informaÇÕes tÉcnicas e causos de bancada (paulo brites)

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Page 1: INFORMAÇÕES TÉCNICAS E CAUSOS DE BANCADA (Paulo Brites)

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www.avbrites.com.br

Informações Técnicas &

“Causos” de Bancada Paulo Brites

para Técnicos Reparadores de TV, Vídeo e Outras

Bugigangas

Apoio:

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As razões que me levaram a “escrever” este livro

Em janeiro de 98 comecei a escrever no Ícone, um jornal do Rio de Janeiro voltado para o segmento de reparação de eletro eletrônicos. Nestes quase sete anos, foram cerca de oitenta artigos. Muita gente vive me pedindo artigos antigos porque ouviu falar ou viu com alguém e gostaria de ter o material. Há algum tempo venho pensando em fazer uma coletânea deste material e transformá-lo num livro. O tempo vai passando e as atribuições do dia vão empurrando alguns projetos para o dia seguinte. Finalmente, parece que chegou a hora, resolvi colocar a idéia na agenda de prioridades. Você está recebendo como brinde um demo em que alguns dos artigos que julgo mais interessantes foram selecionados. Servirá também como balão de ensaio se o público aprovar o projeto vai ser tocado para frente. Conto com suas críticas sinceras porque esse negócio de crítica construtiva é conversa para boi dormir. Criticar é abrir o verbo dizer: não gostei, ou então você diz gostei e quero mais. O e-mail está aberto para o que der e vier. Saudações do autor.

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Eletrônica Horti-Fruti Ltda: Pepinos e Abacaxis na Bancada Nunca vi coisa mais parecida com o Muro das Lamentações do que encontro de Técnicos. Por isso mesmo, já estou pensando em adotar como brinde da empresa uma caixinha de lenço de papel. Acho que vai fazer o maior sucesso! Vamos pensar um pouquinho nas causas que levam a estas choradeiras? Parece que tem gente que gosta de se meter em encrenca e se penaliza com os problemas do pobrezinho do cliente que comprou um aparelho de Sub Marca e está precisando conserta-lo.

A primeira sugestão que posso oferecer, pra que a sua oficina não venha a ter o nome do título desta matéria, é: - não se envolver emocionalmente com o caso. Você não é padre nem psicólogo. Deixe para o primeiro a solução milagrosa e para o segundo resolver os problemas do apego material. Você é técnico, e a menos que você queira ser canonizado daqui a cem anos, não tente fazer milagres. A minha filosofia nos útimos anos passou a ser a seguinte: - só vai pra bancada o aparelho que tem, no mínimo, 90% de chance de poder ser consertado. Se eu

pressentir que a “coisa” tem cheiro de encrenca eu nem chego perto. Há muito tempo que eu não caio mais naquele papo de cliente, do tipo, dá uma olhadinha sem compromisso. Se você passar o dia todo dando uma olhadinha aqui uma olhadinha ali, no fim do mês você vai ter que ir ao Supermercado só pra dar uma olhadinha nas prateleiras. Pra que vou perder meu tempo se já sei que daquela toca não vai sair coelho (pode sair, é um jacaré pra me morder, isto sim). O fulano vem com aquela carinha de anjo, falando mansinho e te joga em cima um TV marca Funeral, digo, Cineral, por exemplo, que só acende o led do stand by e mais nada. Enche você de elogios, diz que você é o melhor técnico do mundo, que deve ser só um fiozinho solto e aquela conversa toda que todos nós já conhecemos muito bem. Depois de tanto lero-lero, você cai na conversa, e acaba aceitando a empreitada. Abre a caixa de encrenca, não acha o fio solto nem tão pouco o esquema da dita cuja. Dá umas mexidinhas faz algumas medições e derepente nem o led acende mais. Aí, depois de já ter perdido um tempo precioso, chega a conclusão que o jeito é devolver o aparelho e, obviamente sem cobrar nada, por que você não é médico, e portanto só pode cobrar se curar o doente. No dia da devolução do aparelho, maliciosamente, o cliente-anjinho, pede para você ligar o dito cujo e já vai logo

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dizendo que agora nem a lampadinha vermelha tá acendendo. Neste momento, alguma coisa começa a lhe dizer que aí tem ... Você não sabia que já vinha acontecendo de algumas vezes o led não acender, pois esta parte foi omitida quando você perguntou como o defeito começou. O cidadão só disse que parou de repente. Deve ser apenas o “fuzil” que queimou. Por que a tomada original ele já cortou e substitui por uma de camelô (quando o aparelho não liga todo cliente-técnico faz isso). E agora meu caro, não adianta argumentar que você não fez nada de mais, só deu uma olhadinha como ele mesmo pediu. O cidadão insiste em dizer que você piorou as coisas, e blá-blá-blá, e começa aquele bate-boca. Nestas alturas você já está tão nervoso que não consegue raciocinar mais e acaba concluindo que vai ter que se virar pra consertar a maldita TV, por que o cara que falava fino, já ajustou o grave e já tá falando em PROCON, Indenização por Danos Morais, Direitos Humanos e outras coisas usuais atualmente. Nada disso teria acontecido se você tivesse dito pro cliente procurar a Loja que vendeu o aparelho para indicar uma Autorizada. Ah! Ele já fez isso e não achou nenhuma Autorizada ! Ótimo! E você é que vai ser o Salvador da Pátria ? As lojas vendem o que querem e não estão nem aí para o pós-venda. Não se preocupam em saber qual a procedência do produto e se existe uma empresa séria e estabelecida no Brasil que dará suporte ao produto e por quanto tempo.

Por outro lado ninguém fiscaliza o que está sendo vendido e o consumidor compra iludido pela propaganda bonita feita pelo seu artista preferido que só está interessado em receber o seu cache. Ele, consumidor, é também, parcialmente, culpado por não procurar saber com antecedência o que está comprando, buscando informações a respeito do produto e do fabricante e não se deixando levar pela conversa do vendedor e da propaganda. Vendedor quer é vender e receber a comissão. No dia seguinte ele nem te conhece mais. Isto faz parte das regras do capitalismo. O negócio é faturar e depois... (é isso mesmo que você pensou). E você como técnico precisa estar ainda mais atento a estas “regras” do salve-se quem puder e não assumir a responsabilidade de aceitar para consertar produtos que não tem, no Brasil, suporte em peças e informação técnica.

Lembre-se que você é obrigado pelo CDC (Código de Defesa do Consumidor) a dar 90 dias de garantia no serviço. A solda fria de hoje pode se transformar no saída horizontal em curto de amanhã, por que o

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fly back estourou. E agora, onde encontrar o fly back do TV Baysonic, por exemplo ? Você conserta um cacareco velho fabricado há 10 anos atrás e tem que dar os mesmo 90 dias de garantia que o fabricante é obrigado a dar no produto novo. Parece um absurdo, mas é a lei (Art. 26 CDC). Afinal, quem disse que lei, pelo no menos no Brasil, tem que ser sensata. Basta ser lei. Quanto mais furos melhor. Eles fazem a alegria dos advogados. Depois que eu passei a adotar a filosofia de trabalho que descrevi acima, pepino lá em casa só entra para fazer salada e o abacaxi é pra sobremesa. Antigamente os aparelhos usavam peças genéricas (não vá confundir com remédio genérico !) que serviam em qualquer marca e qualquer modelo. Poucas eram as peças específicas, e elas ficavam no mercado por muito tempo por que os modelos não mudavam tão rapidamente como hoje. O mercado de eletrônicos atualmente parece até com o de moda. A cada seis meses sai um modelo novo. Só falta ter coleção primavera-verão/outono-inverno de televisores, vídeo cassetes, DVDs e etc, e até com direito a desfile ! Os produtos caem de preço vertiginosamente, mas a peças de reposição, nem sempre (ou nunca), acompanham esta queda. A tecnologia exige cada vez mais equipamentos e ferramentas especiais para reparo o que deveria provocar um aumento no valor da nossa hora-técnica.

Mas ninguém vai aceitar pagar cem reais pra consertar um celular, por exemplo, que custa cento e cinqüenta e pode ser comprado pra pagar em N prestações. O cliente (os legisladores e até os repórteres da TV) vêem aquele aparelhinho pequenininho e nem de longe conseguem imaginar o grau de complexidade, o tipo e o preço dos equipamentos necessários para o reparo. A indústria trabalha em economia de escala. O reparo é um trabalho artesanal. Não se pode comparar o custo do produto de uma industria automatizada com o de uma oficina em que o trabalho tem que ser feito manualmente e que cada defeito pode ser diferente do outro, às vezes, com o mesmo sintoma (ainda não tem robô consertando aparelhos). Seria fácil diagnosticar o defeito, que nós técnicos não conseguimos descobrir rapidamente, como virose e receitar um Tylenol. Infelizmente, pra nós, não é tão fácil assim. No meu ponto de vista, os técnicos reparadores de hoje bem como as oficinas só sobreviverão se adotarem algumas posturas que relaciono abaixo: 1 Não perca tempo com aparelho fora de linha, de marca ignorada no Brasil, ou “importados”. Os fabricantes mesmos estabelecidos no Brasil não estão garantindo peças de reposição por muito tempo. 2 Mantenha-se sempre atualizado através de leitura de publicações técnicas, de cursos e da Internet. 3 Não se envolva demasiadamente no conserto, principalmente, de aparelhos baratos cujo valor da hora-técnica mais o custo de peças tornem o custo final do serviço inviável.

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4 Procure conhecer bem os produtos que pretende consertar e os tipos de problemas que costumam ocorrer para oferecer uma idéia prévia do valor, evitando assim a perda de tempo em orçamentos que serão rejeitados. 5 Não queira ser um super técnico que pega tudo pra consertar. Isto não costuma dar certo. Estamos na Era da Especialização. O tempo do doutor sabe-tudo já era. 6 Procure dar uma idéia prévia do custo total do conserto, com isto você já percebe as “intenções” do cliente. Sei que esta idéia do pré-orçamento é controvertida e há quem diga que não se pode fazer, entretanto todas as profissões adotam este princípio, por isso acho que nós também devemos brigar por ele e provar que é válido e lícito. Aliás acho que deveria ser lícito até cobrar pelo orçamento descontando este valor se o mesmo for aceito. Nos Estados Unidos, que é o país modelo das nossas autoridades, se faz isto. Por que aqui não pode ?

7 Não aceite para conserto aparelhos mexidos por outros, A menos que você tenha vocação para o masoquismo e goste de sofrer. 8 Seja rápido nas decisões e resposta sobre a possibilidade ou não de executar o conserto. Não fique procurando peças exóticas de porta em porta que nem pobre pedindo esmola, nem esperando que a mesma cai do céu. Do céu só cai chuva (e, às vezes, avião também). 9 Não deixe que sua oficina fique cheia de aparelhos parados sem solução. Exija que o cliente retire o aparelho, o mais rápido possível, caso você não possa consertar ou ele não aceite o orçamento.

10 Se você não conseguiu consertar um aparelho porque não existe mais a peça ou não consegue informações técnicas, (alguns fabricantes adora sonegá-las), quanto mais o tempo passar menos vontade você terá de consertá-lo. Cada vez que você olha pra aquele monte de tralha parado na prateleira mais estressado você fica e isto prejudica o seu rendimento. Não pense que estou pretendendo desencorajar quem está ou pretende entrar na profissão. Muito pelo contrário. Estas são algumas dicas de como se manter no ramo num Novo Tempo. O Tempo dos Descartáveis. E´ preciso descobrir a medida certa do que se pode e deve consertar. Cada região tem as suas peculiaridades e cada um tem que fazer as adaptações convenientes. Caminhos existem muitos. Cada um precisa encontrar o seu. Eu encontrei o meu (pelo menos acho que encontrei). Jogador de futebol quando não pode mais jogar vira técnico ou comentarista, não é assim? Eu estou deixando, um pouco, a bancada para passar adiante o know how adquirido, porém com um pequena diferença do técnico de futebol: - quero fazer o meu time ganhar sempre. Mas pra isso é preciso treinar e jogar com garra, e não apenas com o bolso, pensando só no dinheiro fácil, senão a sua oficina vai ter que se chamar Eletrônica Seleção Brasileira. Cruz Credo... OBS: Este artigo foi escrito algum tempo atrás (a seleção perdeu).

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Consertar Monitor e TV é a Mesma Coisa? O fato do monitor não possuir o estágio de RF pode fazer parecer que se tornaria realmente mais fácil consertar monitores já que o que sobra, em principio, é igual ao circuito de um televisor. Só que, como eu costumo dizer, na prática a teoria é outra. Entretanto, do ponto de vista teórico, de uma forma superficial, os circuitos são os mesmos, isto é, fonte de alimentação, processamento do sinal de vídeo, deflexão vertical e horizontal e ... acabou. Moleza, não é mesmo . Então vamos ver se você já sabe tudo mesmo? O led do painel não acende mas, aparentemente, não tem nada queimado na fonte. Será que o led que está queimado? Outra pergunta, o led acende na cor laranja e piscando. Novamente, será que o problema está na fonte? E quando o filamento do CRT acende meio fraquinho. Ué, cadê a tensão do filamento que deveria sair do Fly Back? (Deveria mesmo?) Estas são apenas algumas dúvidas que poderiam ocorrer a um iniciante no conserto de monitores. Na verdade antes de começar a querer entender o circuito eletrônico do monitor eu aconselho (depois eu cobro pelo conselho) a começar dando uma olhadinha na placa controladora de vídeo, aquela que fica lá no computador ou CPU como o pessoal prefere dizer atualmente. Você já deve ter ouvido falar que existem monitores CGA (ou melhor existiam) VGA e SuperVGA. Na verdade estes são os

nomes das placas de vídeo e os monitores passaram a receber os mesmo nomes. Mas não fica por aí, tem também a questão da resolução da placa de vídeo (lá do computador) que vai influenciar no funcionamento do monitor e na complexidade do circuito do mesmo. Nos primórdios da informática os “dinossauros” utilizavam monitores CGA com as suas respectivas placas de vídeo que só funcionavam em modo texto.

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A evolução para o padrão VGA, lançado pela IBM, permitiu também o modo gráfico com uma resolução mais “crescidinha” que começou com 640 x 480 pontos ou pixels. E, finalmente, o “maravilhoso” SVGA aceitando o padrão IBM 8514 A de 1024x768, podendo chegar a 1600 x 1280. E aí já começa a primeira diferença entre um monitor e um TV. Para suportar estas resoluções ou modos de vídeo, como também são chamadas há que se trabalhar com freqüências de varredura vertical e horizontal (afinal uma está amarrada a outra) maiores o que por sua vez exige mais da deflexão, principalmente a horizontal, do Fly Back e obviamente da fonte principal. Se você não sabe, fique sabendo, a freqüência do vertical pode chegar a 85 HZ e a do horizontal a 96 KHZ. Já dá para perceber então, as complicações que virão. Outra questão fundamental nos modernos monitores é o conceito de DPMS que significa Display Power Manager System (vai dizer que você ainda não sabe inglês, a sua futura língua pátria) ou Sistema de Gerenciamento de Energia do Monitor. O DPMS foi introduzido pela VESA e consiste em fazer com que a placa de vídeo “manipule” os sinais de sincronismo vertical e horizontal que irão para o monitor fazendo com que ele possa operar nas seguintes condições:

On, Stand by, Suspend e Off. Cada um destes modos vai permitir um percentual de economia de energia diferente. É bom , avisar logo, que o modo Off mencionado não significa que o monitor está totalmente desligado e sim numa espécie de “sono profundo” o que faz com que ele demore mais a “acordar”.

A questão da cor do Led (verde, laranja ou piscando) está relacionada ao DPMS. Outro ponto que merece uma análise, é que os monitores atuais não trabalham com sinal de vídeo composto como os TVs ou até mesmo alguns monitores antigões. Eles recebem o sinal RGB, analógico (isto mesmo), proveniente da placa de vídeo para ser processado nos circuitos do monitor até chegar ao CRT. Já os sinais de sincronismo H e V podem ser enviados de três maneiras: Separados (o mais usual atualmente), sinc composto (os dois juntos num “pacote” ou junto com o sinal verde (o chamado sinc on green). Alguns monitores estão aptos a receber o sincronismo em qualquer uma das três modalidades e processá-lo, outros porém, só no modo separado. Se o monitor aceitar o padrão DPMS os sincronismos (H e V) deverão passar pelo microcontrolador do monitor para produzir os sinais que irão controlar a fonte de alimentação.

Uma grande dificuldade encontrada pelos técnicos na reparação de monitores, além de entender o funcionamento do circuito,

