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Informativo 936-STF (10/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 936-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos ainda não comentados considerando que o julgamento do mérito ainda não chegou ao fim. Serão comentados assim que forem concluídos: ADI 5592/DF; AO 2380 AgR/SE; RE 1151237 AgR/SP. ÍNDICE DIREITO PROCESSUAL PENAL COMPETÊNCIA Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada? DIREITO PROCESSUAL PENAL COMPETÊNCIA Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada? Importante!!! Atualize o Info 625-STJ Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada? • STF: Justiça Estadual • STJ: Justiça Federal O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936). Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição. STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625). Imagine a seguinte situação hipotética: João, brasileiro nato, mudou-se de Londrina (PR) para Assunção (Paraguai). Após um desentendimento no bar, João desferiu um tiro em Pablo, cidadão paraguaio, matando a vítima. No mesmo dia, João fugiu para o Brasil.

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Informativo 936-STF (10/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 936-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos ainda não comentados considerando que o julgamento do mérito ainda não chegou ao fim. Serão comentados assim que forem concluídos: ADI 5592/DF; AO 2380 AgR/SE; RE 1151237 AgR/SP.

ÍNDICE DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada?

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro

no exterior e cuja extradição tenha sido negada?

Importante!!!

Atualize o Info 625-STJ

Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada?

• STF: Justiça Estadual

• STJ: Justiça Federal

O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal.

Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88.

STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).

Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição.

STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, brasileiro nato, mudou-se de Londrina (PR) para Assunção (Paraguai). Após um desentendimento no bar, João desferiu um tiro em Pablo, cidadão paraguaio, matando a vítima. No mesmo dia, João fugiu para o Brasil.

Informativo comentado

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O Governo paraguaio pediu ao Brasil a extradição de João. Esse pleito pode deferido? NÃO. O brasileiro nato não pode nunca ser extraditado pelo Brasil. Essa regra não comporta exceção e está prevista no art. 5º, LI, da CF/88:

Art. 5º (...) LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

João ficará isento de responsabilidade penal? NÃO. João irá responder, aqui no Brasil, pelos crimes que praticou em Paraguai. Isso com fundamento no art. 7º, II, “b” e § 2º do CP:

Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: (...) b) praticados por brasileiro; (...) § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Além disso, existe uma previsão específica no Acordo de Extradição firmado entre os Estados-Partes do Mercosul (incorporado no ordenamento brasileiro pelo Decreto nº 4.975/2004). Este Tratado prevê que se não for possível a extradição do indivíduo pelo fato de ele ser nacional do Estado requerido, então, neste caso, “o Estado Parte que denegar a extradição deverá promover o julgamento do indivíduo, mantendo o outro Estado Parte informado do andamento do processo, devendo ainda remeter, finalizado o juízo, cópia da sentença” (item 3 do Artigo 11). Em outras palavras, o Tratado diz o seguinte: se o Brasil não puder extraditar para o Paraguai o indivíduo que cometeu o crime lá em virtude de ele ser brasileiro nato, então, neste caso, a Justiça brasileira deverá julgá-lo. De quem é a competência para julgar este delito aqui no Brasil: da Justiça Estadual ou Justiça Federal? Justiça ESTADUAL.

O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).

Informativo comentado

Informativo 936-STF (10/04/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3

O crime só pode ser julgado pela Justiça Federal caso se amolde a uma das hipóteses previstas no art. 109 da CF/88. No caso, o delito não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV). De igual modo, não se aplica o inciso V: “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. Isso porque o crime praticado não está previsto em tratado ou convenção internacional. O Decreto 4.975/2004, que promulgou o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul, por si só não atrai a competência da Justiça Federal. Isso porque a persecução penal não é fundada no acordo de extradição, mas no Código Penal brasileiro. Os demais incisos do art. 109 nem de longe geram dúvida e não se aplicam ao caso concreto. Dessa forma, não sendo hipótese de incidência da Justiça Federal, a competência para julgar o delito em questão é da Justiça Estadual, que tem caráter residual. E de quem será a competência territorial? Qual é a comarca competente para julgar o crime? Uma das varas do Tribunal do Júri de Curitiba (PR) porque esta é a capital do Estado que foi o último domicílio do réu no país, conforme prevê o art. 88 do CPP:

Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

STJ entende diferente: Vale ressaltar que o STJ possui julgados em sentido diverso, ou seja, entendendo que a competência seria da Justiça Federal:

Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição, aplicável o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625). STJ. 5ª Turma. RHC 97.535/RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 26/06/2018. STJ. 6ª Turma. RHC 88.432/AP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/02/2019.

Desse modo, por enquanto o tema está assim: Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada? • STF (1ª Turma): Justiça Estadual • STJ: Justiça Federal Teremos que acompanhar para verificar se o STJ manterá esse entendimento ou se passará a acompanhar as decisões do STF. Qualquer novidade, você será avisada (o). No entanto, por ora, faça a observação em seus livros e materiais de estudo no sentido de que o STF considera que a competência é da Justiça ESTADUAL.