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INTRODUÇÃO ÀS INVERSAS GENERALIZADAS DE MATRIZES DE APLICAÇÃO COMUM EM ESTATÍSTICA EXPERIMENTAL 1 João Batista Duarte 2 RESUMO: Este texto propõe-se a apresentar os princípios fundamentais relacionados às inversas de matrizes, com ênfase para as inversas generalizadas, ou simplesmente inversas-g, as quais têm grande utilidade e aplicação em estatística. O entendimento de áreas importantes da estatística teórica e aplicada como a de modelos lineares não pode ser completo, sem algum domínio básico do que seja uma matriz inversa, sobretudo uma inversa generalizada. Aqui são apresentados conceitos, propriedades e alguns exemplos simples de como se obter algumas destas matrizes. Foram tomados quatro tipos de matrizes inversas, dada a sua maior aplicação na estatística experimental, a saber: inversa generalizada de Moore-Penrose, inversa generalizada condicional, inversa generalizada de quadrados mínimos e inversa generalizada reflexiva ou inversa-g2. INTRODUÇÃO O conceito clássico sobre inversa de uma matriz 3 , amplamente difundido, enuncia que “se uma matriz A tem inversa A -1 , essa matriz necessariamente é quadrada e deve ter determinante diferente de zero”. Isto equivale a dizer que a matriz A é não-singular (uma matriz quadrada é dita singular se tiver determinante nulo), ou ainda, que tem posto completo (linhas e colunas linearmente independentes). A partir desse enunciado, várias propriedades interessantes podem ser verificadas, como: i) AA -1 = A -1 A = I , sendo I uma matriz identidade de mesma dimensão ou ordem ii) A -1 é única, com determinante igual ao recíproco do determinante de A iii) (A -1 ) -1 = A iv) (A’) -1 = (A -1 )v) (AB) -1 = B -1 A -1 Uma considerável parte dos problemas estatísticos, teóricos e aplicados, envolve a solução de sistemas de equações lineares do tipo Ax = b (ou y = X). Se A é de ordem nxn, não singular, então, a solução do sistema existe (sistema consistente) e é única (sistema determinado), sendo dada por: x = A -1 b (ou = X -1 y). Porém, há, com freqüência, casos em que A não é quadrada, ou mesmo sendo A quadrada, pode ocorrer de ser singular (matriz com determinante igual a zero ou, ainda, de posto incompleto). Nestas situações também pode haver solução para os sistemas associados, de 1 Texto didático produzido durante o curso de Álgebra de Matrizes, na Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ / USP, Piracicaba, SP, em 1996. 2 Professor na Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, Caixa Postal 131, CEP 74001-970, Goiânia, GO, Brasil (E- mail: [email protected] ). 3 A inversa regular de uma matriz A={a ij }, não-singular, é dada por: A -1 = [1/det(A)] Adj(A); sendo det(A) o determinante de A (diferente de zero) e Adj(A), a matriz adjunta de A. Esta é dada por: Adj(A) = [Cof(A)], em que Cof(A) é a chamada matriz de cofatores de A, com cada elemento definido por: c ij = (-1) i+j M ij ; sendo M ij (menor de entrada a ij ) o determinante da matriz obtida de A, pela eliminação de sua i-ésima linha e j-ésima coluna.

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INTRODUÇÃO ÀS INVERSAS GENERALIZADAS DE MATRIZES

DE APLICAÇÃO COMUM EM ESTATÍSTICA EXPERIMENTAL1

João Batista Duarte2

RESUMO: Este texto propõe-se a apresentar os princípios fundamentais relacionados às inversas de matrizes, com

ênfase para as inversas generalizadas, ou simplesmente inversas-g, as quais têm grande utilidade e aplicação em

estatística. O entendimento de áreas importantes da estatística teórica e aplicada como a de modelos lineares não pode

ser completo, sem algum domínio básico do que seja uma matriz inversa, sobretudo uma inversa generalizada. Aqui são

apresentados conceitos, propriedades e alguns exemplos simples de como se obter algumas destas matrizes. Foram

tomados quatro tipos de matrizes inversas, dada a sua maior aplicação na estatística experimental, a saber: inversa

generalizada de Moore-Penrose, inversa generalizada condicional, inversa generalizada de quadrados mínimos e inversa generalizada reflexiva ou inversa-g2.

INTRODUÇÃO

O conceito clássico sobre inversa de uma matriz3, amplamente difundido, enuncia que “se

uma matriz A tem inversa A-1

, essa matriz necessariamente é quadrada e deve ter determinante

diferente de zero”. Isto equivale a dizer que a matriz A é não-singular (uma matriz quadrada é dita

singular se tiver determinante nulo), ou ainda, que tem posto completo (linhas e colunas

linearmente independentes). A partir desse enunciado, várias propriedades interessantes podem ser

verificadas, como:

i) AA-1

= A-1

A = I , sendo I uma matriz identidade de mesma dimensão ou ordem

ii) A-1

é única, com determinante igual ao recíproco do determinante de A

iii) (A-1

)-1

= A

iv) (A’)-1

= (A-1

)’

v) (AB)-1

= B-1

A-1

Uma considerável parte dos problemas estatísticos, teóricos e aplicados, envolve a solução

de sistemas de equações lineares do tipo Ax = b (ou y = X). Se A é de ordem nxn, não singular,

então, a solução do sistema existe (sistema consistente) e é única (sistema determinado), sendo dada

por: x = A-1

b (ou = X-1

y). Porém, há, com freqüência, casos em que A não é quadrada, ou mesmo

sendo A quadrada, pode ocorrer de ser singular (matriz com determinante igual a zero ou, ainda, de

posto incompleto). Nestas situações também pode haver solução para os sistemas associados, de

1 Texto didático produzido durante o curso de Álgebra de Matrizes, na Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ / USP,

Piracicaba, SP, em 1996. 2 Professor na Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, Caixa Postal 131, CEP 74001-970, Goiânia, GO, Brasil (E-

mail: [email protected]).

