informes - dezembro de 2013

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1 Balanço da V Conferência e do IV Congresso Realizamos, num processo combinado, a nos- sa V Conferência Nacional do MES e nossa interven- ção no IV Congresso do PSOL. Nossa Conferência precedeu o Congresso do Partido, discutindo temas relacionados a este, porém, transcendo o debate das táticas internas ao PSOL. Reunimos durante dois dias em Brasília, no Distrito Federal, mais de 50 delegados, representando a militância de 18 estados. Também esteve presen- te representando o MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores) argentino, nossa organização irmã neste país, o companheiro Maradona, reafirmando a tradição internacionalista da corrente. Os debates foram ricos e expressaram - nos documentos construídos e debatidos internamente - a nossa localização privilegiada após as Jornadas de Junho. Ao discutirmos a nova situação que se abre reafirmarmos o legado da nossa corrente e da constru- ção do PSOL. Dez anos após o protagonismo no pro- cesso de ruptura com o PT, revalidamos a importância do PSOL, partido com sentido estratégico, pela sua condição viva e por ser um projeto de reagrupamen- to de forças sociais. Embora vivendo sua constante tensão entre posições revolucionárias e reformistas, o partido segue refletindo as tendências mais progres- sistas do movimento de massas. A possibilidade do PSOL alcançar influência de massas no processo mais avançado da luta de classes no país, o Rio de Janeiro, e sua condição em várias cidades e regiões do Brasil, mostram a força do partido, e seu potencial nos colo- cam novas responsabilidades. A crise interna, resultado da política buro- crática do campo Unidade Socialista, não pode fazer perder de vista o tamanho do espaço do PSOL en- quanto alternativa para a nova geração de lutadores que recém desperta à luta política. Isso foi importante para balizar nossas definições de conjunto. Ou seja, estamos na disputa do PSOL, de corpo e alma, com esses critérios objetivos: combate à burocracia, defe- sa do patrimônio comum do programa e do perfil do partido e uma sólida aliança interna com os setores que representam o polo avançado do nosso projeto, os companheiros do Rio de Janeiro, a começar por Marcelo Freixo. Ao mesmo tempo, contra qualquer posição abstencionista no interior do partido estamos entre aqueles que disputa protagonismo na sua dire- ção tanto internamento quanto aos olhos do movi- mento de massas, não abrindo mão, portanto, de ser a cara do PSOL, o que implica em levar o partido para o dia a dia das lutas, dos locais de trabalho e estudo, e também em nos apresentar nos processos eleitorais, buscando ocupar todos os espaços que nossas forças permitam para representar o PSOL. O outro ponto central de nossa discussão foi a necessidade de ampliar o nosso enraizamento so- cial. As jornadas de junho mostraram que apenas es- truturados nos setores sociais decisivos poderemos avançar num ritmo maior de enfrentamentos à classe dominante e seus agentes. Neste caso, temos o bom exemplo da política ampla da Juventude Juntos! - ex- periência que estamos realizando como juventude revolucionária independente. Nossos acertos devem impulsionar um novo salto na juventude, buscando se integrar com a realidade das escolas, centrando forças no movimento secundarista. Votamos um giro priori- tário às categorias organizadas de trabalhadores, re- forçando nosso incipiente trabalho sindical. Para dar conta da tarefa do enraizamento não basta restringirmos às nossas próprias forças, num crescimento linear. Para tanto, se votou a necessidade de construir alianças no terreno do movimento social, com frentes e unidades de ação. No terreno sindical, votamos a construção de um diálogo com militância sindical com vistas ao ingresso na CSP - Conlutas, sem perder o diálogo com setores cutistas que estão enfrentando a burocracia - o caso mais conhecido é o da corrente cutista CUT Pode Mais. No campo da luta política mais geral, vamos entrar na campanha impulsionada por setores vinculados à esquerda da Igreja, ao MST e a Consulta Popular, do plebiscito pela Assembleia Nacional Constituinte. Ainda que não tenhamos acordo com várias destas organizações, correntes e movimentos, é importante construir pon- tes, são setores com peso real no movimento social e agrupam importante vanguarda militante. Vamos construir esse plebiscito em unidade de ação. No terreno eleitoral, vamos disputar a eleição

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Circular do Movimento Esquerda Socialista (MES)

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Balanço da V Conferência e do IV Congresso

