inteligência como instrumento de atuação do mp na proteção ao estado democrático de direito
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Autor: André Estêvão Ubaldino Pereira. Fundação Escola Superior do Ministério Público do Minist[ério Público de Minas Gerais (FESMPMG). O presente trabalho se propõe, a partir do exame das transformações pelas quais passaram o Estado, o Ministério Público brasileiro, o processo penal e o direito penal, a responder à seguinte indagação: o câmbio sofrido, ao longo de sua história, pelo Ministério Público, autoriza-o ou lhe impõe, no estado democrático de direito, o emprego da inteligência para o desempenho de sua função de assegurar o respeito aos direitos fundamentais?TRANSCRIPT
André Estêvão Ubaldino Pereira
O EMPREGO DA INTELIGÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO NA PROTEÇÃO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Belo HorizonteCentro Universitário Newton Paiva
Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais 2010
André Estêvão Ubaldino Pereira
O EMPREGO DA INTELIGÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO NA PROTEÇÃO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, oferecido pela Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública.
Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco
Belo HorizonteCentro Universitário Newton Paiva
Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais2010
Centro Universitário Newton PaivaEscola Superior do Ministério Público de Minas GeraisCurso de Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança PúblicaMonografia intitulada “O emprego da inteligência como instrumento de atuação do Ministério Público na repressão às organizações criminosas e proteção ao estado democrático de direito”, de autoria de André Estêvão Ubaldino Pereira, considerado aprovado, com a nota 78 (setenta e oito), pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:
____________________________________________________________
Professor Dr. Denilson Feitoza Pacheco – Orientador
____________________________________________________________
Professor Mestre Sérgio Antônio Teixeira
____________________________________________________________
Professor Especialista Ronaldo Silveira Alcântara
Belo Horizonte/MG, 26 de maio de 2010
Escola Superior do Ministério Público de Minas GeraisRua Timbiras, 2928, 4º andar, Bairro Barro Preto
30140-062 - Belo Horizonte – MGTel: 31-3295-1023
www.fesmpmg.org.br
A Deus pelo dom da existência e por
sua constante presença e proteção
em minha vida e de minha família.
RESUMO
O presente trabalho se propõe, a partir do exame das transformações
pelas quais passaram o Estado, o Ministério Público brasileiro, o
processo penal e o direito penal, a responder à seguinte indagação: o
câmbio sofrido, ao longo de sua história, pelo Ministério Público, autoriza-
o ou lhe impõe, no estado democrático de direito, o emprego da
inteligência para o desempenho de sua função de assegurar o respeito
aos direitos fundamentais?
Palavras-chave: Inteligência – Ministério Público – direitos fundamentais
– Estado Democrático de Direito
ABSTRACT
Taking into consideration the changes that the State, Brazilian Public Prosecutor´s Office, Criminal Law and Procedure have undergone, this papers aims to address the following question: do the modifications that the Public Prosecutor´s Office went through authorize it or impose to it the use of intelligence, in carrying out its duty of upholding the respect for fundamental rights in the Democratic State?
Key words: Intelligence - Public Prosecutor´s Office - Fundamental rights
- Democratic State
LISTA DE SIGLAS
FESMP/MG Fundação Escola Superior do Ministério Público de
Minas Gerais
FGV Fundação Getúlio Vargas
SIBIN Sistema Brasileiro de Inteligência
SNI Serviço Nacional de Informação
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................10
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTADO.................................................14
2.1 Origens e estado absoluto.................................................................14
2.2 Estado constitucional.........................................................................15
3 ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO.........................17
3.1 Brasil, de colônia a império................................................................17
3.2 Brasil república...................................................................................18
3.2.1 A primeira república e a constituição de 1891..........................................18
3.2.2 A revolução de 1930 e a constituição de 1934.........................................19
3.2.3 O Estado Novo e sua constituição............................................................20
3.2.4 O fim do Estado Novo e a constituição de 1946.......................................22
3.2.5 O golpe militar e a constituição de 1967...................................................24
3.2.6 A abertura e o retorno do poder aos civis.................................................26
4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.........................28
4.1 O Ministério Público no Brasil............................................................29
4.1.1 O Ministério Público no Brasil colônia.......................................................29
4.1.2 O Ministério Público sob o regime da Constituição de 1824.....................31
4.1.3 A primeira república e o Ministério Público...............................................40
4.1.4 A Constituição de 1934 e o Ministério Público..........................................47
4.1.5 A ditadura Vargas e o Ministério Público...................................................54
4.1.6 A Constituição Federal de 1946 e o Ministério Público.............................56
4.1.7 A Constituição de 1967 e o Ministério Público..........................................58
4.1.8 A Emenda Constitucional de 1969 e o Ministério Público.........................60
4.1.9 A Constituição de 1988 e o Ministério Público..........................................65
5 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO E PROCESSO PENAL...........73
6 INTELIGÊNCIA E INCREMENTO DA EFICIÊNCIA.............................76
7 CONCLUSÃO.......................................................................................83
8 REFERÊNCIAS.....................................................................................84
10
1 INTRODUÇÃO
Pode ou deve o Ministério Público, para o cumprimento de seu
dever constitucional de assegurar o respeito aos direitos fundamentais,
utilizar a inteligência?
Responder a essa indagação, exige considerar, inicialmente,
que profundas têm sido as transformações pelas quais vêm passando os
Estados modernos, cuja proximidade cresceu, nos últimos anos, tanto
em decorrência da evolução tecnológica, como em virtude do fim da
bipolarização que dividira, durante décadas, as nações que gravitavam
em torno da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, de um
lado, e dos Estados Unidos da América, de outro.
Tais transformações, ao tempo em que tornaram mais intensas
as relações mercantis entre os povos, também contribuíram para mais
veloz e fácil transferência de capitais, inclusive os provenientes de
atividades criminosas.
Nessas circunstâncias, nações em desenvolvimento, que já
experimentavam elevados índices de criminalidade, decorrentes
frequentemente de causas endógenas, passaram a conviver com
dificuldades adicionais, estas decorrentes da ocorrência de novas formas
de criminalidade, bem como da migração de ativos por elas produzidos,
além, evidentemente, da migração dos próprios delinquentes e seus
respectivos cartéis.
Submetido às novas condições, o Estado brasileiro, que já
acumulava grave passivo social, por não ter a tempo e modo atuado para
diminuir a exclusão e minimizar seu papel no incremento das práticas
criminosas, mantinha, por outro lado, no seu sistema de justiça criminal,
11
modelo que se imaginara e construíra num tempo em que a
criminalidade, de caráter no mais das vezes provinciano, era, ademais,
frequentemente, individual.
Aos antigos e não vencidos desafios foram, portanto,
acrescentados novos, obrigando Estado e suas instituições à busca de
novas soluções.
Nesse quadro, o Ministério Público, a quem tradicionalmente já
vinha o ordenamento jurídico atribuindo a responsabilidade pela
promoção da ação penal pública, viu enormemente ampliadas suas
atribuições, entre elas se tendo inserido a própria defesa do neonato
regime democrático brasileiro.
Assim, ao mesmo tempo em que lhe era atribuída a
responsabilidade pela atuação na defesa do patrimônio público — cuja
secular apropriação indevida por particulares é certamente das mais
importantes causas da subsistência da miséria, desigualdade e violência
— ao Ministério Público se atribuía, ainda, em sede constitucional, a
legitimidade para promover, privativamente, a ação penal pública.
À ampla gama de atribuições cometidas ao Ministério Público,
entre as quais se inclui a obrigatória, a imperativa propositura da ação
penal em crimes em que ela é pública, não correspondeu, todavia, a
alteração ou ampliação proporcional de sua estrutura, que não
acompanhou a crescente complexidade da nova realidade.
Obrigado, portanto, agora pela própria Constituição da
República, a atuar sobre causas e consequências da criminalidade, viu-
se o Ministério Público compelido, para manter a eficiência administrativa
que por ela também lhe é imposta, a debater mais amplamente as
temáticas da racionalização de sua intervenção na área não penal e do
12
emprego da inteligência, esta de modo mais acentuado no que concerne
à repressão às atividades de organizações criminosas.
Atuando nesse sentido, sustenta-se no Ministério Público, na
defesa da racionalização, que é necessário reconhecer a existência de
dois interesses públicos hoje tidos como distintos, como são o primário e
o secundário, entendendo-se que só lhe incumbe a intervenção
processual para defesa daquele.
De igual modo, no que respeita ao emprego da inteligência na
maximização da eficiência do Ministério Público na repressão às
organizações criminosas, ganha corpo o debate acerca da necessidade
de mudança postural e metodológica, apresentando-se nítida divisão
entre os que de um lado defendem a conservação da atitude tradicional,
traduzida pela tão só promoção da ação penal, e os que, de outro,
defendem a proatividade, representada pela busca do conhecimento e
ação que transcendam os limites do que contêm os autos de processos.
Para posicionar-se nesse debate, inclusive com a indicação de
quais seriam as medidas eventualmente necessárias, a proposta do
presente trabalho é examinar as transformações pelas quais passou o
Estado e, com ele, Ministério Público brasileiro, com a alteração de seu
primitivo papel de defensor dos interesses do soberano para defensor
daquele, dele para o de defensor da sociedade, e, ainda, para o de
defensor do próprio Estado Democrático de Direito.
Também se debruça o trabalho sobre as transformações
introduzidas no Direito e Processo Penal, com o escopo de revelar como,
com o passar do tempo, foram postos a serviço de um Estado que foi
progressivamente se transformando em instrumento de concretização de
direitos fundamentais.
13
Nesse ponto, procura-se destacar como, apesar das tentativas
de aperfeiçoamento dos mencionados instrumentos intimidativo e
persecutório, não se conseguiu conter o avanço de práticas que,
marginais ao Estado Democrático de Direito, com ele conflitam e
concorrem, colocando até mesmo em risco a sua sobrevivência.
Em seguida, após demonstrar como se desenvolveu o conceito
de inteligência, procura-se destacar como se difundiu seu emprego, de
modo a generalizar a crença, hoje corrente, de que não há organização
ou instituição que possa dispensar seu emprego no aperfeiçoamento de
suas atividades.
É então que o trabalho — reconhecendo a ineficiência de um
modelo cujas origens remontam a séculos, caracterizado por
inadequação decorrente da crescente complexidade da sociedade a que
se destina — conclui pela necessidade indeclinável de que nele sejam
promovidas mudanças.
Finalmente, reconhecendo que o emprego da inteligência se
inclui entre as imprescindíveis mudanças impostas pela necessidade de
maximização de eficiência estatal na repressão às organizações
criminosas — que sustenta imprescindível à preservação do Estado
Democrático de Direito e mesmo da soberania nacional — aponta o
trabalho quais devem ser, na ótica de seu autor, as formas de sua
utilização pelo Ministério Público.
14
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTADO
2.1 Origens e estado absoluto
Acolhida a ideia de Weber, segundo a qual o seu surgimento
se dá com a expropriação, pelos capitais, dos meios de produção dos
artesãos, e pelo Poder Público, do serviço com as armas, com a criação
de organismos destinados à prestação de serviços públicos e com o
“monopólio legítimo do uso da força física dentro de um determinado
território”, pode-se afirmar que o Estado criação relativamente recente na
história da humanidade (WEBER, [1968?], p. 98).
Sob essa ótica, pode-se afirmar, com Miranda (2002), que foi
no continente europeu que nasceu o Estado, caracterizando-se ali sua
existência pela de uma autoridade central, monopolizadora da coerção.
De fato, se o poder, antes disso, estivera disperso entre várias
autoridades verticalmente dispostas, desde então ocorreu sua
concentração no rei, de quem passou a emanar toda autoridade pública,
que a partir daí foi dirigida a todos os pontos de um território com limites
precisamente determinados.
Se é certo que o Estado não se desenvolveu de modo
homogêneo em todos os quadrantes1, parece seguro, porém, com Poggi,
que para seu surgimento contribuiram decisivamente a ruína econômica
da nobreza, a ascensão burguesa e as aspirações desta a um Estado e
soberano que, superando as limitações de estruturas regionais
insuficientes, permitisse a expansão de suas atividades no plano
internacional.1 “O Estado não se desenvolveu, todavia, de modo homogêneo em todos os quadrantes, verificando-se seu surgimento ora de forma pacífica, ora violenta …”. “Além disso, se deu “através de processos variados, entre os quais figuraram a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou econômicos, a secessão e o desmembramento” (DOEHRING, 2008; RUFFIA, 1973).
15
Pode-se por isso dizer que o Estado nasceu com feição
autoritária, manifestada no fim de atender a certa classe, o que pouco
após se revelaria com a aparição, na história, do Estado Absoluto.
Com efeito, não tardaram a surgir pensadores que, como Bodin
(1530-1596), rompeu com a concepção de autoridade como exercício da
justiça tradicional e formulou a ideia do poder político como a capacidade
soberana de criar novas leis e impor-lhe incontrastável obediência, ou
seja, o de impor leis sem o consentimento dos súditos.
Representou o Estado absoluto a ideia de máxima
concentração do poder no rei, isoladamente ou com seus ministros, de
tal modo que o que imperava era a sua vontade, sendo as regras
jurídicas definidoras de sua ação vagas, raras e quase nunca escritas
(MIRANDA, 2002).
Em meados do Século XVIII, porém, daria o pensamento de
Bodin lugar às idéias contratualistas, a que se seguiria o surgimento do
Estado Constitucional.
2.2 Estado constitucional
Se de um lado assistiu o absolutismo ao surgimento de teorias
que o procuraram justificar, também ao seu tempo surgiram os vigorosos
e contundentes escritos de Montesquieu (1689-1755), Voltaire
(1694-1778) e Rousseau (1712-1778), que enorme influência tiveram nos
acontecimentos que se seguiram.
Assim, enquanto uns criticavam a Justiça francesa e seu
caráter hereditário, outros sustentavam que a soberania pertencia ao
legislativo, defendendo-se, ainda, a separação de funções.
Tais ideias, influenciando os dois lados do Oceano Atlântico,
16
contribuiriam decisivamente para a eclosão das Revoluções Americana e
Francesa, ao cabo das quais nasceriam os Estados que afirmaram
princípios dos quais não mais se poderia prescindir.
Com efeito, ao cabo desses acontecimentos, uma nova
concepção era consagrada na Europa, a do Estado constitucional. Nele,
adotavam-se os princípios da legalidade, da separação dos poderes e da
representação política, bem como uma declaração de direitos. E, como
observa Miranda (2002), embora a máquina administrativa
permanecesse a mesma do anterior, se tinham introduzido
demasiadamente profundas modificações no plano ideológico e jurídico:
se antes o que vigorara era a tradição, cedia ela passo ao contrato
social, a que se passava a atribuir, então, a origem da sociedade; ao
invés da soberania do príncipe, em que se afirmava antes radicar todo o
poder, a soberania nacional; em lugar do poder unipessoal, a vontade
geral; sucedendo a razão do Estado, passava este à condição de
executor de normas jurídicas de que os destinatários não eram mais
súditos, mas cidadãos.
Em diferentes graus de intensidade, evidentemente,
projetaram-se esses princípios e ideias por todo o planeta. E o Brasil a
eles não estaria imune, como se veria.
17
3 ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO
3.1 Brasil, de colônia a império
A adoção, pela França revolucionaria, de uma política
anexionista, causou profunda intranquilidade na região, no curso da qual,
sob intensa pressão, tomou a família real portuguesa, para proteger-se, o
caminho de sua então colônia, o Brasil (CALMON, 1959), que assim
reeberia novo impulso no sentido de sua independência, que se
consumaria, simbolicamente2, com o grito do Ipiranga.
Assim, enquanto permaneciam em vigor no Brasil as
Ordenações Filipinas (ALMEIDA, 1870), instalou-se em 03 de maio de
1823 (CALMON, 1959), a Assembleia Geral Constituinte, que porém foi
dissolvida em 12 de novembro de 1823, seguindo-se a outorga do texto
jurado em 25 de março de 1824 (BONAVIDES, 1991).
Embora contendo uma declaração de direitos, sob a inspiração
liberal que triunfara décadas antes, tinha a Constituição caráter
nitidamente autoritário, expresso na inserção, em seu texto, de um
“Poder Moderador”, em que foi investido privativamente o Monarca. Foi
isso, aliás, que levou Bonavides a dizer, a propósito, tratar-se o instituto,
literalmente, da “constitucionalização do absolutismo” (1991, p. 96).
Sustentado o primeiro reinado à custa de intervenções
militares, não sobreviveria a monarquia à passagem do tempo, no Brasil,
aprofundando-se o desgaste pelas chamadas questões militar,
escravagista e religiosa, que, retiando-lhe o prestígio e sutentação,
2 “foi na verdade em 03 e 19 de junho de 1822 que deu o Brasil passos mais firmes em direção à sua independência...”. Isto porque “nessas ocasiões ocorreu a edição, respectivamente, do Decreto de convocação de uma “Assembleia Luso-Brasiliense”, ou “Assembleia Geral Constituinte e Legislativa” , composta de deputados das Províncias do Brasil, e das instruções referentes às condições para a qualificação dos candidatos” (BONAVIDES, 1991; VARNHAGEN, 1957).
18
levariam à Proclamação da República, e ao novo Estado, agora
republicano e federal, que se seguiu.
3.2 Brasil república
3.2.1 A primeira república e a constituição de 1891
Proclamada a República em 15 de novembro de 1889,
promulgou-se em 1891 a Constituição que, em 91 artigos, mantendo
alguns dos princípios já enunciados na legislação editada pelo Governo
Provisório, consagrou a separação dos poderes, a eleição direta do
Presidente e Vice-Presidente, extinguiu privilégios de berço, foros de
nobreza e títulos nobiliárquicos, secularizou cemitérios, laicizou o ensino,
separou Estado e Igreja, garantiu o habeas corpus, aboliu a pena de
morte, assegurou o livre direito de propriedade, de reunião, e
acrescentou, aos já reconhecidos na Constituição Imperial, a isonomia, a
livre manifestação do pensamento, a liberdade de associação, a
inviolabilidade de domicílio e a instituição do júri, declarando seu art. 28,
ainda, que não se achavam excluídos “outras garantias e direitos não
enumerados, mas resultantes da forma de governo que ela estabelecia e
dos princípios que [consignava]” (BONAVIDES, 1991, p. 251).
Claramente inspirada na Constituição americana, que
congregou sob autoridade central treze colônias originalmente
independentes entre si, a brasileira, embora destinada a um Estado
historicamente unitário, transformou as anteriores províncias em Estados,
conferindo-lhes expressiva autonomia, inclusive no campo legislativo,
mas não foi capaz de reduzir as desigualdades regionais, nem tampouco
evitar que as oligarquias estaduais, mediante fraudes, obstassem a
alternância de poder.
19
Foi esse o quadro em que, rompido o pacto de rodízio de poder
firmado entre oligarquias que o exerciam, deu-se a Revolução de 1930.
3.2.2 A revolução de 1930 e a constituição de 1934
Consumada a Revolução de 1930, ao que se seguiu grave
descontentamento com seus rumos, cujo auge se traduziu na Revolução
Constitucionalista de 1932 (SKIDMORE, 1982), viu-se o Governo
obrigado a remover os entraves ao retorno à normalidade, que se
traduziu na promulgação, em 16 de julho de 1934, da segunda
Constituição da República.
Nela, os três poderes, que no texto anterior eram definidos
como independentes e harmônicos, passavam a ser independentes e
coordenados, proibindo-se a delegação e o seu exercício cumulativo.
Nela também eram relacionadas as competências privativas da União e
Estados, passando-se a prever a possibilidade de intervenção dos
últimos nos Municípios. A legislatura, fixada em três (art. 16, §2°) ou nove
(art. 31), na Constituição anterior, era estabelecida em quatro anos, (art.
22, parágrafo único) para ambas as casas, atribuindo-se ao Senado, cuja
competência legislativa era mitigada, a condição de colaborador da
Câmara (BRASIL, 1934).
Representou a Constituição de 1934 a expressão do Estado
Social, inaugurada com a Constituição do México, em 1917, e continuada
com a Constituição do Weimar, de 1991, em que se inspirou (LEAL,
1962).
Manifestando a nova tendência, em que não eram ignorados
ou anulados direitos individuais, inseriram-se os direitos sociais, ou de
prestação, com títulos, desconhecidos na Constituição de 1891,
20
referentes a ordem econômica e social e à família, educação e cultura.
Nela, deve-se destacar a inclusão do direito à subsistência, inserido no
caput do art. 113 e desconhecido do texto anterior, bem como a
supressão da plenitude do direito de propriedade, prevista no § 17 do art.
72 da Constituição de 1891 (BRASIL, 1891), agora insuscetível de
exercício contra o interesse social e coletivo (art. 113, § 17). Em igual
sentido se orientou o art. 115, ao impor que a ordem econômica se
organizasse de modo a possibilitar a todos existência digna, como
também o capítulo pertinente à legislação trabalhista, especialmente a
garantidora de salário mínimo, jornada de trabalho máxima, repouso
semanal e férias, dentre outros (BRASIL, 1934).
Por isso a lição de Bonavides, segundo quem: Converteu-se a Constituição nesse capítulo sobre a ordem econômica e social numa apaixonada plataforma das idéias que marcam a índole nova do Estado brasileiro, enriquecidas e completadas no título seguinte, respeitante à família, educação e cultura. Aí as conotações sociais avultam com a mesma expressão e energia. A família é posta “sob a proteção especial do Estado”, a educação é direito de todos, as artes, as letras e a cultura são objeto de favorecimento, amparo e estímulo de poderes que se movem em três órbitas: União, Estado e Município. [BONAVIDES, 1991, p. 324]
No entanto, revelando desde sempre tendências autoritárias,
Getúlio Vargas, que se opunha aos rumos tomados pelo País, estimulou
conflitos entre diferentes atores políticos, obteve assim poderes de
exceção e, por seu intermédio, arquitetou o Golpe do Estado Novo, que
produziria, no próprio dia de sua deflagração, novo Texto Constitucional.
3.2.3 O Estado Novo e sua constituição
Produzida por representante daquilo que se denominou
“geração dos intelectuais autoritários” (BONAVIDES, 1991, p.332), a
Constituição de 1937, atenta às suas origens e fins, outorgou ao
21
Presidente da República (art. 74) a competência para expedir Decretos-
leis, declarar guerra (independentemente de autorização do Poder
Legislativo, em caso de invasão ou agressão estrangeiras), decretar
estado de emergência e para intervir nos Estados. Também eram suas
prerrogativas (art. 75) as de indicar um dos candidatos à Presidência da
República, dissolver a Câmara dos Deputados em caso de não
aprovação das medidas por ele tomadas durante o estado de
emergência ou de guerra e escolher 10 dos integrantes do Conselho
Federal, que era uma das casas do Parlamento, que podia ainda adiar,
prorrogar e convocar (BRASIL, 1937).
Além disso, no capítulo referente à defesa do Estado, permitia-
se (art. 171) que, no estado de guerra, deixasse de vigorar a Constituição
nas partes indicadas pelo Presidente da República. Era a ele também
(art. 166) que, tendo decretado estado de emergência (ou de guerra, se
fosse necessário o emprego das forças armadas), cabia (art. 168) deter
pessoas em edifício não destinado a réus de crimes comuns, desterrá-las
para outros locais do território nacional, forçá-las a residir em
determinados pontos, com privação da liberdade de ir e vir, censurar
correspondência e toda forma de comunicação oral ou escrita, suspender
a liberdade de reunião e executar busca e apreensão em domicílio. Já
por força do art. 169, era-lhe permitido, ainda que o Legislativo tivesse
negado a licença respectiva, deter qualquer de seus membros,
independentemente de comunicação à casa a que pertencesse, desde
que entendesse a medida urgente. Coroando as disposições, previa o
art. 170 que dos atos praticados durante o estado de emergência ou de
guerra não conheceriam os juízes e tribunais (BRASIL, 1937).
Não bastasse o que se expôs, estabeleceu a Constituição, em
22
seu art. 175, que o mandato do então Presidente se renovava até a
realização do plebiscito previsto no art. 187, que dependeria de
regulação por decreto seu, que nunca se editou (BRASIL, 1937).
Dado seu caráter, tratou a Constituição de enfraquecer o Poder
Legislativo, ainda, através da possibilidade de prisão de seus membros,
reforçando esse efeito o art. 43, que não lhes garantia imunidade
material nas hipóteses de crime de difamação, calúnia, injúria, ultraje à
moral pública e provocação pública ao crime (BRASIL, 1937).
O enfraquecimento do Poder Judiciário, por sua vez, foi
promovido pela Constituição com a proibição do exame de certos
assuntos, como os políticos (art. 94), e dos atos praticados durante os
estados de emergência e de guerra (art. 170), além, é claro, da ressalva,
nela contida, de acordo com a qual se mantinham, sim, as tradicionais
garantias da magistratura, porém, com as restrições nela expressas
(BRASIL, 1937).
Governando por decreto, até o ano de 1945, com o auxílio dos
interventores que nomeou, não resistiu Getúlio Vargas, porém, ao
crescimento da oposição ao seu governo, nem tampouco ao clima
desfavoravel, na oinião pública, decorrente do fato de achar-se o Brasil
numa ditadura enquanto tropas basileiras contra elas lutavam na Europa.
Assim, em 30 de outubro de 1945, em meio a um clima político
insustentável, sitiado o Palácio do Catete, Vargas foi deposto pelo Alto
Comando do Exército.
3.2.4 O fim do Estado Novo e a constituição de 1946
Deposto Vargas, teve lugar o processo dstinado à eleição dos
mandatários a quem incumbiria a elaboração da nova Constituição e de
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um novo Presidente da República.
Assim, ao cabo dos trabalhos, em 18 de setembro de 1946, foi
promulgada a Constituição brasileira, acerca da qual, como lembrou
Baleeiro, a Composição social dos constituintes naturalmente se refletiria na Constituição de 1946 [...] literalmente tão bem redigida quanto a de 1891. [...] A estrutura e as linhas gerais [a ela se] assemelham [...] mas sem a rigidez presidencialista desta, pois foram conservados os dispositivos que permitiam a convocação ou o comparecimento espontâneo dos ministros ao Pleno; as Comissões de Inquérito Parlamentar por iniciativa de 1/5 dos membros de cada Câmara [e] o Senado voltou à posição de 1891 no Poder Legislativo. [BALEEIRO; LIMA SOBRINHO, 2001, p.16].
Partindo, segundo Baleeiro (2001), da ideia kantiana de que o
Estado é meio e o homem o fim, para o qual deveria aquele convergir
seus esforços, elevando-o material, física, moral e intelectualmente,
procurou a Constituição de 1946 repartir as rendas entre União, Estados
e Municípios de modo a obter tal desiderato.
Além disso, buscou-se assegurar autonomia a Estados e
Municípios, garantindo-se, também, a liberdade de pensamento e culto.
A decretação do estado de sítio, diversamente do que ocorrera no texto
anterior, ficava então reservada ao Congresso Nacional, cujos membros,
Senadores e Deputados, passaram a ter mandatos de oito e quatro anos,
respectivamente. Livre também passou a ser a organização partidária,
salvo em relação àquelas agremiações que contrariassem o regime
democrático. Também procurou a Constituição de 1946 conferir, ao
Legislativo e ao Judiciário, o prestígio que a de 1937 lhes tinha subtraído.
Nela também, numa tentativa de compatibilizar disposições de natureza
liberal com social, mantinha-se o direito de propriedade, salvo
desapropriação, que, todavia, no seu regime, deveria ser objeto de
indenização em dinheiro. Também se previa a intervenção no domínio
24
econômico, inclusive para monopolizá-lo, sempre, porém, tomando por
base o interesse público e por limites os direitos fundamentais (art. 146).
Também se manifestava o Estado Social na previsão de repouso
semanal remunerado, no direito de greve, na participação nos lucros da
empresa, na aposentadoria e na inserção da Justiça do Trabalho no
âmbito do Poder Judiciário (BRASIL, 1946).
Foi sob o império da Constituição de 1946 que estiveram os
Governos Dutra (1946-1951), Getúlio Vargas (1951-1954), Café Filho
(1954-1955), Juscelino Kubitscheck (1956-1961), Janio Quadros (1961) e
João Goulart (1961-1964).
Todavia, na crise militar que se abriu, durante o governo de
João Goulart, deu-se o golpe de 1964, a que sucederam a Constituição
de 1967 e a Emenda Constitucional de 1969.
3.2.5 O golpe militar e a constituição de 1967
No poder que se atribuiu, editou o Governo Militar o Ato
Institucional n° 4, de 07 de dezembro de 1966, que convocou o
Congresso Nacional para reunir-se para a discussão e votação de uma
nova Constituição cujo projeto lhe foi enviado em 12 de dezembro de
1966 (BONAVIDES, 1991).
Assim, em 24 de janeiro de 1967, o Congresso Nacional, que
não fora legitimado pelas urnas para fazê-lo, a quem os rígidos prazos
previstos no Ato Institucional inibiam o fazê-lo corretamente e a quem as
então recentes cassações coarctavam, promulgou a Constituição de
1967 (BONAVIDES, 1991; LIRA NETO, 2004).
Instrumento do arbítrio, buscava a Constituição de 1967
colocar sob seu controle a sociedade.
25
Daí ter, sobre ela, em 24 de janeiro de 1967, data de sua
promulgação, dito o jornal Correio da Manhã:Hoje, 24 de janeiro, será promulgada a Constituição, apelido da nova carta outorgada. Ela instaura um neo-Estado Novo e constitucionaliza uma ditadura que se implantou pela audácia de um grupo armado. É a ata de um conluio, não um texto digno do respeito nacional [LIRA NETO, 2004, p. 394].
A ela se seguiriam, ante as reações de setores da sociedade
ao regime militar, a edição do ato institucional numero 5 e da Emenda
Constitucional, número 1, de caráter mais acentuadamente autoritários.
Pelo primeiro, mantida a Constituição de 1967 (art. 1°),
conferia-se poder ao Presidente da República para decretar o recesso do
Legislativo Brasileiro (art. 2°), achando-se o Brasil em estado de sítio ou
não, circunstância em que se concentrava no Poder Executivo a
competência para legislar. Também se conferia ao Presidente a
competência para decretar intervenção nos Estados e Municípios (art.
3°), bem como para limitar, pelo prazo de 10 anos, os direitos políticos,
assim como para cassar mandatos (art. 4°). Também se previa (art. 5°)
que a cassação importaria em perda de privilégios de foro, suspensão de
direitos políticos, proibição do exercício de atividades, aplicação de
liberdade vigiada, frequência a certos lugares e obrigação de domicílio
em local determinado, sem prejuízo de outras que pudessem constar do
ato. Além disso, subtraída a apreciação das medidas ao Poder Judiciário
(art. 5°, §2°), ficavam suspensas as garantias constitucionais da
vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade (art. 6°), permitindo-se ao
Presidente da República a demissão, remoção, aposentadoria, colocação
em disponibilidade e decretação de confisco de bens (art. 8°) (BRASIL,
1968). Enfim, “Pela primeira vez desde 1937 e pela quinta vez na história
do Brasil, o Congresso era fechado por tempo indeterminado [...]
26
[restando] atendida a reivindicação da máquina repressiva” (GASPARI,
2002a, p. 340).
Em seguida, em 17 de outubro, promulgou-se a Emenda
Constitucional n° 1, que consolidou a supremacia do Executivo sobre o
Legislativo, sob o argumento de que “seguia critérios universais
predominantes” (BONAVIDES, 1991, p. 443).
3.2.6 A abertura e o retorno do poder aos civis
A longa agonia do regime autoritário e dos amplos e em certo
instante majoritários setores que a ela se opunham se traduziu, ao fim de
ao cabo, no retorno do Brasil à ordem constitucional, obtida com o
promulgação, em 05 de outubro de 1988, da vidgente Constituição da
República.
Evidentemente, à Constituição de 1988 não faltaram títulos
consagrados à organização do Estado (III) e dos poderes (IV), à sua
defesa e à das instituições democráticas (VI), nem tampouco os
referentes à ordem econômica, financeira (VII) e à social (VIIII) (BRASIL,
1988).
Constituiu inovação, porém, em relação aos textos anteriores, a
introdução de título, referente aos princípios fundamentais, em que se
afirmou ser o Brasil um Estado Democrático fundado na soberania, na
cidadania, na dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do
trabalho e iniciativa privada, assim como no pluralismo político.
Nesse particular, seguiu a Constituição brasileira a tendência
inaugurada na Península Ibérica com as Constituições da Republica de
Portugal, de 02 de abril de 1976, que sucedeu a Revolução dos Cravos,
e da Espanha, de 27 de dezembro de 1978, promulgada após a fim da
27
longa ditadura iniciada por Francisco Franco.
É que, de fato, ali se estabelecido, sob o título “princípios
fundamentais”, em seu artigo 1°, ser “Portugal [...] uma República
soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade
popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e
solidária”, asseverando seu artigo 2° ser ainda “um Estado de direito
democrático [baseado] na garantia da efetivação dos direitos e
liberdades fundamentais [com] interdependência de poderes e o
aprofundamento da democracia participativa” (SENADO, 1987, p.
759-760, v. II). A segunda, por sua vez, afirmando ser a Espanha “um
Estado social e Democrático de Direito”, pronunciara como valores
superiores de seu ordenamento jurídico a liberdade, a justiça, a
igualdade e o pluralismo político (SENADO, 1987, p. 359, v. I).
Inovadoras foram, ainda, no constitucionalismo brasileiro, a
afirmação dos fins ou objetivos fundamentais da República e a posição
destacada em que se inseriu o título (II) referente aos direitos e garantias
fundamentais, fossem individuais ou coletivos (art. 5°), fossem sociais (6°
a 11), e a extensão inaudita dos então consagrados.
Com eles, o constitucionalismo brasileiro, que introduzira nas
constituições de 1824 e 1891 alguns dos direitos fundamentais de
primeira geração, e nas de 1934, 1937, 1946 e 1967 alguns dos de
segunda, incorporou à de 1988 alguns de terceira.
Foi nessa Constituição, sob vários aspectos inédita, que o
Ministério Público, que se constituíra no país desde a época colonial,
veio a ocupar, após longa trajetória, seção de capítulo referente às
funções essenciais à atuação da jurisdição.
28
4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Embora alguns estudiosos apontem suas origens nos Magiaí,
do Egito antigo, e outros na na Grécia, na Roma Clássica, Suécia ou
mesmo nas cidades alemãs, a visão predominante da doutrina é que o
Ministério Público nasceu3 com os antigos Procuradores do Rei, na
França, aos quais fazia referência a Ordenança que editou em 25 de
março de 1302 Felipe IV, o Belo, que reuniu então numa só instituição os
servidores encarregados da administração de seus bens pessoais, de
promover a ação penal e de defender os interesses da Coroa junto aos
tribunais (MAZZILLI, 2005).
Díspares as funções atribuídas à instituição — pois lhe
competia a defesa de interesses públicos e privados — acabou a
circunstância, com o correr do tempo, por causar-lhe grave desgaste, o
que fez com que, atribuindo-lhe seus críticos, durante a Revolução
Francesa, certa tendência em confundir uns e outros, se chegasse a
propor até mesmo a sua extinção (SAUWEN FILHO, 1991).
Acolhida porém a ponderação de que algumas vezes haviam
seus membros se recusado — embora devendo estrita obediência e
subordinação ao rei — a cumprir ordens que lhes tinham parecido
contrárias ao bem comum, optou a Assembleia Nacional Constituinte por
mantê-lo.
Assim, conformando-o aos ideais que então triunfavam,
promoveu a Assembleia Nacional Constituinte francesa profundas
transformações no Ministério Público, dando-lhe as feições com as quais,
através das invasões napoleônicas, difundiu-se pela Europa continental
3 Se a Instituição, aparentemente, surgiu nessa época, teria a denominação que ostenta, por sua vez, surgido da prática, dos que a ela pertenciam, de referir-se, em suas correspondências, ao seu ministério .(MAZZILLI, 2007; AXL, 2001).
29
(TORNAGHI, 1959) e, depois, pelas pelas colônias.
4.1 O Ministério Público no Brasil
4.1.1 O Ministério Público no Brasil colônia
Colônia portuguesa, submeteu-se o Brasil durante séculos à
legislação da metrópole, onde, desde 14 de janeiro de 12894, se criara a
função de Procurador do Rei, com a atribuição de “chamar à casa do rei”
os que com ele “tivessem questões”.
Foi mais tarde, quando se percebeu a necessidade de
constituição de uma instituição que reclamasse a aplicação da lei, que
surgiu a figura do “Procurador de Justiça”, regulada pelo Título VII, do
Livro I, das Ordenações Afonsinas de 1446.
Assim, quando foram editadas as Ordenações Manuelinas, já
existia, na Casa de Suplicação de Lisboa, um Procurador de Feitos da
Coroa e um Procurador de Feitos da Fazenda, segundo o antigo modelo
francês, a eles cabendo a defesa dos interesses do monarca e do
Estado.
A eles, somaram as Ordenações Filipinas as figuras de um
Promotor de Justiça e um solicitador de justiça, funcionando, ainda, junto
à Casa do Cível da Relação do Porto, um promotor de justiça e um
solicitador de justiça. Coincidiu, pois, em Portugal, o surgimento do
Ministério Público com a criação dos tribunais perante os quais
funcionava (SAUWEN FILHO, 1999, p. 103-106).
Tal em linhas gerais a estrutura do Ministério Público
português, por decisão da metrópole se estabeleceu, em 07 de março de
1609, o Tribunal de Relação na Bahia, nele sendo instituído o cargo de 4 Perceba-se, portanto, que, embora possa ter a legislação portuguesa sofrido influência da de seus vizinhos, a instituição do Ministério Público, ali, é possivelmente anterior à que ocorreu na França.
30
Procurador dos Feitos da Coroa, Fazenda e Fisco e o de Promotor de
Justiça5, a este sendo atribuído o encargo de preservar a integridade da
jurisdição civil contra as invasões da eclesiástica.
No entanto, como a confusa estrutura judicial da colônia
estimulava o surgimento de conflitos entre autoridades civis e
eclesiásticas, os que se opunham à Relação de Salvador acabaram
obtendo o seu fechamento, em 05 de abril de 1626, sendo por isso
atribuído ao promotor da casa de suplicação de Portugal, por carta de 27
de julho de 1627, o encargo de denunciar os criminosos no Brasil.
Perdurando tal situação até 1653, quando se deu a recriação
(AXL, 2001) da Relação da Bahia, nada, porém, na organização do
Ministério Público, foi alterado, nesse período, tampouco vindo isso a
ocorrer quando, em 1751, deu-se a instalação da Relação do Rio de
Janeiro.
Com efeito, foi apenas com a chegada da família real ao Brasil
que transformações foram realizadas na estrutura judiciária do Brasil6,
sendo elevada a Relação do Rio de Janeiro à categoria de Casa de
Suplicação, pelo alvará de 10 de maio de 1808, assim como criadas, em
18127 e 18218, respectivamente, as relações do Maranhão e
Pernambuco9.
Era então o Ministério Público, a quem se atribuíam várias e
distintas funções, a exemplo do que sucedia em Portugal, simples
auxiliar do ofendido na ação penal, somente depois vindo a tornar-se
5 E, seguindo os costumes da época, era ele obrigado, antes de despachar, a usar opa e a ouvir missa celebrada por capelão especial (LYRA, 1937; SAUWEN FILHO, 1999; CÂMARA, 1965, II).6 E, por consequência, no Ministério Público.
7 7 alvará com força de lei de 13 de maio de 1812 (CÂMARA,1965, p. 147-150, tomo II).8 alvará de 06 de fevereiro de 1821(CÂMARA, II, 1965).9 Nesses tribunais, o segundo desembargador em antiguidade exercia o cargo de procurador da Coroa e fazenda; o terceiro, de procurador da justiça (CÂMARA, II, 1965).
31
principal e tomar-lhe o lugar10 (ALMEIDA JUNIOR, 1959).
Aliás, como leciona Almeida Júnior (1959, p. 167, v. 2), em
Portugal, de onde veio para o Brasil, embora coubesse ao Ministério
Público, desde o século XIV, promover a ação penal pública, “nunca a
[sua] iniciativa [...], assim como o procedimento oficial dos juízes se
manifestaram, sem que ficasse provada a falta de acusação do ofendido
ou de sua família”.
Era porém confusa a atuação do Ministério Público no Brasil,
como confusa era, no dizer de Leal (1978), a própria organização das
atividades do poder público à época colonial. E tal era a situação quando,
na terceira década do século XIX, deu-se o nascimento do Brasil como
Estado nacional, disso decorrendo inevitáveis reflexos também no
Ministério Público.
4.1.2 O Ministério Público sob o regime da Constituição de 1824
Tornando-se independente de Portugal, ocorreu no Brasil, em
1824, a outorga de Carta Constitucional, nela se tendo tratado do Poder
Judiciário, que ali se afirmou (art. 151) independente e composto por
juízes11 e jurados, atribuindo a estes o artigo 152 o exame da matéria
fática e àqueles o do direito.
Despia a Constituição o Poder Judiciário, todavia (art. 153), das
garantias imprescindíveis ao exercício de seu mister, ao mesmo tempo
em que, no tocante ao Ministério Público, quase nada disse12.
10 Porém, em Portugal, como no Brasil, não chegaria o Ministério Público a experimentar, na época, a importância que na França se viu (ALMEIDA JUNIOR, 1959).11 Também cuidou a Constituição de conferir aos magistrados a garantia da “perpetuidade” (art. 153), que, porém, era gravemente mitigada na exceção que acompanhava a regra (BRASIL, 1824).
12 Limitava-se ela, de fato, apenas a estabelecer, no artigo 48, relativo às competências do Senado, que, nos crimes em que tal não coubesse à Câmara dos Deputados, seria a acusação promovida pelo Procurador da Coroa e Soberania Nacional, este, evidentemente, da livre escolha do Imperador (BRASIL, 1824).
32
Assim, enquanto na França, em 1791, já afirmara
categoricamente a Assembleia Constituinte a tese de que o direito de
acusação é atributo da soberania nacional (ALMEIDA JÚNIOR, 1979, v.
2), que deveria por isso ser delegado ao Ministério Público, para, agindo
em nome do Estado, promover a aplicação da lei penal, ignorava
inteiramente a questão a Constituição Imperial brasileira, que, além de
nada a respeito dispor, absteve-se de organizar uma instituição que
pudesse fazê-lo (LYRA, 1937).
Atribuída a responsabilidade pelo trato da matéria, portanto, a
norma infraconstitucional, em 18 de setembro de 1828 se editou a Lei
que, criando o Supremo Tribunal de Justiça, previu em seu artigo 30 a
obrigatoriedade da intervenção do promotor de justiça na acusação de
todos os crimes, ainda quando houvesse parte acusadora.
Naquela oportunidade, porém, não se cuidou de organizar a
instituição, de definir os limites de suas atribuições, nem tampouco de
estabelecer os requisitos e critérios para o ingresso no cargo e
desempenho das funções. Daí que, sendo recrutados os promotores de
modo rudimentar, por razões exclusivamente políticas, fossem as
funções exercidas frequentemente por pessoas despidas de maturidade,
e mesmo de qualquer preparação, causa a que se pode atribuir, ao
menos em parte, a sua ineficiência (SAUWEN FILHO, 1999).
Era, portanto, precário o funcionamento do Ministério Público,
no regime da Lei de 18 de setembro de 1828, quando sobreveio o
Código de Processo Criminal de 1832, que dedicou aos “Promotores
Públicos” os artigos 36 a 38, por intermédio dos quais passou o Código a
dispor sobre as funções que por seus membros seriam exercidas, bem
como sobre um mínimo de requisitos a que deveriam atender os que
33
pretendessem fazê-lo.
Assim, a) poderiam ser promotores os que pudessem ser
jurados, preferindo-se os que fossem instruídos em leis; b) seriam
nomeados pelo governo, na Corte, e pelo Presidente, nas Províncias,
pelo prazo de três anos, sendo escolhidos em listra tríplice proposta
pelas Câmaras Municipais; c) sua era a atribuição de denunciar crimes
graves, solicitar a prisão e punição dos criminosos e representar contra
negligência de empregados da Justiça; e d) nos seus impedimentos ou
faltas, poderiam ser substituídos por interinos nomeados pelos juízes
municipais (PESSOA, 1899; VIANNA, 1876).
Não obstante ter trazido o Código de Processo Criminal de
1832, inegavelmente, algum avanço no confuso e ineficiente quadro da
Justiça Criminal daquele período, foi por ele mantida, nas Províncias do
Império, para administração da justiça criminal, a precedente
organização judiciária, com a divisão em comarcas, termos e distritos. E
ocorreu, que, nestes, previu-se a existência de um escrivão, inspetores
de quarteirão, oficiais de justiça e um juiz de paz, este com funções
judiciárias, e, tal qual o eram os promotores e juízes municipais,
selecionado através de processo eletivo.
Ademais, impunham as regras adotadas, aos promotores,
dupla subordinação, já que, a par da exigência de que figurassem seus
nomes em lista tríplice composta segundo os anseios do poder político
local, poderiam ser substituídos em seus impedimentos ou faltas por
quem os juízes municipais indicassem13.
A deficiente estrutura, associada à eletividade dos
responsáveis pela função jurisdicional e sua provocação, era tal que, em 13 E o ponto nevrálgico residia exatamente em que, nada dispondo a lei a respeito de impedimentos, subordinava-se o exercício das funções, em última análise, à vontade do juiz municipal, que era o único critério a que se submetia a afirmação ou negação do impedimento.
34
sessão de 03 de novembro de 1841, o Ministro da Justiça, Paulino de
Sousa, examinando-a, asseverou que as influências das localidades habituaram-se assim a ditar condições ao governo, impondo-lhe os homens que querem para juízes. Os juízes de paz, que a Constituição parece haver querido reduzir às conciliações, são de eleição popular: nas suas mãos a nossa legislação atual depositou toda a autoridade criminal e exclusivamente a arma das pronúncias, de todas a mais forte e a mais terrível. Os juízes municipais, de órfãos e promotores são propostos em lista tríplice, pelas Câmaras Municipais, que também organizam a lista de jurados. Assim, quase toda a justiça nasce e se forma nos municípios por uma maneira quase independente, porque, ainda que aos Presidentes de província pertença nomear juízes municipais, de órfãos e promotores, é essa nomeação dependente e limitada a três indivíduos propostos pelas Câmaras. Que justiça poderia se esperar de tais autoridades? Que garantia têm elas oferecido? Uma luta continuada, uma serie não interrompida de reações, todo o favor, toda a proteção para os que as elegeram, toda a perseguição para os que não quiseram contribuir para a sua eleição. [NEQUETE, 1973, p. 66].
Natural, pois, que, nos turbulentos e violentos anos que se
seguiram à edição do Código de Processo, em larga medida estimulados
pela ineficiência de uma Justiça Criminal eletiva, fossem esboçadas
iniciativas de sua reforma, quer no tocante às funções dos juízes de paz,
quer em relação ao Ministério Público.
Daí ter sobrevindo, em 1841, a Lei 261, de 03 de dezembro,
que previa a existência, no município da Corte e em cada uma das
províncias, um chefe de polícia, a que se subordinariam delegados e
subdelegados, todos de livre nomeação e demissão pelo governo,
naquela, ou pelos presidentes, nestas. Nela, também foram extintas as
juntas de paz e ampliadas as competências dos juízes de direito,
suprimida a exigência de lista tríplice para o provimento dos municipais,
assim como extinto o júri de acusação e outorgadas, a delegados e
subdelegados, funções tipicamente judiciárias (LEAL, 1978).
