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Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.392.245-DF; REsp 1.218.639-RJ; REsp 1.203.109-MG; Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO LICITAÇÕES Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei 10.520/2002 (Lei do Pregão). PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO Responsabilidade por infração relacionada à condução e à propriedade e regularidade de veículo. DIREITO AMBIENTAL INFRAÇÃO AMBIENTAL Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência. ÁREA DE RESERVA LEGAL Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião. DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Pagamento da pensão nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação da vítima para o trabalho. Ausência de responsabilidade da empresa de vigilância privada em caso de assalto a banco. CONTRATO DE SEGURO Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH. DIREITO EMPRESARIAL CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. DIREITO PROCESSUAL CIVIL EXECUÇÃO Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de recolhimento das custas. Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado.

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Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.392.245-DF; REsp 1.218.639-RJ; REsp 1.203.109-MG; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

LICITAÇÕES Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei 10.520/2002 (Lei do Pregão). PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO Responsabilidade por infração relacionada à condução e à propriedade e regularidade de veículo. DIREITO AMBIENTAL

INFRAÇÃO AMBIENTAL Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência. ÁREA DE RESERVA LEGAL Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião.

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Pagamento da pensão nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação da vítima para o trabalho. Ausência de responsabilidade da empresa de vigilância privada em caso de assalto a banco. CONTRATO DE SEGURO Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH.

DIREITO EMPRESARIAL

CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EXECUÇÃO Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de recolhimento das custas. Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI Anulação da pronúncia por excesso de linguagem.

DIREITO TRIBUTÁRIO

SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Reclamação administrativa incapaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário. II e IPI Isenções de IPI e de II para instituições culturais.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA Possibilidade de majoração das contribuições para plano de previdência privada.

DIREITO ADMINISTRATIVO

LICITAÇÕES

Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei n. 10.520/2002 (Lei do Pregão)

O pregão é uma modalidade de licitação disciplinada pela Lei 10.520/2002.

O art. 7º da Lei prevê que o licitante que for convocado dentro do prazo de validade de sua proposta e não celebrar o contrato, deixar de entregar a documenação, apresentar documentação falsa, retardar a execução do que contratado, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios pelo prazo de até 5 anos.

Esse prazo de 5 anos (ou menos) de punição começa a ser contado quando? Inicia-se com a publicação da decisão no Diário Oficial ou somente no dia em que é feito o registro negativo sobre a empresa no SICAF? Isso é importante porque a inserção dessa informação no SICAF pode demorar um tempo para acontecer. Qual é, portanto, o termo inicial da sanção?

A data da publicação no Diário Oficial.

O termo inicial para efeito de contagem e detração (abatimento) da penalidade prevista no art. 7º da Lei 10.520/2002, aplicada por órgão federal, coincide com a data em que foi publicada a decisão administrativa no Diário Oficial da União – e não com a do registro no SICAF.

STJ. 1ª Seção. MS 20.784-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 9/4/2015 (Info 561).

Lei n. 10.520/2002

O pregão é uma modalidade de licitação, disciplinada pela Lei n. 10.520/2002, sendo utilizada para a aquisição de bens e serviços comuns, independentemente do valor contratado. O que são bens e serviços comuns? São aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado (art. 1º, parágrafo único). Ex: caneta esferográfica de tinta azul.

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Pregão eletrônico Atualmente, é muito comum que a Administração Pública faça o pregão de forma eletrônica, por meio da internet (art. 2º, § 2º). Fases O pregão é composto de duas fases: 1ª) fase preparatória (art. 3º); 2ª) fase externa (art. 4º). Fase preparatória

Essa fase ocorre internamente, ou seja, dentro do órgão ou entidade.

A autoridade competente (ex: diretor administrativo do órgão) justificará a necessidade de contratação e definirá o objeto do certame (o que será adquirido), as exigências de habilitação, os critérios de aceitação das propostas, as sanções por inadimplemento e as cláusulas do contrato, inclusive com fixação dos prazos para fornecimento.

A definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e clara, vedadas especificações que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias, limitem a competição.

A autoridade competente designará, dentre os servidores do órgão ou entidade, uma pessoa que será o “pregoeiro” e também uma equipe de apoio. Eles ficarão responsáveis por receber, analisar e classificar as propostas e os lances, entre outras atividades necessárias à licitação, como a habilitação e adjudicação.

A equipe de apoio deverá ser integrada em sua maioria por servidores ocupantes de cargo efetivo ou emprego da administração, preferencialmente pertencentes ao quadro permanente do órgão ou entidade promotora do evento.

Fase externa

Inicia-se com a convocação das pessoas interessadas em participar do pregão. Essa convocação será feita por meio de publicação de aviso em diário oficial ou, não existindo, em jornal de circulação local. Poderá ser também realizada por meios eletrônicos e, conforme o vulto da licitação, em jornal de grande circulação.

Cópias do edital e do respectivo aviso serão colocadas à disposição de qualquer pessoa para consulta e divulgadas também na internet.

O prazo fixado para a apresentação das propostas, contado a partir da publicação do aviso, tem que ser de, no mínimo, 8 dias úteis.

No dia, hora e local designados, será realizada uma sessão pública para recebimento das propostas.

Aberta a sessão, os interessados ou seus representantes apresentarão declaração dando ciência de que cumprem plenamente os requisitos de habilitação e entregarão os envelopes contendo a indicação do objeto e do preço oferecidos.

O pregoeiro e sua equipe de apoio irão imediatamente abrir as propostas e verificar se elas estão de acordo com os requisitos estabelecidos no instrumento convocatório.

No curso da sessão, o autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com preços até 10% superiores àquela poderão fazer novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do vencedor. Ex: a empresa “A” ofereceu vender a caneta por R$ 1,00; a empresa “B” por R$ 1,05; a “C” por R$ 1,08; a “D” por R$ 1,10; a “E” por 1,20. Logo, a empresa “E” está fora e as empresas “A”, “B”, “C” e “D” poderão oferecer novos lances diminuindo o valor que haviam oferecido.

Não havendo pelo menos 3 ofertas nas condições definidas no item anterior, poderão os autores das melhores propostas, até o máximo de 3, oferecer novos lances verbais e sucessivos, quaisquer que sejam os preços oferecidos.

Para julgamento e classificação das propostas, será adotado o critério de menor preço, desde que cumpridas as demais exigências do edital.

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Encerrada a etapa competitiva e ordenadas as ofertas, o pregoeiro irá abrir o invólucro (na prática, um envelope) contendo os documentos de habilitação do licitante que apresentou a melhor proposta para verificar se ele atende as condições fixadas no edital.

Ponto de destaque: Repare que, no pregão, primeiro se define quem apresentou o menor valor e, depois, é analisado se essa pessoa está com toda a documentação necessária. Esse é um ponto de destaque porque nas outras modalidades de licitação, primeiro são examinados os documentos de habilitação do licitante e, somente se ele for habilitado, é que será analisada a sua proposta. Desse modo, diz-se que no pregão há uma inversão de fases, já que somente será analisada a documentação do licitante vencedor, o que torna mais célere o procedimento.

Os licitantes poderão deixar de apresentar os documentos de habilitação que já constem do Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf e sistemas semelhantes mantidos por Estados, Distrito Federal ou Municípios, assegurado aos demais licitantes o direito de acesso aos dados nele constantes.

Verificado o atendimento das exigências fixadas no edital, o licitante será declarado vencedor.

Se a oferta não for aceitável ou se o licitante desatender às exigências habilitatórias, o pregoeiro examinará as ofertas subsequentes e a qualificação dos licitantes, na ordem de classificação, e assim sucessivamente, até a apuração de uma que atenda ao edital, sendo o respectivo licitante declarado vencedor.

Declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será concedido o prazo de 3 dias para apresentação das razões do recurso, ficando os demais licitantes desde logo intimados para apresentar contrarrazões em igual número de dias, que começarão a correr do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos autos.

O acolhimento de recurso importará a invalidação apenas dos atos insuscetíveis de aproveitamento.

A falta de manifestação imediata e motivada do licitante importará a decadência do direito de recurso e a adjudicação do objeto da licitação pelo pregoeiro ao vencedor.

Decididos os recursos, a autoridade competente fará a adjudicação do objeto da licitação ao licitante vencedor.

Homologada a licitação pela autoridade competente, o adjudicatário será convocado para assinar o contrato no prazo definido em edital.

Ponto de destaque: no pregão, ao contrário das demais modalidades de licitação, a adjudicação do objeto da licitação ao vencedor ocorre antes da homologação do procedimento. Lei 8.666/93: primeiro ocorre a homologação; depois a adjudicação. Pregão e RDC: primeiro ocorre a adjudicação; depois a homologação.

O que acontece se o licitante vencedor for convocado dentro do prazo de validade da sua proposta e não assinar o contrato? Deverão ser tomadas duas providências: 1) O pregoeiro deverá examinar a oferta mais baixa subsequente e, se a documentação desse licitante estiver completa, ele será declarado o novo vencedor, havendo nova adjudicação. 2) Instaurar processo administrativo para aplicar sanção ao licitante que não assinou o contrato, nos termos do art. 7º.

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Análise da sanção do art. 7º da Lei do Pregão:

CONDUTAS PUNIÇÃO

O licitante que for convocado dentro do prazo de validade de sua proposta e:

não celebrar o contrato,

deixar de entregar a documenação

apresentar documentação falsa

retardar a execução do que contratado,

não mantiver a proposta,

falhar ou fraudar na execução do contrato,

comportar-se de modo inidôneo ou

cometer fraude fiscal.

O licitante que cometer uma das condutas previstas no quadro anterior estará sujeito às seguintes sanções administrativas: a) Ficará impedido de licitar e contratar com a

União, Estados, Distrito Federal ou Municípios; b) Será descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas

de cadastramento de fornecedores; c) Pagará multa prevista no edital ou contrato. Prazo da punição: até 5 anos.

