introducao a educacao crista 2

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Introdução à Educação Cristã (2) – Reflexões, Desafios e Pressupostos – 2. A EDUCAÇÃO CRISTÃ A. Deus, o Mestre Perfeito: “Eis a razão por que a Igreja é cha- mada a mãe dos crentes. E, indubita- velmente, aquele que se recusa ser filho da Igreja debalde deseja ter a Deus como seu Pai. Pois é somente através do ministério da Igreja que Deus gera fi- lhos para si e os educa até que atraves- sem a adolescência e alcancem a ma- turidade” – João Calvino. 1 A Educação Cristã começa por Deus. É Ele quem prescreve o que deseja que saibamos e nos ensina por meio de Sua Palavra a fim de vivermos, por graça, à altu- ra do privilégio de nossa filiação. O padrão de Deus é Ele mesmo; ou seja: a perfei- ção. O modelo que Deus tem para nós é o do próprio Filho. Ele tem um propósito glorioso para os Seus filhos. É o Espírito Quem nos conduz à conformidade da ima- gem de Cristo, que é o nosso modelo por excelência, a meta definitiva de todo povo de Deus. Pela direção do Espírito somos educados a viver como filhos. 2 A Educação cristã é justamente isto, sermos moldados, conduzidos à maturidade perfeita existen- te unicamente em Cristo Jesus. 3 Paulo discorrendo sobre o propósito glorioso de Deus para nós envolvendo a ação graciosa do Deus Triúno, esboça uma trajetória dos atos de Deus para conosco: “Aos que de antemão conheceu, também os pre- destinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o pri- mogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Este é o sentido da santidade! “A santifi- cação significa sermos feitos semelhantes ao Senhor Jesus Cristo, e, portanto, todos os que estão sendo santificados devem ter uma similaridade funda- mental, pois todos estão se tornando cada vez mais semelhantes a Ele”. 4 As Escrituras enfatizam que Deus jamais foi ensinado. Como senhor de todo sa- ber, não precisa ser ensinado por ninguém, porque não há saber fora dEle: “Acaso, 1 João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 4.26), p. 144. 2 Veja-se: A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 37. 3 Veja-se: Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 17ss. 4 David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 59-60.

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Artigo sobre Educação Cristã continuação

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Page 1: Introducao a Educacao Crista 2

Introdução à Educação Cristã (2) – Reflexões, Desafios e Pressupostos –

2. A EDUCAÇÃO CRISTÃ

A. Deus, o Mestre Perfeito:

“Eis a razão por que a Igreja é cha-mada a mãe dos crentes. E, indubita-velmente, aquele que se recusa ser filho da Igreja debalde deseja ter a Deus como seu Pai. Pois é somente através

do ministério da Igreja que Deus gera fi-lhos para si e os educa até que atraves-sem a adolescência e alcancem a ma-

turidade” – João Calvino.1

A Educação Cristã começa por Deus. É Ele quem prescreve o que deseja que saibamos e nos ensina por meio de Sua Palavra a fim de vivermos, por graça, à altu-ra do privilégio de nossa filiação. O padrão de Deus é Ele mesmo; ou seja: a perfei-ção. O modelo que Deus tem para nós é o do próprio Filho. Ele tem um propósito glorioso para os Seus filhos. É o Espírito Quem nos conduz à conformidade da ima-gem de Cristo, que é o nosso modelo por excelência, a meta definitiva de todo povo de Deus. Pela direção do Espírito somos educados a viver como filhos.2 A Educação cristã é justamente isto, sermos moldados, conduzidos à maturidade perfeita existen-te unicamente em Cristo Jesus.3 Paulo discorrendo sobre o propósito glorioso de Deus para nós envolvendo a ação graciosa do Deus Triúno, esboça uma trajetória dos atos de Deus para conosco: “Aos que de antemão conheceu, também os pre-destinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o pri-

mogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Este é o sentido da santidade! “A santifi-cação significa sermos feitos semelhantes ao Senhor Jesus Cristo, e, portanto, todos os que estão sendo santificados devem ter uma similaridade funda-

mental, pois todos estão se tornando cada vez mais semelhantes a Ele”.4 As Escrituras enfatizam que Deus jamais foi ensinado. Como senhor de todo sa-ber, não precisa ser ensinado por ninguém, porque não há saber fora dEle: “Acaso,

1João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 4.26), p. 144.

