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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS FELIPE AUGUSTO CORBELLINI DE SOUZA INFLUÊNCIA DA PLASTICIDADE DE MASSAS CERÂMICAS TRIAXIAIS NAS ETAPAS DE PROCESSAMENTO DE CORPOS EXTRUDADOS FLORIANÓPOLIS 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

FELIPE AUGUSTO CORBELLINI DE SOUZA

INFLUÊNCIA DA PLASTICIDADE DE MASSAS CERÂMICAS TRIAXIAIS NAS ETAPAS DE PROCESSAMENTO DE CORPOS EXTRUDADOS

FLORIANÓPOLIS

2005

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Souza, Felipe Augusto Corbellini de, 1982-

Influência da Plasticidade de Massas Cerâmicas Triaxiais nas Etapas de Processamento de Corpos Extrudados / Felipe Augusto Corbellini de Souza. –2005.

31 f. : il. color. ; 30 cm Orientador: Prof. Dr. –Ing Dachamir Hotza. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Federal de Santa

Catarina, Curso de Engenharia de Materiais, 2005. 1. Plasticidade. 2. Extrusão. 3. Porcelanas. I. Hotza, Dachamir. II. Universidade

Federal de Santa Catarina. Curso de Engenharia de Materiais. III. Influência da Plasticidade de Massas Cerâmicas Triaxiais nas Etapas de Processamento de Corpos Extrudados.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

FELIPE AUGUSTO CORBELLINI DE SOUZA

INFLUÊNCIA DA PLASTICIDADE DE MASSAS CERÂMICAS TRIAXIAIS NAS ETAPAS DE PROCESSAMENTO DE CORPOS EXTRUDADOS

Trabalho de graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Materiais da

Universidade Federal de Santa Catarina

como parte dos requisitos para a obtenção

do título de Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. –Ing. Dachamir Hotza

Coorientador: Eng. Nilson Schwartz da Silva

FLORIANÓPOLIS

2005

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FELIPE AUGUSTO CORBELLINI DE SOUZA

INFLUÊNCIA DA PLASTICIDADE DE MASSAS CERÂMICAS TRIAXIAIS NAS ETAPAS DE PROCESSAMENTO DE CORPOS EXTRUDADOS

Este Trabalho de graduação foi julgado adequado para a obtenção do título de

Engenheiro de Materiais e aprovado em sua forma final pelo Curso de graduação em

Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina.

Prof. Dylton do Vale Pereira Filho Coordenador

Comissão Examinadora

Prof. Dr. –Ing. Dachamir Hotza Orientador

Eng. Nilson Schwartz da Silva Coorientador

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AGRADECIMENTOS

À empresa T-cota Engenharia de Materiais Cerâmicos, por disponibilizar sua

estrutura laboratorial e fornecer todas as condições para o desenvolvimento deste

trabalho.

Em especial ao Engenheiro Nilson Schwartz da Silva, pela coorientação. Ao

Engenheiro Henrique Cislagui da Silva e Laudicéia Ereni Marques Flores, pelo

companheirismo e apoio durante a realização das atividades.

Ao Prof. Dr. –Ing. Dachamir Hotza, pela disposição e atenção prestada durante a

orientação do trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso trata da influência da plasticidade de

massas cerâmicas triaxiais nas etapas anteriores à queima do processo de extrusão,

sendo também parte integrante da efetivação de um controle preditivo de processo,

pois fornece informações preliminares para o mesmo. Os materiais empregados neste

trabalho foram cerâmicas triaxiais formuladas para compor corpos de isoladores

elétricos de alta tensão de base aluminosa, as quais foram processadas via extrusão,

para que se pudesse avaliar quanti e qualitativamente o desempenho da mistura de

argilas de diferentes propriedades plásticas na composição estudada. Preliminarmente

evidenciou-se que a plasticidade da argila influencia o comportamento físico dos corpos

obtidos durante a secagem e que estas informações podem compor uma ferramenta

tecnológica para o desenvolvimento de produtos específicos.

Palavras-chave: Plasticidade. Extrusão. Porcelanas.

ABSTRACT

The present graduate work is about the plasticity of porcelain pastes influencing

the stages before firing of the extrusion process, being also integral part of a predictive

process control because it supplies preliminary information for the same. The materials

employed in this work were ceramic pastes formulated to compose porcelain bodies for

high voltage electrical insulators, which were extruded with the objective to perform a

quantitative and qualitative evaluation of the performance of mixtures, containing clays

with different plastic properties in the studied composition. This preliminary study

evidenced that the plasticity of the clay influences the physical behavior of the bodies

obtained, mainly during the drying stage, and the resulting information can compose a

technological tool for the development of specific products.

Keywords: Plasticity. Extrusion. Porcelain.

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LISTA DE FIGURAS

FIgura 1 – Fluxograma de processo do estudo laboratorial. ..........................................12

Figura 2 – Colher de Casagrande. .................................................................................14

Figura 3 – Ilustração esquemática de um moinho de martelos [Reed, 1995] .......................15

Figura 4 – Representação esquemática de um moinho de bolas [Reed, 1995]. ...................17

Figura 5 – Ilustração da secção transversal de um copo Ford. ......................................17

Figura 6 – Ilustração esquemática de um equipamento de Gallenkamp........................19

Figura 7 – Ilustração esquemática da secção transversal de um filtro prensa [Reed, 1995] 19

Figura 8 – Ilustração da secção transversal de uma extrusora em funcionamento........21

Figura 9 – Comportamento reológico. ............................................................................21

Figura 10 – Posicionamento e sentido de medição dos corpos-de-prova. .....................23

Tabela 1 – Parâmetros de moagem. ..............................................................................25

Tabela 2 – Medidas indiretas da viscosidade pelo equipamento de Gallenkamp. .........25

Tabela 3 – Medidas indiretas da viscosidade pelo Copo Ford. ......................................25

Tabela 4 – Propriedades mecânicas pós-extrusão ........................................................26

Figura 11 – Curva de Bigot para a massa com argila 45. ..............................................27

Figura 12 – Curva de Bigot para a massa com argila 30. ..............................................27

Figura 13 – Retração Diferencial Longitudinal (RDL) e Retração Diferencial Diametral

(RDD) de secagem das composições estudadas.....................................................28

Figura 14 – Corpo-de-prova para RDL...........................................................................28

Figura 15 – Corpo-de-prova para RDD. .........................................................................28

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 11

3 METODOLOGIA................................................................................................. 11

4 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 12

4.1 Obtenção dos materiais ........................................................................ 13

4.2 Cominuição preliminar .......................................................................... 15

4.3 Moagem................................................................................................ 15

4.4 Filtro Prensa ......................................................................................... 18

4.5 Extrusão................................................................................................ 19

4.6 Secagem............................................................................................... 22

4.7 Sinterização .......................................................................................... 24

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 25

5.1 Influência da Plasticidade na Moagem ................................................. 25

5.2 Influência da Plasticidade nas propriedades mecânicas pós-extrusão. 26

5.3 Influência da Plasticidade na Secagem ................................................ 26

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................................. 29

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 30

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1 INTRODUÇÃO

A conformação de corpos cerâmicos por extrusão é definida pela indução da

passagem de um material plástico coesivo através de um orifício de uma matriz rígida

(Reed, 1995, p. 450). Este conceito, quando utilizado pelo meio industrial, origina

produtos diversificados em razão das exigências de mercado. Porém, ao analisar

minuciosamente as etapas do processo de extrusão, encontra-se em sua origem, a

entrada de matérias-primas, as quais são responsáveis pelo comportamento do material

durante e após o processamento. Uma vez que as propriedades das matérias-primas

são variáveis, pode-se esperar que o comportamento do material durante o

processamento, bem como as propriedades finais do produto não serão constantes.

Este fato compõe uma situação propícia à aplicação do controle preditivo de processo,

o qual define-se por ser um método de predição da performance de materiais

particulados através de medidas de propriedades fundamentais de cada matéria-prima

que compõe um corpo cerâmico (Dinger,1994, p. 1).

