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  • UNIVERSIDADE DO ALGARVE

    FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS

    O Meio Scio-Econmico de Jovens-Adultos

    e a (Des)motivao Acadmica na Escolha da

    Formao Profissional

    Ins Filipa Martinho de Azevedo

    Mestrado em Cincias da Educao e da Formao

    (rea de especializao em Observao e Anlise da

    Relao Educativa)

    FARO

    2011

  • I

    Agradecimentos

    Quero exprimir os meus agradecimentos a todos aqueles que contriburam para a

    realizao deste trabalho, particularmente:

    Prof. Doutora Sandra Valadas, minha orientadora, pelas sugestes, apoio e

    rigor com que orientou esta dissertao, bem como por to grande ateno e

    generosidade por que pautou a sua orientao.

    Aos meus pais e minha irm, pelo apoio, dedicao e incentivo

    incomensurveis. Por sempre terem acreditado em mim.

    Ao meu av que, apesar de j no estar entre ns, estar orgulhoso de mais esta

    etapa que concretizo na minha vida.

    Escola Secundria, pela disponibilidade demonstrada desde o incio deste

    trabalho; Professora Maria do Carmo, Coordenadora dos Cursos EFA; e aos alunos

    que responderam aos inquritos por questionrio, bem como ao Conselho Executivo,

    que ajudou a levar a cabo esta investigao.

    So, pelas suas ideias e boa disposio sempre na hora certa.

    minha Aninhas, por toda a pacincia que tem comigo e aos meus amigos pelo

    voto de confiana, estmulo e por acreditarem na concretizao desta etapa da minha

    vida.

    Prof. Doutora Teresa Carreira, pelo voto de confiana na concretizao deste

    trabalho e Professora Doutora Ida Lemos por me ter cedido o material que precisei e

    pela sua disponibilidade.

  • II

    Ttulo da dissertao: O Meio Scio-Econmico de Jovens-Adultos e a

    (Des)motivao Acadmica na Escolha da Formao Profissional

    Resumo

    Neste trabalho de investigao procurmos reflectir sobre conceitos relacionados

    com a formao profissional, a famlia e o insucesso escolar, em dois grupos distintos:

    um referente a formandos de Cursos de Educao e Formao de Adultos e outro

    relativo a adultos que concluram o Processo de Reconhecimento, Validao e

    Certificao de Competncias (RVCC) no Centro Novas Oportunidades (CNO) de uma

    Escola Secundria.

    No que se refere ao constructo relativo ao insucesso escolar, foram consideradas

    as concepes propostas por Lger e Tripier (1986), a teoria culturalista e a teoria do

    handicap sciocultural de Bourdieu e Passeron (1971). Autores como Langouet,

    Isambert-Jamati, Seibel, Bisseret e Don Davies fundamentam, tambm, este trabalho.

    No total, foram inquiridos 140 formandos das nove turmas de Cursos de

    Educao e Formao de Adultos e 140 adultos que concluram o Processo de RVCC.

    Como instrumentos, utilizmos um questionrio dirigido a formandos de Cursos EFA,

    uma ficha de dados familiares e um outro de avaliao do Processo RVCC, ambos

    construdos para o efeito.

    As variveis em anlise permitiram detectar algumas diferenas entre os

    constructos e construir uma espcie de modelo compreensivo dos fenmenos, no que se

    refere ao meio socioeconmico de origem dos jovens-adultos e a (des)motivao

    acadmica na escolha de cursos profissionais.

    Palavras-chave: Formao Profissional, Famlia, Insucesso Escolar,

    Desmotivao, Ensino Profissional.

  • III

    Title: Social and Economic Environment of Adult-Youngsters and the Academic

    (De)motivation in the choice of Vocational Training

    Abstract

    In this investigation we tried to reflect on concepts related with the vocational

    training, the family and educational failure, in two distinct groups: one referring to

    trainees of EFA (Educao e Formao) Courses for adults and another related to the

    ones who concluded the Process of RVCC in Centro Novas Oportunidades (CNO).

    Concerning the construct related to education failure, we considered the

    conceptions proposed by Lger and Tripier (1986), the cultural theory and the theory of

    social and cultural handicap of Bourdieu and Passeron (1971). Authors as Langouet,

    Isambert-Jamati, Seibel, Bisseret and Don Davies were also referred.

    We inquired 140 students from the nine classes of the EFA Courses and 140

    adults who concluded the RVCC process. As instruments, three questionnaires were

    applied: one to the students of EFA, a family data sheet and another one about the

    evaluation of the RVCC process.

    The variables analysed allowed us to observe some differences between the

    constructions and to construct a sort of comprehensive model of the phenomena, related

    to the social and economic environment of the adult and academic (de)motivation in the

    choice of the different courses.

    Keywords: Vocational Training, Family, Educational Failure, Motivation,

    Vocational Education.

  • IV

    ndice

    INTRODUO ................................................................................................................ 1

    Parte I ENQUADRAMENTO TERICO ..................................................................... 5

    Captulo 1 - Formao Profissional e mbitos de actuao .............................................. 6

    1. Formao Profissional: Contributos para a reflexo deste conceito ............................ 7

    1.1. As componentes da Formao Profissional ........................................................... 7

    1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua ......................................................... 9

    1.2.1. As Modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua..................... 12

    1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica ............................................... 12

    1.3.1. Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica ..................... 14

    2. A Implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN).............. 16

    2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades ...................................................................... 16

    2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias ............................ 18

    2.2. Aprendizagem ao Longo da Vida ........................................................................ 19

    2.2.1. Aprendizagens Formais e No Formais ....................................................... 21

    2.2.2. Estratgias globais de Aprendizagem ao Longo da Vida ............................. 21

    3. O papel da educao e formao no percurso escolar dos jovens-adultos ................. 24

    3.1. Ensino Profissional de Jovens ............................................................................. 24

    3.2. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio ........................................................ 26

    3.3. O Dfice de Qualificaes ................................................................................... 27

    3.3.1. Oferta de Formao Insuficiente .................................................................. 30

    3.4. Desemprego entre jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal ............. 31

    Captulo 2 A importncia da Famlia no Meio Escolar ............................................... 33

    1.Reflexes em torno do Conceito de Famlia ............................................................... 34

    1.1. Estrutura da Famlia ............................................................................................ 35

    1.2. Tipos de Famlia .................................................................................................. 35

    1.3. Novos Papis Parentais ........................................................................................ 36

    2. A Relao entre Escola, Famlia e Comunidade ........................................................ 38

    2.1. A Formao Parental como forma de reforar a parceria entre pais e professores

    .................................................................................................................................... 39

    Captulo 3 (Des)motivao para o (In)sucesso ............................................................ 42

    1. Insucesso Escolar .................................................................................................... 43

    1.1. A noo de Insucesso Escolar ............................................................................. 44

  • V

    1.2. Algumas Teorias Explicativas do Insucesso Escolar .......................................... 46

    2. O fenmeno de Insucesso Escolar no mbito da Escola Secundria ...................... 51

    2.1. Factores de abandono e estratgias para a promoo do sucesso escolar ........... 53

    2.2. Combate ao abandono escolar precoce ................................................................ 55

    2.3 . Escolarizao obrigatria at aos 18 anos .......................................................... 57

    Parte II Estudo Emprico ............................................................................................. 59

    Captulo 4 Questes Metodolgicas ............................................................................ 60

    1. Quadro Conceptual da Investigao ....................................................................... 62

    2. Objectivos do Estudo .............................................................................................. 65

    3. Justificao das Opes Metodolgicas ................................................................. 66

    4. Amostras ................................................................................................................. 72

    4.1. Caracterizao dos Formandos de Cursos EFA ............................................... 72

    4.2. Caracterizao dos Adultos que terminaram o processo RVCC ......................... 76

    5. Instrumentos de Medida ......................................................................................... 78

    5.1. Questionrio dirigido a Formandos de Cursos de Educao e Formao de

    Adultos (Cursos EFA) ................................................................................................ 80

    5.2. Ficha de Dados Familiares .................................................................................. 83

    5.3. Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .................................................. 84

    6. Procedimentos de Recolha de Dados...................................................................... 87

    7. Anlise e Tratamento dos Dados ............................................................................ 89

    Captulo 5 Apresentao, Anlise e Discusso dos Resultados .................................. 90

    1. Grupo de jovens-adultos/ formandos de Cursos EFA ............................................ 91

    1.1. Meios socioeconmicos e familiares de origem dos jovens-adultos ............... 91

    1.2. Trajectria escolar e origem social .................................................................. 92

    1.3. Tipo de estrutura familiar dos jovens-adultos ................................................. 93

    1.4.Expectativas dos alunos face ao futuro profissional ......................................... 93

    1.5. Condicionalismos existentes nas opes dos alunos pela via de formao

    profissional ............................................................................................................. 96

    1.6. Motivos que levaram os jovens-adultos ao abandono escolar ......................... 97

    2. Grupo de adultos que terminaram processo de RVCC ......................................... 100

    2.1. Percepo dos adultos em relao ao processo de RVCC, forma como este se

    desenvolve, actuao da equipa, de forma a adequar cada vez mais o processo aos

    seus destinatrios .................................................................................................. 100

    CONCLUSO .............................................................................................................. 105

  • VI

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 113

    ANEXOS ...................................................................................................................... 125

    Anexo 1 Questionrio Validao Representantes ..................................................... 126

    Anexo 2 Pr Questionrio Validao Especialistas ................................................... 130

    Anexo 3 Questionrio dirigido a Especialistas .......................................................... 134

    Anexo 4 Pr Inqurito por Questionrio dirigido a Formandos de Cursos EFA ....... 139

    Anexo 5 Inqurito por Questionrio Validado .......................................................... 152