Esse prazo de 5 anos (ou menos) de punição começa a ser contado quando? Inicia-se com a publicação da decisão no Diário Oficial ou somente no dia em que é feito o registro negativo sobre a empresa no SICAF? Isso é importante porque a inserção dessa informação no SICAF pode demorar um tempo para acontecer. Qual é, portanto, o termo inicial da sanção? A data da publicação no Diário Oficial. O termo inicial para efeito de contagem e detração (abatimento) da penalidade prevista no art. 7º da Lei

n. 10.520/2002, aplicada por órgão federal, coincide com a data em que foi publicada a decisão administrativa no Diário Oficial da União – e não com a do registro no SICAF.

A Lei n. 10.520/2002 não previu o início do fluxo do prazo para a contagem da punição. Coube ao Decreto

Presidencial n. 5.450/05, ao regulamentá-la, prever que o credenciamento do licitante condiciona-se ao registro atualizado da sua situação cadastral no banco de dados do SICAF. Ocorre que o STJ entendeu que

o Decreto não poderia ter feito isso. Houve violação ao princípio da legalidade estrita, já que a Lei n. 10.520/2002 não estabeleceu essa regra e, portanto, o ato infralegal (Decreto) não poderia ter criado esse termo inicial, que acaba sendo posterior à publicação da decisão no Diário Oficial. Se a União impõe uma penalidade por um órgão da sua própria estrutura, a presunção é a de que o próprio ente federado esteja ciente de que, a partir daquela publicação, foi aplicada uma sanção administrativa. Situação diversa dar-se-ia, por exemplo, se a reprimenda fosse imposta por um Estado ou Município, caso em que seria lógico consultar um banco de dados central que reunisse informações sobre a higidez de empresas participantes de certames licitatórios. Vale ressaltar que a própria Lei 8.666/1993, em seu art. 6º, XIII, estabelece, como linha de princípio, que os atos relativos aos procedimentos licitatórios federais serão divulgados no DOU. Por conseguinte, se a publicação se dá em órgão da imprensa oficial, nos termos do que prevê o art. 37, caput, da CF, seria contraditório e artificial se supor que, a partir dali, não haveria ciência do ente federal, e, consequentemente, não seria capaz de dar início ao cômputo da detração.

PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente

Apenas concursos federais!

As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e na Lei 8.059/90.

A pensão especial é devida ao ex-combatente. Quando ele morre, a pensão revertida para os seus dependentes (art. 6º da Lei).

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O art. 5º da Lei 8.059/90 prevê o rol de dependentes que têm direito ao benefício e nele não inclui o menor sob guarda.

Mesmo com essa omissão, o STJ entendeu que, na hipótese de morte do titular de pensão especial de ex-combatente, o menor de 18 anos que estava sob sua guarda deve ser enquadrado como dependente para efeito de recebimento da pensão especial. Isso porque o art. 33, § 3º do ECA prevê que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.339.645-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 3/3/2015 (Info 561).

Pensão especial de ex-combatente As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e

na Lei n. 8.059/90.

Quem é responsável pelo processamento e pagamento da pensão? O INSS? NÃO. A competência é do Ministério Militar ao qual esteve vinculado o ex-combatente durante a Segunda Guerra Mundial (art. 12). Por essa razão, essa pensão não é considerada um benefício previdenciário.

Quem recebe a pensão? A pensão especial é devida ao ex-combatente. Quando ele morre, a pensão é revertida para os seus dependentes (art. 6º da Lei).

Quem são os dependentes do ex-combatente?

A Lei n. 8.059/90 prevê um rol de dependentes:

Art. 5º Consideram-se dependentes do ex-combatente para fins desta lei: I - a viúva; II - a companheira; III - o filho e a filha de qualquer condição, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos; IV - o pai e a mãe inválidos; e V - o irmão e a irmã, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos. Parágrafo único. Os dependentes de que tratam os incisos IV e V só terão direito à pensão se viviam sob a dependência econômica do ex-combatente, por ocasião de seu óbito.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi ex-combatente e, nessa condição, recebia pensão especial. Pedrinho, 12 anos, é neto de João e mora com ele. Na verdade, como os pais de Pedrinho vivem em outra cidade, João é quem cria e educa o neto, possuindo, inclusive, a guarda do menor. João morreu e Pedrinho, orientado pela família, foi até o Exército e pediu para receber a pensão de ex-combatente de seu avô na qualidade de dependente. Em seu requerimento, Pedrinho falou que tinha direito de receber a pensão com base no art. 33, § 3º do ECA:

Art. 33 (...) § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

Contudo, o pedido foi indeferido sob o argumento de que o menor sob guarda não está previsto no art. 5º da

Lei n. 8.059/90.

O argumento de Pedrinho está correto? O menor sob guarda tem direito à pensão especial como dependente de ex-combatente? SIM. Na hipótese de morte do titular de pensão especial de ex-combatente, o menor de 18 anos que estava sob

sua guarda deve ser enquadrado como dependente (art. 5º da Lei n. 8.059/90) para efeito de recebimento, na

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proporção que lhe couber, da pensão especial (art. 53, II, do ADCT) que recebia o seu guardião.

Realmente, o art. 5º da Lei n. 8.059/90 não incluiu o menor de 18 anos sob guarda no rol dos

beneficiários da pensão especial. Ele, contudo, tem direito à pensão com base no art. 33, § 3º, da Lei n. 8.069/90 (ECA). O art. 227 da CF/88 exige da família, da sociedade e do Estado a conjugação de esforços no sentido de prestar atendimento prioritário a todos os interesses de crianças e adolescentes. Assim, o ECA se encontra em absoluta sintonia com a diretriz hermenêutica demarcada no plano constitucional, não sendo admissível a exegese de que a pensão especial de ex-combatente, por não possuir natureza previdenciária, afastaria a aplicação da regra prevista no ECA.

Nessa ordem de ideias, do cotejo entre a Lei n. 8.059/90 (art. 5°) e o ECA, este diploma legal, mais benéfico, deve prevalecer, em razão do critério da especialidade. O tema é pacífico no STJ? NÃO. Existem precedentes em sentido contrário:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. EX-COMBATENTE. PENSÃO ESPECIAL. MENOR SOB GUARDA. CONCESSÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Cinge-se a controvérsia dos autos sobre a pretensão de menor sob guarda à concessão de pensão especial de ex-combatente. 2. Na espécie, o óbito do instituidor da pensão ocorreu em 19/01/1994, razão pela qual é de se aplicar a lei então vigente, Lei 8.059/90, cujo art. 5º apresenta um rol taxativo de dependentes, o qual não inclui o menor sob guarda. 3. Ademais, "O ECA, ao prever em seu art. 33, § 3º, que 'A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários', não se aplica à pensão especial de ex-combatente, uma vez que não tem esta natureza previdenciária" (REsp 912.106/RJ, 5ª T., Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 09/03/2009). 4. Recurso especial provido. STJ. 2ª Turma. REsp 1306883/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 02/05/2013.

No entanto, como o julgado divulgado neste informativo foi o último, se for cobrado na prova, marque a resposta que afirma que é possível a inclusão do menor sob guarda no rol de dependentes.

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO Responsabilidade por infração relacionada à condução e à propriedade e regularidade de veículo

Prática forense!

Devem ser impostas tanto ao condutor quanto ao proprietário do veículo as penalidades de multa e de registro de pontos aplicadas em decorrência da infração de trânsito consistente em conduzir veículo que não esteja registrado e devidamente licenciado (art. 230, V, do CTB).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.626-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação hipotética: Lucas, com 18 anos, habilitado, pegou emprestado o carro de seu pai (João) para ir até uma festa. Na volta, foi parado em uma bliz e o agente de trânsito constatou que o veículo não estava registrado nem licenciado no DETRAN. Diante disso, o agente de trânsito lavrou a autuação, aplicando a multa por infração ao art. 230, V, do CTB:

Art. 230. Conduzir o veículo: (...) V - que não esteja registrado e devidamente licenciado;

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Infração - gravíssima; Penalidade - multa e apreensão do veículo; Medida administrativa - remoção do veículo;

Quem responderá pela multa e perderá os pontos na carteira: Lucas (que conduzia o veículo) ou João (proprietário do carro)? Os dois. Devem ser impostas tanto ao condutor quanto ao proprietário do veículo as penalidades de multa e de registro de pontos aplicadas em decorrência da infração de trânsito consistente em conduzir veículo que não esteja registrado e devidamente licenciado (art. 230, V, do CTB). No art. 230, V, do CTB, o verbo que designa a ação proibida é “conduzir”, ou seja, a ação é imputada ao motorista. Manter veículo sem licenciamento, por si só, não configura infração de trânsito, a qual ocorre quando o veículo é posto em circulação. No entanto, ao proprietário caberá sempre a responsabilidade pela infração referente à prévia regularização e preenchimento das formalidades e condições exigidas para o trânsito do veículo (art. 257, § 1º, CTB). Dessa forma, fica caracterizada a responsabilidade solidária do proprietário e do condutor, pois caberia ao primeiro o dever de registrar e licenciar o veículo de sua propriedade, e, ao segundo, não conduzir veículo sem o devido licenciamento.

DIREITO AMBIENTAL

INFRAÇÃO AMBIENTAL Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência

Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação adaptada: Uma grande empresa de petróleo foi autuada pela Secretaria de Meio Ambiente em razão de ter derramado cerca de 70.000 litros de óleo em um rio, que é considerado área de preservação ambiental, sendo-lhe aplicada multa no valor de R$ 5 milhões. A empresa ingressou com ação judicial questionando a autuação sob o argumento de que foi descumprido o trâmite legal para a aplicação de multa, porque, anteriormente, deveria ter sido aplicada uma pena de advertência, na forma do art. 72, § 3º, I, da Lei n. 9.605/98:

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: (...) § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;

A tese da empresa foi aceita? NÃO. Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de

prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei n. 9.605/98).

A penalidade de advertência prevista no art. 72, § 3º, I, da Lei n. 9.605/98 tem aplicação tão somente nas infrações de menor potencial ofensivo, justamente porque ostenta caráter preventivo e pedagógico. Assim, na hipótese de infração de pequena intensidade, é realmente necessário o emprego de advertência e, caso não cessada e não sanada a violação, passa a ser cabível a aplicação de multa. Porém, no caso de transgressão grave, a aplicação de simples penalidade de advertência atentaria contra os princípios informadores do ato sancionador, quais sejam, a proporcionalidade e a razoabilidade.

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ÁREA DE RESERVA LEGAL Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião

Importante!!!

João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o proprietário do terreno.

A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.

Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.

Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.

Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?

SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

ÁREA DE RESERVA LEGAL

Em que consiste? - Reserva legal é uma área (uma porção de terra) - localizada no interior de um imóvel rural - e dentro da qual o proprietário ou possuidor fica,

- por força de lei (Lei n. 12.651/2012), - obrigado a manter a cobertura de vegetação nativa - com a função de: - a) assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, - b) auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos, - c) promover a conservação da biodiversidade e - d) assegurar abrigo e proteção da fauna silvestre e da flora nativa. Veja uma ilustração do que seria uma Área de Reserva Legal (é a parte que está protegida pela cerca, onde estão as árvores):

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Natureza A Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação administrativa existente em função do princípio da função sócio-ambiental da propriedade). Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula todo e qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade ou à posse.

Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o proprietário? NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa não apenas pelo proprietário, como também pelo possuidor ou por qualquer outra pessoa que ocupe, a qualquer título, a área, seja ele uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado (art. 17, caput).

Admite-se algum tipo de atividade econômica na área de reserva legal? SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, § 1º).

Qual é o tamanho da área de reserva legal? Será um percentual do imóvel baseado na região do país onde ele está situado e na natureza da

vegetação. A Lei n. 12.651/2012 (Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural que deverão ser separados e protegidos como área de reserva legal. Veja:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: I - localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Nos parágrafos do art. 12 estão previstas situações em que é possível alterar o percentual mínimo da área de reserva legal. A depender do grau de complexidade do concurso público que você está prestando, vale a pena fazer uma leitura desses dispositivos.

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Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por exemplo, como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor que define isso? NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser aprovada pelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme os critérios previstos no art. 14 do Código Florestal. Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal? SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para: a) empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto; b) áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para

exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica;

c) áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL – CAR

Em que consiste?

O Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) criou algo muito importante chamado de Cadastro Ambiental Rural – CAR. Em que consiste? - O CAR é um registro público eletrônico de âmbito nacional, - no qual todos os imóveis rurais devem estar inscritos - com a finalidade de reunir, em um só local, as informações ambientais das propriedades e posses rurais, - formando uma base de dados que servirá para controle, monitoramento, planejamento e combate ao

desmatamento. De quem é o dever de inscrever o imóvel no CAR? Dos proprietários e possuidores rurais. Os proprietários e possuidores rurais têm um prazo até maio de 2016 para inscrever seus imóveis no CAR. Para isso, eles deverão apresentar uma lista de documentos previstos no Decreto 7.830/2012. Vale ressaltar que o cadastramento no CAR não é considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse. Em outras palavras, não é porque a pessoa registrou o imóvel rural no CAR que significa que ela tem direito de propriedade. Ao contrário do registro de imóveis, o CAR não serve para constituir domínio, ou seja, não se adquire propriedade porque houve inscrição no CAR. A área de Reserva Legal precisa ser inscrita no CAR? SIM. Com certeza. O Código Florestal determinou que a área de Reserva Legal deve ser inscrita no CAR.

Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. § 1º A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a apresentação de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração, conforme ato do Chefe do Poder Executivo.

Antes de existir o CAR, onde era inscrita a Reserva Legal? Como as pessoas sabiam que um determinado imóvel possuía parte de sua extensão como área de Reserva Legal?

Antes da Lei n. 12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal era inscrita na matrícula do

imóvel, ou seja, essa informação ficava no cartório de Registro de Imóveis (art. 167, II, 22, da Lei n. 6.015/73).

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Depois da Lei n. 12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal ainda precisa ser inscrita no registro de imóveis? NÃO. O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no cartório de Registro de Imóveis. Desse modo, desde a vigência do novo Código Florestal, a Área de Reserva Legal não é mais averbada no cartório de Registro de Imóveis. A inscrição da Reserva Legal no CAR possui natureza constitutiva ou declaratória? Se a Área de Reserva Legal não estiver registrada, o possuidor/proprietário estará desobrigado de respeitá-la? NÃO. A inscrição da Reserva Legal possui natureza declaratória. O dever de respeitar as limitações impostas pela Área de Reserva Legal decorre da lei (e não do registro). A inscrição no CAR tem por objetivo dar publicidade a esse fato. Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o proprietário do terreno. A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade. Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário. Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR. Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR. Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência? SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a concentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no Registro de Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condição para o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no CAR. A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente alterar o órgão responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro de Imóveis, e agora passou a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR.

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DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Pagamento da pensão nos casos de responsabilidade civil

derivada de incapacitação da vítima para o trabalho

Importante!!!

O art. 950 do CC prevê que se a vítima sofrer uma ofensa que resulte em lesão por meio da qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se isso lhe diminuiu a capacidade de trabalho, esta vítima deverá ser indenizada com o pagamento de pensão.

O parágrafo único determina que, se o prejudicado preferir, ele poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez, ou seja, em vez de receber todo mês o valor da pensão, ele receberia à vista a quantia total.

O parágrafo único do art. 950 do CC impõe um dever absoluto de o causador do dano pagar a indenização fixada de uma só vez? Se a vítima pedir para receber de uma só vez, o magistrado é obrigado a acatar?

NÃO. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez.

O juiz é autorizado a avaliar, em cada caso concreto, se é conveniente ou não a aplicação da regra que estipula a parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC), considerando a situação econômica do devedor, o prazo de duração do pensionamento, a idade da vítima, etc, para só então definir pela possibilidade de que a pensão seja ou não paga de uma só vez, antecipando-se as prestações vincendas que só iriam ser creditadas no decorrer dos anos. Isso porque é preciso ponderar que, se por um lado é necessário satisfazer o crédito do beneficiário, por outro não se pode exigir o pagamento de uma só vez se isso puder levar o devedor à ruína.

Enunciado 381-CJF/STJ: O lesado pode exigir que a indenização, sob a forma de pensionamento, seja arbitrada e paga de uma só vez, salvo impossibilidade econômica do devedor, caso em que o juiz poderá fixar outra forma de pagamento, atendendo à condição financeira do ofensor e aos benefícios resultantes do pagamento antecipado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/4/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação hipotética: João sofreu um acidente causado pela empresa “XX”, tendo ficado com sequelas que diminuíram sua capacidade de trabalho. O lesado ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais. Como decidiu o juiz? 1) Quanto aos DANOS MORAIS: Condenou a empresa a pagar indenização no valor de 300 salários-mínimos, a ser paga de uma só vez. 2) Quanto aos DANOS MATERIAIS: Condenou a empresa a pagar:

R$ 3 mil a título de danos emergentes e

Pensão mensal de 2 salários-mínimos, até o dia em que João completasse seu tratamento e estivesse reabilitado (5 anos de tratamento, segundo perícia médica).

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João concordou com a sentença? Não. João recorreu alegando que precisava urgentemente do dinheiro e que, em vez de uma pensão mensal, ele queria receber integralmente o valor dos danos materiais, de uma só vez. Em outras palavras, João afirmou que tinha direito de receber, de uma só vez, os 120 salários-mínimos (2 salários-mínimos x 5 anos). Como fundamento legal, argumentou que o parágrafo único do art. 950 do CC autoriza que o lesado receba o valor da indenização de uma só vez, se assim preferir. Confira o que diz o dispositivo:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

A empresa apresentou contrarrazões afirmando que possui pequeno porte e que não teria condições de pagar, de uma só vez, 120 salários-mínimos. O pedido de João foi aceito pelo STJ? O parágrafo único do art. 950 do CC impõe um dever absoluto de o causador do dano pagar a indenização fixada de uma só vez? NÃO. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez. O juiz é autorizado a avaliar, em cada caso concreto, se é conveniente ou não a aplicação da regra que estipula a parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC), considerando a situação econômica do devedor, o prazo de duração do pensionamento, a idade da vítima, etc, para só então definir pela possibilidade de que a pensão seja ou não paga de uma só vez, antecipando-se as prestações vincendas que só iriam ser creditadas no decorrer dos anos. Isso porque é preciso ponderar que, se por um lado é necessário satisfazer o crédito do beneficiário, por outro não se pode exigir o pagamento de uma só vez se isso puder levar o devedor à ruína (falência). Existem dois enunciados das Jornadas de Direito Civil que transmitem ideia semelhante:

Enunciado 48 – Art. 950, parágrafo único: o parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do lesado para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo juiz, atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor. (...) Enunciado 381 – O lesado pode exigir que a indenização, sob a forma de pensionamento, seja arbitrada e paga de uma só vez, salvo impossibilidade econômica do devedor, caso em que o juiz poderá fixar outra forma de pagamento, atendendo à condição financeira do ofensor e aos benefícios resultantes do pagamento antecipado.

Outro exemplo: Se o juiz fixa uma pensão vitalícia em favor da vítima, não há sentido em se aplicar o parágrafo único do art. 950 do CC. Afinal de contas, se a pensão mensal é vitalícia, como então quantificar o seu valor se, a princípio, não se tem como saber o marco temporal final? Como, então, proteger a vítima evitando que a empresa causadora do dano, durante o pagamento da pensão, vá à falência e deixe de pagar o valor estipulado? A fim de proteger a vítima evitando que ela deixe de receber a pensão mensal em caso de falência do causador do dano, o ordenamento jurídico previu que o devedor deverá fazer a constituição de capital com a possibilidade de prestação de garantia, conforme prevê o art. 475-Q do CPC 1973 / art. 533 do CPC 2015:

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Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.

Existe um enunciado do STJ que espelha esse entendimento.

Súmula 313-STJ: Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado.

RESPONSABILIDADE CIVIL Ausência de responsabilidade da empresa de vigilância privada em caso de assalto a banco

Importante!!!

O banco mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX” por meio do qual esta se comprometia a prestar serviços de vigilância armada nas agências bancárias.

Determinado dia, o banco foi assaltado por um grupo de oito ladrões fortemente armados.

O banco ajuizou ação de indenização contra a empresa de vigilância sustentando que, por expressa disposição contratual, a empresa deveria ser responsabilizada pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição bancária.

A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar?

NÃO. A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição financeira não acarreta à contratada automática responsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por grupo fortemente armado.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/3/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação adaptada: O Banco do Brasil mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX”, por meio do qual esta se comprometia a prestar serviços de vigilância armada nas agências bancárias. Determinado dia, uma agência bancária do Banco do Brasil foi invadida por homens fortemente armados e disfarçados com fardamento da empresa de transporte de valores, ocasião em que subtraíram o valor de R$ 2 milhões da instituição. Diante disso, o Banco do Brasil ajuizou ação de indenização por danos materiais contra a empresa de Vigilância Privada argumentando que o roubo só ocorreu em razão de atitude negligente e desatenta do vigilante, funcionário da ré, que destravou a porta giratória sem que tivesse orientação nesse sentido do gerente da agência e sem a solicitação das credenciais das pessoas que ingressaram no local. O banco alegou, ainda, que no contrato firmado com a empresa de vigilância, existe uma cláusula contratual que impunha à ela a obrigação de “obstar assaltos, furtos, arrombamentos, sequestros e outras ocorrências/atentados da espécie, contra as dependências vigiadas, garantindo a incolumidade de funcionários e clientes e a preservação do patrimônio da contratante”. Assim, o banco sustentou que, por expressa disposição contratual e por falha/culpa da contratada, a empresa deveria ser responsabilizada pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição bancária.

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A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar? NÃO. Entendeu-se que não havia comprovação de que o vigilante da empresa tenha contribuído de alguma maneira para o evento danoso. Ficou constatado que, ainda que o segurança não tivesse aberto a porta giratória da agência bancária, tal providência seria absolutamente inócua diante do potencial ofensivo do grupo criminoso, composto de oito integrantes, que se apresentaram para a prática do delito armados com fuzis. Além disso, a cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição financeira não acarreta à contratada automática responsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por grupo fortemente armado. A legislação que rege as empresas de vigilância estabelecem limites para o armamento utilizado pelos vigilantes, ou seja, eles não podem utilizar, dentro das agências bancárias, armas de grosso calibre, ao contrário dos bandidos que, quando assaltam bancos, valem-se de fuzis e outras armas pesadas. Obrigação de meio A obrigação da empresa de vigilância é de meio (e não de resultado), sendo impossível garantir que não haverá assaltos. A empresa de vigilância tem apenas o dever de envidar todos os esforços razoáveis para evitar danos ao patrimônio da contratante e de agir com a diligência na minimização dos riscos. Todavia, não se pode exigir dos seguranças atitudes heroicas perante grupo criminoso fortemente armado. Se fosse admitida a tese do banco, o contrato de vigilância iria se transformar em um verdadeiro contrato de seguro.

CONTRATO DE SEGURO Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida

A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado maior de 60 anos de idade e que conte com mais de 10 anos de vínculo contratual.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.376.550-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

O que é o contrato de seguro? No contrato de seguro, “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (art. 757 do CC). Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa física ou jurídica (chamada de “segurada”) paga uma quantia denominada de “prêmio” para que uma pessoa jurídica (“seguradora”) assuma determinado risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de “sinistro”), a seguradora deverá fornecer à segurada uma quantia previamente estipulada (indenização). Ex.: João celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$ 100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil a título de indenização para o segurado. Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte. Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex.: morte. Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os

riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

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Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos cobertos.

Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João, em 2005, fez um contrato de seguro de vida em favor de sua esposa e filhos. Na época, o segurado tinha 50 anos. O contrato tinha duração de 5 anos. Ao final do prazo de vigência do contrato, em 2010, João decidiu renová-lo por mais 5 anos. Em 2015, encerrou-se o prazo novamente e João procurou a seguradora para fazer a renovação mais uma vez. João, no entanto, surpreendeu-se porque o valor do prêmio cobrado pela seguradora para renovar o contrato estava 90% mais alto. A funcionária da empresa explicou que incide esse aumento porque o segurado (João) entrou na faixa de 60 anos de idade e que, a partir daí, os preços sobem mesmo. A atendente mostrou que esse incremento do prêmio pela faixa de preço estava previsto na cláusula XXX do contrato de seguro assinado. João ainda tentou argumentar dizendo que possuía o contrato há mais de 10 anos e que não seria justo esse aumento tão grande, mas mesmo assim não teve jeito e ele não conseguiu nenhum desconto. Pode-se dizer que a cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a faixa etária é sempre abusiva? NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, admitem-se aumentos suaves e graduais necessários para o reequilíbrio da carteira, mediante um cronograma extenso, do qual o segurado tem de ser cientificado previamente (STJ. 2ª Seção. REsp 1.073.595/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 29/4/2011). No caso concreto acima relatado, esse aumento foi válido? NÃO. A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado:

maior de 60 anos de idade; e

que conte com mais de 10 anos de vínculo contratual. De onde o STJ retirou esses dois requisitos (maior de 60 anos e mais de 10 anos de vínculo)? Esses requisitos foram construídos pelo STJ a partir da aplicação analógica das regras previstas para os

contratos de plano de saúde no art. 15, parágrafo único, da Lei n. 9.656/98:

Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em razão da idade do consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E. Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para consumidores com mais de sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º, ou sucessores, há mais de dez anos.

A Lei n. 9.656/98 regula os planos e seguros de saúde, mas, diante da inexistência de lei específica para os seguros de vida, o STJ aplica esse diploma por analogia.

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SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH

Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de Financiamento de Habitação (SFH) as disposições da Lei 10.931/2004, mormente as referentes aos requisitos da petição inicial de ação de revisão de cláusulas contratuais (art. 50).

STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.283-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/4/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação adaptada: João ajuizou ação de revisão das prestações do saldo devedor do contrato de financiamento habitacional realizado pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). O banco contestou o pedido aduzindo a inépcia da petição inicial sob o argumento de que o autor não

atendeu aquilo que é exigido pelo art. 50 da Lei n. 10.931/2004:

Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia.

A tese do banco está correta? As disposições da Lei n. 10.931/2004 aplicam-se aos contratos do SFH? SIM. Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de Financiamento de Habitação

(SFH) as disposições da Lei n. 10.931/2004, especialmente as referentes aos requisitos da petição inicial de ação de revisão de cláusulas contratuais (art. 50).

A Lei n. 10.931/2004, especialmente seu art. 50, inspirou-se na efetividade, celeridade e boa-fé perseguidos pelo processo civil moderno, cujo entendimento é de que todo litígio a ser composto, dentre eles os de cunho econômico, deve apresentar pedido objetivo e apontar precisa e claramente a espécie e o alcance do abuso contratual que fundamenta a ação de revisão do contrato. As regras expressas no art. 50 e seus parágrafos têm a clara intenção de garantir o cumprimento dos contratos de financiamento de imóveis tal como pactuados, gerando segurança para os contratantes. O objetivo maior da norma é garantir que, quando a execução do contrato se tornar controvertida e necessária for a intervenção judicial, a discussão seja eficiente, porque somente o ponto conflitante será discutido e a discussão da controvérsia não impedirá a execução de tudo aquilo com o qual concordam as partes.

Art. 285-B do CPC 1973

Vale lembrar, ainda, que a Lei n. 12.810/2013 introduziu artigo no CPC 1973 com idêntica redação ao art. 50 da Lei 10.931/2004. Confira:

Art. 285-B. Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o valor incontroverso. Art. 330, § 2º do CPC 2015 O CPC 2015 também prevê a mesma regra em seu art. 220, § 2º:

§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.

Essa inovação legislativa corrobora os objetivos buscados pelo processo civil moderno, preocupado em ser, acima de tudo, eficaz. A discriminação do valor incontroverso na petição inicial proporciona melhor compreensão da dimensão do litígio, da lesão ao direito envolvido, além de permitir a demonstração da verossimilhança do direito invocado. Ainda, auxilia na atenuação de naturais mazelas da demora na prestação jurisdicional, contribuindo para a segurança jurídica.

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DIREITO EMPRESARIAL

CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente

É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente.

Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente).

Ex: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação adaptada: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX”, por meio do qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. Enfim, ele seria um parceiro da operadora “XXX”. Cláusula de não concorrência No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Em outras palavras, se as partes rompessem o contrato, João teria que esperar 6 meses para poder vender produtos de outras companhias de telefonia naquela cidade. Fim do contrato João percebeu que a qualidade dos serviços da operadora “XXX” eram muito ruins, o que atrapalhava suas vendas. Ele queria mesmo era vender os produtos da operadora “ZZZ”. Por isso, decidiu romper o contrato assinado e, no mês seguinte, assinou novo contrato, agora com a operadora “ZZZ”. “XXX” ajuizou ação de cobrança de multa contratual contra João alegando descumprimento da cláusula de não concorrência pelo prazo de 6 meses. Em contestação, o réu alegou que essa cláusula é inválida porque os efeitos do contrato só perduram durante sua vigência e não após sua cessação. Tal cláusula também seria abusiva por afrontar os princípios da manutenção do equilíbrio econômico do contrato, da boa-fé objetiva e da função social do contrato, na medida em que estabelece obrigações desproporcionais, privilegiando uma das partes em detrimento da outra. A defesa de João foi aceita pelo STJ? A cláusula em questão é abusiva? NÃO. É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente.

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Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). Restrição à concorrência As cláusulas que restrinjam a concorrência são excepcionais, já que vigora, em nosso ordenamento jurídico, os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência (art. 170, caput e inciso IV, da CF/88). A jurisprudência entende, contudo, que as partes, no exercício de sua autonomia privada, podem estipular restrições contratuais à livre concorrência, desde que com a delimitação expressa da zona espacial e temporal na qual a atuação de ex-sócios ou ex-parceiros seja vedada. Tais cláusulas são, portanto, válidas e se inspiram no direito anglo-saxão (“non-competition agreements”). Essa cláusula de não concorrência pode irradiar efeitos mesmo depois de o contrato ter sido rompido? Claro. Se a referida cláusula só valesse enquanto o contrato estivesse em vigor, ela não serviria para nada, considerando que bastaria o contratante romper o contrato para que ela não mais tivesse eficácia. A exigência de boa-fé objetiva (conduta proba das partes) não está limitada ao lapso temporal de vigência do contrato principal em que inserida. O princípio da boa-fé também deve ser aplicado nas fases pré-contratual e pós-contratual (Enunciado 25 da I Jornada de Direito Civil do CJF).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EXECUÇÃO Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução

por falta de recolhimento das custas

Sobre o tema, cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de recolhimento das custas, é possível apontar as seguintes conclusões:

No CPC 1973:

1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30 dias, independentemente de prévia intimação da parte.

