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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado Profissional em Administração INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE GANHOS DE PRODUTIVIDADE: análise em uma empresa do setor da indústria de transformação Rafael Barros Pilon Belo Horizonte 2016

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Page 1: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

Mestrado Profissional em Administração

INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE GANHOS DE PRODUTIVIDADE:

análise em uma empresa do setor da indústria de transformação

Rafael Barros Pilon

Belo Horizonte

2016

Page 2: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

Rafael Barros Pilon

INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE GANHOS DE PRODUTIVIDADE:

análise em uma empresa do setor da indústria de transformação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga Tadeu

Área de concentração: Inovação

Belo Horizonte

2016

Page 3: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Pilon, Rafael Barros

P643i Inovação em processos em busca de ganhos de produtividade: análise em

uma empresa do setor da indústria de transformação / Rafael Barros Pilon.

Belo Horizonte, 2016.

153 f. : il.

Orientador: Hugo Ferreira Braga Tadeu

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Inovações tecnológicas - Administração. 2. Processos. 3. Produtividade. 4.

Indústria de transformação. I. Tadeu, Hugo Ferreira Braga. II. Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em

Administração. III. Título.

CDU: 338.45

Page 4: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

Rafael Barros Pilon

INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE GANHOS DE

PRODUTIVIDADE:

análise em uma empresa do setor da indústria de transformação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga Tadeu

Área de concentração: Inovação

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga Tadeu – Fundação Dom Cabral (Orientador)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Baroni de Carvalho – PUC Minas

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira Silva – Universidade FUMEC

Belo Horizonte, 26 de fevereiro de 2016.

Page 5: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

Aos meus filhos, Lucas e Sophia,

que despertaram em mim o mais

sublime dos sentimentos:

o amor incondicional

Aos meus pais, Nirceu e Dalva,

por toda uma vida de doação,

incentivo e amor.

Àqueles que se doam à construção

de um Mundo Bem Melhor

Page 6: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

Agradecimentos

A Deus, sobretudo.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga Tadeu, que tornou possível a

realização deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Rodrigo Baroni de Carvalho, pelas contribuições quando da

qualificação desta dissertação, as quais foram de grande relevância para a realização

desta obra.

Ao Prof. Dr. Pedro Paulo Wilhelm, pelos ensinamentos sobre modelagem de

processos.

À diretoria da Cipatex, que me apoiou e me deu condições de realizar esta obra.

À minha família, por todo apoio, incentivo e auxílio para a realização deste

mestrado, em especial à minha mãe Dalva, minha irmã Thais e minha namorada Aline.

A elas, que sempre estiveram dispostas a me ouvir e orientar, e não mediram esforços

para aliviar as angústias a que fui submetido nesta jornada, ofereço meu profundo e

sincero agradecimento.

Page 7: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

RESUMO

Inovação é um tema fundamental para as organizações devido ao seu alto potencial de

geração de valor. Quando aplicada a processos, gera valor por meio de ganhos de

produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para

alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade, entretanto, são

necessárias inovações constantes, aplicadas aos processos certos, que são aqueles que

proporcionam maiores impactos para a organização, o que exige metodologia de

inovação e de gestão de processos. Diante disso, o objetivo da pesquisa proposta nesta

dissertação consistiu em analisar como as inovações em processos podem ser utilizadas

como instrumento de ganhos de produtividade, tendo como foco de pesquisa o

departamento de pesquisa e desenvolvimento em uma empresa da indústria de

transformação. Adotou-se metodologia de pesquisa de natureza qualitativa, utilizando-

se o método de estudo de caso único, por se tratar de uma empresa típica do setor. Para

isso os dados foram coletados por meio de observação, análise documental e entrevistas

semiestruturadas. Tanto o referencial teórico como o estudo de caso indicam que um

método estruturado de inovação pode levar a ganhos de produtividade e destacam a

gestão de processos como um importante mecanismo para auxiliar na identificação dos

processos mais críticos e essenciais da empresa e, dessa forma, direcionar novas ideias

exatamente para esses processos.

Palavras-chave: Inovação. Processos. Produtividade. P&D

Page 8: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

ABSTRACT

Innovation is a key issue for organizations because of its high potential for value

creation. When applied to processes, create value through productivity gains, which is

an important component of business performance. To achieve consistent and relevant

results in productivity, however, constant innovation is required, applied to the right

processes, which are those that provide greater impact to the organization, which

requires innovation methodology and management processes. Thus, the objective of the

proposed research in this thesis was to analyze how process innovation can be used as

productivity gains instrument, focusing on the research and development department in

a manufacturing industry company. It was adopted a qualitative research methodology,

using the single case study method, because it is a typical sector company. For this, data

were collected through observation, document analysis and semi-structured interviews.

Both theoretical framework and the case study indicate that a structured method of

innovation can lead to productivity gains and highlight the management processes as an

important mechanism to assist in the identification of the core and most critical

processes of the company and thus drive new ideas for exactly these processes.

Key words: Innovation. Process. Produtivity. R&D

Page 9: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelo conceitual do processo de inovação............................................ 31

Figura 2 Conceito de processos.............................................................................. 39

Figura 3 Modelo esquemático e visual de processos empresariais........................ 43

Figura 4 Atividades detalhadas de um processo de atendimento a pedidos........... 45

Figura 5 Estrutura funcional................................................................................... 47

Figura 6 Modelo de interligação entre processos................................................... 48

Figura 7 Estrutura hierárquica................................................................................... 75

Figura 8 Processo de desenvolvimento de novos produtos (DNP)......................... 103

Figura 9 Comparação da quantidade de solicitações de DNP entre mercado de

moda e demais ercados.............................................................................

114

Figura 10 Evolução da participação de novos produtos no faturamento da

empresa.....................................................................................................

117

Figura 11 Relação do faturamento por pessoal ocupado no departamento de

P&D..........................................................................................................

118

Figura 12 Evolução da margem de contribuição líquida.......................................... 119

Figura 13 Crescimento da receita da empresa e do pessoal ocupado no

departamento de P&D de 2011 a 2013.....................................................

120

Page 10: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Relação de respondentes............................................................................. 79

Tabela 2 Síntese do referencial teórico..................................................................... 65

Tabela 3 Volume de SDNP de 2011 a 2015.............................................................. 87

Tabela 4 Evolução do número de funcionários ocupados no departamento de

P&D............................................................................................................

88

Tabela 5 Síntese das oportunidades de inovação identificadas no estudo de caso.... 130

Page 11: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

LISTA DE SIGLAS

ABC – Actived Based Cost (Custeio Baseado em Atividades)

DNP – Desenvolvimento de Novos Produtos

DRE – Demonstrativo de Resultado do Exercício

EBTIDA – Earnings Before Tax, Interest, Depreciation and Amortization (Lucro Antes

de Impostos, Juros, Depreciação e Amortização)

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

PIB – Produto Interno Bruto

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

OECD – Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento

OMC – Organização Mundial do Comércio

SDNP – Solicitação de Desenvolvimento de Novos Produtos

TPM – Total Productivity Manteinance (Manutenção Produtiva Total)

TQM - Total Quality Managment (Gestão da Qualidade Total)

Page 12: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12

1.1 Problema de pesquisa.......................................................................................................... 12

1.2 Objetivos .................................................................................................................................... 18

1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................................... 18

1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................................ 19

1.3 Justificativa ................................................................................................................................ 19

2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................... 22

2.1. Inovação em Processos ............................................................................................................. 22

2.2.1. Geração de ideias: espontânea e induzida ......................................................................... 31

2.2.2. Análise e desenvolvimento de ideias .................................................................................. 35

2.2.3. Implementação de ideias .................................................................................................... 36

2.2. Processos: definições, gestão e inovação ................................................................................. 38

2.2.1 Definição de processos ........................................................................................................ 38

2.2.2 Gestão de processos ............................................................................................................. 42

2.3 Produtividade ............................................................................................................................ 51

2.3.1 Fatores que influenciam a produtividade ........................................................................... 54

2.3.2 Ganhos de produtividade ..................................................................................................... 58

2.3.3 Relação entre a gestão de processos, inovação em processos e ganhos de produtividade 62

2.3.1 Busca da produtividade em atividades de P&D .................................................................. 67

3. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 71

3.1 Método de pesquisa ................................................................................................................... 71

3.2 Unidade empírica de análise ..................................................................................................... 75

3.3 Instrumentos de coleta de dados .............................................................................................. 77

3.4 Tratamento e análise dos dados ............................................................................................... 84

4. ESTUDO DE CASO ÚNICO ........................................................................................................ 86

4.1 Histórico e contexto ................................................................................................................... 86

4.2 Descrição e análise do caso ....................................................................................................... 91

4.2.1 Identificação da existência de metodologia de inovação ................................................. 91

4.2.2. Identificação da existência de metodologia de gestão de processos .............................. 96

4.2.3. Identificar possíveis problemas de produtividade no departamento de P&D ........... 102

Page 13: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

5 – CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 132

Recomendações .............................................................................................................................. 137

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 139

APÊNDICES ....................................................................................................................................... 152

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Problema de pesquisa

Inovação é um tema contemporâneo, considerado de vital importância para as

organizações devido ao seu alto potencial de geração de valor (Pisano, 2015; Sheu &

Lee, 2011), que pode ocorrer por meio dos diferentes tipos de inovações, como em

produtos, processos e modelos de negócios (Pisano, 2015; Un & Asakawa, 2015).

Embora esses e até outros tipos de inovações possam ser empregados em uma

mesma empresa, conforme aponta Pisano (2015), inovações em produtos e em

processos são os tipos mais frequentemente adotados pelas organizações, destaca Tidd

(2001), cada qual com suas respectivas propostas de valor.

Inovações em produtos buscam criação de valor por meio da introdução de novos

produtos e serviços no mercado, ao passo que inovações em processos permitem ganhos

por meio do aumento de qualidade, de velocidade, da redução de perdas e de tempos nas

atividades organizacionais (Piening & Salge, 2015; Un & Asakawa, 2015).

Apesar de muitas empresas colocarem forte ênfase nas inovações em produtos,

companhias organizadas por processos ou industriais utilizam com grande frequência as

inovações em processos. Isso ocorre em virtude de estas se mostrarem um importante

meio para aumento de eficiência em seus processos empresariais (Bergfors & Lager,

2011; Piero, 2013; Un & Asakawa, 2015), uma vez que os processos são passíveis de

serem configurados e realizados de maneiras diferentes, com diferentes níveis de

eficiência, proporcionando, assim, resultados diferentes (Damanpour & Evan, 1984;

Damanpour, 1991; Gonçalves, 2000a; Gonçalves, 2000b; Hamel, 2006; Hammer, 2007;

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Kenn, 1997; Lager, Hallbert, & Eriksson, 2010; Silva, Santos, Teixeira, & Tadeu,

2013).

A geração de resultados consistentes em processos, no entanto, demanda

inovações sistemáticas, gerenciadas, ocorrendo constantemente por meio de um ciclo

sucessivo que envolve suscitar ideias, analisá-las e implementá-las, isto é, é necessário

metodologia estruturada de inovação (Duin, Ortt, & Aarts, 2014). Além de método de

inovação, torna-se ainda necessário direcionar as ideias suscitadas aos problemas

pertinentes a um processo específico (Kenn, 1997). Caso contrário, novas ideias

poderiam se dispersar por outros processos.

Por esse motivo, sugere-se que os resultados são maiores e consistentes quando

ideias são direcionadas para os pontos mais críticos da organização, ou seja, novas

ideias devem ser direcionadas aos “processos certos”, isto é, os processos essenciais que

produzem maiores impactos nos resultados da organização, ou então aqueles que mais

precisam de mudanças (Hammer, 2007; Kenn, 1997).

Desse modo, é de grande importância que a empresa saiba quais são exatamente

esses processos, que, uma vez modificados, trarão maiores resultados para a

organização. Identificar e mapear esses processos são funções da gestão de processos

(Hammer, 2007; Kenn, 1997), a qual tem como uma de suas premissas evidenciar

aquelas atividades da organização em que se necessita de maior eficiência

(Albuquerque, 2012). Com base nisso, um método estruturado de inovação pode

proporcionar o estímulo de ideias criativas para serem aplicadas, exatamente, àquelas

atividades.

Sem adequada gestão de processos, inovações espontâneas que venham a

acontecer nos processos possivelmente ocorreriam de forma pontual, isoladas, não

necessariamente onde mais se precisam delas. Corre-se o risco de perder oportunidades

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de gerar e aplicar ideias que eliminem gargalos, perdas e retrabalhos nos processos

essenciais. Isto é, para obter vantagens advindas de inovações em processos, é

necessário foco e gestão dos processos, motivo pelo qual se considera, nesta dissertação,

a gestão de processos assunto bastante relevante (Albuquerque, 2012; Cardoso,

Caulliraux, & Clemente, 2009; Gonçalves, 2000; Kenn, 1997; Paim et al, 2009).

Nesta perspectiva, novas ideias aplicadas aos processos empresariais seriam um

grande aliado das empresas na redução de perdas e improdutividades em suas

atividades, contribuindo para elevar sua eficiência (Damanpour & Evan, 1984;

Damanpour, 1991; Gonçalves, 2000a, 2000b; McKee, 2003; Huang et al, 2003;

Rolgaski, 2012).

Aparentemente, esse aumento de eficiência proporcionado pelas inovações

explicaria o motivo pelo qual empresas inovadoras possuem níveis de produtividade

maiores que as demais, cerca de 30% superiores aos de empresas não inovadoras,

segundo De Negri, Cavalcante e Jacinto (2014). Esses autores sugerem ainda em seu

trabalho, que inovação é “um dos principais fatores que explicam o desempenho da

produtividade do trabalho” (Negri, Cavalcante & Jacinto, 2014, p.21).

Segundo McKee (2003), isto ocorre porque ganhos de produtividade

frequentemente estão associados com aplicação de novas ideias ao processo, as quais se

traduzem na utilização de novas tecnologias, novos materiais e novos métodos, os quais

facilitam as atividades e conferem maior precisão e maior agilidade ao processo, aponta

Piero (2013). Bezerra e Cacciamali (1997) sugerem que os ganhos viriam da redução do

quadro de pessoal empregado e horas pagas na produção, principalmente pelo uso de

tecnologias poupadoras de trabalho.

Direcionada a proporcionar ganhos de produtividade, inovações podem

possibilitar novas configurações organizacionais, novos mecanismos, novos métodos de

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trabalhos e formas diferentes de se realizar as atividades e dessa forma, poupar trabalho

e tempo (Damanpour & Evan, 1984; Damanpour, 1991; Gonçalves, 2000a.; Piero,

2013; Silva, Santos, Teixeira, & Tadeu, 2013). Dessa forma, novas concepções podem

ser implantadas nos processos empresariais para ajustar o fluxo de trabalho e, assim,

proporcionar aumento de velocidade, redução de tempos e de espaço, (Fontenelle, 2012;

Gonçalves, 2000a).

Nessa linha de raciocínio, Gonçalves (2000a) contempla, ainda, a incorporação do

uso de tecnologia para reduzir atividades como transporte, armazenagem e

deslocamento de recursos e materiais. Além disso, novas configurações podem facilitar

o relacionamento e comunicação entre departamentos, além de otimizar o uso de

recursos (Albuquerque, 2012; Gonçalves 2000a).

Seguindo essa perspectiva, novos métodos de trabalho, novos mecanismos e

novas formas de ser realizar as atividades podem elevar drasticamente a eficiência

operacional, por meio do aumento velocidade de processamento e das entregas, maior

qualidade do trabalho decorrentes da diminuição de erros, além da redução de

retrabalhos e de perdas (Gonçalves, 2000a; Hammer, 2007; Lager, Hallbert, & Eriksson,

2010; Mohanty, 1995; Piero, 2013).

Baseado nessas considerações entende-se nesta dissertação que inovação em

processos pode ser considerada como um importante meio para proporcionar ganhos de

produtividade, levando-se em consideração que produtividade é um importante

componente do desempenho empresarial, segundo Contador (2004) e King, Lima and

Costa, (2013).

A importância da produtividade está baseada na capacidade de produzir maiores

quantidades de produto ou serviço com menores quantidades de trabalho humano, o que

implica economia de tempo e de recursos (Piero, 2013). Em síntese, significa

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potencializar os lucros pelos recursos empregados, isto é, maiores níveis de

produtividade podem implicar em maior lucratividade (Mohanty, 1995; Piero, 2013).

Nesse sentido, já há algum tempo, o tema da reorganização produtiva, ganhos de

produtividade e suas consequências para competitividade das indústrias têm dominado

discussões no âmbito acadêmico e empresarial, tanto no Brasil como no exterior

(Bonelli & Fonseca, 1998) e claramente as empresas industriais brasileiras poderiam se

valer mais do uso das inovações em processos para enfrentar seu grande desafio de

incrementar sua a produtividade, conforme apontado por Contador (1994).

Trata-se de uma necessidade aparentemente relevante, dado o contexto em que

está inserida a indústria nacional, cuja taxa de crescimento da produtividade tem-se

mantido muito baixa historicamente e continua até os dias contemporâneos (Cavalcante,

& Negri, 2014; Contador, 1994; Ferreira, Ellery, & Gomes, 2008; Gudin, 1954; OECD,

2014).

Embora setorialmente esse indicador varie, há sinais claros de queda da

produtividade do trabalho nas últimas décadas, mais acentuadamente na indústria de

transformação, conforme apurado por Cavalcante e De Negri (2014). Mais

recentemente, a percepção de que a indústria brasileira passa pelo momento de uma

séria crise, grave a ponto de ameaçar o setor, e a existência de publicações alertando

para um cenário muito desfavorável para a indústria nacional, conforme apontam Souza,

Cattini e Barbieri (2014), evidenciam essa necessidade.

A discussão sobre o tema ganha proeminência, quando se observa que a

produtividade das empresas industriais brasileiras é bastante inferior às empresas

industriais de países desenvolvidos conforme sugerem estudos (Contador, 1994;

Ferreira, Ellery, & Gomes, 2008; Gudin, 1954; OECD, 2014). Agrava-se mais, a partir

da constatação de que não é somente inferior aos países desenvolvidos, mas também a

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países em desenvolvimento, como Méxixo, Chile e Argentina, por exemplo (The

Conference Board, 2015).

Diante desse quadro, ganhar produtividade aparenta ser bastante importante para a

indústria nacional, sobretudo, para a economia brasileira, uma vez que a atividade

industrial “desempenha papel fundamental nas economias de mercado modernas”

segundo Feijo e Carvalho (2002, p. 60). Diversos trabalhos sugerem a perseguição de

níveis superiores desse item, não somente para contribuir para a elevação da

competitividade, mas como fator de sobrevivência em longo prazo (Bonelli & Fonseca,

1998; Cavalcante & Negri, 2014; Chinda, 2012).

Há diversos mecanismos para auxiliar nessa tarefa. Variadas metodologias de

gestão e técnicas gerenciais podem ser utilizadas para esse fim, como exemplo, Six

Sigma e Filosofia Lean (Piercy & Morgan, 1997; Santos, 2003). Dentre os mecanismos

existentes, esta dissertação coloca foco nas inovações em processos, que, conforme

apontado anteriormente, apresentam grande potencial para essa finalidade.

Todo o exposto levou à reflexão sobre a possibilidade de utilização de método

estruturado de inovação, aliado à capacidade de gestão de processos como importante

meio para ganhar produtividade, e assim, poderem ser considerados fatores de grande

importância para a longevidade empresarial.

Com esta visão, o presente trabalho tem o propósito de contribuir para o avanço

da literatura sobre os temas propostos, inovação em processos e ganhos de

produtividade. A intenção é avaliar como as inovações em processos podem influenciar

no aumento da produtividade empresarial.

Visando ao entendimento mais profundo da relação desses conceitos, este trabalho

buscou identificar em uma empresa pertencente ao setor de indústria de transformação

brasileira, a existência de metodologias de inovação e gestão de processos, identificar

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18

possíveis problemas de qualidade e, consequentemente ao final, explicar como

inovações poderiam proporcionar ganhos de produtividade para a empresa investigada.

Trata-se de uma empresa industrial nacional de grande porte, familiar, situada no

estado de São Paulo. Os resultados operacionais da empresa, objeto deste trabalho,

apontam para a estagnação da produtividade nos últimos anos. A organização vem

adotando diversas medidas para reversão desse quadro e esta dissertação busca

contribuir com esse esforço. Devido ao seu grau de importância para o negócio da

empresa estudada, escolheu-se o departamento de P&D da empresa como lócus de

pesquisa, analisando especificamente o processo pelo qual esse departamento

desenvolve novos produtos.

Atividades de P&D e seu processo de desenvolver novos produtos representam

grande oportunidade de ganhos pelo grande impacto que suas atividades causam em

uma organização (Brettel, Heinemann, Engelen, & Neubauer, 2011; Chang, Hu, &

Hong, 2013; Ding & Eliashberg, 2002).

Dados os contextos apresentados, formulou-se o seguinte questionamento

norteador: como inovações aplicadas aos processos poderiam possibilitar ganhos de

produtividade empresarial em uma organização industrial?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral da pesquisa consistiu em analisar como as inovações em

processos podem ser utilizadas como instrumento de ganhos de produtividade, tendo

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como foco de pesquisa o departamento de P&D em uma empresa da indústria de

transformação nacional.

1.2.2 Objetivos específicos

Com base no objetivo geral envolvendo os temas inovação em processos e

produtividade, estabelecem-se os seguintes objetivos específicos:

a) analisar como inovações em processos podem contribuir para ganhos de produtividade;

b) verificar se há influência da gestão de processos na relação entre inovação em processo

e produtividade;

c) identificar possíveis problemas de produtividade no departamento de P&D.

1.3 Justificativa

Inovação é um tema considerado de fundamental importância para a

sobrevivência e crescimento das organizações (Huang & Rice, 2012; Matsuno, Zhu, &

Rice, 2014), em que se destaca um tipo específico de inovação, a inovação em

processos, como um importante mecanismo de ganhos de produtividade (Un &

Asakawa, 2015).

Dessa maneira, analisar com maior profundidade como as inovações em processos

podem auxiliar as empresas indústrias a elevar seus níveis de produtividade revela-se

uma questão relevante para esta pesquisa, que também intenciona contribuir

consideravelmente para entender e facilitar sua aplicabilidade.

Page 22: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

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Este estudo também apresenta contribuição teórica, sendo uma oportunidade para

que o tema inovação em processos seja contemplado de forma mais expressiva no meio

acadêmico, uma vez que estudos dessa natureza têm sido mais restritos na literatura,

devido à maior ênfase em estudos sobre inovações tecnológicas (Bergfors & Lager,

2011; Lager, Hallberg & Eriksson, 2010; Piening & Salge, 2015). Pesquisas realizadas

pelo autor desta dissertação em revistas acadêmicas brasileiras ratificam a escassez de

trabalhos nessa área específica.

Em relação à gestão de processos, esta obra abordou esse tema visando analisar

com maior profundidade qual o seu papel na relação entre inovação em processos e

ganhos de produtividade, por entender que contribui de maneira significativa, para com

essa relação. Paim et al. (2009) argumentam que o estudo dos processos sempre foi uma

demanda das organizações e ainda há grande demanda das empresas em explorar

metodologias que as permitam responder às diversas mudanças às quais uma companhia

é submetida.

Já em relação ao tema produtividade, entende-se neste trabalho que é apropriado

para a indústria nacional, principalmente a indústria de transformação, que tem

apresentado sinais claros de queda na produtividade (Cavalcante & Negri, 2014). A

indústria de transformação nacional cresceu somente 0,6% ao ano entre 2000 e 2010,

contra 6,9% em Taiwan, 5,4% nos EUA e 4% na Finlândia (Souza, Cattini & Barbieri,

2014).

A situação parece ainda mais crítica diante dos dados da entidade americana de

pesquisas Conference Board, que revelam que os funcionários de empresas brasileiras

produziram em 2013 uma média de US$ 10,8 por hora trabalhada, enquanto

funcionários de empresas chilenas e mexicanas produziram US$ 20,8 e US$ 16,8,

respectivamente e de empresas da argentina US$ 13,9 por hora trabalhada (The

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Conference Board, 2015). Dessa forma, esta pesquisa vem contribuir para auxiliar tais

organizações na reversão desse quadro.

Sugere-se que a busca pela resposta à questão de pesquisa pode trazer

contribuições significativas para reverter a situação de baixa produtividade das

empresas industriais brasileiras, tema que vem assumindo cada vez mais importância no

contexto atual dessas organizações.

Nesse contexto, a compreensão do potencial do impacto das inovações em

processos na produtividade das empresas industriais, auxiliadas por eficaz gestão de

processos, pode representar papel determinante na eficiência das organizações,

justificando, por si só, a relevância, não somente teórica, mas também prática deste

estudo. Não obstante, tais questões e estudos de campo ainda precisam ser melhor

avaliados, para se conhecer relações e características do contexto atual com a

aplicabilidade prática da teoria apresentada.

Sendo assim, compreende-se que o presente estudo contribui para avanços nesse

subcampo de pesquisa. Portanto, ao desenvolver este estudo, a pesquisa se apresenta de

maneira relevante para os temas propostos, pois, acredita-se, nesta dissertação, com

base em ponto de vista pragmático, que o estudo apresentado pode servir de modelo

para futuros projetos em empresas da indústria nacional e, assim, contribuir, de maneira

utilitária e prática, para o processo de gestão dessas organizações.

Além disso, acredita-se que estudos dessa natureza possam auxiliar, também,

outras empresas, de outros setores da economia, na administração e na compreensão das

inovações em processos como importante mecanismo de ganhos de produtividade. Será,

portanto, de grande utilidade para líderes e gestores das mais diversas organizações,

proporcionando-lhes auxílio em seus conceitos e suas práticas gerenciais para melhor

responderem às demandas do mundo dos negócios.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, serão apresentados os temas que embasaram a análise dos dados

da pesquisa.

2.1. Inovação em Processos

Inovação é “o ato de criar, inventar ou renovar, fazer algo existente de maneira

nova, diferente da usual” (Fontenelle, 2012, p.101). Está relacionada com criatividade,

geração de ideias e sua implementação em novos produtos ou serviços (Godart,

Maddux, Shipilov & Galinsky, 2015).

É importante notar que há uma distinção entre os conceitos de criatividade (ou

invenção) e inovação. Enquanto criatividade e invenção estão relacionadas com a

geração de novas ideias, inovação engloba, além da concepção de novas ideias, a

seleção de ideias promissoras para implementação (Godart et al., 2015). No contexto

organizacional, “significa criatividade posta a serviço do processo de criação de valor

para as organizações” (Fontenelle, 2012, p. 101).

A criação de valor via inovações ocorre de diferentes maneiras, por meio de novos

produtos, novos processos e novos modelos de negócios, segundo Pisano (2015).

Muitas inovações agregam valor não somente por meio de produtos tangíveis, mas

também por meio de entregas intangíveis, como informações, por exemplo, como é o

caso de inovações em serviços (Lush & Nambisan, 2015).

Entretanto, as organizações adotam com maior frequência duas formas básicas:

inovações em produtos e inovações em processos (Tidd, 2001). Ambas criam valor,

porém, de diferentes maneiras. Enquanto inovação em produtos cria valor por meio da

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introdução de novos produtos ou novos serviços no mercado, inovação em processos o

faz por meio de novas maneiras de se entregar os produtos ou serviços (Piening &

Salge, 2015; Tidd, 2001).