3 A inversa regular de uma matriz A={aij}, não-singular, é dada por: A-1 = [1/det(A)] Adj(A); sendo det(A) o

determinante de A (diferente de zero) e Adj(A), a matriz adjunta de A. Esta é dada por: Adj(A) = [Cof(A)]’ , em que

Cof(A) é a chamada matriz de cofatores de A, com cada elemento definido por: cij = (-1)i+j Mij ; sendo Mij (menor de

entrada aij) o determinante da matriz obtida de A, pela eliminação de sua i-ésima linha e j-ésima coluna.

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modo que uma teoria unificadora para tratar todas as situações é altamente desejável. Uma

abordagem neste sentido envolve o uso das inversas generalizadas de matrizes (Graybill, 1983).

Trataremos a seguir de alguns tipos de inversas generalizadas de uso mais freqüente na

solução de problemas estatísticos: i) inversa generalizada de Moore-Penrose, por suas fortes

propriedades algébricas; ii) inversa generalizada condicional, pela sua abrangência e simplicidade;

iii) inversa generalizada de quadrados mínimos, por sua ampla aplicação em estatística

experimental; e iv) inversa generalizada reflexiva ou inversa-g2, também de grande aplicação, em

especial pelo sistema estatístico-computacional SAS

(Statistical Analysis System), que é de uso

bastante generalizado em análise de dados.

INVERSA GENERALIZADA DE MOORE-PENROSE

A idéia de obter uma matriz com as propriedade de uma matriz inversa, para uma matriz A

de ordem mxn, de posto ou ‘rank’ r [A] = r, com r min {m, n}, surgiu com os trabalhos de E. H.

Moore, em 1920, tendo sido formalizada, em 1956, por R. Penrose (Souza, 1988). Daí a

denominação inversa generalizada de Moore-Penrose ou pseudo-inversa, definida como a matriz A+

que satisfaz às seguintes condições:

i) A A+A = A (note-se que AA

+ e A

+A têm papel de matriz identidade I)

ii) A+A A

+ = A

+

iii) A A+

= (A A+)’ (AA

+ é simétrica)

iv) A+A = (A

+A)’ (A

+A é simétrica)

Embora AA+

e A+A desempenhem o papel de matriz I (identidade) na pré-multiplicação por

A e A+ (ou na pós-multiplicação por A

+ e A), respectivamente, essas matrizes só serão mesmo

iguais à identidade em situações especiais. Ex.: se A for não-singular (n.s.), então: AA+

= A+A = I;

e, sendo A n.s., A-1

atende todas as condições especificadas. Logo, A-1

é um caso particular de A+.

É possível mostrar que qualquer matriz, inclusive vetor, possui sempre uma única inversa

generalizada de Moore-Penrose. Logo, A+ sempre existe e é única para uma dada matriz A, o que

caracteriza suas propriedades de existência e unicidade. Outra característica de A+ é que, sendo

AA+ simétrica e A de ordem mxn, então, A

+ será nxm. Veja: se AA

+ = (AA

+)’, então ambas são

mxm; pois, resultam de mAn x nA+

m . Raciocínio idêntico verifica-se para A+A .

A obtenção de A+ a partir de A é apresentada de algumas formas. A primeira delas a ser

apresentada aqui é dada a partir da chamada decomposição por valores singulares (DVS) da matriz

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que se deseja inverter (A). Tal decomposição é descrita, com exemplos, no Apêndice 1. Assim,

dada a DVS da matriz: A = USV’ ou A= ii1i

i vu

r

, então:

A+

= V S

-1 U’ ou A

+ = ii

1ii

uv1

r

(com i = 1, 2, ..., r)

em que:

U: é a matriz cujas colunas são os autovetores (ui) de AA’, associados aos seus respectivos

autovalores não nulos (i); estes vetores são ortogonais entre si (ui’ui’=0, para ii’) e de norma

(comprimento) unitária, ou seja, são também normalizados (ui’ui=1), o que implica em

UU’=U’U=I, caracterizando U como uma matriz ortogonal (Searle, 1982)4;

S: é a matriz diagonal com os sucessivos valores singulares de A, dispostos em ordem decrescente,

isto é, S = diag { r ...,,, 21 }, tal que i i’ , com i>i’ ;e

V: é a matriz cujas colunas são os autovetores (vi) de A’A, ortonormais (V’V=VV’=I), associados

aos seus respectivos autovalores não nulos (i), os quais são idênticos aos de AA’.

Obs.: Sendo AA’ e A’A matrizes simétricas, todas as suas raízes (autovalores) são reais e positivas5 (i 0).

Vejamos, então, se A+, assim definida, satisfaz às condições especificadas. Se A

+ = , então

é evidente que satisfaz às quatro condições. Para A+ e r 0, tem-se:

i) AA+A = USV’ VS

-1U’ USV’ = US I

S

-1 I SV’ = U SS

-1 SV’ = USV’ = A

ii) A+A A

+ = VS

-1U’ USV’ VS

-1U’ = VS

-1 I S I S

-1U’ = VS

-1S S

-1U’ = VS

-1U’ = A

+

iii) AA+

= USV’ VS-1

U’ = US I S

-1U’ = UU’, que é uma forma de matriz simétrica; por outro lado:

(AA+)’ = A

+’A’ = (VS

-1U’)’ (USV’)’ = US

-1’V’VS’U’ = US

-1 I S’U’ = UU’ (simétrica).

iv) A+A = VS

-1U’ USV’ = VS

-1 I

SV’ = VV’, que também é uma forma simétrica; por outro lado:

(A+A)’ = A’A

+’ = VS’U’ US

-1’V’ = VS’ I S

-1’V’ = VV’ (simétrica).

Obs.: Sendo S uma matriz diagonal, assim como S-1, ambas são logicamente simétricas, então: S’=S e S-1’=S

-1.

