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Informativo 940-STF (22/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 940-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processo ainda não comentado pelo fato de o julgamento não ter sido concluído. Será comentado assim que chegar ao fim: HC 154694/SP. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, da CF/88. DIREITO ADMINISTRATIVO ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária. DIREITO PROCESSUAL CIVIL ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária. DIREITO PROCESSUAL PENAL FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. IMPEDIMENTOS A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta. DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, da CF/88 O art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real. As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a sua

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Informativo comentado: Informativo 940-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processo ainda não comentado pelo fato de o julgamento não ter sido concluído. Será comentado assim que chegar ao fim: HC 154694/SP.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação imediata desse dispositivo em violação ao

art. 5º, XXXVI, da CF/88.

DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve

incluir também os juros de mora e correção monetária.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve

incluir também os juros de mora e correção monetária.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição

para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores

Públicos e Delegados de Polícia. IMPEDIMENTOS A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação

imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, da CF/88

O art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real.

As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a sua

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aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88).

O STF não concordou com essa tese e decidiu que:

É constitucional o art. 38 da Lei nº 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal.

Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma moeda por outra.

As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução.

STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

Lei nº 8.880/94 A Lei nº 8.880/94 instituiu no Brasil o chamado “Plano Real”, que teve como principal objetivo controlar a altíssima inflação existente no país. Uma das medidas para a implementação deste plano econômico foi a instituição de uma unidade monetária, que foi denominada de URV (Unidade Real de Valor). Correção monetária Conforme já explicado, o objetivo do Plano Real era conter a altíssima inflação que existia no Brasil. Ocorre que os economistas previram que, assim que o plano entrasse em vigor, com a mudança da moeda (de Cruzeiro Real para Real) haveria uma brusca desaceleração da inflação, gerando, assim, uma superestimativa da reposição do valor da moeda e, por consequência, haveria um desequilíbrio das obrigações. Em outras palavras, os índices de correção monetária existentes não conseguiriam reproduzir a nova realidade que se verificaria com a implementação do plano. Diante disso, o art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real. Isso representou, na verdade, uma espécie de “criação” de uma nova forma de cálculo da correção monetária, que iria atingir, inclusive, os contratos que já estavam em vigor. Veja a redação do art. 38:

Art. 38. O cálculo dos índices de correção monetária, no mês em que se verificar a emissão do Real de que trata o art. 3º desta lei, bem como no mês subsequente, tomará por base preços em Real, o equivalente em URV dos preços em cruzeiros reais, e os preços nominados ou convertidos em URV dos meses imediatamente anteriores, segundo critérios estabelecidos em lei. Parágrafo único. Observado o disposto no parágrafo único do art. 7º, é nula de pleno direito e não surtirá nenhum efeito a aplicação de índice, para fins de correção monetária, calculado de forma diferente da estabelecida no caput deste artigo.

Decisões judiciais questionando a aplicação imediata deste art. 38 As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88). Várias decisões foram proferidas nesse sentido.

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ADPF A Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) queria manter as regras trazidas pelo Plano Real e, por isso, ajuizou, em 2005, uma ADPF para declarar a constitucionalidade deste art. 38. Por que a autora não propôs uma ADC? Porque o art. 38 da Lei nº 8.880/94 era uma regra transitória, que somente produziu seus efeitos em relação aos dois primeiros meses de implementação do Plano Real. Segundo a jurisprudência do STF, não cabe ADI/ADC tendo como objeto lei revogada ou que tenha tido a sua eficácia exaurida. No caso, a eficácia do art. 38 já estava exaurida, de sorte que não caberia ADC. Assim, o único instrumento de controle concentrado passível de ser manejado em face do art. 38 era a arguição de descumprimento de preceito fundamental, que possui a característica de ser subsidiária (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99). Nas palavras do STF: “O requisito da subsidiariedade está presente, visto que se questiona preceito de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do ajuizamento da ação. É incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a controvérsia de forma ampla, geral e imediata”.

Cabe ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo de lei cuja eficácia já foi exaurida. Dado o seu perfil subsidiário, a arguição de descumprimento de preceito fundamental se apresenta como medida processual mais adequada para afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei nº 8.880/94, dispositivo de natureza transitória e de eficácia já exaurida que instrumentalizou a instituição do Plano Real. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

Veja como o tema já foi cobrado em prova: (Juiz Federal TRF3 2018) É inadmissível o ajuizamento de ADI ou ADPF contra lei ou ato normativo revogado ou de eficácia exaurida, diante da perda do objeto. (errado) Quanto ao mérito, o STF concordou com a autora? Este dispositivo é constitucional e podia ser aplicado aos contratos em curso? SIM.

