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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL PARA UM MINISTÉRIO EFICAZ

LORI CICCARELLI

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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL PARA UM MINISTÉRIO EFICAZ

A consciência de nossas emoções tem um impacto vital na saúde mental e na eficácia do ministério.

L O R I C I C C A R E L L I S T O T K O

Lori Ciccarelli Stotko, MPS, é capelã aposentada de um hospital em Santa Maria, Califórnia, Estados Unidos.

Os especialistas no campo da liderança acreditam que os líderes verdadeiramen-te eficazes possuem um alto nível de inteligência emocional (QE). Como um ingre-diente de desempenho excelente, o QE provou ser duas vezes mais importante do que o QI em todos os níveis. O QE é a capacidade de trabalhar com outras pessoas e efetuar mudanças. Sem o QE, uma pessoa pode ter o melhor treinamento, uma mente analítica e conhecimento técnico, mas ainda não será um grande líder1.

DEPARTAMENTO: ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL

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Muitos acreditam que o QE é inato, isto é, você nasce com ele. No entanto, acre-dito firmemente que o QE pode ser aprendido, pois testemunhei esse fato de for-ma pessoal e profissional. De acordo com pesquisas, o QE é o gerenciamento de si mesmo e dos relacionamentos, autocompetência e competência social2. Muitos pastores compartilharam comigo que nunca receberam treinamento de QE em sua educação formal ministerial. Isso deve mudar e eis o porquê.

O NÍVEL RELACIONALComo humanos, ansiamos por conexão porque fomos criados com uma identi-

dade relacional. O QE é relacional. Deus é relacional; a Divindade é um excelente exemplo. Seus Dez Mandamentos para nós são relacionais: uma seção enfoca no relacionamento com Deus; o segundo, com outros humanos. O maior mandato de Deus para nós é relacional: amar o Senhor seu Deus com todo o seu coração, alma e mente e amar o seu próximo como a si mesmo (Mt 22:36-40). Bob Burns, Tasha Chapman e Donald Guthrie afirmam: “Pode nos ajudar pensar nos relacionamentos como o tecido conectivo da igreja”3. Quer seja o ministério da igreja, trabalho mis-sionário, direção espiritual ou capelania, todo ministério é relacional. O ministério de Jesus, de discipular, foi relacional. Seu caráter é de qualidades relacionais, o que revela o fruto do Espírito (Gl 5:22, 23).



O QE pode ser desenvolvido por meio de um entendimento pessoal e da aplica-ção da graça e misericórdia do evangelho4. As igrejas agora procuram treinar o QE para ministrar com mais eficácia. Estudos mostram que o QE é composto de cinco ingredientes: (1) autoconsciência, (2) autorregulação, (3) motivação, (4) empatia, e (5) habilidade social5. Como tenho treinado líderes em torno desses ingredientes, desenvolvi ainda mais os cinco princípios de QE especificamente para uma lide-rança ministerial eficaz.AUTO-CONSCIÊNCIA

A autoconsciência é a porta de entrada para a transformação. Encontramos nosso verdadeiro eu buscando primeiro a Deus, nosso Líder6. Quando buscamos a Deus e nos sintonizamos com Sua presença, mudamos. A manifestação de Seu fruto, que então transborda para todos os aspectos de nossa vida – isto é, nossos relacio-namentos e ministérios – é um processo natural quando permanecemos Nele (Jo 15:4, 5). Bem cedo pela manhã, enquanto ainda estava escuro, Jesus levantava-se para estar com Seu Pai celestial (Mc 1:35). A intimidade com Deus transbordava em Seu relacionamento com Seus discípulos. Nosso fruto depende de nosso relacio-namento intencional com Jesus.

❝Como capelã de um hospital, vejo muitos pacientes que estão sozinhos, famin-tos, sofrendo..., precisamos alcançar nossas comunidades como Jesus fez. Ele se envolveu com eles, demonstrando amor, compaixão e hospitalidade.



A eficácia de nossa liderança depende do grau em que permanecemos em Cristo7. Isso é fundamental para todo ministério. Muitos líderes de ministério não reser-vam tempo diariamente para permanecer em Cristo. Sua permanência se transfor-ma em planejamento de um sermão, uma lição, uma aula ou preparação para um conselho? “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” é um convite para um tempo sem pressa com Ele (Sl 46:10)8, um tempo de renovação espiritual. É restaurador; minha alma encontra descanso somente em Deus (Sl 62:1).

Como capelã de um hospital, vejo muitos pacientes que estão sozinhos, famintos, sofrendo..., precisamos alcançar nossas comunidades como Jesus fez. Ele se envol-veu com eles, demonstrando amor, compaixão e hospitalidade.

Estudos mostram que apenas um em cada dez pastores tira um dia inteiro de descanso regularmente9. Muitos pastores consideram o sábado o dia mais cansati-vo de seu ministério. Seja intencional ao programar um dia livre de trabalho (pelo menos um bloco de quatro a seis horas) simplesmente para permanecer em Cristo. Viva bem, dando à mente, ao corpo e à alma uma pausa bem-vinda das preocupa-ções deste mundo.