No tocante ao Ministério Público, a seu turno, previa a lei que,
35
sendo nomeados livremente pelo Imperador, na Corte, e pelos
Presidentes, nas Províncias, serviriam os promotores por tempo
indeterminado e enquanto conviesse (art. 22), podendo, por conseguinte,
ser demitidos a qualquer tempo. A mesma lei (art. 23) estabeleceu que
haveria pelo menos um promotor em cada comarca (ou mais de um,
havendo necessidade), de preferência escolhido entre bacharéis
formados (artigo 22), em cuja falta ou impedimento seriam substituídos
por interinos nomeados pelo juiz de direito (art. 22, “in fine”). Ademais,
para a percepção de seus ordenados, passou a exigir-se apresentação
de atestado de frequência subscrito pelos juízes a quem
acompanhassem (PESSOA, 1899).
Não foram pequenas as transformações. Ao contrário, foram de
tal modo profundas que, sobre elas, afirmou José Murilo de Carvalho
que:Juntamente com a interpretação do Ato Adicional, a reforma do Código de Processo foi um dos esteios da centralização política do Segundo Reinado. Pelo efeito conjugado das duas leis, as províncias perderam jurisdição sobre funcionários da justiça e da polícia, que passaram a depender do ministro da justiça. Os juízes de paz perderam grande parte de seu poder para os delegados de polícia. Direta ou indiretamente, o ministro da justiça nomeava e demitia desde o desembargador até o guarda da prisão. [CARVALHO, 1999, p. 31].
Aliás, a centralização foi tal e “a indignação causada nos meios
liberais [...] tamanha que a reforma de 1841 se inclui entre os motivos da
Revolução de 1842” (LEAL, 1978, p. 194).
Relativamente ao Ministério Público, em particular, entre outros
efeitos, produziram as modificações operadas o aprofundamento da
subordinação dos promotores, pois, além de recrutados com maior
liberdade que antes, nenhuma garantia da continuidade do seu exercício
funcional tinham que não a permanente obediência aos interesses
36
governamentais central ou provinciais, conforme o caso. Na verdade,
portanto, nesse aspecto, apenas se mudava o eixo da subordinação: se
antes a dupla obediência era devida ao poder político local e ao juiz
municipal, agora o era ao poder central ou provincial, conforme o caso, e
ao juiz de Direito, de quem dependia para a percepção de seus
vencimentos, a quem deveria acompanhar e por quem poderia ser
afastado da atividade por simples e arbitrária afirmação de impedimento.
De fato, subordinar a Justiça, de um modo geral, e o Ministério
Público, em particular, aos interesses do Governo central, era, à época, o
que pretendiam as reformas introduzidas no ordenamento jurídico
brasileiro. A tal necessidade, aliás, já se referia Pimenta Bueno, em
1857, ao asseverar que pelo que toca a nomeação e demissão de tais empregados, não pode haver dúvida alguma séria de que isso dependa inteiramente do juízo do governo. Ele é o representante da sociedade, o encarregado e responsável pelos direitos, ordem e segurança da sociedade. Os membros do Ministério Público não são senão agentes seus, de sua escolha e confiança, são molas de sua autoridade que devem ser conservadas ou destituídas como ele entender conveniente ao serviço público. [BUENO, 1958, p. 373].
Datam de meados do século XIX as observações, quando
lembrava Bueno (1958) incumbir ao Ministério Público, entre outros, a
defesa das propriedades ou direitos da coroa e da fazenda pública, a
proteção social de menores, interditos e ausentes, além, evidentemente,
da promoção da ação penal.
No entanto, lembrando ser vital a ação do Ministério Público na
administração da Justiça Criminal e lamentado o fato de se achar
representado na mais alta corte e nas comarcas, mas não perante os
juízes municipais (BUENO, 1958), observava que o Ministério Público, assim como quase todas as nossas instituições, [era] incompleto, sem centro, sem ligação, sem unidade, inspeção e
37
harmonia. [sofria] de mais a mais lacunas graves nas atribuições conferidas aos seus agentes, lacunas que muito [prejudicavam] a administração da justice. [BUENO, 1857, p. 51].
Viria porém o ano de 1871 e, com ele, a introdução de
importantes modificações na estrutura e funcionamento do Poder
Judiciário
De fato, se a Lei de 3 de dezembro de 1841, procurando
centralizar o poder, criara a figura dos chefes de polícia, delegados e
subdelegados, outorgando-lhes funções tipicamente jurisdicionais,
procederia a Lei 2033/71 de modo inverso, de modo a devolvê-las a
órgãos judiciários e separar, assim, de modo mais nítido, funções
policiais e administrativas das tipicamente judiciais.
Assim, dispôs o artigo 1° que nas capitais que fossem sedes de
Relações e nas comarcas de um só termo a elas ligadas, de modo que
em dia se pudesse ir e voltar, a jurisdição seria exercida exclusivamente
por juízes de direito, que seriam substituídos por outros, também
doutores ou bacharéis. Seu § 4°, por sua vez, dizia incompatíveis os
cargos de juiz municipal e de autoridade policial, além do que o §5°
impunha que, nomeados Chefes de Polícia, perdessem os magistrados
os respectivos predicamentos.
Cuidou a lei, ainda, de definir as competências dos juízes de
paz (art. 2º), que não voltariam, porém, a ser pronunciadas como antes
da Lei 261/1941, eis que em sua maior parte eram atribuídas aos juízes
municipais (art. 3º) e aos de direito (art. 4º e 5º). Também se extinguia
(art. 9º) a jurisdição dos chefes de policia, delegados e subdelegados, no
que respeitava ao julgamento dos crimes de que tratava o art. 12, § 7º do
Código do Processo Criminal, assim como as relativas ao julgamento das
infrações dos termos de bem viver e segurança, infrações de posturas
38
municipais e para o processo e pronuncia nos crimes comuns. Nestes
últimos, a propósito, impunha-se que as autoridades policiais,
procedendo às diligencias necessárias ao descobrimento dos fatos
criminosos e suas circunstâncias, transmitissem aos Promotores os
autos de corpo de delito e indicassem as testemunhas mais idôneas,
com todos os esclarecimentos coligidos, disso dando ciência à
autoridade competente para a formação da culpa.
Foi abolido (art. 15), ainda, o procedimento ex-oficio dos juízes
formadores da culpa, exceto nos casos de flagrante delito; nos crimes
policiais e nas hipóteses de omissão por parte do Ministério Público, a
quem (Lei 2033/71, art. 15, § 7º) as autoridades judiciárias deveriam
remeter as provas necessárias ao ofertamento da denuncia.
Suprimidas, como dito, as funções jurisdicionais das
autoridades policiais, especialmente no tocante à formação da culpa nos
crimes comuns, constituiu-se, em substituição à fase preliminar da
persecução penal, o inquérito policial, de que tratava a seção III do
Decreto 4.824/1871. Nela se dispunha inicialmente (art. 38) que, logo
que por qualquer meio lhes chegasse a notícia de se ter praticado algum
crime comum, procederiam as autoridades policiais às diligencias
necessárias para verificação de sua ocorrência, descoberta de suas
circunstâncias e identificação dos autores. Também eram relacionadas
as diligências que deveriam ser executadas, a saber (art. 39), a
realização do corpo de delito direto, de exames e buscas para apreensão
de instrumentos e documentos, inquirição de testemunhas, do autor e
ofendido, e tudo quanto fosse útil ao esclarecimento do fato e suas
circunstâncias. Também trazia o decreto disposições referentes à
hipótese de configuração de flagrância (art. 41), impondo-lhe o artigo 41
39
que procedesse a inquérito, nos crimes de ação penal pública, se não
comparecesse a autoridade judiciária ou não se instaurasse
imediatamente o processo da formação da culpa. Indicadas ainda outras
diligências que deveriam ser realizadas (art. 42), no prazo máximo de
cinco dias, após o que seriam os autos remetidos ao juiz municipal,
previa o Decreto a possibilidade de impugnação do depoimento das
testemunhas pelo indiciado (BRASIL, 1871).
No tocante ao Ministério Público, previa-se (§ 7º) a existência,
em cada termo, de um adjunto do Promotor Público, proposto pelo Juiz
de Direito da respectiva comarca e aprovado pelo Presidente da
Província. E, na falta de adjunto (§ 8º), previa-se que as suas funções
seriam exercidas por qualquer pessoa idônea nomeada pelo Juiz da
culpa para o caso especial de que se tratasse.
Aos Promotores Públicos incumbia o artigo 16 de assistir, como
parte integrante do Tribunal do Júri, a todos os julgamentos, inclusive
aqueles em que houvesse acusador particular, assim como de promover
os termos da acusação e interpor qualquer recurso, nos crimes de ação
pública, ainda que tivesse sido esta promovida por acusação particular.
O artigo 20, § 2º, do Decreto 4824, por sua vez, incumbia-os de
promover todos os termos da causa nos processos em que coubesse
ação penal publica, mesmo que houvesse acusador particular, de aditar
a queixa, a denúncia e o libelo, de fornecer outras provas além das
indicadas pela parte e de interpor os recursos, quer na formação da
culpa, quer no julgamento. Eram fixados, pelo art. 22, os prazos de trinta
ou cinco dias para ofertamento de denúncia, de conformidade com que
tivesse o réu prestado fiança ou estivesse preso, respectivamente,
enquanto em outros casos seria de cinco dias o prazo, contado do
40
recebimento de esclarecimentos ou provas do crime ou de quando este
tivesse se tornado notório. A eles se permitia, ainda (art. 23) o
aditamento da queixa ou denuncia, que o adjunto ou a pessoa nomeada
no caso do § 8º, do art. 1º, da Lei 2.033, houvesse apresentado, e o
prosseguimento nos termos da formação da culpa, para o que o adjunto,
ou quem suas vezes fizesse, deveria comunicar-lhe a que tivesse
formulado (BRASIL, 1871).
Tais eram as normas a que se achava sujeito no Brasil, nas
últimas décadas do século XIX, o Ministério Público, quando sobrevieram
os importantes acontecimentos que redundaram na Proclamação da
República.
4.1.3 A primeira república e o Ministério Público
Instalando-se no Brasil com a proclamação da República, o
Governo Provisório, sendo Ministro da Justiça Campos Sales, editou, em
11 de outubro de 1890, o Decreto 848, que tinha a finalidade de
organizar a Justiça Federal (BRASIL, 1890b).
Assim foi que, em seu art. 5°, instituiu o Decreto um Supremo
Tribunal Federal, composto de quinze ministros, de livre nomeação pelo
Presidente da República, com a aquiescência do Senado Federal,
escolhidos entre Juízes Seccionais ou cidadãos de notável saber e
reputação, cuja competência era definida pelo art. 9°. Em primeiro grau,
por sua vez, seria a jurisdição federal exercida (arts. 1° e 2°) por juízes
intitulados Juízes de Seção, de livre nomeação do Presidente da
República, que eram inamovíveis e vitalícios, e tinham a competência
estabelecida pelo art. 15 (BRASIL, 1890b).
No que se refere ao Ministério Público, dizia o Decreto (art. 6°)
41
que as funções de Procurador-Geral da República seriam exercidas por
Ministro do Supremo Tribunal Federal, escolhido pelo Presidente da
República, figurando entre as suas atribuições, segundo o art. 22, a
promoção da ação penal pública, a representação da União, o velamento
pela execução das leis, decretos e regulamentos, a defesa da jurisdição
federal e o fornecimento de instruções aos Procuradores Secionais. Em
primeiro grau seriam as funções do Ministério Público exercidas pelos
Procuradores Secionais, escolhidos pelo Presidente da República para
exercício da função pelo período de 4 anos, dentro dos quais eram
inamovíveis (art. 23). Suas atribuições se achavam previstas no art. 24,
figurando entre elas a promoção da ação penal pública, a solicitação de
instruções ao Procurador-Geral da República e o cumprimento das
ordens do Governo da República relativas ao exercício das suas funções.
Além disso, nas faltas e impedimentos dos Procuradores Secionais,
dispunha o art. 26, que seriam suas funções exercidas por quem o
Procurador-Geral nomeasse (BRASIL, 1890b).
Já no mês que se seguiu, editou-se, em 14 de novembro de
1890, o Decreto 1030, que organizou a Justiça no Distrito Federal e que,
ao tratar do Ministério Público, disse-o o “advogado da Lei, o fiscal de
sua execução, o procurador dos interesses gerais, o promotor da ação
pública contra todas as violações do direito, o assistente dos
sentenciados, dos alienados, dos asilados e dos mendigos”, incumbindo-
o de requerer o que fosse necessário para o bem da Justiça e dos
deveres de humanidade (BRASIL, 1890c).
Não obstante tivesse a exposição de motivos do Decreto
848/1890 asseverado ser “O Ministério Público... uma instituição
necessária em toda organização democrática e imposta pelas boas
42
normas da Justiça, a qual [competia] velar pela execução das leis,
decretos e regulamentos que [devessem] ser aplicados pela Justiça
Federal e promover a ação pública onde ela [conviesse]”, a ela não
dedicou a Constituição de 1891, contudo, grande atenção (LYRA, 1937,
p. 16).
De fato, pouco se referia a Constituição ao Ministério Público.
Dele somente cuidavam os artigos 58, §2°, inserido na seção referente
ao Poder Judiciário, para dizer que o Presidente da República designaria,
dentre os membros do Supremo Tribunal Federal o Procurador-Geral da
República, cujas atribuições seriam definidas em lei, e o 81, §1°, que o
dizia legitimado a promover a revisão criminal (BRASIL, 1891).
Ainda no âmbito federal, a Lei 221, de 30 de novembro de
1894, ao dispor sobre o Ministério Público, explicitou-lhe as atribuições,
de tal sorte que, agora expressamente, competia-lhe, entre outras, a
representação dos direitos e interesses da União, a alegação e defesa
dos direitos da Fazenda Nacional em todas as causas cíveis, a promoção
dos processos executivos de cobrança da dívida ativa, a promoção dos
processos de desapropriação por necessidade ou utilidade Nacional, os
de incorporação de bens aos cofres da União, a arrematação de objetos
depositados nos cofres nacionais, o requerimento de providências legais
assecuratórias de direitos da União, as medidas avocatórias garantidoras
da jurisdição do juízo, o ofício nas habilitações e justificações que
devessem ser perante o Juiz Federal processadas, a interposição de
recursos das decisões proferidas nos processos civis, criminais ou
administrativos em que lhe competisse funcionar e a promoção da
execução das sentenças em favor dos interesses da União (BRASIL,
1894).
43
Sendo mantidas em tudo mais as disposições do Decreto 848,
sobreveio, porém, com o advento da Lei 280, de 29 de julho de 1895, em
desfavor da instituição, que pouco antes se afirmara ser imprescindível a
toda organização democrática, a supressão de importante garantia. É
que seus membros, que já eram escolhidos segundo a exclusiva
conveniência política do Executivo, passaram a ser susceptíveis de
desligamentos de seus cargos pela mesma razão, sendo a inovação
aplaudida por parte substancial da doutrina (BRASIL, 1895).
Certo que a disciplina do Ministério Público, no regime da
Constituição de 1891, figurava na organização federal, aos Estados
ficara reservada a faculdade de legislar a seu respeito, até mesmo em
virtude de que, consoante as disposições daquele texto, era-lhes
assegurada toda a competência legislativa não inserida nos poderes da
União (BRASIL, 1891).
Bem por isso, legislaram os Estados-membros a respeito como
lhes pareceu conveniente, tendo em vista o caráter sintético da
Constituição de 1891, que, como mencionado, quase nada disse a
respeito do Ministério Público.