    Anexo 6 Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .......................................... 165

    Anexo 7 Ficha de Dados Familiares .......................................................................... 172

  • VII

    ndice de Anexos

    Anexo 1 Questionrio Validao Representantes .......................................... 126

    Anexo 2 Pr Questionrio Validao Especialistas ....................................... 130

    Anexo 3 Questionrio dirigido a Especialistas .............................................. 134

    Anexo 4 Pr Inqurito por Questionrio dirigido a Formandos de Cursos

    139

    Anexo 5 Inqurito por Questionrio Validado .............................................. 152

    Anexo 6 Questionrio de Avaliao do Processo RVCC .............................. 165

    Anexo 7 Ficha de Dados Familiares .............................................................. 172

  • VIII

    ndice de Figuras

    Figura 1- Tipos de Famlia ............................................................................................. 35

    Figura 2 - Factores de abandono escolar precoce ........................................................... 53

    Figura 3 - Ensino Secundrio obrigatrio ...................................................................... 56

    Figura 4 - Importncia do ensino secundrio para as trajectrias de vida dos jovens .... 58

    Figura 5 - Modelo Conceptual ........................................................................................ 67

    Figura 6 Modelo Explicativo Terico ......................................................................... 70

  • IX

    ndice de Grficos

    Grfico 1 - Distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal

    (1996/97 e 2007/08) ....................................................................................................... 25

    Grfico 2 - Alunos que concluiram os Ensinos Bsico e Secundrio em Portugal

    (1997/98-2007-08) .......................................................................................................... 52

    Grfico 3 Distribuio da Apreciao dos adultos .......................................... 76

    Grfico 4- Distribuio da amostra 1 em funo da nacionalidade .................... 91

    Grfico 5 - Distribuio da amostra 1 em funo do tipo de residncia ............. 92

    Grfico 6 Distribuio da amostra em funo da possibilidade de encontrar

    mais facilmente um emprego .......................................................................................... 94

    Grfico 7- Distribuio da amostra em funo do interesse dos sujeitos pela

    frequncia Cursos EFA dupla certificao ..................................................................... 95

    Grfico 8 - Distribuio da amostra 1 em funo do investimento no Algarve . 96

    Grfico 9 - Distribuio dos jovens-adultos em funo das reprovaes ........... 97

    Grfico 10 - Distribuio dos sujeitos em funo do nmero de reprovaes ... 98

    Grfico 11 Apreciao Processo RVCC ........................................................ 102

    Grfico 12 Apreciao das Formaes Complementares .............................. 102

    Grfico 13 - Durao das Formaes Complementares ................................... 103

    Grfico 14 - Sesso de Jri de Validao ......................................................... 104

  • X

    ndice de Quadros

    Quadro 1 - Componentes da Formao Profissional ...................................................... 10

    Quadro 2 - Modalidades da Formao Contnua ............................................................ 12

    Quadro 3 - Mapa Conceptual (Grelha de Tomada de Deciso) ..................................... 69

    Quadro 4 - Dimenses/ Itens do Questionrio dirigido a Formandos de Cursos EFA ... 82

    Quadro 5 - Dimenses/Itens da Ficha de Dados Familiares ........................................... 83

    Quadro 6 - Dimenses/Itens (Questionrio de Avaliao do Processo RVCC) ............. 85

  • XI

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Mdia de anos de escolarizao da populao adulta ................................... 28

    Tabela 2 - Populao entre 18-24 anos que no frequenta qualquer grau de ensino

    (1991-2001) .................................................................................................................... 29

    Tabela 3 - Evoluo das Taxas de Reteno e Desistncia ............................................ 29

    Tabela 4 Distribuio dos alunos em funo da varivel Sexo ................................... 73

    Tabela 5 Distribuio dos alunos em funo da faixa etria a que pertencem ............ 73

    Tabela 6 - Distribuio da apreciao dos adultos face ao Processo RVCC .................. 77

    Tabela 7 Distribuio dos sujeitos em funo das habilitaes literrias .................... 92

    Tabela 8 Distribuio dos inquiridos em funo da estrutura familiar........................ 93

    Tabela 9 Distribuio dos inquiridos em funo dos motivos para a frequncia de

    Cursos EFA .................................................................................................................... 94

    Tabela 10 - Distribuio da amostra em funo dos motivos para a frequncia de Cursos

    EFA Dupla Certificao ................................................................................................. 96

    Tabela 11 - Distribuio dos jovens-adultos em funo dos motivos que levaram ao

    abandono escolar ............................................................................................................ 98

    Tabela 12 Grau de satisfao com o CNO ................................................................ 100

  • INTRODUO

  • Introduo

    2

    O presente trabalho de investigao surgiu do nosso interesse particular pela

    problemtica da desmotivao/abandono do ensino regular por parte da populao

    jovem Portuguesa.

    A escolha desta temtica no surgiu por acaso, considerando o facto de termos

    tido a oportunidade de laborar numa empresa de Formao, onde contactmos com a

    problemtica da Formao Profissional, atravs da implementao de Cursos de

    Educao e Formao de Adultos (adiante designados cursos EFA), bem como o

    acolhimento e encaminhamento de adultos para outras ofertas formativas.

    Um outro factor fez com que o interesse por esta rea se tornasse mais evidente e

    prende-se com o facto de, recentemente, a investigadora exercer funes como Tcnica

    de Diagnstico e Encaminhamento num Centro Novas Oportunidades (CNO). Neste

    mbito, e ao realizar o acolhimento dos Adultos no Centro, frequente surgirem

    candidatos com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos que, partida, deveriam

    frequentar o ensino regular.

    Neste sentido, entendemos que o contacto efectuado com estes jovens-adultos,

    as entrevistas individuais e sesses de encaminhamento realizadas de modo a

    compreender o seu percurso profissional e escolar, bem como os motivos que

    conduziram ao abandono escolar, constituem factores que justificam a necessidade e

    pertinncia de analisar e estudar esta problemtica, numa tentativa de perceber quais os

    motivos que conduzem os jovens a optar pelo ensino profissional.

    As reflexes para a implementao do nosso projecto inicial foram-se

    consolidando atravs do contacto com estudos na rea, assentes em novos paradigmas,

    do ponto de vista dos posicionamentos tericos adoptados, de modo a explicitar

    problemticas com novos contornos. Dentro deste mbito, procuramos destacar a

    formao profissional em Portugal, novos mbitos de actuao e estratgias

    potenciadoras de sucesso escolar, no sentido de diminuir as taxas de abandono por parte

    dos jovens-adultos, nomeadamente, ao nvel do ensino secundrio.

    Partindo, pois, de um conjunto de pressupostos tericos que consideram que, na

    sociedade actual, a educao e a formao constituem a base fundamental do

    desenvolvimento de uma comunidade, ao sistema educativo que compete proporcionar

    os instrumentos necessrios para a democratizao das condies de acesso educao

    e, simultaneamente, fornecer as condies para uma efectiva democratizao das

    condies de sucesso ao nvel do desenvolvimento formativo, pessoal e comunitrio

    (Carta Educativa do Concelho de Olho, 2006).

  • Introduo

    3

    Considerando as anlises mais recentes no mbito do sistema de ensino

    portugus relativamente s taxas elevadas de abandono escolar precoce dos jovens,

    verificamos a necessidade de elevar o nvel de qualificao desta faixa etria da

    populao, promovendo a sua empregabilidade e a adequao das suas qualificaes

    face s necessidades de desenvolvimento sustentado (Programa Operacional Temtico

    Potencial Humano, 2007).

    A mesma fonte de informao revela, ainda, que em Portugal as taxas de sada

    escolar precoce na populao dos 18 aos 24 anos so das mais elevadas no contexto

    europeu, constituindo um estrangulamento crtico para o reforo da qualificao da

    populao portuguesa.

    As intervenes propostas assumem, assim, uma articulao directa com os

    objectivos e com a estratgia da Iniciativa Novas Oportunidades ao nvel da

    qualificao de jovens, distinguindo a opo de fazer do 12 ano o referencial mnimo

    de escolaridade para todos e de assegurar um maior nmero de c

    ursos de educao e de formao que permitam a concluso do secundrio (Agncia

    Nacional para a Qualificao, 2007).

    Neste sentido, o objectivo fundamental do nosso trabalho o de contribuir para a

    compreenso dos motivos que conduzem os jovens-adultos a enveredar por um caminho

    que no o ensino regular, em prol de Cursos de Formao Profissional.

    O ttulo escolhido para este estudo pretende dar visibilidade aos conceitos,

    designaes e acepes construdas em torno do conceito de Formao Profissional e

    que podem ser encontradas, quer no discurso cientfico, quer no senso comum.

    Aps a apresentao da temtica que subjaz reviso da investigao, refira-se

    que o estudo beneficia do contexto territorial no qual o trabalho de campo ocorreu, por

    se tratar de uma Escola em que a Iniciativa Novas Oportunidades recente; sendo, por

    isso, um terreno praticamente inexplorado, o que conferiu investigao algum

    potencial de inovao, na medida em que no se conhecem quaisquer estudos realizados

    com estudantes de Cursos EFA.

    Em termos estruturais, a presente dissertao compreende duas partes distintas: a

    primeira remete para o enquadramento terico e a segunda, relativa parte emprica.

    Na primeira parte da dissertao apresentamos o enquadramento terico do tema

    em estudo. Considerando a reviso da literatura efectuada, comeamos por abordar as

    questes relativas Formao Profissional, suas finalidades e componentes. No

    segundo captulo, que remete para a relao entre escola, famlia e comunidade,

  • Introduo

    4

    consideraremos a prpria dinmica do processo que se estabelece entre estes conceitos,

    bem como algumas teorias e pressupostos que os explicam. Ser referenciado o conceito

    de famlia e suas relaes com a escola, numa tentativa de explicitar a noo de famlia,

    as estruturas e tipos de famlia e, ainda, os novos papis parentais.

    No captulo trs, relativo (Des)motivao para o (In)sucesso, apresentamos

    uma definio detalhada destes dois conceitos e, ainda, foi nossa inteno compreender

    o fenmeno do insucesso escolar ao nvel do ensino secundrio.

    A segunda parte do trabalho remete-nos para as questes metodolgicas

    presentes no estudo emprico e constituda por dois captulos. No captulo 4

    descrevemos o desenvolvimento metodolgico da investigao, no qual se inclui a

    definio do modelo conceptual, objectivos do estudo, justificao das opes

    metodolgicas, amostras, instrumentos de medida utilizados, procedimentos de recolha

    de dados e, ainda, anlise e tratamento dos dados. No ltimo captulo desta segunda

    parte, procedemos apresentao, anlise e discusso dos resultados. neste captulo

    que apresentamos o estudo realizado com uma amostra de estudantes de uma Escola

    Secundria situada numa cidade a sul de Portugal. Refira-se que foi nossa inteno

    conhecer os meios socioeconmicos e familiares de origem dos jovens-adultos; analisar

    os condicionalismos presentes nas opes dos alunos por esta via de formao, bem

    como encontrar possveis relaes entre a opo por esta modalidade de formao.

  • 5

    Parte I ENQUADRAMENTO TERICO

    Captulo 1 - Formao Profissional e mbitos de actuao

    Captulo 2 Compreender a relao Famlia-Escola-

    Comunidade

    Captulo 3 (Des)motivao para o (In)sucesso escolar

  • 6

    Captulo 1 - Formao Profissional e

    mbitos de actuao

    1. Formao Profissional: Contributos para uma reflexo

    1.1. As componentes da Formao Profissional

    1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua

    1.2.1. As modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua

    1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica

    1.3.1. O Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica

    2. A implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional

    (QREN)

    2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades

    2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias

    2.2. A aprendizagem ao Longo da Vida (ALV)

    2.2.1. Estratgias Globais de Aprendizagem ao Longo da Vida

    2.2.2. Aprendizagens Formais e No Formais

    3. O papel da Educao e Formao no Percurso Escolar dos Jovens-adultos

    3.1. Investir na Educao e Formao

    3.2. Ensino Profissional de Jovens

    3.3. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio

    3.4. Dfice de qualificaes escolares

    3.4.1. Oferta de Formao Insuficiente

    3.5. Desemprego entre Jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal

    3.5.1. A implementao de Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA)

    como resposta face ao Desemprego?

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    7

    1. Formao Profissional: Contributos para a reflexo deste conceito

    1.1. As componentes da Formao Profissional

    Comeamos por fazer referncia a autores como Cardim (1998) que tm vindo a

    chamar a ateno para a importncia da formao profissional. Veja-se Imaginrio

    (1998), por exemplo, ao considerar que a formao profissional se traduz num processo

    global e permanente, atravs do qual as pessoas adquirem ou aprofundam competncias

    profissionais e relacionais, tais como conhecimentos, atitudes e capacidades. Na opinio

    do autor, a formao profissional apresenta como objectivos o exerccio de uma ou mais

    actividades profissionais, uma melhor adaptao s mutaes tecnolgicas e

    organizacionais e, ainda, o reforo da sua empregabilidade.

    Com base na reviso bibliogrfica efectuada por Duarte (1999), percebemos

    claramente que a formao profissional consiste num processo intencional e planeado

    sistematicamente, com a finalidade de alterar atitudes e comportamentos dos indivduos

    em situao de trabalho, tendo em vista a eficcia organizacional.

    A formao profissional consiste, deste modo, num conjunto de actividades que

    visam a aquisio de conhecimentos, capacidades prticas e atitudes exigidas para o

    exerccio das funes prprias relativamente a uma profisso ou grupo de profisses

    (CIME, 1991).

    Da anlise da literatura, foi possvel perceber que a formao profissional

    abrange trs nveis de interveno, os quais so essenciais para a realizao de uma

    determinada actividade profissional e que se referem s necessidades que os indivduos

    tm de aprender certos saberes tericos e operar cognitivamente sobre determinada

    tarefa (saber-ser), possuir motivao necessria, atitudes e comportamentos adequados

    para a realizao de uma mesma tarefa (saber-ser ou saber-estar) e, por ltimo, possuir

    as capacidades adequadas sua execuo (saber-fazer) (Meignant, 1999).

    Neste sentido, podemos afirmar que a formao profissional , por definio,

    uma via de preparao especfica para o desempenho de uma profisso ou actividade

    profissional, no caso da qualificao inicial ou da reconverso, ou para a actualizao

    do desempenho quando se trata de formao contnua (Cardim, 2000).

    Nas ltimas dcadas temos assistido, por um lado, a uma mudana nas

    organizaes, mormente na organizao do trabalho, quer pela introduo de

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    8

    tecnologias, quer pelas mutaes nas formas de produo e de comercializao. Por

    outro lado, a sociedade exige maior participao dos cidados nas decises do dia-a-dia

    e nas decises polticas, das quais depende o devir das prprias naes (Marques, 2001).

    A formao profissional acompanha, assim, naturalmente, estas modificaes,

    introduzindo as condies necessrias para o desenvolvimento integrado de

    competncias das pessoas falamos de competncias transversais, de currculos com

    equivalncia escolar, contedos relacionados com as tecnologias, com a organizao

    pessoal do trabalho diversificando os contedos de aprendizagem do Centro de

    Formao aos locais de trabalho e promovendo formas mais activas de participao

    das pessoas na formao (trabalhos de grupo, elaborao de projectos, execuo prtica

    de actividades mobilizadoras das competncias adquiridas, entre outras) (Carneiro,

    2000).

    neste quadro que se insere a preocupao de desenvolver nos formandos a

    autonomia e a iniciativa, assim como as capacidades de planear e perspectivar projectos

    de trabalho independentes, viveis e sustentveis, capazes de promover a sua realizao

    pessoal (Ferro e Rodrigues, 2000).

    Neste sentido, a formao profissional surge associada a processos de

    aprendizagem que visam o desempenho de tarefas vocacionais. Tais aprendizagens so,

    genericamente, delineadas pela organizao e visam, essencialmente, o

    desenvolvimento progressivo de disposies, saberes e competncias que se

    reproduzam em padres comportamentais elementares ao desempenho adequado de

    funes em contexto profissional (Cruz, 1998).

    O Decreto-Lei n 401/ 91 define a Formao Profissional (FP) como um

    processo global e permanente atravs do qual jovens e adultos, a inserir ou inseridos na

    vida activa, se preparam para uma actividade profissional (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16

    de Outubro de 1991).

    De modo geral, a Legislao Nacional apresenta as seguintes finalidades para a

    FP:

    a) Integrao e realizao socioprofissional dos indivduos com o objectivo

    de os capacitar para o desempenho dos diversos papis sociais;

    b) Adequao entre o trabalhador e o posto de trabalho, considerando as

    capacidades do mesmo, a mobilidade profissional e a definio e redefinio constante

    dos perfis profissionais;

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

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    c) Promoo da igualdade de oportunidades, no acesso formao,

    profisso e ao emprego; inclusivamente, progresso na carreira com o intuito de

    reduzir as assimetrias socioprofissionais, sectoriais e regionais, bem como a excluso

    social;

    d) Modernizao e desenvolvimento das organizaes, da sociedade e da

    economia, beneficiando o aumento da produtividade e da competitividade;

    e) Estmulo da criatividade, da inovao, do esprito de iniciativa e da

    capacidade de relacionamento (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991) .

    Com o objectivo de responder ao anterior mencionado, a FP deve favorecer a

    polivalncia e estruturar-se em mdulos, funcionando em ligao com os actuais

    contextos de trabalho. A sua organizao dever ainda ser efectuada sob a forma de

    cursos ou aces correspondentes a perfis de formao. Acresce a estes aspectos a

    durao e caractersticas dos cursos e aces, que devero ajustar-se s diferentes

    modalidades de formao.

    1.2. A Formao Profissional Inicial e Contnua

    Genericamente, a Legislao (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991)

    clarifica que a FP possui mltiplas vertentes, nomeadamente a formao scio-cultural,

    prtica, tecnolgica ou cientfica. Estas componentes adequam-se aos objectivos que

    prosseguem e aos nveis de qualificao para que preparam (Quadro 1).

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    10

    Quadro 1 - Componentes da Formao Profissional

    Compreende Permite

    Scio-Cultural

    Competncias,

    atitudes e conhecimentos

    gerais

    Integrao da Formao no

    processo de desenvolvimento pessoal,

    profissional e social dos sujeitos e sua

    insero no mercado de trabalho.

    Prtica

    Competncias

    Tcnicas

    Desenvolvimento de

    competncias indispensveis ao exerccio

    de uma profisso.

    Tecnolgica Conhecimentos

    Tecnolgicos

    Entendimento da resoluo de

    problemas e da prtica profissional.

    Cientfica

    Conhecimentos

    relativos s cincias

    bsicas.

    Fundamentar as respectivas

    tecnologias referentes s actividades

    profissionais.

    Fonte: Adaptado de Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991.

    Dentro da prpria FP, o maior ou menor grau de competncias adquiridas

    permite efectuar a distino entre formao especfica e formao geral. A primeira

    contribui para o aumento da produtividade dos participantes na organizao, enquanto a

    segunda potencia a produtividade do indivduo (Cruz, 1998).

    A FP pode ser inserida quer no sistema educativo, quer no mercado de trabalho.

    No sistema educativo, quando fornecida nas escolas e se destina aos Cursos de

    Educao e Formao de Adultos (EFA), os quais podem assumir uma vertente escolar

    ou uma dupla certificao (escolar e profissional), em substituio do Ensino

    Recorrente. A FP tambm pode ser inserida no mercado de trabalho, caso seja instituda

    em contexto empresarial, tanto para a populao activa como para candidatos ao

    primeiro emprego. Por sua vez, consoante os objectivos da FP, esta distingue-se em

    formao inicial e contnua, que passamos a explicitar.

    Segundo informaes recolhidas atravs da Direco Geral do Emprego e

    Formao Profissional (DGEFP, 2001), entende-se por formao profissional inicial a

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    11

    formao que visa a aquisio das capacidades indispensveis para o incio do exerccio

    de uma profisso.

    A Legislao Nacional, nomeadamente a referente ao Decreto-Lei n 401/ 91 de

    16 de Outubro de 1991, faz aluso necessidade de a formao inicial conceder, ainda,

    uma qualificao profissional certificada. Este tipo de formao assume especial

    relevncia no regime de aprendizagem das escolas profissionais e no ensino tecnolgico

    e profissional; porm, actualmente, j existe formao deste cariz em escolas de ensino

    pblico.

    Por sua vez, a formao profissional contnua engloba todos os processos

    formativos organizados e institucionalizados subsequentes FP inicial, com o desgnio

    de melhorar as competncias do indivduo, permitindo uma actualizao de

    conhecimentos. Tais premissas tornam-se indispensveis numa sociedade em constante

    adaptao s mudanas tecnolgicas e tcnicas. Deste modo, pretende-se o

    desenvolvimento social dos indivduos e aumento da contribuio destes para o

    desenvolvimento cultural, econmico e social (DGEFP, 2001).

    Sobre este assunto, Canrio (2000) lembra que os processos de formao

    profissional contnua so norteados para a qualificao e requalificao da mo-de-obra,

    factor essencial numa poltica desenvolvimentalista. O autor refere ainda que a

    formao profissional contnua de adultos se depara com uma acentuada mobilidade

    social que reproduz alteraes nas relaes entre a formao e o mundo do trabalho.

    Assim, para que se possa dar resposta ao acelerado processo de mudana com

    que hoje as sociedades se deparam, as organizaes necessitam de se adaptar e

    desenvolver estratgias que acompanhem essas mesmas mudanas sociais. Tal facto,

    implica produzir mudanas organizacionais que passam por mais trabalho em equipa e

    pensar escala da organizao como um todo. neste sentido que a formao se

    transforma numa componente essencial da gesto das organizaes (Bento e Tavares,

    2001).

    Podemos, ento, afirmar que as prticas de FP realizadas nas empresas so

    orientadas a fim de dotar os participantes de competncias gerais, nomeadamente

    liderana, gesto do tempo, comunicao, expresso, entre outros (Cruz, 1998).

    Canrio (2000) tambm defende que atravs de uma estratgia de formao

    global, activa e participativa de todos os membros de uma organizao que ser possvel

    dar uma resposta eficaz aos desafios anteriormente referidos. Neste sentido, a formao

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    12

    desempenha um papel crucial para a adaptao e desenvolvimento das organizaes

    perante os desafios.

    1.2.1. As Modalidades da Formao Profissional Inicial e Contnua

    As modalidades da FP, tanto inicial como contnua, assumem naturezas

    diferenciadas, tais como a iniciao, qualificao, aperfeioamento, reconverso e

    especializao. As duas primeiras iniciao e qualificao constituem modalidades

    de formao profissional inicial, enquanto que a qualificao, aperfeioamento,

    reconverso e especializao so abrangidas pela formao profissional contnua

    (Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991). O quadro que apresentamos, em

    seguida, exemplifica as modalidades e objectivos da Formao Contnua.

    Quadro 2 - Modalidades da Formao Contnua

    Modalidades da

    Formao Objectivos

    Aperfeioamento Aprofundamento e melhoria das capacidades j

    adquiridas por parte dos indivduos.

    Especializao Fornecer e desenvolver ou aprofundar

    conhecimentos e aptides profissionais.

    Promoo na Carreira Conferir conhecimentos e aptides profissionais

    fundamentais para o exerccio de funes de maior

    complexidade e responsabilidade.

    Reconverso

    Profissional

    Disponibilizar conhecimentos e aptides

    profissionais cruciais para o exerccio de tarefas e

    responsabilidades relativas ao contedo funcional da

    carreira.

    Fonte: Adaptado de Decreto-Lei n 401/ 91 de 16 de Outubro de 1991

    1.3. Formao Profissional na Administrao Pblica

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    13

    O Decreto-lei n 50/ 98 de 11 de Maro de 1998 estabelece as regras e os

    princpios orientadores da Formao Profissional na Administrao Pblica (adiante

    designada AP), e aplica-se aos servios e organismos da AP, ao pessoal que exera

    servios no mesmo tipo de servio e aos candidatos sujeitos a um processo de

    recrutamento e seleco, tal como sucede com os Cursos EFA que so implementados

    em escolas pblicas.

    A FP em regime de AP caracteriza-se como um processo global e contnuo,

    atravs do qual os funcionrios se capacitam para o exerccio da sua profisso, atravs

    da aquisio e do desenvolvimento de competncias cujo propsito a adopo de

    comportamentos ajustados ao desempenho profissional, assim como, a valorizao

    pessoal e profissional dos indivduos (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro).

    A FP ao nvel da AP tem os seguintes objectivos:

    a) Cooperar para a eficincia, a eficcia e a qualidade dos servios;

    b) Potenciar o desempenho profissional dos funcionrios e agentes da AP,

    estimulando a sua criatividade, a inovao, o esprito de iniciativa, o esprito crtico e a

    qualidade;

    c) Assegurar a qualificao dos funcionrios para o ingresso e acesso s

    carreiras;

    d) Contribuir para a mobilidade dos efectivos da AP;

    e) Complementar os conhecimentos tcnicos e os fundamentos culturais

    ministrados pelo sistema educativo (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro).

    O Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de Maro tambm distingue a FP na AP em

    formao inicial e formao contnua. A formao inicial habilita os formandos com

    conhecimentos e aptides para o exerccio das suas funes profissionais e desenvolve-

    se em duas fases: fase anterior admisso e fase subsequente admisso dos

    respectivos funcionrios. Este processo dever ser objecto de avaliao e de

    classificao. Por sua vez, a formao contnua tem como finalidade a promoo e

    valorizao pessoal e profissional dos indivduos que integram a AP, tendo em vista o

    desenvolvimento, inovao e mudana desta ltima. A formao contnua promovida

    a fim de completar a formao de base, e adaptar os conhecimentos e competncias

    realidade presente. Esta adaptao visa o ajuste s mudanas tcnicas e tecnolgicas, de

    modo a incrementar uma melhoria no desempenho de tarefas mais complexas.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    14

    Com base nos pressupostos acima referidos, importa mencionar de que modo a

    formao contnua contribui, na prtica, para promover a valorizao pessoal e

    profissional dos indivduos, tentando, sempre que possvel, completar a sua formao de

    base. Falamos, ento, de Cursos de Educao e Formao (CEF) e Cursos de Educao

    e Formao de Adultos (EFA).

    Os CEF destinam-se, preferencialmente, a jovens com idade igual ou superior a

    quinze anos que estejam em risco de abandono escolar ou que j abandonaram o ensino

    antes de completarem 12 anos de escolaridade. Estes cursos tambm integram

    indivduos que, aps concluso dos doze anos de escolaridade, no possuindo uma

    qualificao profissional, pretendem adquiri-la para ingresso no mundo do trabalho. Os

    CEF pretendem incentivar o prosseguimento de estudos e permitem o desenvolvimento

    de competncias profissionais ajustadas aos interesses dos jovens e s necessidades

    regionais e locais de emprego.

    No que se refere aos Cursos EFA, tm como objectivo proporcionar aos

    trabalhadores menos qualificados uma formao integrada de educao e formao que

    garanta as competncias fundamentais para o exerccio ou aperfeioamento de uma

    profisso. Estes cursos destinam-se a activos empregados ou desempregados, com idade

    igual ou superior a 18 anos, no qualificados ou sem qualificao adequada, para efeitos

    de insero no mercado de trabalho, que no tenham concludo a escolaridade bsica de

    4, 6 ou 9 anos.

    1.3.1. Sistema de Formao Profissional na Administrao Pblica

    Mais recentemente, a legislao nacional (Decreto-Lei n 50/ 98 de 11 de

    Maro) indica que esto habilitadas a realizar aces/ cursos de formao profissional

    na AP as seguintes entidades:

    a) Organismos centrais e sectoriais de formao com mbito de actuao para a

    administrao central, regional ou local;

    b) Servios e organismos de AP;

    c) Entidades formadoras pblicas ou privadas que sejam reconhecidas pelos

    respectivos ministrios da tutela em que se encontrem inseridas;

    d) Associaes sindicais e profissionais, dentro do seu mbito de actuao;

    e) Quaisquer outras entidades privadas.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    15

    Tal como sabido, Portugal enfrenta, em matria de formao profissional, dois

    grandes desafios que esto intimamente relacionados entre si.

    Contemplando as orientaes da OCDE (2005), o primeiro desafio, de natureza

    quantitativa, remete-nos para a necessidade urgente de assegurar um significativo

    aumento dos indivduos com acesso a formao, quer inicial, quer contnua e, se

    possvel, ao longo da vida. O segundo, de mbito qualitativo, consiste na necessidade de

    assegurar a relevncia e a qualidade do investimento em formao e, deste modo,

    aumentar a eficcia e a credibilidade da aplicao dos recursos destinados a estas

    medidas educativas.

    De acordo com estes dados, nos ltimos trinta anos, Portugal tem-se empenhado

    de forma significativa, especificamente, no que concerne aos nveis de escolarizao.

    Pese embora o empenho j realizado, h ainda um esforo suplementar a empreender:

    cerca de 3,5 milhes de activos tm um nvel de escolaridade inferior ao ensino

    secundrio e cerca de 485 000 jovens entre os 18 e os 24 anos esto a trabalhar sem

    terem concludo esse patamar de referncia de escolaridade (OCDE, 2005).

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    16

    2. A Implementao do Quadro de Referncia Estratgico Nacional

    (QREN)

    O Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN), estabelecido para o

    perodo de 2007 a 2013, assume como grande desgnio estratgico a qualificao dos

    portugueses, atravs da valorizao dos conhecimentos, da cincia, da tecnologia e da

    inovao, assim como da promoo de nveis elevados e sustentados de

    desenvolvimento econmico, scio-cultural e de qualificao territorial, num panorama

    de valorizao da igualdade de oportunidades e um aumento da eficcia e qualidade das

    instituies pblicas (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007).

    O QREN conta com o apoio dos fundos estruturais e do fundo de coeso,

    estabelecendo os indicadores de uma dinmica de sucesso econmico, social e territorial

    de Portugal, tendo por base trs Agendas Operacionais Temticas: Potencial Humano,

    Factores de Competitividade da Economia e Valorizao do Territrio.

    A Agenda para o Potencial Humano integra o conjunto das intervenes que

    visam a promoo das qualificaes escolares e profissionais dos portugueses e a

    promoo do emprego e da incluso social, sem descurar a valorizao da igualdade de

    gnero e da plena cidadania (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007). neste

    sentido que se estabelecem como prioridades estratgicas:

    - Promover a Qualificao dos Portugueses;

    - Promover o Crescimento Sustentado;

    - Garantir a Coeso Social;

    - Assegurar a Qualificao do Territrio e das Cidades;

    - Aumentar a Eficincia da Governao.

    No ponto que se segue nosso objectivo explicitar o mbito de actuao da

    Iniciativa Novas Oportunidades e seus princpios orientadores, em que destacamos o

    Sistema de Validao e Certificao de Competncias e a Aprendizagem ao Longo da

    Vida (Aprendizagens Formais e No Formais).

    2.1. A Iniciativa Novas Oportunidades

    A Iniciativa Novas Oportunidades (adiante designada INO) foi lanada no ano

    de 2005 e estabeleceu uma nova esperana no caminho da qualificao dos portugueses.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    17

    Esta iniciativa assenta no objectivo fundamental de conferir o nvel secundrio como

    qualificao de base para jovens e adultos e apresenta duas bases fundamentais para a

    sua aco:

    A) Para os jovens, dinamizar o ensino profissionalizante de nvel secundrio de

    forma a constituir uma real opo. Este objectivo aponta para que em 2010 o nmero de

    vagas em vias profissionalizantes ao nvel do ensino secundrio seja de metade do total

    da oferta neste nvel;

    B) Para os adultos com baixas qualificaes, a finalidade promover uma

    verdadeira e nova oportunidade por forma a poderem recuperar, completar e progredir

    nos estudos. O objectivo quantificado o de promover a qualificao de um milho de

    activos at 2010.

    Partindo do cenrio apresentado, em que existem graves dfices ao nvel da

    formao e qualificao, surge a INO que representa um novo impulso no caminho da

    qualificao dos portugueses. O objectivo que orienta esta iniciativa o da

    escolarizao geral da populao ao nvel do ensino secundrio que constitui um

    patamar educacional com forte expresso na estrutura de habilitaes escolares da

    populao dos pases com melhores ndices de desenvolvimento e tido como condio

    indispensvel de suporte s exigncias de desenvolvimento baseadas no conhecimento

    (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).

    A importncia de apostar na generalizao do nvel secundrio de escolaridade

    nitidamente assumida pela Comisso Europeia que estabeleceu o objectivo de, em 2010,

    85% das pessoas com 22 anos de idade na Unio Europeia (UE) terem completado o

    ensino secundrio.

    Paradoxalmente, a OCDE (2004) prope para Portugal, como prioridade, a

    necessidade de incrementar a produtividade da fora de trabalho, ou seja, o reforo da

    escolarizao ao nvel do secundrio. Neste sentido, a reduo do dfice de

    escolarizao da populao portuguesa favorece o crescimento, uma vez que melhora a

    qualidade do trabalho, ao mesmo tempo que facilita a adopo de novas tecnologias.

    Esta uma perspectiva que merece consenso alargado no mbito do dilogo

    social, em Portugal, pelo que foi considerada uma prioridade de interveno no Acordo

    de Poltica de Emprego, Mercado de Trabalho, Educao e Formao, celebrado entre o

    Governo e os Parceiros Sociais em Fevereiro de 2001, cujo objectivo consiste en

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    18

    (Iniciativa Novas

    Oportunidades, 2005-2010).

    Assim, surge a necessidade de investir em capital humano, o que decorre do seu

    reconhecido contributo para o crescimento econmico, bem como para uma

    multiplicidade de outros benefcios sociais. Estes benefcios tm uma traduo

    colectiva, no nvel de desenvolvimento e coeso da sociedade como um todo, e uma

    traduo individual por via das oportunidades de melhoria da qualidade de vida que

    proporcionam (OCDE, 2005).

    A concretizao da ambio de colocar o 12 ano como nvel de excelncia a

    atingir pela populao, passa pela implementao de algumas estratgias, como sejam: a

    elevao das taxas de concluso do nvel secundrio nos jovens, com um forte combate

    ao abandono precoce; uma aposta no reforo das vias profissionalizantes; e a persistente

    recuperao dos nveis de qualificao da populao adulta, atravs da conjugao da

    educao de adultos com a generalizao dos processos de reconhecimento, validao e

    certificao de competncias (Capucha et al, 2009).

    2.1.1. O Sistema de Validao e Certificao de Competncias

    Relacionados com o conceito de FP possvel identificar outros, entre os quais,

    a validao e certificao de competncias adquiridas, tanto em contextos formais,

    como em contextos informais. Este o ponto de partida para a construo de trajectrias

    individuais de aprendizagem e para a sua progressiva qualificao, de modo a responder

    diversidade de perfis apresentados pela procura (Referencial de Competncias-chave

    para a Educao e Formao de Adultos, 2006).

    Neste quadro, torna-se urgente adequar o desenvolvimento do modelo de

    certificao, como forma de garantia da qualidade das respostas de formao

    disponveis, no s assegurando a qualidade pedaggica atravs da certificao de

    formadores, mas sobretudo investindo em metodologias para o reconhecimento e

    validao das competncias adquiridas (Gonverno de Portugal, 2004).

    Assim sendo, segundo a mesma fonte de informao, indispensvel promover

    a qualidade da formao, nomeadamente ao nvel da actualizao permanente das

    prticas pedaggicas e dos contedos formativos, ao mesmo tempo que se promove a

    qualidade das entidades formadoras.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    19

    Com base nas reflexes em torno da temtica da Formao Profissional,

    importa, igualmente, salientar o papel fundamental que desempenha no percurso de vida

    do ser humano, uma vez que permite uma aquisio de conhecimentos, informaes e

    competncias, assim como a certificao, qualificao e validao das mesmas. Estes

    factores contribuem para a sensibilizao da populao em geral no que concerne ao

    aumento da escolaridade e aumento de competncias profissionais.

    2.2. Aprendizagem ao Longo da Vida

    A Aprendizagem ao Longo da Vida (adiante designada ALV) um conceito

    muito pertinente no mbito da investigao que realizmos e constitui-se como uma

    prioridade europeia. Como finalidades inerentes ALV destacamos: a melhoria de

    conhecimentos, aptides, competncias, promoo da empregabilidade e o exerccio de

    cidadania (Nvoa, 2001).

    De acordo com as informaes recolhidas junto da Comisso Europeia (2000), a

    ALV consiste num processo contnuo que abrange a dimenso temporal da

    aprendizagem (lifelong), assim como uma multiplicidade de espaos e contextos que

    fomentam a aprendizagem (lifewide).

    Actualmente, e cada vez mais, assistimos a um conjunto de preocupaes que

    so comuns a uma diversidade de pases do espao europeu. Essas preocupaes esto

    relacionadas com a necessidade urgente de desenvolver iniciativas que reconheam e

    validem as aprendizagens adquiridas ao longo da vida, nos seus diversos contextos

    (formal, no formal ou informal) (Comisso Europeia, 2000).

    Deste modo, as profundas alteraes intrnsecas ao processo de globalizao das

    economias, a evoluo do mundo laboral e organizaes, e a emergncia da Sociedade

    do Conhecimento e da Aprendizagem ao Longo da Vida, fazem com que esta

    problemtica adquira especial relevo (Quadro de Referncia Europeu, 2007).

    Neste enquadramento, o Reconhecimento e a Validao coexistem num

    paradigma de Aprendizagem ao Longo da Vida, ou seja, num quadro de pensamento

    que valoriza as aprendizagens que os indivduos realizam ao longo das suas trajectrias

    pessoais, sociais e profissionais, ultrapassando as tradicionais fronteiras espao-

    temporais delimitadas institucionalmente pelos sistemas de educao e formao

    (Nvoa, 2001).

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    20

    De acordo com Canrio (1999) esses saberes experienciais desenvolvem-se

    numa multiplicidade de situaes e de contextos de vida, obedecendo a uma lgica de

    construo e de difuso distinta daquela que tem sido a lgica dominante (disciplinar e

    transmissiva), que se traduz no contexto educativo por determinados modelos e prticas

    pedaggicas. As formas tradicionais que confirmavam a aquisio dos saberes na

    sociedade e que englobava a emisso de diplomas e certificados, tanto escolares como

    profissionais, atriburam, desde sempre, um estatuto privilegiado aos conhecimentos

    cientficos e tecnolgicos, face aos saberes experienciais. Em termos epistemolgicos, a

    valorizao dos saberes experienciais no seio dos sistemas tradicionais de educao e

    formao representa uma mudana paradigmtica significativa

    ,

    Partindo das perspectivas acima indicadas, percebemos a importncia destas

    reflexes para o nosso estudo, na medida em que a aprendizagem ao longo da vida e o

    sistema de certificao de competncias esto interligados. Pensar em ALV significa

    dizer que, se uma pessoa tem desejo para aprender, ter condies para o fazer, desde

    que tenha predisposio para a aprendizagem e existam ambientes em que tal seja

    possvel, ou seja, devidamente organizados para o efeito, como o caso dos Centros

    Novas Oportunidades, Escolas, Empresas/ Centros de Formao, entre outros.

    tambm importante que esses locais tenham disposio do indivduo que quer

    aprender, agentes de aprendizagem, isto profissionais que possam auxiliar no processo

    de aprender. Salientamos, ainda, que essa aprendizagem dever ir ao encontro das

    necessidades do mercado de trabalho, para que seja possvel combater, por exemplo, o

    desemprego.

    Em linhas gerais, o que se pretende enfatizar, com a aprendizagem ao longo da

    vida e com o sistema de certificao de competncias, o facto de a aprendizagem

    acontecer na escola e tambm durante a vida profissional, pelo que estamos a falar de

    um alargamento da aprendizagem que se faz na infncia ou na terceira idade. Assim

    sendo, os indivduos devem ter sua disposio meios que possibilitem uma

    continuao do processo de aprendizagem, interagindo e recebendo ajuda dos

    respectivos agentes de aprendizagem e, simultaneamente, favorecendo a construo do

    conhecimento.

    Com o propsito de facilitar a aprendizagem ao longo da vida, a nossa sociedade

    tem que estar consciente de que as pessoas aprendem de maneiras diferentes, pelo que

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    21

    tambm deve oferecer diferentes ambientes de aprendizagem. neste contexto que

    importa reflectir, ainda que de uma forma breve, sobre a aprendizagem formal e no

    formal.

    2.2.1. Aprendizagens Formais e No Formais

    As aprendizagens formais, no formais e informais so conceitos que merecem

    especial ateno, na medida em que contribuem para a aprendizagem ao longo da vida e

    sua adequao.

    A aprendizagem formal aquela que se desenvolve em instituies de ensino e

    formao e conduz aquisio de diplomas e qualificaes. Por outro lado, a

    aprendizagem no-formal, decorre de aces desenvolvidas no exterior dos contextos

    formais e, geralmente, no conduzem certificao. Quanto aprendizagem informal,

    a que resulta das mais diversas situaes de vida e, na maioria das vezes, no

    reconhecida (Marsick & Watkins, 1990; Misko, 1996; Guthrie & Barnett, 1996).

    Assim, essencial assegurar e dar o devido valor s aprendizagens no-formais e

    informais, uma vez que estas desempenham no processo de aprendizagem um papel

    determinante e contribuem para o processo de aprendizagem ao longo da vida.

    2.2.2. Estratgias globais de Aprendizagem ao Longo da Vida

    Na sequncia do Conselho Europeu de Lisboa (2000), foi elaborado um

    Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida, o qual apresenta seis mensagens-

    chave que se tm vindo a constituir como estratgias globais, coerentes e eficazes de

    ALV:

    - Novas competncias bsicas para todos;

    - Mais investimento em recursos humanos;

    - Inovao no ensino e na aprendizagem;

    - Valorizar a aprendizagem;

    - Repensar as aces de orientao e de consultoria;

    - Aproximar a aprendizagem dos indivduos.

    A primeira estratgia de ALV (novas competncias bsicas para todos) tem

    como prioridade garantir o acesso da populao aprendizagem e aquisio ou

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    22

    renovao de competncias que so imprescindveis sociedade do conhecimento,

    como por exemplo, a literacia digital, que cada vez mais importante nos nossos dias.

    A segunda mensagem (mais investimento em recursos humanos), pretende dar

    uma maior visibilidade ao investimento nos recursos humanos, o que pode ser

    conseguido atravs do desenvolvimento de mtodos de ensino e aprendizagem eficazes

    e que permitam a aquisio de conhecimento ao longo da vida (inovao no ensino e na

    aprendizagem).

    A quarta estratgia de ALV remete-nos para a valorizao da aprendizagem cujo

    objectivo melhorar a forma como so entendidos e avaliados os resultados da

    aprendizagem (aprendizagem no formal e informal).

    As aces de orientao e consultoria (quinta mensagem) visam assegurar o

    acesso de todos a informaes e consultoria de qualidade sobre oportunidades de

    aprendizagem em toda a Europa e durante toda a vida. Por fim, a ltima mensagem,

    aproximar a aprendizagem dos indivduos, est relacionada com a urgncia de

    providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida e, to prximas quanto

    possvel, dos aprendentes, nas suas prprias comunidades e apoiadas, se necessrio, em

    estruturas TIC.

    Deste modo, percebemos que a formao no somente dirigida a jovens e

    pessoas inseridas no mercado de trabalho, razo pela qual a valorizao das

    competncias profissionais constitui um dos objectivos primordiais das instituies

    promotoras de cursos de formao profissional. Contudo, para que tal seja possvel,

    essencial desenvolver um referencial formativo que seja composto por determinadas

    unidades capitalizveis e conhecimentos, assim como, competncias que demonstrem o

    perfil adequado para uma determinada profisso (Reflexes sobre um Percurso

    Profissional, 2010). Este referencial formativo pode ser demonstrado atravs da

    organizao curricular dos Cursos EFA que so nosso objecto de estudo.

    As qualificaes profissionais dividem-se em cinco nveis:

    a) O nvel 1 corresponde a uma sensibilizao (auxiliar; ajudante), isto , so

    tarefas independentes da profisso;

    b) o nvel 2 corresponde a uma habilitao escolar de 6/9 anos;

    c) o nvel 3 equivale a um nvel tcnico (12 ano);

    d) o nvel 4 equivalente ao bacharelato (diplomas/ cursos de especializao

    tecnolgica CET; ps secundrio);

    e) por ltimo, o nvel 5 corresponde licenciatura.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    23

    Ao longo do nosso trabalho, iremos focar, predominantemente, o nvel 3 de

    formao profissional, que equivale a um nvel tcnico, no qual os formandos obtm o

    dcimo segundo ano de escolaridade.

    No ponto que se segue, pretendemos reflectir sobre o papel da educao e

    formao no percurso escolar dos jovens-adultos. Para tal, comeamos por salientar que

    o investimento na educao e formao reproduz vantagens significativas nas diversas

    vertentes de organizao da vida social.

    Centremo-nos, agora, numa breve reflexo sobre a educao e formao no

    percurso escolar dos jovens-adultos e, porteriormente, no ensino profissional de jovens.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    24

    3. O papel da educao e formao no percurso escolar dos jovens-adultos

    A educao e formao adquire especial relevncia, no sentido em que promove

    uma maior igualdade social, condies de bem-estar social, maior tolerncia s

    diferenas sociais e raciais e, ainda, porque se constitui como geradora de sentimentos

    de segurana entre os cidados, ao mesmo tempo que, permite atenuar a segregao

    social da qual muitos jovens so, particularmente, vtimas (IEFP, 2005).

    Nesta linha, a OCDE (2005) salienta a importncia da promoo do acesso

    educao, admitindo que, com o reforo das polticas educativas, ser possvel

    proporcionar melhores nveis de participao cvica, poltica e cultural, o que origina

    maior igualdade de oportunidades para todos.

    A educao tambm condio indispensvel para o desenvolvimento pessoal e,

    por isso, um factor decisivo para o aproveitamento do investimento em formao

    (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).

    Conclumos este ponto, referindo que o nvel de escolaridade e a literacia so

    factores determinantes para o desenvolvimento da capacidade de aprofundar trajectrias

    de aprendizagem e de maximizar a eficcia de investimentos formativos, na medida em

    que investir em educao corresponde a aprender mais mas, tambm, criar melhores

    condies para dar continuidade a trajectrias de aprendizagem ao longo da vida,

    desenvolvendo, simultaneamente, elevados nveis de empregabilidade (IEFP, 2005).

    3.1. Ensino Profissional de Jovens

    Os sistemas de formao necessitam de assegurar um conjunto de competncias

    e atitudes que possibilitem aos jovens uma integrao na vida activa, de modo a facilitar

    a sua adaptao face s constantes mudanas tecnolgicas (IEFP, 2001). Como tal, o

    insucesso e abandono escolar conduzem a um aumento significativo do nmero de

    jovens que deixa o sistema sem possuir as qualificaes necessrias para ingressar no

    mundo do trabalho (OCDE, 1989).

    Segundo dados fornecidos pelo Ministrio da Educao (2009), no ano de 2005,

    cerca de 500 mil jovens, entre os 18 e os 24 anos (45% do total), estavam a trabalhar

    sem terem concludo os 12 anos de escolaridade, 55% dos quais sem possurem o 9

    ano.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    25

    Paradoxalmente, surge a necessidade de promover o ensino profissionalizante

    junto dos jovens, fomentando novas oportunidades de concluso do ensino secundrio e

    com uma dupla certificao (escolar e profissional). Com esta iniciativa, pretende-se

    combater o insucesso e abandono escolar precoce. Esta valorizao do ensino

    profissional no mbito do sistema de educao e formao consiste numa alternativa s

    restantes vias educativas (ME, 2005). Tendo por base esta linha de pensamento,

    consideramos essencial compreender quais os motivos que conduzem, cada vez mais, os

    jovens-adultos a optar por cursos de formao profissional, ao invs de frequentarem o

    ensino regular.

    No seguimento dos argumentos apresentados, considermos pertinente explorar

    a distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal, entre os anos de

    1996/97 at 2007/08. A leitura do Grfico 1 permite-nos observar um aumento

    significativo do nmero de alunos matriculados em Cursos Profissionais e Cursos

    Tecnolgicos, comparativamente com os Cursos Gerais/ Cientfico-Humansticos.

    Grfico 1 - Distribuio dos alunos matriculados, por modalidade, em Portugal

    (1996/97 e 2007/08)

    Fonte: Adaptado de Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao/ Ministrio da Educao (2009)

    Os dados apresentados revelam um aumento de 19% comparativamente ao

    nmero de alunos que, no ano de 1996/97, frequentavam cursos profissionais,

    nomeadamente, Cursos de Educao e Formao (CEF), em relao ao ano 2007/08,

    passando de 7% para 26%, pelo que verificamos uma reduo em 8% dos alunos que

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    26

    frequentavam Cursos Gerais. Estes dados revelam que os jovens-adultos tm vindo a

    aderir, em larga escala, a Cursos de Formao Profissional, passando para segundo

    plano os Cursos Gerais. nesta perspectiva que o nosso estudo assume especial

    importncia, uma vez que pretende desmistificar as motivaes que conduzem os jovens

    formao profissional.

    3.2. Cursos Profissionais no Ensino Secundrio

    Estudos recentes promovidos pela ANQ revelam que o alargamento dos cursos

    profissionais tem tambm contribudo para o aumento do nmero de alunos no ensino

    secundrio; sendo, ainda, de assinalar uma reduo da taxa de reteno, de 32 para 25

    por cento (ME, 2007). A mesma fonte revela, ainda, que no ano lectivo de 2007, cerca

    de 282,188 jovens se matricularam para a concluso do ensino secundrio, sendo que

    62,996 se inserem no ensino profissional.

    Segundo dados do Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao do

    Ministrio da Educao (GEPE-ME), esta expanso da populao estudantil no ensino

    secundrio deve-se, sem dvida, ao aumento dos alunos matriculados em cursos

    profissionais, que passaram de 44,466 alunos, no ano de 2006/2007, para 62,996, no ano

    lectivo de 2007/2008 (GEPE-ME, 2007).

    neste contexto que consideramos essencial destacar que 35,4 por cento dos

    alunos esto matriculados em vias profissionalizantes, aproximando-se, assim, dos

    valores registados nos pases da OCDE, em que cerca de 50 por cento dos jovens opta

    pelo ensino de formao profissional.

    A sada precoce do sistema escolar tambm alvo de investigaes e podemos

    afirmar que se registam resultados positivos, sendo que a percentagem de jovens dos 18

    aos 24 anos que no concluiram o ensino secundrio e no estiveram inscritos em

    aces de educao e formao, baixou trs pontos percentuais, descendo em 2007 para

    36,3 %. Estes dados revelam ainda que mais de 30 mil jovens se mantiveram no sistema

    de ensino (ME, 2007).

    Seguindo esta ideia, torna-se relevante referir que os valores apurados pelo

    GEPE, no ano lectivo de 2006/2007, apresentam uma acentuada melhoria, em todos os

    nveis de ensino, em relao taxa de reteno e desistncia escolar. Contudo, centrar-

    nos-emos no esclarecimento desses valores apenas em relao ao ensino secundrio,

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    27

    pois o que, em particular, nos interessa. Assim, no ensino secundrio, essa evoluo

    permitiu passar de 35,9 %, no ano de 1996/1997 para 24,6 % em 2006/2007.

    3.3. O Dfice de Qualificaes

    Com a finalidade de apoiar o percurso de ajustamento aos padres mdios de

    desenvolvimento da Unio Europeia, Portugal tem beneficiado de fundos estruturais.

    No entanto, apesar disso, a progresso dos indicadores que reflectem os ganhos

    relativos ao investimento em capital humano tem sido muito lenta e Portugal continua

    numa posio de grande desvantagem face maioria dos seus parceiros na Unio

    Europeia. Com base no cenrio apresentado, no possvel perspectivar uma inverso

    da situao de partida num curto espao de tempo (Iniciativa Novas Oportunidades,

    2005-2010).

    Apesar de a Lei de Bases do Sistema Educativo, publicada em 1986 (Lei n

    46/86 de 14 de Outubro) estabelecer em nove anos a escolaridade obrigatria, com

    obrigatoriedade de frequncia da escola at aos quinze anos de idade (Portaria n

    756/2007, revoga a portaria n 18/1991 de 9 de Janeiro, que regulamenta o n 3 do

    Artigo 6 da Lei n 46/1986 e Lei n 49/2005 segunda alterao Lei de Bases do

    Sistema Educativo), os dados relativos ao nmero de anos de escolarizao da

    populao adulta nos pases da OCDE confirmam que Portugal est ainda distante do

    objectivo de recuperar o grau de escolarizao da sua populao (OCDE, 2005).

    Neste sentido, a compartimentao do Ensino Bsico em trs ciclos deixou de

    fazer sentido, uma vez que, a escolaridade aumentou para doze anos (Lei n 85/2009).

    Este aumento da escolaridade obrigatria para doze anos dever dotar os jovens de uma

    educao e formao, geral e abrangente, e de preparao de novos tipos de ofertas

    formativas. A Lei n 85/2009, estabelece o regime de escolaridade obrigatria para as

    crianas e jovens que se encontram em idade escolar e consagra a universalidade da

    educao pr-escolar para as crianas a partir dos 5 anos de idade.

    No seguimento da linha desta anlise, apresentamos, de seguida, a mdia de anos

    de escolarizao da populao adulta em diversos pases (Tabela 1). De referir que

    Portugal apresenta valores muito reduzidos no mbito da escolarizao da populao

    adulta.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    28

    Tabela 1 - Mdia de anos de escolarizao da populao adulta

    Pases Mdia

    Noruega 13,8

    Dinamarca 13,6

    Alemanha 13,4

    Luxemburgo 13,4

    Finlndia 12,1

    Frana 11,5

    Grcia 10,5

    Espanha 10,5

    Turquia 9,6

    Mxico 8,7

    Portugal 8,2

    Mdia OCDE 12,0

    Fonte: Retirado de OCDE 2005

    Na tabela abaixo, apresentamos alguns dados da populao entre os 18-24 anos

    que no se encontra a frequentar qualquer grau de ensino, segundo o nvel de instruo,

    entre os anos 1991 e 2001.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    29

    Tabela 2 - Populao entre 18-24 anos que no frequenta qualquer grau de

    ensino (1991-2001)

    1991 2001

    N % N %

    Populao total 18-24 anos 1.097.208 100 1.083.320 100

    Sem o 3. ciclo completo 594.004 54 266.052 25

    Sem o secundrio completo 104.560 10 219.155 20

    Total inferior ao secundrio 698.564 64 485.207 45

    Fonte: Retirado de INE, Recenseamento Geral da Populao (2001)

    Tendo como fonte de informao o Instituto Nacional de Estatstica (INE, 2001),

    percebemos, atravs da anlise da tabela 2, que todos os anos um conjunto de jovens

    pouco escolarizados integra diversos sectores do mercado de trabalho que so pouco

    exigentes em matria de qualificaes (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).

    Esta iniciativa regulamenta ainda que, na maior parte das vezes, estes jovens j

    no regressam ao sistema educativo para completar o nvel de instruo atingido, pois o

    ensino secundrio est predominantemente direccionado para os jovens que pretendem

    ingressar no ensino superior, no estando disseminado como um ciclo terminal, e

    tambm porque as ofertas formativas existentes ainda so insuficientes.

    De seguida, apresentamos alguns dados relativos evoluo das taxas de

    reteno e desistncia, desde o ano 1995/96 at 2002/03 (Tabela 3).

    Tabela 3 - Evoluo das Taxas de Reteno e Desistncia

    9

    5/96

    9

    6/97

    9

    7/98

    9

    8/99

    9

    9/00

    0

    0/01

    0

    1/02

    0

    2/03

    Ensino

    Bsico

    1

    3,8

    1

    5,2

    1

    3,8

    1

    3,2

    1

    2,6

    1

    2,7

    1

    3,6

    1

    3,0

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    30

    Ensino

    Secundrio

    3

    3,1

    3

    5,7

    3

    5,6

    3

    6,0

    3

    6,8

    3

    9,4

    3

    7,4

    3

    3,7

    Fonte: Retirado de GIASE, Estatsticas da Educao (2005)

    Atravs da anlise da tabela supra mencionada, depreendemos que as taxas de

    insucesso e de abandono se registam maioritariamente no ano inicial de cada ciclo de

    estudos e, com maior expresso no 10. ano de escolaridade, facto que se poder

    explicar por ser a passagem do 3. ciclo para o ensino secundrio. Deste modo,

    realamos a necessidade de adoptar medidas que previnam as dificuldades verificadas

    ao nvel da progresso escolar e que incentivem a permanncia dos jovens em percursos

    de escolarizao mais longos (Iniciativa Novas Oportunidades, 2005-2010).

    Anlises mais detalhadas relativamente s taxas de abandono escolar, permitem

    concluir que em Portugal existem significativas disparidades face aos nveis locais e

    regionais e, por este motivo, que se adoptaram estratgias de interveno

    territorialmente diferenciadas (Agncia Nacional para a Qualificao, 2007).

    3.3.1. Oferta de Formao Insuficiente

    Com base nas informaes recolhidas junto da Agncia Nacional para a

    Qualificao (2007), percebemos que, em parte, o nosso sistema de ensino tambm

    responsvel pela reduzida escolarizao dos jovens, uma vez que a rede de cursos

    profissionais qualificantes ainda bastante tnue, apesar da diversidade de oferta

    formativa que actualmente existe.

    Centremo-nos, agora, no caso do ensino bsico em que estas ofertas formativas

    tm uma expresso reduzida e destinam-se essencialmente a jovens com mais de 15

    anos. Do conjunto de cerca de 121 mil jovens activos com menos de 25 anos que no

    tm o 9 ano, apenas cerca de 12 mil esto a estudar (ME, 2005).

    Seguindo as informaes reveladas pela Agncia Nacional para a Qualificao

    (2007), constatamos que, ao nvel do secundrio, o sistema de ensino progrediu de

    forma muito subordinada ao prosseguimento de estudos, designadamente no ensino

    superior, de que indicador o grande predomnio do nmero de alunos matriculados nos

    cursos gerais em detrimento dos cursos de pendor mais vocacional .

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    31

    Destacamos este aspecto uma vez que a concentrao de jovens em cursos

    direccionados para o prosseguimento de estudos, em prol das variantes de ensino de

    natureza tecnolgica e profissionalizante, bastante superior em Portugal quando

    comparado, por exemplo, com outros pases da OCDE (71,7% Portugal 48,5% OCDE,

    2001).

    Seguidamente, apresentamos como exemplo de cursos de natureza tecnolgica e

    profissionalizante, os Cursos EFA (Educao e Formao de Adultos) que surgiram

    como resposta face a uma insuficiente oferta de formao. Assim, os Cursos EFA

    destinam-se a activos empregados ou desempregados, com idade igual ou superior a 18

    anos, no qualificados ou sem qualificao adequada, para efeitos de insero no

    mercado de trabalho, que no tenham concludo a escolaridade bsica de 4, 6 ou 9 anos.

    Esta modalidade tem, assim, como objectivo proporcionar aos trabalhadores menos

    qualificados uma formao integrada de educao e formao que garanta as

    competncias fundamentais para o exerccio de uma profisso (Guio de

    Operacionalizao dos Cursos EFA, 2009).

    O Porteflio Reflexivo de Aprendizagem (PRA) no apenas uma compilao

    de trabalhos, visto que decorre da metodologia de evidenciao de competncias e

    aprendizagens preconizadas pelo processo de reconhecimento, validao e certificao

    de competncias do nvel secundrio. So etapas necessrias para a construo de um

    resultados, direccionar para novos desafios (Guio de Operacionalizao dos Cursos

    EFA, 2009, pag. 70).

    3.4. Desemprego entre jovens-adultos com baixa escolaridade em Portugal

    Tendo em conta o nosso objecto de estudo, importa, ainda, abordar a temtica do

    desemprego em Portugal, sobretudo, em jovens-adultos com baixa escolaridade e que se

    encontram em situao de desemprego, ou empregos precrios.

    Em primeiro lugar, de referir que o investimento em educao e formao

    diminui significativamente o risco e durao do desemprego e aumenta as

    probabilidades de reinsero no mercado de trabalho (IEFP, 2005). Deste modo, os

    dados do desemprego em Portugal, datados de 2005, revelam uma tendncia de

    aumento gradual do nvel de desemprego nas pessoas com menores habilitaes,

    principalmente, no grupo dos desempregados de longa durao.

  • Captulo 1 Formao Profissional e mbitos de actuao

    32

    De acordo com os resultados escolares apurados pelo Gabinete de Estatstica e

    Planeamento da Educao (GEPE) relativos taxa de reteno e desistncia escolar, no

    ano lectivo de 2006/2007, verifica-se uma melhoria acentuada em todos os ciclos de

    ensino. No mbito do ensino secundrio, esta evoluo permite passar de 35,9 por cento

    em 1996/1997 para 24,6 por cento em 2006/2007. Esta melhoria dos resultados, ao

    mesmo tempo que aumenta o nmero de estudantes nos estabelecimentos de ensino,

    resulta, desde logo, do empenho dos professores e das escolas, que tm vindo a realizar

    um trabalho persistente no combate ao insucesso escolar e ao abandono precoce, com

    resultados visveis para milhares de jovens e suas famlias (Agncia Nacional para a

    Qualificao, 2007).

  • 33

    Captulo 2 A importncia da Famlia

    no Meio Escolar

    1. Reflexes em torno do Conceito de Famlia

    1.1. Estrutura da Famlia

    1.2. Tipos de Famlia

    1.3. Novos Papeis Parentais

    2. A relao entre Escola, Famlia e Comunidade

    2.1. A Formao Parental como forma de reforar a parceria entre pais e

    professores

  • Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar

    34

    Neste captulo, propomo-nos reflectir sobre a importncia da famlia no meio

    escolar, incidindo, particularmente, sobre o conceito de famlia, destacando a estrutura e

    tipo de famlias e os novos papis parentais. De referir que as concepes aqui

    apresentadas resultam sobretudo de uma pesquisa bibliogrfica centrada em algumas

    investigaes realizadas na rea da Psicologia.

    1.Reflexes em torno do Conceito de Famlia

    De acordo com Oliveira (2006), tal como a clula a unidade do corpo orgnico,

    a famlia tem sido considerada como a clula fundamental da vida social.

    A famlia assume-se como a instituio social bsica, a partir da qual outras se

    desenvolveram, dada a complexidade da vida social. Aceite como a mais antiga das

    instituies sociais humanas, reveste-se de um carcter universal, embora as formas de

    vida familiar variem de sociedade para sociedade, e de gerao para gerao (Pais

    Ribeiro, 2006).

    Segundo Oliveira (2006) podemos considerar alguns aspectos reveladores das

    mudanas ocorridas na famlia, tais como: o fim da famlia como unidade de produo

    econmica, a baixa da taxa de natalidade, o divrcio, a unio livre, os filhos que so

    entregues aos jardins-de-infncia e escola, entre outras mudanas substanciais nos

    papis da famlia moderna.

    Em linhas gerais, para Cruz (2005), a famlia constitui um grupo onde se

    estabelecem relaes de parentesco entre os seus membros, isto , relaes baseadas em

    laos de sangue, de casamento ou adopo.

    A famlia tem assim reflectido as mudanas que se observam no campo da

    produo e das mentalidades, sendo hoje uma instituio em mudana (Gis, 2006).As

    alteraes acima descritas, de mbito social e biolgico, sem esquecer o aumento da

    esperana mdia de vida, tm obrigado a famlia a adaptar-se; o que, por conseguinte,

    origina novas formas de organizao (Oliveira, 2006).

    No que concerne famlia tradicional, podemos encontrar mudanas nos

    seguintes aspectos:

    Novos Tipos de Famlias, com o aparecimento de famlias monoparentais

    e famlias recompostas ou homossexuais.

    Novas Relaes entre Geraes, o que implica uma participao mais

    activa dos avs nas funes habitualmente entregues famlia nuclear.

  • Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar

    35

    Tipos de

    Famlias

    Nucleares (com ou sem vnculos

    matrimoniais)

    Monoparentais

    Recompostas/ reconstrudas

    Novos relacionamentos entre os membros do casal, em que se destaca

    uma aproximao dos papis familiares e a democratizao das relaes conjugais.

    Para uma melhor compreenso, segue-se uma sntese sobre a estrutura da

    famlia, os tipos de famlia e os novos papis parentais.

    1.1. Estrutura da Famlia

    O tipo de famlia designado por famlia extensa ou consangunea consiste em

    famlias com mais de duas geraes, incluindo os pais, os filhos casados ou solteiros, os

    genros e noras, os tios e os primos (Oliveira, 2006).

    Porm, a famlia normalmente pensada em termos de um grupo mais restrito,

    isto , o marido (pai), a mulher (me) e os filhos; e a chamada famlia conjugal ou

    nuclear que se baseia no relacionamento conjugal. Em qualquer dos casos apresentados,

    a famlia partilha uma residncia comum e os membros que a constituem cooperam para

    a satisfao das suas necessidades (Relvas & Alarco, 2002).

    1.2. Tipos de Famlia

    De seguida, apresentamos uma figura que pretende esquematizar os trs tipos de

    famlias referenciados por Relvas e Alarco (2002): Nucleares, Monoparentais e

    Recompostas/ reconstrudas.

    Figura 1- Tipos de Famlia

    Analisando a Figura 1, depreendemos que a famlia nuclear se pode definir como

    um grupo domstico, formado por pai, me e filhos, que podem ou no ter vnculos

  • Captulo 2. Importncia da Famlia no Meio Escolar

    36

    matrimoniais; a famlia monoparental consiste numa famlia formada por pai ou me e

    filhos, sendo fruto da viuvez, divrcio ou opo por um dos progenitores. Em relao

    famlia recomposta, podemos definir este tipo de famlia como resultante de um novo

    casamento (ou unio), com a reunio dos filhos dos casamentos anteriores (Oliveira,

    2006).

    1.3. Novos Papis Parentais

    As mudanas na estrutura e funes da instituio familiar traduzem as

    mudanas nas outras instituies com as quais est relacionada (Oliveira, 2006).

    Tal como sugeria Ferrarotti (1976, citado por Gis, 2006), a famlia extensa,

    adequada sociedade tradicional, transformou-se na famlia nuclear, que melhor

    corresponde s caractersticas scio-econmicas e culturais da sociedade industrial e

    urbana.

    As tarefas educativas passam, ento, a ser desempenhadas tambm por outras

    instituies, das quais a escola e os media so os exemplos com mais relevo (Fu