Em outras palavras, inovação em produtos enfatiza “o que” é produzido e

entregue, enquanto inovações em processos enfatiza o “como” é produzido e entregue

(Un & Asakawa, 2015). Essa diferença impacta diretamente no resultado gerado pela

inovação. Inovações em produtos afetam receitas e posição mercadológica da empresa,

uma vez que esse tipo de inovação permite à empresa cobrar preços mais elevados e

conquistar novos mercados (Piening & Salge, 2015; Un & Asakawa, 2015), ao passo

que, inovações em processos permitem ganhos por meio do aumento de qualidade, de

velocidade, redução de custos e aumento de produtividade (Piening & Salge, 2015; Un

& Asakawa, 2015).

Outra característica que difere um tipo de inovação para outro diz respeito ao grau

de inovação, considerando-se que as inovações variam quanto ao grau de novidade,

variando de incrementais a radicais (Godart et al, 2015; Tidd, 2001). Inovação

incremental é aquela que introduz pequenas mudanças ou adaptações, sem necessidade

de grandes níveis de novos conhecimentos, pesquisa e desenvolvimento (Engen &

Holen, 2014; Henderson & Clark, 1990). Inovação radical, ao contrário, introduz

grandes mudanças, mudanças fundamentais e revolucionárias na organização, nos

negócios ou nos produtos (Brettel et al, 2011; Damanpour, 1991; Henderson & Clark,

1990).

Para inovações em produtos, novidade é o principal objetivo (Un & Asakawa,

2015). Por esse motivo, esse tipo de inovação tende a ter um foco mais voltado para a

inovação radical (Un & Asakawa, 2015), embora a maioria das inovações sejam

incrementais, segundo Bessant, Birkinshaw e Delbrigde (2004).

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Em contraste, inovações em processos não exigem, necessariamente, grandes

novidades, mas sim, novidades a ponto de proporcionar aumento da eficiência na

condução da operação, segundo Un and Asakawa (2015). Por esse motivo, tendem a ser

naturalmente mais incrementais (Piening & Salge, 2015; Un & Asakawa, 2015).

Apesar de sua natureza incremental, uma das mais importantes maneiras de dotar

empresas do setor industrial de alta produtividade é aumentar sua capacidade de

introdução de inovações em processos, segundo Piening and Salge (2015). Por meio

desse mecanismo, novas ideias podem ser geradas e implementadas a serviço da

eficiência organizacional. Quando aplicadas a processos de forma sistemática, contínua

e dirigida, os mesmos processos podem ser realizados de maneiras diferentes, ou então

modificados e, consequentemente, gerar resultados diferentes, possibilitando ganhos em

desempenho empresarial que podem chegar a ser consideravelmente expressivos

(Damanpour & Evan, 1984; Damanpour, 1991; Gonçalves, 2000a; Gonçalves, 2000b;

Hamel, 2006; Hammer, 2007; Kenn, 1997; Lager, Hallbert, & Eriksson, 2010; Silva,

Santos, Teixeira, & Tadeu, 2013).

Segundo Tidd (2001), inovação em processos é aquela que modifica a forma

como produtos e serviços são ofertados, e estão relacionadas à introdução de novos

elementos aos processos da empresa, como mecanismos de fluxo de trabalho,

informações e especificações de tarefas, por exemplo. Para a Organization for

Economic Cooperation and Development (OECD), inovação de processos é assim

definida: “uma inovação de processo tecnológico é a implantação/adoção de métodos de

produção ou comercialização novos ou significativamente aprimorados” (OECD, 1997,

p.21), cujo objetivo consiste em “produzir ou entregar produtos tecnologicamente novos

ou aprimorados, que não possam ser produzidos ou entregues com os métodos

convencionais de produção”, ou então quando se pretende “aumentar a produção ou

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eficiência na entrega de produtos existentes” (OECD, 1997, p.56). Dessa forma,

inovação em processos pode envolver diversas mudanças, seja em equipamentos, seja

em recursos humanos, na organização da produção ou até mesmo a combinação destes

(OECD, 1997, p. 21; p.56).

Inovação em processo também é classificada como inovação organizacional,

gerencial, ou também inovação em gestão (OECD, 1997). Abrange a combinação de

conceitos existentes com novas filosofias, técnicas e práticas gerenciais, a fim de

produzir novas abordagens e alternativas de gestão de empresas (Rodrigues, Antunes, &

Dutra, 2003). Inclui-se, nessa definição, a implantação de sistemas de qualidade,

técnicas modernas de gerenciamento, mudanças em estruturas organizacionais, entre

outras (OECD, 1997). Está relacionada a novas formas de organizar, novas formas de

liderar e de motivar, novas estruturas, gestão de marcas, novas formas de coordenar,

novas abordagens de gestão. Envolve reformulação de métodos, processos, modelos e

princípios tradicionais de gestão para novas formas, novos princípios (Hamel, 2006).

Embora esse tipo de inovação não venha tendo tanto destaque como as inovações

tecnológicas, elas representam tanta importância para o crescimento e eficiência das

operações de uma empresa quanto às inovações tecnológicas (Damanpour & Evan,

1984; Figueiredo & Souza, 2013; Hamel, 2006; Hammer, 2007). Hamel (2006) destaca

que esse tipo de inovação pode, inclusive, proporcionar à empresa, em muitos casos,

vantagens muito superiores às inovações em produtos e serviços, com potencial de

abalar a liderança na indústria.

Coerente com essa linha, Gonçalves (2000a) coloca ênfase nas inovações em

processos empresariais. Afirma que estas apresentam potencial para trazer resultados

muito superiores aos das inovações com foco em produtos. Essa mesma ênfase é

realçada em diversas outras obras que destacam casos de empresas que constituíram

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suas vantagens por meio de inovações em seus processos, não por meio de seus

produtos (Gonçalves, 2000b; Hammer, 2007; Hamel, 2006; Kenn, 1997).

Isto ocorre porque os processos empresariais frequentemente são fonte de diversas

perdas e improdutividades dentro de uma organização, conforme aponta a literatura

(Belmiro, & Reche, 2003; Gonçalves, 2000a, 2000b; Huang et al, 2003; Rogalski,

2012). Normalmente, no decorrer das rotinas executoras dos processos, é natural

existirem perdas e falhas em atividades, segundo Gonçalves (2000a). Esse autor explica

que são nas interfaces entre os processos que ocorrem as maiores perdas. A incidência

de tempos de espera, perdas de qualidade e de velocidade são maiores nesses pontos,

que são exatamente onde ocorrem as maiores transferências de informações, dados,

materiais e conhecimento.

Os ganhos de desempenho ocorrem devido à introdução de novas ideias que

podem levar à criação de novos mecanismos e métodos de trabalho; aprimoramento da

comunicação; novas práticas, técnicas e ferramentas gerenciais; novas tarefas; novas

especificações; novas formas de trabalhar e novas maneiras de executar as atividades.

Tais mudanças podem eliminar ou reduzir perdas e improdutividades nesses processos,

que por sua vez teriam aumentados seus volumes de entregas de produtos, de serviços,

informações ou conhecimentos entre os clientes internos e externos à companhia, o que

por sua vez, resultaria em economia de recursos, maior velocidade e maior desempenho

da organização (Barbieri, 1997; Belmiro, & Reche, 2003; Damanpour & Evan, 1984;

Damanpour, 1991; Gonçalves, 2000a; Gonçalves, 2000b; Hamel, 2006; Hammer, 2007;

Kenn, 1997; McKee, 2003; Lager, Hallbert, & Eriksson, 2010; Ramadani & Gerguri,

2011Rogalski, 2012; Silva, Santos, Teixeira, & Tadeu, 2013).

Nessa perspectiva, as inovações em processos podem ser utilizadas para a criação

de uma estrutura integrada, veloz e precisa (Mohanty, 1995; Piero, 2013; Sapiro, 1993).

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Realizar esses empreendimentos para produzir resultados consistentes no longo prazo,

entretanto, exige inovação sistemática nos processos, isto é, inovações constantes e

gerenciadas, tratada como um processo formado por ciclos sucessivos, que se iniciam

com fomento a novas ideias e culminam com sua implantação. Ou seja, é necessário

adotar metodologia estruturada de inovação (Duin, Ortt, & Aarts, 2014; Pisano, 2015),

que é a maneira pela qual se busca por novas ideias, as seleciona, as desenvolve em

conceitos e projetos, e as realizam em novos produtos, serviços, modelos de negócios

(Duin, Ortt, & Aarts, 2014). Dessa forma, inovações passam a ocorrer não como

eventos isolados, mas como um processo, que pode ser manipulado e gerenciado para

afetar o resultado (Rodrigues, Antunes, & Dutra, 2003; Tidd, Bessant & Pavitt, 2008).

Posto de outro modo, a inovação é resultado de uma série de eventos e de decisões

que ocorrem dentro de um processo. A essência da metodologia de inovação consiste

em identificar e explorar oportunidades por meio de diversas fontes, tanto internas como

externas à organização, analisar a factibilidade das ideias emergentes e colocar em

funcionamento as que apresentam maior oportunidade de criação de valor para a

empresa. A intenção de adoção de um método formal de gestão da inovação consiste em

perpetrar a inovação de forma continuada, isto é, o processo deve ter periodicidade e

disciplina de modo a não ter fim e, assim, proporcionar ciclos contínuos de descobertas

e geração de valor (Brophey, Baregheh, & Hemsworth, 2013; Penide, Gourc, Pingaud,

& Peillon; 2013; Stadler, 2011; Un & Asakawa; 2015).

Dado esse entendimento, desde os trabalhos de Schumpeter (Schumpeter, 1988)

no início do século passado, pesquisadores vêm buscando responder sobre a melhor

maneira de gerenciar a inovação. Como resultado, muitas abordagens diferentes têm

sido recomendadas, desde a procura de gênios inovadores dentro das organizações até

incentivos à cultura de inovação, passando por métodos genéricos a metodologias

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específicas (Brophey, Baregheh, & Hemsworth, 2013). O fato é que a gestão da

inovação tem evoluído ao longo do tempo e a busca pela compreensão dos fenômenos

que envolvem o processo de inovação tem proporcionado maior entendimento sobre o

tema e, consequentemente, maior taxa de sucesso nos resultados obtidos (Duin, Ortt, &

Aarts, 2014).

Nessa perspectiva, estudos têm indicado que métodos mais completos, isto é,

aqueles que compreendem todas as atividades essenciais têm apresentado os melhores

resultados. Entretanto, não se mostram eficientes para toda e qualquer circunstância,

todo e qualquer mercado e contexto. Para alguns mercados e contextos, uma atividade

essencial pode ser rápido acesso ao mercado ou rápido lançamento de um novo produto,

como é o caso das empresas de tecnologia. Por outro lado, para outros mercados e

contextos, essa atividade não importa, como é o caso da indústria de óleo cru e gás, por

exemplo, cujos produtos permanecem inalterados há pelo menos 100 anos. Nesse caso,

processos de inovação voltados para eficiência operacional são mais adequados (Duin,

Ortt, & Aarts, 2014; Stadler, 2011).

Como um processo, o processo de inovação é composto de entradas (inputs),

atividades ou eventos (throughput) e saídas (outputs). Especificamente, nesse caso, os

inputs são as novas ideias que entram no processo, os throughput são as atividades e

eventos que selecionam, desenvolvem as ideias e as transformam nos outputs, que são

os novos produtos, novos processos e novos serviços postos em funcionamento, isto é, a

ideia implementada. Em relação a essa dinâmica, ocorre uma série de decisões,

influenciados por uma série de fatores, como percepção de oportunidade, de sucesso ou

fracasso, e de riscos. (Brophey, Baregheh, & Hemsworth, 2013; Garud, Tuertscher &

Van de Ven, 2013; Guerre, Séguin, Pace & Burke, 2013; Lager, Hallbert, & Eriksson,

2010).

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A gestão da metodologia de inovação visa mobilizar e coordenar todo o conjunto

organizacional e os recursos disponíveis, como pessoas, ferramentas, recursos físicos,

atividades etc., com o objetivo de fomentar a geração de ideias, explorar oportunidades,

introduzir novos conceitos e implementar novas formas de criar valor para a

organização, seja por meio de novos produtos, novos serviços, novas propostas de valor

para o cliente, novos modelos de negócios ou novos processos mais eficientes

(Matsuno, Zhu, & Rice, 2014; Penide et al., 2013; Tidd, Bessant e Pavitt, 2008).

O conjunto de atividades dentro de uma metodologia de inovação pode ser

agrupado sinteticamente em três etapas: 1) geração de ideias (invenção ou criação); 2)

seleção e desenvolvimento das ideias; 3) implementação das ideias selecionadas e

desenvolvidas (Garud, Tuertscher, & Van de Ven, 2013). Existem diversas

metodologias e ferramentas gerenciais que intencionam extrair melhores resultados ou

mesmo de todo o processo ou de cada uma dessas etapas especificamente. (Brophey,

Baregheh, & Hemsworth, 2013; Duin, Ortt, & Aarts, 2014). Métodos como as

ferramentas TRIZ, Design Thinking e o tradicional Brainstorming também têm destaque

entre alguns textos. Lager, Hallberg, & Eriksson (2010), por exemplo, reconhecendo

que o processo de inovação é composto de uma série de atividades separadas por pontos

de decisão, apontam o modelo proposto por Cooper (1990), chamado de “Stage-Gate

System” como um dos mais eficazes, por compreender todas as etapas.

Há, entretanto, métodos desenvolvidos por pesquisadores, os quais utilizam a

combinação ou adaptação de algumas metodologias já existentes. Guerre et al. (2013),

por exemplo, desenvolveram um método de “design de processos integrativo” que

chamaram de IDEA, um acrônimo para “Innovation, Design, Engagement and Action”.

Trata-se de uma metodologia de inovação que consiste em quatro etapas, que são:

Conectar (pessoas), Inovar, Desenhar e Implementar. As etapas Conectar e Inovar estão

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relacionados à ideação e à seleção de ideias, calem que os participantes conhecem o

problema a ser resolvido e interagem buscando alternativas de solução. Nessa fase,

muitas ideias são geradas, analisadas e debatidas, em dinâmica de ideação, análise e

seleção. As alternativas então selecionadas seguem para a fase de Design, ou Desenhar,

na qual a ideia será desenvolvida e trabalhada, transformada em projeto para posterior

implementação. Por fim, a fase de implementação executa o projeto desenhado na fase

anterior.

Embora tal metodologia, assim como tantas outras, aparentemente seja capaz de

atender qualquer organização em sua necessidade de produzir inovações, não há receitas

prontas para gerar inovações ou para gerenciar o seu processo. Diferentes contextos,

tecnologias, mercados e indústrias demandam diferentes necessidades de um processo

de inovação, bem como o tipo de inovação (por exemplo, radical, incremental). Por

exemplo, indústrias farmacêuticas têm a necessidade de submeter seus novos produtos a

testes e regulamentos que outras indústrias não têm (Duin, Ortt, & Aarts; 2014; Lager,

Hallberg, & Eriksson, 2010). Assim, não há uma única metodologia ou então única

fórmula, ou receita exclusiva de sucesso. Mas a grande maioria das metodologias

analisadas sugere que um método estruturado apresenta as três etapas aqui já

apresentadas, conforme ilustrado pela Figura 1: 1) Geração de ideias; 2) Análise e

seleção das ideias; 3) Implantação das ideias selecionadas (Duin, Ortt, & Aarts, 2014;

Guerre et al., 2013; Lin, 2012).

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Figura 1. Modelo conceitual do processo de inovação Fonte: Adaptado de Sheu, D. D., & Lee, H. K. (2011). A proposed process for systematic innovation.

International Journal of Production Research, 49(3), 847-868.

Tal sistemática proposta nesta dissertação constitui uma metodologia de inovação

que pode ser direcionada para inovações tanto em produtos como em processos.

Nesta dissertação, entende-se que esse método estruturado de inovação pode ser

direcionado para os processos com a intenção explícita de aumentar a eficiência dos

processos críticos ou essenciais, eliminando os gargalos e as ineficiências, levando ao

aumento da produtividade. Isto é, eleva-se a produtividade da organização por meio de

método estruturado de geração de ideias e inovação, direcionadas aos processos.

2.2.1. Geração de ideias: espontânea e induzida

A geração de ideias é um processo de criação, que ocorre na mente de cada ser

humano, podendo ser resultado de um esforço ou um evento espontâneo, gerado por um

vislumbre momentâneo intuitivo (insight). Esse processo criativo, também chamado de

ideação, pode ser espontâneo em cada ser humano, ou explorado por meio de

mecanismos e técnicas que promovam criatividade e induzam o indivíduo à produção de

insights direcionados para a solução de um problema, descoberta de uma solução ou

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para a exploração de uma oportunidade, como o desenvolvimento de um produto ou de

um novo negócio, entre outros (Lin 2012; Pahl & Beitz, 1996; Wallas, 1926;).

Nesse sentido, Salter et al. (2015) e Lin (2012) definem criatividade como a

habilidade de geração de ideias novas e ideação, o processo no qual as pessoas usam

suas habilidades criativas para produzir ideias novas e úteis para a organização, as quais

serão avaliadas e, posteriormente, implementadas ou não.

Nessa perspectiva, Bharadwaj and Menon (2000) entendem que a criatividade, a

qual conduz à geração de novas ideias, é um dos aspectos fundamentais para o sucesso

da inovação. Entendem, no entanto, que o desenvolvimento da criatividade em uma

organização não é função somente do indivíduo, mas de um processo estruturado, o qual

estimula e desenvolve a criatividade por meio de técnicas e prática. A combinação de

processo de desenvolvimento da criatividade com os mecanismos individuais de criação

levaria, segundo os autores, a altos níveis de desempenho em inovação, o que significa

uma empresa altamente inovadora.

Lager, Hallberg & Eriksson (2010) também argumentam que a etapa de geração

de ideias é fundamental para o sucesso de inovação, e que, devido a isso, esse processo

deve receber uma ênfase consideravelmente grande dos gestores do processo de

inovação. Esses argumentos encontram ressonância com Jeang and Liang (2012) e com

Salter et al. (2015), que enfatizam que, em um processo de inovação, o maior número

possível de alternativas deve ser criadas no início do processo, a fim de que se possa

fazer as melhores escolhas dentre várias alternativas.

O processo de ideação não necessariamente precisa ser interno na organização,

isto é, todo um conjunto de parceiros e fontes externas à companhia pode ser

considerado relevantes fontes de geração de ideias úteis para aplicação no processo de

inovação (Lin 2012; Salter et al., 2015). A exposição de pessoas da organização a

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conhecimentos externos é um fator consideravelmente importante para estimular a

criatividade e geração de novas ideias. O engajamento em diferentes fontes externas de

conhecimento proporciona ao indivíduo observar e interagir com possibilidades e

oportunidades, ter contato e adquirir maior variedade de conhecimentos. Desse modo, o

processo de exploração de ideias externamente à empresa, abre oportunidades de trazer,

para dentro da organização, novos elementos, que podem ser combinados com os

elementos internos ou ideias internas, o que poderá resultar ideias completamente

inovadoras. Como efeito, surgem novas possibilidades de desenvolvimentos de sucesso

em produtos, processos e serviços (Salter et al., 2015).

Os autores demonstram em seu trabalho que, além de benéfico para oxigenar os

conhecimentos de uma organização, esse método funciona como um mecanismo de

elevação do potencial inovativo do indivíduo, podendo torná-lo mais criativo, mais

eficiente e mais eficaz no processo de geração de ideias e identificação de

oportunidades, na medida em que proporciona aumento do conhecimento e de

informações, e o treina a identificar, pensar e desenhar novas possibilidades.

Profissionais que estão expostos a fontes externas de conhecimento são mais eficazes na

identificação de novas possibilidades, oportunidades (Salter et al., 2015).

Steingraber e Gonçalves (2013) contribuem com tema, apontando para o fato de

que criatividade advém da formação de competências multidisciplinares e cooperação

(diversidade de atores), coerência (integração e atividades complementares) e

interatividade (consistência da relação). Nesse aspecto, diversas obras colocam a

interatividade, ou interação social, como um dos mais importantes mecanismos de

geração de novas ideias, novos conhecimentos, criação e, por fim, inovações. Por meio

das interações sociais, são construídas ou reconstruídas as capacidades de pensar e as

razões dos indivíduos. A fonte de criação e inovação são os novos significados criados

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pelas interações sociais. São as interações sociais que constroem significados (Aasen, &

Johannessen; 2009; Peschl, & Fundneider; 2012).

Integração e trabalho em equipe proporcionam interação social, conhecimento e

aprendizado coletivo, todos esses fatores são extremamente importantes para estimular a

inovação, que, segundo Peschl and Fundneider (2012), dependem fortemente da

interação entre as pessoas. A interação social segundo eles é crucial para qualquer tipo

de processo de inovação. Prahalad (2010) contribui, nessa linha de raciocínio, ao

afirmar que as empresas falham em não usar a conectividade e a infraestrutura para

engajar as pessoas em uma inovação coletiva.

Além da interação social, diversos outros fatores têm sido apontados como

importantes contribuintes para criar novos conhecimentos e estimular a criatividade,

com a consequente geração de novas ideias e novos conceitos, como compartilhamento

de conhecimento; cultura de aprendizado; descentralização de poder e redução de

burocracia; liberdade de criação; cultura de questionamento; ambiente favorável;

informação e conhecimento (Arruda, Rossi, & Savaget; 2010; Kuhl & Cunha, 2013;

Mohanty, 1995).

Diante do exposto, entende-se que é crucial que a organização adote mecanismos

de estímulo à criatividade e sistemas estruturados de geração de captação de novas

ideias (Salter et al. 2015).

Contudo, somente a criatividade não resulta em inovações. É necessário

desenvolver as ideias criativas e posteriormente colocá-las em operação (Garud,

Tuertscher, & Van de Ven, 2013). Por meio do processo de geração de ideias, reflexões

podem florescer e várias podem orientar um projeto a ser executado. Entretanto, nem

todas têm o potencial necessário para se tornar um projeto que será implementado.

Antes, devem ser analisadas, estudadas e desenvolvidas. Nessa fase, muitas ideias não

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se mostrarão cabíveis para o momento ou não factíveis para implementação e serão

arquivadas. Tantas outras, entretanto, podem ser consideradas oportunas e uma

determinada quantidade de ideias se mostrarem promissoras. Essa é a fase de análise e

seleção, que selecionará as ideias mais promissoras e que estejam alinhadas com os

objetivos estratégicos da empresa (Duin, Ortt, & Aarts, 2014; Garud, Tuertscher, & Van

de Ven, 2013; Lager, Hallberg & Eriksson, 2010; Salter et al., 2015).

2.2.2. Análise e desenvolvimento de ideias

Assim como encontrar grandes ideias é difícil, desenvolvê-las é também bastante

desafiador (Garud, Tuertscher, & Van de Ven, 2013). Essa etapa é crítica porque

análises mal realizadas ou desenvolvimento de uma ideia não bem conduzido pode levar

a grandes custos e perdas de tempo, devido à alocação de recursos no desenvolvimento

de uma ideia que não se mostraria viável no futuro (Salter et al., 2015). De acordo com

Duin, et al. (2014), isso acontece porque ideias que não foram bem selecionadas acabam

sendo descartadas muito tarde no processo. Esse fato faz com que todo recurso e tempo

aplicados na ideia sejam perdidos, e os gestores se vejam obrigados a retomar o

processo do início, com outra ideia.

Por essa razão, esta etapa deve ser rigorosa e no processo de seleção deve ser

incutida muita atenção. A ideia tem que demonstrar ser bastante promissora para se

tornar um projeto e receber investimentos, segundo Salter et al. (2015). A intenção é

selecionar as ideias mais apropriadas para cada objetivo e aperfeiçoar o seu processo de

desenvolvimento posteriormente. Por isso, muitas características são consideradas, e

diferentes níveis de avaliações são realizados durante essa fase (Jeang & Liang, 2012).

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Mesmo que esse processo possa incorrer várias vezes em um loop, isto é, voltar

para um ponto já analisado para analisá-lo novamente sob outra perspectiva, isso é

importante para se criar eficiência na análise. O importante é que as ideias sejam

atentamente examinadas para se desenvolver os melhores projetos e que se possam

minimizar as perdas e custos decorrentes dessas atividades (Jeang & Liang, 2012).

Uma vez analisadas, consideradas e desenvolvidas, as ideias entram em fase de

implementação. Para isso, podem ser alocadas em forma de projetos, para serem

executados, sendo comum pré-testes e adequações, para reduzir riscos e possíveis

problemas quando iniciar o processo de implementação (Duin, Ortt, & Aarts, 2014;

Lager, Hallberg & Eriksson, 2010).

2.2.3. Implementação de ideias

A produção de ideias criativas não leva necessariamente à inovação. É necessário

implementá-la (Baer, 2012; Lin, 2012). Isto é, a fase final do processo de inovação

ocorre com a implementação (Lager, Hallberg & Eriksson, 2010), em que os recursos

são alocados para aplicação do plano na prática e sua operação (Najmaei, 2014). Por

implementação, entende-se a novidade colocada em uso (Compagni, Mele, & Ravasi,

2015).

Não há um padrão para a implementação de inovações, cada organização a

executa a seu modo (Compagni, Mele, & Ravasi, 2015). No entanto, essa fase é tão

crítica quanto a fase de ideação. A implementação de uma inovação tende a ser

problemática, uma vez que, frequentemente, exige alteração e ajustes nas rotinas e

práticas de trabalho (Compagni, Mele, & Ravasi, 2015). Segundo Pisano (2015), o

motivo de muitas iniciativas de inovação falharem se deve a problemas na etapa da

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execução, isto é, na fase de implementação. Por esse motivo, é de extrema importância

que alguns fatores sejam considerados e seguidos, principalmente a coordenação do

processo (Lin, 2012; Matsuno, Zhu, & Rice, 2014).

Devido a essa criticidade, Sheu e Lee (2011) recomendam que as ideias

selecionadas e desenvolvidas devam ser planejadas e executadas por meio de projetos,

com a intenção de garantir planejamento, monitoramento e controle do plano. Lager,

Hallberg e Eriksson (2010) adotam a mesma posição, argumentando que, para que a

implementação de uma ideia promissora resulte de fato em inovação, isto é, crie valor

para a empresa, é necessário eficiência na gestão dos projetos de inovação. Por esse

motivo, as metodologias de gestão de projetos são recomendadas para que se possa

cumprir com eficiência (Sheu & Lee, 2011).

Uma vez que esses projetos de inovação são implementados, os processos

passarão a funcionar, possivelmente, de maneira mais eficiente, até que novas

necessidades demandem novas adequações e ou processos completamente novos, os

quais por sua vez, demandarão novas ideias, alimentando o ciclo de inovações nos

processos (Albuquerque, 2012).

Desse modo, considerando-se que qualquer produto, serviço ou informações,

fornecidos por uma empresa, passam por um processo (Harrington, 1991), e que

inovações podem modificar esses processos, impactando no negócio, torna-se

extremamente importante conhecer em profundidade cada processo da organização, de

modo que as inovações sejam direcionadas para os processos que mais necessitam de

mudanças (Hammer, 2007; Kenn, 1997).

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2.2. Processos: definições, gestão e inovação

2.2.1 Definição de processos

Nas definições mais frequentes, processo é qualquer atividade ou conjunto de

atividades que recebe entradas (inputs) de um processo anterior, que pode ser interno ou

externo à organização, em seguida adiciona valor a esses inputs e como resultado realiza

entregas (outputs). As entregas (outputs) são, portanto, os inputs processados. Podem

ser materiais ou produtos, serviços, informações ou conhecimento, que são entregues

para serem utilizados em outra atividade (Harrington, 1991).

