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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL INFECÇÃO EXPERIMENTAL EM SUÍNOS POR Leptospira interrogans SOROGRUPOS ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA Adriana da Silva Santos Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito GOIÂNIA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

INFECÇÃO EXPERIMENTAL EM SUÍNOS POR Leptospira interrogans

SOROGRUPOS ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA

Adriana da Silva Santos Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito

GOIÂNIA

2014

ii

ADRIANA DA SILVA SANTOS

INFECÇÃO EXPERIMENTAL EM SUÍNOS POR Leptospira interrogans

SOROGRUPOS ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA

Tese apresentada para obtenção do grau de

Doutor em Ciência Animal junto ao Programa

de Pós-Graduação da Escola de Veterinária e

Zootecnia da Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Moema Pacheco Chediak Matos (EVZ/UFG)

Prof. Dr. Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura

(EVZ/UFG)

GOIÂNIA

2014

iii

iv

ADRIANA DA SILVA SANTOS

v

AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem Sua vontade nada disso seria possível.

Aos meus pais, Hernani e Esmeraldina, pelo amor e apoio incondicional.

Aos familiares e amigos, que independente da distância, sempre

estiveram ao meu lado, me fortalecendo nos momentos mais difíceis dessa jornada.

Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito que me concedeu a oportunidade

de ingressar no doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da

Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Obrigada pela

confiança e pelos ensinamentos.

Ao Comitê de Orientação composto pela Prof. Dr. Veridiana Maria

Brianezi Dignani de Moura e Prof. Dr. Moema Pacheco Chediak Matos. Em especial

agradeço a Prof.ª Moema Matos pela amizade e carinho, e por me guiar nesse

mundo acadêmico desde o relatório final na graduação.

Ao Prof. Dr. Jurij Sobestiansky com quem tive a grande oportunidade de

aprender sobre sanidade na suinocultura.

Ao Dr. Marcelo Almeida e à Agroceres Pic pela gentileza em nos doar os

suínos para o experimento.

Ao Laboratório de Zoonoses Bacterianas da Faculdade de Veterinária e

Zootecnia da Universidade de São Paulo, em especial ao Prof. Dr. Sílvio Arruda

Vasconcellos e à técnica de laboratório Zenaide Maria de Morais, por cederem as

cepas bacterianas, pela calorosa acolhida e por compartilharem comigo de seus

vastos conhecimentos acerca da leptospirose.

Ao Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, em especial à Prof. Dr.

Valéria de Sá Jayme, por possibilitar a execução dos testes de soroaglutinação

microscópica, isolamento bacteriano e reação em cadeia da polimerase.

Aos coautores desse trabalho, meus braços direito e esquerdo durante o

experimento, Adriana Faria, Helton Oliveira, Hugo Ferreira, Sílvia Carneiro, Thaís

Freitas e Victor Garcia. Obrigada pela amizade e paciência, serei sempre grata pelo

auxílio.

Aos amigos do Setor de Patologia Animal que compartilharam das

alegrias e dificuldades de se estar em uma pós-graduação, além dos “pepinos” e

casos legais que são inerentes a um laboratório de patologia.

vi

À Prof. Dr. Ana Paula Santin e Prof. Dr. Regiane Porto pelo incentivo e

ajuda nesses quatro anos.

Aos técnicos do Laboratório de Histologia do Setor de Patologia Animal,

Antônio Souza da Silva e Lorena Cintra, pela amizade e aprendizado nesses últimos

anos.

Aos colegas e dirigentes do Instituto Federal Goiano Câmpus Urutaí pela

ajuda nestes últimos semestres, permitindo a finalização deste projeto dentro do

tempo predeterminado.

Ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás pelas boas condições fornecidas para a realização

deste estudo.

À Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás

por ser minha casa durante a graduação e o doutorado, estando sempre de portas

abertas a quem almeja conhecimento.

Ao CNPQ pela concessão da bolsa de pesquisa.

Enfim, a todos que contribuíram de maneira direta ou indireta, para

finalização de mais uma etapa acadêmica.

Meus sinceros agradecimentos.

vii

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................. 1

1 Introdução ................................................................................................................ 1

2 Leptospirose Suína .................................................................................................. 2

2.1 Agente etiológico ................................................................................................... 2

2.2 Epidemiologia ........................................................................................................ 5

2.3 Patogênese ........................................................................................................... 9

2.4 Alterações clínicas .............................................................................................. 13

2.5 Diagnóstico .......................................................................................................... 15

2.6 Controle e profilaxia ............................................................................................ 21

2.7 Importância em Saúde Pública ............................................................................ 22

3 Objetivos ................................................................................................................ 23

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 24

CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E SOROLÓGICAS DA INFECÇÃO

AGUDA EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans SOROGRUPOS

ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA EM FÊMEAS SUÍNAS ............................ 32

CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DA INFECÇÃO AGUDA

EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans EM FEMEAS SUÍNAS ................... 555

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 72

viii

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

FIGURA 1 - Fotomicrografia eletrônica mostrando a morfologia espiralada e

terminação em formato de gancho da Leptospira interrogans .................................... 3

FIGURA 2 - Diagrama esquemático demonstrando os principais fatores de virulência

das bactérias Gram-negativas. Nota-se o detalhe da parede celular representado no

esquema inferior. LPS: lipopolissacarídeo. ................................................................. 4

FIGURA 3 - Esquema ilustrativo da cronologia da infecção por Leptospira spp. em

diferentes estados imunológicos do hospedeiro. ....................................................... 11

FIGURA 4 - Rim, suíno: múltiplos pontos brancos apresentando distribuição aleatória

e bilateral na superfície cortical. ................................................................................ 14

CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E SOROLÓGICAS DA INFECÇÃO

AGUDA EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans SOROGRUPOS

ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA EM FÊMEAS SUÍNAS

FIGURA 1 – Ilustração do padrão de identificação individual utilizada dentro dos

grupos. ...................................................................................................................... 36

FIGURA 2 - A. Observa-se a tela cobrindo a área superior da baia. B. Vista frontal

da baia. A seta indica a placa metálica sobre a canaleta de escoamento de

resíduos..................................................................................................................... 37

FIGURA 3 – Equipamentos de proteção individual utilizados durante período

experimental. ............................................................................................................. 38

FIGURA 4 – Inoculação de 5mL de suspensão de cultivo contendo Leptospira

interrogans sorovar Pomona, via intraperitoneal em suíno. ...................................... 39

FIGURA 5 – A. Monitoramento da temperatura corporal de um suíno durante o

exame clínico diário. B. Punção venosa jugular e utilização do cachimbo. ............... 40

FIGURA 6 – Suíno G II-4, 2 dpi: animal apático, isolado do grupo e buscando a luz

solar na baia. ............................................................................................................. 45

FIGURA 7 - Reação em Cadeia da Polimerase Clássica (PCR). Eletroforese em gel

de agarose de amostras de soros negativas ao 6º dpi dos GII (1 a 6) e GII (7-9),

ix

testadas para amplificação do fragmento de 242 pb pelo oligonucleotídeo lipL32. C-:

controle negativo; C+: controle positivo; M: marcador de peso molecular (1Kb Plus

DNA Ladder, Invitrogen®,Life Technologies).............................................................45

FIGURA 8 – Rim de suíno do GII com superfície cortical pálida. ............................ 477

CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DA INFECÇÃO AGUDA

EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans EM FEMEAS SUÍNAS

FIGURA 1- Rim, suíno: nefrose tubular aguda e difusa, caracterizada por

degeneração das células tubulares, contendo no lúmem material eosinofílico hialino

(HE, 40X)................................................................................................................... 60

FIGURA 2 – Rim, suíno, nefrite intersticial mononuclear: A. Infiltrado de plasmócitos

e linfócitos peritubular discreto (HE, 20X). B. Infiltrado de linfócitos e plasmócitos

peritubular acentuado (HE, 10X). .............................................................................. 61

FIGURA 3 – Fígado, suíno: Infiltrado discreto de linfócitos e em menor número de

plasmócitos entre os hepatócitos adjacentes à veia centrolobular (zona III). (HE,

20X). .......................................................................................................................... 62

FIGURA 4 - Pulmão, suíno: Pneumonia intersticial mononuclear multifocal discreta.

Observe o infiltrado de plasmócitos e linfócitos em bronquíolos terminais (seta) e em

alvéolos (HE, 20X). ................................................................................................... 63

FIGURA 5 – Suíno. A. Linfonodo mesentérico com hiperplasia linfoide difusa e

acentuada, caracterizada por aspecto homogêneo sendo impossível distinguir os

folículos linfoides (HE, 5X). B. Córtex cerebral proliferação focal discreto da micróglia

(microgliose focal discreta) (HE, 10X). ...................................................................... 63

x

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 - CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E SOROLÓGICAS DA INFECÇÃO

AGUDA EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans SOROGRUPOS

ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA EM FÊMEAS SUÍNAS

TABELA 1 - Distribuição das titulações individuais dos animais dos grupos GII e GIII,

inoculados respectivamente com estirpes dos sorogrupos Pomona e

Icterohaemorrhagiae no 3º, 6º e 9º dpi. ................................................................... 466

TABELA 2 - Associação entre animais positivos e negativos na SAM com a presença

ou não de palidez renal à necropsia. ....................................................................... 477

CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DA INFECÇÃO AGUDA

EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans EM FEMEAS SUÍNAS

TABELA 1 - Distribuição da frequência de lesões histopatológicas e da

soroaglutinação microscópica (SAM) em suínos experimentalmente infectados por

Leptospira interrogans. .............................................................................................. 59

TABELA 2 - Associação entre o diagnóstico histopatológico e sorologia na SAM em

cérebro, fígado, linfonodos, pulmão e rim de animais experimentalmente infectados

com Leptospira interrogans .......................................................................................65

xi

RESUMO

A leptospirose suína é uma antropozoonose difundida mundialmente e causada por

espiroquetas da espécie Leptospira interrogans, principalmente pelos sorovares

Pomona, Icterohaemorrhagiae, Taravossi, Canicola, Grippotyphosa e Bratislava.

Neste trabalho descreve-se a infecção experimental por L. interrogans sorogrupo

Icterohaemorrhagiae sorovar Conpenhageni estirpe Fiocruz L1-130, e sorogrupo

Pomona sorovar Kennewicki estirpe Pomona From, em 18 fêmeas suínas com 40

dias de idade divididas em três grupos: GI (controle), GII (inoculados com sorogrupo

Pomona) e GIII (inoculados com sorogrupo Icterohaemorrhagiae). Compararam-se

entre os grupos, o curso clínico da doença, os resultados dos exames sorológicos e

de detecção da bactéria durante o período experimental pelas técnicas de reação

em cadeia da polimerase (PCR) e isolamento bacteriano. Foram ainda descritas as

principais alterações histológicas observadas em cérebro, fígado, linfonodos, pulmão

e rins de 12 animais experimentalmente infectados e soropositivos para leptospirose.

Em lesões sugestivas da doença utilizou-se a técnica de impregnação pela prata de

Warthin-Starry, como método de detecção direta. Durante o período experimental

foram negativas na soroaglutinação microscópica todas as amostras do GI

(controle), havendo no GII positividade exclusiva ao sorogrupo Pomona nos seis

animais a partir do 6º dia pós-infecção (dpi), e no GIII, apenas ao sorogrupo

Icterohaemorrhagiae, em cinco animais a partir do 3º dpi. Na necropsia a única

alteração observada foi rim pálido em 50% do G I, 83,33% do GII e em 83,33% GIII

(p>0,05). Somente nos suínos soropositivos constataram-se lesões sugestivas de

leptospirose, como microgliose mononuclear focal no cérebro (8,33%), hiperplasia

linfoide em linfonodos do mediastino e mesentério (41,66%), pneumonia intersticial

mononuclear multifocal (58,33%), hepatite mononuclear focal (41,66%), além de

nefrose tubular aguda (100%) e nefrite intersticial (91,66%). Houve forte associação

entre a condição sorológica e as lesões de hepatite mononuclear (p=0,0128), nefrite

intersticial mononuclear (p=0,0004), nefrose tubular (p<0,0001) e pneumonia

intersticial mononuclear (p=0,0377).

Palavras-chave: estirpe Fiocruz L1-130, estirpe LPF, leptospirose suína, lesão renal,

soroaglutinação microscópica.

xii

ABSTRACT

Swine leptospirosis is a worldwide anthropozoonosis caused by spirochetes of the

species Leptospira interrogans, predominantly by serovars Pomona,

Icterohaemorrhagiae, Taravossi, Canicola Grippotyphosa and Bratislava.

Experimental infection were performed in 18 sows at 40 days of age with L.

interrogans serogroup Icterohaemorrhagiae serovar Conpenhageni strain Fiocruz L1-

130, and serogroup Pomona serovar Kennewicki strain Pomona From divided in

groups: GI (control), GII (inoculated with serogroup Pomona) and GIII (inoculated

with serogroup Icterohaemorrhagiae). Clinical course of the disease, results of

serological tests and detection of bacteria by polymerase chain reaction (PCR) and

bacterial isolation during the experiment, were compared between groups.

Additionally, the main histological changes observed in brain, liver, lymph nodes,

lung and kidney of 12 animals experimentally infected and seropositive for

leptospirosis were described. In lesions suggestive of the disease the technique of

silver impregnation of Warthin-Starry, was used as direct detection method. During

the experimental period, all samples of the GI (control) were negative in the

microscopic agglutination test, with the GII positivity exclusive to serogroup Pomona

in six animals from 6 dpi, and in GIII, only to serogroup Icterohaemorrhagiae in five

animals from 3 dpi. At necropsy the only change was pale kidney in 50% of GI,

83.33% of GII and 83.33% of GIII (p> 0.05). Only in seropositive pigs was found

lesions suggestive of leptospirosis as focal microgliosis in the brain (8.33%),

lymphoid hyperplasia in lymph nodes of the mediastinum and mesentery (41.66%),

mononuclear interstitial pneumonia (58.33 %), multifocal mononuclear hepatitis,

further acute tubular nephrosis (100%) and interstitial nephritis (91.66%). There was

a strong association between serological condition and lesions of mononuclear

hepatitis (p = 0.0128), mononuclear interstitial nephritis (p = 0.0004), tubular

nephrosis (p <0.0001) and mononuclear interstitial pneumonia (p = 0, 0377).

Keywords: microscopic agglutination test, renal injury, strain Fiocruz L1-130, strain

LPF, swine leptospirosis.