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é conseguir esquemas e peças, principalmente o famigerado fly back. O monitor talvez seja o grande negócio da eletrônica atualmente , junto com o “micro” (CPU) e a impressora já que não adianta ter o micro sem ter o monitor ( a não ser que você faça como aquele patrício que vendeu a televisão para comprar o vídeo cassete) por isso existe uma proliferação de marcas e modelos no mercado. Muito monitores são produzidos por OEM (Original Equipment Manufacturing) um processo em que um fabricante verdadeiro vende o seu projeto para uma empresa que comercializa o produto com sua marca. Isto cria uma grande confusão por que você fica procurando esquemas e peças de uma marca que na verdade, às vezes, não existe ou o que é pior existe mas, aquele monitor foi fabricado por outro. E’ mais ou menos como se você bebesse Pepsi numa garrafa com rótulo da Coca Cola por um “acordo” entre elas. Impossível? Olha só a Brahma e a Antartica, o que interessa no sistema capitalista é só o lucro. Mas, voltando aos monitores, já que nós ainda somos técnicos e não donos de botequim, como é que a gente vai descobrir se o dito cujo tem “pai” ou é filho adotivo? Se o monitor que você está tentando consertar não for pirataria braba, ou seja, copiado na marra, você pode recorrer a um código chamado FCCID que é uma espécie de DNA dos monitores e achar o ‘’pai” dele. Todo monitor decente deverá conter na sua etiqueta de identificação os seguintes dados: nome do possível fabricante, modelo, número de série e o mais importante FCCID.

E afinal o que é FCCID ? Nos “States” existe um órgão governamental chamado Federal Communication Comission (uma espécie de Anatel, que já foi Dentel, Telebras e não se mais o quê) que registra tudo que possa ter envolvimento com emissão de freqüências (os gringos que me desculpem a comparação com os nossos similares). O FCC gera um código de identificação (ID) para cada fabricante e produto. Este código consiste num monte de letras e números no qual os três primeiros dígitos, alfa numéricos, identificam um determinado fabricante e este código não muda nunca (por que lá não é Brasil). Através deste código você descobrirá quem é o verdadeiro fabricante do monitor. Isto poderá ajudar um pouquinho a conseguir o esquema do mesmo ou, pelo menos, ter um ponto de partida para encontrar esquemas semelhantes. As vezes o produto vendido pelo “fabriclone” é exatamente igual ao original porém, outras vezes, ele foi feito de encomenda e aí vai ficar bastante difícil conseguir peças e esquemas por que o pai da criança já pulou fora. Portanto, não se meta a candidato a herói querendo traçar tudo que aparece pela frente (eu estou falando com relação a consertar, não vá pensar bobagem). Marcas estranhas devem ser analisadas antes de se meter a mão na massa, digo na placa.

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Por enquanto é só. Se quiser saber mais por que não faz um cursinho sobre o assunto. Eu conheço um muito bom que um tal de Paulo Brites que já está disponibilizando um Curso de Monitores para os Técnicos de TV (tem presencial e pela Internet). Depois desse comercial careta que parece até propaganda de candidato, tô saindo de fininho. Fui... ______________________________ O Defeito Cinco em Um e a Corrente Preta É muito raro um aparelho apresentar, mais de um defeito, simultaneamente, por “livre e espontânea vontade” e em áreas que não estejam diretamente relacionadas. Esta situação quando ocorre tem como origem, geralmente, uma das seguintes hipóteses: 1) aparelho atingido por descarga

atmosférica (raio); 2) aparelho submetido a variações

bruscas da rede elétrica ou sobre tensão;

3) situações provocadas propositalmente ou por manuseio inadequado, em outras palavras, defeito provocado seja ele de forma consciente (“técnico” desonesto) ou não.

Estava eu diante de um Chassis CPH 06 da Philco modelo PCR 2049 com vertical fechado. Moleza, não é mesmo? Em princípio sim, mas esperem pra ver o que vem pela frente.

O defeito parecia ser tão ridículo que eu deixei meu auxiliar se virando com ele e fui tratar de coisas, digamos assim, mais nobres. Numa rápida inspeção visual ele encontrou logo de cara R605 de 33 Ohms torradinho. Isto por si só parecia indicar que o C.I. da saída vertical IC601 que neste caso é o TDA 8356 devia ter ido visitar outros da mesma espécie no - mármore do inferno. Mesmo assim não custava nada trocar a R605 (por que é baratinho) e ver que bicho dava. E deu zebra como era de se esperar. Foi só ligar e a fumacinha começar a surgir em volta do dito cujo resistor. Não havia outra saída senão, partir para a troca do IC601. Feita a substituição ficamos na mesma, ou seja, vertical fechado com linha brilhante no centro da tela. Entretanto, um progresso havia sido obtido: - o resistor não queimou mais. Neste momento meu auxiliar entregou os pontos e gritou por socorro. Ao olhar para tela observei um detalhe interessante. Além do vertical estar fechado, tínhamos não uma linha branca brilhante como era de se esperar e sim uma linha vermelha. Isto já começava a sinalizar um outro defeito que não parecia, em princípio, ter nada a ver com o primeiro. É bom que fique claro que a ordenação dos defeitos que estou fazendo é meramente aleatória por que a esta altura não dava pra saber como tudo começou e qual teria sido realmente o primeiro defeito.

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Se fosse um dos novos televisores Philips até que seria possível, em alguns casos, rastrear a seqüência de falhas, mas este não era o caso porque o nosso “doente” era um Philco. Atendendo ao pedido de SOS comecei olhando o esquema e notei que o TDA8356 recebia tensão de duas fontes geradas no FBT. A tensão B3, onde estava o R605 torradinho, entrava no pino 6 e estava correta. Mas no pino 3, que deveria receber uma outra alimentação pela linha B6, não chegava nadinha. Olhando o esquema vê-se que B6 também alimenta um regulador de 9 Volts que produz a linha B7. Cheguei a suspeitar apressadamente que a ausência destes 9 Volts pudessem estar provocando o problema da linha vermelha (não é a do Rio de Janeiro onde não é recomendado passar depois de certas horas pra não ser assaltado) e se fosse o meu dia de sorte ao normalizar a linha B6 seria só faturar. Definitivamente não era o meu dia de sorte! Descobri que R709 de 1 Ohm estava aberta e D702 estava em curto. O código deste diodo era algo que não fazia parte dos meus arquivos mentais. Entretanto, o importante é estar atento que este diodo deve ser do tipo rápido por que faz a retificação através do horizontal. Procurei nas minhas sucatas algum espécimen que fizesse um papel semelhante e assim, solucionei o problema da linha B6 e, por tabela, da linha B7. Neste momento já contabilizávamos quatro componentes avariados.

Até aí havia alguma lógica no defeito. Provavelmente a briga entre elétrons judeus e elétrons palestinos dentro do IC601 culminara com a destruição do mesmo, e havia “matado” também alguns “civis inocentes” como o R605, R709 e D702. Liguei o aparelho feliz da vida, e a tela acendeu vermelhinha como um pimentão. Como quem está na chuva é pra se queimar (palavras do “grande filósofo”, já do “outro lado”, Vicente Mateus!) o jeito era encarar mais este. E até que não foi muito difícil. Na placa do tubo encontrou-se Q830 com a junção base emissor aberta e R832 de 330 Ohms (SMD hein, quem diria!) também aberto. Achas que acabou? Quer moleza? Senta num prato de gelatina, meu filho! Trocado os dito cujos, a coisa ficou literalmente preta. Isso mesmo. A tela agora não estava mais vermelhinha e sim pretinha da silva embora tivesse alta tensão chegando no tubo e o filamento estivesse aceso. Não nos desesperemos. Depois da tempestade vem a ambulância (Vicente Mateus). Resolvi colocar um gerador de barras por que com tela preta ia ficar difícil chegar a alguma conclusão. Chaveando o gerador para a varredura de cada uma das cores (Vermelha, Verde e Azul) e acompanhando com o osciloscópio (você ainda acha que ele não é útil?) os pinos correspondentes no IC501 (TDA8841). Quase não foi nenhuma surpresa descobrir que no pino 21, que

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corresponde a saída do vermelho, não aparecia nada. Mas então por que a ausência do vermelho fez a tela ficar preta se antes de trocar Q830 e R832 estava vermelha? Aqui cabem duas explicações. Com Q830 aberto produziu-se a saturação de Q831 que por sua vez excitou fortemente o cátodo vermelho. Com a recuperação desta parte do circuito chegamos ao defeito original que era ausência do vermelho no pino 23 do IC501. Um técnico afobado ia querer logo trocar o dito cujo. Mas como eu não acredito em muitas desgraças num dia só resolvi ter fé, por que a fé (como diz Gilberto Gil) não costuma falhar. Olhando atentamente o circuito notei que cada pino RGB tinha um zener de proteção para terra. Entre trocar um CI e um Zener eu fico com a segunda opção. E não é mesmo que o ZD 503 estava com uma fuga pra ninguém reclamar. Trocado mais este componente, senão errei nas contas foram oito ao todo, e foi só correr para o merecido abraço. Mas, pera aí você deve estar querendo me perguntar o quê que tem a ver (não vá pensar besteira) a falta do vermelho com a tela ficar preta. Já que você não pode perguntar eu respondo assim mesmo. Se você olhar um pouquinho para cima na pinagem do C.I vai encontrar o pino 18 marcado com a designação black current. Desconfiei que esta tal black current (corrente preta) deveria ter um papel similar a corrente I k dos C.I s da Sony a qual já era minha velha conhecida e já

havia me ajudado a comprar o leite da criança (no singular mesmo) algumas vezes. Entrei na página da Philips na Internet (www.philips.semiconductors.com) e baixei tudo que pude sobre o TDA8841. Estava lá o que eu suspeitava. O pino 18 recebe uma amostra dos três canhões e se um deles ficar ausente o CI produz um espécie de mute de vídeo evitando cores distorcidas na imagem. No caso dos CIs da Sony a corrente I k realiza uma espécie de “ajuste automático” a medida que os canhões vão envelhecendo e evita deste modo que a imagem fique “puxando” para uma determinada cor diferente da correta.

Na verdade a solução deste último defeito não foi muito difícil por que eu tinha um

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conhecimento teórico sobre o assunto e o hábito de pensar antes de fazer bobagens o que com certeza contribuiu para um Happy End. E assim, todos viveram felizes, eu e o meu cliente, pelo menos até o próximo defeito. Só pra lembrar e terminar a matéria de hoje, se você ainda não tem intimidade com a Internet, abra o olho por que mais black currents virão por aí. ______________________________

Cuidado: Ajustar nem sempre é Consertar ou o Caso do Sony KV2172 do Seu João. Os técnicos sempre tiveram a mania (feia, por sinal) de resolver os problemas dos aparelhos futucando os trimpots e as bobinas. Muitas vezes, este procedimento oferece uma pseudo solução sumindo o efeito, mas, não o defeito. E´ bom que fique claro que ajustes são como anti inflamatórios e analgésicos, a dor pode passar na hora mas, a causa fica lá escondida para explodir muitos anos depois. Tomar anti-inflamatórios (mesmo que com receita do médico) sem a busca da causa da inflamação é como fazer ajustes sem procurar saber porque desajustou. Por que então os fabricantes colocam ajustes nos seus aparelhos se não é para

os técnicos terem o prazer de ajustá-los e ganhar seu dinheirinho? Sabemos que os componentes eletrônicos não têm os seus parâmetros rigorosamente iguais aos valores nominais. Transistores de um mesmo tipo podem apresentar ganhos diferentes dentro de uma certa faixa aceita como “normal”. Estas variações vão necessitar ajustes, a menos que os projetos fossem individualizados e com os componentes “escolhidos a dedo”. Mas, uma vez ajustados na fábrica, estes ajustes deverão perdurar a menos que três coisas aconteçam: 1) uma espécie de “acomodação geral”

dos componentes obrigue que se faça um re-ajuste nos primeiros “momentos de vida” do equipamento. Isto é coisa para a autorizada se virar e resolver por uma taxinha de serviço tipo cala a boca.

2) algum(s) componente(s) vai (vão) degradando e fugindo lenta e progressivamente de suas especificações. Corrigir o sintoma com ajustes, sem procurar a causa, é como tomar o anti inflamatório e deixar a doença pra lá.

Um dia a coisa explode e, às vezes, não tem mais jeito ou vai explodir na mão de outro técnico (ou outro médico). 3) Um componente pifou de vez e teve

que ser substituído por outro que, embora seja “igual” ao original, pode ter parâmetros ligeiramente diferentes do que estava originalmente. Neste caso fazer um ajuste pode ser necessário e é perfeitamente válido.

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Toda esta introdução foi para preparar o terreno para contar o causo que aconteceu com o Seu João, um técnico nosso vizinho de loja que quando se sente confuso passa lá para nos pedir uma “ajuda espiritual”. Seu João recebeu um Sony KV 2172 com alguns probleminhas que não interessa aqui relatar e ele resolveu sem grande estresse. Colocada a imagem de volta na telinha o vertical não espichava todo como deveria. Moleza, pensou ele, é só pegar o livrinho de ajustes de TV do Paulo Brites e ver como se entra no menu de serviço e esticar o vertical. E foi aí que a história começou e este artigo também. Ao tentar “abrir” mais o vertical ele descobriu que os “números” da tabela acabaram e todo mundo continuava um pouco encolhido na parte de baixo e certamente o cliente não iria gostar de assistir TV daquele jeito. Parecia obra do Dr. Encolhedor. Lembram deste seriado na TV? Esse eu tirei lá do fundo do baú! Eis que um belo dia me aparece o seu João querendo saber qual a reza forte para resolver o problema. Será que o defeito pode ser do micro ou da memória, perguntava ele um pouco triste. Ora Seu João se os numerozinhos na tela estão variando e chegaram ao máximo sem produzir mais esticamento da tela tudo indica que o micro e a memória não têm nada a ver com isto. Certamente o circuito onde o ajuste atua está fora da especificação original e neste caso não vai ter ajuste (nem santo, muito menos) que dê jeito. O negócio é procurar a causa, disse-lhe eu, e esquecer o ajuste.

Mostrei-lhe no esquema que a coisa deveria rondar o IC501. Um par de amplificadores operacionais embutidos no RC4558. Embora eu não seja do tipo que goste de trocar integrados à toa, sugeri-lhe que valia a pena começar por ele já que era um integrado barato, fácil de achar e com pouco pinos. Voltei às minhas atividades, pois tenho mais o que fazer e não posso passar o dia dando “consultas” ao vivo e muito menos pelo telefone principalmente pra aqueles “técnicos” que ainda nem abriram o aparelho e já querem que eu diga qual o defeito para ele ganharem o dinheiro mole. É bem verdade que este não é o caso do Seu João que só nos procura quando já está a ponto de cometer um “tvcídio” (jogar o TV pela janela). Dias depois encontrei com o Seu João de manhã cedo e ele, todo contente, anunciou-me que havia matado o defeito (sem precisar matar o TV) e iria me passar os detalhes para que eu passasse adiante para a nossa confraria dos sofredores repadores de TV e outras bugigangas do gênero. É óbvio que o defeito não estava no IC501, senão ficaria fácil demais e não teria a menor graça mas, de qualquer maneira, a minha “orientação espiritual” havia ajudado.

Page 15: INFORMAÇÕES TÉCNICAS E CAUSOS DE BANCADA (Paulo Brites)

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Feitas algumas medidas nos poucos resistores em torno do IC 501 (levantando um por um, senão você pode quebrar a cara), Seu João descobriu que o R518 tinha passado dos 2k7 originais para quase 3k3, uma variação de mais de 20%. Se considerarmos que hoje em dia os fabricantes costumam trabalhar com resistores de tolerância não superior a 5% este resistor era um forte candidato à causa do problema. Trocado o resistor... tchan, tchan, tchan o TV começou a desarmar a proteção ! Mas, o Seu João que é um sujeito esperto voltou o resistor encrenqueiro para o lugar e o TV voltou a funcionar com a tela encolhida o que garantia que ele já estava na pista do “assassino”. Em seguida ele abriu o menu de serviço e diminui o valor correspondente a altura vertical que ele havia deixado no máximo. O próximo passo foi colocar um resistor de valor correto na posição R518 e ligar o TV que ... funcionou ! Voltou ao menu de serviço para corrigir ligeiramente a altura e... causo encerrado. O causo pode estar encerrado mas, merece algumas “considerações finais”. Este TV já havia passado noutra oficina tempos atrás para corrigir o problema de altura. Na época o “técnico” deu um anti- inflamatório, isto é, ajustou a altura via menu de serviço sem procurar saber porque, sem mais nem menos, a imagem havia encolhido. Funcionou, até que um “belo” dia o anti inflamatório não funcionou mais e a bomba foi explodir na mão do Seu João que com sua perseverança (e o nosso apoio) resolveu definitivamente o problema. Antes de dizer “tchau”, lembro que há casos em que a memória pode ter ficado “desmemoriada” e talvez tenhamos

mesmo que apelar para ajuste, mas é importante que antes esgotemos todas as possibilidades. Valeu Seu João. A confraria agradece e... cuidado com os ajustes, faça como aquela comediante da TV que só abre a boca quando tem certeza e você, só ajuste quando souber o que está fazendo (aliás, pensando bem é melhor não fazer como a tal comediante !). E agora sim, até...

Nunca vi povo tão “bem de vida” como o brasileiro. Rejeitam um orçamento de R$ 80,00 para consertar um Vídeo Cassete ou TV para comprar um novo, de qualidade, as vezes, até inferior, por R$ 300,00. Deve estar sobrando dinheiro , não é mesmo! Ou será que estão querendo de graça e com troco. Ah, e garantia de três meses também, é claro!