É constitucional o art. 38 da Lei nº 8.880/94 (URV como forma de cálculo da correção monetária na implementação do Plano Real). A aplicação imediata desse dispositivo para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

A correção monetária visa recompor a perda do poder aquisitivo da moeda, em razão do ambiente inflacionário. Quando esta Lei foi editada, o Brasil vivia a experiência da inflação galopante. Para seu controle, surgiu o Plano Real. Na época, o plano para a implantação do real foi dividido, basicamente, em três etapas: a) estabelecimento, em bases permanentes, do equilíbrio das contas do governo; b) criação da Unidade Real de Valor (URV); e c) emissão da nova moeda. O STF entendeu que é constitucional a aplicação imediata do art. 38 às obrigações em curso, firmadas antes de seu advento. Isso porque esse art. 38 tem natureza institucional estatutária. Isso quer dizer que ele é parte integrante e inseparável das leis e medidas provisórias responsáveis pela introdução do “Plano Real”, um programa governamental para combate à inflação.

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Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma moeda por outra. Esse entendimento já era consolidado no STF:

(...) 1. A aplicação da cláusula constitucional que assegura, em face da lei nova, a preservação do direito adquirido e do ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI) impõe distinguir duas diferentes espécies de situações jurídicas: (a) as situações jurídicas individuais, que são formadas por ato de vontade (especialmente os contratos), cuja celebração, quando legítima, já lhes outorga a condição de ato jurídico perfeito, inibindo, desde então, a incidência de modificações legislativas supervenientes; e (b) as situações jurídicas institucionais ou estatutárias, que são formadas segundo normas gerais e abstratas, de natureza cogente, em cujo âmbito os direitos somente podem ser considerados adquiridos quando inteiramente formado o suporte fático previsto na lei como necessário à sua incidência. Nessas situações, as normas supervenientes, embora não comportem aplicação retroativa, podem ter aplicação imediata. 2. Segundo reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução. É irrelevante, para esse efeito, que a cláusula estatutária esteja reproduzida em ato negocial (contrato), eis que essa não é circunstância juridicamente apta a modificar a sua natureza. 3. As disposições do art. 21 da Lei 9.069/95, resultante da conversão da MP 542/94, formam um dos mais importantes conjuntos de preceitos normativos do Plano REAL, um dos seus pilares essenciais, justamente o que fixa os critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive contratuais, do antigo para o novo sistema monetário. São, portanto, preceitos de ordem pública e seu conteúdo, por não ser suscetível de disposição por atos de vontade, têm natureza estatutária, vinculando de forma necessariamente semelhante a todos os destinatários. Dada essa natureza institucional (estatutária), não há inconstitucionalidade na sua aplicação imediata (que não se confunde com aplicação retroativa) para disciplinar as cláusulas de correção monetária de contratos em curso. 4. Recurso extraordinário a que se nega provimento. STF. Plenário. RE 212609, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 29/04/2015.

O tema já foi cobrado em prova: (MP/RR 2017 CESPE) Normas que tratem de regime monetário, quando forem inseridas em contratos particulares, não serão atingidas por leis posteriores que disponham de maneira diversa. (errado)

TRIBUNAIS DE CONTAS É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar,

que trate sobre organização ou funcionamento do TCE

É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE).

Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88).

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Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que pretenda alterar sua organização e funcionamento.

STF. Plenário. ADI 4643/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

A situação concreta foi a seguinte: Foi editada, no Rio de Janeiro, uma Lei Complementar estadual tratando sobre a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE/RJ). Ocorre que essa lei foi fruto de um projeto de iniciativa parlamentar, ou seja, foi um Deputado Estadual quem apresentou o projeto aprovado. Diante disso, indaga-se: há algum vício neste caso pelo fato de a lei ser de origem parlamentar? SIM. Há, no presente caso, inconstitucionalidade FORMAL SUBJETIVA ou ORGÂNICA, por vício de iniciativa. A Constituição Federal confere aos Tribunais de Contas as prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que inclui a iniciativa reservada para iniciar os projetos de lei que tratem sobre sua organização e funcionamento. Isso se encontra previsto no art. 96, II, “d”, da CF/88:

Art. 96. Compete privativamente: (...) II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169: (...) d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

A referida lei estadual tratou sobre a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual sem que o processo legislativo tenha sido iniciado pela Corte de Contas, o que viola, portanto, o art. 96, “d”, da CF/88. Mas esse art. 96 da CF/88 aplica-se aos Tribunais de Contas? SIM. Por força de expressa remissão feita pelo art. 73 da CF/88:

Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.

Desse modo, os Tribunais de Contas, assim como o Poder Judiciário, possuem competência privativa para iniciar o processo legislativo relativamente às matérias previstas no art. 96, II, da Constituição Federal. Logo, esta emenda constitucional aprovada pela ALE/RN, de iniciativa parlamentar, ao tratar sobre as competências do Tribunal de Contas, violou a reserva de iniciativa legislativa privativa do próprio Tribunal de Contas. O art. 73 fala que o art. 96 é aplicado para o Tribunal de Contas da União... Ele pode ser utilizado também para os Tribunais de Contas dos Estados? SIM. Os Tribunais de Contas dos Estados são organizados pelas Constituições Estaduais. Contudo, por força do princípio da simetria, as regras do TCU também são aplicadas, no que couber, aos TCE’s, conforme determina o art. 75 da CF:

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Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.

Assim, o art. 96 da CF/88, que se aplica ao TCU (por força do art. 73) também vale para os TCE´s, com base no art. 75. Em suma:

É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88). Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que pretenda alterar sua organização e funcionamento. STF. Plenário. ADI 4643/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

A violação a essa prerrogativa de instaurar o processo legislativo privativo traduz vício jurídico de gravidade inquestionável, cuja ocorrência reflete hipótese de inconstitucionalidade formal, apta a infirmar, de modo irremissível, a própria integridade do ato legislativo eventualmente concretizado. Em outras palavras, é inconstitucional a lei estadual tratando sobre a organização e funcionamento do TCE que não tenha sido iniciada pelo próprio TCE. Esse mesmo raciocínio acima explicado vale para uma emenda constitucional? Se os Deputados Estaduais tivessem apresentado uma proposta de emenda constitucional tratando sobre a organização e o funcionamento do TCE e esta proposição fosse aprovada, ela também seria inconstitucional? SIM. No modelo federativo a autonomia dos Estados não é plena, uma vez balizada pela Constituição Federal. Assim, o poder constituinte reformador nos Estados não ostenta a mesma amplitude do poder constituinte reformador da Constituição Federal. Desse modo, as regras de reserva de iniciativa previstas na Constituição Federal não podem ser burladas pelo poder constituinte reformador dos Estados. Em virtude disso, não é possível que uma emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, trate sobre os assuntos previstos no art. 96, II, da CF/88. Foi o que decidiu recentemente o STF:

Os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para deflagrar o processo legislativo que tenha por objeto alterar a sua organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88). Trata-se de uma prerrogativa que decorre da independência e autonomia asseguradas às Cortes de Contas. Assim, é inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE. A promulgação de emenda à Constituição Estadual não constitui meio apto para contornar (burlar) a cláusula de iniciativa reservada. STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 11/4/2019 (Info 937).

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DEFENSORIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos

Importante!!!

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia.

A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.

STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019(Info 940).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

ADVOCACIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado

Importante!!!

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia.

A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.

STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019(Info 940).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a

anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002.

STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

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Imagine a seguinte situação hipotética: João foi vítima de perseguição política praticada pelo governo federal durante a época da ditadura militar, instalada no Brasil em 1964. Ele era cabo da Aeronáutica e, por ser considerado “subversivo” pelo regime militar, foi expulso das Forças Armadas.

Anistia política e reparação de natureza econômica A fim de reparar política e economicamente situações como a que foi relatada acima e que atingiram milhares de indivíduos na época da ditadura militar, a CF/88 previu, no art. 8º do ADCT, que a União poderá conceder anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data de promulgação da Constituição. Há previsão também de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica, a ser paga pela União, em alguns casos nos quais fique demonstrado que ele sofreu prejuízos em sua atividade laboral.