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1 Introdução

A ordem Spirochaetales inclui importantes patógenos de interesse na

medicina e medicina veterinária, como os agentes causais da doença de Lyme, da

sífilis e da leptospirose. Leptospira, do prefixo grego leptos que significa delgado e

do latim spira espiral, é um gênero de bactérias, cujo isolamento ocorreu pela

primeira vez em 1907, em tecido renal de um paciente com suspeita clínica de morte

por febre amarela. Entretanto, em 1886, o alemão Adolf Weil já havia descrito a

leptospirose como uma doença infecciosa caracterizada por icterícia (LEVETT,

2001; SHARMA & YADAV, 2008; MUSSO & LASCOLA, 2013).

O termo leptospirose deve ser usado para descrever as infecções por

Leptospira, tanto em humanos quanto em animais (SHARMA & YADAV, 2008).

Trata-se de uma doença de distribuição mundial, que constitui sério problema de

Saúde Pública, por apresentar ampla variedade de hospedeiros, incluindo o homem,

grande número de mamíferos de vida livre, animais domésticos, anfíbios e répteis

(MCBRIDE et al., 2005; CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009), sendo assim, de

notificação obrigatória segunda a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE,

2014). A distribuição geográfica da doença é influenciada por fatores climáticos tais

como altas temperaturas e índices pluviométricos, além do risco de exposição do

hospedeiro e presença de animais reservatórios domésticos e silvestres (SHARMA

& YADAV, 2008; SYKES et al., 2011).

Os vários sorovares possuem hospedeiros específicos, denominados

portadores ou mantenedores, que são fontes de infecção para os hospedeiros

acidentais. Nesses hospedeiros a bactéria infecta cronicamente os túbulos renais,

sendo excretadas na urina por longos períodos (HUNTER, 2004).

As infecções em animais domésticos estão associadas a diferentes

síndromes, incluindo alterações hemolíticas, lesões hepáticas, nefrite intersticial

crônica, mastite, abortos e, em equinos, uveítes recorrentes (PRESCOTT, 2007;

MONAHAN et al., 2009). Em humanos são descritos principalmente, quadros

2

hemorrágicos, alterações pulmonares, insuficiência renal e hepática (MERIEN et al.,

1998; ADLER & MOCTEZUMA, 2010; ARAÚJO et al., 2010).

Os suínos têm sido apontados como os mais importantes animais

domésticos portadores da doença, pois neles geralmente as manifestações clínicas

variam de discretas a ausentes, o que dificulta a identificação da infecção na granja.

Adicionalmente à importância econômica, a leptospirose suína é uma importante

zoonose de alto risco ocupacional, uma vez que atingem várias categorias

profissionais, principalmente médicos veterinários, magarefes, e funcionários de

granjas suínas que estão frequentemente sujeitos ao contato direto com o agente

(CAMPOS et al., 2011; GONÇALVES & COSTA, 2011; GUERRA, 2013; WILSON &

SWAI, 2013; OLIVEIRA et al., 2013).

2 Leptospirose Suína

2.1 Agente etiológico

A leptospirose suína é uma doença causada por espiroquetas

pertencentes ao gênero Leptospira que são morfologicamente similares, contudo

antigenicamente e geneticamente distintas (ELLIS, 2012). As leptospiras são

bactérias aeróbias obrigatórias com temperaturas ótimas de crescimento entre 28-

30ºC (LEVETT, 2001). Possuem 0,1µm de diâmetro, 6-20 µm de comprimento e dois

flagelos, um em cada extremidade, que se encontram imersos no espaço

periplasmático, ao contrário do que ocorre com a maioria das bactérias. A rotação

destes flagelos induz alterações morfológicas, como o característico formato de

gancho visualizado na Figura 1, que permitem a mobilidade dessas bactérias em

ambientes aquosos ou mesmo com consistência gelatinosa (LEVETT, 2001;

BARTHI et al., 2003).

As bactérias do gênero Leptospira são subdividas segundo suas

características genotípicas, em 22 espécies: L. biflexa, L. meyeri, L. wolbachii, L.

yanagawae, L. kmetyi, L. vanthielii, L. borgpetersenii, L. alexanderi, L. interrogans, L.

kirschneri, L. noguchii, L. santarosai, L. weilii, L. wolffii, L. alstonii, L. fainei, L. inadai,

3

L. licerasiae, L. idonii, L. parva, L. broomii e L. terpstrae (BARTHI et al., 2003,

ADLER & MOCTEZUMA, 2010; ZAKERI et al., 2010; DSMZ, 2014).

FIGURA 1 - Fotomicrografia eletrônica mostrando a morfologia espiralada e

terminação em formato de gancho da Leptospira interrogans

Fonte: MUSSO & LASCOLA (2013).

Como integrantes do grupo de bactérias Gram-negativas, as leptospiras

possuem uma parede celular externa rica em lipopolissacarídeos (LPS), cuja

variação determina os distintos sorovares existentes (SHARMA & YADAV, 2008;

ADLER & MOCTEZUMA, 2010). Adicionalmente, os LPS juntamente com outras

proteínas de membrana constituem os principais fatores de virulência existentes nas

bactérias Gram-negativas, como demonstrados na Figura 2.

4

FIGURA 2 - Diagrama esquemático demonstrando os principais fatores de virulência das

bactérias Gram-negativas. Nota-se detalhe da parede celular representado

no esquema inferior. LPS: lipopolissacarídeo

Fonte: Adaptado de Wu et al. (2008)

De acordo com a heterogeneidade dos carboidratos que compõem os

LPS de membrana, estas bactérias são ainda categorizadas em sorovares

(CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009). Sorovares antigenicamente relacionados pelo

teste de adsorção de aglutinação cruzada compõem os sorogrupos. Entretanto, há

pouca correlação entre a classificação sorológica e a genotípica. Diferentes

sorovares podem pertencer a uma ou mais espécies, e membros de um mesmo

grupo genético não necessariamente pertencem ao mesmo sorogrupo (BARTHI et

al., 2003). Por exemplo, cepas de L. hardjo pertencem tanto à espécie L. interrogans

como as L. borgpetersenii e L. meyeri. Tal fato segundo BRENNER et al. (1999),

pode explicar a ocorrência de diferentes síndromes clínicas por um mesmo sorovar.

O Quadro 1, exemplifica a classificação em espécies, sorogrupo e

sorovares, citando as cepas de referência de espécies patogênicas descritas do

gênero Leptospira, frequentemente utilizadas em estudos experimentais.

5

QUADRO 1 - Cepas de referência de espécies patogênicas descritas de Leptospira.

Espécie Sorogrupo Sorovar Cepa

L. interrogans Pomona Kennewicki Pomona From (LPF)

L. interrogans Icterohaemorrhagiae Copenhageni Fiocruz L1-130

L. kirschneri Grippotyphosa Grippotyphosa Moskva V

L. noguchii Panama Panama CZ 214 k

L. borgpetersenii Sejroe Sejroe M84

L. weilii Celledoni Celledoni Celledoni

L. santarosai Tarassovi Atlantae LT81

L. alexanderi Manhao Manhao 3 LT 60

L. alstonii ND Sichuan 79,601

L. kmetyi ND ND Bejo-Iso 9

ND: não determinado

Fonte: Adaptado de PICARDEAU (2013).

2.2 Epidemiologia

A leptospirose suína é uma doença de notificação obrigatória, classificada

na lista da Organização Mundial de Saúde Animal como “Doenças, Infecções e

Infestações Comuns a Múltiplas Espécies”. Grupo ao qual pertencem as doenças

transmissíveis de grande importância do ponto de vista socioeconômico e/ou

sanitário, com considerável repercussão no comércio internacional de animais e

produtos de origem animal (OIE, 2014).

No Brasil, de acordo com normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (BRASIL, 2002) para garantira classificação em Granjas de

Reprodutores Suídeos Certificadas (GRSC), a granja candidata deve ser livre de

peste suína clássica, doença de Aujeszky, brucelose, tuberculose, sarna e livre ou

controlada, mediante vacinação, para leptospirose.

A infecção em suínos vem sendo descrita mundialmente, e no Brasil, tem-

se registros nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,

Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí (FAVERO

6

et al., 2002; SHIMABUKURO et al., 2003; SOTO et al., 2007; GONÇALVES &

COSTA, 2011).

Os diferentes sorovares de L. interrogans possuem afinidades específicas

para animais hospedeiros, onde são reconhecidas duas categorias distintas:

hospedeiro acidental onde há infecção por sorovares não adaptados e o hospedeiro

mantenedor ou reservatório quando o animal foi infectado por um sorovar adaptado

ao seu organismo (HUNTER, 2004; RADOSTITS et al., 2006). Nos hospedeiros

reservatórios, as bactérias localizam-se na luz dos túbulos renais e podem ser

excretadas vivas na urina por várias semanas ou meses, sendo fonte de infecção

para o homem e animais domésticos (OLIVEIRA, 2007).

Mundialmente, os principais sorovares de leptospiras encontrados

infectando e causando doença em suínos são: Pomona, Icterohaemorrhagiae,

Taravossi, Canicola, Grippotyphosa e Bratislava (HUNTER, 2004; ADLER &

MOCTEZUMA, 2010; WASIŃSKI & PEJSAK, 2010; ELLIS, 2012; ROMERO-VIVAS

et al., 2013).

A prevalência de diferentes sorovares de leptospira em uma população

depende dos reservatórios animais presentes nessa região e dos sorovares que eles

albergam (OLIVEIRA et al., 2013). Em diferentes estados brasileiros, estudos de

prevalência indicam a frequência dos sorovares Autumnalis, Copenhageni, Hardjo e

Wolffii (SOUZA, 2000; RAMOS & LILENBAUM, 2002; FREITAS et al., 2004;

HASCHIMOTO et al., 2008; GONÇALVES, 2009; OSAVA et al.; 2010; SILVA et al,

2010; CAMPOS et al., 2011; RAUBER-JUNIOR et al., 2011). Outros sorovares são

descritos em estudo retrospectivo de exames sorológicos efetuados em suínos com

suspeita clínica de leptospirose, como os sorovares Grippotyphosa e

Icterohaemorrhagiae em Minas Gerais; Pomona, no Rio Grande do Sul; Pomona e

Icterohaemorrhagiae, em Pernambuco e Rio de Janeiro; Autumnalis, no Ceará; e

Icterohaemorrhagiae em Goiás, Paraná, Santa Catarina e São Paulo, todos

identificados por FAVERO et al. (2002).

Em Goiás, em estudo da prevalência de Leptospira interrogans em

reprodutores suínos, SOUZA (2000) encontrou prevalência de 65,16%, com

preponderância do sorovar Icterohaemorrhagiae. Para alguns autores como

SHARMA & YADAV (2008) e ELLIS (2012) os suínos são considerados

reservatórios para os sorovares Pomona, Tarassovi e Bratislava. A estes

7

reservatórios é atribuída a maior parcela de contribuição pela manutenção dos focos

de leptospirose, tendo em vista a longa duração dessa condição e a ampla facilidade

de deslocamento atribuída a estes animais, uma vez que os mesmos podem não

apresentar sinais da infecção (OLIVEIRA et al., 2013).

Segundo OLIVEIRA (2007), suínos infectados podem eliminar na urina

grande quantidade de leptospiras por longo período entre 30 a 60 dias após a

infecção, servindo de fonte de transmissão da doença na granja. Roedores e

animais silvestres também atuam como portadores da doença podendo transmitir

aos suínos e ao homem, principalmente, sorovares do sorogrupo

Icterohaemorragiae (SHARMA & YADAV, 2008; ADLER & MOCTEZUMA, 2010;

SILVA et al., 2010; MAJETIC et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2013).

Dentre as principais vias de infecção da leptospirose em suínos destaca-

se a ingestão de água e alimentos contaminados pela urina, fetos abortados e

descargas uterinas de animais portadores (ADLER & MOCTEZUMA, 2010). As

espiroquetas podem também penetrar no organismo através das mucosas, da pele

íntegra imersa em água ou da pele com solução de continuidade (LEVETT, 2001).

A transmissão da leptospirose depende das condições que favoreçam a

sobrevivência do microrganismo no ambiente, do número de animais portadores na

população e do período pelo qual o animal elimina a bactéria (HUNTER, 2004).

Diversos fatores de risco podem estar associados à transmissão da doença entre

suínos, e destes para outros animais, incluindo o homem. Dentre esses fatores

destacam aqueles que aumentam a viabilidade das bactérias no ambiente. Alguns

estudos experimentais confirmam que as leptospiras podem ficar até 180 dias

viáveis no ambiente com condições ideais de pH, umidade e proteção a raios

solares. Já verificou-se que o sorovar Pomona pode resistir até seis meses em solos

saturados de umidade, entretanto, em solos secos sua sobrevida cai para 30

minutos (SOTO et al., 2007). Sendo assim, a ocorrência da leptospirose tem forte

associação com fatores climáticos.

Segundo a pesquisa de BOQVIST et al. (2012), realizada em sistemas de

criações ao ar livre, para cada milímetro extra de chuva, houve aumento significativo

na soropositividade dos animais à Leptospira spp. Entretanto os pesquisadores não

encontraram essa mesma correlação em relação à temperatura. Em regiões de

clima seco, infecções acidentais ocorrem próximas a águas represadas com alta

8

concentração de animais (OLIVEIRA et al., 2013). Para DELBEM et al. (2004), a

presença de água estagnada próximo às baias dos suínos seria a principal via de

transmissão da leptospirose.

Sobre a sazonalidade da infecção, estudo realizado por JUNG et al.

(2009) em 20 granjas comerciais, constatou aumento significativamente maior no

número de suínos positivos para leptospirose no verão, demonstrando que, neste

período de altas temperaturas e umidade, há maior risco de infecção do suíno pelas

leptospiras. Entretanto, BORDIN (2010) avaliando casos de falhas reprodutivas em

granjas suínas no Brasil, observou maior frequência de animais positivos durante o

outono e inverno.

Com relação à predisposição etária, JUNG et al. (2009) também

destacaram correlação positiva entre animais de terminação e soropositividade.

Acredita-se que tal fato se deva a ausência de antibióticos na ração de suínos nessa

fase.

Os sistemas de manejo adotados igualmente influenciam na transmissão

da doença. Em granjas com sistema de quarentena, VALENÇA et al. (2013)

encontraram baixa prevalência de infecção quando comparado às granjas onde esse

sistema não ocorre. Isto pode ser atribuído à adoção de medidas sanitárias

preventivas, como imunização dos reprodutores antes de introduzi-los no plantel.

Para MORÉS (1999), a introdução da doença em uma granja ocorre principalmente

pela aquisição de reprodutores oriundos de granjas ou de exposições de animais,

onde a leptospirose pode estar presente. Além dos veículos e visitantes que também

podem ser um meio comum de transmissão da leptospirose suína.

De acordo com DELBEM et al. (2002) são fatores de risco à infecção, a

ausência de medidas de controle de roedores nas granjas que podem aumentar em

7,8 vezes as chances de infecção, pois tais animais são reservatórios principalmente

pra o sorovar Icterohaemorrhagiae. No Brasil, a alta frequência do sorovar

Icterohaemorrhagiae em relação ao Pomona, tradicionalmente diagnosticado como

prevalente em suínos, é atribuída por FAVERO et al. (2002) às falhas no controle de

roedores em granjas nacionais.

A presença de fêmeas reprodutoras positivas por L. interrogans sorovar

Icterohaemorrhagiae é citada por NETO et al. (1997) como importante fator de risco

para o nascimento de leitões fracos. SOTO et al. (2006) demostraram a transmissão

9

vertical pela detecção de L. interrogans sorovar Canicola em leitões clinicamente

saudáveis nascidos de matrizes infectadas experimentalmente, ressaltando que a

manutenção de animais com infecção subclínica pode permitir a persistência da

bactéria no rebanho, expondo outros animais ao risco de infecção

Acerca do manejo reprodutivo, FAINE et al. (1999) demonstraram

transmissão venérea associada a utilização de reprodutores infectados pelos

sorovares Bratislava e Pomona. Entretanto, ALTHOUSE & ROSSOW (2011)

descrevem que a leptospirose é considerada uma doença cujo agente etiológico já

foi isolado do sêmen de suínos, porém sem risco de infecção via inseminação

artificial. Desta forma, há ainda muita controvérsia em relação à forma venérea de

transmissão em suínos, diferentemente do observado em ruminantes e equinos,

onde tal forma já foi demonstrada (LILENBAUM et al, 2008; VINODH et al., 2008;

HAMOND et al., 2013).

2.3 Patogênese

As pesquisas nos últimos anos têm contribuído para a elucidação da

patogenia da infecção por bactérias do gênero Leptospira. No entanto, muitos

questionamentos acerca da doença ainda precisam ser esclarecidos. Por exemplo, a

razão pelo qual alguns hospedeiros apresentam graves manifestações clínicas

enquanto outros podem ser assintomáticos, ainda é desconhecida. Mas tal fato pode

estar relacionado tanto a fatores dependentes da bactéria como do próprio

hospedeiro (GARCÍA-VÁZQUEZ et al., 2010).

A habilidade de uma bactéria patogênica em causar doença em um

hospedeiro suscetível é determinada por múltiplos fatores de virulência que agem

individualmente ou em conjunto em diferentes estágios da infecção. Tais fatores

geralmente estão envolvidos em interações diretas com o tecido do hospedeiro ou

em mecanismos de evasão ao sistema imunológico hospedeiro (MERIEN et al.

1997; CINCO et al., 2002; CHEN et al.; 2005, MERI et al.; 2005).

Fatores de virulência de bactérias Gram-negativas podem ser divididos

em grupos de acordo com suas funções e mecanismos de virulência. Assim, há as

proteínas de membrana que exercem função de adesão, colonização e invasão,

10

promovem a comunicação intercelular e são responsáveis pela resistência aos

antibióticos; os LPS da parede celular com propriedades antifagocíticas; e as

proteínas secretadas, como as toxinas, que modificam o ambiente celular do

hospedeiro e possibilitam algumas interações entre a célula hospedeira e a bactéria

(HAAKE, 2000; MATSUNAGA et al., 2003; WU et al., 2008; CONFER & AYALEW,

2013).

O fato das leptospiras penetrarem no organismo hospedeiro por abrasões

na pele e mucosas intactas, disseminando-se rapidamente para outros tecidos em

um curto período após infecção é atribuído por LI et al. (2007) a capacidade de

translocação celular destas bactérias. Para BAROCHI et al. (2002) esta habilidade

das leptospiras em passar pelas células seria um facilitador a disseminação do

microrganismo antes que fossem reconhecidas pelo sistema imunológico do animal.

Após a replicação no sítio primário, as bactérias atingem a corrente

sanguínea e esta fase coincide com o desenvolvimento de apatia e febre no

hospedeiro. Posteriormente, elas podem colonizar os pulmões, fígado, sistema

nervoso central, rins, olhos e trato genital. Os sinais clínicos, que são vistos após um

período de incubação entre 2º e 16º dias, são dependentes do sítio de localização

da bactéria no organismo (HUNTER, 2004).

Aumentos nos níveis de anticorpos conseguem debelar a infecção na

maioria dos órgãos, entretanto as espiroquetas podem persistir nos rins e serem

excretadas na urina por semanas ou meses. A extensão da lesão nos órgãos é

variável e está sujeita à suscetibilidade do hospedeiro e à virulência da bactéria.

Alguns sorovares são propensos a produzir hemorragia aguda, lesões hepáticas ou

mais comumente lesões renais (LEVETT, 2001; GREENE et al., 2006; ADLER &

MOCTEZUMA, 2010; GARCÍA-VÁZQUEZ et al., 2010).

A Figura 3 esquematiza cronologicamente, as principais etapas da

patogênese da leptospirose frente aos diferentes níveis de anticorpos específicos no

hospedeiro.

As leptospiras alcançam o interstício renal por via hematógena durante a

fase denominada de intersticial. Esta fase coincide com a leptospiremia e

caracteriza-se por alterações vasculares incluindo edema, hiperemia e tumefação

endotelial. Posteriormente, segue-se a fase tubular, onde as bactérias podem ser

visualizadas no lúmen dos túbulos contorcidos proximais (CHEVILLE et al., 1980).

11

De acordo com o hospedeiro infectado, há diferenças nos mecanismos

pelos quais ocorrem as alterações renais na leptospirose. A infecção do hospedeiro

reservatório ou mantenedor geralmente é crônica e assintomática. Em contrapartida,

a infecção do hospedeiro acidental é aguda e cursa com diferentes sinais clínicos.

Sugerindo assim, que nos primeiros, a colonização dos túbulos renais ocorre sem

significantes danos teciduais ou sem a estimulação do sistema imunológico local

(MONAHAN et al., 2009).

FIGURA 3 - Esquema ilustrativo da cronologia da infecção por Leptospira spp. em

diferentes estados imunológicos do hospedeiro.

Fonte: Adaptado de GREENE et al. (2006).

A nefrite intersticial multifocal a difusa, principal alteração observada na

fase crônica, é constituída por infiltrado inflamatório, principalmente no interstício da

região dos túbulos contorcidos distais e proximais, composto predominantemente

por linfócitos e discretos agregados de macrófagos (PRESCOTT, 2007).

Em humanos, há uma predisposição genética à leptospirose aguda,

associada com diferenças alélicas que alteram os receptores do complexo principal

de histocompatibilidade (MHC). O MHC de classe II (MHC II) representam moléculas

12

transmembrânicas necessárias para a apresentação de antígenos aos linfócitos

auxiliares. Assim, são normalmente encontradas em células apresentadoras de

antígeno (APCs), como as células dendríticas, macrófagos e linfócitos B. Entretanto,

a expressão de MHC II também ocorrem em células epiteliais, incluindo as células

dos túbulos renais, que podem funcionar como APCs não profissionais (MONAHAN

et al., 2009).

No estudo da patogenia da leptospirose suína, RADAELLI et al. (2009)

constataram marcada variabilidade na expressão e distribuição do MHC II durante a

fase de nefrite intersticial crônica. Os autores não verificaram expressão de MHC II

em túbulos renais contendo leptospiras, enquanto nos túbulos adjacentes e sem

colonização bacteriana houve graus variados de expressão desse receptor. Os

pesquisadores concluíram que nos túbulos positivos para expressão de MHC II, mas

livres da Leptospira, a resposta imune já teria debelado a infecção. Nas células

renais positivas para MHC II a ativação de linfócitos T auxiliares peritubulares

induziria a produção de citocinas pró-inflamatórias, que contribuiriam com resposta

imunológica anti-Leptospira spp.

As leptospiras também podem se localizar no útero de porcas prenhes,

causando frequentemente abortos, natimortalidade e doença neonatal (BORDIN,

2010). A doença neonatal por seu turno, geralmente resulta da infecção no último

terço do período gestacional. A patogênese da doença reprodutiva é pouco

estudada, mas alguns autores acreditam que a infecção transplacentária ocorra

durante o período limitado da leptospiremia materna (RADOSTITS et al., 2006;

ELLIS, 2012).

Em leitões pode ocorrer a forma hemorrágica, caracterizada por

hemoglobinúria e icterícia, particularmente em infecções pelo sorovar

Icterohaemorrhagiae (OSAVA et al., 2010; ELLIS, 2012). Lesões do endotélio

vascular geralmente são observadas nas fases iniciais da leptospirose. Petéquias

multifocais podem ocorrer em diversos órgãos e tecidos de humanos e animais. A

vasculite parece afetar primariamente os capilares, o que explica a maior severidade

das lesões em órgãos como o fígado, rim e pulmão. As alterações vasculares podem

romper a integridade vascular, gerando aumento na permeabilidade das células

endoteliais. Entretanto, os mecanismos pelos quais bactérias do gênero Leptospira

13

causam a doença vascular ainda estão pouco elucidados (ADLER & MOCTEZUMA,

2010).

2.4 Alterações clínicas

De modo geral, a leptospirose em suínos é de curso crônico, assintomática,

podendo se manter no rebanho silenciosamente por longos períodos. O sorovar

Pomona geralmente causa infecções discretas a inaparentes, sendo também

associado à nefrite intersticial crônica, identificada somente durante o abate, como

pontos brancos (white spots) na superfície cortical renal (Figura 4). Porém, tal

infecção subclínica também pode ser observada por outros sorovares.

SHIMABUKURO et al. (2003) e HASCHIMOTO et al. (2008) identificaram lesão renal

em suínos positivos, principalmente para o sorovar Icterohaemorragiae.

Quando há manifestação clínica, esta caracteriza-se, principalmente, por

transtornos reprodutivos, como retorno ao cio nas primeiras semanas de gestação,

descargas vulvares, aborto em fase final de gestação, natimortos e nascimento de

leitões debilitados (ADLER & MOCTEZUMA, 2010; GONÇALVES & COSTA, 2011).

Na forma crônica da leptospirose suína, comum nos animais adultos, pode ocorrer a

eliminação da bactéria na urina. A infertilidade, com ocorrência de abortamentos e

natimortos, é comum aos sorovares Canicola, Pomona e Icterohaemorrhagiae

(HUNTER, 2004; SOTO et al., 2007; ELLIS, 2012).

No Brasil, RENDE et al. (2007) descrevem que a doença tem sido uma

das principais causas de falhas reprodutivas em granjas de suínos de vários

estados, principalmente das regiões Sul e Sudeste. SOTO et al. (2007) citam que

em estudo realizado no Rio Grande do Sul, 31 de 86 granjas apresentaram

transtornos reprodutivos associados à leptospirose, sendo os sorovares Bratislava e

Icterohaemorrhagiae predominantes. Para AZEVEDO et al. (2008), em estudo

realizado em São Paulo, os sorovares prevalentes em fêmeas com transtornos

reprodutivos além dos supracitados foram Hardjo (33,3%), Shermani (19,1%), e

Grippotyphosa (4,8%).

14

FIGURA 4 - Rim, suíno: múltiplos pontos brancos apresentando

distribuição aleatória e bilateral na superfície

cortical.

Fonte: Arquivos do Setor de Patologia Veterinária da FAVET/UFRGS

A fase aguda, mais rara, pode ser observada em neonatos, onde se

observam hemorragias subcutâneas, hematúria, icterícia e morte (ADLER &

MOCTEZUMA, 2010). Tal forma também pode acometer animais em fase de

crescimento, causando letargia e icterícia, estando geralmente associada à infecção

pelo sorovar Icterohaemorrhagiae (HUNTER, 2004; RADOSTITS et al., 2006; ELLIS,

2012).

RENDE et al. (2007) utilizaram as dosagens bioquímicas séricas de

bilirrubina, glicose e proteínas plasmáticas para monitorar a infecção experimental

pelo sorovar Wolffii em suínos. Neste trabalho, os autores concluíram que o

aumento das taxas de bilirrubinas leva a uma definição de um diagnóstico de

hemólise aguda, e que a hipoglicemia, a hipolipidemia e a hipoproteinemia

observadas, podem ser devido às lesões hepáticas e septicemia. Ao final do

experimento, notou-se ainda que as dosagens, em todos os animais, retornaram aos

seus valores normais a partir do décimo quinto dia.

15

2.5 Diagnóstico

O erro diagnóstico é frequente em casos de suspeita de leptospirose, o que

pode induzir ao tratamento errôneo na doença aguda, e também à manutenção do

agente em um rebanho, gerando importantes perdas econômicas. O curso natural

da doença influencia diretamente no tipo de método diagnóstico eleito, assim como

no tipo de amostra a ser coletada (LOUREIRO et al., 2013).

O diagnóstico pode ser realizado à partir de amostras de sangue, urina,

líquido cefalorraquidiano ou de tecidos durante a necropsia (MUSSO & LASCOLA,

2013). A leptospirose pode ser diagnosticada a partir de investigações clínicas e

epidemiológicas, aliadas às provas laboratoriais (FAINE et al., 1999; HUNTER,

2004; RADOSTITS et al., 2006; SHARMA & YADAV, 2008; CERQUEIRA &

PICARDEAU, 2009; MUSSO & LASCOLA, 2013; PICARDEAU, 2013). Entretanto,

LOUREIRO et al. (2013) enfatizam que o diagnóstico laboratorial da doença em

animais é um desafio, pois ainda não há um método altamente sensível e específico

que promova um diagnóstico confiável e rápido.

Os dados epidemiológicos estão relacionados aos fatores de risco e

ambientais que propiciam a disseminação do agente, assim como a existência de

possíveis reservatórios da doença (OLIVEIRA et al., 2013). Os sinais clínicos,

geralmente passam despercebidos pelos tratadores e criadores, em especial nos

animais adultos, mas quando presentes são observados principalmente nas fêmeas,

já que a doença afeta, sobretudo, os órgãos reprodutivos. Em suínos jovens, os

sinais mais sugestivos da doença são febre, anorexia, icterícia e hemoglobinúria

(SHIMABUKURO et al., 2003; RADOSTITS et al., 2006, ELLIS, 2012; LOUREIRO et

al., 2013).

2.5.1 Métodos diretos

As leptospiras podem ser visualizadas pelo exame direto a partir de

amostras de sangue colhidas durante a leptospiremia na primeira semana da

infecção, ou da urina, durante a leptospirúria a partir da segunda ou terceira semana

da infecção. Para isso, necessita-se de um microscópio de campo escuro ou de

16

contraste de fase, pois essas bactérias não são visíveis à microscopia de luz

(PICARDEAU, 2013). Além da necessidade de um microscópio específico, existe a

possibilidade de diagnóstico falso positivo em amostras cheias de filamentos de

fibrina e restos celulares (MUSSO & LASCOLA, 2013).

O cultivo e isolamento bacteriano, e a técnica da reação em cadeia da

polimerase (PCR) detectam, respectivamente, a leptospira patogênica ou seu ácido

nucleico. Ambos auxiliam na detecção da fase aguda da doença, quando ainda não

são observados anticorpos específicos. Eles também podem confirmar a infecção

ativa em animais positivos aos testes sorológicos, mas com histórico de vacinação

contra leptospirose (SYKES et al., 2011).

O método de diagnóstico considerado definitivo para leptospirose é o

cultivo e isolamento bacteriano, pois permite a identificação do sorovar infectante,

possibilitando a execução de estudos epidemiológicos e profiláticos (FAINE et al.,

1999; ADLER & MOCTEZUMA, 2010). Para o cultivo de Leptospira spp.,

comumente, utiliza-se o meio semissólido de Fletcher ou o meio líquido de

Ellinghausen-McCullough-Johnson-Harris (EMJH), enriquecidos com soro de coelho

ou soro bovino (SHARMA & YADAV, 2008). Antibióticos são geralmente adicionados

em tentativas de isolamento a partir de espécimes contaminadas com outros

microrganismos, como a urina e o sêmen. A combinação de 5-fluorouracil e ácido

nalidíxico tem sido eficiente quando misturado aos meios líquidos, como o EMJH

(MIRAGLIA et al., 2009).

O isolamento pode ser realizado a partir de amostras de fetos abortados,

tecidos como fígado, pulmão e cérebro, fluidos corporais como líquido

cefalorraquidiano, sangue e urina de animais clinicamente infectados e não tratados

com antibióticos (LEVETT, 2001; MIRAGLIA et al., 2008; ELLIS, 2012). Entretanto,

para o sucesso desse teste os tecidos devem estar frescos. Assim, em casos de

diagnóstico pós-morte podem ocorrer falsos negativos, uma vez que as leptospiras

podem morrer antes da inoculação no meio de cultura (SHIMABUKURO et al., 2003;

SOTO et al., 2006).

A presença dessa bactéria no trato reprodutor, no rim ou urina, somada à

ausência de evidências de infecção generalizada, caracteriza a infecção crônica.

Entretanto, o não isolamento na urina de um animal, não descarta a possibilidade de

este ser portador renal crônico, conforme amplamente reconhecido pela maioria dos

17

autores. Tal resultado pode indicar apenas que esse animal não está excretando

números detectáveis de bactérias no momento do teste, o que pode representar um

ponto negativo ao diagnóstico (RADOSTITS et al., 2006).

Outro ponto negativo da cultura é o crescimento muitas vezes fastidioso,

necessitando longos períodos de incubação de três a quatro semanas. Além disso,

há possibilidade de ocorrer resultado falso negativo após este período

(WUTHIEKANUN et al., 2007; SHARMA & YADAV, 2008; PICARDEAU, 2013;,

SYKES et al., 2011, MUSSO & LASCOLA, 2013).

Nos últimos anos, a técnica molecular de PCR vem sendo amplamente

utilizada nos estudos da leptospirose suína, sendo descrita como importante

ferramenta de diagnóstico, bem como para investigações epidemiológicas

(SHIMABUKURO et al., 2003; LEVETT et al., 2005; SOTO et al., 2006; CHEEMA et

al., 2007; SOTO et al., 2007; FEARNLEY et al., 2008; MIRAGLIA et al., 2008;

STODDARD et al., 2009; SANTOS et al., 2011; PICARDEAU, 2013; ROMERO-

VIVAS et al., 2013).

Em humanos, essa técnica possibilitou à BOURHY et al. (2011), a

confirmação rápida do diagnóstico na fase inicial da doença (dentro das primeiras

duas semanas de exposição), antes dos títulos de anticorpos estarem em níveis

detectáveis. Entretanto, em infecçoes crônicas, SHIMABUKURO et al. (2003)

observaram dificuldade na extração do ácido desoxirribonucleico (DNA) bacteriano

de tecidos de suínos positivos na técnica de soroaglutinação microscópica (SAM)

bacteriano, que pode ser explicado pela pequena quantidade de leptospiras neste

tipo de infecção.

Fatores inerentes à amostra também são importantes quando se utiliza a

PCR, como observado no estudo de STODDARD et al. (2009), onde a melhor

detecção de material genético de leptospiras em humanos, ocorreu em amostras de

sangue, plasma e urina centrifugada. Já para LEVETT et al. (2005), as amostras de

soro e urina tiverem resultados mais significativos, sendo ainda, o DNA melhor

amplificado nos soros obtidos de amostras sanguíneas conservadas com ácido

etilenodiaminotetracético (EDTA) e citrato, mas não com heparina. Outra limitação

deste método é que ele permite apenas a detecção do material bacteriano

(PICARDEAU, 2013), sendo necessárias técnicas adicionais para caracterização

molecular do isolado (MIRAGLIA et al., 2008).

18

O exame anatomopatológico também pode ser útil no diagnóstico da

leptospirose. Macroscopicamente, as lesões da fase crônica da leptospirose

compreendem focos branco-acinzentados, predominantemente na região cortical

renal (OLIVEIRA, 2007; HASCHIMOTO et al., 2008; ELLIS, 2012). OLIVEIRA FILHO

et al. (2012) analisaram por exames microbiológicos 400 rins condenados por

apresentarem pontos brancos na superfície cortical, em dois frigoríficos do estado de

Mato Grosso. Nenhuma amostra apresentou positividade ao teste de

imunofluorescência anti-Leptospira spp, demonstrando assim, que tal alteração,

apesar de ser sugestiva, não é exclusiva da leptospirose. Nessas amostras

detectou-se material genético de Parvovírus suíno (27,25%), Circovírus suíno

(28,50%) e Torque teno vírus Tipo 1 (94%) e 2 (87,5%).

As lesões teciduais decorrentes desta infecção podem ser detectadas em

cortes histológicos corados por hematoxilina e eosina (HE). Na fase aguda, as

alterações são caracterizadas por lesão tubular renal, necrose hepática focal, e

meningoencefalite mononuclear. Na fase crônica as principais alterações

histopatológicas encontram-se no rim e se caracterizam por nefrite intersticial focal

progressiva, composta predominantemente por linfócitos e em padrão folicular

(PRESCOTT, 2007).

HASCHIMOTO et al. (2008), examinando cortes histológicos de rins de

suínos positivos na SAM (título de anticorpos ≥ 20), observaram infiltrado

mononuclear intersticial, focos de fibrose na porção cortical, além de espessamento

de túbulos e glomérulos adjacentes às lesões. Concluindo-se haver correlação

positiva entre a nefrite intersticial e a positividade na SAM. Adicionalmente à

observação microscópica, outros métodos que podem confirmar Leptospira spp. em

tecidos incluem a impregnação pela prata e a imuno-histoquímica (IHQ)

(CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009; SYKES et al., 2011; MUSSO & LASCOLA,

2013; PICARDEAU, 2013).

A coloração de prata de Warthin-Starry é uma das mais empregadas e

indicadas devido ao seu menor custo e tempo de processamento (KIERNAN, 2002;

HAANWINCKEL et al., 2004). Esta técnica tem baixa sensibilidade, como

demonstrado por FIGUEIREDO et al. (2013) que não conseguiram marcação

positiva em 18 tecidos renais oriundos de suínos soropositivos na SAM. Além disso,

seu uso pode ser limitado por alguns problemas, como estabilidade dos reagentes,

19

falhas na identificação de microrganismos ou seus produtos antigênicos,

principalmente quando em meio intracelular, e coloração de estruturas não

identificadas como espiroquetas (SCANZIANI et al., 1989; KIERNAN, 2002; SYKES

et al., 2011).

Na atualidade, a imuno-histoquímica (IHQ) surge como um recurso

diagnóstico seguro e eficiente para a identificação de constituintes teciduais ou

celulares através da interação antígeno-anticorpo (DELGADO et al., 2007). De

acordo com, HAANWINCKEL et al. (2004), a IHQ é um método de fácil execução e

que demanda pouco tempo de preparação. Nesse trabalho, o autor e colaboradores,

compararam a técnica de IHQ, o cultivo bacteriano e a técnica de impregnação pela

prata de Whartin-Starry. Ao final, de 40 amostras sabidamente positivas, 31 foram

positivas no cultivo e todas foram positivas na prata e na IHQ, havendo correlação

positiva entre estas últimas.

Para GONÇALVES (2009), em estudo de prevalência realizado em suínos

na região Nordeste, houve êxito na utilização da técnica. De um total de 200

animais, 23 rins apresentaram marcação positiva à técnica de imuno-histoquímica

anti-Leptospira spp, embora somente sete animais fossem sororreativos à SAM. A

marcação imuno-histoquímica em animais soronegativos também foi encontrada por

CAMPOS et al. (2011), em análises de fígados e pulmões de suínos oriundos de

frigoríficos também no nordeste do país. Entretanto, futuros estudos são necessários

para determinar com maior certeza as características, vantagens e desvantagens da

aplicação da IHQ na rotina diagnóstica da leptospirose (DELGADO et al., 2007).

2.5.2 Métodos indiretos

O diagnóstico sorológico fornece dados sobre a situação da granja, não

sendo definitivo para casos isolados. Preconiza-se que exames sorológicos sejam

realizados pelo menos em dez por cento dos reprodutores machos e fêmeas do local

investigado (OLIVEIRA, 2007). Dentre as técnicas indiretas mais utilizadas

destacam-se a de soroaglutinação microscópica (SAM) e o ensaio imunoenzimático

(ELISA) (PICARDEAU, 2013).

20

A SAM há mais de um século é o diagnóstico mais utilizado, sendo o

método de referência preconizado pela Organização Mundial de Saúde (FAINE et

al., 1999; LEVETT, 2001; SHARMA. & YADAV, 2008; CERQUEIRA & PICARDEAU,

2009; MUSSO & LASCOLA, 2013). Geralmente, são utilizadas 24 cepas

representativas dos diversos sorogrupos de bactérias patogênicas existentes. Para

isso, necessita-se da manutenção de coleções de bactérias vivas que contemplem

esses sorogrupos. Consideram-se positivos os soros que tenham 50% de

aglutinação em comparação ao controle negativo, onde não é aplicado soro

(PICARDEAU, 2013).

O diagnóstico da infecção aguda não é possível pela SAM porque esta

técnica depende da detecção de anticorpos específicos contra os antígenos de

Lepstopira spp. que só são detectáveis a partir da segunda semana após infecção. A

infecção crônica pode passar despercebida, pois a partir do vigésimo dia após a

infecção, os títulos de anticorpos declinam (SYKES et al., 2011).

Em áreas onde a leptospirose não é endêmica, um título baixo (<1/100) na

SAM em um ou mais antígenos indica que o paciente é portador da doença. Já em

áreas endêmicas, precisa-se de um alto título (>1/400–800) para o diagnóstico

presuntivo. Entretanto, a confirmação da leptospirose requer a demonstração da

soroconversão ou do aumento significativo dos títulos de anticorpos no teste de

amostras pareadas coletadas com duas semanas de diferença (CERQUEIRA &

PICARDEAU, 2009).

Para OLIVEIRA (2007) não há título sorológico que seja considerado

positivo para todos os casos. O pesquisador reporta que suínos infectados por

leptospiras do sorovar Bratislava podem não ser sororreagentes.

O uso de vacinas polivalentes dificulta o diagnóstico, visto que, não há

diferenciação entre anticorpos vacinais e os produzidos na infecção ativa. Porém,

alguns autores citam que os títulos vacinais detectáveis geralmente não ultrapassam

1/400 (FAINE et al., 1999, LEVETT, 2001, HASCHIMOTO et al., 2008).

A interpretação do resultado pode ser influenciada pela frequência com que

ocorrem as reações cruzadas entre sorogrupos e pelo caráter subjetivo de análise.

Trata-se de uma técnica onerosa e de difícil implantação, altamente dependente de

um técnico experiente, tanto na execução quanto na análise dos dados obtidos

21

(SHARMA. & YADAV, 2008; CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009; MUSSO &

LASCOLA, 2013; PICARDEAU, 2013).

O ELISA para a detecção de anticorpos é mais simples e rápido que a

SAM, sendo utilizado principalmente em laboratórios e hospitais humanos. A maioria

desses testes utiliza frações bacterianas (lipoproteínas ou porinas da membrana

externa) para detectar anticorpos específicos da classe IgM. Nesse teste, a detecção

de IgM pode ser observada entre o quarto e quinto dia, possibilitando assim o

diagnóstico precoce da leptospirose (PICARDEAU, 2013).

Em suíno, HARTLEBEN et al. (2013) utilizaram uma proteína

recombinante da proteína de membrana LipL32 (rLipL32/ELISA) para a detecção de

anticorpos específicos em soros positivos na SAM. Os autores encontraram 100%

de sensibilidade e 85,1% de especificidade, não havendo reação positiva a outras

bactérias responsáveis por doenças em suínos.

Apesar desses resultados, vários autores descrevem que a sensibilidade

e especificidade na maioria das tentativas de padronizações do teste, são muito

variáveis. Também não é possível identificação dos sorovares ou sorogrupos

envolvidos na infecção. Sendo, portanto, não recomendado o uso isolado desta

técnica (LEVETT, 2001; BHARTI et al., 2003; MCBRIDE et al., 2005; CERQUEIRA &

PICARDEAU, 2009; WASIŃSKI & PEJSAK, 2010; MUSSO & LASCOLA, 2013;

PICARDEAU, 2013).

2.6 Controle e profilaxia

O controle e profilaxia da infecção em suínos incluem medidas higiênicas,

de manejo, de combate a roedores, vacinação e tratamento medicamentoso

(OLIVEIRA, 2007; BORDIN, 2010, OLIVEIRA et al., 2013). A desinfeção das

instalações pode ser realizada com produtos contendo hipoclorito de sódio. O

tratamento medicamentoso das fontes de infecção tem por objetivo principal reduzir

a transmissão do agente. Os antibióticos utilizados, como a estreptomicina, irão

cessar a eliminação do agente através da urina, sêmen e secreção vaginal, mas não

necessariamente eliminarão todos os suínos do estado portador (HUNTER, 2004).

22

As vacinas atualmente disponíveis no mercado brasileiro contra a

leptospirose são polivalentes, produzidas com cepas íntegras inativadas do agente.

Os sorovares comumente utilizados para produção da vacina são: Canicola,

Icterohaemorrhagiae, Copenhageni, Pomona, Grippotyphosa e Bratislava (SOTO et

al., 2007).

CARPENTER et al. (2006) avaliaram estratégias de controle em uma

granja com 900 porcas em terminação. Neste estudo, as estratégias de controle

utilizadas foram o descarte de animais sororreagentes, com posterior desinfecção

das baias, tratamento preventivo com antibióticos à base de hidrocloreto de

tetraciclina na água, e curativo com oxitetraciclina e estreptomicina. Além de adoção

de programas rígidos de controle de roedores. Para os autores a vacinação apenas

reduz a prevalência da infecção no rebanho sem eliminar a doença. De modo

similar, a antibioticoterapia sozinha, também não elimina as bactérias dos suínos

portadores, pois verificou-se que o tratamento com antibióticos não reduziu o

número de carcaças condenadas ao abate.

2.7 Importância em Saúde Pública

A leptospirose animal representa um ponto de preocupação para os

profissionais envolvidos com a saúde animal e saúde pública veterinária.

Investigações sorológicas e isolamento de leptospiras em animais domésticos e

silvestres são importantes para uma melhor compreensão da cadeia epidemiológica

da enfermidade (GUERRA, 2013; OLIVEIRA et al., 2013).

O contato com suínos portadores em sistemas de produções ou com

carcaças de suínos abatidos em frigoríficos são relatados como importantes fatores

de risco para a transmissão da doença do suíno para o homem (BHARTI et al.,

2003; MCBRIDE et al., 2005; CAMPOS et al., 2011), sendo trabalhadores rurais,

médicos veterinários e magarefes os principais grupos de risco à infecção (LIM,

2009).

No Brasil, amostras de suínos abatidos clandestinamente e provenientes

de criatórios sem nenhuma medida higiênico-sanitária e sob condições precárias,

23

analisadas por SANTOS et al. (2011), demostraram positividade em

aproximadamente 20%.

No estudo realizado na comunidade rural do município de Mapastepec,

Colômbia, LEAL-CASTELLANOS et al. (2003) observaram que os principais fatores

de risco para a leptospirose em humanos eram a presença de água estagnada, a

criação de animais domésticos, em especial bovinos e suínos, e o contato com

excretas de animais sem o uso de luvas. Adicionalmente, CALDERÓN et al. (2013)

identificaram na região de Córdoba, também na Colômbia, uma alta soroprevalência

em suínos, caninos e humanos, sugerindo que esses seriam os principais elos

epidemiológicos da leptospirose na região.

3 Objetivos

Como objetivo principal propôs-se a reprodução experimental da infecção

por Lepstospira interrogans sorogrupos Icterohaemorrhagiae e Pomona, em fêmeas

suínas.

Como objetivos específicos, a obtenção de informações sobre as

características clínicas e sorológicas da infecção experimental frente aos dois

sorogrupos, além da avaliação do teste de soroaglutinação microscópica, reação em

cadeia da polimerase, anatomopatológica e do teste de Warthin-Starry como

métodos diagnósticos.

24

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32

Capítulo 2 - CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E SOROLÓGICAS DA INFECÇÃO

AGUDA EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans SOROGRUPOS

ICTEROHAEMORRHAGIAE E POMONA EM FÊMEAS SUÍNAS

RESUMO

A leptospirose é uma zoonose de caráter ocupacional que representa risco para a

saúde pública, principalmente médicos veterinários, magarefes, e funcionários de

granjas suínas que estão sujeitos ao contato direto com o agente. Neste trabalho

reproduziu experimentalmente a leptospirose suína aguda pelos sorogrupos

Icterohaemorrhagiae e Pomona, comparando-se entre os grupos, o curso clínico da

doença, os resultados dos exames sorológicos e de detecção da bactéria durante o

período experimental pelas técnicas de reação em cadeia da polimerase (PCR) e

isolamento bacteriano. Para isso, 18 fêmeas suínas com 40 dias de idade foram

divididas em três grupos: GI (controle), GII (inoculados com sorogrupo Pomona) e

GIII (inoculados com sorogrupo Icterohaemorrhagiae). Durante o período

experimental de 21 dias, não se verificou alterações clínicas significativas. Os

parâmetros referentes ao hemograma, bioquímica sérica e urinálise também foram

normais. As amostras de urina e sangue testadas pela técnica de PCR, e inoculadas

em meio seletivo de Fletcher foram negativas para todos os grupos e dias testados.

Na soroaglutinação microscópica (SAM) foram negativas todas as amostras colhidas

no dia 0 e em todos os outros dias para o GI. No GII houve positividade exclusiva ao

sorogrupo Pomona nos seis animais a partir do 6º dia pós-infecção (dpi), com

titulação de 1/200 (2/6) e 1/800 (4/6). No GIII detectaram-se amostras a partir do 3º

dpi com titulações de 1/100 (2/6), 1/200 (3/6). Não foram observadas reações

cruzadas entre os sorogrupos. Rins pálidos foram observados na necropsia em 50%

(3/6) do GI, 83,33% (5/6) do GII e em 83,33% GIII (5/6), não havendo diferença

estatística entre os grupos (p>0,05). A infecção experimental em fêmeas suínas foi

assintomática sendo comprovada pela SAM de amostras pareadas.

Palavras-chave: infecção subclínca, leptospirose, rins pálidos, Sus scrofa

domesticus, teste de soroaglutinação microscópica

33

CLINICAL AND SOROLOGICAL FEATURES OF ACUTE EXPERIMENTAL

INFECTION IN FEMALE PIGS WITH Leptospira interrogans SOROGROUPS

ICTEROHAEMORRHAGIAE AND POMONA

ABSTRACT

Leptospirosis is an occupational zoonosis that represents risk to public health, mostly

to veterinarians, butchers, and swine farm’s workers that are in direct contact with the

bacteria. This paper experimentally reproduced the acute swine leptospirosis by

serogroups Icterohaemorrhagiae and Pomona, comparing between groups, the

clinical course of the disease, the results of serological tests and the detection of

bacteria by polymerase chain reaction (PCR) and bacterial isolation, during the trial

period. For this, 18 sows at 40 days of age were divided into three groups: GI

(control) GII (challenged with serogroup Pomona) and GIII (inoculated with serogroup

Icterohaemorrhagiae). During the experimental period of 21 days, there was no

significant clinically changes. The parameters related to blood count, serum

biochemistry and urinalysis were also normal. Samples of urine and blood tested by

PCR, and inoculated into Fletcher selective medium were negative for all groups. In

microscopic agglutination test (MAT), all samples collected on day 0 and every other

day for GI (control), were negative. In GII the positivity was unique to serogroup

Pomona in six animals from 6 dpi, with titers of 1/200 (2/6) and 1/800 (4/6). In GIII

antibodies to serogroup Icterohaemorrhagiae was detected in samples from 3 days

post infection (dpi) with titers of 1/100 (2/6), 1/200 (3/6). No cross- reactions between

serogroups were observed. Pale kidneys were observed at necropsy in 50 % (3 /6) of

GI, 83.33 % (5 /6) of GII and 83.33 % (5/ 6) of GIII, with no statistical difference

between groups (p> 0.05). Experimental infection of sows was asymptomatic being

proven by MAT of paired sera.

Keywords: leptospirosis, microscopic agglutination test, pale kidneys, subclinical

infection, Sus scrofa domesticus.

34

INTRODUÇÃO

A leptospirose é uma zoonose reemergente causada por bactérias do

gênero Leptospira e apresentam ampla distribuição geográfica, sendo mais

prevalente em países de clima tropical (SHARMA & YADAV, 2008; MUSSO &

LASCOLA, 2013).

A doença tem caráter ocupacional, representando risco para a saúde

pública, principalmente para médicos veterinários, magarefes e funcionários de

granjas suínas que estão expostos ao contato direto com o agente (CAMPOS et al.,

2011; GONÇALVES & COSTA, 2011; GUERRA, 2013; WILSON & SWAI, 2013;

OLIVEIRA et al., 2013).

A leptospirose suína é uma doença de notificação obrigatória, classificada

na lista da Organização Mundial de Saúde Animal como “Doenças, Infecções e

Infestações Comuns a Múltiplas Espécies”. Pertence ao grupo das doenças

transmissíveis e de grande importância do ponto de vista socioeconômico e/ou

sanitário, com considerável repercussão no comércio internacional de animais e

produtos de origem animal (OIE, 2014).

No Brasil, a doença é descrita em granjas e frigoríficos dos estados de

São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Rio de

Janeiro, Ceará, Pernambuco e Piauí (FAVERO et al., 2002; SHIMABUKURO et al.,

2003; SOTO et al., 2007; GONÇALVES & COSTA, 2011).

Os sorovares Pomona, Icterohaemorrhagiae, Taravossi, Canicola,

Grippotyphosa e Bratislava são os principais isolados de suínos doentes ou

portadores sem sintomatologia clínica (WASIŃSKI & PEJSAK, 2010; ROMERO-

VIVAS et al., 2013).

No Brasil, estudos de prevalência indicam também a frequência dos

sorovares Autumnalis, Copenhageni, Hardjo e Wolffii, além dos principais sorovares

isolados (SOUZA, 2000; HASCHIMOTO et al., 2008; GONÇALVES, 2009; CAMPOS

et al., 2011; RAUBER-JUNIOR et al., 2011).

Os suínos infectados são considerados importantes reservatórios dessas

bactérias, pois apresentam prolongado período de leptospiremia não acompanhada

de sinais clínicos, albergando as bactérias nos túbulos renais e eliminando-as na

urina por meses (OLIVEIRA et al., 2013).

35

O diagnóstico para a confirmação dos casos clínicos e identificação dos

animais portadores baseia-se na investigação clínica e epidemiológica e análise das

provas laboratoriais. A confirmação da leptospirose pode ocorrer por detecção de

anticorpos no soro ou pela demonstração de lepstospiras nos tecidos e fluidos dos

animais acometidos (OLIVEIRA, 2007; SHARMA & YADAV, 2008; CERQUEIRA &

PICARDEAU, 2009; MUSSO & LASCOLA, 2013).

Os testes sorológicos são amplamente utilizados no mundo e a técnica de

soroagluitinação microscópica (SAM) é o teste de eleição recomendado pela

Organização Mundial da Saúde (PICARDEAU, 2013).

Neste trabalho buscou-se a reprodução experimental da leptospirose

suína aguda pelos sorogrupos Icterohaemorrhagiae e Pomona, comparando-se o

curso clínico da doença, os resultados dos exames sorológicos e de detecção da

bactéria durante o período experimental.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no mês de julho de 2012, que compreende

climaticamente ao período de seca na região Centro-Oeste, onde as temperaturas

variaram de 13,7 a 29,2ºC, com umidade do ar média de 36% e 0,2 mm de

precipitação pluviométrica, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET,

2013).

A conduta experimental seguiu os princípios éticos de pesquisa em

animais, após avaliação e aprovação pela Comissão de Ética no Uso de Animais

(CEUA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), protocolo 12/12 (Anexo 1).

Animais

Utilizaram-se 18 suínos híbridos comerciais, com 40 dias de idade, peso

médio de 15 kg, fêmeas, oriundos de Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas

(GRSC), e de matrizes negativas e não vacinadas para leptospirose. Os animais

foram aleatoriamente distribuídos em três baias, identificados, alojados no Galpão

de Experimentação da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da UFG e

36

submetidos a um período de adaptação de doze dias. Para a identificação dos

animais optou-se pela diferenciação de acordo com padrão de manchas individuais,

principalmente do dorso, face externa da orelha e região glútea (Figura 1).

FIGURA 1 – Ilustração do padrão de identificação individual utilizada dentro dos grupos.

Os suínos recebiam água ad libitum. O arraçoamento era realizado duas

vezes ao dia, com ração industrializada, sem aditivos e na quantidade recomendada

para fase de crescimento. A ração era acondicionada em tambor fechado e

suspenso, em local totalmente fechado.

Estrutura física

As baias de alvenaria com dimensão de 12,19 m2 com piso de cimento

eram localizadas em área de acesso restrito apenas ao grupo de pesquisa. Para

impedir a entrada de roedores, as baias foram cobertas com tela viveiro hexagonal

galvanizada na parte frontal e superior (Figura 2). Com o mesmo propósito, as

canaletas externas para escoamento de resíduos das baias foram cobertas com tela

ou chapa metálica.

37

FIGURA 2 - A. Observa-se a tela cobrindo a área superior da baia. B. Vista frontal da

baia. A seta indica a placa metálica sobre a canaleta de escoamento de

resíduos.

Medidas sanitárias

Na tentativa de se evitar a contaminação cruzada entre os grupos,

adotou-se a entrada de apenas uma pessoa por baia, que era também responsável

pela limpeza, arraçoamento e avaliação clínica daquele grupo. Adicionalmente,

materiais como termômetro, rodos, esfregões e materiais de contenção (cachimbos),

eram exclusivos para cada grupo.

Os equipamentos de proteção individual (EPI) incluíam óculos, máscaras,

luvas de borracha, botas e macacões impermeáveis, conforme a Figura 3.

Após o uso, os materiais descartáveis eram identificados como material

de risco biológico e no caso das agulhas, também como perfurocortantes. Óculos,

botas, rodos, esfregões, cachimbos e termômetros eram lavados com detergentes

comuns e depois colocados em solução de hipoclorito de sódio a 5% por uma hora.

A higienização das baias era realizada duas vezes ao dia. Todos os

dejetos passaram por tratamento em caixas coletoras individuas, utilizando-se de

solução cloro a 10%, permanecendo nessas pelo período mínimo de três horas,

sendo posteriormente lançados em esgoto de decantação (SCHERER, 2004).

38

FIGURA 3 – Equipamentos de proteção

individual utilizados durante

período experimental.

Inoculação e colheita de material

As cepas foram gentilmente cedidas pelo Laboratório de Zoonoses

Bacterianas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de

São Paulo. A inoculação de Leptospira ocorreu por via intraperitoneal (ZHANG et al.,

2012), após assepsia da pele da região abdominal com solução de álcool etílico a

70%, como demonstrado na Figura 4. O Grupo I (controle) recebeu 5 mL de solução

fisiológica estéril. O Grupo II foi inoculado com 5 mL de cultura de Leptospira

interrogans sorogrupo Pomona sorovar Kennewicki amostra Pomona From (LPF) e o

Grupo III, com Leptospira interrogans sorogrupo Icterohaemorrhagiae sorovar

Copenhageni amostra Fiocruz L1-130. Ambos contendo de 10 a 20 bactérias por

campo ao aumento de 200x em microscópio de campo escuro (SOTO et al., 2006).

39

FIGURA 4 – Inoculação de 5mL de suspensão de cultivo contendo Leptospira interrogans

sorovar Pomona, via intraperitoneal em suíno.

Os animais foram monitorados por 21 dias pós-infecção (dpi) e as

informações anotadas em fichas individuais. Aferiu-se a temperatura retal duas

vezes ao dia com intervalo de 12 horas (Figura 5A). Nos tempos 0, 3, 6, 9, 13 e 21

dpi colheu-se amostras de sangue da veia cava cranial ou da jugular, para

realização de cultura bacteriológica e hemograma. O soro obtido por centrifugação

foi congelado e posteriormente, submetido à bioquímica sérica, técnica de reação

em cadeia da polimerase (PCR) clássica e soroaglutinação microscópica (SAM).

No 6º, 13º e 21º dpi também foram colhidas e congeladas amostras de

urina para urinálise, cultura bacteriológica e PCR, por micção espontânea antes do

arraçoamento matinal.

Para contenção dos animais utilizou-se o cachimbo apenas nas colheitas

de sangue, como preconizado por DEWEY & STRAW (2006) e ilustrado na Figura

5B.

40

FIGURA 5 – A. Monitoramento da temperatura corporal de um suíno durante o exame

clínico diário. B. Punção venosa jugular e utilização do cachimbo.

Hematologia e Bioquímica sérica

Os exames hematológicos foram realizados no Laboratório Multiusuário

do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da EVZ/UFG.

Para o hemograma utilizou-se 3 mL de sangue em tubo com ácido

etilenodiaminotetracético (EDTA) (BD Vacutainer®). A contagem das células

sanguíneas foi determinada pelo método automático utilizando-se o aparelho BC

2800 Vet (Mindray® Medical International. Limited), adaptado com o cartão próprio

de leitura para a espécie suína. Adicionalmente, realizou-se o esfregaço sanguíneo

corado pelo método de Giemsa para contagem diferencial de leucócitos e avaliação

da morfologia celular.

41

Para as provas de bioquímica sérica obteve-se 5 mL de sangue em tubo

seco (BD Vacutainer®). Os tubos permaneceram em temperatura ambiente por uma

hora para posterior centrifugação. Após a retração do coágulo, dividiram-se as

amostras em microtubos de polipropileno de 1,5 mL (Eppendorf®). A partir das

recomendações sobre o uso dos reagentes comerciais padronizados (Labtest,

Labtest® Diagnóstica S.A.), dosou-se a albumina sérica, bilirrubina total, bilirrubina

direta, creatinina, proteínas totais, ureia e as enzimas aspartato amino transferase

(AST) e gamaglutamiltransferase (Gama GT). A leitura foi realizada em

espectrofotômetro semiautomático Analisador Bioquímico Semiautomático modelo

Bio-2000 (Bio-Plus® Produtos para Laboratórios Ltda). Os valores de referência

utilizados foram os descritos por LOYNACHAN (2012).

Urinálise

Para avaliação das amostras de urina utilizou-se os valores de referências

citados por GOLDBERG (2007). Imediatamente após a colheita observou-se os

aspectos físicos, como volume, coloração e odor. A densidade foi medida em

refratômetro e para os aspectos químicos (pH, presença de proteínas, bilirrubina,

urobilinogênio, corpos cetônicos, glicose, nitrito, sangue/hemoglobina e leucócitos),

utilizou-se tiras reagentes para urinálise (BioColor 10, Bioeasy® Diagnóstica Ltda.).

Isolamento bacteriano

Amostras de 0,5 mL de sangue colhidos nos tempos 0, 3, 6, 9, 13 e 21 dpi

e de 0,5 mL de urina colhidas nos 6º, 13º e 21º dpi foram adicionadas a tubos

contendo 0,3 mL de meios seletivos de Fletcher, acrescidos de 5-fluorouracil e ácido

nalidíxico, nas doses respectivas de 300 mg e 20 mg por litro de meio. Esses foram

incubados em estufas à temperatura de 28-30ºC. As culturas foram avaliadas

semanalmente por um período de seis semanas, sendo considerados negativas,

após quatro meses, segundo protocolo preconizado por BOLIN & CASSELLS

(1990).

42

Extração do DNA genômico das amostras

Para a extração do DNA utilizou-se o kit comercial DNeasy Blood &

Tissue (Qiagen® Biotecnologia Brasil Ltda.), seguindo-se o protocolo do fabricante.

As amostras foram quantificadas em espectofotômetro em duas absorbâncias

diferentes, com razão de A260/280 entre 1,8 e 2,0 (SAMBROOK et al., 1989). Foram

testadas as amostras de soro colhidas nos tempos 0, 3, 6, 9, 13 e 21 dpi e amostras

de urina no 6º, 13º e 21º dpi. Utilizou-se como controle positivo o DNA extraído de

cultura com leptospiras viáveis do sorovar Hardjo da coleção do Laboratório de

Leptospirose do Setor de Medicina Veterinária Preventiva da EVZ/UFG.

Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)

Após a extração as amostras foram submetidas à PCR clássica segundo

o descrito por ROMANI (2012). Para isso, preparou-se um mix com 12,5 μL de água

ultrapura (Gibco®, Life Technologies), 2 μL de solução tampão de PCR 10x (200

mM Tris-Hcl com pH 8.4 e 500 mM KCl) (Invitrogen®, Life Technologies), 0,6 μL de

cloreto de magnésio a 1.5 mM (Invitrogen®, Life Technologies), 1 μL de cada

oligonucleotídeo a 0.25pmol (LipL32-45F - 5’ - AAG CAT TAC CGC TTG TGG TG -

3’ /LipL32-286R - 5′- GAA CTC CCA TTT CAG CGA TT - 3’), 0,6 μL de solução de

dNTPs (Invitrogen®, Life Technologies) e 0,3 μL de Taq DNA polimerase

(Invitrogen®, Life Technologies).

Para amplificação do fragmento de 242 pares de bases (pb) pelo

oligonucleotídeo lipL32 foi utilizado termociclador (Eppendorf mastercycler

gradient®) e a adaptação do protocolo de amplificação de STODDART et al. (2009),

onde as amostras foram submetidas à desnaturação inicial de três minutos a 95 °C,

seguido por 35 ciclos de amplificação de 95 °C por um minuto, 60 °C por 45

segundos, 72 °C por um minuto e extensão final a 72 °C por dez minutos.

Posteriormente, realizou-se eletroforese em gel de agarose na concentração de

0,8% para a visualização do fragmento de 242 pares de bases amplificado do gene

lipL32 de Leptospira spp. Utilizou-se como tampão de corrida o TBE 1X (100 mL de

Tris-EDTA borato diluído em 900 mL de água destilada).

43

Após a eletroforese, os géis foram submersos em solução contendo

SYBR® Safe (Invitrogen®, Life Technologies), na proporção de 8 μL do corante para

400 mL de TBE 1X e visualizados em luz ultravioleta.

Teste de Soroaglutinação Microscópica (SAM)

As amostras de soros colhidas foram submetidas ao teste de

soroaglutinação microscópica (SAM) no Laboratório de Leptospirose da EVZ/UFG.

Os soros foram adicionados em diluições crescentes a culturas de

diversas sorovariedades de Leptospira spp. mantidas e cultivadas em meio

Ellinghausen-McCullough-Johnson-Harris (EMJH). Empregou-se uma coleção de 19

antígenos vivos de leptospiras (Andamana, Australis, Autumnalis, Bratislava,

Butembo, Canicola, Castelonis, Copenhageni, Grippothyphosa, Hardjo, Hebdomadis,

Icterohaemorraghiae, Patoc, Pomona, Pyrogenes, Sentot, Shermani, Tarassovi e

Wolffii) que compõem a coleção de culturas vivas desse laboratório.

Os soros que apresentaram 50% ou mais de leptospiras aglutinadas na

diluição 1/100 foram considerados positivos e então diluídos seriadamente a razão

dois até a determinação da diluição máxima positiva de acordo com PICARDEAU

(2013).

Eutanásia e necropsia

Ao final do período experimental todos os animais sofreram eutanásia

seguindo a Resolução nº 1000 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV,

2012).

A necropsia dos animais realizou-se no Laboratório de Necropsia do Setor

de Patologia Animal da EVZ/UFG, sendo as alterações observadas anotadas em

fichas individuais. Ao final, as carcaças foram incineradas em forno crematório da

própria EVZ/UFG, localizado dentro da sala de necropsia.

44

Análise estatística

A avaliação das análises não paramétricas entre os grupos foi realizada a

partir do teste Kruskal-Wallis, considerando-se diferença significativa para p<0,05.

Nos casos de diferença estatística utilizou-se método de comparação de Dunn,

sendo significativos valores de p<0,01.

Para se verificar a existência de associação entre duas variáveis

qualitativas empregou-se o teste de Fischer. Os dados foram tabulados no programa

Excel 2010 e processados no software Graphpad Instat, versão 3.0.

RESULTADOS

No presente trabalho conseguiu-se reproduzir experimentalmente a

leptospirose suína aguda, inoculando-se por via intraperitoneal estirpes dos

sorogrupos Pomona e Icterohaemorrhagiae, em fêmeas suínas com idade de 40

dias.

Ao longo dos 21 dias do ensaio experimental as alterações clínicas

observadas foram discretas em todos os grupos, excetuando um suíno do GII e

outro do GIII que manifestaram apatia no 2º dpi (Figura 6) e no 6º dpi,

respectivamente. Em relação à média das temperaturas corporais dos animais nos

três grupos, apenas no 7º dpi pode-se observar alteração significativa (p<0,01),

quando comparados os GII e GIII.

O hemograma e a bioquímica sérica dos animais de todos os grupos em

todos os períodos analisados apresentaram-se dentro dos valores referenciais

normais para a espécie. O mesmo foi observado para os exames físicos e químicos

da urina. As amostras de sangue e urina testadas pela PCR (Figura 8) e inoculadas

em meio seletivo de Fletcher adicionado de antibióticos foram negativas para todos

os grupos e dias testados.

45

FIGURA 6 – Suíno G II-4, 2 dpi: animal apático, isolado do grupo e

buscando a luz solar na baia.

FIGURA 7 – Reação em Cadeia da Polimerase Clássica (PCR).

Eletroforese em gel de agarose de amostras de soros

negativas ao 6º dpi dos GII (1 a 6) e GII (7-9), testadas

para amplificação do fragmento de 242 pb pelo

oligonucleotídeo lipL32. C-: controle negativo; C+:

controle positivo; M: marcador de peso molecular (1Kb

Plus DNA Ladder, Invitrogen®, Life Technologies).

46

Na SAM, foram negativas todas as amostras colhidas no dia 0 e em todos

os outros dias para o GI (controle). No GII houve positividade exclusiva ao sorogrupo

Pomona em todos os animais a partir do 6º dpi, com titulação de 1/200 (2/6) e 1/800

(4/6). No GIII, cinco suínos foram positivos para o sorogrupo Icterohaemorrhagiae a

partir do 3º dpi apresentando titulação de 1/100 (2/6) e 1/200 (3/6) e um suíno a

partir do 6º dpi com titulação de 1/800. Estas titulações mantiveram-se nos dois

grupos até o final do experimento. Não foram observadas reações cruzadas entre os

sorogrupos, sendo a positividade do GII exclusiva para os sorogrupos Pomona e

para o GIII o sorogrupo Icterohaemorrhagiae (Tabela 1).

A única alteração macroscópica observada à necropsia foi rins de aspecto

pálido (Figura 9) em 50% (3/6) do GI, 83,33% (5/6) do GII e em 83,33% GIII (5/6),

não havendo, entretanto diferença estatística entre os grupos estudados (p>0,05).

Quando se confrontou os resultados da SAM com o achado de necropsia

pelo teste de Fischer (p=0,2682) não foi possível estabelecer associação estatística

entre eles, como mostra a Tabela 2.

TABELA 1 - Distribuição das titulações individuais dos animais dos grupos GII e GIII,

inoculados respectivamente com estirpes dos sorogrupos Pomona e

Icterohaemorrhagiae no 3º, 6º e 9º dpi.

Grupo Titulação

3 dpi 6 dpi 9 dpi

GII-1 negativo 1/800 1/800

GII-2 negativo 1/800 1/800

GII-3 negativo 1/200 1/800

GII-4 negativo 1/800 1/800

GII-5 negativo 1/800 1/800

GII-6 negativo 1/200 1/800

GIII-1 1/200 1/800 1/800

GIII-2 1/100 1/800 1/800

GIII-3 1/100 1/400 1/800

GIII-4 1/200 1/800 1/800

GIII-5 1/200 1/800 1/800

GIII-6 negativo 1/800 1/800

47

Figura 8 – Rim de suíno do GII com superfície cortical pálida.

TABELA 2 - Associação entre animais positivos e negativos na SAM com a presença

ou não de palidez renal à necropsia.

SAM Total

positivo negativo

Palidez Renal Presente 10 (56%) 3 (17%) 13 (72%)

Ausente 2 (11%) 3 (17%) 5 (28%)

Total 12 (67%) 6 (33%) 18 (100%

p= 0,2682 (Intervalo de confiança de 95%)

DISCUSSÃO

No presente experimento utilizaram-se os sorogrupos Pomona e

Icterohaemorrhagiae, por serem os mais frequentemente isolados em granjas

suinícolas no Brasil, na tentativa de se entender melhor a relação entre hospedeiro e

patógeno desta enfermidade. Esta preocupação é compartilhada com a maioria dos

autores como SOUZA (2000), SHIMABUKURO et al. (2003), DELBEM et al. (2004),

SOTO et al. (2007) e RAUBER-JUNIOR et al. (2011).

48

Neste trabalho a via intraperitoneal se mostrou eficaz para a inoculação

de leptospiras em suínos, por ser rápida e não necessitar de contenção química ou

da utilização de cateteres para a aplicação no inóculo. ZHANG et al (2012) já

preconizava esta via de inoculação como uma das principais, para modelos

experimentais com leptospiras em animais de laboratório. Os autores também

descrevem a possibilidade de inoculação por meio da pele escarificada, porém neste

experimento esta via embora aparentemente de fácil execução foi descartada devido

ao ambiente experimental não ser estéril, existindo a possibilidade de contaminação

dessas lesões por outros microrganismos oportunistas, que poderiam mascarar

dados relativos à temperatura corporal e resultados de exames complementares

como hemograma.

A leptospirose em suínos ocorreu na forma assintomática neste estudo.

Segundo LEVETT (2001), BHARTI et al. (2003) e MCBRIDE et al. (2005) a doença

nessa espécie manifesta-se predominantemente na forma subclínica, sendo o

animal acometido uma importante fonte de infecção para tratadores, médicos

veterinários e magarefes. Verificou-se ainda, neste estudo que suínos com 40 dias

de idade e sobre condições ambientais que favoreceram a menor quantidade de

bactérias no meio, se mostraram pouco suscetíveis a desenvolver a forma clínica da

doença. Assim, ressalta-se que condições adequadas de manejo, limpeza das

instalações e a genética dos animais possam auxiliar na redução da carga

bacteriana, reduzindo assim, a necessidade de antibióticos preventivos.

Os resultados do presente estudo demostraram que a infecção pelo

sorogrupo Icterohaemorrhagiae pode não apresentar sinais clínicos em suínos

adultos, com um mês e meio de idade, provavelmente por influência das variações

inerentes à imunidade do animal, à minimização de fatores estressantes e condições

climáticas e ambientais adequadas ao ambiente experimental, que podem ter

influenciado nos resultados obtidos. Essa justificativa foi igualmente descrita por

GONÇALVES (2009), que também descreveu a ocorrência da infecção por este

sorogrupo em animais com características de hospedeiro reservatório.

As discretas manifestações clínicas observadas impossibilitaram o

diagnóstico clínico da leptospirose aguda, sendo assim indispensável a utilização de

testes laboratoriais, como descrito por SHIMABUKURO et al. (2003) e MUSSO &

LASCOLA (2013). A apatia observada durante a primeira semana de infecção em

49

suínos dos Grupos GII (Pomona) e GIII (Icterohaemorrhagiae), podem ser atribuídas

à fase de leptospiremia conforme também descrito por SOTO et al (2007).

Não foram constatadas alterações significativas nos parâmetros avaliados

do hemograma, bioquímica sérica e urinálise, de nenhum dos dois grupos

inoculados. Na infecção experimental por L. interrogans sorovar Wolffi, RENDE et al.

(2007) encontraram alterações bioquímicas séricas relacionadas a um quadro

hemolítico, porém utilizaram quantidade de leptospiras inoculadas superiores ao

normalmente observado na literatura, se afastando da realidade da carga bacteriana

encontrada na infecção natural.

A produção de anticorpos específicos nos grupos GII e GIII pôde ser

detectada pela SAM no intervalo entre os dias 3 e 6 pós-infecção, estando de acordo

com o descrito por FIGUEIREDO et al. (2013) e diferindo-se do descrito por SYKES

et al. (2011), que detectaram anticorpos específicos a partir da segunda semana pós

infecção. Apesar da titulação alta observada, o diagnóstico da infecção em ambos

os grupos só foi comprovada pela demonstração da soroconversão a partir da

análise de amostras pareadas, com intervalo de duas semanas, assemelhando-se

ao descrito por CERQUEIRA & PICARDEAU (2009), MUSSO & LASCOLA (2013) e

PICARDEAU (2013). A manutenção dos altos títulos de anticorpos a partir do 6º dpi

até o final do experimento confirma que o presente estudo se restringiu a um quadro

de leptospirose aguda, pois segundo SYKES et al. (2011) o declínio dos títulos de

anticorpos caracterizam a fase crônica da infecção.

O isolamento bacteriano foi negativo para as amostras de urina e sangue,

mesmo utilizando-se meio seletivo adicionado de antibióticos, como sugerido por

MIRAGLIA et al. (2009) para amostras contaminadas. Os resultados negativos na

detecção de leptospira em fluidos biológicos tanto pela cultura quanto pela PCR

clássica podem ocorrer quando a concentração de bactéria nessas amostras for

menor que 10 bactérias/mL ou ainda em amostras congeladas antes da fase de

extração, como evidenciado também por MUSSO e LASCOLA (2013). GONZÁLEZ

et al. (2013) acrescenta que nas amostras de soro pode haver uma redução da

quantidade de bactérias devido a adesão dessas ao coágulo. Nas amostras de

urina, ANZAI (2006) destaca que outros fatores relacionados a resultados falsos

negativos incluem a fragilidade da leptospira em ambientes ácidos e à existência de

fatores inibidores, como ureia, creatinina e radicais ácidos.

50

A divergência entre os resultados positivos na SAM e os negativos na

PCR neste experimento, também foi relatada por CHEMA et al. (2007), que

identificaram em seu estudo a necessidade de padronização de testes de PCR mais

sensíveis, diminuindo assim os falsos negativos, o que também não foi realizado

neste estudo. Adicionalmente, em animais adultos a produção de anticorpos

específicos pode ter eliminado rapidamente a bactéria do sangue e tecidos.

Embora tenham sido utilizadas cepas diferentes, a palidez renal

observada com maior evidência nos grupos inoculados, em relação ao grupo

controle, pode ser atribuída segundo DROLET (2012) à degeneração tubular aguda

constatada pelo autor, em alguns casos de leptospirose.

CONCLUSÕES

A reprodução da leptospirose aguda suína em condições experimentais

utilizando-se o sorogrupo Icterohaemorrhagiae sorovar Copenhageni cepa L1-130 e

sorogrupo Pomona sorovar Kennewicki cepa Pomona From, foi possível pela

inoculação intraperitoneal. A doença em sua fase aguda em animais adultos

demostrou ser de caráter assintomático, com alterações macroscópicas

inespecíficas e que pôde ser facilmente diagnosticada pela técnica de

soroaglutinação microscópica de amostras colhidas com intervalos de uma semana.

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55

CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DA INFECÇÃO AGUDA

EXPERIMENTAL POR Leptospira interrogans EM FEMEAS SUÍNAS

RESUMO

A leptospirose suína é uma antropozoonose mundialmente distribuída. Neste estudo

avaliaram-se as diferenças histológicas em órgãos de 12 suínos infectados

experimentalmente com cepas de Leptospira interrogans positivos na

soroaglutinação microscópica (SAM), e seis suínos controles soronegativos. No

exame histológico de rotina foram avaliadas amostras de cérebro, fígado, linfonodos,

pulmão e rim. Em casos com lesões sugestivas de infecção por leptospirose

realizou-se a técnica de impregnação pela prata de Warthin-Starry. Todas as

amostras foram negativas na impregnação pela prata. Dentre estas se destacaram a

microgliose mononuclear focal leve em secções de cérebro (8,33%), a hiperplasia

linfoide em linfonodos do mediastino e mesentério (41,66%), a pneumonia intersticial

mononuclear multifocal leve no pulmão (58,33%), hepatite mononuclear multifocal

(41,66%), além de nefrose tubular aguda (100%) e nefrite intersticial em secções de

rim. No teste de Fischer (IC 95%) ocorreu associação entre a condição sorológica

dos animais e as lesões de hepatite mononuclear (p=0,0128), nefrite intersticial

mononuclear (p=0,0004), nefrose tubular (p<0,0001) e pneumonia intersticial

mononuclear (p=0,0377). A utilização da associação do exame histopatológico e a

soroaglutinação microscópica mostrou ser um facilitador no diagnóstico da

leptospirose em suínos. As associações das lesões microscópicas renais com

quadro de hepatite mononuclear podem indicar precocemente a infecção por

Leptospira interrogans em suínos.

Palavras-chave: hepatite mononuclear, leptospirose suína, nefrite intersticial

mononuclear, nefrose tubular, soroaglutinação microscópica.

56

HISTOPATHOLOGICAL EVALUATION OF Leptospira interrogans ACUTE

EXPERIMENTAL INFECTION IN FEMALE PIGS

ABSTRACT

Swine Leptospirosis is a globally anthropozoonosis. In this study we evaluated the

histological differences in organs of 12 pigs experimentally infected with strains of

Leptospira interrogans and positive to microscopic agglutination test (MAT), in

comparison with six pigs seronegative controls. In routine histological examination

samples of brain, liver, lymph nodes, lung and kidney were evaluated. In cases with

suggestive lesions of leptospirosis was performed the Warthin-Starry silver

impregnation technique. All samples were negative on silver impregnation. Only in

the 12 seropositive pigs was found lesions suggestive of leptospirosis. Among them

focal mononuclear microgliosis were seen in 8.33 % of brain sections, lymphoid

hyperplasia in lymph nodes of the mediastinum and mesentery (41.66 %), multifocal

mild mononuclear interstitial pneumonia in the lung (58.33 %), mononuclear hepatitis

(41.66 %), and acute tubular nephrosis (100 %) and interstitial nephritis (91.66%) in

kidney sections. In Fischer's test (95 % CI) there was association between

serological status of animals and the lesions of mononuclear hepatitis (p = 0.0128),

mononuclear interstitial nephritis (p = 0.0004), tubular nephrosis (p < 0.0001) and

mononuclear interstitial pneumonia (p = 0.0377). Associations between renal

histological lesions with mononuclear hepatitis may indicate early infection with

Leptospira interrogans in swines.

Keywords: microscopic agglutination test, mononuclear hepatitis, mononuclear

interstitial nephritis, swine leptospirosis, tubular nephrosis.

57

INTRODUÇÃO

A leptospirose é uma doença de caráter ocupacional, sendo assim,

constitui-se em importante problema relacionado à saúde pública em diversos

países (LIM, 2009; GUERRA, 2013; OLIVEIRA et al., 2013).

Dentre os animais domésticos, os suínos estão entre os principais

portadores desta bactéria, podendo transmitir a doença para humanos e outras

espécies de animais. Mundialmente, os principais sorovares de leptospiras

encontrados infectando e causando doença em suínos são: Pomona,

Icterohaemorrhagiae, Taravossi, Canicola, Grippotyphosa, Bratislava (ADLER &

MOCTEZUMA, 2010; WASIŃSKI & PEJSAK, 2010; ELLIS, 2012; ROMERO-VIVAS

et al., 2013).

A doença geralmente é assintomática podendo se manter no rebanho

silenciosamente por longos períodos. Causa infecções discretas a inaparentes,

sendo também associada à nefrite intersticial crônica, identificada somente durante o

abate, como pontos brancos na superfície cortical renal (PRESCOTT, 2007;

OLIVEIRA, 2007; ELLIS, 2012).

O diagnóstico da leptospirose muitas vezes é laborioso sendo necessária

a associação entre as investigações clínica e epidemiológica, e provas laboratoriais.

Estas últimas podem contemplar a detecção direta ou indireta do agente ou de seu

material genético (MUSSO & LASCOLA, 2013; PICARDEAU, 2013). Dentre estas

técnicas complementares, o exame histopatológico, constitui-se fácil e eficiente meio

auxiliar no diagnóstico (HASCHIMOTO et al., 2008). Além disto, exame pós-morte

confere ao clínico uma oportunidade de entender o processo pelo qual a doença se

desenvolve individualmente nos suínos. Esse exame vai além da análise macro e

microscópica dos tecidos examinados, permitindo que tais amostras sejam ainda

avaliadas por outras técnicas que comprovem a presença do agente (TORRISON,

2012).

O estudo em tela teve o intuito de avaliar as lesões histológicas em

órgãos de suínos experimentalmente infectados e sororreagentes para Leptospira

interrogans, além da detecção da bactéria pela técnica de impregnação pela prata

de Whartin-Starry.

58

MATERIAL E MÉTODOS

Toda conduta experimental foi aprovada pelo Comitê de Ética no Uso

Animal (CEUA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), sob número de protocolo

012/12 (Anexo 1).

Foram utilizadas amostras provenientes da necropsia de 18 suínos

híbridos comerciais, com 40 dias de idade, peso médio de 15 kg, fêmeas, oriundos

de Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas (GRSC), e de matrizes negativas

e não vacinadas para leptospirose. Destas, 12 fêmeas sofreram eutanásia no 21º dia

após a infecção experimental via intraperitoneal com 5mL de cultura de Leptospira

interrogans, contendo de 10 a 20 bactérias por campo de aumento de 200x em

microscópio de campo escuro (SOTO et al., 2006). Além de serem positivas na

soroaglutinação microscópica (SAM) com títulos de 1/800. Adicionalmente,

utilizaram-se amostras de seis animais não inoculados e negativos como controle.

O exame histológico foi realizado no Laboratório de Histopatologia do

Setor de Patologia Animal da EVZ/UFG. Foram colhidos 18 fragmentos de cérebro,

fígado, linfonodo mediastínico, linfonodo mesentérico, pulmão e rim

respectivamente. Os fragmentos foram fixados em solução de formalina tamponada

a 10%, desidratados em soluções crescentes de álcool etílico, depois clarificados em

xilol, incluídos em parafina e laminados a 5µm de espessura (LUNA, 1968). Os

cortes foram corados pela técnica de rotina de hematoxilina e eosina (HE), conforme

BEHMER et al. (1976). A leitura das lâminas foi realizada em microscópio óptico de

campo claro, marca Carl Zeiss® modelo Jenaval.

Nos casos sugestivos de lesão por leptospirose, realizou-se a

impregnação pela prata pela técnica de Warthin-Starry. Os cortes desparafinizados e

hidratados foram impregnados em solução de nitrato de prata a 1% por 30 minutos

em 43ºC. Depois, a solução de trabalho foi adicionada aos cortes histológicos até a

visualização de tonalidade amarelo amarronzado. Os cortes foram lavados

rapidamente em água destilada e colocados em água quente para o fim da reação.

Posteriormente, as lâminas foram desidratadas em soluções crescentes de álcool

etílico e por último, passaram por duas vezes em xilol (PROPHET et al.,1992). Como

controle utilizou-se lâmina de um caso previamente testado e positivo à coloração de

Warthin-Starry.

59

Os resultados dos exames foram categorizados em positivo ou negativo e

as alterações histológicas descritas segundo o padrão morfológico da lesão.

Considerou-se (0) quando não havia lesão, (1) para a lesão discreta compreendendo

até 25% do corte do órgão, (2) para moderada compreendendo até 50% do corte do

órgão, (3) para acentuada, cujas alterações compreendiam acima de 50% do corte

do órgão. A análise entre as lesões foi realizada pelo teste não paramétrico de

Kruskal-Wallis, complementado com o teste de comparações múltiplas de Dunn,

para intervalo de confiança de 95%.

O teste de Fischer foi empregado com o intuito de verificar a existência de

associação entre os dados obtidos e a soropositividade. Os dados foram tabulados

no programa Excel 2010 e processados no software Graphpad Instat, versão 3.0.

RESULTADOS

Na análise histológica, somente os tecidos soropositivos na SAM

apresentaram alterações. Nesses casos constataram-se lesões sugestivas de

leptospirose nos 12 animais infectados, havendo ainda, associação significativa

entre o exame histopatológico e o teste sorológico (p < 0.0001), como demonstrado

na Tabela 1.

TABELA 1 - Distribuição da frequência de lesões histopatológicas e da

soroaglutinação microscópica (SAM) em suínos experimentalmente

infectados por Leptospira interrogans.

Lesões Histológicas Total

positivo negativo

SAM positivo 12 (67%) 0 12 (67%)

negativo 0 6 (33%) 6 (33%)

Total

12 (67%) 6 (33%) 18 (100%)

p< 0.0001 (Intervalo de confiança de 95%)

As frequências de lesões nos animais sorologicamente positivos foram de

8,33% (1/12) no cérebro, 66,66% (8/12) no fígado, 41,66% (5/12) nos linfonodos

60

mediastínicos e mesentéricos, 58,33% (7/12) no pulmão e 100% (12/12) no rim,

respectivamente.

Em todos os cortes de rim identificou-se nefrose tubular aguda,

caracterizada por degeneração tubular difusa e moderada, com aumento de

tamanho da célula epitelial tubular, muitas vezes, com vacuolizações citoplasmática

e material eosinofílico amorfo no lúmen (Figura 1). Em 91,66% (11/12) dos casos

observou-se também nefrite intersticial multifocal, discreta em 90,90% (10/11) e

acentuada em 9,09% (1/11), com padrão folicular e predomínio de linfócitos e

plasmócitos (Figura 2A e B).

FIGURA 1 - Rim, suíno: nefrose tubular aguda e difusa, caracterizada por

degeneração das células tubulares, contendo no lúmen material

eosinofílico hialino (HE, 40X).

61

FIGURA 2 – Rim, suíno, nefrite intersticial mononuclear: A. Infiltrado de plasmócitos e

linfócitos peritubular discreta (HE, 20X). B. Infiltrado de linfócitos e

plasmócitos peritubular acentuado (HE, 10X).

No fígado, 66,66% (8/12) das amostras avaliadas havia hepatite

mononuclear focal discreta, caracterizada por infiltrado de linfócitos e plasmócitos

(Figura 3), associada, em alguns casos, a focos discretos de necrose de

hepatócitos.

62

FIGURA 3 – Fígado, suíno: Infiltrado discreto de linfócitos e em menor número de

plasmócitos entre os hepatócitos adjacentes à veia centrolobular (zona III).

(HE, 20X).

No pulmão, também se verificou em 58,33% (8/12), infiltrado semelhante

entre alvéolos e na porção terminal de bronquíolos, característicos de pneumonia

mononuclear multifocal discreta (Figura 4).

As demais alterações compreenderam hiperplasia linfoide difusa

acentuada nos linfonodos mesentéricos (Figura 5 A) e mediastínicos em 41,66%

(5/12) das amostras, e microgliose focal discreta no córtex cerebral de um suíno

(8,33%) (Figura 5B).

A técnica de impregnação pela prata de Warthin-Starry foi negativa em

todas as amostras que apresentaram lesões

63

FIGURA 4 - Pulmão, suíno: Pneumonia intersticial mononuclear multifocal

discreta. Observe o infiltrado de plasmócitos e linfócitos em

bronquíolos terminais (seta) e em alvéolos (HE, 20X).

FIGURA 5 – Suíno. A. Linfonodo mesentérico com hiperplasia linfoide difusa e

acentuada, caracterizada por aspecto homogêneo sendo impossível

distinguir os folículos linfoides (HE, 5X). B. Córtex cerebral com

proliferação focal discreta da micróglia (microgliose focal discreta) (HE,

10X).

Na análise de variância das lesões entre os órgãos, o teste de Kruskal-

Wallis foi significativo (p<0,0001). Sendo observadas diferenças estatísticas entre a

microgliose cerebral, a nefrose tubular (p<0,001) e a nefrite intersticial (p<0,05); a

64

hepatite e a nefrose tubular (p<0,01); a nefrose tubular, pneumonia (p<0,01) e

hiperplasia linfoide (p<0,05).

No teste de Fischer (IC 95%) ocorreu associação entre a condição

sorológica dos animais e as lesões de hepatite mononuclear (p=0,0128), nefrite

intersticial mononuclear (p=0,0004), nefrose tubular (p<0,0001) e pneumonia

intersticial mononuclear (p=0,0377), como resume a Tabela 2.

65

TABELA 2 - Associação entre o diagnóstico histopatológico e sorologia na SAM em cérebro, fígado, linfonodos, pulmão e

rim de animais experimentalmente infectados com Leptospira interrogans

Cérebro Fígado* Linfonodos Pulmão** Rim***

MGFD + MGFD - HMFD + HMFD - HLDA + HLDA - PIMMD + PIMMD - NIMM + NIMM - NTDM + NTDM -

SA

M + 1 11 8 4 5 7 7 5 11 1 12 0

- 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6

0: ausência de lesão; HLDA: hiperplasia linfoide difusa acentuada; HMFD: hepatite mononuclear focal discreta; MGFD: microgliose

focal discreta; NIMM: nefrite intersticial mononclear multifocal; NTDM: nefrose tubular difusa moderada; PIMMD: pneumonia

intersticial multifocal discreta.

*p<0,0128 (teste de Fischer, IC 95%).

**p=0,0377 (teste de Fischer, IC 95%).

*** p=0,0004 para NIMM e p<0,0001 para NTDM (teste de Fischer, IC 95%)

66

DISCUSSÃO

As detecções de lesões sugestivas de leptospirose nos cortes histológicos

de animais com sorologia positiva demonstraram que esta associação é um método

auxiliar de diagnóstico para a doença em suínos, o que também foi descrito por

PRESCOTT (2007).

O presente estudo confirmou as observações de MONAHAN et al. (2009)

de que os rins são os principais órgãos-alvo da leptospirose. Isto pôde ser facilmente

observado pela associação dos resultados de positividade na SAM com a frequência

das lesões histopatológicas renais de nefrite intersticial mononuclear e nefrose

tubular apresentadas neste experimento.

A nefrite intersticial mononuclear encontrada em 91,6% dos rins de

animais soropositivos é descrita também por vários autores como UZAL et al.

(2002), CAMPOS et al. (2011), GONÇALVES & COSTA (2011), ELLIS (2012) e

FIGUEIREDO et al. (2013) como achado comumente observado na leptospirose

tanto em animais quanto em humanos. Em suínos, essa lesão tem sido

correlacionada aos sorovares dos sorogrupos Pomona, Tarassovi e Australis (ELLIS,

2012). Entretanto, OLIVEIRA-FILHO et al. (2012) e HASCHIMOTO et al. (2008) não

encontraram correlação positiva entre essa lesão microscópica e a positividade na

SAM, diferentemente do encontrado neste ensaio experimental onde esta relação foi

fortemente evidenciada.

A reprodução de modelo experimental de inoculação de leptospiras em

suínos permitiu observar que a nefrose tubular é a principal lesão histopatológica e

geralmente é acompanhada de infiltrado de plasmócitos e linfócitos focais,

entretanto o mecanismo pelo qual esta injúria tubular ocorre, ainda está pouco

elucidado. DROLET (2012), entretanto, afirma que a ocorrência de nefrose tubular

aguda predominantemente nos túbulos contorcidos proximais, ocorra graças à alta

taxa metabólica de suas células epiteliais, sendo especialmente suscetíveis à danos

causados por isquemia prolongada ou nefrotoxinas, que são as principais causas

deste tipo de nefropatia.

Na leptospirose alguns autores concordam que a degeneração tubular

resulta de alterações vasculares como hipóxia e hipovolemia, provavelmente

causadas por fatores de virulência bacteriana, com os lipopolissacarídeos e

67

esfingomielinases (HAAKE, 2000; MATSUNAGA et al., 2003; WU et al., 2008;

CONFER & AYALEW, 2013). Adicionalmente, ARAÚJO et al. (2010) descrevem que

a lesão degenerativa primária nos túbulos contorcidos proximais altera o transporte

de água e sódio, aumentando a excreção distal de potássio, a hipocalemia e poliúria,

agravando assim, os sinais clínicos.

Neste experimento lesões condizentes com quadro de leptospirose

também foram encontradas no fígado, pulmão e cérebro de suínos sorologicamente

positivos. Porém, apenas as alterações hepáticas e pulmonares tiveram associação

positiva no teste estatístico. Segundo ADLER & MOCTEZUMA (2010), OSAVA et al.

(2010) e ELLIS (2012), diferentes órgão podem ser colonizados pela bactéria

durante a fase de leptospiremia, o que confirma nossos achados.

A pneumonia intersticial mononuclear juntamente com a hepatite

mononuclear aqui descritas, configuraram os principais achados histológicos de

DELBEM et al. (2002) e CAMPOS et al (2011) em análises de materiais de

frigoríficos oriundos de suínos positivos para leptospirose. Neste último estudo, os

antígenos foram detectados pela técnica de imuno-histoquímica em células

fagocíticas do septo interalveolar, no endotélio vascular e no epitélio alveolar do

pulmão. No fígado, os antígenos estavam presentes nos hepatócitos.

Os resultados negativos no teste de impregnação pela prata de Whartin-

Starry, em amostras de animais positivos na SAM, podem ser devido à eliminação

das bactérias nos rins consequente à produção de anticorpos específicos.

FIGUEIREDO et al. (2013) também não conseguiram êxito ao utilizarem essa

técnica em 18 tecidos renais de suínos soropositivos. Da mesma maneira,

MIRAGLIA et al. (2008) só encontraram amostras de rins positivas no Warthin-Starry

em 2,92% (4/137) das amostras por eles testadas. Além do mais, para alguns

autores, a técnica de impregnação pela prata tem uso limitado por apresentar

problemas relacionados à instabilidade dos reagentes, à coloração de outras

estruturas que não as espiroquetas, e à dificuldade na identificação dos

microrganismos ou seus produtos antigênicos, principalmente quando em meio

intracelular (SCANZIANI et al., 1989; KIERNAN, 2002; SYKES et al., 2011, MUSSO

& LASCOLA, 2013).

68

CONCLUSÕES

A utilização da associação do exame histopatológico e a soroaglutinação

microscópica mostrou ser método auxiliar no diagnóstico da leptospirose em suínos.

Nestas condições experimentais de leptospirose suína, não se obteve

êxito com a utilização da técnica de impregnação pela prata nas amostras

previamente positivas na soroaglutinação microscópica.

A nefrose tubular aguda difusa acompanhada de nefrite intersticial

mononuclear multifocal foram as principais lesões histopatológicas da doença.

As associações das lesões microscópicas renais com quadro de hepatite

mononuclear focal podem indicar a infecção por Leptospira interrogans em suínos à

avaliação microscópica utilizando-se a coloração de rotina de hematoxilina e eosina.

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72

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora se saiba que a leptospirose é uma zoonose importante em países

em desenvolvimento, como o Brasil, somente nas últimas décadas aumentou-se a

quantidade de pesquisas aprofundadas sobre a patogenia desta enfermidade.

Diversos estudos estão sendo realizados em linhagens celulares. Deve-se

salientar que experimentos in vitro muitas vezes não são representativos das

condições da infecção no hospedeiro. Trabalhos relatam ainda, dados obtidos pela

infecção de certos sorovares do gênero Leptospira em animais de laboratório e em

humanos. Porém, devido à especificidade dos sorovares aos diferentes hospedeiros

deve-se ter cuidado na extrapolação destes dados para outros sorovares, espécies

de Leptospira ou mesmo hospedeiro.

A utilização de modelos experimentais para o estudo da leptospirose

suína é de suma importância para o entendimento da patogênese dos diferentes

sorovares, e da relação entre estes e seus hospedeiros. No Brasil, diversos estudos

sorológicos têm sido conduzidos em suínos, entretanto não se sabe ainda a real

importância desses sorovares para a suinocultura brasileira.

O presente estudo permitiu através da tabulação e interpretação dos

resultados, a observação da ocorrência da leptospirose assintomática em suínos

jovens. Além de contribuir com dados sobre as alterações macroscópicas e

histológicas da leptospirose em suínos pelos sorogrupos Icterohaemorrhagiae e

Pomona, visto que há poucos relatos sobre o assunto na literatura disponível.

As manifestações clínicas inespecíficas encontradas neste estudo

mostram a necessidade de técnicas que possibilitem a rapidez no diagnóstico da

doença e adoção, com a maior precocidade possível, medidas adequadas de

tratamento e saúde pública. Na atualidade, a despeito da disponibilidade de meios

diagnósticos mais sensíveis e confiáveis, ainda são utilizados métodos antigos e

pouco sensíveis nas rotinas das granjas produtoras de suínos. Para reverter esta

situação há necessidade de investimentos em tecnologias de produção que

viabilizem a um custo adequado ao produtor destas novas ferramentas de

diagnóstico.

Cada técnica laboratorial realizada apresenta limitações para o uso no

diagnóstico de rotina. Resultados falso-negativos são comuns à maioria desses

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métodos, sendo assim necessária a padronização de técnicas mais sensíveis, e ao

mesmo tempo específicas. As técnicas de isolamento são demoradas e trabalhosas,

sendo restritas a poucos laboratórios e requer a presença de leptospiras viáveis, o

que dificulta ainda mais a detecção do microrganismo em materiais que não sejam

inoculados imediatamente após a colheita. A soroaglutinação microscópica e a

cultura, embora ainda sejam consideradas técnicas de referências, exigem

experiência do técnico responsável pelos exames e um esforço contínuo para a

manutenção das coleções de leptospiras viáveis.

Para o diagnóstico histológico, há necessidade ainda, de se testar outras

técnicas para identificação do agente, como a técnica de imuno-histoquímica ou

hibridização in situ. Assim, seria comprovada se as lesões histológicas compostas

por infiltrado inflamatório mononucleares, realmente são decorrentes da infecção por

leptospiras em suíno, visto que o teste de impregnação pela prata não se

apresentou como um teste eficiente.

Algumas lacunas ainda devem ser preenchidas. A utilização de antígenos

para detecção de ampla variedade de bactérias do gênero Leptospira,

principalmente nos testes sorológicos e nas infecções subclínicas ou recentes,

ajudaria na triagem dos animais positivos. Adicionalmente, o desenvolvimento de

vacinas de genes deletados seria crucial na diferenciação entre os animais

infectados e os vacinados.

É fundamental considerar ainda que, a identificação da espécie

responsável pela infecção é importantíssima para que se desenvolvam estratégias

de controle e prevenção da doença. Neste âmbito, as técnicas moleculares seriam

as soluções mais eficientes. Entretanto, o custo e o desenvolvimento de técnicas

voltadas mais para o diagnóstico da leptospirose humana tornam essa possibilidade,

em curto prazo, não acessível aos produtores de suínos.

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Anexo 1 - Aprovação do projeto protocolado sob o número 012/12, pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEAU)