar fazendo a ela? E porque a mantinham viva? Que utilidade ela tinha a eles?

Por horas passei olhando para as paredes do meu cárcere. Preocupada

com o que Jeziel poderia estar tentando fazer e principalmente, com o que Cordomad

me disse.

Cordomad dissera que me veria mais tarde.

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Capitulo 10

Meus planos para ilha marfim era para que eu tivesse meus

dias de paz e sossego pelo resto da minha vida. E é exatamente o que não consigo ter

desde que cheguei aqui. E não acho que terei algum dia.

- Garota... O que você fez comigo? – Falei sozinho enquanto caminhava

pela praia.

Melissa não me saia da cabeça. E não só hoje. Nem só agora porque a

estava esperando. Não é porque ela disse que viria... É desde o dia em que a vi pela

primeira vez.

Eu estava escondido nas árvores perto da cachoeira esperando que os

estranhos que passavam tão longe da estrada não percebessem minha presença e daí eu a

vi. Com seu jeito de menina assustada olhando para os lados procurando por algo.

Ernest a deixou sozinha na beira do rio para buscar lenha e então a vi mergulhar nas

águas. Ali escondido fiquei observando cada traço da roupa molhada que colava em seu

corpo perfeito. Seus cabelos escuros que combinava tão bem com seus olhos escorrendo

num traço delicado pelas suas costas e seu rosto angelical, seus lábios exatos e rosados,

seu jeito gracioso destoava de tudo ao seu redor. Ela parecia tão alheia aquele lugar, tão

diferente de tudo que a cercava. Eu não conseguia tirar meus olhos dela.

Quando percebi que eles não iriam sair dali me mantive escondido com a

desculpa de esperar a noite para me servir de sombra, só que o que eu queria mesmo era

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continuar olhando aquela garota que estava me intrigando. Tentei ler sua mente, mas

estava bloqueada. O que ela estaria escondendo?

Do lugar onde eu estava não podia ouvir o que eles conversavam, mas

ver os lábios dela se moverem estava me dando uma distração e tanto. Era fascinante

observá-la. Ela sorria mais com os olhos do que com seus lábios. Vez ou outra um

sorriso tímido iluminava ainda mais seu rosto que parecia ter luz própria. E me

iluminava. Como uma estrela. Assim me senti enquanto olhava para ela. Como se eu

estivesse admirando uma nova estrela no céu. O céu que eu conhecia de cor e as estrelas

que eu tanto admirava não poderiam jamais me dar o prazer que estava tendo em

admirá-la. Acho que foi exatamente nesse momento que me apaixonei por ela. Uma

paixão a primeira vista. Mesmo que tenha demorado muito tempo para descobrir isso.

Quando os soldados de Cordomad apareceram e atacaram os dois, eu

permaneci escondido. Ninguém havia me visto e eu queria que continuasse assim, a luta

não era minha. Pensei em ir embora várias vezes enquanto os via lutar, mas ao vê-la tão

assustada e lutando pela própria vida sem nenhuma experiência em luta, pois dera para

notar, um sentimento novo tomou meu ser. Eu tinha que defendê-la... Eu tinha que

protegê-la. Lutei naquele dia por ela sem nem mesmo a conhecer.

Quando, depois da luta acabar me aproximei dela encolhida e assustada

debaixo da árvore, ela me olhou por uma fração de segundos. Eu pude ver que ela era

ainda mais linda de perto do que eu tinha visto de longe. Ela se encolheu mais ainda,

assustada, Ernest a abraçou preocupado, e Melissa começou a chorar.

Quando a vi chorar não posso explicar o que senti. Uma garota como ela

tão frágil tão sensível não devia jamais sofrer, ela não devia jamais ter um motivo para

chorar. Foi o que pensei. Um sentimento estranho para se ter por alguém que nem se

conhece, mas eu não queria que ela estivesse chorando. Daquele ponto em diante eu

deveria saber que minha vida nunca mais seria a mesma.

Aquela foi à primeira noite em que passei observando-a enquanto ela

dormia. Agitada pelo dia estressante, mesmo assim seu brilho não diminuiu. E quantas

noites passei em claro depois dessa, só para vê-la dormindo. No seu jeito tão dela,

abraçada em sua capa como se fosse um apoio, seus lábios entreabertos e na medida em

que sonhava seus lábios ensaiavam um sorriso ou às vezes o canto de sua boca arqueava

levemente para baixo acompanhada de um profundo suspiro e eu sabia mesmo sem

poder ler seus pensamentos que ela não estava feliz no sonho. Ela pensava que eu estava

vigiando a noite, mas o que eu queria era só que ela dormisse enquanto eu a admirava.

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Todas as noites que eu observava o céu, cantava para as estrelas esperando que um dia

uma delas caísse bem ao meu lado. E de repente uma estrela surgiu. Melissa caiu na

minha vida como uma estrela. Minha estrela. Uma única estrela dentre bilhões que

existem no céu, mas a única que pode me iluminar.

Erzoul meu amigo... Ele foi o primeiro a notar, antes mesmo de mim o

que eu estava sentindo. Na verdade ele jogou na minha cara que eu estava apaixonado

por ela.

- É um imã Erzoul, não é paixão. Ela tem uma espécie de imã que me

atrai. Aonde ela vai eu me sinto atraído a ela. Deve ser algum tipo de dom. Seus olhos,

sua boca, sua voz me prendem. Nunca senti isso por ninguém. Isso não é normal. –

Falei com ele em pensamento enquanto Ernest estava sendo tratado.

- Ela não tem nenhum dom como esse, ou eu também sentiria. Você esta

é apaixonado por ela, aceite. – Ele falou um pouco presunçoso - Mas eu me alegro com

isso. Alguém tinha mesmo que ser capaz de destravar esse seu coração.

Na verdade eu não queria me entregar ao que estava sentindo. Afinal

quem pode dizer estar apaixonado por alguém que se conheceu a um dia? Quando a

levei para uma volta, quis provar para mim mesmo que Erzoul estava errado. Apesar de

estar encantado com a beleza e o mistério que cercava Melissa, eu tinha que me manter

distante, o que não era fácil, sentado de frente a ela na mesa vendo-a beber, rodeada por

uma atmosfera que não se parecia nada com ela, era impossível eu não ser envolvido.

- Quem é você garota? Seu jeito não é como o de ninguém daqui. Eu vejo

como você fala e como olha para as coisas. Como se tudo fosse novidade para você. É

como se você não pertencesse a esse mundo. – Perguntei intrigado.

Ela não iria me contar seu segredo e eu não queria ficar ali enquanto me

perdia mais em seu olhar. A garota encostada no balcão estava me chamando, e eu

estava mesmo querendo uma distração dos olhos de Melissa. Deixei-a sozinha na mesa,

ela não se importou com isso. Fui até o quarto com aquela mulher, na intenção de me

divertir um pouco, mas quando ela me beijou, quando minhas mãos tocaram o corpo

dela, eu percebi que não eram aquele corpo que eu queria abraçar, não eram aqueles

lábios que minha boca queria. Fechei meus olhos com força para me concentrar naquela

que estava ali comigo, mas minha mente só me mostrava Melissa.

- Não pode ser – Falei para mim mesmo assombrado com o que estava

sentindo.

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- O que você disse? – Perguntou a mulher julgando que eu falava com

ela.

- Nada querida, nada... – Respondi sendo gentil e tentei novamente me

concentrar nela. Mas não dava. Então desisti meio frustrado comigo. Me desculpei com

a moça e desci as escadas pensando em como deveria me comportar depois do que eu

tinha descoberto de mim mesmo.

Quando vi que Melissa não estava onde a deixei me assustei.

Disfarçadamente um homem da mesa ao lado da nossa me indicou com o olhar a porta

dos fundos. Quando vi aquele brutamonte ameaçando Melissa eu fiquei louco.

- Solte a garota - Eu não gritei, mas tenho certeza que minha voz saiu

mais forte do que devia. Eu não queria que o homem se assustasse e a soltasse, por isso

não bradei. Eu queria que ele me desse a oportunidade de acabar com a raça dele só por

pensar em fazer algum mal a ela.

- Quem é você, o protetor dela?

A voz dele me irritou ainda mais e eu não daria outra chance dele falar

mais alguma coisa. Num só golpe derrubei-o desacordado ao chão. Eu até que respondi

sua pergunta, mais duvido que ele tenha ouvido.

Melissa estava apavorada. E eu estava muito irritado. Porque ela não fez

nada para se defender? Porque ela simplesmente se deixou levar sem lutar? Será que

ela não sabia o risco que estava correndo? Quando vi então seus olhos cheios de

lágrimas, e ela me pedindo desculpas por não saber se defender, meu coração se

derreteu por dentro. Ela iria mesmo precisar de mim e eu confessei para mim mesmo

que fiquei muito feliz em saber que eu teria uma desculpa para ficar ao seu lado.

No caminho de volta até a casa de Erzoul um casal passou por nós de

mãos dadas. Aquele simples gesto me chamou a atenção. Andar de mãos dadas com

alguém reflete tanta comunhão, tanta afinidade, tanta intimidade. Eu vinha fugindo

disso a tanto tempo. Mas naquele momento eu os invejei. Queria estar andando de mãos

dadas com alguém. Queria andar de mãos dadas com a garota que caminhava ao meu

lado.

Ela percebeu alguma coisa em meu olhar e me questionou se eu não

queria ficar com alguém. Até me sugeriu a mulher que vira comigo nesta noite. Ela

ainda não tinha percebido que eu estava fascinado por ela.

- Não. Gosto da minha vida assim como é. – Foi o que respondi. E

gostava realmente. Por isso não iria deixar me envolver mais do que devia.

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Na casa de Erzoul Ernest se recuperava. E Erzoul me cutucava com suas

insinuações. Ele tinha visto em minha mente eu dispensar a mulher que na concepção

dele era linda.

- É, mas para quem esta apaixonado é totalmente compreensivo. E você

ainda me diz que não sente nada por essa garota? - Erzoul me falou mentalmente

enquanto Melissa comia seu jantar.

- Eu não conheço nada dessa garota, não sei nem ao menos de onde ela

é. Ou quem ela realmente é. Há muitos segredos rondando a vida dela e eu não quero

complicação para a minha. Vou fazer o que me contrataram para fazer e pronto. Não

quero me envolver.

- Se eu não te conhecesse, acreditaria no que esta me falando. E só para

constar... Você já reparou quantas vezes seus olhos procuraram por ela nesse pequeno

espaço de tempo em que estamos aqui conversando? Eu estava contando, mas perdi as

contas garoto. Você já esta mais envolvido do que pensa.

- Lariana não vai ficar feliz por saber que você esta me atirando para

cima de outra garota.

- Lariana é minha filha e você também é como um filho para mim.

Ficaria muito feliz se o caso de vocês desse certo, mas não deu. E o que quero é que

tanto ela como você sejam felizes. E pela primeira vez vejo essa possibilidade para você

meu filho.

Meu amigo não podia imaginar o que ainda iria acontecer. Mas numa

coisa ele tinha razão, com Melissa eu poderia ter sido feliz. Como fiquei a primeira vez

que senti seu corpo junto do meu. Quando ela adormeceu na poltrona e eu a peguei nos

braços. Me movimentei devagar para que ela não acordasse. E Melissa num movimento

inconsciente lançou seus braços e seu rosto em meu pescoço. Não teve como não sentir

a maceis de sua pele e de seus cabelos sedosos, O calor de seu hálito que escapava por

seus lábios entreabertos e seu perfume, algo doce e desconhecido para mim.

Quando a deitei na cama, seus braços ainda prenderam meu pescoço.

Seus lábios formaram um beicinho de manha porque eu a estava deixando, mas

delicadamente retirei seus braços de mim enquanto ela se acomodava na cama. Retirei

suas botas para que ela ficasse mais confortável. E me admirei em como ela mesmo me

conhecendo tão pouco se sentia segura ao meu toque. E eu abusei um pouco disso

durante a nossa viajem segurando sua mão como desculpa para ajudá-la em algum

obstáculo. Mesmo intrigado pelo fato de Ernest ter que dar a ela os nomes de tudo ao

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nosso redor como se ela não conhecesse absolutamente nada, eu ainda estava mais

intrigado com o que eu estava sentindo por aquela garota.

Quando a noite caiu, eu me concentrei em me libertar daquele

sentimento. Não era o que eu queria. Eu tinha meus próprios planos e não iria mudá-los

por causa de uma garota que mal conhecia, por mais que meu coração estivesse

interessado eu iria usar a razão a partir de agora. Eu afiava minha espada enquanto

projetava meu plano para me manter longe dela quando a flagrei olhando para mim. E

eu gostei que ela tivesse me observando. Ela ficou envergonhada e desviou o olhar.

- Isso já esta indo longe de mais. – Pensei comigo mesmo e resolvi

dormir dessa vez olhando para as estrelas que ainda estavam no céu. E planejei com as

estrelas não olhar para Melissa, não tocá-la não deixar que os olhos dela me

prendessem. Eu era um homem adulto, experiente e racional. Eu poderia controlar

minha vida, minhas vontades, e meus sentimentos. E eu realmente fiz isso por todo o

dia, mas a viajem era longa e tivemos que montar nosso acampamento a beira do rio.

Eu estava mantendo firme e forte minha decisão de me manter longe

dela. Melissa notou é claro, mas não comentou nada. A noite quando ela resolveu tomar

banho no rio, como seu protetor eu tinha que vigiá-la, mas mantive meus olhos longe o

tanto quanto podia. Até que ela saiu das águas e um Atreio saiu dentre as árvores. Eu

Andei até ela e a prendi em meu corpo. Eu sabia que a reação dela seria correr e isso

faria o Atreio persegui-la. Ela estava apavorada, mas não pude deixar de perceber cada

traço de seu corpo moldado no meu. Ela se agarrou em mim com força, confiante e

dependente. Aquilo quebrou minha resistência. Eu não iria conseguir mais evitá-la.

Então meus planos mudaram imediatamente enquanto o Atreio nos examinava. Se eu

ficasse perto dela seria pior para mim. Então eu faria o mais rápido possível o que me

contrataram para fazer, levá-la em segurança para Fastatur e seguir a minha vida. Mas

tínhamos que parar antes em Barock.

Na festa em Barock, Melissa fraca para bebida ficou aérea com apenas

alguns copos e foi para pista de dança.

Tão graciosa ela bailava como se flutuasse livre, como se ela tivesse

acabado de sair de uma prisão invisível. Como se ela estivesse se libertando de um

grande peso. Estava sorrindo de verdade, ela estava se sentindo feliz. Era lindo de ver.

Hoje eu sei que aquela dança era o inicio da transformação dela, a partir dali ela estava

se dando a chance de ser alguém que muitos não acreditavam e não conheciam, mas que

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já existia dentro dela, e eu tive o privilégio de acompanhá-la em cada segundo dessa

mudança. Se não fosse aqueles homens a cercando a deixaria dançar a noite inteira.

Quando fui buscá-la na pista ela me intimou a dançar. E eu aceitei a

contra gosto de inicio na troca de que ela voltasse comigo para a pensão. Já estava

ficando preocupado com os pensamentos daqueles homens ao redor dela.

Ela pegou minha mão e colocou em sua cintura. Naquele momento eu

tentei me convencer que era só uma dança e nada mais, e a outra mão eu mesmo

coloquei. A cada nota da música minha resistência ia caindo ao chão e com ela tão

próxima a mim eu não resisti e a abracei. Ela também me abraçou com tanta ternura e

tanta intimidade que temi ficar com ela mais um minuto que fosse. Eu iria perder o

controle com ela tão à vontade comigo, e a tomaria em meu braços e a beijaria ali

mesmo. Mas me controlei e me afastei. Não seria certo beijá-la sob o efeito da bebida, e

eu também ainda tinha meus planos de seguir minha vida sem Melissa.

Mas muitas vezes o destino tende a modificar nossos planos.

Depois daquele dia, quando acampamos novamente na floresta, eu me

virei para as estrelas e cantei para elas. Eu queria verdadeiramente me esquecer que

Melissa estava ali. Eu não queria olhar para ela, eu queria me distrair. Mas enquanto eu

cantava e brigava com meus sentimentos Melissa entrou em minha mente atraída pela

minha canção. E começou a dançar. Eu não sabia se ela estava fazendo isso consciente

ou inconscientemente. Eu queria parar de cantar para que ela fosse embora da minha

cabeça, Já estava difícil demais resistira a ela, pior seria tê-la em minha mente. Mas ela

estava tão feliz, que acabei me deixando levar novamente.

Do lugar em que eu estava deitado olhei para Melissa para saber por que

ela quis entrar em minha mente, então soube que ela estava dormindo. E com um leve

sorriso nos lábios.

Continuei cantando mentalmente, mas inquieto por tê-la dentro da minha

cabeça. Levantei-me e recostei num tronco de árvore próximo de onde ela estava

deitada. E vi quando sua luz azul brilhou. Era um sinal de que ela estava satisfeita e

feliz. Ainda queria saber por que ela entrou em minha mente. O que ela queria comigo?

Eu não podia ler seu pensamento, mais podia esperar que ela me contasse. Quando ela

abriu os olhos eu sabia que ela queria vir até mim, e eu esperava por isso. Mas ela me

olhou e reprimiu sua vontade. Ela não queria se envolver, e eu também não devia

querer, mas se ela me desse um sinal, apenas um sinal...

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Com a morte de Ernest a coisa se complicou ainda mais. Na caverna

onde nos escondemos da tempestade, eu pensei que ela iria surtar, mas depois ela se

levantou determinada a se tornar uma guerreira. Eu tenho que dizer que me admirei

ainda mais com ela. O normal seria que Melissa continuasse chorando. Mas ela estava

determinada a deixar o luto de lado e aprender a guerrear. Naquele instante percebi que

sua força interna que nem mesmo ela sabia que tinha estava sendo destravada. Mas a

noite, quando ela com medo das sombras veio se deitar ao meu lado procurando

segurança e proteção me surpreendi novamente. Tão forte, tão corajosa e decidida, mas

também tão carente e dependente. E esse lado é bem mais evidente que o outro. Por isso

muitos não crêem que ela é capaz de realizar o que quer.

Aquela noite foi interessante. Depois que ela pegou no sono,

involuntariamente abraçou meu braço como se fosse sua capa. Quando tentei me

desvencilhar ela fechou a cara irritada ainda dormindo, me segurando com mais força,

como se eu não tivesse direito em privá-la de mim mesmo. Eu era a única coisas em que

ela podia se agarrar para se manter firme, como um abrigo no meio de um temporal.

Naquele momento mesmo inconsciente ela estava me tomando para si. Sei que ela se

sente assim até hoje. Como se eu não tivesse o direito de lhe dizer não. E sinceramente,

não sei se conseguiria alguma vez dizer não a ela.

Como alguém pode ter esse poder? Como Melissa conseguiu entrar em

minha vida e bagunçar com tudo. Bagunçou minha cabeça, bagunçou meu juízo, tirou

minha paz. Não da para esquecer seu jeito, nem seu sorriso, não consigo esquecer seu

cheiro o sabor de seus lábios. Como eu vou sobreviver sabendo que jamais a terei em

meus braços? Como conviver com isso sabendo que eu preciso esquecer que ela existe e

vendo na mente dela que ela não abre mão do que tomou da minha vida? Ela me quer,

eu sei disso, eu vejo isso em sua mente em seus olhos em seu coração. Mas ela me quer

como amigo. Nunca será o bastante pra mim, mas o que posso fazer? Não tenho forças

para definitivamente me afastar dela. Não tenho forças para pegar de volta a parte da

minha vida que ela possui. Sei que ela não me ama, não do jeito que eu preciso, mas

isso não consegue fazer com que eu a ame menos. Eu mesmo me praguejo todo dia por

ser tão passivo e não dar um fim a tudo isso de uma vez. Mas quando penso que isso

significa que terei que viver o resto de meus dias sem jamais vê-la, minha alma grita em

protesto.

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Eu tentei, depois que a deixei no arraial e vim para a ilha, tentei a cada

amanhecer e a cada anoitecer não enlouquecer pela falta dela. Mesmo Lariana desistiu

de mim quando numa noite em que ela veio me ver, eu a chamei de Melissa sem querer.

- Você sabe o que sinto por você Aragorn, mas não posso competir com o

amor que já esta em seu coração. – Ela me falou chateada. – Você sempre foi tão livre,

nem Cordomad conseguiu te prender em seu exército. E agora esta preso a essa garota.

- Não estou preso a nada. – Respondi na defensiva.

- Acorrentado, seria a forma mais correta de definir sua condição no

momento. E não sei se você conseguiria se libertar mesmo se quisesse.

- Você esta enganada. – Repliquei tentando convencer a ela e a mim

mesmo.

- Você esta perdido nela Aragorn, e não creio que consiga encontrar o

caminho de volta.

Tive que me calar, Lariana traduziu exatamente como eu estava me

sentindo.

Depois desse dia Lariana nunca mais me procurou. E a cada dia que eu

passava sozinho na ilha esperava ansiosamente que esse sentimento desaparecesse de

mim desesperadamente. Mas era impossível, algumas vezes quando me deitava para

dormir eu acabava me flagrando buscando por ela só para amenizar a saudade.

Uma noite acordei ouvindo sua voz cantar minha música. Sondei sua

mente e lá estava ela tentando dormir chateada com o que estava passando. Queria estar

ao seu lado para consolá-la. Poderia ter conversado com ela para acalmá-la, mas preferi

continuar mudo e não alimentar minhas esperanças. E fugir. Naquela noite meu coração

se aqueceu, ela estava se lembrando de nós, mas decidi que seria a última vez que me

permitiria ter contato com ela. Fugi realmente e decidi que iria esquecê-la. Jamais a

procuraria novamente. E fazer o que eu tentava sem conseguir desde a primeira vez que

pus meus olhos nela. Não me envolver mais.

Até hoje mesmo sabendo que ela jamais será minha, ainda estou

envolvido nesse sentimento que só me faz sofrer e me domina. E por mais que eu não

queira e por mais que eu lute contra, Melissa exerce um poder sobre mim.

Pelo jeito eu gosto de sofrer. Eu já não tinha me decidido que nunca mais

a veria? Eu já não tinha decidido que iria esquecê-la e levar a minha vida adiante como

se Melissa jamais tivesse passado por ela? Foi só ela aparecer com aquele jeito de

menina carente que eu me perdi em seus olhos novamente. E eu como um idiota me

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deixo levar pelas loucuras dela. Como eu me deixei convencer ir até a casa da tal

Tamala? Para depois vê-la se desmanchando de amor pelo tal Jeziel?

Tem algo nela que me encanta, e nem mesmo sei o que é. Ela é tão

mimada e egoísta. Ela é ciumenta e possessiva e tão inconseqüente... Tão frágil e de um

sorriso tão sincero seus sentimentos são tão intensos e tão confusos que chegam a ser

irritantes e fascinantes ao mesmo tempo. - E eu a amo. - Eu não queria esse sentimento.

Eu não queria estar pensando nela agora. Mas aqui estou de novo esperando para vê-la

sabendo que assim como em todos os dias que ela veio me visitar, e ficou o dia comigo

me nutrindo com sua presença, sei que assim que ela passar pelo portal para ir embora

estará indo para os braços de outro. E isso acaba comigo. Mas não consigo evitar. Ainda

que seja só para vê-la, ainda que seja só por um minuto, eu prefiro assim como ela

mesmo diz, como um amigo, do que não tê-la de forma alguma. É um sentimento

doentio eu sei. Principalmente porque ela vai se casar, e seu futuro marido vai fazer de

tudo para que ela não me veja mais. Mas ela é teimosa, geniosa. Sei que se Melissa

quiser realmente me ver, ela virá. Estou me firmando nisso.

Olhei novamente para a areia esperando ver o portal se abrir.

- Melissa esta demorando muito. Que será que aconteceu? – Me

preocupei.

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Aprisionada

As horas seguintes se arrastaram e eu não tirava os olhos da porta com

medo do que poderia me acontecer quando ela se abrisse. Até que finalmente ela se

abriu.

Erkas entrou imponentemente e junto com ela dois Drevors. Eles se

colocaram um a cada lado de mim e percebendo que eles iriam ser minha escolta a

algum lugar que ela me levaria antes que me mandassem andar já me movimentei para

fora do quarto.

- Tem um lugar que quero que conheça. – disse Erkas como se fosse me

levar para um passeio.

Ela foi andando a minha frente e vê-la caminhar era constrangedor. Erkas

tinha mesmo uma atmosfera de perfeição que a circulava e elegância digna de uma

verdadeira rainha. Fiquei a pensar em como alguém pudesse esperar que algum dia na

vida eu tivesse condições de assumir um posto como o dela.

Caminhando por corredores luxuosíssimos chegamos ao pé de uma

escada circular por qual me fizeram subir. Apenas uma porta estreita estava no fim da

escada. Erkas abriu a porta e entrou primeiro. Quando eu passei pela porta reconheci de

imediato a sala de espelhos que havia visto em visão junto de Jeziel. Aquela sala era a

mesma sala onde encontrei com Jeziel quase morto. Lá estava aquela espécie de altar

em pedra onde Jeziel jazia sem forças. E logo soube que era ali o lugar onde Erkas

sugava os poderes de suas vítimas. Provavelmente eu seria mais uma delas.

Enquanto eu observava a sala e cada uma das imagens reflexas, percebi

estarrecida que nenhum daqueles espelhos captavam a minha imagem. Era como se eu

não estivesse ali. Eu podia ver Erkas e os Drevors pelo espelho, e no lugar que era para

minha imagem aparecer, nada.

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Erkas também pareceu surpresa apesar de não desmanchar sua expressão

de deusa do Olimpio. Ela andou até um dos espelhos e tocou-lhe suavemente com a mão

como se tentasse sentir algo.

- Você é um mistério, não é mesmo Melissa... Faz parte de dois mundos

distintos e no entanto nenhum dos dois parece estar preparado para você.

Por não compreender o que Erkas dizia permaneci calada.

- Saiam – Erkas ordenou aos Drevors. – Preciso fazer um teste.

Ambos saíram fechando a porta e agora somente a imagem de Erkas

refletia no espelho.

- Esses espelhos são mágicos, carregados de poderes. Eu mesmo fiz todos

eles e construí essa sala para que me servi-se de catalisador. Quem é submetido a ficar

sob a força deles tem seus dons e poderes absorvidos que depois refletem para mim tudo

que puderam sugar.

- Então é aqui que você rouba os dons dos outros? – Falei grotescamente.

– por isso me trouxe aqui? Quer roubar meus dons.

- Pelo que vejo isso não será possível. Penso que o fato de você ser

apenas metade Andaluziana, sua outra metade te protege de alguma forma contra meus

espelhos.

Por mais que eu estivesse secretamente feliz pelos planos de Erkas aos

meus dons terem sido frustrados, também temi imaginando que ela poderia arrumar uma

outra forma mais dolorosa de conseguir o que queria.

Eu estava posicionada exatamente no meio da sala, Erkas se posicionou a

minha frente e um brilho negro saindo de sua pele foi se espalhando por toda sala

escurecendo e cobrindo os espelhos. A luz negra de Erkas era surpreendente. O raio de

extensão da luz enchia todo o ambiente e ainda me dava a impressão de que se

expandiria mais se houvesse espaço. Automaticamente e sem minha vontade ou

autorização, minha luz azul rompeu e a coroa em minha cabeça brilhou. Provavelmente

querendo fazer um escudo de proteção para mim, mas era inútil, a força que vinha de

Erkas era compressora. Sentia-me fraca como das vezes que Jeziel ministrava seu dom

sobre mim para me acalmar. Só que ela não ministrava colocando, eu sentia exatamente

que algo de mim estava sendo retirado. Já que Erkas não conseguira nada com seus

espelhos iria tentar ela mesma.

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Uma ponta de decepção pude ver em seus olhos. Ela não estava

conseguindo o que queria apesar de estar me enfraquecendo. Então a luz negra que

vinha dela retraiu de volta a origem, e minha força voltou imediatamente.

Erkas me sorriu tranquilamente, e em seguida os Drevors abriram a porta

e se posicionaram ao meu lado.

- Podem levá-la. – Erkas falou com voz macia e segura. – Desculpe-me

por não te acompanhar de volta Melissa, mas tenho algo importante para relatar ao rei

Cordomad. Sei que ele vai gostar muito do que vi aqui hoje.

Eu, sem saber exatamente o que teria acontecido ali me limitei a segui-

los de volta a minha sela cinco estrelas.

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Aragorn

Andei até a varanda da minha casa e me sentei na escada que dá acesso a

entrada. Estava ansioso.

Melissa dissera que viria hoje pegar as informações sobre Tamala. E nem

mesmo Jeziel a impediria de vir.

Esperei por toda a manhã e até que tentei ver seu pensamento. Ela

sempre deixava aberto a mim, mas por algum motivo eu não tinha conseguido. Não

sabia o que estava acontecendo por lá, talvez ela tenha bloqueado sua mente para que eu

não me chateasse com o que fosse ver. E de certa forma eu estava agradecido. Não

queria vê-la tentando seduzir aquele seu futuro marido de novo ou se emocionando com

os preparativos do casamento.

Nem sei se ela tem a noção de que eu posso ver sua mente mesmo com

ela mesmo distante, ou se ela sabe e não se importa. Desde que fiquei sabendo toda a

verdade sobre ela, Melissa abriu uma porta especial em sua mente que somente eu tenho

total acesso. Jamais bloqueou sua mente para mim. Até hoje. Deve haver um bom

motivo. Isso me da uma satisfação secreta em saber que tenho mais liberdade a sua

mente do que o próprio noivo.

Depois de um tempo mergulhado em meus pensamentos finalmente a luz

do portal que eu dei a Melissa brilhou sobre a areia. Permaneci sentado na escada

esperando que ele se abrisse totalmente e que ela passasse por ele.

Como todas as vezes que eu vi esse portal se abrir meu coração se agitou

dentro do meu peito. Ele tem vontade própria, parece que ainda não entendeu que

Melissa não é mais nossa.

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Quando o portal se abriu não foi o sorriso de Melissa que vi. Estendi

minha mão para a minha espada que eu mantinha recostada na porta atrás de mim e ela

veio voando até minha mão.

- Jeziel?! - Brami.

O que ele estava fazendo aqui? Havia duas pessoas com ele. Um jovem

alto e forte que não me era totalmente estranho, com roupas esquisitas que me olhava

com curiosidade e a mesma garota que estava na luta de ontem na floresta.

– O que quer aqui? Onde esta Melissa? – Falei irritado e preparado para

luta. Ele poderia ter pegado o portal de Melissa e vindo até aqui fazer o que ele não teve

coragem de fazer ontem. Só que dessa vez eu não lhe daria nenhuma vantagem. Por

causa de Melissa não o quis ferir, sabia que isso a magoaria profundamente, mas agora

ele havia invadido meu território, e isso me da o direito de dar um fim nele; o que me

faria muito feliz.

- Preciso da sua ajuda Aragorn – Falou Jeziel numa voz muito mansa

para quem me odeia.

- Minha ajuda para que? Para deixar esse mundo? Veio ao lugar certo. –

Agitei minha espada na mão e andei furioso em sua direção. – Sem Melissa para ver

ninguém iria me impedir de acabar com esse cara. De relance vi o jovem forte sorrindo

do que falei.

- Não se trata de mim Aragorn – Jeziel ergueu as mãos para o alto em

rendição. E ao olhar seus olhos pesados e sem vida e sem a fúria que ele costumava me

olhar me sobressaltei. Tinha alguma coisa errada.

- Onde esta Melissa?!

- Ela foi capturada por Cordomad. – Jeziel falou sem forças.

Deixei minha espada cair na areia e colei minhas mãos no colarinho dele.

- Ela foi o que?! – Eu fiquei fora de mim – Seu idiota, você deixou que a

pegassem?!

- Eles nos pegaram de surpresa – Ele tentava se explicar.

- Surpresa? Somente um imbecil como você seria pego de surpresa. E

porque você ainda esta vivo?

- Não sei, eles levaram somente Melissa. Nem eu mesmo entendi porque

eles fizeram isso.

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- Eu sei. Cordomad quis me dar o prazer de eu mesmo acabar com você.

Estendi uma das mãos para a espada que estava no chão e antes que ela chegasse a mim

o rapaz desconhecido me segurou por trás me impedindo de acabar com a raça de Jeziel.

- Calma Aragorn, apesar de ter ido com sua cara, não posso deixar você

machucar meu cunhado, ou minha irmã me pega depois.

- E quem é você? – Perguntei já desconfiado pela semelhança que vi em

seu olhar, tentando me livrar de seu abraço de aço sem muito êxito. Ele era bem forte.

- Meu nome é Biel, irmão de Melissa, e viemos aqui pedir a sua ajuda

para podermos salva-la.

Depois que parei de me esforçar para sair de seus braços ele me soltou.

Irmão de Melissa? Por isso ele não me era tão estranho. Já o tinha visto na mente dela.

Pelo que sabia ele ainda estava em sua dimensão em segurança e era assim que Melissa

queria que ele ficasse. Como ele teria chegado aqui? Mas não havia tempo para essas

questões.

Me voltei para Jeziel novamente que tinha uma expressão de culpa

mortal nos olhos. Mas para mim era pouca a dor que ele devia estar sentido. Mesmo que

ele estivesse dilacerado pela angustia que eu podia ver em seu rosto era Melissa que

estava nas garras de Cordomad.

- Você sabe o que eles vão fazer com ela? – Falei acusatoriamente.

Jeziel baixou a cabeça tentando não pensar no que eu estava falando.

- Sabe o que Cordomad fará a ela?! – repeti - Como pôde deixar isso

acontecer.

- Eu fiz de tudo para defendê-la – Ele falou angustiado.

- Tem certeza? Se tivesse mesmo feito ela estaria lá agora? – Ele só podia

estar brincando com esse discurso de fiz tudo que podia. - Não creio que tenha se

esforçado tanto quanto diz. Acho que se preocupou mais em salvar a sua pele do que a

vida dela. E ainda diz que a ama...

Ele me olhou pela primeira vez desde que chegou, com o ódio que eu

estava acostumado a ver em seus olhos.

- Você não tem o direito de julgar o meu amor por Melissa. Eu teria

morrido por ela.

- É, só que você esta, infelizmente, vivinho aqui na minha frente. Eu

atravessei com ela por toda Andaluz sem deixar que nada lhe acontecesse e você em

poucas horas conseguiu perde-la?

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- Tá! você é melhor que eu nisso! Esta satisfeito agora? – Jeziel admitia

sua fraqueza irritado.

- Ainda não. Mas vou ficar assim que te fazer pagar pelo que deixou

acontecer a ela. – Parti para ele novamente, mas Biel segurou firme meu braço.

- Aragorn, precisamos de sua ajuda. – Falou Biel ainda segurando-me

pelo braço - Discutir não vai trazer Melissa de volta. Enquanto vocês discutem ela

continua lá aprisionada e só Deus sabe o que pode estar acontecendo a ela nesse exato

momento. Sei que você e Jeziel tem suas diferenças, mas eu te peço por favor, pense em

minha irmã. Não teríamos vindo aqui se soubéssemos como chegar até ela. Mas você

sabe. Você conhece o castelo e também a rotina da guarda desse tal de Cordomad.

Precisamos de você Aragorn. Por Melissa.

- Se alguma coisa acontecer a ela – Eu bradei contra Jeziel – Se um só

arranhão... Eu juro Jeziel... que vou fazer o que aquele incompetente de Cordomad já

devia ter feito a muito tempo. Você não vai ficar vivo para lamentar o erro que cometeu.

Arranquei meu braço da mão de Biel, peguei minha espada e caminhei

em direção oposta a eles para abrir meu portal.

- Aonde você vai? - Perguntou Jeziel.

- Vou buscar Melissa.

- Nós vamos com você – Falou Biel.

- Não vão não – Respondi.

- Você não pode ir sozinho.

- Posso e vou.

- Aragorn por favor. Eu sei o que sente em relação a Melissa e com

certeza ninguém melhor do que eu sabe exatamente o que você esta sentindo agora. –

Jeziel falava enquanto tentava me acompanhar - Eu também estou desesperado e com

medo do que eles podem fazer a ela. Mas eu vim aqui pedir sua ajuda, pois sei que

sozinho não conseguirei salva-la, assim como sei que mesmo que você ainda seja mais

forte e mais experiente que eu, sozinho você não conseguira. Eu sei que a ama. E por

mais que isso não me agrade, se por amá-la tanto deixarmos nossas diferenças de lado

poderemos juntos resgatá-la de lá.

Ele era um idiota, mas tinha razão. Parei minha caminhada me virando de

volta a eles.

- Não temos muito tempo. Cordomad não se demora em conseguir o que

quer. Qual a sua estratégia?

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- Voltemos ao arraial, o general Euri esta preparando uma boa estratégia

e com seu conhecimento podemos sair em vantagem.

Mesmo sem vontade concordei em ir até o arraial com eles. Afinal era

em Melissa que eu tinha que pensar agora.

CAPÍTULO 11

Aprisionada Bem mais tarde a porta se abriu novamente e o mesmo homem com

cara de poucos amigos me apareceu.

- Você esta sendo aguardada na sala do banquete. – Ele estendeu sua mão

me direcionando a atravessar a porta o que fiz dessa vez sem hesitar.

Com os pés fora dali e seguida pelos quatro homens, coloquei minha

mente mais uma vez a tentar contato externo. A visão de salas e quartos passavam como

um filme acelerado diante dos meus olhos, estava um pouco difícil de caminhar com a

visão, mas eu não podia desistir e não podia deixar que eles percebessem o que estava

tentando fazer.

A visão de uma garota sentada ao chão abraçada aos seus joelhos me

chamou atenção. Eu parei imediatamente fazendo que os homens que me escoltavam

parassem desconfiados uns olhando para os outros. Meus olhos focalizaram uma escada

que subia para uma porta de madeira tão grossa e tão grande quanto à da minha cela.

- Continue - Falou rudemente o homem com a cara de mal.

Continuei minha caminhada, mas tentei ver o que estaria atrás daquela

porta. Imaginei que poderia ser minha “amiguinha” como Erkas falou.

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- Tamala, Você esta ai? - Perguntei mentalmente. Havia um silêncio, mas

eu sentia que não estava sozinha em minha mente. Tive medo de que algum daqueles

homens pudessem ter rompido meu bloqueio e estivessem sondando minha mente, mas

eu os observava e eles continuavam com as mesmas expressões de antes.

- Tamala se é você me de um sinal. Sou eu Melissa. Por favor.

- Melissa?! – Uma voz feminina e fraca respondeu assustada.

- Não tenha medo. Sou eu. Também fui capturada por Cordomad e estou

no castelo.

- Você capturada? Essa não... – Ela lamentou.

- Esta tudo bem. Eu estou bem. E você?

- Não posso dizer que estou bem, não mesmo. Erkas tem sugado meus

poderes e minha magia. Somente por isso eles me mantém viva. Mas logo eu não terei

utilidade a eles. - Ela suspirou - Estou muito fraca e com tanto medo...

- Não se preocupe, nós vamos sair daqui. – Falei tentando animá-la,

mesmo sem saber como isso poderia ser possível.

Me desconectei de Tamala quando vi uma porta dupla ser aberta por

outros homens que estavam parados diante dela me introduzindo num salão com uma

mesa que devia ter quilômetros de extensão. Numa das extremidades da mesa estavam

sentados Erkas e Raika a esquerda de Cordomad que sentava na ponta. Me dei conta que

nunca havia visto os três juntos e vê-los ali sentados como uma família para o almoço,

me deu um certo arrepio. Me senti um novilho sendo levado para o abatedouro. Talvez

eu fosse servida como o prato principal.

- Melissa! – Exclamou Raika – Que bom que esta aqui – O cinismo dela

era teatral.

Os três sorriram para mim como se eu fosse um membro da família.

Aquilo foi muito esquisito. E a atmosfera que pairava também naquela sala era algo

intrigante. A presença dos três no mesmo lugar causava uma densidade estática atraente

e ao mesmo tempo sinistra. Fui levada a me sentar a direita de Cordomad estando de

frente com Erkas e Raika. As duas tinham o mesmo olhar o mesmo sorriso e a mesma

expressão leve no rosto enquanto olhavam para mim. Mesmo assim me sentia uma

presa.

- Te trouxemos até aqui para podermos lhe fazer uma proposta enquanto

almoçamos – disse Cordomad – Fiquei sabendo que desde que você chegou aqui ainda

não comeu nada. – Isso não é bom para você.

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- Não estou com fome, obrigada. – Respondi secamente.

- Bom, mesmo assim ainda temos uma proposta a te fazer. – Repetiu

Cordomad.

- Queremos que fique conosco Melissa – Raika se adiantou ao pai e falou

numa empolgação perturbadora.

Mulheres surgiram de várias portas da sala colocando sobre a mesa

pratos decorados. Todos em ouro. Uma delas colocou um prato em minha frente e me

serviu. Outras fizeram o mesmo aos demais. E depois se colocaram paradas próximo a

parede da sala.

- Vou gostar muito de ter você novamente como minha irmã Melissa.

Nós nos divertimos muito em seu mundo. Lembra? – Raika realmente não tinha limites.

- Não acho que seu pai queira te dar uma irmã, Raika querida. –Erkas

falou a Raika alisando seu cabelo - Melissa seria mais uma madrasta na verdade. –

Falou Erkas com um sorriso nos lábios.

Raika tilintou seu sorriso de fada e eu me assombrei.

Madrasta, que história é essa? – Pensei assustada.

Erkas continuou.

- Cordomad tem um interesse bem especifico em relação a você Melissa.

Sei que vocês se darão muito bem. Ele te quer como esposa.

Fiquei horrorizada sem saber se era pelo que tinha acabado de ouvir ou se

em ver Erkas oferecendo seu marido a mim com tanta naturalidade.

Eles perceberam meu espanto.

- Calma querida – Falou Erkas a mim – Para você pode parecer estranho,

pois em seu mundo a maioria dos homens tem apenas uma esposa, mas aqui em

Andaluz o rei pode ter quantas esposas quiser. Vê todas essas lindas mulheres ao nosso

redor? Todas elas pertencem ao rei.

Olhei para o rosto de algumas delas e pude ver um certo sentimento de

orgulho e satisfação em terem sido apresentadas como propriedade.

- Você não seria como uma delas para mim Melissa, você seria especial.

Uma rainha na verdade, reinando comigo ao lado das minhas outras duas rainhas –

Cordomad estendeu a mão acariciando o rosto de Erkas.

- Você só pode estar brincando - Falei ultrajada e me sentindo num

episodio de além da imaginação.

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- Mas não estou. E se você aceitar, será uma rainha com todos os direitos

de rainha e me ajudara a governar Andaluz.

- O que o faz pensar que eu aceitaria uma coisa dessas?

- É só uma proposta – Falou Cordomad se defendendo.

- Então me desculpe, mas já tenho outros planos e também já sou

comprometida – ergui minha mão direita lhes mostrando a aliança.

- Não será por muito tempo – Cordomad rebateu. – Já localizamos o

esconderijo onde Jeziel e seu pai se escondem, e em pouco tempo meu exército entrará e

exterminara tudo e todos que estiverem lá. Demorou, mas finalmente os encontramos.

- Não! - Gritei apavorada. Levantando-me da cadeira.

- Calma Melissa. Por isso estamos aqui. Queremos te dar a chance de

salvar aqueles a quem você ama.

- Como assim?

- Sente-se e vamos conversar.

Me sentei ainda perturbada com a notícia. Como eles descobriram o

arraial?

Raika e Erkas comiam tranquilamente como se nada estivesse

acontecendo. Cordomad entrelaçou os dedos com a mão sobre a mesa me fitando.

Minha respiração estava irregular. Eu não conseguiria ficar calma depois de uma notícia

dessa.

- Acalme-se Melissa. Como eu disse você terá a oportunidade de dar

aqueles que você ama, se eles realmente importarem para você, a liberdade e a chance

de escaparem com vida. Seria, digamos assim, um presente de casamento, se você

aceitar ser minha rainha.

- Você quer que eu me case com você? – Perguntei assustada querendo

conferir se eu estava realmente entendendo o que ele queria.

- E em troca dou ordem aos meus soldados que não toquem em seu pai e

em Jeziel.

Isso só podia ser um pesadelo.

- Por quê? Eu não entendo. Você pode me matar se quiser, não precisa de

mim.

- Seria um desperdício. Eu te acho fascinante, e já te disse isso.

- Prefiro a morte. – Rugi.

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- A sua vida pode não ser importante para você. Mas e a daqueles que

você diz que ama, não tem valor? Você já se sacrificou tanto por Jeziel, já arriscou tanto

sua vida para salvar a dele. Será que se tornar rainha seria um sacrifício maior do que os

que você já fez para mantê-lo vivo? E agora tem também seu pai. Não acho que queira

vê-los mortos.

- Por favor... – Meus olhos já estavam transbordando em lágrimas.

- Eu estou tentando Melissa, realmente estou tentando te ajudar. Basta

você me dizer sim e a vida de seu pai e de Jeziel serão poupadas. E eu prometo que

envio eles a sua dimensão para viverem lá em segurança para sempre.

- Não posso confiar em você.

- Porque não? Se eu tivesse intenção de matá-los eu não precisaria do seu

consentimento. Poderia já ter dado a ordem de ataque e você estaria agora recebendo

outro tipo de notícia. Mas para que você veja que eu não sou tão cruel quanto você acha

estou te dando uma escolha. Eu poderia também te ter como minha propriedade. Quem

me impediria? Só estou te dando uma oportunidade de poder decidir o que você quer.

Pense Melissa, pelo menos você vai poder viver sabendo que salvou a vida deles. Mas

acho que será muito triste para você quando eu derrotá-los e você se lembrar que se

recusou a salva-los.

Meu Deus... o que eu poderia fazer agora? Eu não confiava nele, mas e se

ele estivesse falando a verdade, e se não... Como eu poderia saber? Mas não poderia

deixar que ele matasse meu Leo. E meu pai. Eu estava confusa. Olhava para Raika e

para Erkas que faziam seu almoço tranquilamente. Vez ou outra olhavam para mim de

uma forma tão natural e tão errada para aquela hora. Cordomad não havia tocado em

seu prato assim como eu. E seus olhos em mim eram ansiosos esperando pela minha

resposta.

Que ironia macabra era essa que pousara sobre mim? A dias atrás eu

planejava meu casamento com Leo que seria realizado amanhã se eu ainda tivesse ao

seu lado. Agora meu inimigo me propõe casamento e quer trocá-lo pela vida dos que eu

amo. O que fazer?

- Melissa, não queria mesmo te pressionar, mas sua resposta precisa ser

imediata pois em poucos minutos meu exército invadira o esconderijo de Jeziel.

- Minutos? – Falei com a voz embargada.

- Qual a sua resposta?

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- Me diga algo primeiro... Porque você não me pediu a coroa em troca da

vida deles? Eu a daria a você.

O sorriso ofuscante dele cintilou em seus lábios.

- Porque eu posso ter as duas coisas. Assim que você for minha Melissa,

nunca mais me negará nada.

Ele me olhava fixamente e eu não sabia o que pensar. Um homem de

capa negra com seu rosto coberto pelo capuz entrou na sala e sussurrou algo para

Cordomad.

Ele respirou profundamente e me olhou com pesar.

- Seu tempo acabou. Meu exército já esta posicionado e esperando

somente por uma ordem minha. – Ele me olhou esperando que eu desse a minha

resposta, mas eu estava totalmente travada de desespero e medo. – Podem ir e não

deixem ninguém vivo.

- Não! - Gritei desesperada.

- Não?! – Perguntou Cordomad simulando espanto.

- Eu me caso com você. Tudo bem eu serei sua rainha. Mas poupe a vida

deles. – Meu tom era de angustia.

Cordomad ergueu a mão direita com um sorriso e com os olhos brilhando

em satisfação. Fazendo o homem encapuzado parar.

- Poupe o general Euri e Jeziel. Vamos dar a eles uma bela viajem para

outra dimensão. – O homem de capuz reverenciou Cordomad e saiu.

A mão direita de Cordomad que estava erguida desceu até meu rosto e

com as costas da mão ele alisou desde meu cabelo até meu ombro. O toque dele não me

deu nenhuma impressão. Eu devia estar apavorada demais para caber qualquer outra

sensação que não fosse o desespero e aflição que agora sobrepujava meus sentidos. Eu

olhava para ele e achava inacreditável o que estava acontecendo e tinha a esperança de

que eu acordasse desse pesadelo. O rosto dele de tão bonito e sereno que se tornava

apavorante. Uma visão divina e aterrorizadora. O anjo da morte estava bem a minha

frente. Lúgubre, Gracioso e perfeito.

Cordomad puxou minha mão direita e retirou minha aliança de noivado.

- Você não precisa mais disso. – Ele falou a mim – Raika, um

presentinho para você. – Ele lançou minha aliança diretamente na mão de Raika que

colocou a aliança em seu dedo.

- Obrigada papai. – Seu sorriso de anjo era nauseante.

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Olhei para ela com minha aliança e me prometi que iria pegá-la de volta

a qualquer custo. Por hora, para segurança de Jeziel e do coronel, eu precisaria me calar.

Mas não ficaria assim.

- Levem-na. Quero minha futura rainha descansada. Coloquem-na num

quarto mais apropriado. - Disse Cordomad para as mulheres encostadas na parede que

de prontidão me cercaram.

Seus olhos em mim declaravam sua vitória.

Antes de me levantar olhei mais uma vez para o quadro da família

terrorista a minha frente, que mais parecia uma cena de seriado de TV e sai sendo

conduzida por uma dezena de mulheres que me tocavam deslumbradas com o que

diziam elas, ser um privilegio sem igual. Para mim era o mesmo que uma sentença de

morte.

Elas me levaram para um quarto de proporções colossais. Tudo decorado

para uma rainha. Até a cama parecia ser feita de ouro onde do dossel pendiam um tecido

dourado. As mulheres riam e brincavam entre si com a satisfação de ter mais uma se

unindo a família real. Elas novamente me despiram e me vestiram com o que devia ser

uma camisola transparente.

- Todas as nossas roupas são escolhidas pelo nosso rei. – Falou uma

mulher negra de cabelos cacheados até os ombros que de tão linda poderia ser a rainha

de Sabá ou a própria deusa Venus. – Estou louca para ver as que ele escolheu para você

Melissa.

- Quando será que ele realizara o casamento? – Disse outra mulher num

estilo oriental com cabelos vermelhos que passavam de sua cintura.

- A muito tempo que não temos uma festa, com certeza nosso rei vai

querer fazer uma grande recepção para seus convidados. – Falou uma garota que não

devia ser mais velha que eu. Sua pele branquinha, e seu cabelo Chanel me lembrou uma

boneca de lousa.

Diante de tudo aquilo, comecei a chorar.

- Não chore Melissa. - Me abraçou a garota rainha de Sabá - Sei que

parece horrível a primeira vista, mas você terá uma vida muito feliz aqui, e nosso rei é

muito bom para nós. – Ela tentava me consolar. – Eu mesma quando vim para cá, foi

como pagamento de uma dívida que minha família tinha com ele. Eu estava revoltada,

mas depois que conheci nosso rei melhor – Ela deu uma risadinha constrangida seguida

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pelas outras - eu nunca pensei que poderia existir algo tão maravilhoso. Hoje não posso

querer nada melhor que pertencer a ele. – Todas suspiraram em uníssono.

- Vamos meninas, o rei falou que quer que Melissa descanse. – A ruiva

oriental chamou. Todas foram andando para a porta elegantes e delicadas.

Eu me deixei cair na cama e não contive o choro. A angustia e o

desespero eram grandes de mais para serem sufocados. Eu jamais poderia imaginar algo

assim. Pelo menos esperava que Cordomad cumprisse com sua palavra e poupasse a

vida de Jeziel e de meu pai. Se eles estivessem bem eu ficaria bem.

Acabei adormecendo entre lágrimas.

Quando anoiteceu as mesmas mulheres entraram em meu quarto

preparadas para me vestir novamente. Era hora do jantar, e Cordomad estaria esperando

por mim.

Me deixei vestir sem nenhuma resistência. E ser conduzida a presença

dele sem dificultar o trabalho delas. O que mais eu poderia fazer? Era a vida de Jeziel e

do general que estavam em jogo. Não havia nenhum soldado naquela comitiva que me

levou até a sala do banquete. Cordomad devia ter se convencido que com a vida de

Jeziel em suas mãos eu não me atreveria a pensar em fugir. E ele estava certo.

Na mesa quilométrica de jantar, Cordomad estava sentado sozinho.

- Planejei um jantar a dois para nos conhecermos melhor. – Ele falou

querendo ser agradável. Se levantou e me acomodou na cadeira.

Quando se sentou novamente me olhou de uma forma que seu olhar me

confundiu. Ele parecia amável, não como sua presença me fazia sentir, mas como se ele

estivesse sem usar seus dons, sendo só ele mesmo. Isso me deixou cismada.

- Não precisa ter medo de mim, quero que você se sinta bem ao meu

lado.

- Não tenho medo de você.

- Mas tem medo do que sente por mim.

- Do que você me faz sentir com esse seu dom inconveniente.

- Mas não estou usando nenhum dom em você agora.

- Não mesmo? - Perguntei desconfiada.

- Você não consegue ver a diferença?

- Na verdade não me importa.

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- Mas importa para mim. Você será minha esposa, minha rainha, e não

quero que se sinta insegura ao meu lado. Afinal temos que confiar um no outro para

governarmos Andaluz.

- E Jeziel... E meu pai? – falei preocupada.

- Eles estão bem, e assim permanecerão se você manter sua posição.

Manterei minha palavra se você manter a sua.

Abaixei meu rosto fitando o desenho da madeira na mesa. Pensei em

como seria minha vida sem jamais ver meu Leo novamente. Cordomad ergueu meu

queixo me fazendo olhar para ele.

- Você esta triste? Não devia estar feliz por saber que aqueles que você

ama estarão sãos e salvos graças a você?

Não respondi. Ele não podia mesmo esperar que eu tivesse feliz sendo

obrigada a me casar com ele.

Ele retirou a mão do meu queixo quando as suas mulheres entraram

trazendo o jantar.

- Não quero te ver rejeitando o jantar que mandei fazer especialmente

para você. Desde que chegou aqui, não vi você se alimentar. Vai acabar ficando doente.

Quando me serviram, olhei desanimada para o prato. Não havia fome em

mim. Cordomad me olhou parecendo estar comovido com meu sofrimento. Ele espetou

um pedaço de carne com seu garfo e trouxe até minha boca esperando que eu comesse.

Olhei para ele atônita. Ele me deu um sorriso gentil e como vi que ele não iria desistir

abri minha boca e deixei que ele me servisse. Enquanto mastigava ele me olhava

amavelmente.

- Você é tão meiga. – Ele me falava enquanto espetava mais um pedaço

de carne e me servia na boca.

Como vi que ele estava disposto a me alimentar resolvi pegar eu mesma

o garfo e comer. Não sentia gosto de nada para dizer se estava bom ou ruim, mas comi o

que estava em meu prato sob o olhar cordial de Cordomad.

Quando acabamos o jantar, ele cavalheiramente afastou a cadeira para

que eu me levantasse.

- Venha, quero te mostrar um lugar.

Mais passeios com a realeza. Onde será que ele me levaria agora, numa

sala de tortura?

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Acompanhei-o sem resistir até um grande salão todo decorado em

cristais. O lugar era extremamente iluminado, as paredes o piso e o teto também eram

todos cristalinos. E todos tinham uma luz própria. Havia dois tronos colocados

providencialmente num ponto estratégico do salão que dava visão para cada canto

daquele lugar. Os tronos também eram feitos de cristal com exceção de seu estofado que

era azul turquesa. O lugar era belíssimo enchia os olhos em admiração.

- A sala do trono do rei Jeriel e da rainha Adrià. – Falou Cordomad com

admiração. Este salão estava fechado por mais de vinte anos. E agora com sua chegada,

eu me animei a abri-lo. Nunca havia tido um motivo, mais agora vejo que pelo fato de

você ter aceitado ser minha rainha, não existiria lugar mais conveniente para que eu e

você governemos Andaluz.

Ele andou até o trono da esquerda e se sentou. Olhá-lo com suas vestes

reais sentado em um trono divinal daqueles me fez vê-lo pela primeira vez como rei de

fato. Mas eu sabia que aquele lugar não era dele. Ele havia usurpado o trono. Mesmo

assim a imagem dele ali era gloriosamente imponente.

- Venha Melissa, sente-se aqui ao meu lado. – Me chamou.

Não me movi.

- Quero ver você colaborar comigo e ser gentil como sou com você. – Me

ameaçou de uma forma tão sutil que mais pareceu uma adulação.

Andei sem ânimo até o trono que estava ao seu lado e me sentei. Após

alguns segundos quando me recostei todo o salão se iluminou ainda mais, e o colar de

Leo que ainda estava comigo brilhou mesmo sem a luz da lua e a coroa sobre minha

cabeça também.

Cordomad me olhou espantado e se levantou do trono me observando.

Achei que vi medo em seus olhos.

Enquanto ele me olhava admirado, a luz azul em mim começou a

irradiar. E eu senti que algo estava acontecendo por eu estar sentada ali. Toda uma

atmosfera viva e iluminada circulava o trono em que eu estava sentada.

- Já pode se levantar daí Melissa. – Cordomad falou apreensivo.

Mas eu não estava com vontade de me levantar. Estar ali sentada me

dava uma sensação de tranqüilidade e de força incrível.

- Venha Melissa – Cordomad agora estava nervoso, seu semblante da

tranqüilidade em pessoa havia desaparecido.

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Dei um sorriso espelhando o sorriso maroto de Aragorn. Cordomad me

olhou confuso e preocupado. Percebi que sentada ali com a coroa no papel de rainha eu

poderia fazer qualquer coisa e Cordomad percebeu isso em meu olhar.

- O sabor do poder... – Cordomad falava a mim – É inebriante eu sei.

Mas você ainda não é a rainha, então é melhor não deixar que esse poder te suba a

cabeça. Venha Melissa. – Ele me estendeu a mão. Senti que ele já não estava tão de

guarda baixa como antes, percebi que ele tentava me manipular com seu poder, mas eu

estava imune a ele agora.

- Melissa, não me faça voltar a palavra com você. Sei que você ainda

quer manter seu pai e seu Leo em segurança.

Com a ameaça dele eu me desliguei da sensação que estava sentindo me

levantando imediatamente do trono e o salão o colar e a coroa voltaram ao seu estado

original.

Cordomad deu uma gargalhada me olhando indefinidamente.

- Minha futura rainha, você me dará muita alegria. Quando seu poder se

unir ao meu, não haverá quem poderá me deter. Eu iria dar a coroa para Raika assim

que você me desse, mas creio que depois dessa demonstração, nem ela poderia invocar

tanto poder. E eu sei que você fez isso involuntariamente. Imagina do que seria capaz

quando você o acionar com um objetivo especifico?

- Sinto te decepcionar, mas não sei como essa coroa funciona. É melhor

não esperar grandes coisas de mim. – Queria poder falar para que ele não contasse

comigo para realizar seus planos malignos.

- Você esta enganada Melissa. O que aconteceu não foi obra da coroa, foi

você. Você que estava destinada a se sentar nesse trono. Você nasceu para ele. E eu sou

um afortunado por poder ter a legítima rainha de Andaluz ao meu lado.

- Não estou do seu lado Cordomad, estou somente garantindo que Jeziel e

o general permaneçam vivos.

- Não esta ainda do meu lado. Mas logo estará.

Ele se aproximou agora usando seu dom de sedução. E a cada passo que

ele dava em minha direção eu me sentia envolvida pela sua gravidade. Os olhos dele

azuis como o céu fitaram os meus intensamente me causando confusão. Tentei desviar

de seu olhar, mas era impossível. Era uma necessidade, como me suprir de um vício

olhar para ele. Ele segurou meu rosto emaranhando seu dedos por baixo de meus

cabelos e mirou meus lábios.

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- Acho que não há problema algum se eu beijar minha noiva.

Eu não queria que ele me beijasse. Enquanto ele ainda segurava meu

rosto tombando-o para trás para que ele ficasse ao seu alcance, e mesmo que meu corpo

apelasse para o que estava sentindo, busquei uma saída para me livrar do que me parecia

inevitável.

Me lembrei do que a coroa me mostrará mais cedo. Visualizei um

reflexo espelhado invisível fluindo por minha pele. Em questão de segundos Cordomad

soltou meu rosto de sobressalto. Seus olhos estavam brilhantes e excitados.

- O que esta fazendo? – Me perguntou perturbado.

- Nada - Respondi ainda sem saber se realmente tinha dado certo meu

escudo.

- Eu sei o que você esta fazendo, esta revertendo meu dom para mim. Só

não sei como fez isso.

Os olhos dele agora olhavam para mim diferentes. Ele estava sentindo

algo e não parecia familiarizado com isso. Podia dizer que ele estava provando do seu

próprio veneno.

- Acho que esta na hora de acabarmos com esse passeio. – Falou andando

para a porta de saída esperando que eu passasse por ela.

Na porta do quarto ele me falou antes de ir embora.

- Não confie muito nesse seu escudo. Dessa vez você me pegou

desprevenido, mas posso te garantir que não acontecera de novo.

De volta ao quarto pude respirar aliviada por ter escapado de Cordomad

mais uma vez. Eu estava satisfeita comigo e com o que eu tinha conseguido. E também

admirada com o que tinha acontecido no salão de cristal. Eu vi os olhos assustados de

Cordomad. Percebi que ele ficou com medo de mim ou do que estava em mim sentada

naquele trono. Por isso ele quis usar a influência do seu dom para me controlar.

O que isso poderia significar? Cordomad ficou empolgado ao ver tudo

aquilo. E o colar de Leo em meu pescoço também brilhou e sem a luz da lua.

Desta vez eu pude me trocar sem a ajuda do arem de Cordomad. E me

deitei pensando em o que poderia ter acontecido no arraial até agora, e se Cordomad

manteria sua palavra em poupar Jeziel e o general. Senti pena pela chata da Vogue, seus

irmãos, o rosto de cada uma das pessoas que vi e conheci naquele lugar, até a lembrança

do rosto do barbudo irritante me causou dor. Eu não conseguia imaginar todos mortos,

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mas pelo menos Jeziel e o general estariam vivos e iriam ser transportados até a minha

dimensão.

Fiquei aliviada em me lembrar que Aragorn estava a salvo em sua ilha, e

me perguntei o que ele acharia quando soubesse que eu me tornei rainha, que era uma

das coisas que eu menos desejei, e ainda sendo esposa de Cordomad. Que ironia do

destino tanto para Aragorn como para Jeziel que queria disputar meu amor entre si e

acabaram me perdendo para seu maior inimigo.

- Melissa – Uma voz feminina e sem força entrou em minha mente. Era

Tamala.

- Tamala, eu posso te ouvir.

- Melissa não resta muito tempo para mim, mas para você ainda não esta

tudo acabado. Não desista agora. Cordomad não sabe o poder que há em você... Preste

atenção – Ela falava com dificuldade – A esfera tem que ser destruída.

- Mas como? Não sei como chegar até ela.

- A esfera tem que ser tirada de lá.

- Como?

- Você tem esse poder Melissa. Você pode. Da mesma maneira que

conseguiu tirar Jeziel de sua prisão. A esfera é indestrutível na sala das almas, mas

você pode abrir um portal sem nenhuma chave, apenas com seu poder e arrancá-la de

lá.

- Não sei como acontece.

- Lembre-se Melissa, Jeziel conseguiu sair porque você o queria ao seu

lado, você queria salva-lo. Você o atraiu para si. Use essa mesma força. Atrai-a a

esfera para si. E quando ela estiver em suas mãos rompa ela com a luz que emana de

você. A força que há em ti fará com que ela seja destruída.

- Eu não posso. Eu não consigo.

- Você tem que conseguir. – A voz dela foi ficando ainda mais fraca e de

repente sumiu.

E agora, como eu faria com a esfera? Não sabia como localizá-la. Tamala

tinha me dado uma missão impossível.

Um sono pesado foi me tomando de repente e acabei adormecendo sem

querer. Um lugar assombreado apareceu diante de meus olhos como se eu estivesse

numa floresta a noite sem a luz das estrelas ou da lua para iluminar. Eu estava sonhando

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com certeza, mais o clima estava preparado para um pesadelo. Enquanto eu caminhava

por aquele lugar procurando por algo que fosse familiar, Cordomad apareceu.

- Procurando por mim? – A voz sedutora de Cordomad era perturbadora.

Minhas pernas bambearam quando olhei a figura poderosa de Cordomad

a minha frente, meus sentidos foram tomados, eu estava pronta para correr e me atirar

aos braços dele mais sabia também que eram seus sortilégios.

Enquanto ele andava em minha direção cruzei forte meus braços tentando

conter a vontade que eu sentia em tocá-lo. Fechei meus olhos para não vê-lo, mas sua

presença era forte demais.

- Afaste-se de mim. – Falei quando mesmo de olhos fechados percebi que

ele estava a centímetros de onde eu estava.

- Você não precisa resistir. Eu não vou te fazer mal. De vazão aos seus

sentimentos, se entregue a mim.

- Não! – Resisti.

Ele me segurou pelos braços e colocou seu rosto na curva do meu

pescoço e arfou. Uma lufada de ar quente de sua respiração me fez tremer.

- Esse seu jeito de me dizer não me deixa louco. Mas é isso que eu gosto

em você.

- Me deixe em paz – pedi perturbada.

- Abra os olhos Melissa. – Cerrei mais meus olhos para resistir a sua

ordem. – Abra os olhos agora. – sua voz estava tão carregada de autoridade que não

pude resistir. Quando abri meus olhos ele estava diante de mim segurando meus braços

e não era um sonho. Ele estava em meu quarto.

Consegui me desvencilhar e me afastar dele por alguns minutos. Sua mão

se virou para mim como uma garra invertida e eu fui arrastada até ele novamente contra

minha vontade. Acionei o escudo espelhado em mim enquanto ele me agarrava á força.

Eu me defendia como podia, mas ele era forte e estava decidido a vencer minha

resistência. Não sabia se ele estava percebendo, mas com o escudo seu dom não tinha

influencia sobre mim. E o seu toque agora me provocava asco.

- Me solta, você não tem o direito.

- Assim você só torna o jogo mais excitante. Quero ver até onde você vai

resistir. Quero ver até quando você me dirá não. Acha que eu não posso romper seu

bloqueio?

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Uma espécie de fumaça escura surgiu no lugar onde estava Cordomad e

me envolveu por completo tirando meus pés do chão e me fazendo flutuar pelo quarto.

Eu tentava inutilmente me livrar, mais fui deitada sobre a cama e aquela

nevoa escura sobre mim voltou de uma forma sinistra a se transformar em Cordomad

que agora parecia mais forte e meu bloqueio não tinha mais força contra ele. Mas eu não

me deixaria sucumbir.

Rompi a luz de dentro de mim com tanta fúria que ela brilhou mais forte

e num tom mais escuro que o de costume. Um poder tão feroz surgiu de mim a ponto de

arremessar Cordomad a metros de distância.

Ele caiu de pé me olhando espantado, mas no seu rosto havia certa

malícia e até uma satisfação em me ver lutando. Ele moveu o pescoço como se o

estivesse alongando e veio andando novamente para a cama.

Me sentei assustada recostada na cabeceira quando vi uma luz negra

emanar dele. Seus olhos tinham um brilho estranho. Seu sórdido dom também me

atingia de forma sobre humana. Eu sentia cada célula do meu corpo arder por ele, mas

minha mente estava lúcida. Comecei uma guerra travada contra minhas sensações. E

ainda estava vencendo devido a minha mente ainda estar consciente.