2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.

No CPC 2015:

1) Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15 dias, que só começam a ser contados depois que a parte for intimada na pessoa de seu advogado (art. 290).

2) Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora intempestivo, estiver comprovado nos autos.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira Seção, julgado em 4/3/2015 (Info 561).

Processo de execução O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:

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a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Defesas típicas do executado Se o devedor está sendo executado, ele tem o direito de se defender. Qual é a defesa típica do devedor executado?

No processo de execução (execução de título extrajudicial): a defesa típica do executado são os EMBARGOS À EXECUÇÃO (embargos do devedor).

No cumprimento de sentença (execução de título judicial): é a IMPUGNAÇÃO.

Vale ressaltar que a pessoa executada poderá se defender ainda por meio de:

exceção de não-executividade (exceção de pré-executividade / objeção de pré-executividade); ou

ações autônomas (a chamada defesa heterotópica do executado). O devedor tem que pagar custas para propor impugnação ou embargos à execução? SIM. Quem propõe impugnação ou opõe embargos do devedor deve providenciar o pagamento das custas processuais.

Quando as custas devem ser pagas? Em regra, as custas devem ser pagas antes ou no momento da distribuição (art. 19 do CPC 1973 / art. 82 do CPC 2015). No entanto, o art. 257 do CPC 1973 (art. 290 do CPC 2015) autoriza que haja a distribuição do feito sem o seu preparo (pagamento das custas), concedendo à parte autora um prazo para fazer a quitação. Obs: distribuição é o sorteio que é feito do juízo que irá receber o processo. A parte dá entrada no feito e, depois de ele ser registrado, é distribuído para uma das varas existentes naquela comarca/seção judiciária. Qual é o prazo para esse pagamento das custas?

30 dias: no CPC 1973 (art. 257);

15 dias: no CPC 2015 (art. 290). Para que esse prazo comece a correr é necessário que a parte seja intimada?

NÃO: no CPC 1973. Posição do STJ.

SIM: no CPC 2015. Redação literal do art. 290:

Art. 290. Será cancelada a distribuição do feito se a parte, intimada na pessoa de seu advogado, não realizar o pagamento das custas e despesas de ingresso em 15 (quinze) dias.

O que acontece se a parte não recolher as custas no prazo? A distribuição do feito (impugnação ou embargos à execução) será cancelada. Em outras palavras, a impugnação ou embargos à execução nem será examinada. O juiz determina o cancelamento da distribuição e é como se essa petição nunca tivesse existido. Imagine agora a seguinte situação: a parte perde o prazo para recolhimento das custas (não paga no prazo de 30 ou 15 dias, a depender do CPC). Antes que o juiz determine o cancelamento da distribuição, a parte vai até lá, paga as custas e junta o comprovante no processo. Esse pagamento atrasado, mas antes de a distribuição ter sido cancelada, serve para “salvar” a distribuição? SIM. Se houve o recolhimento das custas (comprovado nos autos), embora fora do prazo, o juiz não deverá cancelar a distribuição, devendo aceitar o processamento do feito.

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EXECUÇÃO Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado

Os juízes, servidores do Judiciário, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça não podem adquirir bens que estejam sendo leiloados pelo tribunal ou juízo do lugar onde atuarem (art. 497, III, do CC).

Essa vedação estende-se também para oficiais de justiça aposentados? Eles também estão proibidos de arrematar?

NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de arrematar bem em hasta pública. A proibição tem como razão de ser o exercício efetivo da função, a fim de evitar influências ou favorecimentos.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Hasta pública A palavra “hasta pública” era encontrada no CPC 1973 e significava o ato realizado pelo Poder Judiciário, no âmbito de um processo de execução, por meio do qual eram vendidos bens móveis ou imóveis pertencentes ao executado, com o objetivo de conseguir recursos para pagar o exequente e as custas e despesas do processo. No CPC 1973 existiam duas formas de hasta pública (art. 686, IV do CPC 1973): a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel; b) leilão, quando a coisa alienada era bem móvel.

O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. O CPC 2015 nem mais fala em “hasta pública”. Agora, utiliza-se a nomenclatura “leilão judicial” tanto para bens móveis como imóveis. O que era chamado de “hasta pública” no CPC 1973 é denominado “leilão judicial” no CPC 2015. Feita essa observação, imagine a seguinte situação adaptada: Na comarca “XX”, em um processo de execução, foi realizada uma “hasta pública” (CPC 1973) ou “leilão judicial” (CPC 2015) para que os bens do executado fossem vendidos e, assim, a dívida pudesse ser paga. João (oficial de justiça aposentado) pensou ser esta uma boa oportunidade e arrematou (“comprou”) no leilão alguns bens de seu interesse. Ocorre que essa arrematação foi questionada por meio de ação anulatória. O autor afirmou que João não poderia ter comprado os bens em virtude de ser servidor do Tribunal de Justiça, tendo trabalhado nesta comarca, havendo, portanto, regra expressa no Código Civil proibindo essa prática:

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: (...) III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade;

A tese sustentada na ação anulatória foi aceita? João estava impedido de arrematar os bens? NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de arrematar bem em hasta pública. Essa regra foi prevista para impedir influências desses servidores no processo de expropriação do bem. O que a lei visou foi impedir a ocorrência de situações nas quais a atividade funcional da pessoa pudesse de algum modo influenciar na arrematação e, assim, gerar um benefício indevido a ele. Na situação em análise, não há influência direta, nem mesmo eventual, visto que o servidor aposentado fica desvinculado do serviço público e não teria, em tese, como se beneficiar com a arrematação em virtude de seu cargo.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI Anulação da pronúncia por excesso de linguagem

A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as palavras com moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique demonstrado na decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime. Se o magistrado exagera nas palavras utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um “excesso de linguagem”, também chamado de “eloquência acusatória”.

O excesso de linguagem é proibido porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de pronúncia e das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472, parágrafo único). Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado irá ler essa decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado.

Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?

Deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos atos processuais, determinando-se que outra seja prolatada.

Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada do processo) ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da economia processual?

NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que outra seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja distribuída aos jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP.

STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Procedimento do Tribunal do Júri Quando a pessoa pratica um crime doloso contra a vida, ela responde a um processo penal que é regido por um procedimento especial, próprio do Tribunal do Júri (arts. 406 a 497 do CPP). Quais são os crimes dolosos contra a vida (de competência do Tribunal do Júri)? homicídio (art. 121 do CP); induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP); infanticídio (art. 123 do CP); aborto em suas três espécies (arts. 124, 125 e 126 do CP). Procedimento bifásico do Tribunal do Júri

O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de bifásico (ou escalonado) porque se divide em duas etapas:

1) Fase do sumário da culpa (iudicium accusationis):

É a fase de acusação e instrução preliminar (formação da culpa). Inicia-se com o oferecimento da denúncia (ou queixa) e termina com a preclusão da sentença de pronúncia.

2) Fase de julgamento (iudicium causae).

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Fase do sumário da culpa As etapas aqui são muito semelhantes ao procedimento comum ordinário. Vejamos os principais passos do sumário da culpa:

DENÚNCIA Oferecimento da denúncia (em regra) ou queixa-crime.

RECEBIMENTO Juiz decide se recebe ou rejeita a peça acusatória.

CITAÇÃO Acusado é citado pessoalmente para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 dias.

RESPOSTA Defesa apresenta resposta escrita à acusação.

RÉPLICA Após a defesa apresentar a resposta, o juiz determinará que o MP (ou o querelante) seja ouvido, no prazo de 5 dias, sobre eventuais preliminares invocadas e documentos juntados. Importante: essa etapa não existe no procedimento comum ordinário.

PAUTE-SE

Juiz designa audiência de instrução e julgamento. Importante: ao contrário do procedimento comum ordinário, no rito do júri, o magistrado somente irá decidir se absolve sumariamente o réu após a audiência de instrução.

AUDIÊNCIA No dia designado, é realizada audiência de instrução, sendo feita a oitiva do ofendido (se possível), das testemunhas e do réu.

DEBATES Após serem realizadas as oitivas, iniciam-se debates orais entre acusação e defesa pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada, prorrogáveis por mais 10 (dez).

SENTENÇA Encerrados os debates, o juiz prolata a sentença na própria audiência ou, se preferir, poderá determinar que os autos lhe sejam conclusos para melhor analisar o processo, devendo, nesse caso, proferir a sentença em um prazo de até 10 dias.

Sentença que encerra o sumário da culpa Encerrados os debates, o juiz irá proferir a sentença na própria audiência ou em até 10 dias. A sentença poderá ser no sentido de uma das quatro opções seguintes:

PRONÚNCIA IMPRONÚNCIA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO O réu será pronunciado quando o juiz se convencer de que existem prova da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria ou de participação.

O réu será impronunciado quando o juiz não se convencer: da materialidade do fato; da existência de indícios

suficientes de autoria ou de participação.

Ex.: a única testemunha que havia reconhecido o réu no IP não foi ouvida em juízo.

O réu será absolvido, desde logo, quando estiver provado (a): a inexistência do fato; que o réu não é autor ou

partícipe do fato; que o fato não constitui

crime; que existe uma causa de

isenção de pena ou de exclusão do crime.

Ex.: todas as testemunhas ouvidas afirmaram que o réu não foi o autor dos disparos.

Ocorre quando o juiz se convencer de que o fato narrado não é um crime doloso contra a vida, mas sim um outro delito, devendo, então, remeter o processo para o juízo competente. Ex.: juiz entende que não houve homicídio doloso, mas sim latrocínio.

Recurso cabível: RESE. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: RESE.

Fundamentação da sentença de pronúncia e excesso de linguagem A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as palavras com moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique demonstrado na decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime. Se o magistrado exagera nas palavras utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um “excesso de linguagem”, também chamado de “eloquência acusatória”.

Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25

Ex: na sentença de pronúncia, o juiz afirma: “não tenho nenhuma dúvida de que o réu foi o autor do homicídio da vítima Fulano. Na verdade, em todos os meus anos de magistratura, nunca vi um homicida tão frio, cruel e desprezível, sendo esse um crime brutal que merece ser gravemente reprimido”. Ora, no caso houve claramente excesso de linguagem por parte do juiz. Por que não pode haver o excesso de linguagem? Porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de pronúncia e das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472, parágrafo único). Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado irá ler essa decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado. O jurado poderá, inclusive, pensar o seguinte: “se o juiz, que estudou e conhece das leis, está aqui no papel dizendo que o réu é culpado, deve ser porque ele realmente é culpado. Vou ter que condená-lo também.” Perceba, portanto, que existe claro prejuízo para a defesa. Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer? Se o Tribunal reconhecer que houve excesso de linguagem na sentença de pronúncia, ele deverá anular a decisão, assim como atos processuais seguintes, determinando que outra sentença de pronúncia seja prolatada. Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada do processo) ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da economia processual? NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que outra seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja distribuída aos jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP. Assim, não há outro jeito. A providência adequada é a anulação da sentença e os consecutivos atos processuais que ocorreram no processo principal para que outra decisão seja proferida.

HABEAS CORPUS Cabimento de HC para análise de afastamento de cargo de prefeito

É cabível impetração de habeas corpus para que seja analisada a legalidade de decisão que determina o afastamento de prefeito do cargo, quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão.

STJ. 5ª Turma. HC 312.016-SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/4/2015 (Info 561).

Imagine a seguinte situação adaptada: João, Prefeito de um município do interior do Estado, responde a processo criminal no Tribunal de Justiça. O TJ determinou sua prisão preventiva e determinou o seu afastamento do exercício do cargo de prefeito pelo prazo de 180 dias. É cabível habeas corpus para impugnar essa decisão? SIM. É cabível impetração de habeas corpus para que seja analisada a legalidade de decisão que determina o afastamento de prefeito do cargo, quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão.

Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26

LIVRAMENTO CONDICIONAL Influência da reincidência no cálculo do livramento condicional

João praticou o crime de furto e foi condenado a 2 anos (delito 1).

Antes da condenação pelo furto transitar em julgado, ele praticou um estelionato (delito 2).

Logo, quando ele cometeu o delito 2 ele ainda não era reincidente.

Depois de transitar em julgado as condenações pelos delitos 1 e 2, João praticou um roubo (delito 3).

Desse modo, na condenação do delito 3, o juiz já reconheceu o réu como reincidente.

O juiz das execuções penais unificou as três condenações impostas contra João e ele iniciou o cumprimento da pena.

A dúvida que surge agora é a seguinte: no momento da concessão do livramento condicional, o juiz das execuções penais, quando for calcular o requisito objetivo, deverá separar cada um dos crimes (ex: exigir 1/3 do cumprimento da pena para os delitos 1 e 2, por ser ele primário na época) e depois exigir o cumprimento de 1/2 da pena para o delito 3 (quando ele era reincidente)?

NÃO. O juiz das execuções penais deverá somar todas as penas e exigir o cumprimento de 1/2 do somatório (livramento condicional qualificado) por ser o réu reincidente.

Segundo decidiu o STJ, na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição de reincidente em crime doloso deve incidir sobre a somatória das penas impostas ao condenado, ainda que a agravante da reincidência não tenha sido reconhecida pelo juízo sentenciante em algumas das condenações. Isso porque a reincidência é circunstância pessoal que interfere na execução como um todo, e não somente nas penas em que ela foi reconhecida.

A condição de reincidente, uma vez adquirida pelo sentenciado, estende-se sobre a totalidade das penas somadas, não se justificando a consideração isolada de cada condenação e tampouco a aplicação de percentuais diferentes para cada uma das reprimendas.

STJ. 5ª Turma. HC 307.180-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/4/2015 (Info 561).

O que é livramento condicional? Livramento condicional é... - um benefício da execução penal - concedido ao condenado preso, - consistindo no direito de ele ficar em liberdade, - mesmo antes de ter terminado a sua pena, - assumindo o compromisso de cumprir algumas condições, - desde que preencha os requisitos previstos na lei. O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade antecipada, condicional e precária. Entenda: antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena. condicional: uma vez que, durante o período restante da pena (chamado de período de prova), ele

terá que cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o benefício. precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra

as condições impostas. (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 808).

Previsão legal As regras sobre o livramento condicional estão elencadas nos arts. 83 a 90 do CP e arts. 131 a 146 da LEP.

Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Requisitos Para que o condenado tenha direito ao livramento condicional, deverá atender aos seguintes requisitos:

Requisitos OBJETIVOS

O condenado deve ter: 1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos; 2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for impossível fazê-lo; 3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar conforme ele seja reincidente ou não:

condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes: basta cumprir mais de 1/3 (um terço) da pena. É chamado de livramento condicional SIMPLES;

condenado reincidente em crime doloso: deve cumprir mais de 1/2 (metade) da pena para ter direito ao benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO;

condenado por crime hediondo ou equiparado, se não for reincidente específico em crimes dessa natureza: deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o livramento condicional ESPECÍFICO;

condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em crimes dessa natureza: não terá direito a livramento condicional.

Requisitos SUBJETIVOS

O condenado deve ter: 1) bom comportamento carcerário, a ser comprovado pelo diretor da unidade prisional; 2) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; 3) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; 4) para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à

pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Desse modo, como você observou acima, uma das circunstâncias mais importantes na definição dos requisitos do livramento condicional é saber se o réu é reincidente ou não. Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João praticou o crime de furto e foi condenado a 2 anos (delito 1). Antes da condenação pelo furto transitar em julgado, ele praticou um estelionato (delito 2). Logo, quando ele cometeu o delito 2 ele ainda não era reincidente. Depois de transitar em julgado as condenações pelos delitos 1 e 2, João praticou um roubo (delito 3). Desse modo, na condenação do delito 3, o juiz já reconheceu o réu como reincidente. Recapitulando:

quando o réu praticou o delito 1, ele era primário;

quando cometeu o delito 2, a condenação pelo primeiro não havia transitado em julgado, de forma que podemos dizer que ele ainda era primário;

quando perpetrou o delito 3, aí sim, ele já era reincidente. O juiz das execuções penais unificou as três condenações impostas contra João e ele iniciou o cumprimento da pena. A dúvida que surge agora é a seguinte: no momento da concessão do livramento condicional, o juiz das execuções penais, quando for calcular o requisito objetivo, deverá separar cada um dos crimes (ex: exigir 1/3 do cumprimento da pena para os delitos 1 e 2, por ser ele primário na época) e depois exigir o cumprimento de 1/2 da pena para o delito 3 (quando ele era reincidente)?

Informativo 561-STJ (04 a 07/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28

NÃO. O juiz das execuções penais deverá somar todas as penas e exigir o cumprimento de 1/2 do somatório (livramento condicional qualificado) por ser o réu reincidente. Segundo decidiu o STJ, na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição de reincidente em crime doloso deve incidir sobre a somatória das penas impostas ao condenado, ainda que a agravante da reincidência não tenha sido reconhecida pelo juízo sentenciante em algumas das condenações. Isso porque a reincidência é circunstância pessoal que interfere na execução como um todo, e não somente nas penas em que ela foi reconhecida. A condição de reincidente, uma vez adquirida pelo sentenciado, estende-se sobre a totalidade das penas somadas, não se justificando a consideração isolada de cada condenação e tampouco a aplicação de percentuais diferentes para cada uma das reprimendas.

DIREITO TRIBUTÁRIO

SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Reclamação administrativa incapaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário

A reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento NÃO é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, III, do CTN. Isso porque as reclamações e recursos previstos nesse dispositivo legal são aqueles que discutem o próprio lançamento tributário, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário.

Sendo a reclamação proposta contra o ato que exclui o contribuinte do parcelamento, essa reclamação está questionando a exclusão em si (e não o lançamento tributário). Logo, não suspende a exigibilidade do crédito.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.372.368-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561).

Constituição do crédito tributário O crédito tributário é constituído (nasce) com um ato do Fisco chamado de “lançamento”. O lançamento é o ato por meio do qual o Auditor Fiscal constata que ocorreu um fato gerador de tributo. Ele, então, identifica quem é o sujeito passivo (contribuinte), calcula o quanto do tributo é devido (aplicando a alíquota sobre a base de cálculo) e inclui também a multa (se for o caso). Somente depois que é feito o lançamento podemos dizer que existe “crédito tributário”, ou seja, um crédito que o Fisco possui em relação a um devedor (contribuinte). Depois de o crédito tributário ser constituído, ainda assim poderá haver algum “problema” com ele? SIM. Existem três opções para o crédito tributário constituído. Assim, ele poderá ser: a) inscrito em dívida ativa e cobrado do devedor mediante execução fiscal; b) suspenso (art. 151 do CTN); c) extinto (art. 156 do CTN). Suspensão do crédito tributário As hipóteses de suspensão do crédito tributário estão elencadas no CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.

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V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes.

Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: A empresa “XX” fez um acordo de parcelamento de dívidas tributárias. Isso significa que havia créditos tributários já constituídos em seu desfavor e ela aderiu a um programa por meio do qual comprometeu-se a pagar prestações mensais com o objetivo de quitar a dívida tributária existente. Vale ressaltar que o parcelamento é uma forma de suspensão do crédito tributário, ou seja, enquanto o parcelamento estiver ativo (vigente), o Fisco não poderá dar início nem continuar a execução fiscal contra o devedor. Ocorre que a empresa acabou atrasando as prestações e, por isso, foi excluída do programa de parcelamento. Estando fora do parcelamento, o crédito tributário, que estava suspenso, volta a ter exigibilidade, ou seja, poderá ser novamente cobrado pelo Fisco. Inconformada, a empresa apresentou reclamação administrativa perante o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais contra ato de exclusão do parcelamento. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) é um órgão administrativo colegiado, vinculado ao Ministério da Fazenda, e que julga os recursos dos contribuintes que tenham débitos com a Receita Federal. De forma geral (ainda não falando do caso concreto), a reclamação administrativa é causa de suspensão do crédito tributário? SIM. As reclamações e recursos administrativos são causas de suspensão do crédito tributário, nos termos do art. 151, III do CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo;

No caso concreto, a reclamação proposta pela empresa “XX” suspendeu novamente a exigibilidade do crédito tributário? NÃO. O STJ entende que a reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento NÃO é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, III, do CTN. Isso porque as reclamações e recursos previstos nesse dispositivo legal são aqueles que discutem o próprio lançamento tributário, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário. Sendo a reclamação proposta contra o ato que exclui o contribuinte do parcelamento, essa reclamação está questionando a exclusão em si (e não o lançamento tributário). Logo, não suspende a exigibilidade do crédito.

II e IPI Isenções de IPI e de II para instituições culturais

Apenas concursos federais!

A Lei 8.032/90 prevê que as “instituições de educação” possuem isenção de II e de IPI caso importem bens do exterior. A redação literal da lei fala em “instituições de educação”. Apesar disso, é possível estender essa isenção também para “instituições culturais”?

SIM. As entidades com finalidade eminentemente cultural também fazem jus às isenções de Imposto de Importação (II) e de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) previstas nos arts. 2º, I, “b”, e 3º, I, da Lei 8.032/90.

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Conquanto a Lei 8.032/90 preveja isenções de II e de IPI para as “instituições de educação” (art. 2º, I, “b”), as entidades com finalidade eminentemente cultural também estão inseridas nessa expressão legal, considerando que não se pode dissociar cultura de educação.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.100.912-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Isenção de II e IPI O Imposto de Importação (II) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) são dois tributos federais.

A Lei n. 8.032/90 prevê que as “instituições de educação” possuem isenção de II e de IPI caso importem bens do exterior.

A redação literal da lei fala em “instituições de educação”. Apesar disso, é possível estender essa isenção também para “instituições culturais”? SIM. As entidades com finalidade eminentemente cultural também fazem jus às isenções de Imposto de Importação (II) e de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) previstas nos arts. 2º, I, “b”, e 3º, I, da Lei 8.032/90.

Apesar de a Lei n. 8.032/90 prever isenções de II e de IPI para as “instituições de educação” (art. 2º, I, “b”), as entidades com finalidade eminentemente cultural também estão inseridas nessa expressão legal, considerando que não se pode dissociar cultura de educação. No caso concreto, a Associação de Amigos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro importou aparelhos para reequipar a cinemateca do Museu. O STJ entendeu que essa instituição cultural tinha direito à isenção pelo fato de a educação e a cultura estarem intimamente ligadas.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA Possibilidade de majoração das contribuições para plano de previdência privada

(Obs: tema cobrado muito pouco em provas; antes de estudar, verifique o edital do seu concurso)

A contribuição dos integrantes de plano de previdência complementar pode ser majorada sem ofender direito adquirido.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.013-SE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/4/2015.

De acordo com os arts. 202 da CF e 1º da LC 109/2001, a previdência privada é de caráter complementar, facultativa, regida pelo Direito Civil, baseada na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, sendo o regime financeiro de capitalização (contribuições do participante e do patrocinador, se houver, e rendimentos com a aplicação financeira destas) obrigatório para os benefícios de pagamento em prestações continuadas e programadas, e organizada de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social. Para cumprir sua missão e gerir adequadamente o fundo, as entidades de previdência complementar utilizam-se de alguns instrumentos, como o plano de benefícios e o plano de custeio. O plano de benefícios é um programa de capitalização através do qual alguém se propõe a contribuir, para a constituição de um fundo que, decorrido o prazo de carência, poderá ser resgatado mediante o pagamento de uma parcela única, ou de diversas parcelas sucessivas (renda continuada). Já o plano de custeio, elaborado segundo cálculos atuariais, reavaliados periodicamente, deve fixar o nível de contribuição necessário à constituição das reservas e à cobertura das demais despesas, podendo as contribuições ser normais, quando destinadas ao custeio dos benefícios oferecidos, ou extraordinárias, quando destinadas ao custeio de déficits, serviço passado e outras finalidades não incluídas na contribuição normal.

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Logo, pelo regime de capitalização, o benefício de previdência complementar será decorrente do montante de contribuições efetuadas e do resultado de investimentos, podendo haver, no caso de desequilíbrio financeiro e atuarial do fundo, superávit ou déficit, a influenciar os participantes do plano como um todo, já que, pelo mutualismo, serão beneficiados ou prejudicados, de modo que, nessa última hipótese, terão que arcar com os ônus daí advindos. Cabe asseverar, ademais, que a possibilidade de alteração dos regulamentos dos planos de benefícios pelas entidades de previdência privada, com a supervisão de órgãos governamentais, e a adoção de sistema de revisão dos valores das contribuições e dos benefícios já encontravam previsão legal desde a Lei 6.435/1977 (arts. 3º, 21 e 42), tendo sido mantidas na LC 109/2001 (arts. 18 e 21). De fato, é da própria lógica do regime de capitalização do plano de previdência complementar o caráter estatutário, até porque, periodicamente, em cada balanço, todos os planos de benefícios devem ser reavaliados atuarialmente, a fim de manter o equilíbrio do sistema, haja vista as flutuações do mercado e da economia, razão pela qual adaptações e ajustes ao longo do tempo revelam-se necessários, sendo inapropriado o engessamento normativo e regulamentar. Cumpre assinalar que as modificações processadas nos regulamentos dos planos aplicam-se a todos os participantes das entidades fechadas de previdência privada, a partir da aprovação pelo órgão regulador e fiscalizador, observado, em qualquer caso, o direito acumulado de cada participante. É certo que é assegurada ao participante que tenha cumprido os requisitos para obtenção dos benefícios previstos no plano a aplicação das disposições regulamentares vigentes na data em que se tornou elegível a um benefício de aposentadoria. Todavia, disso não decorre nenhum direito adquirido a regime de custeio, o qual poderá ser alterado a qualquer momento para manter o equilíbrio atuarial do plano, sempre que ocorrerem situações que o recomendem ou exijam, obedecidos os requisitos legais. É por isso que o resultado deficitário nos planos ou nas entidades fechadas será suportado por patrocinadores, participantes e assistidos, devendo o equacionamento “ser feito, dentre outras formas, por meio do aumento do valor das contribuições, instituição de contribuição adicional ou redução do valor dos benefícios a conceder, observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador” (art. 21, § 1º, da LC 109/2001).

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (DPE/PR 2014) O pregão é a modalidade licitatória a ser adotada em casos de objetos estritamente

técnicos, não importando o preço. ( ) 2) (Promotor MP/MG 2013) O pregão é modalidade licitatória de aquisição de bens e serviços comuns da

administração pública, independente do valor. ( ) 3) (Promotor MP/SC 2014) O pregão é a modalidade de licitação adotada para aquisição de bens e

serviços comuns. Entendem-se como tais aqueles que podem ser fornecidos por interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. ( )

4) (PGM/SP 2014) Caracteriza o pregão: A) objeto comum, disponível no mercado a qualquer tempo, cuja configuração e características são padronizadas pela própria atividade empresarial. B) podem participar somente os sujeitos previamente inscritos em cadastro público, o que torna a licitação sumária e mais rápida. C) os proponentes ficam vinculados por sua proposta até que outra, mais elevada, seja formulada. D) modalidade de licitação mais simplificada para aquisição de bens e serviços cujo valor é limitado, nos termos da lei. E) utilização de recursos eletrônicos de informação para aceitação de propostas e lances em sessão presencial apenas para candidatos previamente cadastrados.

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5) (PGE/MS 2014) O pregão é a modalidade de licitação que pode ser adotada para a aquisição de bens e serviços comuns, desde que o valor estimado para a contratação não ultrapasse R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais). ( )

6) (Juiz TJ/PR 2013) Acerca do Pregão, é correto afirmar: A) É necessária a exigência de garantia da proposta. B) O prazo de validade das propostas será de 30 (trinta) dias, se outro não estiver fixado no edital. C) A definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e clara, vedadas especificações que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias, limitem a competição. D) É obrigatória a aquisição do edital pelos licitantes, como condição para participação no certame.

7) (DPE/MG 2014) O pregão é modalidade de licitação em que há inversão das fases de classificação das propostas e habilitação dos licitantes; uma vez conhecidos os valores ofertados, são admitidos lances verbais e sucessivos a serem apresentados por todos os licitantes habilitados até a proclamação do vencedor. ( )

8) (Promotor MP/RR 2012 CESPE) No pregão, a fase da habilitação deve preceder a de classificação. ( ) 9) (Juiz TJDF 2014 CESPE) Se, em licitação na modalidade pregão, apenas um licitante se interessar em

oferecer proposta, poderá haver negociação direta entre a administração pública e o proponente, a fim de se chegar ao menor preço. ( )

10) (Juiz Federal TRF1 2015 CESPE) No pregão, ao contrário das demais modalidades de licitação, a adjudicação do objeto da licitação ao vencedor antecede à homologação do procedimento ( )

11) Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no CAR. ( )

12) Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez. ( )

13) A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição financeira acarreta à contratada automática responsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por grupo fortemente armado. ( )

14) A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado maior de 60 anos de idade e que conte com mais de 10 anos de vínculo contratual. ( )

15) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Segundo os ditames do Estatuto do Idoso e de acordo com o entendimento do STJ, é vedado às seguradoras de planos de saúde o aumento desarrazoado das mensalidades dos planos pelo simples fato de mudança de faixa etária. ( )

16) É inválida a cláusula contratual de não concorrência por violar o princípio da livre iniciativa. ( ) 17) (DP/DF 2013 CESPE) A constatação do excesso de linguagem, ou seja, juízo de valor que ultrapasse os

limites da indicação de indícios de materialidade e autoria, na sentença de pronúncia pode ensejar sua anulação. ( )

