introduÇÃo À economia

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INTRODUO ECONOMIA

URANILSON BARBOSA DE CARVALHO

2011

APRESENTAO

Esse trabalho pretende dar ao leigo ou estudante da disciplina de Economia em cursos de graduao e ps-graduao, uma noo do funcionamento da atividade econmica de um pas, fornecendo informaes bsicas, de maneira clara e objetiva, sobre os acontecimentos econmicos que ocorrem no mundo e, principalmente, no Brasil, desmistificando o difcil e complicado jargo econmico. A inteno principal dessa apostila embasar o leitor para a compreenso de algumas discusses econmicas importantes presentes em nosso dia-a-dia e que circulam nos principais noticirios. Para tanto, temas como: mercado, bolsa de valores, crescimento econmico, taxa de juros, comrcio exterior, globalizao da economia, evoluo do pensamento econmico entre outros, contemplam os contedos desse livro, atravs de uma linguagem prtica, direta e bastante simplificada.

INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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INTRODUO

Costuma-se dizer que todo brasileiro tem um pouco de tcnico de futebol, mdico e economista. Este argumento at certo ponto aceitvel. O futebol, como esporte principal no Brasil, leva os torcedores a dominar alguns fundamentos bsicos dessa atividade, e conseqentemente, conhecer, ou pelo menos achar que conhece tticas que possam levar seu time vitria. Com a dificuldade de acesso de grande parte da populao ao sistema de sade pblica de qualidade, busca-se a medicina caseira, porquanto a automedicao predomina nos lares das famlias brasileiras. O mesmo acontece com a Economia. A instabilidade econmica que durante anos perseguiu a Nao e as atuais e recorrentes notcias sobre as taxas de juros, o cmbio, as altas e as baixas das bolsas de valores entre outras, permite ao brasileiro conviver com temas de ampla complexidade, induzindo a alguns ficarem vontade para sugerir ao governo, alternativas para a melhor conduo da poltica econmica nacional. Porm, podemos perceber que apesar da maioria dos brasileiros conviverem com a adversidade econmica e principalmente a social, isso no lhes d condio suficiente para permitir o entendimento das foras que movimentam a atividade produtiva e financeira do pas. Para esclarecer alguns dos principais aspectos que dizem respeito Economia, elaboramos essa apostila introdutria e a separamos em captulos que iro permitir a compreenso de temas econmicos ao longo da sua leitura. No primeiro captulo, faremos uma rpida abordagem ao surgimento da Economia, desde a fase que antecede o sistema capitalista aos dias atuais. Dando seguimento, dissecaremos o problema da escassez dos recursos e mostraremos como feita a discusso sobre a forma de atingir o nvel de bemestar desejado pela populao, malgrado a escassez dos recursos. Na terceira etapa, ser feita uma explicao sobre o mercado e seu funcionamento e no quarto captulo mostraremos a dinmica do sistema produtivo. Do quinto ao oitavo captulos sero abordados temas de ordem macroambiental, como: inflao e suas causas; em seguida, as discusses sobre o sistema financeiro e a poltica econmica; o subdesenvolvimento e encerraremos com o estudo do comrcio externo e uma breve anlise da nova dinmica econmica mundial.

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1. NASCIMENTO DA ECONOMIA Introduo Neste captulo, faremos um breve passeio pela histria da formao econmica, para percebermos o surgimento da Economia como cincia. A Economia organizou-se como cincia no incio da Revoluo Industrial, quando ocorreram profundas alteraes econmicas e sociais, a princpio, na Inglaterra e em parte do continente europeu e, posteriormente, no resto mundo. A produo e o lucro seriam vistos como motores do desenvolvimento econmico. Os trabalhos artesanais e a mo-deobra escrava seriam substitudos, respectivamente, pela produo em srie com auxlio de mquinas e pelo operrio, que prestaria seus servios em troca de salrio. A cobia do homem seria vista com bons olhos. Na busca por ganhos cada vez maiores, o homem aumentaria sua produo para obter maior margem de lucro. Inconscientemente, toda a comunidade seria beneficiada por uma quantidade maior e diversificada de bens e servios. No seria necessria a participao do Estado na Economia; o mercado livre seria a tnica desse novo mundo, dando origem ao que hoje conhecemos como Capitalismo. Porm, antes de abordarmos esse contexto mais especificamente, faremos uma breve trajetria das formas de organizaes das atividades econmicas que antecederam ao sistema capitalista.

Do Imperialismo ao Feudalismo A forma de produo pr-capitalista era a artesanal e os conhecimentos eram transmitidos de gerao em gerao, sem que melhorasse a prtica de produzir. A mo-deobra utilizada era a escrava, obtida atravs da fora: os povos vencidos em guerra submetiam-se aos vencedores, prestando-lhes servios de todos os tipos sem nenhuma remunerao. O perodo supracitado faz referncia ao Imprio Romano, onde predominava o regime escravocrata, cujo poder era autoritrio e extremamente concentrador. As invases dos Brbaros derrubaram o Imprio, dando origem a outro modelo de sociedade. O autor francs Henri Denis fez a seguinte citao sobre a invaso dos Brbaros: Quando penetram no Imprio e nas regies onde formam a maioria da populao, os Brbaros constituem comunidades de aldeia. As terras abandonadas tornam-se propriedade da aldeia, que as reparte periodicamente entre os habitantes. Mas, ao mesmo tempo, os chefes apoderam-se dos grandes domnios, das vilas romanas, e formam uma aristocracia fundiria. (Denis, 1974, p. 83) Essa aristocracia fundiria formou o Feudalismo (sculo XI - XIV). No sistema feudal, ao contrrio do imperial, o poder era totalmente descentralizado, e cada feudo era

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economicamente autosuficiente. Os escravos seriam substitudos pelos servos, que passariam a trabalhar nas terras do senhor em troca de proteo. O latifndio era predominante, atribuindo agricultura a principal fonte de riqueza dos feudos. Em margem dos domnios do senhor feudal os pequenos comerciantes viviam e comercializavam especiarias nas aldeias. Mesmo localizados fora da rea rural, os burgos (habitantes das aldeias) pagavam impostos ao senhor pelas terras utilizadas. Paralelamente, existiam o clero (Igreja) e a nobreza.

O Esprito Empreendedor dos Comerciantes Adiantando um pouco mais a histria, chegando ao sculo XVI, na Europa, o regime feudal no apresentava tanta pujana. A unio dos burgos com a nobreza adversrios da autonomia dos feudos contribuiria para a formao de um movimento reivindicatrio que iria provocar mudanas profundas na sociedade, possibilitando a aglutinao de diferentes conceitos dos fatores que representariam a verdadeira riqueza. A aristocracia rural iria gradativamente perdendo sua importncia, cedendo espao aos comerciantes. O comrcio seria visto como a principal fonte de prosperidade; os comerciantes, por seu esprito empreendedor, estimulariam a evoluo da sociedade, tirando-a da estagnao em que se encontrava no perodo feudal. Por sua vez, a procura de ganhos crescentes dos burgos estimulada pelo apoio da nobreza, levaria construo de grandes embarcaes, que iriam em busca de novas terras, fora dos limites dos mercados europeus de ento. No s especiarias como tambm produtos agrcolas e metais preciosos eram auferidos por essas exploraes. Formaram-se os Estados-Naes como Portugal, Espanha, Frana, Holanda, Inglaterra. A riqueza de uma nao media-se pelo estoque de pedras valiosas, em seu poder; quanto mais ouro e prata possua, mais potente ela seria. Essa modalidade comercial, do alm mar, traria enormes benefcios aos comerciantes e nobreza. Seguindo este raciocnio, as colnias serviam de esteio a essas naes, tanto como fornecedoras de matrias-primas e de metais preciosos como, tambm, consumidoras dos bens e servios produzidos pela ptria-me. Portanto, as colnias tiveram um fundamental papel nas transformaes ocorridas na Europa. Essa prtica ficou conhecida como Mercantilismo (sculos XVI-XVIII), que, sem dvida alguma, representou um grande avano naquela poca. A intensificao do comrcio trouxe consigo novos mercados, ampliando possibilidades de consumo que at ento o povo europeu desconhecia. O incio das atividades bancrias, do papel-moeda e da prpria inflao foram adventos ocorridos na poltica mercantilista. O ouro e a prata que entravam na Europa, provenientes principalmente das colnias americanas, seriam confiadas, em sua grande parte, a prepostos indicados pelos governantes os ourives que emitiam em nome dos depositantes recibos especificando a quantia de metais preciosos que estavam sob sua guarda. Essa prtica levou criao de inovadoras prticas bancrias e deu aos bancos poder de criar moeda. Os ourives recebiam dos depositantes uma porcentagem sobre as quantidades depositadas pelos servios prestados de proteo e conservao dos metais.

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Mas, os recibos dificilmente retornavam aos bancos, pois os indivduos preferiam negociar com os papis emitidos por esses estabelecimentos. A praticidade, a confiana e a segurana dessas operaes desestimulavam o saque do ouro e da prata. Praticidade, por no haver necessidade de ter em mos as pedras preciosas para a negociao, pois se a transao comercial envolvesse produtos com valores elevados seria necessrio, em contrapartida, uma grande quantidade de metais, exigncia essa que a utilizao dos papis eliminou por completo. Por sua vez, a confiana era gerada por critrios rigorosos da inspeo da qualidade e da procedncia feitas pelos ourives, dando o real valor do ouro e da prata que estavam sob sua custdia. Quanto segurana, as condies eram pouco propcias para o transporte de metais preciosos, devido frequncia de assaltos. Confiar sua guarda a terceiros que se remunerava com alguns gramas de ouro era a prtica adotada. Por esses trs motivos, foi-se generalizando o uso dos papis-moedas emitidos pelos bancos. Um problema contemporneo manifestou-se, tambm, no perodo do mercantilismo a inflao. Ao chegar Europa, das colnias americanas, Cristvo Colombo, trouxe consigo uma grande quantidade de ouro e de prata. O excesso dos metais acarretou sua depreciao, fazendo com que o comerciante exigisse do comprador uma quantia cada vez maior de ouro e de prata, desencadeando-se assim um processo inflacionrio que beneficiaria os comerciantes e prejudicaria aos consumidores. A inflao persistente propiciou o acmulo dos metais preciosos por parte dos comerciantes, o que, por sua vez, deu ensejo a uma ampla revoluo, donde emergiria um novo modo de produo que transformaria os costumes do povo da poca.

A Indstria e os Economistas O acmulo dos metais preciosos observado no perodo mercantil acarretaria investimentos no setor produtivo. As invenes como a mquina a vapor e o tear mecnico, propiciariam ganhos de produtividade. Com a substituio do trabalho artesanal pelo trabalho em srie, com o auxlio de mquinas, os escravos cederiam lugar aos operrios. A distino de raa deixava de ser a condicionante do emprego da mo-de-obra, homens, independentes da cor prestariam seus servios em troca de uma recompensa em dinheiro salrio. Estava nascendo um novo modelo face ao esgotamento do mercantilismo, o capitalismo. O conjunto dessas reformulaes, ocorridas no sculo XVIII na Inglaterra, foi denominado Revoluo Industrial. A cultura produtiva transmitida de pai para filho foi radical e penosamente substituda por mquinas que trabalhavam com mais eficincia, gerando inquietao no seio da populao, pois artesos e agricultores tiveram que renunciar a sua autonomia e prestar servios aos capitalistas, j que no podiam competir com as fbricas. As fbricas aplicaram a diviso do trabalho e a especializao no processo produtivo possibilitando uma elevada produtividade.

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Cabe citar o exemplo de Adam Smith, ilustre pensador da poca, sobre a produo de alfinetes. Para ele uma pessoa fabricando sozinha esse produto no conseguiria ultrapassar vinte, entretanto na forma que estava se desenvolvendo naquela perodo, com diviso em vrios setores ocorreria um ganho de produtividade: Um operrio desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocao da cabea do alfinete; para fazer a cabea de alfinete requerem-se 3 a 4 operaes diferentes . . .a prpria embalagem do alfinete constitui uma atividade independente. . . .Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiriam produzir entre elas mais que 48 mil alfinetes por dia. E conclui: Se, porm, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles no teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia. . .A diviso do trabalho, na medida em que introduzida, gera, em cada ofcio, um aumento proporcional das foras produtivas do trabalho. (Smith, 1996, p.66) Neste sentido, surge ento a necessidade de justificar perante a sociedade os motivos dessas transformaes e explicar a sua importncia no mbito mundial. Assim nasce a cincia econmica que tentaria formular uma ideologia capaz de defender os acontecimentos recentes e indicar como as naes alcanariam o seu desenvolvimento, proporcionando um nvel de bem-estar satisfatrio aos membros da sociedade. A primeira tentativa de explicar os acontecimentos da poca partiu do francs Franois Quesnay, figura de proa da Escola Fisiocrata. Quesnay formulou crticas contundentes ao sistema mercantilista, voltando toda sua ateno para a produo, ressalvando a importncia, principalmente, do setor agrcola, como a principal geradora de riquezas. Para ele s a natureza produziria riqueza e a indstria s transformaria, afirmao essa que debilita sua anlise. A grande falha dos fisiocratas foi subestimar a importncia das indstrias, principalmente pelo fato da poca representar o nascimento das unidades fabris. Os fisiocratas defendiam a plena liberdade o laissez-faire (deixar livre). A interveno do Estado autoritrio prejudicaria o sistema produtivo do pas; por isso, a tomada de decises econmicas no necessita da interferncia do governo. A burguesia industrial, apesar de no concordar a totalidade dessa concepo econmica, aceitava muitos pontos dos fisiocratas, sobretudo a questo da liberdade. Entretanto, a principiante classe capitalista necessitava de um corpo doutrinrio que interpretasse satisfatoriamente os acontecimentos e destacasse a importncia econmica das indstrias. Surge ento a Escola Clssica constituda pelos chamados economistas clssicos, que deram o respaldo de uma formao ideolgica Revoluo Industrial e nascente sociedade capitalista. Os economistas, que ganham destaque e notoriedade, so considerados cientistas, e seus axiomas so utilizados para explicar os fenmenos que esto ocorrendo na Europa. Nessa poca pairavam muitas dvidas e incertezas: Como explicar uma sociedade cujos meios de produo no dependiam mais da mo-de-obra forada nem dos costumes? Uma sociedade com um Estado incapaz de tomar decises quanto ao destino da economia de uma Nao? As respostas s indagaes supracitadas viriam da escola clssica, cujoINTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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principal mentor foi o economista escocs Adam Smith. Em seu livro, A Riqueza das Naes, publicado em 1776, expe uma doutrina econmica que trata das transformaes que o velho mundo estava sofrendo, tornando-se o primeiro idelogo a receber a confiana da burguesia industrial. Para eliminar as dvidas, Smith sustenta ser desnecessria a participao do Estado nas atividades econmicas e aponta que a economia seria conduzida simplesmente pelas foras do livre mercado, via ambio do homem. Esse poderoso motor dinamizaria todo o sistema produtivo, assegurando assim o crescimento da nao. O homem, cata de ganhos cada vez maiores, beneficiaria a sociedade como um todo. A sua nsia por lucros crescentes, acarretaria um aumento de produo, um nmero maior de pessoas passaria a trabalhar nas unidades de produo, gerando mais empregos e, conseqentemente, mais renda e mais consumo. A acumulao de riquezas por uma minoria estimularia mais investimentos no futuro, pois o atendimento de suas satisfaes pessoais beneficiaria, por sua vez, toda a sociedade. Tudo isto deveria acontecer inelutavelmente, dispensando, portanto, a interferncia dos gestores pblicos nas aes individuais dos cidados, cujas decises so suficientes para promover o equilbrio econmico. Neste perodo, houve avanos tcnicos expressivos, dentre outros, cabe destacar os ocorridos na indstria de tecido com a mquina de fiar por Hargreaves em 1770; o filatrio tocado por gua, criado por Arkwright em 1769; o filatrio de Crompton de 1779 e o filatrio autnomo introduzido por Kelly em 1792; porm, nenhuma dessas invenes existiria sem a mquina a vapor de Watt de 1767. Alm do processo de pudlagem e o laminador, ambos de Cort, em 1784. (Dobb, 1963) O laissez-faire dos fisiocratas explicaria e justificaria o comportamento que o Governo e a sociedade deveriam adotar. As crises seriam manifestaes de curto prazo, voltando, a seguir, o equilbrio e o flego para o aquecimento da Economia e firmando-se a reestruturao necessria para o desenvolvimento. Outros economistas de vulto, pertencentes mesma escola, trouxeram valiosas contribuies s idias precursoras de Adam Smith. Assim, a concepo clssica assim enriquecida perdurou por mais de um sculo, graas a luminares como David Ricardo, Thomas Robert Malthus, John Stuart Mill e Jean-Baptiste Say. Percebemos que a livre-concorrncia era o leit motiv dos economistas clssicos, capaz de restaurar automaticamente o equilbrio em toda a economia e propiciar bem-estar aos indivduos.

O Socialismo Cientfico de Karl Marx Deixando momentaneamente de lado a anlise de mercado, atentemos na situao da populao. Vale lembrar que a Revoluo Industrial, ocasionou um avano tcnico nosINTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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meios de produo, elevando a produtividade. Por sua vez, o setor agrcola estava em situao precria, devido poltica de substituio nas pequenas propriedades rurais, cujas famlias viviam na base da economia de subsistncia, ou seja, plantavam apenas para o prprio sustento das atividades tradicionais pela criao de ovinos, que forneceriam a matria-prima para a indstria de tecidos. Tal transtorno transformou-se rapidamente num grave problema social, cujas consequncias danosas para o pequeno produtor rural, podem ser avaliadas no obra do autor Robert Heilbroner: Esta uma observao surpreendente, pois apenas cem anos antes o interior da Inglaterra consistia em grande parte de proprietrios camponeses que cultivavam suas prprias terras; tratava-se do pequeno proprietrio, orgulho da Inglaterra, o maior grupo do mundo de cidados independentes, livres e prsperos. . .A l tornara-se uma mercadoria nova, lucrativa, e exigira que seu produtor tivesse amplas pastagens . . . Essas terras de repente so declaradas inteiramente como propriedades absolutas dos lordes e no mais disponveis para uso dos camponeses. Onde antes havia uma espcie de propriedade comum, agora existe a propriedade privada. Onde antes havia pequenos proprietrios rurais, agora h ovelhas. (Heilbroner, 1996, p.33,34 ) As famlias expulsas do campo migravam em grande parte para os centros urbanos, em busca de emprego nas indstrias. A necessidade deste povo colocava-o em uma situao de extrema submisso ao capitalista. Que, por sua vez, explorava ao mximo essa mo-deobra. As perspectivas desse contingente populacional eram limitadas pela prpria sobrevivncia. Inevitavelmente, a crise social geraria um grupo de miserveis e um clima de tenso insuportvel classe burguesa. Para avaliarmos a situao social do operrio no tempo da Revoluo Industrial, citamos um pequeno trecho do livro de Arajo: A situao social da maioria da populao era calamitosa. Qualquer viajante de um pas moderno que passasse pela Inglaterra entre 1770 e 1830 ficaria chocado com a misria, a subnutrio e a explorao do operariado. A jornada de trabalho podia chegar a mais de 14 horas dirias. Crianas e mulheres eram obrigadas a trabalhar em condies subumanas. As crianas, s vezes, eram amarradas s mquinas para no fugirem. As condies de higiene tambm eram pssimas e os costumes brutais. No de admirar que a mortalidade infantil fosse elevada. Existiam mulheres que haviam tido 20 filhos e todos haviam morrido. A sorte era muito desigual para as diversas classes sociais. (Arajo, 1996, p. 25 ) A Revoluo Industral deu origem a uma classe social excluda, formada por grupos marginalizados cujas atividades criminosas assustavam os capitalistas: o terror existente gerava previses catastrficas, quanto ao futuro da humanidade. Um dos conceituados economistas do perodo, Robert Malthus, chamava a ateno sobre o perigo do crescimento da populao miservel, que vinha impondo estorvos ao sistema produtivo. A populao, para Malthus, vinha aumentando acima da capacidade de produo de alimentos, comprometendo, assim, no futuro a sobrevivncia da nossa espcie.

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As tenses sociais davam origem a conflitos sociais, cuja dramaticidade alimentava o pessimismo de pensadores e filsofos. Mas, a principal consequncia deste estado de coisas foi a formao de uma doutrina econmica, que se oporia ao ponto de vista dos economistas clssicos. As insuportveis condies de vida do operariado e a excluso da maioria da populao, contribuiriam para a defesa de uma sociedade que oferecesse condies iguais a todos os homens. Nascia assim o Socialismo, a princpio defendido pelos chamados Filsofos Utpicos, cuja frtil imaginao modelou cidades utpicas para o proletariado, eliminando o desemprego e misria. Sendo todos os cidados iguais entre si, no haveria mais discriminao. Esses devaneios no chegaram a se concretizar, mas foram reformulados por pensadores geniais, que conseguiriam arquitetar uma sociedade que emergiria do flagelo do capitalismo, derrubando a figura central do capitalista. E, tanto o Estado como os meios de produo ficariam sob o controle da classe operria. Esta viso pertence ao chamado Socialismo Cientfico, cujo principal formulador foi Karl Marx (filsofo e economista alemo) que conseguiu atravs do seu livro O Capital , lanado em 1867, um resultado que talvez nem ele mesmo esperasse: a mobilizao dos operrios para dirimir seus problemas e exigir da burguesia um melhor tratamento. Em suma, o pensamento marxista previa o colapso do capitalismo, sendo o poder tomado pelo proletariado, por meio de uma revoluo, quando a ditadura favoreceria as classes mais humildes, distribuindo a riqueza e estatizando a propriedade privada. obvio que o teor ideolgico do marxismo no agradava aos capitalistas. Amedrontados com a possvel revoluo, foram adotando melhorias significativas para o trabalhador: diminuio da carga horria de trabalho, aumentos salariais, aceitao das greves etc. Entretanto, a insatisfao popular perdurava e a lei do mercado livre, defendida pelos economistas clssicos, mostrava sinais visveis de fragilidade, sendo incapaz de encontrar solues s crises econmicas e sociais. Transcorrido, aproximadamente, um sculo e meio aps a Revoluo Industrial, o desemprego e a misria aumentavam assustadoramente. A frmula de Adam Smith e seus seguidores no conseguira trazer solues plausveis para os problemas. Concomitantemente, levantes frequentes de trabalhadores criavam um clima de insegurana para os capitalistas. Percebiam que a qualquer momento o proletariado poderia apoderar-se de suas riquezas por meio de uma revoluo. Tambm existia a concreta possibilidade da instaurao de governos socialistas em todo o mundo.