Cordomad arrancou a coroa da minha cabeça e a lançou ao chão. Eu não

podia contar com a ajuda dela agora. Teria que ser forte o suficiente para evitá-lo. Ele

segurou com força meus ombros tentando me beijar e eu bravamente recusava. Usei o

que eu tinha a disposição. Braços, pernas, tudo para mantê-lo longe. Mas eu não estava

conseguindo muito êxito e estava começando a ficar fraca.

Quando ele finalmente conseguiu aproximar sua boca da minha mordi

seu lábio inferior com tanta força que senti seu corpo tremendo sobre o meu. Ele se

afastou e me deu uma bofetada no rosto com as costas da mão.

A dor da bofetada me deixou zonza.

- Pode resistir o quanto puder, mas logo você será minha. E posso te

garantir que se arrependerá por não ter cedido muito antes. – Ele sorriu debochado – Só

não quero que fique totalmente domada, gosto desse seu jeito de fera.

Sua fumaça escura desapareceu diante de meus olhos. Ele se foi e eu me

encolhi apavorada na cama. Abracei minhas pernas enroscando em mim mesma e chorei

desconsoladamente por horas. Não podia nem sequer imaginar aquele homem me

tocando. Mas por quanto tempo ele ainda brincaria comigo? Eu sabia que aquilo para

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ele era só diversão. Mas quando ele se cansasse e resolvesse me ter mesmo que a força,

eu não teria o que fazer.

Não consegui dormir com medo que ele voltasse. Pouco depois que o sol

entrou pela janela vários homens e mulheres entraram pela porta do quarto trazendo

caixas e mais caixas e depositando tudo aos pés da cama. As caixas eram abertas e os

objetos expostos para mim. Jóias de todos os tipos, colares, braceletes, anéis

gargantilhas tiaras... E roupas muitas roupas. Também vários objetos em ouro. Tudo

exposto aos pés da minha cama.

- O que é isso? - Perguntei ao homem que estava parado junto à porta

observando o trabalho dos outros.

- Presentes de meu rei para minha senhora.

Uma jovem entrou carregando uma cesta de rosas amarelas para entregar

em minha mão.

- Meu senhor mandou suas flores especiais para demonstrar o quanto ele

se agradou da noite que tiveram. – Ela me olhou admirada – Se minha senhora me

permite dizer, deve recebê-las com muito agrado, pois meu rei nunca oferece suas rosas

amarelas a ninguém. São as rosas preferidas dele. Nem a rainha Erkas recebeu uma

sequer dessas. Creio que todas as outras mulheres ficarão um pouco enciumadas por

causa disso.

- Por mim, pode jogá-las fora. – Falei irritada.

- Minha senhora?! – A garota exclamou espantada.

- Melhor, jogue tudo isso fora!

Todos me olharam espantados.

- Vamos eu já mandei jogar fora. Tirem isso da minha frente. - Falei

exasperada.

- Não podemos fazer isso senhora. – Falou assustada.

- Não!? Mas eu posso.

Me levantei da cama num ataque de fúria e comecei pelas rosas

dilacerando suas pétalas com as mãos.

– Olha o que acho dessas rosas especiais. –Esbravejei.

Peguei as jóias que estavam expostas ao pé da cama e fui até a janela

– Olha o que penso desses presentes. - Joguei o que eles haviam trago

pela janela debaixo do olhar estarrecido de todos. – E não me dê presentes... Não quero

seus presentes ouviu Cordomad! – Eu gritava pela janela. - Não quero nada seu.

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- Não precisa gritar Melissa, estou bem aqui. - A voz de Cordomad se fez

ouvir no quarto.

Quando me virei surpresa, Cordomad estava se materializando de fumaça

ao seu corpo. Seus serviçais estavam todos de joelhos diante dele.

- Não quero saber de seus presentes, não quero nada seu. Você não vai

me comprar. Vou me casar com você em troca da liberdade de Jeziel e do general. E só

isso. Não espere ter uma vida de casal comigo, então não se de ao trabalho de me fazer

mimos.

- Eu não preciso comprar você Melissa. Você já é minha. Do momento

em que você passou pelo portal sendo carregada por meus Drevors, você já se tornou

minha propriedade. O que aconteceu depois foi só uma troca. Isso porque sou generoso.

Eu não precisaria fazer negócios com você.

- Porque esta me tratando assim Cordomad? Porque não me trata como

uma prisioneira comum?

- Você preferiria que eu te trancafiasse num calabouço, a pão e água? E

além do mais você não é uma prisioneira. Será minha rainha, rainha de Andaluz. Digna

de toda mordomia e de todos os mimos que eu e este reino puder te dar.

A voz dele soava com tanta ternura que contrariava toda a minha raiva.

Os serviçais olhavam para mim como se o monstro fosse eu desprezando a atenção e os

presentes de um rei tão amável.

- Seu cinismo me enoja. – Falei irritada.

- Cínico, eu? Melissa assim você me magoa. Eu sei que me excedi um

pouco ontem a noite, mas foi só porque você é muito atraente. Difícil me controlar com

você.

- Não quero que se aproxime de mim, não quero que me toque.

- Esse será o único pedido seu que não atenderei. Afinal, se você quer

mesmo que eu cumpra com minha palavra você terá que cumprir com a sua.

- Porque esta fazendo isso comigo? Não acredito que realmente sinta algo

por mim, porque simplesmente não me mata logo e fica com seu reino?!

- Porque Erkas descobriu na visita que você fez a sala dos espelhos, que

você é muito mais útil para mim viva. E já que eu posso unir o útil ao agradável, tendo

você e seus dons... Porque não faria isso? E por mais que você duvide, estou realmente

fascinado por você.

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Era só o que me faltava, passei dezessete anos da minha vida totalmente

invisível, sem chamar a atenção de ninguém; e de repente me torno aos olhos dos

homens de Andaluz a mulher mais cobiçada?! Se não fosse tão trágico seria engraçado.

- Quero que você se prepare, já dei ordens para que nosso casamento seja

o mais rápido possível e também seja a festa mais grandiosa deste reino. Mandei

convidar oficiais e lideres por toda Andaluz. Meu castelo será palco do casamento mais

importante do universo. Você e eu unidos eternamente para dar início a uma nova era

em meu reino, a era do poder absoluto. Meu poder absoluto.

Cordomad estava radiante. Só a idéia dele em ter se livrado da ameaça

constante que minha vida e de Jeziel era contra seu poder, o estava deixando

completamente extasiado.

- Já foi anunciado aos quatro cantos de Andaluz nosso casamento e tenho

que dizer que meus súditos estão empolgadíssimos com a novidade e principalmente

com a mudança que sua presença fará ao reino.

Olhei para ele tão sem expressão que ele acabou rindo, talvez da minha

desgraça. E diante de meus olhos ainda com um sorriso nos lábios se esvaneceu em

fumaça e desapareceu, e eu torci para que ele se evaporasse para sempre e me deixasse

em paz.

Quando os serviçais viram que Cordomad se fora cada um foi se

erguendo e saindo do quarto me deixando com os presentes que não consegui jogar pela

janela.

Ao me ver sozinha no quarto, uma terrível angustia me tomou. Era

realmente verdade o que estava acontecendo. Eu estava presa a Cordomad para que

Jeziel e meu pai tivessem chance de viver. - Ou eu me casava com ele ou as pessoas que

eu amava estariam perdidas. - Não havia saída para mim, nem todo o poder da coroa

poderia me livrar agora.

Fui desoladamente até a janela e do alto da torre onde se localizava o

quarto em que eu estava, dava para ver toda Andaluz até onde o horizonte mostrava.

Não haveria palavras para expressar o que eu sentia ao olhar por aquela

janela, se eu tivesse com quem conversar talvez eu dissesse que estava desvalida de

qualquer esperança, mas a verdade é que minha dor era tamanha que eu preferia nesse

momento nunca ter nascido.

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Aragorn

Por mais que eu olhasse para cara de Jeziel não conseguia

entender como ele foi capaz de deixar Melissa ser capturada. Como ele pode ser tão

estúpido em pensar que estavam seguros depois de termos dizimado os soldados de

Cordomad?

Com o mesmo olhar indignado que eu olhava para Jeziel, o general Euri

me olhava. Eu não fazia questão de bloquear meus pensamentos de nenhum deles.

Afinal o que eles queriam que eu escondesse? Que achava todos eles uns incompetentes

e o tal Jeziel além de ser um dos maiores incompetentes daquela tropa pra mim era um

perfeito idiota? Não era segredo.

- Não sei o que Melissa Viu em você. – Falei a Jeziel enquanto

olhávamos vários papeis sobre a mesa do general. – Os planos dele não tinham nada de

brilhante.

- Com certeza, o que ela não viu em você. – Ele respondeu rispidamente.

- Será que não vê que não podemos chegar com as tropas ao redor do

castelo. Cordomad vai eliminar um por um de seus soldados rebeldes e blindar ainda

mais o castelo.

- E você se acha poderoso o suficiente para enfrentar o exército de

Cordomad sozinho?

- Não fui eu quem perdeu Melissa para eles. – Provoquei. Eu não ia

perder a chance.

Jeziel segurou minha camisa esbravejando.

- Quem você pensa que é para me afrontar dessa maneira?

- Pronto, já vão brigar de novo – Soltou Biel nos olhando da poltrona.

- Jeziel, você mesmo o trouxe para cá – Falou o general aborrecido.

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- Eu sei, e acho que nunca me arrependi tanto de algo que eu fiz do que

agora.

- Nem quando abandonou Melissa por Raika? – Provoquei novamente.

- Seu patife. - Jeziel avanço para cima de mim.

Biel deu um pulo da poltrona se colocando entre mim e Jeziel.

- Dá para vocês dois pararem com isso? Estou querendo dormir um

pouco. E além do mais essa troca de cordialidades entre vocês já esta cansando. Tem

quatro dias que vocês estão nessa. Já perdeu a graça.

- Não me provoque Jeziel, ainda estou pensando em ir buscar Melissa

sozinho, e se eu for você pode ter certeza que jamais porá os olhos nela outra vez. Não

vou arriscar deixá-la com você para perdê-la de novo.

- Não me ameace, ou te faço prisioneiro do meu exército. – Jeziel falou

com fogo nos olhos.

- Seu exército não seria capaz de deter nem as minhas botas.

- Jeziel – O general pousou a mão sobre o ombro de Jeziel que fechou os

olhos tentando conter a irritação.

Eu dei meu sorriso desafiador a ele, mas ele se virou sem me olhar

novamente e se dirigiu para o quarto de Melissa.

- Aragorn, sei que esta tão preocupado quanto nós com Melissa –

Começou o general. - Mas atacar Jeziel não nos valera de nada. Ele esta sofrendo e já

carrega uma parcela de culpa que o esta consumindo por Melissa ter sido capturada.

- Uma parcela?! Ele deve carregá-la inteira. Se ele não fosse tão

arrogante e tivesse me deixado acompanhar Melissa até atravessar o portal naquele dia,

ela não estaria no castelo agora. Mas não... Ele tem que ser dono da verdade. E não

queria ajuda...

- Mas agora ele precisa da sua ajuda. E foi por isso que passou por cima

de seu orgulho de seu ciúmes para te chamar.

- Ora, mas o que deu no senhor general para me tratar tão cordialmente?

O senhor nunca foi com a minha cara.

- O fato de você aceitar passar também por cima de muita coisa que sei

que é difícil para você, para nos ajudar a salvar minha filha, mudou bastante o conceito

que tinha a seu respeito.

- Então me diga general, o que contava em desfavor que o senhor não me

queria com Melissa?

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- Devo confessar que fui um pouco preconceituoso por você ser um ex

soldado de Cordomad. Não queria confiar em você. Não sabia se podia. Mas depois que

vi sua dedicação a minha filha quando ela adoeceu, vi que realmente ela poderia sempre

contar com você.

- Que ironia, o fato de eu ser um ex soldado e provocar em você repulsa,

hoje provoca a única sensação de esperança para Melissa.

- Peço perdão. – O general falou.

- Sabe de uma coisa que Melissa sempre me falava que a deixava louca?

É que o povo de Andaluz pede muitas desculpas. Ela dizia que nós achávamos muito

fácil magoar ou prejudicar alguém e depois simplesmente achar que uma única palavra

desfaria toda dor, todo mal estar. No momento que ela falou eu não entendi, mas hoje

sei o que ela queria dizer. Não seria mais correto agirmos sempre de modo que não

precisaríamos pedir desculpas?

- Seria o ideal, mas como somos falhos e erramos sempre, a palavra

perdão, é essencial para no mínimo dizer que reconhecemos nosso erro.

- Esta certo general, aceito suas desculpas. Agora vamos continuar

trabalhando. Melissa espera por nós.

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CAPÍTULO 12

Por dez minutos naquela tarde, Jeziel me explicou sua estratégia que não

era nada brilhante, mas não tínhamos tempo de pensar em outra. Já fazia cinco dias que

estávamos ali planejando e planejando sem entrar em ação. Não me admirava em que

Cordomad ainda estivesse no poder mesmo depois de todos esses anos. Esses

soldadinhos eram bem incompetentes.

...

- Mas você conseguiu contato com Tamala não foi? - Vogue perguntou.

- Sim, mas não sei em que ela nos seria útil, pelo que ela me disse Erkas

esta sugando seus poderes para se fortalecer ainda mais e Tamala esta a cada momento

mais fraca. Ela esta aprisionada num calabouço, mas de hora em hora é levada para uma

câmara no castelo conhecida como a câmara de espelhos. O nome pode ser bonito, mas

o que acontece lá dentro não tem nada de belo. É mais uma câmara de tortura onde

Erkas leva suas vítimas para drenar seus poderes. Como a luz que é usada sobre a vítima

é muito forte pode matá-la lenta e cruelmente em minutos, Erkas as deixa por pouco

tempo debaixo da luz recolhendo o Máximo de seus poderes sem matá-las e as leva de

volta para suas celas para que elas se recuperem da dor por mais um curto espaço de

tempo e assim não perde uma só gota do que sua vítima pode lhe dar. Tamala já esta a

muito tempo sofrendo essa tortura. Ela estava quase inconsciente na última vez que

consegui contato.

- Conheço bem essa câmara. Já estive lá. Ali Erkas sugou meus poderes

até me deixar quase morto. Se não fosse Melissa eu não estaria aqui. – Falou Jeziel.

Olhei para ele me lamentando da incompetência também de Erkas. Ela

poderia ter me feito um grande favor.

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- Porque não deixamos Tamala de lado e nos concentramos somente em

Melissa. – Falei.

- Precisamos dela. Ela é a única que pode nos dizer como destruir a

esfera e só assim poderemos acabar com Cordomad e Erkas. – Falou Jeziel - E como

você é o único que consegue entrar em contato com ela você a procurará primeiro. Eu

vou localizar a esfera e pega-la. Biel e Vogue vão atrás de Melissa e vai tirá-la do

castelo.

Eu não gostei da idéia.

- Biel é o protetor natural de Melissa ele veio a Andaluz, o fato de ela

esta em perigo o despertou em seus dons e o atraiu para cá. Ele tem mais chance de

encontrá-la até mesmo que nós dois, pela ligação que os dois têm. E vogue ajudará a

protegê-la. E a levara em segurança de volta ao arraial. Onde o pai dela estará esperando

com o exército preparado para atacar o castelo assim que Melissa estiver em segurança.

- O arraial não é tão seguro. Melhor levá-la para minha ilha.

Agora quem não gostou foi Jeziel.

- Porque para a ilha? – Ele perguntou cismado.

- Eu posso apostar com você que a essa altura Cordomad já deve ter

descoberto onde fica o arraial e esta trabalhando para entrar nele. Já a ilha é um lugar

neutro e Cordomad não pode entrar nela.

- Há um outro lugar neutro e mais seguro – Jeziel falou – A colina do rei.

De lá se alguma coisa der errado ela pode partir para seu mundo sem ser seguida por

Cordomad.

- E como se chega lá – Perguntou Biel.

- Com uma dessas pedras – Jeziel pegou no bolso três pedras idênticas –

Elas estavam na mochila da Melissa. Foram elas que a trouxeram à Andaluz. Mesmo

separadas abrem um portal para a colina.

Jeziel estendeu a mão deixando uma chave cair na minha.

- Fique com essa. Eu não sei o que pode acontecer, talvez você tenha

mais chance que eu de colocá-la em segurança. – Os olhos dele estavam preocupados –

E se isso acontecer, por favor, cuide bem dela.

Fechei a pedra em meu punho e o olhei incrédulo. Ele estaria mesmo

confiando em mim para cuidar de Melissa?

- É o que tenho feito até hoje. – Falei sendo arrogante.

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- Eu sei. – A voz humilde e constrangida de Jeziel me surpreendeu. Ele

estava muito abalado até para discutir comigo. Lançou a outra pedra para Biel

guardando a última em seu bolso.

Aprisionada

Vários dias se passaram, eu não fazia questão de contá-los já que não

havia mas sentido para mim o tempo. Fosse de manhã à tarde ou à noite, não havia mais

pra mim neles prazer.

Era duro pensar em Jeziel e resistir viva a saudade e a falta que eu sentia

dele. E também pensar em jamais ver minha mãe e meu irmão, e mais duro ainda era

agüentar calada a presença de Cordomad tentando me provar que eu poderia confiar

nele, que ele não era o monstro que eu achava e que estava disposto a me tratar

realmente como uma rainha.

Presentes e mais presentes chegavam ao castelo, todos enviados pelo

povo de Andaluz. Eu não sabia o que pensar. Diante de tantos presentes comecei a

acreditar que o povo realmente amava seu rei. Ele nem de longe aparentava ser um líder

dominador e tirano como Ernest me descreveu. Diferente de Erkas que mesmo com toda

sua beleza, não despertava o mesmo sentimento nem mesmo em seus serviçais ou nas

concubinas de Cordomad. Erkas não tinha a simpatia delas. Elas tinham medo da

feiticeira, que como uma sanguessuga só se aproximava dos outros querendo absorver

algo de seus dons.

Já Raika, tinha todo o castelo a seus pés, menos eu é claro. O poder

dominador e sedutor dela era constante e tanto os homens como as mulheres se

derramavam em desvelo quando ela estava por perto.

Eu ficava totalmente enjoada, quando sem opção de escolha, tinha que

ver os Drevors que faziam a segurança dela babando ao seu redor, completamente

excitados e desesperados por um toque ou um olhar de Raika. Era patético, mas para ela

aquilo tudo era o Máximo.

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Cordomad também escalou uma tropa de soldados para andar comigo

sempre que eu saía do quarto em que estava. O que eu não fazia muito. A não ser

quando era “convidada” por Cordomad para me encontrar com ele em algum lugar

daquele imenso palácio. Mas mesmo que eu estivesse infeliz, me sentia ao menos

conformada em saber que minha permanência ali tinha uma boa causa. E já que eu não

tinha escolha, me limitei em aceitar os fatos e agradecer por ter tido a chance de ao

menos salvar a vida daqueles que amo.

- Melissa – a voz de Tamala depois de muitos dias entrou em minha

mente de novo.

Assustada com a surpresa me sentei sobre a cama prestando mais atenção

em sua voz.

- Você não pode se casar com Cordomad.

- Diga isso à ele. Quem sabe te ouve. – Falei tentando uma piada sem

humor.

- Casando-se com ele você dará todo o poder que ele precisa para ser

invencível.

- Não pense que estou me casando por livre e espontânea vontade. É por

causa de Jeziel e de minha família. Ele prometeu poupá-los.

- Não seja tola Melissa, você tem o poder, você pode destruir a esfera e

assim libertar Andaluz.

- Não pense que eu posso fazer isso sozinha, e Jeziel já deve ter sido

mandado para minha dimensão.

- Melissa... Você precis... – A voz dela começava a sumir.

- Tamala, o que aconteceu?

- Fraca, estou muito... – Ela não conseguiu terminar a frase.

Tamala insistia em que eu destruísse a esfera. Mas como? Se eu

realmente pudesse fazer isso não mediria esforços para conseguir me livrar de uma vez

por todas dessa família de monstros. Mas só ela poderia me dizer como, e por estar

muito fraca não conseguia. Fiquei ainda um tempo tentando ouvi-la novamente, mas

nada, sua voz sumiu de vez.

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Uma idéia se formava em minha mente. Já que Jeziel e meu pai estavam

em segurança, e Tamala me garantia que eu poderia destruir a esfera, eu devia ao menos

tentar, mas não poderia fazer isso sozinha. Mas sabia de alguém que compraria essa

briga comigo, ainda que fosse uma idéia suicida. Eu estava começando a tomar coragem

para ter alguma atitude que mudasse minha situação.

Aragorn

Esperamos até anoitecer já que teríamos que andar toda a madrugada

pelas sombras da noite para não sermos vistos e não poderíamos chegar perto do castelo

através do portal, ou a magia de Erkas nos encontraria.

- Então vamos, não temos muito tempo. – Falou Biel impaciente.

Abri o portal e atravessarmos rumo ao castelo.

Não paramos nem um minuto a noite. Somente quando o sol começava a

surgir resolvemos parar para recarregar as forças. Não poderíamos ser imprudentes e

chegarmos ao castelo exaustos.

Vogue se deitou colocando a cabeça no colo de Biel e com ele

acariciando seus cabelos ela adormeceu.

Ao vê-los assim, me pareceu que eu estava voltando no tempo me

recordando das vezes que na ilha Melissa fazia exatamente igual. Colocava a cabeça em

meu colo e acabava adormecendo depois de tagarelar sem parar.

Jeziel pareceu captar minhas lembranças e se afastou para se sentar em

outro lugar tentando fugir de meus pensamentos.

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- Melissa me falou muito de você – Falei a Biel.

Ele abriu um largo sorriso que o deixou com a cara do general.

- Ela faz muito isso, não é? Ela me adora.

Sorri diante da declaração nada modesta dele.

- Como foi depois que descobriu que ela havia sumido de casa? –

Perguntei curioso.

- Cara, eu quase fiquei louco. Quando minha mãe me telefonou dizendo

que Melissa tinha deixado uma mensagem na secretaria do telefone dizendo que ficaria

fora um tempo eu não acreditei. Tive que ligar eu mesmo. Ela nunca foi de fazer esse

tipo de loucuras. E uma semana depois que ela não apareceu, minha mãe já estava

entrando em parafuso. Colocou meio mundo de gente atrás dela até a polícia. E nada.

Ela simplesmente desapareceu do mapa. No começo eu duvidei que ela tivesse ido atrás

de Jeziel. Ela estava muito ferida e com muita raiva dele. – Jeziel suspirou incomodado

– Mas depois que as semanas tornaram-se meses sem notícias dela eu só podia pensar

que ela estivesse procurando por ele, e não voltaria enquanto não o encontrasse. Porque

apesar de estar magoada e irada com ele, eu sabia que ela o amava. E quando a raiva

passasse ela iria cair direto nos braços dele. – Dessa vez quem respirou incomodado fui

eu - Depois que vi as cartas que meu pai deixou, fiquei sabendo que ela estava aqui,

então simulei uma viagem para enganar minha mãe, dizendo que iria para um safári na

áfrica, para que ela não pensasse que mais um filho desapareceu, e abri o tal porta até

aqui.

- Não sei se ela vai gostar de te ver em Andaluz, apesar de estar

morrendo de saudades de você. Ela se preocupou muito com sua segurança e de sua

mãe. Ela estava disposta a ficar aqui em minha ilha para proteger sua família.

- Conheço bem Melissa, ela seria mesmo capaz de fazer isso. E porque

em sua ilha e não com papai?

- Ela não se deu bem com seu pai no começo. – Sorri – Na verdade ela

não se deu bem com ninguém desde que chegou ao arraial. – Olhei sugestivamente para

Vogue adormecida no colo de Biel.

- Eu tenho que te agradecer cara, por ter cuidado da minha irmãzinha.

- Não precisa agradecer, o que eu fiz foi por ela. E faria mil vezes.

- Você gosta mesmo dela, não é?

Não precisei responder, não era bem uma pergunta. Olhei para onde

Jeziel estava e pela primeira vez não senti vontade de provocá-lo. Ele estava de cabeça

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baixa imerso em sua culpa e sua dor. Por várias vezes o peguei pensando arrependido

por ter deixado o ciúmes falar mais alto e não ter me permitido acompanhá-los no dia

em que Melissa foi capturada. Mas e se fosse eu no lugar dele, teria agido diferente?

Acho que não. E mesmo que eu não deixe ele ver isso em minha mente, não tenho

certeza se eu poderia ter impedido a captura de Melissa. Pelo que sei Raika foi

determinada a levá-la, nada a impediria.

Voltei a atenção para Biel que distraído fitava o rosto adormecido de

Vogue. Aproveitei para entrar em sua mente e para me livrar dos pensamentos que

estavam me deixando ansioso, busquei lembranças de coisas de Melissa que eu não

conhecia.

Na mente de Biel Melissa era tão dependente e frágil como vi na mente

de Jeziel. E isso me intrigou. Apesar de reconhecer a fragilidade de Melissa, não

reconheci a Melissa que estava na mente desses dois. - Ela é tão diferente quando esta

comigo. Por quê? – Pensei.

- Ela se sente confiante quando esta ao seu lado. Você confia nela,

acredita na força que ela tem, enquanto nós a tratamos como um garota indefesa. Ela

simplesmente responde a sua expectativa favorável que deposita nela.

- Esta lendo minha mente? – Perguntei a Biel que respondeu a minha

pergunta muda.

- Isso é bem interessante. – Ele falou com um riso nos lábios. – Queria ter

descoberto esse dom um pouco mais cedo. Imagino quantas coisas eu poderia ter feito. –

Falou sonhador.

Ao entardecer entramos na vila que se localizava próximo ao muro do

castelo. Havia uma grande movimentação. Todos estavam muito animados o que nos

atiçou a curiosidade.

Luzes estavam sendo colocadas para uma grande festa, todos se

preparavam para um evento do qual nós não estávamos inteirados.

Abordei um senhor que passava por nós trazendo uma grande cesta

repleta de frutas.

- Meu senhor, por favor, pode nos informar qual o motivo dessa

animação toda? Parece que estão preparando uma grande festa.

O senhor me olhou com seus olhos amendoados e escondidos atrás de

algumas rugas quando ele sorriu.

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- Se são viajantes chegaram numa boa hora. Teremos sim uma grande

festa. O Rei Cordomad mandou que todo seu reino celebrasse com ele a novidade.

- Celebrasse a novidade? – Jeziel perguntou confuso.

- Sim, nosso rei esta muito feliz por que esta presenteando nosso reino

com mais uma rainha.

- Mais uma rainha? Explique-nos melhor meu velho. – Pedi.

- Todos sabemos que o rei Cordomad tem várias esposas, uma das

minhas sobrinhas inclusive teve a honra de ser esposa do rei. Mas ele mantinha como

rainha somente Erkas. Agora ele encontrou uma bela moça para se sentar também ao

lado dele no trono para governar Andaluz, isso fortalecera ainda mais nosso reino, todos

estão muito satisfeitos e dizem que ela é dotada de poderes excepcionais, sem falar que

é divinamente linda. Minha mulher trabalha na copa do castelo, ela me contou que a

moça parece uma deusa, e já usa até uma coroa. O rei Cordomad se casara com ela em

dois dias.

- Uma coroa? – Vogue sussurrou.

- Cordomad vai se casar com... – Eu falei estarrecido sem conseguir

terminar a frase.

- Como é mesmo o nome dela... Tão incomum... Não me lembro... – O

Velho fechou os olhos se esforçando para lembrar.

- Melissa... – Jeziel falou em choque, mas não respondia ao homem, só

falava tentando acreditar no que ouvia.

- Isso mesmo, Melissa é o nome da nossa futura nova rainha. –

Confirmou o velho – agora me dêem licença, pois eu preciso preparar os doces. Muita

gente vira de outras vilas tenho que estar preparado.

O homem saiu andando e nós ficamos paralisados sem falar nada um

com o outro. Olhei para o rosto de Jeziel e ele parecia em choque. Seus olhos estavam

vidrados e ele me parecia sem forças para se manter em pé. E eu estava me sentindo de

certo modo da mesma forma. O chão perecia ter sido roubado de sob meus pés. Biel nos

olhava sem entender a gravidade dos fatos. No entanto eu e Jeziel sabíamos o que devia

ter acontecido para que Melissa tivesse aceitado se casar com Cordomad e colocar a

coroa a disposição dele, e sabíamos também, que com o interesse que Cordomad

demonstrou por Melissa, e anunciando por todo reino seu casamento, ele devia ter usado

todo seu dom para tê-la para si.

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- Melissa... – Jeziel falou o nome de Melissa chamando nossa atenção

para ele. De repente um sorriso estranho surgiu de lado em sua boca. E um brilho

estranho o circulou. – Eu vou matar Cordomad. Se ele encostou num fio de cabelo dela

vou fazer questão de matá-lo com minhas próprias mãos.

Vogue olhou para ele assustada. Apesar de um sorriso meio débil em seu

rosto que alguém que olhasse de fora iria pensar que ele estava satisfeito com alguma

coisa, um brilho estranho e escuro surgiu pelos seus poros. Os olhos dele começaram a

ficar sem foco e ameaçadores. Vogue deu alguns passos para trás e Biel a seguiu. O

chão debaixo de nossos pés começou a vibrar. Jeziel fechou a mão em punho, e a

atmosfera ao nosso redor começou a mudar. Cada tremor de seus músculos tensionados

pareciam estar fazendo a terra vibrar ainda mais.

- Jeziel, não chame a atenção para nós. – Falei – O tremor da terra estava

aumentando e os olhos dos pacatos moradores da vila já estavam procurando pelo

causador do tremor. Esse não era um dom muito comum, logo eles ligariam ele a nós e

em seguida os Drevors apareceriam.

Hesitando em resistir ao poder que queria explodir através dele, com

dificuldade ele fechou os olhos e absorveu a luz que nele brilhava, controlou a tensão de

seus músculos e o tremor cessou. Mas pude perceber em seu semblante uma mudança.

Como se ele tivesse amadurecido uns dez anos em dez segundos. Seu maxilar travado

sua boca numa linha firme e determinada, seus olhos carregados de indignação. Ele

olhou para mim, e pela primeira vez vi a autoridade real que estava em seu sangue, em

seu destino. Vogue também percebeu e o reverenciou. Naquele momento até Biel em

seu jeito irreverente percebeu que estava diante do rei de Andaluz.

- O que estamos esperando? Temos que continuar. – Ele falou

calmamente, mas eu sabia que a mente dele devia estar a mil por hora apesar de estar

bloqueada.

Continuamos nosso percurso pelo meio da vila passando despercebidos

pelo meio da multidão que ocupada com os preparativos da festa não se preocupava

com alguns forasteiros como nós, muitos estavam vindo de várias partes para assistir ao

casamento, éramos só mais um.

Quando atravessamos toda a vila chegamos ao bosque que iria nos levar

até as muralhas do castelo. Deveríamos nos esconder ali e esperar que anoitecesse.

Fomos nos esgueirando por trás de árvores e de arbustos e paramos sob a raiz suspensa

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de uma árvore. Ali esperaríamos que a madrugada chegasse para podermos seguir com

o plano.

Sentados ali debaixo daquela raiz não havia assunto. Biel parecia muito

preocupado agora que ele pode saber por Vogue o que Cordomad poderia ter feito a

Melissa. Vogue estava chateada com sigo mesma por ter ajudado de certa forma a Raika

chegar até Melissa. Ela ainda pensa que se não tivesse contado para Jeziel o que Melissa

tinha feito ela teria voltado para o arraial em segurança. Jeziel de costas para nós olhava

o infinito. Eu não sabia exatamente o que sentir nem o que pensar, apesar de partilhar o

mesmo desejo de destruir Cordomad se ele tiver tocado levianamente em Melissa.

- Ela é forte, e mesmo Cordomad com todo seu poder não a faria ceder

se ela não quiser. – Falei na mente de Jeziel. Ele estava muito atormentado, me senti na

obrigação de lhe dizer alguma coisa. Afinal nós tínhamos algo em comum. Melissa.

- O que acha que aconteceu? – Ele me perguntou. – Qual o interesse dele

em transformá-la em sua rainha?

- Algo deve ter acontecido naquele castelo, Cordomad não faz nada que

não vá dar a ele alguma vantagem. Ele deve ter descoberto algo que nós não sabemos

sobre ela.

- Melissa é predestinada ao trono de Andaluz, não ele, nem Erkas ou sua

filha. Ele deve adquirir mais poder se ela que esta destinada ao trono se assentar junto

com ele, e também o poder da coroa lhe dará mais autoridade sem contar os poderes

dela que ele passara a possuir quando tomá-la por esposa..

- Esse é um bom motivo. Me lembro que Cordomad fez uma nova sala

do trono para ele, e a sala onde estava os tronos de seus pais jamais eram usados.

Alguns soldados até diziam que os tronos reais eram mágicos por isso ele não os usava.

- Assim como a coroa. Ele não tem direito a eles. Mas Melissa sim.

- Você acha que...

- Só pode ser isso. Com Melissa sobre o trono ele poderá se favorecer do

poderes que o trono oferece.

- Temos que impedi-lo, ou será impossível determos Cordomad, e

Melissa ficara presa a ele para sempre. – Falei.

Jeziel se virou e me encarou. Nós nunca seriamos amigos, mas o fato de

estarmos lutando a favor de Melissa e não por ela nesse momento, estava nos tornando

mais tolerantes um com o outro.

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Me deitei sobre os braços cruzados e fitei o céu procurando pelas

estrelas. Eu sabia que Elas estariam ali, mas eu me sentia muito nervoso para conseguir

realmente vê-las.

Mas precisava me acalmar, afinal eu não poderia estar descontrolado.

Precisava de todo meu domínio para pensar racionalmente e fazer com que o plano

desse certo. Já bastava Jeziel provocando terremoto.

Comecei mentalmente a cantarolar minha música sem esquecer do

quanto Melissa gostava dela. Ansioso eu pensava em como ela estaria agora e o que eu

era capaz de dar para que ela estivesse ao meu lado agora contemplando em segurança

as estrela comigo.

Prossegui cantando mentalmente ainda que não tivesse me acalmando em

nada, mas afinal não queria tirar ninguém de seus pensamentos, e nem queria nessa hora

participar dos pensamentos de ninguém nem permiti que algum deles participasse dos

meus. Até que algo surpreendente aconteceu.

Aprisionada

Depois de um dia inteiro e a noite pensando conclui que a essas alturas

com certeza Jeziel já estaria em minha dimensão junto com meu pai e eles devem ter se

encontrado com minha mãe e meu irmão. Cordomad não se preocupariam com eles

sabendo quão distantes eles estão. E a distração dele com a chegada do casamento

poderia me dar uma vantagem sobre ele.

- Tamala – chamei por ela mais uma vez tentando contato – sei que esta

fraca, mas tente contatar Aragorn. Ele deve estar em sua ilha sem saber o que esta

acontecendo. Diga que estou no castelo, aprisionada como você. Ele pode nos ajudar a

destruir a esfera. Sozinha eu não conseguirei.

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- Aragorn... - O nome dele em sua voz na minha mente saiu como um

sussurro.

- Isso, chame por ele, eu sei que ele virá.

Se alguém podia me ajudar era ele. Sei que não devia meter Aragorn

nisso, mas não tenho alternativas. Cada momento que passa e a idéia de eu ter que me

casar com Cordomad me incentivava a fazer qualquer loucura para escapar.

Caso Aragorn ouça Tamala sei que ele não me deixara aqui a mercê de

Cordomad. Estando Jeziel em segurança, e toda a minha família, eu podia pensar em me

arriscar a destruir os planos de Cordomad. Aragorn e eu fazemos uma boa dupla. E ao

lado dele me sentiria mais confiante para atacar meus inimigos.

A noite foi terrível por causa da ansiedade, mas consegui dormir, e por

incrível que pareça sonhar.

A música que mais poderia me fazer feliz nesse momento entrou em meu

sonho. Ouvi Aragorn cantando a música das estrelas, mas a voz dele não estava

tranqüila como de costume, era como se ele cantasse para acalmar a si mesmo. Eu não

conseguia ver nada, não conseguia localizá-lo, era um escuro total, só a musica de

Aragorn era ouvida.

- Aragorn... – ouvi a voz de Tamala se misturar a melodia. – Aragorn

ouça-me... – ela dizia.

- Tamala? – falei surpresa por ouvir sua voz

- Melissa? Como...- ela estava tão surpresa quanto eu.

- Não sei. Onde estamos?

- Entre o espaço e a mente de Aragorn.

- Aragorn!- chamei na esperança que ele ouvisse.

- Ouça-nos... – Tamala insistia.

Durante um tempo ficamos chamando por ele, mas era como se

estivéssemos numa sala a prova de som dentro da mente de Aragorn.

Tamala acabou desistindo vencida pelo cansaço, e por estar fraca demais

para continuar tentando. Eu permaneci ali procurando uma forma de vencer o que

poderia ser um bloqueio e já que eu podia ouvir Aragorn era sinal que eu não estava tão

distante de conseguir contato.

- Por favor, meu amigo, me ouça. Se tem alguém nessa dimensão que

pode me ouvir é você.

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Por um tempo insondável continuei persistindo e nada até que vencida

também pelo cansaço parei de chamar, e envolvida pela música que eu conhecia e me

fazia tão bem comecei a cantar num dueto para também tentar me acalmar. Por um

momento percebi que Aragorn parou de cantar. Em seguida eu parei.

Aragorn voltou então a cantar e voltei a cantar com ele. Ele parou

novamente.

- Melissa?! – ele falou espantado e surpreso.

- Aragorn?! – meu tom espelhou o dele. – você esta me ouvindo!

- Sim minha estrela, estou te ouvindo. – Ele respondeu parecendo

aliviado.

A alegria que senti não poderia ser mensurada. Ouvir a voz de Aragorn

em minha mente era o fio de esperança que eu precisava.

- Aragorn, preciso de você. Cordomad me...

- Eu sei Melissa, estou indo te buscar.

- Por favor depressa – clamei.

- Como você esta?

- Estou bem, por enquanto.

- Não se preocupe, vou tirar você daí.

- É muito perigoso, tenha cuidado.

- Ei, confia em mim. Alguma vez te deixei na mão?

- Não. Mas me preocupo com você.

- Como conseguiu me contatar? O bloqueio nesse castelo é muito forte.

- Não sei, eu estou dormindo e sonhando ouvi sua música.

- Você gosta mesmo de me ver cantar.

Pela primeira vez em dias eu sorri.

- Aragorn, Os Drevors de Cordomad invadiria o arraial. Você sabe

alguma coisa de meu pai... De Jeziel?

- Eles estão...

Mas antes que eu pudesse ouvir a resposta de Aragorn meu quarto foi

invadido por Drevors e ao acordar assustada minha comunicação com Aragorn foi

cortada.

Me sobressaltei na cama e Raika entrou.

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Aragorn

Me levantei num salto do chão. Biel e Jeziel assustados com meu

rompante se levantaram também.

- O que foi? – Biel perguntou alarmado enquanto Jeziel me olhava

curioso.

- Melissa! Ela falou comigo.

- Falou com você? – Jeziel falou surpreso e de certa forma satisfeito. – o

que ela disse?

- Me pediu para ir buscá-la.

Pensei que o semblante de Jeziel cairia, mas ele estava com um brilho

alegre no olhar apesar de eu ler em sua mente que ele estava intrigado por ela ter feito

contato comigo e não com ele.

- O que estamos esperando? - Biel falou impaciente enquanto ajudava

Vogue se levantar.

- Aragorn como ela esta? – Jeziel me perguntou.

- Ela disse que esta bem, mas temo que alguém descobriu que ela se

comunicava comigo pois nosso contato foi interrompido bruscamente.

- Como ela conseguiu contatar você? – Jeziel sondou curioso.

- Eu estava cantando e ela estava dormindo e...

- Cantando? – Vogue me interrompeu.

- É algo que faço de vez em quando.

- Então você canta? – falou Biel achando estranho.

Olhei para ele sem entender o porquê do espanto.

- É Jeziel – falou Biel – você tá enrolado meu chapa. Além de tudo o cara

é cantor...

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Vogue riu, Jeziel olhou para ele mal humorado e eu fiquei sem entender.

- Concorrência desigual – Biel completou.

Finalmente entendi, me deu vontade de rir, mas Jeziel estava agora muito

mal encarado. Melhor não provocar.

- Que tal irmos agora? – sugeriu Vogue. – Já esta bem tarde.

Todos nos preparamos para voltar a caminhada e partimos.

Eu ainda tentava me manter calmo, e apesar de ter ouvido a voz de

Melissa e saber que ela esta bem, o que foi um grande alívio, não serviu para me

tranqüilizar. Eu sabia que se eles tivessem descoberto sua comunicação comigo,

primeiro, ela estaria em maior perigo e segundo, nossa chegada não seria mais surpresa

como queríamos. Pensei se devia dar a notícia sobre Cordomad dizer a Melissa que

atacaria o arraial. Isso poderia tirá-los do foco e fazê-los olhar para trás. Minha

preocupação era só Melissa e a deles também deveriam ser. E era bem provável que

Cordomad estivesse blefando. Afinal se ele tivesse descoberto a localização do arraial

com certeza já teria atacado antes de termos saído de lá.

Biel andava ao lado de Jeziel o sondando de cima a baixo.

- Que foi Biel?! – Jeziel perguntou nervoso.

- Você canta?

- Como é?

- Dança?

- Quer me deixar em paz?

- Toca alguma coisa? Sabe como é as mulheres adoram homens versáteis.

Jeziel parou olhando para Biel de forma assustadora.

- Tudo bem não fica nervoso, só to querendo ajudar.

Eles voltaram a caminhar.

- Bem que eu falei para você malhar mais, criar mais músculos e... – Biel

se aproximou de Jeziel para sussurrar em seu ouvido, mas eu ouvi o que disse – já

reparou nos braços de Aragorn?

Involuntariamente olhei meus braços.

Jeziel olhou para mim e dei de ombros.

- Sabe, acho que ainda dá tempo de você aprender alguma coisa – Biel

insistia.

Jeziel apressou o passo tentando se livra de Biel e vogue segurou no

braço de seu amado para impedi-lo de alcançar Jeziel e continuar importunando.

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Aprisionada

- Não acredito que esta se comunicando com seu namoradinho. – os

olhos azuis de Raika estavam vidrados de ira. – meu pai não vai gostar disso.

Raika somente olhou para um dos Drevors que estavam próximo a minha

cama e ele me segurou pelo braço e me puxou brutamente para fora do quarto.

- Acabou sua mordomia Melissa. Se não sabe se comportar teremos que

ser mais duros com você. E sei que vai se arrepender amargamente por ter sido tão tola.

Os soldados me empurraram por corredores que ficavam cada vez mais

escuros. E quando chegaram diante de uma porta de madeira mofada abriram e me

jogaram para dentro de uma sela agora úmida sem cama e sem janelas.

Eu caí devido a força e a brutalidade que eles usaram comigo. Meu

joelho bateu com força ao chão me fazendo gritar de dor.

Raika se aproximou enquanto eu estava caída e gritou.

- De pé Melissa, quero ver sua cara.

Como eu não me movi um dos adoradores de Raika me ergueu pelo

braço.

Quando olhei em seu rosto não era tão angelical como de costume.

- Eu não gostei mesmo dessa idéia de você ser rainha... De estar no

mesmo nível que minha mãe e eu. Quem você pensa que é? Um nada. Você já podia

estar morta se dependesse de mim. Agora com esse seu ato de pedir socorro a Aragorn,

me deu um motivo para te tratar como você merece. – Vi que Raika tirava sua máscara

de fada pela primeira vez. – Você pensou que não estaríamos te vigiando? Achou que

confiaríamos em você?

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- E você achou que eu confiaria em vocês? Achou que eu ficaria de

braços cruzados? Vocês não conseguiram nada de mim e nunca conseguirão.

- Conseguiremos sim. Assim que Cordomad te tomar como esposa, você

dará a ele todo o poder que ele precisa e você não poderá fazer nada contra isso.

- Não serei rainha de seu pai, Aragorn vem me buscar.

Ela deu uma risada espectral.

- Pobre Aragorn... Ainda esta apaixonado e cometendo loucuras por

você? E ele vai morrer por sua causa. Devia ter pensado um pouco nele e deixado o

coitado fora disso. Não pense que ele vai conseguir passar pelos Drevors. Ele pode até

ser muito esperto, mas aqui é a fortaleza de Cordomad. Jamais ele conseguira entrar

aqui, e se entrar nunca sairá vivo, principalmente agora que estaremos esperando por

ele.

Eu tremi com a declaração de Raika. Aragorn estava vindo direto para

morte e eu o atraí a isso.

Tentei ainda fazer contato com Aragorn para fazê-lo desistir de vir atrás

de mim. Eu não devia ter sequer pensado nisso, mas em meio a meus pensamentos

Raika retirou a coroa da minha cabeça.

- Não adianta tentar avisá-lo agora, ele vira e eu especialmente estarei

esperando por ele. E essa coroa ficara comigo até o dia do seu casamento, afinal não vai

precisar dela antes disso.

Ergui a mão para tentar reaver a coroa, mas Raika ergueu uma das mãos

e eu fui lançada a metros de distância até bater com as costas violentamente na parede.

Com o impacto eu caí novamente totalmente sem fôlego. Tentando

respirar com dificuldade olhei para Raika que trazia um sorrisinho irônico.

- Você me paga! – Rugi entre os dentes reunindo o pouco de força que eu

tinha.

- E vai fazer o que? – desafiou.

Eu me ergui e o vento que se formava desde meus pés foi subindo se

formando num redemoinho balançando os cabelos platinados de Raika.

- Você só sabe fazer isso? – Desdenhou.

A ira se ascendeu tanto em mim que abri minhas mãos como se eu

pudesse pegar aquele vento e de uma forma inexplicável a ventania se formou numa

bola entre minhas mãos e lancei contra Raika com toda força.

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Raika foi então lançada violentamente contra a parede, os Drevors que

estavam ali se posicionaram à minha frente e o mesmo princípio usei contra eles.

Quando alguns deles se transformaram em fumaça, rompi a luz em mim e

me lembrei do escudo espelhado que usei contra Cordomad e o acionei.

Raika se levantou mais irada e tentou me lançar novamente contra a

parede. Pude até sentir a força do seu dom, mas ele não teve potencia para me lançar, eu

no entanto me aproximei de Raika passando pela fumaça escura dos Drevors que

tentavam me atingir mas devido ao escudo em mim não conseguiam e parei de frente a

ela. Eu podia usar meu novo poder que havia acabado de descobrir, mas o que queria

mesmo era colocar minhas próprias mãos nela. E foi o que fiz. Com um soco encaixado

no queixo de Raika, fiz ela girar e cair ao chão, quando me aproximei para dar outro

golpe ela se ergueu para lutar e também deixou seus dons de lado e partimos para luta

corpo a corpo.

Nem de longe eu poderia dizer que ela não sabia o que estava fazendo.

Ela era muito forte apesar da sua estrutura delicada, e ágil. Mas eu tive um ótimo

professor e passei a usar tudo que sabia e movida pela raiva que a muito tempo

carregava dela acabei em vantagem.

Mas nossa luta durou pouco e não podemos saber quem ganharia essa

peleja já que Erkas apareceu do nada no meio da cela e me imobilizou.

Meu escudo não funcionava com ela.

- Raika o que esta fazendo?

- Ela conseguiu contato com Aragorn.

- E? – perguntou Erkas como se isso não fosse motivo para Raika fazer o

que estava fazendo.

- Cordomad precisa saber disso.

- Ele já sabe. Agora saia. – ordenou Erkas.

Raika se virou de costas para mim e na porta antes de sair me avisou.

- Isso ainda não acabou entre nós - saiu da cela seguida por seus

soldados.

Erkas olhou para cela parecendo desagradada e depois para mim.

- Se prefere assim...

Ao sair fiquei sozinha e no escuro quebrado somente pela luz que ainda

emanava de mim, mas estava fraca.

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Quando tive meus movimentos de volta, me encolhi num dos cantos da

cela. Pela primeira vez me senti realmente uma prisioneira e estava com medo. Pelo que

vi, a falsa cordialidade foi substituída pela hostilidade que de agora em diante eu seria

tratada. E o pior, estava arrependida por ter pedido a Aragorn para vir me ajudar. Eu iria

matá-lo. Indiretamente, mais iria. Se ao menos eu conseguisse falar com ele novamente

não deixaria que viesse.

- Aragorn, por favor, não venha – pensei angustiada por saber que mesmo que

ele me ouvisse não obedeceria.

Aragorn

Passamos despercebidos pela vila que rodeava o pé da montanha e chegamos

finalmente diante a muralha.

Como comandante da guarda real eu conhecia todas as entradas inclusive as

secretas, e temia que os soldados de Cordomad as estivesse vigiando. Mas havia uma

que ele não conhecia. Que ninguém conhecia. Eu mesmo a tinha feito quando descobri

que Cordomad exterminara minha família. Uma pequena entrada que surgia quando se

mergulhava na fonte da pequena nascente que abastecia a vila abaixo de nós. Essa

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entrada nos levaria direto ao fosso que circulava toda a muralha por dentro do castelo e

teríamos que ter um bom fôlego, pois a muralha era bem larga. E essa não era a parte

mais difícil. Do outro lado soldados estariam guardando milímetro a milímetro do

perímetro. E as entradas para o castelo também estariam vigiadas.

- Somente uma passagem para dentro do castelo será possível para nós depois

que atravessarmos o fosso – Eu disse a eles – E não é um lugar que se possa andar

descuidado. – Me escutavam atentos. – Cordomad mantém um labirinto para sua

diversão. E é por ele que vamos entrar no castelo. Cordomad costuma soltar seus

inimigos nele com a falsa promessa de que se eles conseguirem sair do outro lado

estariam livres. Cordomad é um sádico, ele jamais libertou um inimigo sequer. Em seu

labirinto ele cria alguns dos animais mais ferozes de Andaluz, ninguém jamais saiu de lá

vivo. Todos que se arriscaram viraram comida das feras.

- E é por esse lugar que vamos atravessar? – Perguntou Biel me olhando

espantado.

- É o único que temos.

- Vogue, acho melhor você ficar aqui nos aguardando – Disse Biel preocupado e

eu percebi que nos olhos dele havia uma preocupação além do cuidado e da amizade.

Jeziel também percebera e trocou um olhar cúmplice comigo.

- De jeito nenhum - Vogue respondeu- Eu vou com você.

Ela disse você em vez de vocês. Havia mesmo algo entre eles além da amizade. Eu

pensei logo em Melissa, ela não gostava muito de Vogue, mas o irmão dela pelo jeito...

Quando chegamos a fonte nos preparamos para o mergulho. Estava escuro o

suficiente para que tivéssemos uma chance de chegar dentro do castelo.

Biel entrou na água primeiro e vogue o seguiu em seguida Jeziel e eu.

Todos respiramos profundamente para reservar bastante ar e quando mergulhei

eles mergulharam atrás de mim.

Logo estávamos por baixo da muralha que era exatamente a parte mais difícil do

mergulho. Pela sua extensão alguém poderia não ter fôlego suficiente, e foi exatamente

o que aconteceu com Vogue. A poucos metros do fim da muralha ela estava sem ar.

Desesperada ela tentava nadar mais rápido, só que isso provocava ainda mais a

necessidade de respirar. Biel se agarrou a ela e a braçadas largas conseguiu chegar com

ela a superfície.

Vogue buscou o ar desesperadamente sustentada por Biel.

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Fiz sinal para que eles não fizessem barulho. Estávamos muito perto de alguns

soldados que estavam de costas para o fosso. Não podíamos ser vistos.

Nos movimentamos silenciosamente escondidos pela noite e por uma vegetação

aquática e fechada até a margem do fosso que era coberto. Nos serviria muito bem de

camuflagem até chegarmos próximos ao labirinto.

Por dentro da água íamos avançando devagar mais o importante não era o tempo

e sim alcançarmos nosso objetivo. Eu já podia ver a entrada do labirinto que dava do

fosso, onde os animais de Cordomad bebiam água e constatei satisfeito que nenhum

deles pareciam ter sede naquela madrugada. Mas isso não me deixava totalmente

tranqüilo, já que se eles não estavam a beira da água deviam estar espalhados pelo

labirinto. E o pior da nossa aventura viria agora, porque além de enfrentar os animais

selvagens teríamos que conseguir acertar o caminho para o castelo. Não seria nada fácil.

- Biel, tem certeza que quer ir? – perguntei preocupado. Ele não devia ter

nenhuma experiência com os animais da minha dimensão. Me lembrei que Melissa se

apavorava ao ver o mínimo movimento na floresta depois da experiência que ela teve

com um Atreio, animal que ela dizia ser semelhante a um dos que havia em sua

dimensão só que inúmeras vezes maior.

- Estou preparado! – ele afirmou categoricamente.

Eu sabia que não era verdade. Ele não tinha idéia do que iria enfrentar no

labirinto, nem fora dele. Se ele conseguisse passar pelas feras os soldados de Cordomad

estariam esperando por ele. Mas eu também sabia que não adiantaria querer impedi-lo.

Biel faria de tudo para tentar salvar sua irmã.

Desembainhei minha espada e todos seguiram meu exemplo. Saímos então da

água já dentro do primeiro corredor de arbustos que mais pareciam muros verdes sem

fim e caminhamos até encontrarmos finalmente a entrada complicada com várias

bifurcações que fariam nos perder dentro daquele jardim intricado.

- Melhor nos mantermos juntos, assim podemos nos defender dos animais que

aparecerem. – sugeri.

Escolhemos quase que na sorte um dos caminhos e adentramos para o que nos

aguardava.

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Capitulo 13

Aprisionada

No canto da sela eu permanecia encolhida. O lugar era muito úmido e eu estava

com muito frio vestida somente na fina seda da camisola semi-transparente que me

vestiram no começo da noite.

Eu não sabia quanto tempo estava ali. Mas a porta se abriu e a luz que vinha de

fora fez meus olhos arderem.

Fiz uma proteção com a mão para identificar quem entrava pela porta depois dos

Drevors que passaram, e vi Cordomad se aproximar.

- Sabe, fui fazer-lhe uma visita em seu quarto e qual não foi minha surpresa

quando chegando lá me informaram que você tinha sido trazida para cá.

Eu permaneci imóvel.

- Não me diga que você quer quebrar nosso trato? Raika me falou que você

pediu ajuda a seu amigo Aragorn. Quer mesmo ir embora daqui Melissa? Quer mesmo

que eu de um fim a vida de seu pai e de Jeziel?

- Você já os mandou para minha dimensão, não foi?! – perguntei preocupada.

- Por isso você pensa que não posso alcançá-los?

Fiquei apavorada com a ameaça real na voz de Cordomad. Se ele fosse atrás de

meu pai, de Jeziel eles encontrariam também minha mãe e Biel.

Fiquei de pé diante de Cordomad assustada. Eu queria poder fazer alguma coisa

que tirasse a idéia dele perseguir os meus.

- Não vou quebrar nosso trato – falei tentando ser firme na voz sem conseguir.

- Mas você já fez isso. Não devia ter me testado Melissa. Qual era a sua intenção

em chamar Aragorn? Pensou que ele te libertaria? Ou que ele me mataria? Você sabe

que isso é impossível.

Ele andou pela cela como se tivesse muito desgostoso com minha atitude.

- O que pretende fazer agora? – perguntei angustiada.

Ele inspirou e expirou profundo e aborrecido.

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- Vou ter que cumprir com a minha palavra. Vou atrás de Jeziel e de seu pai e

vou... matá-los.

Um gemido desesperado escapou de meus lábios.

- E agora com essa sua inconseqüência,- ele continuou com voz descontente -

vou ter que matar Aragorn também, ou ele não dará paz aos meus soldados antes de

tentar chegar perto de você.

- Por favor... Não... – eu gemi aflita. – faço qualquer coisa... mas deixe-os em

paz.

- Não sei se confio mais em você.

- Você sabe que farei tudo que quiser – falei desolada – estou em suas mãos

Cordomad. Na minha dimensão eles não são ameaça para você.

- Esse era o trato, não era? Que você se uniria a mim e em troca eu deixaria eles

em paz?

- Sim... por favor eu quero honrar com o que eu disse.

- Tem certeza? Porque se você for ficar por aí pedindo ajuda, eu vou ter

realmente que acabar com todos. Não posso arriscar Melissa que alguém venha me

desafiar em meu castelo.

- Tudo que você quiser – me desesperei.

Ele ficou me avaliando, talvez ponderando se devia me dar mais uma chance.

- Tudo bem Melissa. Vamos seguir com nosso plano. – ele falou me dando uma

molécula de alívio – vamos esquecer esse incidente já que você quer ser boazinha. –

colocou um sorriso remidor nos lábios e me estendeu a mão – venha, vou te levar até

seu quarto.

Meu Deus o que eu tinha feito? Como não pesei as conseqüências de um ato

assim. Eu devia ter imaginado que eles conseguiriam rastrear qualquer comunicação que

fosse feita ali dentro.

Enquanto desesperada eu analisava o tamanho da minha estupidez, e me

preparava para ser guiada por Cordomad até meu quarto, um outro soldado chegou e

falou algo no ouvido de Cordomad.

Cordomad abriu um sorriso malicioso e me olhou de forma curiosa.

- Seu amigo Aragorn é mais rápido que eu pensava. Acabei de ser informado de

que ele já esta dentro dos limites do meu castelo.

Arregalei os olhos totalmente apavorada.

- Aragorn... – Sussurrei. – não.

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- Sim! Não era isso que você queria, que ele viesse atrás de você? Bom, aqui

esta ele. Só que infelizmente vocês não terão um último encontro - ele se virou para

seus soldados e ordenou. – Drevors vocês sabem o que fazer.

-Não! – gritei sufocada – por favor não faça nada a ele, a culpa é minha, por

favor...

- A culpa é sua por não ter cumprido sua parte no trato, e agora Aragorn vai

morrer. Ah Melissa se você não tivesse sido tão inconseqüente, talvez seu amigo

poderia morrer de velho em seu esconderijo.

- Eu te imploro deixe-o ir.

- Não posso fazer isso, primeiro porque ele é um desertor e a muito tempo venho

querendo pega-lo, segundo porque ele invadiu meu palácio para seqüestrar minha noiva,

isso eu não posso deixar e depois acho que mesmo se eu abrisse a porta do palácio para

ele ir embora ele não iria.

- Cordomad, o quer para deixar Aragorn livre?

- Nada minha cara, – ele passou a mão em meu rosto – você não tem mais nada

para negociar comigo.

- Qualquer coisa. A coroa... eu te dou a coroa e você faz o que quiser dela se

deixar Aragorn vivo.

- Não quero sua coroa. Ela é mais valiosa para mim sobre sua cabeça do que

sobre qualquer outra.

- Vou me casar com você Cordomad, você sabe disso, então o deixe ir. Te

garanto que poderá me usar para tudo que quer como sua rainha. - negociei aflita.

- Você não tem que me garantir nada. Você fará tudo que eu quiser independente

de querer ou não, para o bem de sua família. Você não se preocupa só com este, não é?

Tem seu irmão e sua mãe que podem acabar machucados também se mais uma vez você

fizer algo de que eu não goste.

Eu me calei. Não tinha como argumentar, não tinha o que oferecer, só podia

agora pedir aos céus para que ajudassem Aragorn escapar com vida daquele castelo. Foi

idiotice minha. Onde eu estava com a cabeça em pensar em chamar por Aragorn, em

metê-lo nisso?

- Você me parece chateada e arrependida de alguma coisa! Algo que queira

partilhar comigo já que seu melhor amigo pelo jeito não poderá ser mais seu confidente?

Olhei para ele desolada. Será que ele tinha noção no quanto estava sendo cruel

me falando aquilo? É claro que sabia.

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- Eu tenho nojo de você – falei revoltada segurando um nó em minha garganta.

Ele colocou um sorriso estranho no rosto. Um sorriso de quem aceita um

desafio. E eu me sentia abatida e enfraquecida, não era uma boa hora para desafiá-lo.

- Não, você me deseja – a voz dele tinha um som duplo e hipnotizante - você me

quer e quer ser minha como nunca foi de ninguém.

Ao falar isso ele se aproximou mais e eu sem a coroa estava me sentindo ainda

mais vulnerável ao seu dom.

Dentro de mim um alarme de perigo soou, mas minha pele ardeu numa sensação

avassaladora. A voz dele entrava em meus ouvidos e caía em minha mente como o som

emitido dentro de uma caverna que ecoava sem parar suas palavras. Era uma lavagem

cerebral. Não tinha como não acreditar que o que aquelas palavras diziam para meu

sistema nervoso, não fosse a mais pura verdade.

Ele sorriu para mim com uma malícia ardente em seus olhos. Involuntariamente

eu sorri para ele debilmente me esquecendo a onde eu estava e de quem ele era. Seus

olhos azuis firmes nos meus me fizeram esquecer de tudo o que estava me aborrecendo

a pouco.

Ergui minhas mãos e acariciei seu rosto de deus do olímpo sem ter real noção do

que eu estava fazendo. Minha mente estava vazia, só as palavras “quer ser minha... você

me deseja... você me quer...” tilintava em minha cabeça como um sino teimoso e meus

olhos vidrados nos dele, capturados pelos dele se deslumbrava por estar vendo o que era

agora o objeto do meu desejo. Cada terminação nervosa do meu corpo parecia gritar seu

nome.

- Cordomad – sussurrei numa voz desconhecida a mim, rouca e quente,

totalmente seduzida. Minhas mãos de seu rosto enlaçaram seu pescoço.

Suas mão correram por minha cintura e quando chegou as minhas costas ele me

atraiu para seu corpo de uma forma possessiva. Com tamanha proximidade me esqueci

até quem eu era me derretendo em seus braços como uma amante desnorteada.

- Eu disse que você não resistiria – ele sussurrou em meu ouvido completamente

satisfeito com minha entrega.

Eu arfei ouvindo sua voz.

De repente a consistência do corpo de Cordomad mudou, ele se metamorfoseou

em fumaça, mas ainda podia sentir suas mãos em mim. Fechei meus olhos maravilhada

com tudo que eu estava sentindo, e quando abri meus olhos novamente já não estava na

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cela fria e úmida, estava sobre uma cama enorme com dossel revestido de cetim

prateado e colchas também em cetim prateado. Ele havia nos transportado até ali.

Cordomad se materializou novamente diante de meus olhos e ao ver seu rosto

belo me perdi em mim novamente. Ele estava por cima de mim e se ergueu sobre os

joelhos para tirar a camisa. Quando vi seu peito nu só pude pensar em uma coisa: -

perfeito. Ele é totalmente perfeito.

- Melissa – ele disse meu nome com voz grave e sedutora. – você agora é minha.

Olhei para ele sedenta sem querer contestar o que ele disse.

E quando ele se debruçou sobre mim emaranhando o rosto em meus cabelos

procurando por meu pescoço eu já estava a ponto de me entregar a sua vontade quando

uma outra voz invadiu minha mente.

- Melissa! Seu escudo, não ceda ao dom de Cordomad.

Ouvi sua voz como um alerta, mas não conseguia me encontrar para lutar.

- Melissa, se liberte agora, use seu escudo.

A voz insistia, mas com as mãos de Cordomad me tocando e a pressão de seu

corpo sobre o meu e com as palavras ainda tilintando dentro da minha cabeça não

conseguia prestar atenção em mais nada.

Me libertar... escudo... – não sabia o que isso queria dizer.

- Melissa seja forte, liberte-se desse encanto pense em Jeziel.

Ao ouvir o nome de Jeziel tudo voltou a minha consciência. Tamala quem falava

comigo agora. Meu inimigo estava sobre mim e eu estava cedendo a ele.

Imediatamente busquei o escudo espelhado que tinha dado certo da outra vez.

Cordomad ergueu-se um pouco e me olhou espantado.

Sua hipnose sobre mim perdeu o poder, suas palavras foram cuspidas da minha

mente.

Olhei para ele com muita raiva e muita repulsa.

Num rompante de força minha luz brilhou junto com uma energia que repeliu

Cordomad que saiu de cima de mim.

- Não faça isso Melissa, você não pode resistir a mim.

Senti que ele aumentava a força de seu dom contra mim, mas agora eu estava

alerta, imune e protegida, graças a Tamala que mesmo distante estava me ajudando.

- Você não conseguiria sem a coroa.

- Talvez eu seja mais forte que você pensa.

Ele sorriu de uma forma exagerada sem humor.

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- Você não é forte, é tola... tola por pensar que poderia se livrar de mim tão fácil.

Cordomad se jogou por cima de mim novamente agora usando de força bruta.

Eu me defendia como podia, mas ele tinha razão, eu não era forte, não contra a

força masculina dele pelo menos.

Apavorada eu lutava tentando me livrar de suas garras e no auge do meu

desespero gritei a toda força de meus pulmões.

- Lute Melissa, lute! – voz de Tamala me fortalecia.

- Tamala! - Cordomad falou o nome dela com tanto ódio na voz que eu tremi. -

ela esta te ajudando?!

Com tanta raiva que nunca imaginei ver nos olhos de alguém, Cordomad sumiu

numa nuvem de fumaça negra me deixando sozinha naquele quarto. Eu sabia que ele

tinha ido até ela. Temi por Tamala.

- Tamala ele esta indo ai! – tentei avisá-la.

Somente um grito abafado e sua voz assustada eu pude ouvir.

- Corra Melissa, saia daí agora!

Obedeci imediatamente. Levantei-me da cama meio cambaleante e saí pela porta

que não tinha nenhum soldado vigiando.

Eu estava numa das torres, tive que descer correndo por uma escada em espiral

que parecia não ter fim até que finalmente cheguei ao térreo.

Prossegui correndo pelos enormes corredores de piso espelhados sem saber para

onde ir, só sabia que teria que tentar ficar o mais distante de Cordomad que eu

conseguisse.

Passei por um dos corredores que tinham armas penduradas nas paredes como

decoração e apanhei um bastão e uma espada. O bastão não era retrátil como o que

Jeziel me deu, mas corri com ele na mão assim mesmo.

Quando virei num dos corredores procurando por uma saída, dei de frente com

dois Drevors que vinham fazendo ronda. Eles se espantaram comigo armada e

evidentemente tentando fugir.

Ambos retiraram a espada da bainha ao mesmo tempo, eles pareciam que eram

ensaiados para isso. Apesar das minhas pernas bambearem, não desisti de enfrentá-los.

Eu já tinha lutado com Drevors antes. Eles não eram invencíveis, e com essa segurança

parti para a briga.

O tilintar da espada e do escudo se fazia ouvir ecoados nas paredes. Eu atacava e

defendia, mas eles não pereciam querer me machucar, somente me deter.

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Quando num golpe a espada voou da minha mão ainda tinha o bastão e com ele

fiz o que pude, mas ainda era pouco eles eram soldados treinados. Tentei correr, mas

eles se desmaterializaram em nuvem negra passando por mim e se materializavam a

minha frente bloqueando a passagem.

Havia apenas dois corredores um a minha direita outro a minha esquerda, sendo

que o da esquerda acabava com uma escada que devia dar para uma outra torre.

- Sua tentativa é inútil não há como você sair do castelo. – disse um dos Drevors.

E os olhava fixamente tentando ter um lampejo de inteligência e descobrir o que

fazer.

Um grito apavorado veio do corredor a minha esquerda, e instintivamente me

lancei as carreira pelo corredor subindo pelas escadas.

Passei por algumas portas na subida sem dar muita importância a elas e mirava a

última porta que estava no final da escada.

Quando a abri de rompante me arrependi pela escolha que fiz. Lá estava

Cordomad segurando de forma homicida o pescoço de uma jovem de cabelos

perfeitamente cacheados num tom dourado que fazia par perfeito com seus olhos que

agora imploravam socorro. Logo identifiquei quem era. Tamala.

- Cordomad, solte-a – ordenei.

Ele se virou e pareceu surpreso com minha chegada inesperada.

- Melissa, que surpresa, imaginei que estaria esperando por mim em nosso leito

nupcial.

- Deixe-a Cordomad, seu negocio é comigo.

Ele soltou o pescoço de Tamala antes dela sufocar completamente, ela caiu

quase desfalecida.

Cordomad agora andava em minha direção. Girei meu bastão preparando para

me defender.

- Você já tentou isso uma vez, lembra? Não creio que queira se decepcionar de

novo.

Andei no sentido ante horário dando uma volta na cela tentando me aproximar

de Tamala.

Quando cheguei a ela me posicionei como um escudo para protegê-la ainda que

eu soubesse que seria inútil tentar lutar contra Cordomad.

Quando ele andou em minha direção mais uma vez girei novamente meu bastão

querendo impedir que ele se aproximasse mais. Queria que ele soubesse que ainda que

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não pudesse vencê-lo, não iria facilitar em nada. Algo em minha atitude o deixou irado.

Seu semblante se fechou numa linha firme e obstinada e uma atmosfera estática que

surgiu entre nós começava a tirar meus pés do chão.

Fiquei apavorada e sem que eu esperasse fui lançada a toda força contra o teto de

concreto da cela. A dor do impacto me fez largar o bastão. E me vi presa ao teto por

uma força invisível. Quando olhei para Cordomad seus olhos duros rapidamente foram

ao chão e eu fui com eles contra o piso num impacto ainda mais forte que o outro.

No chão meio atordoada tentei me levantar sem êxito, era como se houvesse

uma tonelada sobre mim me mantendo colada ao chão. Senti gosto de sangue em minha

boca e percebi que havia me machucado. Olhei agora sem tanta coragem para

Cordomad que tinha deixado para trás toda sua encenação de bom moço e meu corpo

foi erguido devagar até estar de pé sem minha vontade, diante dele.

Quando fitei seu rosto, se houvesse força em meus pulmões eu teria gritado, os

lindos olhos azuis de Cordomad agora estavam totalmente negros, não só a ires, todo

ele, como um enorme buraco negro. Era tão apavorante que pensei que fosse desmaiar.

- Pensou que podia me desafiar? – ele me questionou com uma voz que não era a

dele, pelo menos não há que eu conhecia. Sua voz saiu tenebrosa e monstruosa. Seu

rosto também não parecia o mesmo, era ele, mas havia uma fera querendo sair e se

materializar num demônio mitológico bem a minhas vistas.

Sufoquei de pavor. A mão de Cordomad se lançou numa bofetada em meu rosto,

e me fazendo voar de encontro a parede. Eu caí como uma boneca de pano e ele me

ergueu imprensando meu corpo dolorido contra a parede. Um líquido quente desceu

pelo meu rosto, era sangue. A bofetada cortara meu supercílio. Eu queria me mover

tocar o ferimento, mas não podia, estava pregada a parede como um adesivo, e sendo

cada vez mais pressionada como se quisessem me fazer atravessar a parede.

- Sabe de uma coisa Melissa?... Você não serve mais pra mim. – disse de forma

amedrontadora.

Eu iria morrer, os olhos negros de Cordomad me diziam que ele não estava mais

disposto a fazer joguinhos, para ele não havia mais sentido em me manter viva, ele

estava se sentindo ameaçado. Vi quando ele retirou sua adaga do cós de sua calça. Ele

iria me matar ali e agora.

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Aragorn

Eu estava admirado de que com nosso avanço dentro do labirinto nenhum

animal ainda houvesse aparecido. Melhor para nós, mas estava preocupado em não estar

reconhecendo o caminho inverso que fiz à alguns anos. E como eu ia saber? Era tudo

igual; corredor após corredor, arbusto após arbustos. Poderíamos estar perdidos.

Os outros me seguia, em silêncio preparados para qualquer surpresa, até que

uma realmente surgiu.

Um som aparentemente inofensivo como um ronronar despreocupado chamou

nossa atenção e principalmente a de Biel.

- O que é isso, – ele sussurrou – um gato?

Não sabia o que era um gato, mas com certeza não era o que Biel esperava. Esse

som era do Malgore, uma fera que se alimentava especificamente de carne, uma espécie

de ave que não voava devido seu tamanho de quase três metros ser desproporcional as

suas atrofiadas asas. Seu pescoço era longo assim como suas pernas e seu bico era capaz

de engolir uma cabeça inteira; a ave tinha um aspecto gentil, mas na verdade era

traiçoeira como seu dono. Mas eu não precisaria contar-lhe isso, logo ele veria com seus

próprios olhos.

No final do nosso corredor verde a figura do Malgore apareceu.

- Isso não é um gato, é um avestruz. – disse Biel – é grande – ele deu um assovio

– muito grande, mas ainda é um avestruz.

Jeziel revirou os olhos impaciente se preparando com a espada.

Eu dei de ombros, não sabia do que se tratava mesmo, e também preparei minha

espada.

Vogue fez o mesmo e Biel... mas... onde esta Biel?

Quando olhamos para trás Biel estava sendo arrastado por algo rastejante para

outro corredor. Ele tentava bater com o pé que estava solto nas garras que estavam

prendendo sua outra perna. A espada dele estava caída perto de nós. Jeziel correu para

ajudar, vogue e eu ficamos para enfrentar o Malgore.

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Não era difícil matar um Malgore, bastava cortar a cabeça, o difícil era conseguir

chegar perto o bastante sem que sua própria cabeça fosse arrancada.

Quando a passadas largar o Malgore se aproximou de nós vogue e eu nos

lançamos contra ele tentando uma posição para passar-lhe a espada no pescoço. Não

estava sendo fácil. Logo Jeziel e Biel voltaram e se juntaram a nós.

- Quase virei comida da minhoca gigante. – Biel falou olhando para o Malgore

desafiadoramente. – Se a minhoca não deu conta, você também não dará.

Ele andou rumo a ele se colocando bem debaixo do bico aberto que descia para

engolir sua cabeça. Vogue empalideceu e gritou o nome de Biel que nem se moveu e

quando o malogre baixou o bico de forma feroz contra Biel ele lhe deu um soco de

baixo para cima fazendo o malogre cair desgovernado. Vogue aproveitou e num golpe

de espada cortou a cabeça da fera.

Eu e Jeziel olhávamos estarrecidos para a cena. Com certeza ele pensou o

mesmo que eu, que seria o fim de Biel. Ainda bem que estávamos enganados.

Passamos pelo corpo do animal e continuamos nossa jornada, a entrada do

castelo não devia estar tão longe já que conseguíamos avistar a ponta de uma das torres.

Só precisaríamos conseguir passar sem chamar atenção de mais nenhuma fera. Mas para

nosso desalento uma manada de Malgores vinha estourada em nossa direção.

A princípio pensei que estaríamos perdidos, mas quando alguns deles passaram

correndo por nós, obrigando a sairmos da trilha encostados nos arbustos, percebi que

eles estavam indo atrás do cheiro de carne fresca do Malgore que Biel e Vogue tinham

abatido.

Depois do susto prosseguimos.

Ouvimos alguns urros vindo por trás de nós e ficou claro que os próprios

animais famintos travavam uma batalha pela carne do Malgore morto.

Ao passarmos pelo último arbusto e sairmos para a luz que vinha do jardim

particular de Cordomad, descobrimos que nossa entrada já não era tão secreta como

queríamos. As milícias de Drevors já estavam apostas e a nossa espera.

- hã, hã... – Biel resmungou – péssima idéia vir por aqui. Se era para dar de cara

com esses trogloditas não seria mais fácil ter batido na porta da frente?

Antes que pudéssemos pensar numa resposta para ele os Drevors partiram para

cima de nós.

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Lutar com os Drevors para mim era relativamente fácil, eu mesmo já tinha sido

um deles, conhecia suas técnicas, suas manobras, muitas delas desenvolvidas por mim

nos treinamentos.

Jeziel também não estava despreparado, sua destreza com a espada e agilidade

em seus movimentos lhe dava vantagem.

Vogue foi muito bem treinada apesar de seus golpes serem limitados.

Biel, apesar de visualmente não ter nenhuma experiência com espada a usava

com maestria envolvido em uma espécie de luta desconhecida para mim. Devia estar

usando algo que aprendeu em sua dimensão, sua força também era de espantar e estava

dando certo. Seus golpes também deixavam os Drevors confusos e distraídos com o som

engraçado que saia de sua boca.

Jeziel passou por vogue acertando em cheio um Drevors que se aproximava dela

enquanto ela parecia espantada com Biel.

- Ele viu muitos filmes de karatê e kung Fu. – Jeziel falou a ela.

Vogue fez uma expressão de que estava tudo explicado, mas eu tinha certeza que

ela sabia tanto quanto eu o que era isso.

A luta continuou e apesar de estarmos em menor número conseguimos vencê-los

e passar por eles.

Biel estava estranhamente animado, e não me pareceu nenhum pouco espantado

quando viu os corpos se desfazendo em fumaça, como ficou a irmã dele.

- Isso é divertido. Parece um jogo de vídeo game só que real.

Jeziel revirou os olhos impaciente.

Quando atravessamos o jardim, alertas pois sabíamos que muitos soldados ainda

viriam, eu ouvi a voz de Tamala em minha mente. Parei de repente e os outros pararam

me olhando.

- Aragorn depressa! Melissa... Cordomad vai matá-la. – a voz de Tamala estava

angustiada.

- Onde ela esta?

A mente de Tamala se abriu para mim e a visão de Cordomad imprensando

Melissa contra a parede e a adaga em sua mão me deixou fora de mim.

- Aragorn o que foi? – Jeziel me perguntou perturbado com o que viu em meu

rosto. – É Melissa?

- Sim Cordomad esta com ela. Ele vai...

Antes que eu pudesse terminar os olhos dele se arregalaram desesperados.

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- Onde? - A voz dele saiu tão embargada que achei que ele estava sufocando.

- No alto da torre oeste.

Em disparada saímos correndo pela sala de vidro atravessando por suas portas

para chegarmos ao corredor que levava ao lado oeste do castelo.

Avistamos a escada em espiral que levaria a torre, mas vários Drevors se

materializaram a nossa frente bloqueando a passagem.

Alguém teria que passar por eles, Melissa não teria muito tempo, Cordomad já

sabia que estávamos aqui, que Jeziel estava aqui e ele não pouparia a vida dela com

medo de perder seu trono.

A luta estava me deixando impaciente eu tinha que passar por eles eu tinha que

subir aquelas escadas.

As espadas não cessavam, seu tilintar ecoava por entre as colossais colunas do

castelo.

A imagem de Melissa surgiu em minha mente de novo me tirando a

concentração. Tamala abria sua mente para que eu me apressasse. Mas não seria fácil

deter todos os Drevors do castelo e alcançar Melissa antes que Cordomad a matasse.

Enquanto um Drevors caía derrotado, outro surgia em sua nuvem de fumaça.

Jeziel olhou para mim com um brilho estranho no olhar.

- Aragorn vá! Você consegue, nós ficaremos aqui e mandarei um sinal para meu

exército invadir o castelo. Salve Melissa.

Olhei para ele sem no início entender o que ele estava me propondo, mas num

instante vendo um Drevors se materializar e desmaterializar em fumaça soube o que ele

dizia.

Eu era um deles, desertor sim, mas com tudo que um Drevors possui, inclusive o

poder dado por Erkas de desmaterializar. Algo que eu fiz questão de nunca mais usar

desde que abandonei a guarda fosse qual fosse à situação. Eu não queria me lembrar que

tinha algo a ver com aqueles que exterminaram minha família. Não queria ter parte com

eles. Mas Jeziel estava certo, eu chegaria até Melissa.

Com a cobertura de Vogue e de Biel que cercaram Jeziel o protegendo dos

Drevors, Jeziel se concentrou e um flash de luz azul surgiu em sua mão e com a força de

um raio a luz se estendeu de sua mão rompendo o grosso teto do castelo fazendo

pedaços de pedras caírem ao seu redor e o feixe de luz iluminou o céu de Andaluz. Esse

era o sinal para o seu exército.

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Ele olhou para mim. Eu cerrei meus dentes por saber que eu faria algo que não ia

gostar, mas chegar a Melissa agora era prioridade.

Em segundos minha matéria se transformou em fumaça branca e num átimo

encontrei pela mente de Tamala a cela no final da torre.

Ainda na forma de fumaça, avancei para Cordomad que torturava Melissa antes

de dar-lhe o golpe final. Consegui arrancá-lo de cima dela e interromper o poder que ele

lhe lançava. Vi quando ela caiu no chão desacordada. E eu me materializei novamente

já com as mãos na garganta dele.

- Aragorn – ele falou espantado tentando se livrar das minhas mãos.

- Cordomad, vim fazer uma visita.

- Aragorn você é um Drevors, me deve respeito eu sou o seu rei. – falou com a

voz espremida entre meus dedos.

- Claro majestade, é com todo respeito que vou lhe arrancar o pescoço real.

Ele deu um urro estranho e se transformou em fumaça, só que ele não tinha

vantagem comigo assim, eu também me transformei e travamos uma batalha nos ares da

cela.

Ouvimos um estrondo lá fora e Cordomad de repente perdeu o interesse de lutar

comigo. Eram as tropas rebelde de Jeziel chegando. Ele tinha um alvo agora mais

importante que eu ou Melissa, ele precisava deter Jeziel e seu exército ou perderia hoje

seu precioso trono.

Quando ele desapareceu com certeza indo procurar por Jeziel, voltei a minha

forma e fui até Melissa. Ela estava machucada. Um corte na testa outro nos lábios seu

rosto estava um pouco inchado de um lado. Ele bateu nela. Minha ira contra ele se

acendeu mais, só que agora eu não poderia ir atrás dele.

- Melissa – falei suavemente acolhendo ela em meus braços tentando desperta-la

sem sustos.

Ela gemeu baixinho e devagar abriu os olhos. Não contive o instinto de sorrir

quando ela olhou pra mim. Ela ergueu uma das mãos e pousou delicadamente em meu

rosto. Segurei sua mão e beijei aliviado. Ela estava bem.

- Aragorn – sua voz cantou meu nome.

Melissa esboçou um leve e fraco sorriso me reconhecendo e em seguida fechou

os olhos novamente.

Rompi minha luz envolvendo ela por completo. Eu sabia que isso a ajudaria se

fortalecer. Depois de um tempo Melissa voltou a abrir os olhos para mim.

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- Sente-se melhor? – perguntei preocupado.

Ela balançou levemente a cabeça e recostou em meu peito.

Outro estrondo foi ouvido lá fora fazendo-a se encolher. Apertei mais ela em

meus braços para que soubesse que estava protegida agora.

- Vamos embora daqui. Erguia do chão tentando ver se ela conseguiria ficar de

pé enquanto eu abria o portal para a ilha.

- Ela não pode ir agora. – A voz feminina que eu ouvia em minha mente e

reconheci como sendo de Tamala, agora ecoava em meus ouvidos. Não havia me dado

conta dela ali.

Me virei firmando Melissa e vi Tamala num canto tentando se levantar do chão.

Quando finalmente olhei para ela uma familiaridade imprevista me sobreveio.

Era como se eu já a conhecesse, mas com certeza devia ser dos contatos que tive com

ela a distância. Não me lembrava de nenhum detalhe de seu rosto apesar de ser muito

belo, nem de seus cabelos, ou de sua pele morena. E seus olhos coincidentemente da

mesma cor dos meus, deles eu me lembrei por causa de uma visão dela que tive, mas

não era isso que os tornava familiar a mim. A fitei por segundos enquanto ela também

me olhava. Seus cabelo dourado e cacheado formavam uma cortina fina sobre seus

olhos que me encaravam de uma maneira indescritível.

- Se você quiser ficar... Melissa vai comigo. – falei quebrando a sensação

estranha que me deu.

- Ela precisa ficar e destruir a esfera.

Neguei com a cabeça.

- Vou levá-la comigo.

- Por quanto tempo Aragorn... quanto tempo acha que conseguira manter

Melissa a salvo de Cordomad?

- Por todo tempo que for necessário.

- Ele ira atrás dela – ela insistiu.

- Ela precisa de cuidados, e pelo que vejo você também – falei.

- Não temos tempo a perder – ela disse.

Não sei o que a fazia pensar que eu deixaria Melissa ali.

Ignorei Tamala e abri o portal, Melissa precisava de cuidados e de maneira

alguma eu a deixaria lutar.

Ouviu-se outro barulho de explosão do lado de fora do castelo.

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Dei alguns passo rumo ao portal carregando Melissa e me senti desconfortável

em deixar Tamala para trás.

- Você não vem? – falei me virando para ela. – talvez não tenha outra chance.

Tamala mesmo descontente atravessou o portal comigo e Melissa.

CAPÍTULO 14

Em segundos estávamos na sala de Erzoul.

Erzoul nos recepcionou assustado com uma panela em punho.

- Ah! é você Aragorn – falou aliviado.

- Melissa precisa de seus cuidados. – disse enquanto colocava ela sobre a cama.

Ele me entregou a panela e passou a examiná-la.

- O que fazia com essa panela? – perguntei intrigado.

Estava preparado para me defender, essa vila esta uma loucura! gente correndo

para todo lado. Soldados de Cordomad e dos rebeldes lutando no meio das ruas.

- Não tem uma espada?

- Sou curandeiro, não sou guerreiro.

- Mesmo assim devia ter uma.

- Dizem que a guerra começou, que o castelo esta sendo invadido e que os

rebeldes vão tomar o poder a força.

Um barulho de explosão lá fora assustou Erzoul.

- Agora é toda hora isso – Resmungou. – você esta metido nisso, não esta

Aragorn? Isso é bem a sua cara. – ele me olhou mal humorado e esticou o pescoço para

ver por trás de mim. – Quem é ela?

- A real causadora disso tudo. A profecia é dela. – falei mal humorado.

- Oh! – exclamou surpreso.

Ele deixou Melissa e se aproximou de Tamala.

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- Então é você? – ele parecia maravilhado. – Tão jovem... – ele a olhou com

mais cuidado. – Você também não me parece bem. – Ele pegou sua mão. – Esta

gelada... Venha deite-se aqui, vou cuidar de você.

Erzoul a colocou deitada no assento grande de sua sala e saiu correndo atrás de

alguma coisa.

Tamala fechou os olhos exausta. Me pareceu que ela confiou nele.

Me sentei ao lado de Melissa que estava desacordada e fiquei observando Erzoul

cuidar de Tamala. Melissa estava bem, eu podia ler seus pensamentos ela só estava

muito cansada e precisava dormir. E estava sonhando.

- Venha cá meu filho – Me chamou Erzoul.

- Para que?- perguntei cismado.

- Preciso que você segure isso junto a pele dela.

Erzoul tinha em sua mão uma pedra roxa que reluzia ao contato com a pele de

Tamala e colocava sobre a testa dela.

- E porque precisa de mim?

- Preciso ir aí cuidar de Melissa, mas essa pedra precisa de energia extra para

funcionar.

Como ele disse que iria cuidar de Melissa me levantei e fiz o que ele me pediu.

Erzoul passou por mim e foi procurar algo para ministrar sobre Melissa.

Quando eu coloquei a mão sobre a pedra na testa de Tamala a pedra escureceu.

Tamala abriu seus olhos dourados para mim e me olhou de novo como antes.

Retirei a mão da pedra me sentindo desconfortável por estar tão próximo a ela e

reclamei com Erzoul.

- Tem alguma coisa errada, a pedra escureceu.

- Não há nada de errado – ele disse – é exatamente o que tem que acontecer. O

poder da pedra fará Tamala dormir lhe tirando todos os pensamentos e preocupações

quando ela acordar terá sido como se tivesse dormido meses seguidos, se sentirá

totalmente restaurada.

Voltei novamente minha mão sobre a pedra e aos poucos Tamala foi fechando

seus olhos e dormiu.

Erzoul andava agitado pela casa procurando por algo. Achou uma espécie de

pomada limpou o rosto Melissa com um pano úmido e passou a pomada sobre os seus

ferimentos na testa e nos lábios.

Enquanto eu o observava ele olhou para mim e para Tamala.

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- Pobre menina, tão jovem e com tanta responsabilidade. Ela passou por tanta

coisa, por tanta dor... e sozinha.

Olhei o rosto de Tamala que agora dormia serena.

- Como pode saber?

- Vejo na mente dela. Não esta bloqueada. Não vê?

- Não há nada na mente dela que me interesse.

Erzoul deu uma risadinha estranha. Me despertando curiosidade.

Antes que eu percebesse estava vagando por algumas lembranças de Tamala.

Revivi com ela o drama que ela passou no dia em que seus pais foram mortos

pelos soldados de Cordomad e ela se escondeu dentro de um vaso no canto da casa.

Erkas não admitia que ninguém mais em Andaluz tivesse poderes como os dela e os

pais de Tamala eram dotados de incríveis dons.

A pobre criança teve que viver sozinha depois de assistir a morte dos pais para

não ser também assassinada. Se virando como podia para comer, se aquecer nas noites

frias e isso a fez desenvolver prodigiosamente seus dons e poderes. Mas ela era apenas

uma criança, e não poderia contar com ninguém, não poderia ir a alguma vila nem

procurar por ajuda.

Vi a menina numa das noites frias deitada no meio da floresta se aquecendo

numa pequena fogueira e tendo por companhia somente as estrelas. E ela conversava

com elas como se pudessem ouvi-la. Várias noites na lembrança de Tamala eram

exatamente iguais. Um ponto perdido na floresta, uma pequena fogueira de pedras e ela

conversando com as estrelas.

Por andar sozinha na floresta teve que aprender a interagir com os animais para

não ser devorada por eles. Nunca caçou, nunca matou um único e minúsculo animal.

Descobri então que ela não comia carne. As feras da floresta para ela eram companhia e

não fonte de alimento.

Vi por várias vezes ela se escondendo de algum viajante que passava por onde

ela estava. Vi todo o terror de uma criança acordar sozinha depois de ter tido um

pesadelo sem ninguém para confortá-la. Vi todas as vezes que ela se encolhia debaixo

de uma raiz de alguma árvore e chorava baixinho por se sentir sozinha.

Toda vida de Tamala estava tão nítida em sua memória que era impossível não

me comover. A história da vida dela era só solidão e tristeza. Poucos foram os

momentos em suas lembranças em que ela estava sorrindo. Uma delas era de um

animalzinho que brincava com ela correndo numa campina. Ela corria com seus longos

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cabelos que nunca foram cortados - porque simplesmente não havia ninguém para cortá-

los - soltos ao vento e o bichinho peludo corria atrás dela feliz com a companhia. Outra

foi quando ela alcançou uma altura suficiente e conseguiu subir numa árvore e colher

um fruto sem ter que derrubá-lo com uma pedra.

Vi também o dia em que Tamala encontrou o pai de Melissa caído quase morto

na floresta. Ela era tão pequena e arrastou com dificuldade aquele homem já adulto até

sua casa que a muito ela não entrava. Ela se compadeceu dele e não podia deixá-lo na

floresta para morrer. Ela o levou para dentro e com ervas e algumas coisas de sua mãe

cuidou dos ferimentos até que o general depois de muitos dias finalmente despertou.

Essa era mais uma das poucas lembranças felizes que ela tinha. Pois estava contente por

ter conseguido fazer algo por alguém.

Vi todas as conversar que eles tiveram e que ela se sentia feliz por não estar mais

sozinha. E que o general cuidou dela enquanto pode como um pai.

Mas tinha uma lembrança feliz e essa era mais forte, mais nítida. Ela se

lembrava do acontecimento todos os dias.

Ela estava brincando na floresta, e ouviu um barulho. Se escondeu atrás de um

arbusto como ela já estava acostumada a fazer sempre que percebia que havia alguém

por perto e observou entre as folhagens. Um garoto andava se esgueirando entre as

árvores e parecia que caçava com uma drega. A arma era feita de um fio de couro com

duas pedras amarradas em suas pontas. Ele girava a drega acima de sua cabeça e mirava

num dos roedores da floresta. Tamala ficou apavorada quando pensou no fim que iria

ter um de seus amiguinhos e sem perceber soltou um gritinho apavorado.

O garoto virou sua atenção então para o arbusto em que ela estava escondida e

andou para seu rumo ainda girando a drega pensando em conseguir uma caça maior.

Com medo ela saiu correndo do arbusto mais o garoto atirou a drega que se enroscou

nas pernas de Tamala a fazendo cair e machucar o joelho.

Ela se virou assustada para o garoto que agora corria para ver o que tinha

atingido enquanto ela tentava se livrar do enlace em suas pernas. Quando ela viu seu

joelho sangrando começou a chorar. O garoto se agachou perto dela tirou a drega de

suas pernas e olhou para ela preocupado.

- Me desculpe. Pensei que fosse um animal.

Ele olhou para seu joelho machucado e parecia se sentir culpado. Rasgou um

pedaço de pano de sua camisa e quis limpar o sangue, Tamala se encolheu e ele recuou

a mão.

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- Não vou te machucar, só quero cuidar de você. – O garoto falou mansamente.

Tamala olhou então para ele com confiança e o deixou limpar seu joelho.

Quando ele acabou, olhou para ela ensaiando um sorriso, mas ela estava se

sentindo muito triste para corresponder.

- Porque estava escondida no arbusto? – perguntou curioso.

- Eu estava brincando com meu amigo e você apareceu caçando, tive que me

esconder.

- E porque gritou?

- Você ia matar meu amigo. – Tamala falou angustiada.

- O Gular que eu estava caçando é seu amigo? – O garoto perguntou confuso.

Tamala balançou a cabeça afirmativamente.

- Não tem outros amigos?

Tamala balançou a cabeça negativamente.

- Então eu serei seu amigo agora.

Ela baixou a cabeça pensando que isso não seria possível com a vida que ela

tinha.

Então ele olhou para ela talvez pensando em algo que pudesse alegrá-la. Pegou a

drega rompendo o nó que estava amarrando as pedras e se levantou. Andou procurando

algo pelo chão e pegou uma pedrinha vermelha, arrancou um fio de seu cabelo enrolou

na pedra e em seguida por cima de seu cabelo enrolado amarrou o fio de couro à pedra e

fez com ele um colar. Voltou a Tamala que o olhava com curiosidade e ofereceu a ela.

Tamala viu aquela pedra vermelha balançando a sua frente e esperou que ele lhe

esclarecesse o que aquilo significava.

- Isso é um presente para você me perdoar por ter te derrubado, e para você ficar

mais feliz. - Ele sorriu, se aproximou dela e amarrou o colar em seu pescoço. Quando

Tamala olhou para o colar em seu pescoço tocou delicadamente com a ponta dos dedos

na pequena pedra vermelha e finalmente sorriu.

- Obrigada. Vou guardar para sempre.

- Não é para você guardar, é para usar pra sempre.

- Pra sempre? – ela perguntou confusa. Para Tamala pareceu muito tempo.

O garoto reforçou a recomendação.

- Enquanto este colar estiver no seu pescoço seremos sempre amigos. E quando

precisar de mim, é só tocar nele e me chamar.

- Só que você vai se esquecer de mim. – Tamala previu com seu dom.

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- Como pode saber? – o garoto perguntou intrigado.

- Eu vejo o futuro.

Ele não duvidou.

- Mas se você não esquecer de mim permaneceremos amigos – O garoto achou

que isso seria bem lógico.

- Eu não vou me esquecer de você. – ela afirmou já prevendo.

- Não, nunca? – ele indagou admirado.

- Nunca. – ela respondeu determinada.

- Não tem como me garantir isso.

- Eu posso provar.

- Como?

- Daqui a muitos anos, um dia você vai saber que eu nunca te esqueci.

- Isso é uma promessa?

- Isso é o seu destino – Profetizou.

O garoto olhou para ela maravilhado com o dom de Tamala. Ele ficou curioso e

muito interessado.

- Você vai voltar aqui amanhã pra me contar mais sobre o futuro?

- Não posso.

- Como então eu vou te ver pra saber se você não se esqueceu de mim?

- Me procure nas estrelas.

Os dois sorriram um para o outro, e se levantaram juntos.

- Então até daqui a muitos anos. – disse o garoto com um sorriso nos lábios.

Tamala se virou e saiu andando para sua casa. Quando estava bem à frente ela se

virou e viu que ele ainda a olhava partir. Colocou a mão sobre a pedrinha vermelha

pendurada em seu pescoço e correu para casa.

Curioso, puxei a gola do vestido de Tamala e lá estava a mesma pedra vermelha

ainda com o mesmo fio de couro como colar presenteado por aquele garoto que assim

como ela previra se esqueceu dela. Nunca mais a viu depois daquele encontro até o dia

de hoje. Pois recordei espantado que aquele garoto das lembranças de Tamala era eu.

Numa viagem ao meu passado recordei também que foi depois daquele dia que

eu passei a admirar as estrelas no céu. Toda noite antes de dormir eu subia no telhado de

minha casa deixando meu pai maluco, e por ter acreditado naquela garota sempre

esperava que em alguma daquelas noites ela aparecesse voando entre as estrelas e viesse

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conversar comigo. Até que depois de tantas noites se passarem eu já nem sabia mais

porque olhava tanto o céu, mas sempre me trazia tranqüilidade observá-las.

Olhei para o rosto de Tamala e com tudo que vi em suas memórias não

conseguia mais olhá-la com indiferença.

- É, pelo jeito sua profecia se cumpriu. – sussurrei – Eu é que não cumpri minha

promessa de quando você precisasse de mim eu iria a teu auxilio. Me desculpe. – peguei

a pequena pedra entre meus dedos - Por isso conseguiu contato comigo do castelo.

Tinha uma parte minha com você.

Voltei as suas memórias, agora do tempo em que ela passou presa no castelo e

me enfureci ao ver o quanto Cordomad e Erkas a fizeram sofrer. – Como ela conseguiu

suportar? – pensei - e mesmo assim nunca buscou por mim antes de ver que Melissa

precisava de ajuda. Vi em sua mente tudo que eu não consegui ver das primeiras vezes

que ela fez contato comigo por estar sendo torturada e subjugada a entregar seus

poderes a Erkas. Ela queria que eu não deixasse Melissa sair da ilha, queria me contar

que Jeziel estava vivo, e que Cordomad já esperava por nós no monte Mayata. Ela

previu Cordomad me ferindo e temeu pela minha vida. Ela tentou me avisar, mas não

conseguiu. E em momento algum pediu ajuda para si mesma. Me senti mal por ter dito a

Erzoul que ela era a causadora de tudo. Ela era só mais uma vítima.

Eu olhava seu rosto enquanto ela dormia e suavemente ela abriu os olhos

dourados e iluminados para mim.

- Obrigada por ter cuidado de mim de novo. – ela falou numa voz doce.

Retirei minha mão que mantinha a pedra sobre sua testa e percebi constrangido

que a pequena pedra do colar ainda estava entre meus dedos.

- Eu disse que não ia te esquecer. – ela me falou como quem vence uma aposta.

- Mas você errou numa coisa – ela me olhou curiosa – não encontrei você nas

estrelas.

- Encontrou sim! – falou determinada e olhou para Melissa deitada do outro lado

da sala - me encontrou ao lado da sua estrela.

Ergui uma sobrancelha analisando o que ela me disse. E tive que concordar que

ela estava certa.

Me levantei da beira de sua cama e fui ver como Melissa estava, mas antes que

eu chegasse do outro lado da sala a porta se abriu violentamente e Lariana rompeu por

ela.

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- Pai! – ela gritou aflita. – mas ao me ver de pé no meio da sala de seu pai se

atirou em meus braços. – Aragorn você esta bem, graças a Deus... temi tanto por você.

Essa guerra que estourou e você que vivia na companhia daquela rebelde, pensei que

você estivesse metido nisso.

Quando ela se afastou de mim, olhou para a cama onde Melissa ainda dormia.

- Essa não! Então você esta mesmo metido nisso. – me olhou com reprovação –

eu não acredito Aragorn, o que ela esta fazendo aqui?

- Ela precisava de cuidados, e seu pai é curandeiro. – falei parecendo óbvio.

- Reformulando a pergunta: O que você esta fazendo com ela? – havia um tom

ácido na voz de Lariana.

- Lariana por favor...

- Nada de por favor. Você me disse que iria esquecê-la e que iria cuidar de sua

vida.

- Ela precisou de mim.

- Para que? Para se matar por ela? Tenho certeza que ela sabe que você seria

capaz disso.

A voz irritada e alta de Lariana acabou despertando Melissa. Que acordou

assustada se sentando na cama.

Quando Melissa me olhou reconheci de imediato aquele olhar ciumento e

possessivo que ela sempre usava quando via Lariana perto de mim. Andei de imediato

até Melissa e me agachei junto a ela preocupado.

- Você esta bem garota?

Lariana deu um urro enervado e se virou.

- E essa outra aqui quem é? – Lariana perguntou quando viu Tamala.

- Meu nome é Tamala.

- Ah, tanto faz. Onde esta meu pai? – ela saiu marchando pela casa entrando em

cada cômodo procurando por Erzoul.

- A cabelo de fogo esta nervosa – Melissa sussurrou pra mim, mas Lariana ouviu

e olhou com brasa nos olhos para Melissa.

Olhei para Melissa sem saber se ria ou se brigava com ela pelo comentário, mas

eu estava mais para rir por ver que ela acordou bem aparentemente, e livre das garras de

Cordomad.

Quando ela também se deu conta disso, lançou seus braços ao redor de mim e

me deu um de seus abraços esmagadores.

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- Aragorn você esta bem!

- É claro que estou.

- Eu me arrependi tanto quando eles descobriram que eu tinha contatado você. –

ela se afastou e fitou meu rosto. – pensei que estava te mandando para a morte. – ela me

abraçou novamente. – pensei que eles matariam você.

Afastei ela e olhei em seu olhos que estavam lacrimejantes.

- Ei garota, eu não vou morrer, você me fez prometer que eu jamais morreria,

lembra?

- E você sempre cumpre suas promessas – ela falou me abraçando de novo.

- As que fiz pra você sim.

Tamala me olhou e eu sei que ela entendeu minha resposta.

Um soluço forte subia pelo peito de Melissa. Ela tentava se conter mais eu sabia

que ela teria uma crise nervosa.

Ela não estava bem. Não mesmo. Também, depois de tudo por que passou...

O choro compulsivo finalmente chegou entre os soluços. Melissa me abraçava

com tanta força como se ela estivesse com medo de afundar num mar de desespero.

- Melissa esta tudo bem – eu sussurrei tentando acalmá-la.

- Não... não esta – ela engasgava entre os soluços. – Jeziel... meu pai...

Cordomad vai atrás de minha mãe, de Biel... eu tinha que ficar no castelo, eu tinha que

me casar com...

Ela voltou a chorar.

Eu a abracei mais forte tentando confortá-la.

- Quero que você durma mais um pouco. Precisa descansar mais.

- Não quero, não consigo.

Enquanto ela chorava em meus braços comecei a cantarolar baixo a música que

ela gostava e que sempre a acalmava. Demorou para que ela se acalmasse, mas depois

de um tempo Melissa dormiu. A acomodei na cama e acariciei seu rosto carregado de

tristeza.

Os olhos de Lariana, Erzoul e de Tamala estavam me observando, mas não fiz

conta deles. Todos sabiam que amo Melissa. Não podiam estranhar meu cuidado com

ela.

E estar com Melissa assim novamente tão minha como quando ela corria para se

refugiar em meus braços quando tinha um pesadelo, estava me deixando muito feliz.

Mesmo com o contexto que houve para que isso acontecesse. Ela estava bem e isso era

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o que importava. Eu consegui tira-la das garras de Cordomad e nunca mais deixaria que

nada lhe acontecesse. Eu já planejava secretamente que assim que Erzoul dissesse que

Melissa estava bem a levaria para minha ilha e cuidaria dela.

- Você tem que contar a ela – Tamala falou me distraindo dos meus planos.

- Contar o que?

- Que Jeziel ainda esta nessa dimensão e lutando contra Cordomad no castelo e

seu irmão também.

Dei uma risada.

- Porque eu faria isso?

- Porque é preciso.

- Não. O que era preciso eu já fiz. Tirei Melissa das mãos de Cordomad.

- Você tem que contar.

- Se eu disser, ela vai querer voltar.

- Ela precisa voltar por causa de Jeziel.

- Nem ele quer ela lá. Ele quer que ela fique bem e Melissa esta bem comigo

agora.

- Não para sempre, nem por muito tempo. Se Cordomad não for destruído, ele

ira atrás dela, e a única chance que ela tem é agora. Melissa precisa destruir a esfera que

contém as almas de Cordomad e de Erkas.

Neguei com a cabeça.

- Ninguém vai tirar Melissa de mim agora.

- Não se pode tirar de você aquilo que não lhe pertence. – Lariana falou

acidamente.

- Lariana tem razão meu filho – Erzoul falou – Ela não te pertence.

- Vocês estão loucos se pensam que vou permitir que ela entre naquele castelo

de novo.

Todos pararam me olhando repreensivamente.

O barulho de explosões e gritaria lá fora quebrou o estranho silêncio da sala da

casa de Erzoul.

- Chegou a hora dela Aragorn, foi para isso que ela nasceu – Tamala insistiu.

- Não vou deixar que ela se mate por causa disso.

- Você não pode interferir no destino de Melissa.

- Quem é você para dizer o que posso ou não fazer? – Minha voz saiu um pouco

mais alta e Melissa se moveu na cama incomodada com o barulho.

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Me levantei e andei até a porta com uma idéia fixa na cabeça.

- Aonde você vai? – Lariana perguntou aflita já imaginando o que eu planejava

fazer.

- Dar uma volta – menti.

- Lá fora há uma guerra acontecendo, não uma festa.

Ignorei o aviso e saí.

Lariana correu atrás de mim.

- Aragorn – Lariana me segurou pelo braço – por favor, fique, não se envolva

mais nisso. Essa guerra não é nossa.

Quando me virei para olhá-la seus olhos eram suplicantes.

- Já estou mais que envolvido nessa guerra.

- Não precisa ser assim, deixe que Melissa melhore e volte de onde veio.

- Cordomad não vai deixá-la em paz. Tamala tem razão quanto a isso.

- E o que pretende fazer?

- Eu mesmo vou destruir essa esfera e acabar com Cordomad.

- E como pretende fazer isso?

- Ainda não sei.

- Você não pode – Tamala falou aparecendo na porta - Não tem poder para isso.

- Veremos – falei presunçoso.

- Então eu vou com você – propôs Lariana.

- Não vá – Tamala interferiu de uma forma agourenta.

- Fique – Disse segurando firme nos ombros de Lariana. Algo que vi nos olhos

de Tamala me fez temer por ela.

- Não, eu vou com você. – respondeu resignada.

- Erzoul – gritei chamando-o para fora.

Quando ele chegou me olhou espantado com o que viu em minha mente.

- Tome – empurrei Lariana para os braços do pai que a prendeu num abraço de

ferro.

- Me largue pai! – Esbravejou enquanto se retorcia tentando escapar.

- Tamala, cuide de Melissa. – me aproximei dela e peguei sua mão colocando

nela a chave do portal da ilha marfim. – cuide dela – reforcei - Assim que ela acordar

leve-a imediatamente. Diga que logo nos encontraremos. E não fale nada sobre Jeziel ou

seu irmão.

- Mas...

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Interrompi o que ela iria me dizer.

- Não Tamala. Me prometa que não dirá nada.

Ela me olhou confusa.

- Você me fez uma promessa uma vez e a cumpriu. Quero que me prometa agora

que não dirá nada, sei que posso confiar em sua palavra.

Ela respirou fundo contrariada.

- Aragorn, você não entende...

- Não, eu não entendo. Mas tente você compreender. Melissa para mim é como

aquela esfera que você quer tanto ver destruída. Dentro de Melissa esta minha alma, se

ela for destruída eu também serei.

Ela segurou firme a pedra vermelha que estava em seu colar me olhando com os

olhos tristes.

- Me prometa. - insisti.

- Não direi nada. Mas... tenha cuidado.

Me virei para Erzoul que ainda segurava sua filha que agora chorava em seu

ombro.

- Erzoul vá com Tamala para a ilha, leve Lariana, lá vocês estarão seguros.

- Meu filho, cuide-se.

Dei um tapa amistoso no ombro de Erzoul, olhei longamente para dentro da casa

onde Melissa dormia, e me dirigi para o castelo.

Enquanto eu corria com a espada empunhada pelas ruas de Passuir vi soldados

de Cordomad lutando com os soldados do exército rebelde, pessoas comuns correndo

para se esconder e escapar, alguns Drevors tentavam me deter, mas eu os derrubava

mesmo antes de conseguirem me parar.

Peguei a chave de um portal em meu bolso que me levaria mais próximo do

castelo e o joguei a minha frente passando correndo por ele assim que abriu.

Diante do castelo não haveria dificuldade para entrar. Muito da muralha tinha

sido derrubada. Tanto dentro como fora dela os soldados travavam uma luta equilibrada.

O que me surpreendeu. Não pensei que o exército de Jeziel estivesse tão bem preparado.

Por dezoito anos o general Euri treinou seus homens e mulheres para esse dia. Ele tinha

feito um belo trabalho.

Tive que lutar com alguns Drevors até conseguir entrar novamente no castelo

onde estava uma verdadeira zona de guerra.

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Eu não sabia exatamente o que devia fazer, só sabia que teria que encontrar a tal

esfera e destruí-la. Mas por onde começar?

Passei por alguns corredores, entrei e saí de salas e mais salas, subi e desci

escadas. Eu não sabia onde ou como encontrar a sala das almas.

Quando subi um andar e entrei num grande salão oval, que tinha algumas

cortinas incendiadas, reconheci o homem que lutava agilmente contra um Drevors da

primeira escala a qual eu pertencia. Era o general Euri. Outro Drevors me atacou e

lutamos equilibradamente até eu dar-lhe um golpe fatal.

O general também tinha se livrado de seu oponente e correu até mim me

segurando pelos ombros.

- Aragorn onde esta Melissa? – Perguntou aflito.

- Ela esta segura em minha ilha.

- Graças a Deus! Obrigado.

- General, onde fica a sala das almas?

- Ninguém sabe, só Melissa entrou lá uma vez.

- Ela não vai voltar aqui.

- Claro que não, mas temos que encontrar uma forma de fazer isso sem ela

- Que faremos?

- Vamos recuar por enquanto – ele planejou.

- Mas não estamos perdendo.

- Também não estamos ganhando. É inútil lutar sem ter condições de derrotá-los.

- Então recolha as tropas – concordei.

- Encontre Jeziel e meu filho, nos encontraremos no arraial.

O general fez um sinal com as mãos e gritou chamando seus soldados. Vários

portais foram abertos e o exército rebelde foi sumindo.

Me metamorfoseei para encontrar Jeziel e Biel mais rápido, quando os encontrei

lutando no alto de uma torre, me materializei e Jeziel me reconhecendo cravou a espada

num Drevors e correu até mim com o rosto angustiado.

- Melissa?!

- Ela esta segura. Fora do castelo.

Ele respirou aliviado.

Biel e vogue nos viram e se aproximaram.

- O general mandou voltarmos para o arraial.

- Para onde levou Melissa? - Jeziel perguntou.

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- Para a ilha marfim.

Ele não gostou.

- Então minha irmã esta bem? Quero vê-la. – disse Biel.

- Primeiro temos que ver seu pai – Disse Jeziel.

Tivemos que derrotar alguns Drevors que apareceram, mas logo atravessamos o

portal que nos deixou exatamente na ilha Mayata e de lá outro portal foi aberto até o

arraial.

No arraial muitos soldados já haviam retornado, outros estavam chegando

através de seus portais. Ao passarmos muitos reverenciavam a Jeziel e os mais exaltados

o cumprimentava animadamente. Jeziel no entanto ainda que tentava ser simpático, não

parecia se sentir muito contente consigo mesmo.

Quando chegamos na casa do general ele e outros homens já esperavam por nós,

ou melhor por Jeziel.

- Senhor o progresso de hoje foi excelente! Demos uma baixa considerável no

exército inimigo, e o nosso quase não sentiu – falou um baixinho barbudo com cara de

invocado.

Jeziel só fez um sinal com a cabeça para o homem e se virou para o general.

- O que vamos fazer?

O general olhou para mim e Jeziel olhou em seguida.

- Precisamos destruir a esfera. Sem isso não poderemos fazer nada.

Biel que estava esparramado no sofá ao lado de vogue falou com Jeziel.

- Onde Cordomad foi parar?

- Aquele covarde se escondeu quando me viu – respondeu Jeziel.

- Ninguém viu Erkas ou Raika na hora da invasão - Falou o general.

- Eles devem ter um esconderijo – disse Biel.

- E tem – eu me lembrei – a torre Bahj. É a fortaleza da família real, construída

por Erkas para refúgio em momentos como esse.

- E onde fica essa torre? – Jeziel perguntou.

- No castelo.

- Só há doze torres no castelo e nenhuma delas é a Bahj.

- Ela não pode ser vista por olhos comuns, e ninguém comum entra por ela.

- Ela é protegida por magia? – Vogue perguntou.

- Sim e somente em forma de Drevors se entra nela.

- Você diz virando fumaça? – perguntou Biel.

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- Isso mesmo.

- Como então Erkas e Raika entraram na torre? Elas não tem esse poder – o

general indagou.

- Erkas deve ter projetado uma entrada para as duas – disse Jeziel

- Teremos que pensar numa forma de atraí-los para fora já que não podemos

entrar lá. – o general falou pensativo.

- Eu posso. – Falei.

- E de que adiantaria você entrar lá sozinho? Acabaria sendo morto por aqueles

três. – o general rebateu.

- Ele não precisa entrar sozinho. Eu vou com ele. Como Drevors ele pode levar

uma pessoa consigo.

Olhei para Jeziel e estranhei sua atitude. Não que eu realmente me importasse se

ele queria se matar ou não.

- De jeito nenhum Jeziel – falou o general. – teremos que pensar numa outra

maneira. Em sua fortaleza e com a esfera em segurança, Cordomad é imortal. Você não.

- Enquanto vocês pensam, então vou ver Melissa. – Jeziel soltou me fazendo

recuar – Aragorn? – ele questionou minha expressão.

- É melhor não.

- E posso saber por que não?

- Ela esta em segurança e pensa que pelo menos por enquanto você também esta.

Ela acredita que Cordomad honrou a promessa de que deixaria vocês vivos e enviaria

você e o general a dimensão dela, em troca ela concordou em ser rainha se casando com

ele.

Os olhos de Jeziel quase saltaram da orbita.

- Por isso aquela história de casamento. Mas como?

- Ele a fez acreditar que tinha localizado o arraial e iria invadi-lo e matar a todos

como fez com os outros que ele encontrou. Desesperada então ela aceitou a troca.

- Mas eu preciso vê-la.

- Se ela descobre que você esta aqui, e lutando contra Cordomad... você sabe

como Melissa é.

- Não é certo deixá-la enganada. - ele argumentou.

- Mas é certo protegê-la. – Rebati.

- Quer protegê-la de mim?! – Resmungou.

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- Enquanto eu puder. Não esqueça que foi por sua causa que ela foi parar

naquele castelo.

Jeziel deu uma risada enervada e sem humor.

- Eu tenho a chave do seu portal. – ele pegou no bolso a pedra que eu havia dado

a Melissa.

- Ela só te levara a onde eu estou. E eu estou bem aqui. Não é um portal a ilha é

um portal a mim.

Jeziel me pegou pelo colarinho.

- Então você me levara até ela – esbravejou.

- Não vou não – falei arrancando as mãos dele de mim.

Jeziel puxou a espada bem de vagar da bainha me olhando com ódio. Seu rosto

estava tão duro que quase podia ouvir o contrair de seus músculos. Se ele estava

tentando me assustar não conseguiu.

Puxei minha espada e me preparei para o confronto. Os homens que estavam ao

nosso redor se afastaram.

- Ah não... vai começar tudo de novo. – Biel se lamentou atrás de mim ainda

sentado no sofá.

- Vocês não vão lutar. – disse o general se colocando entre nós – Aragorn tem

razão, é melhor Melissa ficar na ilha. Não quero pensar no que ela faria se descobrisse

que ainda estamos aqui e pior se ela ao menos sonhar que Biel veio para cá.

Jeziel olhou carrancudo para o general e surpreso com a aparente mudança de

lado.

Com certeza sem a menor vontade ele guardou a espada. Os homens que tinham

se afastado se aproximaram novamente.

- Senhor o que quer que façamos agora? – os homens perguntaram

- Quero que vocês me deixem em paz! – Jeziel esbravejou.

O general fez um sinal com a mão e os homens foram saindo esvaziando a sala.

Jeziel se virou para a parede passando a mão no rosto irritado.

- Jeziel, não é hora de perder a cabeça agora.

Ele se virou para o general.

- Você não entende, eu preciso ver Melissa eu preciso tocá-la ver que esta tudo

bem.

- Ela esta bem – falei - Erzoul o curandeiro esta cuidando dela e Tamala.

A cor no rosto de Jeziel sumiu.

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- Porque ela precisa de um curandeiro? – falou apreensivo.

- Não é nada grave, ela estava muito agitada teve uma crise nervosa devido a

tudo que ela passou e levei-a até Erzoul porque ela tinha alguns ferimentos.

Pela cara que ele fez achei melhor contar logo os detalhes antes que ele tivesse

um ataque.

- Cordomad a feriu, mas foram pequenos cortes na testa e na boca, ela estava

com o corpo dolorido. Mas agora já esta bem.

- Ele bateu nela – o punho de Jeziel se fechou deixando que ouvíssemos cada

junta se estalarem - Eu vou acabar com Cordomad por isso.

- Precisamos estar com a cabeça fria para planejarmos o próximo ataque – disse

o general.

Jeziel andou para a porta.

- Aonde você vai? – perguntou Biel.

- Vou dar uma volta – respondeu sem olhar para trás.

- Eu vou com você. – Biel falou se levantando.

Vogue segurou Biel.

- Deixe ele sozinho, ele precisa respirar, e você precisa descansar.

Biel deitou no sofá dessa vez com a cabeça no colo de vogue. O relacionamento

deles estava desenvolvendo rápido, mesmo no meio de uma guerra. Não posso dizer que

eles não faziam um belo par. Vendo os dois juntos parece que foram feitos um para o

outro. Mas duvido que Melissa tenha a mesma opinião.

Por todo o dia e a noite estivemos planejando uma forma de atrair um dos três

para fora da torre Bahj sem nenhuma idéia parecer realmente eficaz. Todos já estávamos

cansados. O general sempre recebendo notícias das últimas entradas no castelo. - Ele

estava revezando as tropas para não dar descanso ao exército de Drevors sem cansar o

exército deles. - Também chegava notícias das vilas e de outras pessoas se aliando ao

exército de Jeziel assim que sabiam da notícia de que o filho do rei Jeriel estava lutando

por seu trono. Jeziel no entanto, não tinha retornado ainda do seu passeio.

Vogue estava na cozinha preparando algo para todos comerem e Biel se agitava

pela sala.

- O que há Biel, esta preocupado com alguma coisa? – eu perguntei.

- Não. Só que divido o mesmo sentimento de Jeziel, eu queria muito ver minha

irmã. Mas sei que não devo.

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- Posso garantir a você que ela esta bem, se eu não há conhecesse até deixaria

que você fosse vê-la, mais sei que quando ela souber que você esta aqui vai ficar

maluca.

- Eu compreendo.

- Parece que só Jeziel não entende.

- Ele entende sim, só esta sentindo falta dela.

- É, eu sei o que é isso, sentir falta de Melissa.

- Então não seja cruel com ele. Ele a ama – Biel falou paternalista.

- Eu vou até a ilha, depois volto para saber o que decidiram – Eu não estava a

fim de ouvir aquilo.

- Tudo bem.

Deixei a casa e abri o portal para a ilha. Ao atravessar, vi Tamala encostada na

escada da varanda me esperando.

- Onde esta Melissa?

- Lá dentro.

- Ela já acordou?

- Sim e esta perguntando por você toda hora. Ela fala bastante.

Eu ri, Melissa devia estar deixando todo mundo louco.

Quando atravessei a porta vi todos sentados e Lariana olhava mal encarada para

Melissa que retribuía o olhar nada amistoso. Quando ela viu que eu entrava pela porta

saltou da poltrona e correu para meus braços.

Me abraçou forte como sempre e escondeu sua cabeça em meu peito. Imagino

que ela não tenha a menor idéia do que isso significa pra mim. Se eu pudesse jamais

soltá-la...

- Onde você estava, porque me deixou sozinha e preocupada, e porque ninguém

me dizia onde foi?

- Não te deixei sozinha garota.

- Você entendeu. Quando acordei na casa de Erzoul me disseram que você me

mandou vir para cá, mas quando eu não te encontrei me desesperei.

- Agora estou aqui com você.

- Ainda bem, já não agüentava mais ficar olhando para cara da cabel... é... quer

dizer de Lariana. Ela me odeia – sussurrou.

- Ela não te odeia.

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- Odeia sim. Mas eu também não gosto dela. - Olhei repreensivamente para ela –

ela tem cara de fuinha.

Eu não sabia o que seria uma fuinha, mas tinha certeza absoluta que não devia

ser legal.

- Ela é minha amiga – defendi.

Melissa deu de ombros com desdém.

- Geniosa – pensei.

- Com certeza – Erzoul falou dentro da minha cabeça – posso conversar com

você?

- Cozinha - Sugeri.

- Certo - Erzoul se levantou e foi para a cozinha.

- Que tal você me soltar agora? – falei para Melissa agarrada a minha cintura.

- Aonde vai? – me perguntou desconfiada.

- Procurar por algo para comer.

- Eu preparo para você – Se ofereceu.

- Obrigado, mas fruta cozida ainda não se tornou meu prato preferido.

O rostinho lindo dela se fechou. Meu coração reagiu, eu queria poder tomá-la em

meus braços agora. Como ela consegue ser tão perfeita até emburrada.

Antes que eu cometesse alguma loucura dei a volta em Melissa e fui para a

cozinha encontrar Erzoul.

- O que é meu amigo?

- Só quero prevenir você, pois as coisas podem ficar difíceis aqui.

Olhei para ele esperando por mais explicações.

Ele continuou.

- Três mulheres juntas nessa casa disputando sua atenção...

- O que quer dizer com isso?

- Lariana você conhece bem, ela é muito impulsiva e provocante, Tamala

aparentemente é quietinha, mas também quer o espaço dela e você sabe o tanto que

Melissa é possessiva e ciumenta.

- Você conseguiu avaliar tudo isso nesse pouco tempo?

- É meu trabalho analisar as emoções e as conseqüências. E analisei muito mais

que isso no tempo em que você esteve fora, e é sobre isso que realmente quero falar

com você.

- Que cara é essa Erzoul?

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- Tamala.

- O que tem ela?

Erzoul me olhou com uma cara insinuante.

- Ah para com isso Erzoul, você vive querendo arrumar uma mulher para mim!

- Mas ela tem...

Eu o interrompi.

- Quer parar com isso. Melissa é a mulher da minha vida.

- E o que vai fazer quando ela voltar para Jeziel.

- O mesmo que eu fazia quando ela estava lá. Amá-la incondicionalmente.

- Isso não pode fazer bem para você.

- Mas a escolha é minha.

- Meu filho, pense em você!

- Não posso... – fechei os olhos e suspirei - não consigo.

- Se eu pudesse fazer algo que mudasse essa situação... me diga, você vai se

contentar a vida toda em tê-la assim?

- Ela me ama Erzoul e isso me basta.

- Mesmo sabendo que o amor dela jamais será o que você espera?

- Eu queria poder te explicar, queria mesmo entender o que acontece comigo,

como ela conseguiu tomar minha vida para ela como fez e como mantém a mim preso a

ela dessa maneira, mas esta além de mim, além da minha compreensão e além das

minhas forças.

- Um homem como você, forte, guerreiro, decidido, experiente...

- Nenhuma das minhas experiências me preparou para ela. Nunca houve algo ou

alguém que eu desejasse tanto, mas ela não me pertence. Mesmo assim não consigo

deixar de amar essa garota.

- Tente se dar uma chance. Tente viver sem ela.

- Melissa é como ar, sem ela eu sufoco.

- Mesmo assim penso que você terá grandes surpresas a partir de agora.

Quando Erzoul acabou de falar, Lariana entrou pela porta da cozinha sentando

ao meu lado.

- Esta bravo comigo? – Me sondou.

- Não. Tenho algum motivo?

- Pelo que eu disse lá em casa.

- Sei que estava preocupada.

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- Quero só que você esteja bem. – Ela pousou a mão na minha.

Tamala entrou e se sentou a nossa frente no outro lado da mesa, e vi seu olhar

furtivo na mão de Lariana na minha.

- Esta tudo bem? – Tamala perguntou não querendo ser intrometida.

Consenti com a cabeça. Seus olhos dourados prenderam os meus por segundos

percebi que ela tinha ficado preocupada comigo.

Melissa entrou e não gostou do que viu, nem da mãos de Lariana na minha nem

do olhar de Tamala.

- Eu avisei. – Erzoul falou em minha cabeça escondendo um sorriso.

- Bom! – bati uma palma para discretamente e sem magoar Lariana tirar minhas

mãos da dela – Que tal comermos alguma coisa? Erzoul preparou algo para nós.

Me ajeitei na cadeira enquanto Erzoul servia a comida e Melissa se sentava

estrategicamente ao meu lado com a cadeira mais próxima que a de Lariana exigindo

seu direito exclusivo sobre mim. Ela não sabe, mas esse comportamento dela só

confunde mais meu coração. Talvez Erzoul esteja errado. Talvez ainda haja esperança

para mim. Quem sabe um dia ela descubra que me ama mais que ela mesmo pensa. Eu

posso esperar por esse dia.

Olhei para ela e sorri, Melissa retribuiu meu sorriso alheia aos meus

pensamentos. Sei que ela não aprovaria, mas isso é a força que me mantém vivo.

Esperar por ela.

A tarde foi estranha, cada um falando coisas banais, menos Tamala que

permaneceu calada, mas com a mente bloqueada assim como cada um escondendo seus

pensamentos. Só o de Melissa estava aberto pra mim, e só pra mim. Ela estava

melhorando bastante com seus dons. E ela estava preocupada com sua família, com

Jeziel, mas como a coroa estava de posse da família macabra como ela mesma os

nomeou, pensava que teria um tempo até que Cordomad se interessasse em ir até sua

dimensão atrás dos outros já que ela esperava que ele estivesse mais interessado em

recapturá-la para manter seus planos de domínio absoluto. No que tinha certa razão a

não ser por Cordomad estar mais interessado agora em matar Jeziel que é sua maior

ameaça com ou sem Melissa, porque agora os aliados de Jeziel estão aumentando para

derrotarem Cordomad. Mas para que isso realmente acontecesse a esfera teria que ser

destruída e essa era a minha preocupação. Espero que quando eu retornar ao arraial

alguém tenha pensado em algo que de certo.

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Melissa não dava folga a Lariana com seu olhar mal humorado cada vez que ela

falava algo comigo, e Lariana por sua vez como Erzoul falou, provocativa, aproveitava

que eu tinha recomendado que ninguém falasse nada sobre a guerra, e ficava

relembrando fatos do nosso passado.

- É – Melissa Desdenhou depois de uma narrativa prolongada de Lariana dos

nossos momentos – parece que vocês tiveram momentos bem animados juntos.

- Animados não, felizes – Lariana retrucou acidamente.

- Quanto tempo faz? Dois... três anos? Muito tempo não é...

- Não tanto quanto você gostaria.

- Tempo o bastante para não ser motivo de preocupar alguém.

- O que você quer dizer com isso?! – Lariana resmungou.

- Ei! – falei entre as duas.

Elas me ignoraram.

- Que você devia procurar outras historias para contar. – Melissa resmungou.

- Vamos parar com isso! – Tentei, de novo sendo ignorado.

- E você devia procurar calar sua boca. – Lariana falou exasperada.

- Não sou eu que estou falando feito uma matraca o tempo inteiro. – Melissa

provocou ainda mais.

- Melissa... – repreendi.

Com certeza Lariana também não sabia o que era uma matraca, mas não gostou

assim mesmo.

- Então porque não vem me fazer calar a boca?! – Lariana desafiou se

levantando alterada.

- Com prazer – Melissa se levantou indo pra cima de Lariana aceitando o

desafio.

- Epa! Ninguém vai calar a boca de ninguém aqui. – falei me levantando e

segurando Melissa pela cintura.

- Ela começou... – Lariana se defendeu.

- Não, foi ela! – Melissa rebateu.

- Parem! – reclamei - estão parecendo duas crianças.

Erzoul riu e Tamala uniu as sobrancelhas parecendo espantada.

As duas se calaram e continuaram com o olhar hostil uma para a outra.

Depois de um tempo longo de silêncio pesado, Tamala saiu para a varanda,

Erzoul foi procurar algo para fazer em outro cômodo, Melissa deitou a cabeça no meu

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colo e cansada como estava dormiu e Lariana permaneceu sentada de frente a mim,

muito... muito aborrecida mesmo.

- O que esta acontecendo? – perguntei a Lariana em pensamento para não

acordar Melissa.

- Nada.

- Lariana, você sabe que gosto de você, mas...

- Tudo bem, é que simplesmente me irrita ver ela agarrada a você o tempo todo.

- Ela só esta assustada, e com medo, precisa se sentir segura, e confia em mim.

- Desde que você chegou que ela não larga sua mão não sai de perto de você

não te deixa respirar.

Lariana não iria gostar de saber o quanto isso me faz bem. Eu não iria dizer a

ela.

- Não quero te ver chateada, me preocupo com você, mas ela precisa de mim

agora.

- Eu também preciso... sempre precisei de você Aragorn, e mesmo assim nunca...

você nunca pareceu se importar com isso.

- Me importo sim, só que não posso lhe dar o que espera de mim. – Me senti

repetindo as palavras de Melissa, e me surpreendi por ver o quanto aquelas palavras

eram verdadeiras.

- É isso não é? Minha espera por você é inútil... Jamais terei seu amor. –

Lariana desviou seu olhar do meu e olhou rapidamente para Melissa adormecida e virou

o rosto escondendo a tristeza. – Sabe, penso que estamos na mesma situação e sei como

você se sente. Você a ama ,e no entanto, ela te ama como a um amigo. Você vai passar

a vida inteira esperando por ela como eu espero por você, vivendo de pequenas

esperanças e morrendo um pouco a cada vez que ver que sua espera é inútil e se

decepcionar por vê-la em outros braços e mesmo assim sem jamais conseguir tomar a

atitude de não esperar mais. – suspirou profundamente - A diferença entre nós é que

você ainda pode contar que ela corra para você sempre que precisar, pois ela sabe que

seus braços estarão sempre abertos. Nisso você leva vantagem sobre mim, porque por

mais que os meus estejam abertos, você nunca vem.

- Não sei o que te dizer – falei sinceramente me sentindo culpado por ser motivo

de tristeza para Lariana.

- Não precisa dizer nada. Eu vou continuar aqui como sempre estive. É como eu

disse, não consigo tomar a atitude de não esperar mais. Como você.

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Lariana se levantou e foi para um dos quartos dando um fim a nossa conversa.

Não me agradava ver Lariana assim, não queria que ela tivesse esperança

alguma em relação a nós. Nós já tínhamos tentado, inclusive depois que deixei Melissa

para Jeziel, e ela mesmo viu que não era o tempo, e nem sei se esse tempo um dia

chegará. Principalmente vendo Melissa deitada em meu colo agora. Tão entregue tão

dependente... tão minha.

O rosto sereno que eu estava tão acostumado a idolatrar dormindo, estava tão

próximo que me distraiu. Foi tão fácil me esquecer de tudo olhando para ela.

Acariciei seu rosto e brinquei com sua franja que agora crescida cobria um

pouco os olhos. Resolvi que seria melhor levá-la para cama já que era bem tarde e eu

precisava dormir um pouco também, logo eu voltaria ao arraial para ver o que eles

tinham planejado.

Levei-a para meu quarto já que o de Melissa estava hospedando Lariana e

Erzoul.

Quando a deitei na cama, não diferente das outras vezes em que fiz isso, ela

ainda dormindo se agarrou ao meu pescoço fechando o semblante inconscientemente

reclamando por se afastar de mim. Tentei, mas foi impossível não sentir uma forte

emoção me afogar nesse momento. Ela estava ali me prendendo em seus braços e tudo

que eu queria era nunca deixar que ela saísse dos meus.

Me acomodei ao lado dela e Melissa enroscou suas pernas nas minhas, e fazendo

meu braço de travesseiro voltou a dormir profundamente.

Meu toque nunca a incomodou, e suavemente acariciei novamente seu rosto por

cada traço e desenhei com os dedos seus lábios, os quais eu estava sedento de saudades.

Fechei meus olhos respirando fundo, e meu coração disparou. Ela estava

comigo, finalmente, e de uma forma quase possessiva tive a real noção disso. Era

Melissa em minha ilha, em minha casa, no meu quarto, deitada em minha cama... em

meus braços. Fiz força para manter minha luz contida dentro de mim me esforçando a

reprimir o que estava sentindo.

Para Melissa era fácil ficar tão colada a mim daquela forma, era confortável,

acalentador, seguro, confiável, era a sua fortaleza inabalável.

Pra mim era uma tortura desesperadora. Sentir seu corpo quente aninhado ao

meu me deixava inebriado, cada célula do meu corpo desejava ardente e

apaixonadamente pelo dela e a íntima e inconsciente proximidade que ela tinha comigo

sem reservas só piorava as coisas pra mim.

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Quantas vezes durante as noites em que ela corria assustada para minha cama

por causa de seus pesadelos e se entregava aos meus braços para seu socorro, eu sonhei

em tomá-la. E havia me arrependido profundamente por não ter feito isso quando tive

chance. Mas agora ela estava em meus braços novamente e de uma forma irracional

meus instintos estavam querendo me controlar.

Seria tão simples agora, era só monitorar seu sonho e entrar nele. Ela esta

vulnerável, carente, e bastava eu despertar nela o desejo até que ela acordasse. E quando

acordasse estaria aqui para ela.

Como um incentivo aos meus instintos ela se moveu aproximando mais ainda

seu corpo. O meu reagiu me perguntando por que eu não fazia alguma coisa. Mas

Melissa estava ali para que eu a protegesse. Jamais me aproveitaria de sua fraqueza.

Respirei fundo novamente me obrigando a ser racional e confiável, o que não

estava sendo fácil. Minha mente fermentava pensamentos que não eram lá muito

louváveis.

Olhado Melissa dormir tão tranquilamente nos meus braços eu sabia que aqui

era o lugar perfeito para ela ficar. Pra sempre. Ela confiava em mim

incondicionalmente, pois eu nunca a enganei nem nunca menti a ela, nunca a deixei na

mão, sempre fui um ótimo amigo como ela mesmo diz. Só que eu não precisava ser

sempre o bom moço.

Quem sabe se eu a manter na ilha, e deixar que ela continue pensando que Jeziel

e seu pai foram para sua dimensão e a fizesse acreditar que eles estarão seguros lá sem

ela? Ela acreditaria em qualquer coisa que eu disser. Nunca mais a deixaria sair com o

pretexto de protegê-la de Cordomad.

Talvez Jeziel estragasse meus planos vindo atrás de mim, mas antes disso

poderíamos então ir para outro lugar. Quem sabe uma outra dimensão. Não a dela para

que ela não descobrisse que Jeziel não estava lá, mais uma outra qualquer. Eu nunca

pensei que houvesse um mundo além do meu, mas Melissa me provou que há, então é

provável que haja outros mundos. Poderíamos encontrar um mundo em que Melissa e

eu pudéssemos finalmente ficar juntos.

Meus pensamentos estavam me deixando perturbado, mas talvez eu não tivesse

outra chance como essa, eu não devia desprezar a oportunidade que estava a minha

frente. E quem me condenaria por lutar com todas as armas que eu puder por ela?

Eu prometi que faria de tudo para que ela fosse feliz, e era exatamente o que eu

faria. Não seria traição, não a ela pelo menos, talvez omissão, mas seria para o bem

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dela. Ela estaria para sempre segura. O pai o irmão e Jeziel poderiam dizer que abusei

da confiança deles, mas eu nunca lhes disse que deviam confiar em mim. E Jeziel não

tem capacidade de cuidar dela como eu. E quem me impediria de mantê-la sempre

comigo agora?

Um sorriso maquinador surgiu em meus lábios.

Sem que eu esperasse, ela entrou em minha mente buscando conforto, como no

dia em que nos beijamos pela primeira vez. Ela ainda dormia, mas procurava por algo.

Seu sonho a colocou numa colina desconhecida pra mim, e ela andava angustiada entre

as árvores. Eu sabia o que ela buscava ver, o rosto de Jeziel. Meu coração não teve

nenhuma reação ou ciúmes. Não depois dos pensamentos que estava tendo para garantir

a ele que daria um jeito de acabar com seu sofrimento.

Eu sabia que não seria fácil para Melissa esquecer dele, mas com ela ao meu

lado poderia esperar pelo tempo que fosse necessário. E eu sei que um dia ela seria

minha.

No sonho ela se sentou desolada ao chão, cruzou os braços sobre os joelhos e

escondeu o rosto. Me aproximei dela. Eu queria um sinal de que se eu colocasse meu

plano em pratica ela aceitaria.

Estendi minha mão e a chamei.

- Melissa...

Ela ergueu o rosto molhado de lágrimas e me questionou com os olhos aonde eu

queria levá-la. Como eu não respondi ela se colocou de pé, olhou para trás ainda

tentando ver algo. Quando virou seu rosto novamente para mim estava ainda mais triste.

Olhou para minha mão ainda estendia por alguns segundos e voltou a me olhar nos

olhos. Eu ainda esperava o sinal, e ela finalmente segurou minha mão. Então saí do seu

sonho. Era só o que eu precisava saber. Ela viria comigo.

De vagar me desvencilhei de seus braços e pernas e me levantei saindo do

quarto sem fazer barulho. Eu ia colocar meu plano em pratica agora.

Procurei por Tamala e me lembrei que ela tinha ido para fora da casa. Encontrei

sentada na escada da varanda olhando para o céu contemplando as estrelas.

Ao me aproximar ela se virou e mirou meu rosto. Seus olhos se iluminaram de

uma forma inesperada.

- Melissa esta dormindo? – perguntou numa voz suave.

Confirmei com a cabeça.

- Ela fica muito agitada quando você não esta por perto.

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- Ela estava agitada mesmo comigo, não deu folga a Lariana.

Sentei-me ao lado dela.

- Ela gosta de você... Lariana. – Tamala falou solidaria a Lariana - Não é fácil

para ela ver você com Melissa.

Eu respirei fundo.

- Seria bom se pudéssemos escolher de quem gostar. Não é?

- Se você pudesse, acha que faria uma escolha diferente?

Pensei que não. Não abriria mão de Melissa ainda que pudesse escolher. Mas

não disse a ela. Queria conversar com ela sobre outro assunto que me levasse a realizar

meu plano de ir embora dali com Melissa para sempre.

- Tamala, você abriu um portal para o general ir para dimensão de Melissa.

Como você fez isso?

Ela me olhou curiosa com minha pergunta, mas se propôs a responder.

- Minha intenção não era mandá-lo exatamente para lá. Aconteceu. Eu só queria

tira-lo de Andaluz.

- E como acontece, digo, como é possível alguém viajar para outras dimensões?

- Bom, basicamente é da mesma maneira que viajamos aqui, só que eu

desenvolvi portais que precisam de um lugar especifico para serem abertos ou lançariam

seus viajantes em lugares desconhecidos e inesperados, os fiz quando ainda era

pequena, e não podia ser encontrada por Cordomad. Fiz para minha defesa.

- É como a chave do portal da montanha Mayata que Melissa recebeu.

- Sim.

Eu fiquei feliz por ter guardado a pedra do portal da montanha.

- Então cada lugar diferente do lugar determinado para se abrir um desses portais

leva para uma dimensão desconhecida? – questionei procurando entender o

funcionamento desses portais.

- O que esta pretendendo? – perguntou cismada.

- Só me diga por favor.

- Em qualquer lugar do universo. – respondeu.

- E para voltar?

- O portal sempre trás de volta ao mesmo lugar da partida.

- Você diz que fez para sua defesa. Já viajou a outras dimensões?

- Algumas.

- E como são?

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- Cada uma delas tem sua particularidade.

- E a seres diferentes de nós?

- Não. Somos todos a imagem do criador em qualquer lugar do universo. O que

muda é a evolução.

- Então em qualquer dimensão que chegava se passava perfeitamente por um

deles?

- Com pequenas diferenças, - Olhei para ela confuso – você deve ter percebido

algo diferente em Melissa quando a viu.

Me lembrei que foi exatamente por ter algo diferente nela que não consegui tirar

os olhos naquela primeira vez que a vi.

- Da onde se parte para ir a dimensão e Melissa? – Eu precisava saber para não

acabar caindo lá sem querer.

- Só há duas passagens. Uma em minha casa e a outra na colina do rei. - De

repente Tamala me olhou como se tivesse captado algo no ar – Você quer partir com

Melissa?

Eu não precisei responder para ela ter certeza.

Tamala se levantou e andou para a sombra da noite sobre a areia.

Eu falei de mais. Ela poderia interferir em meus planos eu tinha que convencê-la

a não se intrometer.

A segui disposto a convencê-la a todo custo de não fazer nada para impedir.

- Tamala...

Quando me posicionei a sua frente vi que seu rosto triste. Instintivamente estendi

minha mão para confortá-la, mas recolhi antes de tocar em seu rosto.

- O que há? - Tentei sondar sua mente para ver se entendia o que estava se

passando, mas ela havia bloqueado.

Seu rosto estava tão triste e tão lindo que senti culpado ainda que não fosse

lógico. Relembrei o dia quando ainda éramos crianças e eu a derrubei e ela caiu e se

machucou e como me senti quando a vi chorar. Uma sensação estranha de que eu

precisava fazer algo para consolar e protegê-la. Eu não sabia por que, afinal agora ela

era uma mulher, não uma menina.

Tamala constrangida de ser pega em sua sensibilidade virou o rosto para se

esconder de mim.

- Você Não pode ir embora. – Ela falou, a voz embargada.

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- Tamala, aqui não é um lugar seguro para Melissa, ela precisa ir embora de

Andaluz.

- Nenhum lugar será seguro para ela enquanto Cordomad não for derrotado. Ele

a encontrará, pode ter certeza disso.

- É mais uma de suas previsões?

Ela se calou.

- Jeziel e o pai dela cuidarão de Cordomad.

- Eles não poderão fazer isso. Eles precisam de Melissa.

- Jamais permitirei que Melissa se aproxime de Cordomad novamente.

- Então não haverá lugar no universo que você possa manter Melissa a salvo. A

esfera precisa ser destruída para que Cordomad seja derrotado.

- Eu destruirei a esfera e acabo logo com isso.

- Pode me dizer como?

- Não, mas você me dirá. Só você sabe como, então me diga.

- Para que você possa levar Melissa embora?

- Quero poder mantê-la em segurança e de preferência ao meu lado.

- Melissa não te perdoara quando descobrir. - Ela parecia estar entendendo meus

planos.

- Ela não vai descobrir.

- O coração dela vai clamar por ele e Jeziel irá atrás dela. Desista dessa idéia eu

posso ver que não dará certo, você só vai sofrer ainda mais.

- Eu preciso tentar. Me diga como a esfera é destruída?

- Você não vai desistir, não é?

- Raramente desisto do que quero – falei resignado.

- Mesmo sabendo que isso pode te matar?

- Mas se não me matar, terei a chance de ser feliz com ela.

- Aragorn não é certo... você não pode simplesmente mentir para ela e levá-la

para longe.

- Não me diga o que fazer. Eu só tenho feito o que é certo até hoje e não tenho

ganhado nada com isso.

- Mas...

- Não. – a interrompi – Eu preciso dela ao meu lado de uma forma tão vital que

não imagino como seria minha vida de novo sem ela. Eu tentei... fiz o que podia para

esquecer, só que no momento em que pensei que teria que me conformar e arrastar

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minha vida por aí sem Melissa, ela me procurou. E então percebi que nunca... em toda a

minha vida, jamais poderei ficar sem ela. Eu estava me obrigando a aceitar que ela fosse

de outro e me conformaria em ao menos tê-la como amiga, para que eu não perdesse o

amor que sei que não é como o que ela sente por Jeziel, mas que ela sente por mim.

Ainda que seja pouco me alimenta tanto.

- Então se conforme com esse amor e conte a verdade para ela. Ela precisa de

Jeziel, o amor que ela sente por você não é o bastante para que ela seja feliz ao seu lado.

- O meu amor por ela é bastante para nós dois.

- Você acha que isso é amor? Aprisionar Melissa ao seu lado mentir para ela...

todos os dias que olhar em seus olhos saberá que ela só esta com você porque a

enganou... Não Aragorn, isso não é amor e você sabe. Se a ama deixe que ela seja feliz.

- Não me julgue, você não sabe o que sinto. Já abri mão dela uma vez, não farei

isso de novo. E não serão suas palavras que me farão mudar de idéia. Estou tendo uma

segunda chance. Ela esta ali dormindo em minha cama, no meu quarto, na minha casa.

Você não tem noção do que isso significa para mim? Não vou perder a oportunidade

que surgiu.

- Por que não tenta outra coisa? Tente ver a possibilidade que você tem de ser

amado como você deseja. E de ser capaz de amar outra pessoa também.

- Lariana me ama eu sei, mas não é o que eu preciso. Agente nunca se entendeu

de verdade.

Ela me olhou de forma insondável me dando a impressão que não era de Lariana

que falava, só que não quis me aprofundar mais. Eu tinha um plano e metade dele já

estava resolvido. Com a pedra do portal de montanha Mayata eu poderia viajar com

Melissa para outra dimensão e nunca mais voltar. Mas correndo o risco de Cordomad

não se dar por vencido e querer ira atrás de dela, eu não poderia deixá-lo vivo, então

destruir a tal esfera devia ser prioridade.

Minha Melissa estaria segura aqui enquanto eu destruiria seu inimigo e em

seguida partiríamos para sempre para ter um vida feliz juntos. Jeziel não era

preocupação. Ele jamais nos encontraria, e com Cordomad fora do reino ele assumiria

de vez o trono e não teria tempo de uma expedição sem rumo pelo universo. Pela

primeira vez me senti satisfeito por ajudar o tal Jeziel a tomar o reino.

- Você vai me dizer, ou eu terei que descobrir sozinho como destruir a esfera?

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Tamala respirou fundo passando a mão de seu rosto até seus cabelos dourados e

cacheados e me olhou de uma forma no mínimo intrigante. Havia raiva, decepção,

resistência e desistência expressas em seu olhar.

- Aragorn, a esfera não pode ser destruída por suas mãos nem por alguma arma,

é magia maligna que a protege, você acabara morrendo por tentar.

- Só me diga como fazer– insisti - do restante cuido eu.

Ela parou me olhando por segundos lutando consigo mesma se devia ou não me

contar, de repente num gesto de desistência seus ombros que até pouco estavam

tensionados se deixaram cair e ela andou até a beira do mar soltou uma lufada

impaciente e se rendeu.

- A esfera fica na sala das almas onde não há nenhuma entrada possível...

Eu a interrompi.

- Dessa parte eu sei, quer me dizer o que realmente importa?! – Falei ansioso.

- Quer calar a boca e me ouvir! – bradou impaciente.

Me surpreendi com a irritação de quem eu só tinha visto falando brando e baixo

até agora.

Ela respirou fundo e continuou.

- Como eu estava dizendo, a esfera fica na sala das almas onde não há nenhuma

entrada possível nem mesmo você na forma de Drevors entraria lá. Só quem entra é

quem tem o dom de transportar sua força, sua energia através de si mesmo sem utilizar

algum portal. Erkas possui esse dom raríssimo, não que ela tenha nascido com ele, mas

o roubou de algumas de suas vítimas.

- Como é exatamente esse dom?

- Quem o possui é capaz de ir a qualquer lugar, simplesmente pensando em ir lá.

- Quando você diz que Melissa seria a única capaz de destruir a esfera é porque

ela possui o dom?

- Sim ela possui o dom. Por isso conseguiu entrar na sala das almas. Ela pensou

ser um sonho, mas na verdade ela foi até lá. Da mesma maneira que foi até onde Jeziel

estava quase morto e o retirou de lá.

- Então o dom dela a coloca aonde for somente pensando aonde ir?

- Isso mesmo.

- Como foi que Jeziel pode sair de onde ele estava?

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- Entenda que esse poder que Melissa possui é um portal de força que há nela

que além de levá-la onde ela queira ir sem precisar de mais nada além do pensamento,

também permite que outros passem por ele.

- Porque então quando Jeziel se recuperou e passou pelo portal que Melissa

abriu, ele não veio direto para onde ela estava?

- Melissa não tem controle sobre seu dom, então a porta se abriu, mas em outra

direção.

- Certo, entendi... mas tem mais coisas. Você disse que a esfera não pode ser

destruída por nenhuma arma, se eu conseguir entrar lá de alguma forma, como a

destruirei?

- Você não a destruirá, é o que estou tentando te dizer. Você vai morrer tentando.

Ainda que passe para dentro da sala das almas não terá poder para ao menos tocar nela.

- E porque não?

- É magia Aragorn, magia... precisa se ter poder acima dos dons naturais que

você tem.

- Como os que você tem por exemplo?

- Sim, como os meus que Erkas fez de tudo para sugá-los.

- Melissa não é como você, não há magia nela só os dons que na maioria ela nem

sabe usar, até hoje se atrapalha para ler um simples pensamento. Ela também não teria

como destruir a esfera.

- Você tem razão, não há magia nela, mas a coroa que pertence a ela possui uma

magia maior até que a de Erkas, e é por isso que só Melissa tem o poder para tal feito.

- Os braceletes que ela me deu também são...

Ela me interrompeu.

- Sim, mas são para uso das armas, não há outra utilidade para eles.

- Resumindo, de acordo com o que você me disse, se eu quiser que Melissa

esteja segura para sempre terei que permitir que ela entre naquele castelo, pois somente

ela é capaz de derrotar Cordomad?

- Finalmente você entendeu!

- Continuo dizendo que não permitirei que ela se ponha em risco novamente.

- Então ponha um ponto final em seus planos de viverem felizes para sempre.

- Não preciso, eu tenho outra opção.

- Outra opção? – falou intrigada.

- Você.

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- Eu o que? – Questionou confusa.

- Você tem a magia e o poder.

Tenho certeza que meus olhos se iluminaram com minha idéia e os de Tamala se

abriram assustados, me revelando que ela tinha captado meu pensamento.

Depois do susto Tamala se recompôs a minha frente.

- Você seria capaz de colocar a minha vida em risco por Melissa? – perguntou, a

voz um pouco arrastada de decepção.

Eu colocaria toda Andaluz em risco por causa dela, mas Tamala com certeza

sabia disso, não precisaria me ouvir responder.

- Pense que seria uma contribuição a Andaluz, afinal você já fez tanto mesmo

por esse mundo...

Os olhos dela se entristeceram como antes.

- Mas olha, - eu continuei – prometo que não deixarei nada nem ninguém te

ferir. Por favor me ajude, e eu lhe serei eternamente grato e prometo jamais me esquecer

de você como da última vez que nos encontramos.

Seus olhos foram dos meus para a areia sob nossos pés. Ela fitou por um instante

as próprias mãos que se uniram enquanto ela ponderava e eu aguardava ansioso a

resposta.

- Tudo bem - ela respondeu finalmente – eu vou te ajudar.

Com a resposta afirmativa me empolguei e sem me dar conta do que estava

fazendo a abracei pela cintura erguendo seus pés do chão e dando um giro

comemorativo. A magia que era própria dela me deu uma reação estranha ao abraçá-la.

Não era desagradável de maneira alguma, era afetuoso.

Quando a coloquei novamente no chão, apesar de saber que ela estava

encabulada, havia um sorriso que apesar de tímido não foi capaz de tirar o brilho nem a

beleza que iluminou seu rosto.

- Só tem uma coisa, – ela disse ainda se esforçando para disfarçar o

constrangimento – não há garantias de que sairemos vivos de lá.

- Mas também não há garantia que não. Quem sabe nós dois venhamos

surpreender a todos.

- Bem, então qual é o plano?

- Você sabe usar uma espada?

Eu teria que garantir a ela o mínimo de segurança e de defesa.

- Não, nunca usei uma espada, mas aprendo rápido.

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- Então eu vou te ensinar. Mas quero que você também me prometa uma coisa.

- O que é?

- Nos vamos precisar ir até o arraial, vamos ter que contar com a ajuda de Jeziel

e seus soldados. Só que você não pode deixar que eles saibam o que planejei para

Melissa.

- Aragorn você...

- Por favor, me deixe tentar – persuadi - Se der certo serei o homem mais feliz, e

se não der pelo menos saberei que fiz o que pude, e aí sim eu poderei seguir seu

conselho de quem sabe conseguir amar outra pessoa.

Um brilho diferente passou por seus olhos. Eles ficaram vidrados e sem foco por

alguns instantes. Uma força perceptível no ar a envolveu nessa hora e o tempo ao nosso

redor deu a impressão de parar até a leve brisa que vinha do mar cessou por uns

instantes e isso durou apenas alguns milésimos de segundos, e ela voltou a olhar para

mim.

- Certo, não vou dizer nada. – A voz de Tamala saiu confiante.

- Você teve uma visão não foi... do futuro? E como seu rosto esta tranquilo creio

que foi algo bom que viu. – conjecturei.

- Sim eu vi algo, mas não vou te dizer nada do que vi. - havia um sorriso contido

em seus olhos.

- Não precisa me dizer, sei que é algo bom, vejo em seu rosto que esta feliz.

Diga se eu estiver enganado?

Seu sorriso se estampou no rosto iluminando tudo ao seu redor.

Ela me deu as costas e começou a andar rumo a casa.

- Aonde vai?

- Dormir um pouco. Amanhã começa meu treinamento com a espada, é bom que

eu esteja descansada e disposta.

Caminhei também rumo a casa. Também seria bom se eu descansasse um pouco.

Quando entramos acompanhei Tamala com o olhar enquanto ela entrava no

quarto ao lado do meu se despedindo com um sorriso simpático.

Com certeza eu sorri para ela também, pois quando entrei em meu quarto senti

que minhas bochechas estavam erguidas.

- Tamala é uma pessoa agradável, de fácil convívio – pensei – fico feliz por ela

aceitar me ajudar.

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Mesmo feliz com o auxilio que Tamala iria me dar, e confiante depois da visão

que ela teve ainda que manteve segredo, mas seu semblante alegre me mostrou que foi

uma visão promissora do futuro, minha verdadeira felicidade estava ali, bem diante de

meus olhos dormindo tranquilamente em minha cama. Me deitei do lado da garota mais

perfeita e passei a idolatrar seu rosto enquanto dormia.

Admirando a minha estrela senti vontade de cantar. Agora havia uma esperança

para mim. Sem incomodá-la entoei uma música e ainda vi quando seus lábios ensaiaram

um sorriso. Eu sabia que inconscientemente, minha estrela reconheceu sua música, e eu

adormeci.

Capítulo 15

Ao amanhecer, uma voz suave e melodiosa entrou em minha mente.

- Aragorn, hora de levantar. Você tem que me ensinar a usar a espada. Lembra?

Demorei alguns segundos para me dar conta de que era Tamala que falava.

Tentei ignorar o chamado me virando para o outro lado, queria continuar dormindo.

- Aragorn... – ela insistiu.

Melissa ao meu lado se mexeu suavemente ressonando baixinho.

Me virei para vê-la e ela continuava dormindo. Seu rosto me distraiu.

- Aragorn posso fazer isso o dia inteiro, – Tamala insistia – posso te chamar até

você enjoar do seu próprio nome.

- Por favor... – eu queria que ela me deixasse em paz. Fechei os olhos

novamente.

- A idéia foi sua. Seu plano brilhante.

Ignorei.

- Aragorn, Aragorn, Aragorn, Aragorn... – feito uma criança chata ela começou

a cantarolar meu nome.

Eu tentei ignorar com todas as minhas forças, mas depois de um tempo a

cantoria se tornou irritante. Ela tinha razão eu iria enjoar do meu próprio nome.

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- Certo Tamala, estou indo – resmunguei vencido. Pude ouvir o sorriso vencedor

dela do outro lado da porta.

Antes de sair do quarto dei mais uma olhada em Melissa que dormia. Ela

precisaria dormir bastante. No castelo suas noites mal dormidas por causa do medo, e de

Cordomad a deixaram exausta. Aqui ela se sentia segura e podia dormir descansada.

Quando passei pela porta Tamala já me aguardava ansiosa. Seus olhos brilhavam

e me olhavam de uma forma intensa.

- Pronto para minha aula?

- Depois de comer alguma coisa – respondi me dirigindo para a cozinha – já se

alimentou?

- Ainda não.

- Então venha, você precisa estar forte para o treinamento.

Ela me seguiu até a cozinha e se sentou a minha frente na mesa.

Estendi minha mão até ela oferecendo uma fruta. Quando ela pegou seus dedos

tocaram nos meus distraidamente, e senti novamente a força de seu poder que parecia

emanar de cada poro do seu corpo.

- Me conte, como você adquiriu tanto poder? – perguntei enquanto descascava

minha fruta.

Ela me olhou sem entender.

- Seu poder é muito forte e sua magia é quase palpável.- expliquei.

- Porque esta dizendo isso? – falou intrigada.

- Eu posso sentir a força em você quando te toco.

Tamala me olhou esperando mais detalhes.

- Todas as vezes que toquei em sua pele, pude sentir uma energia viva, uma

força perceptível que vem de você.

- E o que você sente exatamente?

- Não saberia explicar, mas não é ruim.

Ela me estendeu a mão por sobre a mesa.

- Tente me explicar. – Falou curiosa.

Segurei sua mão, também curioso, querendo entender que poder era aquele.

O toque de sua mão era caloroso, e por mais que eu pudesse estranhar era

íntimo. Me transmitia uma comunhão desconhecida, e de certa forma era tão confortável

e agradável que não dava vontade de solta-la. Fiquei mirando nossas mãos juntas

enquanto sentia o olhar dela em meu rosto. Uma vontade súbita de aumentar o que

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estava sentindo me fez segurar sua mão também com a minha outra e realmente o que

eu esperava aconteceu, a intensidade do poder que emanava dela dobrou. Um calor

agradável passou a subir de nossas mãos para meus braços alcançando meus ombros,

pescoço e rosto. Era como estar mergulhando nas águas quentes do rio a noite.

Tamala também juntou a outra mão as minhas. Eu estava intrigado com aquela

sensação, e disposto a ir até o fim daquilo para descobrir o que aconteceria. Meu olhar

encontrou o dela, e pela primeira vez contemplei realmente seu rosto de traços delicados

e perfeitos. Seus lábios bem desenhados, seu pequeno nariz numa linha uniforme, seus

olhos dourados sombreados por longos cílios escuros, as sobrancelhas finas, sua pele

morena refletia como ouro emoldurada pelos cabelos cacheados e mesclados em

dourado e castanho. Observando agora dava pra ver como ela era linda realmente, e

parada a minha frente parecia uma estátua feita toda em ouro. E sem que eu permitisse

minha luz deu sinal de que iria romper. Nesse momento Tamala desenhou um sorriso e

uma pequena covinha se formou em sua bochecha. Era como se eu voltasse a ver aquela

garotinha chorona que encontrei à muitos anos atrás.

O sentimento de ter que protegê-la me tomou, mas ela não estava correndo

perigo ali, não entendia o porquê desse sentimento, mesmo assim estendi uma das

minhas mão para afagar seu rosto quase que hipnotizado, mas antes que meus dedos

tocasse a sua pele macia, um baque de algo sendo colocado sobre a mesa com violência

me tirou do estupor. Com o susto Tamala arrancou as mãos da minha e as escondeu

debaixo da mesa.

Olhei para ver quem teria nos interrompido e Lariana com cara de poucos

amigos me encarava com um copo correndo o risco de ser esmagado por suas mãos.

- Acordaram cedo... – Lariana falou com voz azeda.

- Bom dia para você também – Ralhei.

Lariana continuava me olhando de mau humor, Tamala mantinha suas mãos por

baixo da mesa, e eu mesmo que não estivesse mais com as mãos de Tamala nas minhas,

ainda não tinha me livrado totalmente da sensação de antes.

- Bom dia – cantarolou Erzoul entrando na cozinha se sentando ao meu lado na

mesa e se servindo de uma fruta. Levou alguns segundo para ele perceber o clima que

estava ali – Err... Bom, acho melhor eu ir comer lá fora.

Quando Erzoul saiu Tamala também se levantou e me deixou sozinho com

Lariana.

- O que esta acontecendo aqui? – Lariana falou ainda de mau humor.

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- Do que esta falando?

- Desse momento de ternura entre você e Tamala - resmungou.

- Estava reconhecendo um dom que ela tem.

- Dom... – Falou cética.

- Vou lutar ao lado dela contra Cordomad, é bom que eu saiba o que ela é capaz

de fazer.

- Sei. É possível que esse dom de te deixar com cara de bobo consiga matar

Cordomad – usou de ironia pesada - Ah não, espere aí... Melissa tem esse mesmo dom e

não lhe serviu de nada.

- Pare com isso Lariana – Agora eu quem estava de mau humor.

- Só tenho a te dizer mais uma coisa. Se realmente é algum poder que Tamala

tenha, é melhor manter distância dele.

Me levantei peguei as frutas e saí deixando Lariana e sua rabugice para trás.

Ao chegar à varanda Tamala me aguardava.

Dei a ela algumas frutas já que não tínhamos conseguido comer nada e peguei

duas espadas que eu mantinha penduradas na entrada da casa.

- Que tal irmos para a mata? – Sugeri - Não quero que ninguém interfira em

nosso treinamento.

- Por mim tudo bem – Ela disse tranquilamente.

Ao chegarmos, entreguei o que seria sua arma a partir de agora.

Ela pareceu desconfortável e bastante sei jeito segurando a espada. Aquela arma

em sua mão era o avesso da sua forma delicada e feminina. Comecei a me questionar se

eu teria tido mesmo uma boa idéia ao ver Tamala tentando erguer a espada e quase

tombando para trás pelo seu peso. Eu ri ao pensar que a primeira luta dela seria contra a

própria espada.

Ela me olhou sem graça, constrangida por sua falta de força nos braços.

- Me desculpe, é como eu disse, jamais havia sequer pego em uma espada.

- Estou vendo.

- Se não quiser me treinar vou compreender, sei que não podemos perder tempo.

- Nós nem começamos ainda.

Me aproximei e fui lhe mostrar como segurar uma espada. Suas mãos pareciam

pequenas demais para o punho.

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Ao tocá-la novamente a sensação de sentir seu poder veio. Me lembrei de

Lariana. “Se realmente é algum poder que Tamala tenha, é melhor manter distância

dele”.

- Tamala, será que você poderia evitar que seus dons fluam agora? Eu preciso

me concentrar para poder te ensinar.

- Eu não estou fazendo nada – Ela disse se desculpando.

- Tudo bem então. – Se ela não tinha controle sobre esse dom devia ser algo

mesmo ligado a sua magia. Eu não poderia me deter por isso. Teria que fazer seu

treinamento mesmo assim e tentar bloqueá-lo de alguma forma. Seria treinamento para

mim também.

Depois de algumas horas de treinamento ela já conseguia segurar a espada de

forma correta. Eu sabia que seus braços deviam estar cansados, mas ela era persistente e

obediente. Já tinha conseguido aprender uns poucos golpes, mas na minha avaliação ela

não iria ter coragem de cravar a espada em ninguém. E a medida que eu percebi sua

evolução percebi também que ganharíamos mais tempo se eu investisse mais nas

técnicas de defesa que de ataque. O que na verdade eu tinha evitado desde o começo,

que para ensiná-la a se defender teria que estar próximo a ela lhe tocando, segurando

seus braços por trás de seu corpo, e por mais que eu estivesse tentando a muito bloquear

a sensação de conforto, e intimidade com uma pessoa que eu mal conhecia, não estava

conseguindo. Ela também estava muito a vontade comigo.

Deixamos as espadas de lado um pouco e passei a ensinar algumas técnicas de

luta no corpo a corpo para caso em algum momento ela perdesse sua espada.

Tamala não tinha um soco forte, na verdade mais parecia um tapinha.

Definitivamente ela não tinha nenhum traço ou característica de que poderia se tornar

uma guerreira.

- Tamala esquece esse negócio de ataque. Vou te ensinar ao menos se defender.

Vamos simular uma luta na qual você foi desarmada e seu inimigo te prende em seus

braços, você terá que descobrir uma forma de se livrar dele. Certo?

- Certo! – ela falou empolgada. Ela até estava se divertindo com o treinamento.

Eu a surpreendi por trás num aperto enlaçando seus braços e prendendo todo seu

corpo junto ao meu.

- Agora você tem que sair. – Instrui.

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Ela se mexeu um pouco sem conseguir nenhum resultado.

- Você tem que conseguir escapar – Motivei.

Novamente ela se moveu em meus braços com um pouco mais de força, o que

me fez apertar mais seu corpo contra o meu. Foi quando aquele seu indeterminado dom

me tomou, e agora se espalhava por todo meu corpo e de repente ela estar ali em meus

braços tomou uma outra proporção. E para manter minha concentração, me forcei a

prestar atenção no exercício.

Sacudi minha cabeça e continuei.

- Vamos Tamala eu sou seu inimigo, tente se livrar de mim.

Ela girou seu corpo dentro dos meus braços se colocando de frente a mim. Seus

olhos encontraram os meus e minha respiração ficou suspensa. Meus braços agora não a

prendiam mais, a abraçava.

- Você não é meu inimigo, – ela falou com a voz cheia de emoção – não há do

que me defender de você.

- Se fosse um inimigo real, você conseguiria? – Falei querendo me manter ainda

concentrado no exercício, mas meus pensamentos estavam começando a perder o foco.

- Creio que sim – respondeu tranquilamente.

- Porque não me mostra o que faria?

- Não quero – sua voz agora tinha um tom doce.

- Não quer escapar de mim? – minha pergunta não era mais sobre a simulação.

Ela não respondeu, mas seus olhos brilharam antes de se fecharem enquanto

Tamala se deixava envolver com seu rosto voltado para o meu em meus braços.

Minha mente não estava raciocinando direito e até me esqueci o porquê eu

estava ali abraçado a ela. Meus olhos foram atraídos para os lábios de Tamala quando

ela sussurrou meu nome baixinho. Eles estavam me chamando e inconscientemente eu

iria responder a seu chamado. Uma de minhas mãos se enroscou sob seus cachos

segurando sua nuca e a outra pousou firme em suas costas para que ela não se afastasse

nenhum milímetro de mim. Quando meus olhos se fecharam e minha boca encontrava

tão perto da sua a ponto de sentir o calor de seus hálito doce, uma voz rompeu em

minha mente me tirando da hipnose sensorial.

- Aragorn, cadê você? – Melissa tinha acordado e procurava por mim.

Automaticamente soltei Tamala de meus braços me afastando e vendo seu rosto

decepcionado olhando para mim.

- O que eu estou fazendo?! – Pensei tentando clarear os pensamentos.

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- Fazendo o que? – Melissa me questionou confusa ainda conectada a mim.

- Nada minha estrela. Já estou indo. – respondi feliz por Melissa não ser tão boa

em ler pensamentos, assim ela não saberia o que eu estava prestes a fazer a pouco. Ela

não merecia ver uma coisa assim.

Sequer olhei para trás. Deixei Tamala sozinha no meio da vegetação nativa da

ilha e corri até Melissa. Pelo caminho pensei no que teria me levado a quase beijar os

lábios de Tamala. Esse dom dela era perturbador, e ela demonstrou que queria meu

beijo. Nesse momento me deu uma certa raiva dela. Talvez seu dom fosse como o de

Raika e ela estivesse me seduzindo para que eu mudasse de idéia em relação aos meus

planos. Se ela estava tendo esse tipo de idéia, era bom esquecer. Eu não ia me deixar

envolver por qualquer sentimento que ela pudesse me impor.

Ainda estava imerso em pensamentos quando entrei pela porta da casa e Melissa

me agarrou pela cintura com seu habitual abraço que me tirava à respiração, mesmo

assim levei alguns milésimos de segundo para identificar sua presença. A de Tamala

ainda estava bem forte.

Ela pareceu perceber quando meus braços não a envolveram automaticamente.

Me olhou na defensiva.

- Aconteceu alguma coisa? – cismou.

Finalmente a abracei beijando o alto de sua cabeça.

- Não, esta tudo bem.

Isso não a convenceu.

Ela afastou seu rosto do meu peito para me encarar.

- Aragorn, o que tem de errado? – ela me olhou sondando mais profundo.

- Nada esta errado.

- Então porque você esta com essa cara? – falou desconfiada.

- Deve ser porque cada vez que você me abraça trinca uma ou duas costelas

minhas.

Minha brincadeira só serviu para deixá-la ainda mais desconfiada.

- É Cordomad não é? Ele foi atrás de Jeziel e de minha família? – me perguntou

apavorada.

- Não. Eles estão seguros onde estão. Cordomad não vai atrás deles. Fique

tranqüila.

- Aragorn não minta pra mim.

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- Posso te garantir que todos estão muito bem e seguros – eu não estava

mentindo, eles estavam mesmo seguros no arraial que era tão impenetrável quanto essa

ilha.

Melissa viu em meus olhos a certeza das palavras e acreditou.

- Então porque esta estranho, onde estava? Porque me deixou sozinha? O que

você foi fazer?

Eu sorri.

- Qual é mesmo a pergunta?

- Deixa pra lá. Só não gostei de acordar sozinha - resmungou.

- Você não estava sozinha, Lariana e Erzoul estava aqui.

- A chata da Lariana – resmungou num murmúrio.

- O que você disse?

- A cabelo de fogo esta pior hoje que ontem. Ta de cara amarrada pra todo

mundo até para o pai dela e fica batendo as coisas, as portas, e murmurando algo que

ninguém entende.

- Deixe Lariana em paz.

- O que foi que eu fiz? – se defendeu.

- Chamá-la de cabelo de fogo não ajuda em nada.

- Ah! – deu de ombros com desdém - Não tenho culpa de você não gostar dela.

E ela fica descontando em mim.

- Você é cruel Melissa. Sabe disso não é?

- Cruel, eu? – fez cara de inocente.

- E além do mais não é verdade que não gosto dela.

- Gosta mais de mim – afirmou com um sorriso traquinas que surgiu em seus

lábios.

- Você age como uma criança mimada quando esta comigo.

- Não tenho culpa,você me mimou, fiquei mal acostumada.

Ela tinha razão.

Nessa hora Tamala entrou pela porta.

- Tamala, onde você estava? – Melissa perguntou.

- Estava...

Antes de Tamala responder me Intrometi e respondi por ela.

- Estava dando um passeio pela ilha. – eu não queria que Melissa soubesse que

estava treinado Tamala, ou ela iria querer saber o porquê e eu não queria que ela

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suspeitasse que estava ocorrendo uma guerra lá fora ou ela ligaria uma coisa a outra.

Porque haveria uma guerra se o exercito de seu pai como ela acreditava tinha sido

dizimado? E segundo Cordomad, Jeziel e o general deviam estar em sua dimensão.

- Que bom que voltou – Melissa falou distraída sem perceber meu disfarce – é

que eu queria mesmo falar com você.

- Então fale – Tamala cooperou comigo deixando que Melissa entrasse em seu

assunto.

- Tem alguma forma de impedirmos Cordomad ou outra pessoa a ir até minha

dimensão? Estou muito preocupada em que ele vá atrás de Jeziel ou de minha família.

eu fico louca só de pensar no que Cordomad faria com eles.

Pergunta errada para a pessoa errada. Eu tinha a impressão que Tamala

conseguiria manter a boca fechada se ninguém tocasse no assunto, mas se ela tivesse

que responder algo, não daria conta de mentir.

Peguei Melissa pelos braços fazendo ela se virar para mim.

- Melissa eles estão bem, acredite em mim. Você não tem com o que se

preocupar.

- Eu sempre acredito em você Aragorn, é que só quero uma garantia de que

realmente estando longe será melhor para eles. Não acredito que Cordomad vá desistir

do que quer só porque você conseguiu me libertar dele. Se ele não me encontrar é bem

capaz que vá pegar um dos meus para me chantagear.

- O que você precisa fazer é ficar longe de Cordomad. Com certeza ele vai vir

atrás de você, mas eu jamais deixarei que ele te encontre novamente. Os outros não tem

importância para ele, só você tem. Se ele for atrás de alguém será de você.

- Aragorn, sua ilha é segura, mas por quanto tempo? Mais cedo ou mais tarde

Erkas e Cordomad encontraram essa localização como encontrou o arraial e...

- Por isso estou planejando ir embora com você daqui – falei meus planos, pelo

menos a parte que ela aceitaria.

- Para onde?

- Para outra dimensão, longe de Andaluz, longe da sua. Cordomad poderá

procurar por todo o universo por você e jamais encontrara.

- Outra dimensão?

- Tamala me disse que há várias dimensões. Podemos ir para qualquer uma delas

e se alguém ir atrás de nós, antes que nos encontrem poderemos nos transportar para

outra – eu não estava falando especificamente de Cordomad. Mas ela não sabia.

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Melissa me olhou entristecida pensando que jamais veria seu Leo nem sua

família novamente.

Tamala me olhou como se eu fosse um monstro cometendo a maior atrocidade

contra a pessoa que eu amava. Ela tinha razão, eu mesmo estava me sentindo um

monstro digno do título de um Drevors. Talvez a transformação que eu sofri me

metamorfoseando em fumaça para libertar Melissa, também tenha libertado esse lado

egoísta e cínico que eu sempre lutei contra.

Melissa andou até o sofá sentando-se melancólica.

Tamala sentou-se ao lado dela passando o braço por sobre seu ombro para

ampará-la.

- Vai ficar tudo bem Melissa, no fim vai acabar tudo bem para todos nós. –

Consolou Tamala.

Melissa tombou a cabeça no ombro de Tamala e chorou.

- Tamala, eu já sinto tanta falta dele, do meu Leo, às vezes acho que meu

coração vai se arrebentar de tanta dor... de tanta saudade.

O choro sofrido de Melissa me perturbou. Tamala consolava Melissa e me

olhava como se quisesse me socar com seu punho delicado e fraco.

Eu nunca suportei ver Melissa chorando, e agora eu estava provocando aquele

choro, aquela dor. Desde que ela chegou aqui sabia que estava se esforçando para

sobreviver e não demonstrar a tristeza que estava sentindo, mas pensar que nunca mais

realmente iria ver Jeziel e que ela teria que fugir dele se quisesse que ele permanecesse

bem, destruiu a frágil fortaleza que ela tinha construído.

- Não sei se quero fugir a minha vida inteira para não ser morta por Cordomad.

Para que eu viveria... Para quem? Meu Leo é tudo em minha vida sem ele não tem por

que.

Me agachei diante dela erguendo seu rosto fazendo com que Melissa me olhasse.

- Por mim Melissa, viva por mim. – falei expressando a mesma angustia que

carregava suas palavras.

- Meu amigo, eu te amo tanto, mas... – ela voltou o rosto escondendo-o entre os

braços de Tamala.

A sua frase inacabada me falou mais que milhões de palavras. Eu havia perdido

de novo. Mesmo antes de tentar, novamente. Melissa jamais seria minha. Jamais

esqueceria Jeziel. E se eu insistisse na loucura dos meus pensamentos egoístas, iria fazer

ela sofrer talvez mais do que fosse capaz de suportar.

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Me ergui do chão e saí da casa rumo a praia. Me sentei nas areias e debaixo do

calor do sol que refletia um brilho prateado sobre as águas do mar não contive a dor que

assolou meu coração. A mesma dor que senti quando pensei que ela havia morrido, a

dor da perda. A dor que não tem paliativo ou remédio, a dor que me acompanhou desde

o dia em que ela renasceu para Jeziel até ontem quando imaginei debilmente que de

alguma forma ela seria minha. A dor voltou. Eu teria que conviver com ela e aceitar que

o coração e a vida de Melissa tinham um dono, e não era eu.

Horas depois Erzoul apareceu e sentou ao meu lado.

- Precisando de mim meu caro amigo? – falou gentil.

- Só se você tiver um remédio para acabar com a dor que estou sentindo

curandeiro – respondi depois de um longo suspiro.

- Sou capaz de curar qualquer ferida menos essa.

- E eu fui capaz de sobreviver a tantas feridas, não confio que vou sobreviver a

essa.

- Não creio que seu caso seja de morte. Apenas talvez deva mudar o tratamento.

Olhei para ele curioso.

- Ao invés de curar seu coração, que tal melhorarmos suas vistas?

- Ta falando do que agora?

- Que se você passar a ver algo a sua frente além de Melissa é possível que

encontre a cura para todos os seus males.

- Olhar além de Melissa?! – do que ele estava falando?

- Vai me dizer que você não percebeu nada em Tamala?

- Lá vem você de novo com seus conselhos amorosos... não se esqueça.... foi

ouvindo seus conselhos sobre Melissa que eu acabei aqui.

- Você não ouviu meu conselho. Ouviu seu coração. Meu conselho era para que

você voltasse com ele inteiro, o que você não fez, mas ele lhe disse que valia apena

arriscar. E você o seguiu.

- Hummm...

- Agora se realmente vai seguir um conselho meu, digo que deve deixar Melissa

seguir seu destino e você o seu se dando a oportunidade de viver e ser feliz novamente.

- Com Tamala?

- E porque não? Ela me parece muito interessada em tentar.

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Sorri sem humor.

- Ela quer é me enfeitiçar, isso sim.

- Porque diz isso?

- Quando a toco, há um poder... um dom, sei lá... que me envolve...

Erzoul deu uma gargalhada.

- O mesmo dom que você pensou que Melissa tinha?

- Não. Com Melissa era diferente. Ela me fascinou com seu jeito incomum e

misterioso. Depois percebi que não era dom era o jeito dela mesmo.

- E Tamala?

- Tamala é algo palpável, sinto nela uma energia tão forte quando esta perto de

mim, e quer me manter imantado a ela. É uma forma de feitiço como o de Raika, tenho

certeza.

- Isso não é feitiço.

- E o que é então sabichão?

- Atração.

- Bobagem.

- Eu nunca errei um diagnostico.

- Esse então será o primeiro.

Ele me ignorou e continuou sua análise.

- Alguma coisa dentro de você gosta muito de alguma coisa dentro dela. Como

um imã atraído ao outro pela sua força.

- Além de chato, e velho, agora esta ficando maluco... imã... Rah!

- Diga o que quiser. Posso até ser chato e estar ficando maluco, mas velho não.

Estou na flor da idade – encheu o peito erguendo os braços para expor seus músculos

decadentes.

Ele conseguiu me fazer rir mesmo com meu humor abalado.

- Uma flor centenária com certeza - ironizei.

- O que importa mesmo é que você não é indiferente a Tamala.

- Esquece isso Erzoul. Só existe Melissa para mim. Tamala vai somente me

ajudar a destruir aquela maldita esfera para que Melissa não precise voltar aquele

castelo. E vou ter o cuidado de me manter bem longe de seus feitiços de agora em

diante.

- Porque de agora em diante?

- Essa manhã, enquanto lhe treinava eu quase a beijei - confessei.

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Ele arregalou os olhos surpreso.

- Quase? E porque não a beijou?

- Melissa entrou em meu pensamento procurando por mim.

- Você acha que se Melissa não tivesse feito contato você teria beijado?

- Erzoul, eu não estava em mim. Me deixei envolver pelo que estava sentindo

com ela tão próximo e...

- Então você sentiu alguma coisa! – ele falou presunçoso.

- Ela me induziu a isso tenho certeza.

- A troco de que?

- Esperando que eu desistisse dos meus planos com Melissa.

- Quais planos?

Havia me esquecido que Erzoul não sabia o que eu tinha planejado.

- De fugir com Melissa para outra dimensão.

- Como é? Depois eu que sou o louco...

- Não venha me dar sermão agora. Eu precisava fazer alguma coisa.

- Ter juízo não seria mais conveniente?

- Erzoul...

- Não. Não tente escapar agora. Você iria arrastar Melissa para outra dimensão

sem saber o que os aguardava do outro lado só para mantê-la ao seu lado e a força?

- Não seria a força.

- Tudo bem, mas estaria mentindo a ela e escondendo a verdade. Você

conseguiria conviver com isso?

Baixei meus olhos para a areia sem ter a resposta. Até algum tempo atrás se me

perguntassem isso minha resposta seria sim “ eu conseguiria” mas após ver Melissa

sofrendo...

- Tenho muita consideração por você Aragorn, tenho a você como um filho

desde que cuidei de você quando te encontrei praticamente morto na estrada.

Acompanhei seu esforço durante anos para que a personalidade de Drevors que

impregnaram em você durante seu serviço como soldado da guarda do rei Cordomad

fosse mudada no homem decente e honesto que você se tornou. Não deixe que a velha

criatura que estava morta aí dentro ressuscite novamente. Você é um novo homem

Aragorn e tenho orgulho de você. Não decepcione as pessoas que acreditam em você.

Não decepcione aqueles que confiam... aqueles que te amam.

Ele se levantou e bateu afetuosamente em meu ombro.

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Não tive coragem de olhar para ele. Erzoul tinha razão.

O que eu estava fazendo? Lutei por anos para me livrar da influência maligna de

Cordomad, para me livrar do estigma de um homem sem sentimentos, sem apego a

ninguém, sem compaixão. Segundo Cordomad eu era seu melhor soldado porque quanto

mais sujo o serviço mais eu gostava de fazer. Eu era cruel, violento, não dava descanso

a minha espada. Treinava praticamente o dia inteiro quando não havia algum serviço a

fazer só para que meus inimigos não tivessem chance diante de mim quando me

enfrentasse. E nunca tiveram realmente. Eu sempre fui o melhor na espada o melhor na

lança o melhor nas flechas e na luta corporal. Não importavam a quantidade eu sempre

vencia. No dia em que Erzoul me encontrou quase morto, eles só conseguiram me

golpear porque me encontraram bêbado depois de uma noitada daquelas. Mesmo assim

matei quase todos. Os que sobraram não quiseram esperar para me ver partir com medo

que eu me levantasse do chão e os pegasse também.

Então Erzoul me levou para sua casa e cuidou de mim. Lariana foi parte

fundamental na minha recuperação. Sua atenção seu carinho sua dedicação me

ensinaram que havia uma outra forma de viver que não fosse empunhando uma espada.

Hoje ela esta rabugenta e mal humorada, e eu sei que parte da culpa é minha, mas ela

costumava ser uma pessoa bem divertida. Com a ajuda dela e de Erzoul pude ter uma

vida quase normal. Os Drevors haviam parado de procurar pelo desertor achando que eu

teria morrido, então durante anos estive na companhia deles. Somente quando percebi

que Lariana estava muito envolvida comigo e apesar de gostar muito dela não estava

preparado para nada que fosse tido como compromisso sério, resolvi partir e tentar viver

minha vida sozinho e construir algo para mim.

Por anos sonhei com a ilha marfim depois que um velho para o qual eu já tinha

feito muitos trabalhos de entrega atravessando quase toda Andaluz com seus objetos de

escultura me trouxe até aqui para que eu me interessasse e a comprasse dele. Ele queria

ir embora depois de ter vivido uma vida inteira com a mulher de sua vida até que pela

idade ela acabou partindo antes dele.

- Não consigo mais ficar aqui meu jovem, cada canto dessa ilha me lembra ela –

disse o homem com voz triste e embargada. – vendo para você se quiser, sei que será

um lugar tranqüilo para que você passe toda sua vida. E se tiver um grande amor

viverão felizes aqui assim como eu fui feliz com minha amada.

- Quanto tempo eu tenho até conseguir a quantia que deseja por ela? –

perguntei interessado.

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- Que seja o mais rápido que você puder. Hoje mesmo me mudo daqui. Vou ficar

na casa de alguns parentes. Estou velho demais para ficar aqui sozinho. Quando puder

me procure.

Fiz todo tipo de serviço para conseguir condições para comprá-la de seu antigo

dono. E quando finalmente me faltava bem pouco para que meu sonho fosse realizado

Melissa entrou em minha vida.

Logo quando eu pensei que finalmente teria paz a garota mais complicada...

mais perfeitamente complicada chegou botando meu mundo de cabeça para baixo. E

agora eu teria que colocar tudo em ordem novamente com ou sem ela.

Quando anoiteceu, eu estava sentado no mesmo lugar ainda sem rumo para me

levantar e andar em qualquer direção que fosse sem a sensação de que iria me perder.

Me deitei então na areia com os braços cruzados sob a cabeça e mirei as estrelas.

Eu não queria cantar. Na verdade eu queria que de alguma forma as estrelas essa noite

cantassem para mim. Queria ouvir algo que me desse uma direção, que me falasse a

coisa certa a fazer, e que fosse algo que eu não me arrependesse depois.

Melissa se aproximou de vagar se deitando ao meu lado. Sem falar nada cruzou

os braços sob sua cabeça e também passou a admirar as estrelas. Não me preocupei em

ver seus pensamentos ela também não se preocupou em ver os meus

Por muito tempo em silêncio ficamos ouvindo somente o barulho suave das

ondas quebrando na praia.

O silencio foi quebrado com um suspiro profundo de Melissa.

- Acho que hoje você é quem precisa de ajuda para descansar. Eu não tenho o

dom, mas posso tentar – ela falou.

Virou seu rosto para me olhar e nossos olhos acabaram se encontrando. Com um

sorriso suave nos lábios ela virou novamente seus olhos para as estrelas. E com a voz

tão doce a ponto de fazer meu coração parar, começou a cantar minha música.

Em nenhum momento enquanto ela cantava consegui tirar meus olhos de seu

rosto. Eu queria gritar, eu queria chorar, eu queria que todas aquelas estrelas caíssem

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sobre mim me enterrando sob meu próprio desalento. Eu queria desesperadamente que

alguém me dissesse como não morrer de amor por alguém que se quer tanto e não se

pode ter. E que me dissesse também porque seria errado eu beijá-la agora e afogar toda

essa angustia que me sufocava.

Uma lágrima escorreu pelo canto de seu olho quando ela o fechou. E eu sabia

que não era minha. Ela cantava minha música que era mais dela do que já foi minha

algum dia e pensava em...

Como eu poderia suportar? Como eu poderia ver a cada dia suas lágrimas, seu

sofrimento por ele... Ela o ama. O que posso fazer contra isso?

E eu a amo tanto... conseguiria ser feliz ao lado dela se ela não for feliz ao meu

lado?

Eu poderia confiar que algum dia tudo mudaria e finalmente eu teria o espaço no

coração dela que eu sempre desejei? O espaço que hoje é de Jeziel.

Será que o tempo curaria sua dor... ou a minha?

Quando ela acabou a música estendi minha mão e segurei a dela.

Seus dedos entrelaçaram nos meus.

- Me desculpe - ela falou emotiva.

- Pelo que?

- Por ter perdido o controle hoje. Eu sei que você esta fazendo o melhor pra

mim, não queria te aborrecer nem te deixar preocupado. Só que é difícil pra mim.

- Acha que algum dia poderia ficar mais fácil? – perguntei querendo ainda ter

alguma esperança que o coração dela mudasse.

- Nunca foi. Mesmo quando eu fazia força.

Respirei fundo.

- Mas talvez não tenha me esforçado realmente – ela falou tentando se

convencer.

- Eu penso que você fez o que pode.

- Só que agora terei que fazer melhor; não é? Ou você vai acabar perdendo a

paciência comigo se eu ficar choramingando pelos cantos.

- Eu jamais perderia minha paciência com você.

- Ah tá, não pense que eu esqueci do banho gelado que me fez tomar no mar

quando eu pensei que Jeziel estava morto.

- Eu não tinha perdido a paciência. Só queria você de volta.

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- Eu vou estar sempre te dando trabalho Aragorn. Tem certeza que quer, ainda

assim, me fazer companhia por outras dimensões? Eu posso ir sozinha.

- E perder toda a diversão?

Um sorriso triste surgiu em seu rosto.

Me sentei e puxei Melissa a se sentar a minha frente.

- Melissa você sabe o quanto eu te amo?

- Eu sei que me ama.

- Não... eu pergunto se você tem consciência... se tem a medida do peso do amor

que sinto por você?

Ela respirou fundo.

- Creio que seja tão forte quanto o amor que tenho por Jeziel.

Fiquei satisfeito por ela reconhecer meu amor. Eu tinha ao menos isso.

- Então me diga, como que com um amor tão forte, tão grande dentro de um só

coração se é capaz de viver sem a pessoa amada?

- Viver talvez não seja a palavra certa. Sobreviver talvez combinasse melhor.

- Como pensa que vai então sobreviver andando pelos quatro cantos do universo

longe de quem você ama? Conseguiria algum dia ser realmente feliz?

- Porque essa pergunta agora? – ela quis saber.

- Só me responda.

- Talvez nunca fosse realmente feliz, mas me sentiria feliz em saber que em

algum lugar desse universo ele estaria bem.

- Você sacrificaria sua própria felicidade para que ele estivesse seguro?

- Sacrificaria minha própria vida por ele.

- Sim, você já provou isso.

- E faria mais um milhão de vezes.

- Acredita mesmo no amor dele por você, mesmo depois de tudo que ele te fez

passar por Raika e tudo mais?

- O que passou, passou – afirmou determinada.

- Mas acredita em seu amor.

- É mais do que acreditar. Eu sinto o amor dele por mim a cada vez que ele

segura minha mão, que ele me olha, ou quando ele me abraça, ou que fica sentado

comigo durante horas sem dizer um só palavra. Ou quando esta longe e arruma uma

forma de entrar em contato comigo só para ouvir minha voz. Eu sinto que ele me ama

quando sorri ao me ver. Quando seus olhos brilham, ou quando sua voz sai rouca e

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suave quando sussurra meu nome ao meu ouvido, quando me envolve em seus braços.

Eu sinto que ele me ama mesmo quando não consigo entender porque alguém como ele

foi se interessar por alguém como eu.

Ela se calou com os olhos distantes e não quis conferir, mas com certeza estava

pensando em Jeziel.

- Pode me dizer mais uma coisa?

- Qualquer coisa.

- O que foi que você viu nele?

Ela sorriu, mas seus olhos estavam mareados.

- O que você viu em mim?

Eu sorri diante da situação. Eu queria saber responder a mim mesmo o porquê eu

a amava tanto. Não havia resposta. De todos os defeitos, de todas as qualidades, de

todas as manias, até a de roer unha quando estava ansiosa, de tudo que ela era em toda

sua plenitude, ela era tudo que eu queria pra mim.

- Esse seu brilho no olhar, O som da sua voz que parece música, esse seu jeito de

menina desprotegida, e ao mesmo tempo de uma mulher sensual e decidida, quando

você fica nervosa e cruza os braços emburrada quando não fazem o que você quer. As

birras que você dá, seu jeito ciumento e possessivo que me deixa louco, essa sua mania

de se meter em encrenca e me levar junto. – ela sorriu me tirando a concentração - Sua

forma de sorrir que parece iluminar tudo ao seu redor – falei mais suavemente.

- Não te incomoda eu ser ciumenta, birrenta, melindrosa, egoísta, possessiva e

viver me metendo em confusões para você me livrar delas?

- Não, essa é você, e eu te amo assim. E você não é só problemas. Você é doce,

carinhosa, dança bem, conta umas piadas horríveis, mas até que é divertida.

Ela deu um tapa em meu braço em protesto.

- Para, assim vou ficar traumatizada.

- Só quero que você me prometa uma coisa.

- O que?

- Só quero que você não esqueça desse amor que tenho por você. E que por

todos os dias da minha vida eu vou te amar, mesmo que o que eu faça possa parecer

loucura, só não esqueça que tudo que fizer será por te amar demais. Ainda que algum

dia não venha a te ver mais.

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- Você vai me deixar... vai me mandar para algum lugar sozinha? – falou aflita. –

quando eu falei que eu podia ir sozinha estava mentindo. Eu não vou a lugar nenhum

sem você. – falou angustiada.

- Não Melissa, eu jamais te abandonaria.

- Então?

- Você sempre confiou em mim não foi?

- Sim foi, mas...

- Nada de mais – interrompi – só confie como sempre confiou.

Me levantei e a puxei pela mão para que ela se colocasse de pé comigo e eu

pudesse abraçá-la.

Ela me abraçou no seu jeito possessivo de sempre.

- Por favor Aragorn não se despeça de mim, eu preciso de você.

- Não estou me despedindo, não ainda.

- Aragorn, eu preciso de vo...

- Shhhh! – coloquei um dedo em seus lábios para silenciá-la. – Eu amo você.

Seu olhos me fitavam aflitos. Dei-lhe um beijo na testa e a puxei pela mão até a

casa.

Os passos de Melissa eram lentos e pesados. Ela estava com medo do que eu não

tinha dito que faria. Ela estava confusa e ansiosa.

Eu tinha tomado minha decisão do que seria o certo a fazer depois de nossa

conversa. O que eu queria era que ela fosse feliz, ainda que eu não estivesse incluído

nesse processo.

Quando entramos na casa, Erzoul, Lariana e Tamala aguardavam por nós.

- Tamala esta na hora – Falei determinado.

Ela se levantou decidida.

- Estou pronta.

- Erzoul, Lariana vou precisar mais do que nunca de vocês.

Os dois também se levantaram.

- Vamos com você - Lariana respondeu.

- Aonde nós vamos? – Melissa perguntou desconfiada.

Me virei para ela acariciando seu rosto.

- Quero que você fique aqui e descanse. Volto assim que puder.

- Volta de onde?

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- Melhor, não descanse, tome um banho, lave esse seu cabelo cheio de areia e

ainda tem algumas roupas suas em meu quarto. Fique mais linda se isso for possível.

Mas tarde venho te buscar para um festa.

- Festa? Você só pode estar brincando.

- Mas não estou.

Ela me olhou cética e sem humor. Pelo jeito a última coisa que ela faria seria ir a

uma festa hoje. E eu também.

Entrei em meu quarto deixando Melissa de pé me observando enquanto me via

pegar os braceletes que ela me deu, minha antiga capa de Drevors, e minha espada.

Quando saí do quarto ela me olhou espantada.

- Você vai lutar! Aragorn por favor não faça isso! – segurou firme em meu braço

– não vou agüentar se perder você também.

- Mel... – olhei para ela com ternura. Era tão difícil não acreditar que eu teria

uma mínima chance quando ela agia assim - Seu Leo te chama assim não é? Meu Mel. E

segundo vi na mente dele, o Mel que ele fala tem um significado bem maior que

simplesmente abreviar seu nome. Em sua dimensão o mel é algo doce e precioso.

- Aragorn... – a voz dela estava aflita.

- Você ficara bem aqui, e eu prometo que volto pra te buscar.

- Promete que não vai morrer nem nada disso?

Eu sorri diante do pedido absurdo.

- Nem nada disso.

Ela não pareceu convencida, mas me soltou.

Andei para fora da casa seguido pelos outros três e quando cheguei na areia olhei

para trás vendo Melissa nas escadas da varanda.

Meu coração gritou batendo desesperado dizendo: Volta seu tolo! Ela esta ali,

totalmente dependente de você. Ela pode ser sua, ela ira a qualquer lugar que queira

levá-la. Não desista, não perca essa última oportunidade! - Ignorei seu pedido e abri o

portal.

Erzoul passou com Lariana, em seguida Tamala. Eu fiquei por último

contemplando o rosto perfeito e angustiado de Melissa. E garanti a mim mesmo que

cumpriria a promessa de não morrer só para ver aquele rosto mais uma vez.

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Quando finalmente atravessei o portal, estávamos no arraial do general Euri.

Passamos pelas tropas antes de chegar a casa o general onde Biel, Vogue o

general e alguns homens do conselho se reuniam. Assim que cumprimentei a todos

Jeziel saiu do quarto que era de Melissa.

- Ela esta bem – disse a ele diante do olhar angustiado que vi.

Jeziel parecia extremamente cansado e abatido, as olheiras revelavam que ele

não dormiu nenhum segundo desde que parti e pela palidez percebi que ele não havia

comido também.

Mesmo com o semblante de Jeziel caído Lariana não se conteve deixando seu

queixo cair em admiração.

- Tudo bem se você quiser ficar com Melissa. Acho que posso fazer uma troca

com ela afinal. – disse Lariana baixinho pra mim conseguindo me irritar.

O general se aproximou de Tamala e lhe deu um abraço afetuoso.

- Minha menina, como esta crescida desde a última vez que eu te vi.

- Oi pai – Tamala falou carinhosamente se aninhando mais nos braços dele.

Tamala o chamava de pai. Aquilo me surpreendeu. E não só a mim, mas a todos

que estavam na sala.

- Eu vivi com Tamala alguns anos antes de ir para a dimensão de Melissa, ela

acabou aprendendo a me chamar de pai. – explicou com um sorriso.

Erzoul limpou a garganta me lembrando de que ele ainda não tinha sido

apresentado.

- Jeziel, este é Erzoul o curandeiro e esta e sua filha Lariana.

- É um prazer conhecê-los – Jeziel falou educadamente.

- O prazer é meu Senhor de estar diante do verdadeiro herdeiro do trono de

Andaluz. – Erzoul o reverenciou.

- E que herdeiro – Lariana soltou sem pensar.

Erzoul deu uma discreta cotovelada em Lariana e Jeziel sorriu para ela um

sorriso educado ainda que sem muita vontade, mesmo assim os olhos e a boca de

Lariana se abriram extasiados.

Tamala se apresentou a Jeziel fazendo uma leve reverência.

- Meu Senhor.

- É bom que esteja finalmente entre nós Tamala. – Jeziel falou.

- Concordo meu senhor e saiba que estou a sua inteira disposição.

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- Obrigado Tamala seus serviços são muito bem vindos.

- E minha irmã? – perguntou Biel.

- Melissa ainda não sabe de nada e pensa que estão todos seguros em sua

dimensão. Preferi não contar ainda. Ela esta muito ansiosa e ainda muito cansada tanto

emocional quanto fisicamente. Não era saudável para ela ter mais preocupações.

Jeziel me olhou preocupado. Com certeza ele daria a vida para estar ao lado ela

agora. Eu também.

- Podem me dar licença por favor – ele disse enquanto todos o reverenciavam e

entrou novamente para o quarto de Melissa.

Biel se levantou jogando o braço pesado por cima do meu ombro.

- Ele esta muito mal. Não come, não dorme, saiu e voltou com todas as tropas

desde que você voltou para a ilha. Ele não parou um minuto. Eu e meu pai já paramos

para descansar, ele não, e se recusa toda vez que falamos para ele ficar.

- Será que ele não vê que vai acabar morrendo lutando cansado assim?

- Diz isso para ele. O problema é que ele não faz questão se vive ou se morre.

- Como é?

- Ele não disse, mas eu captei um pensamento dele. Jeziel não acredita que

derrotara Cordomad, já que ele não permitira que Melissa entre na briga para destruir a

esfera. Se dependesse dele sei que a guerra já teria acabado e ele se entregaria a

Cordomad para que ele deixasse Melissa em paz e em segurança ao seu lado.

- Comigo? Ele se entregaria e deixaria Melissa comigo?!

- Ele sabe que só você pode cuidar dela.

Até então não tinha enxergado o amor dele por ela dessa forma. Ele assim como

ela seria capaz de sacrificar sua vida para que Melissa estivesse bem.

Eu não sabia o que pensar. Seria perfeito Jeziel se entregar e sair do meu

caminho para sempre. Um sonho realizado, mas... e Melissa?

- Ele não precisa se matar, temos outra maneira de chegar até a esfera, por isso

Tamala esta aqui.

- Você acha que ela pode conseguir? – Biel me perguntou subitamente animado.

- Nós vamos tentar, por isso viemos até aqui. Precisamos da cobertura de vocês.

- Estamos prontos a hora que você quiser.

- Pode não dar certo - disse o general pessimista.

- Estou disposta a tentar – disse Tamala.

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- Bom eu penso que... – Erzoul começou a falar com o general e eu me desliguei

da conversa e andei até o quarto de Melissa. Abri a porta sem bater e encontrei Jeziel de

pé olhando através da janela.

Quando fechei a porta atrás de mim ele me olhou surpreso.

- Desculpe, eu não te ouvi bater.

- Eu não bati.

- O que quer? – falou sem muito animo.

- Saber por que quer desistir de Melissa?

Ele respirou fundo. Seus ombros despencaram um pouco e seu desconsolo me

desconcertou.

- Não estou desistindo dela, só que não posso dar a ela o mundo que lhe prometi.

De conto de fadas. Só vou permitir que ela viva segura e tenha a chance de ser feliz e

realizar seus sonhos.

- Então é isso... as coisas ficam difíceis e você cai fora?

Ele riu sem humor e me encarou irritado.

- Você devia estar contente. Vai poder cuidar dela finalmente. Você sempre

jogou na minha cara que era mais capaz que eu de fazer isso.

- E estou certo. Realmente sou bem mais capaz de cuidar de Melissa e de mantê-

la viva e em segurança. Mas isso não basta para ela, e se não basta para ela não basta

para mim. Ela merece ser feliz Jeziel, e só será feliz ao seu lado.

Ele me olhou admirado e se tivesse um espelho a minha frente eu teria me

olhado da mesma maneira. Era impossível acreditar que eu teria dito aquilo se outra

pessoa me contasse. Mas era eu ali, e as palavras que saiam da minha boca apoiavam

meu rival a levar a mulher que amo para longe de mim.

- Me diga o que te fez mudar de opinião a meu respeito? – ele me perguntou

intrigado.

- Minha opinião à seu respeito não mudou. Pra mim você ainda é um idiota

completo, mas Melissa te ama, o que eu posso fazer? E não agüento mais vê-la

chorando.

- Ela estava chorando?! – ele perguntou angustiado.

- Acho que era só manha.

Ele respirou um pouco aliviado.

- Ela é manhosa, mesmo assim não gosto de vê-la chorar.

- Ela é muito manhosa mesmo – concordei.

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- E birrenta também. Quando quer uma coisa chora ou cantarola até conseguir. –

ele falou parecendo mergulhar em lembranças.

Eu sorri.

- Eu sei disso. E quando ela cruza os braços e fecha a cara emburrada.

Nós dois rimos.

- Teve uma vez que ela quase me deixou louco quando... – ele de repente

percebeu que estava falando da mulher que amava com seu concorrente como se fosse

seu grande amigo.

Ele baixou os olhos balançando a cabeça num sorriso saudoso.

- Melissa é...

- Você a ama – afirmei o que estava diante de meus olhos.

- Com tudo que há em mim – ele falou.

- Então a faça feliz, porque isso eu não consigo.

- Agora é você que esta desistindo?

- Digamos que eu sei quando perco um luta.

- Mesmo sem tentar?

- Não pense que eu não pensei em jamais voltar aqui.

- Era o que eu esperava de você. Na verdade me espantei quando ouvi sua voz na

sala.

- Eu ia fugir com Melissa. – confessei.

- Acho que esperava isso também.

- Não esta com raiva?

- Se eu estivesse no seu lugar faria o mesmo.

- Mas eu não fui – falei sem conseguir entender a mim mesmo.

- Nesse caso você foi bem mais nobre. Eu teria levado ela comigo para o lugar

mais distante do universo. Amarrada se fosse o caso.