Para Mota (1995), processo é uma forma de organização do trabalho que envolve

pessoas, equipamentos, procedimentos, insumos e materiais em atividades logicamente

relacionadas, com o objetivo de agregar valor para o cliente. De forma similar,

Contador, De Sordi, Marinho e Carvalho (2007), elucidam que processos são trabalhos

compostos por diversas etapas ou atividades interligadas logicamente e executadas de

forma sequencial, nas quais início, meio e fim estão claramente definidos, e cada

atividade colabora para a composição do produto final.

De maneira objetiva, processo pode ser explicado como sendo uma atividade ou

conjunto de atividades que recebem entradas (inputs), realizam processamento e, por

fim, as saídas (outputs), que se dão na forma de entregas ao processo seguinte

(Albuquerque, 2012). A Figura 2 ilustra esse conceito de processo.

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Figura 2. Conceito de processo Fonte: Adaptado de Gonçalves, J. E. L. (2000b). Processo, que processo? Revista de administração de

empresas, 40(4), 8-19; Santos, L. R. dos (2003). Gestão da maturidade de processos essenciais-

convergência para o futuro. RAE – eletrônica 2(1).

Segundo Albuquerque (2012), recentemente os processos passaram a ganhar uma

conotação mais ligada à dinâmica organizacional, na qual os “atores” dos processos, que

são seres humanos, se relacionam e interagem entre si e também com os aspectos

técnicos das atividades, e dessa forma, constituem uma rede sociotécnica na

organização. Processos, então, passam a ser vistos como uma construção social, dotados

de capacidade de adaptação e flexibilidade, podendo ser modelados e ajustados para

responder às mudanças no ambiente de negócios.

Gonçalves (2000a) divide os processos empresariais em três categorias: 1)

processos ou essenciais: são os que envolvem a relação com os clientes, aqueles

responsáveis por produzir entregas para aos clientes, seja de produtos, serviços ou

informações. São suportados pelos outros processos internos; 2) processos

organizacionais, ou de integração organizacional: são os processos que coordenam e

viabilizam o funcionamento de todos os subsistemas que dão suporte aos processos; 3)

processos gerenciais: são os processos das relações gerenciais, das atividades dos

gerentes e que envolvem informação, decisão e ajustes de desempenho da organização.

Para Mota (1995), todos esses três tipos de processos por Gonçalves (2000) são

chamados simplesmente de processos, que são os meios utilizados por uma empresa

para administrar e conduz seus negócios.

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Nesta dissertação, será adotada somente a denominação processos para se referir a

qualquer tipo de processo. Entende-se também, conforme defendido por Contador et al.

(2007), que os processos empresariais apresentam um conceito diferente da abordagem

tecnológica que se baseia na visão mecanicista tradicional de processos industriais. Esta

não consegue analisar as práticas organizacionais como flexíveis e passíveis de

mudança, enquanto a abordagem mais moderna incorpora a flexibilidade e mudanças

nas rotinas não somente como uma possibilidade, mas como um objetivo explícito

(Contador, 2007).

Por esse conceito, processos são entendidos como estruturas “vivas” e dinâmicas,

nas quais as os modelos não são rígidos e nem inflexíveis, as rotinas organizacionais

não são essencialmente estáticas. Pelo contrário, podem e devem possuir um caráter

dinâmico, plausíveis de serem modificadas de acordo com o contexto, conferindo forte

flexibilidade e agilidade para as organizações (Albuquerque, 2012).

Os processos empresariais podem ser considerados como descrições de modos de

agir da empresa e que caracterizam a sua atuação, por meio dos quais a empresa oferta e

entrega um produto ou serviço a um cliente externo. Assim, estão relacionados às regras

básicas do negócio, constituindo-se na essência da organização, Em síntese, são os

meios que a organização utiliza para administrar e conduz seus negócios (Albuquerque,

2012; Gonçalves, 2000b; Mota, 1995).

Alguns exemplos são: processo de compras, processo de vendas (comercialização,

faturamento, atendimento a clientes), processo de desenvolvimento de novos produtos,

produção, gestão da qualidade, desenvolvimento de recursos humanos etc. (Mota,

1995).

Compondo os processos de uma empresa, há as chamadas atividades essenciais,

também denominadas de atividades críticas ou então de processos críticos. São aquelas

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que são cruciais para que sejam atingidos os objetivos da empresa. Elas envolvem um

conjunto de atividades operacionais, diversos níveis organizacionais e práticas

gerenciais (Gonçalves, 2000b). São atividades e processos que fazem diferença

significativa, que permitem à empresa criar e capturar valor. Por captura de valor, deve

ser entendido retorno financeiro (Kenn, 1997). O processo e as atividades de

atendimento de pedidos de clientes são um exemplo de processo crítico (Gonçalves,

200b).

Estruturas organizacionais orientadas para os processos têm por intenção serem

centradas no cliente e, por consequência, os processos são modelados de acordo com a

visão do cliente, que pode ser interno ou externo à organização. Isso significa que, nessa

abordagem, cada um dos processos internos seguintes passa a ser considerado também

como cliente. Ou seja, departamentos são alinhados num fluxo de atividades de cliente-

fornecedor, em que cada processo é um cliente do processo anterior, ao mesmo tempo

em que é fornecedor do processo seguinte, o qual recebe insumos do processo anterior,

processa esses insumos e entrega o insumo processado ao próximo processo, e, assim,

sucessivamente compõe-se uma cadeia de valor na qual o último elo da cadeia é o

cliente final (Albuquerque, 2012; Contador, 2007; Gonçalves, 2000a; Gonçalves,

2000b).

Orientadas por processos, as equipes passam a trabalhar com objetivos unificados,

com foco na satisfação do cliente e no aprimoramento do desempenho da organização.

O objetivo principal deste último consiste na otimização das atividades, buscando

aumento de velocidade, redução de tempo, redução de custo e, por consequência, elevar

os níveis de eficiência e desempenho econômico da empresa (Belmiro, & Reche, 2003;

Detoro & McBee, 1997).

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Faz-se necessário, porém, que os processos sejam constantemente estudados e

novas concepções sejam introduzidas com a frequência necessária para a organização se

adaptar aos novos contextos e atingir níveis de produtividade superiores ao da média do

mercado. É imprescindível que inovações sejam geradas e aplicadas com consistência e

constância aos processos essenciais ou críticos. A identificação, análises e estudos dos

processos ocorrem por meio de metodologias de gestão de processos (Albuquerque,

2012).

2.2.2 Gestão de processos

Por gestão de processos, entende-se abordagem para modelar os processos,

utilizando-se métodos e técnicas para analisar, projetar e controlar processos

organizacionais, os quais relacionam pessoas, aplicações, informações, atividades e

documentos, entre outros (Sobreiro & Claudino, 2012). “Por desenho / modelagem do

processo entende-se determinar com precisão quem faz o quê, em qual ordem, onde, sob

que circunstâncias, com qual precisão, de posse de quais informações, e com qual grau

de precisão” (Hammer, 2007, p.113). Pressupõe análise de cada processo com

identificação das diversas dimensões que os compõe, como: fluxo (volume por unidade

de tempo), sequência das atividades, esperas e duração do ciclo de processamento,

dados e informações, pessoas envolvidas, relações de dependências entre as partes

comprometidas no funcionamento do processo (Gonçalves, 2000b).

A modelagem culmina na formalização dos processos como representações de

padrões de ação recorrentes, isto é, como descrições de modos de agir que se repetem ao

longo do tempo em uma organização (Albuquerque, 2012). São formalizados em

modelos esquemáticos, visuais, de tal modo que se podem visualizar todos os processos

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da empresa, inclusive de forma ampla, compreendendo toda a cadeia de processos em

detalhes, cada qual com seus inputs, atividades e outputs (Albuquerque, 2012). Esse

modelo esquemático pode ser visualizado na Figura 3.

Figura 3: Modelo esquemático e visual de processos empresariais

Fonte: Rocha, P., & Albuquerque, A. (2007). Sincronismo Organizacional. São Paulo: Saraiva

Modelar e redesenhar os processos implicam reconfigurar a organização e

reestruturar o ambiente de trabalho. É intenção explícita da gestão de processos a

criação de uma estrutura integrada, veloz e eficiente. Busca-se rearranjar indivíduos e

grupos em forma de rede, com objetivo de proporcionar uma integração eficiente, por

meio da qual, intenciona-se obter maior velocidade e clareza na comunicação que flui

por meio dessas redes, ajustando a dinâmica do processo decisório e por consequência

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reduzindo o tempo para tomar decisões ou implementar ações (Rodrigues, Yu, &

Rocha, 2014; Sapiro, 1993).

Logo, a modelagem dos processos proporcionaria uma complexa rede de

inteligência, de comunicação e conhecimentos integrados e alta velocidade, uma vez

que a capacidade de gerir processos está associada à uma “forma eficaz de promover

integração, dinâmica, flexibilidade e inovação nas organizações” nas organizações

(Paim et al., 2009, p.25). O resultado seria uma estrutura que agregaria valor superior

para os clientes e criaria riqueza para a empresa, na qual o foco passa a ser não mais nos

problemas funcionais, mas no contexto em que a empresa está inserida (Hammer, 2007;

Paim, et al., 2009; Sapiro, 1993).

Também Hammer (1997) contribui com essa linha de raciocínio, ao enfatizar que

os sistemas de comunicação devem ser cuidadosamente reestruturados “com a intenção

clara de permitir a máxima fluidez, acessibilidade, agilidade e integridade das

informações” e garantir que as informações estejam rapidamente à disposição das

pessoas, em que precisem estar e possam ser acessadas sem problemas (Hammer, 2007,

p. 112).

Maior eficiência viria da substituição do trabalho “mecânico”, manual, por

trabalho baseado na informação e no conhecimento, os quais, por sua vez, trariam

soluções inteligentes e rápidas para os desafios empresariais, segundo Sapiro (1993). O

mesmo autor prossegue argumentando que a solução para geração de valor ao cliente e

resultados eficazes é criar companhias que atuem como “organismos sociais

inteligentes”. Inteligência empresarial deriva, segundo o autor, da velocidade, clareza e

incessante comunicação entre os indivíduos que compõe a organização (Sapiro, 1993, p.

107).

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Por essa razão, Hammer (2007) assegura que a modelagem / redesenho dos

processos é o que determina o desempenho da organização, podendo levar a empresa a

imensos ganhos de performance, por meio de propostas inovadoras na configuração dos

seus processos.

Por meio do sistemático mapeamento, desenho e modelagem dos processos, isto

é, gestão de processos, é possibilitado entendimento e visualização de todo o contexto

organizacional, de toda a cadeia de processos e suas atividades constituintes, em

modelos esquemáticos, conforme mostra a Figura 3 e, assim, possibilitam a introdução

de ideias que darão novas concepções ao modelo (Belmiro & Reche, 2003; Gonçalves,

2000; Tadeu, Salum, & Araujo, 2012; Silva, Santos, Teixeira, & Tadeu, 2013).

Uma vez modelados e mapeados em detalhes, podem ser facilmente visualizados

e estudados, resultando em possibilidades de adequações e melhorias. Os processos

estabelecidos são flexíveis, passíveis de alterações, mudanças ou concepções

inteiramente novas, adequadas a novas realidades (Albuquerque, 2012; Belmiro &

Reche, 2003). Um exemplo de processo com suas atividades é ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Atividades detalhadas em um processo de atendimento a pedidos

Fonte: Rocha, P., & Albuquerque, A. (2007). Sincronismo Organizacional. São Paulo: Saraiva.

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Os processos de modelagem e redesenho, e consequente reconfiguração não

devem ser estáticos, isto é, não são realizados uma única vez, mas, ao contrário, depois

de modelados, os processos precisam ser frequentemente monitorados, estudados e

investigados em profundidade. O intuito é identificar oportunidades de melhorias, ou

seja, facilitar uma atividade, até mudanças estruturais nas atividades, de modo que

poupem trabalho, tempo ou, então, reduzam erros e perdas. Há possibilidades de

grandes mudanças em atividades que resultarão em maior valor percebido pelo cliente,

como encurtar prazos de entrega ou aumentar a qualidade em produtos e serviços

(Albuquerque, 2012; Belmiro & Reche, 2003; Gonçalves, 2000a; Paim et al., 2009).

Não é exagero afirmar que por meio desse método de gestão, todos os

funcionários que compõe os processos, sejam eles gestores, times ou executores, atuam

não apenas executores, mas ganham um papel ativo como pensadores e responsáveis

pelo estabelecimento de mudanças e inovações incrementais nos processos da

organização (Albuquerque, 2012; Belmiro & Reche, 2003). Essas mudanças ou

inovações não são, no entanto, simplesmente aplicadas ao modelo. Antes, elas são

analisadas, discutidas e negociadas, para, somente então, serem aplicadas ao desenho

atual, modificando-o. Naturalmente, requisições de mudanças podem gerar resistências

e contra argumentações. Esse conflito, no entanto, proporciona, ainda, maiores reflexões

sobre um processo, o que pode abrir portas para outras novas possibilidades ainda não

imaginadas (Albuquerque, 2012; Matsuno, Zhu, & Rice; 2014; Un & Asakawa, 2015).

De outro modo, organizações que não trabalham orientadas a processo, isto é,

aquelas orientadas a funções (Figura 5 ilustra o conceito de estrutura funcional),

provavelmente também criam e aplicam inovações, no entanto, essas tendem a ser

pontuais e aplicadas a cada necessidade específica da unidade funcional, sem considerar

os processos críticos, conforme apontam Gonçalves (2000) e Kenn (1997).

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Figura 5. Estrutura funcional

Fonte: Adaptado de Ostroff e Smith (1992, p.150).

Fora do conceito de processos, as unidades funcionais trabalham paralelamente,

de forma isolada, sem muitas interligações e consequentemente sem muita interação.

Dessa forma, não há estudos sistemáticos dos processos e suas relações e interligações

com outros processos. (Gonçalves, 2000; McKee, 2003; Mota, 1995; Kenn, 1997). Tal

característica não favorece inovações sistemáticas, contínuas e orientadas aos processos

essenciais, devido ao isolamento e a baixa interação entre as unidades funcionais da

empresa somadas à ausência de estrutura e ou profissionais dedicados a modelar,

desenhar, gerenciar processos. Dificulta-se, assim, o conhecimento de todo o sistema e

não há visualização das necessidades de toda a estrutura, tampouco estímulo do

exercício de questionamento das práticas e rotinas atuais (Gonçalves, 2000; McKee,

2003; Kenn, 1997; Paim et al., 2009; Motta, 1995).

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É natural que sem estímulo adequado, as pessoas que compõe cada unidade

funcional não desenvolvam senso crítico, cético e questionador. Promover e estimular

novidades na organização e desenvolver a habilidade de uma análise crítica, cética e

questionadora sobre práticas atuais e também prover às pessoas a habilidade de

identificar alternativas de realizar essas atividades de outra maneira, constituem

premissas da gestão de processos (Gonçalves, 2000a; Gonçalves, 2000b; McKee, 2003;

Penide et al., 2013; Kenn, 1997; Paim et al., 2009; Motta, 1995).

Centrando em seus processos, a organização passa a gerenciar seu inter-

relacionamento e entender melhor toda a sua cadeia de valor, por meio de uma visão

sistêmica de todas as atividades que compõe a cadeia, o que a habilita a coordenar e

implantar mudanças mais rapidamente e de forma controlada (Mota, 1995), conforme

ilustra a Figura 6.

Figura 6. Modelo de interligação entre processos

Fonte: Adaptado de Bae e Seo (2007, p. 2553)

Em face dessa discussão, é importante destacar a mudança cultural trazida por

essa metodologia, a qual provoca uma cultura de questionar a forma de trabalho. Uma

vez incorporada, permite descobrir e explorar constantemente novas formas de

trabalhar, proporcionando oportunidades para criação de novos processos e seu

desdobramento em inovações que podem levar a organização a encontrar oportunidades

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completamente novas (Albuquerque, 2012; Belmiro & Reche, 2003, 2012; Tadeu,

Salum & Araujo, 2012). Fica claro, portanto, que a gestão dos processos favorece

inovações em processos. É atribuição dessa metodologia compreender as causas e

consequências da inovação, o que, por consequência, estimula a capacidade de inovar

(Tadeu, Salum, & Araujo, 2012).

Com esse tipo de gestão, as inovações deixam de representar, apenas, eventos

isolados e a companhia passa a promover inovações sistemáticas em toda a organização

(Rodrigues, Antunes, & Dutra, 2003; Tidd, Bessant, & Pavitt, 2008; Penide et al.,

2009). E é exatamente nesse ponto que se integram as metodologias de inovação e

gestão de processos. A metodologia estruturada de inovação se encarrega de

desenvolver o processo de ideação direcionado as ideias para os processos que

necessitam ser trabalhados, os quais foram previamente identificados pelo sistema de

gestão de processos.

O processo de ideação se beneficia dessa combinação, porque a gestão de

processos permite que todas as pessoas da organização possam visualizar os processos

de forma clara, pensar e sugerir melhorias para cada etapa ou atividade do processo, isto

é, permite aos funcionários utilizar esse mapa para visualizar qualquer parte de um

processo da organização para que, assim, proponham e/ou requisitem melhorias, e até

concepções inteiramente novas, aos modelos já estabelecidos e em pleno funcionamento

(Albuquerque, 2012; Belmiro & Reche, 2003; Lager, Hallberg & Eriksson; 2010;

Matsuno, Zhu, & Rice; 2014; Un & Asakawa, 2015).

Diante de todo o exposto, parece haver suficientes evidências de que a gestão de

processos é de grande importância para que se obtenham todos os potenciais ganhos

proporcionados por inovações nos processos. Também parece razoavelmente claro que

gestão de processos não somente requer inovações para melhorar os processos, como

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também cria as condições necessárias para que as inovações aconteçam de modo

natural, uma vez que, Segundo Tidd, Bessant, & Pavitt (2008), as inovações ocorrem

em ambientes bem estruturados, requisito que a gestão de processos busca proporcionar.

A orientação a processos e sua gestão adequam a estruturação do ambiente e

proporcionam os requisitos necessários para que uma empresa se mantenha inovadora,

dos quais se destacam alguns dos principais encontrados na literatura: 1) interação

social; 2) compartilhamento de conhecimento; 3) cultura de aprendizado; 4)

descentralização de poder e redução de burocracia; 5) liberdade de criação; 6) cultura de

questionamento; 7) ambiente favorável; 8) informação e conhecimento (Alvarenga,

2008; Argyris & Schön, 1978; Arruda, Rossi, & Savaget; 2010; Christensen, 2012;

Choo, 2002; Choo, 1998; Christensen, 2003; Kim, 1996; Kuhl & Cunha, 2013;

Mohanty, 1995; Nonaka & Takeuchi, 1997; Quinn, 1992; Krogh, Ichio, &

Nonaka,2001).

À luz desses argumentos, torna-se fácil compreender que gestão de processos e

inovação em processos estão intimamente ligados, isto é, gestão dos processos leva a

companhia a inovar em processos e as inovações em processos levam à melhoria destes,

em um ciclo, podendo levar a empresa, dessa maneira, a altos níveis de produtividade

(Albuquerque, 2012; Hammer, 2007; Kenn, 1997; Penide et al., 2013; Piening & Salge,

2015; Stadler, 2011; Un & Asakawa; 2015).

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2.3 Produtividade

Produtividade é um importante medidor de desempenho e crescimento tanto de

uma empresa como de uma nação. A produção de um país é medida por meio do seu

Produto Interno Bruto (PIB) e a produtividade é o quociente do PIB pela população

ocupada. A produção é função direta de dois fatores: Capital e Trabalho, de modo que a

produção aumenta à medida que se aumenta a participação desses fatores, isto é,

aumenta-se a produção com aumento de capital ou por meio de aumento do trabalho. O

aumento na intensidade do uso de um dos fatores ou ambos pode aumentar a produção

por pessoal ocupado, resultando em maior produtividade (Bonelli & Fonseca 1998;

Rossi & Ferreira, 1999; Solow,1962). Por exemplo, equipamentos modernos podem

produzir mais peças utilizando-se menor quantidade de trabalho humano; nesse caso

aumenta-se a produtividade via aumento de capital. A produtividade também é medida

pelo conceito de Produtividade do Trabalho, o qual mensura o quanto a mão de obra

empregada contribui para o crescimento de um estado, de um setor ou de uma empresa

em particular (Bonelli & Fonseca 1998; Rossi & Ferreira).

Dentro do âmbito empresarial, convenciona-se calcular a produtividade como a

razão entre o resultado da produção e o trabalho (King, Lima & Da Costa, 2013).

Segundo Rossi e Ferreira (1999, p.2), “a produtividade do trabalho é calculada nos

conceitos produtividade-homem e produtividade-hora” e calcula-se em duas séries, a

primeira dividindo-se o valor adicionado (produção) pela mão de obra na produção,

utilizada para o conceito de produtividade-homem, e, em outra série, dividindo o valor

adicionado (produção) pelas horas trabalhadas (também na produção). Alinhados a esse

conceito, Cavalcante e De Negri (2014, p. 23) definem a produtividade do trabalho

como “o quociente entre alguma medida de produto (como o valor adicionado ou a

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produção física) e alguma medida de trabalho”. Nas palavras de Barbosa Filho, Pessoa e

Veloso (2010, p.112): é um indicador que “mensura o retorno de mercado do capital

humano”, ou em outras palavras, produtividade do trabalho é um indicador que permite

a medida da eficiência do trabalho.

Há, todavia, diferentes conceitos sobre produtividade de uma empresa. Alguns

estudiosos defendem a produtividade como a medição da produtividade física do

trabalho humano, conforme conceitua Gudin (1954, p.13): “é a quantidade de produto

por unidade de trabalho que constitui o índice fundamental da produtividade”. Esse

conceito trata a produtividade como a capacidade de produzir maiores quantidades de

produto com menores quantidades de trabalho humano. Assim, maior produtividade

significa minimizar a quantidade de trabalho para a produção de bens (Piero, 2013). Já

King, Lima & Da Costa (2013) argumentam que o conceito de produtividade evoluiu

para uma abordagem sistêmica e outras formas de medir a produtividade surgiram ao

longo do tempo, relacionando o resultado da produção não somente com a mão de obra

ou trabalho, mas também com a utilização de outros recursos como, por exemplo,

energia, matéria-prima, insumos, entre outros, com a intenção de avaliar e melhorar o

desempenho das organizações.

Nessa linha, Contador (2004) esclarece que, dentro de uma empresa,

produtividade é avaliada em três níveis: operação, fábrica e empresa, em que:

produtividade da operação: é medida em quantidade de produto físico por unidade de

trabalho, como homem-hora; produtividade da fábrica: “é a relação entre o resultado da

produção e o total de cada recurso produtivo aplicado”, medindo-se cada recurso

isoladamente (p. 121); produtividade da empresa: é a relação entre o faturamento e

custos operacionais.

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Compreende-se, dessa forma, que a produtividade pode ser observada de um

ponto de vista mais amplo em uma organização, de maneira que os esforços devem ser

concentrados não somente em aumento do capital ou do trabalho, mas também que a

empresa busque alocar esforços em outros fatores como eficiência da comunicação,

alinhamento e gestão dos processos, uso de metodologias para melhorar interfaces entre

áreas e relacionamento, entre outros (Baines, 1997; Mohanty, 1995; Schilling & Hill,

1998). O que se pretende com isso é a melhor utilização do trabalho humano, por meio

da produção de maiores quantidades de produto com menores quantidades de trabalho

humano, seja por meio do aumento da eficiência, seja em aperfeiçoamento produtivo,

melhor utilização dos insumos, utilização de tecnologias que poupam trabalho, entre

outras. Em síntese, o objetivo fundamental por trás desse indicador consiste em

economizar tempo e baratear os custos operacionais (Bonelli & Fonseca, 1998; Gudin,

1954; Piero, 2013).

Para contador (2004), esse indicador mais do que redução de custos, representa

velocidade, que, segundo o autor, possibilita à empresa maiores poderes de competição

em diversos campos. Se a empresa, por exemplo, escolher competir em variedade de

modelos, precisa ter rapidez na preparação de máquinas, rapidez na manufatura. Se

escolher competir em novos produtos, precisa de agilidade para projetar, preparar

protótipo, construir ferramental, divulgar o novo produto, estudar processos, preparar

máquinas e fabricar. Se escolher competir em prazo de entrega, precisa de rapidez na

produção. E a empresa só alcança esses atributos, necessários à competição no campo

escolhido, se tiver alta produtividade.

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54

2.3.1 Fatores que influenciam a produtividade

Uma empresa industrial, como é a indústria de transformação, é constituída de

uma complexa rede de atividades interdependentes, com interação entre equipamentos,

materiais, pessoas, processos e departamentos. Entretanto, é muito comum cada parte

dessa rede ser vista de forma isolada, gerando deficiência na coordenação das atividades

e ineficiência no uso dos recursos, pessoas, informações e ativos. Essa situação impede

um maior desempenho do trabalho humano e dos recursos, e, assim, os níveis de

produtividade não aumentam (Huang et al., 2003).

Com base nisso, o foco principal na perseguição da máxima produtividade deve

ser a eficiente integração dos recursos, dos processos e das atividades da organização,

porque, assim, maximizar-se-ia a eficiência da utilização desses fatores, o que poderia

resultar em mais produção pelos mesmos custos (Huang et al., 2003). Baines (1995) e

Mohanty (1995) têm entendimento semelhante, de que é consideravelmente importante

para elevar produtividade, que a empresa busque alocar esforços em fatores

relacionados ao trabalho humano, à eficiência da comunicação e aos processos de

tomada de decisões e feedbacks.

Em virtude dessas considerações, produtividade deve ser observada de um ponto

de vista panorâmico e abrangente, isto é, deve ser abrangente de modo a visualizar todo

o conjunto organizacional e operacional, não simplesmente com foco no capital, mas

sim, considerando os fatores onde há relações humanas (Baines1995; Mohanty, 1995).

Dentro do contexto da produtividade empresarial, Huang et al. (2003) resumem a

três categorias os fatores que contribuem para maior ou menor produtividade, a saber:

disponibilidade, performance e qualidade. A disponibilidade tem relação com utilização

eficaz do tempo, de modo que tempos perdidos, paradas não programadas e tempos

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inativos afetam a produção de um processo e consequentemente as suas saídas. Por

consequência, a sua produtividade é afetada.

Performance, por sua vez, está ligada à velocidade, de maneira que maior ou

menor velocidade também afetam a produção e as entregas (saídas) de um processo e,

portanto, a produtividade (Huang et al., 2003).

Qualidade é termo que diz respeito à condição com que o trabalho é executado e

entregue, isto é, um trabalho poderia ser executado com maior ou menor qualidade. Está

relacionado com aproveitamento, desperdícios, falhas e retrabalhos, de modo que a

ocorrência, em maior ou menor intensidade desses itens, implica menor ou maior

produção e afetam as saídas de um processo, afetando a produtividade (Huang et al.,

2003).

Parece, então, bastante lógico que a quantidade de trabalho produzida e entregue

por um determinado processo está relacionado diretamente a esses três fatores:

disponibilidade, performance e qualidade, conforme sugerido por Huang et al. (2003),

de modo que maior ou menor quantidade, utilizando-se os mesmos recursos humanos,

implicam maior ou menor produtividade.

