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Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.330.611-DF; REsp 1.338.292-SP; Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL INTERVENÇÃO FEDERAL Deferimento de intervenção envolvendo descumprimento de decisão judicial de reintegração de posse em invasão do MST. DIREITO ADMINISTRATIVO AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Prazo prescricional da ação ajuizada pelo INSS contra o empregador. CÓDIGO DE TRÂNSITO (PERMISSÃO PARA DIRIGIR) Recusa à expedição de CNH definitiva não depende de prévio procedimento administrativo. DIREITO CIVIL CONTRATO DE SEGURO Morte decorrente de AVC não está abrangida em seguro de acidentes pessoais. CONTRATO DE CAPITALIZAÇÃO Devolução de valores aplicados em título de capitalização. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO A quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário nos contratos sem FCVS. DPVAT Acidente envolvendo máquina colheitadeira USUFRUTO Usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA É nula a notificação extrajudicial se constar nome diverso do real credor. ALIMENTOS Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos por ele fixados. DIREITO DO CONSUMIDOR RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO Dano moral in re ipsa em caso de atraso de voo, seguido de falta de informação e de assistência aos passageiros.

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Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.330.611-DF; REsp 1.338.292-SP; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

INTERVENÇÃO FEDERAL Deferimento de intervenção envolvendo descumprimento de decisão judicial de reintegração de posse em invasão

do MST.

DIREITO ADMINISTRATIVO

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Prazo prescricional da ação ajuizada pelo INSS contra o empregador. CÓDIGO DE TRÂNSITO (PERMISSÃO PARA DIRIGIR) Recusa à expedição de CNH definitiva não depende de prévio procedimento administrativo.

DIREITO CIVIL

CONTRATO DE SEGURO Morte decorrente de AVC não está abrangida em seguro de acidentes pessoais. CONTRATO DE CAPITALIZAÇÃO Devolução de valores aplicados em título de capitalização. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO A quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário nos contratos sem FCVS. DPVAT Acidente envolvendo máquina colheitadeira USUFRUTO Usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA É nula a notificação extrajudicial se constar nome diverso do real credor. ALIMENTOS Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos por ele fixados.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO Dano moral in re ipsa em caso de atraso de voo, seguido de falta de informação e de assistência aos passageiros.

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DIREITO EMPRESARIAL

PROPAGANDA COMPARATIVA Em regra, é lícita a propaganda comparativa. PATENTES Requisitos para a concessão da patente “pipeline”. FALÊNCIA No pedido de falência é desnecessária a demonstração da insolvência econômica do devedor. Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo que a devedora possua grande

capacidade econômica. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial. DIREITO AMBIENTAL INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ENVOLVENDO ANIMAIS SILVESTRES Posse irregular de animais silvestres por longo período de tempo

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PRAZOS PROCESSUAIS Suspensão dos prazos prescricionais durante o recesso. EXECUÇÃO FISCAL O redirecionamento da execução não exclui a responsabilidade tributária da pessoa jurídica.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

HABEAS CORPUS Não cabe habeas corpus para questionar a pena imposta de suspensão do direito de dirigir DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA Deverá ser apurado na Justiça Comum a conduta do militar que atira contra civil mesmo ainda não se tendo

certeza se a sua intenção era matar

DIREITO TRIBUTÁRIO

CERTIDÃO NEGATIVA Impossibilidade de expedir certidão positiva com efeitos de negativa caso a penhora tenha sido insuficiente.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

AUXÍLIO-RECLUSÃO Baixa renda para fins de concessão do benefício. PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Não aplicação da Súmula 289 do STJ em caso de migração dos participantes ou assistidos para outro plano de

benefícios da mesma entidade.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

INTERVENÇÃO FEDERAL Deferimento de intervenção envolvendo descumprimento de decisão judicial de reintegração de

posse em invasão do MST

Importante!!!

A União poderá intervir no Estado ou DF para prover (garantir) a execução de ordem ou decisão judicial que esteja sendo desrespeitada (art. 34, VI, da CF/88). Ocorrendo esse descumprimento, o STF, o STJ ou o TSE, a depender de qual ordem/decisão judicial esteja sendo desatendida, irá requisitar do Presidente da República a intervenção federal.

Se o Estado/DF estiver descumprindo uma decisão de juiz ou Tribunal de 2ª instância, o Tribunal local deverá fazer uma representação ao Tribunal Superior competente (STF, STJ ou TSE) solicitando a intervenção. Se o Tribunal Superior concordar, ele irá requisitar ao Presidente da República a intervenção.

Para saber qual o Tribunal Superior será competente, deverá ser analisada a matéria discutida e para quem seria dirigido o eventual recurso.

Compete ao STJ julgar pedido de intervenção federal baseado no descumprimento de ordem de reintegração de posse de imóvel rural ocupado pelo MST expedida por Juiz Estadual e fundada exclusivamente na aplicação da legislação infraconstitucional civil possessória. Isso porque a decisão descumprida analisou tema relacionado com direito civil privado, não tendo feito considerações sobre questões constitucionais. Logo, o eventual recurso contra a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão.

Quanto ao mérito, na situação concreta envolvendo ocupação de sítio pelo MST, tendo sido deferida decisão judicial para a retomada do imóvel há muitos anos, o que não foi cumprido, deverá ser deferida a intervenção federal?

O STJ possui precedentes em sentidos opostos:

NÃO: STJ. IF 111-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 1º/7/2014. Neste precedente, entendeu-se que, como já se passaram muitos anos desde que a decisão judicial foi descumprida, a remoção das diversas famílias que vivem no local, se fosse feita hoje, iria causar um enorme conflito social, até mesmo porque não existe lugar para acomodar de imediato, de forma digna, essas pessoas. Logo, apesar de tecnicamente, a situação se enquadrar em uma hipótese de intervenção federal, esta não deveria ser decretada, devendo se considerar que as fazendas ocupadas foram afetadas ao interesse público e que a questão deverá ser resolvida em reparação a ser buscada via ação de indenização (desapropriação indireta) promovida pelo interessado.

SIM. IF 107-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2014. A Corte decidiu que deve ser deferido pedido de intervenção federal quando verificado o descumprimento pelo Estado, sem justificativa plausível e por prazo desarrazoado, de ordem judicial que tenha requisitado força policial para promover reintegração de posse em imóvel rural ocupado pelo MST, mesmo que, no caso, tenha se consolidado a invasão por um grande número de famílias e exista, sem previsão de conclusão, procedimento administrativo de aquisição da referida propriedade pelo Incra para fins de reforma agrária. É certo que a ocupação de grande número de famílias é sempre um fato que merece a consideração da autoridade encarregada da desocupação, mas não é em si impeditiva da intervenção. A inércia do Estado-executivo em dar cumprimento à decisão do Estado-juiz enfraquece o Estado de direito, que caracteriza a República brasileira.

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STJ. Corte Especial. IF 111-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 1º/7/2014 (Info 545).

STJ. Corte Especial. IF 107-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2014 (Info 550).

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DOS ENTES A União, os Estados, o DF e os Municípios são autônomos (art. 18 da CF/88). A autonomia dos entes é manifestada pelas seguintes capacidades que possuem: a) Auto-organização: capacidade de os Estados elaborarem suas próprias Constituições e de o DF e os

Municípios elaborarem suas Leis Orgânicas; b) Autogoverno: prerrogativa que os entes possuem de elegerem os seus respectivos governantes

(Governadores, Prefeitos, Deputados, Vereadores); c) Autoadministração: capacidade que os entes possuem de dirigirem os seus próprios órgãos e serviços

públicos e de exercerem suas competências, sem interferência de outro ente. Assim, por exemplo, as decisões administrativas do Estado-membro “X” são tomadas exclusivamente por este Estado-membro “X”, sem que possam sofrer a interferência da União, de outros Estados-membros ou de Municípios;

d) Autolegislação: prerrogativa dos entes de editarem suas próprias leis, de acordo com as competências fixadas pela CF.

EQUILÍBRIO FEDERATIVO (PACTO FEDERATIVO) Apesar de serem autônomos, os entes da Federação têm que obedecer aos princípios e regras da CF/88 a fim de manter o equilíbrio federativo. INTERVENÇÃO: INSTRUMENTO PARA MANTER O EQUILÍBRIO FEDERATIVO A CF/88 prevê que, se houver risco à manutenção do equilíbrio federativo, é possível a utilização de um mecanismo chamado de “intervenção”. A finalidade da intervenção é proteger a estrutura constitucional federativa contra atos destrutivos de unidades federadas. CONCEITO DE INTERVENÇÃO A intervenção é... - uma medida de natureza política, - excepcional, - prevista taxativamente na CF/88, - consistente na incursão (intromissão) de um ente superior em assuntos de um ente inferior - restringindo temporariamente a autonomia deste - com o objetivo de preservar o pacto federativo - e fazer cumprir os demais princípios e regras constitucionais.

PRINCÍPIO DA NÃO-INTERVENÇÃO A regra é que um ente não pode intervir em outro. A intervenção de um ente em outro é excepcional. Somente fatos de enorme gravidade justificam essa medida extrema.

ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO: Há dois tipos de intervenção em nossa Federação: a) Intervenção da União nos Estados, no Distrito Federal ou nos Municípios localizados em Territórios

(intervenção federal) – art. 34 da CF; b) Intervenção dos Estados nos Municípios (intervenção estadual) – art. 35 da CF.

Intervenção FEDERAL União intervém nos Estados.

Intervenção ESTADUAL Estados intervêm nos Municípios. (Obs: a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios).

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HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO FEDERAL As hipóteses excepcionais de intervenção federal estão previstas taxativamente no art. 34 da CF/88. Vejamos cada uma delas, analisando o procedimento adotado:

HIPÓTESES PROCEDIMENTO

A União poderá intervir nos Estados/DF se essa medida for necessária para: 1) manter a integridade nacional. Ex: um determinado Estado-membro inicia um forte movimento para se separar do restante do Brasil.

O Presidente da República, ao perceber que está ocorrendo alguma dessas hipóteses, deverá decretar a intervenção, mesmo que não tenha sido solicitada por ninguém. Em outras palavras, a intervenção será decretada de ofício (de forma espontânea). O Presidente decreta a intervenção por meio de um Decreto Presidencial, que deverá trazer as regras sobre a intervenção (amplitude, prazo, condições). No Decreto, o Presidente poderá nomear um interventor para administrar o Estado, caso entenda necessário. O Decreto deverá ser submetido à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de 24 horas. A doutrina chama isso de “controle político” da intervenção. Se o Congresso não estiver funcionando, o Presidente do Senado deverá fazer uma convocação extraordinária. Antes de decretar a intervenção, o Presidente consultará o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, sendo tais manifestações apenas opinativas (não vinculantes).

2) repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra. Ex: a Colômbia decide conquistar Tabatinga (AM).

3) pôr termo (acabar) a grave comprometimento da ordem pública. Ex: o Estado-membro não está conseguindo controlar o crime organizado.

4) reorganizar as finanças do Estado/DF caso ele tenha: a) suspendido o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixado de entregar aos Municípios as receitas tributárias, dentro dos prazos estabelecidos em lei.

5) A União poderá intervir no Estado/DF para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação.

Se o Poder Executivo ou Legislativo estadual estiver sendo coagido/impedido, deverá solicitar (“pedir”) ao Presidente da República que intervenha no Estado. Se o Poder Judiciário estiver sendo coagido/impedido, deve solicitar providências ao STF. Se o STF concordar com o pedido, irá requisitar do Presidente da República a intervenção (a requisição é vinculante). O Decreto de intervenção também será submetido à apreciação do CN, no prazo de 24 horas.

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6) A União poderá intervir no Estado/DF para prover (garantir) a execução de ordem ou decisão judicial que esteja sendo desrespeitada.

A decretação da intervenção dependerá de requisição do STF, do STJ ou do TSE. Assim, o STF, o STJ ou o TSE, a depender de qual ordem/decisão judicial esteja sendo descumprida, irá requisitar do Presidente da República a intervenção federal. Assim, p. ex., se a decisão do TSE é que foi descumprida, o Presidente desta Corte irá requisitar a intervenção ao Presidente da República. E se o Estado/DF estiver descumprindo uma decisão de juiz ou Tribunal de 2ª instância? Nesse caso, o Tribunal local deverá fazer uma representação ao Tribunal Superior competente (STF, STJ ou TSE) solicitando a intervenção. Se o Tribunal Superior concordar, ele irá requisitar ao Presidente da República a intervenção. Para saber qual o Tribunal Superior será competente, deverá ser analisada a matéria discutida e para quem seria dirigido o eventual recurso. Ex1: caberá ao STJ o exame da intervenção federal nos casos em que a matéria é infraconstitucional (legislação federal) e o possível recurso deva ser encaminhado ao STJ. Ex2: se a questão for constitucional, o pedido de intervenção será julgado pelo STF. Obs: NÃO é necessária a apreciação pelo CN, tendo em vista que a intervenção foi determinada pelo Poder Judiciário em julgamento de ação judicial.

7) A União poderá intervir no Estado/DF para prover (garantir) a execução de lei federal que esteja sendo desrespeitada.

A decretação da intervenção dependerá de provimento (decisão julgando procedente), pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República. Assim, verificando a ocorrência de uma dessas duas hipóteses, o PGR deverá propor uma representação de inconstitucionalidade interventiva (ação direta de inconstitucionalidade interventiva) junto ao STF. Se o STF julgar a ação procedente, deverá levar ao conhecimento do Presidente da República para que este, no prazo improrrogável de até 15 dias, tome as seguintes providências: a) Expeça decreto de intervenção; b) Nomeie, nesse mesmo decreto, o interventor

8) A União poderá intervir no Estado/DF para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis, que são os seguintes:

a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;

b) direitos da pessoa humana;

c) autonomia municipal;

d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.

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e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (25%) e nas ações e serviços públicos de saúde.

(se couber). Vale ressaltar que nem sempre haverá a nomeação de interventor. O procedimento está previsto na Lei 12.562/2011. Obs1: a decretação da intervenção é vinculada, cabendo ao Presidente a mera formalização da decisão tomada pelo STF. Obs2: o decreto deve limitar-se a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida for suficiente para o restabelecimento da normalidade. Obs3: NÃO é necessário que a intervenção seja apreciada pelo Congresso Nacional.

O não-pagamento de precatório pode, em tese, ensejar intervenção federal? SIM. O fato de o Estado-membro deixar de pagar precatório configura descumprimento de decisão judicial transitada em julgado e, portanto, pode, em tese, autorizar a intervenção federal com base no art. 34, VI, 2ª parte, da CF/88.

O simples não-pagamento de precatório já enseja a intervenção federal? NÃO. Segundo a jurisprudência consolidada do STF, é pressuposto indispensável ao acolhimento da intervenção federal que reste demonstrada a atuação estatal voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão judicial transitada em julgado. Em outras palavras, é necessário que tenha havido, por parte do Estado, descumprimento voluntário e intencional da decisão judicial. A ausência de conduta dolosa do ente estatal em descumprir a ordem judicial não autoriza o deferimento do pedido de intervenção. Se ficar demonstrado que o Estado-membro não pagou os precatórios por conta de dificuldades financeiras, tal circunstância revela, segundo o STF, que não houve intenção estatal de se esquivar ao pagamento. STF. Plenário. IF 5101/RS, IF 5105/RS, IF 5106/RS, IF 5114/RS, rel. Min. Cezar Peluso, 28/3/2012. INTERVENÇÃO FEDERAL COMO LIMITAÇÃO CIRCUNSTANCIAL AO PODER DE REFORMA CONSTITUCIONAL A Constituição Federal não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (art. 60, § 1º). HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO ESTADUAL As hipóteses excepcionais de intervenção nos Municípios estão previstas taxativamente no art. 35 da CF/88. Vale ressaltar que a Constituição estadual não pode trazer outras situações de intervenção estadual diferentes daquilo que foi insculpido na CF/88 (STF. Plenário. ADI 336, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 10/02/2010). É o Estado-membro quem tem a possibilidade constitucional de intervir nos Municípios. Em regra, a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;

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III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; (Redação dada pela EC nº 29/2000) IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

INVASÃO DE FAZENDA PELO MST Imagine a seguinte situação adaptada: Determinado sítio foi invadido por membros do MST. O proprietário ajuizou ação de reintegração de posse, tendo o juiz de direito concedido a liminar para desocupação da área, requisitando, para tanto, força policial. O magistrado determinou por várias vezes a intimação dos agentes públicos estaduais responsáveis (Governador do Estado, Secretário de Segurança, Comandante da PM etc.) para que encaminhassem ao local força policial, no entanto, as seguidas ordens judiciais foram descumpridas. Diante da inexecução da ordem judicial por vários anos, o proprietário do imóvel apresentou ao Presidente do Tribunal de Justiça pedido de intervenção federal. O TJ concordou com o autor e determinou a remessa do pedido de intervenção ao STJ. O STJ era competente para julgar esse pedido de intervenção? SIM. Cabe ao STJ o exame da Intervenção Federal nos casos em que a matéria é infraconstitucional (envolvendo legislação federal) e o possível recurso deva ser encaminhado ao STJ. No presente caso, a decisão descumprida é uma sentença em ação de reintegração de posse na qual se discutiram temas relacionados com direito civil privado, não tendo feito considerações sobre questões constitucionais. Logo, o eventual recurso contra a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão. A parte autora (no caso, o proprietário) poderia ter representado ao STJ pedindo a intervenção? Isso seria correto? NÃO. A representação ou requisição de Intervenção Federal constituem providências que cabem aos Tribunais e não à parte interessada. Isso porque a intervenção federal, no caso de descumprimento de decisão judicial, não é um instrumento de realização do direito do particular vitorioso no caso. Trata-se de um mecanismo de afirmação da autoridade do órgão judiciário cuja ordem ou decisão esteja sendo descumprida. Em outras palavras, não é um instrumento de defesa do direito da parte, mas sim de garantia da independência do Poder Judiciário. No caso concreto, a parte autora fez o correto. Provocou o Tribunal de Justiça e este representou ao STJ pedindo a intervenção federal. Vale ressaltar que o autor não cometeu nenhuma irregularidade ao formular o pedido ao TJ porque este Tribunal local poderia até mesmo de ofício pedir a intervenção ao STJ. Ora, se ele poderia fazê-lo de ofício, nada impede que a parte o provoque. E se a decisão descumprida fosse do STJ ou do STF? Então, nesse caso, a parte poderia dirigir-se ao próprio STJ ou STF pedindo a intervenção. No mérito, o que decidiu o STJ? O pedido de intervenção foi aceito? A situação acima narrada aconteceu não apenas em um, mas em vários sítios no interior do Paraná. Isso gerou várias ações judiciais e diferentes pedidos de intervenção federal. No ano de 2014, a Corte Especial analisou dois desses pedidos. O primeiro deles foi rejeitado. Alguns meses depois, houve outro pleito de intervenção, referente a um sítio diferente e, neste segundo caso, o STJ concedeu a intervenção. Vale ressaltar que os relatores foram diferentes, mas a composição da Corte Especial praticamente a mesma.

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Como as situações são muito parecidas, aparentemente, devemos entender que o STJ mudou de opinião e passou a entender que a situação acima narrada enseja sim intervenção. No entanto, isso não ficou expresso porque no segundo voto o Relator não mencionou o primeiro precedente. Veja o quadro comparativo: Na situação acima narrada, o pedido de intervenção foi aceito?

NÃO: STJ. IF 111-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 1º/7/2014 (Info 545).

SIM: STJ. IF 107-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2014 (Info 550).

O STJ entendeu que, como já havia se passado muitos anos desde que prolatada a decisão judicial descumprida, a remoção das diversas famílias que vivem no local, se fosse feita hoje, iria causar um enorme conflito social, até mesmo porque não existe lugar para acomodar de imediato, de forma digna, essas pessoas. O Ministro salientou que, tecnicamente, a recusa do Estado em fornecer força policial para a desocupação ordenada pelo Poder Judiciário caracteriza a situação prevista no art. 36, II, da CF, pois há desobediência à ordem “judiciária”, o que justificaria a intervenção (art. 34, VI) para “prover a execução da ordem ou decisão judicial”. Entretanto, a situação em análise revela quadro de inviável atuação judicial, assim como não recomenda a intervenção federal para compelir a autoridade administrativa a praticar ato do qual vai resultar conflito social muito maior que o suposto prejuízo do particular. Pelo princípio da proporcionalidade, não deve o Poder Judiciário promover medidas que causem coerção ou sofrimento maior que sua justificação institucional e, assim, a recusa pelo Estado não é ilícita. Para o Ministro, houve a afetação do bem por razões de interesse público, razão pela qual a questão deverá ser resolvida em reparação a ser buscada via ação de indenização (desapropriação indireta) promovida pelo interessado. Assim, o STJ negou o pedido de intervenção federal contra o Estado, considerando que houve a perda da propriedade por ato lícito da administração, não remanescendo outra alternativa a não ser respeitar a ocupação dos ora possuidores, como corolário dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, de construção de sociedade livre, justa e solidária com direito à reforma agrária e acesso à terra e com erradicação da pobreza, marginalização e desigualdade social.

O STJ decidiu que deve ser deferido pedido de intervenção federal quando verificado o descumprimento pelo Estado, sem justificativa plausível e por prazo desarrazoado, de ordem judicial que tenha requisitado força policial (art. 34, VI, da CF/88) para promover reintegração de posse em imóvel rural ocupado pelo MST, mesmo que, no caso, tenha se consolidado a invasão por um grande número de famílias e exista, sem previsão de conclusão, procedimento administrativo de aquisição da referida propriedade pelo Incra para fins de reforma agrária. Intervenção federal é medida de natureza excepcional, porque restritiva da autonomia do ente federativo. Daí serem as hipóteses de cabimento taxativamente previstas no art. 34 da CF. Nada obstante sua natureza excepcional, a intervenção se impõe nas hipóteses em que o Executivo estadual deixa de fornecer, sem justificativa plausível, força policial para o cumprimento de ordem judicial. É certo que a ocupação de grande número de famílias é sempre um fato que merece a consideração da autoridade encarregada da desocupação, mas não é em si impeditiva da intervenção. Ademais, a suposta ocupação por considerável contingente de pessoas pode ser resultado da falta de cumprimento da decisão judicial em tempo razoável. No estado democrático de direito, é crucial o funcionamento das instituições, entre elas, os órgãos do Poder Judiciário. A inércia do Estado-executivo em dar cumprimento à decisão do Estado-juiz enfraquece o Estado de direito, que caracteriza a República brasileira.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Prazo prescricional da ação ajuizada pelo INSS contra o empregador

Atenção! Concursos federais

Se o INSS paga pensão por morte aos dependentes do segurado que morreu em virtude de acidente de trabalho, a autarquia poderá ajuizar ação contra o empregador pedindo o ressarcimento desses valores (art. 120 da Lei 8.213/91).

O prazo prescricional dessa ação é de 5 anos, contados da data da concessão do benefício.

Deve-se chamar atenção para o fato de que, passados os 5 anos, haverá a prescrição do próprio fundo de direito.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.457.646-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado de uma metalúrgica e morreu, em 2008, em virtude de um acidente de trabalho. Maria, sua dependente, passou a receber, em 2009, pensão por morte paga pelo INSS. O INSS quer agora (em 2015) propor uma ação contra a empresa pedindo o ressarcimento dos valores que pagou e ainda irá pagar a Maria a título de pensão por morte. Qual é o fundamento jurídico utilizado pelo INSS? O art. 120 da Lei n 8.213/91, argumentando que a empresa foi negligente nos padrões de segurança, o que ocasionou o acidente. Confira:

Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.

Essa demanda do INSS será proposta na Justiça do Trabalho ou Justiça Comum? Justiça COMUM FEDERAL. Compete à Justiça comum processar e julgar ação proposta pelo INSS objetivando o ressarcimento dos valores despendidos com o pagamento de pecúlio e pensão por morte acidentária, em razão de acidente de trabalho ocorrido nas dependências da empresa ré, por culpa desta. O litígio não tem por objeto a relação de trabalho em si, mas sim o direito regressivo da autarquia previdenciária, que é regido pela legislação civil (STJ. 2ª Seção. CC 59.970/RS, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 13/09/2006). Trata-se de competência da justiça federal porque o INSS é uma autarquia federal (art. 109, I, da CF/88). Em sua defesa, a empresa alegou que paga regularmente a contribuição para o SAT (Seguro de Acidente de Trabalho) destinada a custear benefícios do INSS oriundos de acidente de trabalho ou doença ocupacional. Logo, o INSS não poderia cobrar dela o ressarcimento pelos valores pagos da pensão por morte considerando que isso já estaria coberto pelo SAT. Tal tese é aceita pela jurisprudência? NÃO. Segundo o STJ, a contribuição ao SAT não exime o empregador da sua responsabilização por culpa

em acidente de trabalho, conforme art. 120 da Lei n. 8.213/1991 (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 294.560/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/03/2014). Qual é o prazo prescricional dessa ação proposta pelo INSS contra a empresa? 5 anos. O prazo prescricional das ações propostas contra a Fazenda Pública é de 5 anos, com base no Decreto 20.910/1932. Logo, para o STJ, em respeito ao princípio da isonomia, quando a demanda indenizatória for ajuizada pelo ente estatal contra o particular, o prazo prescricional também deverá ser o mesmo, ou seja, 5 anos.

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Não se aplicam, assim, os arts. 103 e 104 da Lei n. 8.213/1991, uma vez que a referida lei regula apenas as relações entre os segurados, seus dependentes e a Previdência Social, não atingindo terceiros que não integram esse específico regime jurídico. Qual é o termo inicial do prazo prescricional: o dia da morte ou a data da concessão do benefício? A data da concessão do benefício. Em nosso exemplo acima, como a pensão por morte foi concedida em 2009 e ação foi proposta somente em 2015, conclui-se que se passaram 6 anos, de forma que a pretensão está prescrita. O INSS alegou, contudo, o seguinte: o pagamento da pensão por morte é feito mensalmente; logo, esse prazo prescricional seria mensalmente renovado para as parcelas pagas; desse modo, a autarquia defendeu que somente estariam prescritas as parcelas anteriores a 2010 (5 anos antes do ajuizamento da ação); as demais poderiam ser cobradas da empresa. Em suma, o INSS argumentou que a prescrição seria progressiva. O STJ aceitou essa tese? NÃO. Para o STJ, o termo a quo da prescrição da pretensão deve ser a data da concessão do benefício previdenciário e, quando ocorre a prescrição, ela atinge o fundo de direito. Trata-se de prescrição do fundo de direito (e não a prescrição de trato sucessivo). Prescrição do “fundo de direito” x prescrição “de trato sucessivo” Existe uma classificação da prescrição que a divide em:

Prescrição do fundo de direito (prescrição nuclear)

Prescrição progressiva (Prescrição de obrigações de trato sucessivo)

Ocorre quando o direito subjetivo é violado por um ato único, começando aí a correr o prazo prescricional que a pessoa lesada tem para exigir do devedor a prestação. Esgotado esse prazo, extingue-se a pretensão e o credor não mais poderá exigir nada do devedor. Em palavras mais simples, é aquela que atinge a exigibilidade do direito como um todo. Ex: o devedor combinou de pagar a dívida em uma só vez, em fev/2008. Se ele não pagou, iniciou-se o prazo prescricional, que terminou em fevereiro/2013.

Ocorre quando a obrigação do devedor é de trato sucessivo, ou seja, contínua. Em outras palavras, o devedor, periodicamente, deve fornecer aquela prestação ao credor. Toda vez que não o faz, ele viola o direito do credor e este tem a pretensão de exigir o cumprimento. Em palavras mais simples, é aquela que atinge apenas as parcelas (e não o direito como um todo). Ex: o devedor combinou de pagar uma indenização ao credor até o fim de sua vida. Essa verba é paga em prestações (fev/2008, fev/2010, fev/2012 etc). Imagine que ele não tenha pago nenhuma. A prescrição quanto a fev/2008 e fev/2010 já ocorreu. Persistem, no entanto, a prestação de fev/2012 e as seguintes.

Deve-se chamar atenção para o fato de que o STJ afirmou que, passados os cinco anos, haverá a prescrição do próprio fundo de direito.