Eu sorri.

- Não acredito nisso.

- Pode acreditar. – ele falou sério – se houvesse mesmo uma forma de que em

algum lugar do universo eu pudesse viver em paz com ela não pensaria duas vezes.

- Se eu tivesse ido com ela e você descobrisse, o que faria?

- Iria manter Cordomad aqui e bem ocupado para que ele não tivesse tempo de

sequer pensar em ir atrás dela.

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Eu sorri me sentindo um idiota por não ter levado meu plano adiante. Ele sorriu

comigo, ou de mim.

- Não há recompensa em ser nobre não é? – ele falou humorado.

- Eu já devia ter aprendido isso – resmunguei – agora é tarde.

- Aragorn, nunca é tarde para se fazer o que é certo – ele falou me dando uma

segunda oportunidade, ele estava mesmo disposto em deixar Melissa comigo e ocupar

Cordomad por uma eternidade se fosse necessário para que ela estivesse a salvo. Sua

mente aberta agora a mim me afirmava isso.

E pela primeira vez me senti um intruso entre os dois. Eles se amavam a ponto

de abdicar da sua própria felicidade um pelo outro.

Engoli seco um nó em minha garganta reconhecendo que eu teria que fazer o

papel de melhor amigo de Melissa se quisesse vê-la feliz. Passar por cima de meus

sentimentos e ajudá-los.

- E o que é certo agora é fazer como Melissa diria, “Arrancar a cabeça de

Cordomad de seu pescoço” – falei num tom mais informal deixando claro a Jeziel que

não havia mais opções para mim.

- Melissa diria isso?! – me perguntou espantado.

Eu caí na gargalhada. Tinha coisas em Melissa que só eu conhecia.

- Vamos nos preparar, temos uma cabeça para arrancar – falei.

De volta a sala agora na companhia de Jeziel que demonstrava um pouco mais

de ânimo, preparamos a estratégia.

- Lariana, eu não quero que você se arrisque no castelo. – falei pousando a mão

sobre seu ombro.

- Mas eu consigo, se Tamala sonsa desse jeito vai, porque eu não posso ir?

- Quero que volte para ilha e cuide de Melissa até eu voltar.

- Você não esta falando sério?! – falou ultrajada.

- Estou. Por favor faça isso por mim.

- Pensei que poderia lutar ao seu lado.

- Você não é tão boa com a espada. Eu acabaria tendo mais trabalho com você.

- Ela também não é - Lariana apontou de mau humor para Tamala.

- Mas ela pode atravessar paredes coisa que você não pode.

Lariana bufou irritada.

- Por favor.

- E meu pai?

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- Ele vai ficar por aqui ajudando com os feridos.

- Eu não posso ficar aqui com ele afinal já estou bem adiantada como curandeira

– ela queria de toda maneira escapar de ficar com Melissa.

- Preciso de você na ilha – falei usando de charme eu sabia que ela não me

negaria nada.

- Ta bem eu vou – aceitou a contra gosto.

Dei-lhe um beijo no rosto e ela revirou os olhos irritada.

- E me faça mais um favor? Mantenha essa boquinha fechada.

Depois que Lariana saiu para atravessar o portal de volta a ilha, nos preparamos

então para novamente invadir o castelo.

Tamala estava com medo. Eu podia ver isso em seus olhos, mas ela estava

determinada a ajudar.

Quando fomos nos unir a tropa que iria conosco, percebi que a respiração de

Tamala estava pesada.

- Esta pronta?

- Não, mas vou assim mesmo.

- O que esta te assustando?

- Eu passei meses trancafiada naquele castelo sofrendo todo tipo de tortura.

Erkas é uma feiticeira maligna, não tem compaixão, seu sangue é tão frio quanto seu

olhar. E ela quer meus poderes a todo custo. Tenho medo que se ela me pegar

novamente não me deixe viva.

Suas mãos estavam tremendo, seu rosto assustado.

- Ei! Eu vou estar lá com você. Não vou deixar que nada te aconteça - confortei.

O portal já estava se abrindo diante de nós para que todos passássemos.

Tamala ainda não tinha se acalmado. Segurou minha mão buscando apoio, e eu

apertei sua mão na minha para dar confiança. A mesma sensação de cumplicidade me

tomou enquanto segurava sua mão e voltando-me para seu rosto pude perceber que ela

não podia estar manipulando minhas emoções se nem as dela ela controlava agora. Ela

estava nervosa e com muito medo, eu podia sentir o tremor através de sua mão. Não era

um dom nem magia. O que seria então?

Biel me olhou com um sorriso cúmplice e o general me olhou como ele

costumava me olhar quando eu estava com Melissa. Eles estavam tirando conclusões

precipitadas.

- Vamos – anunciou Jeziel quando o portal se abriu por completo.

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Fomos os primeiros a passar e atrás de nós a tropa.

Entramos exatamente dentro dos muros do castelo. Uma outra tropa que já

estava lá lutando pareceu satisfeita com o reforço. Alguns que estavam feridos foram

levados através do portal de volta ao arraial. Pensei que Erzoul iria ter uma noite bem

agitada.

Jeziel, Biel o general e os outros já partiram para a luta, eu tinha a missão de

entrar o Máximo possível com Tamala no castelo com a cobertura dos soldados até ela

conseguir de alguma forma identificar onde estava a esfera e entrar na sala.

- Dê cobertura a eles – Jeziel gritou para alguns soldados seus que foram a nossa

frente derrubando os Drevors que aparecia.

Jeziel e Biel também passaram a nossa frente. Biel tinha uma espada, mas

preferia usar seu punho. Jeziel também além de usar a espada dispunha de dons que

lançavam seus inimigos para longe e contra as paredes ou sobre uns e outros.

Quando conseguimos entrar até uma sala do castelo uma porta se abriu a nossa

frente e vários Drevors saíram gritando e correndo para nosso rumo. Tamala se agarrou

em meu braço, mas Jeziel foi mais rápido. Estendeu a mão para uma mesa que estava

deitada num canto e a fez voar caído sobre os Drevors.

Agora eu sabia por que ele estava tão cansado. Ele usava de seus dons para

conseguir ganhar vantagens contra seu inimigo. Eu não podia negar, ele era realmente

bom nisso. Mas eu sabia que devia exigir muito dele.

Depois de o exército rebelde entrar e exterminar os Drevors que estavam

debaixo da mesa que Jeziel jogou, avançamos para outra sala.

Outros Drevors nos aguardavam. Eles pareciam se multiplicar.

Arranquei minha espada da bainha e posicionei Tamala atrás de mim.

Lutei com alguns Drevors tendo o cuidado de não deixar Tamala descoberta, o

que não estava sendo fácil eles eram muitos, e usavam de seu dom incomum em virar

fumaça para escapar de nossos golpes. Mas eu sabia que devíamos estar perto de um

lugar importante, pois só os Drevors exclusivos da guarda real tem esse poder. Eles

deviam estar ali para guardar alguma coisa.

Quando um deles se materializou agarrando Tamala pelas costas ela gritou meu

nome.

Quando me virei e vi a espada dele no pescoço dela eu sabia que só tinha uma

opção. Me desmaterializar e alcançá-lo antes que a ferisse.

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E foi o que fiz, em um milésimo de segundo eu já havia me transformado e

arrancado ele de cima dela. Biel tomou meu lugar a protegê-la enquanto eu terminava

meu serviço com aquele Drevors.

- Depois você me ensina a virar fumaça? – perguntou Biel quando voltei para o

lado de Tamala.

- Você não vai querer isso – afirmei. Era uma das coisas que eu mais detestava.

Só em caso de extrema necessidade eu usava. Era algo terrível. Quando estamos nessa

forma não se dá conta do que se esta fazendo realmente. Se perde um pouco no que

você é. Todos começam com uma nuvem branca como a minha é hoje, mas com o

tempo e com a perda da própria identidade se perde tudo até sua alma, e passa a ser

escravo daquele que te comanda. Então sua nuvem fica negra como os olhos de Erkas e

sua vontade se perde para sempre. Sou muito grato de ter desertado antes de chegar a

esta estagio.

- Ah vou querer sim – Biel falou animado.

Tudo para ele era como um jogo. Ainda bem que ele era bem forte.

- Prossigam! – Nos ordenou Jeziel quando cravou a espada no último Drevors da

sala.

Pela porta que eles haviam vindo estava uma escada. Subimos as escadas até

uma certa altura quando Tamala tremeu me fazendo parar.

- O que foi?

- Eu acho que é aqui!

Ela tocou na parede olhando para os tijolos parecendo poder ver através deles.

- É aqui - ela falou.

- Ótimo – eu falei.

Mais Drevors apareceram. Alguns subindo e outros descendo a escada. Eles

iriam nos encurralar.

- Tamala, te daremos cobertura – garantiu Jeziel.

Biel, Jeziel e alguns soldados rebeldes se dividiram para que nenhum deles

chegassem até nós e desse tempo para Tamala conseguir entrar onde estava a esfera.

- Quando vocês entrarem iremos atrás de Cordomad – disse Jeziel – destruam a

esfera e nós destruiremos ele.

Eu acenei com a cabeça.

- Vamos Tamala agora é com você – pressionei.

Ela me olhou agoniada.

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- Você consegue. O mais difícil foi chegar até aqui.

Ela tentou algumas vezes até sua luz romper e ainda assim ela não conseguiu.

Quando sua luz retrocedeu ela se virou para mim.

- Eu não consigo - falou decepcionada - A magia é forte.

- Você consegue. Você é bem mais forte que essa magia de Erkas, a força que

ela tem não é dela, você sabe, é roubada. Você possui o dom, você possui a verdadeira

magia. Vamos Tamala você pode.

Ela segurou minha mão e a outra colocou sobre a parede.

- Você acredita em mim? – me perguntou buscando confiança para si mesma.

- Eu acredito em você – afirmei dando apoio – ou não teria te trago aqui.

Enquanto eu e Tamala conversávamos a batalha ao nosso redor estava travada.

Alguns dos soldados rebeldes estavam caídos ao chão. Jeziel usava seu poder para

repelir os que tentavam se aproximar de nós e Biel e Vogue não davam descanso as suas

espadas.

- Vamos Tamala não temos muito tempo – pressionei novamente.

Ela apertou mais minha mão fechou os olhos se desligando do que acontecia ao

nosso redor. Uma luz incandescente branca e ofuscante nos tomou por completo e de

repente sem que eu percebesse como, tínhamos atravessado a parede e entrado na sala

das almas.

- Você conseguiu! – parabenizei assim que vi a esfera flutuando sobre um

pedestal de ouro.

Ela desequilibrou-se enfraquecida e a apoiei recostada em meu corpo.

- Tamala, agora não é hora de desmaiar. Eu preciso de você. A esfera esta ali

temos que destruí-la.

Mas ela estava muito fraca. Não parecia estar me ouvindo.

- Tamala...

Atravessar a parede exigiu muito dela. E se ficássemos ali muito tempo

acabaríamos sendo vítimas de Erkas.

Sabendo que ela não conseguiria se recuperar sozinha, abracei seu corpo e rompi

minha luz para envolvê-la. Aos poucos ela foi se fortalecendo até conseguir ficar de pé

sozinha.

- Que bom que esta de volta – falei – Será que podemos destruir a esfera agora?

- Ela não pode ser destruída aqui dentro. É magia pura, temos que levá-la para

fora dessa fortaleza.

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- Então vamos levá-la – andei até a esfera e quando ameacei tocá-la uma força

saiu dela me lançando a metros até bater na parede.

- Tamala correu até mim.

- Você esta bem? – perguntou aflita.

Balbuciei alguma coisa inteligível meio zonzo.

- Eu te disse que não poderia tocá-la. É protegida por magia. O que estava

pensando?

- Acho que me esqueci dessa parte – consegui finalmente falar.

- Eu vou tentar – Tamala se levantou e andou apenas alguns passos quando uma

nuvem começou a se formar no meio da sala.

Era Erkas.

- Ora, vejam só o que temos aqui. O namoradinho de Melissa e Tamala... não

esperava te ver com vida novamente.

- Com certeza não veria se dependesse de você. – Tamala respondeu querendo

parecer confiante, mas eu sabia que ela estava com medo.

- Muito atrevimento seu entrar nessa sala. Eu sabia que você era tola, mas não

sabia o quanto. Me arrependo de não ter dado um fim em você quando tive chance. Mas

prometo não cometer esse erro de novo.

Diante da ameaça de Erkas a Tamala eu me levantei girando minha espada.

- Você não vai tocar nela – gritei.

- E quem vai me impedir, Você? – me olhou com desdém.

Erkas ergueu uma mão a minha direção e me fez flutuar rumo ao alto daquela

sala que parecia não ter fim.

Eu tentava me livrar, mas não conseguia. Tamala olhou para mim assustada.

Quando Erkas desviou sua mão de mim mirando em Tamala consegui me

metamorfosear e voando retirei Tamala do alvo de Erkas que soltou um urro violento e

destorcido.

Quando me materializei novamente a frente de Tamala me colocando como um

escudo entre ela, eu sabia que não teria como escapar da ira de Erkas.

- Vá embora Tamala atravesse e vá - ordenei.

- Não vou sem você – ela disse determinada.

Erkas não perdeu tempo e lançou algum de seus feitiços contra nós, mas não deu

para saber o que ele faria, pois Tamala o bloqueou usando também sua magia.

- Quero que você vá agora! – reforcei a ordem.

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- Não vou, você tem razão, os poderes dela são roubados não pertence a ela os

meus nasceram comigo. Eu sou mais forte eu posso derrotá-la.

Não acreditei no que eu ouvi. O que eu disse antes foi só para um incentivo e na

verdade nem acreditava mesmo que ela fosse mais forte que Erkas, eram só palavras de

apoio que não deviam ter nenhuma conseqüência. E o que eu diria agora, que menti?

Erkas tentava nos atingir e cada feitiço bloqueado por Tamala ela se mostrava

mais irada.

Os ataques se intensificaram e a confiança de Tamala ia diminuindo a media que

sua força também diminuía. Ela estava se cansando. Os poderes de Erkas podiam ser

roubados, mas ainda assim eram fortes Tamala ainda que mais dotada de poderes que

Erkas, não tinha a experiência em usá-los para luta, já Erkas...

Quando por um ataque Tamala não conseguiu se defender e caiu ao chão eu a

abracei tentando protegê-la e quando pensei que Erkas finalmente iria dar um fim em

nossas vidas, uma luz intensa surgiu do nada ofuscando nossas vistas inclusive a de

Erkas.

Eu esperava por tudo, até pelo meu fim, mas não esperava o que meus olhos

estavam vendo após o brilho ceder.

- Melissa?! – falei atônito.

- Então é aqui o salão de festas? – ela falou sendo irônica.

Ela tinha seguido meu conselho. Estava linda, arrumada para um baile usando o

mesmo vestido que ela tinha usado na festa da embarcação do capitão Dumbar.

Escondida atrás de Melissa estava Lariana toda desconfiada.

Meus dentes trincaram e meus olhos deviam estar lançando fogo contra Lariana.

- Ela me obrigou a contar onde você estava – se desculpou – só que eu não

contei mais nada – falou como se isso diminuísse a gravidade do que ela fez. Trazer

Melissa aqui? Lariana ia me pagar por isso.

- Mais nada, o que? Tem mais alguma coisa que eu preciso saber além de estar

acontecendo uma guerra em Andaluz? – Melissa perguntava olhando para mim.

Melissa não tinha visto Erkas, mas ela tinha visto Melissa e se preparava para

atacar.

- Cuidado Melissa! – gritei.

Lariana se abaixou e Melissa com as duas mãos fez um movimento que repeliu o

feitiço e Erkas a metros dela.

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Enquanto Erkas tentava se recuperar do golpe me levantei puxando Tamala pela

mão.

- Vamos sair daqui – ordenei. Com Melissa ali não me importava com mais

nada, tinha que tira-la do castelo e levá-la de volta a um lugar seguro.

- Melissa a esfera – Tamala falou – temos que tira-la daqui.

- Melissa olhou para a esfera e eu para Erkas que ainda estava meio tonta devido

o baque do impacto.

- Rápido Melissa e leve-os daqui. – Tamala se encaminhou para o lado de Erkas

com a mão estendida para ela liberando um poder que a mantinha grudada ao chão.

Erkas se contorcia e urrava de ódio, com o golpe de Melissa ela se enfraqueceu e

deu a vantagem para Tamala que iria aproveitar a oportunidade e descontar cada dia de

tortura que sofreu em suas mãos.

Melissa conseguiu chegar perto da esfera e sem tocar fez com que ela se

movesse até uma outra esfera invisível criada pelas mãos de Melissa.

- Agora Melissa vá – Tamala falou – corra para a sala do trono, lá você terá mais

força.

Quando a esfera que continha as almas se encaixou flutuante na esfera de

Melissa, um vento vindo de lugar nenhum encheu a sala. As paredes começaram a

tremer e o chão também.

Melissa então começou a brilhar em sua luz azul que se estendeu até envolver a

mim e Lariana.

- Traga Tamala – gritei para Melissa no meio do vendaval que estava ali dentro.

- Não! - Tamala gritou, e olhou para Erkas com os olhos cheios de fúria – agora

somos só nos duas. Disse Tamala ameaçadora a Erkas que a olhou assustada.

A luz de Melissa se intensificou até romper um portal que não precisava se

atravessar, ele nos levava através do espaço e através de tudo que era sólido e em

segundos estávamos do lado de fora da sala das almas.

Caímos por sorte numa sala que estava vazia, mas com sinais que havia tido uma

grande luta. Olhei para Melissa que não estava bem. Sua força estava se esgotando a

travessia por seu portal duas vezes num espaço de tempo tão curto e estar contendo

aquela esfera maligna devia estar tomando toda sua força.

- Vou te ajudar a chegar a sala do trono – tentei segura-la pela cintura, mas uma

força vinda da esfera me repeliu.

Melissa deu um grito de dor e caiu ao chão e a esfera também.

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- O que aconteceu? - perguntei levantando Melissa do chão já que ela tinha se

livrado da influência da esfera.

- A esfera vai repelir qualquer um que tentar tocar nela ou em mim enquanto

estiver com ela.

- Como sabe disso?

- Posso ouvir as vozes que vêem lá de dentro.

- Vozes?

- Sim, várias vozes. Não há só as almas de Cordomad Raika ou de Erkas. Vários

homens que fizeram pactos de imortalidade com Erkas tiveram suas almas aprisionadas

aqui dentro e são mantidos escravos a mercê da vontade deles.

- Que horror - Lariana expressou.

- Eles querem a liberdade e estão me dizendo o que fazer.

- E o que as vozes dizem?

- Que eu devo deixar que toda minha força seja drenada para dentro da esfera.

- Isso é loucura, você não pode permitir isso, vai acabar escrava como eles.

- Não há como destruir a esfera de fora para dentro. Só de dentro para fora.

- Eu não vou permitir que você faça isso.

- Eu preciso – ela se aproximou da esfera formando novamente sua bolha

invisível para carregar sem precisar tocar.

Antes que a esfera se encaixasse novamente abaixei seus braços e a esfera

quicou no chão pesada.

- Melissa como posso te proteger disso?

- Você não pode, não dessa vez. Você tem me guardado todo esse tempo meu

amigo, mas agora é comigo. A esfera só pode ser destruída assim, por esse poder que

esta em mim e eu preciso deixar que ele flua para dentro dessa esfera.

- Que poder é esse Melissa?

- Ainda não sei.

- E como vai poder usar se não sabe o que é?

- Quando estiver lá dentro - ela apontou para a esfera – eu saberei.

- E se for tarde de mais?

- Pelo menos terei tentado fazer o que nasci para fazer. Não é isso que todos

esperam de mim?

Ela recolheu novamente a esfera e andou determinada, com passos fracos, até a

sala do trono.

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Chegando lá os cristais de cada objeto daquele lugar reconheceram Melissa e

reluziram. Ela andou até o meio da sala rumo aos tronos.

Raika de repente surgiu de trás de um deles.

- Você não achou que seria assim tão fácil, achou?!

A coroa que era de Melissa estava sobre a cabeça de Raika.

Na velocidade da luz Raika se moveu até Melissa dando um tapa com as costas

da mão na esfera lançando-a longe e de súbito avançou contra Melissa.

Corri para defendê-la, mas um nuvem espessa de Drevors encheu toda a sala.

Desembainhei minha espada e parti para luta assim que eles se materializaram. Melissa

também pegou a sua que estava em suas costas e atacou Raika.

Eu lutava com os Drevors e meus olhos estavam em Melissa que contra

golpeava os ataques da espada de Raika. Elas guerreavam entre si com golpes e poderes

enquanto eu ficava por conta dos Drevors. Lariana deu um jeito de sair de mansinho da

sala, até achei inteligente da parte dela. Ela não sabe lutar, nem mesmo trouxe uma

espada, melhor que ficasse longe.

Percebendo que eu teria que primeiro eliminar cada Drevors para depois ajudar

Melissa, me empenhei mais. Já que eu não tinha dons para fazer ninguém voar até as

paredes teria que me virar com os que eu tinha. Os braceletes me ajudavam com a

espada e me metamorfosear me dava agilidade e o elemento surpresa.

A luta estava travada, e ao som agudo das espadas que ecoava pela sala do trono

fazia com que ela parecesse ainda pior. Mas ainda assim o número de Drevors estava

diminuindo.

Depois que derrotei o último, me voltei para Melissa e Raika que ainda travavam

sua luta. Corri até elas sabendo que Melissa precisaria de minha ajuda já que eu podia

afirmar que mesmo que tivesse chance e muita raiva Melissa não teria coragem de

cravar a espada em Raika por mais que ela merecesse. Eu por outro lado iria adorar

fazer isso.

Antes que as alcançasse Melissa num golpe conseguiu jogar Raika ao chão.

Fiquei feliz por ela ter aprendido bem os golpes que lhe ensinei.

Com a espada apontando para o pescoço de Raika, ela arrancou a coroa da

cabeça dela colocando sobre a sua.

- Isso me pertence – Melissa falou ofegante e irada.

Pegou a mão de Raika e arrancou a aliança de seu dedo.

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- Minha aliança também. Nunca mais se atreva a pegar nada do que é meu. Nem

minha coroa, nem minha aliança, nem meu namorado.

Com o pé Melissa terminou de empurrar Raika ao chão se sentindo vitoriosa.

Mas ela cometeu um erro, deu as costas para sua inimiga que de prontidão lhe lançou

um golpe com seu poder e Melissa voou caindo ao pé do trono. Raika se levantou e iria

aproveitar o momento de fraqueza de Melissa, mas eu interferi me colocando de frente a

ela.

Quando Raika me viu sorriu de uma forma totalmente errada para aquele

momento. Preocupado em proteger Melissa, estava distraído o suficiente para não estar

preparado para aquele sorriso nem para seu olhar. Seu dom sobre mim fez meus

pensamentos vacilarem.

- Aragorn, você me ama, sempre me amou... e eu também te amo. Quero você,

quero ser sua... mas Melissa sempre atrapalhou, ela esta em nosso caminho. Acabe com

ela para podermos ficar juntos, para podermos ser felizes, para nos amarmos...

As palavras de Raika em minha mente eram pior que uma ordem, elas queriam

se tornar uma verdade absoluta pra mim. Sacudi minha cabeça tentando clarear as

idéias, mas ela continuava e andava para mais perto de mim.

- Aragorn meu amor... meus olhos, meus lábios são teus, estou com saudades de

você... sei que me deseja como eu te desejo. Porque resistir a esse amor?

Quando ela se aproximou eu não tive reação, eu queria, mas não conseguia. Sua

mão acariciou meu rosto desenhando meus lábios então eu perdi totalmente o juízo.

Larguei a espada e a peguei pelos braços possessivamente. Meu corpo todo reagia a

favor de Raika.

- Você me quer? – sua voz melodiosa em minha mente me enlouquecia.

Olhei para ela como uma predador sonda sua presa.

- Então faça o que te peço.

Seus lábios se aproximaram dos meus e mesmo sem tocar seus lábios eu estava

totalmente seduzido.

- Mate-a, – ela sussurrou a centímetros de minha boca – mate-a e eu serei sua.

Não tinha mais o que fazer. Diante de mim só Raika. Enquanto ela sorria para

mim de uma forma encantadora, peguei novamente minha espada e me dirigi

determinado rumo àquela garota que estava tentando se levantar junto ao trono.

- Serei sua... toda sua...

A voz doce de Raika em minha mente mantinha meu foco no que eu devia fazer.

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Matar aquela que estava me impedindo de ter o objeto de meu desejo em meus

braços.

- Eu te amo Aragorn, sou sua, e você me ama e me quer. Mate-a, ela esta entre

nós.

A garota me olhou assustada quando me viu girando minha espada me

preparando para dar-lhe um golpe certeiro.

- Aragorn... – ela me chamou.

Eu reconheci a voz, mas não me lembrava de onde.

- Vá meu amor acabe com ela - A voz de Raika era mais penetrante a cada

momento.

Ergui minha espada e lancei rumo ao peito da garota.

Ela rolou no chão escapando do meu primeiro golpe pegou sua espada e

levantou se posicionando defensivamente.

- Não a deixe fugir! – Raika falou autoritária.

Parti para cima dela que se defendeu muito bem de outros golpes. Ela era boa

com a espada.

- Aragorn sou eu, Melissa. Raika esta manipulando sua mente, lute contra isso.

Voltei meu olhar para Raika que sorria angelicalmente. Aquela garota só podia

estar mentindo. Quem pensaria que alguém tão linda e tão amável como Raika faria

algo assim?

Parti novamente com tudo para cima dela que mesmo cansada se defendia muito

bem, mas o que me deixava intrigado era que ela não me atacava, só se defendia.

Depois de um curto período de luta consegui desarmá-la.

Ela parou ofegante diante de mim olhando em meus olhos, mas não era medo

que eu via neles. Era... era... amor.

Preparei mesmo assim minha espada. Seria um só golpe que lhe atravessaria o

corpo sem lhe dar chance para um possível recuperação.

- Eu nunca vou esquecer, como prometi. Você é meu melhor amigo. Adeus

Aragorn. - A voz dela ecoou em minha mente.

Uma lágrima correu por seu rosto e de uma forma inexplicável minha mão não

conseguia mover a espada.

- Mate-a agora! – Raika gritou irritada.

E pela primeira vez a voz dela soou nauseante.

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- Meu amor... – Raika tentou mais uma vez me seduzir. A voz dela na minha

mente dessa vez, além de me enjoar rompeu a hipnose.

Me virei num rompante e lancei a espada contra ela que lhe atravessou o corpo e

ela caiu.

- Eu não sou, nunca fui e jamais serei seu amor sua bruxa – falei para Raika

desmaiada.

- Aragorn... Melissa correu e me abraçou.

- Me desculpe, eu estava...

- Eu sei. – ela me interrompeu - O importante é que você voltou para mim.

- Me desculpe eu quase cometi uma loucura. Minha natureza Drevors me deixou

mais vulnerável ao dom de Raika. Por isso eu não gosto de me metamorfosear. E o pior

é que sei que se tivesse te ferido Raika ia me deixar vivo para que eu me lembrasse

todos os dia que tinha tirado sua vida.

- Nada aconteceu.

- Graças a você!

- A mim? – falou confusa.

- Você e essa mania de ser chorona.

Ela sorriu sem entender.

- Eu já te disse que não suporto ver você chorando? Mexe com tudo dentro de

mim. Desperta a parte mais protetora em mim. Quando vi a lágrima descer pelo seu

rosto. Eu despertei.

Melissa ainda estava em meus braços quando Raika se levantou se recuperando

do golpe da espada e retirando ela lentamente de seu corpo.

- Vocês não podem me matar.

Ela ainda parecia um pouco fraca.

Melissa marchou irada para o lado dela.

- Não posso te matar, mas posso arrastar você com esse seu cabelinho de milho

até te jogar pela janela.

Melissa enroscou a mão nos longos cabelos loiros de Raika e a arrastou até a

janela.

- Espere Melissa. Tenho uma idéia bem melhor – Enfiei a mão no bolso de

dentro de minha camisa e retirei a pedra do portal da montanha Mayata.

Lancei a pedra no chão que se espatifou e se dissolveu abrindo um portal para

um mundo totalmente desconhecido.

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Melissa veio arrastando Raika que tentava protestar, mas não conseguia se livrar

das mãos dela enroscadas em seus cabelos.

- Eu te falei para você nunca mais pegar nada do que me pertence, isso inclui

também o meu amigo. Espero que depois dessa você aprenda, maninha.

Melissa colocou Raika de pé e a empurrou portal a dentro, e enquanto o portal se

fechava novamente ainda deu para ouvir um grito de derrota e pavor que vinha através

do portal.

Peguei a pedra no chão e com minha luz na palma da mão aqueci a pedra para

destruí-la até virar pó. Assoprei pela janela o que sobrou em minha mão.

- Essa não vai te incomodar mais – afirmei.

- É, mas temos que dar um jeito em mais dois.

Ela foi andando para o lado onde a esfera havia rolado.

- Você tem certeza disso? – perguntei ainda preocupado. Essa história de

Melissa ser drenada para dentro da esfera não estava me agradando.

- Só assim terei certeza de que Jeziel e minha família ficarão bem.

Era a hora de eu falar a verdade.

- Eu preciso te contar uma coisa antes. Cordomad não mandou seu pai e Jeziel

para sua dimensão.

Ela me olhou assombrada.

- Ele os matou?!

As pernas dela perderam as forças e ela se apoiou na parede para não cair.

- Não Melissa eles estão vivos. Cordomad em momento algum chegou perto do

arraial. Ele mentiu para você para que se casasse com ele e lhe desse o poder da coroa.

aí sim ele conseguiria chegar até lá.

- Eles estão vivos?! – ela falou num murmúrio tentando recobrar as forças – e

onde eles estão?

- Eles estão aqui no castelo lutando para derrotar Cordomad. E seu irmão Biel

esta com eles.

- Meu irmão... Aqui? Não.

- Os dons dele despertaram e ele veio atrás de você da sua dimensão assim que

você foi aprisionada.

- É bem típico dele – ela falou sabendo que nada impediria seu irmão de vir atrás

dela quando soubesse onde estava. - Jeziel?!

- A última vez que o vi estava lutando com os Drevors.

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Ela pousou a mão na altura do coração parecendo estar com falta de ar.

- Ele vai querer lutar com Cordomad!

- Vai sim.

- Eu preciso destruir essa esfera. Agora.

Ela estendeu a mão fazendo a esfera flutuar e se encaixar em sua bolha invisível.

Andou até um dos tronos e se sentou. Todos os cristais que ainda não haviam se dado

conta da presença de Melissa naquele lugar se iluminaram. Sua coroa se iluminou, o

colar que estava em seu pescoço e sua luz rompeu numa força divinal.

A medida que a luz de Melissa se intensificava no brilho um vento como o que

aconteceu na sala das almas surgiu ali vindo também do nada. Eu quase não podia mais

ver Melissa ofuscada pelo brilho intenso.

- Aragorn – ela gritou do meio da luz – estou com medo.

- Eu estou aqui com você - falei. Era tudo que eu podia fazer no momento.

Vi quando a esfera que flutuava começou a girar em sua órbita. Se aproximando

de Melissa sentada no trono.

A esfera então, depois que girou tão rápido que era só um borrão negro no meio

de toda aquela luz, se moveu como se tivesse sido lançada para as mãos de Melissa.

Um grito de dor saiu do meio da luz.

- Melissa?! – chamei angustiado.

Tentei me aproximar, mas fui lançado longe. Me levantei novamente e insisti a

me aproximar e fui lançado outra vez.

Quando ouvi mais um grito dela entrei em desespero. Rompi minha luz tentando

mais força, avancei, mas ainda assim fui lançado contra a parede. Me levantei ainda

tonto com a pancada e me metamorfoseei e tentei novamente. Foi pior, senti como se

minha força estivesse sendo sugada de mim. Me materializei ainda no ar e caí com toda

força no chão.

Ela gritou mais uma vez e eu tentava me erguer do chão num sentimento de

impotência absurdo. Eu tinha que fazer alguma coisa, mais o que?

Uma mão forte me ajudou a levantar.

Era Biel que chegava com vogue.

- Lariana foi nos avisar que Melissa estava aqui – ele disse – cadê minha irmã?

Olhei sugestivamente para o trono que reluzia.

Em seguida Jeziel entrou correndo com o general e Lariana.

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Jeziel olhou para mim querendo saber de Melissa e antes que eu respondesse o grito

desesperado e de dor dela veio do trono.

- Melissa! - Ele gritou caindo de joelhos o máximo que a luz que irradiava de lá

permitia.

- Leo! - Melissa gritou.

- Ele se levantou e correu para ela, mas assim como aconteceu comigo ele foi

lançado distante.

Ele se levantou e tentou novamente, mas dessa vez algo diferente aconteceu.

A luz clara e azul que estava emanando de Melissa e do trono foi diminuindo. E

mudando do azul para o roxo do roxo para o marrom do marrom para o preto. E numa

implosão que sugou todo o resto de luz que ainda tinha, tudo parou. Cessou-se o vento

as luzes, e a esfera caiu ao chão negra e intacta como antes.

Melissa havia desaparecido.

- Mel! – Jeziel gritou angustiado.

Um silêncio agourento, lúgubre e profundo somente ecoou o grito de Jeziel.

Ninguém queria falar nada, mas o pensamento era um só. Tinha acabado. Melissa havia

se sacrificado tentando dar as pessoas que ama o direito a viverem em paz. Ela sabia dos

riscos que corria e mesmo assim se dispôs a tentar. Por amar ela arriscou sua vida

porque não suportaria perder nenhum dos seus, não suportaria perder Jeziel.

- É tarde de mais meu filho – disse o general – ela não conseguiu.

Vogue soluçou começando um choro escondendo o rosto no peito de Biel que

olhava para o infinito. Lariana se encostou na parede desolada e se sentindo culpada. O

general de cabeça baixa se sentindo inútil e derrotado. Eu ainda não tinha compreendido

o que tinha acontecido realmente, e Jeziel se deixou cair de joelhos, e lágrimas

começaram a descer pelo seu rosto.

- Não... é minha Mel, minha princesa, a razão da minha vida. Ela não pode... ela

não...

- Jeziel...- o general tentou falar com ele.

- Não! – Jeziel se levantou andando furiosamente para o lado do general e

apontando o dedo na cara dele - Não venha me dizer que acabou. Não me diga que ela...

Eu não... não posso ouvir isso.

Biel puxou ele pela camisa.

- Ei meu irmão, ela fez isso por nós. Fez por você.

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Jeziel se agarrou a Biel de uma forma desesperada e chorou compulsivamente.

Seu choro doeu em minha alma, a nossa dor era a mesma, mas eu estava tão

desesperadamente perturbado por não ter podido ter feito algo que impedisse isso que

preferia me manter imóvel e sem reação. Tive a impressão que se tentasse me mover

cairia desmaiado no chão.

Lariana se aproximou segurando em meu braço. Me apoiou até que eu

conseguisse sentar no chão. Provavelmente ela deve me ter visto vacilar.

Vogue estava com o braço por cima do ombro do general enquanto ele cobria o

rosto com as mãos.

Enquanto os minutos passavam nenhum de nós se movia.

Jeziel se soltou dos braços de Biel que chorava silenciosamente tentando ser um

apoio nessa hora de desespero. Biel abraçou o pai enquanto Jeziel andava sem rumo

pelo salão.

Jeziel olhava a esmo para todos os lados parecendo estar totalmente perdido num

ambiente de quatro paredes.

- Essa sala... esses cristais... esse castelo... esse trono – ele empurrou

violentamente uma estatua de cristal ao chão fazendo-a se espatifar em mil pedaços –

esse reino... esse mundo... nada faz sentido agora. Nada tem importância. Tudo que

fizemos... tudo que passamos até aqui, de nada adiantou.

A decepção o desespero e a dor estava no rosto e na mente de todos.

Tamala surgiu de repente do nada se materializando a nossa frente.

- Meu senhor, não se desespere, nada aconteceu a Melissa.

Jeziel olhou para ela surpreso e esperançoso. Eu também daria minha vida para o

que ela dizia estivesse certo.

- Tamala...

- Sim meu senhor, ela esta bem. Não pode sentir sua presença?

Assim que Tamala falou, pude de uma forma mágica sentir como se ela ainda

estivesse ali ainda que não a visse.

- Melissa é forte. Esta guerreando agora para destruir a esfera.

- Onde? – perguntei intrigado.

- Dentro da esfera.

Então ela não morreu, foi drenada para dentro da esfera – só então me lembrei

que ela mesmo disse que teria que se deixar ser sugada para destruí-la de dentro para

fora.

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Jeziel então caminhou em direção a esfera caída e Tamala o impediu.

- Deixe que ela termine. O poder esta nela. Ela vai conseguir.

Jeziel assim como eu mudou seu rosto de desespero para a ansiedade. Melissa

não estava morta afinal. Mas ainda tinha que ser forte o bastante para destruir a esfera

ou ficaria presa lá para sempre.

- E Erkas? – perguntei.

- Por enquanto ela vai ficar presa na sala das almas se recuperando da nossa

conversinha. Eu reverti o feitiço que havia na sala para que ela fosse detida por um

tempo, mas logo que as forças dela voltem ela encontrará uma forma de sair. Não temos

muito tempo.

Assim que ela fechou a boca uma nuvem negra e densa invadiu o salão.

Drevors foram aparecendo por todos os lados nos cercando. A guarda real mais

selecionada e preparada tinha tomado a sala do trono. Eram tantos contra nós sete, cem,

duzentos... trezentos ou mais Drevors que seria impossível sair dali com vida.

- Recuar até segunda ordem! – gritou o general Euri, só que não era para nós.

Não teríamos como sair dali. Era uma ordem para ser ouvida pelos comandante do

exército rebelde. O que foi obedecida de prontidão, já que os Drevors estavam por toda

a parte.

No meio dos Drevors outra nuvem mais pesada, mais escura, surgiu e Cordomad

apareceu.

- Mate todo mundo e recolham a esfera – ordenou Cordomad a seus soldados.

Tanto eu como Jeziel nos posicionamos com a espada desembainhada para

proteger a esfera que agora continha a vida de Melissa.

O general, vogue e Biel também sacaram de suas espadas. Vogue jogou nas

mãos de Tamala uma de suas espadas e Lariana rompeu sua luz avermelhada para se

proteger. Todos seguimos seu exemplo buscando toda força que se podia para tentar ao

menos retardar a ação dos Drevors e impedir que eles levassem a esfera.

Os Drevors não perderam tempo e partiram para cima de nós.

A luta não estava de maneira alguma equilibrada, e eles tinham mais interesse

em nos matar que tomar a esfera.

Nós lutávamos com toda a nossa destreza, mesmo assim parecia ser pouco.

Apesar de estar ajudando Jeziel a proteger a esfera, eu estava extremamente

preocupado com Tamala. Suas poucas horas de treinamento não seriam suficientes para

mantê-la viva por muito tempo diante da ferocidade dos ataques dos Drevors. E Lariana

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também que se esquivava com agilidade dos ataques parecia frágil demais diante

daqueles monstros. Mas eu não podia deixar Jeziel sozinho.

Depois de um período de luta que pareceu uma eternidade, o destino parecia não

estar satisfeito com nossa desvantagem, permitindo que Erkas conseguisse sair da sala

das almas para se Materializar bem a nossa frente.

Erguendo as duas mãos Erkas paralisou a luta. Estendeu uma das mãos para a

esfera que flutuou para ela sem que nós pudéssemos fazer nada. Todos parecíamos

colados ao chão. Quando a esfera finalmente chegou em suas mãos, de uma forma

sinistra Erkas gargalhou.

Sua risada diabólica de repente foi interrompida quando a esfera por vontade

própria escapou de sua mão e novamente flutuando passou a girar em sua órbita de uma

forma tão veloz que mal se via seu formato.

A cara de Erkas que apouco refletia o sabor da vitória agora estava apavorada.

Ela tentou usar um de seus dons roubados e seu feitiços para recuperá-la, mas

assim que ela tentou a esfera fez como a qualquer um de nós, a atirou longe.

Desnorteada ela se levantou, e ia tentar novamente recuperar o controle da

esfera, mas antes que ela se aproximasse um brilho azul vindo da esfera foi se tornando

crescente. Vimos aquela bola de luz giratória inchando de uma forma perigosa notando

as fissuras que se formavam deixando fleches de luz branca escapar.

- NÃO!! – Erkas gritou correndo para cima da esfera e Tamala correu se

colocando a frente dela como uma barreira. Erkas diante do obstáculo, com os olhos

desvairados e expressão de desespero tentou usar seu dom contra Tamala que resistiu

bravamente. Quando Tamala não agüentou mais, Erkas passou por ela com as mãos

estendidas para pegar a esfera, só que tarde de mais.

Uma explosão de luz rompeu a membrana da esfera nos cegando a todos

ofuscados pelo intenso brilho.

- Não deixe que eles escapem! – ouvi o brado de Cordomad a seus Drevors, mas

nem nós nem eles podíamos fazer alguma coisa. Era um branco total em nossos olhos

não dava para distinguir nada no meio de toda aquela luz e de toda aquela ventania.

Ao diminuir o brilho, pude ver então a face raivosa de Erkas caída próximo a

Tamala, Cordomad se transformando em fumaça para escapar covardemente do que

viria, os Drevors já se organizando contra nós e a luta recomeçou.

A esfera havia sido destruída. Era a nossa oportunidade de acabar com a

usurpadora família real.

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Antes que Cordomad se esvanecesse completamente Jeziel partiu para cima dele.

Cordomad se viu obrigado a se defender já que não dispunha mais da magia de Erkas

para mantê-lo vivo.

Tamala partiu para cima de Erkas que por não ter nenhum dom que realmente

não precisasse de magia acabou vítima das mãos e do poder de Tamala que rompeu sua

luz dourada e num movimento pegou Erkas pelas costas e ao toque de suas mãos liberou

uma força sobrenatural imobilizando Erkas.

- Você não queria meus poderes?! – Tamala falou vingativa e com sarcasmo –

então...

Erkas se retorcia enquanto Tamala ministrava uma energia que emanava de suas

mãos sobre Erkas até que a feiticeira não suportou mais tanto poder e dando um último

grito, seu grito de derrota, explodiu em pedaços tão ínfimos que não passavam de

poeira.

Tamala se voltou para mim sorrindo e com os olhos brilhando de satisfação. Ela

havia derrotado sua inimiga que matou sua família por inveja e a obrigou a ter uma vida

solitária e tendo que fugir e se esconder para não ter o mesmo destino de seus pais.

Quando olhei novamente para a sala, os Drevors agora tinham se interposto a

favor de seu rei e Jeziel lutava contra eles sem conseguir se aproximar de Cordomad

que agora conseguia escapar.

Todos fomos então ajudar Jeziel, mas no meio da luta que estávamos a ponto de

perder por causa das dezenas de Drevors que nos atacavam, algo aconteceu.

A sala e todos seus cristais e tudo que havia nela passou a brilhar novamente.

Melissa surgiu do nada também reluzindo. Ela parecia estar em transe. Seus

braços estendidos ao longo de seu corpo com a palma de suas mãos viradas para fora.

Estava tão imóvel que parecia mais uma daquelas estatuas de cristal, só seu vestido

balançava ao vento que circulava ao redor dela.

Ao vê-la Jeziel perdeu a concentração na luta, na verdade todos nós perdemos e

os Drevors aproveitando nossa distração avançaram mais ferozes.

Quando Melissa finalmente abriu seus olhos se voltou diretamente para Jeziel

que estava a ponto de ser golpeado fatalmente pela espada do Drevors.

Num átimo vi quando Tamala correu até Melissa segurando sua mão.

- Vamos sair daqui agora! – Tamala gritou chamando a atenção de Melissa para

ela.

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Todos estavam lutando, e de repente fomos sugados por uma força que tirou

nosso pés do chão e a claridade da sala do trono desapareceu. Tudo desapareceu. Eu

sentia como se estivesse sendo arrastado por uma forte correnteza no escuro e quando

senti novamente meus pés no chão e pude ver alguma coisa já não estávamos mais

dentro do castelo. Ainda estava escuro, mas só porque era noite no lugar para onde

fomos carregados. Havíamos escapado dos Drevors.

Capítulo 16

Quando meus olhos se acostumaram com a escuridão pude ver que

estávamos todos ali nas mesmas posições de antes de sermos arrastados para aquele

lugar. Espadas erguidas na defensiva outras em posição de ataque, Tamala ainda

segurava a mão de Melissa, mas teve que solta-la assim que ela deu alguns passos em

direção a Jeziel que não havia ainda tirado os olhos dela.

Ele também andou de vagar em sua direção como se não pudesse acreditar no

que estava vendo. Todos paramos assistindo a proximidade lenta entre os dois.

Melissa juntou as mãos a frente de seus lábios com os olhos mareados. Ela

também parecia não acreditar que estava de frente a ele agora. Jeziel parou a uma curta

distância. Ele a olhou de uma forma tão profunda e com tanta emoção que era como se

ele estivesse vendo diante de si sua própria alma.

De vagar ele estendeu a mão para que ela a segurasse. As lágrimas então

começaram a rolar silenciosa pelo rosto dos dois. Ela abaixou uma das mãos e estendeu

a ele, ao que a emoção foi forte de mais para ela e antes de se tocarem ela cambaleou

desfalecendo. Jeziel se adiantou apoiando seu corpo ao dele. Quando Melissa percebeu

que estava em seus braços a força lhe voltou e num pranto que demonstrava felicidade,

alívio, desespero e paixão se agarrou a ele como se ele fosse sua própria vida. Ele

também chorava e passava as mãos pelo cabelo dela descobrindo seu rosto para admirá-

lo. Hora beijava-lhe o rosto os olhos, hora a abraçava impetuosamente.

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Os dois movidos pela emoção do reencontro não tinham forças para permanecer

de pé e acabaram de joelhos como se agradecessem ao criador por estarem juntos

novamente. E como essa foi a primeira vez que os vi pessoalmente juntos nessa

intensidade de paixão, tive que reconhecer com o meu coração partido e desolado que o

amor dos dois era real, único, poderoso, invencível e eterno.

Me virei de costas tentando escapar daquela dura realidade.

- Onde estamos? – Lariana perguntou assim que percebeu não reconhecer o lugar

ou a vegetação ao nosso redor.

Forcei minha memória para me lembrar em qual região de Andaluz eu teria visto

uma noite tão escura e com árvores tão pequenas.

- Esta é a minha dimensão – respondeu Biel animado se aproximando de Vogue.

– estamos de volta pai.

- Como? – perguntou o general assustado.

- Melissa e eu abrimos um portal para cá – disse Tamala – precisávamos de um

tempo para reorganizar o ataque contra Cordomad.

- Porque não nos levou de volta ao arraial?

- Cordomad pode estar sem a magia de Erkas, mas nem de longe ele esta fraco.

Não podia deixar Melissa e Jeziel em Andaluz agora. Ele usaria tudo que tem para

matá-los.

Me virei e vi a cara de preocupado do general. Biel abraçava Vogue pelos

ombros que parecia estar satisfeita de estar em qualquer lugar desde que fosse com ele,

Lariana estava de boca aberta olhando expiatoriamente para todos os lados, Melissa e

Jeziel agora se levantavam de mãos dadas, e eu coloquei minha espada na bainha me

perguntando em qual confusão agora eu teria me metido.

Melissa se soltou de Jeziel e correu para os braços do irmão. Biel e Melissa se

abraçavam, matando as saudades.

- É tudo tão pequeno aqui – Lariana expressou sentindo falta de nossas imensas

árvores – e tão escuro – completou.

Olhei para o céu e as poucas estrelas pareciam muito distantes.

- Venham – disse Jeziel puxando Melissa que agora sorria.

Subimos uma pequena montanha e do alto vimos uma casa de madeira a beira de

um rio estreito. Jeziel se pôs a descer a pequena montanha acompanhado por Melissa e

nós os seguimos até a casa.

- Entrem – ele convidou.

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Os móveis da casa estavam empoeirados, pelo tempo de desuso. A luz era fraca

e vinha de uma pequena bolinha pendurada no teto. Nada parecido aos cristais de luz

que eu conhecia. Os objetos em sua maioria eram totalmente desconhecidos para mim.

Lariana tocava com cuidado em alguns com curiosidade tentando identificá-los.

Vogue parecia semelhantemente curiosa, Tamala nem tanto.

O general se sentou estranhamente ansioso. Todos procuramos um lugar para

sentar menos Lariana que continuava mexendo em tudo.

- O que há pai? – Biel perguntou.

- Não esperava voltar aqui tão cedo – o general respondeu parecendo perturbado.

- Esta preocupado com a mamãe – Biel afirmou.

- Estou – o general confessou.

- Precisamos ir vê-la – Biel anunciou – ela esta à muito tempo sem notícias

nossa. Não podemos deixá-la assim.

- Eu sei. Ainda assim temo pela reação dela – o general murmurou.

- Minha mãe... – Melissa – falou como se finalmente tivesse despertado – quero

ir pra casa agora. – Ela olhou para Jeziel que lhe dava um sorriso que lhe dizia que ele

faria qualquer coisa que ela pedisse.

- Então vamos.

Jeziel se levantou e todos o seguimos. Ao lado da casa escondido atrás de um

mato alto crescido ao redor estavam dois grandes e desconhecidos... – O que seria

aquilo mesmo?

- Automóveis – Melissa me surpreendeu falando ao meu lado enquanto Jeziel

atravessava o matagal e entrava para dentro de um deles.

Ela me apertou pela cintura tentando mais uma vez quebrar uma de minhas

costelas.

- Automóveis? – repeti.

Jeziel fez aquele automóvel funcionar e luzes se acenderam na frente e atrás

enquanto o automóvel se movia.

- Um dos meios de transporte em meu mundo – ela completou.

- Você não pode chamar uma Mercedes como essa de meio de transporte. Nem

essa ML 350. – Biel falou se sentindo ultrajado – são naves de transporte.

Biel atravessou também o mato entrando dentro do automóvel mais alto e

também o fez funcionar.

- Entrem – disse Jeziel.

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Melissa me puxou pela mão abrindo a porta de trás pra mim, Tamala entrou

comigo. O general, vogue e Lariana foram com Biel.

- Automóvel – repeti me sentindo desconfortável e claustrofóbico ali dentro.

Jeziel sorriu compreensivo.

- Pode chamar de carro, logo você se acostuma e passa até a gostar. Já estava

com saudade de dirigir.

Ele acelerou o tal carro nos fazendo colar com as costas no banco e Biel nos

seguindo colocou a cabeça pra fora dando um grito animado.

Eu olhava pela janela observando os lugares por onde passávamos e tudo era tão

diferente de Andaluz. Construções tão altas quanto as árvores de minha dimensão.

- São edifícios, prédios de apartamentos. Pessoas moram ai – Melissa esclareceu.

Me surpreendeu que ela estivesse ligada em meus pensamentos.

Ela olhou para mim se virando em seu banco me dando um sorriso mágico.

Pareceu-me que só o fato dela estar ao lado de Jeziel a tinha feito esquecer

completamente de tudo que tinha passado até ali. E segundo eu via em sua mente só

esse momento importava a ela agora.

Quando finalmente o carro parou todos descemos e paramos de frente a casa que

devia ser de Melissa. As luzes estavam apagadas e não havia sinal de vida lá dentro.

Um som irritante e estridente me chamou a atenção vindo próximo a meus pés.

Um minúsculo animalzinho rugia de forma engraçada, mas parecia irritado e

pronto para me atacar. Vogue e Lariana olhavam para criatura da mesma forma que

Melissa olhou a primeira vez para um Atreio. O bichinho era tão insignificante que não

sabia o que fazer com ele, e mesmo tão pequeno não parecia inofensivo. Melissa então

veio para meu lado batendo o pé no chão espantando a fera raivosa que saiu gritando

assustada.

- Você esta em meu mundo. Agora eu é que vou te proteger.

Biel bateu sobre meu ombro.

- É meu camarada, Melissa acabou de te livrar de ser devorado pelo Chihuahua

da minha vizinha. – ele riu e eu fiquei sem entender.

Ele passou por mim e abriu a porta da casa ascendendo às luzes.

Fomos entrando, primeiro Biel e Vogue, Jeziel e Melissa, Lariana, Tamala me

acompanhou e o general que olhava para a fachada da casa de forma nostálgica não

parecia muito a vontade para entrar, mas entrou depois quase que escondido ficando

atrás de nós e lá dentro encontramos uma mulher dormindo sentada numa poltrona.

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Ela tinha alguns papeis nas mãos e o rosto que mesmo adormecido era um lindo

rosto. Reconheci os traços de Melissa nela e a beleza que mesmo por trás de uma aflição

seria impossível esconder. Melissa se parecia com sua mãe. Entendi porque o General

ainda era apaixonado por sua esposa mesmo depois de tantos anos longe.

Melissa caminhou até ela e se ajoelhou aos seus pés.

- Mamãe – Melissa chamou suavemente.

A mãe de Melissa abriu lentamente os olhos para ela. E imaginando ser um

sonho, levou a mão carinhosamente ao rosto da filha.

- Oi meu anjinho – a mãe falou ternamente com um sorriso puro nos lábios.

De repente ela se deu conta que não estava sonhando. Seu sorriso se

desmanchou e se tornou em surpresa.

- Mel?!

- Sim mamãe sou eu.

A mãe de Melissa olhou para nós em pé em sua sala e encontrou o rosto de seu

filho.

- Biel?!

Biel andou e se ajoelhou também aos pés dela.

- Estamos bem mamãe, estamos aqui.

Num choro de felicidade a mãe abraçava seus filhos e pude ler em sua mente que

ela mal acreditava que fosse vê-los outra vez.

Toda angustia, todo sofrimento vivido por ela quando seus dois filhos

desapareceram sem deixar rastro, passaram em sua mente. E que só aumentaram quando

ela finalmente encontrou uma pista do que podia ter acontecido com seus filhos no dia

em que desesperada procurava por algo que pudesse lhe dar alguma explicação.

Encontrou enquanto revirava o quarto de Biel, as cartas que o general havia deixado

para eles e uma para ela. Só assim ela ficou sabendo a verdade e desistiu de procurar por

eles na esperança que algum dia eles retornassem.

E hoje era esse dia. Ela estava tão grata e tão visivelmente extasiada que não

conseguia parar de chorar e abraçar os filhos.

- Graças a Deus vocês voltaram – ela não parava de falar.

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Depois que a crise histérica passou ela olhou para os dois e a cara de alegria

sumiu dando lugar a raiva. Com um tapa estalado no braço de Biel ela encerrou a sessão

ternura e entrou na sessão castigo.

- O que vocês estavam pensando quando resolveram ir para outra dimensão sem

me pedir? – os tapas em Biel não cessavam.

- Ai, ai, ai para mãe! – Biel resmungava. A mãe dele apesar de ser bem menor o

pegou pela orelha. Imaginei que ele preferia estar enfrentando um exército de Drevors

agora mesmo.

- Nunca mais faça isso. Não se atreva a nunca mais tirar os pés dessa terra esta

entendendo?!

- Sim mãe – Biel falou tentando se livrar.

- Ainda que seja abduzido por um disco voador, ou eu é quem vou atrás de você

da próxima vez.

Ela largou a orelha de Biel e olhou para Melissa com as mãos nos quadris.

- E você mocinha?!

- Me desculpe mamãe – Melissa usou aquela voz manhosa que eu já conhecia

bem. Se eu não resistia, imagine a mãe dela.

A mãe de Melissa olhou da mesma maneira para Jeziel perto de mim.

- E você garoto, venha aqui!- ordenou.

- Xiiii!!! – Biel soltou – ninguém vai escapar.

- Mas não vai mesmo – ela falava bravia enquanto Jeziel andava cautelosamente

até ela.

- Eliana...

- Não me diga nada. Eu vou falar.

Ela respirou fundo e continuou.

- Desde a primeira vez que te vi, sabia que tinha alguma coisa de muito estranha

em você, mas Melissa estava apaixonada, e por mais que eu quisesse fazer alguma coisa

não podia lutar contra o que ela sentia. Mas eu temia que ela viesse a sofrer como eu por

causa do único homem que amei em toda minha vida.

Quando conheci o Victor, a minha vida que era perfeita pareceu que não tinha

mais sentido sem ele, por perto. Sabe, eu tinha tudo que eu queria, Um ótimo emprego,

uma ótima posição social, muitos amigos que preencheram o vazio da minha vida

enquanto eu não tinha família por ter crescido num orfanato. Mas isso não foi problema

pra mim, pois aprendi a lutar pelo que eu queria e a traçar meu próprio destino, e não

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posso dizer que senti falta de nada até o dia em que Victor entrou para empresa que eu

trabalhava.

No dia em que ele passou por mim sem ao menos me olhar ou para mais alguém

que estivesse ali, preocupado somente em fazer bem seu trabalho, eu me apaixonei

completamente e descobri que eu jamais seria completa se não tivesse ele ao meu lado.

Ele era muito sério, levava seu trabalho ao extremo, todo mundo achava ele esquisito,

mas para mim ele era perfeito.

Quando ele entrou finalmente, e depois de muito tempo, para minha vida, me

tornei a mulher mais feliz do mundo. Éramos perfeitos juntos e cada segundo que eu

passava com ele ainda era pouco, logo que veio nosso filho Biel, eu não podia me

agüentar de tanta felicidade, era nossa família se formando, nosso amor se perpetuando

para as gerações e eu não imaginava que pudesse ficar melhor até que veio Melissa.

Ninguém podia ser mais feliz que eu, até que um dia o amor da minha vida saiu

para trabalhar e nunca mais voltou. Você não tem idéia de como eu sofri. De quanto eu

chorei, de quantas noites eu acordava gritando pelo nome dele. – ela suspirou.

- Fiz tudo que pude para encontrá-lo. Minha vida tinha sido arrancada de mim,

penso que a única pessoa que poderia entender da dor que estou falando é Melissa que

sofreu igualmente quando você foi embora. Mas por maior que tenha sido a dor, não é

maior... não tem poder para apagar um amor tão grande. Por isso ela foi atrás de você,

por isso te perdoou e esqueceu de tudo que sofreu para poder ser feliz novamente ao seu

lado. Um amor como esse não acaba.

Hoje não acordo mais gritando o nome dele, mas contrariando a minha vontade,

até hoje meu coração grita por ele. Não só uma vez quando acordo ainda sentindo falta

dos seus braços em mim, mas ele grita quando abro meus olhos e minha cama continua

vazia, quando me preparo para sair e não tem seus olhos me observando com

admiração, ou quando vou a cozinha e ele não esta lá com meu café preparado como se

pudesse adivinhar o que eu desejava comer, ou quando volto para casa e mesmo feliz

por encontrar meus filhos, seu sorriso não esta me esperando.

E ainda agora depois de todos esses anos de dor, meu coração aqui no peito esta

gritando e dizendo “pare de falar tanto, pare de fingir que não o viu e corra para o único

lugar que você consegue ser feliz de verdade... corra para os braços do seu Victor”.

O general que até então estava escondido atrás de nós caminhou até ficar atrás de

Eliana que se virou lentamente. Quando seus olhos se encontraram o choque do

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reencontro parece que parou o tempo. O general parou a poucos centímetros de

distancia da mãe de Melissa.

- Eliana, me perdoe, eu só fui embora porq...

- Eu sei – ela interrompeu – li suas cartas. Só me diga que é verdade o que esta

escrito lá, que você realmente pretendia voltar pra mim, porque sabia que jamais

deixaria de me amar.

- É verdade, eu nunca em todo esse tempo deixei de te amar. Por todos esses

anos eu senti, mesmo longe, o teu toque, o sabor dos seus lábios o som do seu sorriso e

morria um pouco a cada dia por não poder ter você comigo. O que me mantinha de pé

era saber que esse dia iria chegar e eu poderia ter você em meus braços novamente. Eu

te amo Eliana. E se puder me perdoar... me aceite de volta em sua vida.

- Você nunca saiu da minha vida Vitor – ela disse e se atirou nos braços dele.

Jeziel acolheu Melissa pelos ombros que parecia aturdida por ver pela primeira

vez seus pais juntos. Vogue, Tamala e Lariana olhavam emocionadas a cena.

Biel atravessou a sala nos tirando de lá para dar privacidade a seus pais que

pareciam ter entrado num mundo só eles agora.

- Acho que esses dois terão muito que conversar – disse Vogue.

- E agora? – Lariana perguntou.

- Vamos até minha casa – Jeziel sugeriu – o melhor que podemos fazer essa

noite é descansar.

- Mas antes disso vou pegar algumas coisas em meu quarto – disse Melissa – não

dá para ficarmos andando por aí vestidos assim. - Ela puxou Tamala pela mão –

Venham – ela chamou também Vogue e Lariana e subiram as escadas.

Enquanto esperávamos por elas do lado de fora da casa, eu observava o mundo

que era de Melissa.

- É, as coisas são bem diferentes por aqui – Jeziel ecoou meus pensamentos.

- Não me admira ela ficar tão assustada com tudo em Andaluz - Falei.

- Por isso agradeço o fato dela ter encontrado você que a ajudou a permanecer

bem. Tenho que reconhecer que você ensinou muita coisa a ela. Eu não a preparei para

o tipo de coisa que ela enfrentou, mas você estava lá. Obrigado.

Eu não queria falar sobre Melissa agora. Não no momento em que eu estava

tentando aceitar o fato de que não havia mais chance para nós. Devia me conformar que

seriamos de agora em diante, de fato amigos, e me lembrar de tudo que passamos juntos

não iria ajudar.

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- E o carro? – Falei nitidamente desviando a conversa.

Jeziel entendeu.

- Quer tentar?

- O que... eu guiar essa coisa?

- Fácil. É só ler o manual de instruções - ele bateu com o dedo indicador na

cabeça, e eu entrei em sua mente.

Dirigir, ao menos na cabeça dele realmente parecia fácil. Resolvi arriscar.

Me sentei do banco do motorista e dei a partida no carro. Jeziel se sentou ao meu

lado e coloquei o carro em movimento.

Nos primeiros metros o carro deu alguns solavancos, e com as informações da

cabeça de Jeziel, passei a dirigir melhor.

Fui seguindo a estrada diante de nós entrando em algumas curvas e constatei que

Jeziel tinha razão, era fácil gostar daquilo. Acabei pegando o jeito e andei mais veloz.

- Vamos voltar, as garotas já estão prontas – ele disse ao receber o chamado de

Melissa em sua mente.

Fiz uma volta e dirigi até a porta da casa dela. E quando parei e olhei para elas

que nos esperavam no portão, admirei Melissa vestida de uma forma a qual eu nunca vi,

com as roupas de sua dimensão, mas permanecia tão linda como ela sempre foi aos

meus olhos.

Jeziel desceu e a abraçou. E como eu queria que no lugar dele fosse eu.

Disfarçando meu desconforto e ciúmes, olhei para Tamala e para Lariana que estavam

também vestidas com as roupas de Melissa e Tamala estava bem bonita e Lariana

também. A roupa de Melissa caiu muito bem nelas.

- Que tal irmos agora? - Biel falou impaciente pela janela do outro carro. Como

eu estava do lado do motorista, Jeziel abriu a porta para Tamala se sentar ao meu lado e

ele entrou a trás com Melissa. Lariana resolveu ir com Vogue e Biel no outro carro. E

seguindo Biel coloquei o carro para andar.

Eu podia ver Melissa e Jeziel pelo espelho retrovisor. Ela com a cabeça tombada

em seu ombro, ele acariciando seu rosto. Eu não queria admitir, mas aquilo estava me

matando. Bloqueei minha mente o Máximo possível para que ninguém percebesse meu

sofrimento, mas imagino que meu rosto não estava escondendo muito bem. Tamala

pousou sua mão sobre a minha tentando me confortar. O que eu pensava ser impossível.

Ao chegarmos a casa de Jeziel, e entrar, eu observei cada objeto em cada canto

da casa e constatei que realmente cada coisa ali tinha tudo a ver com ele.

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-Tem alguma coisa pra comer nessa casa? To morrendo de fome – Biel falou se

dirigindo para uma porta que devia ser a cozinha.

- Eu também - Lariana falou seguindo ele.

Melissa e Jeziel pareciam estar num mundo só deles. Eles não falavam e não

davam atenção a mais ninguém, se olhavam e se tocavam um reconhecendo a presença

do outro como se estivessem voltando no tempo. No tempo em que só havia eles dois

neste mesmo lugar.

- Não tem nada nessa casa, não pronto pelo menos. Ai que saudades de Ernest –

Biel lamentou.

- E se sairmos para comer uma pizza? – Melissa sugeriu animada.

Tanto eu como todos de Andaluz olhamos para ela curiosos.

- Agora vou ensinar a vocês como caçar no meu mundo.

Biel e Jeziel riram e me fez perceber que Melissa estava fazendo uma de suas

piadas. As que eu nunca entendia.

- Jeziel você tem que arrumar uma roupa para Aragorn. – Melissa falou.

Jeziel me olhou e olhou para suas roupas também e fez uma cara dando razão a

Melissa.

- Venha comigo. – Jeziel me chamou e o acompanhei até seu quarto.

Como tudo em sua casa seu quarto também parecia com ele, mas a única coisa

que me chamou realmente a atenção foi a imagem de Melissa dentro de um retângulo

pequeno sobre uma mesinha ao lado da cama. Jeziel percebeu meu interesse na foto.

- Eu não sei o que dizer Aragorn. Sei que a ama, e deve estar sendo muito difícil

para você agora – ele disse sendo solidário.

- Difícil não seria a palavra. No fundo acho que sempre tive esperança de que eu

pudesse...

- Ficar com ela – Jeziel terminou a frase para mim sem hostilidade.

- Eu nunca tive esse direito não é? Ela não foi feita pra mim. E agora aqui no

mundo dela tenho certeza disso. Ela nasceu pra você. Escondida aqui guardada para

quando você a viesse buscar. Eu jamais saberia dela se pelo destino Melissa não tivesse

ido atrás de você.

- Ela só foi a Andaluz porque se sentiu na obrigação de me ajudar. Eu sei disso.

Na época ela estava muito ferida. Eu a magoei demais.

- Não. Ela foi por amar você, ainda que não soubesse, ainda que a desculpa do

coração dela fosse só te salvar, ela te amou todo esse tempo Jeziel, e não pense que é

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fácil para mim admitir isso, mas por isso mesmo é que não consegui alcançar seu

coração, já estava ocupado.

- Mas você tem algo dela que eu perdi quando a deixei. A confiança que ela

deposita cegamente em você. E isso me faz sofrer.

- Ela confia sim em você. É você que tem que confiar nela, confiar que ela é

capaz de fazer o que ela diz que vai fazer. Como destruir a esfera por exemplo.

Nos rimos.

- Ela conseguiu - ele falou orgulhoso.

- E agora Cordomad esta em suas mãos.

- Não consigo evitar de querer protegê-la.

- Nem eu, mas ela é forte e aprendeu lutar muito bem.

- Minha Mel... – Jeziel expressou.

Meu coração doeu ao ouvi-lo falar tão dono de quem eu queria pra mim.

Peguei o retângulo com a imagem perfeita dela e me segurei para não

desmoronar.

- Você vai ser feliz Aragorn. Você merece isso – Ele falou como se pudesse ver

minha dor e tentasse amenizá-la.

- Como?

- Tem alguém feita para você. Eu sei.

Eu sorri sem humor. Como ele poderia saber?

Ele me jogou uma muda de roupas.

- Estaremos te esperando lá em baixo.

Ao chegarmos ao tal lugar da pizza, e sentados em nossa mesa cercados por

outras mesas cheias de pessoas que conversavam entre si distraidamente. Eu observava,

sem conseguir disfarçar, Melissa ao lado de Jeziel. Ela me olhava de vez em quando e

sorria. Ela gostou de me ver nas roupas de Jeziel. Ela quase se sentia grata por sentir

que eu me sentia tão estranho quanto ela se sentiu a primeira vez que usou uma roupa

tipicamente de Andaluz.