Feitas estas demonstrações, pode-se afirmar que a inversa de Moore-Penrose, definida como

A+

= V S

-1 U’, existe para qualquer matriz A (inclusive se A for um vetor). Outra definição de A

+ é

dada a partir da fatoração de mAn, com posto r>0, em matrizes mBr e rCn , ambas de posto r, tal que:

A = B C (fatoração de posto completo – algoritmo de Dwivedi citado por Iemma, 1988). Neste

caso, encontradas as matrizes B e C (exemplo numérico em Apêndice 2, letra b), a inversa

generalizada é dada por:

A+

= C’(CC’)-1

(B’B)-1

B’

4 Se P é uma matriz ortogonal, então: P-1 = P’ P’P = PP’=I ; logo, suas linhas e colunas são vetores ortonormais, isto

é, são ortogonais e normalizadas; além disso, P é uma matriz quadrada, com det (P)=1 (não nulo).

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Usando o mesmo raciocínio desenvolvido anteriormente é fácil demonstrar que A+, assim

definida, também existe, satisfazendo as quatro condições. Para verificar a propriedade de que A+ é

única (unicidade) pode-se assumir, por hipótese, que A tenha duas inversas, A1+ e A2

+. Se

provarmos que A1+

= A2+, então, mostraremos que A admite uma única inversa generalizada de

Moore-Penrose. Sob esta hipótese, A1+ e A2

+ devem, portanto, satisfazer aos seguintes conjuntos de

condições:

i.1) A A1+A = A i.2) A A2

+A = A

ii.1) A1+A A1

+ = A1

+ ii.2) A2

+A A2

+ = A2

+

iii.1) AA1+

= A1+’A’ iii.2) AA2

+ = A2

+’A’

iv.1) A1+A = A’A1

+’ iv.2) A2

+A = A’A2

+’

Para chegarmos a essa demonstração obteremos, inicialmente, dois resultados:

1o) AA1

+ = (A A2

+A) A1

+ = (AA2

+)’(AA1

+)’ = A2

+’A’A1

+’A’ = A2

+’(AA1

+A)’ = A2

+’A’

Logo, AA1+ = (A A2

+)’ = AA2

+ (I)

2o) A1

+A = A1

+(A A2

+A) = (A1

+A)’(A2

+A)’ = A’A1

+’A’A2

+’= (AA1

+A)’A2

+’= A’A2

+’

Logo, A1+A = (A2

+A)’ = A2

+A (II)

Sabendo-se que: A1+

= A1+A A1

+ e AA1

+ = AA2

+ (do resultado I) A1

+ = A1

+(A A2

+) = (A1

+A)A2

+ ;

assim, substituindo-se II neste resultado temos: A1+

= A2+A A2

+ = A2

+ A1

+ = A2

+ . Logo, a matriz

A admite uma única inversa generalizada de Moore-Penrose.

Outras propriedades desse tipo de matriz inversa mostram a sua semelhança com o conceito

clássico de inversa regular (A-1

) , por exemplo:

a) (A’)+

= (A+)’ A

+’ = A’

+

b) (A+)

+ = A

c) r [A+] = r [A]

d) (A’A)+

= A+A’

+

e) (AA+)

+ = A A

+

f) se A = A’ A+

= A+’

g) se A é n.s. A+

= A-1

e AA+

= A+A = I

h) se AA = A (idempotente) A+

= A

i) se A = diag {d11, d22, ..., dnn} A+

= diag {d11-1

, d22-1

, ..., dnn-1},

para dii 0; se dii = 0 dii-1

= 0 (i=1, 2, ..., n).

j) se mAn tem posto r = n A+

= (A’A)-1

A’ e A+A = I ; e

se mAn tem posto r = m A+

= A’(AA’)-1

e AA+ = I ;

ademais, também é válido: A+

= (A’A)+A’ = A’(AA’)

+ , r [A] .

5 Matrizes com esta característica são classificadas como “não negativas”.

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k) AA+

, A+A , (I – AA

+) e (I – A

+A) são todas matrizes simétricas e idempotentes.

l) sejam mBr , de posto r, e rCn , também de posto r (com r > 0), então: (BC)+

= C+

B+

m) se P(m) e Q(n) são matrizes ortogonais, então: (PAQ)+ = Q’A

+P’

n) se k é um escalar, então: (kA)+

= k1 A

+ .

INVERSA GENERALIZADA CONDICIONAL

Em determinados problemas estatísticos, como na solução de sistemas de equações lineares,

exigências tão restritivas quanto aquelas da inversa generalizada de Moore-Penrose não são

necessárias. Dessa forma, uma classe de matrizes inversas generalizadas, satisfazendo apenas

algumas daquelas condições, pode ser de interesse, especialmente se forem de fácil obtenção. Neste

caso, enquadram-se as chamadas inversas generalizadas condicionais ou simplesmente inversas

generalizadas.

Inversa condicional de uma matriz A, de ordem mxn, é uma matriz denotada por A– , de

ordem nxm, que satisfaz à condição: A A–A = A . Dessa forma, A+ é inversa condicional de A, pois

satisfaz tal propriedade (primeira condição da inversa de Moore-Penrose); a recíproca, no entanto,

não é verdadeira. Atente-se de que A– é “uma” inversa-g de A e não “a” inversa-g de A, pois podem

existir muitas matrizes que satisfazem tal condição. A exceção ocorre quando A é não-singular;

situação em que A– = A

-1, sendo, portanto, única. Além disso, todas as propriedades de A+ discutidas

anteriormente e que estejam associadas a esta condição são também propriedades de A– .

A obtenção de uma inversa condicional não apresenta uma expressão definida, já que podem

haver várias inversas condicionais para uma certa matriz. Assim, há uma série de procedimentos,

entre os quais o algoritmo de Searle (1971) será aqui descrito por se mostrar de simples utilização.

Considere, então, uma matriz mAn de posto r e as seguintes operações:

i) Na matriz A, tomar-se qualquer sub-matriz M, não-singular, também de posto r (M é

denominada menor principal não nulo);

ii) Obter-se M-1

e, em seguida, a sua transposta (M-1

’);

iii) Substituir-se em A os elementos de M pelos correspondentes elementos de M-1

’ e zera-se

os demais; e

iv) A transposta da matriz resultante é uma inversa condicional de A .

Obs.: Se A for uma matriz simétrica, dispensa-se as referidas transposições. Ademais, as matrizes inversas

condicionais obtidas por esse algoritmo são também inversas reflexivas.

Outros processos são disponíveis. Um deles, para matrizes quadradas, baseia-se na obtenção

de uma forma de Hermite (H) da matriz A, por meio de operações elementares de linhas e colunas:

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[ A | I ] ~ ... (operações elementares) ... ~ [ M A | M ], em que: M A = H .

Neste caso a matriz M (não-singular) é uma inversa condicional de A, pois, sendo MA uma

forma de Hermite, então, MA é idempotente (propriedade de H), ou seja: MA MA = MA; como M

é não-singular, existe M-1

. Pré-multiplicando ambos os termos por M-1

tem-se: M-1

MAMA = M-

1MA AMA = A; logo: M = A–

.

Se A não for quadrada, por este último procedimento, recomenda-se aumentar a matriz A de

linhas ou colunas nulas para se obter A0 quadrada. Obtém-se, então: M0A0 = H, por meio de

operações elementares. A inversa condicional de A é obtida tomando-se a partição M de M0,

conforme o número de linhas ou colunas aumentadas em A. Para l linhas nulas aumentadas em A,

descarta-se as l últimas colunas de M0 para obter M. O inverso é feito no caso de se aumentar

colunas em A.

INVERSA DE QUADRADOS MÍNIMOS

Provavelmente nenhum procedimento em estatística aplicada seja usado com mais

freqüência do que a teoria de Quadrados Mínimos (Graybill, 1983). Os sistemas de equações

lineares advindos dessa teoria podem ser resolvidos usando-se outra categoria de matrizes inversas

generalizadas, as inversas de quadrados mínimos, cuja definição é apresentada a seguir.

Seja uma matriz mAn , denota-se Al uma inversa generalizada de quadrados mínimos de A,

se e somente se essa matriz satisfizer às duas condições:

i) A Al A = A ; e

ii) AAl = (AA

l )’ (forma simétrica)

Obs.: Conclui-se, portanto, que toda inversa de quadrados mínimos é uma inversa condicional e que

A+ é também inversa de quadrados mínimos.

Uma matriz Al pode ser obtida a partir de uma matriz inversa condicional por meio da

seguinte expressão: Al = (A’A)- A’ . Provemos, então, que A

l , assim definida, satisfaz às duas

condições:

i) A [(A’A)- A’] A = A , pré-multiplicando-se (ambos os termos) por A+’A’ tem-se:

A+’A’A(A’A)- A’A = A

+’A’A

(AA+)’A (A’A)- A’A = (AA

+)’A

AA+A(A’A)- A’A = AA

+A

A (A’A)- A’ A = A

A Al

A = A

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ii) pós-multiplicando-se AAl por AA

+ tem-se:

AAl AA

+ = AA

+ (que é uma forma já sabidamente simétrica). Do primeiro termo ainda segue:

A[(A’A)-A’]AA+

= A(A’A)-A’(AA+)’

= A(A’A)-A’A

+’A’

= A(A’A)-A’

= AA

l AA

l = AA

+ .

Logo, AAl é simétrica. Como AA

+ é idempotente, então, AA

l também o é.

Entre as propriedades das matrizes inversas de quadrados mínimos verifica-se, então, que:

AAl = AA

+ = A (A’A)- A’ ; logo, como A

+ é única, AA

l = AA

+ = A (A’A)- A’ é uma forma

invariante para qualquer Al e para qualquer (A’A)- .

INVERSA REFLEXIVA OU INVERSA-G2

Este tipo de inversa é incluído neste texto em virtude de sua aplicação pelo sistema

estatístico SAS, de uso bastante difundido em termos de análise de dados. É assim denominada por

atender a duas condições recíprocas (inversa-g2).

Dada uma matriz qualquer mAn , uma matriz AR

(ou Ag2

), de ordem nxm, é definida inversa

reflexiva de A, se e somente se satisfizer as duas condições:

i) A AR

A = A ; e

ii) ARA A

R = A

R .

Obs.: Disso, conclui-se que toda inversa reflexiva é uma inversa condicional e que A+ é também uma

inversa reflexiva.

As inversas reflexivas também não são únicas e uma forma de obtê-las é por meio da

seguinte expressão: AR

= A-A A- ; ou seja, a partir de uma inversa condicional de A é possível

obter, então, uma inversa reflexiva de A . Mostremos, portanto, que matrizes assim definidas são

inversas reflexivas; ou seja, satisfazem às duas condições:

i) A (A- A A-) A = ( A-

A)(A- A) A = A , como AA- é idempotente, tem-se: AA-

A = A .

ii) (A-A A-)A(A-A A-) = ( A-A)(A-A)( A-A)A- = A

R , novamente partindo-se da idempotência de

A-A tem-se: ( A-A)(A-A)A- = A-A A- = A

R .

Logo, AR

= A-A A- é uma inversa reflexiva de A (tomando-se diferente matrizes A- obtém-

se diferentes inversas reflexivas AR para a mesma matriz A ).

No contexto da estatística experimental é comum trabalhar-se com matrizes do tipo X’X(n)

(quadradas e simétricas), derivadas de matrizes de delineamentos (de posto incompleto r<n). Neste

caso, o SAS usa o seguinte algoritmo para obter sua inversa-g2 de X’X:

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i) Toma-se, seqüencialmente, as colunas linearmente independentes (l.i.) de mXn , para

formar a matriz mX1r ;

ii) Obtém-se r(X1’X1)r e sua inversa regular (X1’X1)-1

;

iii) Substituem-se em X’X os elementos correspondentes às r colunas l.i. pelos elementos de

(X1’X1)-1

, operando simetricamente com as linhas;

iv) Zeram-se as colunas e linhas restantes; e

v) A matriz resultante é uma inversa-g2 de X’X, ou seja (X’X)R .

CONCLUSÃO

Todas as idéias aqui apresentadas, relativas ao conceito de inversas generalizadas de

matrizes, ampliam a base conceitual para um melhor entendimento da teoria estatística em geral,

sobretudo, dos problemas relacionados à busca de soluções em sistemas de equações lineares.

Assim, conclui-se pela relevância da iniciação neste tópico, sobretudo àqueles com interesse em

avançar no entendimento da teoria de modelos lineares, de aplicação rotineira na análise de dados

provenientes de delineamentos experimentais.

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Apêndice 1

DECOMPOSIÇÃO POR VALORES SINGULARES (DVS) – EXEMPLOS E PROPRIEDADES

Exemplo 1:

Considere, inicialmente, a DVS de uma matriz quadrada simples (A(2x2) ):

A(2) = 4 2 = U S V’ = k k uk vk’ = 1 u1 v1’ + 2 u2 v2’ = A1 + A2 . 1 3 k =1,2, ..., p; onde: p = min{nlinhas l.i., ncolunas l.i.}=2, é o posto de A.

Para obter essa decomposição faz-se necessário, em princípio, encontrar os p escalares k, bem como os p vetores uk e vk’ (neste caso k=1,2; pois p=2), denominados valores singulares e vetores singulares

coluna e linha, respectivamente. Uma forma de obter os valores singulares de uma matriz (A) é extraindo-se

a raiz quadrada dos autovalores (k2) de uma das correspondentes matrizes simétricas AA’ ou A’A, que

possuem os mesmos autovalores (Iemma, 1988). Os autovetores de AA’ associados a cada k2, dispostos em

ordem decrescente destes autovalores, são exatamente os p vetores-coluna que formam a matriz U, ou seja, os vetores singulares-coluna de A. Analogamente, os p autovetores de A’A são os vetores singulares-linha

de A, dispostos como linhas da matriz V’. As matrizes AA’ e A’A, neste caso, são dadas por:

AA’= 20 10 , com polinômio característico dado por:

10 10 (20 - ) (10 -

) - (10 . 10) = 0

A’A= 17 11 , com polinômio característico dado por:

11 13 (17 - ) (13-

) - (11 . 11) = 0

Tomando-se o primeiro polinômio obtêm-se as duas raízes características (ou autovalores) da matriz AA’:

200- 20

- 10

+ ()

2 - 100 = 0

()

2 - 30

+ 100 = 0 1

2 = 26,18034 e 2

2 = 3, 81966.

Note-se que: 12 + 2

2 = 26,18 + 3,82 = 30 = i,j aij

2 = (4)

2 + (2)

2 + (1)

2 +(3)

2 = 30.

Da mesma forma, as duas raízes ou autovalores de A’A são obtidas a partir de:

221- 17

- 13

+ ()

2 - 121 = 0

()

2 - 30

+ 100 = 0 mesmas raízes (1

2 = 26,18034 e 2

2 = 3, 81966).

Os p autovetores normalizados (de comprimento unitário) de AA’ associados a cada autovalor k2

(neste caso: k=1,2) são obtidos por:

k=1) 20-26,18 10 u11 = 0 10 10-26,18 u12 0

-6,18 10 u11 = 0 u1 = 0,8506508 , com u112 + u12

2 =1.

10 -16,18 u12 0 0,5257311

k=2) 20-3,82 10 u21 = 0

10 10-3,82 u22 0

16,18 10 u21 = 0 u2 = -0,5257311 , com u212 + u22

2 =1.

10 6,18 u22 0 0,8506508

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10

Da mesma forma, os p autovetores normalizados de A’A associados a cada k2 são obtidos por:

k=1) 17-26,18 11 v11 = 0

11 13-26,18 v12 0

-9,18 11 v11 = 0 v1 = 0,7677517 , com v112 + v12

2 =1.

11 -13,18 v12 0 0,6407474

k=2) 17-3,82 11 v21 = 0 11 13-3,82 v22 0

13,18 11 v21 = 0 v2 = -0,6407474 , com v212 + v22

2 =1.

11 9,18 v22 0 0,7677517

A decomposição por valores singulares (DVS) da matriz A é, portanto, dada pelas seguintes parcelas

(neste caso duas, em razão do posto 2 de A):

1 u1 v1’ = (26,18)1 /2

. 0,8506 . 0,7677 0,6407 = 3,341640 2,788854 = A1 0,5257 2,065225 1,723607

e

2 u2 v2’ = ( 3,82)1 /2

. -0,5257 . -0,6407 0,7677 = 0,658360 -0,78885 = A2

0,8506 -1,065225 1,276393

Fazendo-se: A1 + A2 , obtém-se exatamente a matriz A={aij}. Ademais, tomando-se a soma de

quadrados dos elementos da matriz A1={a1ij}, obtém-se exatamente 12 (ij a1ij

2 =1

2 =26,18034), o mesmo

verificando-se para a soma de quadrados dos elementos de A2={a2ij}, isto é: ij a2ij2

=22

= 3,81966. Note-se que A1 representa ainda uma aproximação da matriz A, no caso, a aproximação DVS de posto unitário para

A. Observe-se que esta aproximação (A1) é especialmente boa em termos da soma de quadrados dos elementos de A (26,18 versus 30). Good (1969) mostra que uma aproximação DVS de posto n, com n<p,

resulta também na menor soma de quadrados de desvios entre os elementos das duas matrizes. Ou seja,

ij(aij - anij)2

é mínima para An={anij} obtida pela soma das n primeiras parcelas da DVS de A. O que

significa dizer que nenhuma outra aproximação de posto n para a matriz A resultará num valor igual ou inferior a este. No presente caso, nenhuma outra matriz de posto unitário é capaz de aproximar-se tão bem a

A quanto A1; logicamente em termos do critério de dispersão ij (aij - a1ij)

2 .

