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Informativo 909-STF (08/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 909-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: Rcl 1074/PR; RE 852475/SP. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO À EDUCAÇÃO Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental. DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do cargo por ofensa à regra do concurso público. DIREITO DO TRABALHO/PROCESSO DO TRABALHO COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA É possível o ajuizamento de reclamação trabalhista mesmo que não se tenha tentado acordo na Comissão de Conciliação Prévia. A eficácia liberatória geral de que trata o art. 625-E, parágrafo único, da CLT abrange apenas os valores que foram discutidos na CCP. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO É constitucional a proibição da citação por edital no procedimento sumaríssimo. DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO À EDUCAÇÃO Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas. STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/8/2018 (Info 909). É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário. STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, jugado em 1º/8/2018 (Info 909).

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Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: Rcl 1074/PR; RE 852475/SP.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO À EDUCAÇÃO Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do cargo por ofensa à regra do

concurso público.

DIREITO DO TRABALHO/PROCESSO DO TRABALHO

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA É possível o ajuizamento de reclamação trabalhista mesmo que não se tenha tentado acordo na Comissão de

Conciliação Prévia. A eficácia liberatória geral de que trata o art. 625-E, parágrafo único, da CLT abrange apenas os valores que foram

discutidos na CCP. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO É constitucional a proibição da citação por edital no procedimento sumaríssimo.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO À EDUCAÇÃO Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso

na educação infantil e no ensino fundamental

São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.

STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/8/2018 (Info 909).

É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário.

STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, jugado em 1º/8/2018 (Info 909).

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As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso de crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a lei). Ao contrário, tais Resoluções encotram respaldo na interpretação conjunta dos arts. 29 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB).

O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade.

STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.

Conselho Nacional de Educação O Conselho Nacional de Educação (CNE) é um órgão ligado ao Ministério da Educação e que tem atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação. Este Conselho é composto por duas Câmaras: • Câmara de Educação Básica; e • Câmara de Educação Superior. O Conselho Nacional de Educação, a fim de exercer suas atribuições normativas, edita Resoluções por meio de suas Câmaras. Idade mínima para ingresso na educação infantil e no ensino fundamental A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação editou duas importantes Resoluções: • Resolução 06/2010: que estabelece a exigência de 4 anos completos até 31 de março para ingresso no primeiro ano da educação infantil; • Resolução 01/2010: que exige 6 anos completos até 31 de março para ingresso no primeiro ano do ensino fundamental. Ex: estamos em janeiro e João procura uma escola para matricular seu filho Lucas no primeiro ano da educação infantil. Lucas somente poderá ser matriculado se já tiver 4 anos de idade ou se fizer aniversário e completar 4 anos até o dia 31 de março daquele ano. ADPF E ADC O Procurador-Geral da República ajuizou uma ADPF 292 contra essas duas Resoluções da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) pedindo que elas fossem declaradas inconstitucionais. Segundo o autor, essas Resoluções burlam o comando constitucional que determina a oferta da educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, prevista no art. 208, I, da Constituição Federal:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela EC 59/2009)

O PGR alegou também que as crianças nascidas depois de 31 de março têm tratamento discriminatório, pois só poderão ingressar no ensino infantil com 5 anos, retardando também a entrada no ensino fundamental.

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ADC Por outro lado, o Governador do Estado do Mato Grosso do Sul ajuizou ADC em favor do art. 32, da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), pedindo que o STF desse interpretação de que o ingresso no ensino fundamental está limitado a crianças com 6 anos de idade completos no início do ano letivo:

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (...)

A ADPF da PGR foi julgada procedente? As Resoluções da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação violam a CF/88? NÃO.

São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas. STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/8/2018 (Info 909). É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário. STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, jugado em 1º/8/2018 (Info 909).

Com base nesse entendimento, o Plenário do STF, em julgamento conjunto, julgou procedente a ADC proposta pelo Governador e improcedente a ADPF ajuizada pelo PGR. O STF entendeu que os arts. 24, II, 31 e 32, caput, da Lei nº 9.394/96, que tratam sobre a idade mínima de 6 anos para ingressar no ensino fundamental são constitucionais. O STF afirmou também que, como a Lei não foi expressa sobre o momento em que deveria ser provada essa idade mínima, cabe ao Ministério da Educação definir esse instante exato. Por essa razão, é constitucional a Resolução que estabelece que essa idade mínima de 6 anos deverá ser completada até 31 de março. No que se refere a ADPF, o STF considerou que a Resolução 1/2010 e a Resolução 6/2010, ambas da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), não violam os princípios da isonomia, da proporcionalidade e do acesso à educação, ao estabelecerem um critério único e objetivo para o ingresso nas séries iniciais da educação infantil e do ensino fundamental da criança que tenha, respectivamente, 4 e 6 anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. O importante é que seja assegurado ao aluno entre 4 e 17 anos o acesso à educação, de acordo com a sua capacidade. A faixa etária não é estabelecida entre as etapas do sistema de ensino. Desse modo, a regulamentação questionada, relativa à transição entre as etapas de ensino, está em conformidade com o art. 208, I e IV, da Constituição Federal. Cabe ao Poder Público desenhar as políticas educacionais, respeitadas as balizas constitucionais. O critério etário, apesar de não ser a única solução constitucionalmente possível, insere-se no espaço de conformação do administrador, sobretudo em razão da “expertise” do CNE e da ampla participação técnica e social no processo de edição das resoluções, em respeito à gestão democrática do ensino público (art. 206, VI, da CF/88). Por fim, considerou que as regras objetivas relativas a datas e números asseguram mais segurança jurídica. O acesso aos níveis mais elevados de ensino (art. 208, V, da CF/88), segundo a capacidade de cada um, pode justificar, eventualmente, o afastamento de regras em casos bastante excepcionais, a critério exclusivo da equipe pedagógica diretamente responsável pelo aluno, o que se mostra consentâneo com a

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valorização dos profissionais da educação escolar e o apreço à pluralidade de níveis cognitivos e comportamentais em sala de aula. Posição do STJ Vale ressaltar que o STJ também possui o entendimento de que tais Resoluções são válidas. Veja:

As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso de crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a lei). Ao contrário, tais Resoluções encotram respaldo na interpretação conjunta dos arts. 29 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB). O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar

Delegados de Polícia do cargo por ofensa à regra do concurso público

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado do Amazonas.

Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.

Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.

Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.

• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.

• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia".

Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI.

Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.

As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso público para tanto.

No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização administrativa.

Foram opostos embargos de declaração contra a decisão.

Em 2018, o STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na ADI 3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no prazo máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a abertura de concurso público para o cargo de Delegado de Polícia.

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O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências.

Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente válidos os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados.

STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1º/8/2018 (Info 909).

Imagine a seguinte situação: Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado do Amazonas. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia. Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados. Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia. • a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos. • a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia". Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI. Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público. As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso público para tanto. No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização administrativa. STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800). Modulação dos efeitos O Estado do Amazonas ingressou com embargos de declaração contra essa decisão. No recurso, pediu a modulação dos efeitos da decisão mantendo os servidores como Delegados até que realize novo concurso para o cargo. Afirmou que não pode realizar o concurso imediatamente em razão de já ter atingido o limite prudencial de gastos com pessoal determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Sustentou, assim, a necessidade de mais tempo para a realização do certame, tendo em vista que o Estado atravessa grave crise na segurança pública. O STF concordou com os argumentos? SIM. O STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na ADI 3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no prazo máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a abertura de concurso público para o cargo de Delegado de Polícia. O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências. Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente válidos os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados. STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1º/8/2018 (Info 909).

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DIREITO DO TRABALHO/ PROCESSO DO TRABALHO

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA É possível o ajuizamento de reclamação trabalhista mesmo que não se tenha tentado acordo na Comissão de Conciliação Prévia

A eficácia liberatória geral de que trata o art. 625-E, parágrafo único, da CLT, abrange apenas os valores que foram discutidos na CCP

É constitucional a proibição da citação por edital no procedimento sumaríssimo

É possível o ajuizamento de reclamação trabalhista mesmo que não se tenha tentado acordo na Comissão de Conciliação Prévia

A Comissão de Conciliação Prévia constitui meio legítimo, mas não obrigatório, de solução de conflitos. Isso significa que é permitido que o empregado ingresse diretamente com a reclamação na Justiça do Trabalho, mesmo que não tenha buscado previamente a Comissão de Conciliação Prévia. Deve ser resguardado o acesso à Justiça para os que venham a ajuizar demandas diretamente na Justiça do Trabalho.

Contraria a CF/88 a interpretação do art. 625-D da CLT que reconheça a submissão da pretensão à Comissão de Conciliação Prévia como requisito para ajuizamento de reclamação trabalhista.

A eficácia liberatória geral de que trata o art. 625-E, parágrafo único, da CLT, abrange apenas os valores que foram discutidos na CCP

O art. 625-E, parágrafo único, da CLT, fala que o termo de conciliação terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas.

O STF conferiu interpretação sistemática ao art. 625-E, parágrafo único, da CLT, para dizer que a expressão “eficácia liberatória geral” somente se refere àquilo que foi objeto da conciliação. Em outras palavras, somente diz respeito aos valores que foram discutidos na Comissão de Conciliação Prévia. Isso não significa que haverá uma quitação geral e indiscriminada de verbas trabalhistas abrangendo parcelas que não foram objeto de debate na CCP.

PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

É constitucional a proibição da citação por edital no procedimento sumaríssimo

O art. 852-B, II, da CLT, prevê que, nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo não se fará citação por edital, incumbindo ao autor a correta indicação do nome e endereço do reclamado.

O STF decidiu que essa previsão é constitucional. O legislador, ao proibir a citação por edital no procedimento sumaríssimo, teve por objetivo conferir celeridade e efetividade a este rito.

STF. Plenário. ADI 2139/DF, ADI 2160/DF e ADI 2237/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgados em 1º/8/2018 (Info 909).

Comissão de conciliação prévia A Lei nº 9.958/2000 inseriu os arts. 625-A a 625-H na CLT a fim de tratar sobre a Comissão de Conciliação Prévia (CCP).

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A Lei falou o seguinte: as empresas e os sindicatos poderão instituir comissões compostas por representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes (art. 625-E). O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvada (parágrafo único do art. 625-E). Até aí, tudo bem. Trata-se de uma medida salutar visando a estimular a resolução extrajudicial dos conflitos. O ponto polêmico, contudo, foi o art. 625-D, cuja redação é a seguinte:

Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. (Incluído pela Lei nº 9.958/2000)

A interpretação literal deste dispositivo nos traria à seguinte conclusão: se houvesse Comissão de Conciliação Prévia instituída na localidade onde os serviços foram prestados, o trabalhador, antes de ajuizar a reclamação trabalhista, obrigatoriamente teria que submeter a demanda à referida Comissão. Em outras palavras, ele só poderia acionar o Poder Judiciário se antes tentasse a conciliação extrajudicial. ADI Diante disso, alguns partidos políticos ajuizaram ações diretas de inconstitucionalidade contra a Lei nº 9.958/2000 afirmando, dentre outros argumentos, que o art. 625-D da CLT afronta o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, da CF/88). Liminar concedida em 2009 Em 13/05/2009, o STF concedeu medida liminar para dar interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 625-D da CLT afirmando que este dispositivo garante uma escolha para o empregado, que pode tentar primeiramente a conciliação ou ingressar diretamente com a reclamação trabalhista na Justiça do Trabalho. Assim, o STF decidiu que demandas trabalhistas podem ser submetidas ao Poder Judiciário antes que tenham sido analisadas por uma comissão de conciliação prévia:

(...) A Constituição Federal em vigor, ao contrário da pretérita, é exaustiva quanto às situações jurídicas passíveis de ensejar, antes do ingresso em juízo, o esgotamento da fase administrativa, alcançando, na jurisdição cível-trabalhista, apenas o dissídio coletivo. STF. Plenário. ADI 2139 MC, Rel. Min. Octavio Gallotti, Relator p/ Acórdão: Min. Marco Aurélio, julgado em 13/05/2009.

Julgamento definitivo em 2018 Em 2018, o STF confirmou a medida cautelar e julgou parcialmente procedente os pedidos formulados em três ações diretas de inconstitucionalidade para dar interpretação conforme à Constituição ao art. 625-D, §§ 1º a 4º, da CLT. Segundo o STF, o art. 625-D da CLT deve ser interpretado assim:

A Comissão de Conciliação Prévia constitui meio legítimo, mas não obrigatório, de solução de conflitos. Isso significa que é permitido que o empregado ingresse diretamente com a reclamação na Justiça do Trabalho, mesmo que não tenha buscado previamente a Comissão de Conciliação Prévia. Deve ser resguardado o acesso à Justiça para os que venham a ajuizar demandas diretamente na Justiça do Trabalho.

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STF. Plenário. ADI 2139/DF, ADI 2160/DF e ADI 2237/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgados em 1º/8/2018 (Info 909).

O inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal prevê que:

Art. 5º (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Diante dessa previsão, deve ser considerada inconstitucional a fixação de exigência para que a pessoa ingresse com ação judicial se essa exigência for desproporcional, procrastinatória ou inviabilizadora do próprio direito de acesso ao Judiciário. Esse era o caso da interpretação que exigia a prévia busca da CCP para o ajuizamento da reclamação trabalhista. Vale ressaltar que a CF/88 estabelece restrições de acesso ao Poder Judiciário. Ex: art. 217, § 1º:

Art. 217 (...) § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

Não cabe à legislação infraconstitucional expandir esse rol de exceções ao direito de acesso ao Judiciário. Assim, contraria a CF/88 a interpretação do art. 625-D e parágrafos que reconheça a submissão da pretensão à Comissão de Conciliação Prévia como requisito para ajuizamento de reclamação trabalhista. Essa compreensão, contudo, não exclui a idoneidade do subsistema de autocomposição da CCP, que é muito importante para buscar a pacificação social. A legitimidade do referido meio alternativo de resolução de conflitos baseia-se na consensualidade, relevante instrumento de acesso à ordem jurídica justa. Eficácia liberatória geral O art. 625-E da CLT também estava sendo impugnado nas ADIs e possui a seguinte redação:

Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. (Incluído pela Lei nº 9.958/2000)

O STF conferiu interpretação sistemática ao art. 625-E, parágrafo único, da CLT, para dizer que a expressão “eficácia liberatória geral” somente se refere àquilo que foi objeto da conciliação. Em outras palavras, somente diz respeito aos valores que foram discutidos na Comissão de Conciliação Prévia. Isso não significa que haverá uma quitação geral e indiscriminada de verbas trabalhistas abrangendo parcelas que não foram objeto de debate na CCP. Impossibilidade de citação por edital no procedimento sumaríssimo O art. 852-B foi inserido na CLT pela Lei nº 9.957/2000. Veja o que diz o inciso II:

Art. 852-B. Nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo: (...) II - não se fará citação por edital, incumbindo ao autor a correta indicação do nome e endereço do reclamado; (Incluído pela Lei nº 9.957/2000)

Esse dispositivo também foi questionado na ADI, mas o STF decidiu que a previsão é constitucional, rejeitando a ação neste ponto.

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O legislador, ao proibir a citação por edital no procedimento sumaríssimo, teve por objetivo conferir celeridade e efetividade a este rito. A isonomia constitucional não impõe tratamento linear e rígido a todos os que demandam a atuação do Poder Judiciário. A admissão da citação editalícia no rito sumaríssimo representaria desigualdade material. Essa prática tenderia a alinhar os ritos sumaríssimo e ordinário em detrimento dos princípios da primazia da realidade e da razoabilidade. Portanto, caso não se encontre o jurisdicionado, haverá a transformação do procedimento em ordinário.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente,

na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas. ( )

2) É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário. ( )

Gabarito

1. C 2. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 01.8.2018 2.8.2018 3 77 130

1ª Turma — — — — 109

2ª Turma — — — — 46

* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 29 de junho a 9 de agosto de 2018.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS

30 DE JULHO A 3 DE AGOSTO DE 2018

Lei nº 13.688, de 3.7.2018 - Institui o Diário Eletrônico da Ordem dos Advogados do Brasil e altera a Lei nº

8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da OAB), para dispor sobre a publicação de atos, notificações e decisões

no Diário Eletrônico da Ordem dos Advogados do Brasil. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 127, p. 1, em

4.7.2018

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

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