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INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO : MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA (2000-2014) Adriele Aparecida Squincalha da Silva 4 GEPHEMES/FAED/UFGD Rosemeire de Lourdes Monteiro Ziliani 5 GEPHEMES/FAED/UFGD Resumo: O presente artigo teve como objetivo socializar resultados de mapeamento da produção acadêmico-científica sobre a institucionalização da educação, no período de 2000 a 2014, e disponíveis no site da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações-BDTD, na qual foram pesquisados artigos que abordam a institucionalização escolar no Brasil, na ScientificElectronic Library Online–SciELO, onde foram encontrados trabalhos que abordam sobre grupos escolares e a instrução primária, e na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação- ANPED. Foram encontrados um total de nove trabalhos entre teses, dissertações e artigos de autoria de: Cordeiro (2007), Custódio (2014), Both (2013), Oliveira (2009), Silva (2011), Bencostta (2001) Santos (2013) Schelbauer (2014) e Abreu (2013). A pesquisa evidenciou a presença de trabalhos dirigidos a pensar a institucionalização da educação dos pequenos desde fins do século XIX até os anos de 1960, com os modelos institucionais que correspondem a cada momento histórico. Observou-se a utilização de uma variedade de fontes, entre elas a oral. Contudo, se considerarmos o total de trabalhos mapeados, observa-se certa rarefação de pesquisas nas temáticas privilegiadas no mapeamento e, de forma acentuada, as que tomam a educação no sul de Mato Grosso, no recorte temporal adotado nas produções, como espaço-tempo da análise. Palavras-chave: Instituição escolar. Escola primária. Grupos escolares. Introdução O presente artigo teve como objetivo socializar resultados de pesquisa sobre a institucionalização da educação, presentes na produção acadêmica nacional, no período de 2000 a 2014. Realizou-se um mapeamento de artigos disponíveis no site da Scientific Electronic Library Online – SciELO, na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD e na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação– ANPED, com as 4Pedagoga, mestranda do Programa de Educação. E-mail: [email protected]. 5Professora do PPGEd, Doutora em Educação. E-mail: [email protected] 12 III EHECO – CatalãoGO, Agosto de 2015

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INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: MAPEAMENTO DA

PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA (2000-2014)

Adriele Aparecida Squincalha da Silva4

GEPHEMES/FAED/UFGDRosemeire de Lourdes Monteiro Ziliani5

GEPHEMES/FAED/UFGD

Resumo: O presente artigo teve como objetivo socializar resultados de mapeamento daprodução acadêmico-científica sobre a institucionalização da educação, no período de 2000 a2014, e disponíveis no site da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações-BDTD, na qualforam pesquisados artigos que abordam a institucionalização escolar no Brasil, naScientificElectronic Library Online–SciELO, onde foram encontrados trabalhos que abordamsobre grupos escolares e a instrução primária, e na Associação Nacional de Pós-Graduação ePesquisa em Educação- ANPED. Foram encontrados um total de nove trabalhos entre teses,dissertações e artigos de autoria de: Cordeiro (2007), Custódio (2014), Both (2013), Oliveira(2009), Silva (2011), Bencostta (2001) Santos (2013) Schelbauer (2014) e Abreu (2013). Apesquisa evidenciou a presença de trabalhos dirigidos a pensar a institucionalização daeducação dos pequenos desde fins do século XIX até os anos de 1960, com os modelosinstitucionais que correspondem a cada momento histórico. Observou-se a utilização de umavariedade de fontes, entre elas a oral. Contudo, se considerarmos o total de trabalhosmapeados, observa-se certa rarefação de pesquisas nas temáticas privilegiadas nomapeamento e, de forma acentuada, as que tomam a educação no sul de Mato Grosso, norecorte temporal adotado nas produções, como espaço-tempo da análise.

Palavras-chave: Instituição escolar. Escola primária. Grupos escolares.

Introdução

O presente artigo teve como objetivo socializar resultados de pesquisa sobre a

institucionalização da educação, presentes na produção acadêmica nacional, no período de

2000 a 2014. Realizou-se um mapeamento de artigos disponíveis no site da Scientific

Electronic Library Online – SciELO, na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD e

na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação– ANPED, com as

4Pedagoga, mestranda do Programa de Educação. E-mail: [email protected].

5Professora do PPGEd, Doutora em Educação. E-mail: [email protected]

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seguintes palavras-chave: educação primária, grupos escolares, institucionalização, processo

de institucionalização escolar e colonização.

Esse tipo de pesquisa é denominado de “Estado do conhecimento” e tem como

objetivo mapear e analisar as produções acadêmicas de um determinado tema, a fim de

responder a questões levantadas pelos investigadores (FERREIRA, 2002).

Para o alcance do objetivo este artigo foi dividido em três partes. A primeira,

denominada “A produção acadêmica mapeada na BDTD”, objetivou descrever e analisar os

dados obtidos com a pesquisa neste banco de dados. A segunda, intitula-se “A produção

acadêmica mapeada na SciELO”, e teve como objetivo apresentar e descrever os artigos

mapeados nos periódicos consultados.A terceira foi denominada “A produção acadêmica

mapeada na ANPED”,onde foi encontrado somente um trabalho.

1 A produção acadêmica mapeada na BDTD

Nesta parte buscamos dar visibilidade ao levantamento bibliográfico realizado no site

da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações- BDTD, na qual foram pesquisados artigos que

abordam a institucionalização e a escola primária.

Os artigos encontrados foram o resultado de uma pesquisa em que foram usadas as

seguintes palavras-chave, sendo: educação e colonização, processo de institucionalização

escolar, escola primária, institucionalização e grupo escolar. Utilizando essas palavras-chave,

foi encontrado um total de noventa e um trabalhos, sendo priorizados os artigos publicados a

partir do ano de 2000, e que foram em número de seis.

Os trabalhos foram retomados e apresentados a seguir, segundo a ordem de pesquisa

das palavras-chave mencionadas acima. Para análise foi considerado o resumo de cada artigo.

Entre os mapeados, os que abordavam a temática proposta, foram lidos com mais atenção e

aprofundamento.

Utilizando a palavra-chave “Educação e Colonização”, foram localizadas duas teses.

A primeira é denominada Memórias da migração, memórias da profissão: narrativas de

professoras sobre suas vivências nas décadas de 1960 a 1980 (Tangará da Serra–MT), de

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autoria de Custódio (2014). Trata de uma investigação sobre narrativas de memórias de

professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, aposentadas, que viveram em Mato

Grosso; refere-se ao processo histórico de formação e consolidação de Tangará da Serra:

Tangará da Serra, Município de Mato Grosso, tem sua criação atrelada àimplantação de um projeto de colonização particular que recebeu nos anos1960/1980, mulheres e homens, famílias, grupos sociais distintos, de diferentesregiões do Brasil. Na condição de migrantes, alguns chegaram antes da emancipaçãopolítico administrativa, que aconteceu em 1976; outros chegaram depois, comobjetivos os mais variados e acompanharam de perto as transformações pelas quaispassou o estado de Mato Grosso após a criação (pelo Decreto-lei nº 1.106/1970) doPlano de Integração Nacional (PIN), de junho de 1970). (CUSTÓDIO, 2014, p. 14).

A tese dá ênfase às mulheres que se tornaram professoras em Tangará da Serra e as que

se formaram em licenciatura em outros estados do Brasil e compartilharam comas primeiras

experiências ligadas à condição de migração nos anos iniciais da constituição daquele núcleo

populacional.

A autora considera que “ouvir a voz” das professoras, como sujeitos históricos, é um

fator importante, e que suas narrativas permitem uma melhor compreensão do processo de

ocupação da região Centro-Oeste e das próprias professoras:

Considero que ouvir atentamente histórias contadas por professoras de Tangará daSerra possibilita que sejam compreendidos elementos importantes do processo de(re) ocupação da região Centro-Oeste do país, bem como do processo que neste con-texto, as constituiu professoras, o que destacam como elementos marcantes em suasnarrativas em relação à sua inserção no mundo e a atuação na profissão docente. Ou-vir a voz das professoras que narram, possibilita a valorização do professor como su-jeito da/na história da educação de Tangará da Serra. (CUSTÓDIO, 2014, p.19).

A segunda tese é de Both (2013) e tem como título República e Escola Primária: uma

comparação da história da educação entre Maranhão, Minas Gerais e Mato Grosso (1889-

1930). Tem como objetivo analisar a escola primária da configuração política educacional dos

referidos estados, no Período Republicano de 1889 a 1930, por meio de mensagens

governamentais, além dos avanços das reformas educacionais e a organização do ensino

primário desenvolvido nos três estados:

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A escolha pela sequência de estudo dos 3 estados, conforme a implantação dosgrupos escolares assim sendo: no Maranhão em 1903, Minas Gerais em 1906 e noMato Grosso em 1910. Dentre os três estados, Mato Grosso possuía maior extensãoterritorial. O estado do Maranhão foi o primeiro estado constituído, no século XVI,colonizado pelos europeus e, mais tarde, os colonizadores adentraram-se ao Estadode Minas Gerais. Mato Grosso foi colonizado somente no século XVIII, embora oseuropeus tenham chegado, no século XVI, conquistando territórios e apoderando-sede suas riquezas, como ouro e pedras preciosas. (BOTH, 2013, p.12).

Naquela época os índices de analfabetismo no país eram altos, havia a escassez de

escolas entre outros problemas, e era preciso que houvesse ações para gerar as mudanças

necessárias. Em Minas Gerais, Maranhão e Mato Grosso, a escola isolada era a instituição

educacional predominante, destinada ao ensino primário. Os grupos escolares eram em menor

número, e considerados instituições educacionais de qualidade, enquanto que a escola isolada

não tinha muito prestígio. Essa pesquisa também compara as diferenças da escola primária

graduada no Período Republicano, entre os estados mencionados, por meio da História da

Educação.

Com a palavra-chave “Processo de Institucionalização Escolar” foi localizada a tese de

Oliveira (2009), denominada Migração e escolarização: história de instituições escolares de

Tangará da Serra Mato Grosso- Brasil (1964 -1976), da Universidade Federal de Uberlândia.

O objetivo do autor foi pesquisar como foi tratada a questão educacional durante o estímulo à

ocupação territorial em Mato Grosso, a partir de 1964:

Esta pesquisa aponta num primeiro momento para a compreensão dos significadosde migração e escolarização, para, então, a análise de como, em uma regiãoconsiderada de colonização recente, esses elementos se amalgamam. A migraçãoocorre pela inconstância dos movimentos econômicos e por uma economiaplanejada independentemente das necessidades da população. É convenienteressaltar aqui que denomina-se como migração todos os movimentos de pessoas deum determinado país a outro, ou de um determinado lugar geográfico a outro dentrode um mesmo país, com a mudança de residência. (OLIVEIRA, 2009, p. 31)

Para o autor o aparecimento de escolas foi importante para servir de atrativo ao

movimento migratório, uma vez que as escolas seriam uma garantia de prosperidade. Oliveira

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analisou as Escolas “Emanuel Pinheiro”, “29 de Novembro”, “Dr. Ataliba Antônio de Oliveira

Neto”, de forma a priorizar a cultura escolar produzida nessas instituições no período de 1964

a 1976 e analisar as relações entre migração e escolarização em Mato Grosso. A organização

inicial das instituições escolares se deu pela própria população pensando em seus filhos e em

um futuro próspero.

Com a palavra- chave “Escola Primária e Institucionalização” localizou-se a

dissertação A Institucionalização dos Grupos Escolares no Maranhão (1903-1920), de SILVA

(2011), defendida na Universidade Federal do Maranhão. Trata-se de uma apresentação sobre

o processo de institucionalização dos grupos escolares maranhenses. Analisa o que foi feito

pelo governo daquele estado para que houvesse a criação dessas escolas, além do cotidiano

escolar.

Com a finalidade de romper com a imagem negativa das escolas isoladas foram

implantados os Grupos Escolares, estes iriam corresponder a uma modernidade escolar e ao

novo modelo de escola primária, sendo os prédios próprios sua diferenciação, já que as

escolas isoladas não funcionavam em ambientes apropriados.

A preocupação central dos republicanos maranhenses no século XX era com o elevado

número de analfabetos. Para transformar essa realidade foram criados os Grupos Escolares.

Com a palavra-chave “institucionalização escolar” foi encontrada a dissertação A

constituição da Escola Evangélica de Carambeí: uma instituição educacional da imigração

holandesa na região dos Campos Gerais- PR (CORDEIRO, 2007). Esse trabalho apresenta

uma pesquisa sobre o processo de criação e instalação da escola holandesa na região dos

Campos Gerais, na Primeira República, tendo como objetivo compreender o contexto da saída

dos imigrantes de seu país de origem e a chegada no Brasil, em Carambeí, estado do Paraná,

fazendo uma análise da importância da religião na formação da escola:

[...] A pesquisa trata da constituição histórica da Escola Evangélica de Carambeí, apartir da qual se procurará estabelecer relação com o contexto nacional; e por setratar de uma instituição criada para descendentes holandeses, procurar-se-átambém, compreender o contexto europeu do período que marca a imigraçãoholandesa no Brasil. (CORDEIRO, 2007, p.17).

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Formou-se uma colônia em Carambeí em 1911, fundada pelos imigrantes holandeses. A

economia era baseada na produção de leite e utilizavam o idioma de origem. A indústria

Européia estava em desenvolvimento, já o Brasil vivia o período da Primeira República e

necessitava substituir a mão de obra escrava. Por acreditarem que o progresso da Europa se

devia à superioridade da raça européia, buscavam imigrantes para colonizar áreas que se

encontravam despovoadas: “Para isso, o governo brasileiro enviou agenciadores que,

percorrendo os países europeus, encontrariam emigrantes, uma vez que a industrialização

provocou um número significativo de pessoas desempregadas, com interesse de melhorar de

vida em outros países.” (CORDEIRO, 2007, p.18).

Os imigrantes holandeses pioneiros do Paraná foram Leendert, JanVerschoor e Jan

Vriesman, que se fixaram na cidade de Irati e fundaram a colônia de Gonçalves Júnior, onde

encontraram algumas dificuldades devido à inexperiência em trabalhar na agricultura. Além

de outras dificuldades, como epidemias que causaram desconfortos aos imigrantes, por isso

alguns voltaram ao seu país de origem, enquanto outros se fixaram na nova colônia em

Carambeí pertencente a Castro, no Paraná, no ano de 1911.

A integração dos imigrantes aparece na Primeira República atingindo lentamente a

esfera pública, econômica, religiosa, linguística, educacional e familiar, provocando

mudanças na esfera social já existente e nas que recém se fixaram:

A preocupação com o analfabetismo e com a necessidade de se criar uma políticanacional de educação, essa já era uma preocupação desde o século XIX, agoraretomada com grande intensidade. Mas, mesmo os estados mais desenvolvidos nãoconseguiam à população analfabeta, sendo o analfabetismo considerado a causa detodos os problemas nacionais. Aumentou-se a necessidade de difundir, entrando emcena o entusiasmo pela educação. Esta, além de alinhar o Brasil às naçõesdesenvolvidas, era também o para ampliar as bases eleitorais do grupo urbanoindustrial, que vinha crescendo significativamente. (CORDEIRO, 2007, p.50)

Em 1935 a colônia passou a realizar atividades religiosas regulares quando chegou um

pastor na localidade.

O primeiro grupo escolar instalado na cidade de Castro foi em 1904. Em Carambeí os

colonos formaram uma escola na segunda década do século passado, mantendo relações com

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a igreja. Traziam professores e material escolar para garantir a educação dos filhos. A carência

de oferta de educação no país e a preocupação com a religião e com a educação levaram os

colonos a buscar alternativas para seus filhos, e então se criou a Escola Carambeí-Pilatus, no

município de Carambeí, no estado do Paraná.

Utilizando a palavra-chave “Grupo Escolar” foi encontrada a tese As estratégias de

escolarização primária na cidade de Rio Claro - São Paulo (1889-1920), de autoria de Abreu

(2013).

O trabalho mencionado buscou mapear as organizações escolares na Primeira

República, analisando-as com enfoque nas estratégias de escolarização primária. A autora

procurou entender como as cidades do interior paulista se organizaram para atender à

imposição legal da lei da obrigatoriedade do ensino de 1874. O recorte temporal de 1889 a

1920foi justificado por ser uma fase de efervescência na República e,especialmente,pela

difusão da escola primária, em 1920. Foi utilizado o recurso da micro-história e com isso

segundo a autora, foi possível identificar a criação dos grupos escolares, a expansão das

escolas isoladas, as iniciativas particulares implementadas e os sujeitos que circularam nesses

espaços. A escolarização primária nas cidades do interior, entretanto, não estava centrada nos

grupos escolares:

No início do período republicano, Rio Claro, como muitas outras do interior doEstado, passou por diversas transformações, experimentando um aceleradodesenvolvimento como produtora de café e com a chegada da linha férrea. O oestepaulista, região na qual se encontra Rio Claro, também se destacou pela participaçãona política regional. (ABREU, 2013, p. 18).

O trabalho primeiramente tratou de assuntos sobre a transformação da cidade de Rio

Claro. Quanto ao mapeamento, este foi realizado pela autora sobre as estratégias de

escolarização primária da cidade, a fim de identificar os costumes, as tradições locais e

evidentemente sobre as escolas:

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Na cidade de Rio Claro, foi possível localizar um número expressivo de iniciativaspúblicas de escolarização primária. Em levantamento, realizado entre os anos 1889 e1920, foram encontrados 03 (três) grupos escolares, 02 (dois) estaduais e 01 (um)municipal; 64 (sessenta e quatro) escolas isoladas, 52 (cinquenta e dois) estaduais e14 (quatorze) municipais. Desta forma, as iniciativas públicas totalizavam 67(sessenta e sete) escolas. (ABREU, 2013, p. 89).

Segundo a autora, mesmo havendo um número aparentemente grande de escolas, elas

não eram suficientes para atender a demanda. Foi apontado nesse trabalho que as leis de

obrigatoriedade do ensino não eram cumpridas no início e sobre a importância dos Grupos

Escolares para efetivar a escolarização das crianças, porém, ressalta a relevância das escolas

isolas.

Para o ideário republicano era preciso educar as massas, implantar o nacionalismo, e

com esses objetivos a educação tornou-se responsabilidade do Estado. Mas para tanto foi

preciso convencer as pessoas de que era necessária a educação pública e, mais ainda,

convencer os pais sobre a importância e a obrigatoriedade de manter seus filhos na escola.

2 A produção acadêmica mapeada na SciELO

Nesta parte abordou-se o levantamento bibliográfico realizado no site da Scientific

Electronic Library Online – SciELO, apresentando os trabalhos publicados e disponíveis

sobre grupos escolares, instrução primária e institucionalização escolar.

Coma palavra-chave “Grupos Escolares” o artigo mapeado foi o de Bencostta (2001),

Arquitetura e espaço escolar: reflexões acerca do processo de implantação dos primeiros

grupos escolares de Curitiba (1903-1928), da Universidade Federal do Paraná. Este é um

artigo que tem como foco algumas reflexões acerca dos projetos arquitetônicos de edifícios

dos grupos escolares, localizados em Curitiba no estado do Paraná:

No Paraná do início do século XX, o debate sobre a necessidade de projetosespecíficos para a Instrução Pública demonstra certa preocupação das autoridades deensino em discutir um formato idealizado de escola primária. Nesse sentido, oPresidente do Estado, Francisco Xavier da Silva, fez publicar, em 1901, um novoregulamento da Instrução Pública. [...] De olho na experiência paulista, Xavier da

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Silva considerava que o atraso do ensino primário só poderia ser resolvido com ocorrer do tempo, através da proposta dos grupos escolares. A escola graduada eraum novo modelo superior em vantagens às escolas isoladas, principalmente pelafacilidade de fiscalização. (BENCOSTTA, 2001, p. 106)

Conforme evidencia Bencostta (2001, p. 108), foi no final do século XIX que o estado

de São Paulo iniciou a implantação dos grupos escolares “apoiando-se nas experiências

americana e européia”. Essa iniciativa instigou os demais estados a adotarem o modelo dos

grupos escolares. Além disso, para o governo do Paraná, essas instituições significariam

economizar com o aluguel das escolas isoladas: “A inauguração do edifício, ainda em fase

final de construção, do primeiro grupo escolar do Paraná ocorre em 1903” (BENCOSTTA,

2001, p. 107).

Desde o início da República,

[...] o debate entre intelectuais, políticos e educadores paulistas fluía para um tipo deescola primária que pretendia ser moderna e diferente daquela existente no Império:carente de edifícios, mobiliários e livros didáticos, precário em pessoal docentequalificado para o ensino de crianças e distante dos modernos métodos pedagógicos.Nesse sentido, para a recém instalada república brasileira, a experiência inovadoradas escolas primárias graduadas - ou grupos escolares, como vieram a serdenominadas - foi entendida como um investimento que contribuiria para aconsolidação de uma intencionalidade que procurava, por sua vez, esquecer aexperiência do Império e apresentar um novo tipo de educação que pretendia serpopular e universal. (BENCOSTTA, 2001, p. 107)

Houve dificuldades frente à nova organização escolar em Curitiba, visto que São Paulo

tinha a instrução pública mais adiantada. Por isso, em 1916, o governo decidiu enviar uma

comissão de professores normalistas para estudar o funcionamento dos grupos escolares

paulistas:

No Paraná, o processo de institucionalização dos grupos escolares, nas duasprimeiras décadas do século XX, foi um dos resultados da reorganização do ensinopúblico no Estado. As mudanças, que não ficaram restritas à transposição didática epedagógica, foram conduzidas no sentido de se pensar, debater e destinar espaçosespecíficos para a escola primária. (BENCOSTTA, 2001, p. 136)

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Segundo Bencostta (2001, p. 136), em Curitiba, depois das primeiras construções de

grupos escolares, a “arquitetura e a configuração do espaço escolar passaram a contribuir para

a elaboração de representações sociais que foram incorporadas pelos moradores da cidade”.

Utilizando a palavra- chave “institucionalização escolar” foi encontrado o trabalho Da

roça para a escola: institucionalização e expansão das escolas primárias rurais no Paraná

(1930-1960). (SCHELBAUER, 2014).

Esse artigo trata do processo de institucionalização e expansão das escolas primárias

rurais no Estado do Paraná, entre as décadas de 1930 a 1960. Foram analisadas as mensagens

e os relatórios de governos estaduais e interventores federais.

O trabalho evidencia que o campo da história da educação ainda carece de estudos sobre

as escolas rurais brasileiras, pois:

No caso do Paraná as produções estão circunscritas a abordagens mais recentessobre as escolas do campo e as escolas uni-docentes para a zona rural. Os estudos decaráter histórico estão focalizados nas políticas educacionais para tais escolas, naformação de professores para o meio rural, escolas de trabalhadores rurais, dentreoutros temas mais específicos. No entanto, a leitura destas produções permiteidentificar nuances da temática em meio ao contexto paranaense das décadas de1930 a 1960, assim como evidenciam a necessidade de aprofundar a pesquisa sobreo processo de institucionalização e de expansão da escola primária no meio rural, oqual está inscrito de forma lacunar no âmbito da historiografia da educaçãoparanaense. (SCHELBAUER, 2014, p.74).

A pesquisa foi feita mediante correlações com o urbano, levando em consideração que o

desenvolvimento do urbano depende da produção agrícola: “No Paraná, o contexto analisado

foi marcado pela ocupação do território, aumento populacional, surgimento dos novos centros

urbanos e colonização das áreas rurais.” (SCHELBAUER, 2014, p.77). A educação foi

considerada na época como motivadora desse processo de modernização. Nesse sentido, a

pesquisa identificou, entre outros aspectos, “o papel ocupado pela educação rural e os

modelos de escola primária que foram institucionalizados, bem como sua expansão no

período em estudo.” (SCHELBAUER, 2014, p.76).

Por ocasião da abertura do ano legislativo eram enviados documentos dos governadores

ao Congresso Legislativo e à Assembléia Legislativa; esses documentos eram mensagens que

relatam as iniciativas do executivo e de seus secretários referentes às práticas de governo.

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Apresentam as ações e as metas do governo, além de descrever sobre política, economia e

dados dos relatórios das secretarias estaduais de educação.

Segundo a autora o processo de povoamento e de desenvolvimento econômico do

Paraná foi acompanhado pela emergência da institucionalização e da expansão da escola

primária rural. As áreas rurais possuíam um número elevado de analfabetos tornando urgente,

naquele momento, a criação de escolas primárias.

3 A produção acadêmica mapeada na ANPED

A pesquisa desse item foi realizada no Grupo de Trabalho História da Educação da

ANPED (GT 02). Foi mapeado os a partir dos anos 2000.

Com a palavra-chave “Escola Primária” foi encontrado o trabalho intitulado Escolas

Reunidas e Grupos Escolares: similaridades e diferenças na instrução primária em Mato

Grosso (SANTOS, 2013). O trabalho analisou a criação e implantação de duas modalidades

escolares no estado de Mato Grosso, entre as décadas de 1910 e 1940, os grupos escolares e as

escolas reunidas. Instituições educacionais que mudaram o cenário escolar mato-grossense,

seja por sua exuberância ou por sua simplicidade e, contribuíram para o acesso de milhares de

pessoas à educação primária. A pesquisa de Santos (2013) foi realizada por meio de fontes

documentais, como relatórios de presidentes do estado, inspetores de ensino e diretores da

instrução pública, disponíveis nos principais acervos e arquivos de Mato Grosso, como o

Arquivo Público de Mato Grosso (APMT); o Núcleo de Documentação e Informação

Histórica Regional (NDIHR) e o Arquivo da Casa Barão de Melgaço (ACBM).

As pesquisas sobre as instituições escolares são importantes, pois há inúmeras

instituições educativas espalhadas no Brasil e no mundo. No caso da história da educação

brasileira, em específico de Mato Grosso, ainda há escolas que precisam ser investigadas com

o intuito de analisar sua fundação. Santos (2013, p. 1) sinalizou algumas investigações acerca

do tema como explicitado abaixo:

A pesquisa historiográfica sobre as instituições escolares tem avançado significativa-mente no campo da História da Educação brasileira. Noronha (2007) argumenta quea historiografia das instituições escolares não se caracteriza como um campo novo

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de pesquisa, devido aos significativos trabalhos realizados na História da Educação,como o de Rosa Fátima (2011) intitulado ‘História da Escola Primária no Brasil: in-vestigação em perspectiva comparada em âmbito nacional (1930 1961)’ e de DianaGonçalves Vidal (2006) intitulado ‘Grupos escolares: Cultura escolar primária e es-colarização da infância no Brasil (1893-1971)’. O que se configura como novo é omodo de se fazer o registro histórico destas instituições, articulando metodologica-mente os diferentes contextos de produção a um campo formal de conhecimento.Por isso, Noronha (2007) chama a atenção para que os pesquisadores não reduzamas pesquisas cujo objeto seja as instituições escolares, a mera descrição narrativas,sem relação entre os diferentes elementos constitutivos das mesmas.

No estado de Mato Grosso a organização escolar difundida pelos grupos escolares e

pelas escolas reunidas em todo país, foi o marco inicial do modelo de escola graduada. Na es-

cola graduada havia a divisão do trabalho docente e a classificação dos alunos por séries. Se-

gundo Santos (2013), em 1910, e por meio do Regulamento da Instrução Pública Primária,

que se normatizou o modelo dos grupos escolares, no estado.

Considerações finais

Ao final da pesquisa foi possível observar as principais preocupações e os modos de

analisar temáticas como a dos grupos escolares, da educação primária, da institucionalização

da educação e de sua relação com os processos de colonização, segundo os diferentes

enfoques e materiais privilegiados pelos autores.

Na primeira parte denominada “A produção acadêmica mapeada na BDTD”, foram

encontrados trabalhos que relacionam processos de colonização e a constituição de

professores, o papel da imigração na construção de escolas, institucionalização e grupos

escolares, história comparada de instituições escolares em diferentes estados, e outros.

Na segunda parte, intitulada “A produção acadêmica mapeada na SciELO”foram

encontrados trabalhos sobre os primeiros grupos escolares de Curitiba- PR e sobre as escolas

primárias rurais no Paraná. Percebe-se a importância dada à análise histórica dos grupos

escolares e da institucionalização da educação, com ênfase na arquitetura escolar, as escolas

rurais, entre outros aspectos.

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Na última parte, de nome “A produção acadêmica mapeada na- ANPED” a ênfase foi

dada às escolas reunidas e aos grupos escolares do então Estado de Mato Grosso. Foi

enaltecido que ainda há escolas que precisam ser investigadas, com o intuito de analisar sua

fundação entre outros aspectos, no estado de Mato Grosso.

O mapa evidenciou a presença de trabalhos dirigidos a pensar a institucionalização da

educação desde fins do século XIX até os anos de 1960, com os modelos institucionais que a

ele correspondem. Contudo, se considerarmos o total de trabalhos mapeados, observa-se certa

rarefação de pesquisas nas temáticas privilegiadas no mapeamento e, de forma acentuada, as

que tomam a educação no sul de Mato Grosso, no recorte temporal adotado, como espaço-

tempo da análise.

Os modos de tratamento das temáticas evidenciam preocupações com os

entrelaçamentos históricos, políticos, econômicos e socioculturais nos quais as instituições

escolares, os sujeitos, as leis, as narrativas são produzidos e que, de certo modo, também

contribuem para produzir.

REFERÊNCIAS

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