As cerâmicas triaxiais, ou porcelanas triaxiais, eleitas para serem objeto de

pesquisa deste trabalho, são cerâmicas compostas principalmente pela mistura inicial

de materiais particulados de três grupos característicos: fundentes, refratários e

plásticos. A obtenção de produtos porcelânicos deve passar obrigatoriamente por

etapas de conformação e tratamento térmico. Os materiais fundentes conferem fluxo

viscoso durante o processamento térmico da mistura, conseqüentemente

proporcionando grande densificação e eliminação de porosidade. Fundentes

empregados comumente no meio industrial são os feldspatos rochosos de metais

alcalinos e alcalino-terrosos. Os materiais refratários conferem principalmente

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estabilidade dimensional ao corpo formado pela mistura, durante todo o

processamento, além de serem responsáveis pelas propriedades mecânicas finais,

sendo exemplo destes materiais a alumina (óxido de alumínio - Al2O3) e a sílica (óxido

de silício - SiO2). Finalmente, os materiais plásticos conferem “plasticidade”, ou seja, a

capacidade de deformação permanente induzida por aplicação de tensão mecânica a

um corpo, durante etapas de conformação plástica da mistura. Os materiais plásticos

naturais mais comuns são as argilas, que exibem plasticidade quando se incorpora

água (H2O) às mesmas, devido ao fato dos minerais argilosos serem organizados em

camadas em níveis microscópicos, as quais são susceptíveis ao movimento relativo

induzido por tensão mecânica quando há lubrificação aquosa entre elas.

Como exemplos de produtos comerciais, obtidos a partir de cerâmicas triaxiais,

podem-se citar os isoladores elétricos obtidos por extrusão, as louças de mesa obtidas

por extrusão, as louças sanitárias obtidas por colagem, as placas de revestimento

obtidas por prensagem unidirecional, dentre os produtos mais comumente encontrados

no ambiente social e industrial. Estes produtos foram obtidos através de um projeto de

fabricação, sendo este caracterizado por compilar as necessidades dos clientes, ou

seja, os requisitos destes produtos. Deve-se ressaltar que o mercado alvo determina os

requisitos de produtos de uma maneira geral, sendo estes atendidos pelo meio

industrial. Logo, desta relação entre indústria e o mercado, surgiu a motivação deste

trabalho, que pode ser definida pelo emprego do controle preditivo do processo de

extrusão de cerâmicas triaxiais, almejando atender os requisitos técnicos de isoladores

elétricos para alta tensão.

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Ressalta-se que neste trabalho estão exibidas apenas as informações

preliminares para a efetivação do controle preditivo do processo em questão, devido ao

fato de que as atividades que originaram este trabalho encontram-se em andamento.

2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é a geração de informações que irão compor as

variáveis de entrada para efetivação do controle preditivo do processo de extrusão de

isoladores elétricos para alta tensão.

Como objetivo específico tem-se a avaliação da influência da plasticidade de

massas cerâmicas triaxiais nas propriedades físicas, durante as etapas antequeima do

processamento de corpos extrudados.

3 METODOLOGIA

A metodologia empregada para execução do trabalho está baseada na descrição

das etapas do processo de extrusão, bem como a reprodução laboratorial destas,

sendo determinada como variável de entrada a plasticidade das argilas que fazem parte

da composição das cerâmicas triaxiais estudadas, e como variáveis de saída, as

propriedades físicas medidas em cada etapa do processo.

Como ferramentas de orientação ao planejamento da prática laboratorial, foram

utilizados o fluxograma de processo (figura 1) e o diagrama de Gandt.

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Argila [30][45]

Feldspato

Moagem

Plasticidade (Atterberg)

Filtro Prensa

d = 1,60g/cm3

Resíduo#325=4,5%

Viscosidade indireta (Copo Ford)

Viscosidade indireta(Gallenkamp)

Extrusão

4 < P < 6 [Kgf/cm2]

Tempo = 40min

Secagem

Penetração Humbold

Cisalhamento (Vane)

Retração Diferencial Longitudinal

Cominuição Preliminar

Cominuição Preliminar

Caulim Alumina

H2O ~17%peso

T = 100 ºC

Retração Diferencial Diametral

Variável de entradaCondição de contornoEtapa de processoVariável de saída

FIgura 1 – Fluxograma de processo do estudo laboratorial.

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4 DESENVOLVIMENTO

As atividades foram executadas, e estão apresentadas, na ordem seqüencial das

etapas do processo de extrusão de corpos cerâmicos.

4.1 Obtenção dos materiais

De acordo com as condições mais econômicas para obtenção de corpos de

porcelanas triaxiais, podem-se utilizar algumas matérias-primas extraídas diretamente

da natureza, como o caso dos feldspatos, argilas e caulins. O caulim é um material de

baixa plasticidade, que geralmente contém caulinita em sua composição mineralógica,

sendo utilizado na composição de componentes que devem possuir a fase mulita na

microestrutura pós queima.

A alumina geralmente é obtida por um processo de beneficiamento baseado no

processo Bayer (Reed, 1995 p. 40). Ressalta-se que há estudos (Liebermann, 2002) do

emprego da bauxita, o principal minério para obtenção de alumina, na composição

direta de misturas porcelânicas ao invés da utilização de alumina beneficiada.

Os materiais utilizados neste trabalho possuem as seguintes características:

Alumina: geral de eletro-fusão, com tamanho médio de partículas de 22µm;

Feldspato: classificado como feldspato potássico de acordo com informações

cedidas pelo fornecedor;

Caulim: extraído da região sudeste do Brasil;

Argilas: 30 e 45 – Ambas extraídas da região Nordeste do Brasil;

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As argilas foram identificadas por números que correspondem a seus respectivos

índices de plasticidade, determinados em laboratório através dos limites de Atterberg.

A técnica de caracterização da plasticidade de argilas através dos limites de

Atterberg consiste em determinar percentuais de umidade necessários para caracterizar

a passagem do material de pasta para corpo plástico (limite líquido) e de corpo plástico

para grânulo (limite plástico), através de critérios visuais e do emprego de um

equipamento denominado “colher de Casagrande”, apresentado na figura 2. Determina-

se o índice de plasticidade através da diferença entre os limites plástico e líquido

resultantes da técnica.

Os limites de Atterberg, determinados em laboratório a partir de duas amostras

de cada argila empregada neste trabalho, foram:

• Argila 30: Limite Líquido = 57,13 ± 3,00 ; Limite Plástico = 27,02 ± 0,38

• Argila 45: Limite Líquido = 72,00 ± 3,00 ; Limite Plástico = 26,46 ± 0,40

Figura 2 – Colher de Casagrande.

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4.2 Cominuição preliminar

Após a extração em jazidas naturais, as matérias-primas cerâmicas geralmente

são submetidas a uma cominuição preliminar, com o objetivo de promover uma melhor

homogeneização das segregações contidas nas mesmas, além de diminuir o tamanho

de grânulos.

Para o estudo em laboratório, as argilas e o caulim, foram submetidos a

cominuição por moinho de martelos (Figura 3) após cominuição manual por pistilo e

almofariz.

Figura 3 – Ilustração esquemática de um moinho de martelos [Reed, 1995, p. 314]

4.3 Moagem

A moagem a úmido de particulados cerâmicos pode ser conceituada como um

processo de cominuição que objetiva diminuir o tamanho médio de partículas, alterar a

forma das mesmas e homogeneizar os componentes de uma mistura em uma

suspensão, ou barbotina. Como conseqüência da alteração das propriedades físicas

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das partículas durante a moagem, obtêm-se implicações como a alteração da química

de superfície e da área superficial do material. Logo, pode-se utilizar a moagem para

efetuar modificações no comportamento do material em etapas posteriores de

processamento, como por exemplo, proporcionar um aumento na taxa de reações

termo-químicas de um pó através do aumento do tempo de moagem de um material.

Para esta etapa do processamento, se faz necessária a utilização de um

equipamento denominado moinho, sendo a partir das características deste que se pode

esperar a eficiência de moagem.

As variáveis de controle do processo de moagem, no âmbito industrial, são o

tempo de agitação e o controle da massa residual de pequenas amostras da

suspensão, quando “lavadas” em uma peneira padronizada. Desta forma, a eficácia do

controle da moagem pode ser evidenciada quando é possível elaborar um diagrama

que relaciona a citada massa residual em função do tempo de moagem, aplicando-o

para determinar condições ótimas à utilização dos equipamentos industriais.

Também se utiliza a moagem para controlar as propriedades reológicas de uma

suspensão, enquanto seus constituintes sólidos são cominuídos, preparando-a e

condicionando-a para etapas subseqüentes de um processamento, como por exemplo,

efetuar um ajuste de viscosidade de uma suspensão, que será utilizada na colagem de

componentes cerâmicos, através da adição de aditivos incorporados dentro do moinho.

A moagem, realizada experimentalmente, foi conduzida em moinho de bolas,

conforme ilustrado na figura 4, sendo controlada através de medidas da massa não

passante em peneira #325.

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Figura 4 – Representação esquemática de um moinho de bolas [Reed, 1995, p. 315].

Figura 5 – Ilustração da secção transversal de um copo Ford.

Adicionalmente foi efetuada a medição indireta da viscosidade da suspensão, a

fim de caracterizar a mesma e colocá-la em função da argila selecionada para

composição de cada suspensão. Medidas indiretas de viscosidade foram efetuadas

através de dois equipamentos laboratoriais, copo Ford (largamente empregado na

industria) e o equipamento de Gallenkamp .

O copo Ford consiste em um recipiente em forma de copo, com secção

transversal circular variável, culminando em um orifício, conforme ilustrado na figura 5.

Este equipamento é amplamente utilizado na industria cerâmica para determinar

indiretamente a viscosidade de uma suspensão. Seu princípio de funcionamento está

baseado na medição do tempo necessário para que uma suspensão possa escoar do

interior do copo através do orifício. Desta forma, suspensões muito viscosas necessitam

de mais tempo para escoar quando comparadas com suspensões pouco viscosas.

O equipamento de Gallenkamp consiste em um disco suspenso mecanicamente

e conectado em uma haste, o qual executa movimentos de torção. O ensaio com este

tipo de equipamento é conduzido através da imersão da haste na suspensão que se

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deseja caracterizar. Ao impor uma tensão de torção ao disco, este descreve uma

trajetória angular que indica a posição final de seu movimento, a qual é relacionada

com a viscosidade da suspensão, pois suspensões viscosas induzem o disco a

descrever trajetórias angulares menores quando comparadas com suspensões menos

viscosas. As medidas são efetuadas visualmente através de uma escala angular

presente no equipamento. Ao efetuar medidas de uma suspensão em intervalos de

tempo conhecidos, pode-se constatar, ou não, uma diferença nos valores lidos, sendo

relacionada com um índice de tixotropia da suspensão. A figura 6 ilustra

esquematicamente um equipamento de Gallenkamp.

4.4 Filtro Prensa

Após a cominuição do material via moagem úmida, há um teor de líquido muito

elevado para que o material seja conformado plasticamente por extrusão. Em virtude

deste fato, utiliza-se uma etapa de filtração para que a umidade do material seja

ajustada em teores aceitáveis para a próxima etapa do processamento.

Nesta etapa se faz necessária a utilização de um equipamento denominado filtro

prensa, o qual está esquematicamente ilustrado na figura 7 e tem por objetivo filtrar

uma suspensão através da indução da passagem do material através de malhas com o

auxílio de pressão.

Utiliza-se este equipamento industrialmente em virtude de o mesmo apresentar

elevada produtividade e atribuir agilidade ao processamento quando comparado com

outros métodos de redução do teor de líquidos de suspensões.

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Figura 6 – Ilustração esquemática de um equipamento de Gallenkamp.

Figura 7 – Ilustração esquemática da secção transversal de um filtro prensa [Reed, 1995, p. 366]

A atividade experimental relacionada com a filtro-prensagem foi efetuada em um

equipamento de laboratório com capacidade para processar de 2,5 L a 5,5 L de

suspensão por batelada, sendo utilizadas pressões variáveis entre 40 MPa e 70 MPa.

Ressalta-se que o material resultante do filtro prensa apresentou um gradiente de

umidade, do centro para a periferia do corpo, desta forma necessitando de 24 h de

acondicionamento estático para homogeneização do teor de umidade.

4.5 Extrusão

A extrusão, já conceituada anteriormente, quando descrita através de sua análise

mecânica revela os requisitos que o processo exige, logo restringindo as propriedades

dos materiais que se destinam ao mesmo.

