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Informativo 896-STF (03/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 896-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5122/DF; RE 806339/SE; ADI 5032/DF. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: ADI 1080/PR; MS 32096. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO Decisão que deixa de aplicar o art. 25, § 1º da Lei 8.987/95. MEDIDAS PROVISÓRIAS É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente? DIREITO ADMINISTRATIVO CONCESSIONÁRIAS Terceirização do art. 25, § 1º da Lei 8.987/95. DIREITO AMBIENTAL UNIDADES DE CONSERVAÇÃO É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP DIREITO PROCESSUAL PENAL EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA STF mantém seu entendimento de que é possível a execução provisória da pena. PROGRESSÃO DE REGIME Súmula 715 do STF continua sendo válida. DIREITO INTERNACIONAL EXEQUATUR Possibilidade de concessão de exequatur por decisão monocrática do Ministro do STJ.

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Page 1: Informativo comentado: Informativo 896-STF · reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem que isso tenha sido submetido

Informativo 896-STF (03/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 896-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5122/DF; RE 806339/SE; ADI 5032/DF. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: ADI 1080/PR; MS 32096.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle

concentrado de constitucionalidade. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO Decisão que deixa de aplicar o art. 25, § 1º da Lei 8.987/95. MEDIDAS PROVISÓRIAS É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCESSIONÁRIAS Terceirização do art. 25, § 1º da Lei 8.987/95. DIREITO AMBIENTAL

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP

DIREITO PROCESSUAL PENAL

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA STF mantém seu entendimento de que é possível a execução provisória da pena. PROGRESSÃO DE REGIME Súmula 715 do STF continua sendo válida.

DIREITO INTERNACIONAL

EXEQUATUR Possibilidade de concessão de exequatur por decisão monocrática do Ministro do STJ.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões

proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade

Importante!!!

O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador.

A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art. 103 da CF/88).

Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade.

STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética: O Governador do Estado de São Paulo ajuíza uma ADI no STF. O Supremo julga improcedente a ação. O acórdão é publicado e o Estado de São Paulo opõe embargos de declaração alegando que há contradição no julgado. Esse recurso terá êxito? NÃO. Os embargos de declaração não serão conhecidos. Legitimidade não é do Estado, mas sim do Governador A legitimidade para recorrer, neste caso, é do Governador do Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo não tem legitimidade para opor embargos de declaração porque o Estado de São Paulo não é parte neste processo. Vale ressaltar que, na petição inicial da ADI, quando proposta pelo Governador, quem figura como autor da ação é o Governador do Estado (e não o Estado). A petição inicial da ADI fica assim: “O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, no exercício da atribuição que lhe confere o art. 103, V, da CF/88, vem propor a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE”. Desse modo, repita-se, o Estado-membro não tem legitimidade para propor ADI. A legitimidade pertence ao Governador do Estado. Logo, se a ação é julgada improcedente, quem tem legitimidade para recorrer é o próprio Governador (e não o Estado). Os embargos de declaração deveriam ser assim redigidos: “O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”. No entanto, o recurso foi interposto desta forma (apenas um exemplo): “O ESTADO DE SÃO PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.

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Diante disso, o que acontecerá? Os embargos de declaração não serão conhecidos (seu mérito não será apreciado) em virtude da ilegitimidade da parte recorrente. O Estado de São Paulo não é parte legítima para recorrer. Em suma:

O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador. A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art. 103 da CF/88) e não do Estado-membro. STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018.

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO Decisão que deixa de aplicar o art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95

Tema polêmico!

O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”

Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação do art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?

• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva de plenário.

STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em 5/3/2018 (Info 896).

• NÃO. O ato reclamado, ao considerar ilegal a contratação de empregado, por empresa interposta, para prestar serviços essenciais à atividade fim da tomadora, nos termos da Súmula 331, I, do TST, não declarou expressamente, nem implicitamente, a inconstitucionalidade de qualquer norma especial de regência aplicável ao caso. É firme a jurisprudência do STF no sentido de que não se exige reserva de plenário para a mera interpretação e aplicação das normas jurídicas que emerge do próprio exercício da jurisdição, sendo necessário, para caracterizar violação à cláusula de reserva de plenário, que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal e o Texto Constitucional.

STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

STF. 2ª Turma. Rcl 26408 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 07/11/2017.