18) É cabível impetração de habeas corpus para que seja analisada a legalidade de decisão que determina o afastamento de prefeito do cargo, quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão. ( )

19) Na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição de reincidente em crime doloso deve incidir sobre a somatória das penas impostas ao condenado, ainda que a agravante da reincidência não tenha sido reconhecida pelo juízo sentenciante em algumas das condenações. ( )

20) As entidades com finalidade eminentemente cultural não fazem jus às isenções de Imposto de Importação (II) e de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) previstas nos arts. 2º, I, “b”, e 3º, I, da Lei 8.032/90 considerando que estas são restritas às instituições de educação. ( )

Gabarito

1. E 2. C 3. E 4. Letra A 5. E 6. Letra C 7. E 8. E 9. E 10. C

11. C 12. C 13. E 14. C 15. C 16. E 17. C 18. C 19. C 20. E

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JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA COLETIVA E INCIDÊNCIA DE JUROS REMUNERATÓRIOS E EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 887. Na execução individual de sentença proferida em ação civil pública que reconhece o direito de poupadores aos expurgos inflacionários decorrentes do Plano Verão (janeiro de 1989): (i) descabe a inclusão de juros remuneratórios nos cálculos de liquidação se inexistir condenação expressa, sem prejuízo de, quando cabível, o interessado ajuizar ação individual de conhecimento; (ii) incidem os expurgos inflacionários posteriores a título de correção monetária plena do débito judicial, que terá como base de cálculo o saldo existente ao tempo do referido plano econômico, e não os valores de eventuais depósitos da época de cada plano subsequente. Segundo a doutrina, o dispositivo da sentença pode ser direto ou indireto. Será considerado direto quando a sentença especificar a prestação imposta ao vencido. Já o indireto ocorrerá na hipótese em que o juiz, ao sentenciar, apenas se reporta ao pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente. Nesse último caso, recorre-se à inicial quando a sentença não traz em seu bojo os termos em que o pedido foi acolhido. Convém esclarecer que os juros moratórios, em sua acepção estritamente jurídica, são juros legais, para cuja incidência se dispensa pedido expresso ou mesmo condenação (art. 293 do CPC). Aliás, a Súmula 254 do STJ preceitua que: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação”. De outro lado, os juros remuneratórios, no mais das vezes, são contratuais, cujo reconhecimento depende de pedido expresso e, para ser executado, de condenação na fase de conhecimento. Nesse contexto, a jurisprudência do STJ é tranquila no sentido de não permitir a incidência de juros remuneratórios na fase de execução se a sentença foi omissa quanto ao ponto. Além disso, o STJ, a princípio, não amplia a coisa julgada com o propósito de permitir a execução de determinadas rubricas não contempladas no título executivo, a despeito de reconhecer sua decorrência lógica do direito principal tutelado na fase de conhecimento. Por exemplo, na ação civil pública 98.0016021-3, ajuizada pela Associação Paranaense de Defesa do Consumidor – Apadeco na Justiça do Paraná, objetivando o recebimento dos expurgos inflacionários referentes aos meses de junho de 1987 e janeiro de 1989, o STJ não vem permitindo a execução individual de juros remuneratórios não contemplados no título. Por isso que se franqueia a via da ação individual de conhecimento para a busca dos juros remuneratórios a cujo respeito se omitira a ação coletiva 98.0016021-3. Noutro giro, importa assinalar que a jurisprudência do STF e do STJ é firme no sentido de que a correção monetária não consubstancia acréscimo material ao débito principal, mas mera recomposição do valor real em face da corrosão inflacionária de determinado período. Por essa ótica, havendo um montante fixo já definido na sentença – dependente apenas de mero cálculo aritmético –, a inclusão, na fase de execução individual, de correção monetária não contemplada na sentença não hostiliza a coisa julgada, antes, a protege, pois só assim o título permanece hígido com a passagem do tempo em um cenário econômico no qual a inflação não é nula. Nessa medida, para a manutenção da coisa julgada, há de se proceder à correção monetária plena do débito reconhecido. Assim, os expurgos inflacionários do período de inadimplemento devem compor o cálculo, estejam ou não contemplados na sentença exequenda. Saliente-se, por fim, a existência de duas situações que parecem se baralhar com relativa frequência: (a) uma é a incidência de expurgos inflacionários resultantes de planos econômicos não previstos na sentença coletiva a valores eventualmente existentes em contas de poupança em momento posterior; (b) outra é a incidência, no débito judicial resultante da sentença, de expurgos inflacionários decorrentes de planos econômicos posteriores ao período apreciado pela ação coletiva, a título de correção monetária plena da dívida consolidada. REsp 1.392.245-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 7/5/2015.

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DIREITO TRIBUTÁRIO. RETENÇÃO DE TRIBUTOS FEDERAIS NA FONTE QUANDO DO PAGAMENTO DE CONTRATO DE FRETAMENTO DE AERONAVE PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL. É possível reter na fonte, na forma dos arts. 64 da Lei 9.430/1996 e 34 da Lei 10.833/2003, o IRPJ, a CSLL, a contribuição para o PIS/PASEP e a COFINS, quando do pagamento de contrato de fretamento de aeronave pela administração pública federal. Da análise do art. 133 da Lei 7.565/1986 (Código Brasileiro de Aeronáutica), verifica-se que o contrato de fretamento ocorre quando uma das partes, chamada fretador, obriga-se para com a outra, chamada afretador, mediante o pagamento do frete por este, a realizar uma ou mais viagens preestabelecidas ou durante certo período de tempo, reservando-se ao fretador o controle sobre a tripulação e a condução técnica da aeronave. O referido dispositivo legal ressalta a existência de reserva de controle técnico sobre o bem móvel objeto do contrato em questão, fato que remete o contrato a uma natureza mais próxima do conceito de prestação de serviços do que do conceito de mera locação de bem móvel. Sendo assim, não se deve aplicar os precedentes do STF no sentido de que os contratos de locação de bem móvel não se submetem à tributação a título de ISS por não serem prestação de serviços ou locação de serviços (Súmula Vinculante 31 do STF). É que o contrato em questão (fretamento de aeronave) possui em seu bojo indubitável prestação de serviços. Outrossim, também está embutida no contrato de fretamento a locação do bem móvel (aeronave), que constitui em si o fornecimento do bem, além da prestação de serviços efetivada pela tripulação, pelo que não há como a atividade escapar à hipótese de incidência descrita no art. 64 da Lei 9.430/1996 e no art. 34 da Lei 10.833/2003, que estabelecem a técnica de arrecadação de retenção na fonte quando da realização dos pagamentos efetuados por órgãos, autarquias e fundações, bem como empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades de que a União detenha a maioria do capital social com direito a voto. Com efeito, devido à essa natureza híbrida do contrato de fretamento de aeronave, se as situações individualmente consideradas, relativamente ao fornecimento de bem, locação de bem móvel ou prestação de serviço já ensejariam a retenção dos tributos na fonte, tanto mais deve ensejar a retenção na fonte a hipótese em questão, que possui mais de uma situação ensejadora de sua incidência. Por fim, de registrar que, ainda que não houvesse a arrecadação pela técnica de antecipação mediante retenção na fonte, a empresa continuaria a se submeter à tributação pelo IRPJ, CSLL, PIS/PASEP e COFINS, posto que praticante dos respectivos fatos geradores, atrelados à aferição de lucro real, lucro líquido ajustado, e receita ou faturamento, respectivamente. REsp 1.218.639-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/4/2015, DJe 7/5/2015.

DIREITO EMPRESARIAL. FIXAÇÃO DE CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA. Quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que limitada espacial e temporalmente. Inicialmente, deve-se buscar, na hipótese em análise, a finalidade pretendida pelas partes ao firmarem a cláusula de não concorrência para, então, compreender-se sua adequação, ou não, à autonomia privada conformada pela funcionalização do direito privado, nos termos do art. 421 do CC. Com efeito, a restrição à concorrência no ambiente jurídico nacional, em que vige a livre iniciativa privada, é excepcional e decorre da convivência constitucionalmente imposta entre as liberdades de iniciativa e de concorrência. Saliente-se que essa mesma preocupação com os efeitos concorrenciais potencialmente negativos forneceu substrato doutrinário e ideológico a suportar a vedação de restabelecimento em casos de trespasse de estabelecimento. A referida vedação passou a integrar o ordenamento jurídico nacional por meio do art. 1.147 do CC, segundo o qual, “Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência”. Diferentemente da hipótese em análise, a vedação ao restabelecimento nos casos de trespasse decorre de lei, o que afasta discussões acerca da proporcionalidade da medida. A par disso, tratando-se a concorrência de valor institucional a ser protegido por imposição constitucional, extrai-se a função social de cláusulas autorregulatórias privadas que se adequem a esta finalidade. Por óbvio, essa admissão deverá atender a certos limites, sob pena de se desviarem de sua função, passando a representar conduta abusiva de alguma

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das partes. Nesse contexto, deve também ser afastada a conclusão no sentido de que, resolvido o vínculo contratual, não teria qualquer eficácia a cláusula de não concorrência. Primeiramente, esse entendimento retira da cláusula toda sua funcionalidade, existente, como demonstrado, na medida em que protege o ambiente concorrencial de distorções indesejadas. Ademais, a exigência de conduta proba das partes, nos termos do art. 422 do CC, não está limitada ao lapso temporal de vigência do contrato principal em que inserida. Nesse diapasão, o enunciado 25 da I Jornada de Direito Civil do CJF, esclarece: “o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual”. E, de fato, insere-se na conduta conformada pela boa-fé objetiva a vedação ao estabelecimento de concorrência entre empresas que voluntariamente se associam para ambas auferirem ganhos, bem como o prolongamento dessa exigência por prazo razoável, a fim de propiciar a desvinculação da clientela da representada do empreendimento do representante. Assim, devem ser consideradas válidas as cláusulas contratuais de não-concorrência, desde que limitadas espacial e temporalmente, porquanto adequadas à proteção da concorrência e dos efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela – valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015, DJe 11/5/2015.