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CÓDIGO DE TRÂNSITO (PERMISSÃO PARA DIRIGIR) Recusa à expedição de CNH definitiva não depende de prévio procedimento administrativo

Não depende de prévio procedimento administrativo a recusa à expedição da CNH definitiva motivada pelo cometimento de infração de trânsito de natureza grave durante o prazo anual de permissão provisória para dirigir (art. 148, § 3º, do CTB).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.483.845-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação hipotética: Eduardo completou 18 anos e submeteu-se a todos os exames exigidos pelo DETRAN, sendo devidamente aprovado. Com isso, Eduardo recebeu uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano. Segundo o CTB, Eduardo somente receberá a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) após este período de um ano e desde que ele não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média (art. 148, § 3º). Caso Eduardo pratique falta grave ou gravíssima ou então seja reincidente em infração média, ele não receberá a CNH e terá que se submeter a um novo processo de habilitação, com novos exames (art. 148, § 4º). Prática de falta grave O que mais se temia aconteceu. Eduardo praticou uma falta grave. Diante disso, o DETRAN recusou a expedição da CNH definitiva. Eduardo, por meio de advogado, ajuizou ação alegando que essa recusa foi indevida considerando que não houve prévio processo administrativo com contraditório e ampla defesa. A tese do autor foi aceita? NÃO. Segundo decidiu o STJ, não depende de prévio procedimento administrativo a recusa à expedição da CNH definitiva motivada pelo cometimento de infração de trânsito de natureza grave durante o prazo anual de permissão provisória para dirigir (art. 148, § 3º, do CTB). O direito à obtenção da habilitação definitiva somente se perfaz se o candidato, após um ano da expedição da permissão para dirigir, não tiver cometido infração de natureza grave ou gravíssima e não for reincidente em infração média, segundo disposto no § 3º do art. 148 do CTB. Assim, a expedição da CNH é mera expectativa de direito, que se concretizará com o implemento das condições estabelecidas na lei. Havendo o cometimento de infração grave, revela-se desnecessária a instauração de prévio processo administrativo, considerando que a aferição do preenchimento dos requisitos estabelecidos pela lei para a concessão da CNH definitiva se dá de forma objetiva.

DIREITO CIVIL

CONTRATO DE SEGURO Morte decorrente de AVC não está abrangida em seguro de acidentes pessoais

Determinada pessoa contratou um seguro de acidentes pessoais por meio do qual seus herdeiros receberiam a indenização caso ele falecesse em decorrência de morte acidental.

Se essa pessoa falecer por causa de um AVC, seus herdeiros não terão direito a indenização. Isso porque o óbito decorrente do AVC não pode ser caracterizado como morte acidental, sendo hipótese de morte natural.

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A Resolução CNSP nº 117⁄2004 do Conselho Nacional de Seguros Privados traz a definição do que seja acidente pessoal.

A distinção básica entre a morte acidental e a morte natural está no fato de que a primeira decorre de um evento diretamente externo enquanto que a segunda é causada por um fator de natureza interna, como é o caso das doenças.

Para que seus herdeiros tivessem direito à indenização pela morte decorrente do AVC, essa pessoa deveria ter feito um seguro de vida.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.443.115-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/10/2014 (Info 550).

NOMENCLATURAS UTILIZADAS NOS CONTRATOS DE SEGURO Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex: risco de morte. Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex: morte. Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora no qual estão previstos os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos cobertos. Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: João fez um seguro de acidentes pessoais por meio do qual a seguradora se obrigava a pagar a indenização aos seus herdeiros caso ele falecesse decorrente de morte acidental. Dois anos depois, João sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) que resultou em sua morte. Os herdeiros do falecido pediram o pagamento da indenização, tendo a seguradora recusado sob o argumento de que a morte por AVC é classificada como “morte natural” (e não “morte acidental”). A tese da seguradora foi aceita? A recusa ao pagamento foi legítima? SIM. O Conselho Nacional de Seguros Privados, por meio da Resolução CNSP nº 117⁄2004, traz a definição do que seja acidente pessoal (art. 5º, I). Ainda de acordo com a Resolução, excluem-se do conceito de acidente pessoal as doenças. Desse modo, se a pessoa morre em virtude de doença, tal fato não é caracterizado como “acidente pessoal” para fins de seguro. O AVC, apesar de ter o nome de “acidente” vascular cerebral, é uma patologia (doença), ou seja, não é causado por causa externa, mas sim por fatores internos e de risco da saúde da própria pessoa que levam à sua ocorrência. A distinção básica entre a morte acidental e a morte natural está no fato de que a primeira decorre de um evento diretamente externo enquanto que a segunda é causada por um fator de natureza interna, como é o caso das doenças. Como, no caso concreto, João havia feito o seguro apenas para acidentes pessoais (garantia por morte acidental), conclui-se que o evento causado (morte por AVC) não está coberto pelo contrato.

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CONTRATO DE CAPITALIZAÇÃO Devolução de valores aplicados em título de capitalização

A capitalização é um contrato por meio do qual uma das partes (aderente/prestamista) se compromete a pagar, durante um prazo fixado no ajuste, prestações pecuniárias mensais a uma sociedade de capitalização (capitalizadora) e esta, em contrapartida, se obriga a realizar sorteios periódicos nos quais o aderente poderá ser contemplado com prêmios ou, então, ao final do ajuste o contratante receberá de volta parte ou a totalidade das prestações efetuadas (isso irá depender das condições contratuais). Ex: “Tele Sena”.

Alguns títulos de capitalização permitem o resgate dos valores antes do fim do prazo. No entanto, a maioria dos contratos possui cláusula prevendo um prazo de carência, ou seja, um período inicial em que o capital fica indisponível, não podendo ser resgatado pelo aderente.

É válida a cláusula contratual que estipula prazo de carência para o resgate?

SIM. Desde que redigida em estrita obediência ao previsto na legislação vigente, é válida a cláusula contratual que prevê prazo de carência para resgate antecipado dos valores aplicados em título de capitalização. A cláusula que estipule prazo de carência nos contratos de capitalização deve ser clara e precisa, a fim de atender todas as diretrizes insculpidas no Código de defesa do Consumidor e garantir transparência suficiente nas relações jurídicas estabelecidas entre aderente e sociedade de capitalização.

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.354.963-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2014 (Info 550).

O que é o contrato de capitalização? A capitalização é um contrato por meio do qual uma das partes (aderente/prestamista) se compromete a pagar, durante um prazo fixado no ajuste, prestações pecuniárias mensais a uma sociedade de capitalização (capitalizadora) e esta, em contrapartida, se obriga a realizar sorteios periódicos nos quais o aderente poderá ser contemplado com prêmios ou, então, ao final do ajuste o contratante receberá de volta parte ou a totalidade das prestações efetuadas (isso irá depender das condições contratuais). O contrato de capitalização gera um título que fica em poder do contratante (aderente). Em uma primeira análise, o contrato de capitalização parece ser vantajoso, mas, segundo os economistas, trata-se de um péssimo negócio, considerando que a rentabilidade acaba sendo menor do que outros investimentos bem modestos, como a própria poupança. Apesar disso, muitas pessoas acabam sendo atraídas por causa dos sorteios, sendo, portanto, um tipo de “aplicação” bastante procurada. O título de capitalização mais famoso do Brasil é a “Tele Sena”®, emitido pela Liderança Capitalização S.A, integrante do “Grupo Sílvio Santos”. O que é o título de capitalização? Consiste em um documento entregue pela capitalizadora ao aderente e que serve como prova do contrato. Nele constará o nome do aderente, os números ou letras utilizados para os sorteios e as cláusulas e condições do contrato. Nesse sentido: FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 15ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2011, p. 740-741. O título de capitalização é um título de crédito? NÃO. Para o Min. Luis Felipe Salomão e a doutrina majoritária, o título de capitalização não possui a natureza jurídica de título de crédito. Trata-se tão somente de um instrumento que prova a existência do contrato de capitalização e no qual estão previstas as cláusulas contratuais. Qual é a legislação que rege o tema?

O Decreto-Lei n. 261/67 que, no entanto, delegou ao Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) a competência para fixar as normas da política de capitalização e regulamentar as operações das sociedades

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do ramo (art. 3º, § 1º). A Susep é o órgão executor da política de capitalização traçada pelo CNSP (§ 2º). Desse modo, tanto a CNSP como a Susep possuem atos normativos infralegais que trazem as regras para o funcionamento dos contratos de capitalização. O aderente poderá desistir do contrato e pedir de volta os valores que pagou mesmo antes do fim do prazo? Em palavras simples, o título pode ser resgatado a qualquer momento? Depende. Alguns títulos de capitalização permitem o resgate dos valores antes do fim do prazo. No entanto, a maioria dos contratos possui cláusula prevendo um prazo de carência, ou seja, um período inicial em que o capital fica indisponível, não podendo ser resgatado pelo aderente. É válida a cláusula contratual que estipula prazo de carência para o resgate? SIM. É válida a cláusula contratual que prevê prazo de carência para resgate antecipado dos valores aplicados em título de capitalização, devendo, no entanto, esta cláusula ser redigida em estrita obediência à legislação vigente. A cláusula que estipule prazo de carência nos contratos de capitalização deve ser clara e precisa, a fim de atender todas as diretrizes insculpidas no Código de Defesa do Consumidor e garantir transparência suficiente nas relações jurídicas estabelecidas entre aderente e sociedade de capitalização. Segundo decidiu o STJ, a estipulação de cláusula de carência para resgate tem por objetivo proteger os recursos da capitalização, a fim de impedir que a desistência de algum dos aderentes prejudique os demais detentores de títulos dentro de uma mesma sociedade de capitalização, impedindo o cumprimento de obrigações previstas pela companhia como, por exemplo, o pagamento da premiação por sorteio. O desfalque repentino do plano, caso não haja cláusula estipulando a carência, poderá impossibilitar o funcionamento das sociedades, prejudicando os demais detentores de títulos de capitalização e colocando em risco a própria atividade econômica. Em outras palavras, se muitas pessoas desistirem no meio do contrato, não haverá recursos para pagar a premiação dos sorteios. A legislação permite expressamente tal cláusula? SIM. O art. 71, § 1º, da CNSP 15/1992 admite, genericamente, a estipulação de prazo de carência e o art. 23, §§ 1º e 2º, da Circular Susep 365/2008, de forma expressa, permite a fixação de prazo de carência não superior a 24 meses, contados da data de início de vigência do título de capitalização. Tais atos normativos são válidos porque derivam da delegação feita pelo art. 3º do Decreto-Lei 261/1967. Para o STJ, eles não violam nem o CC nem o CDC, já que o sistema de proteção ao consumidor busca conferir equilíbrio à relação entre consumidor e fornecedor, não tendo, todavia, o objetivo de criar ou proteger situação em que o consumidor leve vantagem indevida sobre o fornecedor.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO A quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário nos contratos sem FCVS

Atenção! Concursos federais

Nos contratos de financiamento celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), sem cláusula de garantia de cobertura do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS), o saldo devedor residual deverá ser suportado pelo mutuário.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.447.108-CE e REsp 1.443.870-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/10/2014 (recurso repetitivo) (Info 550).

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Saldo devedor residual: No contrato de financiamento celebrado no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), algumas vezes o mutuário (pessoa que tomou o empréstimo para comprar seu imóvel) surpreende-se, ao final das prestações, com o chamado “saldo devedor residual”, também conhecido como “saldo residual” ou simplesmente “resíduo”. Em outras palavras, o mutuário combinou de pagar o financiamento em 60 parcelas, por exemplo. Ao final, mesmo tendo pago todas elas, descobre que ainda deverá quitar o resíduo. Isso ocorre porque, em diversos contratos, o valor das prestações eram reajustados com base em índices mais baixos (ex: na variação salarial dos mutuários). No entanto, o saldo devedor (o montante ainda a ser pago) era corrigido por índices mais altos (ex: poupança). Tal situação fazia com que, mesmo pagando as prestações combinadas, o valor total da dívida diminuísse muito pouco. Assim, quando a pessoa acabava de pagar todas as parcelas, descobria que tinha um resíduo. FCVS Pensando em resolver esse problema, há muitos anos (na década de 60) foi instituído o Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), que, em síntese, seria uma espécie de seguro destinado a cobrir o valor eventualmente remanescente quando do término do contrato (o resíduo). Dessa forma, o mutuário tinha que pagar, mensalmente, além do valor das prestações, uma contribuição destinada ao FCVS. Essa contribuição mensal do mutuário e o aporte de recursos do extito Banco Nacional da Habitação - BNH alimentavam o FCVS. Sucede que o dinheiro não foi suficiente e o FCVS foi mergulhado em uma grave crise financeira, porque o que era para ser excepcional (existência de resíduo nos contratos) tornou-se a regra. Crise do FCVS Diante desse cenário, no final da década de 80, decidiu-se que, em regra, os contratos de financiamento não poderiam mais conter a cláusula de cobertura pelo FCVS. Ocorre que os resíduos continuaram existindo. Os contratos de financiamento do SFH passaram a prever que, como não havia mais a cobertura pelo FCVS, a responsabilidade pelo resíduo deveria ser do mutuário. Explicado brevemente esse panorama, indaga-se: Essa cláusula é válida? No contrato de financiamento celebrado no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), não coberto pelo FCVS, é válida a cláusula que estabelece que o pagamento do saldo devedor residual após o término do pagamento das prestações será suportado pelo mutuário? SIM. Nos contratos de financiamento celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), sem cláusula de garantia de cobertura do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS), o saldo devedor residual deverá ser suportado pelo mutuário. A previsão do saldo devedor residual decorre da insuficiência das prestações pagas pelo mutuário em repor o capital mutuado, pois o reajuste das prestações vinculadas aos índices aplicados à categoria profissional nem sempre acompanha o valor da inflação, o que cria um desequilíbrio contratual capaz de afetar, em última análise, a higidez do próprio sistema de financiamento habitacional. Ao lado de tal circunstância, destaca-se o fato de que o art. 2º do Decreto-Lei 2.349/87, legislação específica sobre a matéria, é claro a respeito da responsabilidade dos mutuários pelo pagamento do saldo devedor residual: “Nos contratos sem cláusulas de cobertura pelo FCVS, os mutuários finais responderão pelos resíduos dos saldos devedores existentes, até sua final liquidação, na forma que for pactuada, observadas as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional”. Em suma: Se o contrato tiver sido celebrado sem a cobertura do FCVS, a quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário.