Equivalentemente, como já mencionado, a DVS de A pode também ser obtida multiplicando-se as matrizes U, S e V’, nesta ordem (A = U S V’), fazendo-se:

0,8506 -0,5257 (26,18)1/2

0 0,7677 0,6407 v1’ U = 0,5257 0,8506 ; S= 0 (3,82)

1/2 ; e V’ = -0,6407 0,7677 v2’

u1 u2 1 2

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11

Exemplo 2:

Considere agora outra matriz A(3x2) de maior ordem e sua decomposição singular (DVS):

2 3

A = 1 7 = U S V’ = k k uk vk’ = 1 u1 v1’ + 2 u2 v2’ = A1 + A2 . 1 5 k =1,2, ..., p(A) ; p(A) = min{nlinhas LI, ncolunas LI}=2;

i,j aij2 = 89.

Para matrizes de ordem elevada, a tarefa de encontrar autovalores e conseqüentemente valores

singulares, bem como os respectivos autovetores e vetores singulares, torna-se impraticável manualmente.

Entretanto, através de um programa computacional para álgebra de matrizes pode-se obter com facilidade as matrizes U, S e V que determinam a DVS. No SAS / proc IML, por exemplo

6, fazendo-se uso do comando

“call svd(U,S,V,A)”, obtém-se as seguintes matrizes como resultado da DVS de A:

0,3605 0,9204 9,3274 0,0000 0,2169 0,9762

U = 0,7559 -0,3835 ; S = 0,0000 1,4142 ; e V = 0,9762 -0,2169

0,5465 -0,0767

1 2 v1 v2

u1 u2 (valores singulares de A) (vetores singulares-linha de A) (vetores singulares-coluna de A) (autovalores de AA’ e A’A)

1/2 (autovetores de A’A)

(autovetores de AA’) 12 + 2

2 = 87 + 2 = 89.

Assim, A é decomposta em duas parcelas (matrizes de posto unitário), quais sejam:

0,7294 3,2824

A1 = 1 u1 v1’= 1,5294 6,8824 ; i,j a1ij2 = 87.

1,1059 4,9765 2 3

A1 + A2 = 1 7 = A 1 5

1,2706 -0,2824

A2 = 2 u2 v2’ = -0,5294 0,1176 ; i,j a2ij2 = 2.

-0,1059 0,0235

Algumas propriedades dos resultados obtidos:

1)- A decomposição por valores singulares (DVS) de uma matriz, definida como A={aij}, corresponde a uma

partição da soma de quadrados de seus elementos, isto é: ij aij2 = k k

2 (Mandel, 1971). Ademais esta

partição é ortogonal, pois: U’U=V’V=I A1’A2= A2’A1, sem perda de generalidade (Ai’Aj=, i j).

2)- No exemplo anterior, foram necessários dois termos (duas matizes parciais) para reproduzir a matriz A

exatamente. Isso deve-se ao posto de A ser dois (duas colunas independentes). Adicionando-se uma linha e/ou uma coluna linearmente dependentes, a decomposição continua sendo feita com base em apenas dois

termos, pois apenas dois de seus valores singulares (ou dos autovalores de AA’ e de A’A) serão não nulos.

3)- Tomando-se A1 tem-se uma aproximação de posto ‘um’ para A. Assim, se existir alguma lei regendo a construção da matriz A e se tal lei tiver algum efeito sobre a soma de quadrados de seus elementos, não há

dúvida de que A1 fornece uma boa aproximação para essa medida (Good, 1969; Gabriel, 1978). Assim, A1

representa a aproximação de quadrados mínimos, de posto ‘um’, para a matriz A, com: 12 /k k

2 =0,98. Se

p(A)>2, então, A1 +A2 seria a aproximação DVS de posto ‘dois’ para A e assim por diante.

6 proc iml; reset print log; A={2 3, 1 7, 1 5};

call svd (U,S,V,A);

quit;

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12

Apêndice 2

INVERSAS DE MATRIZES - EXEMPLOS NUMÉRICOS

a) INVERSA REGULAR

Exemplo 1:

Considere a matriz quadrada a seguir:

A(2) =

61

23

Seu determinante é obtido por: det (A) = (3x6) – (1x2) = 16

Como det (A) 0, A é uma matriz não-singular; logo, existe A-1, tal que: AA

-1 = A-1

A = I .

Partindo-se da definição, A-1 = [1/det(A)] Adj(A) , temos que, primeiramente, obter Adj(A):

Adj(A) = [Cof(A)]’ , sendo Cof(A) a matriz de cofatores de A, com: cij = (-1)i+j Mij, logo:

c11 = (-1)1+1 . 6 = 6 ; c12 = (-1)1+2 . 1 = –1 ; c21 = (-1)2+1 . 2 = –2 ; c22 = (-1)2+2 . 3 = 3 Assim:

Cof(A) =

32

16 Adj(A) =

31

26

Logo:

A-1 =

31

2616

1 A-1 =

163

161

81

83

A partir disso, pode-se também construir uma regra geral para obter a inversa de uma

matriz não-singular (n.s.), de dimensão 2x2, isto é:

Se A é n.s., dada por: A(2) =

dc

ba, então: A

-1 =

ac

bdA

1)det(

.

Exemplo 2:

Considere agora um sistema de equações descrito por: y = X .

d

a

m

011

101

011

6

12

14

, em que:

d

a

m

e

011

101

011

X

6

12

14

y ;; .

Um problema matemático associado a um sistema desse tipo consiste em encontrar o vetor

(incógnitas) que pré-multiplicado por X produz y , ou seja, a solução do sistema de

equações lineares. Em estatística aplicada essa solução (vetor ) pode corresponder aos

coeficientes que ponderam a matriz X de informações, associada à origem dos dados (por

exemplo, uma matriz de delineamento experimental), para produzir as respostas observadas

(vetor y).

Se X for uma matriz não-singular (com determinante não nulo), existe X-1 e a solução do

sistema, única, pode ser obtida por: = X-1

y (resultado da pré-multiplicação dos dois

lados da equação por X-1 X

-1 y= X-1

X X-1

y= I = ).

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13

O determinante de X é dado por:

det (X) = [1x0x0 + 1x1x1 + 0x1x(-1)] – [1x0x0 + (-1)x1x1 + 0x1x1] = 1 – (-1) = 2

Como det (X) 0 X é n.s. X-1 , tal que: XX

-1 = X-1

X = I .

Da definição de inversa regular sabemos: X-1=[1/det(X)]Adj(X). Assim, temos que,

primeiramente, obter Adj(X) e, conseqüentemente, Cof(X), cujos elementos são dados por:

c11 = (-1)1+1 . det (M11) = 1x [0x0-(-1x1)] = 1

c12 = (-1)1+2 . det (M12) = (-1)x[1x0-(1x1)] = 1

c13 = (-1)1+3 . det (M13) = 1x [1x(-1)-(1x0)] = -1

c21 = (-1)2+1 . det (M21) = (-1)x[1x0-(-1x0)] = 0

c22 = (-1)2+2 . det (M22) = 1x [1x0-(1x0)] = 0

c23 = (-1)2+3 . det (M23) = (-1)x[1x(-1)-(1x1)] = 2

c31 = (-1)3+1 . det (M31) = 1x [1x1-0x0] = 1

c32 = (-1)3+2 . det (M32) = (-1)x[1x1-(1x0)] = -1

c33 = (-1)3+3 . det (M33) = 1x [1x0-(1x1)] = -1

Logo:

Cof(X) =

111

200

111

Adj(X) =

121

101

101

Então temos:

X-1 =

121

101

101

21 =

21

21

21

21

21

21

1

0

0

.

De posse desta matriz pode-se obter a solução do referido sistema. Sendo X uma matriz

não-singular sabe-se também que o sistema y = X é consistente e determinado, ou seja, tem

sempre uma solução e esta é única, respectivamente. Busquemos, então, esta solução (= X-1

y):

d

a

m

=

21

21

21

21

21

21

1

0

0

2

4

10

6

12

14

2d

4a

10m

b) INVERSA DE MOORE-PENROSE

A seguir é ilustrada a obtenção da inversa-g de Moore-Penrose por meio de dois

procedimentos. Ambos exigem, inicialmente, uma fatoração ou decomposição da matriz a ser

invertida. O primeiro desses procedimentos usa a chamada fatoração de posto completo do

tipo A = BC; o outro procedimento parte da chamada decomposição por valores singulares da

matriz (A = U SV’).

Exemplo 1:

Considere a matriz a seguir (exemplo extraído de Iemma, 1988):

A(3) =

202

022

224

, com det (A) = 0 (matriz singular)

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14

Embora a matriz seja quadrada, sua singularidade implica que a matriz não admite inversa

regular (A-1). Apesar disso, em alguns problemas estatísticos pode-se ter interesse em

inverter matrizes desse tipo.

O procedimento adotado neste exemplo para obter a inversa-g de Moore-Penrose usa a

fatoração de posto completo mAn = mBr rCn; em que rmin{m,n} é o posto de A e as matrizes B e C

são posto coluna e posto linha completos, respectivamente (também de postos iguais a r).

O algoritmo de Dwivedi (1975) permite obter essa fatoração em r ciclos de quatro passos

cada:

1o.Ciclo:

passo 1 - Tomar algum elemento não nulo em A = {aij}, o qual será denotado apq;

passo 2 - Obter a matriz resultante do produto vetorial u1 v1’, com:

u1 =

nq

q2

q1

pqa1

a

a

a

e v1’ = pm2p1p aaa .

passo 3 - Fazer A1 = A - u1v1’

passo 4 - Se A1 = (matriz nula), então r=1 e o processo está encerrado; logo: B=u1 e C=v1’

B C = A .

Se A1 , um novo ciclo deve ser iniciado a partir da matriz A1 e assim sucessivamente

até a convergência, quando Ar = . Neste ponto, as matrizes B e C são dadas por:

B = ruuu 21 e C =

rv

v

v

2

1

B C = A

No caso presente, o posto da matriz A(3x2) é nitidamente dois (a primeira linha é a soma

das outras duas ou a primeira coluna é a soma das outras duas). Assim, o processo deve

encerrar em dois ciclos:

1o.Ciclo:

1o.passo - Tomemos, por exemplo, apq = a11 = 4 (elemento chamado pivot);

2o.passo - Obter a matriz resultante do produto vetorial u1 v1’, com:

u1 v1’ =

112

112

224

224

2

2

4

1v

1u

41

3o.passo - Fazer A1 = A - u1v1’ (zera as linha e coluna do povot)

A1

110

110

000

112

112

224

202

022

224

4o.passo - Como A1 , então, um novo ciclo deve ser iniciado a partir de A1.