Mesmo usando roupas iguais a todos ali, as mulheres ainda passavam me

encarando de uma forma constrangedora. Acabei entendendo como Melissa se sentia

quando andava no meio do meu povo e os homens de queixo caído a admirava. O pior

para mim era que eu podia ler os pensamentos de todas ali. Não eram tão ruins assim

mais algumas tinham os pensamentos bem ousados ao passar por mim. Lariana sentada

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ao meu lado captava os mesmos pensamentos e já estava a ponto de explodir contra

elas.

Biel, vogue e Tamala não perdiam tempo devorando suas pizzas, eu ri ao ver

Tamala enchendo a boca com a pizza como se ela nunca tivesse comido algo tão

gostoso. Parecia uma criança gulosa. Ela me olhou e tentou sorrir, eu sorri de seu sorriso

engraçado com as bochechas cheias. Jeziel olhou para mim de forma indefinida.

- Jeziel, Melissa... – uma voz masculina chamou nossa atenção – ora quem esta

vivo sempre aparece não é mesmo?

- Maxuel – disse Jeziel se levantando para abraçar o que parecia ser seu amigo.

- Por onde vocês andaram? Sumiram todos de repente e agora estão aqui e juntos

novamente.

- Agente faz escolhas erradas algumas vezes, mais ainda bem que eu pude

corrigir a minha – Jeziel falou.

O rapaz cumprimentou Melissa com um beijo no rosto.

- Fico feliz por estarem juntos novamente. Vocês formam meu casal preferido.

Maxuel passou os olhos por todos nós na mesa nos cumprimentando

educadamente e parou com o olhar embasbacado quando chegou a Tamala.

Não gostei dos pensamentos dele.

Lariana ao meu lado olhou para ele como ele olhava para Tamala.

- Ola – Lariana disse chamando a atenção para si.

Os olhos e a boca dele se arregalaram mais ainda.

- Ual!... quer dizer oi – ele respondeu.

Eu sorri por dentro. Nunca vi Lariana causar um efeito assim em ninguém. Ela

ficou lisonjeada e também encantada com ele.

- É outra prima sua Jeziel?

- Na verdade é prima de Aragorn.

Ele me olhou como se eu fosse o homem mais sortudo do mundo.

Achei que Lariana ficaria aborrecida de ser apresentada como minha parente

diante das intenções dela sempre claras comigo, mas ela pareceu satisfeita que Jeziel

tivesse apresentado assim.

- Fique conosco Maxuel – Melissa convidou.

- Claro! – prontamente ele puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Lariana.

Nunca vi os pensamentos de alguém correr tão rápido em busca para encontrar

algo a dizer que pudesse impressionar quem estava diante dele.

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Lariana também estava admirada com os pensamentos dele. Eu nunca tinha

sentido ciúmes de Lariana e não era ciúmes que senti no momento, mas vê-la pela

primeira vez interessada em alguém que não fosse eu me fez pensar que eu estava

perdendo algo.

Ela automaticamente bloqueou sua mente de todos nós para ter privacidade no

que estava pensando.

- Relaxe – Jeziel falou em minha mente – ele é inofensivo.

- Só que ela não é. – Respondi.

Ele riu do outro lado da mesa chamando a atenção de Melissa que o olhou

curiosa.

Ele falou alguma coisa no ouvido dela que não me dei o trabalho de descobrir.

Eu ainda estava me sentindo estranho e meio deslocado diante dos dois que a

cada instante pareciam mais unidos.

Era uma experiência interessante conhecer a dimensão de Melissa, mas como eu

queria estar em minha ilha agora. Olhando as estrelas e me esforçando para esquecer

que Melissa é o amor da minha vida. Vê-la nos braços de outro estava se tornando uma

tortura insuportável. Por não querer aborrecê-la minha cara era a que ela estava

acostumada a ver. E ela estava feliz de mais para se dar conta que eu estava sofrendo.

Biel abriu os braços preguiçosamente.

- Preciso dormir – ele falou entre um bocejo.

Todos nos despedimos de Maxuel que parecia extremamente aborrecido por ter

que deixar Lariana ir embora.

- Posso passar em sua casa amanhã Jeziel? – era claro que não era Jeziel que ele

estava interessado em ver.

- Claro amigo. Amanhã estaremos um pouco ocupados, mas quem sabe você não

possa levar Lariana para um passeio pela cidade. Ela vai gostar de conhecer ao seu lado.

O sorriso do rapaz encheu seu rosto e o de Lariana também.

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De volta a casa de Jeziel todos sentaram-se na sala espalhados pelo sofá e pelo

tapete.

Jeziel e Biel conversavam sobre voltar a Andaluz o mais rápido possível para

não dar tempo de Cordomad se reorganizar. Lariana parecia voar em seus pensamentos

e eu podia jurar que apesar deles estarem bloqueados a mim ela devia estar sondando o

de Maxuel a distância, e pela cara que ela fazia ele devia estar pensando nela. Vogue já

dormia no sofá e Melissa olhava para ela de cara feia começando a compreender a

proximidade dela com o irmão. Eu sabia que ela não ia gostar da idéia de ver os dois

juntos.

Até então por ela estar absorvida demais na presença de Jeziel ela não havia

notado, mas depois que a emoção dos primeiros momentos passou ela começou a se dar

conta do que estava acontecendo ao seu redor, e ver seu irmão acariciando os cabelos de

vogue enquanto ela dormia deitada com a cabeça em seu colo... eu conhecia aquele

brilho em seu olhar para saber que ela estava furiosa. E então me dei conta de uma

coisa. Algo que eu preferia nunca ter descoberto. O olhar que ela dava ao irmão que

estava entretido demais com as mãos nos cabelos de vogue, era o mesmo que ela me

olhava quando eu julgava que ela estava com ciúmes de mim. Descobri que Melissa

teria esse tipo de reação com qualquer pessoa que ela julgasse sua propriedade. Como o

olhar que ela deu ao ver sua mãe nos braços de seu pai, quando ela olhou para Biel

sendo carinhoso com Vogue, é o mesmo que ela me olha quando acha que alguém esta

me tirando dela. Não é paixão como eu esperava que fosse, era só posse. Por todo esse

tempo eu fui propriedade dela. E eu já sabia disso, mas nunca doeu tanto como agora.

Me levantei e Melissa me seguiu com o olhar. Andei até a porta de saída.

- Aonde você vai Aragorn? – ela me perguntou a perceber que eu ia sair.

Não respondi, imaginei que não conseguiria pronunciar uma só palavra sem

engasgar em minha dor.

- Aragorn?- ela insistiu em minha mente.

- Por favor Melissa, eu realmente preciso sair um pouco. – respondi

educadamente tentando não desmoronar.

Quando saí a rua, fiquei observando a diferença de tudo aqui. As casas, umas

coladas nas outras, as ruas de cimento, a iluminação feita por postes de luz ineficientes.

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A noite tão mais escura, e eu tentava identificar algo que tivesse a ver com Melissa.

Nada, apesar dela ter nascido nesse lugar, nada aqui também se parecia com ela. Em

Andaluz, ela sempre me pareceu deslocada, mas aqui em sua dimensão não era

diferente. Só havia um lugar que consegui ver Melissa completa, e neste lugar eu não

queria pensar agora.

- Nos braços de Jeziel - A voz de Tamala ecoou meu pensamento – Isso porque

Melissa nasceu para ele. Você não consegue entender, não e?

Respirei profundo e aborrecido.

- O que esta fazendo aqui fora Tamala? – perguntei de mal humor.

- Vim te fazer companhia.

- Eu quero ficar só. – falei pensando que seria o bastante para ela me deixar em

paz.

- Eu Preciso conversar com você.

- Porque você simplesmente não me deixa em paz?

- Porque você é...

- Ouça Tamala – eu interrompi o que quer que seja que ela queria me falar – sei

o que você pensa de mim e o que espera de mim. Então não me faça te magoar. O que

aconteceu quando éramos criança, aconteceu à muito tempo. Eu não estava esperando

por você.

- Eu esperei por você Aragorn, a minha vida inteira.

- Pois não devia ter feito isso. Quando tudo isso acabar, voltarei para minha ilha

e você nunca mais me verá.

Ela inspirou fundo. Parecia chateada. Eu não me importava. O que eu queria

agora era que essa luta entre Cordomad e Jeziel acabasse para própria segurança de

Melissa e logo que eu tivesse certeza de que ela estaria a salvo, eu me recolheria em

minha ilha para sempre.

- É só ela que te importa? Nada mais em sua vida?

- Saia da minha cabeça Tamala – até então eu estava de costas, mas me virei

enfurecido por ela invadir mais uma vez minha mente – Sei que tem muitos poderes,

mas isso não te dá o direito de não respeitar meu bloqueio.

- Me desculpe, eu só preciso encontrar uma forma de chegar até você. – falou

sentida saindo da minha cabeça e baixando os olhos ao chão.

- Para que? – falei irritado - Pra tentar me convencer que você é minha escolhida

como Melissa é de Jeziel?

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- Mas eu sou – falou tímida ainda olhando para baixo.

Eu ri sem humor.

- Ora, faça-me o favor... – Desdenhei.

- Você não me acha bonita? – perguntou sem jeito tentando arrumar seus cachos

dourados.

Eu sorri de novo.

- O que tem isso a ver? – ela era bonita, atraente, bastante feminina pra se

preocupar se eu gostava ou não de sua aparência, mas esse não era o caso. – o problema

não é você Tamala, é ela, é Melissa. Será que não entende?

- Entendo – ela disse finalmente se calando. Me olhou timidamente.

- Droga! – praguejei – Como eu fui me meter nessa? – esmurrei o muro de

concreto a minha frente.

Tamala me olhou preocupada.

Controlei minha luz que queria brilhar de pura ira. Eu estava me sentindo

impotente diante da minha situação e eu estava me odiando por causa disso. Estava

odiando também minha participação em toda essa história. E as decisões que tomei até

aqui. Agora estava na dimensão de Melissa preso a eles e sendo obrigado a vê-la com

Jeziel. O único conforto era saber que ela estava a salvo, bem, e feliz. E o que estava me

matando era saber que eu não era a causa da sua felicidade.

Empurrei meus cabelos pra trás com as mãos tentando organizar meus

pensamentos. Melissa estava bem. Isso é o que importa. Na verdade todos estavam bem.

Menos eu.

O carro de Jeziel estava ali parado. Pensei que seria uma boa dar umas voltas me

distrair dirigindo. Me afastar dali por algum tempo poderia me ajudar.

Entrei no carro. Tamala se materializou no banco ao lado em seguida.

- Eu vou com você.

Eu precisava mesmo era ficar sozinho, mas não achei que falar isso a ela de novo

adiantaria, então liguei o carro e parti pelas estradas sem direção.

Tamala permanecia calada ao meu lado o que era um alivio para mim. Não

estava mesmo interessado em conversar agora.

Depois de um tempo pela cidade acabei pegando a estrada que dava para o lugar

que chegamos aqui. A casa na beira do rio.

Eu desci do carro ainda sem dizer nada. E caminhei até o rio. Tirei a roupa de

Jeziel e mergulhei nas águas frias do rio da dimensão de Melissa. A água estava gelada,

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bem diferente das águas mornas do meu mundo à noite, e estavam me ajudando a

refrescar meus pensamentos.

Quando saí das águas, parei a margem do rio e olhei para o céu. Aquele céu

quase sem estrelas me trouxe uma tristeza profunda me lembrando que seria assim de

agora em diante minha vida. Uma eterna noite sem minha estrela.

- Não precisa ser assim – disse Tamala se aproximando de mim na margem do

rio ao captar meu pensamento que agora não estavam bloqueados.

Olhei para ela confuso.

- Eu estou aqui Aragorn – seus olhos suplicantes em mim traziam um brilho

novo.

Sim ela estava ali e pelo olhar, pela forma que seus olhos brilhavam me diziam

que ela estava aqui por mim.

- Você não vai começar com isso de novo, vai?- falei aborrecido parando de

frente a ela.

- Mais é verdade. – falou angustiada – porque não me ouve?

- Tamala... – eu não queria brigar com ela, eu não queria ofende-la, ainda que ela

estivesse me aborrecendo com esse assunto, ela era uma garota sensível e tinha me

ajudado quando precisei. Arriscou sua vida para me ajudara a salvar a de Melissa e

merecia minha consideração por isso. Mas ela estava indo longe demais com essa

conversa.

- Por favor, só me ouça – pediu aflita.

Eu não queria. Sinceramente não tinha nada que ela poderia falar que me

interessasse, mas eu poderia ouvi-la, já que seu rosto começava a mostrar sinais de

choro.

Fiquei ali parado de frente a ela sentindo o vento frio secar meu corpo esperando

que ela finalmente falasse o que tanto queria.

- Naquela primeira vez que o vi quando nós éramos apenas duas crianças, minha

vida foi marcada para ser sua.

- Minha?- indaguei.

- Sim, sua, como Melissa jamais poderia ser.

- Como isso poderia ser possível?

- Não tenho como te explicar algo assim, mas sei que não foi por acaso que você

me deu essa pedra com uma parte de você. – ela segurou o colar entre os dedos.

- Você estava chorando e eu queria te alegrar. Foi só isso. – argumentei.

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- Não Aragorn, não foi só isso. Já era uma forma, ainda que não soubéssemos, de

nos encontrarmos em qualquer lugar do universo.

- Não. Melissa é minha estrela. – Falei olhando novamente o céu. Não estava

interessado nesse tipo de conversa.

Ela pegou meu rosto com as mãos quentes.

- Olhe pra mim Aragorn – ela me fez encontrar seus olhos dourados novamente.

seu toque queria aquecer meu coração, mas eu não permiti – a estrela é só um guia.

Uma forma de nos nortear aonde devemos chegar.

Balancei minha cabeça retirando sua mãos do meu rosto. Ela estava fazendo

aquilo de novo. Ela estava tentando me envolver com seu dom.

- Não Aragorn. Não estou tentando te seduzir, eu não tenho esse dom. O que

você sente quando eu te toco, é reflexo do que eu sinto por você. Do que eu sempre

senti.

Olhei para ela e seus olhos estavam marejados.

- O que quer de mim Tamala? – perguntei rispidamente. Eu reconheci aquele

olhar, já tinha visto uma centena de vezes em outras mulheres interessadas em mim. Eu

queria que ela me deixasse em paz.

- Eu te amo Aragorn, com toda a força que há em mim. Eu sempre te amei e

nunca em nenhum momento quis ser, ou fui de mais ninguém em toda minha vida.

Tenho te esperado por todos esses anos olhando junto com você as estrelas e

imaginando quando poderia finalmente ter você comigo. Quando você cantava para elas

todas as noites eu podia te ouvir. A única coisa que quero é poder te amar.

- E porque nunca foi ao meu encontro? Porque deixou que eu me apaixonasse

por Melissa? – perguntei indignado. Que tipo de amor era esse?

- Não era a hora – ela respondeu serenamente me deixando irritado.

- Só que hoje estou apaixonado e sofrendo, e não é por você. Acha que a hora é

agora?

- Não era pra ter sido assim, mas eu... te amo.

Tamala estava se esforçando, e eu sentia até uma pontada de desespero em sua

voz querendo me fazer entender e aceitar seu amor.

- Não posso receber seu amor. Não tenho como retribuir, vou acabar te fazendo

sofrer.

- Não acredito nisso.

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- Pois acredite, olhe para mim... Melissa me advertiu de que ela não poderia

corresponder ao meu amor, e eu acreditei que poderia fazê-la me amar. Veja agora

como estou. Dilacerado.

Me afastei de Tamala e andei até mais perto do rio.

Ela veio andando atrás de mim.

As coisas podiam ser assim bem fáceis, ouvir meia dúzias de palavras de amor e

estar tudo resolvido em nosso coração. Como eu queria que fosse assim, como eu queria

me curar dessa dor.

- Então deixe-me fazer o que ela não permitiu que você fizesse. Deixe-me tentar.

- Tentar? – perguntei curioso. O que ela estava propondo?

Me virei para Tamala e ela estava tão suplicante diante de mim, seus olhos

cheios de esperança.

- Você certa vez pediu a Melissa que ela permitisse a você tentar chegar ao

coração dela. Ela nunca permitiu. E jamais conseguiria já que estava destinada a Jeziel,

mas eu... eu sou o seu destino Aragorn, e se me der uma chance, eu posso chegar ao seu

coração.

Cada palavra de Tamala era carregada de tanta emoção dessa verdade em que ela

acreditava, que por não suportar mais tanta dor, eu estava até querendo dizer que sim.

- Eu realmente te amo – ela continuou se aproximando mais - E estive esperando

por você todo esse tempo – reforçou - e sei que você esta destruído por dentro, mas

posso ser sua cura. Talvez não doa tanto a falta de Melissa se alguém conseguir

diminuir o buraco.

Ela deu mais um passo até mim e eu hesitei em seus olhos.

- Me deixe tentar – me pediu mais uma vez.

Eu oscilei.

Não, eu não poderia fazer isso a ela. Eu sabia exatamente a dimensão da dor que

estava sentindo e se não desse certo, eu acabaria fazendo ela sofrer assim como eu. Não

seria justo. Tamala já tinha passado por muita coisa até ali.

- Não me importo que você não seja meu por completo agora. Eu serei sua – ela

se aproximou ainda mais de mim – sua Aragorn... serei sua pelo tempo que me quiser.

Ainda que seja só por essa noite. – ela se aproveitou por perceber que eu estava

hesitante - E se amanhã você não me quiser mais eu vou embora da sua vida só com a

felicidade de ter estado em seus braços uma única vez.

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Ela falava e de uma forma inexplicável eu podia sentir seu amor, sentia a

verdade em suas palavras e algo dentro de mim agora olhava para ela como uma fuga,

como uma rota de escape, mas não seria justo agir com ela assim, ainda que ela mesma

estivesse me dando essa alternativa.

- Tamala eu...

Ela não me deixou terminar a frase. Colocou sua mão suavemente sobre meus

lábios e seu toque novamente me fez vacilar. Me afastei para fugir daquela sensação. Eu

estava muito confuso agora.

- É meu amor Aragorn que é tão forte por você que não consegue ficar dentro do

meu coração, ele emana de cada poro da minha pele. Você pode senti-lo. Eu sei.

E realmente eu podia sentir algo que eu nunca havia sentido antes. Uma

atmosfera que surgia dela querendo me envolver e que era reconfortante. Principalmente

nesse momento em que eu me sentia tão só e tão fragilizado. Nesse momento sem

esperança e desesperadamente precisando de um refúgio.

Não sei o que senti. Era difícil resistir ao que eu experimentava vibrando dela,

ou ao que eu via refletido em seus olhos. Num instante a imagem daquela garotinha

sorrindo timidamente para mim me levou ao passado.

Segurei Tamala pelos ombros. Um pouco irado, um pouco inseguro.

Ela não se esquivou. Estava ali tão entregue que eu quis saber até aonde ela iria.

- Minha? - Perguntei quase que com raiva fitando seus olhos que brilhavam

intensamente. – Tem certeza?

- Sua – respondeu docemente.

Me aproximei de seu rosto enquanto ela fechava os olhos e a centímetros de seus

lábios eu podia sentir o calor de seu hálito. Ela estava mesmo ali para mim, e eu estava

me afogando na dor de uma solidão que jamais seria preenchida pela mulher que eu

amo. Eu precisava me salvar antes de sucumbir por completo. A imagem de Melissa

beijando Jeziel quando eles se reencontraram surgiu como um assombro enquanto eu

segurava Tamala, e machucou ainda mais me sufocando o peito. Melissa não era minha,

nunca seria. Essa era a verdade que eu tinha que aceitar, e Tamala estava ali dizendo

que seria minha. Eu podia tentar... podia escapar dessa dor se talvez...

E como alguém que depois de muito tempo debaixo da água procura ar para seus

pulmões, me agarrei a seus lábios quentes e doces. Por um tempo a beijei

impetuosamente e irado de uma forma inconsciente tentando encontrar os lábios de

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Melissa ali, mas os de Melissa nunca foram assim tão sem reservas aos meus, já os de

Tamala correspondia perfeitamente a minha vontade.

A raiva que eu estava sentindo cedeu, e sem me afastar transformei nosso beijo

em algo mais terno e íntimo. Minhas mãos se enroscaram nos cachos de seus cabelos e

seus braços me abraçaram. Sua respiração pesou e ela ofegou me trazendo a razão de

que era Tamala que estava ali, então senti novamente seu amor fluindo e me envolvendo

e sem que eu soubesse como aconteceu todo meu corpo teve consciência da presença

dela e reagiu a favor de Tamala.

Sem me afastar da sua boca, tentando me esquecer de tudo ao meu redor e tendo

a plena consciência de Tamala clamando por mim, passei a explorar com as mãos cada

parte de seu corpo. Ao perceber o que estava prestes a fazer hesitei pensando que estava

indo longe de mais sem a imposição de limites que eu já tinha me acostumado de

Melissa, e me afastei.

Mas Tamala me olhou enlevada e confiante. Verdadeiramente disposta a ser

minha naquela noite.

Com suas mãos retirou as alças finas de seu vestido que caiu a seus pés. Sua luz

dourada brilhou a deixando perfeitamente linda. Fiquei por algum tempo admirando seu

corpo nu e o brilho em seu olhar. Ela não parecia constrangida.

Mas eu tinha que tomar uma decisão porque se eu aceitasse o amor que ela

estava me oferecendo, não haveria volta. O amor que eu sentia emanar de Tamala era

precioso demais para ser tratado com leviandade. Se eu a tomasse em meus braços

agora seria um compromisso que eu faria de esquecer Melissa completamente e de

tentar amar Tamala como hoje amo Melissa. Não sei se conseguiria honrar um

compromisso como esse. Mas ela estava ali pra mim.

Ela deu mais um passo em minha direção colando seu corpo no meu e

envolvendo meu pescoço com seus braços.

A ergui em meu colo para deitá-la sobre relva fina e macia da margem do rio me

deixando levar pelo amor que ela estava me oferecendo.

Admirei seu rosto afastando um cacho de seus cabelos que lhe cobria os olhos e

lhe perguntei em silêncio se ela tinha mesmo certeza do que estava fazendo. Sua

resposta foi sua mão em meu rosto me aproximando para mais um beijo.

E eu a aceitei.

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Estava colocando um ponto final para mim e Melissa. Eu não sabia exatamente

como seria minha vida a partir de agora, mas estava disposto então a tentar viver e quem

sabe ser feliz com Tamala e a fazer feliz como sempre desejei a Melissa.

Não sabia como seria olhar para o rosto da única mulher que amei até hoje

depois da decisão que tomei, mas de uma coisa eu sabia. Não iria doer tanto como

agora. Eu não estaria mais sozinho.

- Eu te amo Aragorn – foram as palavras que ouvi em sussurros sair dos lábios

de Tamala antes de beijá-la novamente e de tomá-la definitivamente como minha.

Capitulo 17

Melissa

Enquanto eu olhava o rosto de meu irmão e de Jeziel ao meu lado, me distraia

ainda que eles estivessem como dois soldados planejando estratégias de guerra. Para

mim o horror que tinha vivido nos últimos dias tinha passado. Eu estava fora do castelo

de Cordomad, minha família estava salva e segura, meus amigos também, e eu estava

em casa. Não exatamente em minha casa por causa do reencontro inesperado de meus

pais - eles precisavam de um pouco de privacidade - mas estar em meu mundo, em

minha dimensão agora tinha uma proporção gigante.

A muito e muito tempo que não me sentia tão bem. Mesmo com a imagem da

chata da Vogue deitada no colo do meu irmão - e que eu tinha que assumir que não

estava gostando nada disso, e esperava sinceramente que não passasse de uma bela

amizade entre os dois - eu estava completamente feliz.

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Meu Leo estava ali a centímetros de meus olhos e com os dedos entrelaçados

nos meus. Lariana com o semblante avoado me dava a impressão de que estava

desligada de onde estava e ligada onde Maxuel devia estar. Fiquei imaginando se ela

fazia agora como Jeziel fez quando nos conhecemos, ficava ligado em cada um de meus

pensamentos para saber se eu pensava nele. Secretamente fiquei feliz por ver ela

interessada em alguém que não fosse Aragorn que na minha opinião, esta bem melhor

sem ela.

Aragorn saiu chateado com alguma coisa. Eu sabia que devia ter dado mais

atenção a ele que tanto me ajudou nesses últimos dias, mas eu estava totalmente absorta

em Jeziel e no fato de finalmente podermos estar juntos. Não foi nada fácil para mim

pensar que jamais o veria novamente e quando depois de conseguir me livrar daquela

maldita esfera eu pude vê-lo, não tinha mais nada que eu quisesse fazer a não ser nunca

mais sair de perto do meu Leo.

Que experiência horrível foi estar dentro daquela esfera. Eu me lembrei. Não

havia luz nem som, um vácuo malévolo que queria me sugar para aquele nada. Eu não

sabia o que devia fazer, não sabia que poder usar, e cada um dos poucos poderes que eu

tinha tentei colocá-los em ação e nenhum parecia funcionar.

A cada momento que passava eu sentia minhas forças indo embora e com a

fraqueza que vinha sabia que iria me juntar aos outros que apesar de não poder vê-los

nem ouvi-los, sabia que eram prisioneiros ali. Foi quando pensei que teria que sair de lá

urgentemente, e se eu abrisse meu portal de poder recentemente descoberto, eu poderia

sair, mas entendi que se eu abrisse o portal não só para mim, todos os prisioneiros de

Erkas também sairiam assim como Jeziel escapou a primeira vez que consegui usar o

portal para ele.

A esfera era um recipiente, e dentro dela um lugar entre o espaço e o tempo, um

lugar entre dimensões que mantinha a todos ali até que houvesse uma passagem. Por

isso Tamala insistia em que eu poderia destruir a esfera, com o poder de abrir um portal

sem ajuda de qualquer objeto, porque eles não entrariam lá, só a força da vida era

sugada para dentro da esfera nada mais, de dentro dela eu poderia abrir a passagem de

volta e trazer as almas da família macabra e suas vítimas.

Eu estava me esforçando para abrir o portal, não estava sendo fácil. Então eu

senti uma outra força estranha que vinha pelo lado externo da esfera, e ouvi a risada

diabólica de Erkas.

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Era agora ou nunca, ou eu rompia a esfera através do portal, ou estaria presa ali

para sempre. Foi quando a coroa em minha cabeça brilhou, e minha luz rompeu, o colar

de Jeziel também reluziu e me deu mais força ao me lembrar o motivo real de eu estar

ali. Meu Leo estava lá fora lutando contra Cordomad, sua vida correndo risco enquanto

Cordomad não pudesse ser destruído. Ele precisava de mim agora e eu não podia deixar

que nada acontecesse a ele, pois precisava dele por toda minha vida.

Minha luz então foi crescendo e lentamente enchendo todo aquele lugar, e

finalmente pude ver alguma coisa, e rostos de repente surgiram a minha frente.

Todos os prisioneiros de Erkas estavam me olhando esperançosos de que agora

eles poderiam ser livres. Um deles ergueu a mão apontando para trás de mim. Me virei

para ver o que ele indicava, e foi então que vi três espectros com os olhos fechados

como que adormecidos. Reconheci de imediato que eram de Raika, Cordomad e Erkas.

Quando a luz que de mim crescia se aproximou mais deles seus olhos se abriram e seu

semblante conhecido se transformaram em rostos perversos. Demônios que

representavam muito bem a imagem real dos três que em carne expeliam tanta beleza,

mas suas almas eram monstruosas.

Quando a luz tocou nos espectros, urros apavorantes saíram de suas gargantas e

eles se prepararam para me atacar.

Não deixei o medo me dominar, fechei os olhos e com toda força que ainda me

restava me concentrei ainda mais na luz que de mim rompia e abri o portal

transdimensional que se expandia numa grande força envolvendo todos e também os

espectros. De repente um grito ensurdecedor e pavoroso ecoou vindo pelo lado de fora e

num instante tudo... toda a sensação de poder malévolo desapareceu. Por um tempo

permaneci concentrada e de olhos fechados sem saber o que tinha acontecido, se eu

estava viva ou se tinha morrido, se eu tinha conseguido ou não, mas quando criei

coragem e abri os olhos a visão mais perfeita que meus olhos já viram surgiu em minha

frente. Meu Leo estava ali bem diante de mim.

Quando o vi sabia que tinha dado tudo certo e que não havia mais o que temer e

permaneci olhando para ele, eu simplesmente não conseguia desviar dele meu olhar até

que senti Tamala segurar minha mão.

Foi uma boa idéia de Tamala abrirmos juntas o portal e trazer todos para essa

dimensão e... – engraçado. Onde será que ela esta? - Eu não havia pensado nela até

agora. Será que ela foi se deitar em alguns dos quartos? Ela devia estar tão cansada

como eu. Só que eu me recusava a dormir, se Leo ia ficar acordado eu também iria.

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Das coisas boas que eu conheci em Andaluz, Tamala era uma delas. Ela

consegue transmitir tanta paz, ela é tão zen e centrada, seus dons são tão incríveis, e

ainda assim é tão meiga e gentil e também tão constrangedoramente linda. Seus traços

sua feição conseguem ser ainda mais perfeitos e viciantes que os de Raika. Raika na

verdade só era bonita por fora, mas em Tamala sua beleza é divinal. Com seus cabelos e

seus olhos dourados ela mais se parecia a um anjo do que qualquer pessoa que eu já

conheci. A não ser Aragorn com seu jeito de anjo travesso. Os dois bem que podiam ser

irmãos com tanta semelhança. Vai ver foi isso que me fez gostar dela tão rapidamente,

sua semelhança com meu melhor amigo.

Meu Leo e Biel ainda conversavam sobre quando deviam voltar e seu assunto

não me importava. Se eu tivesse escolha nunca mais poria meus pés em Andaluz. É

claro que não foi de todo mal minha passagem por lá, mas aqui me sinto bem mais

segura.

Jeziel brincava rodando a minha aliança de noivado em meu dedo enquanto

conversava com Biel que agora já pestanejava no meio da conversa. Meu irmão estava

cansado. Com um bocejo ele recostou a cabeça no encosto do sofá e adormeceu. Jeziel

balançou a cabeça compreensivo vendo Biel apagado no sofá. E percebendo que não

teria mais conversa fitou minha mão da aliança que ele segurava, ergueu até seu rosto e

a beijou.

- Case-se comigo! – ele falou ainda olhando a aliança em minha mão.

A reação que eu tive não era a melhor para aquele momento. Eu emudeci,

empalideci, engasguei, pisquei os olhos rápido, várias vezes, minhas mãos suaram frio e

meu coração tropeçou nas batidas como se essa fosse a primeira vez que ouvi sua voz

falar comigo.

Ele se virou para me olhar com um sorriso tão sublime nos lábios que se a

intenção dele era me tranqüilizar não conseguiu. Era Jeziel... meu Leo ali... a pessoa que

eu mais amo na vida me pedindo pra casar com ele. De novo.

De volta a minha dimensão isso me parecia tão irreal. O cara mais perfeito do

universo casado comigo? Quem sabe tudo isso não passou de um sonho.

- Talvez daqui a pouco Biel entre pela porta do meu quarto me chamando para

ir a escola – analisei.

Ele tocou meu rosto, e seus olhos nos meus me deixaram sem fôlego.

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- Mel, você tem razão, é um sonho – ele falava pelo eco de meus pensamentos -

mas não é você que esta sonhando, sou eu. Porque mal posso acreditar que você esta

comigo aqui e depois de tudo.

- Se é um sonho prefiro viver nele para sempre – falei segurando seu rosto entre

minhas mãos tentando controlar a emoção.

Ele pousou suas mãos sobre as minhas e beijou cada palma.

- Tão piegas... – ele falou divertido.

- Aprendi com você.

- Então que tal mais algumas aulas?

- Mais aulas?

- Ainda não disse o quanto te adoro... o quanto adoro cada parte de você.

- É só dizer que me ama, já me contento.

Ele suspirou, preparou seu olhar mais adorável e com a voz aveludada e

carregada de romantismo me acelerou o coração.

- A palavra amor é a mais linda de todos os mundos, mas hoje não consegue

expressar o real sentimento que tenho por você. È uma palavra pequena de mais para

caber o que eu sinto. Você é meu amor, minha paixão, mais é ainda mais que isso. Você

é a essência da minha vida. Não posso viver sem você.

Olhei para ele e tive absoluta certeza que estava com cara de boba.

- Ual! Você é o mestre – disfarcei.

- Tenho uma excelente inspiração.

Eu sorri e ele me olhou de uma forma insondável.

- Porque esta me olhando assim? – perguntei me sentindo feliz por ser alvo de

seu olhar, mas também constrangida com a intensidade. Não entendia como ele ainda

conseguia me deixar assim.

- Você lembra de sua lista das coisas que você mais gosta? – me falou tombando

o rosto de lado conseguindo ficar ainda mais perfeito, só ele é capaz disso a cada gesto.

Idolatrando seu rosto era difícil pensar em qualquer outra coisa que não fosse

ele.

- Como é? – perguntei piscando os olhos tentando me situar no assunto. Pensei

que minha dimensão tinha o poder de me deixar mais boba do que eu era em Andaluz.

- Sua lista, lembra? – afirmei com a cabeça – estou fazendo a minha e já tenho o

primeiro item da lista.

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Olhei para ele sabendo que o que ele me diria agora provavelmente faria meu

coração parar.

- Qual é o primeiro da lista? - Perguntei preparada para fazer meu coração voltar

a bater assim que ouvisse sua resposta.

- O primeiro item da minha lista das coisas que mais gosto na vida é – ele me

olhou fazendo suspense. Me sorriu e meus lábios refletiram sem perceber seu sorriso –

te fazer sorrir. Não há nada que me faça mais feliz que ver teu sorriso perfeito. Te fazer

sorrir é o que mais gosto em minha vida.

Eu estava errada. Meu coração não parou, ele pulou forte dentro do peito me

provocando um soluço involuntário e sem que eu soubesse como estava com as

lágrimas transbordando em meu rosto.

- O que foi meu amor? – ele perguntou angustiado diante do meu pranto

ridiculamente repentino e sem propósito.

Bem que eu tentava falar, mas o soluço não deixava. Meu Leo tentava

inutilmente enxugar minhas com as mãos, mas uma cachoeira descia de meus olhos.

- Mel, o que foi? fala pra mim... – ele ainda estava angustiado – me desculpe eu

não queria te aborrecer. Quer que eu coloque outro item como o primeiro em minha

lista? Eu devia saber que você não ia gostar, mas é assim que me sinto, mas se vai te

fazer sentir melhor é só me dizer... não tem problema pra mim...

Ele estava tagarelando se esforçando para me confortar e não estava entendendo

que minhas lágrimas era exatamente pelo que ele disse. Como eu poderia ter outra

reação ao saber que em sua lista das coisas que ele mais gosta em sua vida é fazer a

minha feliz?

Na minha lista o primeiro item é estar em seus braços, pois não há lugar melhor

pra mim - Pra mim! – eu sou egoísta o suficiente para pensar em mim mesma sendo

mais que feliz em seus braços, só que ele se sente feliz com minha felicidade, com meu

sorriso... diante disso eu só posso chorar.

- Melissa o que há?! Não faz isso comigo, você sabe que não suporto te ver

chorando...

Diante da angustia dele e de nenhuma palavra conseguir sair de minha boca,

desbloqueei minha mente e deixei que ele sonda-se meus pensamentos.

Quando Leo abstraiu da minha mente o motivo do meu choro a angustia sumiu

do seu rosto e com meu rosto entre suas mãos ele me beijou sufocando meu pranto e eu

me agarrei a ele como sempre buscando o alimento para minha vida.

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Quando nosso beijo terminou - cedo de mais para meu gosto - ele se levantou do

sofá me erguendo pela mão e me guiou pelas escadas até seu quarto.

A luz do sol já aparecia na janela que ele me posicionou recostada em seu corpo

para admirá-lo. O primeiro sol que eu via nascer em meu mundo depois de tanto tempo

longe. Ele tentava brilhar com toda sua força, mas diante da minha felicidade de estar

junto ao amor da minha vida acho que só o sol de Andaluz poderia resplandecer a

altura.

- Esta com saudades de casa?

- Acho que me acostumei com Andaluz.

- É seu reino, até o sol que brilha lá é seu.

Virei meu rosto para olhar seus olhos que estavam mais confiantes do que

quando ele costumava falar para mim de Andaluz antes de eu conhecer.

- Temos mesmo que voltar para lá?

- Erkas foi destruída, Raika esta perdida para sempre em alguma dimensão num

lugar bem distante do universo, Cordomad não tem mais os poderes da esfera para o

proteger. E nós vamos assumir o trono de meu pai e seremos felizes para sempre. Esse

é o fim que planejei para nós dois.

- Meu conto de fadas...

- Seu conto de fadas, com final feliz.

- Só que antes disso o príncipe encantado vai se casar com a plebéia?!

- Com a princesa – me corrigiu – E o mais rápido possível.

- Agora você esta com pressa?

- Não consigo imaginar algo melhor para fazer antes de voltar a Andaluz. Seus

pais estão aqui, seus amigos, e eu quero fazer algo que eu já devia ter feito desde o

primeiro dia que te vi. Casar com você.

- No primeiro dia que você me viu você já queria se casar comigo? – perguntei

brincalhona.

- Queria sim, e você aceitaria se casar comigo se eu lhe pedisse?

Eu sorri com a idéia.

- Imagina se no dia em que você esbarrou comigo na pizzaria, eu enquanto te

segurava pelo braço para que você não caísse no chão ao invés de perguntar se você

estava bem dissesse: quer se casar comigo? O que ia achar?

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Dei uma gargalhada gostosa ao imaginar a cena do cara mais lindo que eu já vi

em toda a minha vida parado aquele dia a minha frente a primeira vez me pedindo em

casamento.

- Eu ia achar que você era completamente maluco.

- Ta vendo, por isso não pedi naquele dia.

- Podia ter tentado, era bem capaz que eu dissesse sim.

- Você se apaixonou por mim naquele dia, não foi? - Me sondou.

- Não. Me apaixonei por você no dia quem que vi seus olhos a primeira vez em

meus sonhos.

- Então, temos perdido muito tempo. Não quero mais protelar.

- Nem eu.

- Então esta combinado, agente se casa hoje.

- Hoje?! – minha voz saiu surpresa.

- Assim que todo mundo acordar agente se casa – afirmou.

- Pêra aí, mas temos que organizar algumas coisas. E eu não tenho roupa pra

casar. E tenho que falar com minha mãe e os papeis e...

- Deixe tudo comigo. Seu vestido de noiva esta pronto em Andaluz Vogue ira

buscá-lo junto com um dos anciões que realizara nosso casamento como no tempo em

que meu pai e minha mãe se casaram. Com certeza seu pai já falou com sua mãe.

- Hoje?! – falei insegura - Mas eu estou um caco, não dormi a noite inteira e meu

cabelo tem anos que não vê uma escova e minhas unhas estão horríveis e...

- Antes era você que tinha pressa o que tez mudar de opinião?

- Não mudei, quero me casar com você o mais depressa possível, mas quero

estar bonita para você, e além do mais não dá sorte o noivo ver a noiva antes do

casamento.

Casar com meu Leo era o que eu mais queria, só que diante da chegada desse dia

eu estava meio apavorada.

- Você só esta nervosa, e eu acho realmente que você não tem que fazer força

para ser linda aos meus olhos, e essa história de não ver o noivo no dia do casamento

não vai vingar, me recuso a me afastar de você um minuto sequer pelo resto de minha

vida.

- Já que vamos casar segundo as tradições de seus pais, posso ao menos guardar

uma das minhas? – pedi.

- Claro, que tal a tradição de jogar o buque? – ele brincou.

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- Não Leo.

- Você não vai sair de perto de mim.

- Só por algumas horas – não dava para me casar da forma desarrumada em que

eu estava.

- Não – falou categórico.

- Não há perigo aqui, você sabe, e eu preciso mesmo me arrumar um pouco. –

falei sentindo minha franja crescida incomodar os olhos e observando minhas unhas

devastadas.

- Você não era assim tão vaidosa.

- Vou me casar com um rei não é? Preciso estar a altura.

Ele balançou a cabeça achando que eu estava exagerando, mas eu sabia que era

só preocupação em se afastar de mim.

- Não sei não.

- Por favor, me de até amanhã a noite.

- Amanha?! – ele falou como se fosse uma eternidade.

- Eu preciso dormir um pouco e será tempo suficiente para eu estar pronta para

você.

Ele respirou fundo desgostoso, se afastou de mim, cruzou os braços e me olhou

chateado.

- Só até amanhã – falei - Nada vai nos separar até lá, nem depois.

- Quando vou entender você? – resmungou.

Fiz cara de dengo e cantarolei.

- Por favor... por favor... por favor!

- Hummm, esta bem – concordou a contra gosto – só até amanhã. Eu devo estar

ficando bobo igual seu amigo Aragorn que faz tudo que você quer.

- Ei! Ele não é bobo - defendi - e... onde será que ele esta? – me preocupei – ele

não conhece minha dimensão será que ele não esta perdido ou metido em alguma

encrenca por ai?

- Ele deve estar só dando uma volta. – Jeziel supôs.

- Sozinho? – me preocupei.

- Aragorn sabe se defender.

- Por favor Leo, descubra onde Aragorn esta.

Jeziel ficou concentrado por alguns segundos. Eu sabia que ele estava se

comunicando com Aragorn.

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- Ele esta bem, – pigarreou – muito bem por sinal.

- Muito bem? O que você viu? Onde ele esta?!

- No chalé.

O que ele poderia estar fazendo sozinho no chalé? - Me preocupei ainda mais.

- Ele esta chateado comigo, não é? – perguntei me sentindo um trapo. Deixei

meu amigo sozinho numa dimensão totalmente estranha. Eu devia ter dado mais atenção

a ele.

- Ele esta bem, acredite em mim. – Jeziel não queria me dar detalhes e falava

como se quisesse encerrar o assunto. Eu cismei.

- O que esta acontecendo Jeziel?

- Essa é uma conversa que ele quer ter pessoalmente com você então não me

pergunte.

- Conversa? Que conversa? O que ele quer me dizer? – só me faltava agora ele

me dizer que nunca mais iria me ver. Ele devia estar com raiva de mim.

- Melissa... – Jeziel me censurou.

- Ele é meu amigo e eu quero saber o que esta havendo.

- Ele vai te contar.

- Então eu quero ir até lá.

- Não acho que essa seja uma boa hora.

- Porque não? O que você esta escondendo de mim – cismei ainda mais.

- Eu não estou escondendo nada - Falou erguendo as mãos na defensiva.

- Então é ele quem esta? – perguntei já de mal humor.

Tentei então diante das evasivas de Leo eu mesmo entrar em contato com

Aragorn, mas sua mente estava fechada para mim, coisa que ele jamais fazia.

- Aragorn, fale comigo. – chamei em pensamento ele não respondeu. – Aragorn!

– tentei novamente – não finja que não esta me ouvindo – resmunguei – se não falar

comigo agora vou até aí! – ameacei.

Eu sabia que ele me ouvia, sabia disso, e o fato dele não responder me deixou

além de irritada muito preocupada. Algo estava acontecendo. Será que dessa vez ele

realmente ficou bravo comigo? Ou o fato dele me ver com Jeziel o feriu de mais. Eu

sempre fazia isso com ele, eu sempre o machucava. Eu era péssima com ele, uma

péssima amiga. Sabia que era duro para ele me ver com Leo, eu devia ter mais cuidado

quando ele estivesse por perto, não devia ficar tão absorta em Jeziel na frente de

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Aragorn, eu não podia mudar o que sentia por ele, mas podia evitar que ele sofresse

tanto.

Jeziel acompanhando meu pensamento me olhou ciumento. Eu não gostei, não

sei por que, mais ciúmes não combinava com ele.

- Melissa, se teu amigo resolver te esquecer? Até porque nós sabemos que ele te

ama muito mais do que por amizade. Mas, se ele resolve procurar viver uma outra vida

longe de você tentar, ser feliz com outra pessoa?

- Do que você esta falando, Aragorn vai embora? – Droga! É isso não é? Ele vai

embora? - Eu não podia imaginar algo assim. Já tinha visto ele ir embora uma vez. Não

ia querer isso de novo.

- Não é isso que estou falando - Leo pareceu irritado.

- Porque ele iria embora? Eu quero que ele seja feliz, ele merece ser feliz, mas

ele não precisa ir embora para isso. – falei quase histérica.

- Você esta falando da sua vida não é? Você não quer que ele saia da sua vida.

Jeziel não gostou do tom da minha voz nem da angustia impregnada nela.

- Sei que não gosta dele, mas...

- Não é isso Mel, se eu disser que não gosto dele estarei mentindo. Temos

algumas diferenças e um amor em comum, mas isso não é motivo para eu não gostar

dele. Como eu posso não gostar de uma pessoa que te salvou tantas vezes, que cuidou

tão bem de você? Você é minha vida e qualquer um que fizer bem a você faz a mim

também. Só que enquanto ele estiver preso a você ele jamais será feliz. É isso que você

quer para seu melhor amigo?

- Você não entende... – tentei explicar até que ele me interrompeu.

- Antes realmente eu não entendia. Não entendia a relação de vocês, não

entendia porque suas melhores lembranças de Andaluz era com ele, não entendia porque

ele conseguiu fazer de você a mulher corajosa e guerreira que você é somente dizendo

que acreditava em você. O que eu não consegui fazer, porque ainda agora para mim,

mesmo depois de saber que você sozinha destruiu a magia que escravizava todo um

mundo, é aos meus olhos a pessoa mais frágil e que eu preciso proteger em meus

braços. Não conseguia entender porque você via a ele como capaz de sair de qualquer

luta intacto enquanto você temia que eu acabasse morrendo. Não entendia porque você

teimava em confiar mais nele do que em mim. E agora percebo que tudo isso, todo esse

seu apego é medo de não ter em quem se agarrar, em quem se apoiar se algo der errado.

Só que agora Mel, nada vai dar errado, eu estou aqui com você, nós vamos nos casar

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amanhã e estaremos juntos para sempre. Você não precisa mais de Aragorn, eu estou

aqui para você.

- Você esta com ciúmes? – sondei.

- Talvez. – assumiu um pouco constrangido.

- Não precisa sentir ciúmes. Amo você com toda a força da minha vida, é que

Aragorn é...

- Seu bote salva vidas – ele me interrompeu novamente - Só que você não vai se

afogar mais. Nunca mais. E agora eu preciso de você inteira pra mim. Deixe que

Aragorn curse seu rumo e você volte a andar comigo como antes. Antes de Raika ter me

tirado de você, antes de você ter que ir a Andaluz me salvar, antes de seu coração ser

dividido. Eu quero ele todo Melissa, todo para mim. Sem reservas sem medo sem

receio, sem bote salva vidas, ou quem vai acabar se afogando sou eu.

A voz angustiada dele me perturbou.

- Porque esta me dizendo isso?

- Você tem noção do quanto te amo? Do quanto minha vida é nada sem você?

Do quanto eu preciso de você pra mim? Não vou admitir ter menos do que me foi

destinado da sua vida Melissa. Você nasceu para ser minha, inteiramente minha e eu

exijo e reivindico tudo que é você e que esta em você para mim. Tudo que eu perdi,

tudo que eu deixei escapar por entre minhas mãos. Eu sei, reconheço minha culpa, meu

erro e eu já te pedi perdão pelo que te fiz sofrer, mas agora seremos eu e você e

ninguém mais. Eu e você.

Jeziel estava tão possessivo, eu nunca tinha visto ele daquela maneira. Ele não

queria só meu amor e nem só meu pensamento, ele queria ser meu dono, ser meu centro,

ser meu mundo.

- Quero ser seu universo Melissa porque você já é o meu. – respondeu diante do

meu pensamento.

Olhei para ele admirada.

Ele virou as costas e foi olhar pela janela imaginando que tinha falado demais.

Talvez um ser humano comum pudesse se sentir invadido, aprisionado, domado

quem sabe até mesmo amedrontado em saber que outra pessoa o tinha como posse

irrevogável, mas eu não era uma pessoa comum, e no meu caso ouvir Jeziel querer ser

tão dono de mim me fez sentir ainda mais amada.

Ele tinha razão, Aragorn era meu bote salva vidas. Se alguma coisa desse errado,

se meu barco afundasse, eu teria ele para me agarrar, mas analisando a declaração

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sincera de Jeziel eu percebi que o que eu queria dele era o mesmo. Queria Jeziel para

mim de uma forma tão minha que nem se ele quisesse poderia se livrar do meu amor.

Quero ser seu universo e que ele seja o meu. E se alguma coisa der errada, não quero

um segundo de vida se não for ao lado do meu Leo.

Me aproximei e o abracei pelas suas costas.

Ele respirou profundamente enlaçando meus braços sob os dele.

- Eu sou sua, tudo que é meu, tudo que há em mim é seu. Sua pra sempre e

inteiramente.

Ele girou no enlaço dos meus braços ficando de frente comigo. Acariciou

suavemente meu rosto, meus cabelos e me olhava tão profundamente como se venerasse

uma visão angelical.

- Ainda não é. Não totalmente. Mas será agora – ele falou determinado com um

brilho diferente no olhar.

Me ergueu do chão me pegando nos braços e me levou até sua cama. Me deitou

com o peso de seu corpo sobre o meu me fazendo perder o fôlego. Sua boca procurou a

minha ardentemente enquanto cada pare de seu corpo se moldava ao meu. Suas mãos

impetuosas traçavam firmemente cada linha em mim e de uma forma carinhosa ele ia

aos poucos deixando claro sua intenção naquele momento, enquanto tentava me despir.

De repente me dei conta do que iria acontecer, o que ele quis dizer quando falou

que eu ainda não era dele, mas seria agora. Ele finalmente tinha tomado a decisão de

possuir todo meu ser. Algo que eu sempre sonhei, que desejei tantas vezes e que ele se

negava com medo de me prejudicar, de que trouxesse algum tipo de problema aos meus

dons.

Uma alegria eufórica tomou conta de mim, e logo eu estava ofegando. Me dispus

a ajudá-lo a retirar sua camisa e quando vi seu peito moldado a mão, tão perfeito como

um deus grego e seu rosto que agora me olhava com adoração como se o ser divinal ali

não fosse ele, senti minha boca se abrindo buscando por uma quantidade maior de

oxigênio. Seus lábios então puxou o sorriso torto mais encantador do mundo com um ar

de quem estava se deliciando em ver o efeito que me provocava. E ele estava certo,

tinha razão para sorrir, pois cada célula, cada terminação nervosa por baixo da minha

pele queimava em resposta ao seu toque.

Eu já não estava conseguindo pensar claramente em nada, envolta nas sensações

que meu corpo desfrutava agora e perdi mais ainda a consciência quando vi os olhos de

Leo brilhando e sua luz aos poucos rompendo por seus poros.

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Mediante ao que iria acontecer em pouco, a energia que emanava dele passou

então absorver a minha energia como se tudo que estivesse em mim quisesse se fundir a

Jeziel e para me auto defender minha luz também rompeu. Leo continuava a beijar meu

pescoço, meus ombros e não pareceu perceber minha auto e inoportuna defesa.

Foi então que comecei a sentir medo. Me deu medo do que viria, medo

do que eu estava sentindo, do que nós faríamos, medo do desconhecido. De repente eu

estava com medo de estar ali sozinha com o meu Leo. De repente eu queria que Ernest

ressuscitasse dos mortos e viesse bater na porta para nos interromper. Me dei conta que

ainda não estava pronta, que finalmente quando ele se decidiu eu ainda não estava

pronta. E a cada momento que meu medo aumentava, Leo ficava mais envolvido e mais

ousado.

- Eu te amo – ele sussurrou em meu ouvido me fazendo tremer – você é minha

Mel, toda minha.

Meu coração disparou, e apesar de saber incontestavelmente de que o que ele

dizia era verdade, eu não estava preparada. Ainda estava com medo. E como dizer isso a

ele sem magoá-lo, sem deixá-lo inseguro, sem levar ele a pensar que eu não o amava?

Logo hoje que eu estava sentindo ele tão vulnerável. Será que ele entenderia depois de

eu mesma tantas vezes ter quase implorado para que ele me tomasse em seus braços? O

que passaria pela mente dele se eu lhe dissesse não?

- Amanhã – sussurrei meio sem fôlego.

- O que disse amor? – a voz dele estava tão sedosamente rouca e carregada de

sensualidade que foi difícil me lembrar o que eu queria dizer.

Forcei minha mente a obedecer o comando da fala.

- Amanhã... nós vamos nos casar amanhã – me esforcei a responder.

- Sim, você será minha esposa amanhã. Será minha rainha.

- Eu sei... é que eu gostaria de... – eu tentava falar com coerência enquanto meus

lábios eram bloqueados pelos dele cada vez mais sedentos – ...de esperar até amanhã.

- Esperar? – ele sussurrou sem deter seus lábios ainda sem entender o que eu

queria dizer me esforçando para encontrar as palavras certas que não o magoasse.

- Leo... já esperamos até aqui. O que é mais um dia?

Ele entendeu. Me olhou surpreso, mas em seguida afundou seu rosto em meu

pescoço procurando por meu ouvido. O toque dos lábios dele em minha pele era

inebriante, fazendo meus sentidos vacilarem. Eu não entendia porque o medo se eu o

queria tanto.

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- Um dia é uma eternidade. – sussurrou - Não quero passar nem mais um

segundo sem você toda pra mim. Esperei de mais, eu quase te perdi para sempre. Não

quero deixar mais nada pra depois. Me arrependo de cada vez que lhe disse não.

Ele me apertou mais em seus braços e eu fiquei perdida nele.

- Por favor – Falei sem forças. Minha mente estava se desligando do corpo.

Minha luz estava se intensificando mais a medida que eu sentia que estava sendo

sugada, quase que igual ao dia que o salvei da sala de espelhos.

Leo estava avançando. Se eu não fizesse algo logo, seria tarde de mais.

Tentei mais uma vez agora com as mãos afastá-lo um pouco de mim, não estava

fácil combinar a vontade do corpo com a mente. O medo com a vontade... e...

Ele parou e me olhou novamente.

- O que foi meu Mel? – eu vi em seus olhos que ele estava realmente surpreso

com minha hesitação.

Eu teria que ser sincera e esperava que ele entendesse.

- Estou com medo.

- Medo, de mim? – falou cético e decepcionado.

- Não de você, só acho que devíamos esperar até amanhã. Não me sinto

preparada hoje.

- Você só esta nervosa. É normal – ele estava tão lindo, tão meu, e ali olhando

seu rosto esperando que eu falasse algo, quase me esqueci da loucura que eu estava

cometendo em querer afastar meu Leo de mim.

- Não estou nervosa... quer dizer estou um pouquinho, mas não é esse o caso.

- Então me diga o que é?

Sua luz sumiu, seus olhos também pararam de brilhar sua voz ficou dura, ele

deixou seu corpo cair do lado do meu e me olhava apreensivamente. Ele estava

magoado.

- Por favor, não fique chateado comigo – supliquei. Seu rosto estava sério.

Ele sorriu sem humor.

- Não estou chateado só estou tentando entender porque você não me quer.

- Mas eu te quero, só que hoje não estou...

- Preparada?! E amanhã estará? O que pode mudar de hoje para amanhã? – falou

impaciente.

- Não sei, eu só estou com medo agora – meus olhos já estavam mareando de

lágrimas.

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- Eu não entendo – ele bufou com os olhos fechados segurando a ponte do nariz

com o polegar e o indicador – mas tudo bem.

Me olhou evidentemente decepcionado.

- Você esta chateado.

- Não. Me sentindo rejeitado, desprezado e com o ego ferido talvez, mas

chateado não.

- Me desculpe.

- Ao menos sei como você se sentia – falou como se tivesse sofrido algum tipo

de vingança.

Ele deitou ao meu lado com o rosto voltado para o teto, pensativo.

Fez-se um longo silêncio.

- Vai me perdoar? – falei vendo seu rosto fechado.

- Você não fez nada de errado – a voz dele agora estava pesada.

- Então por que esta com essa cara? – perguntei na defensiva.

- Estou pensando se você não vai me deixar plantado no altar amanhã – falou

seriamente.

- E por que eu faria isso? – como ele podia imaginar uma coisa dessas?

- Talvez amanhã você descubra que não esta preparada para se casar comigo –

ironizou.

- Isso não tem graça - falei irritada.

- Não tem mesmo. Por isso prefiro que me comunique antes se for mudar de

idéia.

- Mas não vou! – resmunguei.

- Tem certeza? – ele rebateu.

- Absoluta. Eu vou me casar com você amanhã Jeziel, nem que seja a última

coisa que eu faça.

- Claro que vai. A sua confiança me inspira – falou irônico.

- Pois você verá!

- Já estou até vendo quando o juiz perguntar: Melissa aceita Jeziel como seu

esposo? você dirá: “ não sei seu juiz, estou com medo. Posso deixar para amanhã?” –

ele fez uma imitação ridícula da minha voz.

- Isso não é justo – gritei me sentando na cama já tentando segurar o choro.

- Não é justo para quem? – Ele também se sentou se virando para mim.

- Você esta brigando comigo um dia antes do nosso casamento?

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- Um dia ou um século? Quem é que sabe se você vai mesmo casar comigo

amanhã?

Comecei a chorar.

- Você esta sendo maldoso – choraminguei.

- E você esta fazendo manha. De novo. Será que não consegue conversar sem

chorar?

- Seu bruto.

- Mimada.

- Insensível.

- Birrenta.

- Seu...seu...seu... runff!! Você é impossível.

- E você é linda.

- Você é muito chato!

- Você também, mas eu te amo mesmo assim.

Eu ri sem saber exatamente o que estava sentindo só ele tinha a capacidade de

me levar aos dois extremos da emoção no mesmo instante.

Como ele conseguia ser insuportavelmente irresistível até brigando comigo?

- Você vai se casar comigo amanhã Melissa, ainda que para isso eu tenha que

virar esse seu mundinho de cabeça para baixo.

- Não será necessário. Eu tenho enfrentado mundos desconhecidos, montanhas,

cachoeiras, tempestades, noites no relento, enfrentado animais ferozes... eu fui atacada,

quase morri a espada, quase morri afogada, lutei contra Drevors, contra o próprio

Cordomad , enfrentei a magia de Erkas, a maldade de Raika, destruí uma esfera

amaldiçoada sozinha... Tudo isso para poder estar a seu lado pra sempre. E faço tudo de

novo se for necessário. Casar com você vai ser moleza. Nada vai me impedir de me

tornar sua esposa amanhã. – apontei o dedo determinada para ele – Nada. Esta ouvindo?

Jeziel me puxou num rompante para junto dele me abraçando forte. Seus lábios

procuraram os meus de uma forma quase violenta de tanta paixão. Me agarrei em seus

cabelo forçando ele a se prender mais em mim e ouvi um murmúrio baixo que vinha de

seus lábios entre os meus. Não deu para entender o que ele estava falando consigo

mesmo entre meus lábios, mas a tensão em seu corpo deixava claro que ele estava se

esforçando para respeitar o prazo que eu estabeleci até amanhã.

- Já chega! – Jeziel me segurou pelos ombros me afastando dele.

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Tive que desfazer o bico que minha boca fazia insistindo em não se separar da

dele.

Ele riu balançando a cabeça, com certeza da minha cara.

- O que aconteceu? – perguntei confusa.

- Você quem pediu isso.

- Eu pedi?

- Sua tradição de casamento. Vou te levar até sua casa para você poder se

preparar e ficar longe de mim até o altar.

Me arrependi do pedido idiota.

- Não quero mais ficar longe de você. É uma superstição boba.

- Tarde de mais. Você precisa ir – ele me olhou e eu pensei ter visto um tom de

constrangimento em seu olhar.

- Agora?! Por quê?

- Bom, primeiro porque já que você quer um casamento tradicional, eu preciso

organizar algumas coisas, depois que... eu vou tomar um longo e demorado banho

gelado.

Eu sorri.

- Certo então – concordei achando graça do motivo dele – você vai me levar em

casa?

Uma batida violenta e impaciente quase colocou a porta do quarto a baixo.

- Melissa você esta aí dentro?! – a voz nervosa do meu irmão me sobressaltou.

- Biel?! – falei quase apavorada pelo susto.

Ele mexeu no trinco.

- Porque essa porta esta trancada?!

Jeziel olhou para a porta e a chave girou ao comando de sua mente.

Biel abriu a porta como um policial que invade um cativeiro.

Eu pulei da cama totalmente assustada com a reação dele.

Quando ele olhou para mim notando que só poucas peças de roupas me restavam

sobre o corpo sua cor mudou. Um branco estranho empalideceu seu rosto passando para

um roxo amora assim que os olhos dele voaram de mim para Jeziel.

Mais que de pressa peguei algumas peças da minha roupa que estavam caídas ao

pé da cama e me vesti enquanto Biel marchava vagarosamente com os olhos mortais

para o lado de Jeziel que se levantava da cama para escapar da ira de meu irmão

ciumento e super protetor.

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- O que você fez?! – Biel perguntou entre os dentes enquanto fechava as mãos

em punho se aproximando de Jeziel.

- Biel... – Jeziel tentou amenizar a raiva de Biel falando calmamente – controle-

se.

- Eu. Vou. Perguntar. Só. Mais. Uma. Vez! – os dentes de Biel estavam

trancados de tal forma que ele tinha que silabar as palavras.

- Não aconteceu nada Biel – falei já preocupada com Jeziel. Eu conhecia meu

irmão bem de mais para saber que ele não iria esperar a resposta.

- Fica fora disso Melissa! – Biel bradou comigo.

Quando Biel se aproximou a distância de um braço de Jeziel ele recolheu o braço

se preparando para descarregar toda sua raiva na forma de soco no rosto e Jeziel que

nem sequer se encolheu. Quando o braço e Biel na força de um guindaste rumou ao

rosto lindo do meu Leo. Fechei os olhos para não ver o final esperado. Mas alguma

coisa aconteceu. Abri meus olhos para ver o que teria ocorrido e vi Biel parado como

uma estatua com a mão preparada ainda para o soco e Jeziel com os braços cruzados

calmamente parado a sua frente sem alterar sua serenidade. Só um sorrisinho meio

cínico, mas bem disfarçado se escondia em seu rosto.

Levei alguns segundos até entender que Jeziel tinha paralisado Biel com um de

seus dons.

- O que você fez comigo? – Biel perguntou sem ainda conseguir mover um

músculo.

- Só impedi você de cometer uma loucura. Esta tirando conclusões precipitadas.

- Precipitadas? Você vai ver o que é precipitado quando eu precipitar você por

aquela janela. Ele não podia se mover mas os olhos dele fizeram o trajeto.

Jeziel sorriu.

- Quer me ouvir primeiro? depois se ainda achar que deve você pode acabar

comigo.

- Então me tire desse estado.

- Não, primeiro me ouça.

Biel bufou irritado, mas como não podia fazer nada se calou para ouvir.

- Em primeiro lugar, não é nada disso que você esta pensando.

- Nunca é!

- Hã, hã... me ouça. Depois, eu amo sua irmã e se tivesse acontecido alguma

coisa, o que não aconteceu, você não poderia fazer nada quanto a isso.

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- Ah, poderia sim... – Biel não podia se mexer mas eu podia ver as faíscas de

fogo saltando dos olhos dele.

- Quer ficar calado por mais um minuto? – Jeziel interrompeu – e mais – ele

continuou - Nós vamos nos casar amanhã, e eu preciso que você vá com vogue de volta

a Andaluz buscar algumas coisas.

- Casar amanhã?! Porque a pressa? – Biel falou surpreso.

- Não há pressa, só paixão – Jeziel respondeu olhando para mim - Já passamos

muitas coisas por esse amor, tanto quando estávamos juntos como separados, tá na hora

de acabar com as expectativas daqueles que ainda pensam que podem nos separar

selando o nosso amor para sempre com a nossa união.

- Minha irmãzinha casada?! – Biel começou a chorar. Seu corpo ainda estava

imóvel, mas seu rosto se desmanchava para o meu lado.

Fui até ele e o abracei. Ele estava rijo como um tronco de árvore, mas a raiva

dele tinha passado.

Quando Jeziel viu que ele não era mais ameaça o libertou da ação de seu poder e

os braços do meu irmão me envolveram.

Ele chorava emocionado ensopando todo meu vestido.

Quando ele conseguiu parar de chorar me pegou pelos ombros me olhando

seriamente.

- Tem certeza Mel, que é isso mesmo que você quer?

- Tenho.

- Olha para ele... – ele se curvou até meu ouvido e sussurrou – o cara é feio.

Você pode conseguir coisa melhor – eu dei um tapa no braço forte dele, mas sabia que

ele só estava brincando.

- Para com isso – protestei.

- Então estou feliz por você – me cumprimentou - O que quer que eu traga de

Andaluz? – falou se voltando para Jeziel.

Biel me largou e se aproximou de Jeziel enquanto recebia as instruções.

Me sentei recostando na cama e diante de tantas emoções surpresas medos e

sustos, o cansaço me alcançou.

Eu ouvia as vozes dos dois no quarto ficando cada vez mais distante e então

adormeci.

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CAPÍTULO 18

Acabei dormindo o dia inteiro. Quando acordei e a noite tinha chegado através

da janela. Me levantei sobressaltada.

- Eu não podia ter dormido o dia inteiro, tinha mil coisas para fazer –

resmunguei.

Girei na cama procurando encontrar Jeziel e a cama estava curta do meu lado.

acabei no chão quando rolei para o lado dele.

Me levantei atrapalhada sem entender como eu fui parar no chão, como a cama

podia ter ficado tão estreita.

Como o quarto de Jeziel era bem grande eu sabia que teria que tatear até

encontrar o interruptor. Me levantei e logo nos primeiros passos topei com uma mesa,

depois com algumas coisas pelo chão. Aquilo não estava certo, a organização de Jeziel

jamais permitiria que alguma coisa estivesse caída ali. Já que eu não conseguiria chegar

até o interruptor sem sofrer um acidente, rompi minha luz para me dar uma noção de

onde eu estava.

- Meu quarto?! Como eu vim parar aqui? – falei surpresa.

Três batidas na porta me chamou a atenção.

- Entre – falei enquanto chegava até o interruptor.

Aragorn abriu a porta e entrou fechando ela atrás de si.

Corri até ele e o abracei feliz por vê-lo ali. Era um sinal então que ele não estava

mais chateado comigo.

- Calma garota, uma hora você me parte em dois.

Eu sorri. Ele sempre reclamava dos meus abraços apertados.

- Senti sua falta.

- Dormindo?!

- Também. A propósito, sabe como eu vim parar aqui no meu quarto?

- Tamala abriu um portal para eu te trazer quando voltei a casa de Jeziel.

- A que horas foi isso?

- Bem cedo. Você dormiu o dia inteiro.

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- É deu pra perceber – olhei pela janela – mas por que tiveram que me trazer

para cá?

- Tem algo a ver com o noivo não poder ver a noiva antes do casamento – ele

falou tentando uma leve brincadeira, mas eu senti a dor em sua voz.

- Eu mesmo queria ter te contado Aragorn.

- Nós já sabíamos que essa hora ia chegar, não é? Não é nenhuma surpresa.

- Pensei que fosse ficar triste.

- Não estou feliz, mas foi sua escolha. Tenho que aceitar.

- Se eu pudesse fazer alguma coisa...

- Mas não pode – ele ergueu minha mão observando a aliança - Seu coração tem

dono, sua vida tem um dono. E você não esta nessa obrigada. Você mesma resolveu se

entregar.

Eu sabia que ele estava sofrendo, mas deixava as coisas mais fáceis para mim.

- Você é a pessoa mais incrível que conheço. Sabe disso não sabe?

- E ainda assim não é o suficiente para você querer ficar comigo – ele falou

calmamente, seu rosto estava tranqüilo mesmo que desse para sentir um pitada de

decepção.

O que eu poderia dizer? Ele estava certo eu pertencia a Jeziel e por escolha

própria e amanhã seria legal e eternamente dele.

Olhei para ele angustiada me preocupando com a dor que eu devia estar

provocando.

Ele sorriu me surpreendendo.

- Não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem. Agora você precisa se preocupar é

com seu casamento.

Aragorn falando isso? Me surpreendi mais ainda e olhei no fundo de seus olhos

dourados procurando uma resposta para tanta passividade.

- O que esta acontecendo? – falei cismada.

- Te deixaram com a missão de me levar ao shopping para que você jante e

compre roupas para eu ir ao teu casamento. E algumas coisas que você precise.

- Quem te deu essa missão?

- Jeziel, e me deu isso aqui também – ele retirou dos bolsos um maço de cédulas

que eram o suficiente para comprar um imóvel.

- Jeziel?! – agora sim eu estava desconfiada – Aragorn, qual é o real motivo para

isso?

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- Bem, acho que ele só quer nos dar um tempo a sós.

- Jeziel?! Me deixar sozinha com você? – isso era tão inacreditável quanto o

rosto sereno dele a minha frente.

- Ele tem feito muito isso ultimamente – ironizou.

- Aragorn?! – eu sabia que tinha mais coisa aí, só não sabia o que.

- Eu preciso mesmo conversar com você a sós.

- Converse agora – pressionei desconfiada cruzando os braços.

- Não antes de você comer alguma coisa – se esquivou.

- Eu como aqui em casa mesmo. Minha mãe deve ter preparado alguma coisa ela

adora cozinhar.

- Não tem ninguém em casa. Todos estão nos preparativos para seu casamento.

- Todos?

- Tamala e Lariana já escolheram suas roupas e agora estão ajudando sua mãe

com a decoração a beira do rio no xale onde será realizada a cerimônia. Biel e Vogue

foram a Andaluz e já devem estar voltando com seu vestido e com o ancião, seu pai e

Jeziel estão preparando outras coisas, mas não me disseram o que era. Com certeza eles

não me acharam capaz de guardar um segredo de você.

Ele me deu muita informação, mas só uma me chamou atenção.

- Biel em Andaluz... É realmente seguro Biel em Andaluz agora? – falei

preocupada.

- Eles foram direto para o arraial. Cordomad esta sem forças externas. Sem os

feitiços de Erkas ele não conseguiria jamais chegar ate lá.

- Ele esta seguro?

- Completamente.

Aragorn não mentiria para mim, então me senti mais tranqüila e retornei minha

atenção no que estava me intrigando.

- E a nossa conversa? – insisti.

- Depois de seu jantar – ele estava nitidamente me enrolando.

- Então vamos - apressei.

- Vai sair assim? Seu cabelo esta um ninho.

Estiquei o pescoço colocando minha cara de frente para o espelho e constatei

que Aragorn tinha acertado na sua sinceridade. Eu devia ter rolado o dia inteiro na

cama.

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Eu não estava a fim de me arrumar agora, ansiosa para saber o que Aragorn

estava me escondendo. Estiquei os cabelos rebeldes com as mãos amarrando em um

rabo de cavalo. Puxei a franja com um escova que encontrei por ali. Me enfiei dentro de

uma calça jeans arrancando o vestido por cima da cabeça e trocando por uma camiseta.

Não me importei com Aragorn. Ele mesmo já tinha trocado minhas roupas várias vezes.

Não havia esse tipo de constrangimento entre nós. Nunca houve, mas dessa vez ele

baixou os olhos. Quem sabe pelo fato de que logo eu seria uma mulher casada. Isso

mudava muita coisa.

- Vamos? – ele falou se virando para a porta.

Descemos as escadas, e do lado de fora da casa o carro que tinha sido de Ernest

estava a disposição de Aragorn.

Meu amigo tinha aprendido rápido a dirigir e tão acelerado como Jeziel. Não era

de estranhar já que ele aprendeu diretamente da mente dele.

Ao chegar ao shopping tive a mesma sensação de quando vim aqui pela primeira

vez ao lado de Jeziel. As mulheres olhavam extasiadas para Aragorn. Cochichos, olhos

arregalados, bocas abertas, queixos caídos e uma pitada de ciúmes dos homens que

estavam acompanhados pelas que estavam se derretendo por Aragorn.

- Pronto, fiquei invisível de novo – resmunguei - Que saudades de Andaluz.

Aragorn riu, mas segurou em minha mão para ver se o assédio das mulheres

diminuía. Pura ilusão, nenhuma delas estava me enxergando ali. Aragorn era o astro rei

naquele lugar ofuscando com sua beleza todo o resto.

Puxei ele para a primeira loja masculina que apareceu a nossa frente. Já que ele

estava quase sendo perseguidos como um artista de cinema.

Ao entrar na loja a vendedora arregalou os olhos não acreditando no que estava

vendo.

Tenho certeza que ele leu o que ela estava pensando, pois todo cheio de si ele

colocou no seu rosto seu sorriso maroto fazendo um gesto charmoso com a sobrancelha

quase levando a pobre e indefesa vendedora ao delírio.

Ele estava se sentindo como eu os primeiros dias em Andaluz. Vendo a cara de

tonta da vendedora tive que perdoar todos os olhares que me aborreciam de todas as

mulheres que se desmanchavam ao ver Jeziel. A atração que os de Andaluz exercia nos

habitantes daqui era inexplicável.

- Ola! – Aragorn cumprimentou a moça que ficou totalmente sem fala.

Dei um beliscão para que ele se comportasse.

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- O que eu fiz? – resmungou para mim.

Limpei a garganta para trazer a vendedora de volta a terra.

- Estamos procurando um terno para ele – falei, mas ela não piscava encarando

Aragorn – você tem algum que sirva para casamento?

- Casamento?! – a voz dela soou tão decepcionada que era quase como se eu

anunciasse o fim do mundo. Bom, acho que o fim do mundo não teria abalado a pobre

tanto.

- Sim para o meu casamento – reforcei.

Pela primeira vez ela olhou para mim curiosa em ver quem seria a afortunada.

Ela julgou que iríamos nos casar.

O olhar dela me fez arrepender por não ter gasto uns minutos a mais na frente do

espelho. Mas eu não iria esclarecer suas dúvidas. Isso a manteria com os pés no chão e a

cabeça no trabalho.

- Venham comigo – ela nos guiou até um lugar reservado da loja. Aragorn

experimentou várias peças de camisas a sapatos e cada um ficava mais elegante que o

outro em seu corpo. Até um smoking que ele vestiu por último parecia ter sido feito

especialmente para ele.

- Perfeito! – a vendedora exclamou. Eu não sabia se ela falava da roupa ou dele.

Mas pelo sorriso que ele deu...

Aragorn estava se divertindo muito.

Ao sairmos da loja abarrotados de sacolas - E eu não tinha idéia do que Aragorn

iria fazer com tanta roupa daqui já que em breve voltaríamos para Andaluz – a

vendedora veio até a saída babar um pouco mais e Aragorn em despedida usou todo seu

charme dando uma piscadela para a pobre garota. Ele estava adorando o assédio. Eu não

olhei para trás, mas pelo barulho que ouvi imaginei que ela tinha caído desmaiada no

chão.

Subimos até a praça da alimentação onde estava acontecendo também um

festival de música.

Aragorn ficou encantado com o show, com as luzes, e quando alguns casais se

levantaram para dançar ele me puxou pela mão. A música era animada, e eu dancei

recordando dos momentos que tivemos juntos e que iriam ficar em minha memória para

sempre.

Apesar de estar me divertindo, uma coisa me intrigava desde que ele entrou em

meu quarto. Havia algo em seus olhos. Uma despedida. E agora com ele dançando

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comigo era como se ele quisesse ter mais um momento para guardar e recordar. Ele

segurava minha mão, mas eu sentia como se ele estivesse escapando pelos meus dedos.

Meu semblante mudou, meu coração gelou e eu parei de dançar olhando para

ele. Aragorn percebeu minha mudança de ânimo e me puxou pela mão novamente para

nos sentarmos em nossa mesa.

Ele respirou fundo, olhou para os músicos que estavam trocando o tom da

melodia diminuindo para um ritmo mais suave e romântico. Ele estava se preparando

para termos aquela conversa.

- Então Aragorn, o que queria falar comigo? – dei o chute inicial.

- Primeiro quero que você saiba que eu daria a minha vida para que essa

conversa tivesse um outro contexto. Daria minha vida para que a vendedora estivesse

certa em relação a nós dois, mas não esta, você vai se casar sim, mas não é comigo.

- Você mesmo disse que não havia surpresas. Achei que não estava chateado.

- Eu sei o que disse – falou convicto - E por já saber o que você faria, eu tive que

tomar uma decisão sobre a minha vida diante do seu casamento com Jeziel.

- Decisão?

- Sim Melissa. Eu te amo e você sabe disso, mas eu preciso continuar vivendo

depois que você se for.

- Vivendo?

- Ou sobrevivendo. O que eu conseguir Melhor. E para tal vejo que sozinho não

conseguirei.

- Sozinho? – eu estava me sentindo uma idiota repetindo as palavras das frases

dele, mas era tudo que eu conseguia pronunciar diante da angustia que eu estava,

percebendo que meu amigo, meu melhor amigo estava se despedindo de mim.

- Eu preciso te esquecer Melissa. Preciso sair da sua vida.

- Me esquecer? Você esta tentando me dizer que vai me deixar? – explodi

aterrorizada ainda que eu já supunha que fosse isso.

- Eu preciso.

- Não, você não precisa. Agente se dá muito bem juntos, quero que continue meu

amigo. Não quero que saia da minha vida – essa idéia apertou meu coração.

- Não vou me afastar totalmente até porque seu futuro marido não me inspira

confiança o suficiente para te deixar nas mãos dele sem uma proteção descente. Seu pai

quer passar um tempo com sua mãe recuperando o tempo perdido e me ofereceu para

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que eu seja general da guarda real de Andaluz quando Jeziel assumir o trono. Assim vou

poder continuar protegendo você.

- Quero você como meu amigo, não como um soldado – reclamei da proposta -

E além do mais você disse que não conseguiria sozinho, então fique comigo até que

alguém apareça – era uma boa proposta já que eu sabia que ele se recusava a se

envolver emocionalmente com qualquer pessoa além de mim. Eu estava sendo egoísta é

claro, mas isso me daria mais um tempo ao lado do meu amigo. Eu não estava preparada

para me separar dele agora. Ultimamente eu não me sentia preparada para nada.

- Já apareceu alguém – ele falou quase num murmúrio. Eu mal pude ouvir, mais

ouvi.

- Alguém?! – lá estava eu repetindo suas palavras de novo. Eu estava em

choque.

- Uma pessoa que me ama à muito tempo e sempre esperou por mim, e me pediu

uma chance para tentar conquista meu coração, ela se ofereceu para tentar tirar você de

mim. Eu aceitei.

- Que te ama a muito tempo? – ainda em choque tentava assimilar a notícia,

então imaginei de quem ele estava falando.

- Não é a primeira vez que Lariana tenta te conquistar Aragorn. Não dará certo

novamente, vocês não tem nada a ver. Porque perder tempo? – fiquei com raiva de mim

por ter pensado que ela estava interessada em Maxuel, era lógico que ela não desistiria

de Aragorn. Aquela cabelo de fogo.

- Não estou falando de Lariana.

- Não?! – admirei.

Ele me olhou e eu sabia que ele estava achando bem difícil nossa conversa. E

com certeza estava procurando a melhor forma de me fazer entender.

- Ontem a noite quando fui para o chalé, eu estava sentindo muita dor por te ver

nos braços de Jeziel. Não é nada fácil ver quem se ama nos braços de outro.

Me senti culpada. Eu sabia que era por isso que ele tinha ido embora.

- E? - incentivei que ele continuasse.

- E ela foi comigo. No começo eu não queria. Queria ficar sozinho até sucumbir

na minha dor e esquecer meu próprio nome. Mas ela me ofereceu seu amor e seus

braços para que eu tivesse consolo.

Eu já estava ficando nervosa.

- Ela quem? – perguntei querendo adiantar o assunto.

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- Tamala.

- TAMALA?! – eu gritei mais alto que o som dos músicos.

Muitos olharam para mim, não me importei.

- Não grite – Aragorn aconselhou.

- O que esta me dizendo?! – eu só podia estar ouvindo coisas.

- Que eu e Tamala estamos juntos.

- Juntos? Juntos como?!

- Como você e Jeziel se tornarão amanhã.

- Você se casou com Tamala?! – me ergui da cadeira estarrecida ainda falando

num tom mais alto que o necessário, ignorando os olhares ao meu redor.

Aragorn me puxou me obrigando a sentar.

- Não exatamente, mas depois de ontem resolvemos viver como marido e

mulher.

- Como Marido e Mulher? Quer dizer que você e ela então foram... quer dizer,

vocês fizeram... os dois juntos... você e ela?... – eu não podia acreditar nisso.

- Isso mesmo – respondeu. Ele sabia o que eu estava pensando. Eles

conseguiram realizar o que eu não consegui essa manhã por medo.

- Você me traiu! – acusei.

Ele riu diante da conclusão mais absurda que eu já tive em toda a minha vida.

- Como eu posso ter te traído?

- Você não podia ter feito isso. Eu confiava em você – meus olhos começaram a

transbordar de lágrimas. Eu estava mesmo me sentindo traída.

- Me desculpe, mas será que eu vou ter que te lembrar que você ama outra

pessoa? – falou irritado.

- Não, eu sei quem eu amo... mas, eu nunca pensei que você fosse me trocar por

outra.

Ele deu outra risada dessa vez sem humor.

- Como eu posso te trocar? Você nunca foi minha Melissa. Já Tamala se

entregou para mim como eu sempre quis que você se entregasse. De uma forma que

você jamais faria, pois já pertence a outro.

Uma enxurrada de emoções me assolou. Eu deveria estar feliz por ele, mas não

estava. Eu estava com raiva. Principalmente de Tamala que chegou dando uma de

boazinha, amiga e tudo mais e me tomou meu amigo. Será que eu estava destinada a ser

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enganada pelas mulheres de Andaluz? Será que não se podia confiar em nenhuma

delas?

- Não fique com raiva de Tamala, - ele respondia ao meu pensamento - ela

mesma estava preocupada com sua reação se o fato de nós estarmos juntos afetaria sua

relação com ela. Tamala gostou muito de você – ele se calou por segundos e um brilho

novo surgiu em seu olhar - Sabe vocês tem muitas coisas em comum, ela é até parecida

com você em alguns aspectos. Ela também é valente, e teimosa...tem esse seu jeitinho

meigo de menina, e...

Ouvir ele falando todo derretido dela estava me enjoando.

- Ta, ta, ta ... Tamala isso, Tamala aquilo, não quero ouvir – reclamei irritada

fechando a cara.

- Bom, você não esta tão meiga hoje...

- Como você pode fazer isso comigo? – choraminguei me sentindo traída.

- Melissa...

- Você disse que iria me amar e nunca iria me esquecer, prometeu que sempre

estaria do meu lado e agora por causa dessa Tamala... - Cobrei egoisticamente.

- Sabe que antigamente essa sua reação ciumenta e possessiva me confundia? Eu

pensava que você me amava, eu ficava louco sem entender o porquê de uma reação

dessas se depois você fugia de mim. Mas agora eu sei que não devo gerar esperança

como antes. Nada mudou nem mudara.

- Uma noite com ela foi o suficiente para você me esquecer?

- Não. Mas terei uma vida inteira de noites para tentar.

Ele estava mesmo decidido a ficar com ela.

- E o que eu vou fazer agora?

- Se casar com seu Leo e ser feliz para sempre.

- Sem você?

- Sem mim.

- Não – as lágrimas já estavam querendo cair.

- Entenda Melissa se eu deixar as coisas como estão, nunca vou me desligar de

você.

O rosto de Aragorn me mostrava que não estava sendo fácil para ele essa

escolha.

- Porque tem que se desligar? Podemos continuar amigos – eu estava quase

implorando.

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- Te amando como eu te amo, conseqüentemente não darei a parte de mim que

Tamala merece.

- Ela merece?! Como ela pode merecer alguma coisa de você, ela só te conhece a

alguns dias.

- Não é bem assim. Como eu te disse ela tem esperado por mim por muitos anos.

Desde que nos vimos a primeira vez e éramos apenas crianças. E um amor que resistiu a

tanto tempo merece uma chance.

- Ela te ama desde criança? – duvidei.

- É. Não é interessante? – ele falou maravilhado.

- Tem certeza disso?

- Eu vi em sua mente. E ela deixou que eu visse também cada lembrança que ela

tinha de mim quando me observava mesmo distante.

- Ela ficava te vigiando?

- Vigiando não é bem a palavra – ele estava encantado com a paixão de Tamala.

- E ela soube de todas as mulheres que passaram pela sua vida?

- Todas, Como assim todas? Eu não tive tantas mulheres assim.

- Até de nós?

- Ela sabe de tudo. Seus dons são bem peculiares.

- E porque ela não te procurou antes?

- As coisas são como tem que ser Melissa. Acontecem no tempo que tem que

acontecer. Ela sabia que um dia estaríamos juntos e esperou.

Bufei irritada. Ele agora parecia um típico Andaluziano acreditando em

predestinação e essas coisas.

Ele talvez mal pudesse perceber, mas a forma que ele falava dela com admiração

já demonstrava que não demoraria muito para que Tamala conquistasse ele para sempre.

Eu realmente estava perdendo meu amigo.

- Então quer dizer que vocês nasceram um para o outro assim como eu nasci

para Jeziel?

- Tamala diz que sim. Estou querendo acreditar nisso, só assim entenderei por

tudo que passei até chegar a ela.

- Não sei o que fazer. Não quero te perder, mais sei que vou. – soltei pesarosa.

- Só queira que eu seja feliz, como quero que você seja. E faça o que puder para

que esse plano de sermos felizes finalmente de certo.

- É para isso que serve os amigos – falei fazendo careta de mal humor.

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Ele me puxou e me abraçou.

Nos braços dele minha irritação passou. Porque as coisas não podiam ser mais

simples; porque ele não me amava como a uma amiga, uma pessoa especialmente

querida, como a um parente, como a uma irmã?

Ele captou meus pensamentos.

- Eu te amo, mas prometo que vou te esquecer. Quem sabe algum dia eu te ame

assim.

- Essa é a pior promessa que você já fez para mim – falei com o coração

apertado.

- Porque a pior? – perguntou confuso.

- Porque você tem a péssima mania de cumprir com sua palavra.

Ele riu da minha lógica.

- Você vai ser feliz garota, ao lado de quem você ama. Só isso importa.

Principalmente para mim. Já serei metade feliz se você estiver feliz.

Recostei a cabeça em seu ombro pensando em quando novamente eu sentiria seu

abraço tão confiável e protetor. Eu teria que aceitar que ele não seria mais meu Aragorn,

meu céu. Ele agora seria o céu de outra estrela. Eu queria sentir ainda mais raiva agora

de Tamala, mas não conseguia. Aragorn, meu amigo iria mesmo precisar dela. Com

certeza ele merecia alguém que o amasse tanto quanto eu amo meu Leo. E assim como

minha vida se completa ao lado daquele que nasceu para estar comigo a vida do meu

melhor amigo, a felicidade dele seria completa assim que seu coração despertasse para o

dela. Se ela esperou, se ela por esse tempo todo nunca desistiu, é porque tem amor

suficiente para fazer meu amigo feliz.

Agora o sentimento no meu coração mudava. Eu não me sentia mais traída, com

uma saudade antecipada com certeza, mas era bom saber que alguém finalmente iria

tornar a vida dele melhor, iria se dedicar a fazê-lo feliz, e isso me dava um sentimento

de gratidão enorme para com Tamala.

Ele se afastou de mim delicadamente se levantando e andou até os músicos.

Falou com um dos instrumentistas e a melodia que eles tocavam mudou de repente.

Deram para ele um microfone e acompanhado pelos músicos sua voz de tenor doce e

tão preciosa cantou a música que já foi meu porto seguro tantas vezes. Minha música.

Os casais embalados pelo romantismo da canção bailavam despreocupados do

resto do mundo. E enquanto ele cantava olhando em meus olhos eu sabia que agora era

uma despedida. Seria a última vez que eu ouvia Aragorn cantar para mim.

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Reconhecendo que ele tinha razão, que ele precisaria sair da minha vida para ser

feliz, para conseguir como ele mesmo disse, dar a parte dele que Tamala merecia, deixei

as lágrimas descerem por meu rosto.

Me lembrei do que Jeziel me disse essa manhã.

“enquanto ele estiver preso a você ele jamais será feliz. É isso que você quer

para seu melhor amigo?”

Não, eu realmente quero que ele seja feliz, se possível mais feliz do que eu.

Então eu precisaria deixá-lo ir.

“ agora Mel, nada vai dar errado, eu estou aqui com você, nós vamos nos casar

amanhã e estaremos juntos para sempre. Você não precisa mais de Aragorn, eu estou

aqui para você.”

A voz de Jeziel ecoava em minha mente me trazendo conforto, e eu acreditei em

cada uma das palavras. Nada mais iria dar errado, meu barco não iria mais afundar, eu

não precisava mais do meu bote salva vidas. Eu podia deixar que ele fosse feliz.

“ agora seremos eu e você”

A frase de Jeziel veio em minha mente assim que Aragorn cantou a última frase

sendo aplaudido entusiasmadamente pela platéia.

Ele agradeceu e veio até mim para irmos embora.

Ele parecia aliviado e ansioso. Aliviado por ter conseguido dar um fim em nós

dois e ansioso para voltar para os braços de Tamala.

Eu sorri então pela primeira vez conformada. Meu amigo iria finalmente ser

feliz. Isso me deu uma satisfação enorme. E orgulhosa de mim mesma percebi que a

felicidade dele só abrilhantaria ainda mais a minha.

Quando chegamos a porta de casa ele não quis descer.

- Até amanhã garota. O seu grande dia.

- Até amanhã.

Quando abri a porta do carro ele me chamou antes de eu descer.

- Melissa...

- O que foi? - Me virei para ele

- Qual a diferença do porco espinho para o arame farpado?

- Tente fazer uma cerca com um porco espinho e vai descobrir a diferença.

Ele me encarou indefinidamente.

- Você definitivamente não sabe contar piada.

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- Claro que sei. Você que não entende.

- Garota, me faça um favor? Cante, dance, até cozinhe, mas pare com essa mania

de contar piadas.

Sorri para ele enquanto ele ajeitava minha franja. Provavelmente seria a última

vez que ele faria isso. E eu sabia o que ele queria dizer quando fazia esse gesto.

Saí do carro debaixo do olhar protetor de Aragorn.

Entrei para casa sorrindo enquanto ele saía cantando pneu. Eu não pude deixar

de comparar que homem é igual em todo lugar do universo. Uns são mais bonitos que

os outros, mas...

- Melissa! – minha mãe gritou assim que me viu entra pela porta.

- Oi mãe – respondi sem deixar de notar que ela estava radiante e perfeitamente

linda de tão feliz. Devia ter rejuvenescido uns vinte anos também. O reencontro com o

general Euri foi muito bom para ela.

- Já esta tudo preparado, vai ser um lindo casamento. E Biel já chegou com seu

vestido.

- Meu vestido?

- Esta em seu quarto.

Eu subi as escadas na carreira. Quando entrei em meu quarto lá estava ele

estirado sobre minha cama. Eu o peguei com cuidado e fui até o espelho colocando o

vestido a minha frente.

- Ele é perfeito – minha mãe admirou.

- É – foi o que eu consegui dizer. O vestido era exatamente como eu tinha

desenhado e com os detalhes que eu havia sugerido. Ele era tão branco e tão reluzente

em sua seda como a lua de Andaluz.

Não tinha como não lembrar de tudo que passei para me casar com meu Leo e

sem que eu percebesse já estava com as lágrimas descendo por meu rosto.

- Ah não... Ah não, já basta seu irmão que quase me molha o vestido todo

chorando – mamãe pegou o vestido de minhas mãos e pendurou na porta do guarda

roupa.

Depois ela veio e me abraçou.

- Pronto, pronto, já passou – me consolava.

- Porque você esta tão chorona?

- Só emoção, e acho que estou nervosa.

- Eu estranharia se não estivesse.

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- Mãe, amanhã nessa mesma hora minha vida terá mudado para sempre.

- Vai mesmo. Você deixara de ser uma menina para se tornar mulher, sairá do

senhorita para o senhora, deixara de ser a simples Mel para se tornar rainha.

- Isso me preocupa.

- Qual dessas partes – ela me puxou para me sentar ao lado dela na cama.

- Principalmente a parte de deixar de ser menina e me tornar mulher.

- Preocupação mais que válida. Qual a parte que mais te incomoda?

- Bem, o lado teórico eu conheço, aprendi na escola e você mesmo debaixo de

meus protestos constrangidos insistia em me dar algumas aulas. Mas na prática com

certeza é tudo mais complicado que parece.

- Não meu amor, não é complicado. Você só precisa confiar que o que esta

fazendo é o que você quer e é o certo.

- Eu sei o que quero, e sei que é o certo, mas não sei se consigo. – ainda me

lembrava do pânico que me veio essa manhã.

Ela riu. Era fácil conversar com minha mãe. Ela parecia não se constranger com

nada e eu precisava mesmo de alguém para me falar de algumas coisas.

- Você o ama?

- Evidente que sim.

- Então porque a dúvida?

- E se alguma coisa der errado? E se eu não corresponder as expectativas dele? e

se depois ele não me quiser mais? – essas eram algumas das minhas dúvidas. Só não

queria entrar no detalhe de que sentia que iria acontecer algo estranho, e que eu nem

tinha idéia do que era. Poxa, eu tinha um noivo de outra dimensão. Cheio de poderes e

dons inimagináveis. Eu não tinha idéia de como seria nosso ato de amor. E se eu sendo

só metade andaluziana corresponderia ao esperado.

- Meu amorzinho. Jeziel esta te levando para o altar. Para um homem esta é a

maior prova de amor que ele poder dar a uma mulher. Eles jamais se prenderiam num

juramento de amor eterno se não tivessem certeza de que ficariam com sua amada para

sempre.

- Mas eu quero que seja tudo perfeito em nossa primeira noite.

- E será. Vocês se amam. Só isso basta para que tudo seja perfeito.

Levei a mão até a boca começando a roer uma unha. Eu não tinha tanta certeza

disso.

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- Ei pare com isso! – mamãe puxou a minha mão da boca – a manicure não vai

fazer milagre. E você precisa estar linda amanhã.

- Amanhã... – um frio na barriga muito parecido de quando se desce de uma

montanha russa me empalideceu.

- Ainda esta nervosa?

- Não consigo evitar.

- Se isso te consola, Jeziel também esta uma pilha de nervos.

- Você o viu?

- Ele saiu daqui à pouco tempo.

- E porque ele não me esperou?

- Ele disse que foi uma exigência sua.

- Eu e minhas idéias – murmurei.

- Se não era o que queria, porque deu essa idéia a ele? – mamãe perguntou

confusa com minha cara.

- Eu só queria ganhar tempo em... outra... coisa. – falei constrangida.

- Ah... entendo – minha mãe não lia pensamentos, mas conhecia bem minha

cara.

Quis escapar das prováveis e futuras especulações.

- Acho bom eu tomar um banho antes de dormir – me levantei pegando uma

toalha.

- Bem, já que não precisa mais e mim por hoje... – ela estava animada e até

apressada para me deixar sozinha. Eu desconfiei.

- Onde esta o general?

Ela abriu um largo e iluminado sorriso.

- Nós combinamos de dar um passeio pela cidade esta noite. Ele foi acompanhar

Seu Leo até em casa e ver os convidados que vieram de Andaluz, mas chegara logo. Eu

tenho que me arrumar.

Me admirei em como foi fácil para minha mãe aceitar toda a novidade. Será que

só eu tive dificuldade em compreender o que estava acontecendo? Nem ela nem Biel

pareceram ter dificuldade em aceitar algo que para mim pareceu tão absurdo como a

existência de um outro mundo.

Debaixo do chuveiro eu me senti familiarizada com minha casa. Era o melhor

lugar para pensar e eu tinha muita coisa em que pensar agora.

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Minha mãe e meu pai juntos. Aragorn e Tamala, eu e Jeziel, as coisas estavam se

encaixando. Pela primeira vez eu estava vendo o mundo como ele devia realmente ser.

Como se as peças do quebra cabeça que Luna me falou estivessem encontrando seu

molde perfeito. Poucas peças faltavam agora e uma delas era meu casamento que seria

realizado amanhã.

Quando me deitei para dormir, senti por estar sozinha. Mas não com pesar, pois

eu sabia que essa seria a última noite que não haveria os braços do meu Leo - meu

paraíso particular - me envolvendo.

CAPÍTULO 19

O sol da manhã finalmente chegou. Minha noite foi sem sonhos ou pelo menos

não me lembrava de nenhum.

Eu ainda estava de olhos fechados quando percebi a porta do meu quarto abrindo

devagar.

Preguiçosamente me estiquei abrindo os olhos sem muita coragem e vi o general

Euri entrando com uma bandeja com o café da manhã e uma única rosa branca num

vaso solitário.

Me sentei recostada na cabeceira da cama surpresa com a gentil novidade.

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- Bom dia princesa! – ele falou ternamente não com reverência, mas com a

paixão na voz de um pai.

- Bom dia pai.

Ele se sentou ao meu lado colocando a bandeja sobre meu colo. Quando olhei o

pedaço enorme de bolo de chocolate na bandeja voltei os olhos para ele.

- É o seu preferido.

- Você o fez?

- Sim, e quis trazer na cama para você. Já que essa é a única oportunidade que

terei de fazer isso, o que eu desejei a minha vida inteira.

- Você quis a vida inteira me fazer bolos de chocolate?

Ele riu.

- Não filha, eu queria ter podido ter te despertado todos os dias com o café na

cama, te dando bom dia, te levando para escola, penteado seu cabelo... queria ter sido

um pai de verdade.

- Eu acho que teria ficado excessivamente mimada.

- Não, isso seu irmão conseguiu fazer bem.

Ele pegou a rosa branca retirando do vaso e me entregou.

- Essa rosa é o bom dia de Jeziel.

Ouvir o nome dele me fez despertar de vez.

- Ele mandou essa rosa? – falei entusiasmada.

- Não. Ele veio trazer essa rosa.

Dei quase um pulo da cama para ir atrás dele.

- Ele veio?- falei ansiosa.

- Ele veio e já foi. Só lhe trouxe a rosa para te dizer que não parou de pensar em

você um só minuto desde ontem.

- Porque não ficou, porque ele mesmo não me entregou a rosa?

- Sua mãe o colocou para fora antes que ele pudesse subir as escadas. Ele queria

te ver dormindo e deixar a rosa do lado de sua cama, mas sua mãe disse que ele não

podia te ver antes do casamento então ele foi obrigado a se retirar.

Me recostei novamente exalando o perfume suave da rosa semelhante a primeira

rosa que ele me deu num sonho a muito tempo atrás, mas que eu ainda não havia

esquecido.

Meu coração derreteu no peito. Olhei novamente para a rosa imaginando que se

eu própria não estivesse sentindo seria impossível acreditar que alguém fosse capaz de

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amar outra pessoa tanto assim. Não era lógico, o amor que eu sinto por Jeziel não é

humano, é divino.

- Como esta se sentindo?

- Apaixonada – exalei o perfume da rosa mais uma vez como uma donzela do

século quinze.

O general riu.

- Eu quero dizer sobre seu casamento e sobre o reino, afinal hoje se casando com

Jeziel você se torna oficialmente a rainha de Andaluz.

- Pai, tudo que eu quero ser é a esposa do homem que eu amo.

- Mas ele é rei. Bom, é claro que ele precisa se assentar no trono, e já cremos que

isso será em breve já que Cordomad esta sozinho agora, e ele nunca foi forte o

suficiente para ganhar qualquer batalha só. Cordomad só conseguiu o trono através dos

feitiços de Erkas que foi destruída graças a Tamala. Você precisa estar preparada minha

filha. Me surpreende que seus dons não tenham ainda despertado por completo. Isso

esta me preocupando. Você precisa deles já que essa história de amor vai bem além do “

e foram felizes para sempre”.

- Não quero pensar em nada disso hoje. Nem em Cordomad nem em reino nem

dons nem em nada que tire a felicidade que estou sentindo agora. Hoje é o dia do meu

casamento.

- Desculpe Melissa, não quero te aborrecer. Acho que estou nervoso. Vou casar

minha filhinha, isso deixa qualquer pai uma pilha. Eu só quero que tudo de certo para

você.

- Com esse bolo de chocolate a minha frente o que poderia dar errado? Meu dia

já começou perfeito.

Peguei o garfo e comi um pedaço do bolo que estava simplesmente divino. O

general conseguia fazer o bolo ainda mais gostoso que minha mãe.

Ele me olhou feliz com minha reação e êxtase ao bolo.

- Quer mais alguma coisa?

- Sim, já que vou mesmo ter que viver em Andaluz, daria para descobrir uma

forma de produzir chocolate lá já que é algo que não existe em sua dimensão?

- Veremos – ele disse sorrindo.

E eu pensei que Andaluz sem Cordomad, sem guerra por poder, deveria ser o

lugar mais perfeito do universo, e com chocolate então...

Minha mãe entrou acompanhada de Lariana, Vogue e de Tamala.

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- Vamos gata borralheira – minha mãe me saudou - temos que encontrar uma

fada madrinha para te preparar para o baile.

Meu olhos foram diretamente para Tamala. Por segundos minha mente rondou

pelo fato dela estar me separando de meu amigo, de que ela tinha proposto a ele a

oportunidade de fazê-lo me esquecer. Por causa dela ele queria se afastar de mim. Senti

meu rosto endurecer, minhas sobrancelhas se juntarem numa linha irada, mas em

seguida olhando para ela com seu rosto preocupado ao sondar meu pensamento, ela me

pareceu tão inocente, como se o que estava acontecendo entre ela e Aragorn não fosse

culpa dela era só obra do destino como comigo e Jeziel.

Coloquei a bandeja de lado na cama e me levantei.

- Vocês me dão licença? Eu preciso falar com Tamala a sós.

Todos foram saindo do meu quarto e Tamala permaneceu parada.

Eu passei por ela e fechei a porta.

- Melissa sei que esta chateada, e deve ter sido uma surpresa para você mas

Aragorn eu e...

Eu a interrompi.

- Tamala, eu só quero saber o quanto você ama realmente Aragorn, porque ele é

uma pessoa maravilhosa e merece alguém que o ame de verdade.

- Amo Aragorn na mesma intensidade que você ama Jeziel. Eu nasci para ele.

- Mas ele não te ama.

- Melissa nossos caminhos já haviam sido traçados para que ficássemos juntos

como no seu caso.

- Mas eu não consigo compreender isso. Jeziel e eu estávamos em dimensões

diferentes, por isso demoramos a nos encontrar. Mas e vocês? Você sabia o tempo todo

onde ele estava, você o vigiava, você o acompanhava. Porque não se aproximou antes?

- Há um tempo determinado para tudo, e para mim é mais complicado porque eu

vejo com antecedência o que, como, onde e quando deve acontecer. Por isso não tive

pressa.

- Você sabia que ele iria cruzar meu caminho? Você já sabia que ele iria se

apaixonar por mim e iria sofrer por isso e não fez nada?

- Não exatamente. Porque muita coisa que aconteceu com você teve interferência

do mal, Raika por exemplo, não podia ter se colocado entre você e Jeziel.

No dia em que você obrigou a Ernest a fazer contato com Andaluz, vicinais se

abriram na estrada do seu destino.

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- Eu precisava salvar Jeziel. Ele estava morrendo! – Falei indignada.

- Isso porque ele não obedeceu a ordem natural das coisas naquele acidente de

ônibus. Bastava ele ter saído dali com você, ele tinha poder para isso, era só proteger

você e as coisas teriam sido bem diferentes.

- Peraí, você esta me dizendo que Jeziel devia ter deixado todos nosso amigos da

escola, todos os que estavam ali morrer para que nós dois tivéssemos uma vida mais

fácil?!

- Nem todos morreriam.

- Ainda assim, eu então não posso lamentar por tudo que passei. Mesmo que por

pouco não perdi Jeziel para sempre. Não me parece lógico tornar minha vida mais fácil

ao preço da vida de outros.

- Exatamente!

- Exatamente o que?

- Eu também não podia tornar minha vida mais fácil ao preço da sua ou da de

Jeziel.

- Você esta querendo me dizer que não se aproximou antes de Aragorn por

minha causa?

- Você precisava dele Melissa, sua vida em Andaluz ia depender dele, eu não

podia simplesmente reivindicá-lo para mim sem pensar nas conseqüências. Você não

teria chegado até aqui sem Aragorn. Eu só não imaginei que ele fosse se apaixonar por

você. Isso eu não previ. Depois que eu fui presa, mal conseguia ter visões. Eu não previ

a morte de Ernest por tanto não podia imaginar que vocês ficariam tão próximos.

Somente nas noites em que ele cantava para as estrelas eu ouvia sua voz, mas só isso.

Eu estava muito fraca para acompanhar o que estava acontecendo com ele em seus

pensamentos ao seu lado.

- E quando foi então que você descobriu?

- No dia em que você saiu da ilha para ir ao arraial. Naquele dia eu consegui

entrar em sua mente. Eu estava muito debilitada, mas reuni toda minha força para falar

com ele. Foi quando vi que ele estava muito triste porque você resolveu partir. Ele

estava concordando em te levar até a montanha Mayata, mas sua cabeça estava girando

desesperadamente para descobrir uma forma de te fazer desistir e escolhesse ficar na

ilha com ele.

- Sim eu me lembro.

Ela respirou fundo. Uma dor no fundo de seus olhos me comoveu.

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- Você deve ter sofrido.

- Eu estava vivendo as conseqüências da escolha que fiz assim como você viveu

a sua.

- Nessa época eu pensava que Jeziel estava morto. E se eu tivesse escolhido

ficar?

- Foi um risco que eu corri. E ainda bem que você fez a escolha certa.

- E agora?

- Agora vou lutar para conquistar o amor de Aragorn. Vou fazer o que puder

para merecer esse amor.

- Você já merece – sorri para ela incapaz de não ser condescendente.

Uma pessoa que foi capaz de abrir mão; de ariscar perder o amor da sua vida

para que outros tivessem a chance de viver, eu no caso, uma pessoa tão altruísta assim

merecia alguém tão maravilhoso como Aragorn - fico feliz por Aragorn – falei sendo

sincera.

- E eu fico feliz que você não fique com zangada comigo.

- Confesso que fiquei no começo. Eu só não podia imaginar Aragorn longe de

mim. Ele faz parte de minha vida.

Ela cintilou um sorriso perfeito a deixando ainda mais bonita.

- Não se preocupe com isso. Seu amigo não vai se afastar por muito tempo. Eu

vejo um futuro bastante promissor a nossa frente. Ele realmente passou a fazer parte da

sua vida e devido a dedicação e o amor que ele dispensou a você o criador preparou

para ele uma recompensa.

- Que tipo e recompensa?

- Seu pai gerou uma rainha para Andaluz. Ele era um mero servo. Mas diante de

tanta devoção e amor ao rei e amigo Jeriel e a rainha Adriá, ele mereceu ter seu sangue

unido a família real.

- Ainda não entendi. Qual será a recompensa de Aragorn?

- Pode ter certeza, o que ele recebera ira fazê-lo muito feliz.

- Então você pode ver que ele será feliz. Digo, o futuro?

- Sim eu posso.

Eu sorri aliviada. Meu amigo seria feliz, eu seria feliz. As coisas realmente

estavam caminhando para onde deviam andar. Ainda que as vicinais que se abriram nos

levaram por outros caminho, finalmente agora tínhamos todos encontrado a estrada

certa.

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Cheguei perto dela e a abracei com um profundo sentimento de amizade e

gratidão.

- Obrigada Por tudo.

Ela retribuiu o abraço afetuosamente.

- Nós seremos grandes amigas – ela me falou emocionada.

Me afastei dela segurando suas mãos e fitando seu rosto que agora que eu

observava com outro sentimento via que era exatamente perfeito para combinar com o

rosto perfeito de meu amigo Aragorn. Eles realmente foram feitos um para o outro.

Comparei a cor dos olhos exatamente iguais, a cor do cabelo, os traços delicados e

definidos. Como se eles tivessem sido feitos na mesma forma só que em versão

masculina e feminina. Me lembrei de quando eu estava morrendo e Aragorn a viu

através de sua visão. Eles não sabiam que eu estava ouvindo o que eles falavam. “ ela

tem os olhos dourados como os meus, é como se eu me olhasse num espelho” ele disse

ao general. E olhar seus olhos agora me trazia tanta comunhão e confiança quanto

quando olho os de Aragorn.

- É mais uma previsão do futuro?

- Não, é o que vejo agora.

Nós sorrimos uma para outra já dividindo a boa sensação do que se tornaria uma

longa, duradoura e verdadeira amizade.

- Então, vamos atrás da fada madrinha?! – brinquei.

- Claro.

Ao sairmos do quarto mamãe, a cabelo de fogo e a chata estavam nos esperando

impacientes na sala.

Tamala riu atrás de mim. Ela leu meu pensamento. Na verdade só mamãe ali na

sala não leu. Lariana não se importou. Só a cara de Vogue se torceu um pouquinho, mas

ela não poderia reclamar. Ela sabia que era chata mesmo e que eu não gostava dela.

Principalmente porque além dela se dispor a fazer papel de minha babá, me vigiando e

me entregando para Jeziel, agora ficava grudada no meu irmão pra baixo e pra cima.

Logo que surgisse uma oportunidade eu tinha que falar com ele.

- O que quer falar comigo Mel? – meu irmão surgiu descendo as escadas

também lendo meu pensamento. Mas pelo visto só pegou o finalzinho.

Droga ele aprendeu a ler mentes em menos tempo que eu. Até hoje ainda me

atrapalho toda com isso.

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- Agora ela não vai falar nada – se intrometeu minha mãe – vou levá-la para o

salão.

Vogue esticou um olhar todo venerado para meu irmão que descia as escadas.

Os olhos dele também estavam no dela. Tive a impressão que eles se comunicaram

mentalmente, mas como eu ainda não dominava o dom não deu para ter certeza.

Alguma coisa que ela falou para ele o fez olhar para mim preocupado. Ele

sempre fazia essa cara quando ele aprontava alguma coisa que sabia que eu não iria

aprovar.

Ameacei ir até ele, mas minha mãe pousou as mãos nas minhas costas e me

empurrou para fora de casa.

- Nada de conversas agora – mamãe ralhou – temos muito que fazer e menos de

oito horas para tudo.

No carro nós cinco com minha mãe dirigindo rumamos para o centro. Mamãe

tinha feito reservas para todas nós no salão de beleza mais chique e mais caro da cidade.

Quando paramos e o manobrista veio abrir a porta da carro eu sussurrei para minha mãe.

- Ei dona Eliana, você não acha que a conta vai ficar meio salgada aqui?

- Não quero que se preocupe com nada. Jeziel me deu o dinheiro para custear o

tratamento de beleza e quero mostrar as suas amigas como é que ficamos lindas em

nossa dimensão já que elas me disseram que lá não tem esse negocio de cabeleireiro. E

estive pensando já que vou me mudar para lá e você sabe que eu não consigo ficar

parada e não existe empresas de telecomunicações em Andaluz, eu vou montar meu

próprio salão de beleza.

Minha mãe me surpreendeu. Ela estava tão a vontade com tudo isso. Até estava

planejando se mudar para Andaluz. Pelo jeito somente eu tive dificuldade de adaptação.

- Jeziel te deu o dinheiro?

- Olha só! - Ela abriu a bolsa e eu espiei dentro.

A quantidade de cédulas ali era absurda. Notas de alto valor num montante que

daria para comprar talvez um avião.

Vendo minha cara de espanto minha mãe falou.

- Ernest tinha um cofre em casa quase do tamanho do cofre do banco central.

Recheado de dinheiro. Jeziel quer que gastemos para ver se consegue colocar ao menos

um pouco de moeda de volta ao mercado. Acho justo. É capaz até que melhore a

economia do país.

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Ao sairmos do carro entramos no luxuosíssimo edifício que abrigava os

departamentos do salão e uma equipe já nos aguardava.

Nos vestiram com os roupões com o nome do salão delicadamente bordado, e

nos sentaram um ao lado da outra em cadeira reclináveis para o começo do tratamento.

Eu estava distraída em minha cadeira quando o som de uma música eletrônica

me chamou atenção. Olhei para o lado esquerdo onde estava Tamala e ela parecia

apreciar cada creme que era aplicado em seu rosto. Olhei para a direita e vi Lariana

retirando do bolso um objeto pequeno que era o causador da música.

- Um celular?! – perguntei perplexa.

Ela me sorriu.

- É, comprei ontem para falar com Maxuel, já que não posso usar meus dons

com ele.

- Alo! - Ela falou esticando um sorriso enorme assim que colocou o aparelho no

ouvido.

Eu mal pude acreditar naquilo. Constatei que realmente só eu tinha problemas de

adaptação a novidades.

Limpeza de pele, hidratação, corte nos cabelos, manicure, pedicura, esfoliação,

depilação, banho de furo, sais, pétalas de rosas, massagens, almoço e lanche,

maquiagem, penteado, e oito horas depois e me sentindo uma outra mulher saímos

finalmente do salão de volta a minha casa.

Todas as garotas andaluzianas estavam perfeitas. Quase pensei que fosse

impossível fazê-las ficarem mais belas do que naturalmente são, mas a equipe

conseguiu o milagre. A maquiagem que elas nunca haviam usado, destacaram ainda

mais seus belos rostos e olhos, ainda que tivemos que mentir para o maquiador dizendo

que a cor dos olhos de Vogue eram efeito de lentes de contato. Nem sei se ele acreditou,

mas o que ele poderia dizer, que os olhos quase prateados da chata eram naturais? Bom,

eles eram, mas não aqui nessa dimensão. Acho que ele só engoliu realmente depois de

ver o dourado dos olhos de Tamala e os olhos acinzentados de Lariana e não ter

nenhuma explicação melhor.

Eu já estava bem ansiosa com o casamento. Não pensei que eu fosse ficar assim

já que me casar com meu Leo era o que eu mais queria. Nós iríamos nos unir dessa vez

definitivamente. Um selo eterno sobre um amor eterno. Essa é a visão que sempre tive

sobre casamentos. Ainda que por um motivo ou outro algo acontecesse e separasse o

casal, mas eu sempre imaginei que só havia separação por que uma das partes desistiu

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de lutar pelo seu amor. O casamento não é feito só de momentos bons. É claro que a

união de duas pessoas, ainda que feitas uma para a outra, vai ter algum choque, algum

conflito, porque afinal de contas são duas personalidades diferentes. Mas se há amor,

basta lutar por ele mesmo que para isso tenhamos que ceder em algumas coisas e

adquirir outras.

Leo e eu divergimos em algumas coisas, mas agente sempre se entende no final

das contas, porque a vontade de ficarmos juntos é maior que a nossa própria vontade

individual. E isso nos manterá unidos. O ponto chave da felicidade esta em querer fazer

o outro feliz. Aprendi isso com o primeiro item da lista de Jeziel. Se o casal lutar um

pela felicidade do outro então ambos serão felizes em igualdade e sua união será forte

para passarem juntos pelos eventuais problemas que surgirem. É isso que eu quero

fazer. Fortalecer meu amor, minha união... meu casamento fazendo o meu Jeziel, o meu

Leo feliz.

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Capitulo 20

- Hora do baile cinderela ! – mamãe cantarolou entrando pela porta do meu

quarto me tirando dos meus pensamentos – você ainda não esta vestida?!

Só agora me dei conta que estava de frente ao espelho só de lingerie branca de

seda rendada que escolhi entre as que minha mãe comprou para minha lua de mel. Ela

fez um enxoval completo ontem enquanto eu dormia. O estoque do shopping deve ter

baixado bastante, e como as peças pareciam importadas e caras, as vendedoras por

comissão devem estar sorrindo até agora. Com a quantidade eu pensei que não

precisaria me preocupar com roupas intimas pelo resto da vida, só me preocupei um

pouco com algumas peças que na minha opinião eram bem ousadas, mas quem poderia

refrear a espontaneidade da minha genitora?

Ela deu um grito pela porta e logo as minhas outras três damas entraram no

quarto.

Lariana estava com um vestido longuete vermelho rubi. Eu nunca a vi tão linda e

tão elegante. Seu cabelo Chanel arrepiado as pontas para todos os lados e uma sandália

finíssima também vermelha alongando suas pernas que estavam a mostra.

Vogue num vestido preto longo que delineava suas curvas e revelava que ela era

bem feminina coisa que eu nunca notei.

Mamãe usava um vestido prateado na altura do joelho com decote sobre o busto

e estava linda e jovem. Com certeza queria impressionar o general. O que ela iria

conseguir com facilidade.

Tamala estava com os cabelos num rebuscado penteado metade preso e metade

solto emoldurando seu rosto que brilhava com toda sua beleza. Se isso contasse para

que um homem se apaixone por uma mulher Aragorn não teria como escapar. E para

completar seu vestido era azul – a cor preferida de Aragorn - num tecido leve que

valorizava ainda mais cada centímetro de seu corpo. Estava parecendo uma deusa.

Afrodite ou Diana com certeza morreriam de inveja.

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- Venham meninas vamos vestir Melissa.

Com a ordem da minha mãe elas me cercaram colocando-me os sapatos, o

vestido pelos pés para não bagunçar o penteado, fecharam-no em mim, e encaixaram a

coroa da rainha, a minha coroa sobre minha cabeça.

Eu havia ficado imóvel só respondendo aos movimentos necessários para a

colocação da roupa. E quando elas terminaram de me vestir se afastaram de mim me

deixando ter a visão completa de mim no espelho.

Mal podia acreditar que aquela figura no espelho era mesmo eu. Se não fossem

os mesmos movimentos que eu sutilmente fazia e que a figura a minha frente imitava

perfeitamente, acharia que era outra pessoa. Apesar de ter estado de frente ao espelho

antes, não tinha realmente me visto.

Imersa em meus pensamentos e ansiosa com o casamento, eu não tinha notado o

quanto nesse tempo em que estive fora tudo em mim mudou. Meu busto estava maior,

meu corpo mais longo e acinturado, meus quadris mais largos, até meu rosto parecia

mais maduro. Talvez resultado de um ano de experiências novas, ou quem sabe era só

efeito do vestido.

Me ver vestida de noiva me levou a uma sensação extra corpórea. Era como se

eu pudesse me ver de um ângulo novo. Quem sabe eu estava me vendo agora como as

outras pessoas me viam e eu não conseguia. Me senti bem confiante, me achei

verdadeiramente linda o que quer que tenha sido o causador dessa mudança em mim era

muito bem vinda. Sorri ao pensar na cara que Jeziel faria ao me ver assim. O sorriso da

figura no espelho resplandeceu como um acessório a mais.

Uma batida na porta chamou minha atenção.

- Posso entrar? – Biel gritou lá de fora.

- Pode, já estamos prontas – mamãe respondeu.

Ele abriu a porta e andou boquiaberto até mim.

- Melissa é você mesmo? – falou surpreso.

Pelo jeito não só eu percebi a mudança.

- Você esta linda – ele falava ainda surpreso enquanto seus olhos mareavam de

lágrimas.

Olhando ele emocionado me deu vontade de chorar.

Biel abriu os braços para me acolher, mas mamãe se pôs entre nós.

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- Pode parar agora Biel, você vai acabar fazendo Melissa chorar e borrar a

maquiagem. Não temos tempo para retoques. Seu pai já espera por ela lá fora, e já

estamos atrasados.

Todos foram saindo do quarto e eu dei uma última olhada no espelho para ter a

certeza de que era eu mesma que iria sair de minha casa agora para me casar.

Minha mãe me ajudou a descer as escadas segurando o vestido e me auxiliou a

entrar no carro. Meu pai sorria no banco do motorista elegantemente vestido. Os outros

foram no outro carro com Biel e seguimos pela estrada rumo ao chalé.

Sentada no banco traseiro, eu tentava controlar o nervosismo segurando uma

hiperventilação que estava prestes a me assolar. Eu tinha que me acalmar, mas não

estava conseguindo principalmente com tantos rostos sorridentes ao meu redor.

Meu pai teve que parar num semáforo e as pessoas dos carros ao lado sorriam e

acenavam me desejando felicidades. Elas estavam sendo gentis, mas estavam me

deixando ainda mais nervosa.

Pelo trânsito algumas pessoas continuavam me olhando curiosas e admiradas.

Uma criança acenou para mim de outro carro e eu acenei para ela. De vez em quando

olhava para o general pelo espelho retrovisor e ele ainda não tinha desmanchado o

sorriso.

Quando saímos do centro da cidade e entramos na estrada que nos levaria até o

chalé de Jeziel um frio na barriga me lembrou que eu estava realmente vestida de noiva

para me casar. Enquanto eu só podia ver a luz dos faróis na estrada eu me esforçava

para acreditar que tudo era real. Eu estava sendo levada agora para os braços do homem

que eu mais amo, para os braços de quem é a razão da minha vida, ou não? E se fosse só

um sonho? E se tudo não passasse de ilusão da minha cabeça. E se eu tivesse criado

tudo isso?

Biel já havia passado por nós para nos esperar em sua posição de padrinho. Não

havia nada nem ninguém naquela estrada, nem um carro vindo na direção contraria para

me provar que eu não estava dormindo. O escuro e o silêncio dentro do carro também

não estava ajudando em nada. Agora eu mal podia ver os olhos do general pelo

retrovisor e a figura vestida de preto no volante me parecia irreal.

Olhei pela janela tentando ver alguma coisa, mas a noite nunca me pareceu tão

negra. Nuvens no céu cobriam qualquer luz que o firmamento poderia enviar e de

repente eu comecei a ofegar. Meu coração acelerou, minhas mãos suaram frio eu

comecei a suar dentro daquele vestido.

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É um sonho, é um sonho - repeti para mim mentalmente.

Não. É real. – eu tentava me convencer – Jeziel esta te esperando. Vocês vão se

casar.

Não, Jeziel foi embora com Raika e você enlouqueceu. Isso é fruto de sua

alucinação.

Não reconheci a voz que me confrontou. Parecia mais um pensamento tentando

me trazer a razão.

De repente eu olhei para meu vestido de noiva e ele se transformou diante de

meus olhos numa camisa de forças. Meus braços estavam amarrados e eu tentava me

livrar.

- Não, não, não!- eu gritei apavorada.

O motorista irreal parou o carro.

- Que foi Melissa, o que aconteceu?! – perguntou se virando assustado para trás.

Eu olhei para ele, mas o rosto que vi foi o de Cordomad.

Meu Deus! Onde eu estava? Porque eu estava amarrada numa camisa de forças?

- Melissa? – Cordomad no banco do motorista ainda me chamava.

Desesperada consegui me soltar das amarras e abri a porta do carro e saí em

disparada correndo entre as árvores para dentro da mata.

- Melissa! - eu ainda ouvi a porta do carro bater e agora era o general a me gritar.

Parecia que ele estava vindo atrás de mim. Ou era Cordomad? Apavorada corri ainda

buscando mais velocidade suspendendo o vestido para não tropeçar nele, e avancei. Mas

ele estava quase me alcançando e no desespero que eu estava fechei os olhos numa

forma de me ver escapando do meu perseguidor. Eu não sei como aconteceu, segundos

depois ao abrir meus olhos eu estava em outro lugar.

Era a sala da minha casa. Luzes apagadas, eu plantada no meio da sala com um

buraco enorme no peito da mesma maneira que fui deixada ali por Maxuel. Poucos

minutos depois de ver Jeziel beijando Raika.

Eu sabia, era fruto da minha imaginação. Eu realmente havia enlouquecido e

estava de volta a realidade. De volta a minha dor, de volta a minha vida. Mas então

porque eu ainda estava vestida de noiva?

Olhei em volta procurando uma resposta. Mas eu estava só.

Várias vozes de repente entraram em minha cabeça.

- Melissa, Melissa... – elas me chamavam.

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Eu não me atrevi a responder. Já estava pirada o bastante para começar a

responder vozes dentro da minha cabeça. Mas elas não paravam.

Tapei os ouvidos como se eu fosse capaz de cessar as vozes na minha cabeça.

Tudo estava muito confuso. Minha sala parecia girar ao meu redor e desorientada andei

até o sofá me deixando cair nele. Foi quando uma luz rasgou o ar no escuro e uma

silhueta apareceu.

Eu não me movi era só mais uma imagem ilusória gerada pela minha mente

debilmente criativa.

Ele se aproximou de mim se ajoelhando ao lado do sofá para ver meu rosto.

- Melissa o que houve?! – me perguntou receoso e preocupado. Sua voz era

reconfortante, mas misturada as outras não tinha como me fazer prestar atenção nela.

Eu reconheci seus olhos dourados e sua voz macia. Era Aragorn mais um

personagem da minha imaginação.

- Ei! – ele pegou meu rosto entre suas mãos – eu estou aqui, eu sou real, seu

melhor amigo lembra?!

Eu podia ver que ele estava aflito, mas ainda havia vozes em meu pensamento

me dizendo: “É tudo mentira, é tudo mentira”.

- Olha para mim garota, eu vejo seu pensamento, mas eles não são seus, alguém

esta te manipulando. Não sei quem é, nem como, mas seja forte agora e bloqueie.

- Melissa! – ele me pegou pelos ombros me fazendo sentar – olhe para mim.

- É tudo mentira... sussurrei ecoando a voz na minha cabeça.

Ele então brilhou em sua luz dourada me chamando, fazendo romper a luz azul

em mim, as vozes na minha cabeça começaram a ficar distantes e minha razão

começava a voltar.

- Aragorn?! – falei finalmente tendo minha sanidade de volta.

Ele sorriu aliviado e eu bloqueei minha mente para não haver mais

interferências.

- Você esta bem?

- O que aconteceu? – falei espantada como se voltasse de um pesadelo.

- Pelo visto alguém conseguiu manipular sua mente te fazendo pensar que estava

louca.

- Cordomad?! Foi o rosto dele que eu vi no carro.

- Pode ser, mas como?!

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Enquanto Aragorn pensava numa possibilidade de isso ter acontecido, eu me

lembrava que fugi do meu próprio casamento.

- Jeziel?! Meu Deus, eu sai correndo e o deixei esperando.

- É, a sua fuga deixou ele um pouco deprimido.

- Como eu vim parar aqui?

- Você se transportou usando seu dom.

- Porque ele não veio atrás de mim?

- Ele não pode, não tem o dom, ainda.

- E como você conseguiu?!

- Me unir a Tamala me trouxe algumas vantagens extras, uma delas inclusive é

poder participar de alguns dons que ela possui.

- Então você se tele transportou para cá atrás de mim?

- Não é demais? – ele estava todo satisfeito.

- Preciso ir – falei me levantando – tenho um noivo me esperando. Ele sabe o

que aconteceu?

- Não. Ele só sabe que você fugiu.

- E se ele pensar que não quero me casar com ele? Preciso ir agora.

- Tem certeza que esta bem?

- Estou – é claro que eu não estava. Fugi do meu casamento, vi a face de

Cordomad no rosto de meu pai, sai correndo de vestido de noiva, quase enlouqueci

completamente com as vozes me manipulando em minha mente... mas não iria deixar

Jeziel esperar mais.

Arrumei a coroa, passei a mão esticando meu vestido. Independente do que tinha

acontecido a pouco, eu não podia me deter. Jeziel esperava por mim e devia estar muito

angustiado e triste com minha fuga. Eu precisava chegar rápido ao chalé.

As luzes se ascenderam e eu pude ver melhor minhas condições. Mas não havia

espelho na sala.

- Como eu estou?

Aragorn me olhava deslumbrado e ainda existia o brilho comum em seus olhos

sempre que ele olhava para mim.

- Você esta – ele respirou fundo – linda.

- Obrigada.

- Você tem certeza que prefere se casar? Nós podemos...

- Aragorn... – interrompi repreendendo seus pensamentos.

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- Foi só uma última tentativa – falou brincalhão.

Eu sorri. Ele só estava brincando. A companhia de Tamala estava fazendo um

efeito rápido no coração do meu amigo.

- Então me leve - estendi a mão para ele – não quero usar meus dons para não

dar brecha a mais nada entrar em minha mente.

Ele segurou minha mão e quando abri meus olhos estava na entrada de um

imenso corredor de flores e velas com um tapete longo e branco sob meus pés.

- Ual! Isso é que é uma entrada triunfal. – exclamou Maxuel sentado num das

cadeiras que ladeavam o corredor de flores.

Me espantei com a presença dele ali.

- Esta tudo bem Lariana contou tudo a ele. Ao que parece ela encontrou sua alma

gêmea – Aragorn me informou num tom divertido.

Logo meu pai trocou de lugar com Aragorn segurando meu braço. Minha mãe

também apareceu organizando o vestido e meu cabelo e eu olhava para todos os lados

procurando por Jeziel.

- Onde ele esta?! Onde ele esta?! – perguntei aflita.

Eu vi meu irmão ao lado de Vogue, Tamala e Aragorn Maxuel e Lariana e

também Erzoul que deve ter vindo junto com Biel de Andaluz, vi vários rostos

familiares como os anciões do conselho de Andaluz, até o baixinho barbudo irritante

estava ali atrás do que me parecia um altar, mas eu não conseguia ver Jeziel.

Uma música começou a tocar me chamando a atenção para ver que a banda que

tocava nas festas do arraial estava ali. Eles tinham trago muita gente para esse

casamento, mas onde estava o noivo?

- Podem ir, esta na hora – minha mãe sussurrou nos empurrando para os

primeiros passos pelo tapete branco.

Eu sentia os olhos de todos em mim, mas não conseguia olhar para ninguém. Eu

só caminhava porque meu pai segurava firme em meu braço quase me rebocando, mas

meu pensamento me angustiava por não saber o que teria acontecido com Jeziel. Ele

não sabia o que tinha acontecido comigo, Aragorn me disse que ele só me viu fugindo.

E se ele pensou que eu não quisesse me casar, se ele pensou que eu não estivesse

preparada e resolveu não me forçar e foi embora sem saber a verdade?

- Jeziel ?! – procurei por ele em pensamento angustiada e apavorada – não houve

resposta.

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Senti meus olhos pesando com uma lágrima que queria borrar minha maquiagem

enquanto eu caminhava rebocada por meu pai até o altar montado a beira do rio.

Ele não estava ali.

- Jeziel meu amor – eu tive que desbloquear minha mente para que ele me ouvisse

– Leo, meu Leo... onde você esta?!

Novamente não houve resposta.

Travei meus pés no chão impedindo que meu pai continuasse me puxando para o

altar já que era inútil, pois Jeziel não estava lá. Eu teria que ir atrás dele onde ele

estivesse.

Quando tentei desvencilhar meu braço do general, a imagem mais perfeita que

meus olhos já viram surgiu em minha frente saída de trás de um dos arranjos de rosas ao

lado do altar. Jeziel como a figura de um serafim também vestido de branco e com uma

estola real bordada em pedrarias na escrita de Andaluz que eu já conhecia um pouco e

que dizia “rei de Andaluz”.

Ele estava tão potente, tão imponente e majestoso, tão sublimemente

deslumbrante que eu perdi o fôlego na hora. Meus pensamentos vacilaram minhas

pernas bambearam meus olhos piscaram rapidamente tentando conter a visão celestial

que eu estava vendo agora. Era como voltar aos primeiros dias de namoro tudo de novo.

Perdi a fala os movimentos e não me lembrava sequer como respirar.

Ele sorriu para mim.

Eu tenho certeza que meu queixo caiu e minha boca se abriu porque eu estava

sentindo um vento gelado entrar por ela.

Meu pai me deu um cutucão leve me fazendo andar novamente, e lá estava eu

indo de encontro ao meu príncipe encantado, meu Leo. Meu cometa raro.

Tentando me recompor pelo caminho, depois do que me pareceu uma

eternidade, consegui finalmente chegar até o altar.

Meu pai me deu um beijo na testa e entregou minha mão na mão de Jeziel.

A mão dele estava tão quente, tão cúmplice e tão minha e eu me agarrei a ela

com tanta força de uma forma que eu esperava que ele jamais conseguisse se

desvencilhar.

Quando nosso olhar se encontrou, eu não imaginei que precisaria de outra coisa

qualquer pelo resto da minha vida. Bastava para mim aquele olhar que me dizia que era

o meu mundo.

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Ele me guiou até mais perto do altar e eu não desviei um milímetro sequer meus

olhos daquele rosto.

Alguém pigarreando me chamou a atenção atrás do altar.

- Podemos começar?! – perguntou um dos anciões do conselho e me surpreendi

e quase sorri ao ver que quem realizaria a cerimônia do meu casamento era o baixinho

barbudo irritante.

- A pedido do pai da noiva e da mãe da noiva e também, a pedido de nosso

futuro rei, a cerimônia será realizada mesclando a tradição dos dois mundos – anunciou

o baixinho.

Ele pegou uma folha onde estava anotado algumas coisas e passou a ler.

- Estamos aqui reunidos para realizar o enlace matrimonial de Jeziel Filho de

Jeriel e Melissa Sater...

O baixinho continuou lendo a folha seguindo a ordem tradicional de um

casamento em minha dimensão e eu me desliguei de tudo ao meu redor e me virei mais

uma vez para Jeziel. Ele também se virou para mim e em seu rosto havia tanta

felicidade que eu quase podia tocá-la. Eu sei que ele via o mesmo em mim, porque meu

coração batia a ponto de doer com tanta emoção.

Depois da tradição daqui faltando os votos a aliança e o juramento, os anciões se

aproximaram junto com os outros moradores de lá. Aragorn, Tamala, Lariana, Vogue,

Erzoul, todos eles fizeram uma roda ao nosso redor.

Eu consegui tirar meus olhos de Jeziel por um instante para ver o que eles

estavam fazendo.

Um por um ergueu uma de suas mãos para o céu e a outra segurava na mão de

quem estava ao seu lado.

Todos ele romperam em sua luzes de cores variadas e numa muralha de luz e

cores nos envolveram. Das mãos que estavam erguidas, saiu um feixe de luz cada um

em sua cor fazendo uma cobertura sobre nós e com toda aquela união uma força

sobrenatural implodiu tornado aquela muralha ao nosso redor numa fortaleza de luz que

agora reluzia forte e totalmente branca.

Jeziel ergueu sua mão com a palma virada para mim. Sem saber muito que eu

devia fazer estendi minha mão para ele e nossas palmas se encontraram.

A luz branca que nos cobria veio do alto num fleche e com um fio de luz enlaçou

nossas mãos unidas. Minha luz rompeu sem que eu esperasse e a de Jeziel brilhou diante

dos meus olhos. O azul que emanava de nós dois contagiou o fino fio de luz branca

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fazendo que tudo agora brilhasse azul. Eu estava maravilhada com todo aquele efeito ao

nosso redor e então Jeziel me chamou a atenção quando com sua voz doce e carregada

de emoção pronunciou meu nome.

- Melissa eu amo você – meus olhos se voltaram para os dele que brilhava

intensamente.

Meu coração disparou. Era agora a hora da cerimônia de Andaluz.

Jeziel continuou me olhando com nossa mão enlaçada e nosso olhar imantado, e

ainda com a voz emocionada ele passou a pronunciar as palavras de sua tradição.

- A tua luz é a minha luz, o teu ser é o meu ser, você esta em mim, eu em você,

quando o criador te fez, te fez para mim e eu para você. E a partir de agora seremos um,

unidos para a eternidade pelo nosso amor e pelo amor do criador. Onde quer que tu

fores irei eu, onde quer que andares andarei eu. O teu povo é o meu povo, o teu reino é

o meu reino, a tua coroa é a minha coroa, a tua vida é a minha vida. você será a minha

rainha e eu o seu rei.

Senti algo quente e lento escorrer pelo meu rosto. Eu estava chorando.

Ele sorriu e continuou.

- E prometo honrá-la e ser-lhe fiel na alegria e na tristeza na saúde e na doença

na riqueza ou na pobreza amando-te e respeitando-te todos os dias da minha vida –

mesclou.

Eu sorri ainda com as lágrimas descendo pelo meu rosto.

Um coral de vozes vindas da luz ao nosso redor começou a recitar o que devia

ser o complemento da cerimônia.

- Que essa união seja eterna. Que eles vivam um para o outro. Que sejam felizes

e prósperos e que tenham muitos filhos. Que sua casa seja repleta de felicidade, e que a

vida de ambos seja longa para que tenham a companhia um do outro. E que o criador

honre sempre esse amor.

A luz azul retrocedeu para nós e cada um teve sua luz em sua cor de volta.

O baixinho barbudo, que agora nem me parecia tão irritante, pegou o papel para

ler novamente.

- Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e mulher.

Ele ficou olhando para nós dois e se lembrou que faltava alguma coisa, pegou o

papel novamente e leu.

- Agora já pode beijar a noiva!

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Jeziel e eu nos olhamos e nem que houvesse uma palavra nova para descrever o

poder do que eu estava sentindo eu poderia usar, porque simplesmente não havia nada

que pudesse descrever a emoção.

Eu estava olhando agora não mais para o meu Leo, ele era agora meu marido.

Era meu para sempre.

Jeziel acolheu meu rosto em suas mãos, e num gesto lento demais para minha

ansiedade se aproximou de meus lábios ainda sem tocá-los.

Fechei meus olhos me esquecendo de tudo e de todos ao meu redor e só me dei

conta que o amor da minha vida estava ali.

- Eu te amo – falei num sussurro – te amo para sempre.

E seus lábios encontraram os meus.

Uma explosão de palmas e júbilos ao nosso redor me trouxe de volta a terra.

Jeziel me abraçou de lado me colocando de frente a platéia para vermos os

rostos sorridentes ao nosso redor.

Biel foi o primeiro a se aproximar me pegando pela cintura me tirando do chão

para um abraço de urso.

Depois uma fila se formou. Todos queriam cumprimentar o novo casal.

Recebi abraços, beijos e desejos de felicidade eterna, todos visivelmente

sinceros. Até o baixinho barbudo que eu não considerava mais irritante nos

cumprimentou. Eu tive que me abaixar para abraçá-lo.

Os últimos a nos cumprimentar foram Aragorn e Tamala.

Aragorn me abraçou um pouco mais demorado que os outros convidados, mas

eu não me importei, ele tinha mais direito a isso que qualquer um.

- Me faça um favor? Ou melhor uma promessa?! – ele disse na minha orelha

abraçado comigo.

- Você anda me pedindo muitos favores ultimamente. O que quer dessa vez?

- Prometa que será feliz.

- Só se você me prometer o mesmo.

Ele se afastou me segurando pelos ombros e olhou para Tamala que falava com

Jeziel ao nosso lado.

- Não me parece mais tão difícil – Tamala olhou para ele e sorriu – Tá eu

prometo - Ele afirmou e me deu um beijo no rosto.

Em seguida Tamala me abraçou e eu senti tanto carinho em seu abraço...

- Vai dar tudo certo Melissa. Pra nós duas.

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- Eu sei que dará – confirmei com um sorriso no rosto.

- Hora do bolo! – minha mãe gritou chamando os convidados para a enorme

mesa que portava o enorme bolo e outras guloseimas.

Enquanto todos andavam para a mesa eu dei um passo na direção deles e Jeziel

me puxou pela cintura me aproximando dele de forma possessiva.

- Onde a minha esposa pensa que vai?!

Ouvi-lo me chamar de esposa não foi nada comum. Caramba eu tinha mesmo

me casado com ele!

- Comer um pedaço do nosso bolo de casamento meu marido – falei me sentindo

a mulher mais privilegiada do mundo.

- Você não tem autorização para dar nenhum só passo sem mim ao seu lado.

- Não pretendo fazer isso nunca.

- Então que tal deixarmos esse bolo para depois e irmos para outro lugar?

- Que outro lugar?

Ele colocou a mão por baixo da estola retirando de um bolso e me mostrando as

pedras que reconheci de imediato. As pedras que formavam o cilindro que é o portal

para a colina do rei.

- Agora?! – perguntei ansiosa.

- Agora – falou decidido.

- Preciso ao menos me despedir da minha mãe – olhei para ela toda alegre

servindo os convidados.

- Ela já sabe. Inclusive que nós vamos passar um bom tempo lá sem fazer

contato com ninguém. Avisei para que não fiquem preocupados. Ela não se importou.

Na verdade ela também vai ter uma segunda lua de mel com seu pai.

- E eu vou assim?! vestida de noiva? E minhas roupas... eu não preparei nada.

- Já esta tudo preparado para nós dois lá.

- Como assim?

- Enquanto você dormia, eu e seu pai fomos até a colina do rei e preparamos

tudo. Suas roupas seus objetos pessoais, tudo que é seu esta lá te aguardando. Até o

Meliel.

Meliel, o ursinho de pelúcia que ele me deu no natal. E todas as minhas coisas?

Engraçado não senti falta de nada em casa.

- Então?

Eu sorri com o eminente e feliz futuro que me aguardava.

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Ele segurou minha mão e me puxou para o meio das árvores nos afastando da

vista dos convidados. Nós iríamos fugir da festa para nossa festa particular.

Quando estávamos a uma boa distância da casa do chalé, Jeziel se preparou para

abrir o portal, mas antes que ele jogasse as pedras para o ar, ouvimos gritos vindo da

festa.

Jeziel ficou paralisado por alguns segundos e eu me assustei com a expressão

dele. Entrei em sua mente para ver o que se passava e ouvi a voz de Aragorn dizendo.

- Depressa Jeziel tire Melissa daqui. Cordomad conseguiu abrir um portal. Ele

esta aqui leve-a agora.

Jeziel olhou para mim assustado, segurou minha mão com força e me puxou

mais para dentro da mata.

- Vamos Melissa você tem que sair daqui!

- Você?! Como assim eu? Você não vem comigo?

- Cordomad esta aqui, eu preciso lutar.

- Eu não vou a lugar nenhum sem você, e além do mais minha mãe esta lá. Ela

não sabe lutar.

- Seu pai a protegerá. Você vai para colina do rei agora.

- Não sem você! - bradei.

- Me obedeça Melissa ao menos essa vez, essa não é hora para discussões.

- Então não me faça te lembrar do juramento que acabou de me fazer. Nós somos

casados agora, cumpra seu juramento. Se eu for você vai. Se você ficar eu fico!

Ele me olhou angustiado, mas enfiou as pedras novamente no bolso.

- Então me prometa que não vai se afastar de mim um só milímetro.

Olhei para ele pensando se eu seria capaz de cumprir essa promessa.

- Me prometa! – ele insistiu.

- Tá eu prometo – ou pelo menos vou tentar. Pensei.

Segurando em minha mão, corremos novamente de volta a área da festa.

Me assombrei ao ver a quantidade de mantos pretos cercando que antes eram

somente convidados do meu casamento agora estavam na posição de guerreiros do

exército rebelde.

Procurei com os olhos pela minha mãe e a encontrei escondida atrás do general

que empunhava sua espada.

Vi também Biel e vogue posicionados para a batalha, Maxuel ao lado de Lariana

segurava uma espada também. Alguém deve ter dado uma para ele.

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Aragorn quando viu eu e Jeziel se aproximando deixou a cabeça pender

totalmente revoltado com a minha permanência no meu próprio mundo.

A quantidade de Drevors aumentava e quando nos aproximamos de Aragorn e

de Tamala alguns dos anciões jogaram para nós duas espadas. Eu sabia que era

proposital nossa proximidade de Aragorn. Jeziel sabia que ainda agora meu amigo faria

de tudo para me proteger.

- Você devia ter ido embora – Aragorn me falou irritado.

Olhei para ele determinada. Ele me conhecia o suficiente para saber que eu não

iria.

Tamala se aproximou de mim se posicionando ao meu lado. Ela me olhou

solidaria entendendo bem o motivo de eu ter permanecido ali.

Um outro portal se abriu diante de nossos olhos mas diferente do último que vi

abrir de Andaluz para cá, não havia nenhum tipo de manifestação. Simplesmente ele se

abriu e Cordomad surgiu por ele.

Os olhos dele vieram direto a mim, e Jeziel protetoramente se instalou em minha

frente me tirando do foco da visão de Cordomad.

- Jeziel, nos encontramos novamente.

- Você podia ter esperado eu ir atrás de você. Você sabe que eu iria.

- É eu sei, mas sou um pouco ansioso com esperas, e gosto muito de fazer

surpresas. Vejo que esta muito surpreso com minha aparição no mundo de Melissa.

- Como nos encontrou?

- Jeziel, eu não sou tão inofensivo quanto pensa. Seu problema é subestimar seus

adversários.

- Não farei mais isso.

- Creio que seja tarde de mais para uma decisão dessas, já que não te darei outra

oportunidade.

Cordomad ergueu a mão e seus soldados avançaram contra nós hora

materializados hora em fumaça.

Eram tantos contra nós que era impossível vencê-los.

Os Drevors não estavam para brincadeira e nos golpeava com toda força.

Jeziel em minha frente lutava bem impedindo que os Drevors que vinha contra

ele passasse até a mim. Na minha retaguarda estava Aragorn fazendo o mesmo e eu e

Tamala ali no meio.

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Olhei para onde estava a minha mãe e ela estava completamente assustada. Meu

pai fazia o que podia com a ajuda de Biel e de Vogue para protegê-la. Maxuel para meu

espanto estava se dando bem com a espada e ao lado de Lariana que me parecia nunca

ter pegado numa faca, quanto mais numa espada, também tentava protegê-la. Mas quem

mais me preocupava era minha mãe.

Ameacei ir até ela. Seria uma espada a mais para protegê-la. Mas em menos de

um passo Jeziel me agarrou pelo pulso.

- Não saia de perto de mim! – ele bradou.

E enquanto ele se distraia tentando me deter um Drevors se materializou bem

atrás dele com a espada preparada para o golpe que seria fatal. Num reflexo girei meu

corpo e me posicionei de frente ao Drevors e com minha espada bloqueei o golpe que

ele iria dar. Jeziel então cravou a espada no Drevors que caiu já morto no chão. Mas a

distração que eu provoquei deu vantagem aos soldados de Cordomad que conseguiu

então romper o bloqueio feito por Jeziel e Aragorn que protegia a mim e Tamala.

Eu e ela então passamos a enfrentar os Drevors, mas meu vestido longo de noiva

e o dela não nos permitia muita mobilidade e isso não ajudava em nada.

Num movimento que eu mal pude acompanhar, Aragorn passou sua espada pela

saia de Tamala e lhe abriu duas fendas de lado. Jeziel acompanhando o pensamento de

Aragorn cortou então ao fio da sua meu vestido na altura do joelho. Eu saí do meio dos

panos que caíram aos meus pés e continuei a luta.

Mesmo com mais movimentos não estava fácil derrotar os Drevors eles eram

muitos e nós em número reduzido iríamos acabar perdendo pelo cansaço.

- Melissa – Tamala me chamou – se ficarmos aqui vamos morrer. Temos que

sair daqui agora.

Eu entendi o que ela queria. Nós podíamos abrir um portal e levar a todos

conosco para longe dos Drevors. Mas não me parecia uma boa idéia. Cordomad com

certeza nos encontraria novamente. Seria só uma questão de tempo. Ele nos encontrou

através da minha mente. Foi ele quem manobrou meus pensamentos para que eu

pensasse que estava louca e isso a distância de uma dimensão. Ele tinha razão, não era

tão inofensivo quanto pensávamos. Todos passaram a vida toda atribuindo a Erkas e a

Raika as vitórias de Cordomad, mas nunca pararam para analisar quem ele era de

verdade e o que ele podia fazer.

Pela primeira vez tive que concordar com Jeziel. Se Cordomad não fosse

destruído jamais teríamos paz.

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- Eu tenho uma idéia melhor – falei para Tamala maquinando umas idéias e ela

que acompanhava meu pensamento sorriu concordando.

Ela segurou em minha mão e num átimo fomos puxados por um túnel invisível e

escuro até que a luz do sol reluzente de Andaluz brilhasse em nossos olhos.

Quando foquei minha visão para o lugar que eu tinha planejado ir, ali estávamos.

No arraial onde o exército rebelde de Jeziel era numeroso e forte. Tamala e eu

transportamos todos os Drevors inclusive Cordomad que quando viu onde estava

arregalou seus olhos azuis espantados.

Ao ver a nossa chegada inesperada os soldados do exército de Jeziel parou por

segundos até entender o que estava acontecendo.

O general Euri ergueu sua espada ao alto e ordenou.

- ATACAR!

E todo o exército com mais de cinco mil homens que aguardavam ali para

poderem cumprir seu papel avançaram contra os Drevors que agora não passavam de

uma gota no oceano.

Jeziel me olhou admirado sorrindo satisfeito que eu tivesse essa idéia, Tamala

correu para Aragorn que agora não tinha mais o que fazer. E eu então planejei também

correr para os braços do meu Leo já que Drevors a Drevors caiam ao chão como

moscas.

Foi quando Cordomad escapou dos soldados que o cercavam se tornando em

fumaça e se materializando bem diante de Jeziel. Os dois então travaram uma luta

fenomenal. Cordomad usava tudo que tinha e Jeziel colocava em prática anos de

treinamento a espera que esse dia chegasse.

Jeziel estava bem melhor que Cordomad na luta, mas ainda não era o suficiente

para eu não me preocupar. Cordomad era traiçoeiro podia se esperar tudo dele.

E como que para provar meu pensamento, vi quando Cordomad se esvaeceu em

fumaça deixando Jeziel desorientado e reapareceu colado em mim com a espada no meu

pescoço.

- Dessa vez ela não escapa – Cordomad gritou para Jeziel que ainda tentou correr

para o meu lado – não se aproxime ou ela morre agora mesmo – ameaçou.

- Por favor Cordomad – Jeziel falou agoniado - deixa Melissa em paz.

- Depende. Podemos fazer uma troca.

Jeziel olhou para ele desconfiado.

- Quanto você a ama Jeziel? Seria capaz de qualquer coisa por ela?

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Jeziel não falou nada. Seu rosto estava tão angustiado em dor e medo de que

alguma coisa acontecesse comigo que duvidei se ele era mesmo capaz de falar qualquer

coisa.

Cordomad apertou mais a espada contra meu pescoço e eu senti seu fio frio e

afiado cortando aos poucos minha pele.

- Por favor – Jeziel deu mais um passo agoniado olhando para a espada em meu

pescoço.

- Quanto a ama?! – Cordomad gritou exasperado.

- Qualquer coisa – gritou Jeziel no mesmo tom - o que você quiser. Você quer a

mim, leve-me e deixe-a em paz.

- Eu o quero morto. Trocaria sua vida pela dela?

Dessa vez quem gritou fui eu.

- NÃO! Nunca, Jeziel não!

- Me leve – Jeziel falou determinado encarando Cordomad.

- Não Leo! Não! – eu supliquei, mas ele não olhou para mim novamente.

Eu comecei a chorar e me movimentar para tentar escapar dos braços de

Cordomad. Senti que o fio da espada me cortou, mas não liguei. Ele não podia levar

meu Leo.

- Solte-a agora, você pode me levar – Jeziel bradou angustiado vendo que me

feri.

- Não antes de reassumir meu trono. Vocês vem comigo até meu castelo.

Cordomad abriu um portal a nossa frente somente usando a mente e passou me

arrastando com ele. Jeziel atravessou em seguida.

Em segundos estávamos na sala do trono dos pais de Jeziel.

- Agora solte ela – Jeziel falou tentando manter a calma.

- É. Realmente você a ama muito. Vai trocar um reino, seu poder de rei, e sua

vida pela dela? Não compreendo como alguém pode amar outra pessoa mais que a si

mesmo. - Ele me arrastou até os tronos - mas para mim é uma grande vantagem que

você seja tão sensível a ela. Não que ela não valha a pena – ele emaranhou seu rosto em

meus cabelos – ela é tão linda, tão jovem e valente. Vai me dar uma ótima rainha já que

vocês mataram a minha.

- Você não vai... – Jeziel falou entre os dentes.

Cordomad o interrompeu.

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- Vou sim. É a única forma dela permanecer viva. Você se entrega por ela e

Melissa se torna minha rainha.

- Ela é minha esposa – Jeziel bradou.

- Não por muito tempo. Em poucos minutos ela será viúva e livre para se casar

comigo.

- Jamais! – eu gritei exasperada ele estava louco se acreditava que eu ficaria com

ele em qualquer que fosse a situação. Preferia a morte.

- Bom. Já que é assim?! – Cordomad deslizou a espada pelo meu pescoço e eu

senti o corte. Senti também meu sangue escorrer até meu vestido. Mas o corte não foi

fundo, foi só para pressionar Jeziel.

Jeziel olhou para mim apavorado.

- Tudo bem! - ele gritou – Você venceu. Fique com o reino, com o trono, fique

com tudo. Deixe ela viva.

- Esse tudo que você diz acrescenta também sua esposa? – Cordomad perguntou

maldosamente. Ele sabia que estava sendo difícil para Jeziel, mas ele queria torturá-lo.

- Você vai me matar agora ou não? – Jeziel falou impaciente.

- Nunca vi alguém com tanta pressa para morrer - Cordomad ironizou.

Ele me arrastou me fazendo sentar no trono da rainha Adria.

Quando tentei me levantar ele fez algo que me imobilizou.

A coroa brilhou sobre minha cabeça e mesmo assim não tive forças para me

livrar da força invisível que me prendia.

Cordomad estava de pé no alto dos degraus da escada.

De repente Tamala, Aragorn, Biel, vogue, Maxuel, Lariana Erzoul, minha mãe e

o general Euri surgiram do nada no meio do salão. Tamala e Aragorn devia ter

transportado eles até ali.

Aragorn e Biel ameaçaram avançar, mas Cordomad apontou sua espada para

meu coração.

- Não! Não façam nada – Jeziel pediu – ele quer a mim. Ele não fará nada a ela

se eu me entregar.

- Isso mesmo Jeziel – falou Cordomad - Que bom que esta disposto a honrar

nosso trato.

Ele retirou a espada do meu peito e andou até Jeziel.

Eu tentava inutilmente escapar.

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- Não Jeziel! Não! – eu gritava desesperada com minha visão turva por causa das

lágrimas que caiam freneticamente enquanto eu via Cordomad chegar mais próximo

com sua espada de Jeziel que não tinha intenção de reagir.

- Façam alguma coisa! – Gritei para todos que estavam ali – Aragorn por favor!

Aragorn tentou se mover, mas ele também estava imobilizado. Ninguém parecia

ter condições de fazer algo.

Cordomad malabarou sua espada na mão, tão satisfeito com sua eminente vitória

que já ria antecipadamente. Seu sorriso macabro encheu todo salão me fazendo tremer.

Ele iria cravar a espada no coração do meu Leo. E eu simplesmente não conseguia

fechar os olhos por mais que eu não quisesse ver aquilo.

Jeziel olhou para mim uma última vez enquanto a mão de Cordomad recolhia a

espada para trás para dar mais impulso contra o peito de Jeziel.

- Melissa, Minha vida é você – a voz de Jeziel soou tão apaixonada que não dava

para acreditar que era a última frase de sua vida.

A espada de Cordomad rumou com toda força contra Jeziel e como se fosse em

câmera lenta diante de meus olhos vi o avanço milímetro por milímetro da ponta afiada

daquela espada até se encontra com o peito de Jeziel.

- NÂO! – eu gritei saindo do estupor.

Toda a sala se iluminou e dessa vez em azul. Finalmente eu consegui me mover

e correr até onde estava Jeziel e quando me aproximei desesperada vi que Cordomad

não tinha conseguido enfiar a espada no coração de Jeziel. Agora era ele que estava

paralisado. Suas mãos tremiam com a força que ele fazia para se livrar. Mas era inútil.

Quando ele percebeu que não iria conseguir quis se transformar em fumaça, mas

enquanto ele tentava escapar Jeziel tomou-lhe a espada e cravou no meio de Cordomad.

Que olhou incrédulo ao que lhe havia acontecido.

- Mas como?! – Cordomad murmurou já perdendo as forças.

- O poder que você não conhece. O poder que é mais forte que qualquer dom que

você tenha. O poder do amor. Quando você me fez trocar minha vida pela dela, você

perdeu porque minha vida é ela e a dela sou eu. Você só me destruiria se destruísse a

ela. Mas você é egoísta demais para saber disso. Nunca amou ninguém por isso não

conhece o segredo de quem ama. A vida e o amor dela me fortalece e me tornou forte o

bastante para paralisar e destruir você.

- Amor?! – Cordomad falou confuso caindo de joelhos com a mão na espada.

- Quem derrotou você Cordomad não fui eu. Foi meu amor por Melissa.

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Cordomad ainda olhou para mim antes de cair morto no chão com os olhos

arregalados.

Em poucos segundos diante de nossos olhos Cordomad se esvaeceu em fumaça e

dessa vez definitivo. Ele finalmente havia sido destruído para sempre. A espada fez um

som ao cair sozinha no piso de cristal do salão.

Os outros começaram a se mexer ao nosso redor livres da prisão de Cordomad.

Jeziel se aproximou de mim. Eu ainda olhava estarrecida para o lugar que antes

jazia o corpo de Cordomad. Eu mal podia acreditar que tudo finalmente havia acabado.

Ele segurou minha mão delicadamente e preocupado com o choque em que eu

estava me abraçou lentamente deixando que eu percebesse sua presença.

Quando seus braços me envolveram então tive a real noção de que era ele ali me

abraçando. Acordando do choque então o agarrei com toda minha força. O abracei e

chorei compulsivamente. Ele estava vivo, meu Leo estava vivo e tinha vencido

Cordomad.

Alivio, paixão, medo, êxtase, euforia, estupor, uma leva de sentimentos e

sensações incoerentes percorriam por minha mente e por meu corpo me deixando

insana.

- Shhhhh! Esta tudo bem agora. Acabou meu Mel. Nós estamos bem - Jeziel

tentava me acalentar, mas as crises emocionais que eu dava assim que nos conhecemos

parecia ter ressurgido em mim.

Eu não conseguia parar, então ele sentou comigo no chão me envolvendo em

seus braços como ele fazia antigamente e me deixou chorar até me sentir melhor.

Não sei quanto tempo levei para conseguir olhar para ele sem lágrimas nos

olhos, mas ele como sempre, teve paciência para me esperar.

Ao encontrar seus olhos e ver que ele estava calmo e confiante me acalmei por

completo. Realmente tinha acabado. Estávamos juntos e para sempre.

Impetuosamente segurei seu rosto entre minhas mãos e o beijei como se fosse a

última vez, ou a primeira. Ele retribuiu meu beijo com a mesma paixão, até que uma

garganta arranhando nos lembrou que não estávamos sozinhos.

Meu pai nos tirava do nosso paraíso.

- Não liga não seu general. Melissa sempre agarra Jeziel assim – falou Maxuel

com certeza se lembrando do dia do beijo no laboratório.

Todos riram espontaneamente.

Biel me estendeu a mão me ajudando a levantar.

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- Ainda tem uma coisa que precisa ser feita – o general falou a Jeziel que

assentiu com a cabeça.

Jeziel me pegou pela mão e encaminhou para as escadas que davam para os

tronos. Me sentou no trono que havia sido da rainha Adrià e ele se sentou ao meu lado

no trono que tinha sido de seu pai. Estendeu a mão para mim e segurando um na mão do

outro nossas luzes romperam e se fundiram. O colar que Jeziel me deu foi o primeiro a

brilhar e depois a minha coroa. Toda a luz daquele lugar agora se recolhia sobre a

cabeça de Jeziel desenhando uma coroa de luz que reluzia mais que o sol.

Então entendi que aquela coroa de rei que agora brilhava sobre sua cabeça

sempre esteve ali. Nasceu com ele, era parte dele.

Como se fosse possível a sala do trono resplandeceu ainda mais, agora com

nossa luz azul que se estendeu por todo castelo rompendo as janelas e portas se

espalhando por todo o reino.

Gritos de jubilo foram ouvidos por todos os lados, e vozes alegres e exaltadas

diziam: “o rei esta no trono! o rei esta no trono!”

E inúmeras pessoas começaram a entrar pelas portas e outras surgiam por

portais. Os anciões também apareceram através de um portal e em poucos segundos o

salão estava repleto de pessoas sorridentes, orgulhosos com a vitória.

Todos estavam tão felizes que brilhavam em suas luzes em cores variadas.

Aquela visão me contagiou de alegria, e eu me virei para Jeziel maravilhada, sem

palavras.

- Este é o seu reino, o seu povo, que já te ama – Jeziel me falou - Eles estão

felizes por você estar neste trono minha rainha.

Eu olhava para ele e a imponência real, o porte de rei que sempre esteve

impregnado nele parecia ainda mais exuberante. Ele ainda estava com a roupa do

casamento e com sua estola real escrita rei de Andaluz.

- Agora se apresente a seu povo – ele me disse em pensamento.

E juntos e de mãos dadas nos colocamos de pé e o general no meio dos degraus

da escada anunciou.

- Recebam a rainha e o rei e legítimo de Andaluz!

E todos reverentemente se curvaram com um joelho ao chão e a mão no peito

como juramento.

Um coral de vozes fortes e devotas fez-se ouvir por todo o castelo.

- Fidelidade ao rei Jeziel, fidelidade a rainha Melissa!

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Vozes que vinham do lado de fora do castelo me chamou a atenção. Jeziel me

levou até uma sacada que dava para a frente do castelo, e vi uma multidão de milhares

de pessoas reunidas lá embaixo.

- Fidelidade ao rei Jeziel, fidelidade a rainha Melissa! – um coral ainda mais

forte se fez ouvir. Era capaz que todo o povo de Andaluz estivesse ali.

Olhei para todo aquele povo e me convenci de que agora eu era a rainha deles.

- Eles estão esperando que você fale a eles – Jeziel me abordou.

- Falar o que? - Agora eu era rainha, mas continuava sendo a Melissa tímida e

sem jeito de lidar com multidões. Na verdade eu nunca precisei disso.

Jeziel deu de ombros me dizendo que a escolha era minha.

Timidamente ergui minha mão e acenei. Gritos de jubilo e flores foram lançados

no ar. Jeziel se divertiu ao ver minha expressão. Ele se aproximou mais da beira da

sacada colocou as mãos sobre o parapeito e falou.

- É chegado um novo tempo em Andaluz, o tempo da justiça e da verdade. –

mais gritos eufóricos foram ouvidos – Povo de Andaluz – Jeziel continuou – celebrem

sua nova era!

O povo lá em baixo parecia ensandecidos de tanta satisfação. Eles se abraçavam

e pulavam celebrando o novo tempo que chegava para as novas gerações. Jeziel se

voltou para mim com os olhos brilhando e tão feliz que não consegui me lembrar de vê-

lo assim outras vezes.

Sorri para ele que me pegou pela cintura diante de todo seu reino e me beijou

apaixonadamente debaixo de um coral de ohhhh! E em seguida palmas e assovios.

Me senti constrangida.

Meu Leo se afastou de mim gentilmente e me encarou carinhosamente.

- Não fique envergonhada. Andaluz é um reino que sempre foi regido pelo amor,

e nosso amor fortalecera nosso reino trazendo paz e prosperidade para todos. E também

faço questão que todos saibam que eu amo loucamente a minha rainha.

Eu sorri o abraçando não fazendo então mais conta de quem nos observava.

Ao voltarmos para a sala do trono minha família e meus amigos estavam ali

reunidos. Sorridentes nos receberam com abraços. Todos os outros já haviam se retirado

para comemorar o novo tempo.

- Acho que agora vocês poderão ir finalmente para a tal colina não é?! – minha

mãe falou a nós dois.

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Erzoul se aproximou passando uma pasta pegajosa no meu pescoço sobre o corte

que a espada de Cordomad fizera.

- Em vinte minutos estará bom – ele falou e sorriu simpático.

- Não sei se posso ir agora – Jeziel falou – tenho que reinar Andaluz agora.

- Nada disso – se intrometeu meu pai – decretarei feriado nacional por um bom

tempo junto com o conselho.

- Feriado em Andaluz? – Jeziel indagou.

- Sei que aqui nunca teve um, mas podemos começar de agora, afinal na

dimensão da rainha é uma ótima ocasião para descanso. Podemos empregar algumas

coisas de lá que venham tornar seu reinado mais agradável aqui – general insistia - E

Aragorn vai mesmo precisar de um tempo para reorganizar o exército qual ele vai

assumir como general.

- E enquanto vocês estiverem fora deixem que eu cuido de tudo por aqui – se

ofereceu Biel – mas não demorem muito, porque assim que voltarem eu também vou

me casar.

- Se casar?! - eu falei alto e surpresa.

Meus olhos foram direto fulminar Vogue que quase se escondia atrás de Lariana

agarrada a Maxuel.

Biel me puxou de lado querendo sussurrar.

- Mel, você lembra que eu disse que quando encontrasse alguém que me olhasse

da maneira que você olha para Jeziel eu me casaria com ela?

Estiquei o olhar para vogue de novo e lá estava ela com o olho cumprido como

um cachorrinho pidão para o meu irmão.

- Eu nunca olhei Jeziel dessa maneira – protestei.

- Olhou sim, e olha até hoje. Será que eu vou ter que pendurar um espelho em

Jeziel para você se ver sua cara quando olha para ele?

- Eu não gosto dela – resmunguei cruzando os braços.

- Mas eu a amo e amo você e gostaria que vocês se entendessem.

- Você só pode estar brincando.

- Mas não estou.

- Biel, com tanta mulher no mundo, com tanta mulher em Andaluz você foi se

engraçar logo com essa chata?

- Ela não é chata, você só implica com ela por que ela te entregou para Jeziel.

- Porque não casa com Lariana? Prefiro a cabelo de fogo que a chata da Vogue.

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- Não posso realizar seu desejo já que seu amigo Maxuel vai se casar com ela.

- O que? Maxuel vai se casar com Lariana?

- E seu amigo Aragorn também vai se casar com Tamala. Combinamos de fazer

uma cerimônia só, assim que vocês voltarem da lua de mel.

- E seus estudos e a Inglaterra? – tentei argumentar – você não pode

simplesmente largar tudo para ficar com ela.

- Não vou largar, ela ira comigo. Jeziel também deu a casa dele para Maxuel e

Lariana. Somente Aragorn ficara em Andaluz, mas eu venho visitar vocês sempre já que

mamãe e papai vão morar aqui.

Droga, lá estava voltando a sensação de que eu devia estar sonhando de novo. Só

que dessa vez era o pior de meus pesadelos. Meu irmão e Vogue casados?! - Porque o

chão não se abre e devora certas pessoas da face da terra quando precisamos. – pensei

olhando aborrecida para Vogue.

- Melissa não diz isso – Biel falou em minha mente acompanhando meus

pensamentos.

- Quer sair da minha cabeça! – resmunguei – tudo bem, quer se casar com essa

praga? Case-se então. O problema é seu. Depois não venha se lamentar comigo quando

ela te encher tanto que você não agüente mais.

Biel me abraço me levantando do chão todo animado.

- Eu te amo maninha.

- Humf! Sei.

Ele saiu para contar a novidade para Vogue que pelo sorriso que ela me lançava

já sabia.

Sorri numa careta torta para ela sem o menor humor.

Jeziel apareceu em minha frente sorrindo da minha careta.

- Eles vão se dar bem – Jeziel tentava me convencer.

- Não quero saber – respondi de mal humor.

- Sempre tão marrenta e tão possessiva, e tão fofa com essa carinha de zangada e

fica tão linda quando esta emburrada.

A bajulação de Jeziel derreteu minha cara amarrada.

Sorri para ele me esquecendo de todo o resto.

- Acho que agora podemos partir para completar nosso destino onde você é

oficialmente minha esposa.

- Nós vamos para a colina do rei agora? Só nós dois?!

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Ele abriu a mão me mostrando as pedras.

- A idéia é essa.

Minhas pernas bambearam. Aquele mesmo frio na barriga que me dá quando ia

me apresentar na frente da sala de aula ou diante de um publico fez minha respiração

pesar.

Ele segurou minha mão que já estava suando frio e jogou as pedras para o ar.

Elas giraram e se tornaram no cilindro que eu já havia viajado antes na minha

primeira viajem a Andaluz.

De repente como um filme acelerado, tudo que havia acontecido comigo desde

que entrei naquele cilindro a primeira vez passou em minha cabeça enquanto Jeziel

apertava firme a minha mão.

Olhei para trás e todos se despediam acenando Aragorn era o único que não

acenava. Ele não ia se despedir definitivamente de mim. Não ainda. Seu sorriso maroto

de anjo levado me dizia que ele estava bem enquanto eu via seu braço ao redor de

Tamala que também sorria para mim.

- Melissa, vá tranqüila seu amigo vai receber uma noticia que fará dele o

homem mais feliz de Andaluz – Tamala falou em minha mente com um sorriso

resplandecente no rosto.

- Que noticia é essa? – perguntei curiosa já bloqueando minha mente para que

não escapasse a ele.

- Eu já vi, eu já sei, e mal posso me conter de tanta felicidade.

- Então me diga de uma vez o que é?! – falei ansiosa.

- Eu estou grávida! – ela soltou totalmente em êxtase.

Eu abri o meu maior sorriso para ela, e lógico, Aragorn ficou desconfiado, olhou

para ela de soslaio e para mim e ele sabia que estávamos conversando, mas não fazia

idéia sobre o que.

- Obrigada por ter me contado - falei felicíssima.

- Logo eu vou contar a ele, assim que chegarmos a ilha.

- Ele vai ficar muito feliz.

- Eu sei que vai.

- Parabéns.

- Obrigada.

- Então eu vou ser titia?

- Ta mais para sogra que para tia.

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- Sogra? Então é esse o premio do criador para Aragorn? Nosso filhos nascerão

um para o outro?

- Sim.

- Quer dizer então que eu também vou ficar...

- Não agora - ela me interrompeu - vocês ainda tem um bom tempo de espera.

- Então vamos? – Jeziel me chamou me tirando da conversa super interessante.

Era confortador saber do futuro ainda que isso parecesse meio estranho

imaginar que tudo já esta determinado e independente dos caminhos que traçarmos e

das interferências que surgirem, o final é sempre feliz para quem se esforça a encontrar

a estrada certa.

Acenei para todos em despedida.

O cilindro já estava pronto e ao entrar nele em poucos segundos nossos pés

estavam sobre a relva macia e esverdeada da colina do rei que estava exatamente linda

como eu me lembrava dela, com um único bônus mais que especial. Jeziel.

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Capítulo 21

Eu olhava para o horizonte onde o por do sol alaranjado de Andaluz dava um

toque de cor e luz especial onde tocava.

Tão perfeito e tão sublime era ver tudo aquilo agora sabendo que eu era

oficialmente a rainha de tudo aquilo. Algo que eu nunca almejei, mas que agora me

parecia tão correto, tão natural.

Mesmo contemplando toda aquela beleza tinha a completa consciência da mão

quente de Jeziel na minha.

Ele também contemplava o horizonte e o olhava com admiração e orgulho.

Aquilo tudo era dele, todo aquele esplendor, todo aquele reino, toda Andaluz finalmente

era definitivamente dele. Ele é o Rei de Andaluz.

Estendi meus olhos ao céu que começava a escurecer vendo que o brilho do sol

cedia agora a autoridade de algumas estrelas que sabiam que a noite pertencia a elas.

Jeziel largou minha mão e se virou para mim.

Delicadamente passou as pontas dos dedos em meu rosto me deixando ver o

brilho em seus olhos.

Seus dedos subiram até meus cabelos e tocaram a coroa sobre minha cabeça. Seu

olhar acompanhava o caminho que seus dedos percorriam enquanto eles desciam pelas

mechas de meus cabelos e passavam por meu rosto novamente e caminhavam por meu

pescoço, ombro e escorregava por meus braços até segurar minhas mãos novamente.

- Eu quase não posso acreditar que é verdade – ele falou com a voz embargada

de emoção - Se eu não estivesse te sentindo, te tocando, eu não acreditaria ser verdade

eu estar aqui com você.

Eu sorri e tombei meu rosto em sua mão quando ele tocou meu rosto novamente.

- Eu estou aqui – falei simplesmente.

Ele soltou um sorriso envolto em surpresa e alivio.

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- Sim, Você esta! – ele parecia perplexo – e eu sonhei tanto com esse dia. Sonhei

antes mesmo de te conhecer. Sei que sonhei com esse momento mesmo ante de nascer.

por que... – ele respirou fundo - antes de existir eu já era apaixonado em você.

Mesmo que eu ouvisse as declarações de Jeziel um zilhão de vezes dizendo que

me amava era sempre um choque para mim. Provavelmente não havia algo que eu

pudesse ouvir que me fizesse mais feliz, mas de todas as formas que eu pudesse tentar

entender o que eu tinha feito para merecer um amor tão sublime, não conseguia achar a

resposta.

- Venha! - Ele pegou novamente minha mão me puxando agora para o lado da

casa – quero te mostrar algo.

- O que é? – perguntei curiosa ao ver a empolgação em seu rosto.

- Você já vai saber – ele falou parando na porta – mas primeiro, ainda temos

uma tradição do seu mundo a cumprir.

Ele deixou a porta entre aberta e com um sorriso me pegou no colo. Passou

comigo pela soleira da porta e somente quando estávamos no meio da sala ele me deu

um beijo rápido nos lábios, mesmo assim meu coração percebeu e saltou, e colocou

meus pés no chão.

- Bem vinda a seu novo lar! – ele abriu os braços.

Eu só conseguia olhar para o sorriso estonteante que estava em sua boca. Ele

estava tão radiante que hipnotizava.

Jeziel arqueou uma sobrancelha me olhando intrigado. Obviamente se

questionando em quando eu adquiri TDAH1. Eu não conseguia ver nada além do seu

rosto.

Ele me segurou pelos ombros me fazendo girar saindo da hipnose de seu sorriso,

fazendo que meus olhos contemplassem outras coisas.

- Essa Melissa, é a sua casa – ele falou sussurrando em meu ouvido enquanto me

fazia girar trezentos e sessenta graus colada em seu corpo.

- E o castelo? – perguntei confusa. Os reis não moram nos castelos?

- Tem muita gente lá – ele falou como se tivesse ponderado muito sobre isso. -

Quero um lugar só para nós dois. Lá será nosso local de trabalho.

Demorou alguns segundos para que eu realmente visse alguma coisa, e quando

vi me surpreendi.

1 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade

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A maioria das coisas que antes estavam ali, as coisas que eu me lembrava de ter

visto na casa da colina haviam sido retiradas e substituídas por outras que eu conhecia

bem. Eram as coisas do chalé de Jeziel. O sofá, o tapete felpudo de pele, os objetos de

enfeite, até a televisão e o som estavam ali.

- Como...

Me interrompeu antes que eu terminasse a pergunta

- Nós trouxemos tudo enquanto você dormia e enquanto se preparava para o

nosso casamento.

- Nós? – perguntei querendo saber mais detalhes.

- Seu pai, eu e Tamala.

- E pode me dizer como isso vai funcionar aqui? – falei olhando a TV e do lado

dela uma estante com mais CDs que uma locadora super equipada.

- Luz solar. Não sei como não tinha pensado nisso antes. Trouxemos todo o

equipamento de sua dimensão. Não quero que você sinta falta de nada.

- Do que acha que eu sentiria falta estando ao seu lado? – perguntei.

- Espero que nada, mas não quero arriscar – falou divertido.

- E tem mais! - Ele puxou minha mão me levando até a cozinha.

As coisas da antiga cozinha foram trocadas pela cozinha super moderna de Jeziel

e para o meu deleite, um bolo de chocolate enfeitava o centro da mesa redonda de

cristal. Com certeza o general tinha feito. Os bolos de minha mãe geralmente ficavam

tortos. Sempre pendiam para um lado.

Ele se afastou de mim abrindo a porta de um dos armários eu quase cai para trás

quando vi o estoque de chocolate e de cobertura que estava ali.

- Porque isso tudo?! – perguntei atônita.

- Já disse, não quero que te falte nada nem do meu mundo nem do seu. E seu

irmão me prometeu que se o estoque baixar é só comunicar a ele que ele traz.

Me puxou novamente me guiando para a porta de trás da cozinha e lá para minha

surpresa estavam encostada as nossas bicicletas de trilha, e para o meu desespero o meu

capacete verde florescente e laranja pendurado no guidão. Ele estava louco se pensa que

eu iria usar aquilo aqui.

Ele sorriu do meu pensamento, pegou minha mão e me levou dessa vez até o

quarto.

A cama ainda era a mesma de antes, mas meus objetos pessoais que antes

estavam em meu quarto os quais nem sei como não dei falta deles, estavam ali, até meu

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computador ainda que eu não soubesse que utilidade ele teria ali a não ser para jogos.

Minhas roupas, minhas bijus, meus tênis preferidos, cada um colocados em lugares

determinados em baús e gavetas. Até Meliel, meu urso de pelúcia, estava sentado de

braços abertos me esperando numa poltrona puída que ficava no canto do meu quarto

onde eu costumava jogar as roupas.

- Jeziel você... não existe! – falei estarrecida – você trouxe tudo que era meu

para cá?!

- Quase tudo. Só o que pensei que poderia transformar sua vida aqui perfeita.

- Minha vida já é perfeita se você esta comigo.

- Eu sei disso, mas também sei que você adorou o que fiz.

- Modesto como sempre!- acusei.

- Um dos meus maiores predicados – se gabou.

- E humilde – acrescentei.

- Eu sou um rei. O que esperava de mim?!

Eu sorri. Ele era uma pessoa sem igual. Maravilhosa na minha opinião.

- Continua sendo o primeiro item da minha lista – ele falou docemente.

- Ahn? – perguntei avoada.

- Seu sorriso.

Ele pegou meu rosto entre suas mãos e eu senti atmosfera mudar partindo dos

olhos dele.

Não sei por que mais um frio no estomago muito parecido com o pavor me

inundou. Pela primeira vez em minha vida neguei o beijo que ele ia me dar e quase que

as carreiras fugi das suas mãos. Disfarcei enquanto ele me olhava surpreso, mas não

zangado pelo menos, e corri até Meliel e o abracei como se ele pudesse me socorrer.

- Ola Meliel, sentiu saudades? – falei feito uma idiota como se ele fosse me

responder. Por segundos esperei que sim, pelo menos não me sentiria tão sozinha com

Jeziel naquele quarto. Algo que nunca me incomodou.

Abraçada a Meliel, andei pelo quarto fingindo que inspecionava minhas coisas

seguida pelo olhar inquiridor de Jeziel.

Olhei para ele e estiquei meu mais tradicional e estúpido sorriso.

Logicamente que minha mente estava bloqueada. De maneira nenhuma eu

deixaria que Jeziel, meu marido, soubesse que o mesmo medo de antes estava me

assolando agora.

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Ele retirou a estola real de sobre seus ombros ainda me olhando e colocou sobre

um cabide perto de um móvel. Retirou também o sobretudo branco que lhe ia até os pés,

ficando agora só com a camisa e calça, e um nó na minha garganta que começava a ficar

seca me impedia de respirar direito.

- Que tal um pedaço do bolo? – sugeri com a voz um pouco aguda de mais

devido o nervosismo já andando porta a fora ainda agarrada a Meliel.

- Coloquei Meliel sentado na cadeira ao meu lado e cortei um pedaço enorme do

bolo e coloquei sobre o prato.

Fome? Nenhuma, até mesmo eu me espantei com a quantidade de bolo

que eu estava disposta a comer, mas o que eu queria era ganhar tempo até me acalmar.

O que não estava sendo fácil. Pois Jeziel me olhava do outro lado da mesa como se

soubesse o que eu estava fazendo.

- Vai comer tudo isso?- ele duvidou mirando o bolo no meu prato.

- Claro – enchi as bochechas de bolo enquanto ele sorria discretamente da minha

tosca estratégia.

Quando depois de umas boas garfadas conclui que se eu continuasse comendo

daquela maneira o bolo iria acabar muito rápido, passei a pegar pedacinhos bem

pequenos. Eu não saberia quanto ainda eu conseguiria comer.

Jeziel se levantou de sua cadeira e veio desalojar Meliel da sua, e sentando-se ao

meu lado tomou o garfo da minha mão.

- Divide seu bolo comigo? Afinal não comemos nosso bolo de casamento – ele

pegou um pedaço e levou a sua boca. Depois pegou um outro pedaço bem maior dos

que eu estava pegando e colocou na minha.

Ele iria arruinar meu plano. Logo não haveria mais bolo, e eu não seria capaz de

me servir novamente já que eu mal conseguia terminar o meu. Pensei que iria passar um

bom tempo sem querer ver bolo de chocolate.

Quando ele comeu o último pedaço, colocou o garfo sobre o prato.

- Estava muito bom - ele falou indiferente.

- É estava – falei querendo parecer natural, mas não escondi o nervosismo.

Ele se aproximou de meus lábios tentando um beijo, mas antes que me tocasse

levantei me abanando.

- Esta quente aqui – falei agoniada.

Mentira. O clima estava perfeitamente fresco aquela noite, e a extensa janela da

cozinha estava aberta deixando que a suave brisa perfumada entrasse por ela.

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- E como – ele falou me olhando de um jeito que fez meus ossos tremerem.

- Sabe de que eu preciso? Um banho – falei teatralmente.

Puxei Meliel da mesa pelo braço e mais que depressa fui para o quarto me

enfiando dentro do banheiro. Tranquei a porta. Eu estava apavorada.

Me olhei no espelho e ainda estava com o mesmo penteado e a maquiagem que

me fizeram para o casamento.

- Casada – falei baixinho para mim diante do espelho – não seja idiota você

agora é uma mulher casada e seu marido te espera lá fora.

Olhei fundo nos meus olhos tentando encontrar alguma coragem de enfrentar o

que me viria, mas não havia a mais remota chance de eu conseguir abrir aquela porta

novamente.

Me senti mal por Jeziel. Eu iria destruir nossa noite de núpcias.

- Olha aqui Meliel, você tem que me ajudar – falei para o ursinho inanimado –

eu sempre esperei por esse momento, eu sempre desejei esse momento, não é lógico eu

estar com medo. Não é certo também com Jeziel. Mas estou com medo sim – conclui -

O que eu faço? – Apelei para o ursinho que continuava me olhando com seus olhos

dóceis e alegres, totalmente alheio a minha angustia.

Revoltada com a falta de ajuda do boneco coloquei ele sobre a pia e me olhei

inteira no espelho. A mancha de sangue em meu vestido me lembrou pelo que passamos

a poucas horas. Estiquei meu pescoço verificando que o remédio que Erzoul me aplicou

foi eficiente. Nada além de uma pequena marca onde antes era um corte superficial.

Toquei verificando que nem ao menos havia ficado dolorido. Era como se eu tivesse

sofrido aquele corte a anos. Mas nem as lembranças que me pareciam incrivelmente

distantes diante das minhas novas preocupações não conseguiram me distrair muito

tempo.

Retirei o vestido deixando que ele caísse ao chão com restante da minha roupa.

Retirei a coroa de minha cabeça colocando sobre a cabeça de Meliel e soltei os cabelos.

Entrei de baixo do chuveiro e deixei que a água morna tentasse espantar meus

temores. O chuveiro sempre foi um bom lugar para pensar e eu estava mesmo

precisando colocar minha cabeça no lugar.

Só resolvi sair debaixo do chuveiro quando percebi que minha pele já estava

sensível ao toque da água quente devido ao tempo de exposição que ela ficou. Uma hora

ou mais? Não sei, parecia uma eternidade e um só minuto ao mesmo tempo.

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Olhando o espelho agora me senti a Melissa que eu costumava ser. Apesar de

molhados, meus cabelos estavam em sua forma original. Passei a toalha freneticamente

até eles estarem somente úmidos, e enrolada na toalha procurei por roupas que eu

pudesse vestir.

- Epa! – exclamei assim que notei que não havia roupas minhas no banheiro a

não ser as que estavam ao chão que eu tinha tirado a pouco.

Eu precisava de roupas limpas.

Abri a porta do banheiro de vagar observando pela beira que se abria se eu

estaria sozinha no quarto. E para meu alivio eu estava. A luz do quarto estava apagada.

Somente a luz da lua entrava pelo teto cristalino e fez o colar brilhar em meu pescoço.

Tapei-o com uma das mãos na esperança que seu brilho não chamasse a atenção de

Jeziel para o quarto.

Tentando não fazer barulho pé ante pé andei até o baú mais próximo e revirei

rapidamente percebendo que escolhi o baú errado.

- Eu posso te ajudar se quiser – a voz de Jeziel na soleira da porta me

sobressaltou.

Me ergui assustada segurando a toalha com toda a força que eu podia ao redor de

mim.

Ele estava recostado despreocupadamente com os braços naturalmente cruzados.

- Ah... errr. Não... quer dizer, sim – gaguejei pateticamente - Estou procurando

uma roupa para dormir. Você quem arrumou minhas roupas sabe onde estão?

- Sei – ele falou com um sorriso escondido no canto da boca.

Andou até um outro baú e retirou de lá uma peça preta de seda. Um baby doll.

Ele manteve a peça pendurada pelas alças em seu dedo para meu

constrangimento absoluto sugerindo que eu fosse buscar. O que eu não faria

evidentemente de jeito nenhum se eu tivesse escolha. Mas que escolha eu tinha? Ou era

ficar de toalha a noite inteira ou me aventurar a buscar meu baby doll na mão de Jeziel.

Desconfiada como um animalzinho recebe comida de um estranho, caminhei até

ele a uma distância que eu considerava segura.

Ele estendeu a mão inofensivamente e estendi a minha a fim de alcançar a peça.

Quando eu já quase pegava minha roupa de dormir Jeziel recolheu a mão novamente me

assustando.

- Esta com medo – não era uma pergunta.

- Não! – menti num tom quase histérico. Me sentindo ridícula é claro.

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- Por quê? - ele me perguntou com os olhos suplicantes e angustiados.

Vê-lo me olhando daquela maneira me doeu o coração. Eu estava mesmo

estragando o que devia ser a nossa noite mais feliz com meus medos infundados.

- Não sei – resolvi confessar.

Ele deu um passo em minha direção e eu recuei sentindo como da outra vez algo

de mim sendo atraído para ele. Não era algo que eu já tivesse sentido e isso aumentou o

medo que eu estava, quase fazendo com que minha luz rompesse para me defender.

Vendo minha hesitação ele parou.

- Só quero te dar uma coisa – falou mantendo distância.

Eu me senti tão mal. Não há ninguém que eu ame mais, nem que eu deseje mais

e no entanto eu estava transformando nossa noite de núpcias num fiasco.

Ele estendeu sua mão para que eu olhasse em sua palma.

Um pequeno feixe de luz reluzia em forma circular em sua mão. Levei alguns

segundos para identificar o objeto. Era uma aliança, mas não era material, era toda de

luz. Ele se livrou da camisola e pegou a aliança entre os dedos e estendeu a outra mão

para que eu lhe desse a minha.

- Mais uma tradição. Uma aliança de casamento.

Agora encantada com aquele objeto em seus dedos, estendi minha mão esquerda

a ele que a escorregou em meu anelar delicadamente.

Não havia consistência nela, era mesmo só luz.

- Assim como minha coroa, essa aliança já nasceu comigo – ele me explicava -

Quando me sentei no trono elas apareceram. Ela é feita da minha essência, assim como

a coroa. Por isso meu reino jamais deixara de ser meu, e já era meu antes mesmo de

tudo que aconteceu.

E essa aliança em seu dedo prova que você jamais deixara de ser minha como

nunca deixou de ser apesar de tudo que aconteceu.

Olhei para a aliança novamente e ela se absorveu em minha pele. E apesar de

não vê-la eu a sentia em minha mão.

- Vê – ele falou – minha essência faz parte da sua agora.

Ensaiei um sorriso me sentindo mais a vontade, mas quando ele aproveitou que

segurava minha mão e me puxava despercebidamente para si eu congelei.

Tentando não ser rude retirei minha mão da dele e dei um passo para trás.

- Até onde pensa que pode fugir do meu amor? – ele veio seguindo meus passos

me fazendo recuar.

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- Não estou fugindo – falei, mas não parei de recuar.

Os olhos dele intensos em mim me deixaram encabulada.

- Eu a amo com todas as minhas forças, não me negue tê-la em meus braços. Sou

capaz de morrer se fizer isso.

Os olhos dele passaram de intensos para suplicantes como se eu estivesse

retirando o ar que ele respira.

- Exagerado como sempre – falei tentando um tom de brincadeira, mas ele não

estava para piadas.

- Mel – ele falou em minha mente que eu já não tinha forças para bloquear me

olhando novamente com desejo.

Ele respirou fundo sacudindo a cabeça tentando se concentrar. Ele viu algo em

minha mente que eu não vi, como no dia que ele descobriu que eu queria seu beijo.

Eu não respondi continuei andando de costas até sentir que tinha chegado ao fim

da linha quando minhas pernas encostaram na cama. Afundei sentada no colchão

enquanto ele se aproveitava de que minha rota de fuga tinha chegado ao fim e segurou

meu rosto assustado em suas mãos.

- Sabe por que eu não vou parar agora?

Meneei a cabeça entre suas mãos quentes e firmes.

- Porque eu sei que você me quer tanto quanto eu quero você agora.

As palavras dele romperam algo novo dentro de mim. Um súbito impacto de um

desejo ardente e intenso percorreu cada célula do meu corpo. Com as mãos dele em

mim e com a proximidade de sua boca, de repente o medo deu lugar a uma sede

desesperadora. Lasciva, poderosa e incontrolável.

Sem ter mais porque resistir agora que o fator “ querê-lo” tomou toda a minha

consciência. Fechei meus olhos e me entreguei.

- Minha esposa – ele falou suavemente me deixando desfrutar do seu doce hálito

– eu te amo. E te amo tanto que tenho medo que você se canse de ouvir isso.

- Nunca – sussurrei procurando com as mãos seu rosto perfeito.

Depois de passear com as pontas dos dedos por seus lábios, por cada traço de

seu rosto me deixei ser mais ousada e desci as mãos desatando os botões de sua camisa.

Pela primeira vez ele não hesitou, nem segurou minhas mãos, nem me disse que

teríamos que ter juízo. Ao contraio, me ajudou a despi-lo e a cada peça que tirávamos a

energia da atmosfera que nos cercava agora ficava mais intensa.

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Ele me abraçou e me fez escorregar para o centro da cama. Todo o medo, todas

as dúvidas e receios, tudo aquilo que antes eu senti não pareciam ter fundamento algum

agora que eu estava em seus braços.

Seus olhos pousaram em mim reconhecendo meu corpo e todo pudor e

constrangimento também haviam desaparecido.

Ele era meu e eu era dele e isso nunca iria mudar. E eu não precisaria me

preocupar com mais nada a não ser amá-lo para sempre e com tudo que há em mim.

Ele desenhou com o dedo a curva de meus lábios e depois me beijou exigente

como para me provar o quanto precisava de mim.

Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes o beijei e de todas as vezes que eu

parecia sumir do universo ao toque de seus lábios, mas aquele beijo era diferente. Foi

como se eu tivesse sido atingida por um raio de tão intimo e profundo.

- Eu te amo – sussurrei entre seus lábios sentindo que seu corpo tremia e ardia

tanto quanto o meu.

A luz de Jeziel rompeu em resposta e a minha chamada por ele respondeu.

Então descobri que a sensação que eu tinha antes de algo nele atraindo algo em

mim e que me provocava uma auto defesa, era exatamente cada parte de mim por fora e

por dentro querendo se entregar. Não há algo mortal com as reações e sensações

primitivas que eu estava sentindo a pouco, mas a algo imortal e perfeito que eu estava

sentindo agora. O medo era só uma reação natural do mortal versus o sobrenatural.

Minha mente, meu corpo, meu coração, minha alma expressavam tanto amor

que era difícil entender como uma mera mortal como eu tive a dádiva de ser destinada a

um ser tão divino como Jeziel.

O universo de repente se tornou tão pequeno e sem fundamento. Ele, meu Leo, é

meu universo.

E como um tributo a ele, como oferta a um deus, deixei que tudo que em mim

agora clamava por ele se entregasse por completo e ele me recebeu tomando-me em seu

corpo e me fazendo inteiramente sua.

Nem em um Milhão de anos eu poderia explicar o que vivenciei esta noite. Foi

mais que perfeito, mais que esplêndido, mais que humano. E agora depois de acordar

nos braços do meu Leo com a melhor das sensações na pele no corpo e na alma eu me

sentia tão certa de mim mesma como nunca fui.

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Eu tinha certeza de tudo. De quem eu era, do que eu estava fazendo ali, do que

eu devia fazer, do que esperavam de mim e do que eu era capaz. E segundo o que eu

sentia emanar de mim, eu devia ser capaz de quase tudo.

Ontem enquanto Leo e eu nos amávamos, movida pela emoção da entrega e pela

felicidade, pelo êxtase, meus dons, os que estiveram esperando para serem despertados,

todos eles romperam num misto de reconhecimento e prazer. Leo sempre teve razão,

minha motivação sempre foi ele e por ele. Era tanto poder... algo que eu nunca havia

sentido e que se fundiu com o poder de Jeziel. Algo mais forte que tudo que eu pudesse

sonhar ou imaginar. Tudo foi perfeito. Nos encontramos em nós, nossos corpos se

encaixaram perfeitamente nos provando que verdadeiramente fomos feitos um para o

outro e foi tudo tão naturalmente e extraordinariamente mágico.

Me movi com cuidado para não acordar meu lindo esposo e saí da cama não

antes de olhar apaixonada para ele que dormia.

Como ele consegue ser perfeito até enrolado num lençol? – indaguei.

Fui até o baú e peguei o baby doll que não consegui vestir ontem. Vestindo-me

fui para a varanda desfrutar do dia que estava lindamente claro num céu puramente azul

sem nem mesmo uma nuvem.

O azul desse céu, o azul desse mundo hoje parecia ter copiado o azul de Jeziel

em tamanha perfeição que tudo ao meu redor exalava seu brilho.

Caminhei descalça sentindo a relva fria do orvalho até os arbustos de rosas,

rosas Andaluz, a mesma que eu carregava esculpida em diamante em meu pescoço.

Peguei uma das rosas em minha mão exalando seu perfume doce e suave que

tinha o aroma que combinava perfeitamente com a minha paz e felicidade.

Quem poderia estar mais feliz que eu? Meu mundo agora estava completo.

Minha família estava bem. Minha amada mãe vivendo sua segunda e apaixonada lua de

mel com o general meu pai, que depois da missão cumprida de ver Jeziel assumir o

trono, resolveu se aposentar e viver todos os próximos anos de vida só para ela.

Meu irmão iria ficar no castelo junto aos anciãos do conselho colocando ordem

nas coisas até que Jeziel e eu voltássemos, e ao lado da mulher que ele escolheu para ser

sua pra sempre, Vogue. Eu queria manter minha indisposição com ela, mas devido ao

amor que ela sente por Biel fica difícil não querê-la bem já que ela esta fazendo meu

irmão feliz.

Até Maxuel, meu colega de escola, acabou se apaixonando e Lariana parecia

uma adolescente deslumbrada. Jeziel me contou os planos deles. Eles vão morar na casa

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que era dele em minha dimensão e Lariana vai fazer faculdade de medicina, para

aprender tudo que pode dos dois mundos sobre como salvar vidas, enquanto Maxuel

pretende cuidar dos negócios da família e continuar correndo em sua moto. Só achei

interessante o fato dele querer trabalhar. Ele deve mesmo gostar de criar peixes já que o

dinheiro que Jeziel deixou para eles e as pedras preciosas, as bugigangas de Ernest, é

suficiente para que até seus tataranetos não precisem trabalhar.

Erzoul foi instituído o curandeiro real oficial já que provou sua eficácia no

arraial ajudando os feridos da guerra sem perder nenhum de seus pacientes. Os gêmeos

curandeiros, irmãos de Vogue se tornaram seus assistentes satisfeitíssimos por poder

aprender com o melhor.

Aragorn, meu amigo também não podia estar melhor. De volta a sua ilha e dessa

vez não estava sozinho, Tamala estava com ele e seu filho que estava sendo gerado

também. No meio da madrugada depois que Jeziel dormiu, ela fez contato comigo.

precisava me contar, entrou em meu sonho e me mostrou a alegria que Aragorn ficou ao

saber da notícia.

- O coração dele destravou Melissa, destravou para mim. Nosso filho veio trazer

o que faltava para que toda a resistência dele fosse dissipada. – ela falou não se

contendo de felicidade colocando a mão sobre o ventre que nem dava sinal de gestação.

Mas ela já podia senti-lo e já o amava.

- Estou tão feliz por você e pelo bebê e por Aragorn, principalmente por ele,

ninguém nesse mundo merece tanta felicidade que meu melhor amigo. – falei

sinceramente. Era mais que perfeito saber que ele estava bem e amando. Também

pensei que ninguém além de Tamala merecia o amor de Aragorn.

- Preciso ir agora antes que ele me pegue falando com você. Ele de disse para

que eu deixasse você em paz na sua lua de mel, mas não consegui, eu tinha que dividir

essa alegria com alguém e sabia que só você partilharia comigo.

Tamala era tão teimosa quanto eu quando queria uma coisa. Ele bem que me

falou que éramos parecidas em algumas coisas. Ele provavelmente não iria mesmo

sentir minha falta. Pensando no trabalho que ele iria ter com Tamala eu sorri.

- Você só tornou esse momento mais especial para mim. – Falei contente com a

desobediência dela - É bom saber que mais alguém esta tão feliz quanto eu nesse

mundo.

Ela sorriu radiante.

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- Preciso mesmo sair do seu sonho, Aragorn esta excessivamente possessivo e

protetor desde que eu lhe dei a noticia. Não passa um minuto sem buscar minha mente

para saber se estou precisando de alguma coisa, e me proibiu de bloqueá-la a ele.

Sorri com a idéia de vê-lo como um pai super-protetor.

- Com certeza ele vai mimar demais essa criança. Mesmo antes de nascer.

- Já a esta mimando – ela concordou – tchau minha amiga, aproveite bem sua

lua de mel.

Ela saiu do meu sonho como se desliga um telefone. Eu me surpreendi, mas

confesso que gostei quando ela me chamou de amiga. Seriamos sim grandes amigas e

unidas com certeza, principalmente devido o futuro que nos esperava. Nossas famílias

um dia seriam uma só, e a amizade assim como o amor entre ambas seria eterno.

Meus pensamentos foram interrompidos quando senti os braços de Jeziel me

envolvendo delicadamente enquanto me abraçava pelas costas.

- Ainda fugindo de mim? – brincou.

- Nem nos seus piores pesadelos.

- Espero que não porque estar com você é o que me faz sonhar.

- Obrigada – falei me aninhando mais em seus braços.

Ele me girou me colocando de frente aos seus olhos.

- Pelo que? – me perguntou intrigado.

- Por ter entrado em meu sonho aquela primeira vez. Aquele dia foi o big bang

em minha vida. A partir do brilho dos seus olhos que vi naquele sonho foi criado o meu

universo.

O sorriso torto que eu amava e que me tirava o fôlego resplandeceu em seu

rosto.

Meus olhos pesaram e lágrimas quentes desceram pela minha face. Pensei que

iria passar todos os dias da minha vida me emocionando ao vê-lo. Nunca, nunca a

presença de Jeziel fora lugar comum a mim, sempre constatei isso, e agora eu tinha a

percepção que eu estava muito mais conectada a ele do que já estive algum dia que

fosse. Seria possível alguém ter tanta consciência de outra pessoa assim? Isso seria

lógico, seria normal... seria real?

Ele estendeu a mão para enxugar as lágrimas confuso.

- Porque esta chorando?

- Porque eu estou feliz demais.

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- Não devia então estar sorrindo?

- Não sei o que eu devia fazer. Tenho medo que de repente tudo se desvaneça e

você suma numa nuvem de fumaça como num sonho. Sempre tive esse medo – escondi

meu rosto em seu peito forçando meus olhos a se fecharem e a não abrirem nunca mais.

Ele me abraçou carinhosamente.

- Ei, esta tudo bem, eu estou aqui! E agora para sempre com você.

- Então me prometa que se eu estiver sonhando você nunca me deixara acordar!

- Mas...

- Não, jure para mim.

- Mas e se a realidade que te espera for bem melhor que o sonho?

- Não posso imaginar nada melhor do que estou vivendo agora.

- Então continue sonhando meu amor, porque tanto no sonho quanto na realidade

você é minha e eu te amo. Só isso que importa. E onde quer que você queira estar eu

vou ficar ao seu lado.

- Estou sonhando, não estou? – eu tinha quase certeza disso, mas não queria

acreditar.

- Claro que esta – confirmou minhas suspeitas.

Ele ergueu meu rosto por baixo do meu queixo e eu ainda permanecia de olhos

fechados. Deslizou os seus lábios pelos meus fazendo que uma corrente elétrica e

tórrida percorresse por todo meu corpo. Meus sentidos estavam se entregando a ele mais

uma vez, então me lancei em seu pescoço o beijando com toda a garra de uma paixão

intensa e sobrenatural. O céu parecia que se abria pra mim e mais nada existia além de

nós dois. Então criei coragem e abri meus olhos enquanto ele se afastava de meus lábios

gentilmente. O sorriso de Jeziel e o brilho que emanava de cada poro de seu corpo me

saudou e de repente eu não estava mais lá fora na campina. Eu estava em nossa cama

envolvida por seus braços.

- Então, quer voltar para o sonho ou essa realidade é melhor? – ele falou com a

voz sedutora e cheia de romantismo.

Eu estava mesmo sonhando.

- Leo – falei espantada – era tão real – me dei conta que eu não tinha nem

sequer me movido da cama.

- Eu sempre disse que era real. Enquanto nosso corpo dorme nossas almas se

encontram.

- Eu não sabia que era assim tão forte.

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- Foi o primeiro sonho que teve depois de seus dons terem se desenvolvido.

Você vai se acostumar.

- Com certeza – falei sentindo um sorriso maroto em meu rosto pensando nas

possibilidades que me aguardavam de estar ao lado do meu Leo mesmo dormindo.

- Bem, agora que você acordou de fato, o que pretende fazer?

- Usufruir o Máximo que essa realidade me oferece. Ver se te beijar acordada é

tão bom quanto dormindo.

- Posso afirmar que é infinitamente melhor.

E meu Leo deslizou as mãos por baixo do meu corpo me aproximando ainda

mais a ele e me beijou longamente até que impelido pela mesma urgência e necessidade

que eu, me tomou novamente para si e fomos lançados além das fronteiras do infinito

onde um final feliz nos aguardava.

- Eu te amo Jeziel, meu Leo – sussurrei enquanto ele me envolvia por completo.

- Eu te amo Melissa, meu mel – ele sussurrou entre meus lábios fazendo me

perder ainda mais no paraíso me mostrando que não havia a menor dúvida de que

dormindo ou acordada aquele seria eternamente o meu lugar.

Seus braços, meu paraíso particular.

FIMnalmentefelizesparasempre