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Interlinguagens como metodologia: Tentativas na Escola de Aplicação Resumo Expandido PIBID - ARTES Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dália Rosenthal Autora: Mariana Costa Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo Resumo O seguinte trabalho inicia as investigações da construção de um processo metodológico a partir de experiências práticas realizadas na Escola de Aplicação. Tem como objetivo pesquisar o ensino da arte na escola, e as possibilidades da interlinguagem das artes (principalmente cênicas e visuais) enquanto processos pedagógicos. A análise de experimentos práticos faz parte dos procedimentos de pesquisa, assim como sua posterior conceituação, e criação de metodologia. Os estudos de criação metodológica a partir de interlinguagens está relacionado com as pesquisas de transdiciplinaridade realizadas pelo PIBID – Artes (ECA-USP). Introdução A presente pesquisa está relacionada aos estudos de criações de metodologias transdisciplinares realizados dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência de Artes (ECA – USP). A partir das investigações sobre o uso de interlinguagens artísticas dentro do currículo escolar, criou-se o projeto “Divisor em percurso”, que se realizou dentro da Escola de Aplicação da USP, inicialmente como proposta prática, e depois como pesquisa e desenvolvimento de metodologia. Esse trabalho pretende abarcar o cruzamento das especificidades das artes visuais e cênicas através de uma proposição prática em sala de aula, analisando seus alcances e possibilidades. Desenvolvimento

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Interlinguagens como metodologia: Tentativas na Escola de Aplicação

Resumo Expandido

PIBID - ARTES

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dália Rosenthal

Autora: Mariana Costa

Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo

Resumo

O seguinte trabalho inicia as investigações da construção de um processo

metodológico a partir de experiências práticas realizadas na Escola de Aplicação. Tem como

objetivo pesquisar o ensino da arte na escola, e as possibilidades da interlinguagem das

artes (principalmente cênicas e visuais) enquanto processos pedagógicos. A análise de

experimentos práticos faz parte dos procedimentos de pesquisa, assim como sua posterior

conceituação, e criação de metodologia. Os estudos de criação metodológica a partir de

interlinguagens está relacionado com as pesquisas de transdiciplinaridade realizadas pelo

PIBID – Artes (ECA-USP).

Introdução

A presente pesquisa está relacionada aos estudos de criações de metodologias

transdisciplinares realizados dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a

Docência de Artes (ECA – USP).

A partir das investigações sobre o uso de interlinguagens artísticas dentro do

currículo escolar, criou-se o projeto “Divisor em percurso”, que se realizou dentro da Escola

de Aplicação da USP, inicialmente como proposta prática, e depois como pesquisa e

desenvolvimento de metodologia.

Esse trabalho pretende abarcar o cruzamento das especificidades das artes visuais e

cênicas através de uma proposição prática em sala de aula, analisando seus alcances e

possibilidades.

Desenvolvimento

O “Divisor em Percurso” foi proposto em

parceria por alunas-bolsistas de artes visuais e

artes cênicas. Usando como material disparador a

obra “Divisor” de Lygia Pape, foram planejadas

oficinas de três aulas para crianças do terceiro ano

do Fundamental I (oito e nove anos).

O primeiro encontro tratava-se da

proposição da experiência do Divisor no percurso

escolar. Em pequenos grupos (10 alunos), as

crianças propuseram uma viagem lúdica a partir do divisor e de sua dinâmica de movimento,

ressignificando o ambiente cotidiano da escola. Esse encontro visava à exploração corporal

dos alunos e a relação coletiva possível no espaço da Escola de Aplicação.

O segundo encontro deu-se na forma de intervenção plástica: usando o próprio

divisor da aula anterior, as crianças puderam interferir visualmente (com tintas e giz) no

próprio tecido, relembrando as experiências corporais vividas e transformando-as em outra

linguagem. (figura 1 e 2)

O terceiro encontro consistiu na

construção de um corpo coletivo ainda maior,

e agora carregado de experiências concretas:

os tecidos com as intervenções visuais foram

juntados e depois colocados em percurso

pelas crianças, que agora eram um grupo de

30. (figura 3)

Essa oficina realizada em turno escolar

surgiu na tentativa de abarcar os

conhecimentos específicos das alunas-

bolsistas proponentes, criando uma área de

experimentação comum, que beira aos

conceitos da performance. Performance aqui

tratada como experiência do real que usa de

instrumento a interlinguagem.

Dessa experiência inicia-se o

pensamento sobre metodologias que

exercitem não apenas uma linguagem, mas

diversas. Trata-se de uma tentativa de instigar a coletividade dentro de processos de

descoberta cognitiva e de criação, em que a arte atua não apenas como instrumento, mas

ocupa um espaço dialético de objetivo e desenvolvimento (caminho).

Figura  1

Figura  2

Figura  3

Trabalhando com crianças de oito e nove anos, as prioridades desse processo foram

de experimentações corporais e experienciação de um corpo coletivo em relação ao espaço.

Contudo, a proposta do “Divisor em Percurso” acarreta conceitos estéticos na mesma

medida em que é experimentado pelos agentes dentro do divisor. Nesse sentido, as

barreiras entre espectador e propositor se confundem, permitindo um encontro artístico

através da experiência. Aquilo que muitas vezes é vivido como simples exercício ou

imprecisa experimentação traz em si o germe de modalidades estéticas, qualificáveis como

manifestações de um teatro pós-dramático. (PUPO, p227)

Resultados e discussões

Diante do trabalho prático realizado na Escola de Aplicação, existe a abertura para a

experimentação da educação artística através da interlinguagem, da performance e do

movimento pós-dramático. Uma metodologia flexível, que parte da necessidade dos alunos

(no caso do divisor, a necessidade era em relação ao outro e ao espaço), e que se relaciona

diretamente com a produção artística contemporânea, pode abrir possibilidades não apenas

cognitivas, mas de entendimento do discurso e função da arte.

Disponibilizar para o aluno diferentes ferramentas de diferentes linguagens, junto

com a experimentação em tempo real, permite que seu repertório se amplie, e permite maior

autonomia nos processos de criação. Esses conceitos não precisam ser compreendidos

racionalmente pelos estudantes, mas trabalhando dentro da organicidade possível e a partir

das reais necessidades do contexto em que se encontram, os conceitos são absorvidos, e

refletidos diretamente na prática.

Usando de exemplo o processo do “Divisor em Percurso”, as comprovações desse

pensamento podem surgir de qualquer memória que seja suscitada pelo espaço escolar nas

crianças. As narrativas e imagens que os alunos contaram durante a “viagem pela escola” já

revelam as potencialidades de uma experimentação corporal coletiva.

Conclusões

A escola, enquanto instituição, pode estar mais conectada com a realidade fora de

seu âmbito, o papel da arte na educação pode desenvolver e se aproveitar dessa ponte

relacional, oferecendo experiências concretas para os alunos.

A interlinguagem surge como oportunidade de pesquisa de novos caminhos para a

compreensão da arte e suas funções, e também para processos cognitivos verticalizados,

em que a ideia de coletividade seja inerente às propostas, retomando os processos de

experiência em grupo. Afinal o sujeito da experiência seria algo como um território de

passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum

modo, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. (LAROSSA, 2002 –

p. 24), e nesse sentido, tanto professores quanto estudantes devem ser sujeitos da

experiência.

Referências bibliográficas

BONDIÁ, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista

Brasileira de Educação nº 19, 2002.

DESGRANGES, Flavio. Pedagogia do teatro, provocação e dialogismo. São Paulo: Hucitec:

Ediçôes Mandacaru, 2006.

FERNANDES, Silvia. Teatralidades Comtemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2010.

PUPO, Maria Lucia de Souza Barros. “o pós-dramático e a pedagogia teatral” in

GUINSBURG, Jacó e FERNANDES, Silvia (org.). O Pós-dramático: um conceito operativo?

São Paulo: Perspectiva, 2010.