AUTO-REGULAÇÃOTemos uma média de 400 experiências emocionais por dia. Aqueles com um alto

senso de autoconsciência entendem como suas emoções afetam os outros e seu desempenho no trabalho. Eles podem regular seus sentimentos com sucesso e são motivados intrinsecamente.

A maneira como gerenciamos nossas emoções ou as regulamos faz a diferença no sucesso da liderança10. O pastor Charles Swindoll afirma: “Quanto mais eu vivo, mais fico convencido de que a vida é 10% o que acontece conosco e 90% como re-agimos a ela”11.

Porque encontramos tantas experiências emocionais em um dia, é imperativo en-tender como nossas emoções impactam os outros e como podemos regular nos-so comportamento de forma adequada. O autocontrole exige disciplina espiritual pelo poder do Espírito Santo.

Somos chamados a examinar nossa vida a fim de determinar que tipo de fruto es-tamos produzindo12. Examine-se para compreender seus gatilhos (Lm 3:40). Vá mais



fundo para identificar as emoções, examinando a raiz do seu comportamento. Exa-mine os pecados das gerações anteriores para compreender os padrões habituais transmitidos. Você tem feridas na alma que precisam ser examinadas, processadas e tratadas buscando aconselhamento em saúde comportamental adicional?

O crescimento em QE requer reflexão. Escrever um diário, uma disciplina eficaz de reflexão, pode ajudá-lo a processar as emoções. É uma maneira segura de nos expressarmos diante de Deus, para que não falemos inadequadamente aos outros. Os sentimentos precisam ser processados de forma segura, permitindo-nos geren-ciá-los em vez de ser engolfados por eles13. Estudos mostram que escrever sobre os sentimentos traz até benefícios para a saúde14.

Seja específico, orando de acordo com as Escrituras ao colocar sua armadura an-tes de sair de casa. Oro diariamente: Senhor, que eu seja rápida para ouvir, lenta para falar e lenta para me irar (Tg 1:19). Eu conscientemente autorregulo minhas emoções durante as situações, respirando fundo e, em seguida, classificando mi-nhas emoções em uma escala de 1 a 10. Na maioria das situações, posso respon-der com calma, gentileza e respeito – e não impulsivamente; no entanto, é preciso autocontrole. Cristo tinha autocontrole. “Pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças” (1Pd 2:23).

MOTIVAÇÃO E PAIXÃOOs líderes são motivados intrinsecamente – pela paixão. Muitos de nós entramos

no ministério por causa de nossa paixão em servir a Deus. Servir está no centro da missão de Deus para nós. Você está exausto e precisa se reconectar e se compro-meter novamente com seu chamado? Examine as paixões do seu coração. Reco-necte-se percebendo Sua presença ao longo do dia. Isso mudará sua perspectiva



conforme você começa a experimentar seu dia como um “adorador” em vez de um “fazedor”, focando mais na presença de Deus do que em seu próprio desempenho. Os líderes definem o clima à medida que os seguidores refletem a paixão de seu líder.

Os líderes-servo vão primeiro; eles servem à missão da organização, não às agen-das pessoais. Eles modelam a missão e o que ensinam. Os líderes-servo desenvol-vem outros líderes; colocam o bem-estar dos outros acima da lucratividade; eles refletem a honra e o respeito mútuos, colaborando para descobrir as melhores soluções para todos15. Jesus veio para servir, não para ser servido. Ele transformou Seus discípulos em membros de uma equipe. Jesus sabia que quando Ele partisse, eles estariam bem capacitados para continuar a Grande Comissão.

EMPATIAComo resultado de permanecer em Cristo, somos transformados à Sua seme-

lhança pelo poder do Espírito Santo. As maiores qualidades pelas quais Cristo era conhecido eram sua empatia e compaixão. Empatia é entrar nos sentimentos do outro para se identificar com eles e entender seus desapontamentos, alegrias e tristezas.

“Procure primeiro compreender, depois ser compreendido”16. Na minha carreira anterior como professora primária, minha única regra em sala de aula era a regra de ouro (Lc 6:31). Empatia. Meus alunos da primeira série entenderam. Eles eram tão bem-comportados que o diretor trazia outros professores de todas as séries para observar. Empatia é uma habilidade vital para a vida.



No livro Leading With Kindness [Liderando com gentileza], os autores dizem: “Na verdade, a maioria dos líderes com quem falamos invocou a Regra de Ouro como sua filosofia de gestão, observando que a adesão a este princípio é a maneira mais segura de construir comunidades unidas e de alto desempenho”. Esses líderes de-dicam tempo para se conectar com a equipe, com palavras de incentivo e gentile-za. Os funcionários se sentem valorizados e, como resultado, são motivados17. Re-serve um tempo para ouvir, para praticar o dom da presença. Comunique-se com empatia: “Acho que sei como você está se sentindo”. Refletir sobre o que ouvimos também fornece clareza de uma forma não ameaçadora, por exemplo: “Se eu o en-tendi corretamente, você está dizendo...”. Permanecemos objetivos sem assumir a ansiedade dos outros.

HABILIDADES SOCIAIS

❝ “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3:14).

Estamos vivendo em uma era de solidão, uma epidemia invisível que afeta mais de 60 milhões de pessoas somente nos Estados Unidos18. Fomos criados para ser parte da comunidade. “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Sl 133:1). A Trindade é um exemplo maravilhoso; o próprio Deus está em comunidade.



Pesquisas mostram que a falta de conexão social traz um prejuízo maior para a saúde do que a obesidade, o fumo e a pressão alta19. O doutor Robert Putnam, um cientista político e professor da Universidade de Harvard, completou uma ex-tensa pesquisa sobre “comunidade” que mostrou que somos feitos para viver em comunidade por causa de nossa identidade relacional. Ele diz que se uma pessoa ingressasse em uma comunidade agora, isso reduziria literalmente pela metade as chances de essa pessoa morrer no próximo ano20.

Como capelã de um hospital, vejo muitos pacientes que estão sozinhos, com fome, sofrendo. Muitos dizem que acreditam em Deus, mas não vão à igreja. Quem, en-tão, os está alcançando? Muitas vezes as igrejas esperam que as pessoas venham até elas quando, de fato, precisamos alcançar nossas comunidades como Jesus fez. Ele se envolveu com eles, demonstrando amor, compaixão e hospitalidade. Ele ia de porta em porta visitar os pobres, os necessitados, os solitários. Vejo Jesus como nosso primeiro e maior assistente social.



MELHORES PRÁTICAS PARA INTELIGÊNCIA EMOCIONALAs melhores práticas para inteligência emocional envolvem liderar como Jesus.

Somos seus embaixadores, representando-O (2Co 5:20). “Porque eu vos dei o exem-plo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:15).

A missão de Deus para cada um de nós, em parceria com o Espírito Santo, é levar o evangelho ao mundo e fazer avançar o reino de Deus, refletindo-O. Quando re-fletimos a Cristo, estamos comunicando o fruto do Espírito21.

“O valor do homem não é medido pela posição de responsabilidade que ocupa, mas pelo espírito cristão que ele revela”22. Quando somos transformados à seme-lhança de Cristo, imitadores Dele e um com o Espírito, então o avanço de Seu reino é um resultado natural.

Notas1. Daniel Goleman, “What Makes a Leader?” O melhor da Harvard Business Review 1998, p. 82-92.2. Goleman, “What Makes a Leader?”, p. 82-92.3. Bob Burns, Tasha D. Chapman, and Donald C. Guthrie, Resilient Ministry: What Pastors Told Us About Surviving and Thriving (Downers Grove, IL: VP Books, 2013), p. 114.4. Burns, Chapman, and Guthrie, Resilient Ministry, p. 128.5. Goleman, “What Makes a Leader?”, p. 82-92.6. David Benner, The Gift of Being Yourself: The Sacred Call to Self-Discovery (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2015).7. Gordon MacDonald, Ordering Your Private World (Nashville, TN: Thomas Nelson Publishing, 2012).8. Alan Fadling, An Unhurried Life: Following Jesus’ Rhythms of Work and Rest (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2013), p. 14.9. “Gleanings: March 2015,” Christianity Today, março de 2015, em christianitytoday.com/ct/2015/march/.10. Goleman, “What Makes a Leader?”, p. 82-92.11. Charles Swindoll, “The Value of a Positive Attitude” Insight for Today, Insight for Living Ministries, 19 de novembro de 2015, em https://insight.org/resources/dai-ly-devotional/individual/the-value-of-a-positive-attitude.12. Chuck Smith, Why Grace Changes Everything: The Key That Unlocks God’s Blessings (Costa Mesa, CA: The Word for Today, 2010), p. 81.13. Donald Whitney, Spiritual Disciplines for the Christian Life (Colorado Springs, CO: NavPress, 1991), p. 195-211.14. David Caruso and Peter Salovey, The Emotionally Intelligent Manager: How to Develop and Use the Four Key Emotional Skills of Leadership (San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2004), p. 136.15. C. Gene Wilkes, Jesus on Leadership: Timeless Wisdom on Servant Leadership (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, Inc., 1998), p. 169-176.16. Stephen Covey, The 7 Habits of Highly Effective People: Powerful Lessons in Personal Change, 25ª ed. (New York: Simon and Schuster, 2013), p. 247.17. William F. Baker and Michael O’Malley, Leading With Kindness (New York: AMACOM, 2008), p. 24.18. Veronique de Turenne, “The Pain of Chronic Loneliness Can Be Detrimental to Your Health”, UCLA Newsroom, 21 de dezembro de 2016, em https://newsroom.ucla.edu/stories/stories-20161206.19. Emma Seppälä, “Connectedness and Health: The Science of Social Connection”, The Center for Compassion and Altruism Research and Education, Stanford Medi-cine, 8 de maio de 2014, em http://ccare.stanford.edu/uncategorized/connectedness-health-the-science-of-social-connection-infographic/.20. Robert D. Putnam, Bowling Alone: The Collapse and Revival of the American Community (New York, NY: Simon and Schuster, 2001), p. 326-335.21. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 1.22. Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais, p. 243.



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