Contador (1994) articula seu trabalho dentro de uma lógica similar, concentrando

todo o foco, no entanto, apenas no aspecto tempo. Para esse autor, a maior causa da

ineficiência de grande parte das empresas refere-se ao tempo inativo, chamado também

de espera. O período em que uma atividade ou um empregado fica sem produzir é uma

perda, isto é, uma quantidade maior de trabalho poderia ser entregue dentro do mesmo

espaço de tempo e com os mesmos recursos. De forma contrária, isto é, deixar de

produzir dentro desse espaço de tempo reduz o montante de produção ou entregas

(outputs) com os mesmos inputs, portanto, menor produtividade. Dento dessa lógica,

sugere que o caminho para elevação da produtividade é a redução dos tempos inativos

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ou de tempos de espera. Acrescenta, ainda, que a solução para essas improdutividades

se encaixa no tipo de problema cuja solução é padronizada. Logo, esse conceito poderia

ser aplicado a qualquer processo na organização.

Já Mohanty (1995) considera que são três as principais barreiras ao aumento da

produtividade nas empresas: 1) falta de entendimento e promoção da inovação; 2) foco

nos resultados de curto prazo; 3) tendência natural à centralização e à burocratização

nas empresas. Todas elas estão relacionadas, na visão do autor, às práticas de controle e

centralização de decisões, com ênfase na autoridade formal, o que dificultaria iniciativas

de se realizar atividades de forma mais eficiente. Mckee (2003) corrobora a ideia de que

ganhos de produtividade frequentemente estão associados com aplicação de novas

ideias ao processo. Algumas dessas ideias podem estar relacionadas com ações para

aumentar a velocidade com que atividades são realizadas (Rogalski, 2012).

Baines (1997), por sua vez, argumenta que a razão de muitas empresas falharem

em suas tentativas de aumentar a produtividade em longo prazo se deve à concentração

de esforços somente em reduzir os inputs, ou seja, reduzir a quantidade ou os custos dos

recursos colocados no processo e não focalizarem a expansão dos outputs, isto é,

aumentar as saídas dos processos (produção ou entregas). Para esse autor, focar na

redução dos inputs significa negligenciar os fatores relacionados ao trabalho humano,

aos processos de comunicação eficiente e de tomada de decisões, que, segundo o

mesmo autor, são os principais fatores de elevação da produtividade, porque

proporcionam aumento dos outputs mantendo-se os inputs no mesmo nível.

Uma das maneiras de aumentar os outputs é reconfigurar os processos mais lentos

ou ineficientes, que estrangulam todo o sistema organizacional. Esses processos são os

chamados gargalos. Os gargalos restringem as entregas de todo o sistema porque o

gargalo estrangula o fluxo do processo, impedindo a vazão do trabalho pelo sistema.

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Utilizando-se a mesma analogia de uma corrente, toda organização possui elos mais

fracos, que são justamente os elos que limitam o desempenho de todo o sistema. Esses

elos mais fracos são as restrições do sistema que limitam os outputs da organização. E a

busca da produtividade passa pela tentativa de aumentar os outputs (Sadat, Carter, &

Golden, 2013; Sirota,1966).

Os termos gargalo e restrições provêm dessa teoria, criada por Goldratt (Goldratt

& Cox, 1994), que considera que o gerenciamento de ume empresa deveria ser

concentrado em poucos pontos restritivos, os chamados gargalos, ou pontos de

estrangulamento, que são componentes que limitam o desempenho ou a capacidade de

todo um sistema (Spector, 2011). O termo gargalo é uma derivação metafórica do

gargalo de uma garrafa, na qual a velocidade de saída do líquido é limitada pela

dimensão do gargalo da garrafa. Assim, a restrição é definida como “qualquer coisa que

limita um melhor desempenho de um sistema, como o elo mais fraco de uma corrente”

(Guerreiro, 1996, p.1).

Os gargalos podem ocorrer em processos em decorrência de problemas como

baixa velocidade de processamento, problemas relacionados a aspectos de tempo, como

esperas, tempos inativos ou paradas, além de problemas relacionados a erros e falhas,

retrabalhos, comunicação deficiente, entre outros. Isto é, são fatores que estão

relacionados à performance, disponibilidade e qualidade, conforme propostas por

Huang et al., que prejudicam o fluxo do processo e impedem maiores outputs. Isso

significa que os gargalos impedem maiores níveis de produtividade (Caulliraux &

Cameira, 2000; Guerreiro, 1996; Sadat, Carter, & Golden, 2013; Sirota,1966; Spector,

2011).

Dessa forma, para Baines (1997), a eficaz gestão da produtividade passa por

cuidadosa avaliação dos processos, na qual é imprescindível identificar as restrições do

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sistema (gargalos), o que só é possível por meio de investigação em profundidade.

Argumenta que é necessário investigar e questionar cada atividade. A metodologia

proposta por Contador (1994, p.229) é de lançar mão de um olhar crítico para cada

atividade, sem suas próprias palavras: “para aumentar a produtividade, é necessário

olhar como está sendo executado o trabalho”. Dessa forma, a aplicação de adequadas

metodologias, mecanismos e ferramentas e a consequente elevação da produtividade

dependerão do nível de detalhamento das atividades dentro de cada processo (McKee,

2003).

Assim, entende-se nesta dissertação que o caminho para a elevação do indicador

em questão deve ser na direção de se detalhar, estudar e gerenciar cada um dos

processos da empresa, em seus menores detalhes. Os conceitos discutidos podem ser

aplicados a cada um dos processos que compõe a organização. O mesmo raciocínio é

valido para o processo de desenvolvimento de novos produtos, que constitui o foco de

pesquisa deste trabalho.

2.3.2 Ganhos de produtividade

Dentre as metodologias de gestão e técnicas gerenciais que as organizações

buscam frequentemente para aumentar sua produtividade, destacam-se: Six Sigma, Total

Quality Managment (TQM), Custeio Baseado em Atividades (ABC), Filosofia Lean

(Lean Thinking e Lean Manufacturing), Sistema Just-in-Time, Manutenção produtiva

total (TPM), entre outras (Hammer, 2007; Santos, 23e003; Chinda, 2012; Piercy &

Morgan, 1997).

Outras metodologias, mais tradicionais, como métodos de organização e divisões

do trabalho, aumento das mecanizações e da tecnologia empregada continuam sendo

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59

utilizados e defendidos por estudiosos em todo o mundo (Jagoda, Lonseth, & Lonseth,

2013; Piero, 2013). Nakano (2012) sugere que a produtividade está associada à

tecnologia. Afirma que somente a atualização tecnológica de uma empresa já

proporciona grandes saltos de produtividade. O emprego ou a produção de novas

tecnologias proporciona aumento de produtividade por meio de mecanismos que

poupam trabalho e reduzem custos, uma vez que facilitam o processamento, reduzem

falhas, desperdícios e proporcionam maior velocidade da produção, levando a reduções

de custos (Bonelli & Fonseca, 1998; Piero, 2013; Jagoda, Lonseth, & Lonseth, 2013;

Hill & Utterback, 1980).

Adicionalmente aplicáveis e não menos importantes, os métodos voltados para o

aumento da eficiência do trabalho humano, principalmente no aprimoramento da mão

de obra, são frequentemente utilizados como instrumentos de elevação da produtividade

de uma organização. O trabalho humano é um dos grandes fatores que impactam na

produtividade, não somente pelo custo da mão de obra empregada, mas porque a

qualidade da mão de obra interfere consideravelmente nesse indicador (Manso, Barreto,

& França, 2010; Barbosa, Pessoa e Veloso, 2010; Ferreira, Ellery, & Gomes, 2008). A

OECD (2014) evidencia em sua pesquisa esse fato, enfatizando que o aumento da

produtividade do trabalho em países que estão crescendo em produtividade se deve à

melhor utilização da mão de obra. Nessa linha de trabalho, são utilizados mecanismos

tradicionais como especialização do trabalho, busca do aumento do conhecimento e da

capacitação dos funcionários, além de mecanismos voltados para a motivação e

satisfação dos trabalhadores (Piero, 2013).

Conforme exposto, são diversos os meios e métodos que uma organização pode

adotar para buscar patamares superiores de produtividade (Ferreira, Ellery & Gomes,

2008). No presente estudo, destaca-se e coloca-se foco em outro método, as inovações,

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consideradas neste trabalho como um importante mecanismo nesse quesito. Diversos

trabalhos evidenciam o impacto das inovações no aumento da produtividade de uma

empresa. Relatório da Mackinsey (2012) apontou que as inovações são o motor de

novas demandas e aumento de produtividade no setor industrial, não somente para uma

empresa isoladamente, mas também na cadeia de empresas. De Negri, Cavalcante, &

Jacinto (2014) afirmam, em suas recentes pesquisas, que “as estatísticas descritivas

indicam a existência de uma relação positiva entre produtividade do trabalho e

inovação” (p. 21). Demonstram que empresas que implementaram algum tipo de

inovação apresentaram melhores resultados em termos produtividade do trabalho em

comparação com a média das empresas (R$ 45,50 mil/trabalhador contra R$ 39,03

mil/trabalhador).

Por outro lado, empresas que não inovaram apresentaram resultados inferiores à

média (R$ 34,93 mil/trabalhador contra R$ 39,03 mil/trabalhador), segundo a mesma

pesquisa. Os autores concluem, assim, “que qualquer tipo de inovação (de produto, de

processo ou as diferentes combinações destas modalidades) está associada a maiores

níveis de produtividade do trabalho” (p.21).

Sobre esse assunto, Hill e Utterback (1980) sugerem que as empresas deveriam

olhar sua lucratividade como provável resultado de uma inovação. A afirmação desses

autores se baseia na observação de inovações tecnológicas, as quais trazem enormes

vantagens a uma organização, seja por meio de ganhos comerciais obtidos pelo

lançamento de novos produtos, frutos de inovação, ou por meio de aumento da

performance e redução de custos pelo emprego novas tecnologias. Na mesma linha,

Bezerra e Cacciamali (1997) explicam que as inovações organizacionais e tecnológicas

contribuem para redução do quadro de pessoal empregado e horas pagas na produção,

principalmente pelo uso de tecnologias poupadoras de trabalho.

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De fato, o uso de tecnologia resulta em ganhos de produtividade na medida em

que poupa trabalho, aumenta a velocidade de produção e a eficiência produtiva,

reduzindo os custos operacionais como consequência (Bonelli & Fonseca, 1998;

Cavalcante & Negri, 2014; Nakano, 2012). Segundo Jagoda, Lonseth e Lonseth (2013),

estudo apresentado na Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2012, aponta que

as inovações tecnológicas em TI são responsáveis por grande aumento da produtividade

de diversos países, citando 75% do crescimento da produtividade americana de 1995 a

2002 e 44% de 2000 a 2006; 34% do crescimento da produtividade japonesa de 2005 a

2010 e 38% do crescimento da produtividade chinesa de 2005 a 2010.

Inovação tecnológica, no entanto, exige investimentos, o que está distante da

realidade de muitas empresas brasileiras devido às diversas dificuldades de se investir

no Brasil (Cavalcante & Negri, 2014). Além disso, inovação não está relacionada,

apenas, com a questão tecnológica em produtos, serviços ou processos. Há outro tipo de

inovação que não necessita necessariamente do uso de tecnologia, que são as inovações

em gestão, ou inovações organizacionais. Entre essas, encontram-se as mudanças no

modelo de negócios e em questões organizacionais e gerenciais, dentre as quais podem

ser incluídas as inovações em processos empresariais (processos, processos

organizacionais ou processos gerenciais) (Andreassi & Sbragia, 2002; Gonçalves,

2000b; Govindarajan & Trimble; 2006; Kuhl & Cunha; 2013; Tidd, 2001).

Inovações em processos empresariais são tão importantes para o crescimento e

eficiência das operações de uma empresa quanto às inovações tecnológicas. Elas

representam um meio para introdução e incorporação pela empresa de novos elementos

ao processo, que resultam novas maneiras de criação de valor e aumento de

performance empresarial. Alcança-se esse objetivo por meio da criação de novos

processos mais velozes e mais eficientes. (Damanpour & Evan, 1984; Damanpour,

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1991; Gonçalves, 2000a; Hamel, 2006; Hammer, 2007; Kenn, 1997). Assim, em

contextos em que a necessidade de elevação da produtividade é premente, faz-se

necessário ter ferramentas que auxiliem essa importante tarefa, sendo esse o intuito

principal da abordagem das inovações em processos, que é o enfoque desse trabalho.

A discussão que se segue nesta dissertação é, portanto, sobre o uso das inovações

em processos, com o objetivo específico de ganhar produtividade. Entende-se, como já

exposto, a necessidade de utilização de gestão de processos para essa finalidade. Por

esse motivo, a discussão na seção a seguir (2.3.3) aborda a relação entre gestão de

processos, inovação em processos e ganhos de produtividade.

2.3.3 Relação entre a gestão de processos, inovação em processos e ganhos de

produtividade

Parece bastante claro que inovações em processos afetam produtividade,

aumentando os outputs por meio da implementação de ideias que resultam em novas

configurações, novos métodos e práticas, aplicadas aos processos mais lentos da

empresa, os chamados gargalos, que estrangulam todo o sistema, ou então aos processos

mais críticos e essenciais da organização. (Damanpour & Evan, 1984; Damanpour,

1991; Gonçalves, 2000a; Gonçalves, 2000b; Hamel, 2006; Hammer, 2007; Kenn, 1997;

Lager, Hallbert, & Eriksson, 2010; Silva, Santos, Teixeira, & Tadeu, 2013).

Os gargalos restringem as entregas de todo o sistema porque estrangulam o fluxo

do processo e limitam o desempenho de todo o sistema (Sadat, Carter, & Golden, 2013;

Sirota,1966). Eles podem ser identificados e monitorados por meio da gestão dos

processos. A identificação dos gargalos, ou restrições, é de fundamental importância

para eliminar barreiras e dar rapidez e flexibilidade ao processo (Baines, 1997). Gestão

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de processos mapeia os pontos mais críticos e mais propensos a serem gargalos (Baines,

1997; Gonçalves, 2000a, 2000b; Motta, 1995; Sobreiro & Claudino, 2012; Tadeu,

Salum, & Araujo, 2012).

Uma vez identificados, a gestão de processos emprega investigações em

profundidade sobre as rotinas operacionais do processo em questão, para estudar o

gargalo e, em seguida, buscar soluções que possibilitem a eliminação dessa restrição, e

por consequência aumentem a vazão de entregas de todo o sistema (Baines, 1997). Tais

soluções podem vir em forma de inovações direcionadas para essa finalidade. Para isso,

utiliza-se metodologia estruturada de inovação, que é um conjunto de atividades que se

inicia com geração de ideias e culmina na implementação das ideias selecionadas e

desenvolvidas (Garud, Tuertscher, & Van de Ven, 2013).

Por meio desse método, ideias podem ser concebidas exclusivamente com a

finalidade de eliminação dos gargalos, por meio da eliminação de tempos perdidos ou

inativos, ou então, reduzir falhas e retrabalhos ou mesmo aumentar a velocidade de

execução de atividades. Na sequência, as ideias mais promissoras são então

selecionadas e podem ser desenvolvidas e posteriormente implementadas, podendo

impactar em disponibilidade, performance e qualidade, o que, por sua vez, implica

maior produtividade (Mckee, 2003; Huang et al., 2003; Rogalski, 2012).

Dessa forma, o uso combinado de metodologia de inovação e gestão de processos

pode direcionar ideias para a solução dos problemas exatamente daqueles pontos de

restrição identificados. Assim, as inovações ocorrem exatamente nos processos

necessários. Por esse motivo, diz-se que as inovações são direcionadas, exatamente,

para os locais onde precisam (Caulliraux & Cameira, 2000; McKee, 2003; Kenn, 1997).

Kenn (1997) entende que o que difere as empresas que tiveram e têm sucesso nas

inovações em processos são aquelas que escolheram e focaram os “processos certos”

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para investir seus recursos e sua atenção, e não saíram modificando todo e qualquer

processo. Essas empresas aprenderam “como escolher os processos certos, os quais são,

de uma forma geral, aqueles que produzem valor para os clientes e os que afetam as

capacidades da organização, seja em prazo, em qualidade ou em custos” (Kenn, 1997,

p.4).

Contador (1994) corrobora esse raciocínio, propondo que a empresa concentre

seus esforços nas operações que apresentam maior potencialidade de ganhos: “ora, se a

empresa se concentrasse naquelas operações que apresentam maior potencialidade de

ganhos, os resultados viriam muito mais rapidamente” (Contador, 1994, p. 220).

Percebe-se, face aos argumentos expostos, que, quando o tema é incremento da

produtividade, o que realmente importa é o foco na eliminação dos gargalos,

principalmente nos “processos certos”. Por esse motivo, faz-se necessário o correto

diagnóstico e definição das prioridades, em que focar os esforços que possibilitarão

novas soluções (Caulliraux & Cameira, 2000; Kenn, 1997; McKee, 2003).

Face a todo o exposto, compreende-se claramente a importância das inovações em

processos para ganhos de produtividade, e o papel e importância da gestão de processos

nessa relação.

A tabela 2 sintetiza todo o referencial até aqui exposto

Page 67: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

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Tabela 2

Síntese do referencial teórico

Conceito Síntese Referências

Inovação

Inovação é “o ato de criar, inventar ou renovar, fazer algo existente de maneira nova, diferente da usual”; “significa criatividade posta a serviço do processo de criação de valor para as organizações”

(Fontenelle, 2012,

p.101)

Inovação em

processos

Inovação em processos diz respeito a novas

maneiras de se entregar os produtos ou

serviços, isto é, enfatiza o “como” algo é

produzido e entregue.

(Piening & Salge,

2015; OECD, 1997;

Tidd, 2001; Un &

Asakawa, 2015)

Apesar de sua natureza incremental,

inovações em processos permitem ganhos

por meio do aumento de qualidade, de

velocidade, redução de custos e aumento de

produtividade.

(Piening & Salge,

2015; Un &

Asakawa, 2015)

Para produzir resultados constantes no longo

prazo, é necessário metodologia estruturada

de inovação

(Duin, Ortt, & Aarts,

2014; Pisano, 2015)

Metodologia estruturada de inovação é

composta geralmente das seguintes fases:

1)geração de ideias; 2) Seleção e

desenvolvimento das ideias; 3)

implementação.

(Duin, Ortt, & Aarts,

2014; Guerre, et al.,

2013; Lin, 2012)

Geração de ideias

A geração de ideias é um processo de

criação, gerado por um vislumbre

momentâneo intuitivo (insight), fruto de

criatividade. Para inovar, é crucial que a

organização adote mecanismos de estímulo

à criatividade e sistemas estruturados de

geração de captação de novas ideias.

(Lin 2012; Pahl &

Beitz, 1996; Salter

et al. 2015; Wallas,

1926;).

Análise e

desenvolvimento

de ideias

As ideias geradas e devem ser

criteriosamente selecionadas e

desenvolvidas para em seguida, serem

implementadas.

(Duin, et al., 2014);

Garud, Tuertscher,

& Van de Ven,

2013; Jeang &

Liang, 2012; Lager,

Hallberg &

Eriksson, 2010);

Salter et al., 2015)

Page 68: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

66

Implementação

de ideias

A fase final do processo de inovação ocorre

com a implementação, a qual se entende

como a novidade colocada em uso.

Recomenda-se que a implementação ocorra

por meio de projetos, para garantir a

execução conforme o plano, que uma vez

implementados, possivelmente tornarão

mais eficientes os processos beneficiados

(Baer, 2012; Lin,

2012; Compagni,

Mele, & Ravasi,

2015; Lager,

Hallberg &

Eriksson, 2010;

Sheu & Lee, 2011)

Processos

Processos são atividades ou conjunto de

atividades que recebem entradas (inputs) de

um processo anterior, que pode ser interno

ou externo à organização, processam e

adicionam valor a essas entradas, e como

resultado realizam entregas (outputs).

Entregas podem ser de produtos, serviços ou

informações

(Albuquerque, 2012;

Gonçalves, 2000a;

Harrington, 1991)

Identificar os processos que mais impactam

em seu negócio, são os chamados

“processos certos”, isto é, os processos

essenciais que produzem maiores impactos

nos resultados da organização, ou então

aqueles que mais precisam de mudanças,

como os que são gargalo. Essa atividade é

premissa da Gestão de processos

(Caulliraux & Cameira, 2000; Hammer, 2007; Kenn, 1997).

Gestão de

processos

Gestão de processos identifica os “processos

certos”. Inovações constantes nesses

processos levam a consistentes aumentos de

produtividade.

(Albuquerque, 2012;

Hammer, 2007;

Kenn, 1997; Penide

et al., 2013; Piening

& Salge, 2015;

Stadler, 2011; Un &

Asakawa; 2015).

Produtividade

Dentro do âmbito empresarial, convenciona-

se calcular a produtividade como a razão

entre o resultado da produção e o trabalho

(King, Lima & Da

Costa, 2013).

Maior produtividade significa produzir

maiores quantidades de produto ou serviço

com menores quantidades de trabalho

humano, o que implica economia de tempo e

de recursos

(Piero, 2013; King,

Lima & Da Costa,

2013).

Os fatores que influenciam a produtividade

resumem-se a três categorias: 1)

Disponibilidade, que está relacionado à

utilização eficaz do tempo; 2) Performance,

que diz respeito a velocidade de execução de

um trabalho; 3) Qualidade, que se refere à

condição com que um trabalho é entregue

(Huang et al.,2013)

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67

Relação entre Inovação em processos, Gestão de Processos, Produtividade

A implementação de ideias nos “processos

certos”, os quais são identificados por meio

de gestão de processos, resultam em novas

configurações, novos métodos e práticas,

que podem eliminar gargalos e aumentar

velocidade, disponibilidade e qualidade,

resultando, assim, em maior produtividade.

(Damanpour &

Evan, 1984;

Damanpour, 1991;

Gonçalves, 2000a;

Gonçalves, 2000b;

Hamel, 2006;

Hammer, 2007;

Huang et al, 2003;

Kenn, 1997; Lager,

Hallbert, &

Eriksson, 2010)

2.3.1 Busca da produtividade em atividades de P&D

Conforme sugestão de Baines (1997), Contador (1994) e McKee (2003), a eficaz

gestão da produtividade passa por cuidadosa, detalhada e profunda avaliação dos

processos, na qual é imprescindível identificar as restrições do sistema (gargalos) e de

que, uma vez identificados os gargalos, novas ideias podem ser estimuladas e

canalizadas exatamente para esses processos (Caulliraux & Cameira, 2000; McKee,

2003; Kenn, 1997), por meio do uso de metodologia estruturada de inovação, a presente

dissertação buscou aplicar esse raciocínio para o processo de “desenvolvimento de

novos produtos”, que constitui o lócus de pesquisa deste trabalho.

As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) representam

consideravelmente potencial de contribuição para maior ou menor produtividade da

organização. Não somente pelo fato de que, como um processo empresarial, há

consumo de recursos, mas principalmente pelo impacto que as atividades desse

processo causam na organização (Brettel, Heinemann, Engelen, & Neubauer, 2011;

Chang, Hu, & Hong, 2013; Ding & Eliashberg, 2002).

Há um grande número de incertezas nessas atividades, as quais podem acarretar

complexidade tanto para a manufatura como nas oportunidades de mercado e,

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68

consequentemente, podem ter severos impactos nos resultados da empresa (Chang, Hu,

& Hong, 2013). Novos produtos desenvolvidos podem requerer novos processos, novas

capacidades e novas habilidades da manufatura, as quais podem não estar disponíveis

no momento em que se necessita deles. As consequências podem variar, como a perda

da oportunidade de lançamento de um produto promissor em vendas; custos mais altos

decorrentes de perdas ocasionadas pela carência de habilidades ou capacidades; menor

velocidade produtiva; tempos inativos em excesso em decorrência de tentativas de

ajustar o produto na linha de produção, entre outros (Brettel, Heinemann, Engelen, &

Neubauer, 2011; Chang, Hu, & Hong, 2013; Ding & Eliashberg, 2002).

Há, ainda, complicações que o desenvolvimento de um novo produto pode impor

para outras áreas operacionais da empresa. São novas necessidades ocasionadas pelas

mudanças no portfólio de produtos, que podem requerer novas adequações na estrutura

de suprimentos e operações logística, além de problemas decorrentes de intervenções

nos planos de produção. Um ou mais itens do novo portfólio podem requerem insumos

novos, de outras fontes de fornecimento; necessitar de métodos ou estruturas diferentes

de movimentação, armazenagem e transporte (Lager, Blanco, & Frishammar, 2013).

O outro lado também é verdadeiro. As atividades de P&D podem contribuir para

elevar a produtividade. Jagoda, Lonseth e Lonseth (2013) apresentam estudos recentes

que demonstram atividades de P&D estão correlacionadas com a produtividade. Da

mesma forma, há diversos outros estudos abordando essa característica e evidenciando a

teoria de que atividades inovadoras, tanto de produtos como de processos, as quais são

comumente conduzidas por processos de P&D, conforme apontam Bueno e Balestrin

(2012), contribuem para maior produtividade das organizações. De Negri, Cavalcante e

Jacinto (2014, p. 21) afirmam que “qualquer tipo de inovação (de produto, de processo

ou as diferentes combinações destas modalidades) está associada a maiores níveis de

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produtividade do trabalho”, de tal forma que, segundo esses mesmos autores, a

diferença encontrada é 30% superior nas firmas inovadoras em relação às não

inovadoras.

Em uma pesquisa com mais de 1.800 indústrias de nove diferentes segmentos do

mercado espanhol, Doraszelski e Jaumandreu (2013) analisaram a relação entre

investimentos em P&D e produtividade da firma e evidenciaram que o investimento em

P&D constituiu fator determinante na diferença de produtividade entre aquelas

empresas e também contribuiu para sua elevação ao longo do tempo. A explicação para

isso reside na observação de que a produtividade seria uma consequência nível de

conhecimento técnico de uma organização, conhecimento esse ampliado pelas práticas

de P&D. A incorporação de inovações na organização se traduz em aumento de

velocidade nas operações, reduções de tempos perdidos e dos espaços necessários

(Fontenelle, 2012). Logo, quanto mais pesquisa e desenvolvimento, passado e futuro,

maiores os níveis de produtividade (Doraszelski & Jaumandreu, 2013).

Além de aspectos como produtividade, há outros reflexos das atividades de P&D,

como renovação do portfólio de produtos, o qual contribui com aumento do faturamento

da empresa. Andreassi e Sbragia (2002), por exemplo, encontraram evidências de que as

atividades intensivas de P&D têm forte correlação “com o percentual de faturamento da

empresa gerado por produtos novos ou melhorados” (p. 82). Gallon, Reina, & Ensslin

(2010) pesquisaram o impacto da inovação no âmbito econômico-financeiro de

pequenas e médias empresas inovadoras na região sul do Brasil, e evidenciaram

significativa evolução no faturamento médio e rentabilidade dessas empresas após

implantação de projetos inovadores. Destacam, também, que tais empresas se

beneficiaram de aumento de comercialização de seus produtos, principalmente no

mercado externo.

