alimentos fibrosos para suínos

Upload: welington-vale

Post on 07-Jul-2015

792 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

PUBVET, Publicaes em Medicina Veterinria e Zootecnia.

Disponvel em: .

Alimentos fibrosos para sunos

Elton Roger Alves de Oliveira1, Jos Humberto Vilar da Silva2, Mrcia de Souza Coelho1, Nelson Vieira da Silva1, Jos Anchieta de Arajo1, Alda Lcia de Lima Amncio1, Carolyny Batista Lima1, Matheus Ramalho de Lima1.1

Ps-graduando(a) em zootecnia, Campus II/CCA/UFPB, Areia PB, CEP

58397-000.2

Professor do DAP/CFT/UFPB, Campus III s/n, CEP 58220-000, Bananeiras

PB.

RESUMO

grande o interesse no estudo de possveis alternativas que viabilizem a substituio total ou parcial do milho e do farelo de soja, entretanto, faz-se necessria uma avaliao mais abrangente do valor nutricional de novos ingredientes, de forma a no comprometer o atendimento das necessidades nutricionais dos animais e conseqentemente a produtividade e os resultados econmicos. Desta forma, os pesquisadores vm procurando determinar com exatido o papel da fibra diettica na nutrio de monogstricos,

principalmente em relao ao suprimento parcial de energia. Portanto, esta reviso tem como objetivo mostrar alguns ingredientes fibrosos que podem ser utilizados na substituio parcial ou total dos ingredientes convencionais para

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

sunos, de forma a diminuir os custos de produo, sem o comprometimento do desempenho zootcnico dos animais. A deciso em se utilizar um ingrediente fibroso em substituio ao milho e a soja, depender diretamente da relao custo-benefcio. Sendo de fundamental importncia o estudo sobre a utilizao de ingredientes fibrosos na alimentao de sunos, visto que os ingredientes mais utilizados na produo intensiva dos animais monogstricos constituem-se no farelo de milho e soja, os quais alm de competirem com a alimentao humana, correspondem pela maior parte do custo de produo.

Fibrosos foods for swines ABSTRACT The interest in the study of possible alternatives is great that make possible the total or partial substitution of the maize and the bran of soy, however, becomes necessary a more including evaluation of the nutricional value of new ingredients, form consequently not to compromise the attendance of the nutricionais necessities of the animals and the economic productivity and results. Of this form, the researchers come looking for to determine with exactness the paper of the dietary fiber in the nutrition of monogastric, mainly in relation to the partial suppliment of energy. Therefore, this revision has as objective to show some fibrosos ingredients that can be used in the partial or total substitution of the conventional ingredients for swines, of form to diminish the production costs, without the

comprometimento of the zootcnico performance of the animals. The decision in if using a fibroso ingredient in substitution to the maize and the soy, will directly depend on the relation cost-benefit. Being of basic importance the study on the use of fibrosos ingredients in the swine feeding, since the used ingredients more in the intensive production of the monogastric animals consist in the bran of maize and soy, which besides competing with the feeding human being, corresponds mostly of the production cost.

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

1. INTRODUO

A procura crescente de fontes alternativas para a alimentao animal visa substituio de ingredientes tradicionais como o milho e a soja, que so utilizados como fonte de alimentos para os humanos. Desta forma, os pesquisadores vm procurando determinar com exatido o papel da fibra diettica na nutrio de monogstricos, principalmente em relao ao suprimento parcial de energia. A utilizao da fibra diettica em sunos implica em uma menor digestibilidade aparente da matria seca, energia bruta, nitrognio e fibra (Rodriguez, 1990). Em relao idade, Varel (1987), observou que os animais adultos, particularmente as porcas adultas, possuem maior capacidade de

aproveitamento da frao fibrosa diettica, em decorrncia, principalmente, do maior volume intestinal, mais lento trnsito digestivo apresentado pelas categorias animais em questo. Uma das possveis causas da diminuio da digestibilidade dos alimentos ou raes contendo fibra diettica ocorre, possivelmente, devido a mais rpida taxa de passagem da digesta pelo trato gastrointestinal, reduzindo assim o perodo de fermentao e degradao dos carboidratos estruturais inerentes a fibra diettica. Atualmente, o consumo de milho e soja, principais fontes de energia e protena nas dietas de no-ruminantes, compete com a alimentao humana. Com isso, a pesquisa por alimentos alternativos, como subprodutos, resduos e fontes fibrosas vm sendo intensificadas. A utilizao da fibra em dietas de animais no-ruminantes gera uma srie de conseqncias na digesto: aumenta a taxa de passagem da dieta, reduz a digestibilidade, e benfica para porcas em gestao por auxiliar num ganho de peso moderado durante a gestao (Johnston et al., 1987). O conhecimento do real papel dos constituintes da parede celular vegetal, bem como a determinao de seus

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

efeitos sobre os parmetros de desempenho e caractersticas de carcaa, entre outros, de suma importncia no que diz respeito avaliao da qualidade nutricional e no estabelecimento de limites adequados de utilizao de ingredientes e/ou alimentos volumosos na rao animal (Mertens, 1992). Em no-ruminantes, o peso, volume e capacidade do trato gastrintestinal apresentam aumento na presena de nveis elevados de fibra diettica, evidenciando alteraes na motilidade e morfologia do trato (Hansen et al., 1992). Para a utilizao de um novo ingrediente alimentar, devem ser obtidas informaes sobre sua composio qumica e valor nutricional, os nveis adequados para incorporar na dieta, de acordo com o tipo de animal, fase produtiva, caractersticas climticas da regio, e a melhor maneira de se manipular, transportar e armazenar o ingrediente (Vieira et al., 2006). Alimentos fibrosos tambm vm se tornando uma fonte vivel de energia para sunos na fase de terminao, sendo nesse caso, utilizados visando diluir o contedo energtico das dietas para animais dessa categoria. Desse modo, consegue-se abat-los com peso acima de 100 kg, com menor acmulo de gordura, importante caracterstica considerada em sistemas de tipificao de carcaa. O uso de ingredientes fibrosos em programas de restrio qualitativa varivel, visto que depende principalmente do custo e da disponibilidade no mercado (Watanabe et al., 2007).

2. REVISO DE LITERATURA

2.1. Cana-de-Acar Ao longo dos ltimos anos, verifica-se um nmero crescente de pesquisas realizadas com a espcie suna, principalmente no que se refere produo de carne. Entretanto, pouca ateno tem sido dada aos componentes e rgos corporais desses animais. Isso se deve ao fato destes rgos no fazerem parte da carcaa comercial. Entretanto, os rgos internos, por intermdio de um processamento adequado, podem se tornar valiosos produtos da indstria

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

da carne. Outro fator importante que seu desenvolvimento est diretamente ligado ao rendimento de carcaa, em que quanto maior o peso relativo dos rgos, menor ser o rendimento da carcaa. A utilizao de alimentos alternativos, com o intuito de substituir parcial ou totalmente o milho nas raes para sunos, tem merecido a ateno dos pesquisadores, uma vez que esse ingrediente utilizado em maior proporo nas raes desses animais, contribuindo de forma significativa com os custos de alimentao (Maciel et al., 2007). Segundo Buitrago (1977), os elevados rendimentos da cana-de-acar, em termos de carboidratos utilizveis pelos monogstricos colocam este produto como uma das fontes mais econmicas de energia para nutrio de sunos. Dessa forma, props-se avaliar a utilizao de dietas com diferentes nveis de cana-de-acar em sunos dos 30 aos 100 kg. Os resultados de rendimento de carcaa bem como dos pesos absolutos do bao (BAC), corao (COR), estmago (EST), fgado (FIG), intestino (INT), pulmo (PUL) e rins (RIM) encontram-se na tabela 1. De acordo com Maciel et al. (2007) No foi observado efeito dos tratamentos (P>0,05) sobre o rendimento de carcaa e nem sobre os pesos absolutos dos rgos avaliados. Considerando que os pesos finais mdios dos animais nos diferentes tratamentos foram similares, o fato dos pesos dos rgos estudados no terem variado, pode em parte, justificar os resultados semelhantes de rendimento de carcaa dos animais, entre os diferentes tratamentos. Por outro lado, SOUZA et al (2002) observaram maior peso absoluto de fgado com o aumento da porcentagem de cana de acar na dieta (30%). Segundo os mesmos autores tal aumento foi observado em funo da maior demanda fisiolgica para metabolizar os cidos graxos volteis, provenientes da fermentao da fibra. Com base nos dados obtidos pode-se inferir que a cana-de-acar pode se tornar uma alternativa vivel de utilizao em substituio de parte do milho na alimentao de sunos (Maciel et al., 2007).

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

Tabela 1. Efeito da utilizao de cana-de-acar para sunos de 30 a 100 kg de peso vivo sobre o rendimento de carcaa e pesos absolutos, expressos em gramas, de rgos internos.

Segundo Maciel et al. (2007) a substituio parcial do milho por cana-deacar poder ocorrer em ate 30% sem comprometer o rendimento de carcaa dos animais. Ferreira et al (2005) avaliaram os efeitos da incluso da cana-de-acar integral picada nas dietas sobre as caractersticas de desempenho e carcaa no perodo total de criao, sobre as caractersticas morfolgicas do trato gastrintestinal e a anlise econmica do seu uso na criao de sunos. Os resultados de desempenho obtidos so apresentados na Tabela 2 e 3. O consumo de lisina, rao e o ganho de peso dirio no foram afetados pelos

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

nveis de cana utilizados (P>0,05), entretanto, a converso alimentar piorou (P0,05) para o GPMD, CRMD e CA dos animais (Tabela 6). Tabela 6. Mdias do desempenho zootcnico dos leites alimentados com dietas contendo diferentes nveis de raspa integral de mandioca (RIM) e formas de arraoamento na fase inicial.

De acordo com Carvalho et al. 2006 o GPMD, CRMD e CA na fase de terminao no foram influenciados pelos diferentes nveis de incluso de raspa integral de mandioca e nem pelas diferentes formas de arraoamento (P>0,05) em funo dos tratamentos aplicados na fase inicial (Tabela 7). Tabela 7. Mdias do desempenho zootcnico dos sunos na fase de terminao alimentados com dietas contendo diferentes nveis de raspa integral de mandioca (RIM) e formas de arraoamento na fase inicial.

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

A raspa integral de mandioca pode ser utilizada at o nvel de 36% nas raes de sunos na fase inicial sem comprometer o desempenho zootcnico dos animais na fase de terminao, independente da forma de arraoamento (Carvalho et al., 2006).

2.3. Casca de Caf O Brasil o maior produtor mundial de caf cuja produo est entorno 32,065 milhes de sacas de caf beneficiado (Bosqui, 2007). Segundo Ulloa Rojas et al. (2002) o processamento para a obteno do caf gera grandes quantidades de casca de caf (CC) tornando-se um problema de poluio ambiental para os paises produtores de caf. A casca de caf representa cerca de 40% do fruto maduro, sendo de alta disponibilidade em algumas regies do Brasil. Estima-se que o pas produza todos os anos aproximadamente 21 milhes de sacas de casca, uma quantidade similar a produo de gros. Diversos estudos tm sido realizados com propsito de aproveitar este resduo, sendo a ensilagem um processo alternativo que busca eliminar ou reduzir os fatores antinutricionais (Carvalho et al., 2007). No Brasil, muitos trabalhos tm sido realizados para avaliar o potencial de subprodutos agrcolas na alimentao de sunos com o objetivo de diminuir custos e incrementar a produtividade. Estudos realizados com a casca de caf tm mostrado a possibilidade de sua incluso nas raes de sunos, embora com limitaes (Moreira et al., 2005). Oliveira (1999) avaliou diferentes nveis de incluso (0, 5%, 10% e 15%) de casca de caf em raes isoenergticas e verificou reduo na

digestibilidade das raes e no desempenho de sunos em crescimento e terminao. Concluiu ainda, que vivel economicamente a incluso de at 5%, em substituio ao milho. Oliveira (2001) estudou cinco nveis de incluso da casca de caf melosa (0, 5%, 10%, 15% e 20%) em raes para sunos em terminao, concluindo que a casca de caf possui valores baixos de digestibilidade e balano

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

energtico, quando comparada com o milho, e que igualmente reduz o desempenho de sunos em terminao. Moreira et al. (2005) determinaram o valor nutricional da casca de caf na alimentao de sunos em crescimento. As composies qumica, energtica e nutrientes digestveis das cascas de caf (melosa e seca) encontram-se na Tabela 8 e os coeficientes de digestibilidade esto presentes na tabela 9.

Tabela 8. Composio qumica, energtica e nutrientes digestveis das casca de caf (melosa e seca), para sunos na fase de crescimento (na matria natural). Casca melosa Matria seca, % Protena bruta, % Energia bruta, kcal/kg Fibra em detergente cido, % Fibra em detergente neutro, % Matria orgnica, % Clcio, % Fsforo, % Energia digestvel, kcal/kg Matria orgnica digestvel, % Matria seca digestvel, % Fibra em detergente cido digestvel, % Fibra em detergente neutro digestvel, % 90,37 8,67 3.739 32,68 39,37 85,80 0,45 0,14 2.496 49,44 84,05 15,83 16,25 Casca seca 93,21 8,60 4.075 60,68 76,44 87,75 0,57 0,085 1225 22,23 75,02 18,14 30,04

Oliveira, E.R.A., Silva, J.H.V., Coelho, M.S. et al. Alimentos fibrosos para sunos. PUBVET, V.2, N.25, Art#262, Jun4, 2008.

O valor de MS foram superiores aqueles apresentados por Oliveira (1999), Oliveira (2001) e Fialho et al (1998), e inferiores ao obtidos por Barcelos (1997) para casca de caf melosa, e Souza (2001) para a casca seca. As cascas apresentaram teores mdios de EB semelhantes aos obtidos por Oliveira (1999), Oliveira (2001) e Barcelos et al. (1997). Os teores de clcio e fsforo total foram semelhantes aos encontrados por Barcelos (1997). Por outro lado, o teor mdio de FDN para a CM foi superior ao obtidos por Oliveira (2001), mas inferior ao de Oliveira (1999). Para a CS a FDN foi superior ao apresentado por Souza (2001), enquanto o teor mdio do FDA para a CM foi menor que o obtido por Oliveira (1999), mas superior ao determinado por Oliveira (2001), e semelhante ao apresentado por Barcelos (1997), enquanto para a CS foi superior ao determinado por Souza (2001). Os CDMS, CDEB e CDMO no apresentaram interaes (P>0,05) entre o tipo de casca e o grau de moagem, e foram superiores para a CM (66,7%; 66,8%; 57,9%) comparado a CS (32,2%; 30,1%; 25,5%), respectivamente. Para o CDFDN, no houve diferenas entre os tipos de casca e grau de moagem. Para o CDFDA houve interao (P0,05). Foi observado efeito quadrtico (P0,05) do peso de carcaa resfriada com o aumento do nvel de BC na dieta. Foi observado reduo linear (P