Imagine a seguinte situação hipotética: A Encel – Engenharia de Construções Elétricas Ltda é uma concessionária de energia elétrica. A Encel contratou outra empresa para exercer parte de sua atividade-fim. Em outras palavras, houve terceirização da atividade-fim dessa concessionária. A concessionária invocou, como fundamento legal, para a contratação, o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95:

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Art. 25 (...) § 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.

Uma das Turmas do TRT da 3ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não autoriza a possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do serviço público. Afirmou o TRT, citando julgados do TST: “A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão de prestação de serviços públicos, ostenta natureza administrativa e, como tal, ao tratar, em seu art. 25, da contratação com terceiros de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, não autorizou a terceirização da atividade-fim das empresas do setor elétrico. Isso porque, esse diploma administrativo não aborda matéria trabalhista, nem seus princípios, conceitos e institutos, cujo plano de eficácia é outro. A legislação trabalhista protege, substancialmente, um valor: o trabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma não eventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à já insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo de outro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana. Não se poderia, assim, dizer que a norma administrativista, preocupada com princípios e valores do Direito Administrativo, viesse derrogar o eixo fundamental da legislação trabalhista, que é o conceito de empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contrato de trabalho, previsto na CLT.” Reclamação A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT e ingressou com reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a Súmula Vinculante 10:

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

O STF concordou com a reclamação proposta? SIM. O STF, por maioria, julgou procedente reclamação. A 1ª Turma do STF entendeu que o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização e o TRT, ao não aplicá-lo para a situação concreta, negou vigência ao dispositivo sem que isso tenha sido submetido ao Plenário ou órgão especial do Tribunal. Logo, houve violação à cláusula da reserva de plenário prevista no art. 97 da CF/88. STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em 5/3/2018 (Info 896). Tema polêmico O tema é polêmico e existem decisões em sentido contrário, como é o caso da Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

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Resumindo:

Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação do art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10? • SIM. O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva de plenário. STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em 5/3/2018 (Info 896). • NÃO. O ato reclamado, ao considerar ilegal a contratação de empregado, por empresa interposta, para prestar serviços essenciais à atividade fim da tomadora, nos termos da Súmula 331, I, do TST, não declarou expressamente, nem implicitamente, a inconstitucionalidade de qualquer norma especial de regência aplicável ao caso. É firme a jurisprudência do STF no sentido de que não se exige reserva de plenário para a mera interpretação e aplicação das normas jurídicas que emerge do próprio exercício da jurisdição, sendo necessário, para caracterizar violação à cláusula de reserva de plenário, que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal e o Texto Constitucional. STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848). STF. 2ª Turma. Rcl 26408 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 07/11/2017.

MEDIDAS PROVISÓRIAS

É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?

Importante!!!

É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.

Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido.

A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente da República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional, podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.

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Matérias que não podem ser tratadas por MP Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a edição de medidas provisórias sobre: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; e) que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; f) matéria reservada a lei complementar; g) matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?

É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas favoráveis ao meio ambiente. Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido. A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

DIREITO AMBIENTAL

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP

Importante!!!

É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.

Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em sentido formal.

A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito.

A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

Unidades de conservação Unidade de conservação é...

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- um espaço territorial (incluindo os recursos ambientais ali presentes, como as águas), - espaço esse que possui características naturais relevantes - e que é legalmente instituído pelo Poder Público (demarcado com limites físicos) - com o objetivo de que seja conservado - passando, portanto, a ser administrado com base em regime especial - aplicando-se garantias adequadas de proteção. As unidades de conservação são regidas pela Lei nº 9.985/2000. Criação e ampliação A criação ou a ampliação das unidades de conservação pode ser feita por meio de LEI ou DECRETO do chefe do Poder Executivo federal, estadual ou municipal. Extinção ou redução A extinção ou redução de uma unidade de conservação somente pode ser feita por meio de LEI ESPECÍFICA. Atenção: mesmo que a unidade de conservação tenha sido criada por decreto, ela só poderá ser suprimida mediante lei. Essa determinação consta no art. 225, § 1º, III, da CF/88:

Art. 225. (...) § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

No mesmo sentido é o art. 22, § 7º da Lei nº 9.985/2000:

Art. 22 (...) § 7º A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 fala em espaços territoriais especialmente protegidos... isso abrange as unidades de conservação? SIM. As unidades de conservação são uma das espécies de espaços territoriais especialmente protegidos. Podemos citar outros dois exemplos: • Áreas de Preservação Permanente (APP); • Áreas de Reserva Legal. Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação concreta: A MP 558/2012 (posteriormente convertida na Lei nº 12.678/2012) reduziu os limites territoriais (ou seja, o tamanho) de algumas unidades de conservação. As unidades foram reduzidas a fim de que no local que sobrou fossem construídas usinas hidrelétricas. A Procuradoria-Geral da República ajuizou ADI contra esta MP alegando: 1) que o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige que a redução nos limites da unidade de conservação seja feita por meio de lei em sentido formal; 2) não havia urgência que justificasse a edição de uma medida provisória no presente caso.

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O STF concordou com a ADI proposta? SIM. O STF julgou procedente a ADI para, sem pronunciamento de nulidade, declarar a inconstitucionalidade da MP 558/2012, convertida na Lei nº 12.678/2012. MP pode ser utilizada para ampliar, mas não para reduzir espaços de proteção ambiental A jurisprudência do STF aceita o uso de medidas provisórias para ampliar espaços de proteção ambiental, mas nunca para reduzi-los. Assim, é possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas favoráveis ao meio ambiente. Normas que signifiquem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A adoção de medida provisória nessas hipóteses possui evidente potencial de causar prejuízos irreversíveis ao meio ambiente na eventualidade de não ser convertida em lei. Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido. A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. Art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido formal Ao se interpretar o art. 225, § 1º, III, da CF/88, chega-se à conclusão de que a alteração ou supressão de espaços territoriais especialmente protegidos haverá de ser feita por lei formal, com possibilidade de abrir-se amplo debate parlamentar, com participação da sociedade civil e dos órgãos e instituições de proteção ao meio ambiente. Essa é a finalidade do dispositivo constitucional, que assegura o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Apesar de medida provisória ter força de lei, em caso de diminuição do regime jurídico protetivo do meio ambiente deve ser observado o princípio da reserva legal. Ausência de urgência O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em caso de relevância e urgência. A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP. No caso concreto, o STF entendeu que era uma dessas situações excepcionais e que não ficou demonstrado, de forma satisfatória, a presença da relevância e urgência na edição da MP 558/2012. À época da edição da medida provisória, os empreendimentos hidrelétricos que justificariam a desafetação das áreas protegidas ainda dependiam de licenciamentos ambientais, nos quais deveriam ser analisados os impactos e avaliada a conveniência e escolha dos sítios a serem efetivamente alagados. Assim, não havia urgência em se editar o ato. Proibição de retrocesso Além dos aspectos formais acima explicados, esta MP também é inconstitucional sob o prisma material. A norma impugnada contrariou o princípio da proibição de retrocesso socioambiental. Isso porque as alterações legislativas atingiram o núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF/88). A aplicação do princípio da proibição do retrocesso socioambiental não pode engessar a ação legislativa e administrativa, sendo forçoso admitir certa margem de discricionariedade às autoridades públicas em

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matéria ambiental. Contudo, no caso concreto houve a indevida alteração de reservas florestais com gravosa diminuição da proteção de ecossistemas, à revelia do devido processo legislativo, por ato discricionário do Poder Executivo, e em prejuízo da proteção ambiental de parques nacionais. Em suma:

É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88. Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em sentido formal. A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito. STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

Por que o STF julgou procedente a ADI, mas sem pronunciamento de nulidade? Porque os efeitos da MP, convertida em lei, já se concretizaram. Com a redução do tamanho das unidades de conservação, foram instaladas usinas no local, empreendimentos que já estão em funcionamento. Assim, houve um alagamento irreversível das áreas desafetadas e a execução dos empreendimentos hidrelétricos já não permite a invalidação dos efeitos produzidos, dada a impossibilidade material de reversão ao status quo ante. O STF considerou, portanto, que havia uma situação de fato irreversível e que não se poderia determinar a retirada dessas usinas de lá. Ficou, então, assentado que, daqui para a frente (ou seja, a partir desse julgamento), quaisquer outras medidas no sentido de desafetação ou diminuição de áreas de proteção ambiental haverão de cumprir o que a Constituição exige. Dessa forma, é como se o STF tivesse dito o seguinte: neste caso concreto, não iremos anular os efeitos produzidos pela MP porque se tornaram irreversíveis. No entanto, fica assentado que é inconstitucional a edição de futuras medidas provisórias que reduzam a proteção ao meio ambiente.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA STF mantém seu entendimento de que é possível a execução provisória da pena

O STF, ao julgar habeas corpus impetrado pelo ex-Presidente Lula, decidiu manter o seu entendimento e reafirmar que é possível a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário. A execução provisória da pena não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88).