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70

Contextualizada a importância e contribuição do P&D para com a os resultados de

uma empresa e o impacto de suas atividades na produtividade empresarial, pode-se

considerar de fundamental seriedade que esse processo seja gerido para que ele próprio

seja mais eficiente (Laliene & Sakalas, 2014). O uso de ferramentas para melhorias do

processo de P&D é essencial para a eficiência do processo, segundo Schilling e Hill

(1998). Um processo mais eficiente contribui para levar a organização a obter melhorias

substanciais de desempenho, que se obtém por minimizar os recursos necessários

(inputs) e aumentar a produção e/ou entregas (outputs) por meio de aumento da

velocidade e da qualidade, além de poder agregar mais valor aos produtos e serviços, o

que, por sua vez, poderia contribuir para elevar a rentabilidade (Hammer, 2007; Motta,

1995). Dessa forma, P&D pode ser estudado e gerido de modo a proporcionar ganhos

de produtividade para a empresa, por meio de ganhos obtidos por meio dos três fatores

propostos por Huang et al. (2003): disponibilidade, performance e qualidade.

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3. METODOLOGIA

3.1 Método de pesquisa

A pesquisa desta dissertação apresenta uma abordagem qualitativa, utilizando-se o

método de estudo de caso. O objetivo consistiu em identificar as relações dos

constructos escolhidos, procurando, assim, oferecer uma explicação acerca do fenômeno

investigado.

O embasamento para essa escolha decorre da literatura, que indica que a pesquisa

social qualitativa tem como objetivo a obtenção de dados descritivos, que podem ser

obtidos por meio de contato direto do pesquisador com o objeto de estudo e não por

meio de medições ou quantificações numéricas (Godoy, 1995).

Para Godoy (1995), a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte

direta de dados e o pesquisador como seu instrumento fundamental, o qual utiliza o

enfoque indutivo na análise de seus dados.

Cooper & Schindler (2003) classificam as pesquisas em dois tipos: estudo

exploratório e estudo formal. O estudo exploratório tem por objetivo o levantamento de

hipóteses de pesquisas que possam ser realizadas e testadas no futuro. O estudo formal

apresenta a característica de iniciar do ponto onde para o estudo exploratório. O estudo

formal é então categorizado em dois tipos: explicativo e descritivo. O estudo explicativo

é recomendado para responder “como” uma variável influencia outra, sendo classificado

em três subcategorias, a saber: 1) experimento; 2) estudo de caso; 3) pesquisa histórica.

Já o estudo descritivo é adequado para investigar “quem”, “o que”, “onde” e “quanto”,

sendo subdividido em duas subcategorias: investigativo ou análise de arquivo.

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Para Yin (2001), são relevantes cinco métodos de pesquisa: experimento;

levantamento; análise de arquivos; pesquisa histórica e por fim, estudo de caso.

Pesquisas focadas em questionamentos como “o que” normalmente são direcionadas

para o método exploratório, enquanto questões como “quem”, “onde”, “quanto” e

“quantos”, nos métodos de levantamento ou análise de dados, ao passo que pesquisas

focadas em “como” e “porque”, são mais explanatórias. Para esse tipo de pesquisa, o

estudo de caso, a pesquisa histórica e o experimento são os métodos são mais

recomendáveis (Yin, 2001).

Dentre estes, quando o objetivo é analisar intensiva e profundamente uma ou

poucas unidades sociais em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o

contexto não estão claramente constituídas, e o pesquisador não possui controle sobre os

efeitos, o método de estudo de caso é o tipo de pesquisa mais apropriado, segundo Yin

(2001).

Esse tipo de estudo permite conhecer um tema complexo ou mesmo reforçar

temas já explorados em pesquisas anteriores e explorar em profundidade o impacto das

variáveis estudadas com base na aproximação do pesquisador com o fenômeno estudado

(Godoy, 1995; Yin, 2001).

Envolve a obtenção de dados para compreender os fenômenos segundo as

perspectivas dos sujeitos e o objeto dos estudos em seu contexto, sem intervenção do

pesquisador com o ambiente (Godoy, 1995). É bastante indicado e recomendado para

pesquisas em campos científicos como administração e marketing, e é recomendado

quando se trabalha com questões “como” ou “porque”, nas quais o investigador tem

pouco ou nenhum controle sobre os eventos, e o foco da pesquisa está centrado em

contexto contemporâneo da vida real (Yin, 2001).

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Por meio desse método, é possível o entendimento de um fenômeno com base em

vários métodos e múltiplas fontes de evidências como arquivos, entrevistas,

questionários e observações (Eisenhardt, 1989).

Com base nesses autores, é possível afirmar que uma das características

fundamentais da pesquisa qualitativa, utilizando-se o método do estudo de casos, é a

possibilidade de melhor compreender um fenômeno no contexto em que ocorre e do

qual faz parte. Isso possibilita ao pesquisador uma análise sob uma perspectiva mais

integrada, na qual o pesquisador vai a campo com o objetivo de tentar “captar” o

fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvida e coletando

dados através de contato direto do pesquisador com o objeto de estudo. Vários tipos de

dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno

(Eisenhardt, 1989; Godoy, 1995; Yin, 2001).

Os estudos de casos podem ser únicos ou múltiplos e também as unidades de

análises podem ser únicas ou múltiplas (Yin, 2001). Para esse projeto, entende-se que se

encaixa no método de estudo de caso único, por se enquadrar nas seguintes justificativas

para ser considerado apropriado dentro dessa classificação, segundo Yin (2001):

Representar um caso crítico no teste de uma teoria bem formulada. Segundo Yin (2001,

p. 71), “o caso único pode confirmar, desafiar ou ampliar a teoria”, podendo, assim, “ser

usado para determinar se as proposições da teoria estão corretas ou pode haver

explanações mais eficientes”; tratar-se de um caso representativo ou típico. “O objetivo

é captar as circunstâncias de uma situação diária. Por exemplo, uma empresa de

manufatura considerada típica de muitas outras empresas de manufatura na mesma

indústria” (Yin, 2001, p. 72).

Entende-se que é o caso da organização em estudo, por ser uma empresa

industrial, que se caracteriza tipicamente por ser uma complexa rede de atividades

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interdependentes e, dessa forma, executa suas operações através de processos, com

inputs, processamento e outputs (Harrington, 1991; Huang et al., 2003; Stadler, 2011).

Além disso, as indústrias brasileiras se caracterizam por apresentar tipicamente baixos

índices de produtividade, conforme apontado anteriormente nesta dissertação. Mais

especificamente, a empresa escolhida é uma indústria de transformação, cujos índices

de produtividade se apresentam em quedas mais acentuadas dentre as empresas

industriais, conforme apurado por Cavalcante e De Negri (2014).

Além disso, a unidade de análise é única, devido à pesquisa se concentrar somente

em um departamento dentro de uma única unidade de pesquisa, conforme proposto por

Yin (2001).

Baseado nos argumentos expostos anteriormente, sugere-se, nesta dissertação, que

o método de estudo de caso único é o método mais apropriado para este trabalho.

A investigação buscou avaliar as conexões da gestão de processos com inovações

em processos e estas com produtividade, bem como verificar a sua aplicação na

indústria de transformação.

Em relação às atividades desenvolvidas pelo objeto de pesquisa, estudou-se o

processo de desenvolvimento de novos produtos, do departamento de P&D, que se

caracteriza por ser um processo complexo, cujas atividades provocam grandes impactos

na empresa estudada em relação à produtividade. A unidade em estudo é uma empresa

de grande porte nacional que necessita de metodologias para contribuir com sua

eficiência.

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75

3.2 Unidade empírica de análise

Selecionou-se para esta pesquisa uma empresa na qual tanto inovação como

produtividade são fundamentais para sua sobrevivência a longo prazo e, focou-se em

um processo que fosse essencial para a organização, ou seja, extremamente importante.

Selecionou-se, então, uma empresa típica da indústria de transformação brasileira,

setor esse caracterizado por possuir baixos níveis de produtividade e atravessar um

momento de grave crise.

Especificamente o estudo desenvolveu-se no departamento de P&D com foco no

processo de “desenvolvimento de novos produtos”, que conforme mencionado se

caracteriza por ser um processo complexo na unidade empírica de estudo. Nesta

empresa é gerido pela área industrial, conforme pode ser visto na Figura 7.

Figura 7. Estrutura hierárquica Fonte: Documentos internos da empresa estudada.

A empresa, que neste estudo optou pela confidencialidade de identificação,

pertence ao setor da indústria de transformação, atuando nos mercados de plásticos,

têxteis e também químicos. Trata-se de uma organização privada nacional do setor

industrial, de controle familiar, com 7 plantas industriais e centros de distribuição na

Presidente

Diretoria Financeira

Diretoria Industrial

Diretoria Comercial

P&D

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América do Sul, América do Norte e Europa. Localizada no estado de São Paulo, foi

fundada nos anos 60, com operações modestas, porém, com crescimento acelerado.

Hoje conta com aproximadamente 1.500 empregados, opera em três turnos, com

capacidade produtiva para ser a maior empresa do seu setor na América Latina. Atua em

diversos segmentos de mercado, tais como, mercado automotivo, mineração, construção

civil, moveleiro, embalagens, escolar, puericultura, utilidades domésticas, vestuário,

calçados e acessórios, entre diversos outros.

Líder de vendas em vários de seus mercados de atuação no Brasil e em alguns

países da América Latina é hoje referência em seus principais segmentos,

principalmente como fornecedor de matéria prima para produtos de moda. Atualmente

vivencia um momento de estagnação nas vendas, ocasionada por fortes pressões

mercadológicas, sobretudo do mercado asiático.

Mesmo assim, investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento de

produtos e novas tecnologias de forma a não somente se manter líder em seus principais

mercados, mas também para garantir sua longevidade.

Apresenta um grande potencial para o desenvolvimento de inovações, haja vista a

natural atitude inovadora presente em sua cultura, derivada principalmente da natureza

de seu principal mercado, moda.

No entanto, as mudanças do contexto mercadológico e os desafios futuros

requerem um enfoque maior na elevação da eficiência empresarial, para que seja

alavancada para um patamar superior e todo o potencial inovador também seja utilizado

para outros tipos de inovações que não somente a de produtos, mas também em

processos e, assim, possa sustentar um futuro de resultados mais elevados.

Para a empresa estudada, a pesquisa representa uma oportunidade para aprimorar

um de seus processos mais críticos, o desenvolvimento de novos produtos, pertencente

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ao departamento de P&D. Alguns de seus diretores se mostraram com grandes

expectativas e disposição para estudar e aplicar as propostas deste trabalho em sua

organização. Para isso, a empresa disponibilizou livre acesso às evidências como dados

gerenciais, artefatos físicos, registros de arquivos, além de observação direta e

participação em reuniões e comitês. O período de pesquisa foi de outubro de 2014 a

abril de 2015, no qual diversas evidências foram obtidas, principalmente advindas das

entrevistas e observações do pesquisador. Diversos documentos, entretanto, possuíam

históricos somente dos últimos anos. O motivo alegado pela empresa foi de que a maior

quantidade de dados estava registrada em planilhas e softwares antigos e, devido a

mudanças de software, e mudanças de gestores, muitos dados se perderam. Também a

pedido da empresa, números do demonstrativo de resultados do exercício (DRE) e

balanço não serão publicados nesta pesquisa.

Os motivos da escolha da realização desta empresa para a pesquisa remetem à

combinação dos objetivos desta pesquisa com a proximidade e familiaridade do

pesquisador com a empresa estudada. O pesquisador tem acesso frequente à diversas

fontes de evidências para análises e também acesso a particularidades dos negócios da

empresa. Assim, supôs-se que a mesma oferecia terreno fértil para o entendimento em

profundidade da relação entre inovação em processos e produtividade. Desta forma,

considerou-se oportuna a escolha da empresa em questão como unidade empírica de

pesquisa.

3.3 Instrumentos de coleta de dados

O método de estudo de casos oferece liberdade ao pesquisador para utilizar

qualquer técnica de investigação em qualquer ordem para a compreensão do fenômeno a

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78

que se propõe a investigar (Greenwood, 1973). Segundo Eisenhardt (1989), permite a

possibilidade de combinação de diversos métodos de análise, como entrevistas,

questionários, arquivos, e observação do pesquisador. Nesse sentido, Yin (2001) destaca

seis fontes de evidências relevantes em um estudo de caso: 1- documentação fornecida

pela empresa; 2- registros em arquivos; 3- entrevistas; 4- observações diretas; 5-

observações participantes; 6- artefatos físicos.

Devido ao fato de cada uma dessas fontes apresentar e vantagens e desvantagens,

elas devem ser utilizadas de forma a se complementar. Por esse motivo, quanto maior o

número de fontes utilizadas, melhor será o resultado da pesquisa (Yin, 2001).

Entretanto, algumas fontes se destacam por permitir investigações em maior

profundidade pelo pesquisador. As entrevistas, por exemplo, são consideradas como

uma das mais importantes fontes. São vários os motivos, como: possibilitar acesso a

informações passadas, uma vez que o pesquisador pode perguntar ao entrevistado sobre

fatos ocorridos; servir como base para identificação de outras fontes de evidências, que

emergem das respostas e relatos dos respondentes; coletar as considerações do

entrevistado sobre os fatos e assuntos discutidos; por fim, possibilita interpretação pelo

pesquisador, sobre os fatos e assuntos abordados, permitindo, assim, que este chegue a

conclusões importantes. Em síntese, as entrevistas permitem estabelecer um

direcionamento preciso na coleta de informações importantes. Por esse motivo, quanto

mais o entrevistado for utilizado como um informante, maior é o sucesso obtido no

estudo de caso. (Yin, 2001).

Nesse trabalho, a coleta de dados fundamentou-se principalmente em entrevistas

semiestruturadas, com base em um roteiro previamente formulado (Apêndice A). Esse

roteiro é sustentado pela base teórica previamente desenvolvida na pesquisa, sendo as

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79

perguntas fruto da reunião das informações obtidas sobre o objeto da pesquisa.

Adicionalmente foi feita pesquisa através de análise documental e observação direta.

Para as entrevistas semiestruturadas, buscou-se examinar os seguintes pontos:

identificar os principais gargalos da empresa, e dentre estes, o principal; identificar as

principais possíveis causas dos gargalos; confirmar a estrutura organizacional, isto é,

configuração funcional ou processos; identificar a existência de algum tipo de

metodologia de gestão de processos; identificar possibilidade de aplicação de gestão de

processos no gargalo principal; comparar as evidências com a literatura; identificar

possibilidade de inovações em processos.

As entrevistas, em profundidade, todas conduzidas pelo pesquisador, foram

conduzidas com pessoas chave da organização. Os respondentes selecionados foram

escolhidos pela posição que ocupam, frequentemente estratégicas e táticas, tempo e

experiência na empresa e conhecimento sobre o mercado. A Tabela 1 mostra a relação

dos respondentes. As respostas foram gravadas e transcritas integralmente para facilitar

a análise e discussão dos resultados.

Tabela 1

Relação de respondentes

Ordem da entrevista e

número do respondente

Departamento à que pertence o respondente

1 Comercial

2 Controladoria e custos

3 Recursos Humanos

4 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

5 Comercial

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6 Comercial

7 Industrial

8 Processos de Produção

9 Processos de Produção

10 Produção

11 Produção

12 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

13 Consultor externo de desenvolvimento de produtos

14 Consultor externo em gestão

Fonte: Elaborada pelo autor

A pesquisa foi exclusivamente qualitativa e focada no departamento de P&D. O

pesquisador considera que a profundidade almejada na pesquisa foi atingida. Considera,

também, que o tema é amplo, o que naturalmente não esgota a possibilidade de que

pesquisas futuras sejam realizadas para confirmar ou complementar as lacunas que

possam ter permanecido abertas.

Ainda sobre as entrevistas, considera-se que estas foram fundamentais para os

resultados. Foram realizadas 14 entrevistas, nas quais os respondentes mostraram-se

abertos e dispostos a esclarecimento e aprofundamento nos temas, de tal modo, que, em

diversos casos, ultrapassaram o tempo previsto de 60 minutos, algumas, inclusive,

ultrapassando 120 minutos.

Sobre o referido instrumento de coleta de dados, a constatação do pesquisador é

que a utilização dessa ferramenta realmente é uma das mais importantes fontes de

evidência, como destaca Yin (2001). Sobre esse tema, Abramo (1979) considera que as

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entrevistas semiestruturadas são ferramentas que apresentam muitas vantagens em

relação à aplicação simples do questionário, pelo fato de possibilitar ao entrevistador

interagir com o respondente e, assim, coletar ainda mais informações e evidências do no

decorrer das entrevistas, o que não é possível por meio da utilização de questionários.

Por fim, conforme apresentado, as entrevistas revelam muitas vantagens como

fonte de dados para o estudo de caso. Há, no entanto, desvantagens e limitações.

Conforme aponta Yin (2001), perguntas mal formuladas podem não conduzir a um

direcionamento preciso na coleta de dados importantes e não abranger todo o potencial

de evidências disponíveis pelo entrevistado. Além disso, perguntas muito direcionadas

podem induzir o respondente a dar respostas mais diretas e a responder aquilo que

imagina que o pesquisador queira ouvir. Outra desvantagem, apontada por Abramo

(1979), consiste na dificuldade de padronização dos resultados. Por esse motivo,

utilizam-se outras fontes de coletas de dados consideradas altamente relevantes, como

as que foram utilizadas nessa dissertação: documentação e observação (Abramo, 1979;

Yin, 2001).

Em relação à documentação, para Yin (2001), a documentação pode assumir

diversas formas e é considerada, além das entrevistas, uma das fontes mais relevantes de

evidências em um estudo de caso. Quando utilizadas em conjunto com outras fontes de

evidências, como as entrevistas e observações, ganham ainda mais relevância.

Assim como outros instrumentos de coleta de dados, a documentação apresenta

vantagens e desvantagens. Como vantagens, menciona-se: a amplitude de dados, isto é,

pode compreender um grande período de tempo e grande amplitude de dados; por fim,

pode ser revisada a qualquer momento se o documento estiver disponível. Como

desvantagens, lista-se: dificuldade de acesso à documentos que podem ser considerados

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relevantes para a pesquisa; escolha tendenciosa em relação aos documentos

pesquisados; dificuldade de recuperação de documentos.

A intenção de uso desse instrumento foi de coletar documentos que oferecessem

indicações e evidências a respeito dos objetivos de pesquisa. Foram pesquisados

demonstrativos de resultado do exercício (DRE), procedimentos, instruções de trabalho,

manuais, relatórios gerenciais, planos de metas, plano estratégico e plano departamental,

resultado de pesquisas sobre a satisfação dos clientes, ordens de produção, documentos

de registros de produção e documentação de projetos de desenvolvimento de novos

produtos.

A grande maioria dos documentos levantados foram direcionados pelos

respondentes da pesquisa. Os documentos forneceram evidências que corroboraram

muitas evidências coletadas nas entrevistas. Foi possível levantar informações que

demonstram, claramente, a relação entre os objetivos de pesquisas por meio dos

documentos analisados. Essas evidências serão explicitadas posteriormente no capítulo

do estudo de caso.

O pesquisador tirou fotos e, quando possível, escaneou os documentos mais

relevantes para em momento oportuno, realizou o cruzamento dessas evidencias com as

demais levantadas. A grande maioria dos documentos não teve autorização para serem

divulgados.

Conforme mencionado, outra fonte de evidências foram as observações do

pesquisador. Sobre observações, Yin (2001) considera que essa é outra fonte de

evidências altamente relevante, principalmente quando combinado com entrevistas e

documentação. Possibilitam a observação direta do fenômeno investigado, permitindo

ao pesquisador compreender o fenômeno por outra perspectiva, analisando o

comportamento do fenômeno e o contexto em que se insere (Yin, 2001). Também

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apresenta vantagens e desvantagens. Como vantagens, permite analisar as evidências em

tempo real, diretamente, além de possibilitam a coleta de informações adicionais. As

desvantagens são relativas ao tempo necessário para se executar esse tipo de análise;

custo mais alto em decorrência de deslocamentos e quantidade de horas do pesquisador

utilizadas.

As observações permitiram ao pesquisador visualizar o processos em execução,

acompanhar sua rotina e identificar diversas evidências e aspectos não explicitados nas

entrevistas e documentos. Durante a atividade de observação, o pesquisador pode

coletar informações das particularidades da operação e das atividades dos

departamentos em que esteve presente por meio de: perguntas diretas aos trabalhadores;

participação em reuniões de trabalho; participação em conversas informais sobre o

processo, problemas e dificuldades encontradas.

O pesquisador tomou notas de campo sobre suas observações, para serem

utilizadas na etapa posterior, de análise de dados. Possibilitou, também, a comparação

das evidências levantadas com o referencial teórico que norteou a pesquisa proposta

nesta dissertação.

Importante destacar que, durante o período de pesquisa, ocorreu um processo de

auditoria no sistema de gestão da qualidade, no qual o auditor buscou levantar

evidências de atendimento aos requisitos da norma ISO 9001. Esse acontecimento foi

extremamente oportuno porque possibilitou o acompanhamento das pessoas que atuam

no processo em suas atividades de revisão de procedimentos, reuniões de alinhamento

sobre os objetivos, metas e dificuldades do departamento, bem como das evidências de

não conformidade com os requisitos da norma em questão.

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3.4 Tratamento e análise dos dados

Em pesquisa qualitativa, a análise de dados se caracteriza por ser uma atividade de

interpretação das evidencias coletadas na unidade de pesquisa. Há muitos dados e

informações para serem trabalhados, os quais o pesquisador tem que integrar e

sintetizar. Essa fase exige do pesquisador muita reflexão, para que, ao final, produza

explanações consistentes com os objetivos propostos (Allun, Bauer & Gaskell, 2002;

Greenwood, 1973; Stake, 1996).

Para analisar os dados, seguiu-se a recomendação de Yin (2001), que sugere que a

melhor estratégia em análise de dados para o método de estudos de casos, é seguir as

proposições teóricas que levaram ao Estudo de Caso.

Pareceu-nos lógico seguir essa estratégia, na qual todo o trabalho foi baseado nas

proposições teóricas, uma vez que a revisão feita na literatura norteou os objetivos, o

projeto dessa pesquisa e também as novas interpretações que se seguiram, conforme

orientado por Yin (2001). Dessa forma, procurou-se nesse estudo, manter uma relação

entre a teoria, que dá embasamento a esse estudo de caso e as evidências levantadas pela

pesquisa de campo.

Foram analisados dados e informações capturadas pelas três fontes de coleta de

dados utilizadas na estratégia de coleta de dados, isto é, entrevistas, documentação e

observação. Esse tipo de estratégia está convergente com a orientação de Yin (2001)

que determina que a coleta de dados deva utilizar diferentes fontes de evidências, isto é,

a triangulação dos dados, a fim de se produzir dados consistentes que sustentem a

explanação sobre o fenômeno.

Para as análises, foi montado um banco de dados para documentar e registrar

dados e evidências coletadas durante o período de pesquisa. Esse banco de dados

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permitiu ao pesquisador fazer consultas sempre que necessário e manter com isso um

diálogo entre o referencial teórico e as evidências empíricas. Possibilitou, ainda, ao final

da pesquisa, revisar dados, anotações e informações.

As três fontes de dados e seu registro em banco de dados permitiram ao

pesquisador a articulação das evidências e seu encadeamento, e encontrar provas

relacionadas aos fatos e interpretações referentes às propostas de pesquisa. Por meio

desse mecanismo, o pesquisador pode analisar em profundidade a relação entre

inovações em processos e produtividade e identificar na unidade de estudo, como as

inovações em processos poderiam resultar em ganhos de produtividade e, também,

investigar qual o papel e importância a gestão de processos tem nessa relação. Com base

nesse estudo, pode o pesquisador fazer suas reflexões e considerações, considerando

sempre a proposição teórica para realizar comparações e como base para novas

interpretações. Essas práticas supracitadas estão de acordo com o recomendado por Yin

(2001), no sentido de que são práticas que aumentam a confiabilidade do trabalho.

Entende-se pelo exposto que a estratégia adotada é apropriada para gerar as

explanações que respondem ao problema de pesquisa, que foi o de analisar como as

inovações em processos podem ser utilizadas como instrumento de ganhos de

produtividade e qual o papel da gestão de processos nessa relação, tendo como foco de

pesquisa o departamento de P&D em uma empresa industrial.

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4. ESTUDO DE CASO ÚNICO

4.1 Histórico e contexto

Essa pesquisa ocorre por meio de um estudo de caso único em uma empresa

industrial, familiar, que desde os anos 60 produz materiais plásticos, químicos e têxteis

para diversas aplicações. É uma empresa mantida por duas famílias controladoras que se

encarregam da gestão executiva da companhia, a qual evoluiu dando ênfase à eficiência

na manufatura e, assim, o faz até os dias atuais. Nota-se, entretanto, movimentação na

organização em prol de metodologias de elevação da eficiência organizacional como um

todo e não somente na área industrial. Adota para isso, estrutura organizacional

tradicional, baseada em hierárquica e organizada por funções, contando com

aproximadamente 1.500 (mil e quinhentos) funcionários entre plantas industriais e

centros de distribuição.

Atende, atualmente, mercados diversificados como: automotivo, construção civil,

mineração, transportes, hospitalar, esportivo, escolar, lazer e utilidades domésticas,

moveleiro, e principalmente o mercado que trabalha com moda – bolsas, vestuário,

calçados e acessórios, com portfólio de mais de 7.000 (sete mil) itens no catálogo para

atender seus mais de 4.000 (quatro mil) clientes ativos.

É líder de mercado em vários dos segmentos que atende, principalmente, os que

envolvem moda, que se caracteriza por ser extremamente exigente em agilidade e

precisão no lançamento de novos produtos. Esse mercado representa em torno de 50%

do faturamento do grupo e demanda enorme quantidade de lançamento de novos

produtos a cada ano. São aproximadamente 16.200 (dezesseis mil e duzentas)

solicitações de desenvolvimento de novos produtos (SDNP) por ano em média. O ano

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de 2014 se encerrou com 14.185 (catorze mil, cento e oitenta e cinco) solicitações de

desenvolvimento de novos produtos. Para cada SDNP, é desenvolvido um protótipo em

laboratório, que posteriormente é submetido ao cliente para avaliação. A Tabela 3

mostra sobre o volume de solicitações anuais.

Tabela 3

Volume de SDNP de 2011 a 2015

Fonte: Documentos concedidos pela empresa

Nota: Na média não consta o ano de 2015.

Por esses dados, observa-se que a demanda por novos produtos é bastante alta,

média superior a 16.000 solicitações a cada ano. Dessa forma, o departamento de P&D

tornou-se para a companhia função vital para a sobrevivência.

Tamanha demanda fez com que a empresa investisse considerável soma de

recursos ao longo das últimas décadas em equipamentos e atividades de P&D. Dentro

desse departamento, continuamente são realizados pesquisas e desenvolvimento de

novas matérias primas, de novos produtos, novas técnicas produtivas, novos

equipamentos e novos processos de produção. Novas matérias-primas, novas técnicas e

processos e novas combinações são trabalhados para criação de produtos para novas

coleções e também para redução de custos de produtos já existentes.

Por esse motivo, conta com um centro de Tecnologia, Pesquisa e

Desenvolvimento, que concentra o processo de criação e desenvolvimento de novos

produtos (DNP). A estrutura para manter esse sistema é relativamente grande,

2011 2012 2013 2014 2015 Média

Linha com tecnologia tipo A 816 954 712 334 102 704

Linha com tecnologia tipo B 16.175 14.385 15.380 12.940 5.300 14.720

Linha com tecnologia tipo C 629 805 644 580 267 665

Linha com tecnologia tipo D 0 0 459 331 88 198

Total de Solicitações 17.620 16.144 17.195 14.185 5.757 16.286

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agregando uma considerável parcela de funcionários do grupo. A Tabela 4 mostra a

evolução do número de funcionários trabalhando no departamento de Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D).

Tabela 4

Evolução do número de funcionários ocupados no departamento de P&D

Equipe 2011 2012 2013 2014

1 48 55 55 59

2 15 21 27 28

3 23 23 22 8

4 0 6 8 9

Total 86 105 112 104

Fonte: documentos fornecidos pela empresa

A infraestrutura necessária é também relevante. São diversos equipamentos que

simulam a produção e criam protótipos, além de vários outros equipamentos e

instrumentos destinados a ensaios de laboratório e experimentos. É a maior estrutura de

P&D dentre todos os concorrentes nacionais.

A empresa também possui o maior parque fabril entre os concorrentes nacionais,

diversificado de modo que pode produzir um mesmo produto para uma mesma

aplicação de maneiras diferentes, em linhas diferentes. Conta com diversas linhas de

acabamentos de produtos. Esse complexo de máquinas e equipamentos possibilita

inúmeras combinações de materiais.

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Tem acesso a matérias-primas do mundo todo, desde commodities a

especialidades. Devido a seu maior potencial de consumo de matéria-prima em relação

aos concorrentes, é bastante “cortejada” por companhias fornecedoras de matérias-

primas e insumos. Empresas consideradas referência em tecnologia de materiais no

mundo se mantêm à disposição para suporte técnico, orientações, e desenvolvimento em

conjunto de novos produtos, além de suporte a ensaios e testes de laboratório mais

complexos. São fortes as relações com essas empresas que trabalham com produtos de

alta qualidade e especialidades. Também são fortes as relações com fornecedores de

matérias-primas e insumos considerados commodities. Recentemente, abriu um

escritório comercial na China, de onde desenvolve fornecedores alternativos e com base

no qual envia às suas unidades no Brasil os materiais comprados na China.

A equipe técnica é uma das mais especializadas do país. São diversos

profissionais técnicos de várias especialidades, desde técnicos em química, passando

por químicos industriais, engenheiros químicos, engenheiros de materiais, engenheiros

de produção, tecnólogos de polímeros até especialistas e mestres em determinadas

faixas de especialidades, a serviço da criação de novos produtos e novos processos

produtivos.

A combinação de conhecimento técnico e tecnologia disponível têm permitido à

empresa entrar com força nos mais diferentes mercados e oferecer produtos de alto nível

técnico e estético de produtos. Possibilita à organização lançar grande quantidade de

produtos novos ou então emular produtos importados, considerados complexos.

Contudo, a concorrência tem se acirrado. Concorrentes se especializam em

mercados específicos enquanto a empresa estudada se ocupa em atender a muitos

mercados simultaneamente. Isso exige um entendimento mais apurado das necessidades

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de cada cliente, de cada mercado. Exige flexibilidade e velocidade muito maiores para

dar vazão a tantas demandas diferentes.

Essa realidade traz enorme complexidade ao sistema organizacional. Tem exigido

da empresa equipes e recursos tecnológicos cada vez maiores para superar a agilidade e

precisão dos concorrentes que se especializam em determinados mercados.

Diante dessa realidade, percebe-se que os custos operacionais têm aumentado,

principalmente de mão de obra, as receitas se estabilizando e o volume de produção

sendo reduzido.

Além disso, apesar de toda a expertise técnica e tecnológica, o departamento

parece trabalhar com deficiência na gestão de seu processo. Por décadas o departamento

vem sendo administrado pela própria equipe técnica, que naturalmente se ocupa mais

das atividades relacionadas aos aspectos tecnológicos e técnicos do que com a função de

gestão.

Esse conjunto de fatos traz implicações para a organização. Na produção, por

exemplo, ocorrem diversas perdas ocasionadas por planejamento inadequado, falta de

alinhamento de informações e dados entre as equipes de P&D e Produção; falta de

acompanhamento do protótipo; falta de feedback da produção para o departamento de

P&D, entre outros. Esses dados serão levantados mais adiante no estudo de caso.

Evidentemente, os problemas decorrentes desse processo implicam, também,

problemas mercadológicos. São implicações como atraso no envio de amostras a

clientes; perda de oportunidades de lançamento de produtos pioneiros; desvios de

qualidade em protótipos enviados a clientes, entre outros.

Visivelmente essa situação incomoda os diretores da empresa, principalmente

pelo fato de que os clientes têm se tornado mais exigentes à medida que novos

concorrentes entram no mercado, principalmente os internacionais.

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Diante desse panorama, essa pesquisa representa uma oportunidade de alternativa

para a mudança da situação apresentada nessa organização.

4.2 Descrição e análise do caso

4.2.1 Identificação da existência de metodologia de inovação

O intuito desta fase da pesquisa é identificar a existência ou inexistência de

metodologia de inovação dentro da empresa investigada.

O pesquisador utilizou as entrevistas, observações, anotações e análises de

documentos para coletar evidências sobre o item em investigação.

Por meio das entrevistas semiestruturadas, os entrevistados responderam

livremente sobre aspectos gerais da empresa, a partir do questionário do apêndice A.

Por meio das respostas, durante as entrevistas e também posteriormente analisadas, o

pesquisador notou que os entrevistados não mencionavam a existência, presença ou uso

de algum método de inovação.

Observou, entretanto, que os vocábulos inovação e inovar apareciam em algumas

respostas, sem referência a algum método de inovação. Entretanto, três dos

entrevistados mencionaram ter conhecimento de alguma metodologia de inovação. Dois

deles mencionaram conhecer o método Stage-Gate, desenvolvido por Cooper (1990),

enquanto um terceiro mencionou ter tido conhecimento da metodologia “Triz”.

Apesar da aparente ausência de metodologia, por meio das observações da rotina

em campo, o pesquisador pode constatar que a empresa em questão tem alto potencial

de criação e produção de novidades, tanto em produtos como em processos. Foram

localizados inúmeros produtos novos sendo concebidos e alguns novos processos sendo

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criados durante a fase de investigação empírica. Também foram identificados

equipamentos concebidos e projetados pela própria empresa, que possibilitaram

produzir materiais que antes não seria possível, conforme demonstraram os funcionários

ao pesquisador.

Dentre os produtos novos, a grande maioria das novidades era destinada aos

mercados de moda. Entretanto, também foram desenvolvidos durante a fase de pesquisa,

produtos para atender mercados de mineração e automotivo.

Um novo processo para atender uma demanda específica de um cliente na

América do Sul foi concebido e implementado em alguns poucos meses. Tal processo,

já existia na fase da pesquisa, mas era bastante recente, conforme relatado pelos

empregados da organização. Esse novo processo, complexo segundo gestores da

empresa, foi estruturado com novas funções, novas técnicas e novos métodos, todos

inexistentes na organização até então.

Além deste, observou outros processos recentemente criados, com menor ou

maior complexidade, os quais foram suscitados para atender necessidades específicas de

algum setor. Um exemplo foi o processo criado para tratar de problemas encontrados

em produtos recém-desenvolvidos, e também solucionar “problemas de engenharia” do

produto, isto é, readequar produtos com desvios de qualidade ou problemas de

performance, ocasionados por falhas geradas nas fases de planejamento e prototipagem

de um novo produto. Tal processo citado foi criado no final do ano de 2014 por um

determinado departamento da empresa, o qual tem como objetivo auxiliar os

departamentos de DNP e Produção a corrigir desvios e melhorar seu desempenho.

Contudo, percebeu-se que empreendimentos como esses, provavelmente

ocorreram através de eventos isolados, sem método de inovação definido. Pelo

contrário, alguns entrevistados aludiram à ausência completa de algum mecanismo de

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organização para desenvolver e lançar produtos, bem como desenvolver e implementar

novos processos. Os relatos dos funcionários se referem a ideias concebidas por algum

grupo de interessados, que, posteriormente, solicitou autorização da direção da empresa

para empreender o projeto. Cada interessado, cada qual com seu projeto, o conduziu à

sua maneira, desde a ideação até a implementação.

Esses empreendimentos parecem ocorrer como reação a uma necessidade

premente, por iniciativa de um ou outro departamento em encontrar uma solução

urgente frente a um problema considerado grave. Aparentemente, as dificuldades para

encontrar ideias promissoras e implantá-las são bastante grandes, a priorização não é

clara, o tempo para conclusão pode se tornar bastante longo e as incertezas aumentam.

Os depoimentos a seguir essa visão de que as novidades são introduzidas

normalmente como eventos isolados

(isso aqui foi ideia do [diz o nome do funcionário], ele levou pra

diretoria e a diretoria mandou fazer) (Entrevista 11)

(não envolvem quem deveria envolver; a gente nem fica sabendo que

vão fazer uma máquina nova ou mudar alguma coisa) (Entrevista 11)

(e alguém ficou sabendo pra que era aquele material do [fala o nome

do projeto e cliente]? Ninguém falou com a gente, se tivessem falado,

talvez não tivesse tido esses problemas) (Entrevista 9)

Em outra oportunidade, uma determinada novidade foi assim relatada por um

funcionário:

(Foi o [cita o nome de um funcionário] que deu a ideia de por isso ai pra resolver,

mas não funciona, não serve pra nada) (Coordenador de produção)

Por estes relatos, percebe-se que novidades são por vezes implantadas, e diante

disso, o pesquisador em diversas ocasiões questionou sobre quais métodos seriam

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usados pela empresa para concepção de novos processos, ou introdução de novidades

àqueles existentes. As respostas não mencionavam um processo ou metodologia

específicos. Normalmente faziam menção ao estudo de uma possível solução para

problemas enfrentados cotidianamente. Alguns gestores relataram um processo de

planejamento de melhorias, que seria realizado setorialmente na empresa, através do

qual, cada departamento seria responsável por identificar problemas, imaginar soluções

e implementá-las, cada qual a seu modo e à sua maneira.

Observou-se, entretanto, que os empregados, incluindo gestores mais experientes,

não pareciam deter conhecimentos a respeito de métodos para promover e implementar

inovações, nem tampouco pareciam praticá-los.

Poucas menções foram dadas a existência de um processo ou atividades de

ideação. As que foram referem-se ao uso de “brainstorming” e “diagrama de Ishikawa”,

métodos esses, que seriam utilizados pela empresa para encontrar soluções para

problemas de qualidade. Mesmo assim, os relatos sugerem que as aplicações destas

metodologias não são aplicadas dentro do rigor necessário exigido por esses métodos,

isto é, as instruções não seriam seguidas a rigor. Também são, segundo pode-se

constatar, aplicadas de forma aleatória e pontual, isto é, somente em alguns casos e com

pouca frequência. Além disso, seu uso se restringe normalmente a alguns departamentos

da empresa, como o departamento de qualidade e produção.

O que mais ocorre quase que exclusivamente, pelo que se pode apurar, são ideias

que surgem em reuniões que tratam de problemas ou desvios em processos e em

produtos. São reuniões normalmente restritas aos integrantes dos departamentos

envolvidos, de modo que as ideias são limitadas à esses membros. Durante a reunião,

uma ideia promissora é selecionada dentre as apresentadas, e o responsável pelo

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departamento onde aquela ideia seria implantada, torna-se o responsável por executar a

atividade de executá-la.

Contudo, muitas dessas ideias acabam não sendo desenvolvidas e nem

implementadas. O pesquisador teve acesso a documentos e arquivos, os quais

continham sugestões e ideias que visavam implementar novidades que trariam diversos

ganhos a processos, mas que nunca haviam saído do papel.

Pareceu claro que muitas ideias ficam à mercê da vontade e iniciativa do gestor

departamental em desenvolvê-las e implementá-las. Em nenhum momento, nem em

entrevistas, ou em reuniões, observações dos trabalhos ou análise dos documentos,

mencionou-se sobre a existência de um processo ou método específico para a seleção de

ideias, nem tampouco para o desenvolvimento de ideias pré-selecionadas.

Corroborando com as evidências apresentadas anteriormente, em uma

oportunidade, observou-se que um equipamento desenvolvido pela empresa, o qual

possibilitaria maior velocidade e maior precisão para um processo específico, foi

produzido e implementado antes mesmo de se analisar diversas outras oportunidades.

Poucas pessoas foram envolvidas neste projeto, poucas ideias foram analisadas,

conforme foi apurado. Como resultado, o equipamento não atendeu as expectativas. Em

decorrência da frustração pelo fracasso do equipamento, diversas novas ideias surgiram

espontaneamente. Entretanto, conforme relato de funcionários, não havia meios de

coletar todas as ideias, organizá-las, selecionar e desenvolver as melhores. Mesmo

assim, uma das ideias que circulou pela empresa, conforme descreveu um funcionário,

parecia muito promissora para atender a necessidade, no entanto, após ter considerado

que já havia investido em excesso no equipamento, a direção da empresa resolveu não

arriscar outra tentativa.

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Pelos fatos evidenciados e a evidente ausência de metodologia estruturada de

inovação, entende-se nesta dissertação, que a quantidade e qualidade de ideias com

potencial de solução de um problema ou de novas oportunidades estariam limitadas,

perdendo-se, provavelmente, a oportunidade de implementar processos mais eficazes,

mais flexíveis e mais produtivos.

4.2.2. Identificação da existência de metodologia de gestão de processos

Conforme apontado pelo referencial teórico, gestão de processos é um método por

meio do qual se modelam os processos, utilizando-se metodologias e técnicas para

analisar, projetar e controlar processos organizacionais, determinando-se com precisão

os padrões de ação e as descrições dos modos de agir e de executar as atividades, as

quais devem se repetir ao longo do tempo.

Diante dessa teoria, o pesquisador buscou evidências que identificassem a

existência de gestão de processos na empresa em estudo.

Evidenciou-se que a empresa possui funções definidas e descritas como

processos, com algumas informações sobre as entradas e saídas, onde começa um

processo e onde este termina. Entretanto, as informações sobre os processos não são

claras e não estão detalhadas, conforme a aponta o referencial teórico.

Como visto no referencial teórico, gestão de processos tem como premissa

“determinar com precisão quem faz o quê, em qual ordem, sob que circunstâncias, com

qual precisão, de posse de quais informações, e com qual grau de precisão” (Hammer,

2007, p.113).

Além disso, define e formaliza o fluxo do processo (volume por unidade de

tempo), a sequência das atividades, a esperas e duração do ciclo de processamento,

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dados e informações, além de especificar as pessoas envolvidas, relações de

dependências entre as partes comprometidas no funcionamento do processo, conforme

instrui Gonçalves (2000b).

Toda essa modelagem culminaria na formalização dos processos como

representações de padrões em modelos esquemáticos, visuais, de tal modo que se

podem visualizar todos os processos da empresa, inclusive de forma ampla,

compreendendo toda a cadeia de processos em detalhes, segundo Albuquerque (2012).

Durante a investigação, verificou-se ausência de muitos desses itens mencionados.

Por exemplo, no departamento de P&D, o que se descreve como entradas e saídas do

processo se referem somente às solicitações de DNP, e como saída, a entrega da

solicitação de produção de amostras para a produção. São descrições simples e sem

detalhamento das atividades e dos padrões de ação. Também não constam as definições

das interfaces entre os processos, nem os fluxos (volume por unidade de tempo), muito

menos a sequência das atividades (quem faz o quê e em qual ordem, de que forma e em

quais circunstâncias). Tampouco existe estabelecimento da duração do ciclo de

processamento, nem dos tempos de espera, bem como não constam os dados e

informações necessárias, as pessoas envolvidas ou as relações de interdependências,

entre outros, conforme aponta o referencial teórico (Hammer, 2007; Gonçalves, 2000a;

Gonçalves, 2000b; Santos, 2003).

Além disso, foi identificado que não há utilização de modelos esquemáticos,

visuais, de modo que qualquer pessoa da organização possa visualizar todos os

processos da empresa, tanto de forma ampla, compreendendo toda a cadeia de

processos, conforme define Albuquerque (2012). Sem o modelo esquemático, dificulta-

se a visualização da organização como um todo, com todos seus processos,

subprocessos e atividades. Mota (1995) aponta que a visualização da empresa como um

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todo, premissa de um sistema de gestão por processos, proporciona maior e melhor

relacionamento entre áreas e eliminação de barreiras.

Essa característica de uma organização que adota gestão por processos não foi

encontrada na empresa investigada. Pelo contrário, aparentemente poucas pessoas

conhecem profundamente os processos do próprio departamento, simplesmente pelo

fato de que, apesar de existirem na empresa procedimentos de trabalho em todos os

departamentos, estes se encontram normalmente arquivados em pastas, que são

guardadas em alguma gaveta do departamento. Um dos entrevistados, que

aparentemente possuía algum conhecimento sobre gestão de processos, ilustrou com um

comentário essa constatação:

(A maioria das atividades estão definidas, mas nós não temos o

processo detalhado. Precisamos fazer isso) (Entrevista 12)

Dessa forma, as funções em cada departamento parecem existir de forma isolada,

sem que se conectem as partes, ou seja, cada função ou departamento tem conhecimento

somente das suas atividades internas, suas próprias metas e objetivos, e não do processo

como um todo. Embora existam objetivos comuns a serem atingidos, como a estratégia

e o resultado do EBITDA, cada área funcional da empresa trabalha de forma isolada,

cujos esforços para contribuir para com os objetivos ficam restritos ao próprio

departamento em si, não abrangendo as relações com os outros departamentos e setores

que compõe todo o processo.

As metas departamentais são definidas pelo próprio departamento e não são

convergentes com as metas de outros departamentos. O pesquisador encontrou,

inclusive, conflitos de interesses e metas divergentes entre departamentos, isto é, as

metas de um departamento tinham objetivos contrários às metas de outro departamento.

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Por exemplo, a produção tinha como meta aumentar a disponibilidade, isto é, reduzir o

número de horas em que a máquina fica indisponível para produzir. Já o departamento

de P&D tem como meta desenvolver o maior número de produtos possível, no menor

prazo e, para isso, precisa da máquina para desenvolver e testar produtos e não produzir,

o que implica menor disponibilidade do equipamento para a produção.

Um depoimento contribui para essa constatação:

(A gente tem um problema de indicadores, eu acho. Há setores que

pedem coisas a outros setores e o outro setor pensa: se eu fizer isso vai

me dar problema, então vou deixar isso aqui pra trás) (Entrevista 1)

Tais características são típicas e naturais de organizações orientadas a funções e

não por processos, conforme aponta o referencial teórico (Albuquerque, 2012;

Gonçalves, 2000a, Gonçalves, 2000b; Hammer, 2007).

Observou-se, dessa forma, desalinhamento entre as áreas de P&D e de produção.

Há, claramente, uma grande deficiência de entendimento entre essas duas áreas no que

diz respeito ao processo de DNP, desde os objetivos desejados para um novo produto,

às necessidades do cliente, ou às necessidades e exigências técnicas do produto, além de

aspectos técnicos relacionados à fórmula do produto e ao processo produtivo de um

determinado artigo. Um dos entrevistados assim se manifesta, ilustrando essa

constatação:

(A produção hoje não consegue seguir o que eles [P&D] especificam e

altera [o projeto] por conta própria, eles acham que tem mais

conhecimento. Quando o P&D descobre, o produto já foi alterado)

(Entrevista 12)

Em decorrência dessa falta de alinhamento e planejamento conjunto, ocorrem

tempos de espera para decisões e ações, paradas não programadas decorrentes de

ajustes, altos volumes de retrabalhos, perdas de materiais, entre outras perdas não

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levantadas. Essas evidências foram constatadas pelo pesquisador durante as observações

em campo. Como consequência, a falta de precisão no atendimento das exigências do

cliente, tanto de uma amostra piloto, como de uma produção proveniente de amostra já

aprovada anteriormente. Há diversos exemplos de problemas técnicos com produtos

recém-lançados.

Um dos entrevistados procura explicar o motivo pelo qual um produto

desenvolvido apresenta desvios de qualidade e desempenho, da seguinte forma:

(Como o desenvolvimento aqui é um volume muito alto [isto é, o

volume de desenvolvimentos], eles não conseguem acompanhar o

desenvolvimento e validar, para depois liberar para a produção. Esse é

o principal problema que eu vejo) (Entrevista 8)

Esses problemas por vezes chegam aos clientes. Outro entrevistado, parece

demonstrar desapontamento com essa situação e comenta:

(Às vezes eu tenho que ir pessoalmente ao cliente para resolver um

problema com o material desenvolvido) (Entrevista 4)

Observou-se também, que não é somente entre áreas diferentes que os

desalinhamentos ocorrem. Dentro do próprio departamento de P&D há divergências

entre métodos, objetivos e metas. Ocorre que o departamento de P&D é tão importante

para essa companhia que, chega a possuir quatro equipes para DNP distintas, com

gestores e metodologias diferentes, porém, frequentemente desenvolvendo soluções

para o mesmo mercado e, muitas vezes, para os mesmos clientes. Observou-se um

grande desalinhamento de objetivos entre equipes. Por exemplo, desenvolvendo

produtos para um mesmo mercado, notou-se que uma determinada equipe se atinha à

questões de custos e repetibilidade do produto (a possibilidade de se repeti-lo em

produção) durante o seu desenvolvimento, enquanto que outra equipe, focava quase que

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101

exclusivamente em aspectos de design, sem se preocupar, aparentemente com as

questões de custo e repetibilidade.

Além disso, observou-se que cada equipe conduzia o processo de DNP da forma

como acreditava ser a mais apropriada. Claramente, não há um modelo a seguir, não há

um método definido e muitas pessoas que trabalham nas equipes não sabem explicar

com precisão qual é o processo que deveria ser executado. Para o sucesso de gestão por

processos, “as pessoas precisam saber exatamente o que fazer e quando fazer”

(Hammer, 2007, p.114). O que foi verificado foi o oposto. cada equipe atua de forma

diferente das demais, cada qual com seus próprios métodos, seus próprios objetivos,

embora desenvolvendo produtos para o mesmo mercado e na maioria das vezes para o

mesmo cliente.

Em uma entrevista, um dos respondentes exemplifica a ausência de padrão e

método definido durante o processo de desenvolvimento, da seguinte forma:

(Aqui é tudo meio solto. O [cita o nome de um técnico], por exemplo,

ele vai desenvolvendo. Ele tem muita habilidade para criar, só que ele

não tem tanta percepção da engenharia que ele usou, ele vai fazendo,

depois manda pra produção e a produção tem que se virar pra fazer.

Ele não tem controle do que ele fez. Aí fica um buraco) (Entrevista 8)

Outro relato também ilustra essas evidências levantadas:

(Até agora eu não consegui entender direito como funciona do DNP.

Tá tudo meio bagunçado. [...] Eu perguntei para o [diz o nome do

funcionário] o que ele faz, e até agora não consegui entender)

(Entrevista 14)

Parece bastante claro pelo conjunto de evidências levantadas, que a organização

investigada não faz uso de metodologias de gestão dos processos. Ao contrário, a

pesquisa sugere que há no departamento de P&D uma enorme lacuna entre o que se

prática e as recomendações de gestão de processos, segundo o referencial teórico.

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Provavelmente, a metodologia de gestão atual da empresa limita a performance do

sistema, afetando não somente o departamento de P&D, mas também a performance de

produção e a produtividade, tanto do departamento investigado como o da companhia

como um todo.

4.2.3. Identificar possíveis problemas de produtividade no departamento de P&D

O intuito dessa etapa de pesquisa foi o de confirmar o departamento de pesquisa e

desenvolvimento (P&D) e o processo de desenvolvimento de novos produtos (DNP)

como um gargalo na empresa. Essa percepção já existia previamente pelo pesquisador

pela participação deste em atividades dentro da empresa que apontavam nessa direção.

Por meio das entrevistas semiestruturadas, os entrevistados responderam

livremente sobre os principais gargalos da empresa, confirmando a suspeita de que, o

principal gargalo é o processo de DNP, no departamento de P&D. Isso foi possível

porque as perguntas iniciais abordavam aspectos relacionados ao desempenho

econômico-financeiro da empresa e também à negócios e mercados. O lançamento de

novos produtos é tão importante para a companhia, que naturalmente o assunto surgia

pelos próprios respondentes, por se tratar de um problema extremamente relevante, que

impactava nos negócios e na produtividade da empresa.

De maneira franca, cada respondente teceu suas opiniões e considerações a

respeito do processo em questão. Uma vez que o assunto tenha entrado em pauta,

evidentemente o pesquisador introduziu questões relativas ao processo em si, com o

objetivo de entender com profundidade o fenômeno e, dessa forma, extrair o máximo de

informações com a maior qualidade possível para o momento, demonstrando interesse

sincero em compreender a visão de cada respondente sobre assunto abordado.

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Dessa forma, a primeira análise consistiu em interpretar as explicações coletadas

nas entrevistas. Em seguida, realizou-se análise de documentos e observações in loco,

com acompanhamento da rotina do processo e participação em atividades, reuniões e

grupos de trabalho. Assim, pode-se identificar como funciona o departamento de P&D e

o processo de DNP. A Figura 8 ilustra, grosso modo, o processo de DNP na empresa

estudada.

Recebimento da

solicitação de DNP

Validação dos

dados e

entendimento da

necessidade do

cliente

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Entrega produto

para departamento

de qualidade

inspecionar

Produto enviado a

cliente

Desenvolvimento

de formulação e

engenharia do

produto e processo

Engenharia e

formulação

cadastradas em

formulário

Envia formulação e

engenharia do

produto e processo

para departamento

de custos

Recebe cálculo do

custo do produto e

envia ao

departamento de

vendas

Calcula preço final

e envia ao cliente

Analise retorno do

cliente

Simulações de

laboratório

Desenvolvimento

de amostra de

laboratório

Envia amostra ao

vendedor

Vendedor envia

amostra ao cliente

Vendedor recebe

retorno do cliente

Vendedor repassa

retorno do cliente;

coloca pedido de

amostra em escala

industrial

Analisa pedido de

amostra em escala

industrial e

providencia

sequenciamento

Solicita cadastro

de código de

produto à central

de cadastros

Recebe o código e

cadastra

formulação e

engenharia em

planilha

Envia planilha

preenchida à

central de

cadastros

Negociação de

data de produção

com departamento

de planejamento

Envio de

solicitação de

desenvolvimento

de amostra para

produção

Imprime

documentos do

produto e envia ao

departamento de

qualidade

Qualidade registra

documentos em

arquivo separado

para novos

produtos

Departamento de

Produção executa

Ordem de

Desenvolvimento

Vendedor recebe

retorno do cliente

sobre aprovação

da amostra

P&D analisa

informação de

aprovação ou

reprova

Solicita cadastro

de código definitivo

à central de

cadastros

Recebe o código

definitivo e o envia

ao departamento

de custos para

cadastro do custo

Recebe a

informação de

custos e repassa

código final ao

vendedor

Envia ao

departamento de

qualidade

documentos e

amostra industrial

Figura 8: Processo de desenvolvimento de novos produtos (DNP)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Page 106: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

104

Embora o desenho esquemático do processo de DNP não esteja definido e

formalizado na empresa, e também haja variações nos processos seguidos pelas equipes,

percebeu-se que de um modo geral, o processo de DNP se apresenta conforme

representado pela Figura 8.

Tal processo, para os entrevistados, consiste em um dos principais limitadores da

velocidade e dos resultados da organização, uma vez que a empresa é hoje dependente

do lançamento de novos produtos para se manter no mercado, principalmente nos

mercados que trabalham com moda. Os relatos sugerem que o processo de DNP não

atende a demanda na velocidade necessária e traz implicações para as operações e para a

captura de oportunidades de mercado, conforme pode ser observado no seguinte trecho

de uma entrevista.

(A gente não consegue atender a todas as solicitações [SDNP]. Tem

sempre alguém que fica pra trás. Toda semana na nossa reunião com

sobre desenvolvimento, eles nos apresentam uma lista com todas as

solicitações que entraram. Eles nos entregam e dizem, entraram

quatrocentas solicitações, nós conseguimos produzir em torno de

duzentos e vinte. Quais a gente deixa pra trás?) (Entrevista 6)

Em outro trecho, um gerente se manifesta da seguinte forma:

(Nosso maior problema hoje, o maior problema da empresa é o

desenvolvimento [DNP]. Se você for na rua e perguntar para os

clientes, qual é a maior deficiência da empresa, é o DNP. É unânime,

o DNP!) (Entrevista 7)

Como mencionado anteriormente, além das implicações para o mercado, o

processo de DNP atual impacta em outras áreas da empresa, como o setor produtivo

(chamado também de produção), por exemplo. O depoimento a seguir ilustra essa visão:

Page 107: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

105

(Para mim, todos esses problemas de produção são originados pelo

desenvolvimento [DNP]. Os problemas da empresa estão no

desenvolvimento. Todo mundo que quer desenvolver alguma coisa

vem aqui, a gente desenvolve sem nem ver o que está fazendo)

(Entrevista 7)

Documentos analisados corroboram as afirmações, por meio dos quais foi

possível identificar que novos produtos normalmente apresentam perdas de produção

consideravelmente superiores aos materiais portfólio de produtos atual. Por perdas,

consideram-se na empresa, perdas de materiais, como matérias primas e produtos

acabados, e também perdas de tempo, tanto de máquina como de pessoal. Novos

produtos apresentam naturalmente perdas maiores que os produtos de portfólio, segundo

a organização. O problema é agravante para esta organização, devido ao volume de

desenvolvimento de novos produtos ser relativamente alto, o que afeta os resultados de

produtividade.

Foi evidenciado por meio do Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE),

que as unidades fabris da empresa, as quais coincidentemente possuíam grande

dependência do mercado de moda, e por consequência grande dependência de DNP,

apresentavam problemas de produtividade. Os números mostram elevação do custo

operacional nos últimos anos, principalmente relacionados à mão de obra, fretes e

energia, e estabilização da receita e até mesmo queda em algumas unidades produtivas.

A justificativa para esse fato, conforme se apurou na pesquisa, reside na

constatação de que o departamento de P&D tem particular contribuição nos resultados

destacados no DRE, tanto nos aspectos relacionados ao produto em desenvolvimento

(design, requisitos técnicos e custo) como em aspectos relacionados a oportunidades de

mercado (prazo para entrega do protótipo, qualidade do protótipo, alternativas) e

também às questões de desempenho da produção e da logística.

Page 108: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

106

Essa contribuição no que diz respeito ao produto, ocorre pelas características

naturais de exigência de mercado, isto é, é necessário que o protótipo desenvolvido

esteja de acordo com a expectativa do cliente quanto à parte estética (design), atenda

exigências de especificações, como resistências mecânicas e químicas. Aparentemente,

a organização domina os aspectos técnicos dos produtos que fabrica e não enfrenta

grandes problemas para atender os requisitos de mercado.

Para atender a essas demandas técnicas, a empresa conta com grande estrutura

técnica, a maior entre todos os concorrentes nacionais, desde quantidade e capacitação

de funcionários trabalhando no departamento de P&D, até equipamentos de laboratório

e pesquisa.

Entretanto, toda esta estrutura tem um custo. E este é um item que parece afetar a

empresa. Segundo apurou-se, frequentemente a empresa precisa de margens mais altas

que seus concorrentes para cobrir os altos custos operacionais decorrentes de uma

estrutura maior e mais capacitada. E um dos aspectos principais no desenvolvimento de

novos produtos para o mercado de moda, é que o produto se enquadre dentro do custo

alvo, uma vez que os clientes estabelecem limites de preço do produto final baseados

em preços das vitrines de lojas do país. Um trecho de entrevista aponta para essa

premissa:

(Eu vejo que custo hoje, é um dos principais problemas dos clientes

que pedem um desenvolvimento e não convertem em pedido)

(Entrevista 5)

Para neutralizar a questão do custo dessa estrutura, a organização julga que seria

imprescindível maior produtividade para o departamento de P&D, a fim de que possa

produzir mais (novos produtos) com menos recursos. Além da questão de custo, maior

produtividade poderia ajudar a organização a conquistar novas oportunidades de

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107

mercado, uma vez que para conseguir capturar novos negócios, a empresa precisa se

posicionar como sendo ágil na entrega de novos produtos.

No mercado de moda, agilidade faz muita diferença. Significa conseguir um novo

pedido de venda ou perdê-lo, conforme ilustrado por um entrevistado:

(Todo mundo que pede um desenvolvimento, 99% [dos clientes],

querem urgente! Ninguém quer desenvolver com uma empresa que

demora vinte dias, trinta dias. A necessidade de mudança de coleção é

tão grande, que ele precisa urgente) (Entrevista 5)

Por esse motivo, o processo de DNP pode contribuir consideravelmente no que

tange a oportunidades de mercado, de modo que atrasos ou demoras no lançamento de

novos produtos podem gerar perdas consideráveis de faturamento e lucros, conforme

apontam Cohen, Eliashberg e Ho (1996). Para o mercado de moda novos produtos

devem ser rapidamente disponibilizados para os clientes, para que estes possam lançar

suas coleções, de modo que um protótipo entregue fora do prazo pode fazer o cliente

atrasar o lançamento de sua coleção. O trecho de uma entrevista, a seguir, demonstra o

impacto dos prazos para o negócio:

(Os clientes ficam aguardando a amostra para poder colocar pedido ou

não. Normalmente, ele [cliente] manda a amostra pra nós, mas ele já

mandou pro concorrente também. Se a gente demora e o concorrente

entregou o dele, ele vai comprar do concorrente) (Entrevista 5)

Mesmo conhecendo as consequências, a organização apresenta problemas para

atender a demanda e consequentemente perde oportunidades de vendas. Segundo se

apurou, muitos clientes acabam não efetivando pedidos de compras devido ao tempo de

entrega considerado demasiado longo (para o mercado de modas) conforme se pode ler

a seguir, em um trecho de entrevista:

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108

(Tem cliente que fica aguardando quase um mês para receber a

amostra. Em um mês, até ele testar e desenvolver o produto dele com

nosso material a moda já passou e para ele não interessa mais)

(Entrevista 5)

Outro trecho de entrevista também colabora para o entendimento do impacto dos

longos prazos e atrasos no envio de amostras:

(Ele [cliente] acha um absurdo. Ele pede um desenvolvimento simples

e demora 20, 30 dias pra receber. É um absurdo. Em 30 dias ele

perdeu a coleção dele! Perde a coleção!) (Entrevista 5)

Outro problema que também causa impactos nas entregas, nos prazos, e

consequentemente implicações para os clientes e para o negócio refere-se à qualidade

dos protótipos, que são produzidos e entregues a clientes como amostras de um novo

produto.

Protótipos com desvios de qualidade podem resultar em retrabalho na produção,

que, por consequência, provocam atrasos. Observou-se grande volume de novos

produtos com problemas de qualidade. Outra consequência decorrente deste problema é

a perda de materiais, conforme ilustram os seguintes relatos de entrevistados:

(Perde muito material no desenvolvimento. Se você olhar, a quebra é

muito grande) (Entrevista 5)

(Uns 50% dos novos produtos retornam para o laboratório para

refazer. Ou tá faltando engenharia, ou tá fora do padrão, ou tá errado o

processo) (Entrevista 5)

Percebeu-se que os problemas de qualidade dos produtos desenvolvidos começam

já na fase de laboratório. Aparentemente, a explicação consiste no fato de que qualidade

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109

não era um dos objetivos do departamento. O depoimento a seguir corrobora esta

constatação:

(O pessoal é medido pelo volume de SDNP que eles fecham. Não tem

indicador para qualidade. “Eles [equipe de DNP] não dão atenção para

a qualidade, e não dá tempo de eles conferirem) (Entrevista 12)

Segundo funcionários do departamento, problemas de qualidade normalmente são

decorrentes da falta de tempo para planejamento adequado dos novos produtos. Isto se

daria, devido à demanda ser maior que a capacidade, segundo funcionários do

departamento de P&D. Entretanto, para a direção da empresa, essa não é a realidade. A

percepção da alta administração é de que falta produtividade.

Independente das razões constatou-se como fato evidente problemas de qualidade

provocados pelo atual processo de DNP, o qual, como apontado anteriormente além de

aspectos relacionados à qualidade, influencia também resultados de outras áreas da

empresam, como a área de logística. Essa área é afetada na medida em que novos

produtos podem requerer novas adequações na estrutura de suprimentos e operações

logísticas, além de problemas originados por do P&D intervenções nos planos de

produção. Adiciona-se a isso, o fato de que um ou mais itens do novo portfólio podem

requerem insumos novos, de outras fontes de fornecimento; necessitar de métodos ou

estruturas diferentes de movimentação, armazenagem e transporte (Lager, Blanco, &

Frishammar, 2013).

A análise de documentos mostrou que os níveis de estoque da empresa se

mantiveram com volume financeiro equivalente entre 2 a 2,5 meses de faturamento de

todas as unidades somadas nos últimos anos. Uma das unidades produtivas, apresentou,

nos últimos 4 anos, estoque equivalente a mais de 6 meses de faturamento. Auditorias

Page 112: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

110

internas demonstraram que grande parte desse estoque era decorrente de matérias -

primas adquiridas para o DNP.

Outra implicação logística, evidenciada pela análise de documentos na empresa,

foi a utilização de fretes aéreos, usados para enviar materiais urgentes, mas

principalmente para enviar desenvolvimentos em atraso ou que tiveram que ser

retrabalhados. Tais fretes são destinados quase que exclusivamente para atender clientes

do mercado de moda. Segundo se apurou, muitos casos que envolveram envio de

produtos via frete aéreo, se deram devido a atrasos no envio de amostras a clientes.

Como visto o processo de DNP afeta os resultados de diversas áreas da

organização. Assim como afeta a logística, o processo de DNP também afeta

consideravelmente o desempenho da produção na medida em que novos produtos

podem requerer novos processos, novas capacidades e novas habilidades da manufatura,

as quais podem não estar disponíveis no momento em que se necessita deles, conforme

apontam diversos estudos. (Brettel et al, 2011; Chang, Hu, & Hong, 2013; Ding &

Eliashberg, 2002). As consequências podem variar, como a perda da oportunidade de

lançamento de um produto promissor em vendas; custos mais altos decorrentes de

perdas ocasionadas pela carência de habilidades ou capacidades; menor velocidade

produtiva; tempos inativos em excesso em decorrência de tentativas de ajustar o produto

na linha de produção, entre outros (Brettel et al, 2011; Chang, Hu, & Hong, 2013; Ding

& Eliashberg, 2002).

O acompanhamento do processo permitiu ao pesquisador presenciar equipes e

máquinas produzindo sucata em vez do novo produto desejado, isto é, material sem

aproveitamento, provocados por tentativas de ajustes, ocasionados pela ausência de

conhecimento para a produção de um item, conforme relatado em uma entrevista:

Page 113: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

111

(Vai uma ordem de produção diretamente pra máquina. A única coisa

que vai para a produção identificando que é produto novo, é uma

identificação no padrão de produção com uma etiqueta escrito:

´Primeira produção´) (Entrevista 8)

Portanto, os funcionários da produção teriam que produzir um produto inédito

sem ter todo o conhecimento e orientações necessárias para isso. A percepção de alguns

funcionários envolvidos no processo é de que falta acompanhamento de todo o

processo, conforme aponta um entrevistado:

(Eles [P&D] não conseguem acompanhar o desenvolvimento. [...]

precisaria o desenvolvimento [P&D] ir mais junto, até o final do

desenvolvimento mesmo, ou aproximar mais o processo do

desenvolvimento) (Entrevista 8)

Dentre as principais implicações decorrentes desse fato, pôde-se observar:

máquina e equipe de produção em espera de soluções e decisões; perdas de materiais

decorrentes de ajustes de produto em máquina; equipes de processos de produção

deixando de realizar outras atividades para atuar na solução dos retrabalhos dos novos

produtos; tempo dos desenvolvedores tomado com retrabalho; horas de máquina parada

para ajustes e testes de produto ou com matérias primas alternativas para solucionar

problemas com novos produtos.

As falhas podem ser diversas, desde falhas na engenharia ou na composição de

matérias-primas dos produtos, até informações inadequadas ou ausentes sobre o

desenvolvimento e necessidades do cliente, ou então, falta de planejamento

entendimento quanto a composição do produto, conforme ilustra o seguinte depoimento

de um entrevistado:

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112

(Às vezes eles [P&D] desenvolvem com uma matéria prima, aí a

produção usa outra e eles nem ficam sabendo) (Entrevista2)

Depois de identificadas, as falhas são posteriormente corrigidas, isto é, os

produtos são retrabalhados, conforme ilustrado no depoimento a seguir:

(Alguém levanta o problema, aí cai aqui para nós. Aí a gente

acompanhou, levantamos o problema e concluímos que precisa mexer

na especificação, aí eu procuro o responsável do DNP. Aí sugerimos

que deveria mudar essa ou aquela matéria prima. Se ele der o sinal

verde a gente muda e roda na produção de novo para ver ser resolveu.

Às vezes a produção levanta a bandeira e passa um e-mail para mim,

´óh´, verifique tal produto. Aí eu uso o [diz o nome do funcionário] da

produção, que entende. Aí a gente verifica e damos a sugestão: se

trocar essa matéria prima por aquela, a gente acha que resolve. Aí o

P&D que tem a visão do cliente, é que vai dizer, essa matéria prima

pode ou não por causa implicação para o cliente. Aí a gente troca e

acompanha e vê se resolveu) (Entrevista 8)

Os números sobre retrabalhos ainda não são totalmente apurados pela

organização. O departamento de processos de produção começou a apurar, no final de

2013, os retrabalhos em novos produtos, nos quais eram solicitados a colaborar com a

solução. Em 2014 o número fechou em 34,8% e em 2015, 47% dos novos produtos

fabricados tiveram que ser refeitos com o auxílio do departamento. Os retrabalhos que

são refeitos pela própria produção ou pelo P&D não entram nessa estatística. Estima-se

que o número chegue a 80%, conforme colocação de um entrevistado:

(80% dos produtos que o P&D libera para a produção, a produção tem

que refazer. Uns voltam para o laboratório, outros a produção mesmo

corrige) (Entrevista 5)

Também se constatou na pesquisa que os mesmos equipamentos de produção

usados para desenvolver produtos, como já exposto, são também utilizados para atender

Page 115: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

113

pedidos de produtos de linha, isto é, aqueles que constam no portfólio de produtos da

empresa e já tem vendas recorrentes. Todo esse tempo gasto em DNP poderia e deveria

ser utilizado para produção de pedidos e garantir a entrega de produtos a clientes. Isto é,

o DNP concorre com produção na utilização de máquinas de produção. Em épocas de

alta demanda, a ocupação das máquinas fica extremamente elevada, ocasionando perdas

de pedidos para concorrentes. Obviamente, considera-se que o DNP limita a produção e

as vendas, e por consequência, o desempenho da empresa.

Contudo, não é somente na fase de produção que o processo de DNP causa

impactos na produtividade. Observando o processo, foram notados vários pontos de

estrangulamento dentro do próprio departamento de P&D. Nitidamente o processo não

supre a demanda já na fase de laboratório. A quantidade de solicitações aparentemente é

maior que a capacidade da mão de obra alocada. Mesmo com o aumento no quadro de

pessoas ocupadas no departamento, verifica-se que o departamento não consegue dar a

vazão necessária para toda a demanda.

Embora a direção da empresa considere que a quantidade de pessoas ocupadas

com esse processo já esteja demasiado grande, funcionários da empresa argumentam

que o volume de desenvolvimento é muito alto para o tamanho da equipe. O volume de

solicitações pode ser visto na Figura 9.

Page 116: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

114

Figura 9: Comparação da quantidade de solicitações de DNP entre mercado de moda e demais mercados

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

Claramente, essa quantidade de desenvolvimentos torna bastante complexa as

atividades do departamento de P&D. Com volume médio superior a 16.000 novas

solicitações por ano, parece evidente que o departamento de P&D deveria contar com

alta produtividade para atender a toda essa demanda sem atrasos ou longos prazos de

espera.

No entanto, o que se evidenciou durante a pesquisa foi um quadro que sugere

baixa produtividade. Esta constatação pode ser observada pelo fato de que o número de

pessoal ocupado no departamento de P&D teve crescimento do período de 2011 a 2013,

conforme mostra a Tabela 4, ao passo que o faturamento por pessoal ocupado no

departamento de P&D caiu, conforme pode ser notado por meio da Figura 13.

Há uma percepção na empresa de que a falta produtividade para o departamento

em questão é o principal aspecto a ser resolvido. Um diretor assim se manifesta durante

uma reunião:

0

5.000

10.000

15.000

20.000

2011 2012 2013 2014

Solicitações de DNP

Moda Outros mercados Total de solicitações

Page 117: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

115

(Olhe tudo o que nós investimos nesses anos! Máquina “A”, maquina

“B”, equipamentos de laboratório, ampliação do laboratório e ainda tá

patinando. Tem gente, tem equipamento, tem prédio, tem matéria

prima, tem tudo. Me dá a impressão que tem um monte de gente não

fazendo nada. Precisa ser mais eficiente!) (Diretor da empresa)

Além disso, observou-se durante a pesquisa, baixa velocidade de execução e

problemas de qualidade, possivelmente, ocasionados pela complexidade em se

administrar todo esse volume de desenvolvimentos, a qual claramente contribui para a

lentidão do processo.

Nessa perspectiva, observou-se tarefas redundantes sendo executadas, como por

exemplo, o desenvolvimento de um produto que já havia sido desenvolvido

anteriormente. Ou então, um mesmo cadastro sendo realizado duas vezes, em lugares

diferentes. Trechos de entrevistas contribuem para reforçar a evidência de redundância:

(Tem quatro ou cinco pessoas para fazerem as mesmas coisas. No

papel, descreve que cada um cuida de uma parte, mas uma pessoa só

poderia cuidar de tudo. Ou duas pessoas, um pra fazer e outro pra

escrever, qualquer coisa nesse sentido) (Entrevista 1)

(Tem muita gente fazendo coisas que não há necessidade) (Entrevista

2)

Outro aspecto comumente observado é a falta de precisão em informações

relativas aos projetos de DNP, o gera dificuldades dentro do próprio departamento,

ocasionando mais lentidão e possibilidades de falhas. O depoimento a seguir colabora

para ilustrar esse aspecto:

(Tem solicitação que chega pedindo um monte de coisas e a hora que

você vai ver, o cliente não precisa de nada daquilo) (Entrevista 7)

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Em outra entrevista, um funcionário procura explicar que origem das falhas ocorre

já antes da solicitação de DNP:

(Tem representante [de vendas] que não conhece nada de produto. É

muito mais fácil ele falar pro cliente: ‘o que o senhor quer, me dá uma

amostra que eu levo pra dentro. O cara não tem conhecimento dos

produtos) (Entrevista 1)

Todo esse conjunto de dificuldades geradas pelo processo de DNP levou a direção

da empresa à percepção de ineficiência desse processo, principalmente pela constatação

de que a participação de novos produtos no faturamento total da empresa também vem

caindo, conforme Figura 10. Da mesma forma, o faturamento por pessoal ocupado no

DNP também caiu, conforme mostra a Figura 11.

Essas evidências sugerem que a metodologia atual de gestão adotada não tem

contribuído para a produtividade da empresa, pelo contrário, o número de pessoal

ocupado no departamento aumentou enquanto a receita manteve-se estável (para o

período de análise disponibilizado pela empresa, que foi de 2011 a 2013), conforme

apresenta a Figura 13.

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117

Figura 10: Evolução da participação de novos produtos no faturamento da empresa

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

A Figura 10 sugere que a empresa vem perdendo espaço para concorrentes no

lançamento de novos produtos. Essa constatação se baseia no fato de a quantidade

solicitações de DNP estarem em nível considerado alto em 2012 e terem aumentado de

2012 para 2013, conforme se observa na Figura 9 e, mesmo assim, a participação dos

novos produtos no faturamento terem caído. Essa possibilidade é endossada por

funcionários da empresa, que conforme explicado anteriormente, é muito comum nesse

mercado um mesmo cliente fazer a mesma solicitação de desenvolvimento de um novo

produto para duas empresas concorrentes ao mesmo tempo. Aquela que apresentar o

produto dentro das características desejadas, em menor prazo de tempo, normalmente

consegue o pedido.

Aparentemente, os problemas decorrentes da baixa velocidade do processo de

DNP, atrasos na entrega de amostras e protótipos e problemas de qualidade nas

amostras apresentadas, estão relacionados à queda da participação de novos produtos no

faturamento da empresa apresentada pela Figura 10.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

2011 2012 2013

Participação de novos produtos no faturamento

Page 120: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

118

Figura 11: Relação do faturamento da empresa por pessoal ocupado no departamento

de P&D

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

A Figura 11 se apresenta possivelmente como consequência da baixa

produtividade do departamento de P&D. Essa constatação se baseia no fato de que o

quadro de pessoal empregado no departamento de DNP tem crescido ao passo que o

faturamento da empresa manteve-se estável, conforme mostra a Figura 13.

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

110%

2011 2012 2013

Faturamento por pessoal ocupado no DNP

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119

Figura 12: Evolução da margem de contribuição líquida

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

A Figura 12, que mostra queda na margem de contribuição líquida da empresa,

se apresenta possivelmente como uma consequência da redução do faturamento com

novos produtos, demonstrado na Figura 10.

Como consequência, a empresa acaba por não vender tantos produtos novos e,

para ocupar esse espaço no faturamento, concentra suas vendas em materiais já

disponíveis em seu portfólio de produtos, materiais estes que apresentam margens

normalmente menores que os produtos novos. Possivelmente, essa queda na margem

apresentada na Figura 12 seja em parte, explicada por esses argumentos.

Visando à melhoria desse quadro, a empresa vem, ao longo dos anos, reforçando a

estrutura de P&D, por meio da ampliação das instalações e aquisição de equipamentos

de laboratório e desenvolvimento de protótipos. Realizou grande investimento em

maquinário e equipamentos visando maior agilidade, precisão e qualidade no DNP.

Além disso, reforçou sua equipe técnica com a incorporação de mais profissionais

técnicos conforme ilustrado pelo depoimento a seguir:

75%

80%

85%

90%

95%

100%

105%

2010 2011 2012 2013

Margem Contr. Líquida

Page 122: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

120

(Veja, nós contratamos gente, buscamos pessoal bom do mercado.

Ninguém no mercado tem uma equipe como a nossa. Nós trouxemos

‘Fulano’, ‘Ciclano’, recontratamos ‘Beltrano’. Trouxemos os técnicos

da China, da Itália, um monte de ações) (Entrevista 3)

Entretanto, pode-se ver pela Figura 13, que embora o pessoal ocupado em P&D

tenha crescido esse aumento não contribuiu com o aumento de faturamento, como

esperado pela organização. Mesmo com todos esses esforços, fica claro pelo conjunto

de evidências levantadas, que o departamento de P&D se caracteriza gargalo grave na

organização porque restringe e limita o desempenho do sistema, nesse caso, limitando

um maior fluxo de produção e entregas, afetando não somente os processos de produção

e vendas como todos os demais envolvidos, bem como impacta severamente na

produtividade da empresa.

Figura 13: Crescimento da receita da empresa e do pessoal ocupado no departamento

de P&D de 2011 a 2013

Fonte: Documentos fornecidos pela empresa

50%

60%

70%

80%

90%

100%

110%

120%

130%

140%

2011 2012 2013

Faturamento Quantidade funcionários

Page 123: INOVAÇÃO EM PROCESSOS EM BUSCA DE …produtividade, que é um componente importante do desempenho empresarial. Para alcançar resultados consistentes e relevantes de produtividade,

121

Todavia, durante as investigações alguns entrevistados e outros integrantes dos

departamentos de P&D e Produção (durante a atividade de observação) fizeram

sugestões e colocaram ideias que possibilitariam aumento na velocidade de

processamento no DNP, maior qualidade (menores perdas, redução do retrabalho),

aumento da disponibilidade das máquinas e equipamentos (pela redução do tempo de

máquinas paradas) e até mesmo redução de custo do produto.

A discussão sobre esse tema, naturalmente levantaria questões relativas aos

motivos pelos quais essas inovações ainda não teriam sido implementadas, uma vez

que, em sua grande maioria, são sugestões de membros do processo e que trariam

resultados para a organização.

Aparentemente, a resposta pode ser encontrada na proposta desta dissertação, isto

é, entende-se que seria necessário ter metodologia de inovação para aproveitar essas

ideias, de modo que sua ausência é um dos fatores que teria limitado a possibilidade de

desenvolvimento e aplicação dessas ideias mencionadas.

Empresas que adotam metodologia de inovação, normalmente disponibilizam

canais de comunicação abertos para que qualquer funcionário da empresa possa dar

sugestões e ideias. Quando se trata de processos, essas ideias e sugestões são então

analisadas, discutidas e estudadas pela equipe de gestão de processos, a fim de se

verificar sua aplicabilidade ao modelo (Albuquerque, 2012).

Já empresa investigada, não foram encontrados canais disponíveis para sugestões

e ideias. Percebeu-se que muitas sugestões e ideias consideradas importantes pelos

próprios gestores de departamento, ficam perdidas, à espera que alguém, algum dia, as

transformem em projeto de melhoria. Por não contar com metodologia de inovação, na

empresa investigada, as ideias e sugestões que, por ventura, se desenvolvem, acabam na

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vala comum de projetos de melhorias, na fila à espera de aprovação da direção da

empresa.

A respeito das oportunidades encontradas, destacam-se, a seguir, alguns exemplos

que ilustram o potencial de inovações no processo de DNP.

Oportunidade de inovação 1: estabelecer a modelagem do processo de DNP,

envolvendo as áreas de P&D e produção.

Essa é a principal e mais importante inovação, na visão do pesquisador. É

fundamental para que outras inovações no departamento de P&D sejam criadas e

implementadas sistematicamente, num ciclo contínuo de inovações incrementais e até

mesmo radicais, conforme aponta o referencial teórico (Gonçalves, 2000a).

Como relatado anteriormente, há evidentes problemas de alinhamento e

entendimentos essas duas em relação ao produto a ser desenvolvido, às necessidades do

cliente, também ao processo produtivo de um determinado artigo. Em consequência

dessa falta de alinhamento e planejamento conjunto, ocorrem tempos de espera para

decisões e ações, paradas não programadas decorrentes de ajustes, os altos volumes de

retrabalhos, perdas de materiais, entre outras perdas não levantadas, além de problemas

de qualidade em produtos e amostras entregues a clientes.

Para reverter esses acontecimentos, identificou-se que a principal solução seria a

integração e sincronia entre os processos de P&D e produção, que é considerado um

mecanismo estratégico por Gerwin (1993). Sugere, ainda, esse autor, que, por meio

dessa integração, a participação da manufatura não se restringiria, apenas, à execução,

mas a um membro participante das decisões a respeito do novo produto, com de

funcionalidade, características e desempenho, e também do processo de P&D.

