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INDÚSTRIA CULTURAL Profº Ney Jansen, professor de sociologia no Colégio Estadual do Paraná

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INDÚSTRIA CULTURAL

Profº Ney Jansen, professor de sociologia no Colégio Estadual do Paraná

A-ANTECEDENTES• 1500-1800: Transformação da cultura popular em mercadoria

• Declínio das feiras de artistas ambulantes

• “Comercialização do lazer” nas cidades > “os homens de negócio”começam a encarar as atividades de lazer como uma atividadelucrativa e extensa.

• Passagem gradual das formas mais espontâneas e participativas deentretenimento para espetáculos mais formalmente organizados ecomercializados para os espectadores:

• Exemplos:

Na emergência do circo de um local aberto para um recinto fechado.

No campo o mesmo processo levou ao enfraquecimento da poesiapopular tradicional. Os novos hábitos de trabalho suplantavam oentretenimento de “ouvir a narrativa lendária”.

Na emergência do livro impresso.

• Apesar da dificuldade do acesso aos livros peloscamponeses, estes conseguiam obter de “mascates”comprando livros pequenos e folhetos de má qualidade apreços baixos e que tinham ao mesmo tempo umalinguagem acessível.

• Esse impacto da alfabetização da cultura popular tradicionalconvertia a literatura popular em mercadoria com apadronização do formato, com “títulos sensacionais” paraatrair o comprador, por exemplo.

• Mas, para o cantor ou contador de histórias tradicional afolha impressa poderia ser algo positivo com a ampliaçãodo seu repertório mas que, a longo prazo era negativo pois ocomprador do texto impresso podia dispensar àapresentação oral.

• Após a Revolução Francesa, a cultura popular tornou-se“politizada”. Apareciam jornais populares que podiam seracompanhados mesmo pelos analfabetos através dosdiscursos nas ruas e observação de imagens (gravuras).

• Outro grande fator que contribuiu para uma transformaçãocontínua e cumulativa da cultura material foi a imprensa. Osjornais populares faziam saber ao povo que ele não estavasozinho, em outras regiões e nações outras pessoas estavamlutando pela mesma causa. Os conservadores entravam emum dilema, pois para impedir que os radicaismonopolizassem os meios de comunicação eles teriam quefazer seus próprios jornais.

A INDÚSTRIA CULTURAL

• A indústria cultural, os meios de comunicação, de massa e acultura de massa surgem como funções do fenômeno daindustrialização.

• É esta “indústria”, através das alterações que produz nomodo de produção e na forma do trabalho humano, quedetermina um tipo particular de indústria (a cultural) e decultura (a de massa),

• Neste novo modelo implanta-se os princípios em vigor naprodução econômica em geral: A cultura — feita em série,industrialmente, para o grande número — passa a ser vistanão como instrumento de livre expressão, crítica econhecimento, mas como produto trocável por dinheiro eque deve ser consumido como se consome qualquer outracoisa.

• Theodor Adorno (1903-1969) e MaxHorkheimer (1895-1973), pensadores alemãesprocuraram analisar a relação entre cultura eideologia com base no conceito de indústriacultural.

• Apresentaram o conceito em 1947 no texto “Aindustria cultural: o esclarecimento comomistificação dasmassas”

Características básicas

• Exploração comercial• Vulgarização da cultura • Reprodução de ideologias dominantes • Possibilidade de homogenização das pessoas,

grupos, e classes sociais; • Sedução: coloca a felicidade imediatamente nas

mãos dos consumidores mediante a compra de alguma mercadoria ou produto cultural.

• Cria-se assim uma subjetividade uniforme e, por isso, massificada

“A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deveseduzir e agradar o consumidor. Para seduzí-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-loter informações novas que perturbem, mas devedevolver-lhe, com nova aparência, o que ele sabe, já viu,já fez. A ‘média’ é o senso-comum cristalizado que aindústria cultural devolve com cara de coisa nova [...].Dessa maneira, um conjunto de programas e publicaçõesque poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua democratização, poisse dirigem a um público transformado em massa inculta,infantil, desinformada e passiva.”

(CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 330-333.)

• Por meio da ideologia associada à mundialização docapital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, oqual se reflete na resposta social às marcas.

• Os padrões estéticos, e morais, ideologias, tipos deentretenimento que existem na televisão, no cinema,em revistas, etc, podem ser enquadrados na definiçãode indústria cultural de Adorno e Horkheimer.

• Uma forma de padronização e alienação da realidademediante sedução do consumidor e a reprodução de

ideologias dominantes desprovidas de criticidade.

Nos diversos filmes de ação, somos tranquilizados com a promessa de queo vilão terá o castigo merecido. Tantos nos sucessos musicais como nosfilmes, a vida parece dizer que tem sempre as mesmas tonalidades e quedevemos nos habituar a seguir os passos previamente marcados.

Dessa forma, sentimo-nos integrados numa sociedade imaginária, semconflitos, sem desigualdades. A diversão, nesse sentido, é semprealienante, conduz à resignação e em nenhum momento nos instiga arefletir sobre a sociedade em que vivemos.

A indústria cultural transforma as atividades de lazer em umprolongamento do trabalho, promete ao trabalhador uma fuga docotidiano como paraíso.

Por meio da sedução e do convencimento, a indústria cultural vendeprodutos que devem agradar ao público, não para fazê-lo pensar cominformações novas que o perturbem mas para propiciar-lhe uma fuga darealidade. Tal fuga, segundo Adorno, faz com que o indivíduo se alienepara poder continuar aceitando como um “tudo bem” .

Trecho do livro “Sociologia para o ensino médio” de Nelson Tomazzi. Ed. Saraiva. 2010.

Críticas a visão de Adorno e Horkheimer

• Adorno e Horkheimer partem do pressuposto de que a

cultura de massa aliena, forçando o indivíduo a perder ou

a não formar uma imagem de si mesmo diante da

sociedade, reforçando o “continuísmo social”

• Porém, a indústria cultural pode ser interpretada como o

primeiro processo democratizador da cultura, ao colocá-la

ao alcance da massa — sendo portanto, instrumento

privilegiado no combate dessa mesma alienação.

• Deste ponto de vista, os produtos da indústria cultural

serão bons ou maus, alienantes ou reveladores, conforme

a mensagem eventualmente por eles veiculada. (…)

• Isto significa que de acordo com a tese da alienaçãocultural -levada às últimas consequências-, façam o quefizerem, digam o que disserem, os veículos da indústriacultural somente podem produzir a alienação.

• O problema é que, nesse caso, o único modo deeliminar totalmente uma certa ideologia e seus efeitosseria a destruição total de tudo aquilo que estivesse porela afetado, numa política de terra arrasada — soluçãobem pouco prática e, mais ainda, pouco viável. (…)Caso contrário, se chegaria à constatação de que, porexemplo, o meio por excelência de comunicação demassa, a TV, não poderia jamais ser usadarevolucionariamente. (…)

Trechos retirados de COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. Col.Primeiros Passos. Brasiliense. 1993.