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DPVAT Acidente envolvendo máquina colheitadeira

É possível o pagamento de indenização do DPVAT em caso de acidente envolvendo máquina colheitadeira?

Depende. Apesar de a máquina “colheitadeira” ser também veículo automotor agrícola, não se pode sempre enquadrá-la como veículo automotor para fins de indenização pelo DPVAT:

• Se essa máquina colheitadeira era suscetível de trafegar por via pública: SIM, será devido o DPVAT.

• Se não houver possibilidade de que essa máquina ande em via pública: NÃO. Não será devido o DPVAT.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.342.178-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

Em que consiste o DPVAT? O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez. Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais. O lesado poderá receber o seguro DPVAT ainda que estivesse trabalhando no momento do acidente? Em outras palavras, o seguro DPVAT é pago mesmo em casos de acidente de trabalho envolvendo veículo automotor? SIM. A jurisprudência do STJ entende que a caracterização do infortúnio como acidente de trabalho, por si só, não afasta a cobertura do seguro obrigatório (DPVAT). É possível o pagamento de indenização do DPVAT em caso de acidente envolvendo veículo automotor que ocorra na área rural? SIM. Para que haja o pagamento do DPVAT não se exige que o acidente ocorra em via pública. A exigência é de que o acidente envolva veículo automotor que pode circular em via pública. Ex: acidente envolvendo uma picape que trafegava no campo agrícola. É possível o pagamento de indenização do DPVAT em caso de acidente envolvendo veículo automotor agrícola? SIM. Em princípio, os sinistros que envolvem veículos agrícolas passíveis de transitar pelas vias terrestres estão cobertos pelo DPVAT. Ex: trator. Imagine agora a seguinte situação: João estava trabalhando com uma máquina colheitadeira, no campo, quando sofreu um acidente e teve sua mão direita esmagada.

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É possível o pagamento de indenização do DPVAT em caso de acidente envolvendo máquina colheitadeira? Depende. Apesar de a máquina “colheitadeira” ser também veículo automotor agrícola, não se pode sempre enquadrá-la como veículo automotor para fins de indenização pelo DPVAT:

Se essa máquina colheitadeira era suscetível de trafegar por via pública: SIM, será devido o DPVAT.

Se não houver possibilidade de que essa máquina ande em via pública: NÃO. Não será devido o DPVAT. Essa diferenciação é necessária porque existem algumas máquinas colheitadeiras que não podem circular em via pública porque não preencheram os requisitos para fins de licenciamento (exs: farois, lanternas, controle de ruído etc.). Dessa feita, caso a colheitadeira, em razão de suas características, jamais venha a preencher os requisitos normativos para fins de tráfego em via pública (só podendo ser transportada embarcada em caminhão), não há como reconhecer o direito ao seguro DPVAT em situações de acidente envolvendo essa máquina.

USUFRUTO Usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória

Usufruto é o direito real e temporário de usar e fruir (retirar frutos e utilidades) coisa alheia (bem móvel ou imóvel), de forma gratuita, sem alterar-lhe a substância ou destinação econômica.

O usufrutuário detém a posse direta do bem. Além disso, como se trata de direito real, ele também possui o poder de sequela, podendo perseguir a coisa, aonde quer que ela vá.

Como o usufrutuário detém a posse direta do bem, é óbvio que ele pode se valer das ações possessórias caso esteja sendo ameaçado em sua posse. No entanto, como o usufruto é um direito real e como o usufrutuário detém poder de sequela, a doutrina e a jurisprudência também admitem que ele ajuíze ação reivindicatória – de caráter petitório – com o objetivo de fazer prevalecer o seu direito sobre o bem, seja contra o nu-proprietário, seja contra terceiros.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.202.843-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/10/2014 (Info 550).

Para entender o julgado, precisamos relembrar o que é o USUFRUTO. CONCEITO Usufruto é o direito real ... e temporário ... de usar e fruir (retirar frutos e utilidades) ... coisa alheia (bem móvel ou imóvel), ... de forma gratuita, ... sem alterar-lhe a substância ou destinação econômica. EXEMPLO A mãe tinha uma casa e resolve doar para seu filho. Ao fazer a doação, contudo, a mãe estabelece seu direito real de usufruto sobre o imóvel enquanto viver (usufruto vitalício). Assim, a mãe terá o direito real de usar e fruir da casa (no caso, morar) até que venha a falecer.

Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19

PARTES

Usufrutuário Nu-proprietário

É o titular do direito real de usufruto. É o titular do domínio.

É o detentor do domínio útil do bem, uma vez que a ele pertencem o uso e o gozo sobre a coisa.

Tem apenas a nua propriedade, despida dos direitos de usar e fruir. O nu-proprietário mantém apenas os direitos de dispor e reivindicar o bem.

Tem a posse direta do bem. Tem a posse indireta do bem.

Em nosso exemplo, é a mãe. Em nosso exemplo, é o filho.

INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DISPONÍVEIS AO USUFRUTUÁRIO

O usufrutuário, como vimos acima, possui a posse direta da coisa. Desse modo, se alguém tentar ou conseguir turbar essa posse, o usufrutuário poderá ajuizar ações possessórias contra essa pessoa (ação de manutenção/reintegração de posse; interdito proibitório). Até aqui, tudo bem. O ponto interessante julgado pelo STJ foi o seguinte: O usufruturário poderá ajuizar ação de caráter petitório (ação reivindicatória)? SIM. O STJ decidiu que o usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória (de caráter petitório) com o objetivo de fazer prevalecer o seu direito de usufruto sobre o bem, seja contra o nu-proprietário, seja contra terceiros. O usufrutuário possui o direito de sequela, ou seja, ele poderá perseguir a coisa, aonde quer que ela vá. Ex: se o nu-proprietário vendê-la, não se desfaz o usufruto, a não ser que o usufrutuário consinta. Logo, mesmo sendo o bem vendido, o novo proprietário deverá respeitar os direitos do usufrutuário. Possuindo o direito de sequela, o usufrutuário detém legitimidade para reivindicar a coisa, mediante ação petitória. Em resumo: como o usufrutuário detém a posse direta do bem, é óbvio que ele pode se valer das ações possessórias caso esteja sendo ameaçado em sua posse. No entanto, como o usufruto é um direito real e como o usufrutuário detém poder de sequela, a doutrina e a jurisprudência também admitem que ele ajuíze ações de caráter petitório contra o próprio nu-proprietário ou contra qualquer outra pessoa que obstaculize ou negue o seu direito. Na imensa maioria das situações, o usufrutuário irá propor ações possessórias, por serem elas mais céleres. No entanto, pode acontecer de a privação da posse já ter algum tempo e, nesse caso, nada impede que o usufrutuário se valha da ação reivindicatória para retomar seus direitos sobre a coisa.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA É nula a notificação extrajudicial se constar nome diverso do real credor

No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do simples vencimento do prazo para pagamento, mas a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso notificando o devedor.

Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora.

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Essa exigência de prévia notificação está presente tanto no procedimento da alienação fiduciária de bens móveis de que trata o Decreto-Lei 911/69 como também na alienação fiduciária de bens imóveis (Lei 9.514/97).

É nula a notificação extrajudicial realizada com o fim de constituir em mora o devedor fiduciante de imóvel, quando na referida comunicação constar nome diverso do real credor fiduciário. A notificação em questão produz severas consequências para o devedor, de forma que qualquer vício em seu conteúdo é hábil a tornar nulos seus efeitos, principalmente quando se trata de erro crasso, como há na troca da pessoa notificante.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.172.025-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/10/2014 (Info 550).

Conceito “A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565). Regramento O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: • alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; • alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária. Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS fungíveis e

infungíveis quando o credor fiduciário for instituição

financeira

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis

quando o credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem

ser banco)

Alienação fiduciária de bens IMÓVEIS

Lei nº 4.728/65 Decreto-Lei nº 911/69

Código Civil de 2002 (arts. 1.361 a 1.368-B)

Lei nº 9.514/97

Notificação do devedor No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do simples vencimento do prazo para pagamento, mas a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso notificando o devedor. Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa exigência de prévia notificação está presente tanto no procedimento da alienação fiduciária de bens

móveis de que trata o Decreto-Lei nº 911/69 como também na alienação fiduciária de bens imóveis (Lei n. 9.514/97).

Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21

Na notificação deverá constar o nome correto do credor O STJ decidiu que é nula a notificação extrajudicial realizada com o fim de constituir em mora o devedor fiduciante de imóvel, quando na referida comunicação constar nome diverso do real credor fiduciário. A notificação em questão produz severas consequências para o devedor, de forma que qualquer vício em seu conteúdo é hábil a tornar nulos seus efeitos, principalmente quando se trata de erro crasso, como há na troca da pessoa notificante.

ALIMENTOS Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos por ele fixados

Importante!!!

O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência para julgar a execução de alimentos que tenham sido fixados a título de medida protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em favor de filho do casal em conflito.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.006-MT, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação hipotética: Francisca foi agredida pelo marido no âmbito familiar e procurou o Juizado de Violência Doméstica. A juíza deferiu diversas medidas protetivas de urgência, com base no art. 22 da Lei Maria da Penha, dentre elas determinou que o marido agressor pagasse pensão alimentícia no valor de 1 mil reais em favor do filho do casal, que permaneceu sob a guarda da mãe:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: (...) V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

O marido não pagou a pensão alimentícia e Francisca procurou a Defensoria Pública para que fossem tomadas as providências necessárias. Diante disso, indaga-se: a ação de execução dos alimentos fixados deverá ser proposta na Vara de Família ou no Juizado de Violência Doméstica? No Juizado de Violência Doméstica. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência para julgar a execução de alimentos que tenham sido fixados a título de medida protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em favor de filho do casal em conflito. A regra geral é que os alimentos sejam fixados pelo juiz das varas de família e também executados neste mesmo juízo.

Ocorre que a Lei n. 11.340/2006, em seu art. 14, estabelece que os “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos [...] com competência cível e criminal, poderão ser criados [...] para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher”, sem especificar as causas que não se enquadrariam na competência cível desses juizados, nas hipóteses de medidas protetivas decorrentes de violência doméstica. Portanto, da literalidade da lei, é possível extrair que a competência desses juizados compreende toda e qualquer causa

Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22

relacionada a fato que configure violência doméstica ou familiar e não apenas as descritas expressamente na referida lei. E assim é, não só em razão da lei, mas também em virtude da própria natureza protetiva que ela carrega. O legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, o fez para que a mulher pudesse contar não apenas com legislação repressiva contra o agressor, mas também visando criar mecanismos céleres protetivos, preventivos e assistenciais a ela. Saliente-se que situação diversa seria a das Comarcas que não contem com Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, mas apenas com juízos criminais. Aí sim, estes teriam competência apenas para o julgamento de causas criminais, cabendo às Varas Cíveis ou de Família a fixação e julgamento dos alimentos.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO Dano moral in re ipsa em caso de atraso de voo, seguido de falta

de informação e de assistência aos passageiros

No caso em que companhia aérea, além de atrasar desarrazoadamente o voo de passageiro, deixe de atender aos apelos deste, furtando-se a fornecer tanto informações claras acerca do prosseguimento da viagem (em especial, relativamente ao novo horário de embarque e ao motivo do atraso) quanto alimentação e hospedagem (obrigando-o a pernoitar no próprio aeroporto), tem-se por configurado dano moral indenizável in re ipsa, independentemente da causa originária do atraso do voo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.280.372-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/10/2014 (Info 550).

Caso concreto O caso concreto tratava de um passageiro da Gol® que comprou passagem aérea para viajar de São Paulo⁄SP para Palmas⁄TO. Houve diversas trocas no horário do voo e atraso de várias horas. A companhia aérea não forneceu alimentação nem hospedagem, obrigando o cliente a pernoitar no próprio aeroporto. Além disso, os funcionários da empresa não prestavam informações claras sobre o que aconteceria e se haveria ou não o voo. Diante disso, o consumidor ajuizou ação de indenização por danos morais. A companhia contestou o pedido, afirmando que essa situação se deu em virtude do caos aéreo que tinha sido causado por um grave acidente envolvendo avião da TAM® e que tinha acontecido três dias antes, atrapalhando toda a programação das empresas do setor. O STJ concordou com o pedido de indenização? SIM. No caso em que companhia aérea, além de atrasar desarrazoadamente o voo de passageiro, deixe de atender aos apelos deste, furtando-se a fornecer tanto informações claras acerca do prosseguimento da viagem (em especial, relativamente ao novo horário de embarque e ao motivo do atraso) quanto alimentação e hospedagem (obrigando-o a pernoitar no próprio aeroporto), tem-se por configurado dano moral indenizável in re ipsa, independentemente da causa originária do atraso do voo.

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Não importa qual a causa que tenha originado o atraso do voo (acidente aéreo, sobrecarga da malha aérea, condições climáticas desfavoráveis ao exercício do serviço de transporte aéreo etc.), isso jamais terá o condão de afastar a responsabilidade da companhia aérea por abusos praticados por ela em momento posterior, haja vista tratar-se de fatos distintos. Diante de fatos como esses (acidente aéreo, sobrecarga da malha aérea ou condições climáticas desfavoráveis ao exercício do serviço de transporte aéreo), deve a empresa amenizar o desconforto, não podendo, portanto, limitar-se a, de forma evasiva, eximir-se de suas responsabilidades. Além disso, considerando que o contrato de transporte consiste em obrigação de resultado, o atraso desarrazoado de voo, independentemente da sua causa originária, constitui falha no serviço de transporte aéreo contratado, o que gera para o consumidor direito a assistência informacional e material. Desse modo, a companhia aérea não se libera do dever de informação, que, caso cumprido, atenuaria, no mínimo, o caos causado pelo infortúnio, que jamais poderia ter sido repassado ou imputado ao consumidor. Ademais, os fatos de inexistir providência quanto à hospedagem para o passageiro, obrigando-o a pernoitar no próprio aeroporto, e de não ter havido informações claras quanto ao prosseguimento da viagem permitem aferir que a companhia aérea não procedeu conforme as disposições do art. 6º do CDC. No caso analisado, reputa-se configurado o dano moral, porquanto manifesta a lesão injusta a componentes do complexo de valores protegidos pelo Direito, à qual a reparação civil é garantida por mandamento constitucional, que objetiva recompor a vítima da violação de seus direitos de personalidade (art. 5º, V e X, da CF e art. 6º, VI, do CDC). Além do mais, configurado o fato do serviço, o fornecedor responde objetivamente pelos danos causados aos consumidores, nos termos do art. 14 do CDC. Sendo assim, o dano moral em análise opera-se in re ipsa, prescindindo de prova de prejuízo. A título de curiosidade, o valor fixado como danos morais foi de R$ 10.000,00.