Argumentam ainda que, por meio desse método, os problemas na manufatura podem ser

minimizados. Por exemplo, reduzindo-se o número de características desejadas para o

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123

produto evitam-se efeitos adversos na produção. Além disso, a manufatura pode

fornecer ideias, adiantar testes e experimentos, ter um entendimento mais próximo das

necessidades do cliente e, além disso, aspectos fundamentais como qualidade e custos

podem ser previamente estudados, uma vez que “a maior parcela do custo e da

qualidade de um novo produto são definidos em seu estágio de conceituação. Debates

sobre novas tecnologias e conceitos de novos produtos ocorrem antes do planejamento

do produto” Gerwin (1993, p. 125).

Por meio dessa inovação, acredita-se, a empresa poderia atingir resultados

superiores em disponibilidade, qualidade e performance das pessoas e das máquinas,

possibilitadas por maior qualidade nos desenvolvimentos, menor quantidade de

retrabalhos, redução dos tempos de espera e de paradas e aumento da velocidade do

processo. Isso seria possível, porque segundo Gerwin (1993), o sincronismo entre P&D

e Produção proporcionaria: planejamento prévio sobre capacidades e limitações, onde as

reflexões e ações são mais preventivas do que corretivas; planejamento prévio do

produto: alternativas produtivas e de matéria prima podem ser avaliadas com mais

critério e precisão; adiantar necessidades de novas capacidades e habilidades da

manufatura; entendimento mais preciso das necessidades do cliente analisadas à luz das

capacidades e limitações da produção, onde restrições são avaliadas previamente.

Acredita-se, ainda, que uma vez implementada, essa inovação possibilitaria a

concepção de outras novidades, como estabelecimento dos novos processos e novas

maneiras de realizar as atividades de DNP. A seguir, alguns exemplos:

1. criar processo de planejamento da demanda de DNP (reserva de capacidades em

produção; reserva de capacidade no DNP) – descrever como e hoje e como ficaria;

2. criar processo de planejamento do produto (entendimento em conjunto dos requisitos e

especificações do produto; necessidade de novas matérias primas);

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3. criar processo de planejamento do processo produtivo e de amostra de produção

(entendimento sobre capacidades e limitações do processo produtivo; entendimento

sobre dificuldades de operação, necessidades especiais etc.);

4. criar processo de planejamento sobre expectativa de custos: com base no entendimento

sobre as dificuldades de produção, pode-se estimar com maior fidelidade as perdas

previstas (em disponibilidade – setup; qualidade e performance).

Oportunidade de inovação 2: estabelecimento do processo padrão de DNP.

Percebe-se claramente que, entre as diferentes equipes que trabalham com DNP

na empresa, existem diferentes práticas e métodos para executar as atividades

pertinentes ao trabalho de DNP. Durante o processo investigativo, foi observada uma

demanda por um novo produto sendo executada por duas equipes diferentes e cada uma

adotou uma prática diferente da outra e os resultados foram completamente diferentes,

tanto em termos de produto, como de custos e também de prazo.

Esse caso específico se iniciou em 2014, quando um cliente do mercado de moda

solicitou à empresa que desenvolvesse um produto similar ao produto importado que

esse cliente vinha consumindo. Trata-se de uma matéria-prima que será usada por esse

cliente que atua no mercado de moda. Solicitou, no entanto, algumas características um

pouco diferentes, melhoradas, em relação ao produto importado. O desenvolvimento na

visão da equipe de tecnologia era complexo.

A primeira equipe se debruçou sobre o projeto e, após 6 meses de tentativas, o

cliente ainda não estava satisfeito com os resultados. O projeto foi passado então para

uma segunda equipe, que atua, frequentemente, com outros mercados a não ser os de

moda. Essa segunda equipe, adotando uma abordagem completamente diferente da

primeira quanto ao processo de desenvolvimento de um novo produto, logrou entregar a

primeira amostra ao cliente 30 dias depois de receber a encomenda. O resultado foi

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aprovado pelo cliente com algumas ressalvas, isto é, pequenos pontos que deveriam ser

corrigidos. Em aproximadamente mais 10 dias, o produto ficou pronto e foi

homologado pelo cliente, que, em seguida, efetuou pedido para a compra de lotes em

escala industrial. Além do prazo extremamente mais curto e da precisão maior, o custo

do produto desenvolvido ficou consideravelmente inferior ao da primeira equipe.

Percebe-se, por esse caso, que não há um padrão estabelecido na empresa para o

processo de desenvolvimento de um novo produto. Tampouco há alguma equipe que se

dedique a estudar esses processos e introduza melhorias ou novas concepções.

Trata-se de um uma oportunidade típica de inovação, que seria feita por meio de

imitação, por um benchmarking interno com a segunda equipe.

O processo adotado pela segunda equipe poderia ser mapeado, detalhado e

replicado para as demais equipes. Seria uma novidade para demais equipes, uma nova

maneira de processar os desenvolvimentos de novos produtos, com evidentes ganhos

em velocidade, redução de perdas e redução de custos.

Segundo Ding e Eliashberg (2002), há vários métodos e abordagens que podem

ser usadas para o desenvolvimento de um novo produto. O que importa, argumentam os

autores, é que a empresa consiga definir o modelo mais adequado para sua realidade, de

modo que satisfaça as necessidades do seu cliente. Nessa perspectiva, acredita-se que a

empresa investigada poderá se utilizar de exemplos internos de sucesso e criar seu

método baseado nessas experiências de sucesso.

Outras possibilidades de inovações também foram consideradas. Considera-se que

uma vez que o processo de DNP esteja modelado, isto é, configurado por processos e

gerido por processos, várias outras oportunidades podem ser aplicadas ao processo, de

modo que resultem em ganhos de produtividade, a saber:

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126

Oportunidade de inovação 3: processo de consulta a banco de dados para lições

aprendidas em projetos passados.

Conforme apontam Ding e Eliashberg (2002), as experiências com produtos atuais

e passados podem fornecer ideias importantes sobre características para novos produtos.

A ideia consiste em registrar, armazenar e utilizar lições aprendidas com acertos,

erros e falhas de projetos para serem consultados preventivamente em projetos futuros.

No modelo de processo do DNP, acrescentar-se-ia essa atividade, cujo objetivo

principal é reduzir erros, falhas, tempos perdidos e aumentar a velocidade no processo

por meio de planejamento eficaz, isso aumentando a disponibilidade e tempo, a

qualidade e a performance do processo.

Oportunidade de inovação 4: estabelecimento de atividades de acompanhamento

do DNP

Como levantado na pesquisa, a ausência de acompanhamento da equipe de DNP,

durante o processo de produção da amostra em produção, resulta em perdas de

velocidade, qualidade e performance. Essa oportunidade visa reduzir essas perdas.

A ideia consiste em pelo menos um membro da equipe responsável por aquele

projeto específico, acompanhar todas as etapas do DNP, possibilitando orientações e

tomada de decisões mais rápidas e precisas.

Oportunidade de inovação 5: estabelecer processo de fechamento dos projetos

com apontamento e contabilização dos problemas ocorridos no processo de DNP.

Na pesquisa realizada, notou-se que havia poucos dados relativos às perdas

causadas pela ineficiência do processo de DNP. A ideia consiste em estabelecer

processo de fechamento dos projetos com apontamento das ineficiências (horas paradas

e motivos; perdas de materiais e motivos; retrabalhos e motivos; atrasos e motivos etc.),

para posterior contabilização e atividade de análise dos dados e compartilhamento.

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Atividades posteriores para identificação e correção das causas seriam estabelecidos e

comporiam o processo. Em seguida, os resultados seriam arquivados no banco de dados

proposto pela oportunidade de inovação 3.

O objetivo é criar um processo sistemático de melhoria contínua do próprio

departamento de P&D.

Oportunidade de inovação 6: filtros de entrada para aumentar a velocidade do

processo (performance)

2.1 – Filtro para custo objetivo: essa ideia se baseia na constatação de que, no

processo atual, as amostras são desenvolvidas em laboratório e, em seguida, têm seu

custo calculado. Ambos são enviados aos vendedores que o levam ao cliente.

Normalmente o cliente rejeita o custo e o produto precisa ser novamente desenvolvido.

Só então o DNP passa a saber o nível de custo que precisa atingir.

A ideia é alterar o processo para que no cadastro da solicitação de DNP, o

vendedor informe um custo objeto, sobre o qual será desenvolvido o produto.

Acredita-se que, dessa forma, evitar-se-iam retrabalhos e tempos de espera por

respostas do cliente.

2.2. - Uso de Pantone® como padrão de cor e do equipamento

“espectrofotômetro” para agilidade no desenvolvimento de cores.

A empresa adota hoje sistema próprio de classificação de cores. O sistema

Pantone® é um sistema mundialmente reconhecido para classificação e padronização de

cores. A empresa tem vários exemplares de Pantone®. A ideia consiste em utilizar as

cores do Pantone® como referência para o padrão de cores da empresa. Assim, o

processo atual seria alterado para uma função que verifica, via equipamento chamado

“espectrofotômetro”, que já existe disponível na empresa, para identificação das cores

das amostras e direcionamento para o banco de dados correspondente àquela cor. Isso

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evitaria o desenvolvimento de cores já desenvolvidas anteriormente e facilitaria o

trabalho de desenvolvimento de uma cor ainda não existente, partindo-se de uma

indicação do referido equipamento.

2.3. Filtro para identificar real necessidade do cliente

Conforme apurado no estudo de caso, há problemas com informações sobre o

produto a ser desenvolvido e sobre as reais necessidades do cliente. “O vendedor não

sabe pedir para o DNP o cliente quer. Muitas vezes você faz uma amostra e não era isso

o que o cliente queria, ou o preço ficou fora” (Entrevista 5)

Diante dessa evidência, o processo poderia ser modificado para que o DNP tivesse

maior proximidade com o cliente, a fim de compreender com maior precisão suas reais

necessidades. As atividades poderiam contemplar uma ligação para o cliente ou para o

vendedor para confirmação, e ou esclarecimentos sobre a solicitação de DNP.

Acredita-se que muitos produtos que não atendem as necessidades de clientes

atualmente, ou que são retrabalhados por aspectos como preço ou qualidade, poderiam

ser evitados através dessa triagem.

Oportunidade de inovação 7: Software para simulação e agilizar solicitação de

custos. Intenção é aumentar a velocidade do processo (performance).

Essa ideia parte da premissa de que o DNP terá o custo objetivo já definido

através de informações mais precisas, advindas de inovações anteriores.

Atualmente ao desenvolver um produto, o departamento responsável pelo DNP,

isto departamento de P&D, solicita ao departamento de custos o cálculo do custo do

produto em desenvolvimento. Esse processo pode levar até 3 dias, desde a solicitação

até a resposta para o cliente. Esse fato ocorre porque, após a criação da engenharia para

o produto, a equipe de DNP envia as informações referentes à essa engenharia para o

departamento de custos, a fim de este realize os cálculos de custeio. Depois de

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calculado, o setor de custos devolve para a equipe de DNP a informação do valor de

custo unitário. Frequente é necessário ajustar a engenharia para ajustar o custo do

produto à valores inferiores, o que por sua vez, resulta que todo esse trabalho seja

realizado novamente.

A ideia consiste na aquisição ou desenvolvimento de software ou planilha, o qual

a equipe de DNP possa utilizar para realizar a simulação de custos durante a fase de

planejamento da engenharia do produto, e assim, evitar tempos de espera pelo cálculo.

Notoriamente, o processo ganhará velocidade de processamento.

Entende-se como presumível que a introdução desse conjunto de inovações, bem

como de tantas outras inovações que podem surgir, possibilitariam ganhos de

produtividade por meio dos seguintes fatores:

• Aumento da disponibilidade: redução de tempos de espera; eliminação de

tarefas redundantes; redução de tempo improdutivo ou parado, em máquinas de

produção e equipes; aumento do tempo disponível para novos desenvolvimentos pela

redução volume de retrabalho do DNP, que não precisaria mais corrigir DNP com

problemas ou não aprovados)

• Aumento da qualidade (maior precisão reduz problemas com desvios de

qualidade dos protótipos entregues para o cliente; reduz retrabalhos);

• Aumento da performance: maior velocidade de processamento em virtude de

atividades planejadas ao invés de corretivas; redução de erros e falhas somadas a menor

volume de retrabalhos trarão maior velocidade ao processo)

• Redução de custos (redução de perdas de materiais; reduz volume de trabalho

com atividades de correção, inclusive de outros departamentos, como o de processos de

produção, e produção).

A tabela 5 faz uma síntese das oportunidades de inovação identificadas

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Tabela 5

Síntese das oportunidades de inovação identificadas no estudo de caso

Oportunidade de inovação Justificativa Referências

1: estabelecer a modelagem do processo de DNP, envolvendo as áreas de P&D e produção

A intenção é eliminar problemas de alinhamento e entendimentos as duas áreas, reduzindo tempos de espera para decisões e ações, paradas não programadas decorrentes de ajustes, diminuir os altos volumes de retrabalhos e perdas de materiais, além de problemas de qualidade em produtos e amostras entregues a clientes.

(Albuquerque, 2012; Gonçalves, 2000a; Gerwin, 1993)

2: estabelecimento do processo padrão de DNP

A ideia é adotar como método padrão o método da equipe com maior produtividade. eficiente. Cada equipe realiza seu próprio processo com seus próprios métodos, cada qual com velocidade e qualidade diferentes.

(Ding & Eliashberg; 2002; Gerwin, 1993)

3: processo de consulta a banco de dados para lições aprendidas em projetos passados

A ideia consiste em registrar, armazenar e utilizar lições aprendidas com acertos, erros e falhas de projetos para serem consultados preventivamente em projetos futuros

(Ding & Eliashberg; 2002; Gerwin, 1993)

4: estabelecimento de atividades de acompanhamento do DNP

A ausência de acompanhamento da equipe de DNP, durante o processo de produção da amostra em produção, resulta em perdas de velocidade, qualidade e performance. Essa oportunidade visa reduzir essas perdas.

(Ding & Eliashberg, 2002; Gerwin, 1993; Huang et al., 2003)

5: estabelecer processo de fechamento dos projetos com apontamento e contabilização dos problemas ocorridos no processo de DNP

A ideia consiste em estabelecer processo de fechamento dos projetos com apontamento das ineficiências (horas paradas e motivos; perdas de materiais e motivos; retrabalhos e motivos; atrasos e motivos etc.), para posterior contabilização e atividade de análise dos dados e compartilhamento. Atividades posteriores para identificação e correção das causas seriam estabelecidos e comporiam o

(Contador, 1994; Albuquerque, 2012; Gonçalves, 2000a)

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processo.

6: filtros de entrada para aumentar a velocidade do processo

A intenção é reduzir tempo utilizado nas primeiras fases do desenvolvimento de novos produtos e aumentar a velocidade de algumas etapas

(Contador, 1994)

7: Software para simulação e agilizar solicitação de custos. Intenção é aumentar a velocidade do processo

A intenção é reduzir tempo utilizado nas primeiras fases do desenvolvimento de novos produtos e aumentar a velocidade de algumas etapas

(Contador , 1994)

Compreende-se que, assim como essas oportunidades foram identificadas,

diversas outras poderão emergir. Contudo, para que isso ocorra, deve haver um olhar

crítico sobre as atividades que compreendem cada etapa do processo de

desenvolvimento de um novo produto. Esse olhar crítico só pode ser realizado,

entretanto, se houver clareza e facilidade de visualização do processo como um todo e

uma compreensão nítida, em detalhes, de cada etapa e atividade, para que assim, possa

ser criteriosamente estudado em seus detalhes. É exatamente disso que trata a gestão de

processos. Foi evidenciado, tanto no referencial teórico, como na investigação empírica

dessa dissertação, que sem metodologia de gestão de processos, essa possibilidade não

se mostra plausível.

Ocorrem inovações e melhorias obviamente, porém, não necessariamente nas

atividades mais críticas, ou em pontos de estrangulamento. Tampouco, ocorrem de

forma sistemática e consistente. É nesse ponto que a gestão de processos representa seu

principal papel nesse trabalho.

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5 – CONCLUSÃO

Buscou-se no presente trabalho, investigar como as inovações em processos

podem ser utilizadas como instrumento de ganhos de produtividade empresarial. Partiu-

se da ideia de que tanto inovação como produtividade são temas de fundamental

importância para as empresas.

O referencial teórico sobre inovações em processos deixou bastante claro que esse

tipo de inovação de fato pode proporcionar ganhos de produtividade, na medida em que

pode contribuir para aumentar a performance, a disponibilidade e a qualidade nos

processos empresariais. Está nítido, entretanto, que incrementos de produtividade

ocorrem a longo prazo e, para que possa sustentar ganhos consistentes e resultados

relevantes, algumas condições devem ser atendidas.

Uma delas é sobre a inovação, que deve ser tratada de forma sistemática e

estruturada, isto é, deve ter método e ser encarada como um processo e não como

evento isolado. É necessário que tenha constância e disciplina, formando ciclos que se

iniciam com fomento a novas ideias e culminam com sua implantação. Dessa forma,

deve ter todo o seu processo manipulado e gerenciado para garantir os resultados É

necessário método que consiga suscitar ideias, analisa-las, desenvolve-las e

implementa-las. Esse conjunto de premissas significa que é imprescindível adotar

metodologia de inovação.

O referencial teórico também sugere que métodos de inovação podem induzir a

geração de ideias para uma finalidade específica, como por exemplo, eliminação de um

gargalo ou uma forma mais fácil de realizar uma atividade. Contudo, parece evidente

não ser função da metodologia de inovação a identificação desses gargalos ou dessas

atividades a serem facilitadas. Tampouco é função da metodologia de inovação, a

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133

identificação de processos essenciais ou críticos para a organização, nem mesmo os que

precisam de melhorias. A função da metodologia de inovação parece ser exclusivamente

dedicada a explorar ideias, desenvolve-las e aplica-las. Para quais processos ou

atividades as inovações devem ser direcionadas, não compete ao método de inovação.

Sem saber exatamente para quais processos as inovações deveriam ser canalizadas

para trazer resultados significativos, a empresa poderia alocar recursos de forma

desorientada, em processos não essenciais ao seu negócio. Isto é, processos não

essenciais poderiam ser contemplados com recursos (fruto de projetos de inovação), em

detrimento dos processos mais críticos para o desempenho da empresa, os quais

poderiam ser naquele momento, os que mais necessitavam de inovações.

Buscou-se, então, no referencial teórico, métodos para fazer a ligação entre a

metodologia de inovação e a identificação dos “processos certos”. A resposta

encontrada no referencial teórico para preencher essa lacuna foi que, para que as

inovações em processos ocorram de forma sistemática e direcionadas para os “processos

certos”, a fim de gerar resultados de produtividade consistentes no longo prazo, a

organização deve utilizar além de metodologia de inovação, metodologia de gestão de

processos.

Argumenta-se na literatura que não se faz inovações em processos de forma

sistemática e eficaz sem consistente gestão dos processos. Este último se trata de

método utilizado para modelar (desenhar), gerir e remodelar quando necessário os

processos da empresa, permitindo a visualização de forma clara de todos os processos

da empresa e das atividades que compõe cada um deles.

É premissa da gestão de processos identificar e mapear os processos essenciais e

críticos em toda a organização, além de identificar aqueles que são gargalo e

estrangulam todo o sistema organizacional.

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134

Claramente, a combinação das duas metodologias sugere ser uma ferramenta com

enorme potencial de geração de produtividade empresarial.

Sobre produtividade empresarial, o referencial teórico se mostrou bastante lógico

ao pesquisador ao sintetizar em três categorias os fatores que afetam esse item, que são

disponibilidade, performance e qualidade, relacionados respectivamente à utilização

eficaz do tempo, à velocidade e à qualidade do trabalho executado. Está nítido que esses

fatores estão intimamente ligados à produção dos outputs (saídas) de um processo, isto

é, o quanto um processo produz e entrega estaria relacionado diretamente à estes três

fatores.

Diante do exposto, mostrou-se coerente a lógica adotada pelo pesquisador, que é

seguinte: a gestão de processos identifica os processos certos e a metodologia de

inovação promove a geração de ideias direcionadas para melhorar cada um dos três

fatores relacionados à produtividade desses processos (disponibilidade, performance e

qualidade) e as implementa através de projetos de inovação. Inovações sistemáticas nos

processos elevariam a produtividade de cada processo essencial, um após o outro, e

sucessivamente elevariam a produtividade da organização.

Com base nessas constatações, foi possível analisar como as inovações em

processos podem ser utilizadas como instrumento de ganhos de produtividade, e

também entender o papel que a gestão de processos representa nesta relação.

Através do estudo de caso se buscou analisar com maior profundidade as relações

propostas nesta dissertação e identificar a possibilidade de aplicabilidade prática dos

conceitos analisados.

Ficou claro por meio desse estudo que a ausência de metodologia estruturada de

inovação resulta em perdas de oportunidades, uma vez que se identificou que há

inúmeras ideias espalhadas pela organização, à espera de uma oportunidade, que

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135

dificilmente terão. Ficou nítido que sem método estruturado de inovação, muitas ideias

potencialmente promissoras nem chegam a ser analisadas, muito menos desenvolvidas e

implementadas.

Ademais, a quantidade de ideias com potencial de solução de um problema ou de

novas oportunidades fica limitada à quantidade de funcionários do próprio

departamento, uma vez que não há mecanismos para estimular e captar ideias externas

ao departamento.

Além disso, tornou-se evidente que mesmo quando uma ideia considerada “boa” é

captada e analisada, há dificuldades em desenvolvê-la, devia a ausência de método para

tal finalidade, e mesmo quando ocorre o desenvolvimento da ideia e a esta se transforma

em projeto, podem ocorrer falhas previsíveis, como foi evidenciado no estudo de caso,

de problemas devido às falhas de comunicação.

Parece evidente, perante os fatos encontrados, que sem metodologia, inovações se

tornam eventos isolados, isto é, não passíveis de gerenciamento e controle de modo a

influenciar os resultados. Sem método, portanto, inovações em processos,

aparentemente podem não cumprir a função de elevar produtividade. Perde-se, portanto,

a oportunidade de implementar processos mais eficazes, mais flexíveis e mais

produtivos.

Em relação aos processos, não parece exagero afirmar que o estudo de caso

confirma o que foi identificado no referencial teórico, isto é, de que sem gestão de

processos, dificilmente há definições claras quanto às entradas, as saídas, e

principalmente, quanto às atividades que compõe cada processo. Isto significa que a

compreensão dos processos parece não ser clara para todos e dificilmente há modelos

esquemáticos e visuais que representem o processo como um todo. Fica claro também, a

ausência de mapeamento e modelagem das atividades, o que resulta visivelmente em

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desconexão entre as partes que as compõe. Ocasiona falta de alinhamento e de

entendimento de todo o conjunto e fluxo de atividades, bem como das necessidades e

entregas de cada um.

Sem compreensão profunda de todo o processo, torna-se difícil identificar os

processos e atividades essenciais e críticos para a organização. Parece também bastante

claro que dessa maneira, os “processos certos” dificilmente serão contemplados com as

inovações necessárias para causar impactos relevantes de aumento de produtividade

para a organização. Dessa forma, inovações em processos, aparentemente produziriam

resultados inexpressivos em produtividade.

A produtividade por sua vez, é impactada fortemente pelos fatores

disponibilidade, performance e qualidade, conforme mostrou o estudo de caso.

Utilização ineficaz do tempo, isto é, tempos de espera, pessoas e equipamentos

parados, ou então utilizando tempo para consertar falhas ou realizar retrabalhos, geram

indisponibilidade de tempo para produzir.

Velocidade, por sua vez, significa entregar um trabalho em maior ou menor

tempo. Conforme apurou o estudo de caso, equipes do departamento de P&D

entregaram o mesmo projeto em tempos diferentes. Isto significa produzir mais, com o

mesmo recurso, no caso, o tempo.

Já qualidade demostrou ser também impactante, conforme se demonstrou no

estudo de caso, que problemas de qualidade ocasionam retrabalhos, como os retrabalhos

do DNP que o estudo de caso apontou. Retrabalhos consomem tempo que seria usado

para novos produzir trabalhos. Problemas de qualidade quando enviados a clientes,

conforme também apontou o estudo de caso, podem ocasionar devoluções de clientes ou

mesmo descontos de preço.

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Sugere-se que esses três fatores poderiam ter seus índices elevados no

departamento de P&D da empresa estudada com a introdução de inovações no processo

de DNP, conforme apresentado no estudo de caso.

Entende-se, assim, que inovações em processos poderiam ser introduzidas

sistematicamente no departamento de DNP, contribuindo para elevar sua produtividade,

caso a empresa adotasse ambas as metodologias: inovação e gestão de processos.

O Estudo de caso evidenciou que a empresa investigada não adotava nenhum

processo estruturado de inovação, nem tampouco gestão de processos.

Este fato, nitidamente dificulta ganhos expressivos de produtividade, razão pela

qual, nesta dissertação, recomenda-se fortemente a adoção dos dois métodos

anteriormente citados para que a organização possa se beneficiar de ganhos consistentes

de produtividade a longo prazo.

Recomendações

A proposta deste estudo de investigar as relações entre inovação em processos e

ganhos de produtividade demonstrou ser consistente, porém, ainda se considera

necessário aprofundamento por meio de futuras pesquisas. Recomenda-se, portanto,

investigações posteriores sobre esses temas, de modo que possibilitem confirmar ou

contradizer os achados da presente dissertação. Sugere-se ainda, pesquisas envolvendo

outros processos de negócios e também outros tipos de empresas, de outros setores da

economia.

Adicionalmente vale recomendar estudos que possibilitem comparar o uso de

inovações em processos com outros mecanismos para ganhos de produtividade, tais

como metodologias Six Sigma, Total Qualit Managment (TQM) ou Filosofia Lean

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(Lean Thinking, Lean Manufacturing, Lean Office) a fim de lançar luz sobre as

vantagens e desvantagens de utilização de um ou outro método.

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139

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152

APÊNDICES

APÊNDICE A

Roteiro de entrevista semi-estuturada

1. Me fale um pouco sobre a empresa, de uma forma geral. Como você a vê?

2. Como você a descreveria?

3. Como o cliente/mercado vê a empresa, em sua opinião?

4. Como a empresa lida com a dinâmica de um mercado turbulento, em mudanças?

5. Me fale um pouco sobre a rentabilidade da empresa?

6. O que impede a empresa de ser mais competitiva ou de ter maior rentabilidade?

7. Se você fosse o CEO da empresa, como você a tornaria mais competitiva?

8. O presidente diz que a empresa está empresa inchada, pesada. Em sua opinião, por que

ele enxerga a empresa assim? E qual sua opinião sobre isso?

9. O que onera o custo de operação da empresa?

10. Explique um pouco sobre a lógica do fluxo de trabalho na empresa, desde a entrada de

um pedido até a entrega ao cliente?

11. Explique-me um pouco sobre os processos de tomada de decisões na empresa?

12. Fale-me um pouco sobre o processo de melhoria contínua?

13. Em que as pessoas são focadas?

14. Sobre liderança, me fale sobre os líderes da empresa (como são preparados; no que

focam; como conduzem suas áreas?).

15. Como é o relacionamento entre as áreas na empresa?

16. E o processo de planejamento estratégico?

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17. Como as pessoas agem para garantir que seu papel na estratégia da empresa seja

cumprido?

18. Como as pessoas agem para melhorar os processos-chave da empresa?

19. Como os as áreas se relacionam para proporcionar a melhor entrega ao cliente?

20. Quais são as áreas e processos mais críticos da empresa, em sua opinião?