STF. Plenário. HC 152752/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/4/2018 (Info 896).

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença o direito de recorrer em liberdade. O réu interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, João interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário.

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Informativo 896-STF (03/06/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

João, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e extraordinário preso? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja obrigado a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado? 1ª) Posição ANTERIOR do STF: NÃO STF. Plenário. HC 84078, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 05/02/2009. 2ª) Posição ATUAL do STF: SIM

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência. STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/02/2016 (Info 814).

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88) e não viola o texto do art. 283 do CPP. STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgados em 05/10/2016 (Info 842).

Em regime de repercussão geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. STF. Plenário virtual. ARE 964246 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/11/2016 (repercussão geral).

Desse modo, desde fevereiro de 2016, a posição que prevalece no STF é a de que é possível a execução provisória da pena se resta apenas o julgamento de recursos especial e/ou extraordinário. SITUAÇÃO DO EX-PRESIDENTE LULA

O ex-Presidente Lula foi condenado em 1ª instância pelo juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba. Contra esta decisão, o réu interpôs apelação para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O TRF4 manteve a condenação e ainda aumentou a pena que havia sido imposta. A defesa opôs, então, embargos de declaração para o próprio TRF. Após o TRF julgar os embargos de declaração, Lula ainda poderia, em tese, interpor recursos especial e extraordinário. Qual o problema, no entanto, neste caso? Pelo entendimento do STF acima exposto, Lula teria que aguardar o julgamento desses recursos preso. Em outras palavras, a partir do momento em que o TRF rejeitasse os embargos e mantivesse a condenação, Lula já seria preso, mesmo que ainda recorresse ao STJ e STF. Seria iniciada a execução provisória da pena. Sabendo disso, o que fez a defesa de Lula? Impetrou habeas corpus no STJ contra o TRF4. No writ, a defesa disse o seguinte: o TRF está prestes a julgar os embargos de declaração e após isso, o paciente corre o risco de ser preso caso o TRF adote a tese da execução provisória da pena. A defesa vem, portanto, pedir para que o TRF seja impedido de aplicar a execução provisória da pena e que o paciente somente seja preso se a condenação for mantida após todos os recursos.

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O que o STJ decidiu? O STJ negou o habeas corpus afirmando: se o TRF, após rejeitar os embargos de declaração, determinar a execução provisória da pena, tal decisão será correta. Isso porque o entendimento atual é o de que é permitida a execução provisória da pena. Contra a decisão do STJ, a defesa impetrou novo HC, agora para o STF, pedindo que a Corte revisse seu entendimento e voltasse a proibir a execução provisória da pena. O STF concordou com o pedido de Lula? NÃO. O Plenário do STF, por maioria, denegou a ordem em habeas corpus no qual se pleiteava a vedação do início da execução provisória da pena. O STF afirmou que não houve qualquer ilegalidade, abusividade ou teratologia na decisão do STJ, considerando que ela espelhou o entendimento majoritário do Supremo. O Min. Edson Fachin afirmou que não se deveria fazer, no presente caso, uma revisão do tema. Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello. Em suma:

O STF, ao julgar habeas corpus impetrado pelo ex-Presidente Lula, decidiu manter o seu entendimento e reafirmar que é possível a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário. A execução provisória da pena não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88). STF. Plenário. HC 152752/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/4/2018 (Info 896).

PROGRESSÃO DE REGIME Súmula 715 do STF continua sendo válida

O art. 75 do Código Penal prevê que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos. Isso significa que, se o réu for condenado a uma pena de 100 anos de reclusão, o limite máximo de cumprimento da pena será 30 anos.

Vale ressaltar, no entanto, que, no cálculo dos benefícios da execução penal, deverá ser considerada a pena total aplicada.

Assim, ao se calcular o requisito objetivo da progressão de regime, o juiz deverá considerar o total da pena imposta (e não o limite do art. 75 do CP). Ex: 1/6 de 100 anos (pena total) e não 1/6 de 30 anos.

Existe um enunciado que espelha essa conclusão:

Súmula 715-STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.

STF. 1ª Turma. HC 112182, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 03/04/2018 (Info 896).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado por uma série de crimes (nenhum deles hediondo). A pena por todos os crimes (pena unificada) ficou em 90 anos de reclusão. Em outras palavras, somando-se todos os crimes pelos quais ele foi condenado, chegou-se a 90 anos.

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João ficará 90 anos preso? NÃO. O Código Penal prevê que o condenado não poderá cumprir, em regra, mais que 30 anos de pena privativa de liberdade. Veja:

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. § 2º Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.

Voltando ao nosso exemplo: ainda que João não tenha direito à progressão de regime (por não preencher os requisitos subjetivos), quando completar 30 anos de cárcere, terá havido a extinção da pena e ele deixará a unidade prisional. Qual é a razão de existência do art. 75 do CP? Se não existisse um limite de cumprimento de pena, ou seja, se não existisse o art. 75 do CP, haveria, na prática, a possibilidade de prisão de caráter perpétuo, o que é vedado pela CF/88 (art. 5º, XLVII). Isso porque qualquer condenação muito alta (80, 90, 100 anos etc.) significaria que o indivíduo passaria, obrigatoriamente, o restante de toda a sua vida no cárcere. Progressão de regime Até aqui, tudo bem. A dúvida surge com relação à progressão de regime. Qual é o requisito objetivo para que o apenado possa ter direito à progressão de regime? Se estiver condenado por crime comum (não hediondo): cumprimento de 1/6 da pena (art. 112 da LEP). Esse cumprimento de 1/6 da pena será computado considerando-se o limite máximo previsto no art. 75 do CP (30 anos) ou a pena total aplicada (em nosso exemplo, 90 anos)? João terá direito de progredir depois de cumprir 5 anos (1/6 de 30) ou após cumprir 15 anos (1/6 de 90)? A progressão de regime deverá considerar o total da pena aplicada (e não o limite do art. 75 do CP). Assim, em nosso exemplo, João terá direito de progredir após 15 anos de cumprimento de pena em regime fechado. Esse é o entendimento sumulado do STF:

Súmula 715-STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.

No julgado noticiado no Informativo 896, o STF reafirmou a validade da Súmula 715, apesar de dois Ministros (Marco Aurélio e Luiz Fux) terem votado no sentido de que ela deveria ser cancelada. STF. 1ª Turma. HC 112182, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 03/04/2018 (Info 896).

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DIREITO INTERNACIONAL

EXEQUATUR Possibilidade de concessão de exequatur por decisão monocrática do Ministro do STJ

É possível a concessão de exequatur de carta rogatória, para fins de citação, por meio de decisão monocrática de relator no STJ, posteriormente confirmada na Corte Especial, em homenagem aos princípios da cooperação e da celeridade processual.

O STJ, com fundamento no art. 216-T de seu Regimento Interno, vem concedendo, por meio de decisões monocráticas, exequatur a cartas rogatórias destinadas à citação em território brasileiro das partes interessadas para que tomem conhecimento de ações que tramitam na Justiça rogante. O STF entendeu que não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade nesta prática.

STF. 2ª Turma. RE 634595, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2018 (Info 896).

Imagine a seguinte situação: Germano tem domicílio em São Paulo (SP). A empresa OLP, com sede na Inglaterra, ingressou com ação de cobrança contra Germano, na Justiça inglesa. A Justiça da Inglaterra expediu uma carta rogatória para ser cumprida no Brasil com o objetivo de fazer a citação de Germano para responder a ação. Como esta determinação judicial da Justiça inglesa é cumprida no Brasil? Exige-se alguma providência? SIM. É necessário um exequatur. Execução de carta rogatória Carta rogatória é um instrumento de cooperação jurídica internacional por meio do qual uma autoridade judiciária de um Estado estrangeiro solicita que o Poder Judiciário de outro país pratique determinado ato processual em seu território. Ex: um juiz de Berlim (Alemanha) expede uma carta rogatória para que seja ouvida uma testemunha residente em Manaus (Brasil). Neste caso, ela é chamada de carta rogatória passiva (a ser cumprida no Brasil). Se o juiz brasileiro é quem tivesse expedido a carta rogatória, seria denominada de ativa. A carta rogatória passiva, em regra, antes de ser cumprida no Brasil, precisa receber um exequatur, que é exarado pelo STJ (art. 105, I, i, da CF/88):

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;

Por meio do exequatur, o STJ verifica se o ato processual solicitado pela autoridade judiciária estrangeira é compatível com o ordenamento brasileiro. Caso seja, o Tribunal concede o exequatur, que significa “cumpra-se”. Desse modo, após o exequatur concedido pelo STJ à carta rogatória, esta irá ser cumprida por um juiz federal. Voltando ao nosso caso concreto: Chegando o pedido no STJ, foi sorteado um Ministro Relator. Este, de forma monocrática, concedeu o exequatur da carta rogatória e determinou a citação de Germano. Germano não concordou e interpôs, para a Corte Especial, agravo interno contra esta decisão. No agravo, o interessado alegou que houve error in procedendo, uma vez que o exequatur não poderia ter sido decidido monocraticamente pelo Ministro Relator.

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A Corte Especial afirmou que o Relator poderia ter decidido monocraticamente e manteve a concessão do exequatur. Contra esta decisão da Corte Especial, Germano interpôs recurso extraordinário. O STF manteve a decisão? SIM.

É possível a concessão de exequatur de carta rogatória, para fins de citação, por meio de decisão monocrática de relator no STJ, posteriormente confirmada na Corte Especial, em homenagem aos princípios da cooperação e da celeridade processual. STF. 2ª Turma. RE 634595, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2018 (Info 896).

É possível a concessão de exequatur por decisão monocrática se o objeto é apenas a citação do interessado A carta rogatória em questão tinha como objeto tão somente permitir a citação do interessado para conhecimento dos termos da ação que tramita na justiça de outro país, dando-lhe oportunidade de oferecer defesa. O ato, portanto, é desprovido de qualquer caráter executivo. O STJ, com fundamento no art. 216-T de seu Regimento Interno, vem concedendo, por meio de decisões monocráticas, exequatur a cartas rogatórias destinadas à citação em território brasileiro das partes interessadas para que tomem conhecimento de ações que tramitam na Justiça rogante, facultando-lhes, consequentemente, a apresentação de defesa. O STF entendeu que não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade nesta prática. Não houve ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa humana ou à ordem pública O STJ, ao examinar se deve ou não conceder exequatur, exerce apenas um juízo delibatório, limitando-se à análise dos requisitos formais previstos na LINDB, no CPC e no Regimento Interno do STJ. Assim, o STJ não faz o exame do mérito do ato processual, salvo se houver ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa humana ou à ordem pública, o que não ocorreu no caso. Argumento de que houve ofensa ao princípio da colegialidade ficou superado O fato de a referida carta rogatória ter sido apreciada por decisão singular do Ministro Relator não torna o ato nulo porque ele foi referendado, no julgamento do agravo, pela Corte Especial do STJ, em observância ao princípio da colegialidade. O STF entende que eventual violação do princípio da colegialidade fica superada a partir do momento em que a parte interessada apresenta agravo interno e o colegiado confirma a decisão monocrática. Isso porque o colegiado ratifica e substitui a decisão unipessoal. Deve-se evitar formalidades desnecessárias Deve-se evitar formalidades desnecessárias que impeçam o seu cumprimento, em atenção aos princípios da celeridade e da razoável duração do processo. A prestação jurisdicional deve se adequar à atual conjuntura, visando a uma maior cooperação entre os sistemas jurídicos internacionais e a uma maior efetividade das medidas judiciais.

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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) O Estado-membro possui legitimidade para opor embargos de declaração contra decisões proferidas em

sede de controle concentrado de constitucionalidade se a ADI tiver sido ajuizada pelo respectivo Governador. ( )

2) A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. ( )

3) É constitucional a redução de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória, que tem força de lei. ( )

4) (DPE/TO 2013 CESPE) A pena unificada, restrita ao limite de trinta anos de encarceramento, é considerada para definir a base de cálculo da progressão do regime prisional. ( )

5) A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução. ( )

6) É possível a concessão de exequatur de carta rogatória, para fins de citação, por meio de decisão monocrática de relator no STJ, posteriormente confirmada na Corte Especial. ( )

Gabarito

1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. C

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO CONSTITUCIONAL – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ADI: redução do alcance da lei impugnada e prejudicialidade - 2 O Tribunal, por maioria, julgou prejudicada a ação direta de inconstitucionalidade por perda de objeto (Informativo 544). O requerente ajuizou a ação contra o § 11 do art. 27 da Constituição do Estado do Paraná, inserido pela Emenda Constitucional 2/93. Apontou como fundamento a incompatibilidade da norma estadual com diversos dispositivos da Constituição Federal (CF), em ofensa à autonomia administrativa do Poder Judiciário e do Ministério Público e à iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo para as leis que disponham sobre provimento de cargos públicos. O Plenário declarou a perda superveniente do objeto da ação, tendo em vista que, no curso do processo, sobreveio a Emenda Constitucional 7/2000 da constituição paranaense que modificou substancialmente o conteúdo do artigo impugnado. Não tendo havido mera redução do âmbito de incidência da norma, mas sua alteração substancial, tal modificação deu ensejo ao prejuízo da ação. Nesse caso, o prejuízo se equipara à revogação de ato normativo após ajuizamento de ADI, e, como pacificado na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, acarreta a perda de objeto. Vencido o ministro Menezes Direito, relator, que não considerou prejudicada a ação. Asseverou que a ação direta deve ser conhecida quando a substância da lei impugnada não for alterada, tendo havido apenas redução do seu alcance, sem agressão ao pedido inicial. ADI 1080/PR, rel. orig. Min. Menezes Direito, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento 5.4.2018.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA Mandado de segurança e legitimidade A Segunda Turma, em julgamento conjunto, denegou mandados de segurança impetrados contra ato do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que determinou a correção de registros constantes de cartório de imóveis, em relação à cadeia dominial de bens no Estado do Tocantins.

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A decisão do CNJ, proferida nos autos de pedido de providências, ordenou aos cartórios competentes a anulação de registros imobiliários de matrículas que atribuíam aos ora agravantes a propriedade de bens de domínio público. O Colegiado afirmou que os impetrantes não possuem legitimidade para ajuizar mandado de segurança com o objetivo de anular decisão do CNJ proferida em sede administrativa. Isso porque, ao tempo de sua prolação, não eram titulares da propriedade dos imóveis atingidos pela deliberação. Do mesmo modo, não vislumbrou a legitimação extraordinária prevista no art. 3º da Lei 12.016. Ainda que tenha havido inércia do Estado, os agravantes não se qualificam como titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro, pois se encontravam em situação de meros detentores de imóvel público, ocupado sem anuência estatal. Ademais, enfatizou que o ato do CNJ está inserido no âmbito de sua competência estritamente administrativa, de modo que não representa ingerência em decisão que tenha sido proferida pelo Poder Judiciário em sede jurisdicional. Por fim, ressaltou que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência consolidada no sentido de que a ocupação irregular de área pública não induz posse, mas mera detenção, destituída de efeito jurídico. MS 32096, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32096) MS 32967, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32967) MS 32968, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32968)

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 4.4.2018 5.4.2018 3 6 11

1ª Turma 3.4.2018 — 2 61 56

2ª Turma 3.4.2018 — 1 7 7

* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 30 de março a 06 de abril de 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe 2 a 6 de abril de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.037.396 RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE MANIFESTAÇÃO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 5º, INCISOS IV, IX, XIV; E 220, CAPUT, §§ 1º E 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRÁTICA DE ATO ILÍCITO POR TERCEIRO. DEVER DE FISCALIZAÇÃO E DE EXCLUSÃO DE CONTEÚDO PELO PRESTADOR DE SERVIÇOS. RESERVA DE JURISDIÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL DE PROVEDOR DE INTERNET, WEBSITES E GESTORES DE APLICATIVOS DE REDES SOCIAIS. CONSTITUCIONALIDADE OU NÃO DO ART. 19 DO MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI Nº 12.965/14) E POSSIBILIDADE DE SE CONDICIONAR A RETIRADA DE PERFIL FALSO OU TORNAR INDISPONÍVEL O CONTEÚDO APONTADO COMO INFRINGENTE SOMENTE APÓS ORDEM JUDICIAL ESPECÍFICA. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.096.029 RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. ELEIÇÃO MUNICIPAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO ELEITO. REGISTRO POSTERIORMENTE INDEFERIDO. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE NOVO PLEITO. ALEGADA INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DA NORMA DO ARTIGO 224, § 3º, DO CÓDIGO ELEITORAL, COM A REDAÇAO DADA PELA LEI Nº 13.165/15. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO EM INÚMEROS

PROCESSOS, A REPERCUTIR NA ESFERA DE INTERESSE DE MILHARES DE PESSOAS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Secretaria de Documentação – SDO Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

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