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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 43(1):19-26,jan.fjun. 1986 INFLUÊNCIA DAS CASTRAÇÕES CIRORGICA E QU íMICA NA PRODUÇÃO E QUALIDADE DE CARNE DE BOVINOS DE CORTE P) rChemical and surgical castration effects on beef cattle quality and quantity) JOÃO CARLOS AGUIAR DE MATTOS (2), MILTON GORNI (3), ANTONIO ÁLVARO DUARTE DE OLIVEIRA (4), PAULO GASTÃO DA CUNHA (5) e ODAIR O. CORTE (6) RESUMO: Em delineamento experimental inteiramente casualizado, 21 bovinos ma- chos da raça santa-gertrúdis, com idade inicial de trinta dias, foram distribuídos em três tratamentos e sete repetições. Os tratamentos foram: castração química, castração cirúr- gica e ausência da prática. A castração química consistiu na aplicação intratesticular de 1,0 em' de solução oleosa contendo como princípio ativo o aldeído fórmico mais metal pesado (CdCI 2 ) eaditivos(0,3 ml de CH 2 0eO,005g de CdCI 2 porcm 3 dasoluçãol. Suas carcaças propiciaram os seguintes resultados: os inteiros apresentaram carcaças com me- nores rendimentos quente e frio, maior porcentagem de dianteiro e menor de ponta de agulha, as quais tinham ainda menor conteúdo em carne. As porcentagens de dianteiro dos castrados cirurgicamente foram inferiores, verificando-se ainda, menor teor de carne. Os castrados quimicamente mostraram maiores rendimentos quente e frio, menor peso de couro e maior porcentagem de carne. Com base nos resultados, pode-se concluir que a prática da castração qu írnica apresentou algumas vantagens em relação à orquiepidi- dectomia bilateral, podendo ser indicada na prática. INTRODUÇÃO No Brasil Central, é prática rotineira castrar os bovinos na época do desmame ou inverno. To- davia, existe uma porcentagem, às vezes elevada, de mortes por tétano e outras infecções, cuja porta de entrada é a incisão cirúrgica. Segundo SOLTNER (1969). a velocidade de crescimento dos diversos tecidos que compõem o organismo dos animais sofre variação em escala prioritária, tendo cada um a sua fase certa de cresci- mento. Qualauer alteração que possa ocasionar (1) Projeto IZ-0053. R&;;ebido para publicação em junho de 1984. (2) Da Seção de Avaliação e Classificação do Gado de Corte, Divisão de Zootecnia de Bovinos de Corte. Bolsista do CNPq. (3) Da Seção de Suinocultura, Divisão de Zootecnia Diversificacla. (4) Da Seção de Estatística e Técnica Experimental, Divisão de Técnica Básica e Auxiliar. (5) Da Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto. (6) Do ,Instituto de Tecnologia de Alimentos, Campinas, SP. 19

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 43(1):19-26,jan.fjun. 1986

INFLUÊNCIA DAS CASTRAÇÕES CIRORGICA E QU íMICA NA PRODUÇÃO EQUALIDADE DE CARNE DE BOVINOS DE CORTE P)

rChemical and surgical castration effects on beef cattle quality and quantity)

JOÃO CARLOS AGUIAR DE MATTOS (2), MILTON GORNI (3), ANTONIO ÁLVARO DUARTE DE

OLIVEIRA (4), PAULO GASTÃO DA CUNHA (5) e ODAIR O. CORTE (6)

RESUMO: Em delineamento experimental inteiramente casualizado, 21 bovinos ma-chos da raça santa-gertrúdis, com idade inicial de trinta dias, foram distribuídos em trêstratamentos e sete repetições. Os tratamentos foram: castração química, castração cirúr-

gica e ausência da prática. A castração química consistiu na aplicação intratesticular de

1,0 em' de solução oleosa contendo como princípio ativo o aldeído fórmico mais metalpesado (CdCI2) eaditivos(0,3 ml de CH20eO,005g de CdCI2 porcm3 dasoluçãol. Suas

carcaças propiciaram os seguintes resultados: os inteiros apresentaram carcaças com me-

nores rendimentos quente e frio, maior porcentagem de dianteiro e menor de ponta de

agulha, as quais tinham ainda menor conteúdo em carne. As porcentagens de dianteiro

dos castrados cirurgicamente foram inferiores, verificando-se ainda, menor teor de carne.

Os castrados quimicamente mostraram maiores rendimentos quente e frio, menor peso

de couro e maior porcentagem de carne. Com base nos resultados, pode-se concluir que

a prática da castração qu írnica apresentou algumas vantagens em relação à orquiepidi-

dectomia bilateral, podendo ser indicada na prática.

INTRODUÇÃO

No Brasil Central, é prática rotineira castraros bovinos na época do desmame ou inverno. To-davia, existe uma porcentagem, às vezes elevada,de mortes por tétano e outras infecções, cuja portade entrada é a incisão cirúrgica.

Segundo SOLTNER (1969). a velocidade decrescimento dos diversos tecidos que compõem oorganismo dos animais sofre variação em escalaprioritária, tendo cada um a sua fase certa de cresci-mento. Qualauer alteração que possa ocasionar

(1) Projeto IZ-0053. R&;;ebido para publicação em junho de 1984.(2) Da Seção de Avaliação e Classificação do Gado de Corte, Divisão de Zootecnia de Bovinos de Corte. Bolsista do

CNPq.(3) Da Seção de Suinocultura, Divisão de Zootecnia Diversificacla.(4) Da Seção de Estatística e Técnica Experimental, Divisão de Técnica Básica e Auxiliar.(5) Da Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto.(6) Do ,Instituto de Tecnologia de Alimentos, Campinas, SP.

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estresse nessas fases altera o desenvolvimento cor-poral dos animais.

HAMMOND (1932). comparando esqueletosde ovinos com cinco meses de idade, inteiros e cas-trados, e de' borregas, verificou que a ablação dostestículos provoco!.! maior inibição no desenvolvi-,mento do dianteiro do que do traseiro dos ovinos.A relação carne- osso mostrou que as borregas fo-ram mais precoces do que os machos castrados, eesses mais precoces do que os machos inteiros.Constatou também que os machos inteiros, naque-la idade, ainda tinham crescimento ósseo ativo, emem relação aos tecidos de maturação mais tardia,como o. muscular e o adiposo. Com fêmeas nãoocorreu tal fato, isto é, os nutrientes disponíveis'foram utilizados para o desenvolvimento dos teci-dos de maturação mais tardia. Os castrados ocupa-ram posição intermediária.

A orquiepididectomia bilateral apresenta,segundo HAMMOND (1959). comparativamenteaos animais inteiros, as seguintes vantagens: a) ma-turidade precoce; b) melhor conformação; c) me-lhor qualidade de carne; e d) temperamento me-nos excitável.

CUNHA et alii (1985). em estudo comparati-vo entre métodos de castração no desempenho debovinos criados no regime extensivo, constataramque os inteiros atingiram o peso de abate antes doscastrados pelos processos qu ímico e cirúrgico, em-bora as diferenças não fossem significativas.

As vantagens na produção de carne entrecastrados e inteiros foram assim resumidas porRobertson [in CANNEL, 1970): bovinos cas-trados = facilita o uso indiscriminado de raças,possibil itando o emprego de sistemas para controlara filiação das crias; aumenta a deposição de gordura;minimiza a influência dos caracteres sexuais se-cundários, tais como a aqresslvidade masculina e oardor genésico; bovinos inteiros = melhora a efi-ciência na produção de carne; produz carne maismagra; anula qualquer risco cirúrgico devido à cas-tração; permite o aproveitamento do bovino comoreprodutor.

KLOSTERMAN et alii (1954), em dois ex-perimentos com bovinos da raça hereford e nos

quais procuravam evidenciar as diferenças no ga-nho em peso em função da' castração aos trinta eaos 210 dias de idade e de tourinhos, encontraramdiferenças significativas a favor dos inteiros. Veri-ficaram, ainda, que os inteiros apresentaram43,84% a menos no teor de gordura da carcaça emrelação aos castrados em qualquer idade. Os emas-curados aos trinta dias de idade atingiram 398,71kg e 384,84 kg e os castrados aos 210 dias de ida-de, 384,65 kg e 382,84 kg, respectivamente noprimeiro e no segundo experimentos.

Do ponto de vista do manejo dos garrotes,Runcie [in CANNEL, 1970) cita que em algunscentros de produção detouros na Inglaterra assi-

"nalaram-se perigos potenciais ao se alojarem emcurrais tourinhos de oito a doze meses de idade,visto mostrarem maior agressividade, aumentandoo número de acidentes e estresses quando estabu-lados juntos.

De acordo com MORRISON (1966). a ida-de de castração para bezerros não reservados à re-produção deve ser de trinta a sessenta dias.

MATTOS (1942) e VI LLARES (1945)aconselham, para os animais destinados a cria, re-cria e engorda extensiva, a castração entre 180 etrezentos dias de idade,devido ao melhor desem-penho apresentado pelos animais nessa faixa etária.

ROVERSO et alii (1969) assinalam, textual-mente: "nas condições gerais do Brasil Central, emque os novilhos alcançam a idade de abate aos 48meses, não pode ser dispensada a prática da castra-ção, principalmente se lembrarmos que o zebu, aos24 meses de idade, apresenta manifestação sexual,provocando toda aquela série de inconveniênciasno manejo. Contudo, parece claro que a emascula-ção deverá ser praticada o mais tarde possível. Poroutro lado, em se tratando do preparo de animaisde abate com menos de dois anos de idade, pareceaconselhável a permanência da integridade dos ór-gãos sexuais".

PRESCOTT & LAMMING (1964), revisan-do a literatura especializada, encontraram contra-dições evidentes entre as pesquisas envolvendo cas-trados e não castrados, conquanto a maioria dostrabalhos indique não haver vantagem na castração

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tardia, que também acarreta maiores riscos pós-operatórios e maiores gastos com mão-de-obra.

GORNI et alii (1985) verificaram tendênciade decréscimo da taxa de hemoglobina e númerode eritrócitos quando foram utilizados níveis cres-centes de cloreto de cádmio na esterilização desuínos.

RADI & POND (1979), em estudos realiza-dos com camundongos e suínos, verificaram acen-tuado grau de anemia nos animais que receberamcádmio.

Os trabalhos de HOMB (1958 e 1961) e deTYLECEK (1958) demonstram existir pouca dife-rença de rendimentos entre touros e bois no ma-nejo extensivo a pasto.

TURTON (1962). descreve em seu artigo so-bre o efeito da castração na produção e qualidadeda carne em bovinos, ovinos e suínos, que os ani-mais não castrados têm desenvolvimento relativa-mente grande da musculatura do quarto anteriore alteração na quantidade e distribuição da gorduraem suas carcaças. Esse mesmo autor descreve tam-bém que a carne dos machos não castrados é maisdura e de coloração ligeiramente escura.

LUCHIARI FILHO etalii (1984). comparan-do métodos de castração no desempenho e caracte-rísticas de carcaça de bovinos em confinamento,através da análise quantitativa das carcaças, obser-varam o seguinte: superioridade dos inteiros na ve-locidade de crescimento, com menor porcentagemde gordura na carcaça; tendência de maior quanti-dade de carne no dianteiro que os castrados. Oscastrados quimicamente e inteiros apresentarammédias superiores de carne aparada (porção comes-tível) do que os castrados cirurgicamente, emboraas diferenças não fossem significativas. Os inteirose castrados quimicamente também mostraram ten-dência em apresentar maiores áreas do olho delombo que os castrados cirurgicamente.

O estudo da carcaça dos bovinos reveste-sede especial interesse, pois ela será tanto melhorquanto maior for a quantidade de carne de maiorpreferência e, por isso, de maior valor comercial.

Dessa forma, SI LVA (1973) relata que asexigências do mercado de carne evoluem no senti-do da preferência para a carne magra.

A maioria dos países europeus prefere carnecom menor quantidade de gordura intramuscular,em contraposição com a Inglaterra, Estados Uni-dos e Austrália (WATKINS, 1936).

No que se refere ao rendimento do corte, asvariações de preço no varejo entre carcaças, deacordo com o NATIONAL LlVESTOCK ANOMEAT BOARD (1969). dependem de dois princi-pais fatores: a) a quantidade de gordura, que podeser bem aparada na feitura dos cortes de carcaça(deve ser a menor possível); e b) a espessura e ovolume da musculatura.

A idade funciona também como fator fun-damental de qualidade da carcaça. De fato, pesqui-sando o assunto, CALLOW (1949) verificou queanimais mais jovens tinham menos tecido gorduro-so doqueosmaisvelhos,eBRUNGARDT &BRAY(1963). GOTTSCH et alii (1961) e HENDERSONet alii (1966) afirmam que quanto maior a quanti-dade de gordura do animal menor a proporção decarne, isto é, há uma correlação negativa entre car-ne e gordura.

No que diz respeito à qualidade da carne,Kauffeman et alii (in FEUCIO & NORMAN,1978), informam ser ela a combinação de fatoresque contribuem para que o produto seja atraente enutritivo, saboroso e de boa aceitação após o co-zimento.

Segundo PEARSON (1966), os fatores quecontribuem para a qualidade degustativa da carneincluem a maciez, a suculência, o sabor, o aroma ea textura. LAWR IE (1974) considerou também acor e a capacidade de retenção de água como fato-res associados às sensações organolépticas na de-gustação da carne.

SIMONE et alii (1959) sugerem que o sabore o aroma sexual da carne de animais jovens sãomenos acentuados do que os de animais adultos evelhos.

O presente experimento teve por finalidadeavaliar e comparar o efeito das castrações cirúrgicae química e a ausência da prática na produção equalidade da carne em bovinos de corte.

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MATERIAL E MÉTODOS

Em delineamento experimental inteiramentecasualizado, 21 bovinos santa-gertrudis, com idadeinicial de trinta dias, foram distribu ídos em trêstratamentos e sete repetições. Os tratamentos fo-ram: castração química, castração cirúrgica e ausên-cia da prática. A castração química consistiu naaplicação intratesticular de 1,0 cm3 de soluçãooleosa contendo como princípio ativo o aldeídof6rmico mais metal pesado CdCI2 e aditivos (0,3ml de CH2 O e 0,005 g de CdCI2 por cm3 da solu-~ão).

Os animais foram recriados em pastagens,sendo abatidos, em boas condições, aos 29 mesesde idade.

A condução dos animais do nascimento aoabate é descrita no trabalho de CUNHA et alii(1985), pois na presente pesquisa foram aproveita-dos os animais do primeiro ano do ensaio daquelesautores, apenas com perda de uma repetição.

Para análise, de cada animal foram coleta-das os seguintes pesos: vivo, carcaça quente, car-caça fria, dianteiros, traseiros, ponta de agulha,cabeça, couro, rnocotó, fígado, rim, coração, ba-ço, contrafilé, filé mignon, alcatra, patinho, coxãomole, coxão duro, lagarto, músculo do traseiro,paleta, pescoço, acém, peito, músculo do dian-teiro, carne, ossos e gordura.

Também foi obtida a área do olho do lombona altura das 12é1 e 13é! costelas, a qual foi medidaem centímetro quadrado; o comprimento e a pro-fundidade das carcaças foram medidos em centí-metros.

A separação entre o dianteiro e o traseirofoi feita entre a quinta e a sexta costela, e a pon-ta de agulha seccionada a 5 cm do ponto de in-serção das costelas.

A "shear force" ou força necessária paracortar a carne, foi medida para a avaliação da ma-ciez; a análise bromatológica, as perdas no cozi-mento, a cor, o pH, a maciez estimada, o sabor e asuculência foram tomados como indicadores daqualidade da carne.

A metodologia para a avaliação subjetiva eobjetiva da maciez foi a descrita por CORTE et alii(1979). A avaliação subjetiva da cor foi feita porequipe de seis membros, utilizando escala de 1 a 5,onde 1 é igual a carne vermelho levemente vivo e 5igual a vermelho enegrecido. A medida do pH foirealizada utilizando-se 1 g do Longissimus dorsihomogeneizada em 10 ml de solução tamponadade 0,5 de iodoacetado de sódio mais 0,15 M deKCI.

Todas as análises foram feitas em amostrasdo contrafilé retiradas das carcaças no momentoda desossa, após o período de resfriamento, sendoem seguida conservadas congeladas até a completaefetivação dos trabalhos anal íticos.

As carcaças foram pesadas sem gordura re-nal e pélvica, após lavagem com água. Os couros,também lavados, continham as orelhas, estando osmocotós recobertos por couro no momento da pe-sagem. Os cortes foram feitos e aparados na formausual de sua comercialização.

RESULTADOS.E DISCUSSÃO

Os resultados do desempenho dos animaisusados nesse trabalho, do nascimento até o abate,podem ser obtidos através da pesquisa de CUNHAet alii (1985).

Os resultados obtidos no presente trabalho,características qualitativas e quantitativas das car-caças, são apresentados no quadro 1.

Após o abate dos animais, aos 29 meses deidade, as carcaças foram estudadas quantitativa equalitativamente, tendo a análise estatística reve-lado as seguintes diferenças: os inteiros apresenta-ram carcaças com menores rendimentos quente e

frio, maior porcentagem de dianteiro e menor deponta de agulha, as quais tinham ainda menor con-teúdo de carne. As porcentagens de dianteiro doscastrados cirurgicamente foram inferiores, verifi·cando-se, ainda, menor teor de carne, concordandocom os resultados obtidos por TURTON (1962) eLUCHIARI FILHO et alii (1984). Os castradosquimicamente mostraram maiores rendimentosquente e frio, menor peso de couro e maior por-centagem de carne, com resultados próximos aosobtidos por LUCHIARI FILHO et alii (1984),quando comparou os efeitos das castrações nas ca-racterísticas de carcaças de bovinos em confina-mento.

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Nesse trabalho ficou evidenciado o que é as-similado na literatura consultada. As vantaqens dacastração para o manejo e carcaça foram verifica-dos como referido por SOL TNER (1969), HAM-MOND (1932 e 1959), Robertson (in CANNE(1970) e Runcie (in CANNEL, H:J70). Acas-tração química e os não castrados propiciaram car-ne mais magra, sem os inconvenientes do aumentodo-teor de gordura nos animais castrados, como é

afirmado por LUCHIARI FILHO et alii (1984), eKLOSTERMAN et alii (1954), podendo mesmoter animais um pouco mais velhos no abate, sem o

alto empenho para o abate com pouca idade, como'é proposto por ROVERSO et alii(1969); PRE$~COTT & LAMMING (1964), CALLOW (1949),BRUNGAF!D & BR!W (1963), GOTTSCH etali i (1961), HENDERSON et alii (1966) e SIMO.,.NE et alii (1959).

A tendência deesplenomegalia constatadano quadro 1 pode ser explicada devido à anemiainduzida pelo cádmio, que interfere no mecanismode absorção do Fe no trato gastrintestinal (RAD 1&POND, 1979, e GORNI et alii, 1985).

Assim, será viável trabalhar com a castra-ção precoce, como preconizada por MO RRISON

(1966), sem os inconvenientes que aconselhariam atardia, como proposto por MATTOS (1942) eVILLARES (1945).

Verifica-se ainda que os rendimentos, nessecaso, apresentaram diferenças significantes, o queencontra-se em desacordo com o que foi observadopor HOMB (1958) e TYLECEK (1958).

No" presente ensaio, os castrados ciruqicarnen-te mostraram tendência de mais gordura em rela-ção aos inteiros, permanecendo os castrados quimi-camente em situação intermediária, o que é im-portante para a qualidade das carcaças, uma vezque existe preferência pelas carnes mais magras,como é afirmado por SILVA (1973), WATKINS(1936), pelo NATIONAL LlVESTOCK AND.MEAT BOARD (1969), BRUNGARD & BRAY(1963), GOTTSCH et alii (1961) e HENDERSONet alii (1966).

Entre os três tratamentos não foram consta-tadas diferenças apreciáveis nas principais caracte-rísticas qualitativas da carne, tornando-as aceitávelsnesses aspectos destacados por Kaufman etalli (inFELlCIO & NORMAN, 1978), PEARSON (1966)e LAWRIE (1974).

CONCLUSÕES

Com base nos resultados, pode-se concluirque a castração química apresentou vantagens So-bre a produção e qualidade da carne em relação

aos demais processos, podendo ser ind icada na prá-tica quando o manejo do rebanho assim o exigir, '

SUMM A R Y: Twentv one 30 day old Santa Gertrudis calves were randomly alocated to

three treatments consisted of intact males, chemical castration and surgical castrat ion ina complete randomized desiqn. The chemical castr at ion consisted of an intr atesticle

apptication 01 1 ml 01 oil solution containing as active principie the íorrnic aldehyde,

cadmium chloride and addit ives. Intact males had lower hot and chilled carcass yields,higher lorequarter percentage, lower "ponta de agulha" percentage as well as lower edible

portion percentaqe. Lower forequarter and edible portion percentages were observed for

the surgical1y castr ated animais, The chemically cast rated animais showed higher chilledcarcass and edible portion percentaqes,

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Quadro 1. Médias das características Qualitativas e quantitativas das carcaças de bovinos castrados cirurgicamente, quimicamente e não castrados

Tratamentos Análise estatística

Não castrados Castração Castração Significância Erro-padrão Desvio- CV

Caracterfsticas cirúrgica química da média padrão 1%)'

Peso vivo (kg) 420 391 409 ns 15,01 39,72 9,76

Peso morto quente (kg) 211 203 216 ns 8,65 22,88 10,88Peso morto frio (kg) 205 197 210 ns 8,47 22,41 1'1,00

Rendimento quente (%), 50' 52 53 0,44 r.ts: 2',24 ;;Rendimento frio (%) 49 50 51 0,44 1,18 2,36Idade media (dias) 880 882 888 13,51 '35,74 4,50 '

Traseiro quente (kg) 100 98 102 ns 4,04 10,68 10,69Traseiro frio ~kg) 98 96 101 4,03 10,67 10,85Dianteiro quente {kg} 83 76 83 3,56 9,43' .11,70

Dianteiro frio (kg) 81 74 81 ns 3,45 9,13 11,6r·Ponta de agulha quente (k.gl 26 28 29 ns 1,17 3,09 11,11Ponta de agulha fria (kg) 25 27 29 ns 1,13 3,00 . 1 11. ~O~

Comprimento (em) 123 122 121 1,25 3,31 2,70

Prcfurdidede (em) 40 41 40 0.41 1,09 2,69 '

Cabeça (kgl 13 13 13 0,39 1,03 7,89

Couro Ikg) 50 50 36 3,08 8,15 18,00Mocotó (kg) 10,5 10,0 10,1 ns 0,47 1,24 11,98Fígado (kg) 5 5 5 0,16 0.42 7,71Rim (kg) 0,9 0,8 0,8 ns 0,04 0,10 11,76

f"ração Ikg) 1,5 1,4 1,3 0,07 0,18 1?,86,Baço (kg) 1,3 1,3 1,7 ns 0,17 0,45 30,82Área do olho do lombo (cm2

) 59 53 59 3,31 8,76 15,38 '

Gordura sobre a área do olho do lombo (em) 2 2,43 2,28 ns 0,40 1,06 47,32Carne real (kg) 152 143 158 ns 6,95 18,38 12,18Osso real (kg) 42 40 41 ns 1,66 4,40 10,67Carne do traseiro Ikg) 72 69 75 3,34 8,83 12,29

Carne do dianteiro (kg) 59 52 59 ns 2,82 7,45 13,19Carne na ponte de agulha (kgl 21 23 24 :1,68•1,01 11,85Gordura renal e pélvica (kg) 3,15 4,03 4,22 0,43 1,13 29,74Gordura renal e pétvica (%1 1,58 2,06 2,10 ns 0,25 0,67 35,08Carcaça-carne (%) 73 73 75 0,57 1,51 2,05Carcaça-osso (%) 21 20 20 0,44 1.17 5,78Carcaça-traseiro (%) 48 49 48 0,34 0,90 1,86Carcaça-dianteiro (%) 40 37 38 0,38 1,00 2,59Carcaça-ponta de agulha (%) 12 14 14 0,19 0,51 3,85Carceça . carne no traseiro (%) 35 35 36 ns 0,42 1,11 i.19Carcaça- carne no dianteiro (%1 28 26 28 0,38 0,99 3,59Carcaça - Carne da ponta de agulha (%) 10 12 11 0,23 0,60 5,42Análise bromatol6gica

MSI%) 23,99 24,83 24,9 ns 0,25 0,66 0,87EE 1%) 0,65 1,18 0,86 0,16 0.44 48,90MMI%) 1,09 1,10 1,11 0,01 0,03 2,73PC(%) 23,34 23,65 23,68 0,006 o.oz' 0,08

Shear force (kg) 4,78 4,64 4,28 0,31 0,81 ' 17,80Perdas no cozimento IShear!

Evaporação 25,11 27,22 26,17 2,03 5,36 20,5 'Gotejamento 1,66 1,22 1,18 ns 0,45 1,19 18,20Total 26,77 28,44 27,47 ns 1,98 5,23 19,00

Perdas no coztmentc (TPIEvaporação 25,07 24,13 23,80 1,14 3,01 12,4Gotejamento 1,79 1,42 1,77 0,24 0,63 38,0Total 26,86 25,54 25,56 ns 1,05 2,77 10,70

Cor 1,72 1,86 2,00 ns 0,16 0,42 22.72pH 5,41 5,42 5,41 ns 0,02 0,04 0,60Maciez 6,6 6,9 6,8 0,27 0,72 10,70

Sabor 4,6 4,8 4,6 ns 0,25 0,68 14,60Suculencla 4,0 4,2 4,1 ns 0,31 0,81 20,0

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REFERt:NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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