Realizamos, num processo combinado, a nos-sa V Conferência Nacional do MES e nossa interven-ção no IV Congresso do PSOL. Nossa Conferência precedeu o Congresso do Partido, discutindo temas relacionados a este, porém, transcendo o debate das táticas internas ao PSOL. Reunimos durante dois dias em Brasília, no Distrito Federal, mais de 50 delegados, representando a militância de 18 estados. Também esteve presen-te representando o MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores) argentino, nossa organização irmã neste país, o companheiro Maradona, reafirmando a tradição internacionalista da corrente. Os debates foram ricos e expressaram - nos documentos construídos e debatidos internamente - a nossa localização privilegiada após as Jornadas de Junho. Ao discutirmos a nova situação que se abre reafirmarmos o legado da nossa corrente e da constru-ção do PSOL. Dez anos após o protagonismo no pro-cesso de ruptura com o PT, revalidamos a importância do PSOL, partido com sentido estratégico, pela sua condição viva e por ser um projeto de reagrupamen-to de forças sociais. Embora vivendo sua constante tensão entre posições revolucionárias e reformistas, o partido segue refletindo as tendências mais progres-sistas do movimento de massas. A possibilidade do PSOL alcançar influência de massas no processo mais avançado da luta de classes no país, o Rio de Janeiro, e sua condição em várias cidades e regiões do Brasil, mostram a força do partido, e seu potencial nos colo-cam novas responsabilidades. A crise interna, resultado da política buro-crática do campo Unidade Socialista, não pode fazer perder de vista o tamanho do espaço do PSOL en-quanto alternativa para a nova geração de lutadores que recém desperta à luta política. Isso foi importante para balizar nossas definições de conjunto. Ou seja, estamos na disputa do PSOL, de corpo e alma, com esses critérios objetivos: combate à burocracia, defe-sa do patrimônio comum do programa e do perfil do partido e uma sólida aliança interna com os setores

que representam o polo avançado do nosso projeto, os companheiros do Rio de Janeiro, a começar por Marcelo Freixo. Ao mesmo tempo, contra qualquer posição abstencionista no interior do partido estamos entre aqueles que disputa protagonismo na sua dire-ção tanto internamento quanto aos olhos do movi-mento de massas, não abrindo mão, portanto, de ser a cara do PSOL, o que implica em levar o partido para o dia a dia das lutas, dos locais de trabalho e estudo, e também em nos apresentar nos processos eleitorais, buscando ocupar todos os espaços que nossas forças permitam para representar o PSOL. O outro ponto central de nossa discussão foi a necessidade de ampliar o nosso enraizamento so-cial. As jornadas de junho mostraram que apenas es-truturados nos setores sociais decisivos poderemos avançar num ritmo maior de enfrentamentos à classe dominante e seus agentes. Neste caso, temos o bom exemplo da política ampla da Juventude Juntos! - ex-periência que estamos realizando como juventude revolucionária independente. Nossos acertos devem impulsionar um novo salto na juventude, buscando se integrar com a realidade das escolas, centrando forças no movimento secundarista. Votamos um giro priori-tário às categorias organizadas de trabalhadores, re-forçando nosso incipiente trabalho sindical. Para dar conta da tarefa do enraizamento não basta restringirmos às nossas próprias forças, num crescimento linear. Para tanto, se votou a necessidade de construir alianças no terreno do movimento social, com frentes e unidades de ação. No terreno sindical, votamos a construção de um diálogo com militância sindical com vistas ao ingresso na CSP - Conlutas, sem perder o diálogo com setores cutistas que estão enfrentando a burocracia - o caso mais conhecido é o da corrente cutista CUT Pode Mais. No campo da luta política mais geral, vamos entrar na campanha impulsionada por setores vinculados à esquerda da Igreja, ao MST e a Consulta Popular, do plebiscito pela Assembleia Nacional Constituinte. Ainda que não tenhamos acordo com várias destas organizações, correntes e movimentos, é importante construir pon-tes, são setores com peso real no movimento social e agrupam importante vanguarda militante. Vamos construir esse plebiscito em unidade de ação. No terreno eleitoral, vamos disputar a eleição

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Isso é fundamental para acelerar a formação de quadros. Como parte desta tarefa vamos fazer uma ampla jornada de formação política no início deste ano, com cursos envolvendo centenas de militantes e uma escola de formadores nacional em janeiro.Votamos uma equipe de direção: A Direção Nacional (DN) da corrente é formada pela Executiva Nacional do MES, e pela Coordenação Nacional do MES, sen-do: Executiva Nacional do MES: Roberto Robai-na (RS), Pedro Fuentes (RJ), Israel Dutra (SP), Lu-ciana Genro (RS), Honório Oliveira (RJ), Mariana Riscali (SP), Mário Agra (AL), Pedro Maia (PA), En-rique Morales (DF), Frederico Henriques (RN) Coordenação Nacional do MES: Antônio Neto (RS), Etevaldo Teixeira (RS), Bernardo Corrêa (RS), Fernanda Melchionna (RS), Gabrielle Tolotti (RS), Jurandir Silva (RS), Maurício Costa (SP), Thiago Aguiar (SP), Nathalie Drumond (RJ), Rodolfo Mohr (DF), Rigler Aragão (PA), Max Costa (PA), Sara Aze-vedo (MG), Sandro Pimentel (RN), Reynaldo Costa (MA).

IV Congresso do PSOL

O Congresso do PSOL não fugiu aos nossos prognósticos. Um congresso muito difícil, sem con-dições e ambiente de discutir globalmente a política. Expressou uma das maiores contradições do Partido. O bloco que foi majoritário, a US, não tem a repre-sentatividade da maior parte das bases militantes do PSOL. Esse foi o grande dilema do congresso. E ape-sar de seu aparato desproporcional [dirigem uma capi-tal, têm Senador, vários deputados estaduais, federal, vereadores, etc.] não lograram uma maioria absoluta. Tiveram 51,5%, deixando a composição da executiva nacional em 10 a 9 para a US. Isso reflete que a base do Partido é de fato reflexo de um Partido Vivo. Cabe notar que o prazo de filiações do censo partidário era o de abril, não tocando os ativistas que se aproxima-ram do PSOL pós Junho. Isso transformou o Congres-so numa espécie de pântano, sem debates políticos, com votações truncadas. Só foi possível para a US vencer com os votos de Janira, Sidrolândia (MS) e Gurinhatã (MG). A luta política democrática Neste cenário, nosso centro foi o de empreen-der uma luta democrática, apoiando-se no PSOL mais dinâmico do Brasil, o Rio de Janeiro. Nossa atuação prioritária com Marcelo Freixo, que além de defen-der prévias, votou no nome de Luciana e participou de uma plenária nossa, foi fundamental. Também foi

de nossa primeira representação na Assembleia Le-gislativa do Rio Grande do Sul. Na luta para eleger um representante, o que seria uma grande vitória, não descartamos, embora hoje tenhamos que definir como improvável, um salto ainda maior, que seria a eleição de dois deputados. Vamos também lutar para eleger um deputado estadual no Rio de Janeiro. Trata-se de uma luta difícil, mas pela primeira vez temos uma chance real de disputar no Rio de Janeiro com um camarada da própria corrente, o professor Josemar. No Rio ainda nosso desafio será ser parte da campa-nha de Freixo. Esta necessidade responde ao fato de que somente com um estouro de Freixo o PSOL pode eleger mais deputados, e esta é a única possibilidade para entrar um do MÊS. Mas a este motivo pragmá-tico se soma um ainda mais importante: Freixo é um porta voz que deve ser exemplo para todo o PSOL, o consideramos nosso aliado estratégico e queremos fazer todos os nossos esforços para seu crescimento como figura pública. Por isso seguiremos tendo aí a participação de nosso principal dirigente carioca no eixo de sua campanha, além dos camaradas do Juntos na capital. Em outros estados vamos ter forte participa-ção eleitoral e onde for possível disputaremos com o objetivo de vencer. No Pará por exemplo faremos uma forte campanha eleitoral. Em São Paulo, além da reeleição de Giannazi, teremos nossos nomes pro-porcionais para federal e estaremos na linha de frente da campanha de Safatle. No Distrito Federal, Mara-nhão, enfim, em todo o país teremos como prioridade as eleições sobretudo a partir de maio-junho de 2014, mas nos preparando imediatamente neste sentido. Por isso logo depois da conferência fizemos uma ampla consulta e nos definimos por compor a chapa de vice--presidente com Luciana, sempre quando o programa responder às demandas de junho e forem respeitados os espaços democráticos de construção unitária da campanha. Na discussão pública nossa política está ex-pressa na carta de Luciana acerca do balanço do Con-gresso, em seu relato da reunião com Plinio de Arruda Sampaio e na proposta de programa que ela acabou de lançar refletindo as elaborações de nossa Confe-rência. Na discussão de “Balanço e perspectivas” retomamos nossas últimas conquistas e avanços, no terreno da extensão nacional, do fortalecimento da direção, do peso da juventude e da nossa maior pre-sença na batalha das ideias. Como perspectivas, além de reafirmar nosso norte internacionalista, discutimos aprofundar a formalização das instâncias e da organi-zação do próprio MES.

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importante a consolidação com Chico Alencar - que após Junho vem fazendo experiências com o setor burocrático do Partido, refletindo de forma serena os riscos que se anunciam para o PSOL.Depois de todo um dia de conflitos, com empurrões e problemas de encaminhamentos por parte do Bloco da US, só foi possível recompor o plenário pela inter-venção de Chico e Freixo junto à US, numa reunião com representantes do Bloco de Esquerda. O ponto alto da polarização foi a defesa democrática de pré-vias, com Freixo e Chico fazendo uso da palavra, ex-pondo a fissura da falta de representatividade da US. Bloco de Esquerda: limites e contradições Nossa corrente foi vanguarda, tanto na discus-são política quanto no combate às fraudes e manobras durante todo o pré-congresso. Nossos camaradas ga-rantiram a fiscalização dos interiores mais remotos, especialmente na dura batalha do Amapá, mas também em estados como o Acre, o Mato Grosso e Santa Cata-rina. Nesse período, além da defesa de nossa tese- “Por Novos levantes no Brasil” - defendemos a política de Luciana Genro presidente e buscamos impulsionar a unidade do Bloco de Esquerda. Apesar do esforço con-centrado e de uma ampla tendência na base do Partido à unidade do Bloco e à necessidade de defendermos um perfil que expressasse Junho, setores do Bloco não tiveram a mesma compreensão. Por vezes optaram por centrar seus ataques em correntes do próprio Bloco. Nos Congressos estaduais, várias chapas se apresen-taram divididas. No caso do Rio Grande do Norte, onde a Insurgência privilegiou os ataques aos MES e a LSR, somando vozes com o vereador da US; na Bahia, onde se conformou uma chapa entre Insurgência, Rosa Zumbi, inclusive com votos de delegados da US, para garantir a vitória contra a chapa da maior parte das correntes do Bloco no estado; em Minas Gerais, onde setores do Bloco realizaram um acordo com a US, ad-mitindo o credenciamento de atas questionadas, como a de Gurinhatã, permitindo a eleição de dois delegados nacionais no cálculo da fração. Tais limites e debili-dades chegaram no seu auge, na recusa em apoiar o nome de Luciana Genro como um nome de unidade para lutar pela vitória do Bloco. Isso foi grave e ajuda a explicar porque Randolfe venceu, apesar de seu nome não ter sido discutido nas plenárias de base. Nossa política no IV Congresso A realização da Conferência nos dias ante-riores e o nível de preparo político e ideológico dos nossos quadros e militância nos deu sustentação para atuar com firmeza e centralidade. Nosso ponto alto foi a defesa de uma política

- combinando o programa/perfil do nome de Luciana com a defesa do Partido. Isso nos trouxe uma im-portante unidade com setores que apoiaram Luciana - tivemos cerca de 30% da votação de todo o plená-rio. Estiveram conosco Freixo, TLS, CST, LSR, Raul Marcelo/ 1 de Maio, Toinha, ELA. Fomos os campeões da defesa de Junho e da “Primavera Carioca” como referências reais para o desenvolvimento do PSOL. Defendemos a importân-cia do Partido intervir nas lutas que se abrem. O in-ternismo não pode ser o único parâmetro. A projeção de Luciana como nossa porta-voz vai dar conta deste perfil, para além do congresso, numa disputa mais ampla da sociedade. Mantivemos nosso peso na executiva, que é uma executiva dividida ao meio (10 a 9). A atual era composta por 10 a 8. A APS (NE) teve apenas 7% do congresso, muito aquém para quem se apresentava como maioria da antiga APS. CSOL e Enlace man-tiveram seu peso, somando-os agora na Insurgência. CST e TLS que já tinham um representante cada uma na Executiva Nacional vão manter a mesma repre-sentação. Perspectivas imediatas Saímos fortalecidos do IV Congresso, apesar de sua dinâmica contraditória, por conta da nossa orientação: disputar influência em setores de mas-sas, a partir da fratura social e política aberta com a nova situação pós-Junho. Vamos disputar o PSOL publicamente para ser o mais próximo possível da voz de Junho. E faremos isso apostando que a luta de classes intensifique seus conflitos. Seja na ju-ventude, seja nos setores organizados da classe, seja no crescimento do movimento popular em luta por moradia. A definição dos rumos da disputa do PSOL também estará condicionada pela situação objetiva. Nosso eixo vai ser o debate de programa para o país, com medidas radicais, no terreno da econo-mia, da política, das liberdades civis e na luta por outra institucionalidade. Estamos mais fortes para dar essa batalha junto aos setores mais dinâmicos e respeitados do PSOL como Freixo, Jean e Chico no Rio, também Giannazi e Safatle em São Paulo, entre outras dezenas de quadros, figuras públicas e mili-tantes espalhados por todo o Brasil.