DIREITO EMPRESARIAL

PROPAGANDA COMPARATIVA Em regra, é lícita a propaganda comparativa

A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita ou implicitamente, produtos ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha do consumidor.

Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa.

A doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR afirmam que a publicidade comparativa, em regra, é permitida, desde que não viole alguns princípios.

Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e de preços próximos no caso em que:

a) a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor;

Informativo 550-STJ (19/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24

b) as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não depreciem o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e

c) os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão.

A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao princípio da veracidade das informações, seja objetiva e não abusiva.

De igual forma, em regra, a propaganda comparativa não é proibida pela Lei 9.279/96 (LPI). Para que a propaganda comparativa viole o direito marcário do concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão ou a menção à marca do concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação (desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação adaptada: A Nestlé® veiculou uma propaganda na TV na qual comparava um de seus iogurtes (Nesvita®) com o Activia®, produto pertencente à Danone®. Na peça publicitária eram exibidos os dois produtos e uma atriz dizia que o Nesvita® tinha 18% menos calorias e 26% menos gorduras e, além disso, vinha com 2 vezes mais cálcio. A Danone® ajuizou ação contra a Nestlé® requerendo o fim da exibição do comercial, além do pagamento de indenização por danos materiais. Segundo a autora, a referida propaganda, ao utilizar, sem autorização, a marca Activia®, violou os arts.

130, III e 131 da Lei n. 9.279/96:

Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de: (...) III - zelar pela sua integridade material ou reputação. Art. 131. A proteção de que trata esta Lei abrange o uso da marca em papéis, impressos, propaganda e documentos relativos à atividade do titular.

Definição legal de publicidade comparativa O tema em questão diz respeito à propaganda comparativa. Conforme explicou o Min. Luis Felipe Salomão, a propaganda comparativa é “forma de publicidade que identifica explícita ou implicitamente concorrente de produtos ou serviços afins, consagrando-se, em verdade, como um instrumento de decisão do público consumidor”. Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa. CONAR A maior parte das disputas envolvendo propaganda e publicidade no Brasil não são resolvidas pelo Poder Judiciário, mas sim pelo CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), por meio da autorregulação do setor. O CONAR é uma organização da sociedade civil constituída por representantes de setores ligados à propaganda e publicidade, tais como: agências de publicidade, anunciantes, jornais, revistas, emissoras de rádio e TV. Qualquer pessoa pode fazer reclamações ao CONAR contra anúncios e campanhas publicitárias caso entenda que determinada propaganda seja enganosa, ofensiva, abusiva, desleal etc. O Conselho de Ética do CONAR analisa e, se concordar com a reclamação, determina a retirada ou fim da peça publicitária, o que é atendido voluntariamente pelos jornais, emissoras, agências e anunciantes. Para todos os envolvidos, é preferível que haja a autorregulação do setor do que deixar que tais decisões sejam tomadas pelo Governo ou Poder Judiciário. O atual presidente do CONAR é Gilberto Leifert, pai do apresentador de TV Tiago Leifert.

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O CONAR possui um Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária que não é lei (trata-se de um ato interno do CONAR), mas que, apesar disso, é fonte do Direito classificada como “costume” (art. 4º da LINDB). O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária trata da propaganda comparativa em seu art. 32, permitindo que isso seja feito, mas dizendo quais são os limites para a sua utilização. Desse modo, em regra, a publicidade comparativa é aceita. Voltando ao caso concreto, o que decidiu o STJ? A propaganda veiculada era lícita. Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e de preços próximos no caso em que: a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor; as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não

depreciem o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão. A propaganda comparativa é proibida pelo CDC? Em regra não. A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao princípio da veracidade das informações, seja objetiva e não abusiva. A propaganda comparativa é proibida pela LPI (Lei de Propriedade Industrial)? Em regra, não. Para que a propaganda comparativa viole o direito marcário do concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão ou a menção à marca do concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação (desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela. Entender de modo diverso seria impedir a livre iniciativa e a livre concorrência, ensejando restrição muito grande à atividade econômica e publicitária, o que implicaria retirar do consumidor acesso às informações referentes aos produtos comercializados e o poderoso instrumento decisório. Deve-se lembrar que o direito da concorrência tem como finalidade última o bem-estar do consumidor. Caso concreto No caso concreto, o STJ entendeu que as marcas comparadas não tinham nenhuma semelhança física, não sendo passíveis de confusão entre os consumidores. Além disso, a comparação feita e os esclarecimentos prestados foram objetivos, sem denegrir a marca da concorrente. Logo, não houve infração ao registro marcário nem concorrência desleal.

PATENTES Requisitos para a concessão da patente “pipeline”

O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.

Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da Lei de Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).

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Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação adaptada: O laboratório “B”, um dos maiores do mundo, registrou no Brasil a patente da substância “di-hidroespirorenona”, utilizada na preparação de medicamento anticoncepcional. A substância foi registrada como patente do sistema “pipeline”. Patente “pipeline” Em palavras muito simples, porque o tema é bem complexo, a patente “pipeline”, também chamada de “patente de importação” ou “patente de revalidação”, é aquela em que em fica demonstrado que já houve expedição de patente no exterior, razão pela qual o INPI registra no Brasil essa patente exigindo menores formalidades. “O sistema pipeline de patentes, disciplinado no art. 230 da Lei 9.279⁄96, desde que cumpridos requisitos e condições próprias, reconhece o direito a exploração com exclusividade ao inventor cujo invento – embora não patenteável quando da vigência da Lei 5.772⁄71 – seja objeto de patente estrangeira.” (STJ. 3ª Turma. REsp nº 1.092.139/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/10/2010). Outra característica da patente do tipo “pipeline” é que ela se refere a substâncias, matérias ou produtos que farão parte da fórmula de produtos finais que ainda estão em fase de desenvolvimento, ou seja, não se encontram disponíveis para o comércio. Como o produto ainda não está pronto, não poderia ser protegido, mas, mesmo assim, a legislação abre uma exceção e aceita a patente da substância. Di Blasi, Garcia & Mendes: “O termo pipeline - cuja tradução para o português seria tubulação - refere-se, no sentido figurado, aos produtos em fase de desenvolvimento e, portanto, ainda na tubulação que liga a bancada de pesquisa ao comércio. Ou seja, tais produtos e processos não chegaram ao mercado consumidor e, por isso, ainda não poderão ser protegidos. O pipeline também pode ser chamado de patente de revalidação”. (BARBOSA, Denis Borges. Tratado de Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 1.783). As patentes “pipelines” são muito utilizadas por indústrias farmacêuticas, que fazem o registro da patente de determinadas substâncias que serão utilizadas em medicamentos que ainda não foram totalmente aprovados pelos órgãos de regulação, de forma que, por isso, ainda não estão disponíveis ao mercado consumidor. Os autores, em geral, defendem o sistema do “pipeline” por ser uma forma de proteger os investimentos feitos pela indústria em novas pesquisas, já que terão a garantia de que seus direitos sobre aquele produto serão respeitados quando ele finalmente estiver disponível para a venda. Outros, no entanto, criticam por afirmar que se trata de uma forma de inibir a concorrência e a livre iniciativa. A patente “pipeline” é disciplinada nos arts. 230 e 231 da LPI:

Art. 230. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação, por quem tenha proteção garantida em tratado ou convenção em vigor no Brasil, ficando

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assegurada a data do primeiro depósito no exterior, desde que seu objeto não tenha sido colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por terceiro com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros, no País, sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido ou da patente. § 1º O depósito deverá ser feito dentro do prazo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei, e deverá indicar a data do primeiro depósito no exterior. § 2º O pedido de patente depositado com base neste artigo será automaticamente publicado, sendo facultado a qualquer interessado manifestar-se, no prazo de 90 (noventa) dias, quanto ao atendimento do disposto no caput deste artigo. § 3º Respeitados os arts. 10 e 18 desta Lei, e uma vez atendidas as condições estabelecidas neste artigo e comprovada a concessão da patente no país onde foi depositado o primeiro pedido, será concedida a patente no Brasil, tal como concedida no país de origem. § 4º Fica assegurado à patente concedida com base neste artigo o prazo remanescente de proteção no país onde foi depositado o primeiro pedido, contado da data do depósito no Brasil e limitado ao prazo previsto no art. 40, não se aplicando o disposto no seu parágrafo único. § 5º O depositante que tiver pedido de patente em andamento, relativo às substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação, poderá apresentar novo pedido, no prazo e condições estabelecidos neste artigo, juntando prova de desistência do pedido em andamento. § 6º Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, ao pedido depositado e à patente concedida com base neste artigo. Art. 231. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às matérias de que trata o artigo anterior, por nacional ou pessoa domiciliada no País, ficando assegurada a data de divulgação do invento, desde que seu objeto não tenha sido colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por terceiro com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros, no País, sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido. § 1º O depósito deverá ser feito dentro do prazo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei. § 2º O pedido de patente depositado com base neste artigo será processado nos termos desta Lei. § 3º Fica assegurado à patente concedida com base neste artigo o prazo remanescente de proteção de 20 (vinte) anos contado da data da divulgação do invento, a partir do depósito no Brasil. § 4º O depositante que tiver pedido de patente em andamento, relativo às matérias de que trata o artigo anterior, poderá apresentar novo pedido, no prazo e condições estabelecidos neste artigo, juntando prova de desistência do pedido em andamento.

Mitigação ao princípio da novidade Segundo o STJ, a concessão da patente “pipeline” representa uma mitigação ao princípio da novidade. Além disso, nesse sistema de patente não são examinados os requisitos usuais de patenteabilidade. Trata-se, portanto, de um sistema de exceção, não previsto em tratados internacionais, que deve ser interpretado restritivamente, seja por contrapor ao sistema comum de patentes, seja por restringir a concorrência e a livre iniciativa (STJ. 3ª Turma. REsp nº 1.145.637/RJ, Rel. Desembargador Convocado Vasco Della Giustina, julgado em 15⁄12⁄2009). Voltando ao caso concreto: Após ser concedida a patente da referida substância, outro laboratório, “L”, ajuizou ação anulatória, afirmando que o registro foi feito de forma indevida, já que não estavam preenchidos os requisitos da

novidade e da atividade inventiva previstos no art. 8º da Lei n. 9.279/96:

Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.

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A tese defendida na ação anulatória foi acolhida pelo STJ? NÃO. O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige dele novidade nem atividade inventiva. Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da LPI e, de acordo com doutrina especializada, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).

FALÊNCIA No pedido de falência, é desnecessária a demonstração da insolvência econômica do devedor

No pedido de falência, é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência econômica do devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição dos incisos do art. 94, é possível fazer o pedido de falência independentemente da condição econômica real do empresário.

O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico no art. 94 da Lei 11.101/2005: a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III).

A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar.

É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014 (Info 550).

NOÇÕES GERAIS Conceito Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável. Finalidade A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei. Legislação aplicável Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei nº 11.101/05. Procedimento

I — PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II — PROCESSO FALIMENTAR

O procedimento pré-falimentar vai do pedido de falência até a sentença do juiz. Engloba, resumidamente, três atos principais: 1) pedido de falência;

O processo falimentar vai da sentença declaratória de falência até a sentença de encerramento.

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2) resposta do devedor; 3) sentença. Ao final desta fase, a sentença pode ser: • denegatória: o processo se extingue sem a instauração da falência; • declaratória: hipótese em que se iniciará o processo falimentar propriamente dito.

É no processo falimentar propriamente dito que ocorre a verificação e habilitação dos créditos e o pagamento dos credores.

PEDIDO DE FALÊNCIA Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? A pessoa que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência acarreta um processo judicial). Segundo o art. 97 da Lei nº 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor: I — o próprio devedor; (Obs.: é a chamada autofalência.) II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; (Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o falecido estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.) III — o cotista ou o acionista do devedor; (Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária (seja ele cotista ou acionista) entende que a empresa está insolvente e que o único caminho é a falência.) IV — qualquer credor. (Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.) Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 prevê que a falência poderá ser requerida em três hipóteses.

I — Impontualidade injustificada Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência. Adotou-se, neste inciso, o critério da impontualidade injustificada. Obs.1: para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor (STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014). Obs.2: a duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos, é possível que seja decretada a sua falência (STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014).

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II — Execução frustrada Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal. A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se, neste inciso, o chamado critério da enumeração legal. III — Atos de falência Quando o devedor pratica uma série de atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 11.101/2005. Aqui, a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o chamado critério da enumeração legal. Insolvência jurídica X insolvência econômica No pedido de falência é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência econômica do devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição dos incisos do art. 94, é possível fazer o pedido de falência independentemente da condição econômica real do empresário. O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir

de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico no art. 94 da Lei n. 11.101/2005: a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III). A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar. É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas. Verifica-se, assim, que a falência é diferente da chamada insolvência civil. O pressuposto da insolvência civil é a insolvência econômica (art. 748 do CPC), o que não se exige no caso da falência. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014. Info 550).

FALÊNCIA Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo que a devedora

possua grande capacidade econômica

Importante!!!

Diante de depósito elisivo de falência requerida com fundamento na impontualidade injustificada do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), admite-se, embora afastada a decretação de falência, a conversão do processo falimentar em verdadeiro rito de cobrança para apurar questões alusivas à existência e à exigibilidade da dívida cobrada, sem que isso configure utilização abusiva da via falimentar como sucedâneo de ação de cobrança/execução.

Assim, se o autor da ação de falência fez o requerimento baseado no inciso I do art. 94 e a dívida não paga era realmente superior a 40 salários-mínimos, não se pode dizer que o pedido tenha sido abusivo, mesmo que a devedora tenha grande porte econômico.

Nesse caso, se a devedora efetuar o depósito elisivo, não cabe ao magistrado extinguir o processo sem resolução de mérito, devendo continuar o feito como se fosse uma ação de cobrança, discutindo a dívida e, ao final, proferindo sentença resolvendo o mérito quanto à dívida e julgando improcedente a falência.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014 (Info 550).

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Imagine a seguinte situação adaptada: “LA”, uma grande empresa, possuía um débito de R$ 133.000,00 com um fornecedor (empresa “T”). Esse débito estava materializado em uma duplicata mercantil que, mesmo após ser protestada, não foi paga. Diante disso, a empresa “T” ajuizou ação de falência contra a “LA”, fundamentando seu pedido no art. 94,

I, da Lei n. 11.101/2005:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

Resposta do devedor Após ser citado sobre o pedido de falência, o devedor poderá adotar cinco alternativas: a) apenas efetuar o depósito do valor cobrado (depósito elisivo da falência); b) efetuar o depósito e contestar; b) apenas contestar; d) não contestar nem depositar; e) pedir a recuperação judicial (art. 95). Depósito elisivo da falência Em nosso exemplo, a ré contestou e realizou o depósito elisivo da falência, conforme autoriza o art. 98, parágrafo único:

Art. 98 (...) Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.

O magistrado extinguiu o processo sem resolução do mérito (art. 267 IV, do CPC), alegando que não ficou provado o estado de insolvência apto a autorizar o pedido, já que a devedora se trata de empresa de grande porte, o que indica que tem solvência para quitar o débito na via da execução comum. Afirmou, ainda, que a autora utilizou abusivamente da via falimentar como sucedâneo de ação de cobrança. Agiu corretamente o magistrado, segundo o STJ? NÃO. Primeiramente, é preciso recordar que no pedido de falência é desnecessária a demonstração da insolvência econômica do devedor, bastando que esteja prevista uma das situações do art. 94. Além disso, diante do depósito elisivo efetuado pela devedora, embora fique afastada a decretação de falência, admite-se que o processo falimentar se converta em verdadeiro rito de cobrança para apurar as questões relativas à existência e à exigibilidade da dívida cobrada. Logo, o processo deveria continuar para se discutir a dívida. Isso é possível sem que configure utilização abusiva da via falimentar como sucedâneo de ação de cobrança/execução. Realmente, o uso abusivo da via falimentar é uma preocupação tanto da lei quanto da jurisprudência. Assim, de um modo geral, a ação de falência não deve ser desvirtuada para servir como um instrumento de coação para a cobrança de dívidas, especialmente se considerarmos os graves resultados que decorrem da quebra da empresa.

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No entanto, deve-se lembrar que a legislação atual (Lei n. 11.101/2005), diferentemente da anterior, estabelece um valor mínimo da dívida no inciso I do art. 94 (40 salários-mínimos). Dessa forma, não é qualquer dívida pequena que autoriza a formulação do pedido. Os pedidos de falência por impontualidade de dívidas abaixo desse valor são legalmente considerados abusivos. Porém, superando-se esse valor, a ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do legislador. Assim, não cabe ao Judiciário obstar pedidos de falência que observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir dos quais o legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso controlado e abusivo da via falimentar. Portanto, tendo o pedido de falência sido aparelhado em impontualidade injustificada de títulos que superam o piso legal de 40 salários mínimos (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), por, absoluta presunção legal, fica afastada a alegação de abuso na utilização da via falimentar, devendo a ação prosseguir, agora, sob o rito de mera cobrança, uma vez que o devedor já fez o depósito elisivo. Resumindo: Se o autor da ação de falência fez o requerimento baseado no inciso I do art. 94 e a dívida não paga era realmente superior a 40 salários-mínimos, não se pode dizer que o pedido tenha sido abusivo, mesmo que a devedora tenha grande porte econômico. Nesse caso, se a devedora efetuar o depósito elisivo, não cabe ao magistrado extinguir o processo sem resolução de mérito, devendo continuar o feito como se fosse uma ação de cobrança, discutindo a dívida e, ao final, proferindo sentença resolvendo o mérito quanto à dívida e julgando improcedente a falência.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial

Situação 1 – REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.

Situação 2 – EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar ou ser propostas (§ 3º do art. 49).

Situação 3 – EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens móveis essenciais à atividade empresarial da empresa em recuperação judicial, nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos efeitos da recuperação judicial.

Assim, conforme decidiu o STJ: não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os créditos garantidos por alienação fiduciária de bem não essencial à atividade empresarial. Isso porque tal crédito se enquadrará na situação 2 acima explicada (exceção à regra).

STJ. 2ª Seção. CC 131.656-PE, Rel. Min. Maria Isabel Galloti, julgado em 8/10/2014 (Info 550).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.

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FASES DA RECUPERAÇÃO De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases: a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. JUÍZO FALIMENTAR

A Lei n. 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. PLANO DE RECUPERAÇÃO Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência. Este plano deverá conter: discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional

legalmente habilitado ou empresa especializada. CRÉDITOS QUE ESTÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL Na recuperação judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores de uma forma mais “suave” a fim de que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando. Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito de acordo com o que for definido no plano de recuperação. Um dos temas importantes sobre esse assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação. Regra: Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de

recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005). Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha chegado a data do vencimento. Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...) § 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

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Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão elencadas nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados créditos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial. Veja o § 3º que interessa para explicar o julgado:

§ 3º o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

Créditos decorrentes de alienação fiduciária enquadram-se no § 3º Se a empresa em recuperação tinha um contrato de alienação fiduciária com o credor “X” e este credor tinha, como garantia da dívida, a propriedade fiduciária de um bem que está na posse da empresa, esse crédito” enquadra-se no § 3º.

Ex: a empresa tinha feito uma alienação fiduciária para adquirir um caminhão “XYZ”; como não tinha dinheiro para pagar à vista, fez um financiamento e o veículo ficou na propriedade fiduciária do banco “ABC”, sendo usado pela empresa (tinha a posse direta do bem). Se a empresa entra com pedido de recuperação judicial, esse crédito do banco não está submetido aos efeitos do plano de credores. Em outras palavras, a empresa terá que continuar pagando as prestações da mesma forma que já estava ajustada no contrato e, se atrasar, o banco poderá propor a ação de busca e apreensão.

Ressalva da parte final do § 3º O § 3º traz uma ressalva: mesmo que o crédito se enquadre nas situações descritas no § 3º, a empresa não poderá perder o estabelecimento onde está situada, assim como também não poderá ser privada dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. Ex: se o caminhão “XYZ” (acima mencionado) é o único utilizado pela empresa, sendo essencial para a sua atividade empresarial, o banco “ABC” não poderá ajuizar a ação de busca e apreensão. Ele terá que se submeter às regras da recuperação judicial. Essa situação dura, no máximo, 180 dias, conforme prevê o § 4º do art. 6º.

Resumindo: 1) REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de

recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.

2) EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar ou ser propostas (§ 3º do art. 49). Aqui o Banco “comemora” porque seu crédito está fora da recuperação judicial.

3) EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens móveis essenciais à atividade empresarial da empresa em recuperação judicial, nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos efeitos da recuperação judicial. Aqui o Banco “lamenta” porque seu crédito deverá ficar sujeito à recuperação judicial.

Atenção: para se enquadrar na parte final do § 3º (exceção da exceção – situação 3), o bem objeto da alienação fiduciária deve ser o essencial à atividade empresarial. Se o contrato de alienação fiduciária for referente a um bem não essencial, esse crédito continua fora da recuperação judicial (situação 2).

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DIREITO AMBIENTAL

INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ENVOLVENDO ANIMAIS SILVESTRES Posse irregular de animais silvestres por longo período de tempo

O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.425.943-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/9/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação adaptada: João, idoso de 85, cria, há 20 anos, em sua casa, duas araras. As aves são bem cuidadas e andam livres pelo quintal de João. A partir de uma “denúncia anônima”, houve fiscalização do IBAMA no local, tendo sido as araras apreendidas e o proprietário autuado. Segundo perícia realizada, as aves estavam bem cuidadas, não sofriam maus tratos e recebiam alimentação adequada. Caso seja constatada a ocorrência de alguma infração administrativa ou penal envolvendo animais silvestres, o que as autoridades ambientais devem fazer? Os animais deverão ser apreendidos e prioritariamente devolvidos ao seu habitat. Somente se isso não for possível ou recomendável (por questões sanitárias) é que tais animais serão entregues a jardins

zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (§ 1º do art. 25 da Lei n. 9.605/98). Em nosso exemplo, o IBAMA fez a apreensão das araras e determinou sua devolução à floresta. João não se conformou com a sua separação das araras e ajuizou ação contra o IBAMA na Justiça Federal pedindo que tivesse direito de ficar com as aves. O pedido de João foi aceito? SIM. Entendeu-se que o particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais. Para o STJ, deveria ser afastada, no caso concreto, a determinação da lei ambiental, porque esta tem por objetivo proteger o meio ambiente e, na situação em tela, o cumprimento da letra fria da lei resultaria em maiores prejuízos às espécies apreendidas, já que, após tantos anos, seria difícil a reintegração delas ao habitat, não sendo também aconselhável que as araras fossem encaminhadas para um zoológico ou entidade assemelhada, já que eram bem tratadas na casa do autuado.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PRAZOS PROCESSUAIS Suspensão dos prazos prescricionais durante o recesso

Na hipótese em que o Tribunal suspenda, por força de ato normativo local, os atos processuais durante o recesso forense, o termo final do prazo prescricional que coincidir com data abrangida pelo referido recesso prorroga-se para o primeiro dia útil posterior ao término deste.

Estando suspenso o expediente forense por conta do recesso, ficam suspensos não apenas os prazos processuais, como também os prescricionais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.446.608-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/10/2014 (Info 550).

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Imagine a seguinte situação adaptada: João queria ajuizar uma ação de indenização contra uma empresa. O prazo prescricional dessa demanda era de 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC) e iria vencer no dia 11 de janeiro de 2013. Ocorre que o Tribunal de Justiça baixou um ato determinando que “ficam suspensos os prazos processuais de qualquer natureza de 20 de dezembro de 2012 a 20 de janeiro de 2013”. No dia 21 de janeiro de 2013, João deu entrada na ação, mas o juiz extinguiu o processo reconhecendo a prescrição. O magistrado argumentou que a suspensão de prazos alcança apenas os prazos processuais, e não os prescricionais, pois estes dizem respeito à pretensão de direito material, que existe antes da pretensão de direito processual, sendo independente desta. O STJ concordou com o argumento do juiz? NÃO. Para o STJ, na hipótese em que o Tribunal suspenda, por força de ato normativo local, os atos processuais durante o recesso forense, o termo final do prazo prescricional que coincidir com data abrangida pelo referido recesso prorroga-se para o primeiro dia útil posterior ao término deste. Logo, estando suspenso o expediente forense por conta do recesso, ficam suspensos não apenas os prazos processuais, como também os prescricionais.

EXECUÇÃO FISCAL O redirecionamento da execução não exclui a responsabilidade tributária da pessoa jurídica

Quando ocorre o redirecionamento da execução fiscal para atingir o sócio-gerente, a pessoa jurídica deixa de responder pelo débito? Tendo havido o redirecionamento, a execução irá prosseguir apenas contra a pessoa física?

NÃO. Nos casos de dissolução irregular da sociedade empresária, o redirecionamento da Execução Fiscal para o sócio-gerente não constitui causa de exclusão da responsabilidade tributária da pessoa jurídica.

Apesar de o art. 135 do CTN falar em “responsabilidade pessoal”, o STJ consolidou o entendimento de que essa responsabilidade do sócio-gerente, por atos de infração à lei, é solidária (não excluindo a responsabilidade da empresa). Logo, responderão pelo débito o sócio-gerente e a pessoa jurídica, figurando ambos na execução fiscal, em litisconsórcio passivo.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.455.490-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2014 (Info 550).

Redirecionamento Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a empresa e não consegue localizar bens penhoráveis, o CTN prevê a possibilidade de o Fisco REDIRECIONAR a execução incluindo no polo passivo, ou seja, como executadas, algumas pessoas físicas que tenham relação com a empresa, desde que fique demonstrado que elas agiram com excesso de poderes ou praticando atos que violaram a lei, o contrato social ou os estatutos, nos termos do art. 135 do CTN:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio pessoal) pelas dívidas da sociedade empresária. Isso porque vigora o princípio da autonomia jurídica da pessoa jurídica em relação

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aos seus sócios. A pessoa jurídica possui personalidade e patrimônio autônomos, que não se confundem com a personalidade e patrimônio de seus sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica de forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos débitos.

Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o Fisco não autoriza que o sócio pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário que tenha praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III). Nesse sentido:

Súmula 430-STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.

A dissolução irregular da empresa caracteriza infração à lei Uma das situações mais comuns em que ocorre o redirecionamento da execução fiscal é quando a empresa é dissolvida irregularmente. Se isso ocorre, a jurisprudência entende que houve infração à lei (art. 135 do CTN), já que o procedimento para a extinção de sociedades empresárias é disciplinado na lei, devendo ser cumpridas uma série de formalidades, de sorte que, se essa dissolução ocorre de forma irregular, a legislação está sendo desrespeitada. Empresa que deixa de funcionar no seu domicílio fiscal e não comunica aos órgãos competentes, presume-se que foi dissolvida irregularmente Domicílio tributário (ou fiscal) é o lugar cadastrado na repartição tributária, onde o sujeito passivo poderá ser encontrado pelo Fisco. Dessa feita, se a Administração Tributária tiver que enviar uma notificação fiscal para aquele contribuinte, deverá encaminhar para o endereço constante como sendo seu domicílio fiscal. As regras para a definição do domicílio tributário estão previstas no art. 127 do CTN. Se a empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal, presume-se que ela deixou de existir (foi dissolvida). E o pior: foi dissolvida de forma irregular, o que caracteriza infração à lei e permite o redirecionamento da execução. Assim, por exemplo, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da empresa porque ela não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio fiscal, será possível concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o redirecionamento da execução, conforme entendimento sumulado do STJ:

Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente.

Segundo explica o Min. Mauro Campbell Marques ao comentar a origem da súmula, “o sócio-gerente tem o dever de manter atualizados os registros empresariais e comerciais, em especial quanto à localização da empresa e a sua dissolução. Ocorre aí uma presunção da ocorrência de ilícito. Este ilícito é justamente a não obediência ao rito próprio para a dissolução empresarial (...)” (REsp 1.371.128-RS). Quando ocorre o redirecionamento da execução fiscal para atingir o sócio-gerente, a pessoa jurídica deixa de responder pelo débito? Em outras palavras, tendo havido o redirecionamento, a execução irá prosseguir apenas contra a pessoa física? NÃO. Nos casos de dissolução irregular da sociedade empresária, o redirecionamento da Execução Fiscal para o sócio-gerente não constitui causa de exclusão da responsabilidade tributária da pessoa jurídica. Apesar de o art. 135 do CTN falar em “responsabilidade pessoal”, o STJ consolidou o entendimento de que essa responsabilidade do sócio-gerente, por atos de infração à lei, é solidária (não excluindo a responsabilidade da empresa). Logo, responderão pelo débito o sócio-gerente e a pessoa jurídica, figurando ambos na execução fiscal, em litisconsórcio passivo.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

HABEAS CORPUS Não cabe habeas corpus para questionar a pena imposta de suspensão do direito de dirigir

Não cabe habeas corpus para questionar a pena imposta de suspensão do direito de dirigir.

Isso porque a pena de suspensão do direito de dirigir veículo automotor não acarreta, por si só, qualquer risco à liberdade de locomoção, uma vez que, caso descumprida, não pode ser convertida em reprimenda privativa de liberdade, tendo em vista que inexiste qualquer previsão legal nesse sentido.

STJ. 5ª Turma. HC 283.505-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/10/2014 (Info 550).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado à pena de 1 ano de detenção em regime aberto, além da suspensão do direito de dirigir veículo automotor por igual período em virtude de ter praticado o crime previsto no art. 303 do CTB:

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Desse modo, houve duas penas: detenção e suspensão do direito de dirigir.

A defesa impetrou habeas corpus questionando unicamente a suspensão do direito de dirigir, alegando que haveria excesso de punição, na medida em que, sendo o paciente motorista profissional, dependeria exclusivamente da condução de veículo para sobreviver e sustentar sua família. O pedido poderá ser aceito? NÃO. Segundo decidiu o STJ, o pedido não pode ser sequer conhecido. Isso porque o habeas corpus não é o instrumento cabível para questionar a imposição de pena de suspensão do direito de dirigir veículo automotor. A pena de suspensão do direito de dirigir veículo automotor não acarreta, por si só, qualquer risco à liberdade de locomoção, uma vez que, caso descumprida, não pode ser convertida em reprimenda privativa de liberdade, tendo em vista que inexiste qualquer previsão legal nesse sentido. Desse modo, inexistindo qualquer indício de ameaça de violência ou constrangimento à liberdade de ir e vir do paciente, revela-se inadequada a via do habeas corpus para esse fim.

DIREITO PENAL / PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA Deverá ser apurado na Justiça Comum a conduta do militar que atira contra civil, mesmo ainda

não se tendo certeza se a sua intenção era matar

Atenção! DPU

Os crimes dolosos contra a vida cometidos por militar contra civil, mesmo que no desempenho de suas atividades, serão da competência da Justiça comum (Tribunal do Júri), nos termos do art. 9º, parágrafo único, do Código Penal Militar.

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Se um militar desferiu um tiro contra um civil, mas há dúvidas a respeito de sua intenção (não se sabe ainda se queria matar, lesionar, assustar etc.), esse fato deverá ser apurado na Justiça comum (e não na Justiça Militar).

Somente com a análise aprofundada de todo o conjunto probatório a ser produzido durante a instrução criminal será possível identificar, categoricamente, a intenção do militar ao efetuar o disparo de arma de fogo no carro da vítima. Assim, havendo fundada dúvida quanto ao elemento subjetivo, o feito deve tramitar na Justiça Comum, por força do princípio in dubio pro societate.

STJ. 3ª Seção. CC 129.497-MG, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 8/10/2014 (Info 550).

Se um militar, no exercício de sua função, pratica lesão corporal contra vítima civil, qual será o juízo competente? JUSTIÇA MILITAR, considerando que se trata de crime militar (art. 9º, II, c, do CPM):

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

Se um militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio (ou qualquer outro crime doloso contra a vida) contra vítima civil, qual será o juízo competente? JUSTIÇA COMUM ESTADUAL, por força do parágrafo único do art. 9º do CPM:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na

forma do art. 303 da Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

Atenção para a alteração promovida no parágrafo único do art. 9º:

Redação anterior à Lei n. 12.432/2011 Redação atual

(dada pela Lei n. 12.432/2011)

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

Assim, se um militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio ou homicídio consumado contra vítima civil em ação militar relacionada à abordagem e eventual abate de aeronave (“Lei do Abate”), qual será o juízo competente? JUSTIÇA MILITAR (trata-se de exceção à regra do parágrafo único do art. 9º do CPM).

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Resumindo:

SITUAÇÃO JUÍZO COMPETENTE

Militar, no exercício de sua função, pratica lesão corporal contra vítima civil.

Justiça Militar

Militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio contra vítima civil.

Justiça Comum Estadual (salvo se foi praticado em abate de aeronave – art.

303, CBA)

Militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio ou homicídio contra vítima civil ao abater aeronave hostil.

Justiça Militar

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: Pedro (civil) estava dirigindo seu veículo e, na sua frente, havia uma blitz policial. João (Sargento PM) fez sinal com a mão para que Pedro parasse o veículo, no entanto, este não obedeceu a ordem e seguiu em frente. Diante disso, o militar efetuou um disparo contra o carro de Pedro que, assustado, parou o automóvel. Pedro não foi atingido. O Juiz de Direito da Auditoria Militar entendeu que houve tentativa de homicídio e, por isso, determinou a remessa dos autos à vara criminal comum. O juiz da vara criminal, por sua vez, sustentou que não havia indícios do animus necandi (intenção de matar), razão pela qual, não havendo crime doloso contra a vida, a competência para julgar o fato seria da Justiça Militar. O caso chegou até o STJ. Onde esse fato deverá ser julgado? Justiça Comum. Segundo decidiu o STJ, havendo dúvida sobre a existência do elemento subjetivo do crime de homicídio, o processo deverá tramitar na Justiça Comum (e não na Justiça Militar). Os crimes dolosos contra a vida cometidos por militar contra civil, mesmo que no desempenho de suas atividades, serão da competência da Justiça Comum (Tribunal do Júri), nos termos do art. 9º, parágrafo único, do CPM. Para se eliminar a eventual dúvida quanto ao elemento subjetivo da conduta, de modo a afirmar se o agente militar agiu com dolo ou culpa, é necessário o exame aprofundado de todo o conjunto probatório, a ser coletado durante a instrução criminal, observados o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Dessa forma, o feito deve tramitar na Justiça Comum, pois, nessa situação, prevalece o princípio do in dubio pro societate, o que leva o julgamento para o Tribunal do Júri, caso seja admitida a acusação em eventual sentença de pronúncia.

DIREITO TRIBUTÁRIO

CERTIDÃO NEGATIVA Impossibilidade de expedir certidão positiva com efeitos de negativa

caso a penhora tenha sido insuficiente

A penhora de bem de valor inferior ao débito não autoriza a expedição de certidão positiva com efeitos de negativa. Isso porque a expedição da referida certidão está condicionada à existência de penhora suficiente ou à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos

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termos dos arts. 151 e 206 do CTN. Assim, se em uma execução fiscal o débito era de 100 mil reais, tendo sido penhorado apenas uma parte desse valor, não será possível a emissão da certidão positiva com efeitos de negativa.

Por outro lado, vale esclarecer que, mesmo tendo sido a penhora insuficiente, o devedor poderá apresentar embargos à execução. Segundo o STJ, uma vez efetuada a penhora, ainda que insuficiente, encontra-se presente a condição de admissibilidade dos embargos à execução, haja vista a possibilidade posterior da integral garantia do juízo, mediante reforço da penhora.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.479.276-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/10/2014 (Info 550).

Certidão negativa e certidão positiva Algumas vezes, a pessoa (física ou jurídica), para exercer certos direitos, precisa comprovar que não está devendo nenhum tributo. Ex1: a pessoa que vai fazer um financiamento bancário. Ex2: a empresa que vai participar de uma licitação (art. 29, III, da Lei n 8.666/93).

O documento que prova que a pessoa não está devendo tributos é chamado de “certidão negativa de tributos”.

A certidão negativa é requerida pelo próprio contribuinte junto ao Fisco. Atualmente, a maioria das Fazendas Públicas permite que o interessado obtenha a certidão negativa pela internet.

O prazo máximo para que a Administração Tributária forneça certidão é de 10 dias.

Veja como o tema é tratado pelo art. 205 do CTN:

Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido. Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na repartição.

Não se pode cobrar pela expedição de certidões tributárias, sendo hipótese de imunidade, nos termos do art. 5º, XXXIV, “b”, da CF/88:

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: (...) b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Certidão positiva com efeito de negativa (CPEN) Pode acontecer de a pessoa possuir um tributo contra si, mas este não poder ser cobrado ou se encontrar garantido por uma penhora. Nesses casos, não seria justo que a pessoa ficasse sem poder exercer seus direitos por causa desse tributo. Por outro lado, não se poderia expedir uma certidão negativa, já que o tributo existe. Pensando nisso, o legislador criou a seguinte solução: será expedida uma certidão positiva (ou seja, dizendo que existe o tributo contra aquela pessoa), mas essa certidão produzirá os mesmos efeitos de uma certidão negativa (a pessoa poderá participar da licitação, p. ex.). A isso denominamos de “certidão positiva com efeito de negativa”, sendo ela tratada no art. 206 do CTN:

Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.

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Desse modo, a certidão positiva com efeito de negativa poderá ser exarada quando houver créditos tributários:

ainda não vencidos (o crédito já foi constituído, mas ainda não terminou o prazo para que o contribuinte o pague);

que já estão sendo executados, mas no processo houve penhora;

cuja exigibilidade esteja suspensa (art. 151 do CTN). A certidão positiva com efeito de negativa também é chamada de “certidão de regularização”. Se o servidor tributário, maliciosamente, expede certidão negativa, mas havia débitos:

Art. 208. A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos. Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e funcional que no caso couber.

Feitas as devidas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: A União ajuizou execução fiscal contra a empresa devedora cobrando o valor de 100 mil reais. A Justiça conseguiu realizar a penhora de um imóvel da executada no valor de 50 mil reais. Nesse caso, será possível que a empresa obtenha uma certidão positiva com efeitos de negativa? A penhora de bem de valor inferior ao débito permite a expedição dessa certidão? NÃO. A penhora de bem de valor inferior ao débito não autoriza a expedição de certidão positiva com efeitos de negativa. Isso porque a expedição da referida certidão está condicionada à existência de penhora suficiente ou à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos dos arts. 151 e 206 do CTN. A empresa não terá direito à certidão. Entendido. Mas ela poderá apresentar embargos à execução, mesmo tendo sido a penhora insuficiente? SIM. O STJ entende que, uma vez efetuada a penhora, ainda que insuficiente, encontra-se presente a condição de admissibilidade dos embargos à execução, haja vista a possibilidade posterior da integral garantia do juízo, mediante reforço da penhora.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

AUXÍLIO-RECLUSÃO Baixa renda para fins de concessão do benefício

Importante!!!

O auxílio-reclusão é um benefício previdenciário pago aos dependentes do segurado que for preso, desde que ele (segurado) tenha baixa renda, não receba remuneração da empresa durante a prisão, nem esteja em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência.

Se o segurado, no momento em que foi preso, estava desempregado, a Portaria Interministerial determina que será considerado como critério para “baixa renda” o seu último salário-de-contribuição (referente ao último trabalho). Ex: João foi preso em 2015, momento em que estava desempregado; seu último salário-de-contribuição era de R$ 3.000,00; pela Portaria, mesmo João estando desempregado, não poderia ser considerado de baixa renda e seus familiares não teriam direito ao benefício.

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O STJ concorda com essa previsão da Portaria? Esse critério do último salário-de-contribuição para o segurado preso desempregado é válido?

NÃO. Na análise de concessão do auxílio-reclusão, o fato de o recluso que mantenha a condição de segurado pelo RGPS estar desempregado ou sem renda no momento em que foi preso demonstra que ele tinha “baixa renda”, independentemente do valor do último salário de contribuição.

O critério econômico da renda deve ser aferido no momento da reclusão, pois é nele que os dependentes sofrem o baque da perda do provedor. Se, nesse instante, o segurado estava desempregado, presume-se que se encontrava em baixa renda, sendo, portanto, devido o benefício a seus dependentes.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.480.461-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/9/2014 (Info 550).

AUXÍLIO-RECLUSÃO

Em que consiste: - O auxílio-reclusão é um benefício previdenciário - pago aos dependentes do segurado que for preso - desde que ele (segurado) tenha baixa renda - não receba remuneração da empresa durante a prisão - nem esteja em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência. Atenção: Se o segurado preso estiver recebendo auxílio-acidente, pensão por morte ou salário-maternidade, ainda assim seus dependentes poderão ter direito ao auxílio-reclusão. Isso porque a lei, por uma falha, não proibiu o pagamento nesses casos. Beneficiários: chamo atenção novamente para o fato de que o auxílio-reclusão é um benefício pago aos dependentes do segurado preso. Quem recebe o dinheiro são os dependentes (mulher, filhos menores etc.) e não o preso. Para receber o auxílio-reclusão, os dependentes do segurado precisam ter baixa renda? NÃO. Trata-se de mais uma “pegadinha”. Segundo o art. 201, IV, da CF/88, para que seja pago o auxílio-reclusão, quem deve ter baixa renda é o segurado preso, não importando a renda dos dependentes. Isso não tem lógica porque o benefício não é pago ao preso, mas sim aos seus dependentes. Eles é que deveriam ser pobres. Apesar disso, foi dessa forma que o legislador constituinte tratou do tema e o STF afirmou que é assim mesmo:

(...) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 387.265/SC, sob o regime da repercussão geral, consolidou entendimento no sentido de que a renda a ser considerada para a concessão do auxílio-reclusão é a do segurado de baixa renda, e não a dos seus dependentes. (...) (STF. 2ª Turma. RE 580391 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/08/2013)

Não se confunda:

Quem recebe o benefício: os dependentes do segurado.

Quem precisa ter baixa renda para o benefício ser pago: o segurado preso. Qual valor é considerado baixa renda para fins de pagamento do auxílio-reclusão? A EC 20/98, que alterou o art. 201, IV, da CF/88 previu que, até que a lei discipline o auxílio-reclusão, esse benefício será concedido apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00, valor esse que deverá ser corrigido pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social (art. 13 da Emenda).

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Em outras palavras, a EC determinou que a lei estabelecesse um critério para definir o que é “baixa renda”. Enquanto a lei não fizer isso, o Governo deverá atualizar todos os anos o valor que começou em R$ 360,00. Até hoje, essa lei não existe. Logo, todos os anos é publicada uma Portaria Interministerial, assinada pelos Ministros da Previdência e da Fazenda, atualizando o valor.

Para o ano de 2015, o valor foi atualizado para R$ 1.089,72 (Portaria Interministerial n. 13/2015). Assim, o auxílio-reclusão somente será pago se o último salário-de-contribuição do segurado antes de ser preso era igual ou inferior a essa quantia. Até aqui, tudo bem. Vamos agora dificultar um pouco: Esse teto atualizado todos os anos é absoluto ou pode ser relativizado? Se o valor do salário-de–contribuição superar um pouco esse limite, mesmo assim poderá ser concedido o benefício? Ex: João foi preso em 2015 e, nesta data, seu salário de contribuição era de R$ 1.100,00; seus familiares podem receber o auxílio-reclusão? SIM. O STJ recentemente decidiu que é possível a concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que recebia salário de contribuição pouco superior ao limite estabelecido como critério de baixa renda pela legislação da época de seu encarceramento. Assim, é possível a concessão do auxílio-reclusão quando o caso concreto revelar a necessidade de proteção social, permitindo ao julgador a flexibilização do critério econômico para deferimento do benefício pleiteado, ainda que o salário de contribuição do segurado supere o valor legalmente fixado como critério de baixa renda no momento de sua reclusão. Com bem assentado pelo Ministro Relator, “a análise de questões previdenciárias requer do Magistrado uma compreensão mais ampla, ancorada nas raízes axiológicas dos direitos fundamentais, a fim de que a aplicação da norma alcance a proteção social almejada.” (STJ. 2ª Tuma. REsp 1.479.564-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 6/11/2014. Info 552).

Se o segurado, no momento em que foi preso, estava desempregado, a Portaria determina que será considerado como critério para “baixa renda” o seu último salário-de-contribuição (referente ao último trabalho). Ex: João foi preso em 2015, momento em que estava desempregado; seu último salário-de-contribuição era de R$ 3.000,00; pela Portaria, mesmo João estando desempregado, não poderia ser considerado de baixa renda e seus familiares não teriam direito ao benefício. O STJ concordou com essa previsão da Portaria? Esse critério do último salário-de-contribuição para o segurado preso desempregado é válido? NÃO. Na análise de concessão do auxílio-reclusão, o fato de o recluso que mantenha a condição de segurado pelo RGPS estar desempregado ou sem renda no momento em que foi preso demonstra que ele tinha “baixa renda”, independentemente do valor do último salário de contribuição. O critério econômico da renda deve ser aferido no momento da reclusão, pois é nele que os dependentes sofrem o baque da perda do provedor. Se, nesse instante, o segurado estava desempregado, presume-se que se encontrava em baixa renda, sendo, portanto, devido o benefício a seus dependentes.

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PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Não aplicação da Súmula 289 do STJ em caso de migração dos participantes ou assistidos para

outro plano de benefícios da mesma entidade (Tema muito específico. Julgado que somente interessa para concursos que cobrem, com

profundidade, o regime de Previdência Complementar)

Não cabe o resgate, por participante ou assistido de plano de benefícios, das parcelas pagas a entidade fechada de previdência privada complementar quando, mediante transação extrajudicial, tenha ocorrido a migração dos participantes ou assistidos a outro plano de benefícios da mesma entidade.

A Súmula 289 do STJ trata de hipótese em que há o rompimento do vínculo contratual com a entidade de previdência privada, e, portanto, não se aplica para a situação em que, por acordo de vontades, envolvendo concessões recíprocas, haja migração de participante em gozo do benefício de previdência privada para outro plano, auferindo, em contrapartida, vantagem.

Os arts. 14, III, e 15, I, da LC 109/2001 (Lei do Regime de Previdência Complementar) esclarecem que a portabilidade (migração para outro plano) não caracteriza resgate, de forma que é manifestamente inadequada a aplicação deste instituto e da Súmula 289 para caso em que o assistido não se desligou do regime jurídico de previdência privada.

STJ. 2ª Seção. AgRg no AREsp 504.022-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/9/2014 (Info 550).

Súmula 289-STJ O STJ possui enunciado com o seguinte teor:

Súmula 289-STJ: A restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada deve ser objeto de correção plena, por índice que recomponha a efetiva desvalorização da moeda.

Assim, caso uma pessoa que seja filiada a um plano de previdência privada decida se desligar, ela terá o direito de resgatar (receber de volta) as parcelas que pagou. Ocorre que, ao fazer essa devolução, alguns planos de previdência não queriam incluir o valor referente à correção monetária. Outros planos aceitavam fazer a correção monetária, mas previam em seus estatutos que deveriam ser aplicados determinados índices que ficavam nitidamente abaixo daqueles utilizados comumente no mercado. O STJ veio corrigir essa distorção ao afirmar que o ex-filiado deverá receber a quantia que pagou acrescida de correção monetária, sendo aplicado um índice de correção que efetivamente recomponha a desvalorização da moeda, não importando que o estatuto da entidade estabeleça critério diverso. Vale ressaltar que, na restituição desses valores, devem ser acrescidos, obrigatoriamente, os expurgos inflacionários. Ainda segundo o STJ, o índice que deverá ser aplicado é o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. REsp 1183474/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/11/2012 (recurso repetitivo). Obs: não se aplica para a restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada os índices previstos na súmula 252 do STJ, considerando que ela é específica para a correção de saldos do FGTS.

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Imagine agora a seguinte situação adaptada: João era funcionário de uma sociedade de economia mista estadual que prestava serviços de telecomunicações. Nessa empresa estatal, João era participante de um plano de previdência privada, para o qual vertia contribuições. Quando houve a privatização das telecomunicações, uma empresa privada assumiu os serviços desenvolvidos pela extinta sociedade de economia mista e fez um acordo com os funcionários que quiseram continuar trabalhando para que houvesse a migração para um outro plano de previdência privada, com regras diversas. João aceitou o acordo (transação extrajudicial) e fez a migração. Ocorre que, posteriormente, ele ajuizou ação pleiteando a restituição dos valores que ele havia pago ao primeiro plano de previdência privada, alegando que houve rompimento do antigo vínculo, de forma que deveria ser aplicado o raciocínio presente na Súmula 289 do STJ. O pedido de João para resgatar os valores pagos poderá ser aceito? Aplica-se a Súmula 289 do STJ no presente caso? NÃO. Segundo decidiu o STJ, não cabe o resgate, por participante ou assistido de plano de benefícios, das parcelas pagas a entidade fechada de previdência privada complementar quando, mediante transação extrajudicial, tenha ocorrido a migração dos participantes ou assistidos a outro plano de benefícios da mesma entidade. A Súmula 289 do STJ trata de hipótese em que há o rompimento do vínculo contratual com a entidade de previdência privada, e, portanto, não se aplica para a situação em que, por acordo de vontades, envolvendo concessões recíprocas, haja migração de participante em gozo do benefício de previdência privada para outro plano, auferindo, em contrapartida, vantagem. Os arts. 14, III, e 15, I, da LC 109/2001 (Lei do Regime de Previdência Complementar) esclarecem que a portabilidade (migração para outro plano) não caracteriza resgate, de forma que é manifestamente inadequada a aplicação deste instituto e da Súmula 289 para o caso em que o assistido não se desligou do regime jurídico de previdência privada.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RENÚNCIA DO CREDOR AO SEU CRÉDITO E JUNTADA DO CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS AOS AUTOS. A juntada do contrato de honorários advocatícios aos autos antes de determinada a expedição de precatório ou de mandado de levantamento (art. 22, § 4º, da Lei 8.906/1994) não impede que o credor renuncie ao pagamento do montante que lhe era devido, inviabilizando, assim, o pagamento direto ¬ao advogado – por dedução da quantia que seria recebida pelo constituinte – dos honorários contratuais. De início, cita-se o previsto no art. 22, § 4º, da Lei 8.906/1994: “Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou”. O § 4º do artigo supracitado, ao condicionar a juntada do contrato de honorários ao momento anterior à expedição do mandado de levantamento ou precatório, pressupõe que o depósito do valor devido à parte triunfante já tenha sido realizado em juízo. Nesse contexto, se o vencedor da lide renuncia ao seu direito de receber o pagamento do crédito antes de ele ser judicialmente depositado não haverá expedição de mandado de levantamento ou precatório e, consequentemente, não há como o juiz determinar que a parcela dos honorários advocatícios seja paga diretamente, “por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte”, ao patrono. Ademais, admitir o contrário faria com que a

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relação jurídica firmada entre o cliente e o respectivo advogado – mediante contrato de honorários, com cláusulas negociadas estritamente entre eles – se estendesse ao terceiro, o qual sequer pode vir a ter conhecimento do avençado. Com efeito, se o pagamento dos honorários advocatícios contratuais for reconhecido como ato autônomo em relação ao depósito do montante principal – ao ponto de ser viável executá-los sem a existência deste –, o perdedor da lide se tornará diretamente obrigado a arcar com dívida, a qual não lhe foi legalmente imposta nem foi pactuada, porquanto a obrigação da parte mal sucedida na demanda é pagar o que foi reconhecido pelo Judiciário como devido à outra parte, o que inclui os honorários sucumbenciais (mas não os contratuais), cuja “dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte”, repita-se, é incumbência do juiz. Desse modo, a juntada aos autos do contrato de honorários advocatícios não faz com que o montante nele previsto se torne parcela autônoma em relação à quantia a ser recebida pela parte patrocinada. REsp 1.330.611-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 7/10/2014.

DIREITO CIVIL. REGIME DE PENALIDADES GRADATIVAS NO CONTRATO DE CONCESSÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Nos contratos regidos pela Lei Ferrari (Lei 6.729/1979), ainda que não tenha sido celebrada convenção de marca dispondo sobre penalidades gradativas (art. 19, XV), é inválida cláusula que prevê a resolução unilateral do contrato como única penalidade para as infrações praticadas pela concessionária de veículos automotores. Isso porque o art. 19, XV – que prevê o regime de penalidades gradativas – e o art. 22, § 1º – que condiciona a resolução do contrato por iniciativa da parte inocente à prévia aplicação de penalidades gradativas – não contêm nenhuma ressalva quando ao momento em que produzirão efeitos, devendo-se concluir, com base no art. 6º da LINDB, que a eficácia é imediata. Entender que o § 1º do art. 22 seria inaplicável devido à inexistência da convenção da marca sobre as penalidades gradativas, prevista no art. 19, frustraria um dos principais objetivos da lei, que é impedir a resolução arbitrária do contrato. De fato, o art. 19, ao estabelecer que "celebrar-se-ão convenções da marca" para "estabelecer [...] o regime de penalidades gradativas", não excluiu a possibilidade de as partes pactuarem sobre essa matéria, enquanto não celebrada a convenção. Com efeito, ao prever uma convenção da marca sobre o regime de penalidades gradativas, esse dispositivo buscou garantir um tratamento uniforme das sanções contratuais a serem aplicadas a todas as concessionárias de uma mesma fabricante – e não suprimir a liberdade contratual. Noutro passo, como já exposto, o art. 22, § 1º, da Lei Ferrari condiciona a resolução do contrato por culpa à aplicação de penalidades gradativas. Ora, se o art. 19 não proíbe a pactuação de penalidades gradativas, o art. 22 praticamente exige que tais penalidades sejam pactuadas, pois elas passaram a ser etapa necessária para a resolução do contrato por culpa. O art. 22, § 1º, portanto, ao invés de ser "letra morta", é um mandamento direcionado aos fabricantes, no sentido de que incluam em seus contratos uma gradação de penalidades, uma vez que não mais se admite a resolução arbitrária do contrato. REsp 1.338.292-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/9/2014.

DIREITO CIVIL. VALORAÇÃO JUDICIAL DA GRAVIDADE DA INFRAÇÃO NO CONTRATO DE CONCESSÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Nos contratos regidos pela Lei Ferrari (Lei 6.729/1979), não havendo convenção de marca (art. 19, XV) nem cláusulas contratuais válidas sobre penalidades gradativas, poderá o juiz decidir, em cada caso concreto, se a infração, ou sequência de infrações, é grave o suficiente para justificar a resolução do contrato, observado o caráter protetivo da referida Lei. O art. 19, XV, da Lei 6.729/1979 dispõe que se celebrarão convenções da marca para estabelecer normas e procedimentos relativos a regime de penalidades gradativas. O § 1º do artigo 22, por sua vez, condiciona a resolução do contrato por iniciativa da parte inocente à prévia aplicação de penalidades gradativas. Posto isso, esclarece-se que quando não há convenção da marca, nem cláusulas contratuais válidas sobre as penalidades gradativas, tem-se uma lacuna normativa. Havendo lacuna, cabe ao juiz supri-la, por força do art. 4º da LINDB. De fato, o juiz não pode substituir a vontade das partes e estabelecer as penalidades contratuais cabíveis. Porém, considerando que o objetivo das penalidades gradativas é impedir a resolução

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arbitrária do contrato, pode o juiz atender a esse objetivo da lei, decidindo, em cada caso concreto, se a infração, ou sequência de infrações, é grave o suficiente para justificar a resolução do contrato, observado o caráter protetivo da Lei Ferrari. REsp 1.338.292-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/9/2014.