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15

2o.Ciclo:

1o.passo - Tomemos agora, por exemplo, apq = a22 = 1 (elemento não nulo);

2o.passo - A matriz resultante do produto vetorial u2 v2’ (de 2o.ciclo) é dada por:

u2 v2’ =

110

110

000

110

1

1

0

2v

2u

11

3o.passo - Fazer A2 = A1 - u2v2’ (zera as linha e coluna do pivot)

A2

000

000

000

110

110

000

110

110

000

4o.passo - Como A2 = (matriz nula), o processo está encerrado com dois ciclos,

comprovando o posto dois de A, assim como das matrizes B e C, as quais são

dadas por:

B =

1

1

01

uu

21

21

21 e C =

110

224

v

v

2

1

De posse das matrizes B e C, tal que BC=A (fatoração de posto completo), pode-se agora

obter a inversa-g de Moore-Penrose da matriz A por:

A+ = C’(CC’)-1 (B’B)

-1 B’

Neste caso, é necessário, primeiramente, obter as inversas regulares de (B’B) e de (CC’),

as quais são matrizes não-singulares, haja vista B e C serem posto coluna e posto linha

completos, respectivamente. Segue-se, então:

(B’B) =

20

0

1

1

01

110

123

21

212

121

(B’B)-1 =

21

32

0

0

(CC’) =

20

024

12

12

04

110

224 (CC’)-1

=

21

241

0

0

Logo:

A+

=

12

12

04

21

241

0

0

21

32

0

0

110

121

21

=

21

121

21

121

61 0

21

21

31

31

32

0

A+ =

541

451

112

18

1

185

92

181

92

185

181

181

181

91

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16

Como exercício adicional pode-se verificar se esta matriz atende às quatro condições que

caracterizam a inversa-g de Moore-Penrose.

Exemplo 2:

Considere agora a matriz A(3x2):

A(3x2) =

51

71

32

Como a matriz não é quadrada (retangular), não se aplicam a esta os conceitos de

determinante, singularidade, bem como o conceito clássico de inversa regular.

Entretanto, também neste caso, pode-se ter interesse em inverter esse tipo de matriz.

Neste exemplo, a obtenção da inversa-g de Moore-Penrose é ilustrada a partir do outro

procedimento referido, a decomposição singular (DVS). Assim, dada a DVS da matriz, A =

USV’ , a sua inversa-g A+ é obtida diretamente por: A

+ = V S

-1 U’. Para simplificação do

procedimento, escolheu-se a matriz A(3x2) anterior, que já foi objeto de ilustração da DVS

no Apêndice 1. Disto decorre:

0,3605 0,9204 9,3274 0,0000 0,2169 0,9762

U = 0,7559 -0,3835 ; S = 0,0000 1,4142 ; e V = 0,9762 -0,2169

0,5465 -0,0767

A inversa-g de Moore-Penrose é obtida a partir destas mesmas matrizes, bastando-se

inverter a matriz S, não-singular, cuja inversão é bastante simples; tendo em vista

tratar-se de uma matriz diagonal. Assim:

A+ =

076703835092040

546507559036050

0

0

2169097620

9762021690

414211

327491

,,,

,,,

,,

,,

,

,

A+ =

076703835092040

546507559036050

153393010465820

6902685002325740

,,,

,,,

,,

,,

A+ =

0689655013793101034480

040230247126064367820

,,,

,,,

Verifiquemos, então, se a matriz obtida anteriormente atende às quatro condições

exigidas para a inversa A+:

i) AA+A = A

AA+A =

51

71

32

0689655013793101034480

040230247126064367820

,,,

,,,

51

71

32

AA+A =

AA

304600442530126440

442530718390080460

126440080460977010

,,,

,,,

,,,

51

71

32

=

51

71

32

= A

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17

ii) A+A A

+ = A

+

A+AA

+ =

069001379010340

040202471064370

,,,

,,,

51

71

32

069001379010340

040202471064370

,,,

,,,

A+AA

+ =

AA

10

01

069001379010340

040202471064370

,,,

,,,=

069001379010340

040202471064370

,,,

,,, = A+

iii) AA+

= (AA+)’ (AA

+ é simétrica): pode ser verificada no desenvolvimento da primeira

propriedade (i).

iv) A+A = (A

+A)’ (A+

A é simétrica): pode ser verificada no desenvolvimento da segunda

propriedade (ii).

c) INVERSA GENERALIZADA CONDICIONAL

A seguir é ilustrada a obtenção da inversa-g condicional, seguindo-se o Algoritmo de

Searle (1971):

Exemplo 1:

Considere novamente a matriz:

A(3) =

202

022

224

, com r (A) = 2

Dado o posto dois da matriz, pelo algoritmo, tem-se:

i) Toma-se em A qualquer sub-matriz M, não-singular, também de posto r, por exemplo:

M =

20

02

ii) Obtém-se M-1 e, em seguida, a sua transposta (M-1’):

M-1

=

21

21

0

0 = M-1

iii) Substitui-se em A os elementos de M pelos correspondentes elementos de M-1’ e zeram-se os demais:

21

21

00

00

000

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18

iv) Uma inversa-g condicional (A-) é dada pela transposta da matriz resultante:

A- =

21

21

00

00

000

A verificação de que esta matriz satisfaz à condição desse tipo de inversa-g é muito

simples:

A A-A =

202

022

224

21

21

00

00

000

202

022

224

=

AA

100

010

110

A

202

022

224

=

202

022

224

= A

Exemplo 2:

Considere agora a matriz:

X =

101

101

011

011

, r (X) = 2 (i): M =

10

01 (ii): M-1 = M

-1’ (iii):

000

100

010

000

;

Logo:

X =

0100

0010

0000

, é uma inversa-g condicional de X.

d) INVERSA-G DE QUADRADOS MÍNIMOS

Da definição de desse tipo de inversa-g tem-se: Xl = (X’X)- X’. Considere, então, a seguinte

matriz, para a qual se buscará sua inversa de quadrados mínimos:

X =

101

101

011

011

X’X =

202

022

224

, com (X’X)- =

21

21

00

00

000

(obtida no exemplo 1, letra c)

Logo:

Xl =

21

21

00

00

000

1100

0011

1111

=

21

21

21

21

00

00

0000

.

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19

Passemos, então, a verificar se esta matriz satisfaz às duas condições exigidas por esse

tipo de inversa:

i) X Xl X = X

XXlX =

101

101

011

011

21

21

21

21

00

00

0000

101

101

011

011

=

lXX

21

21

21

21

21

21

21

21

00

00

00

00

X

101

101

011

011

=

101

101

011

011

= X

ii) XXl = (XX

l )’; isto é, XXl é uma forma simétrica; o que se pode verificar do resultado

parcial anterior.