2 Veja-se: A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 37.

3 Veja-se: Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora

Cultura Cristã, 2001, p. 17ss. 4David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994,

p. 59-60.

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alguém ensinará (למד)(la mad) ciência a Deus, a ele que julga os que estão nos céus?” (Jó 21.22). A origem do saber está em Deus; Ele é a fonte de toda verdade: "toda verdade procede de Deus”.5 Assim, quem quer que saiba genuinamente alguma coisa apreendeu-o dele, a fonte de toda verdade:6 “Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho la)(למד) para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu ,(ya‛ats) (יעץ) mad) na

vereda do juízo, e lhe ensinou (למד)(la mad) sabedoria ( עתד ) (da‛ath), e lhe mostrou o caminho de entendimento?” (Is 40.13-14). (Ver também: Rm 11.33-34). Deus é descrito nas Escrituras como o mestre: “Deus foi o primeiro professor por excelência”.7 a) Ensinou a Moisés o que fazer e dizer: “Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei (ירה) (yarah) o que deveis fazer” (Ex 4.15). b) O ensino está associado à unção do Espírito Santo. Bezalel e Aoliabe, além de aprenderem do Senhor, foram inspirados a ensinar suas habilidades artesanais de maneira que se pudesse construir o tabernáculo (Ex 31.2-6; 35.31-35).8

5João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.12), p. 318.

6 Vd. Walter C. Kaiser, Lâmad: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do

Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 791. 7Sherron K. George, Igreja Ensinadora: fundamentos Bíblicos-Teológicos e Pedagógicos da Educa-

ção Cristã, 2ª ed. Campinas, SP.: Editora Luz para o Caminho, 2003, p. 43. 8 Na realidade, Deus é o Autor de toda vida intelectual. Nas páginas do Antigo Testamento encon-tramos com freqüência a ação do Espírito associada à vida intelectual de diversos homens. (Ver: Jó 32.8; 35.10,11/Gn 2.7; Ex 31.2-6; 35.31-35; Nm 11.17,25-29; 27.18-21/Dt 34.9; Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 14.6; 15.14; 1Sm 10.6/11.6). O Espírito é o autor de toda vida intelectual e artística; nEle te-mos o sentido do belo e sublime como expressão da santa harmonia procedente de Deus, que é per-feitamente belo em Sua santidade. Referindo-se à obra de Bezalel e Aoliabe, Ferguson escreve: “A beleza e a simetria da obra executada por esses homens na construção do tabernáculo não só deram prazer estético, mas um padrão físico no coração do acampamento que ser-viu para restabelecer expressões concretas da ordem e glória do Criador e suas intenções em prol de sua criação” (Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 26). Bavinck (1854-1921) escreve de modo magistral, mostrando que a arte provém de Deus:

“A arte também é um dom de Deus. Como o Senhor não é apenas verdade e santidade, mas tam-bém glória, e expande a beleza de Seu nome sobre todas as Suas obras, então é Ele, também, que, pelo Seu Espírito, equipa os artistas com sabedoria e entendimento e conhecimento em todo tipo de trabalhos manuais (Ex 31.3; 35.31). A arte é, portanto, em primeiro lugar, uma evidência da habilidade humana para criar. Essa habilidade é de caráter espiritual, e dá expressão aos seus profundos anseios, aos seus altos ideais, ao seu insaciável anseio pela harmonia. Além disso, a arte em todas as suas obras e formas projeta um mundo ideal diante de nós, no qual as discórdias de nossa existência na terra são substituídas por uma gratificante harmonia. Desta forma a beleza revela o que neste mundo caído tem sido obscurecido à sabedoria mas está descoberto aos olhos do artista. E por pintar diante de nós um quadro de uma outra e mais elevada realidade, a arte é um conforto para nossa vida, e levanta nossa alma da consternação, e enche nosso coração de esperança e alegria” (Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Ba-ker Book House, 1984, p. 21. Vd. Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 551-553).

Na nova dispensação o Espírito continua atuando concedendo dons aos homens para ensinar e dirigir a Igreja na Palavra (1Co 12.11/Ef 4.4-6,11-14).

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c) Treina-nos nas Suas veredas, daí a súplica do salmista: “Faze-me, SENHOR,

conhecer os teus caminhos, ensina-me (למד)(la mad)9 as tuas veredas” (Sl 25.4). Calvino (1509-1564) comenta: “Se Davi, porém, profeta tão distinto e dotado de uma sabedoria tão inusitada, era carente de instrução, o que será de nós se, em nossas aflições, Deus não dispersar de nossas mentes aquelas nuvens

de escuridade que nos impedem de contemplar sua luz?”.10 O curioso é que o salmo 25, entre outros (34, 37,111, 112, 119, 145), inicia cada estrofe com a seqüência das 22 letras do alfabeto hebraico.11 Uma possível explica-ção para esse tipo de redação é tentativa por objetivar a melhor memorização do texto. Davi está, portanto, desejoso de guardar, “memorizar” o ensinamento de Deus para poder segui-Lo confiadamente. No salmo 25 Davi faz algumas constatações a respeito do Senhor como Mestre: 1) Aponta (ירה)(ya ra h) o caminho que devemos seguir: “Bom e reto é o SENHOR, por isso, aponta o caminho aos pecadores” (Sl 25.8).

2) Guia (דרך)(darak) os humildes na justiça: “Guia os humildes na justiça....” (Sl 25.9). “Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia” (Sl 25.5).

3) Ensina (למד)(la mad) aos mansos o seu caminho: “Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho” (Sl 25.9).

4) Instrui (ירה)(ya ra h) aos que O temem, no caminho que devem escolher: “Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher” (Sl 25.12). Davi estava firmado na promessa de Deus, que diz: “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8). “No caminho da sabedoria te ensinei, e pelas veredas da retidão te fiz andar” (Pv 4.11).

Deus nos ensina para que cumpramos a Sua Palavra: “Agora, pois, ó Israel, ouve

os estatutos e os juízos que eu vos ensino (למד)(la mad), para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos dá” (Dt 4.1). (Do mesmo modo: Dt 4.5,14; 5.1,31; 6.1). 9 A idéia básica de (למד)(la mad) é a de treinar e educar, acostumar-se a; familiarizar-se com;

aprender (Cf. Walter C. Kaiser, Lâmad: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teo-logia do Antigo Testamento, p. 791; D. Müller, Discípulo: In: Colin Brown, ed. ger. Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. I, p. 662; A.W. Morton, Educação nos Tempos Bíblicos: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, Vol. 2, p. 261. 10

João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 25.4-5), p. 542. 11

Ainda que o arranjo não seja perfeito, havendo irregularidade nos versos 2,5,18,22. (Cf. W.S. Plu-mer, Psalms, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1978, p. 329).

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Como mestre perfeito, Deus usava inclusive do recurso musical para ensinar a Lei

ao povo: “Escrevei para vós outros este cântico e ensinai-o (למד)(la mad) aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel. (...) Assim, Moisés, naquele mesmo dia, escreveu este cântico e o

ensinou (למד)(la mad) aos filhos de Israel” (Dt 31.19,22/Dt 32.1-47).

Deus prescreve no Antigo Testamento o modo como deseja ser adorado e, ao mesmo tempo, adverte ao povo de Israel quando se dirigia a Canaã, para que des-truísse todos os lugares de culto pagão (Dt 7.5;12.2,3)12 e, acrescenta: “Consumirás a todos os povos que te der o Senhor teu Deus: os teus olhos não terão piedade de-les, nem servirás a seus deuses, pois isto te seria por ciladas” (Dt 7.16). “Quando o Senhor teu Deus eliminar de diante de ti as nações, para as quais vais a possuí-las, e as desapossares e habitares na sua terra, guarda-te, que te não enlaces com imi-tá-las, após terem sido destruídas diante de ti; e que não indagues acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações aos seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Não farás assim ao Senhor teu Deus, porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até a seus filhos e a suas filhas queimaram com fogo aos seus deuses” (Dt 12.29-31/Dt 16.21-17.1-7).13 Israel deveria se guardar de aprender as práticas pagãs dos povos es-trangeiros: “Quando entrares na terra que o SENHOR, teu Deus, te der, não apren-

derás (למד)(la mad) a fazer conforme as abominações daqueles povos” (Dt 18.9).(Ver também Dt 20.18).