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Pode-se entender melhor o processo em questão através de uma análise da

trajetória do material dentro da máquina extrusora (Figura 8). Tal equipamento pode ser

encontrado em diferentes configurações, sendo as mais comuns a extrusora de pistão e

a extrusora de fuso, sendo esta última a mais empregada na industria cerâmica

brasileira, podendo ainda ser encontrada com um, dois e até três fusos rotativos,

dependendo do grau de homogeneização necessário às suas aplicações.

Quando o fuso da máquina extrusora encontra-se em movimento de rotação, o

material é conduzido em seu sentido axial para a direção que a rosca determina, logo,

transforma-se o movimento de rotação do fuso em movimento axial de material, sempre

em direção a uma matriz, a qual tem sua funcionalidade relacionada com a

determinação geométrica do produto e com o gradiente de velocidade do material a ser

compactado no interior da mesma.

A figura 8 ilustra esquematicamente o mecanismo de conformação de um

material plástico coesivo em uma máquina extrusora de monofuso. Quando o material

deixa a rosca, ocorre fluxo de material em direção ao centro do corpo em razão do

preenchimento da cavidade ocasionada pelo fuso; desta forma, a velocidade axial do

material é mínima na região logo em frente ao fuso e relativamente máxima na região

da face da rosca. Os vetores velocidade, apresentados na figura 8, representam a

evolução do gradiente de velocidade imposto ao material, sendo fortemente

influenciado pela matriz.

Benbow et al. (1987) propuseram um modelo matemático (expressão I) para

quantificação da pressão de extrusão em função das propriedades reológicas do

material (figura 9) e das características geométricas de uma extrusora de pistão, sendo

baseado na mecânica dos fluidos e podendo ser utilizado para fornecer uma

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compreensão mais aprofundada sobre o processo, do que simplesmente uma descrição

macroscópica do mesmo.

[ ]mff

n

bbo

vkDL

Dvk

DDP +⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛++⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=∆ ττ 4ln2 ' (I)

Onde:

∆P = Queda de pressão;

D, D0, L = Características da extrusora;

τb, kb, n, τf, kf, m = Características reológicas do material;

v = velocidade linear média de extrusão.

Figura 8 – Ilustração da secção transversal de uma extrusora em funcionamento.

Figura 9 – Comportamento reológico. [Adaptado, Reed, 1995, p. 281]

O estudo prático, compreendido neste trabalho, envolveu uma extrusora de

monofuso de dimensões aplicáveis para produção de pequenas peças (diâmetro de

50mm) e direcionada para estudos de laboratório, podendo ser utilizado vácuo durante

o processamento para promover remoção de gases do material e aprimoramento das

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características superficiais do produto. Nesta etapa da pesquisa, o material filtro-

prensado foi transformado em tarugos e corpos-de-prova direcionados à etapa de

secagem, sendo também utilizados para monitoramento da umidade contida na massa

e aferição da resistência à penetração Humbold e resistência ao cisalhamento Vane.

As propriedades mecânicas citadas acima foram medidas nos corpos recém

extrudados e consistiram na seguinte operação:

Penetração Humboldt: medir a resistência à penetração do material a um

indentador cilíndrico sujeitado por uma mola, obtendo-se valores diretos de tensão.

Cisalhamento Vane: medir a resistência limite ao cisalhamento do material

através de um torquímetro que possui aletas penetrantes ao material e que cisalham o

mesmo quando colocadas em movimento de rotação. Também fornece valores diretos

de tensão.

4.6 Secagem

Secagem é a remoção de líquido de um material poroso através do transporte e

evaporação em um meio insaturado. (Reed, 1995, p. 545). O objetivo de secar é

claramente compreendido pela indústria e consiste em remover o líquido utilizado na

conformação plástica, porém a remoção deve ser cuidadosa em virtude da retração de

secagem promover defeitos internos aos produtos semi-acabados.

O estudo da secagem dos corpos obtidos na extrusora de laboratório foi

conduzido em estufa, a 100 ºC, sendo direcionado para construção da curva de Bigot e

de um diagrama do gradiente de retração em função da posição longitudinal e diametral

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dos tarugos extrudados. Corpos-de-prova foram obtidos com o seccionamento dos

tarugos recém extrudados através de lâminas posicionadas ao fim da matriz, sendo

identificados como exposto na figura 10.

A curva de Bigot é um gráfico que relaciona a retração linear em função da perda

de massa durante a secagem de corpos-de-prova. As informações retiradas da curva

de Bigot servem para orientar um processo de secagem, também sendo utilizadas para

indicar em que nível de umidade se pode acelerar a secagem sem que ocorra grande

alteração dimensional.

O diagrama do gradiente de secagem fornece valores para quantificar a

diferença de retração que ocorre em regiões diferentes de um corpo, através da análise

separada de cada região. Logo, se ocorre diferença de retração em um mesmo corpo,

surgem tensões, as quais podem ser suficientes para atingir o limite de ruptura do

material e iniciar um processo de falha.

Figura 10 – Posicionamento e sentido de medição dos corpos-de-prova.

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4.7 Sinterização

Sinterização é essencialmente a remoção de poros entre as partículas iniciais

(acompanhada pela retração do componente), combinada com o crescimento e

fortalecimento das ligações entre as partículas adjacentes. (Richerson, 1992, p. 519).

Entende-se por sinterização um processo termicamente ativado que promove

transferência de massa entre partículas de um corpo obtido a partir de um material

particulado. Como conseqüência da sinterização têm-se muitas modificações de ordens

física e química no material submetido à mesma, como por exemplo transformações de

fase, eliminação de defeitos microestruturais e aumento significativo da resistência

mecânica.

Industrialmente, utiliza-se o termo “queima” para designar a sinterização, sendo

esta etapa do processamento que necessita maior demanda de energia devido ao fato

de a sinterização das cerâmicas triaxiais ocorrerem em faixas de temperatura entre

1200 ºC e 1300 ºC. Também, a sinterização é encarada como uma etapa final do

processamento, cabendo apenas etapas de pequenos acabamentos após a mesma,

quando necessários.

Neste trabalho, não está apresentado um estudo da sinterização dos corpos

obtidos com as diferentes argilas, porém será efetuado, uma vez que é de grande

interesse avaliar o comportamento dos materiais selecionados diante do

processamento térmico. Deseja-se utilizar diagramas de retração diferencial para se

iniciar um estudo do mapeamento de possíveis causas de defeitos presentes na

sinterização, além da verificação das propriedades mecânicas.

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Massa com argila 45 Massa com argila 3014.14 ± 0.24 14.38 ± 0.18

Copo Ford (s)

M1 75,0 M1 72,0M2 90,0 IT 3min -15,0 M2 80,0 IT 3min -8,0M2 90,0 IT 6min -15,0 M2 80,0 IT 6min -8,0M2 90,0 IT 9min -15,0 M2 80,0 IT 9min -8,0

Massa com argila 45Gallenkamp (º)

Massa com argila 30

Material Massa com argila 45 Massa com argila 30d (g/cm3) 1,60 1,60

Resíduo #325 (%) 4,70 4,32Tempo (min) 126 120

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Influência da Plasticidade na Moagem

Os dados referentes aos parâmetros de moagem estão expostos na tabela 1,

donde nota-se que houve maior cominuição das partículas da massa com argila 30,

mesmo sendo inferior o tempo de moagem quando comparado com a argila 45.

Tabela 1 – Parâmetros de moagem.

As tabelas 2 e 3 apresentam as propriedades reológicas medidas com as

suspensões resultantes da moagem parametrizada pela tabela 1. Nota-se indiretamente

que a viscosidade das suspensões assemelham-se, porém, ocorre divergência de

resultados ao se tentar identificar qual suspensão é mais viscosa.

Tabela 2 – Medidas indiretas da viscosidade pelo equipamento de Gallenkamp.

Tabela 3 – Medidas indiretas da viscosidade pelo Copo Ford.

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Ensaio Massa com argila 45 Massa com argila 30Cisalhamento Vane (MPa) 0,37 0,63 ± 0,05

Penetração Humbold (MPa) 0,02 0,08Umidade (%H2O em peso) 17,43 16,98

5.2 Influência da Plasticidade nas propriedades mecânicas pós-extrusão

A tabela 4 apresenta os resultados das propriedades mecânicas medidas em

cinco corpos recém extrudados para cada técnica de medição. Sabe-se que há uma

relação inversamente proporcional entre as propriedades mecânicas em questão e o

teor de umidade de um mesmo corpo, porém ainda não é bem definida

quantitativamente.

Nota-se que a massa com argila 30 apresenta maiores propriedades mecânicas,

ressaltando-se que há um teor de 0,45% em peso de água a menos quando comparada

com a massa contendo argila 45.

Tabela 4 – Propriedades mecânicas pós-extrusão

5.3 Influência da Plasticidade na Secagem

Os dados resultantes das medidas de perda de massa em relação à mudança

dimensional foram obtidos através de uma metodologia em desenvolvimento, e estão

apresentados nas figuras 11, 12 e 13.

Nota-se nas figuras 11 e 12 que os teores de umidade para ocorrência da

mudança da taxa de encolhimento são praticamente os mesmos, porém nota-se que os

corpos centrais exibem maiores retrações, com a mesma umidade, quando comparados

com os corpos mais periféricos, conforme identificação da figura 14.

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0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 1 2 3 4 5

Retração (%)

Umid

ade

(%) Corpo 1

Corpo 2Corpo 3Corpo 4Corpo 5

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Retração Linear (%)

Umid

ade

(%) Corpo 1

Corpo 2Corpo 3Corpo 4Corpo 5

Ao comparar a retração dimensional de secagem em relação à posição nos

corpos-de-prova, nota-se que a massa com argila 45 exibe maiores retrações

acompanhadas de maiores diferenças de retração, conforme apresentado na figura 13.

Figura 11 – Curva de Bigot para a massa com argila 45.

Figura 12 – Curva de Bigot para a massa com argila 30.

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0

1

2

3

4

5

6

7

0 10 20 30 40 50

Posição (mm)

Ret

raçã

o (%

) RDL 30RDD 30RDL 45RDD 45

Figura 13 – Retração Diferencial Longitudinal (RDL) e Retração Diferencial Diametral (RDD) de secagem das composições estudadas.

Figura 14 – Corpo-de-prova para RDL. Figura 15 – Corpo-de-prova para RDD.

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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A obtenção de produtos conformados por extrusão, de cerâmicas triaxiais, é

influenciada pela plasticidade das argilas empregadas na composição da massa, sendo

evidenciado neste trabalho que uma argila com índice de plasticidade de 45 acarreta na

ocorrência de maiores gradientes de retração de secagem quando comparada com

uma argila com índice de plasticidade de 30. Desta forma conclui-se que há maior

probabilidade do desenvolvimento de falhas iniciadas na secagem de corpos

extrudados com argilas de alta plasticidade.

As informações geradas neste trabalho podem compor algumas variáveis de

entrada do controle preditivo do processo de extrusão de porcelanas triaxiais para

isoladores elétricos, uma vez que se pôde relacionar quantitativamente a propriedade

plástica de uma matéria-prima com o comportamento da mistura durante o

processamento antequeima.

Ressalta-se que este trabalho deve ser complementado com experimentos que

relacionam um maior número de argilas, de índices de plasticidade diferentes, com o

comportamento de misturas durante a conformação e sinterização, para que se possam

gerar informações suficientes para se efetivar um controle preditivo de processo.

Recomenda-se utilizar outras metodologias para caracterização da plasticidade

de argilas, a fim de se poder aumentar a resolução dos valores atribuídos a esta

propriedade, além de aproximar mais as técnicas de caracterização de materiais

plásticos argilosos com suas aplicações industriais. Sugere-se correlacionar a técnica

aqui apresentada com a técnica de quantificação da plasticidade por curvas de tensão

em função da deformação, e se possível estabelecer relações entre as características

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físicas do material com os resultados obtidos, possibilitando um maior entendimento

dos fenômenos que regem a plasticidade destes materiais.

Finalmente, conclui-se que ao se obter um conjunto de trabalhos similares a

este, onde se estabelecem relações entre propriedades fundamentais de matérias-

primas e o comportamento dos materiais durante o processamento, pode-se montar

uma ferramenta de Engenharia de Materiais para gestão de informações com o objetivo

de se poder atender as exigências de mercado através de um controle efetivo e

quantitativo da transformação dos materiais.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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