A Crise do Capitalismo e o Keynesianismo Em 1929, irrompeu a Grande Depresso, uma convulso assombrosa do capitalismo. Inmeras indstrias decretaram falncia, mais de 5.000 bancos interromperam suas atividades, o comrcio entrou em crise e o desemprego alcanou nmeros astronmicos. Mais do que nunca a ameaa comunista ganhava fora e mpeto. Chegava ao

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fim o modelo clssico de desenvolvimento, o mercado por si s mostrava-se incapaz de gerar o equilbrio automtico, a crise ganhava um carter irreversvel. No s os problemas sociais, que esto na origem do movimento socialista, mas, principalmente a crise econmica, esvaziaram a concepo clssica, surgindo da a necessidade de construir um novo modelo econmico que condissesse com a realidade e trouxesse solues concretas e a curto prazo. A principal origem da crise estava sustentada no excesso de produo. Com os pases europeus recuperados economicamente dos efeitos negativos da Primeira Grande Guerra, reduzem significadamente suas importaes dos Estados Unidos de produtos industrializados e agrcolas. Diante da dificuldade em exportar parte de sua produo, empresas norte-americanas entram em crise com reflexos diretos percebidos nos preos de suas aes, que despencam rapidamente e provocam um forte movimento de vendas desses ativos. Um ciclo negativo instaurado, com a reduo da capacidade das empresas de si capitalizarem atravs da negociao de suas aes, h uma intensa diminuio da produo, como consequncia a taxa de desemprego amplia e o consumo reduz para nveis extremamente preocupantes. Foi exatamente neste clima desesperador que apareceu um dos mais eminentes economistas do sculo XX, John M. Keynes. A sua capacidade de avaliar o contexto econmico levou-o a criar um modelo capaz de tirar o capitalismo da crise. A sua anlise iria de encontro s dos economistas clssicos. Criticava severamente a lei do laissez-faire e defendia a presena de um Estado moderado na Economia, trabalhando em parceria com a iniciativa privada. A sada apontada por Keynes era essencialmente simples: o Estado deveria atuar na Economia, ampliando os gastos pblicos atravs de investimentos em infraestrutura, como: ferrovias, rodovias, siderrgicas, refinarias, portos, saneamento bsico etc.; facilitar os emprstimos aos empresrios, para que pudessem recuperar suas empresas, para tanto, os juros deveriam estar sempre baixos para desestimular as aplicaes financeiras e aquecer os investimentos produtivos e, tambm, reduzir a alquota do imposto que incide sobre a renda para ampliar o consumo. Todas essas medidas surtiriam efeitos positivos na Economia, pois uma poltica fiscal (gastos pblicos e impostos) e monetria (juros) expansivas estimulariam gerao de empregos e possibilitaria a recuperao dos investimentos privados. Os Estados Unidos foram o primeiro pas a adotar a frmula keynesiana de desenvolvimento. O programa governamental lanado em 1933 do presidente Franco Delano Roosevelt, conhecido como New Deal, consolidou o programa-base de Keynes, possibilitando a recuperao da Economia norte-americana e consolidando o pas como uma potncia mundial. Outros fatores fariam dos Estados Unidos a nao que comandaria as aes econmicas a partir da segunda metade do sculo XX ou aps a Segunda Guerra Mundial, como: o ingresso de suas empresas em outros pases (as multinacionais); a Guerra Fria que possibilitou a venda de seu material blico aos pases subdesenvolvidos e a poltica de emprstimos externos, colocando vrios pases no rol de seus devedores. Mas o estudo das

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outras variveis e das polticas internacionais, que estimularam a Economia americana no ser necessria para nossa anlise. Limitaremos nosso estudo a poltica interna, j mencionada, estruturada no molde keynesiano. Durante a leitura deste breve relato da Histria do Pensamento Econmico, foram oferecidos subsdios ao leitor para fazer vrias comparaes com a nossa realidade. No obstante, essa discusso tenta jogar uma luz ao debate ainda contemporneo sobre os dois principais modelos: o Clssico, que defende o liberalismo econmico e o Keynesiano, que entende que o agente econmico Governo essencial para evitar crises econmicas e manter um nvel de atividade produtiva capaz de gerar emprego e renda.

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2. ESCASSEZ E ESCOLHAS

2.1.A Economia a Cincia da Escassez Vamos imaginar um pas que consiga satisfazer plenamente todas as necessidades de consumo de sua populao, ou seja, um pas cujos recursos disponveis (mquinas e equipamentos, matria-prima e mo-de-obra) sejam suficientes para gerar uma produo capaz de suprir qualquer necessidade. Todo indivduo participante tem condies de adquirir bens e servios, sem limite de quantidade, todos os desejos so prontamente atendidos. Certamente, j deu para perceber algo estranho nesta suposio. Nenhum pas tem condies de atender a todas as necessidades de sua populao, sem limites de quantidade. A varivel que impossibilita a existncia do pas citado acima a escassez de recursos. Na economia, escassez o limite que se impe na produo dos bens e servios, em consequncia da pequena quantidade de recursos disponveis. esse limite o fator primordial da cincia econmica: a escassez o principal tpico com que lida a economia. Os desejos dos homens nunca alcanaro plena e total satisfao, sempre sero procuradas novas formas de consumo. Mesmo em sociedades de pases com alto nvel de desenvolvimento no possvel atingir o limite, mesmo que se alcancem excelentes nveis de bem estar. O ser humano sempre almeja formas que possam melhorar, cada vez mais, seu padro de vida. Contudo, em grupos sociais onde predomine a misria, impera a luta pela sobrevivncia, ou seja, o grau de satisfao atingido quando so supridas as necessidades bsicas. Mas, to logo sejam atendidas essas necessidades, o homem procurar novas formas de consumo, que sequer imaginara antes. Diante desta situao paradoxal de um lado, o desejo ilimitado e insacivel das sociedades e, do outro, a escassez dos recursos disponveis encontra-se a economia procurando equacionar, da melhor maneira possvel, este difcil dilema.

2.2 O Difcil Dilema da Escolha Como vimos no tpico anterior, a escassez de recursos torna possvel a prpria existncia da economia. Essa escassez coloca a sociedade diante de outro grande dilema: ser uma constante em qualquer grupo social, escolher entre este ou aquele produto que possa lhe proporcionar maior grau de satisfao.

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Todos ns enfrentamos estes problemas, seja no grupo familiar, nas unidades de produo (empresas, indstrias, fazendas, fbricas. . .) e nos governos; pois ningum pode livrar-se de situaes dessa natureza.

Exemplos Hipotticos

NAS FAMLIAS ORAMENTO FAMILIAR A famlia do Sr. Joo possui uma renda mensal lquida de R$ 2.000,00 (dois mil reais) distribuda da seguinte maneira: Tabela 1 Oramento Familiar Hipottico DESPESAS ALIMENTAO ALUGUEL GUA E LUZ TRANSPORTE EDUCAO SADE LAZER VESTIMENTAS TOTAL DISTRIBUIO DA RENDA (R$) 500,00 400,00 150,00 100,00 250,00 320,00 250,00 30,00 2.000,00 PORCENTAGEM (%) 25 20 7,5 5 12,5 16 12,5 1,5 100

Dado o limite de seus recursos, R$ 2.000,00, o desejo em aumentar os gastos com qualquer dos itens acima implicar, necessariamente, numa diminuio de outro. Com os R$ 2.000,00 plenamente utilizados, caso Sr. Joo queira gastar mais com a alimentao, ter que diminuir necessariamente a despesa com outro item do oramento. Pois bem, o problema da escassez e o desafio das escolhas, tem incio nas famlias, independente do nvel de renda estaremos sempre fadados a estabelecer nossas prioridades face realidade dos inmeros desejos que afetam o indivduo e sua famlia e o limite de sua renda.

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NAS UNIDADES DE PRODUO INDSTRIAS A indstria automobilstica GP S/A pretende, nos prximos anos, aumentar sua produtividade, ou seja, gerar uma quantidade maior de veculos no mesmo prazo. Para tanto, est robotizando sua fbrica. Obviamente, devido escassez de recursos, a indstria ter que efetuar cortes no seu quadro de funcionrios (mo-de-obra) em decorrncia da robotizao da industria, voltada para o aumento da produtividade e da qualidade do produto final. Assim, estamos diante do dilema da escolha entre a informatizao dos meios de produo e a mo-de-obra.

NOS GOVERNOS A necessidade de escolha tambm se estende administrao pblica. Os governos de qualquer esfera (municipal, estadual ou federal) estaro sempre diante de vrios paradoxos: investir em quais projetos de infraestrutura? Saneamento bsico ou pavimentao? Polticas mais austeras de combate inflao ou mais flexibilidade nos incentivos ao crescimento econmico? Estimular a construo de rodovias ou ferrovias? bvio que qualquer governo, comprometido com a melhora do bem-estar da sua populao, gostaria de investir maciamente em todos esses segmentos, mas a escassez de recursos obriga-o a fazer escolhas, dentre muitas, aquelas que o gestor pblico e sua equipe de colaboradores entendam como prioritrias. GOVERNO MUNICIPAL (Oramento Pblico) Vamos admitir que uma cidade de pequeno porte que possui uma receita de R$ 2.000.000,00 (dois milhes de reais) provenientes do ISS, IPTU e das Transferncias do Governo Federal. Elaborou o seguinte oramento, levando em conta sua limitao de recursos: Tabela 2 Sntese de um Oramento Municipal Hipottico Setores Distribuio da Porcentagem Beneficiados Verba (em reais) % Sade 400.000,00 20,0 Educao 700.000,00 35,0 Infraestrutura* 150.000,00 7,5 Transporte 30.000,00 1,5 Cultura e Turismo 20.000,00 1,0 Folha de pagamento 700.000,00 35,0 Total 2.000.000,00 100 * Inclui saneamento bsico, pavimentao, construo de pontes e viadutos.

INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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No exemplo oramentrio hipottico, considerando o limite da receita de R$ 2.000.000,00, e que todos os recursos esto sendo plenamente utilizados, ter que reduzir a verba de outro setor se o Prefeito decidir aplicar mais em obras de infraestrutura no ano seguinte. Portanto, poder comprometer gastos de incentivo a cultura, por exemplo. Neste caso ocorre um difcil dilema da escolha entre investir em obras estruturadoras que possam estimular o crescimento das empresas, gerando emprego e renda ou ampliar os programas culturais para tirar jovens da criminalidade. bom guardar consigo o seguinte pensamento: nada na Economia surge aleatoriamente, pois qualquer forma de produo, seja de um bem ou de um servio do setor pblico ou privado, implica sempre na ausncia de outro bem ou servio. Em relao mais especificamente ao setor pblico, ao constatarmos que o governo esta elaborando determinada obra com os recursos minguados, convm analisar cuidadosamente seus benefcios e procurar saber se esta verba poderia ser aplicada em outros setores que auferissem maiores benefcios populao. Essa fiscalizao deve ser feita pelos cidados, porquanto, a combinao eficiente dos recursos e sua alocao possibilitaro melhores condies de bem-estar. Em suma, ser considerado um bom gestor do oramento familiar, das empresas ou do setor pblico no aqueles que conseguem realizar tudo que impossvel diante da escassez dos recursos mas aqueles que realizam as melhores escolhas.

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2.3 Curvas de Possibilidade de Produo e o Custo de Oportunidade

Antes de entrarmos no estudo das curvas de possibilidade de produo e do custo de oportunidade, apresentaremos uma breve definio do que vm a ser os recursos de produo e o pleno emprego, que sero necessrios para um melhor aproveitamento deste tpico. Recursos de Produo o conjunto de fatores que, unidos, possibilitaro a produo de bens e servios. Esses fatores so: 1. Mo-de-Obra, isto , um segmento da populao utilizada para elaborar a produo. 2. Recursos de Capital, ou seja, as mquinas e equipamentos, instalaes e o prprio prdio onde sero elaborados os produtos. 3. Recursos Naturais e Matria-Prima. O recurso natural so jazidas, os cursos dos rios, a flora, ou seja, o material fornecido pela natureza, mas que ainda no foi explorado e a matria-prima so os recursos naturais aps a explorao ou os bens intermedirios. Pleno Emprego uma situao hipottica caracterizada pela plena utilizao dos recursos disponveis (mo-de-obra, capital e matria-prima), ou melhor, a inexistncia de capacidade ociosa na utilizao dos recursos. Dadas as definies de recursos de produo e da situao de pleno emprego, podemos dar prosseguimento ao estudo deste tpico. O problema da escassez nos levou ao dilema da necessidade de escolha. Agora iremos analisar, mais cuidadosamente, como funciona o mecanismo de escolha, mediante uma simples anlise grfica chamada de curva de possibilidades de produo. Vamos supor que um fazendeiro contrate os servios de um Especialista em Administrao de Produo e solicite desse profissional a elaborao de diversas combinaes de produes de dois bens agrcolas: Arroz e Feijo. A tabela abaixo mostra as possibilidades de produo, dada a escassez dos recursos e seu pleno emprego, na produo de dois bens: ARROZ e FEIJO.

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Tabela 3 Combinaes Possveis para Produo de Dois Bens POSSIBILIDADES DE PRODUO A B C D E QUANTIDADES (t) ARROZ FEIJO 35 0 30 15 20 30 10 40 0 45

Observa-se na tabela que o aumento da produo de feijo implica, necessariamente, na diminuio da produo de arroz e vice-versa. Para ilustrar ainda melhor essa constatao, vamos transportar os dados da tabela para um grfico que denominaremos de Curva de Possibilidades de Produo.

GRFICO 1

FEIJ O (t) (t) 4 5 4 0 3 0

CURVAS DE POSSIBILIDADE DE PRODUO

E D C Y

* PLENO EMPREGO

1 5

B X A 0 1 0 2 0 3 0 3 5 ARROZ (t)

No eixo dos x colocamos as quantidades do arroz e no eixo dos y as quantidades de feijo. importante salientar que, na curva de possibilidade de produo, admita-se que a economia esteja funcionando em pleno emprego, ou seja, os recursos necessrios produo de arroz e feijo (terra, sementes, fertilizantes, trabalhadores e as mquinas e equipamentos) esto no grau mximo de utilizao. Portanto, todos os pontosINTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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em cima da curva (A,B,C,D,E) representam o Pleno Emprego. Ao admitirmos essa difcil meta do pleno emprego, estamos na verdade, impondo um grande desafio ao Administrador dessa empresa, para que o mesmo consiga racionalizar ao mximo os recursos escassos, evitando os possveis desperdcios e a subutilizao dos insumos produtivos. O grfico 1 mostra as combinaes possveis de suas quantidades, dadas a escassez dos recursos e o seu pleno emprego, na produo de arroz e feijo. No ponto A, com a produo das 35 t de arroz, ser impossibilitada a produo de feijo. Mas, a partir do momento em que o mercado decide produzir outro produto feijo -, as quantidades so modificadas. Assim, no ponto B, com os recursos tambm destinados a produo de feijo, obteve-se a seguinte produo: 30 t de arroz e 15 t de feijo. No ponto C, utilizando as mesmas quantidades de recursos, 20 t de arroz e 30 t de feijo. No ponto D, 10 t de arroz e 40 t de feijo. No ponto E, com a produo das 45 t de feijo no ser possvel produzir arroz. Resumindo, a curva de possibilidades de produo indica a necessidade de escolher entre dois produtos. Havendo a plena utilizao dos recursos produtivos (pleno emprego), o aumento da quantidade de um produto implicar, consequentemente, na diminuio de outro. No caso do feijo e do arroz, a deciso de produzir mais arroz, provoca diminuio na quantidade do feijo, e vice-versa, um aumento na quantidade do feijo acarreta perdas na produo do arroz. Importante: Na prtica, nenhum pas alcana o Pleno Emprego, pois haver sempre uma parcela da populao desempregada, mesmo que voluntariamente, e mquinas e equipamentos podem estar sendo subutilizados. O sistema produtivo dos pases encontra-se aqum da fronteira mxima de produo. Porm, no impede aos agentes econmicos (empresrios, governos e consumidores) desejarem uma aproximao do Pleno Emprego. A Curva de Possibilidade de Produo desloca-se positivamente para direita (grfico abaixo) quando h um aumento no estoque dos recursos produtivos (mo-de-obra, matriaprima e capital) ou um avano tecnolgico que possibilita ganhos de produtividade s empresas. Tais acontecimentos possibilitam que ocorra a ampliao da produo de um bem sem reduzir do outro.

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FeijoDeslocamento da Curva de Possibilidades de produo: # Quando aumenta o estoque dos recursos produtivos e/ou # Avanos tecnolgicos. No grfico ao lado nota-se que foi possvel produzir mais arroz (de 20 para 30 ton) sem reduzir a quantidade de feijo.

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202.3.1 O clculo do Custo de Oportunidade

30

Arroz

Sabe-se que, com a escassez dos recursos, h sempre a necessidade de escolha, assim a opo em aumentar a quantidade de um bem ou servio implicar numa diminuio de outro bem ou servio. Essa parte que se deixa de produzir, em favor de outra, chama-se Custo de Oportunidade. Atravs da curva de possibilidade de produo, ser possvel, utilizando uma simples frmula, calcular o custo de oportunidade.

FRMULA:CO = Y X CO = Custo de Oportunidade Y = Variao da quantidade Y X = Variao da quantidade X

PERGUNTA 1: Analisando a rea hachurada do Grfico 1, qual o custo de oportunidade para produzir mais arroz? Ou seja, qual a quantidade de feijo que dever deixar de ser produzida para obter unidades a mais de arroz?

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SOLUO: CO = Y ... X CO = 15 = 1,5t 10

CONCLUSO: Para produzir 1 (uma) tonelada de arroz a mais, teremos que deixar de produzir 1,5 toneladas de feijo. Ou melhor, para produzir 1 tonelada de arroz o Custo de Oportunidade ser 1,5 toneladas de feijo.

PERGUNTA 2: Agora, continuando na rea hachurada do Grfico 1, suponhamos que a Economia esteja funcionado no ponto B, e se deseje produzir mais feijo passar para o ponto C -, qual o custo de oportunidade? Melhor, qual a quantidade de arroz que dever deixar de ser produzida para conseguir mais feijo? SOLUO: Neste caso, basta apenas reverter a frmula. CO = X ... Y CO = 10 = 0,66 t 15

CONCLUSO: Para cada tonelada de feijo que se produz a mais, deixa-se de produzir 0,66 t de arroz. Assim, para produzir 1 tonelada de feijo o Custo de Oportunidade ser o,66 tonelada de arroz. Importante: A Curva de Possibilidade de Produo tende a ser cncava porque demonstra que a persistncia em produzir cada vez mais um determinado bem, implicar em custos de oportunidades mais elevados (crescentes), pois estaremos deslocando recursos produtivos mais especficos de uma determinada atividade para outra, isso provocar uma perda de eficincia produtiva. Perceberemos esse fato com mais clareza no grfico 1, quando nele analisamos a passagem do ponto D (40 t de feijo e 10 t de arroz) para o ponto C (30 t de feijo e 20 t de arroz), o custo de oportunidade em produzir uma tonelada a mais de arroz exatamente uma tonelada de feijo. Porm, se houver a persistncia em produzir mais arroz (ponte E), o custo de oportunidade aumentar para 1,5 toneladas de feijo. Esse fato ocorre por que as mquinas e os equipamentos, a mo-de-obra e a matria-prima, especializadas na cultura do feijo tero que se adaptar ao cultivo do arroz e isso pode representar a perda da eficincia e, portanto, em custos de oportunidades crescentes.

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EXERCCIO HIPOTTICO Uma empresa do ramo agrcola possui em seu quadro de funcionrios exatamente 100 trabalhadores rurais, 50 (cinquenta) mquinas agrcolas (capital) e mais 1.000 hectares de terras cultivveis. Todos os recursos citados acima esto nas suas capacidades mximas de utilizao, no havendo ociosidade (Pleno Emprego). Essa empresa voltada para o setor agrcola tem condies de trabalhar na produo de dois produtos: arroz e/ou algodo. Com todos os recursos disponveis inicialmente empregados no cultivo do trigo, em 2008, a produo observada foi de 400 toneladas. Mas, em 2009, o administrador da fazenda, escolheu tambm dedicar-se produo de outro bem, o algodo. Mantendo-se os mesmos recursos, as produes foram s seguintes: 300 toneladas de trigo e 100 toneladas de algodo. Em 2010, com o crescimento da indstria de tecido do pas vizinho, objetivando ganhos com o comrcio externo, os empresrios dessa atividade produtiva escolheram em aumentar a produo de algodo que serve de matria-prima indstria de tecido com os recursos disponveis constantes, obteve-se as seguintes produes: o trigo caiu para 160 toneladas e o algodo aumentou para 200 toneladas. No ano de 2011, persistindo na mesma poltica de incentivo ao algodo, a produo foi para 300 toneladas, impossibilitando a produo do trigo.

QUESTES: A. Construa a curva de possibilidades de produo. B. Supondo que a empresa esteja no nvel de produo do ano de 2008, qual foi custo de oportunidade para conseguir produzir mais algodo? (Produo do ano de 2009). C. Supondo que a empresa esteja na combinao de produo do ano de 2010, qual o custo de oportunidade para produzir mais trigo, ou seja, voltar ao nvel de produo conseguido no ano de 2009?

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SOLUES: A. ANO 2008 2009 2010 2011 TRIGO (t) 400 300 160 0 ALGODO (t) 0 100 200 300

GRFICO 2PRODUO DE TRIG O (t)

40 0 30 0 16 0 10 0

2008 2009

2010

2011 0 10 0 20 0 30 0 PRODUO DE ALGODO (t)

B. Utilizando a frmula do custo de oportunidade, teremos: CO = Y ... X CO = 100 = 1 t 100

Para cada tonelada de algodo que o pas queira aumentar, o Custo de Oportunidade ser 1 t de trigo, dessa forma, para os agricultores produzirem 100 t de algodo, tero que abdicar da produo de 100 t de trigo. C. Inverte-se a frmula: CO = X ... Y CO = 100 = 0,72 t 140

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Para cada tonelada de trigo a mais, a empresa ter um Custo de Oportunidade de 0,72 t de algodo, assim, para o pas produzir 140 t de trigo, reduzir, necessariamente, em 100 t a produo de algodo.

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2.4 Outros Grandes Desafios Antes de encerramos este captulo, estudaremos outros desafios enfrentados pela humanidade. No tocante a problemtica da escassez, necessrio escolher, dentre muitas, a melhor opo para utilizao dos recursos disponveis, tentando elevar o nvel de bem-estar dos integrantes da sociedade. A busca do bem-estar suscita dvidas sobre quais os caminhos que devem ser seguidos para atingi-lo. Em qualquer pas, independente do grau de desenvolvimento, os desejos desmedidos do homem tornam os bens sempre escassos e insuficientes. Porem, esse a questo da escassez conduz a trs grandes desafios que qualquer sociedade ter que enfrent-los: 1. O que ser produzido e em que quantidade? 2. Como iremos executar a produo? 3. Para quem ser distribuda? 1. O que ser produzido e em que quantidade? Como j verificamos a opo em aumentar a quantidade de um bem e servio, implicar a reduo de outros bens e servios. Assim, percebemos que a questo O Que e Quanto Produzir ser um problema econmico, onde a preocupao com a eficincia produtiva, ou seja, com os recursos disponveis optar quais os produtos devem ser produzidos e em que quantidades. Espera-se que os bens e servios escolhidos para a produo e as quantidades coincidam com o interesse dos consumidores, evitando assim o desperdcio dos recursos produtivos. 2. Como iremos executar a produo? Quais as tcnicas que sero utilizadas para dinamizar a produo? A soluo ser decidir entre os melhores mecanismos tecnolgicos, que possibilitaro um incremento de produtividade. A tecnologia visa racionalizar cada item que compem os recursos produtivos, com vistas a dinamizar e qualificar a mo-de-obra, as mquinas e equipamentos e o uso mais eficiente da matria prima. 3. Para quem ser distribuda a produo? Esta a preocupao social. Aps decidir o que produzir e a quantidade a ser produzida e determinar como se processar a produo, a pergunta final insere a questo social: Para onde ser escoada a produo? A priori, a distribuio mais equilibrada para os membros da sociedade, proporcionar um nvel maior de bem-estar social. Caso contrrio, a m distribuio, onde apenas uma pequena parcela da sociedade ser beneficiada, trar srios problemas, inclusive a misria, gerando tenses sociais capazes de aumentar os ndices de criminalidade. Na tentativa de encontrar solues para os problemas supracitados, estudiosos, em pocas e culturas diferentes elaboraram conceitos ideolgicos diversos, procurando a melhor maneira de resolver a contento as questes econmicas, tecnolgicas e sociais. As diferenas ideolgicas dividiram o mundo at um passado recente, basicamente, em dois sistemas: o capitalista e o socialista.INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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O sistema capitalista argumenta que a livre iniciativa do indivduo e o mercado agindo livremente so capazes, por si ss, de ajustarem automaticamente toda a economia. O Estado no pode interferir, os mecanismos mercadolgicos seriam suficientes para determinar o que produzir e em que quantidade, como e para quem produzir. Paradoxalmente, surgiu o sistema socialista, que coloca o dilema o que produzir e em que quantidade, como e para quem produzir, nas mos do Estado. Assim, o socialismo, em defesa da Economia planificada onde o Estado coordena todas as aes mercadolgicas visa produzir e promover uma distribuio forada e igualitria para todos os participantes da sociedade, tentando evitar uma possvel acumulao de riquezas nas mos de uma minoria. Acontecimentos contemporneos, nos mostram que o capitalismo, atravs das livres foras do mercado, impossibilita uma distribuio dos bens e servios mais eqitativa. As imperfeies dos mercados, que geraram cartis e monoplios, prejudicaram o bom funcionamento do sistema e o social deixa a desejar, a distribuio de renda desigual uma grande concentrao de riqueza destinada a uma pequena parcela da populao como acontece, principalmente nos pases capitalistas subdesenvolvidos. Mudanas que ocorreram durante as dcadas de 80 e 90 na Rssia e no leste europeu revelam que o Estado, sozinho, no capaz de solucionar os problemas econmicos. As metas o que produzir e em que quantidade, como e para quem produzir, no foram plenamente alcanadas. Apesar dos avanos sociais, e uma distribuio dos bens e servios mais equilibrada, a economia no atingiu nvel desejado, pois o bloqueio ao comrcio internacional efetuado pelos pases ocidentais (capitalistas) sustou o intercmbio de processos produtivos modernos, atrasando economicamente naes do bloco socialista. A perestroika, implantada na Rssia por Mikhail Gorbachev, objetivou a reestruturao econmica do pas. Os problemas econmicos como o dficit das empresas pblicas, a baixa produtividade, a crise no setor agrcola e dficits sucessveis na balana comercial levaram a uma profunda crise, obrigando-os a comercializar com os pases capitalistas. fato inconteste que poucas naes conseguiram adotar um sistema econmico ideal, sem falhas. Os problemas sociais acentuados pela dinmica capitalista dos pases principalmente da periferia e os econmicos do sistema socialista colocam o homem diante de grandes desafios: encontrar novos modelos que consigam harmonizar o desenvolvimento econmico com o social e respeito aos aspectos ambientais.

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3. COMO FUNCIONA O MERCADO? fcil compreender a definio de mercado. Mas, para entend-lo melhor, devemos recorrer ao passado. Voltando pr-histria, quando os homens das cavernas procuravam atender, sobremodo, suas necessidades bsicas. A sua satisfao era alcanada quando conseguia o alimento, a gua e um local onde proteger-se do frio, da chuva e de possveis ataques de animais carnvoros utilizando as cavernas rochosas. A busca em atender, apenas, as necessidades bsicas caracteriza o que os economistas chamam de Economia de Subsistncia. Com a evoluo do comportamento humano percebeu-se que cada um possua determinada aptido. Uns tinham facilidades em construir instrumentos para caa, alguns eram caadores, enquanto outros ornamentavam as cavernas com suas pinturas rupestres. Aos poucos, o homem procurou melhorar sua condio. O caador abatia os animais necessrios a sua alimentao e aproveitava a pele como casaco, trocando as sobras com o construtor de lanas, que por sua vez preparava lanas para uso prprio e outras tantas para trocar por carne e pele dos animais abatidos pelo caador. Essa relao de trocas conhecida como Economia de escambo, que constitui a base das atividades de mercado. Etapa pela qual o homem passa da Economia de subsistncia para a Economia de mercado, caracterizada pela formao de um excedente de produo. Assim, produzia-se para uso prprio e formava-se um excedente, objetivando as trocas. Essa simples atitude trocar os excedentes dos bens e servios que no se tinha condio de produzir deu origem aos mercados. Assim, podemos dizer que o mercado atual, mantendo sua acepo tradicional, o local onde se processam as compras e vendas de mercadorias e servios. Os vendedores representam a oferta de bens e servios, e os compradores a demanda por bens e servios. Neste sentido, a interao entre a demanda e a oferta gera os mercados que, por sua vez, sero orientados pelos preos. A quantidade ofertada aumentar se houver um aumento nos preos dos bens e servios, j que os vendedores buscam maior margem de lucro. A quantidade demandada diminuir com a elevao dos preos. Os compradores estaro sempre dispostos a aumentar suas quantidades demandadas, principalmente com a queda dos preos, pois possibilitar um maior poder de compra. Nos prximos tpicos, analisaremos, sucessivamente, o comportamento dos compradores a demanda e o comportamento dos produtores a oferta em relao variao dos preos em um mercado de concorrncia.

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3.1 Mercado de Ampla Concorrncia O conceito de mercado de ampla concorrncia foi veiculado pelos economistas clssicos, que imaginavam um mercado to perfeito que era capaz de regular toda a economia e atender eficazmente os interesses dos vendedores e compradores. Vamos supor um mercado de ampla concorrncia: uma cidade cujo comrcio baseado na venda de gua de coco verde. Existe uma grande quantidade de vendedores, todos de pequeno porte, e outra grande quantidade de compradores. Nenhum dos agentes tem a possibilidade de interferir nos preos, devido homogeneidade do produto e acirrada competio. Caso um dos comerciantes resolva aumentar os preos ser automaticamente penalizado pela lei natural do mercado, pois deixar de vender. Caso contrrio, a queda dos preos, aumentaria a demanda, impossibilitando o atendimento a todos os compradores e, tambm, a receita gerada no seria suficiente para pagar as despesas de comercializao do produto. Quem desejasse vender coco, poderia ingressar no mercado, sem nenhuma dificuldade ou barreira, ou dele sair a qualquer momento, caso fosse sua vontade, pois o volume de investimento (recursos financeiros) para abrir um negcio neste tipo de mercado extremamente reduzido. Por serem produtos semelhantes, no existe o estmulo artificial atravs da propaganda. Nenhum comprador ser induzido. A evoluo da concepo capitalista contradiz com o mercado de ampla concorrncia. Neste mercado, no se admite a formao de grandes grupos econmicos, porque sua fora poderia domin-lo. No entanto, o capitalismo desenvolveu-se atravs da concentrao de riquezas nas mos de uma minoria, formando empresas poderosas capazes de manipular, de uma maneira ou de outra, os mercados e, conseqentemente, impor preos que possam auferir maiores lucros. Essas so as chamadas imperfeies de mercado, onde foram formados os oligoplios e monoplios. No tpico 3.3, abordaremos, com mais detalhes, as principais caractersticas das imperfeies dos mercados. A compreenso do mercado de ampla concorrncia servir para a anlise mais cuidadosa da curva de demanda e da curva de oferta, que veremos a seguir.

3.2 A Demanda e a Oferta Utilizaremos o instinto humano para assimilar o funcionamento dessas duas foras antagnicas. Instintivamente, a quantidade demandada sempre ser estimulada com a queda dos preos e retrada com o seu aumento. Enquanto a quantidade ofertada sofrer aumentos caso haja uma elevao nos preos e desestimulada com a sua diminuio. Percebemos at agora, em nossa anlise sobre o mercado, uma nica varivel capaz de modificar os desejos dos produtores e consumidores em aumentar ou diminuir as suas quantidades o preo. As demais variveis, no lado da Demanda: a preferncia, a sua necessidade, os preos de produtos similares etc.; e o lado da Oferta: o fator tecnolgico, o

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custo de produo etc., no sero considerados neste estudo preliminar da Demanda e da Oferta. Como as demais variveis poderiam interferir nas quantidades demandadas e ofertadas? A diminuio dos preos, naturalmente, provocar um aumento na quantidade demandada. Mas, caso o comprador esteja satisfeito com o atual nvel de consumo, no desejando adquirir maiores unidades desse bem, certamente, a queda dos preos no ir estimular as compras. J na Oferta, uma diminuio dos preos, obviamente, inibir produo. E se os valores dos recursos necessrios produo sofrerem uma queda de preos? Isto ocorrendo, a oferta desse bem no ser comprometida caso o preo baixe, devido ao barateamento do custo de produo. A utilizao de uma nica varivel e permanecendo as demais constantes exemplo cabal da condio ceteris paribus. Transportaremos para o pargrafo o comportamento dos compradores e vendedores, em relao s variaes dos preos, ceteris paribus.

3.2.1 A tabela e o grfico da Demanda

PREOS (R$) 2,00 4,00 5,00 6,00 8,00

QUANTIDADES DEMANDADAS (kg) 80 60 50 40 20

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GRFICO 3PREOS (R$) 8 6 5 4 2

20

40

50

60

80

QUANTIDADES (kg)

O grfico est representando a Demanda por um bem ou servio qualquer que um consumidor deseja e est disposto a obter por um determinado preo em um dado momento. Assim, quando o preo R$ 2,00 a quantidade demandada 80 kg. Caso ocorra um aumento dos preos para R$ 8,00 a quantidade demandada cair para 20 kg, ceteris paribus. Neste sentido, o preo e quantidade so inversamente proporcionais, ou seja, a elevao dos preos inibe a quantidade demandada e a queda dos preos aumenta a quantidade demandada. Por este motivo o grfico tem uma inclinao negativa ou decrescente.

3.2.2

A tabela e o grfico da Oferta

PREOS (R$) 2,00 4,00 5,00 6,00 8,00

QUANTIDADES OFERTADAS (kg) 20 40 50 60 80

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GRFICO 4PREOS (R$)

8 6 5 4 2

20

40

50

60

80 QUANTIDADES (kg)

A Oferta representa o comportamento do produtor, sendo a quantidade de um bem ou servio qualquer que est disposto a ofertar de acordo com o preo em um dado momento. Observando o grfico, ao preo mais baixo, R$ 2,00, o produtor s estar disposto a ofertar 20 kg. Ocorrendo um aumento de preos para R$ 8,00, a quantidade ofertada tambm aumentar, para 80 kg, ceteris paribus. Podemos concluir que preos e as quantidades ofertadas so diretamente proporcionais, h uma reao no mesmo sentido entre as duas foras. Um aumento dos preos aumenta a quantidade ofertada e uma diminuio dos preos diminui a quantidade ofertada. O grfico da oferta possui uma inclinao crescente ou positiva. O preo mais baixo pode desestimular a produo, pois no ser suficiente para arcar com todos os custos inerentes fabricao de um determinado bem. Muitos empresrios optaro em reduzir sua produo ou mesmo sair do mercado, deixando de ofertar seu produto, numa perspectiva da elevao dos preos. J os preos mais altos tende a atrair os produtores devido expectativa em obter maiores lucros.

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3.2.3

A formao do mercado

O encontro entre a Oferta e a Demanda Vimos, nos dois ltimos tpicos, como se comportam, isoladamente, a Demanda e a Oferta em relao s variaes dos preos. Agora, perceberemos que o encontro entre as duas foras formam os mercados. Perece impossvel a interao da Demanda com a Oferta. De fato, a priori, consumidores e produtores trabalham em sentidos opostos em relao s mudanas nos preos. Mas, consoante o ponto de vista de um mercado livre e com ampla concorrncia, um preo de equilbrio ser atingido naturalmente, possibilitando destarte a igualdade entre as quantidades demandadas e as quantidades ofertadas. Vejamos a tabela e o grfico da unio entre a Demanda e a Oferta, onde h um destaque para a formao de um ponto de equilbrio, que permanecer estvel, satisfazendo tanto o produtor quanto o consumidor. PREOS (R$) 2,00 4,00 5,00 6,00 8,00 QUANTIDADES QUANTIDADES DEMANDADAS OFERTADAS (kg) (kg) 80 20 60 40 equilbrio 50 equilbrio 50 40 60 20 80

GRFICO 5INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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PREOS (R$)

OFERTA

8EXCESSO

6 5 4 2ESCASSEZ

PONTO DE EQULBRIO

DEMANDA 20 40 50 60 80 QUANTIDADES (kg)

O pressuposto bsico na formao de um mercado o confronto entre a oferta e a demanda e, em um mercado de ampla concorrncia, o aparecimento do ponto de equilbrio estvel. Vejamos por qu: Ao preo de R$5,00, as quantidades demandadas e ofertadas sero as mesmas 50 kg. Assim, tudo que for produzido ser consumido. Mas, o que acontecer com este mercado caso haja variaes nos preos? Supondo um aumento para R$ 8,00: a quantidade demandada ser de 20 kg e a ofertada de 80 kg. Observa-se que, com o aumento dos preos, a produo ficou maior que o consumo, acarretando excesso de bens ou servios. O estoque obrigar os produtores a baixarem seus preos, para a produo ser escoada, voltando ao preo e quantidade de equilbrio. Ao contrrio, a diminuio dos preos, abaixo dos de equilbrio, provocar escassez de bens e servios. Por exemplo, ao preo de R$ 2,00, a quantidade demandada ser 80 kg e a ofertada 20 kg. Com a quantidade demandada maior que a ofertada, haver grande procura pelos consumidores por aquele produto escasso, pressionando os preos para cima, retornando ao preo e a quantidade de equilbrio.

SIMPLIFICANDO

INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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Grfico da Demanda Preo Preo Quantidade Inversamente proporcionais (Inclinao negativa) Quantidade Grfico da Oferta Preo Preo Quantidade Diretamente proporcionais (Inclinao positiva) Quantidade Interao entre a Demanda e a Oferta Foramo do Mercado Preo de equilbrio Quantidade ofertada = Quantidade demandada Preo acima do equilbrio Quantidade ofertada > Quantidade demandada = Excesso Preo abaixo do equilbrio Quantidade ofertada < Quantidade demandada = Escassez

3.2.4

A Variao Percentual da Quantidade Demandada em Relao Variao Percentual dos Preos. Elasticidade-Preo da Demanda

J do nosso conhecimento que a progresso dos preos resulta na deteriorao nas quantidades demandadas. Mas ser que a majorao dos preos causa uma idntica reao nas quantidade? Ser, por exemplo, que uma diminuio da 10% nos preos ocasiona uma subida de 10% nas quantidades? Nem sempre. Dependendo do produto avaliado, as variaes percentuais dos preos e das quantidades podem ser divergentes. So essas modificaes percentuais que chamaremos de Elasticidade. Ento, a Elasticidade nos d aINTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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capacidade de avaliar como a Demanda por um bem ou servio comportou-se com a alterao dos preos. Uma pequena transformao nos preos pode ocasionar grande variao na quantidade demandada. Isto ocorrendo, diremos que este bem ou servio Elstico. Contrariamente, uma grande variao nos preos ocasionando uma pequena modificao nas quantidades, diremos que este bem ou servio Inelstico. Ou ainda, a transformao percentual dos preos sendo equivalente s mudanas percentual das quantidades, falaremos em bem ou servio Unitrio. Para calcular a Elasticidade-preo da Demanda, utilizaremos um simples clculo. Vejamos a frmula: Ed = Q% ; sendo : Ed = Elasticidade Preo Demanda P% Q% = Variao percentual das quantidades P% = Variao percentual dos preos A frmula representa a diviso entre a variao percentual da quantidade demandada e a variao percentual dos preos, cujo resultado nos dar o coeficiente de elasticidade. O coeficiente maior que 1: O coeficiente menor que 1: O coeficiente igual a 1: Elstico Inelstico Unitrio (Ed > 1) (Ed < 1) (Ed = 1)

Bens ou Servios Elstico

INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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GRFICO 6PREO S (R$) 9,0 0 A 6,0 0 P% 3,0 0 B

Ed = Q% P% Ed = 200% 50% Ed = 4 Ed > 1 Elstico

10 0

300

30 600 0 Q%

900

90 110 0 QUANTIDADE 0 S (kg)

Podemos ressaltar que os dois pontos (A e B) do grfico representam a Demanda por um bem ou servio Elstico porque o coeficiente maior que 1. Mas, atravs da simples visualizao grfica, possvel notar que a variao da quantidade demandada foi maior que a variao dos preos. Concluso: Quanto mais elstica for a demanda por um bem ou um servio, entende-se que menor a sua utilidade. Os bens que possuem uma elevada elasticidade so aqueles que podem ser substitudos facilmente por outros bens. Portanto, os empresrios que ofertam bens e servios elsticos tero prejuzos ao aumentarem os preos, pois sua receita ser comprometida diante da queda expressiva nas quantidades demandadas. De uma forma geral, os produtos que pertencem aos mercados de ampla concorrncia so bastante elsticos.

Bens ou Servios Inelsticos

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Grfico 7

PREO 35,0 S 0 (R$)30,0

25,0 9,00 0 20,0 0 6,00 15,0 0 10,0 3,00 0 5,0 0 0,0 0

0

D C

Ed = Q% P% Ed = 50% 66,6% Ed 0,75 Ed < 1 Inelstico

P%

0

300 20

600 40

0

0

900 60 0 Q%

80

100

0 QUANTIDADE 0 S (kg)

O resultado do coeficiente de elasticidade foi menor que 1, portanto os dois pontos (D e C) representam uma demanda inelstica. Atravs do grfico, percebe-se nitidamente que a variao da quantidade demandada foi menor que a variao dos preos. Concluso: possvel afirmar que uma demanda inelstica representa produtos necessrios, de poucos substitutos e de muita utilidade sociedade. Geralmente produtos inelsticos fazem parte dos mercados menos competitivos, pois a deciso em ampliar os preos pode redundar em maiores lucros aos produtores.

Bens ou Servios Unitrios GRFICO 8INTRODUO ECONOMIA Autor: Uranilson Carvalho (Professor da FBV)

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PREO 35,0 S 0

30,0 (R$)9,00 0 25,0 0 6,00 20,0 0 15,0 0 10,0 0 5,0 3,00 0 0,0 0E F

Ed =

Ed =

P%

Ed = Ed =0300 20

0

600 900 40 60 0 0 Q%

80

100

0 QUANTIDADE 0 S (kg)

Quando o clculo do coeficiente da elasticidade for igual a 1, a demanda por este bem ou servio ser unitria, ou seja, a modificao percentual das quantidades foram as mesmas dos preos. Observao 1: Como j tivemos oportunidade de conferir, uma queda nos preos (ao negativa) provoca um aumento nas quantidades (reao positiva) e vice-versa, portanto o coeficiente de elasticidade-preo da demanda seria negativo. Mas, para a nossa anlise, o sinal ser desconsiderado. Observao 2: Demanda Elstica : A curva tende a ficar paralela com o eixo dos x. Demanda Inelstica : A curva tende a ficar perpendicular ao eixo dos x.

3.2.5

A Variao Percentual da Quantidade Ofertada em Relao Variao Percentual dos Preos.

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Elasticidade-Preo da Oferta A idia a mesma da elasticidade da Demanda. A diferena recai sobre as variveis que determinam o seu grau. A Oferta demonstra como reagem os produtores de bens e servios diante das alteraes dos preos. importante frisar que os fatores de produo (mo-de-obra, matria prima, mquinas e equipamentos) so imprescindveis a esta anlise. A frmula para calcular o coeficiente da elasticidade da Oferta a mesma utilizada na Demanda. Frmula: Eo = Q% ; sendo : Ed = Elasticidade Preo da Oferta P% Q% = Variao percentual da quantidade ofertada P% = Variao percentual do preo Lembrando que: O coeficiente maior que 1: Elstico (Eo > 1) O coeficiente menor que 1: Inelstico (Eo < 1) O coeficiente igual a 1: Unitrio (Eo = 1)

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Bens e Servios Elsticos GRFICO 9PRE 35,0 O (R$)

0

9,00

P %

25,0 0 20,0 0 6,00 15,0 0 10,0 0 5,0 0 0,0 0

Eo = Q% P% Eo = 200% 100% Eo = 2 Eo > 1 Elstico

Q %

0

40 300 0

60 0

900 80

0QUANTIDADES (kg)

100 0

A oferta desse bem ou servio, no grfico acima, Elstica. Significa dizer: um pequeno aumento nos preos estimula o produtor a ofertar uma quantidade mais que proporcional ao aumento verificado nesta varivel. Os fatores de produo (mo-de-obra, matria-prima, mquinas e equipamentos) so importantssimos para determinarem o grau de elasticidade. Quanto maior a disponibilidade 5,0 desses recursos, maior ser a elasticidade-preo da oferta.0 0,0 Espera-se0 que,0 com a 20 elevao dos preos, 60 quantidades ofertadas mudem as 80 progressivamente. No entanto,0 se o produtor no 0 estiver preparado, com recursos 0

produtivos disponveis, possivelmente sua produo no corresponder ao aumento observado aos nveis dos preos, estabelecendo uma oferta Inelstica, que exemplificaremos a seguir:

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Bens ou Servios Inelsticos GRFICO 1035,0 PRE 0 O(R$)

P %

25,0 0 9,00 20,0 0 15,0 6,00 0 10,0 0 5,0 3,00 0 0,0 0

Eo = Q% P% Eo = 100% 200% Eo = 0,5 Eo < 1 Inelstico

0

300 40 0 Q%

600

QUANTIDADES (kg)

Quando o resultado do coeficiente menor que 1, a oferta desse bem ou servio Inelstica. Neste caso, o aumento percentual nos preos no estimulou um aumento significativo nas quantidades ofertadas. O produtor estava despreparado para esta brusca subida dos preos, em conseqncia do modesto estoque de recursos produtivos, tornando a reao das quantidades ofertadas menores que as dos preos. Concluso: Em sntese, a oferta elstica ou inelstica depender da disponibilidade dos recursos produtivos. Quanto maior o estoque desses recursos, maior a elasticidade e quanto menor o estoque, mais inelstica se tornar a curva da oferta. Na prtica, o comportamento dos empresrios tende a compartilhar com o conceito da oferta inelstica, pois esses comumente no estocam recursos produtivos e, principalmente, sua deciso em investir mais na produo levar tempo. Em princpio, os empresrios iro preferir obter uma maior margem de lucro, j garantida com a elevao dos preos.

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Bens ou Servios Unitrios GRFICO 11PRE 35,0 O (R$)

0

9,00 25,0

P %

0 20,0 0 6,00 15,0 0 10,0 0 3,00 5,0 0 0,0 0

Eo = Q% P% Eo = 200% 200% Eo = 1 Eo = 1 Unitrio

0

40 0

360 6 1000 0 Q %

809 0QUANTIDADES (kg)

Oferta Unitria aquela em que a modificao percentual dos preos e a modificao percentual das quantidades so simtricas.

Observao 3: Oferta Elstica: A curva tende a ficar paralela ao eixo dos x. Oferta Inelstica: A curva tende a ficar perpendicular ao eixo dos x. Observao 4: Tanto na Demanda quanto na Oferta pode haver coeficientes de elasticidade assimtricos ao longo de suas curvas.

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3.3 As Imperfeies dos Mercados Durante nosso estudo, relatamos que o encontro entre a oferta e a demanda gera o mercado e, conseqentemente, o preo ideal, tanto para os vendedores como para os compradores, fato que ocorrer naturalmente, desde que no haja a interferncia do Estado na economia, sendo o mercado livre. Lembramos que a teoria supracitada s possvel manifestar-se nos mercados de ampla concorrncia. Uma vez que a lei natural ou a mo-invisvel denominaes utilizadas para representar as foras que iriam atuar nos mercados no foram suficientes para manter o equilbrio e promover o desenvolvimento econmico contnuo, superestimado por seus idealizadores, o livre mercado gerou muitos problemas quanto ao seu funcionamento. O primeiro deles concerne ao prprio homem que, na busca por maiores ganhos tenta eliminar e na maioria das vezes com xito os possveis concorrentes formando com isso os mercados de oligoplios, monoplios e de concorrncia monopolstica. O segundo deles mostra que os mercados, por si ss, no so capazes de solucionar os problemas sociais gerados pelo desemprego da mo-de-obra.

3.3.1 Mercado de Oligoplios representado por um nmero reduzido de grandes empresas, capazes de dominar o mercado e conseqentemente, determinar nveis de preos que lhes proporcionem margens crescentes de lucro. Espera-se que a queda das vendas faa os preos despencarem. No entanto, nos mercados formados por oligoplios ocorre geralmente o contrrio: h uma tendncia de subida de preos, objetivando a manuteno das margens de lucro. So exemplos de oligoplios no Brasil: as indstrias de cimento e as companhias de transportes areos; e no mundo: as indstrias automobilsticas e as de computadores. O ingresso de novas empresas neste tipo de mercado extremamente dificultoso, pois percebendo ameaas de alguma concorrente, fixam seus preos, temporariamente, muito abaixo aos do mercado, no intuito de eliminar as empresas remanescentes. Essa ao de colocar preos de custo nos bens e servios para desestruturar a concorrncia conhecida como Dumping. As empresas, nos mercados oligopolizados, podem entrar em acordo nos preos, para impossibilitar o seu aviltamento. A unio das empresas para determinarem preos elevados e nicos conhecida como Cartel.

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3.3.2 Mercado de Monoplios O monoplio o domnio de todo o mercado por uma nica empresa que oferta um produto sem similares. O monoplio o oposto de um mercado de ampla concorrncia. Se levssemos a definio de monoplio ao p da letra, certamente no teramos condies de exemplific-lo. A priori, necessrio a produo de um bem ou servio sem substitutos. Na realidade, sero considerados monoplios as grandes empresas que dominam determinadas reas atravs da formao de cartis ou empresas estatais que tm exclusividade na prestao de determinados servios, tais como: extrao de petrleo.

3.3.3 Concorrncia Monopolstica A concorrncia monopolstica parece-nos aglutinar dois tipos antagnicos de mercados:o de ampla concorrncia e o monoplio. Na verdade, a concorrncia monopolstica possui traos que permeiam esses dois mercados, tornando-a a mais utilizada na prtica. considerada concorrncia monopolstica o mercado onde se encontra um grande nmero de empresas de mdio porte, que produzem ou comercializam o mesmo bem, porm sem serem substitutos perfeitos. Dentro deste mercado, as empresas procuram diferenciar seu produto atravs da marca, embalagem, apresentao, alguns itens da composio etc, utilizando a propaganda para estabelecer um vnculo com determinado perfil de consumidor. So exemplos de produtos que fazem parte deste mercado: padarias, restaurantes, pousadas e hotis, farmcias dentre outros.

3.4 O Estado e o Mercado No de hoje que existe a polmica entre essas duas faces ideolgicas, questionando qual das duas deve assumir o papel principal na conduo das aes necessrias a manter a solidez de uma nao. A dicotomia Estado versus Mercado vem rendendo modelos e mais modelos econmicos, cada qual com caractersticas prprias, tentando empregar o melhor mtodo para administrar os recursos escassos e promover o bem-estar da sociedade. A aceitao da insero ou no do Estado no planejamento da vida econmica foi modificada de perodo em perodo: o Mercantilismo, que predominou nos sculos XVI e XVIII, tinha como funo principal a explorao de metais preciosos conseguidos em colnias descobertas pelas grandes navegaes. Naquela poca, a interveno do Estado era

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extremamente necessria. A centralizao do poder serviria para regular o comrcio exterior, criando leis que beneficiassem a burguesia comercial. Com os ganhos obtidos no mercantilismo, atravs da acumulao de metais preciosos, surgiria uma nova classe dominante: a capitalista. Essa nova classe organizou a chamada Revoluo Industrial, cujo respaldo terico seria dado pela escola clssica. A tnica dessa nova sociedade seria o liberalismo. No admitia, de forma alguma, o intervencionismo estatal; o mercado devia agir livremente. A Economia seria regulada pela Mo-Invisvel, encontrando espontaneamente seu equilbrio e o prprio desenvolvimento. Mas, em 1929, a conhecida Grande Depresso (desequilbrio econmico iniciado nos Estados Unidos e, depois, espalhado por toda a Europa) mostrou as falhas do livre mercado. A regulagem automtica da Economia no ocorreu. Problemas como: excesso de produo, falncias de indstrias e bancos, a crise no setor agrcola e o altssimo ndice de desemprego contriburam para o enfraquecimento da concepo liberal. A depresso deu flego para o surgimento de um novo modelo econmico, baseado nos postulados de John M. Keynes (1883 - 1946), o Keynesianismo. A interveno do Estado volta a ser necessria. O governo, atravs dos financiamentos e da reduo da taxa de juros, propiciou o aquecimento da Economia, tornando-se o motor propulsor do desenvolvimento. No final do nosso sculo, a poltica econmica volta a basear-se no mercado, tornando-a incentivadora do desenvolvimento econmico.

FASES Mercantilismo Revoluo Industrial Dcada de 30 Final do sculo XX

ESTIMULADOR DA ECONOMIA Estado Mercado Estado Mercado

A poltica neoliberal rotulao dada aos economistas defensores da utilizao dos mecanismos mercadolgicos para o crescimento da Economia surge, atualmente, como a soluo para os pases subdesenvolvidos equacionarem as distores econmicas e sociais. Essa poltica foi sugestionada por naes consideradas ricas, e consiste, basicamente, na aplicao de trs metas a citar: 1. Diminuio dos gastos pblicos, ou seja, promover o enxugamento do Estado atravs da reduo dos investimentos e o corte na folha de pagamento. 2. Poltica de juros altos, para eliminar o excesso de liquidez, ou seja, diminuir a quantidade de dinheiro no mercado, reduzindo, conseqentemente, a demanda por bens e servios e, tambm, estimular o ingresso de dlares especulativos, que servem de lastro (alicerce) s moedas em circulao, principalmente, de alguns pases da Amrica Latina,

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inclusive o Brasil. Desestimula os investimentos, endividando parte dos empresrios, agricultores e pessoas fsicas, colocando a Economia desses pases em perigo eminente de recesso. 3. , como ltima meta, as vendas de empresas estatais iniciativa privada, processo conhecido como privatizaes. Todas essas medidas servem para manter o controle inflacionrio e o enfraquecimento do Estado, ampliando o poderio econmico das entidades privadas, no intuito de estruturar os pases subdesenvolvidos para o processo de globalizao da economia (ler tpico 8.6), que ser a utilizao do mundo como mercado unificado. As medidas extremistas so sempre preocupantes e do margem para dvidas quanto ao futuro. Ser que o mercado ter condies de arcar com a responsabilidade de impulsionar e manter a sustentabilidade das economias dos pases em desenvolvimento? E o desemprego? Certamente, a excluso do Estado poder trazer srias conseqncias. No podemos confundir reorganizao administrativa do Estado com o seu desmonte. A eficincia econmica no retrata eficincia social. Mais do que nunca, haver a necessidade dos governos mesmo que enfraquecidos economicamente viabilizarem aes sociais compensatrias, com a colaborao das prprias empresas, capazes de minimizar as tenses sociais que tendero a se agravar, em conseqncia do desmoronamento das instituies governamentais.

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4. ENTENDENDO A PRODUO Quando falamos em produo, vem mente a fabricao de um bem material concreto que servir para o consumo direto da populao. Se nos restringirmos a este conceito, estaremos incidindo em grave erro, pois prestar um servio tambm produzir: a aula de um professor, o trabalho de um cabeleireiro, as tarefas executadas por uma empregada domstica, as atividades dos vendedores, a consulta de um mdico, a arte de um msico etc., so exemplos cabais de produo, portanto fazem parte do sistema produtivo. Nem sempre a produo final de um bem ou servio servir para satisfazer os desejos de consumo da sociedade, uma vez que parte dela ser aproveitada para complementar a produo de outros bens e servios. O sistema produtivo constitudo por um conjunto de recursos imprescindveis produo. So eles : mo-de-obra; capital (mquinas e equipamentos); recursos naturais e matria-prima; processo tecnolgico; dinamismo empresarial. Assim, gerar bens e servios, mediante a combinao eficiente dos recursos de produo citados acima, resultar na produo, que ser destinada para o consumo da populao ou para realimentar o sistema produtivo. O sistema produtivo composto pelos itens abaixo definidos: Mo-de-obra - o trabalho humano, maias especificamente, a parcela da populao que prestar seus servios ao sistema produtivo em troca de remunerao (salrio) que, posteriormente, ser utilizada, integral ou parcialmente, na aquisio dos bens e servios produzidos. Capital - So as mquinas, os equipamentos, as instalaes e os prprios prdios onde ser executada a produo. Portanto, capital so os instrumentos utilizados pela mode-obra para realizar suas tarefas. No mbito governamental, os recursos de capital consistem em: ferrovias, hidrovias, hidreltricas, estradas etc. que permitem medir o grau de desenvolvimento de um pas, pois quanto maior for a disponibilidade desses recursos, maior ser a possibilidade de desenvolvimento deste pas. Recursos Naturais e matria-prima - Os recursos naturais representam os produtos encontrados na natureza, mas que no foram ainda explorados: jazidas, cursos dgua, a terra, a fauna e a flora. A matria-prima so os recursos naturais depois de

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explorados ou produtos intermedirios que retornaram ao sistema produtivo para serem aproveitados na fabricao de outros produtos. Processo tecnolgico - Sua funo racionalizar o uso do capital e aprimorar a qualidade da mo-de-obra, com vistas a obter ganhos de produtividade. Dinamismo empresarial - o agente empreendedor, sua capacidade de inovar e de aprender continuamente determinam o futuro do sistema produtivo. Representa a oferta de bens e servios. Unidades de produo: as empresas, indstrias, fbricas, siderrgicas, fazendas ..., o local onde sero agrupados os recursos de produo. As empresas, sejam elas do Estado ou da iniciativa privada, sero distribudas por 3 (trs) setores: Primrio, Secundrio e Tercirio. Setor Primrio - Representa as unidades de produo voltadas para a agricultura, pecuria e o extrativismo. Setor Secundrio - o local onde sero transformadas as matrias-primas, ou seja, so as indstrias, as fbricas, as siderrgicas etc. Setor Tercirio - formado pelas prestadoras de servios, entre elas: o comrcio, os hospitais, as escolas, os bancos, os transportes etc. A combinao dos recursos de produo realizada por qualquer unidade de produo, em qualquer setor, e independente de ser ela executada pelo mercado ou pelo Estado dar origem produo de bens e servios assim classificados: Bens e Servios para Consumo, Bens de Capital e Bens Intermedirios. Bens e Servios para Consumo - So aqueles voltados para atenderem s necessidades da populao. Seu objetivo estimular o segmento humano do sistema produtivo, produzindo bens e servios que atendam as necessidades de consumo. Os bens de consumo podem ser durveis ou no durveis. Os bens durveis so aqueles cuja vida til prolongada: televisores, mquinas de lavar roupas, automveis, bicicletas etc. Os no durveis so bens com vida til curta, por exemplo, os alimentos. Bens de Capital - J sabemos que o capital um dos fatores que compe os recursos de produo. Esse fator deprecia-se com o passar do tempo, sendo necessrio rep-los para manter contnuo o fluxo de produo. Para tanto, necessrio produzir bens de capital (mquinas, equipamentos etc.), destinados a retornar ao sistema produtivo para assegurar a sua manuteno e a qualidade do produto. Bens Intermedirios - So produtos que serviro para a produo de outros produtos. Seu objetivo complementar, devendo retornar s unidades de produo, servindo de matria-prima na formao de outro produto.

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Exemplo: MATRIAUNIDADES PRIMA DE PRODUO INDSTRIA ____ MINERADORA TIPO DO BEM MINRIO DE INTE FERRO RME DI RIO INDSTRIA MINRIO DE AO PLANO INTE SIDERRGICA RME FERRO DI RIO INDSTRIA AO PLANO CHASSI INTE DE PEAS RME DI RIO MONTADORA CHASSI VECULO CON DE VECULOS SUM O* * O veculo um bem de capital, quando utilizado por um taxista. PRODUTO

O sistema produtivo torna-se mais eficiente com a utilizao mais adequada dos recursos de produo. Ressalvando que todos os recursos so fundamentais, cada um desempenhando seu papel e tentando alcanar um denominador comum: a produo. Logo, a m utilizao de alguns dos fatores de produo comprometer o sistema como um todo.

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O Fluxo do Sistema Produtivo

SALRIO LUCRO

DEMANDA POR BENS E SERVIOS

MERCADO

OFERTA DE BENS E SERVIOS

MO-DE-OBRA

CAPITAL

RECURSOS NATURAIS OU MATRIA PRIMA

O PROCESSO TECNOLGICO

O DINAMISMO EMPRESARIAL

UNIDADES DE PRODUO

SETOR PRIMRIO SETOR TERCIRIO SETOR SECUNDRIO

PRODUO

BENS E SERVIOS DE CONSUMO

BENS E SERVIOS INTERMEDIRIOS

BENS DE CAPITAL

DURVEIS NO DURVEIS

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4.1. Entendendo o PIB O Produto Interno Bruto (PIB) a soma de tudo que se produziu durante um ano em um determinado pas. No Brasil seu clculo de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), que leva em considerao os preos dos bens e servios vendidos aos consumidores finais preos correntes. um levantamento de informaes extremamente complexo, que tenta expressar em nmeros o total das diversas atividades econmicas como a produo: de automveis, de casas, de alimentos, de cortes de cabelos, de servios mdicos entre outros. Portanto, quanto maior o volume de bens e servios novos produzidos, maior ser o tamanho de uma economia. importante destacar que s so considerados para efeito de clculo do PIB, aqueles bens e servios produzidos no territrio nacional, durante o ano em anlise, independente da nacionalidade da empresa. Assim, se um automvel foi produzido, por exemplo, em 2004 e vendido em 2005, ser considerado o valor do veculo no ano da sua fabricao, portanto 2004. Assim, esse bem contribuiu para o PIB de 2004. O PIB tambm serve para analisar e comparar o tamanho das economias entre pases e, principalmente, para verificar seu desempenho em relao aos anos anteriores. Quando falamos que um pas est em crescimento, estamos na verdade comparando o quanto o PIB cresceu, percentualmente, em relao ao ano anterior, extraindo da obviamente o reajuste dos preos provocado pela inflao. Esperasse que o crescimento do PIB permanea constante e, se possvel, crescente. A queda do PIB em comparao ao ano anterior ou mesmo o baixo crescimento deste, representa uma grande preocupao, pois, significa que o pas em anlise teve uma reduo na produo de bens e servios ou o crescimento est sendo insatisfatrio. Em ltima estncia, essa diminuio ou fraco desempenho podem representar uma reduo nas oportunidades de empregos e queda da renda da populao. O PIB Per Capita (por cabea) representa o valor do PIB dividido pela populao, possibilita uma dimenso mais adequada da participao de cada indivduo no PIB do pas. Tabela 4 BRASIL: Produto Interno Bruto (preo de mercado), Taxa de Crescimento do PIB e PIB Per Capita 2000/2005 Em R$1.000.000 TAXA DE CRESCIMENTO Variao real anual (%) 4,3 1,3 2,7 1,1 5,7 2,9

ANO

PIB

PIB PER CAPITA

2000 2001 2002 2003 2004 2005

1.179.482 1.302.136 1.477.822 1.699.948 1.941.498 2.147.944

6.886,3 7.491,2 8.378,1 9.497,7 10.691,9 11.661,9

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas e Coordenao de Contas Nacionais.

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Ao analisarmos a tabela com os nmeros do PIB do Brasil, nota-se que de 2000 a 2005 o Brasil cresceu, porm, com nmeros instveis e ainda muito aqum do seu potencial. Apenas de 2003 para 2004 o Brasil experimentou um crescimento mais expressivo: 5,7%. Quando dividimos o valor do PIB com a populao de cada ano, temos o PIB Per Capita, esse indicador mostrou-se ascendente no Brasil. Porm, temos que ter um cuidado ao discutir esses nmeros, apesar do aparente