Assim, o Estado de Minas Gerais, por exemplo, na vigência da
primeira Constituição republicana, editou a sua, de 15 de junho de 1891,
seguindo o modelo daquela, em que pouco tratava do Ministério Público,
dedicando-lhe apenas parte dos artigos 66 e 67, referentes ao Poder
Judiciário. Desse modo, enquanto o primeiro afirmava que haveria no
Tribunal de Relação, escolhido pelo governo em meio aos seus
membros, um Procurador-Geral, determinava o segundo que lei especial
(Constituição, art. 67, caput) regulasse a constituição e acesso à
magistratura e ao Ministério Público. Porém, antecipando-se ao que
44
pudesse estabelecer a lei especial, previa a Constituição a exigência do
grau de bacharel em Direito para o acesso ao cargo de juiz, o que era
apenas preferível, para o acesso ao de promotor de justiça (Constituição,
art. 67, IV). Além disso, conferida a vitaliciedade aos juízes (Constituição,
art. 64), o mesmo não se aplicava a promotores de Justiça (MINAS
GERAIS, 1891).
Também em Minas Gerais, no ano de 1903, através da Lei
adicional n° 05, de 13 de agosto, embora tenham sido introduzidas
modificações no capítulo referente ao Poder Judiciário, nada se fez em
relação ao Ministério Público, senão determinar-se que lei ordinária o
organizasse. Por isso, foi somente no ano de 1920 que estabeleceu a Lei
a condição indeclinável de doutor ou bacharel em Direito para o acesso
ao cargo de promotor de Justiça. E, no que respeita à vitaliciedade,
determinou que se inserisse na Constituição disposição geral expressa
que a negava aos que não fossem desembargadores, juízes de direito,
membros de tribunais superiores ou serventuários a quem a lei tivesse
outorgado tal garantia (MINAS GERAIS, 1903).
Enquanto isso, no Estado de São Paulo, atribuía o art. 49 da
Constituição, de 15 de dezembro de 1890, aos membros do Poder
Judiciário vitaliciedade e inamovibilidade. No entanto, omitia-se acerca
das funções e do acesso aos cargos no Ministério Público. Limitava-se a
Constituição, aliás, no tocante à instituição, a estabelecer, em seu art. 51,
que caberia ao Tribunal de Relação eleger anualmente, dentre os seus
membros, o Procurador-Geral do Estado (SÃO PAULO, 1890).
A Constituição paulista de 1891, em seu artigo 46, assegurava
o provimento dos cargos de juiz mediante concurso, atribuindo o artigo
47 aos seus membros completa e segura independência, vitaliciedade e
45
inamovibilidade. No que se referia ao Ministério Público, porém, mais
uma vez se silenciava, como a anterior, no tocante às atribuições e forma
do provimento dos cargos respectivos (SÃO PAULO, 1891).
Posteriormente, no ano de 1921, a Constituição do Estado de
São Paulo, sendo reformada, passou a estabelecer, em seu art. 54, que
o Presidente do Estado é quem designaria, dentre os membros do
Tribunal de Justiça, o Procurador-Geral do Estado, mantendo-se tal
prerrogativa na reforma de 1929 (SÃO PAULO, 1891).
Na Bahia, tratava a Constituição de 02 de julho de 1891, no
Título IV, do Poder Judiciário, cuja independência era afirmada (art. 63).
Era ele constituído sob a forma de tribunais, cujos membros eram
vitalícios e inamovíveis (art. 65, n° 4°) e Juízes de Direito (art. 65, 3°),
vitalícios, prevendo-se (art. 67, §1°) o ingresso na carreira por concurso,
para o que se exigia (art. 65, §1°) a condição de doutor ou bacharel em
Direito atribuída por faculdade oficial ou equiparada (BAHIA, 1891).
No que respeita ao Ministério Público, instituído naquela
ocasião (art. 88), estabelecia a Constituição, todavia, que se organizaria
em órgãos hierárquicos, nomeados e demitidos livremente pelo Chefe do
Poder Executivo, prevendo-se um em cada comarca, com atribuições e
condições de nomeação e vencimentos previstos em lei, preferindo-se os
bacharéis ou doutores em Direito. O certo é que, emendada em 24 de
maio de 1915, em nada alterou a Constituição baiana, substancialmente,
o Poder Judiciário e o Ministério Público. Continuou, portanto, em relação
a este, o provimento dos cargos na dependência da vontade do Chefe do
Executivo, e as atribuições na dependência de norma infraconstitucional.
Enfim, pertencendo aos Estados a competência residual, num
tempo em que a Constituição Federal a respeito do Ministério Público
46
quase nada dizia, seria absolutamente natural, como foi, que a sua
instituição nos Estados se desse consoante a tradição imperial não
alterada nos primeiros anos da República. Daí que neles se silenciassem
as constituições estaduais acerca de critérios de recrutamento e
desligamento, de modo a tornar possível sua realização segundo a
conveniência e a oportunidade do Executivo, tal qual aliás sucedia
quanto às demais funções públicas.
Impossível ignorar, todavia, as influências da legislação federal
na formação do direito estadual, deve-se registrar que, em 28 de
dezembro de 1911, por intermédio do Decreto 9.263, sofreu a Justiça do
Distrito Federal importante reorganização, quando seu 158 afirmou ser o
Ministério Público, perante as autoridades constituídas, o advogado da lei
e o fiscal de sua execução, bem como o promotor da ação penal pública
contra todas as violações de direitos. De igual, modo, sofrendo a Justiça
do Distrito Federal, em 20 de dezembro de 1923, por meio do Decreto
16.273 nova reorganização, fez-se mais uma vez idêntica afirmação,
enfatizando-se a recíproca independência entre os órgãos do Ministério
Público e os membros da magistratura (BRASIL, 1912; BRASIL, 1923).
Não se achando a instituição do Ministério Público, todavia,
imune às transformações sociais, foi natural que, eclodindo a Revolução
de 1930 e sobrevindo Constituição depois dela produzida, recebesse a
instituição tratamento diferente daquele adotado no âmbito da União e
que dela se difundira para os Estados.
47
4.1.4 A Constituição de 1934 e o Ministério Público
Imposta pelo movimento revolucionário de 1930 nova ordem,
seguiu-se a necessidade de produção de nova Lei Fundamental, que
viria a incorporar, como se antes ocorrera, tendências que se difundiram
também em outros Estados-nacionais.
Embora o respectivo anteprojeto tivesse, no que respeita ao
Poder Judiciário, se inclinado no sentido da sua unidade, a solução não
foi acolhida pela Constituição de 1934, que optou pela dualidade,
mantendo, assim, as justiças federal e estadual. Além disso, foram
criadas as justiças eleitoral e militar (art. 63) e acrescida, às garantias da
vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos dos magistrados, já
consagradas na Constituição de 1891, a da inamovibilidade (art. 64)
(BRASIL, 1934).
No tocante à sua organização, manteve a Constituição, como
órgão de cúpula do Poder Judiciário, aquela a que denominou Corte
Suprema, estabelecendo-se em onze o número de seus ministros, que
poderiam ser elevados até dezesseis (art. 73). Deles se exigia, para o
acesso ao cargo, notável saber jurídico e reputação ilibada, sendo
mantida a exigência de idade mínima, salvo sendo magistrados os
indicados, e estabelecida a máxima (art. 74). Os juízes federais, a seu
turno, deveriam ser nomeados entre brasileiros natos dotados de
reconhecido saber científico e reputação ilibada, com idade não inferior a
trinta nem superior a sessenta anos, escolhidos pelo Presidente da
República em lista quíntupla formada, em escrutínio secreto, pela
Suprema Corte (art. 80) (BRASIL, 1934).
Acerca da justiça estadual, a Constituição (art. 104),
48
determinando aos Estados que a respeito legislassem, impôs, porém,
que fossem observados os princípios da investidura mediante concurso,
do acesso aos graus superiores por antiguidade e merecimento, da
inalterabilidade do número de juízes da corte, da fixação de vencimentos
não inferiores aos de secretários de Estado e da competência para
julgamentos de juízes inferiores. Ademais, determinando fossem
respeitados os preceitos dos seus artigos 64 a 72, compeliu a
Constituição Federal os Estados à adoção das garantias da vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, de há muito já
reclamadas (BRASIL, 1934).
No tocante ao Ministério Público, revelam os registros dos
trabalhos constituintes que se pretendeu inicialmente colocá-lo, como de
fato o fez o anteprojeto, no capítulo referente ao Poder Judiciário, de que
constava, originalmente, no art. 63. Todavia, acabou sua disciplina sendo
abrigada no capítulo referente aos órgãos de cooperação nas atividades
governamentais. Assim (art. 95), dispôs a Constituição que o Ministério
Público seria organizado na União, no Distrito Federal e nos Territórios
por lei federal, e, nos Estados, por leis locais, competindo a estas, nos
termos do art. 7°, I, “e”, respeitar, na sua atividade legiferante, as
garantias do Ministério Público. Acerca da chefia do Ministério Público
Federal, estabeleceu-se que, embora com aprovação do Senado
Federal, seria o cargo de livre nomeação do Presidente da República,
que escolheria o ocupante dentre cidadãos que atendessem aos
requisitos para ministro da Corte Suprema, porém demissíveis ad nutum.
Também no tocante aos chefes do Ministério Público do Distrito Federal
e dos Territórios foram estabelecidos requisitos, que eram a condição de
jurista de notável saber e reputação ilibada, de eleitor alistado e de idade
49
superior a trinta anos. Outra importante inovação foi a exigência de
concurso para acesso ao cargo, cuja perda só ocorreria por sentença
judicial ou processo administrativo em que fosse assegurada ampla
defesa. No tocante aos Ministérios Públicos Estaduais, limitou-se a
Constituição Federal a dizer incompatível o exercício da função com
outra pública, salvo o magistério, e em outros casos nela indicados. Por
fim, remeteu a leis especiais a organização do Ministério Público das
Justiças Militar e Eleitoral (art. 98) (BRASIL, 1934).
Absteve-se a Constituição, todavia, de indicar as atribuições do
Ministério Público, que restaram, assim, entregues às normas
infraconstitucionais. Por outro lado, como a Constituição recriava o
Estado, viram-se os Estados-membros obrigados a produzir novas
Constituições que se amoldassem à da República.
Assim, na Constituição Estadual Mineira, de 30 de julho de
1935, por exemplo, ao lado do Título V, consagrado ao Poder Judiciário,
tratou o Título IX do Ministério Público, ali (art. 83) se tendo disposto que
seria exercido: a) pelo Procurador-Geral do Estado, com as funções de
chefe do Ministério Público, nomeado pelo Governador dentre brasileiros
natos, bacharéis em Direito de notório saber jurídico e idoneidade moral
e que tivessem mais de oito anos de prática forense, com os mesmos
vencimentos dos Desembargadores, mas demissível ad nutum; b) pelos
Promotores de Justiça, nomeados pelo Governador dentre bacharéis em
Direito; e c) pelos órgãos e funcionários instituídos em lei (MINAS
GERAIS, 1935).
Todavia, enquanto o art. 50, alusivo ao Poder Judiciário,
impunha que o ingresso se fizesse por concurso de provas e títulos,
exigindo-se o bacharelado em Direito, idade superior a 25 anos e quatro
50
anos de prática forense, nada dizia a respeito o Título IX, no tocante aos
promotores de Justiça, limitando-se a estabelecer que seriam nomeados
pelo Governador do Estado dentre bacharéis em Direito. Ademais,
enquanto o art. 51 assegurava a juízes e desembargadores a
vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos, nos
termos da Constituição da República, estabelecia o art. 84, alusivo aos
promotores de Justiça, que serviriam eles durante quatro anos, permitida
a recondução, admitindo-se, ainda, remoção ou exoneração mediante
processo ou por exigência do serviço público, em virtude de
representação formulada pelo Procurador-Geral do Estado (MINAS
GERAIS, 1935).
A esse tempo, a Constituição do Estado de São Paulo, de 09
de julho de 1935, ao tratar do Poder Judiciário, conferiu a
desembargadores e juízes, em seu art. 45, as garantias da vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Ao Ministério Público,
a seu turno, dispensava tratamento o art. 57, que previa a nomeação de
promotores pelo Governador, após concurso de títulos e provas, só se
admitindo perda do cargo, nos termos da lei, por sentença judiciária ou
processo administrativo, em que fosse assegurada ampla defesa.
Também se dispunha, no art. 61, que seria seu chefe o Procurador-Geral
do Estado, nomeado pelo Governador entre doutores ou bacharéis em
Direito, de notório merecimento e reputação ilibada, com mais de trinta e
cinco anos de idade e dez de prática forense, o qual perceberia os
mesmos vencimentos dos desembargadores, sendo, todavia, demissível
ad nutum. A ele, cujas atribuições não eram expressamente conferidas
pela Constituição, permitia o §1°, do art. 61, fosse em lei ordinária
atribuída a função de promover a defesa judicial dos direitos e interesses
51
do Estado. Finalmente, o art. 85 estabelecia que a organização do
Ministério Público seria a determinada em lei que atenderia às garantias
prescritas aos Estados pela Constituição da República (SÃO PAULO,
1935).
Àquela mesma época, a Constituição da Bahia, de 20 de
agosto de 1935, assegurava a desembargadores e juízes, em seu art.
39, a vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.
Ademais, dando-se o acesso à corte de apelação por promoção de
juízes, previa-se que o ingresso na carreira dar-se-ia (art. 45) mediante
concurso com exigência de bacharelado ou doutorado em Direito,
reconhecido saber, boa reputação e mais de quatro anos de efetivo
exercício, nomeado pelo Governador, após aprovação da Assembleia
Legislativa, entre candidatos indicados pela Corte em lista tríplice (art.
46) (BAHIA, 1935).
No tocante ao Ministério Público, disse-o o art. 53 chefiado pelo
Procurador-Geral do Estado, com os encargos de zelar pela execução da
lei, representar a Fazenda Estadual em juízo e defender os interesses
gerais do Estado, sendo o cargo provido por livre nomeação do
Governador do Estado entre membros do Ministério Público ou da Ordem
dos Advogados, Seção da Bahia, dotados de notório saber e reputação
ilibada, que seriam, porém, demissíveis ad nutum. No tocante aos
promotores de justiça, exigível a condição de bacharel ou doutor em
Direito (art. 54), eram asseguradas a inamovibilidade, irredutibilidade de
vencimentos e vitaliciedade (art. 55), prevendo-se (art. 54) que suas
atribuições seriam definidas em lei (BAHIA, 1935).
Consagrando a Constituição Federal de 1934, como visto, no
§3°, do art. 95, embora referindo-se ao Ministério Público Federal, o
52
acesso mediante concurso e a estabilidade, dava a instituição importante
passo na direção da sua independência do Poder Executivo, que,
todavia, continuava a deter importante parcela do poder, porquanto lhe
cabia nomear, livremente (art. 95) o seu chefe (BRASIL, 1934).
Certo que o art. 7° da constituição, conferindo aos Estados-
membros competência legislativa, impunha-lhes, porém, respeito (alínea
“e”) às garantias do Poder Judiciário e do Ministério Público, natural e
desejável seria que fossem observados os princípios da investidura
mediante concurso e da estabilidade. No entanto, como se vê, entre os
exemplos citados, de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, apenas o
segundo previa o acesso mediante concurso, chegando o primeiro ao
extremo de fazer temporário o exercício das funções, das quais poderia
ser afastado o titular sob a alegação de interesse público (BRASIL,
1934).
Promovida em alguns Estados, como visto, o retorno à
disciplina existente cem anos antes, quando as funções do Ministério
Público eram atribuídas a funcionários escolhidos e demitidos ao sabor
da vontade do governante, era o fato explicado, ao menos em parte, pela
visão então dominante, traduzida no pensamento de Getúlio Vargas,
exposto por ocasião do veto oposto, parcialmente, ao Decreto n° 05, de
24 de janeiro de 1935.
De fato, nas razões do veto oposto ao projeto, que dispunha
sobre o provimento dos corpos do Ministério Público Eleitoral, insurgia-se
o Chefe do Executivo contra a exigência, estabelecida em seus artigos 1°
e 2°, de listas tríplices. É que, dizendo então achar-se o Ministério
Público subordinado ao Poder Executivo, afirmava inconstitucional a
interferência na competência de seu chefe para a designação dos cargos
53
federais (BRASIL, 1935). E ia além, como lembra Lyra (1937, p. 26), pois
a par de reviver a tese já fortemente combatida da dependência,
afirmava que deveriam ser os representantes do Ministério Público “a
expressão da confiança direta do Governo”.
Trouxe a Constituição de 1934, no tocante ao Ministério
Público, algumas importantes e aplaudidas inovações (SAUWEN FILHO,
1999), além da nítida separação do poder Judiciário - cujas garantias
foram, no entanto, estendidas aos seus membros - e que contribuiriam
de modo decisivo para a formação de seu perfil.
Com efeito, conferindo a Constituição à Corte Suprema a
condição de guardiã da Constituição, era ao Ministério Público que cabia
(art. 96), para assegurar-lhe a supremacia, comunicar a decisão de
inconstitucionalidade de lei ou ato governamental, por ela tomada, à
autoridade legislativa ou executiva de que tivesse emanado, inclusive ao
Senado Federal, para o cumprimento do disposto no art. 91, IV (BRASIL,
1934).
Ademais, acentuando a tendência, já manifestada em normas
infraconstitucionais, de compelir o Ministério Público à defesa dos
vitimados indevidamente pela ação repressiva estatal, atribuía a
Constituição a legitimidade do Ministério Público para a promoção da
revisão criminal (art. 76, n° 3) (BRASIL, 1934).
Tendia o Ministério Público, como visto, por força das
disposições mencionadas, a converter-se um tanto mais em defensor da
sociedade que do Estado, quando, porém, sobreveio o refluxo autoritário
do Estado Novo, que se repercutiria sobre a instituição, como, de resto,
sobre toda a sociedade.
54
4.1.5 A ditadura Vargas e o Ministério Público
Se no regime da Constituição Federal de 1934 recebera
capítulo à parte, o Ministério Público, no Estado Novo e sua Carta,
todavia, seria objeto de referências esparsas, apenas, como foram as
constantes no art. 99, 101, “b”, 105 e 109, parágrafo único (BRASIL,
1937).
Assim, suprimidas quaisquer referências às garantias que aos
seus membros tinham sido atribuídas, o que fez a constituição de 1937,
foi, de conformidade com a tendência autoritária que em tudo a
orientava, aprofundar o controle do Executivo sobre as instituições,
pertencessem elas ao ente a que pertencessem.
Com efeito, ao tempo em que dissolvia, com base no art. 178,
a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, as Assembleias
Legislativas e as Câmaras Municipais e outorgava-se ao Chefe do
Executivo (art. 176) a competência para afastar governadores de Estado,
nomeando interventores a quem conferiu (art. 181) competência para
ditar Constituições Estaduais e legislar. E também se atribuía ao
Presidente (art. 180) a competência para fazê-lo, enquanto não se
reunisse parlamento em substituição ao que dissolvera, por meio de
decretos-lei (BRASIL, 1937)
Nessas circunstâncias, não surpreende que, suprimidas a
Justiça Federal e Eleitoral (art. 90), tenha-se atribuído o Presidente o
poder de nomear, sem consulta a quem quer que fosse, sequer ao
Conselho Federal, o Procurador-Geral da República, bem como o de
demiti-lo ad nutum (BRASIL, 1937).
Quanto ao mais, limitava-se a Constituição, no tocante ao
55
Ministério Público, a prever que estaria o Procurador-Geral da República
sujeito a processo criminal perante o Supremo (101, “b”), que um quinto
dos tribunais seria composto por advogados ou membro do Ministério
Público (art. 105) e que a lei poderia cometer ao Ministério Público (art.
109, parágrafo único) a função de representar em juízo a Fazenda
Federal.
Sob a ditadura que então se implantou no país, com a
dissolução dos legislativos, concentrada em mãos de Getúlio Vargas a
competência para legislar, foram editados o Código Penal (Decreto-lei
2.848, de 07 de dezembro de 1940) e o Código de Processo Penal
(Decreto-lei 3.689, de 03 de outubro de 1941), este de cunho
marcadamente autoritário, como aliás o denuncia a sua exposição de
motivos.
Embora sem conter capítulo destinado ao Ministério Público, a
ele se referia o Código inúmeras vezes, como para obrigá-lo à
propositura da ação penal pública (art. 24), para permitir-lhe a requisição
de instauração de inquérito policial (art. 5°, II), a requisição de diligências
à autoridade policial (art. 13, II), para impedir-lhe o requerimento de
retorno desnecessário dos autos à delegacia (art. 16), para fazê-lo o
destinatário da provocação de qualquer do povo (art. 27) e da
representação (art. 39), para permitir-lhe o requerimento de nomeação
de curador (art. 33), para permitir-lhe a dispensa do inquérito, em certos
casos (art. 39, §5°), para impedi-lo de desistir da ação (art. 42), para
permitir-lhe o aditamento da queixa (art. 45), para fixar prazos para
ofertamento da denúncia em caso de atuação sem inquérito policial (art.
46, §1°), para permitir-lhe a requisição de informações diretamente a
qualquer autoridade (art. 47), para impor-lhe o velamento pela
56
indivisibilidade da ação penal privada (art. 48), para impor-lhe a
promoção da ação indenizatória em caso de pobreza da vítima (art. 68),
para legitimá-lo à promoção de medidas assecuratórias (art. 142), para
permitir-lhe a promoção da instauração de incidente de insanidade
mental (art. 149), para permitir condenação mesmo em face do seu
pedido de absolvição (art. 385) e para permitir-lhe a impetração de
habeas corpus (art. 654), entre outras referências (BRASIL, 1941).
Numerosas como visto, as referências, no Código de Processo
Penal, ao Ministério Público, decorreu o fato da inexistência de outras
leis que pudessem reger o tema, eis que a atividade legislativa no país
se desenvolveu, como, aliás, se deu com o próprio Código de Processo
Penal, através de decretos-lei.
Entrando em vigor o Código de Processo Penal em janeiro de
1942, regeu ele, portanto, as iniciativas no âmbito criminal de um
Ministério Público cujos membros, como salientado, não dispunham de
garantia alguma.
4.1.6 A Constituição Federal de 1946 e o Ministério Público
A Constituição de 1946, dedicando ao Poder Judiciário o
Capítulo IV, nele (art. 25) reconheceu as garantias da vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, tornando os Ministros
do Supremo Tribunal Federal (nome que a Constituição de 1937 lhe
atribuíra) a depender, na sua nomeação, da aprovação do Senado (art.
99). Também ali se recriou a Justiça Eleitoral, criando-se a do Trabalho
(BRASIL, 1946).
Ao Ministério Público, dispensou o Título III tratamento,
prevendo-se que o da União funcionaria junto à Justiça Comum, Militar,
57
Eleitoral e do Trabalho (art. 125). Conservou-se, porém, a possibilidade
de escolha do Procurador-Geral da República (art. 126) por livre escolha
do Presidente da República, dependente todavia de aprovação pelo
Senado Federal, entre cidadãos que atendessem às condições para
Ministro do Supremo Tribunal Federal, porém, demissíveis ad nutum.
Além disso, previsto que os membros do Ministério Público da União, do
Distrito Federal e dos Territórios ingressariam na carreira mediante
concurso, eram-lhes garantidas a estabilidade e inamovibilidade,
ressalvada, quanto a esta, a conveniência do serviço. Por outro lado,
como determinava a Constituição que os Estados organizassem seus
Ministérios Públicos (art. 128) em carreira, observados os princípios da
promoção de entrância a entrância e os previstos no artigo precedente, a
eles também se aplicariam os princípios da inamovibilidade e
estabilidade. Por fim, deve-se acrescentar que, sendo representada em
juízo a União pelos Procuradores da República, previa-se pudesse a lei
cometer tal encargo, nas comarcas do interior, ao Ministério Público local
(BRASIL, 1946).
Evidente, pois, que, produzindo as suas Constituições, viram-
se os Estados-membros obrigados a respeitar os princípios reitores
consagrados na Constituição Federal.
Assim, das normas constitucionais não podendo se afastar, a
Constituição do Estado de Minas Gerais, de 14 de julho de 1947, em seu
art. 60, reconheceu aos Magistrados as garantias da vitaliciedade,
irredutibilidade de vencimentos e inamovibilidade, assim como a
promoção de entrância a entrância. Ao Ministério Público, por sua vez,
que ocupava o título constitucional subsequente, dedicavam-se os arts.
74 a 77, prevendo o primeiro deles que seria a instituição chefiada por
58
brasileiro, bacharel em Direito, de notório saber jurídico e idoneidade
moral, com idade mínima de trinta e cinco anos e dez de prática forense,
nomeado pelo Governador com a aprovação da Assembleia, com os
mesmos vencimentos dos desembargadores. Dos promotores e
curadores, por sua vez, tratava o art. 75, que impunha o ingresso em
concurso de provas, com estabilidade após dois anos, com remoção
fundada apenas em conveniência do serviço, e promoção de entrância a
entrância. Equiparados os cargos de curadores e promotores para todos
os efeitos, remetia-se à norma infraconstitucional a responsabilidade pela
organização da instituição (MINAS GERAIS, 1947).
4.1.7 A Constituição de 1967 e o Ministério Público
Apesar da implantação, no Brasil, em 1964, de uma ditadura
militar, com a consequente edição de nova Constituição, não destoou
esta significativamente da anterior, democraticamente elaborada, no
tocante ao Ministério Público.
Na verdade, o art. 138, da Constituição de 1967, apenas
reproduziu o art. 126 da Constituição de 1946, pelo que o chefe do
Ministério Público continuaria a ser o Procurador-Geral da República,
nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha
pelo Senado Federal, dentre cidadãos que reunissem as condições para
ser ministro do Supremo Tribunal Federal, isto é, brasileiros natos,
maiores de trinta e cinco anos, dotados de notável saber jurídico e
reputação ilibada. Aliás, nesse particular, até certo avanço aparente
houve, já que se suprimiu a referência à demissibilidade imotivada.
Tampouco houve alteração substancial no tocante à estabilidade, que foi
objeto de disciplina no §1°, do art. 138, de modo idêntico ao previsto no
59
art. 127 da Constituição anterior. O art. 139, por sua vez, apenas tratou,
nos mesmos termos em que antes o era o assunto, da organização do
Ministério Público Estadual, pelo art. 128 da Constituição de 1946. Até
mesmo a possibilidade de representação judicial da União, antes tratada
no art. 201, §2°, era objeto de previsão, nos mesmos termos, porém, no
art. 119, §3° (BRASIL, 1967; BRASIL, 1946).
Amoldando-se à Constituição de 1967, em 13 de maio daquele
ano editou o Estado de São Paulo a sua, em que, no art. 58 e seguintes,
tratava do Ministério Público. Ali, prevendo-se a sua organização em
carreira, exigiu-se a aprovação em concurso público de provas e títulos
para o ingresso. Também eram previstas as garantias da estabilidade e
inamovibilidade, bem como a promoção de entrância a entrância.
Também se estabelecia (art. 59) que a chefia do Ministério Público seria
exercida pelo Procurador-Geral de Justiça, que seria nomeado pelo
Governador entre os Procuradores indicados em lista tríplice pelo colégio
respectivo. Além disso, cometendo o art. 47 à Procuradoria-Geral do
Estado a responsabilidade pela representação judicial e extrajudicial do
ente, previa-se fosse ele, no interior do Estado, em processos fiscais (art.
48), representado pelo Ministério Público. Finalmente, também se previa
(art. 59/60), a organização da carreira de Procurador de Estado,
mediante concurso de provas e títulos (SÃO PAULO, 1967).
À mesma época, em 13 de maio de 1967, no Estado de Minas
Gerais, promulgava-se Constituição que, em seu art. 127, mencionavam-
se as garantias da inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de
vencimentos da magistratura. Nela também, tratando do Ministério
Público, previu o art. 152, fosse chefiado pelo Procurador-Geral do
Estado, escolhido entre os Procuradores, com prévia aprovação da
60
Assembleia Legislativa. No art. 153, por sua vez, previam-se o ingresso
na carreira mediante concurso de títulos e provas, a estabilidade e a
inamovibilidade, estabelecendo o art. 154 a obediência às normas
referentes à disciplina e garantias da magistratura, no que aplicáveis,
assim como a promoção de entrância a entrância. Também se previa, no
art. 181, pudessem os membros do Ministério Público Estadual exercer
as atribuições do da União, quando delegadas em lei ou convênio
(MINAS GERAIS, 1967).
Já amoldadas as Constituições Estaduais à Federal, sobreviria,
porém, em reação às já examinadas resistências à ditadura militar, a
Emenda Constitucional n° 01, que produziria maior concentração de
poderes no Executivo, com importantes reflexos também sobre o
Ministério Público.
4.1.8 A Emenda Constitucional de 1969 e o Ministério Público
Sentindo-se à época pressionados pelas circunstâncias a fazê-
lo, os que detinham então o poder promulgaram a Emenda
Constitucional n° 01, que, em relação ao Ministério Público, em especial,
promoveu alterações limitadas, mas profundas.
De fato, dando nova redação ao 138, o art. 95, referente ao
provimento do cargo de Procurador-Geral da República, passou a
dispensar a aprovação do Senado Federal ao nome indicado pelo
Presidente da República, de modo que, sendo demasiadamente
subjetivos os requisitos do notável saber jurídico e da reputação ilibada,
poderia a escolha recair sobre qualquer indivíduo escolhido pelo chefe do
Executivo, desde que contasse mais de trinta e cinco anos.
A ampla liberdade que o dispositivo dava ao Presidente da
61
República para escolha do chefe do Ministério Público se explica, pelo
menos em parte, pelo fato de que a este é que cabia, de conformidade
com o disposto no art. 154 da Emenda, representar ao Supremo Tribunal
Federal para a suspensão dos direitos políticos daqueles que,
supostamente abusando de direito individual ou político, o fizessem com
o propósito de subversão do regime democrático ou corrupção.
A superveniência da Emenda Constitucional n° 01, de 1969,
como não poderia deixar de ser, repercutiu de modo importante nos
Estados-membros, compelindo-os a novas modificações em suas
normas de regência.
Assim, o Estado de São Paulo, por exemplo, viu-se compelido
a alterar sua Constituição, o que fez, em 30 de outubro de 1969. Assim,
manteve-se a organização em carreira, com exigência de concurso
público de provas e títulos (art. 46) para o ingresso, assim como as
garantias da estabilidade e inamovibilidade e a promoção de entrância a
entrância. Ali também se previu (art. 47) que a chefia do Ministério
Público seria exercida pelo Procurador-Geral de Justiça, nomeado pelo
Governador entre os Procuradores indicados em lista tríplice formada
pelo colégio respectivo. Além disso, cometendo o art. 48 à Procuradoria-
Geral do Estado a responsabilidade pela representação judicial e
extrajudicial do ente, previa-se fosse ele, no interior do Estado, em
processos fiscais (art. 49), representado pelo Ministério Público. Previu-
se, finalmente (art. 50/51), se fizesse a organização da carreira de
Procurador de Estado, mediante concurso de provas e títulos (SÃO
PAULO, 1969).
Também o Estado de Minas Gerais, alterando sua
Constituição, reafirmou na Emenda promulgada em 1970 (art. 117) as
62
garantias da magistratura. Já no tocante ao Ministério Público, previu
fosse chefiado pelo nomeado, em comissão, pelo Governador, entre
Procuradores de Justiça da categoria mais elevada. Todavia, na esteira
do que previa a Emenda Constitucional n° 01, não mais dependia a
escolha da aprovação do Legislativo. Também se manteve o acesso ao
cargo mediante concurso, assegurando-se a estabilidade e a
inamovibilidade (art. 90) (MINAS GERAIS, 1970).
Importante é destacar que, embora especificamente em
relação ao Ministério Público tenham sido limitadas as alterações,
achavam-se seus membros, como de resto os de quaisquer outras
instituições ou poderes, submetidos às disposições do Ato Institucional n°
05, de 13 de dezembro de 1968, que foi mantido em vigor pelo art. 182,
da Emenda Constitucional n° 01 (BRASIL, 1968).
Assim, embora aparentemente se achassem também os
membros do Ministério Público garantidos contra o arbítrio, poderia ter
qualquer deles, com base no art. 4°, do Ato Institucional n° 05,
suspensos seus direitos políticos, bem como, por força do disposto no
art. 6°, ser removido, demitido, aposentado ou colocado em
disponibilidade, mediante decreto do Presidente da República (BRASIL,
1968).
Com o passar dos anos, com base no Ato Institucional n° 05,
outorgou o Governo militar a Emenda Constitucional n° 07, de 13 de abril
de 1977, em meio ao que ficou conhecido como “pacote de abril”, através
do que se inseriu na Constituição, no art. 96, parágrafo único, disposição
segundo a qual lei complementar, de iniciativa do Presidente da
República, estabeleceria normas gerais a serem adotadas na
organização do Ministério Público Estadual. Assim, após a Emenda
63
Constitucional n° 11, que dava ao Procurador-Geral da República a
legitimidade para requerer a suspensão do exercício do mandato do
parlamentar que se achasse respondendo a processo por crime contra a
segurança nacional, foi que se editou a Lei Complementar n° 40, de 14
de dezembro de 1981 (BRASIL, 1977; BRASIL, 1978; BRASIL, 1981b).
A Lei Complementar n° 40, estabelecendo as normas gerais a
serem adotadas na organização do Ministério Público, pelos Estados,
afirmou-o instituição permanente e essencial a função jurisdicional do
Estado. E, por isso, o fez responsável pela defesa da ordem jurídica, dos
interesses indisponíveis da sociedade, pela fiel observância da
Constituição e das leis (art. 1°), tendo por princípios institucionais, a
unidade, a indivisibilidade e a autonomia funcional (art. 2°). Como suas
funções institucionais, foram relacionadas o velamento pela observância
da Constituição e das leis, a promoção de sua execução, a promoção da
ação penal pública e da ação civil pública, nos termos da lei (art. 3°).
Estabeleceu, ainda, a lei, a organização do Ministério Público em
carreira, dispondo sobre a sua representação em primeiro e segundo
graus, afirmando-o chefiado pelo Procurador-Geral de Justiça, que seria
nomeado pelo Governador nos termos da lei estadual (art. 6°). Também
foram definidas as atribuições do Procurador-Geral de Justiça (art. 7°) e
do Conselho Superior do Ministério Público (art. 12), cuja estruturação
era determinada (art. 11). Definidas as atribuições da Corregedoria-Geral
(art. 13), referia-se a Lei às atribuições dos membros do Ministério
Público em segundo grau (art. 14) e em primeiro (art. 15). Eram ainda
definidas as garantias e prerrogativas (arts. 16, 17, 19, 20 e 21) e os
deveres (art. 22, 23 e 24). Relacionadas as faltas e penalidades (arts. 25
a 31), era definida a responsabilidade (art. 32), disciplinado o processo
64
administrativo (arts. 33 a 36) e regulamentados os vencimentos,
vantagens e direitos (arts. 37 a 44) e a carreira (arts. 45 a 51) (BRASIL,
1981b).
Contribuindo a Lei Complementar de modo significativo para
dar ao Ministério Público, nacionalmente, uniformidade, sobreveio, em 24
de julho de 1985, a Lei 7.347, disciplinando a ação civil pública.
Buscando determinar a responsabilidade por danos causados
ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, conferiu a Lei 7.347/1985
legitimidade ao Ministério Público para a propositura de ações cautelares
e principais destinadas a responsabilizar os autores das lesões (art. 5°, I)
aos interesses tutelados, conferindo-lhe, igualmente, a atribuição de
instaurar (art. 8°, §1°), para tanto, o inquérito civil público (BRASIL,
1985).
À época, já caminhava o Brasil em direção à plena
democratização, inclusive com a instituição de Comissão destinada a
produzir anteprojeto de Constituição. E, no texto que produziu, conferiu a
Comissão, no Título II, Capítulo XI, ao Ministério Público, a condição de
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-a da defesa do regime democrático, da ordem jurídica e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 308). Ali também eram
apregoados os princípios institucionais da unidade, indivisibilidade e
independência funcional, prevendo-se a sua autonomia administrativa e
financeira. Também se propunha compreender-se no Ministério Público o
federal, o eleitoral, o militar e o do trabalho (art. 309), sendo
estabelecidos os critérios (art. 310) para nomeação e destituição do
Procurador-Geral da República, dependente de aprovação do Senado,
65
com término coincidente com o mandato presidencial daquele que o
tivesse nomeado. Era ainda incumbido o Ministério Público Federal da
supervisão da defesa judicial das autarquias. Entre as funções
institucionais do Ministério Público, figurava, ainda, (art. 312) a promoção
da ação penal pública, da ação civil pública, a supervisão da investigação
criminal, a intervenção em qualquer processo em que se discutisse
interesse público ou social relevante. Também se propunha pudesse o
Ministério Público requisitar da autoridade competente a instauração de
inquéritos necessários às ações públicas que devesse promover,
avocando-os para suprir omissão, para apuração de abuso de autoridade
ou em outros casos que viessem a ser especificados em lei. Também ao
Ministério Público da União se incumbia de representar esta, cabendo tal
responsabilidade no interior aos Procuradores dos Estados e Municípios.
Previa-se (art. 303), ainda, a elaboração de lei complementar contendo
normas gerais para organização do Ministério Público dos Estados,
Distrito Federal e Territórios, observadas as garantias da vitaliciedade,
inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos e promoções voluntárias
(BRASIL, 1986).
Referia-se o capítulo mencionado ao Ministério Público da
União, é verdade, mas determinava o art. 96 fosse o dos Estados
organizado por lei complementar, observadas tais disposições (BRASIL,
1986).
4.1.9 A Constituição de 1988 e o Ministério Público
Se é certo que o anteprojeto da Comissão, como antes se viu,
não foi dirigido à Assembleia Constituinte, também o é que influenciou o
texto da Constituição de 1988, a não ser que se credite a semelhança de
66
tratamento dispensado aos temas, num e noutro texto, a obra de simples
e improvável acaso.
Assim, no que se refere à sua posição constitucional, vê-se
que, se na primeira Constituição republicana constara como breve
referência, na segunda em seção de capítulo autônomo, na terceira
como ligeira menção, na quarta em título autônomo, na quinta em seção
de capítulo referente ao Poder Judiciário e na Emenda Constitucional de
1969 no Poder Executivo, viria o Ministério Público a integrar, na
Constituição de 1988, seção de capítulo pertinente às funções essenciais
à Justiça. Nele, declarou-se o caráter permanente do Ministério Público,
impeditivo, portanto, de sua supressão pelo Poder Constituinte derivado,
afirmando-se, ainda, a essencialidade de sua atuação à função
jurisdicional estatal. Também ali se afirmou, como suas incumbências
fundamentais, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (BRASIL, 1891; BRASIL,
1934; BRASIL, 1946; BRASIL, 1967; BRASIL 1969). Daí o fato de, sendo
asseguradas aos seus membros garantias (art. 128, §5°, I) e impostas
vedações (art. 138, §5°, II) serem explicitadas suas funções
institucionais, quais sejamArt. 129. São funções institucionais do Ministério Público:I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
67
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. [BRASIL, 1988].
Examinadas as disposições que o regem, vê-se que, referindo-
se à defesa do regime democrático, reproduziu a Constituição de 1988 o
que dispôs o art. 224, I, da Constituição Portuguesa de 1976, que
também, após anos de autoritarismo, incumbiu o seu respectivo
Ministério Público da defesa da legalidade democrática (SENADO, 1987,
v. II).
Também lhe atribuiu a Constituição Federal, como já o fizera
norma infraconstitucional cuja vigência remonta ao ano de 1942, a
responsabilidade pela promoção da ação penal pública, agregando a
este direito bifronte o dever de promover as medidas necessárias a que
respeitem poderes públicos e serviços de relevância pública os direitos
assegurados na Constituição, a promoção do inquérito civil e ação civil
pública para proteção de interesses difusos e coletivos, a promoção da
ação de inconstitucionalidade, a defesa dos direitos e interesses de
indígenas, a instauração e instrução de procedimentos de sua
competência, o exercício do controle externo da atividade policial a
requisição de outras diligências e o exercício de outras funções, desde
que compatíveis com sua finalidade.
Bem se vê que a ampla gama de funções institucionais
atribuídas ao Ministério Público não corresponde senão a instrumentos
voltados à realização dos únicos fins que explicam e legitimam a sua
existência — a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
68
interesses sociais e individuais indisponíveis — ao mesmo tempo em que
explicam, por sua complexidade e importância, a dificuldade em situá-lo
constitucionalmente .
Não são, porém, apenas as amplas funções que foram
atribuídas pela Constituição de 1988 que explicam em que se
transformou, desde a sua origem, o Ministério Público, mas também as
que lhe foram subtraídas.
De fato, foi o antigo Procurador do Rei, criado em Portugal em
1289, com a função, aparentemente precípua, de defender os interesses
patrimoniais do soberano, que inspirou, séculos depois, a solução que foi
adotada na Constituição de 1824, no Brasil, que em seu artigo 48 se
referia ao Procurador da Coroa e Soberania Nacional, que era
encarregado de defender também os interesses patrimoniais do
Imperador.
Por isso que, com a advento da República, em 1889, resultou
natural que, tal qual vinha ao longo dos séculos ocorrendo, tocasse a
responsabilidade pela promoção da ação penal e pela defesa dos
interesses patrimoniais do soberano –com os quais, antes, se
confundiam os do Estado- ao mesmo órgão. A inspiração resta mais
clara ainda se se perceber que, tal qual antes sucedia com o Procurador
dos Feitos da Coroa, Fazenda e Fisco, que pertencia à Relação, era
também o Procurador-Geral da República, no regime do Decreto 848,
escolhido entre os magistrados (então, do Supremo Tribunal Federal).
Por isso que, no regime da Constituição Federal de 1891
incumbia ao Ministério Público, além da promoção das ações penais, a
representação dos direitos e interesses da União, a alegação e defesa
dos direitos da Fazenda Nacional em todas as causas cíveis, a promoção
69
dos processos executivos de cobrança da dívida ativa e a promoção dos
processos de desapropriação por necessidade ou utilidade Nacional,
entre numerosas outras atribuições, várias delas voltadas à defesa dos
interesses da Fazenda.
Daí que, encarregado o Ministério Público, no âmbito da União,
de defender tais interesses, tenha sido o modelo aplicado também nos
Estados.
Foi o que sucedeu em São Paulo, por exemplo, cuja
Constituição, em 1935 (art. 61, § 1°), permitia fosse em lei ordinária
atribuída aos promotores a função de defender judicialmente os direitos e
interesses do Estado. O mesmo, aliás, ocorria também na Bahia, cuja
Constituição, também de 1935, atribuía ao Procurador-Geral do Estado a
representação da Fazenda Estadual em juízo e a defesa dos interesses
gerais daquele.
Tal solução foi a adotada também na Constituição de 1946,
que cometia as Procuradores de República a representação judicial dos
interesses da União.
Tal a razão pela qual, em todo o País, durante quase toda a
vida republicana, terem reunido os Ministérios Públicos respectivos, em
maior ou menor extensão, as funções de defender os interesses fiscais e
patrimoniais da União e Estados e de promover as ações penais contra
os que delinquissem.
Todavia, é inegável que, após a Constituição de 1946, que
devolveu ao Brasil a normalidade constitucional após os longos anos da
ditadura do Estado Novo, deu-se uma irrefreável tendência, embora a
princípio tímida, ao estabelecimento de nítida e progressiva separação
de deveres, passando os interesses fiscais à responsabilidade de outros
70
organismos estatais.
Assim, em 1947, já passava a Constituição da Bahia, por
exemplo, ao transferir ao Procurador de Fazenda (art. 71, § 2°, da
Constituição), na Capital, a representação, que antes pertencera ao
Procurador do Estado, dos interesses do fisco.
O mesmo sucederia também em São Paulo, cuja Constituição,
em 1967, no artigo 47, cometeu à Procuradoria-Geral do Estado a sua
representação judicial em processos fiscais, embora permitindo o
fizessem os promotores de justiça no interior (art. 48).
Mais uma vez na Bahia, já em 1967, passava a Constituição,
no artigo 79, a cometer irrestritamente (e não mais na Capital, apenas) a
defesa e representação dos interesses do fisco ao Procurador-Geral da
Fazenda.
Esse contínuo processo de cisão, que se manifestaria também
nesse período nos demais Estados da Federação, encontraria seu ápice
na Constituição Federal de 1988, que constituiu a advocacia pública,
cometendo aos advogados-gerais da União e aos Procuradores dos
Estados funções de representação que, no passado, haviam pertencido
ao Ministério Público (CF, art. 131/132) (BRASIL, 1988).
E nada teve de casual tal divisão. Ao contrário, ao afastá-lo das
funções de defesa e representação dos interesses patrimoniais e
financeiros do ente público a que se achava vinculado o Ministério
Público, proibindo expressamente seus membros de exercer a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas (CF,
art. 129, IX), quis a Constituição, aprofundando a tendência antes
manifestada, vinculá-lo, de modo radical, aos interesses, de outra ordem,
que no passado também haviam justificado sua criação, que foram os
71
interesses públicos primários (BRASIL, 1988).
Por isso que, tendo sido imposta ao Ministério Publico a missão
de zelar por tais interesses, dizer Paes que:O Ministério Público deverá exercer seu papel institucional até mesmo em oposição aos agentes do próprio Estado, se for o caso, pois no sistema de pesos e contra pesos concebido pelo constituinte, foram conferidas à instituição funções que a colocam agora no papel de verdadeiro ombusdman. [PAES, 2003, p. 178-179]
Com efeito, ainda que em conflito com os responsáveis pela
gestão do secundário, que é o da administração, ou como os órgãos
governamentais o interpretam, cuja defesa não mais lhe compete, é a
defesa do interesse público de caráter geral que compete ao Ministério
Público e o deve orientar.
E é desse novo eixo que decorrem essas duas tendências,
aparentemente antagônicas, do novo Ministério Público nascido da
Constituição de 1988, quais sejam as abster-se de funcionar em feitos
em que não se discutam interesses primários e atuar onde o sejam, quer
intervindo em processos em curso, quer promovendo os necessários à
sua prevalência, sejam penais ou não.
Por isso que, classificadas as funções do Ministério Público em
típicas –porque vinculadas à defesa dos denominados interesses
públicos primários- e atípicas, historicamente se tem percebido a
expansão daquelas e contração destas.
Daí a necessidade de racionalização de sua intervenção, que
deve fazer-se cada vez mais frequente, profunda e eficaz na realização
dos interesses primários e cada vez mais rara naquilo que não
corresponda, a rigor, à defesa da ordem jurídica, do regime democrático
e interesses sociais e individuais indisponíveis.
Tal foi, aliás, a razão pela qual o introduziu o constituinte em
72
capítulo autônomo, em solução oposta à adotada pela Emenda
Constitucional de 1969, certamente movido pela expectativa de que a
instituição se coloque a serviço dos interesses indisponíveis da
sociedade mesmo contra os interesses do poder público, ou de seus
agentes, que não raro os tem violado, ao longo dos anos, por ação ou
omissão (PAES, 2003).
Essa também a razão pela qual, adotando posição diversa das
Constituições anteriores, teve a vigente a preocupação de relacionar
expressamente suas funções, figurando entre elas, não por acaso à
frente das demais, a promoção, privativamente, na forma da lei, da ação
penal pública.
73
5 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO DIREITO E PROCESSO PENAL
Se Estado e Ministério Público, como antes visto, caminharam
em direção à democratização, diferente não foi, bem examinada, a
trajetoria do Direito e do Processo Penal.
De fato, se é verdade que, ao longo da história, incontáveis
vezes foi posto o Direito Penal a serviço dos interesses de Estados
despóticos, que ignoraram solemente quaisquer restrições
principiólogicas que pudessem limitá-lo, desde há muito se pecebe,
porém, que diferente é a realidade presente.
Com efeito, modernamente se reconhece que a intervenção da
norma penal punitiva, porque conflitante com o estado de liberdade em
que se acha e deve achar-se o homem, impõe, no Estado democrático,
como lembra Ferrajoli (2002), a estrita obediência aos princípios do nulla
pena sine crimine, nullum crimen sine lege, nulla lex (poenalis) sine
necessitate, nulla necessitas sine injuria, nulla injuria sine actione, nulla
actio sine culpa, nulla culpa sine judicio, nullum judicium sine
accusatione, nulla acusatio sine probatione e nulla probatio sine
defensione.
Há mais, porém: acha-se o Direito Penal, modernamente, na
busca permanente do equilíbrio entre a liberdade e segurança,
profundamente inspirado pelo princípio da intervenção mínima. Assim,
não somente é diferente, hoje, o critério para escolha dos bens jurídicos
tutelados, como tal tutela se faz mínima, limitada às estritas
necessidades de preservação de direitos.
Nessa ótica, é forçoso reconhecer, que dispensando o Direito
74
Penal, sob a força dos princípios constitucionais, proteção apenas a bens
que a sociedade democrática, num dado tempo e espaço, entendeu
imprescindíveis à subsistência sua e dos que a compõem, é inaceitável
que as normas do processo — ou pior, interpretação sua contemporânea
aos tempos em que a democracia era mero e improvável sonho —
pretendam retirar-lhe as chances de objetivar-se.
Também já não mais se vive, no processo penal, o tempo da
prisão preventiva compulsória, nem tampouco o da manutenção na
prisão do absolvido, ou da inserção do nome do somente pronuciado no
rol dos culpados. Já também descabem a prisão administrativa e a
decretação da incomunicabilidade do preso.
De fato, o elevado número de novos direitos e garantias
consagrados expressamente na Constituição, a sua natureza, e a
cláusula de não exclusão de outros, compatíveis com o regime e
princípios adotados pela Constituição ou em tratados internacionais
subscritos pelo Brasil, impuseram, naturalmente, um novo modo de
interpretar o Estado e, em especial, as próprias normas penais e
processuais penais, a persecução e mesmo os órgãos delas
encarregados.
Assim, à democratização do Estado correspondeu, como seu
efeito necessário, a democratização do Direito e do Processo Penal, que
não mais podem constituir, como tantas vezes no passado, instrumentos
de dominação de uma categoria de cidadãos sobre outros, mas de
proteção dos direitos de todos e de cada um.
Nesse quadro, viu-se o Ministério Público transformado de
defensor dos interesses do soberano em defensor dos interesses do
cidadão, e da própria subsistência do Estado Democrático de Direito que
75
os afirma e deve atuar no sentido de sua concretização.
Por outro lado, tais transformações coincidem com a crescente
complexidade de uma realidade que torna ainda mais difícil a repressão
às ações de organizações que, em alguns momentos, buscam substituir
o próprio Estado, inclusive com violação ao monopólio deste no uso da
força.
76
6 INTELIGÊNCIA E INCREMENTO DA EFICIÊNCIA
É inegável que a constituição de organizações criminosas e
ampliação de sua área de atuação foram estimuladas pelo fim da guerra
fria (GLENNY, 2008), projetando-se os efeitos de suas ações por locais
os mais variados. E isso expõe de modo mais visível a incapacidade dos
ordenamentos jurídicos nacionais de contê-las, ao menos através do
emprego do método tradicional no direito brasileiro, de limitar a ação dos
órgãos persecutórios à pura e simples apuração de infrações penais e
promoção de ações penais contra seus autores.
Forçados, portanto, pelas circunstâncias, ao emprego de
instrumentos diversos dos tradicionais, viram-se as instituições diante de
um, a inteligência, que, por ter sido empregado na história recente do
país e de outros da América do Sul para o planejamento e execução de
ações atentatórias aos direitos fundamentais, continua a enfrentar
resistências quando sugerida sua utilização para sua proteção14.
Essa circunstância, destacada por Antunes (2002) e Almeida
Neto (2008), tem sido, evidentemente, uma das razões pelas quais,
demonizadas a expressão e a prática que designa, olvidem-se os
benefícios que sua utilização pode trazer à preservação do regime
democrático e concretização dos direitos fundamentais por instituições
disso encarregadas.
Um debate lúcido sobre o tema deve partir da formulação de
um conceito sobre inteligência, o que nos leva, com Almeida Neto, a
distinguir a atividade metódica de assessoramento informacional do
decisor, cujas origens se perdem nas brumas do tempo, com o sistema
14 Sobre o envolvimento de agentes dos órgãos de inteligência, em tais práticas, assevera Figueiredo (p. 159) que uma associação entre seus membros produziu um dos mais ativos grupos terroristas do país.
77
que a isso se presta, cujas origens repousam na modernidade (p. 28,
2008).
Com efeito, como observa o autor, com base nos
ensinamentos de Cepik, a criação de tais estruturas se acha intimamente
ligada ao desenvolvimento dos Estados soberanos, que impôs aos seus
governantes a necessidade de informações que lhes permitissem
incrementar seu poder perante outros governantes e os próprios súditos.
No Brasil, como salienta Cardoso (p. 14, ), a criação do
sistema, como suporte ao Poder Executivo, teve origem em 1927, com a
criação do Conselho de Segurança Nacional, através do Decreto 17.999,
no Governo Washington Luís, com o fim de produzir informações
financeiras, econômicas, bélicas e morais necessárias à defesa do
país15.
Posteriormente, em 6 de setembro de 1946 (FIGUEIREDO, p.
50, 2005), deu-se a criação, sob o governo de Dutra, sob a estrutura do
Conselho de Segurança Nacional, do Serviço Federal de Informações e
Contra-informações, cujas atividades se concentraram, dado o contexto
da “guerra fria”, na segurança nacional16.
Já com o movimento militar de 1964, foram criados o Serviço
Nacional de Informações, SNI, através da Lei 4.341/1964, a Escola
Nacional de Informações e o Sistema Nacional de Informações, aquele
com a missão de constituir o órgão central deste, aquela com a finalidade
de criar e difundir, nacionalmente, a doutrina de segurança.
Esgotado, porém, o regime autoritário inaugurado em 1964,
com o restabelecimento da democracia, o então presidente, Fernando
15 Tinha o serviço, segundo Figueiredo, o direito de investigar a vida pessoal dos adversários do presidente (p. 37)
16 No entanto, passados sete anos desde sua criação, ostentaria o serviço, segundo Figueiredo, pouco mais que o nome pomposo (p. 57).
78
Collor de Mello, através da Medida Provisória 150, de 15 de março de
1990, extinguiu (art. 27, II) o Serviço Nacional de Informações.
De fato, transformado em Departamento de Inteligência, ficava
a antiga estrutura, agora consideravelmente reduzida, subordinada à
Secretaria de Assuntos Estratégicos (FIGUEIREDO, p. 452, 2005).
No entanto, subsistindo a necessidade de assessoramento
informacional do Presidente da República, em 19 de novembro de 1992,
já sob o governo de Itamar Franco, ascendia o Departamento à condição
de subsecretaria (FIGUEIREDO, p. 473, 2005), e dela, já no governo
Fernando Henrique Cardoso, à condição, que hoje e desde 1999 ostenta,
de Agência, acompanhada do SIBIN — Sistema Brasileiro de
Inteligência.
Bem por isso, sob nova denominação e submetido a mais
severos instrumentos de controle, o órgão central da comunidade de
inteligência, Agência Brasileira de Inteligência, criado através da Lei
9.883/1999, passou a ter a incumbência de obter, analisar e disseminar
informações sobre fatos com influência potencial sobre a segurança da
sociedade (art. 1º, § 2º).
É que se percebera, evidentemente, a indeclinável
necessidade de que a estrutura de inteligência viesse a assessorar a
tomada de decisões no campo, entre outros, da segurança pública, em
especial em vista dos permanentes câmbios de cenários que a afetam.
De fato, percebendo a necessidade de alteração de estruturas,
organismos responsáveis pela preservação da ordem, em que no
passado já se encontravam constituídas unidades de inteligência
vocacionadas para a proteção do Estado, voltaram-nas mais
intensamente para a segurança da sociedade, em especial contra as
79
ações de organizações criminosas.
Assim, no âmbito da Polícia Militar de Minas Gerais, por
exemplo, que continua, como as demais, por força do disposto no artigo
144, § 6°, da Constituição Federal, como força auxiliar e reserva do
Exército, passou a vigorar a Resolução 3.654, de 23 de março de 2002,
alterada pela 3.678/2002, que lhe impõe (art. 12, XVIII) “identificar e
acompanhar as ações e conexões do crime organizado no Estado de
Minas Gerais”.
Observa Cardoso (2008), por outro lado, com propriedade, que
a “investigação da criminalidade ou investigação policial-preventiva
move-se na direção de buscar e coletar dados e analisá-los, para
antecipar a eclosão do delito e permitir à Instituição planejar o emprego e
lançamento de seu efetivo e meios”, que se destinam, evidentemente, à
prevenção de ações praticadas também por organizações criminosas.
Enquanto isso, no âmbito do Ministério Público brasileiro,
todavia, nenhuma providência havia sido adotada para introduzir a
inteligência como instrumento orientador da sua intervenção, que
continuou a guiar-se pela metodologia tradicional, consistente na simples
atuação no processo, com inteiro desprezo a quaisquer informacões que
não contribuissem para a solucão do caso concreto, muito embora
pudessem ter eventualmente alguma valia para indicação de tendências.
Tal modo de agir, que privilegiava apenas a busca da verdade
no processo, sem nenhuma atencão à conjuntura e às tendências da
criminalidade, de individual a coletiva, também contribuiu, certamente,
para inibir acões de caráter preventivo e, por isso, mais próximas do ideal
de concretização dos direitos fundamentais.
Centrada de fato a ação ministerial, tradicionalmente, em
80
faceta puramente repressiva, para isso contribuiu, inegavelmente, o
principio, constitucionalmente estabelecido, da independência funcional,
frequentemente manejado como argumento para a não transposição de
uma ação meramente individual para outra, institucional, concertada
entre seus membros e órgãos.
Todavia, como adverte Almeida Neto, se aos membros do
Ministério Público se confere independência funcional, dele exige a
Constituicao, como órdão do Estado que é, eficiência administrativa, o
que impede se sobreponha aquela a este.
Por outro lado, embora ainda subsista, em setores do
Ministério Público, pelas razões já explicitadas, resistência à constituicão
de sistema de inteligência, reduziu-se ela significativamente após
homicídio que, perpetrado contra promotor de Justiça, em Belo
Horizonte, por líder de organização criminosa até então pouco
conhecida, revelou a necessidade de produção de conhecimento para
eficaz e segura execução da missão institucional.
Com efeito, redundando o fato na aglutinação dos esforços dos
vários segmentos em que se desdobra a Instituição, sob a forma de
grupo nacional, nele se percebeu a necessidade de emprego da
inteligência como ferramenta de ação, pena de descumprimento, pela
Instituição, de seus deveres constitucionais.
Por outro lado, se o emprego da inteligência, através da
constituição de órgãos internos, tal qual se deu no âmbito do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais, com a criação da Coordenadoria de
Planejamento Institucional — COPLI17, é medida que se impõe, não é
ela, todavia, bastante.
17 Regida, atualmente, pla Resolução PGJ 30, de 24 de maio de 2006
81
De fato, certo que o Ministério Público é o depositário, como
observa Pacheco18, de enorme massa de informações de que depende a
adequada execução de sua atividade-fim, a exigir científico e metódico
tratamento, também o é que se faz necessária mudança postural e
cultural dos membros da Instituição, de quem também se deve exigir
migração do tadicional modelo individualista para o coletivo.
Nesse sentido, é forçoso reconhecer que a complexidade do
desafio, que supera em muito as possibilidades de solução por meio da
intervenção isolada do membro do Ministério Público, ou mesmo de um
só dos vários segmentos em que a Constituição da República o
construiu, impõe ruptura com o modelo tradicional, do promotor ou
procurador senhor de si mesmo.
Sob essa ótica, importante como a criação de organismo
destinado a coletar, examinar e difundir as informações de que depende
o eficiente desempenho da missão institucional é a capacitação do
membro, ainda no seu estágio de ingresso, que lhe permita compreender
o papel que deve desenvolver na estrutra orgânica.
Impõe-se, por isso, para o adequado treinamento do membro
do Ministério Público para o adequado desenvolvimento de seu papel,
que seja ampliada a duração dos cursos de formação ministrados por
ocasião do ingresso na carreira, exigindo-se, igualmente, que o conteúdo
programático prestigie o conhecimento da ferramenta sem cujo emrego
todo esforço individual tende à inutilidade.
Enfim, se a conjuntura revela a imperiosa necessidade de
mudança do perfil tradicional do membro do Ministério Público, com a
ruptura do modelo tradicional, individualista, a transformação deve ter
18 Pacheco, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: JORNADA JURÍDICA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO- AUDITORIA da 4a CJM.
82
seu início na ocasião do próprio ingresso, pena de perpetuação de um
modelo que — consoante a realidade bem demonstra — revela-se
incapaz de contibuir para a concretização dos direitos fundamentais e
inibição de ações, ofensivas ao Estado Democrático de Direito,
perpetradas com crescente ousadia por organizações criminosas.
83
7 CONCLUSÃO
Conforme se procurou demonstrar, as transformações
operadas ao longo dos séculos no Estado e seus fins, no Direito e
Processo Penal e seus fins, assim como no Ministério Público, foram
extremamente profundas, a ponto tal que, talvez sem exagero, possa-se
afirmar que pouco conservam essas obras da cultura humana, desde a
remota época de sua criação, além de suas denominações.
Também se buscou demonstrar que já não serve o Estado,
hoje Democrático de Direito, à perseguição de propósitos de um diminuto
grupo, mas à concretização dos direitos que, sendo fundamentais, têm
todos por titulares; igualmente, procurou-se demonstrar que Direito e
Processo Penal já não mais consistem em instrumentos de intimação de
grupo de poderosos sobre enorme massa de excluídos, mas em
instrumentos de proteção de direitos fundamentais.
Também se procurou demonstar que, seguindo tal tendência, o
Ministério Público também já não é, nem tampouco pode insistir em ser,
o que foi. Ao revés, reconstruído com o fim de atuar para a concretização
de direitos, é essa a função que legitima sua existência, impondo-se a
ruptura com qualquer traço, ainda que herdado de seu passado mais
remoto, que lhe tolha a sua realização.
Daí a conclusão, segundo a qual a mudança deve ser também
cultural, apropriando-se também o Ministério Público de importante
ferramenta de que depende a eficiência de suas ações, fazendo-o ainda
desde o curso de ingresso na carreira, de modo a posicionar a
Instituição, com reais chances de êxito, como corresponsável pelo
Estado Democrático de Direito.
84
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86
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87
Justiça Federal. Coleção de Leis do Brasil - 1890, Rio de Janeiro, 11 out. 1890b. p. 2.744.
26.BRASIL. Decreto nº 1.030, de 14 de Novembro de 1890. Organiza a Justiça no Districto Federal. Coleção de Leis do Brasil - 1890, Rio de Janeiro, 14 nov. 1890c. p. 3.653.
27.BRASIL. Decreto nº 4.824, de 22 de Novembro de 1871. Regula a execução da Lei nº 2033 de 24 de Setembro do corrente anno, que alterou differentes disposições da Legislação Judiciaria. Coleção de Leis do Império do Brasil - 1871, Rio de Janeiro. vol.1. pt. II. p. 653.
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