inês azevedo
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UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
O Meio Scio-Econmico de Jovens-Adultos
e a (Des)motivao Acadmica na Escolha da
Formao Profissional
Ins Filipa Martinho de Azevedo
Mestrado em Cincias da Educao e da Formao
(rea de especializao em Observao e Anlise da
Relao Educativa)
FARO
2011
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I
Agradecimentos
Quero exprimir os meus agradecimentos a todos aqueles que contriburam para a
realizao deste trabalho, particularmente:
Prof. Doutora Sandra Valadas, minha orientadora, pelas sugestes, apoio e
rigor com que orientou esta dissertao, bem como por to grande ateno e
generosidade por que pautou a sua orientao.
Aos meus pais e minha irm, pelo apoio, dedicao e incentivo
incomensurveis. Por sempre terem acreditado em mim.
Ao meu av que, apesar de j no estar entre ns, estar orgulhoso de mais esta
etapa que concretizo na minha vida.
Escola Secundria, pela disponibilidade demonstrada desde o incio deste
trabalho; Professora Maria do Carmo, Coordenadora dos Cursos EFA; e aos alunos
que responderam aos inquritos por questionrio, bem como ao Conselho Executivo,
que ajudou a levar a cabo esta investigao.
So, pelas suas ideias e boa disposio sempre na hora certa.
minha Aninhas, por toda a pacincia que tem comigo e aos meus amigos pelo
voto de confiana, estmulo e por acreditarem na concretizao desta etapa da minha
vida.
Prof. Doutora Teresa Carreira, pelo voto de confiana na concretizao deste
trabalho e Professora Doutora Ida Lemos por me ter cedido o material que precisei e
pela sua disponibilidade.
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II
Ttulo da dissertao: O Meio Scio-Econmico de Jovens-Adultos e a
(Des)motivao Acadmica na Escolha da Formao Profissional
Resumo
Neste trabalho de investigao procurmos reflectir sobre conceitos relacionados
com a formao profissional, a famlia e o insucesso escolar, em dois grupos distintos:
um referente a formandos de Cursos de Educao e Formao de Adultos e outro
relativo a adultos que concluram o Processo de Reconhecimento, Validao e
Certificao de Competncias (RVCC) no Centro Novas Oportunidades (CNO) de uma
Escola Secundria.
No que se refere ao constructo relativo ao insucesso escolar, foram consideradas
as concepes propostas por Lger e Tripier (1986), a teoria culturalista e a teoria do
handicap sciocultural de Bourdieu e Passeron (1971). Autores como Langouet,
Isambert-Jamati, Seibel, Bisseret e Don Davies fundamentam, tambm, este trabalho.
No total, foram inquiridos 140 formandos das nove turmas de Cursos de
Educao e Formao de Adultos e 140 adultos que concluram o Processo de RVCC.
Como instrumentos, utilizmos um questionrio dirigido a formandos de Cursos EFA,
uma ficha de dados familiares e um outro de avaliao do Processo RVCC, ambos
construdos para o efeito.
As variveis em anlise permitiram detectar algumas diferenas entre os
constructos e construir uma espcie de modelo compreensivo dos fenmenos, no que se
refere ao meio socioeconmico de origem dos jovens-adultos e a (des)motivao
acadmica na escolha de cursos profissionais.
Palavras-chave: Formao Profissional, Famlia, Insucesso Escolar,
Desmotivao, Ensino Profissional.
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III
Title: Social and Economic Environment of Adult-Youngsters and the Academic
(De)motivation in the choice of Vocational Training
Abstract
In this investigation we tried to reflect on concepts related with the vocational
training, the family and educational failure, in two distinct groups: one referring to
trainees of EFA (Educao e Formao) Courses for adults and another related to the
ones who concluded the Process of RVCC in Centro Novas Oportunidades (CNO).
Concerning the construct related to education failure, we considered the
conceptions proposed by Lger and Tripier (1986), the cultural theory and the theory of
social and cultural handicap of Bourdieu and Passeron (1971). Authors as Langouet,
Isambert-Jamati, Seibel, Bisseret and Don Davies were also referred.
We inquired 140 students from the nine classes of the EFA Courses and 140
adults who concluded the RVCC process. As instruments, three questionnaires were
applied: one to the students of EFA, a family data sheet and another one about the
evaluation of the RVCC process.
The variables analysed allowed us to observe some differences between the
constructions and to construct a sort of comprehensive model of the phenomena, related
to the social and economic environment of the adult and academic (de)motivation in the
choice of the different courses.
Keywords: Vocational Training, Family, Educational Failure, Motivation,
Vocational Education.
-
IV
ndice
INTRODUO ................................................................................................................ 1
Parte I ENQUADRAMENTO TERICO ..................................................................... 5
Captulo 1 - Formao Profissional e mbitos de actuao .............................................. 6
1. Formao Profissional: Contributos para a reflexo deste conceito ............................ 7
1.1. As componentes da Formao Profissional ........................................................... 7
1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua ......................................................... 9
1.2.1. As Modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua..................... 12
1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica ............................................... 12
1.3.1. Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica ..................... 14
2. A Implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN).............. 16
2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades ...................................................................... 16
2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias ............................ 18
2.2. Aprendizagem ao Longo da Vida ........................................................................ 19
2.2.1. Aprendizagens Formais e No Formais ....................................................... 21
2.2.2. Estratgias globais de Aprendizagem ao Longo da Vida ............................. 21
3. O papel da educao e formao no percurso escolar dos jovens-adultos ................. 24
3.1. Ensino Profissional de Jovens ............................................................................. 24
3.2. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio ........................................................ 26
3.3. O Dfice de Qualificaes ................................................................................... 27
3.3.1. Oferta de Formao Insuficiente .................................................................. 30
3.4. Desemprego entre jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal ............. 31
Captulo 2 A importncia da Famlia no Meio Escolar ............................................... 33
1.Reflexes em torno do Conceito de Famlia ............................................................... 34
1.1. Estrutura da Famlia ............................................................................................ 35
1.2. Tipos de Famlia .................................................................................................. 35
1.3. Novos Papis Parentais ........................................................................................ 36
2. A Relao entre Escola, Famlia e Comunidade ........................................................ 38
2.1. A Formao Parental como forma de reforar a parceria entre pais e professores
.................................................................................................................................... 39
Captulo 3 (Des)motivao para o (In)sucesso ............................................................ 42
1. Insucesso Escolar .................................................................................................... 43
1.1. A noo de Insucesso Escolar ............................................................................. 44
-
V
1.2. Algumas Teorias Explicativas do Insucesso Escolar .......................................... 46
2. O fenmeno de Insucesso Escolar no mbito da Escola Secundria ...................... 51
2.1. Factores de abandono e estratgias para a promoo do sucesso escolar ........... 53
2.2. Combate ao abandono escolar precoce ................................................................ 55
2.3 . Escolarizao obrigatria at aos 18 anos .......................................................... 57
Parte II Estudo Emprico ............................................................................................. 59
Captulo 4 Questes Metodolgicas ............................................................................ 60
1. Quadro Conceptual da Investigao ....................................................................... 62
2. Objectivos do Estudo .............................................................................................. 65
3. Justificao das Opes Metodolgicas ................................................................. 66
4. Amostras ................................................................................................................. 72
4.1. Caracterizao dos Formandos de Cursos EFA ............................................... 72
4.2. Caracterizao dos Adultos que terminaram o processo RVCC ......................... 76
5. Instrumentos de Medida ......................................................................................... 78
5.1. Questionrio dirigido a Formandos de Cursos de Educao e Formao de
Adultos (Cursos EFA) ................................................................................................ 80
5.2. Ficha de Dados Familiares .................................................................................. 83
5.3. Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .................................................. 84
6. Procedimentos de Recolha de Dados...................................................................... 87
7. Anlise e Tratamento dos Dados ............................................................................ 89
Captulo 5 Apresentao, Anlise e Discusso dos Resultados .................................. 90
1. Grupo de jovens-adultos/ formandos de Cursos EFA ............................................ 91
1.1. Meios socioeconmicos e familiares de origem dos jovens-adultos ............... 91
1.2. Trajectria escolar e origem social .................................................................. 92
1.3. Tipo de estrutura familiar dos jovens-adultos ................................................. 93
1.4.Expectativas dos alunos face ao futuro profissional ......................................... 93
1.5. Condicionalismos existentes nas opes dos alunos pela via de formao
profissional ............................................................................................................. 96
1.6. Motivos que levaram os jovens-adultos ao abandono escolar ......................... 97
2. Grupo de adultos que terminaram processo de RVCC ......................................... 100
2.1. Percepo dos adultos em relao ao processo de RVCC, forma como este se
desenvolve, actuao da equipa, de forma a adequar cada vez mais o processo aos
seus destinatrios .................................................................................................. 100
CONCLUSO .............................................................................................................. 105
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VI
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 113
ANEXOS ...................................................................................................................... 125
Anexo 1 Questionrio Validao Representantes ..................................................... 126
Anexo 2 Pr Questionrio Validao Especialistas ................................................... 130
Anexo 3 Questionrio dirigido a Especialistas .......................................................... 134
Anexo 4 Pr Inqurito por Questionrio dirigido a Formandos de Cursos EFA ....... 139
Anexo 5 Inqurito por Questionrio Validado .......................................................... 152
Anexo 6 Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .......................................... 165
Anexo 7 Ficha de Dados Familiares .......................................................................... 172
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VII
ndice de Anexos
Anexo 1 Questionrio Validao Representantes .......................................... 126
Anexo 2 Pr Questionrio Validao Especialistas ....................................... 130
Anexo 3 Questionrio dirigido a Especialistas .............................................. 134
Anexo 4 Pr Inqurito por Questionrio dirigido a Formandos de Cursos
139
Anexo 5 Inqurito por Questionrio Validado .............................................. 152
Anexo 6 Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .............................. 165
Anexo 7 Ficha de Dados Familiares .............................................................. 172
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VIII
ndice de Figuras
Figura 1- Tipos de Famlia ............................................................................................. 35
Figura 2 - Factores de abandono escolar precoce ........................................................... 53
Figura 3 - Ensino Secundrio obrigatrio ...................................................................... 56
Figura 4 - Importncia do ensino secundrio para as trajectrias de vida dos jovens .... 58
Figura 5 - Modelo Conceptual ........................................................................................ 67
Figura 6 Modelo Explicativo Terico ......................................................................... 70
-
IX
ndice de Grficos
Grfico 1 - Distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal
(1996/97 e 2007/08) ....................................................................................................... 25
Grfico 2 - Alunos que concluiram os Ensinos Bsico e Secundrio em Portugal
(1997/98-2007-08) .......................................................................................................... 52
Grfico 3 Distribuio da Apreciao dos adultos .......................................... 76
Grfico 4- Distribuio da amostra 1 em funo da nacionalidade .................... 91
Grfico 5 - Distribuio da amostra 1 em funo do tipo de residncia ............. 92
Grfico 6 Distribuio da amostra em funo da possibilidade de encontrar
mais facilmente um emprego .......................................................................................... 94
Grfico 7- Distribuio da amostra em funo do interesse dos sujeitos pela
frequncia Cursos EFA dupla certificao ..................................................................... 95
Grfico 8 - Distribuio da amostra 1 em funo do investimento no Algarve . 96
Grfico 9 - Distribuio dos jovens-adultos em funo das reprovaes ........... 97
Grfico 10 - Distribuio dos sujeitos em funo do nmero de reprovaes ... 98
Grfico 11 Apreciao Processo RVCC ........................................................ 102
Grfico 12 Apreciao das Formaes Complementares .............................. 102
Grfico 13 - Durao das Formaes Complementares ................................... 103
Grfico 14 - Sesso de Jri de Validao ......................................................... 104
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X
ndice de Quadros
Quadro 1 - Componentes da Formao Profissional ...................................................... 10
Quadro 2 - Modalidades da Formao Contnua ............................................................ 12
Quadro 3 - Mapa Conceptual (Grelha de Tomada de Deciso) ..................................... 69
Quadro 4 - Dimenses/ Itens do Questionrio dirigido a Formandos de Cursos EFA ... 82
Quadro 5 - Dimenses/Itens da Ficha de Dados Familiares ........................................... 83
Quadro 6 - Dimenses/Itens (Questionrio de Avaliao do Processo RVCC) ............. 85
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XI
ndice de Tabelas
Tabela 1 - Mdia de anos de escolarizao da populao adulta ................................... 28
Tabela 2 - Populao entre 18-24 anos que no frequenta qualquer grau de ensino
(1991-2001) .................................................................................................................... 29
Tabela 3 - Evoluo das Taxas de Reteno e Desistncia ............................................ 29
Tabela 4 Distribuio dos alunos em funo da varivel Sexo ................................... 73
Tabela 5 Distribuio dos alunos em funo da faixa etria a que pertencem ............ 73
Tabela 6 - Distribuio da apreciao dos adultos face ao Processo RVCC .................. 77
Tabela 7 Distribuio dos sujeitos em funo das habilitaes literrias .................... 92
Tabela 8 Distribuio dos inquiridos em funo da estrutura familiar........................ 93
Tabela 9 Distribuio dos inquiridos em funo dos motivos para a frequncia de
Cursos EFA .................................................................................................................... 94
Tabela 10 - Distribuio da amostra em funo dos motivos para a frequncia de Cursos
EFA Dupla Certificao ................................................................................................. 96
Tabela 11 - Distribuio dos jovens-adultos em funo dos motivos que levaram ao
abandono escolar ............................................................................................................ 98
Tabela 12 Grau de satisfao com o CNO ................................................................ 100
-
INTRODUO
-
Introduo
2
O presente trabalho de investigao surgiu do nosso interesse particular pela
problemtica da desmotivao/abandono do ensino regular por parte da populao
jovem Portuguesa.
A escolha desta temtica no surgiu por acaso, considerando o facto de termos
tido a oportunidade de laborar numa empresa de Formao, onde contactmos com a
problemtica da Formao Profissional, atravs da implementao de Cursos de
Educao e Formao de Adultos (adiante designados cursos EFA), bem como o
acolhimento e encaminhamento de adultos para outras ofertas formativas.
Um outro factor fez com que o interesse por esta rea se tornasse mais evidente e
prende-se com o facto de, recentemente, a investigadora exercer funes como Tcnica
de Diagnstico e Encaminhamento num Centro Novas Oportunidades (CNO). Neste
mbito, e ao realizar o acolhimento dos Adultos no Centro, frequente surgirem
candidatos com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos que, partida, deveriam
frequentar o ensino regular.
Neste sentido, entendemos que o contacto efectuado com estes jovens-adultos,
as entrevistas individuais e sesses de encaminhamento realizadas de modo a
compreender o seu percurso profissional e escolar, bem como os motivos que
conduziram ao abandono escolar, constituem factores que justificam a necessidade e
pertinncia de analisar e estudar esta problemtica, numa tentativa de perceber quais os
motivos que conduzem os jovens a optar pelo ensino profissional.
As reflexes para a implementao do nosso projecto inicial foram-se
consolidando atravs do contacto com estudos na rea, assentes em novos paradigmas,
do ponto de vista dos posicionamentos tericos adoptados, de modo a explicitar
problemticas com novos contornos. Dentro deste mbito, procuramos destacar a
formao profissional em Portugal, novos mbitos de actuao e estratgias
potenciadoras de sucesso escolar, no sentido de diminuir as taxas de abandono por parte
dos jovens-adultos, nomeadamente, ao nvel do ensino secundrio.
Partindo, pois, de um conjunto de pressupostos tericos que consideram que, na
sociedade actual, a educao e a formao constituem a base fundamental do
desenvolvimento de uma comunidade, ao sistema educativo que compete proporcionar
os instrumentos necessrios para a democratizao das condies de acesso educao
e, simultaneamente, fornecer as condies para uma efectiva democratizao das
condies de sucesso ao nvel do desenvolvimento formativo, pessoal e comunitrio
(Carta Educativa do Concelho de Olho, 2006).
-
Introduo
3
Considerando as anlises mais recentes no mbito do sistema de ensino
portugus relativamente s taxas elevadas de abandono escolar precoce dos jovens,
verificamos a necessidade de elevar o nvel de qualificao desta faixa etria da
populao, promovendo a sua empregabilidade e a adequao das suas qualificaes
face s necessidades de desenvolvimento sustentado (Programa Operacional Temtico
Potencial Humano, 2007).
A mesma fonte de informao revela, ainda, que em Portugal as taxas de sada
escolar precoce na populao dos 18 aos 24 anos so das mais elevadas no contexto
europeu, constituindo um estrangulamento crtico para o reforo da qualificao da
populao portuguesa.
As intervenes propostas assumem, assim, uma articulao directa com os
objectivos e com a estratgia da Iniciativa Novas Oportunidades ao nvel da
qualificao de jovens, distinguindo a opo de fazer do 12 ano o referencial mnimo
de escolaridade para todos e de assegurar um maior nmero de c
ursos de educao e de formao que permitam a concluso do secundrio (Agncia
Nacional para a Qualificao, 2007).
Neste sentido, o objectivo fundamental do nosso trabalho o de contribuir para a
compreenso dos motivos que conduzem os jovens-adultos a enveredar por um caminho
que no o ensino regular, em prol de Cursos de Formao Profissional.
O ttulo escolhido para este estudo pretende dar visibilidade aos conceitos,
designaes e acepes construdas em torno do conceito de Formao Profissional e
que podem ser encontradas, quer no discurso cientfico, quer no senso comum.
Aps a apresentao da temtica que subjaz reviso da investigao, refira-se
que o estudo beneficia do contexto territorial no qual o trabalho de campo ocorreu, por
se tratar de uma Escola em que a Iniciativa Novas Oportunidades recente; sendo, por
isso, um terreno praticamente inexplorado, o que conferiu investigao algum
potencial de inovao, na medida em que no se conhecem quaisquer estudos realizados
com estudantes de Cursos EFA.
Em termos estruturais, a presente dissertao compreende duas partes distintas: a
primeira remete para o enquadramento terico e a segunda, relativa parte emprica.
Na primeira parte da dissertao apresentamos o enquadramento terico do tema
em estudo. Considerando a reviso da literatura efectuada, comeamos por abordar as
questes relativas Formao Profissional, suas finalidades e componentes. No
segundo captulo, que remete para a relao entre escola, famlia e comunidade,
-
Introduo
4
consideraremos a prpria dinmica do processo que se estabelece entre estes conceitos,
bem como algumas teorias e pressupostos que os explicam. Ser referenciado o conceito
de famlia e suas relaes com a escola, numa tentativa de explicitar a noo de famlia,
as estruturas e tipos de famlia e, ainda, os novos papis parentais.
No captulo trs, relativo (Des)motivao para o (In)sucesso, apresentamos
uma definio detalhada destes dois conceitos e, ainda, foi nossa inteno compreender
o fenmeno do insucesso escolar ao nvel do ensino secundrio.
A segunda parte do trabalho remete-nos para as questes metodolgicas
presentes no estudo emprico e constituda por dois captulos. No captulo 4
descrevemos o desenvolvimento metodolgico da investigao, no qual se inclui a
definio do modelo conceptual, objectivos do estudo, justificao das opes
metodolgicas, amostras, instrumentos de medida utilizados, procedimentos de recolha
de dados e, ainda, anlise e tratamento dos dados. No ltimo captulo desta segunda
parte, procedemos apresentao, anlise e discusso dos resultados. neste captulo
que apresentamos o estudo realizado com uma amostra de estudantes de uma Escola
Secundria situada numa cidade a sul de Portugal. Refira-se que foi nossa inteno
conhecer os meios socioeconmicos e familiares de origem dos jovens-adultos; analisar
os condicionalismos presentes nas opes dos alunos por esta via de formao, bem
como encontrar possveis relaes entre a opo por esta modalidade de formao.
-
5
Parte I ENQUADRAMENTO TERICO
Captulo 1 - Formao Profissional e mbitos de actuao
Captulo 2 Compreender a relao Famlia-Escola-
Comunidade
Captulo 3 (Des)motivao para o (In)sucesso escolar
-
6
Captulo 1 - Formao Profissional e
mbitos de actuao
1. Formao Profissional: Contributos para uma reflexo
1.1. As componentes da Formao Profissional
1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua
1.2.1. As modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua
1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica
1.3.1. O Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica
2. A implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional
(QREN)
2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades
2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias
2.2. A aprendizagem ao Longo da Vida (ALV)
2.2.1. Estratgias Globais de Aprendizagem ao Longo da Vida
2.2.2. Aprendizagens Formais e No Formais
3. O papel da Educao e Formao no Percurso Escolar dos Jovens-adultos
3.1. Investir na Educao e Formao
3.2. Ensino Profissional de Jovens
3.3. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio
3.4. Dfice de qualificaes escolares
3.4.1. Oferta de Formao Insuficiente
3.5. Desemprego entre Jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal
3.5.1. A implementao de Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA)
como resposta face ao Desemprego?
-
Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
7
1. Formao Profissional: Contributos para a reflexo deste conceito
1.1. As componentes da Formao Profissional
Comeamos por fazer referncia a autores como Cardim (1998) que tm vindo a
chamar a ateno para a importncia da formao profissional. Veja-se Imaginrio
(1998), por exemplo, ao considerar que a formao profissional se traduz num processo
global e permanente, atravs do qual as pessoas adquirem ou aprofundam competncias
profissionais e relacionais, tais como conhecimentos, atitudes e capacidades. Na opinio
do autor, a formao profissional apresenta como objectivos o exerccio de uma ou mais
actividades profissionais, uma melhor adaptao s mutaes tecnolgicas e
organizacionais e, ainda, o reforo da sua empregabilidade.
Com base na reviso bibliogrfica efectuada por Duarte (1999), percebemos
claramente que a formao profissional consiste num processo intencional e planeado
sistematicamente, com a finalidade de alterar atitudes e comportamentos dos indivduos
em situao de trabalho, tendo em vista a eficcia organizacional.
A formao profissional consiste, deste modo, num conjunto de actividades que
visam a aquisio de conhecimentos, capacidades prticas e atitudes exigidas para o
exerccio das funes prprias relativamente a uma profisso ou grupo de profisses
(CIME, 1991).
Da anlise da literatura, foi possvel perceber que a formao profissional
abrange trs nveis de interveno, os quais so essenciais para a realizao de uma
determinada actividade profissional e que se referem s necessidades que os indivduos
tm de aprender certos saberes tericos e operar cognitivamente sobre determinada
tarefa (saber-ser), possuir motivao necessria, atitudes e comportamentos adequados
para a realizao de uma mesma tarefa (saber-ser ou saber-estar) e, por ltimo, possuir
as capacidades adequadas sua execuo (saber-fazer) (Meignant, 1999).
Neste sentido, podemos afirmar que a formao profissional , por definio,
uma via de preparao especfica para o desempenho de uma profisso ou actividade
profissional, no caso da qualificao inicial ou da reconverso, ou para a actualizao
do desempenho quando se trata de formao contnua (Cardim, 2000).
Nas ltimas dcadas temos assistido, por um lado, a uma mudana nas
organizaes, mormente na organizao do trabalho, quer pela introduo de
-
Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
8
tecnologias, quer pelas mutaes nas formas de produo e de comercializao. Por
outro lado, a sociedade exige maior participao dos cidados nas decises do dia-a-dia
e nas decises polticas, das quais depende o devir das prprias naes (Marques, 2001).
A formao profissional acompanha, assim, naturalmente, estas modificaes,
introduzindo as condies necessrias para o desenvolvimento integrado de
competncias das pessoas falamos de competncias transversais, de currculos com
equivalncia escolar, contedos relacionados com as tecnologias, com a organizao
pessoal do trabalho diversificando os contedos de aprendizagem do Centro de
Formao aos locais de trabalho e promovendo formas mais activas de participao
das pessoas na formao (trabalhos de grupo, elaborao de projectos, execuo prtica
de actividades mobilizadoras das competncias adquiridas, entre outras) (Carneiro,
2000).
neste quadro que se insere a preocupao de desenvolver nos formandos a
autonomia e a iniciativa, assim como as capacidades de planear e perspectivar projectos
de trabalho independentes, viveis e sustentveis, capazes de promover a sua realizao
pessoal (Ferro e Rodrigues, 2000).
Neste sentido, a formao profissional surge associada a processos de
aprendizagem que visam o desempenho de tarefas vocacionais. Tais aprendizagens so,
genericamente, delineadas pela organizao e visam, essencialmente, o
desenvolvimento progressivo de disposies, saberes e competncias que se
reproduzam em padres comportamentais elementares ao desempenho adequado de
funes em contexto profissional (Cruz, 1998).
O Decreto-Lei n 401/ 91 define a Formao Profissional (FP) como um
processo global e permanente atravs do qual jovens e adultos, a inserir ou inseridos na
vida activa, se preparam para uma actividade profissional (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16
de Outubro de 1991).
De modo geral, a Legislao Nacional apresenta as seguintes finalidades para a
FP:
a) Integrao e realizao socioprofissional dos indivduos com o objectivo
de os capacitar para o desempenho dos diversos papis sociais;
b) Adequao entre o trabalhador e o posto de trabalho, considerando as
capacidades do mesmo, a mobilidade profissional e a definio e redefinio constante
dos perfis profissionais;
-
Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
9
c) Promoo da igualdade de oportunidades, no acesso formao,
profisso e ao emprego; inclusivamente, progresso na carreira com o intuito de
reduzir as assimetrias socioprofissionais, sectoriais e regionais, bem como a excluso
social;
d) Modernizao e desenvolvimento das organizaes, da sociedade e da
economia, beneficiando o aumento da produtividade e da competitividade;
e) Estmulo da criatividade, da inovao, do esprito de iniciativa e da
capacidade de relacionamento (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991) .
Com o objectivo de responder ao anterior mencionado, a FP deve favorecer a
polivalncia e estruturar-se em mdulos, funcionando em ligao com os actuais
contextos de trabalho. A sua organizao dever ainda ser efectuada sob a forma de
cursos ou aces correspondentes a perfis de formao. Acresce a estes aspectos a
durao e caractersticas dos cursos e aces, que devero ajustar-se s diferentes
modalidades de formao.
1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua
Genericamente, a Legislao (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991)
clarifica que a FP possui mltiplas vertentes, nomeadamente a formao scio-cultural,
prtica, tecnolgica ou cientfica. Estas componentes adequam-se aos objectivos que
prosseguem e aos nveis de qualificao para que preparam (Quadro 1).
-
Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
10
Quadro 1 - Componentes da Formao Profissional
Compreende Permite
Scio-Cultural
Competncias,
atitudes e conhecimentos
gerais
Integrao da Formao no
processo de desenvolvimento pessoal,
profissional e social dos sujeitos e sua
insero no mercado de trabalho.
Prtica
Competncias
Tcnicas
Desenvolvimento de
competncias indispensveis ao exerccio
de uma profisso.
Tecnolgica Conhecimentos
Tecnolgicos
Entendimento da resoluo de
problemas e da prtica profissional.
Cientfica
Conhecimentos
relativos s cincias
bsicas.
Fundamentar as respectivas
tecnologias referentes s actividades
profissionais.
Fonte: Adaptado de Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991.
Dentro da prpria FP, o maior ou menor grau de competncias adquiridas
permite efectuar a distino entre formao especfica e formao geral. A primeira
contribui para o aumento da produtividade dos participantes na organizao, enquanto a
segunda potencia a produtividade do indivduo (Cruz, 1998).
A FP pode ser inserida quer no sistema educativo, quer no mercado de trabalho.
No sistema educativo, quando fornecida nas escolas e se destina aos Cursos de
Educao e Formao de Adultos (EFA), os quais podem assumir uma vertente escolar
ou uma dupla certificao (escolar e profissional), em substituio do Ensino
Recorrente. A FP tambm pode ser inserida no mercado de trabalho, caso seja instituda
em contexto empresarial, tanto para a populao activa como para candidatos ao
primeiro emprego. Por sua vez, consoante os objectivos da FP, esta distingue-se em
formao inicial e contnua, que passamos a explicitar.
Segundo informaes recolhidas atravs da Direco Geral do Emprego e
Formao Profissional (DGEFP, 2001), entende-se por formao profissional inicial a
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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formao que visa a aquisio das capacidades indispensveis para o incio do exerccio
de uma profisso.
A Legislao Nacional, nomeadamente a referente ao Decreto-Lei n 401/ 91 de
16 de Outubro de 1991, faz aluso necessidade de a formao inicial conceder, ainda,
uma qualificao profissional certificada. Este tipo de formao assume especial
relevncia no regime de aprendizagem das escolas profissionais e no ensino tecnolgico
e profissional; porm, actualmente, j existe formao deste cariz em escolas de ensino
pblico.
Por sua vez, a formao profissional contnua engloba todos os processos
formativos organizados e institucionalizados subsequentes FP inicial, com o desgnio
de melhorar as competncias do indivduo, permitindo uma actualizao de
conhecimentos. Tais premissas tornam-se indispensveis numa sociedade em constante
adaptao s mudanas tecnolgicas e tcnicas. Deste modo, pretende-se o
desenvolvimento social dos indivduos e aumento da contribuio destes para o
desenvolvimento cultural, econmico e social (DGEFP, 2001).
Sobre este assunto, Canrio (2000) lembra que os processos de formao
profissional contnua so norteados para a qualificao e requalificao da mo-de-obra,
factor essencial numa poltica desenvolvimentalista. O autor refere ainda que a
formao profissional contnua de adultos se depara com uma acentuada mobilidade
social que reproduz alteraes nas relaes entre a formao e o mundo do trabalho.
Assim, para que se possa dar resposta ao acelerado processo de mudana com
que hoje as sociedades se deparam, as organizaes necessitam de se adaptar e
desenvolver estratgias que acompanhem essas mesmas mudanas sociais. Tal facto,
implica produzir mudanas organizacionais que passam por mais trabalho em equipa e
pensar escala da organizao como um todo. neste sentido que a formao se
transforma numa componente essencial da gesto das organizaes (Bento e Tavares,
2001).
Podemos, ento, afirmar que as prticas de FP realizadas nas empresas so
orientadas a fim de dotar os participantes de competncias gerais, nomeadamente
liderana, gesto do tempo, comunicao, expresso, entre outros (Cruz, 1998).
Canrio (2000) tambm defende que atravs de uma estratgia de formao
global, activa e participativa de todos os membros de uma organizao que ser possvel
dar uma resposta eficaz aos desafios anteriormente referidos. Neste sentido, a formao
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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desempenha um papel crucial para a adaptao e desenvolvimento das organizaes
perante os desafios.
1.2.1. As Modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua
As modalidades da FP, tanto inicial como contnua, assumem naturezas
diferenciadas, tais como a iniciao, qualificao, aperfeioamento, reconverso e
especializao. As duas primeiras iniciao e qualificao constituem modalidades
de formao profissional inicial, enquanto que a qualificao, aperfeioamento,
reconverso e especializao so abrangidas pela formao profissional contnua
(Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991). O quadro que apresentamos, em
seguida, exemplifica as modalidades e objectivos da Formao Contnua.
Quadro 2 - Modalidades da Formao Contnua
Modalidades da
Formao Objectivos
Aperfeioamento Aprofundamento e melhoria das capacidades j
adquiridas por parte dos indivduos.
Especializao Fornecer e desenvolver ou aprofundar
conhecimentos e aptides profissionais.
Promoo na Carreira Conferir conhecimentos e aptides profissionais
fundamentais para o exerccio de funes de maior
complexidade e responsabilidade.
Reconverso
Profissional
Disponibilizar conhecimentos e aptides
profissionais cruciais para o exerccio de tarefas e
responsabilidades relativas ao contedo funcional da
carreira.
Fonte: Adaptado de Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991
1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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O Decreto-lei n 50/ 98 de 11 de Maro de 1998 estabelece as regras e os
princpios orientadores da Formao Profissional na Administrao Pblica (adiante
designada AP), e aplica-se aos servios e organismos da AP, ao pessoal que exera
servios no mesmo tipo de servio e aos candidatos sujeitos a um processo de
recrutamento e seleco, tal como sucede com os Cursos EFA que so implementados
em escolas pblicas.
A FP em regime de AP caracteriza-se como um processo global e contnuo,
atravs do qual os funcionrios se capacitam para o exerccio da sua profisso, atravs
da aquisio e do desenvolvimento de competncias cujo propsito a adopo de
comportamentos ajustados ao desempenho profissional, assim como, a valorizao
pessoal e profissional dos indivduos (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro).
A FP ao nvel da AP tem os seguintes objectivos:
a) Cooperar para a eficincia, a eficcia e a qualidade dos servios;
b) Potenciar o desempenho profissional dos funcionrios e agentes da AP,
estimulando a sua criatividade, a inovao, o esprito de iniciativa, o esprito crtico e a
qualidade;
c) Assegurar a qualificao dos funcionrios para o ingresso e acesso s
carreiras;
d) Contribuir para a mobilidade dos efectivos da AP;
e) Complementar os conhecimentos tcnicos e os fundamentos culturais
ministrados pelo sistema educativo (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro).
O Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro tambm distingue a FP na AP em
formao inicial e formao contnua. A formao inicial habilita os formandos com
conhecimentos e aptides para o exerccio das suas funes profissionais e desenvolve-
se em duas fases: fase anterior admisso e fase subsequente admisso dos
respectivos funcionrios. Este processo dever ser objecto de avaliao e de
classificao. Por sua vez, a formao contnua tem como finalidade a promoo e
valorizao pessoal e profissional dos indivduos que integram a AP, tendo em vista o
desenvolvimento, inovao e mudana desta ltima. A formao contnua promovida
a fim de completar a formao de base, e adaptar os conhecimentos e competncias
realidade presente. Esta adaptao visa o ajuste s mudanas tcnicas e tecnolgicas, de
modo a incrementar uma melhoria no desempenho de tarefas mais complexas.
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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Com base nos pressupostos acima referidos, importa mencionar de que modo a
formao contnua contribui, na prtica, para promover a valorizao pessoal e
profissional dos indivduos, tentando, sempre que possvel, completar a sua formao de
base. Falamos, ento, de Cursos de Educao e Formao (CEF) e Cursos de Educao
e Formao de Adultos (EFA).
Os CEF destinam-se, preferencialmente, a jovens com idade igual ou superior a
quinze anos que estejam em risco de abandono escolar ou que j abandonaram o ensino
antes de completarem 12 anos de escolaridade. Estes cursos tambm integram
indivduos que, aps concluso dos doze anos de escolaridade, no possuindo uma
qualificao profissional, pretendem adquiri-la para ingresso no mundo do trabalho. Os
CEF pretendem incentivar o prosseguimento de estudos e permitem o desenvolvimento
de competncias profissionais ajustadas aos interesses dos jovens e s necessidades
regionais e locais de emprego.
No que se refere aos Cursos EFA, tm como objectivo proporcionar aos
trabalhadores menos qualificados uma formao integrada de educao e formao que
garanta as competncias fundamentais para o exerccio ou aperfeioamento de uma
profisso. Estes cursos destinam-se a activos empregados ou desempregados, com idade
igual ou superior a 18 anos, no qualificados ou sem qualificao adequada, para efeitos
de insero no mercado de trabalho, que no tenham concludo a escolaridade bsica de
4, 6 ou 9 anos.
1.3.1. Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica
Mais recentemente, a legislao nacional (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de
Maro) indica que esto habilitadas a realizar aces/ cursos de formao profissional
na AP as seguintes entidades:
a) Organismos centrais e sectoriais de formao com mbito de actuao para a
administrao central, regional ou local;
b) Servios e organismos de AP;
c) Entidades formadoras pblicas ou privadas que sejam reconhecidas pelos
respectivos ministrios da tutela em que se encontrem inseridas;
d) Associaes sindicais e profissionais, dentro do seu mbito de actuao;
e) Quaisquer outras entidades privadas.
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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Tal como sabido, Portugal enfrenta, em matria de formao profissional, dois
grandes desafios que esto intimamente relacionados entre si.
Contemplando as orientaes da OCDE (2005), o primeiro desafio, de natureza
quantitativa, remete-nos para a necessidade urgente de assegurar um significativo
aumento dos indivduos com acesso a formao, quer inicial, quer contnua e, se
possvel, ao longo da vida. O segundo, de mbito qualitativo, consiste na necessidade de
assegurar a relevncia e a qualidade do investimento em formao e, deste modo,
aumentar a eficcia e a credibilidade da aplicao dos recursos destinados a estas
medidas educativas.
De acordo com estes dados, nos ltimos trinta anos, Portugal tem-se empenhado
de forma significativa, especificamente, no que concerne aos nveis de escolarizao.
Pese embora o empenho j realizado, h ainda um esforo suplementar a empreender:
cerca de 3,5 milhes de activos tm um nvel de escolaridade inferior ao ensino
secundrio e cerca de 485 000 jovens entre os 18 e os 24 anos esto a trabalhar sem
terem concludo esse patamar de referncia de escolaridade (OCDE, 2005).
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2. A Implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional
(QREN)
O Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN), estabelecido para o
perodo de 2007 a 2013, assume como grande desgnio estratgico a qualificao dos
portugueses, atravs da valorizao dos conhecimentos, da cincia, da tecnologia e da
inovao, assim como da promoo de nveis elevados e sustentados de
desenvolvimento econmico, scio-cultural e de qualificao territorial, num panorama
de valorizao da igualdade de oportunidades e um aumento da eficcia e qualidade das
instituies pblicas (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007).
O QREN conta com o apoio dos fundos estruturais e do fundo de coeso,
estabelecendo os indicadores de uma dinmica de sucesso econmico, social e territorial
de Portugal, tendo por base trs Agendas Operacionais Temticas: Potencial Humano,
Factores de Competitividade da Economia e Valorizao do Territrio.
A Agenda para o Potencial Humano integra o conjunto das intervenes que
visam a promoo das qualificaes escolares e profissionais dos portugueses e a
promoo do emprego e da incluso social, sem descurar a valorizao da igualdade de
gnero e da plena cidadania (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007). neste
sentido que se estabelecem como prioridades estratgicas:
- Promover a Qualificao dos Portugueses;
- Promover o Crescimento Sustentado;
- Garantir a Coeso Social;
- Assegurar a Qualificao do Territrio e das Cidades;
- Aumentar a Eficincia da Governao.
No ponto que se segue nosso objectivo explicitar o mbito de actuao da
Iniciativa Novas Oportunidades e seus princpios orientadores, em que destacamos o
Sistema de Validao e Certificao de Competncias e a Aprendizagem ao Longo da
Vida (Aprendizagens Formais e No Formais).
2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades
A Iniciativa Novas Oportunidades (adiante designada INO) foi lanada no ano
de 2005 e estabeleceu uma nova esperana no caminho da qualificao dos portugueses.
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Esta iniciativa assenta no objectivo fundamental de conferir o nvel secundrio como
qualificao de base para jovens e adultos e apresenta duas bases fundamentais para a
sua aco:
A) Para os jovens, dinamizar o ensino profissionalizante de nvel secundrio de
forma a constituir uma real opo. Este objectivo aponta para que em 2010 o nmero de
vagas em vias profissionalizantes ao nvel do ensino secundrio seja de metade do total
da oferta neste nvel;
B) Para os adultos com baixas qualificaes, a finalidade promover uma
verdadeira e nova oportunidade por forma a poderem recuperar, completar e progredir
nos estudos. O objectivo quantificado o de promover a qualificao de um milho de
activos at 2010.
Partindo do cenrio apresentado, em que existem graves dfices ao nvel da
formao e qualificao, surge a INO que representa um novo impulso no caminho da
qualificao dos portugueses. O objectivo que orienta esta iniciativa o da
escolarizao geral da populao ao nvel do ensino secundrio que constitui um
patamar educacional com forte expresso na estrutura de habilitaes escolares da
populao dos pases com melhores ndices de desenvolvimento e tido como condio
indispensvel de suporte s exigncias de desenvolvimento baseadas no conhecimento
(Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).
A importncia de apostar na generalizao do nvel secundrio de escolaridade
nitidamente assumida pela Comisso Europeia que estabeleceu o objectivo de, em 2010,
85% das pessoas com 22 anos de idade na Unio Europeia (UE) terem completado o
ensino secundrio.
Paradoxalmente, a OCDE (2004) prope para Portugal, como prioridade, a
necessidade de incrementar a produtividade da fora de trabalho, ou seja, o reforo da
escolarizao ao nvel do secundrio. Neste sentido, a reduo do dfice de
escolarizao da populao portuguesa favorece o crescimento, uma vez que melhora a
qualidade do trabalho, ao mesmo tempo que facilita a adopo de novas tecnologias.
Esta uma perspectiva que merece consenso alargado no mbito do dilogo
social, em Portugal, pelo que foi considerada uma prioridade de interveno no Acordo
de Poltica de Emprego, Mercado de Trabalho, Educao e Formao, celebrado entre o
Governo e os Parceiros Sociais em Fevereiro de 2001, cujo objectivo consiste en
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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(Iniciativa Novas
Oportunidades, 2005-2010).
Assim, surge a necessidade de investir em capital humano, o que decorre do seu
reconhecido contributo para o crescimento econmico, bem como para uma
multiplicidade de outros benefcios sociais. Estes benefcios tm uma traduo
colectiva, no nvel de desenvolvimento e coeso da sociedade como um todo, e uma
traduo individual por via das oportunidades de melhoria da qualidade de vida que
proporcionam (OCDE, 2005).
A concretizao da ambio de colocar o 12 ano como nvel de excelncia a
atingir pela populao, passa pela implementao de algumas estratgias, como sejam: a
elevao das taxas de concluso do nvel secundrio nos jovens, com um forte combate
ao abandono precoce; uma aposta no reforo das vias profissionalizantes; e a persistente
recuperao dos nveis de qualificao da populao adulta, atravs da conjugao da
educao de adultos com a generalizao dos processos de reconhecimento, validao e
certificao de competncias (Capucha et al, 2009).
2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias
Relacionados com o conceito de FP possvel identificar outros, entre os quais,
a validao e certificao de competncias adquiridas, tanto em contextos formais,
como em contextos informais. Este o ponto de partida para a construo de trajectrias
individuais de aprendizagem e para a sua progressiva qualificao, de modo a responder
diversidade de perfis apresentados pela procura (Referencial de Competncias-chave
para a Educao e Formao de Adultos, 2006).
Neste quadro, torna-se urgente adequar o desenvolvimento do modelo de
certificao, como forma de garantia da qualidade das respostas de formao
disponveis, no s assegurando a qualidade pedaggica atravs da certificao de
formadores, mas sobretudo investindo em metodologias para o reconhecimento e
validao das competncias adquiridas (Gonverno de Portugal, 2004).
Assim sendo, segundo a mesma fonte de informao, indispensvel promover
a qualidade da formao, nomeadamente ao nvel da actualizao permanente das
prticas pedaggicas e dos contedos formativos, ao mesmo tempo que se promove a
qualidade das entidades formadoras.
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Com base nas reflexes em torno da temtica da Formao Profissional,
importa, igualmente, salientar o papel fundamental que desempenha no percurso de vida
do ser humano, uma vez que permite uma aquisio de conhecimentos, informaes e
competncias, assim como a certificao, qualificao e validao das mesmas. Estes
factores contribuem para a sensibilizao da populao em geral no que concerne ao
aumento da escolaridade e aumento de competncias profissionais.
2.2. Aprendizagem ao Longo da Vida
A Aprendizagem ao Longo da Vida (adiante designada ALV) um conceito
muito pertinente no mbito da investigao que realizmos e constitui-se como uma
prioridade europeia. Como finalidades inerentes ALV destacamos: a melhoria de
conhecimentos, aptides, competncias, promoo da empregabilidade e o exerccio de
cidadania (Nvoa, 2001).
De acordo com as informaes recolhidas junto da Comisso Europeia (2000), a
ALV consiste num processo contnuo que abrange a dimenso temporal da
aprendizagem (lifelong), assim como uma multiplicidade de espaos e contextos que
fomentam a aprendizagem (lifewide).
Actualmente, e cada vez mais, assistimos a um conjunto de preocupaes que
so comuns a uma diversidade de pases do espao europeu. Essas preocupaes esto
relacionadas com a necessidade urgente de desenvolver iniciativas que reconheam e
validem as aprendizagens adquiridas ao longo da vida, nos seus diversos contextos
(formal, no formal ou informal) (Comisso Europeia, 2000).
Deste modo, as profundas alteraes intrnsecas ao processo de globalizao das
economias, a evoluo do mundo laboral e organizaes, e a emergncia da Sociedade
do Conhecimento e da Aprendizagem ao Longo da Vida, fazem com que esta
problemtica adquira especial relevo (Quadro de Referncia Europeu, 2007).
Neste enquadramento, o Reconhecimento e a Validao coexistem num
paradigma de Aprendizagem ao Longo da Vida, ou seja, num quadro de pensamento
que valoriza as aprendizagens que os indivduos realizam ao longo das suas trajectrias
pessoais, sociais e profissionais, ultrapassando as tradicionais fronteiras espao-
temporais delimitadas institucionalmente pelos sistemas de educao e formao
(Nvoa, 2001).
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De acordo com Canrio (1999) esses saberes experienciais desenvolvem-se
numa multiplicidade de situaes e de contextos de vida, obedecendo a uma lgica de
construo e de difuso distinta daquela que tem sido a lgica dominante (disciplinar e
transmissiva), que se traduz no contexto educativo por determinados modelos e prticas
pedaggicas. As formas tradicionais que confirmavam a aquisio dos saberes na
sociedade e que englobava a emisso de diplomas e certificados, tanto escolares como
profissionais, atriburam, desde sempre, um estatuto privilegiado aos conhecimentos
cientficos e tecnolgicos, face aos saberes experienciais. Em termos epistemolgicos, a
valorizao dos saberes experienciais no seio dos sistemas tradicionais de educao e
formao representa uma mudana paradigmtica significativa
,
Partindo das perspectivas acima indicadas, percebemos a importncia destas
reflexes para o nosso estudo, na medida em que a aprendizagem ao longo da vida e o
sistema de certificao de competncias esto interligados. Pensar em ALV significa
dizer que, se uma pessoa tem desejo para aprender, ter condies para o fazer, desde
que tenha predisposio para a aprendizagem e existam ambientes em que tal seja
possvel, ou seja, devidamente organizados para o efeito, como o caso dos Centros
Novas Oportunidades, Escolas, Empresas/ Centros de Formao, entre outros.
tambm importante que esses locais tenham disposio do indivduo que quer
aprender, agentes de aprendizagem, isto profissionais que possam auxiliar no processo
de aprender. Salientamos, ainda, que essa aprendizagem dever ir ao encontro das
necessidades do mercado de trabalho, para que seja possvel combater, por exemplo, o
desemprego.
Em linhas gerais, o que se pretende enfatizar, com a aprendizagem ao longo da
vida e com o sistema de certificao de competncias, o facto de a aprendizagem
acontecer na escola e tambm durante a vida profissional, pelo que estamos a falar de
um alargamento da aprendizagem que se faz na infncia ou na terceira idade. Assim
sendo, os indivduos devem ter sua disposio meios que possibilitem uma
continuao do processo de aprendizagem, interagindo e recebendo ajuda dos
respectivos agentes de aprendizagem e, simultaneamente, favorecendo a construo do
conhecimento.
Com o propsito de facilitar a aprendizagem ao longo da vida, a nossa sociedade
tem que estar consciente de que as pessoas aprendem de maneiras diferentes, pelo que
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tambm deve oferecer diferentes ambientes de aprendizagem. neste contexto que
importa reflectir, ainda que de uma forma breve, sobre a aprendizagem formal e no
formal.
2.2.1. Aprendizagens Formais e No Formais
As aprendizagens formais, no formais e informais so conceitos que merecem
especial ateno, na medida em que contribuem para a aprendizagem ao longo da vida e
sua adequao.
A aprendizagem formal aquela que se desenvolve em instituies de ensino e
formao e conduz aquisio de diplomas e qualificaes. Por outro lado, a
aprendizagem no-formal, decorre de aces desenvolvidas no exterior dos contextos
formais e, geralmente, no conduzem certificao. Quanto aprendizagem informal,
a que resulta das mais diversas situaes de vida e, na maioria das vezes, no
reconhecida (Marsick & Watkins, 1990; Misko, 1996; Guthrie & Barnett, 1996).
Assim, essencial assegurar e dar o devido valor s aprendizagens no-formais e
informais, uma vez que estas desempenham no processo de aprendizagem um papel
determinante e contribuem para o processo de aprendizagem ao longo da vida.
2.2.2. Estratgias globais de Aprendizagem ao Longo da Vida
Na sequncia do Conselho Europeu de Lisboa (2000), foi elaborado um
Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida, o qual apresenta seis mensagens-
chave que se tm vindo a constituir como estratgias globais, coerentes e eficazes de
ALV:
- Novas competncias bsicas para todos;
- Mais investimento em recursos humanos;
- Inovao no ensino e na aprendizagem;
- Valorizar a aprendizagem;
- Repensar as aces de orientao e de consultoria;
- Aproximar a aprendizagem dos indivduos.
A primeira estratgia de ALV (novas competncias bsicas para todos) tem
como prioridade garantir o acesso da populao aprendizagem e aquisio ou
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
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renovao de competncias que so imprescindveis sociedade do conhecimento,
como por exemplo, a literacia digital, que cada vez mais importante nos nossos dias.
A segunda mensagem (mais investimento em recursos humanos), pretende dar
uma maior visibilidade ao investimento nos recursos humanos, o que pode ser
conseguido atravs do desenvolvimento de mtodos de ensino e aprendizagem eficazes
e que permitam a aquisio de conhecimento ao longo da vida (inovao no ensino e na
aprendizagem).
A quarta estratgia de ALV remete-nos para a valorizao da aprendizagem cujo
objectivo melhorar a forma como so entendidos e avaliados os resultados da
aprendizagem (aprendizagem no formal e informal).
As aces de orientao e consultoria (quinta mensagem) visam assegurar o
acesso de todos a informaes e consultoria de qualidade sobre oportunidades de
aprendizagem em toda a Europa e durante toda a vida. Por fim, a ltima mensagem,
aproximar a aprendizagem dos indivduos, est relacionada com a urgncia de
providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida e, to prximas quanto
possvel, dos aprendentes, nas suas prprias comunidades e apoiadas, se necessrio, em
estruturas TIC.
Deste modo, percebemos que a formao no somente dirigida a jovens e
pessoas inseridas no mercado de trabalho, razo pela qual a valorizao das
competncias profissionais constitui um dos objectivos primordiais das instituies
promotoras de cursos de formao profissional. Contudo, para que tal seja possvel,
essencial desenvolver um referencial formativo que seja composto por determinadas
unidades capitalizveis e conhecimentos, assim como, competncias que demonstrem o
perfil adequado para uma determinada profisso (Reflexes sobre um Percurso
Profissional, 2010). Este referencial formativo pode ser demonstrado atravs da
organizao curricular dos Cursos EFA que so nosso objecto de estudo.
As qualificaes profissionais dividem-se em cinco nveis:
a) O nvel 1 corresponde a uma sensibilizao (auxiliar; ajudante), isto , so
tarefas independentes da profisso;
b) o nvel 2 corresponde a uma habilitao escolar de 6/9 anos;
c) o nvel 3 equivale a um nvel tcnico (12 ano);
d) o nvel 4 equivalente ao bacharelato (diplomas/ cursos de especializao
tecnolgica CET; ps secundrio);
e) por ltimo, o nvel 5 corresponde licenciatura.
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Ao longo do nosso trabalho, iremos focar, predominantemente, o nvel 3 de
formao profissional, que equivale a um nvel tcnico, no qual os formandos obtm o
dcimo segundo ano de escolaridade.
No ponto que se segue, pretendemos reflectir sobre o papel da educao e
formao no percurso escolar dos jovens-adultos. Para tal, comeamos por salientar que
o investimento na educao e formao reproduz vantagens significativas nas diversas
vertentes de organizao da vida social.
Centremo-nos, agora, numa breve reflexo sobre a educao e formao no
percurso escolar dos jovens-adultos e, porteriormente, no ensino profissional de jovens.
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3. O papel da educao e formao no percurso escolar dos jovens-adultos
A educao e formao adquire especial relevncia, no sentido em que promove
uma maior igualdade social, condies de bem-estar social, maior tolerncia s
diferenas sociais e raciais e, ainda, porque se constitui como geradora de sentimentos
de segurana entre os cidados, ao mesmo tempo que, permite atenuar a segregao
social da qual muitos jovens so, particularmente, vtimas (IEFP, 2005).
Nesta linha, a OCDE (2005) salienta a importncia da promoo do acesso
educao, admitindo que, com o reforo das polticas educativas, ser possvel
proporcionar melhores nveis de participao cvica, poltica e cultural, o que origina
maior igualdade de oportunidades para todos.
A educao tambm condio indispensvel para o desenvolvimento pessoal e,
por isso, um factor decisivo para o aproveitamento do investimento em formao
(Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).
Conclumos este ponto, referindo que o nvel de escolaridade e a literacia so
factores determinantes para o desenvolvimento da capacidade de aprofundar trajectrias
de aprendizagem e de maximizar a eficcia de investimentos formativos, na medida em
que investir em educao corresponde a aprender mais mas, tambm, criar melhores
condies para dar continuidade a trajectrias de aprendizagem ao longo da vida,
desenvolvendo, simultaneamente, elevados nveis de empregabilidade (IEFP, 2005).
3.1. Ensino Profissional de Jovens
Os sistemas de formao necessitam de assegurar um conjunto de competncias
e atitudes que possibilitem aos jovens uma integrao na vida activa, de modo a facilitar
a sua adaptao face s constantes mudanas tecnolgicas (IEFP, 2001). Como tal, o
insucesso e abandono escolar conduzem a um aumento significativo do nmero de
jovens que deixa o sistema sem possuir as qualificaes necessrias para ingressar no
mundo do trabalho (OCDE, 1989).
Segundo dados fornecidos pelo Ministrio da Educao (2009), no ano de 2005,
cerca de 500 mil jovens, entre os 18 e os 24 anos (45% do total), estavam a trabalhar
sem terem concludo os 12 anos de escolaridade, 55% dos quais sem possurem o 9
ano.
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Paradoxalmente, surge a necessidade de promover o ensino profissionalizante
junto dos jovens, fomentando novas oportunidades de concluso do ensino secundrio e
com uma dupla certificao (escolar e profissional). Com esta iniciativa, pretende-se
combater o insucesso e abandono escolar precoce. Esta valorizao do ensino
profissional no mbito do sistema de educao e formao consiste numa alternativa s
restantes vias educativas (ME, 2005). Tendo por base esta linha de pensamento,
consideramos essencial compreender quais os motivos que conduzem, cada vez mais, os
jovens-adultos a optar por cursos de formao profissional, ao invs de frequentarem o
ensino regular.
No seguimento dos argumentos apresentados, considermos pertinente explorar
a distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal, entre os anos de
1996/97 at 2007/08. A leitura do Grfico 1 permite-nos observar um aumento
significativo do nmero de alunos matriculados em Cursos Profissionais e Cursos
Tecnolgicos, comparativamente com os Cursos Gerais/ Cientfico-Humansticos.
Grfico 1 - Distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal
(1996/97 e 2007/08)
Fonte: Adaptado de Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao/ Ministrio da Educao (2009)
Os dados apresentados revelam um aumento de 19% comparativamente ao
nmero de alunos que, no ano de 1996/97, frequentavam cursos profissionais,
nomeadamente, Cursos de Educao e Formao (CEF), em relao ao ano 2007/08,
passando de 7% para 26%, pelo que verificamos uma reduo em 8% dos alunos que
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
26
frequentavam Cursos Gerais. Estes dados revelam que os jovens-adultos tm vindo a
aderir, em larga escala, a Cursos de Formao Profissional, passando para segundo
plano os Cursos Gerais. nesta perspectiva que o nosso estudo assume especial
importncia, uma vez que pretende desmistificar as motivaes que conduzem os jovens
formao profissional.
3.2. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio
Estudos recentes promovidos pela ANQ revelam que o alargamento dos cursos
profissionais tem tambm contribudo para o aumento do nmero de alunos no ensino
secundrio; sendo, ainda, de assinalar uma reduo da taxa de reteno, de 32 para 25
por cento (ME, 2007). A mesma fonte revela, ainda, que no ano lectivo de 2007, cerca
de 282,188 jovens se matricularam para a concluso do ensino secundrio, sendo que
62,996 se inserem no ensino profissional.
Segundo dados do Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao do
Ministrio da Educao (GEPE-ME), esta expanso da populao estudantil no ensino
secundrio deve-se, sem dvida, ao aumento dos alunos matriculados em cursos
profissionais, que passaram de 44,466 alunos, no ano de 2006/2007, para 62,996, no ano
lectivo de 2007/2008 (GEPE-ME, 2007).
neste contexto que consideramos essencial destacar que 35,4 por cento dos
alunos esto matriculados em vias profissionalizantes, aproximando-se, assim, dos
valores registados nos pases da OCDE, em que cerca de 50 por cento dos jovens opta
pelo ensino de formao profissional.
A sada precoce do sistema escolar tambm alvo de investigaes e podemos
afirmar que se registam resultados positivos, sendo que a percentagem de jovens dos 18
aos 24 anos que no concluiram o ensino secundrio e no estiveram inscritos em
aces de educao e formao, baixou trs pontos percentuais, descendo em 2007 para
36,3 %. Estes dados revelam ainda que mais de 30 mil jovens se mantiveram no sistema
de ensino (ME, 2007).
Seguindo esta ideia, torna-se relevante referir que os valores apurados pelo
GEPE, no ano lectivo de 2006/2007, apresentam uma acentuada melhoria, em todos os
nveis de ensino, em relao taxa de reteno e desistncia escolar. Contudo, centrar-
nos-emos no esclarecimento desses valores apenas em relao ao ensino secundrio,
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
27
pois o que, em particular, nos interessa. Assim, no ensino secundrio, essa evoluo
permitiu passar de 35,9 %, no ano de 1996/1997 para 24,6 % em 2006/2007.
3.3. O Dfice de Qualificaes
Com a finalidade de apoiar o percurso de ajustamento aos padres mdios de
desenvolvimento da Unio Europeia, Portugal tem beneficiado de fundos estruturais.
No entanto, apesar disso, a progresso dos indicadores que reflectem os ganhos
relativos ao investimento em capital humano tem sido muito lenta e Portugal continua
numa posio de grande desvantagem face maioria dos seus parceiros na Unio
Europeia. Com base no cenrio apresentado, no possvel perspectivar uma inverso
da situao de partida num curto espao de tempo (Iniciativa Novas Oportunidades,
2005-2010).
Apesar de a Lei de Bases do Sistema Educativo, publicada em 1986 (Lei n
46/86 de 14 de Outubro) estabelecer em nove anos a escolaridade obrigatria, com
obrigatoriedade de frequncia da escola at aos quinze anos de idade (Portaria n
756/2007, revoga a portaria n 18/1991 de 9 de Janeiro, que regulamenta o n 3 do
Artigo 6 da Lei n 46/1986 e Lei n 49/2005 segunda alterao Lei de Bases do
Sistema Educativo), os dados relativos ao nmero de anos de escolarizao da
populao adulta nos pases da OCDE confirmam que Portugal est ainda distante do
objectivo de recuperar o grau de escolarizao da sua populao (OCDE, 2005).
Neste sentido, a compartimentao do Ensino Bsico em trs ciclos deixou de
fazer sentido, uma vez que, a escolaridade aumentou para doze anos (Lei n 85/2009).
Este aumento da escolaridade obrigatria para doze anos dever dotar os jovens de uma
educao e formao, geral e abrangente, e de preparao de novos tipos de ofertas
formativas. A Lei n 85/2009, estabelece o regime de escolaridade obrigatria para as
crianas e jovens que se encontram em idade escolar e consagra a universalidade da
educao pr-escolar para as crianas a partir dos 5 anos de idade.
No seguimento da linha desta anlise, apresentamos, de seguida, a mdia de anos
de escolarizao da populao adulta em diversos pases (Tabela 1). De referir que
Portugal apresenta valores muito reduzidos no mbito da escolarizao da populao
adulta.
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
28
Tabela 1 - Mdia de anos de escolarizao da populao adulta
Pases Mdia
Noruega 13,8
Dinamarca 13,6
Alemanha 13,4
Luxemburgo 13,4
Finlndia 12,1
Frana 11,5
Grcia 10,5
Espanha 10,5
Turquia 9,6
Mxico 8,7
Portugal 8,2
Mdia OCDE 12,0
Fonte: Retirado de OCDE 2005
Na tabela abaixo, apresentamos alguns dados da populao entre os 18-24 anos
que no se encontra a frequentar qualquer grau de ensino, segundo o nvel de instruo,
entre os anos 1991 e 2001.
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
29
Tabela 2 - Populao entre 18-24 anos que no frequenta qualquer grau de
ensino (1991-2001)
1991 2001
N % N %
Populao total 18-24 anos 1.097.208 100 1.083.320 100
Sem o 3. ciclo completo 594.004 54 266.052 25
Sem o secundrio completo 104.560 10 219.155 20
Total inferior ao secundrio 698.564 64 485.207 45
Fonte: Retirado de INE, Recenseamento Geral da Populao (2001)
Tendo como fonte de informao o Instituto Nacional de Estatstica (INE, 2001),
percebemos, atravs da anlise da tabela 2, que todos os anos um conjunto de jovens
pouco escolarizados integra diversos sectores do mercado de trabalho que so pouco
exigentes em matria de qualificaes (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).
Esta iniciativa regulamenta ainda que, na maior parte das vezes, estes jovens j
no regressam ao sistema educativo para completar o nvel de instruo atingido, pois o
ensino secundrio est predominantemente direccionado para os jovens que pretendem
ingressar no ensino superior, no estando disseminado como um ciclo terminal, e
tambm porque as ofertas formativas existentes ainda so insuficientes.
De seguida, apresentamos alguns dados relativos evoluo das taxas de
reteno e desistncia, desde o ano 1995/96 at 2002/03 (Tabela 3).
Tabela 3 - Evoluo das Taxas de Reteno e Desistncia
9
5/96
9
6/97
9
7/98
9
8/99
9
9/00
0
0/01
0
1/02
0
2/03
Ensino
Bsico
1
3,8
1
5,2
1
3,8
1
3,2
1
2,6
1
2,7
1
3,6
1
3,0
-
Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
30
Ensino
Secundrio
3
3,1
3
5,7
3
5,6
3
6,0
3
6,8
3
9,4
3
7,4
3
3,7
Fonte: Retirado de GIASE, Estatsticas da Educao (2005)
Atravs da anlise da tabela supra mencionada, depreendemos que as taxas de
insucesso e de abandono se registam maioritariamente no ano inicial de cada ciclo de
estudos e, com maior expresso no 10. ano de escolaridade, facto que se poder
explicar por ser a passagem do 3. ciclo para o ensino secundrio. Deste modo,
realamos a necessidade de adoptar medidas que previnam as dificuldades verificadas
ao nvel da progresso escolar e que incentivem a permanncia dos jovens em percursos
de escolarizao mais longos (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).
Anlises mais detalhadas relativamente s taxas de abandono escolar, permitem
concluir que em Portugal existem significativas disparidades face aos nveis locais e
regionais e, por este motivo, que se adoptaram estratgias de interveno
territorialmente diferenciadas (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007).
3.3.1. Oferta de Formao Insuficiente
Com base nas informaes recolhidas junto da Agncia Nacional para a
Qualificao (2007), percebemos que, em parte, o nosso sistema de ensino tambm
responsvel pela reduzida escolarizao dos jovens, uma vez que a rede de cursos
profissionais qualificantes ainda bastante tnue, apesar da diversidade de oferta
formativa que actualmente existe.
Centremo-nos, agora, no caso do ensino bsico em que estas ofertas formativas
tm uma expresso reduzida e destinam-se essencialmente a jovens com mais de 15
anos. Do conjunto de cerca de 121 mil jovens activos com menos de 25 anos que no
tm o 9 ano, apenas cerca de 12 mil esto a estudar (ME, 2005).
Seguindo as informaes reveladas pela Agncia Nacional para a Qualificao
(2007), constatamos que, ao nvel do secundrio, o sistema de ensino progrediu de
forma muito subordinada ao prosseguimento de estudos, designadamente no ensino
superior, de que indicador o grande predomnio do nmero de alunos matriculados nos
cursos gerais em detrimento dos cursos de pendor mais vocacional .
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
31
Destacamos este aspecto uma vez que a concentrao de jovens em cursos
direccionados para o prosseguimento de estudos, em prol das variantes de ensino de
natureza tecnolgica e profissionalizante, bastante superior em Portugal quando
comparado, por exemplo, com outros pases da OCDE (71,7% Portugal 48,5% OCDE,
2001).
Seguidamente, apresentamos como exemplo de cursos de natureza tecnolgica e
profissionalizante, os Cursos EFA (Educao e Formao de Adultos) que surgiram
como resposta face a uma insuficiente oferta de formao. Assim, os Cursos EFA
destinam-se a activos empregados ou desempregados, com idade igual ou superior a 18
anos, no qualificados ou sem qualificao adequada, para efeitos de insero no
mercado de trabalho, que no tenham concludo a escolaridade bsica de 4, 6 ou 9 anos.
Esta modalidade tem, assim, como objectivo proporcionar aos trabalhadores menos
qualificados uma formao integrada de educao e formao que garanta as
competncias fundamentais para o exerccio de uma profisso (Guio de
Operacionalizao dos Cursos EFA, 2009).
O Porteflio Reflexivo de Aprendizagem (PRA) no apenas uma compilao
de trabalhos, visto que decorre da metodologia de evidenciao de competncias e
aprendizagens preconizadas pelo processo de reconhecimento, validao e certificao
de competncias do nvel secundrio. So etapas necessrias para a construo de um
resultados, direccionar para novos desafios (Guio de Operacionalizao dos Cursos
EFA, 2009, pag. 70).
3.4. Desemprego entre jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal
Tendo em conta o nosso objecto de estudo, importa, ainda, abordar a temtica do
desemprego em Portugal, sobretudo, em jovens-adultos com baixa escolaridade e que se
encontram em situao de desemprego, ou empregos precrios.
Em primeiro lugar, de referir que o investimento em educao e formao
diminui significativamente o risco e durao do desemprego e aumenta as
probabilidades de reinsero no mercado de trabalho (IEFP, 2005). Deste modo, os
dados do desemprego em Portugal, datados de 2005, revelam uma tendncia de
aumento gradual do nvel de desemprego nas pessoas com menores habilitaes,
principalmente, no grupo dos desempregados de longa durao.
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Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao
32
De acordo com os resultados escolares apurados pelo Gabinete de Estatstica e
Planeamento da Educao (GEPE) relativos taxa de reteno e desistncia escolar, no
ano lectivo de 2006/2007, verifica-se uma melhoria acentuada em todos os ciclos de
ensino. No mbito do ensino secundrio, esta evoluo permite passar de 35,9 por cento
em 1996/1997 para 24,6 por cento em 2006/2007. Esta melhoria dos resultados, ao
mesmo tempo que aumenta o nmero de estudantes nos estabelecimentos de ensino,
resulta, desde logo, do empenho dos professores e das escolas, que tm vindo a realizar
um trabalho persistente no combate ao insucesso escolar e ao abandono precoce, com
resultados visveis para milhares de jovens e suas famlias (Agncia Nacional para a
Qualificao, 2007).
-
33
Captulo 2 A importncia da Famlia
no Meio Escolar
1. Reflexes em torno do Conceito de Famlia
1.1. Estrutura da Famlia
1.2. Tipos de Famlia
1.3. Novos Papeis Parentais
2. A relao entre Escola, Famlia e Comunidade
2.1. A Formao Parental como forma de reforar a parceria entre pais e
professores
-
Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar
34
Neste captulo, propomo-nos reflectir sobre a importncia da famlia no meio
escolar, incidindo, particularmente, sobre o conceito de famlia, destacando a estrutura e
tipo de famlias e os novos papis parentais. De referir que as concepes aqui
apresentadas resultam sobretudo de uma pesquisa bibliogrfica centrada em algumas
investigaes realizadas na rea da Psicologia.
1.Reflexes em torno do Conceito de Famlia
De acordo com Oliveira (2006), tal como a clula a unidade do corpo orgnico,
a famlia tem sido considerada como a clula fundamental da vida social.
A famlia assume-se como a instituio social bsica, a partir da qual outras se
desenvolveram, dada a complexidade da vida social. Aceite como a mais antiga das
instituies sociais humanas, reveste-se de um carcter universal, embora as formas de
vida familiar variem de sociedade para sociedade, e de gerao para gerao (Pais
Ribeiro, 2006).
Segundo Oliveira (2006) podemos considerar alguns aspectos reveladores das
mudanas ocorridas na famlia, tais como: o fim da famlia como unidade de produo
econmica, a baixa da taxa de natalidade, o divrcio, a unio livre, os filhos que so
entregues aos jardins-de-infncia e escola, entre outras mudanas substanciais nos
papis da famlia moderna.
Em linhas gerais, para Cruz (2005), a famlia constitui um grupo onde se
estabelecem relaes de parentesco entre os seus membros, isto , relaes baseadas em
laos de sangue, de casamento ou adopo.
A famlia tem assim reflectido as mudanas que se observam no campo da
produo e das mentalidades, sendo hoje uma instituio em mudana (Gis, 2006).As
alteraes acima descritas, de mbito social e biolgico, sem esquecer o aumento da
esperana mdia de vida, tm obrigado a famlia a adaptar-se; o que, por conseguinte,
origina novas formas de organizao (Oliveira, 2006).
No que concerne famlia tradicional, podemos encontrar mudanas nos
seguintes aspectos:
Novos Tipos de Famlias, com o aparecimento de famlias monoparentais
e famlias recompostas ou homossexuais.
Novas Relaes entre Geraes, o que implica uma participao mais
activa dos avs nas funes habitualmente entregues famlia nuclear.
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Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar
35
Tipos de
Famlias
Nucleares (com ou sem vnculos
matrimoniais)
Monoparentais
Recompostas/ reconstrudas
Novos relacionamentos entre os membros do casal, em que se destaca
uma aproximao dos papis familiares e a democratizao das relaes conjugais.
Para uma melhor compreenso, segue-se uma sntese sobre a estrutura da
famlia, os tipos de famlia e os novos papis parentais.
1.1. Estrutura da Famlia
O tipo de famlia designado por famlia extensa ou consangunea consiste em
famlias com mais de duas geraes, incluindo os pais, os filhos casados ou solteiros, os
genros e noras, os tios e os primos (Oliveira, 2006).
Porm, a famlia normalmente pensada em termos de um grupo mais restrito,
isto , o marido (pai), a mulher (me) e os filhos; e a chamada famlia conjugal ou
nuclear que se baseia no relacionamento conjugal. Em qualquer dos casos apresentados,
a famlia partilha uma residncia comum e os membros que a constituem cooperam para
a satisfao das suas necessidades (Relvas & Alarco, 2002).
1.2. Tipos de Famlia
De seguida, apresentamos uma figura que pretende esquematizar os trs tipos de
famlias referenciados por Relvas e Alarco (2002): Nucleares, Monoparentais e
Recompostas/ reconstrudas.
Figura 1- Tipos de Famlia
Analisando a Figura 1, depreendemos que a famlia nuclear se pode definir como
um grupo domstico, formado por pai, me e filhos, que podem ou no ter vnculos
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Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar
36
matrimoniais; a famlia monoparental consiste numa famlia formada por pai ou me e
filhos, sendo fruto da viuvez, divrcio ou opo por um dos progenitores. Em relao
famlia recomposta, podemos definir este tipo de famlia como resultante de um novo
casamento (ou unio), com a reunio dos filhos dos casamentos anteriores (Oliveira,
2006).
1.3. Novos Papis Parentais
As mudanas na estrutura e funes da instituio familiar traduzem as
mudanas nas outras instituies com as quais est relacionada (Oliveira, 2006).
Tal como sugeria Ferrarotti (1976, citado por Gis, 2006), a famlia extensa,
adequada sociedade tradicional, transformou-se na famlia nuclear, que melhor
corresponde s caractersticas scio-econmicas e culturais da sociedade industrial e
urbana.
As tarefas educativas passam, ento, a ser desempenhadas tambm por outras
instituies, das quais a escola e os media so os exemplos com mais relevo (Fu