Voltando ao exemplo: Em 1998, João requereu a anistia política e seus efeitos. Em 2004, a anistia foi concedida pela Portaria 84/2004 do Ministério da Justiça. Desde então, o anistiado recebe reparação econômica mensal, permanente e continuada, de R$ 3.000,00. Ocorre que o Governo ainda não lhe pagou os valores atrasados relativos ao período que vai de 1998 a 2004, o que totaliza cerca de R$ 200.000,00. Três meses depois, João impetrou mandado de segurança contra o Ministro da Defesa afirmando que já se passou o prazo de 60 dias previsto na Lei sem que ele tenha recebido a quantia atrasada. Diante disso, pugna pelo cumprimento integral da portaria e, consequentemente, o pagamento dos valores pretéritos.

Cabe mandado de segurança neste caso? SIM. Configurado o direito líquido e certo do anistiado, ele poderá impetrar mandado de segurança, considerando que o pedido e a causa de pedir desta ação é o cumprimento integral da Portaria, que consiste em uma obrigação de fazer. É claro que o cumprimento efetivo da Portaria irá provocar efeitos patrimoniais em favor do autor, mas o pedido do MS é que ele seja reconhecido de forma efetiva como anistiado político. O pagamento dos valores é mera consequência disso. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. RMS 26.899/DF, Min. Rel. Cármen Lúcia, DJe de 6/8/10. Diferentemente de uma ação de cobrança que é proposta para o pagamento de valores atrasados, no caso em tela temos um mandado de segurança impetrado para que seja cumprida norma editada pela própria Administração (Portaria do Ministro da Justiça). Logo, não incide, no caso, a proibição contida nas súmulas 269 e 271 do STF:

Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria. Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Além do valor principal, o acórdão do mandado de segurança deverá assegurar ao impetrante também os consectários legais (juros e correção monetária) ou o autor terá que ajuizar uma outra ação apenas para cobrar esses valores? O próprio acórdão do MS deverá assegurar o pagamento dos juros e correção monetária. Esse é o entendimento do STF:

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002. STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

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Informativo comentado

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Assim, o acórdão concessivo do mandado de segurança deverá determinar o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político acrescidos de juros de mora e correção monetária, por serem estes acessórios ao valor principal, afastando-se a incidência da Súmula 269 do STF. Nesse sentido:

(...) 2. Havendo condenação da instância inferior ao pagamento de juros de mora e correção monetária, uma vez mantido o acórdão recorrido, também está reconhecido o direito ao percebimento de tais valores, ainda que a respeito do tema não se tenha pronunciado expressamente o STF. 3. Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial. 4. Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer que os valores retroativos previstos nas portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária. STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/08/2018.

(...) 2. O Superior Tribunal de Justiça aplica orientação, segundo a qual, o direito líquido e certo amparável na via mandamental restringia-se ao reconhecimento da omissão da autoridade impetrada em providenciar o pagamento das parcelas pretéritas da reparação econômica decorrente de anistia política, conforme valor nominal previsto na Portaria Ministerial concessiva do benefício. Assim, a fixação de juros e correção monetária poderia ser buscada em ação própria, dada a impossibilidade da cobrança de valores em sede de Mandado de Segurança, consoante enunciado da Súmula 269/STF. 3. No entanto, essa orientação há de ser modificada, para se ajustar à compreensão atual e contemporânea da problemática da recomposição da situação jurídica derivada de direito líquido e certo amparável na via mandamental, ou seja, direito subjetivo na esmerada posição de liquidez e certeza, comprovado de plano e por meio de elementos materiais prévios. Parece de absoluta transparência e calcada na mais definida intuição de justiça que a situação ilegal ou abusiva a que o mandamus pôs fim deve retornar, integralmente, ao estado anterior à prática do ato vulnerador. Por tal razão, tudo o que for devido ao impetrante lhe deve ser reposto prontamente, pela força da decisão mandamental concessiva da ordem. 4. A Súmula 269/STF, cujo enunciado se opõe a este entendimento, tem a seu favor a ancianidade de sua edição - 55 anos - de modo que, somente por milagre, haveria de se manter atual e ensejadora de observância irrestrita. A interpretação deste verbete, porém, deve ser temperada com as várias regras legais que alteraram o perfil do Mandado de Segurança. E deve ser alterada, sobretudo, pela evolução vigorosa que este instituto sofreu nas últimas décadas, em virtude da progressiva afirmação dos Direitos Humanos e Fundamentais, no sentido albergar sob a sua proteção os mais vastos contingentes individuais e os mais amplos direitos subjetivos. 5. Não há mais razão jurídica e nem moral na alternativa de encaminhar-se o pleito de valores anteriores à impetração para as chamadas vias ordinárias, quando já se tem uma decisão judicial mandamental favorável ao direito da parte. Isso significaria protelar para as calendas gregas a fruição do direito pela parte que o titula, congestionar as instâncias judiciais, em situação de desnecessidade, expor-se a União ao pagamento de honorários, porque a Ação de Cobrança lhe seria, fatalmente, desfavorável e, além disso, amesquinhar o préstimo do Mandado de Segurança, encurtando o alcance de sua eficácia. 6. Bem por isso, no julgamento dos Embargos Declaratórios opostos no RE 553.710/DF, de relatoria do Ministro DIAS TOFFOLI, DJe 23.8.2018, o STF decidiu que os valores retroativos previstos nas Portarias de Anistia hão de ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária, desde o momento em que verba se tornou devida. Como bem disse o ilustre Relator, incumbe lembrar que a correção monetária e os juros moratórios consistem em consectários legais da condenação, consequências automáticas da decisão condenatória e, portanto, são devidos independentemente de expresso pronunciamento judicial - sua obrigatoriedade decorre automaticamente de dispositivo de lei.

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7. A leitura principiológica desse precedente, bem como da decisão do eminente Ministro LUIZ FUX, no RE 35.990/DF, asseguram o entendimento de que os juros moratórios e a correção monetária, por serem consectários legais, são deferidos ao impetrante mandamental vitorioso, juntamente com a sua própria pretensão no writ. Isso não constitui pretensão autônoma, nem pedido isolado e, muito menos, significa deferimento de pedido não formulado. Este é o pensamento judicial contemporâneo, atualizador da máxima eficácia da plataforma garantista, de modo a prover os institutos de proteção dos direitos e das liberdades da maior abrangência possível e também de sua efetividade maximizada. (...) STJ. 1ª Seção. MS 22.221/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 10/04/2019.

Não confundir Cuidado para não confundir com este outro julgado do STJ:

Nos casos de anistia política, em sede de mandado de segurança, só é possível a inclusão de juros de mora e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse sentido. STJ. 1ª Seção. ExeMS 18782-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (Info 634).

O STJ disse que são situações diferentes: • STF RMS 36182/DF e STJ MS 22.221/DF: aqui se está dizendo que o acórdão que julgar o MS deverá, obrigatoriamente, incluir os juros e correção monetária. Se não incluir, o autor deverá recorrer pedindo que seja corrigida essa lacuna. • STJ ExeMS 18782-DF: neste julgado, o caso concreto teve peculiaridades. O acórdão do MS, na fase de conhecimento, não incluiu os juros e correção monetária. Pelo entendimento que expliquei, o autor poderia ter recorrido pedindo a sua inclusão. Ocorre que o autor não recorreu e, portanto, houve o trânsito em julgado. Assim, o título executivo (acórdão do MS) não incluiu os juros e correção monetária. Quando chegou na fase de execução, o autor pediu a execução também dos juros e correção monetária. O STJ afirmou que isso não era possível porque não estava previsto no título executivo (ofenderia a coisa julgada). Veja o que explicou o Min. Relator no STJ:

“Não se desconhece que o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar os Embargos de Declaração no RE 553.710/DF, em 1º de agosto de 2018, estabeleceu que ‘os valores retroativos previstos nas portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária’. Contudo, essa decisão refere-se a feito julgado na fase de conhecimento (recurso ordinário interposto em face de acórdão deste Tribunal proferido em sede de mandado de segurança), cujos efeitos não podem ser ampliados aos feitos que já se encontram na fase executiva, sob pena de manifesta afronta à coisa julgada.”

Não sei se essa distinção proposta pelo STJ irá prevalecer, considerando que no item 3 da ementa do RE 553710 ED, o STF afirma: “Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial.” No entanto, por ora, essa diferenciação existe na prática.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MANDADO DE SEGURANÇA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a

anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002.

STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

Veja comentários em Direito Administrativo.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública

Importante!!!

Prefeito cometeu o crime durante o exercício do mandato e o delito está relacionado com as suas funções: a competência para julgá-lo será, em regra, do Tribunal de Justiça.

Se esse Prefeito, antes de o processo terminar, for reeleito para um segundo mandato (consecutivo e ininterrupto), neste caso, o Tribunal de Justiça continuará sendo competente para julgá-lo.

Por outro lado, se o agente deixar o cargo de Prefeito e, quatro anos mais tarde, for eleito novamente Prefeito do mesmo Município, nesta situação a competência para julgar o crime será do juízo de 1ª instância. A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. Ex: em 2011, Pedro, Prefeito, em seu primeiro mandato, cometeu o crime de corrupção passiva. Pedro foi denunciado e passou a responder um processo penal no TJ. Em 2012, Pedro disputou a campanha eleitoral buscando a reeleição. Contudo, ele perdeu. Com isso, Pedro ficou sem mandato eletivo. Vale esclarecer que o processo continuou tramitando normalmente no TJ. Em 2016, Pedro concorreu novamente ao cargo de Prefeito do mesmo Município, tendo sido eleito. Em 01/01/2017, João assumiu como Prefeito por força dessa nova eleição. O processo de Pedro não será julgado pelo TJ, mas sim pelo juízo de 1ª instância.

STF. 1ª Turma. RE 1185838/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

CASO 1. Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2015, João, Prefeito, em seu primeiro mandato, cometeu o crime de corrupção passiva. João foi denunciado e passou a responder um processo penal no Tribunal de Justiça. Os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no TJ (art. 29, X, da CF/88).

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Vale lembrar, no entanto, que o TJ somente julga os crimes cometidos por Prefeitos durante o exercício do cargo e relacionados com a função desempenhada. Essa foi a interpretação restritiva que o STF deu para o foro por prerrogativa de função:

O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).

Além disso, se o indivíduo deixa de ser Prefeito antes de o processo se encerrar, em regra, este processo será remetido para julgamento em 1ª instância.

Voltando ao nosso exemplo: João disputou a campanha eleitoral de 2016 e foi reeleito para o cargo de Prefeito. Assim, em 01/01/2017, João assumiu seu segundo mandato consecutivo e ininterrupto de Prefeito.

Diante disso, indaga-se: o TJ continuará competente para julgar o delito? SIM. O STF entende que se o crime praticado pela autoridade foi cometido no mandato anterior, este réu continuará tendo direito ao foro por prerrogativa de função caso ele tenha sido reeleito, de forma sucessiva e ininterrupta, para o mesmo cargo. Nesse sentido: STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

CASO 2. Imagine agora uma situação diferente: Em 2011, Pedro, Prefeito, em seu primeiro mandato, cometeu o crime de corrupção passiva. Pedro foi denunciado e passou a responder um processo penal no Tribunal de Justiça. Em 2012, Pedro disputou a campanha eleitoral buscando a reeleição. Contudo, ele perdeu. Com isso, Pedro ficou sem mandato eletivo. Vale esclarecer que o processo continuou tramitando normalmente no TJ. Em 2016, Pedro concorreu novamente ao cargo de Prefeito do mesmo Município, tendo sido eleito. Em 01/01/2017, João assumiu como Prefeito por força dessa nova eleição.

Diante disso, indaga-se: o TJ é competente para julgar o delito? NÃO. Após o término do primeiro mandato (em 31/12/2012), o processo criminal – que estava tramitando no TJ – deveria ter sido encaminhado para a 1ª instância. O fato de o acusado ter assumido novo mandato de Prefeito não enseja a prorrogação do foro. Isso porque não foi uma reeleição, mas sim, como já dito, um novo mandato. Assim, o STF, ao analisar um caso análogo a esse, entendeu que o Tribunal de Justiça não mais era competente e determinou a remessa dos autos à 1ª instância. Vale ressaltar, no entanto, que a Corte manteve validade de todos os atos praticados pelo TJ.

Em suma:

Prefeito cometeu o crime durante o exercício do mandato e o delito está relacionado com as suas funções: a competência para julgá-lo será, em regra, do Tribunal de Justiça. Se esse Prefeito, antes de o processo terminar, for reeleito para um segundo mandato (consecutivo e ininterrupto), neste caso, o Tribunal de Justiça continuará sendo competente para julgá-lo. Por outro lado, se o agente deixar o cargo de Prefeito e, quatro anos mais tarde, for eleito novamente Prefeito do mesmo Município, nesta situação a competência para julgar o crime será do juízo de 1ª instância. A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. STF. 1ª Turma. RE 1185838/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

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FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado,

Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia

Importante!!!

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia.

A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.

STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

A situação concreta foi a seguinte: A Constituição do Estado do Maranhão previu foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. Em outras palavras, a Constituição Estadual determinou que tais autoridades deveriam ser julgadas criminalmente no Tribunal de Justiça. Confira o texto da CE/MA:

Art. 81. Compete ao Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente: (...) IV - os Juízes do Tribunal de Alçada, Juízes de Direito, os membros do Ministério Público, das Procuradorias Gerais do Estado, da Assembleia Legislativa e da Defensoria Pública e os Delegados de Polícia, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; (Redação da Emenda Constitucional nº 34, de 29/08/2001).

Essa previsão da CE/MA é compatível com a CF/88? NÃO.

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

Vamos entender com calma. O que é foro por prerrogativa de função? Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição, segundo a qual as pessoas ocupantes de alguns cargos ou funções somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos cíveis) por determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF). Razão de existência O foro por prerrogativa de função existe porque se entende que, em virtude de determinadas pessoas ocuparem cargos ou funções importantes e de destaque, somente podem ter um julgamento imparcial e livre de pressões se forem julgadas por órgãos colegiados que componham a cúpula do Poder Judiciário.

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Ex: um Desembargador, caso pratique um delito, não deve ser julgado por um juiz singular, nem pelo Tribunal do qual faz parte, mas sim pelo STJ, órgão de cúpula do Poder Judiciário e, em tese, mais adequado para, no caso concreto, exercer a atividade com maior imparcialidade. Ex2: caso um Senador da República cometa um crime, ele será julgado pelo STF. Onde estão previstas as regras sobre o foro por prerrogativa de função? Posição tradicional do STF: O STF e a doutrina majoritária, tradicionalmente, ensinavam o seguinte: • Em regra, os casos de foro por prerrogativa de função são previstos na Constituição Federal. Exs: art. 102, I, “b” e “c”; art. 105, I, “a”. • As Constituições estaduais podem prever casos de foro por prerrogativa de função desde que seja respeitado o princípio da simetria com a Constituição Federal. Isso significa que a autoridade estadual que “receber” o foro por prerrogativa na Constituição Estadual deve ser equivalente a uma autoridade federal que tenha foro por prerrogativa de função na Constituição Federal. Ex1: a Constituição Estadual pode prever que o Vice-Governador será julgado pelo TJ. Isso porque a autoridade “equivalente”, em âmbito federal (Vice-Presidente da República), possui foro por prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). Logo, foi respeitado o princípio da simetria. Ex2: a Constituição Estadual não pode prever foro por prerrogativa de função para os Delegados de Polícia, considerando que não há previsão semelhante para os Delegados Federais na Constituição Federal (STF ADI 2587). Essa autorização para que as Constituições Estaduais prevejam hipóteses de foro por prerrogativa de função no TJ existe por força do art. 125, § 1º, da CF/88:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Assim, à luz do disposto no art. 125, § 1º, da Constituição Federal, o constituinte estadual possui legitimidade para fixar a competência do Tribunal de Justiça e, por conseguinte, estabelecer a prerrogativa de foro às autoridades que desempenham funções similares na esfera federal. Posição defendida pelo Min. Alexandre de Moraes nesta ADI 2553/MA: A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função. A interpretação que conferisse às Constituições estaduais a possibilidade de definir foro, considerando o princípio federativo e com esteio no art. 125, § 1º, da CF/88, permitiria aos Estados dispor, livremente, sobre essas prerrogativas, o que seria equivalente a assinar um “cheque em branco”. Desse modo, para o Min. Alexandre de Moraes, as hipóteses de foro por prerrogativa de função somente podem ser previstas validamente pela Constituição Estadual se estiverem asseguradas, explicita ou implicitamente, pela Constituição Federal. Vice-Governador, Secretários de Estado e Comandante dos Militares Estaduais Para a primeira posição (tradicional), as Constituições Estaduais podem, com base no art. 125, § 1º, da CF/88, prever, para essas autoridades, o foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça. Isso porque estaria respeitado o princípio da simetria, já que os equivalentes federais (Vice-Presidente, Ministros de Estado e Comandantes das Forças Armadas) possuem foro por prerrogativa de função.

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Para o Ministro Alexandre de Moraes, tais autoridades possuem prerrogativa de função no TJ, independentemente de a Constituição Estadual fixá-la ou não, por força do art. 28 da CF/88:

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subseqüente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.

Voltando ao caso concreto: Seja pela concepção tradicional, seja pela argumentação trazida pelo Min. Alexandre de Moraes, o certo é que a Constituição Estadual não poderia prever foro por prerrogativa de função para os Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. Pela concepção tradicional: os cargos equivalentes a esses, em nível federal, não possuem foro por prerrogativa de função. Logo, essa previsão, em nível estadual, violaria o princípio da simetria. Pelo entendimento do Min. Alexandre de Moraes: a CF/88 não conferiu, direta ou indiretamente, foro por prerrogativa de função para tais autoridades. Observação Alguns Ministros acompanharam a conclusão do voto do Ministro Alexandre de Moraes, mas sem se comprometer expressamente com a sua argumentação. Assim, não se pode dizer que esse seja o novo entendimento do STF sobre o tema. O que é preciso que você saiba, para fins de prova, é o que vou destacar agora:

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

IMPEDIMENTOS A participação de magistrado em julgamento de caso em que

seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta

A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP.

STF. 2ª Turma. HC 136015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi denunciado pela prática de homicídio qualificado. O juiz decretou a prisão preventiva do acusado. O réu impetrou habeas corpus contra esta decisão. O writ foi julgado pela 2ª Câmara Criminal do TJ/MG.

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Três Desembargadores compõem a 2ª Câmara Criminal (Des. Gustavo Silva, Des. Pedro Pereira e Des. Antônio Carvalho). O habeas corpus foi denegado por unanimidade e João foi mantido preso. Alguns anos mais tarde, João foi levado a julgamento pelo Tribunal do Júri e condenado a 12 anos de reclusão. O réu interpôs apelação contra a sentença. A apelação foi distribuída, por prevenção, para a 2ª Câmara Criminal do TJ/MG. Ocorre que a composição da 2ª Câmara Criminal já havia mudado. Agora, este órgão julgador é formado pelo Des. Gustavo Silva, Des. Carlos Souza e pelo Juiz Convocado Lucas Pereira. Vale ressaltar que Lucas Pereira é filho de Pedro Pereira (o Desembargador que participou do julgamento do HC e que se encontra agora aposentado). A 2ª Câmara Criminal negou provimento à apelação do réu. Indaga-se: esse julgamento foi válido? NÃO. Houve nulidade no julgamento por conta da participação de um magistrado impedido. Lucas Pereira não poderia ter participado do julgamento da apelação, estando impedido, na forma do art. 252, I, do CPP:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

O STF, ao apreciar um caso parecido como esse, entendeu que houve nulidade. Para o Min. Relator Ricardo Lewandowski, a causa de impedimento prevista no art. 252, I, do CPP constitui nulidade absoluta. A participação de julgador impedido causa nulidade no feito independentemente de sua atuação ter a capacidade de alterar ou não o resultado da votação. Poderia ser invocado, no caso, o princípio do prejuízo (“pas de nullité sans grief”) para se argumentar que, como eram três julgadores, o voto do magistrado impedido não influenciou no resultado? NÃO. O colegiado do TJ/MG era formado por três magistrados. Dessa forma, a exclusão daquele que estava impedido importaria em “substancial alteração” no resultado do julgamento, tendo em vista que, sem a sua participação, não haveria quórum para a própria instalação da sessão de julgamento. Logo, houve sim prejuízo. Em suma:

A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP. STF. 2ª Turma. HC 136015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (MP/RR 2017 CESPE) Normas que tratem de regime monetário, quando forem inseridas em contratos

particulares, não serão atingidas por leis posteriores que disponham de maneira diversa. ( ) 2) (Juiz Federal TRF3 2018) É inadmissível o ajuizamento de ADI ou ADPF contra lei ou ato normativo

revogado ou de eficácia exaurida, diante da perda do objeto. ( ) 3) É inconstitucional lei estadual, de origem parlamentar, que discipline a organização e o funcionamento

do Tribunal de Contas estadual. ( ) 4) Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes

à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002. ( )

5) A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. ( )

6) É constitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. ( )

7) A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. C 4. C 5. C 6. E 7. C