Israel não atendeu plenamente a ordem divina (Js 11.20; 24.23; Jz 1.27-2.3)14 e

12

“Porém assim lhes fareis: derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os seus

postes-ídolos e queimareis as suas imagens de escultura” (Dt 7.5). “Destruireis por completo todos os lugares onde as nações que ides desapossar serviram aos seus deuses, sobre as altas montanhas, sobre os outeiros e debaixo de toda árvore frondosa; deitareis abaixo os seus altares, e despedaça-reis as suas colunas, e os seus postes-ídolos queimareis, e despedaçareis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar” (Dt 12.2-3). 13

“Não estabelecerás poste-ídolo, plantando qualquer árvore junto ao altar do SENHOR, teu Deus,

que fizeres para ti. Nem levantarás coluna, a qual o SENHOR, teu Deus, odeia. Não sacrificarás ao SENHOR, teu Deus, novilho ou ovelha em que haja imperfeição ou algum defeito grave; pois é abo-minação ao SENHOR, teu Deus. Quando no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá o SE-NHOR, teu Deus, se achar algum homem ou mulher que proceda mal aos olhos do SENHOR, teu Deus, transgredindo a sua aliança, que vá, e sirva a outros deuses, e os adore, ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu, o que eu não ordenei; e te seja denunciado, e o ouvires; então, indagarás bem; e eis que, sendo verdade e certo que se fez tal abominação em Israel, então, levarás o homem ou a mulher que fez este malefício às tuas portas e os apedrejarás, até que morram. Por depoimento de duas ou três testemunhas, será morto o que houver de morrer; por depoimento de uma só teste-munha, não morrerá. A mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo; e, depois, a mão de todo o povo; assim, eliminarás o mal do meio de ti” (Dt 16.21-17.7). 14

“Porquanto do SENHOR vinha o endurecimento do seu coração para saírem à guerra contra Israel,

a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma; antes, fossem de todo destruídos, como o SENHOR tinha ordenado a Moisés” (Js 11.20). “Agora, pois, deitai fora os deuses estranhos que há no meio de vós e inclinai o coração ao SENHOR, Deus de Israel” (Js 24.23). “Ma-nassés não expulsou os habitantes de Bete-Seã, nem os de Taanaque, nem os de Dor, nem os de I-bleão, nem os de Megido, todas com suas respectivas aldeias; pelo que os cananeus lograram per-manecer na mesma terra. Quando, porém, Israel se tornou mais forte, sujeitou os cananeus a traba-lhos forçados e não os expulsou de todo. Efraim não expulsou os cananeus, habitantes de Gezer; an-tes, continuaram com ele em Gezer. Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Na-

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toda a sua história foi marcada por guerras e atos de idolatria, seguidos da disciplina de Deus, arrependimento e nova queda. A desobediência do povo tornou-se a sua própria armadilha. A Palavra de Deus como sempre, se cumpriu: “.... os seus deu-

ses vos serão laços” (Jz 2.3/Dt 7.16).15 O salmista resume: “Não exterminaram os povos, como o SENHOR lhes ordenara. Antes, se mesclaram com as nações e lhes

aprenderam (למד)(la mad) as obras; deram culto a seus ídolos, os quais se lhes con-verteram em laço” (Sl 106.35-36).

No reinado de Manassés, temos o clímax: “Manassés fez errar a Judá e os mora-

dores de Jerusalém, de maneira que fizeram pior do que as nações que o Senhor ti-

nha destruído de diante dos filhos de Israel” (2Cr 33.9). “Manassés, pois, represen-ta o ponto mais baixo da iniqüidade na longa lista dos reis davídicos”.16 Ele foi talvez o pior rei de Judá; primeiramente ele copiou os pagãos, no entanto foi mais longe ainda, gerando tanta corrupção entre o povo que o texto nos diz: Judá come-teu mais atrocidades do que os povos pagãos que Deus havia destruído (2Cr 33.2,9). Ele fez uma contra-reforma espiritual: “Tornou a edificar os altos que Eze-

quias, seu pai havia derribado....” (2Cr 33.3). “A política de Manassés represen-tava uma ruptura total com a de Ezequias e uma volta à de Acaz”.17

Dentro da sua política idólatra, Manassés levantou altar aos ídolos conforme os pagãos fa-ziam e, também, o rei de Israel, Acabe (2Cr 33.3; 2Rs 21.3); adorou e serviu aos deuses e à natureza: astrologia (2Cr 33.5); corrompeu a Casa de Deus com os ído-los que fizera (2Cr 33.5,7; 2Rs 21.5); seguindo as práticas pagãs, instituiu os rituais de prostituição sagrada dentro do templo (2Rs 21.6/2Rs 23.4-7);18 queimou pelo menos um de seus filhos como oferta ao deus dos amonitas, Moloque,19 conforme o costume daquele povo (2Cr 33.6/2Rs 21.6). O salmista diz que tal prática é uma o-bra ao demônio (Sl 106.36-37).20 Muitos inocentes foram mortos possivelmente em

alol; porém os cananeus continuaram com ele, sujeitos a trabalhos forçados. Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sidom, os de Alabe, os de Aczibe, os de Helba, os de Afeca e os de Reobe; porém os aseritas continuaram no meio dos cananeus que habitavam na terra, porquanto os não expulsaram. Naftali não expulsou os habitantes de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas con-tinuou no meio dos cananeus que habitavam na terra; porém os de Bete-Semes e Bete-Anate lhe fo-ram sujeitos a trabalhos forçados. Os amorreus arredaram os filhos de Dã até às montanhas e não os deixavam descer ao vale. Porém os amorreus lograram habitar nas montanhas de Heres, em Aijalom e em Saalabim; contudo, a mão da casa de José prevaleceu, e foram sujeitos a trabalhos forçados. O limite dos amorreus foi desde a subida de Acrabim e desde Sela para cima. Subiu o Anjo do SE-NHOR de Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir e vos trouxe à terra que, sob juramento, ha-via prometido a vossos pais. Eu disse: nunca invalidarei a minha aliança convosco. Vós, porém, não fareis aliança com os moradores desta terra; antes, derribareis os seus altares; contudo, não obede-cestes à minha voz. Que é isso que fizestes? Pelo que também eu disse: não os expulsarei de diante de vós; antes, vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços” (Jz 1.27-2.3). 15

“Consumirás a todos os povos que te der o Senhor teu Deus: os teus olhos não terão piedade de-

les, nem servirás a seus deuses, pois isto te seria por ciladas” (Dt 7.16). (destaques meus). 16

Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1977, p. 206. 17

John Bright, História de Israel, São Paulo: Paulinas, 1978, p. 419. 18

Para mais detalhes, Vd. Merril F. Unger, Arqueologia do Velho Testamento, São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1980, p. 141. 19

Cf. Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 205-206; Merril F. Unger, Ar-

queologia do Velho Testamento, p. 141. 20

“Deram culto a seus ídolos, os quais se lhes converteram em laço; pois imolaram seus filhos e su-

as filhas aos demônios” (Sl 106.36-37).

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sacrifícios e assassinatos devido ao fato de se oporem a tais práticas; aqui se devem incluir profetas, sacerdotes e outros homens tementes a Deus. (2Rs 21.16).21 Agou-reiro, Manassés consultava a feiticeiros, médiuns e necromantes (2Cr 33.6; 2Rs 21.6). Calvino parece correto quando afirma que “tão logo a pureza do culto é pervertida, não permanece nada íntegro e saudável, e a fé é completa-

mente subvertida”.22 De fato, a perversão do culto vem sempre acompanhada de

uma perversão espiritual, moral e intelectual. Quando os homens corrompem o ge-nuíno culto a Deus refletem a gravidade de sua doença espiritual que, mais cedo do que se espera, se concretizará em outras áreas de sua vida. O culto é sempre um termômetro da vida espiritual da igreja. Por meio do culto que a igreja oferece pode-mos avaliar a sua situação espiritual. Na história de Israel podemos ver que as dis-torções do culto a Deus estavam sempre relacionadas à uma baixa vida espiritual, a um distanciamento de Deus que trazia implicações familiares, sociais, políticas e re-ligiosas. Num sentido mais amplo, podemos observar que em geral a idolatria traz consigo uma total dissolução moral. O paganismo é sempre pródigo em sua sensua-lidade desregrada, ou seja: idólatra. Por meio de Jeremias Deus mostra a sofisticação da maldade de Judá, superan-do a impiedade pagã: “Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.11-13). A idolatria de Israel só foi curada após a volta do Exílio Babilônico. Portanto, devemos buscar em Deus o ensino e a capacitação para guardar os Seus mandamentos: Sl 27.11; 86.11; 119.12, 26, 33, 64, 66, 68,108, 124, 135, 171/Jó 6.24; 34.32. Em outro contexto (c. 740 a.C.) Deus mostra por intermédio de Isaías, que apesar da desobediência de Israel em atender à mensagem, Deus enviará mestres que ins-truirão o povo (Is 30.20-31).23 As nações virão a Jerusalém para que Deus as ensine (Is 2.3).24 O Servo do Senhor que virá, possui a língua e os ouvidos de erudito (Is 50.4).25 Os genuínos filhos de Israel vivem na gloriosa esperança aguardando com alegria a era messiânica, quando todos serão ensinados pelo Senhor: “Todos os teus filhos serão ensinados (למוד) (limmûd) do SENHOR; e será grande a paz de teus

21“A reforma de Ezequias foi completamente cancelada e a voz da profecia silenciada”

(John Bright, História de Israel, p. 421). 22

João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.1), p. 106. 23

“Embora o Senhor vos dê pão de angústia e água de aflição, contudo, não se esconderão mais os

teus mestres; os teus olhos verão os teus mestres. 21

Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o cami-nho, andai por ele” (Is 30.20-21). 24

“Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó,

para que nos ensine (ירה) (ya rah) os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém” (Is 2.3). 25

“O SENHOR Deus me deu língua de eruditos (ל��ד) (limmûd), para que eu saiba dizer boa palavra

ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os e-

ruditos (ל��ד) (limmûd)” (Is 50.4).

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Introdução à Educação Cristã (2) – Rev. Hermisten – 03/04/10 – 7

filhos” (Is 54.13).

Por isso, o homem que na presente condição é ensinado por Deus é considerado bem-aventurado: “Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem tu repreendes, a

quem ensinas (למד)(la mad) a tua lei” (Sl 94.12). Portanto, devemos suplicar pelo en-sino de Deus: “Bendito és tu, SENHOR; ensina-me (למד)(la mad) os teus preceitos” (Sl 119.12) “Eu te expus os meus caminhos, e tu me valeste; ensina-me

la)(למד) mad) os teus decretos” (Sl 119.26). (Do mesmo modo: Sl 119.64,66,68,73, 108,124,135; 143.10). O ensino de Deus tem a ver diretamente com o que é necessário à nossa exis-tência. A sua instrução é fundamental para sermos bem sucedidos em nossa vida. Ele mesmo nos diz: “Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu

sou o SENHOR, o teu Deus, que te ensina (למד)(la mad) o que é útil e te guia pelo caminho em que deves andar” (Is 48.17). O salmista na velhice reconhece que Deus o tem ensinado desde a sua mocida-de, sendo este o seu testemunho constante: “Tu me tens ensinado (למד)(lâmad), ó Deus, desde a minha mocidade; e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas” (Sl 71.17).

Maringá, 2 de abril de 2010. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa