Índice - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · recurso extraordinÁrio não cabimento de...

12
Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Processo excluído deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: Rcl 18165 AgR/RR. ÍNDICE DIREITO PROCESSUAL CIVIL RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator. AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACP proposta contra Prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ. DIREITO PENAL PRESCRIÇÃO Não se admite a denominada prescrição em perspectiva. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS Delito do inciso I do DL 201/67 DIREITO PROCESSUAL CIVIL RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática proferida pelo relator, haja vista não esgotada a prestação jurisdicional pelo tribunal de origem. Aplica-se, no caso, o enunciado 281 do STF: Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada. STF. 2ª Turma. ARE 868922/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788). Imagine a seguinte situação: O juiz do Juizado Especial proferiu uma sentença. Contra as sentenças do juiz no rito do juizado especial cabe recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/95), que é julgado pela Turma Recursal (colegiado composto por três juízes). Em nosso exemplo, a parte sucumbente interpôs recurso inominado, mas a Turma Recursal julgou improvido o recurso, mantendo a sentença. Contra o acórdão da Turma, a parte opôs embargos de declaração, mas o Relator do processo não conheceu dos embargos por meio de decisão monocrática, ou seja, ele sozinho decidiu que não era caso de embargos (não levou os embargos para serem julgados pela Turma). Contra a decisão monocrática do relator, a parte interpôs recurso extraordinário.

Upload: tranxuyen

Post on 08-Feb-2019

240 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Processo excluído deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: Rcl 18165 AgR/RR.

ÍNDICE DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator. AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACP proposta contra Prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ.

DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO Não se admite a denominada prescrição em perspectiva. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS Delito do inciso I do DL 201/67

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator

O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática proferida pelo relator, haja vista não esgotada a prestação jurisdicional pelo tribunal de origem. Aplica-se, no caso, o enunciado 281 do STF:

Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

STF. 2ª Turma. ARE 868922/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Imagine a seguinte situação: O juiz do Juizado Especial proferiu uma sentença.

Contra as sentenças do juiz no rito do juizado especial cabe recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/95), que é julgado pela Turma Recursal (colegiado composto por três juízes). Em nosso exemplo, a parte sucumbente interpôs recurso inominado, mas a Turma Recursal julgou improvido o recurso, mantendo a sentença. Contra o acórdão da Turma, a parte opôs embargos de declaração, mas o Relator do processo não conheceu dos embargos por meio de decisão monocrática, ou seja, ele sozinho decidiu que não era caso de embargos (não levou os embargos para serem julgados pela Turma). Contra a decisão monocrática do relator, a parte interpôs recurso extraordinário.

Page 2: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2

Cabe recurso extraordinário contra acórdão da Turma Recursal? SIM. Súmula 640-STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal. Em nosso exemplo, cabia recurso extraordinário? NÃO. Isso porque a decisão que não conheceu dos embargos de declaração foi monocrática, ou seja, praticada apenas pelo relator. Não foi um acórdão da Turma Recursal. O que a parte prejudicada deveria ter feito? A parte deveria ter interposto agravo regimental (agravo interno) contra a decisão monocrática do Relator. Este agravo seria julgado pelo colegiado (Turma Recursal). Se a Turma mantivesse a decisão monocrática, aí sim, caberia recurso extraordinário. Como a parte não fez isso, o recurso extraordinário interposto não pode ser conhecido. O STF aplicou ao caso o entendimento exposto no enunciado 281, que tem a seguinte redação:

Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACP proposta contra Prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ

É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura (STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010).

O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso, legítima a ACP proposta contra tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.

STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Lei Orgânica do MP/MS

A Lei Complementar estadual n. 72/94 (Lei Orgânica do MP/MS) prevê que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura.

Essa previsão é constitucional? SIM. O STF decidiu que essa previsão é compatível com a CF/88, não havendo nenhuma inconstitucionalidade. Confira a ementa:

(...) 1. Competência exclusiva do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para propor a ação civil pública contra autoridades estaduais específicas. 2. A legitimação para propositura da ação civil pública --- nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil --- é do Ministério Público, instituição una e indivisível. 3. O disposto no artigo 30, inciso X, da LC 72/94, estabelece quem, entre os integrantes daquela instituição, conduzirá o inquérito civil e a ação civil pública quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por determinadas autoridades estaduais. 4. A Lei Complementar objeto desta ação não configura usurpação da competência legislativa da União ao definir as atribuições do Procurador-Geral. Não se trata de matéria processual. A questão é atinente às atribuições do Ministério Público local, o que, na forma do artigo 128, § 5º, da CB/88, é da competência dos Estados-membros.

Page 3: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3

5. A Lei Complementar n. 72, do Estado de Mato Grosso do Sul, não extrapolou os limites de sua competência. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. Cassada a liminar anteriormente concedida. STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: Houve notícia de que Prefeito de uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul estava praticando ilegalidades na aplicação das verbas destinadas à saúde da população local. Diante disso, o Procurador-Geral de Justiça do Estado do MS editou uma portaria delegando poderes para que o Promotor de Justiça que atuava na comarca instaurasse inquérito civil e ajuizasse ação civil pública em relação a esses fatos. Alguns meses depois, o Promotor de Justiça manejou ACP contra o Prefeito e este, em sua defesa, alegou que estava sendo processado por autoridade incompetente e que a ação seria ilegal porque violaria a legitimidade prevista na LC estadual 72/94. A tese da defesa deverá ser acolhida? NÃO. O STF decidiu que a ação seria legal porque é permitido que o Procurador-Geral de Justiça faça delegação de atribuições a outros membros da instituição, dentre elas a de propor ACP. Vale ressaltar que existe regra expressa na Lei Orgânica do Ministério Público estadual a permitir essa delegação de poderes utilizada como fundamento para a edição de portaria voltada para esse fim.

DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO Não se admite a denominada prescrição em perspectiva

A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto.

Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei.

A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada” ou “antecipada”.

O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a) em virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade.

O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).

STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

O que é a chamada prescrição virtual? Ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto. Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei.

Page 4: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4

Exemplo: João foi denunciado por furto simples, tendo a denúncia sido recebida em 2010 (marco interruptivo da prescrição). A pena para o furto simples vai de 1 a 4 anos (art. 155 do CP). O juiz novo chega na vara em 2015 e verifica que até agora o processo de João praticamente não evoluiu. Nem se marcou ainda a audiência de instrução. Diante disso, ele pensa:

Se João for condenado a 1 ano, a prescrição pela pena em concreto será em 4 anos (art. 109, V do CP). Já se passaram mais de 3 anos desde o último dia da interrupção da prescrição. Isso significa que a instrução e a sentença condenatória “não servirão para nada” já que, mesmo condenado, o crime estará prescrito.

Se João for condenado a 2 anos, será a mesma situação acima porque a prescrição pela pena em concreto será em 4 anos (art. 109, V do CP) e já se passaram mais de 5 anos desde o recebimento da denúncia.

Logo, para que o crime não esteja prescrito, é necessário que a pena imposta a João seja superior a 2 anos, porque aí a prescrição subiria para 8 anos (art. 109, IV, do CP).

Ocorre que, na visão do juiz, não existem circunstâncias judiciais nem agravantes nem causas de aumento. Logo, não há motivos para que a pena de João (se ele for condenado) saia do mínimo legal (1 ano). Mesmo que seja maior que o mínimo, não existem razões para que ela supere 2 anos.

Depois de fazer todo esse prognóstico, o juiz conclui que é inútil marcar instrução, expedir mandados de intimação, gastar recursos com oficial de justiça, ouvir testemunhas e o réu, sabendo (ou tendo praticamente certeza) que, mesmo se condenado, o réu não irá cumprir pena. Diante disso, ele profere uma sentença julgando extinta a punibilidade com base na “prescrição virtual” afirmando que não existe interesse de agir do Estado, já que o processo penal não terá utilidade. Sinônimos A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada” ou “antecipada”. A prescrição virtual possui previsão na lei? NÃO. Apesar de ser comum na prática, a prescrição virtual não tem previsão na lei, sendo considerada uma “criação” dos juízes e Tribunais. A prescrição virtual é admitida pelo STF e pelo STJ? NÃO. O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais:

em virtude da ausência de previsão legal;

porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade. O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática:

Súmula 438-STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

Page 5: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS Delito do inciso I do DL 201/67

O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser praticado por prefeito, admitida, porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP.

Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à aquisição de uma ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.

STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

DECRETO-LEI 201/67 O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista de crimes cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções. O DL 201/67 traz também regras de processo penal que deverão ser aplicadas quando ocorrerem os crimes ali previstos. Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF). CRIME DO INCISO I Como dito, o art. 1º do DL 201/67 elenca diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos. Vamos estudar o inciso I:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio; (...) § 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.

O que são crimes de responsabilidade? Tecnicamente falando, crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas que ocupam determinados cargos públicos. Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou multa), mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública). O art. 1º prevê realmente crimes de responsabilidade? NÃO. O art. 1º afirma que os delitos nele elencados são “crimes de responsabilidade”. Apesar de ser utilizada essa nomenclatura, a doutrina e a jurisprudência “corrigem” o legislador e afirmam que, na verdade, esses delitos são crimes comuns, ou seja, infrações penais iguais àquelas tipificadas no Código Penal e em outras leis penais. Desse modo, o que o art. 1º traz são crimes funcionais cometidos por Prefeitos. Vale ressaltar que os crimes de responsabilidade (em sentido estrito) dos Prefeitos estão previstos no art. 4º do DL 201/67. É nesse dispositivo que estão definidas as infrações político-administrativas dos alcaides. Nesse sentido: STF. Plenário. HC 70671, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 13/04/1994.

Page 6: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6

Os crimes funcionais dos Prefeitos estão previstos exclusivamente no art. 1º do DL 201/67? NÃO. Os Prefeitos poderão responder também pelos crimes funcionais previstos no Código Penal, na Lei

de Licitações (Lei n. 8.666/93) e em outras leis penais, desde que tais condutas não estejam descritas no art. 1º DL 201/67. Os crimes tipificados nas demais leis somente incidirão para os Prefeitos se não estiverem previstos no DL 201/67, que é norma específica. Bem jurídico protegido: o patrimônio da Administração Pública e a moralidade administrativa. Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a depender do caso concreto, poderá também ser vítima do crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se apropria ou desvia de bens ou rendas públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia recursos de um convênio federal). Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça Estadual. Se o sujeito passivo for a União, a competência será da Justiça Federal. Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de Vereadores). Se o sujeito comete o crime do art. 1º do DL 201/67, mas termina seu mandato sem que ele seja denunciado, é possível que ele responda pelo delito mesmo não sendo mais Prefeito? Claro que sim. Existem dois enunciados afirmando isso:

Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67. Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.

É possível a coautoria e a participação? SIM. O crime do art. 1º, é próprio, somente podendo ser praticado por Prefeito, mas é possível que ocorram as figuras da coautoria e da participação, nos termos do art. 29 do CP. Em outras palavras, além do Prefeito, outras pessoas podem responder pelo delito como coautores ou partícipes. Em que consiste o delito do inciso I: Ocorre quando o Prefeito... - se apropria (fica para si, como se fosse dono) - ou desvia (dá para a coisa um destino diferente daquilo que era o correto) - bens públicos - ou rendas públicas - em proveito próprio ou de outra pessoa. Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à aquisição de uma ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67. STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Page 7: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7

Peculato: a doutrina afirma que esse crime é uma forma específica de peculato (art. 312 do CP), ou seja, é como se fosse um crime de peculato mas cometido por Prefeito. Prefeito que desvia bens ou rendas públicas em proveito da própria Administração: não comete o delito do inciso I uma vez que este tipo penal exige que haja desvio em proveito próprio (pessoal do Prefeito) ou proveito alheio (de terceira pessoa). No entanto, ele poderá responder pelo inciso III. Tipo subjetivo: o crime do art. 1º só é punido a título de dolo. Não existe forma culposa. Consumação: trata-se de crime material. No caso de apropriação, consuma-se quando o agente passa a agir como se fosse dono. Na modalidade desvio, consuma-se quando o Prefeito dá uma destinação para a coisa diversa daquela que estava legalmente prevista.

OUTRAS INFORMAÇÕES

C L I P P I N G D O D JE 1º a 5 de junho de 2015

EMB. DECL. NA REPERCUSSÃO GERAL NO ARE N. 721.001-RJ

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

EMENTA: Embargos de declaração em repercussão geral em recurso extraordinário com agravo. 2. Configuração de erro material. 3. Embargos de

declaração acolhidos com efeito modificativo para tão somente permitir o processamento do recurso extraordinário.

*noticiado no Informativo 756

AG. REG. NO HC N. 126.879-SP

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. SÚMULA 691/STF. TRÁFICO DE DROGAS. ARTIGO 33, CAPUT, DA

LEI 11.343/2006. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. DECISÃO FUNDAMENTADA. 1. Não se conhece de habeas corpus impetrado contra indeferimento de liminar por Relator em habeas corpus requerido a Tribunal Superior. Súmula

691. Óbice superável apenas em hipótese de teratologia. 2. Se as circunstâncias concretas da prática do crime indicam a periculosidade do agente ou risco de reiteração delitiva, está justificada a decretação

ou a manutenção da prisão cautelar para resguardar a ordem pública, desde que igualmente presentes boas provas da materialidade e da autoria. Precedentes.

3. Consoante jurisprudência desta Suprema Corte, “considerando que o réu permaneceu preso durante toda a instrução criminal, não se afigura

plausível, ao contrário, se revela um contrassenso jurídico, sobrevindo sua condenação, colocá-lo em liberdade para aguardar o julgamento do apelo” (HC 110.518/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, DJe de 20.3.2012).

4. Agravo regimental conhecido e não provido.

AG. REG. EM MS N. 29.583-DF

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO SEM CONCURSO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. ART. 236, E

PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI

9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999. PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde a sua

vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última hipótese, o disposto no art. 16 da

referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que admitem o ingresso na atividade notarial e de

registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.

2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é

essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem. 3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei

9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das

exigências prescritas no seu art. 236. 4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,

com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário

de 19/6/2013. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.

MS N. 28.932-DF

Page 8: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. VOTO DIVULGADO DIFERENTE DO VOTO LIDO EM

SESSÃO. FORMAÇÃO DA LISTA DE ANTIGUIDADE DA MAGISTRATURA PAULISTA. ALTERAÇÃO DE CRITÉRIOS. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. DISTRIBUIÇÃO POR PREVENÇÃO. DESCABIMENTO: PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA (§ 1º DO ART. 69 DO

REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL). FALTA DE PEÇA ESSENCIAL PARA A COMPROVAÇÃO DO ALEGADO.

PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. IMPOSSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. PRECEDENTES. POSSIBILIDADE DE O ÓRGÃO JURISDICIONAL COMPETENTE ALTERAR DE OFÍCIO O RESULTADO DE JULGAMENTO NÃO PUBLICADO. PRECEDENTES. MANDADO

DE SEGURANÇA DENEGADO.

AG. REG. NA ACO N. 1.609-PI

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO.

APLICAÇÃO DE PERCENTUAIS MÍNIMOS EM AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE. NECESSIDADE DE ANÁLISE CASUÍSTICA.

PEDIDO FORMULADO GENERICAMENTE. PRETENSÃO AUTORAL QUE SE MOSTRA CONCRETAMENTE IRREALIZÁVEL.

PEDIDO QUE, NO SISTEMA PROCESSUAL VIGENTE, DEVE SER FORMULADO DE FORMA CERTA OU DETERMINADA. ART.

286 DO CPC. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. No sistema processual vigente, nos termos do art. 286 do CPC, o pedido deve ser formulado de forma certa ou determinada, não se admitindo sua formulação em termos genéricos, salvo as exceções expressamente previstas (nenhuma delas aplicável ao presente caso).

2. In casu, o pedido de mérito foi assim formulado pelo autor: “O Estado do Piauí, à vista dessas conclusões, requer deste C. Tribunal: […] b) O

julgamento final de procedência da ação, que, confirmando a decisão liminar proferida nos autos da ação cautelar 2.648, determine em definitivo a exclusão do autor do CAUC ou de quaisquer outros cadastros restritivos administrados pela União Federal com fundamento em divergências de

metodologia na apuração de percentual mínimo de investimento em ações e serviços públicos de saúde (art. 77, II, ADCT) ou, em qualquer hipótese,

sem a notificação prévia do requerente para o oferecimento de defesa em prazo hábil”. 3. Tal pedido, formulado em caráter genérico, torna irrealizável a pretensão autoral no plano concreto.

4. Agravo regimental a que se nega provimento

AG. REG. NA Rcl N. 20.034-RS

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO QUE DECIDIDO NA ADI 4.357.

INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE DE TEMAS ENTRE O ATO RECLAMADO E O PARADIGMA DESTA SUPREMA

CORTE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A ausência de identidade de temas entre o ato reclamado e o paradigma desta Corte conduz à inadmissão da reclamação.

2. In casu: a) O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs 4.357 e 4.425, assentou que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada

pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios de créditos inscritos em precatórios, viola o direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII), bem como o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput, da CF),

razão pela qual se revela inconstitucional por arrastamento; b) Neste feito, o reclamante se insurge contra decisão que deixou de aplicar o disposto no art.

1º-F da Lei nº 9.494/97, com fundamento na Orientação Jurisprudencial 382 da SBDI-1 do TST. Não há identidade ou similitude entre o ato impugnado e a decisão tida por desrespeitada.

3. A reclamação é inadmissível quando utilizada como sucedâneo de ação rescisória ou de recurso. 4. Agravo regimental desprovido.

SEGUNDO AG. REG. EM MS N. 33.399-DF

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. TCU. EXCLUSÃO DE VANTAGEM RECONHECIDA POR DECISÃO JUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. PERDA DE EFICÁCIA DA SENTENÇA.

1. Afastamento da decadência do direito de o TCU rever o ato concessivo da aposentadoria, conforme jurisprudência deste Tribunal.

2. A Corte de Contas não desconsiderou a existência de decisão judicial com trânsito em julgado, mas apenas determinou que a parcela ali reconhecida fosse paga na forma de vantagem pessoal nominalmente identificada VPNI, a ser absorvida por reajustes e reestruturações posteriormente

concedidos aos servidores públicos.

3. O Pleno da Corte, em repercussão geral, decidiu que “a sentença que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a determinado percentual de acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do referido percentual nos seus ganhos” (RE

596.663, Rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki).

4. Cessação de efeitos que se opera, em regra, automática e imediatamente com a alteração das premissas fáticas em que se baseou a sentença, sem a necessidade de ação rescisória ou revisional.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.

AG. REG. NO RE N. 679.128-MT

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Processual Civil e do Trabalho. 3. Direito de greve. Descontos dos dias paralisados.

Competência. Precedentes: MI 670/DF e MI 708/DF. O Tribunal de origem decidiu a questão com base no acervo fático-probatório. Incidência do

Enunciado 279 da Súmula do STF. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

HC N. 127.045-CE

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE:

PRECEDENTES. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO PARA O JULGAMENTO DE APELAÇÃO DA DEFESA. INEXISTÊNCIA DE DESÍDIA NA TRAMITAÇÃO DO FEITO. ORDEM DENEGADA.

1. Consideradas as circunstâncias do ato praticado e pelos fundamentos apresentados pelo juízo de origem, mantidos nas instâncias antecedentes, a

constrição da liberdade do Paciente harmoniza-se com a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de a periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi e pelo risco de reiteração delitiva, ser motivo idôneo para a custódia cautelar. Precedentes.

2. Inexistência de excesso de prazo para julgamento de recurso de apelação.

3. Ordem denegada.

Acórdãos Publicados: 394

Page 9: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais

aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham

despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

CNJ - Interferência em Ato Jurisdicional – Impossibilidade (Transcrições)

MS 33.570-MC/DF*

RELATOR: Min. Celso de Mello

EMENTA: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). CORREGEDORA NACIONAL DE JUSTIÇA. ATO QUE SUSPENDE A

EFICÁCIA DE DECISÃO MONOCRÁTICA PROFERIDA NOS AUTOS DE AÇÃO CAUTELAR. INADMISSIBILIDADE. ATUAÇÃO

“ULTRA VIRES” DA SENHORA CORREGEDORA NACIONAL DE JUSTIÇA, PORQUE EXCEDENTE DOS ESTRITOS LIMITES QUE

CONFORMAM O EXERCÍCIO DAS ATRIBUIÇÕES MERAMENTE ADMINISTRATIVAS OUTORGADAS PELA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA AO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA E AOS ÓRGÃOS E AGENTES QUE O INTEGRAM. INCOMPETÊNCIA

ABSOLUTA DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, NÃO OBSTANTE ÓRGÃO CONSTITUCIONAL DE CONTROLE INTERNO

DO PODER JUDICIÁRIO, PARA INTERVIR EM PROCESSOS E EM DECISÕES DE NATUREZA JURISDICIONAL.

IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR, REEXAMINAR E SUSPENDER OS EFEITOS DECORRENTES DE

ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA.

MEDIDA LIMINAR DEFERIDA.

DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra ato da eminente Senhora Corregedora Nacional de Justiça, que suspendeu decisão liminar proferida, por ilustre Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, em favor da ora

impetrante, em julgamento assim fundamentado:

“Neste diapasão, é válido ressaltar o caráter incontroverso de que se reveste o valor consignado, visto que, a própria requerida

consignante, na Cautelar Inominada nº 166.14312014 reconheceu e requereu, para que fosse declarado suficiente o depósito efetuado, para

quitação da divida para com a ora empresa requerente.

A especial natureza da ação consignatória evidencia a confissão de divida pela empresa consignante em favor da empresa

consignada. Contrariamente ao depósito, na consignação em pagamento, o autor admite a dívida e requer o depósito do valor que entende devido, ante a recusa do credor. Isso significa dizer, que os valores consignados não mais pertencem à parte requerida consignante, uma vez

que voluntariamente deposita-os em conta judicial em favor da parte credora consignada.

Desse modo, a meu ver e sentir, presentes os requisitos necessários para o atendimento do pleito realizado, ante a constatação da coexistência dos requisitos da fumaça do bom direito e do perigo da demora que, a um só tempo, revelam a viabilidade do processo cautelar

e a plausibilidade do direito. Por fim, ressalto que o valor da causa é requisito da petição inicial, exatamente pelo seu caráter essencial para fixação do

procedimento a ser adotado, assim como para o ideal de justiça firmado no princípio da duração razoável do processo como corolário do

devido processo legal, podendo ser alterado de ofício pelo magistrado, face a sua natureza cogente de ordem pública. …...................................................................................................

(...) o valor da causa na ação cautelar deve ser compatível com o aquele discutido na ação principal, embora não seja obrigado o

valor da causa cautelar ser igual ao da causa principal, não há de se aceitar, porém, que se estabeleça uma distância de grandes proporções entre as mesmas, por simples vontade do autor. (Pet 774/ MG, Relator Ministro JOSÉ DELGADO, julgado em 17/06/1997, DJ 01/09/1997 p.

40744, RSTJ vol. 99 p. 68).

Dessa feita, não se mostra razoável fixar o valor da causa em R$ 1.000,00 (um mil reais) quando o objeto da ação de consignação supera em muito tal valor.

Pelo exposto, com arrimo no artigo 798 CPC, defiro liminarmente o pedido de levantamento da quantia referenciada às fls. 25, que

se encontra depositada em juízo, desde que a parte requerente retifique o valor dado a causa, recolhendo/complementando as custas,

registrando como o correto, a quantia correspondente a 50% (cinquenta por cento) do valor que pretende auferir.” (grifei)

Sustenta-se, na presente sede mandamental, em síntese, o que se segue:

“Encontra-se pacificado pelo PLENÁRIO DO CNJ o entendimento da impossibilidade de conhecimento pelo Conselho Nacional de

Justiça de questões judicializadas (...):

…................................................................................................... No caso, a questão objeto do vertente Pedido de Providências está judicializada nas Medidas Cautelares nº 3365/2015 e 166143/2014,

incidentais ao Recurso de Apelação nº 8809/2015, interposto da sentença proferida na Ação de Consignação em Pagamento nº 291/2012

(…): …...................................................................................................

Ademais, encontra-se judicializada no Recurso de Apelação nº 8809/2015, interposto da sentença proferida na Ação de Consignação

em Pagamento nº 291/2012, como também no Mandado de Segurança nº 6602/2015 impetrado pela ** da decisão liminar concessiva da

liberação do valor consignado ao credor, todas em trâmite pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso e pendentes de julgamento.

(...)

É dentro desse contexto que houve a intervenção do CNJ, com a devida licença, equivocada, atuando como alçada substitutiva dos recursos legalmente previstos para a cassação da liminar deferida pelo Desembargador **, o que não obteve a Reclamante no Mandado de

Segurança impetrado e em nenhum outro pleito utilizado na questão judicializada. Por conseguinte, a liminar concedida pelo CNJ culminou

por substituir o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, como também a dos tribunais superiores, em sua legítima função

constitucional.

Page 10: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10

…...................................................................................................

A atuação do Conselho Nacional de Justiça extrapolando suas funções regulares culmina por ofender ao PRINCÍPIO DO JUIZ

NATURAL na medida em que atravessa o pleno exercício da função jurisdicional dos membros e órgãos do Poder Judiciário constituídos para tanto, gerando insegurança jurídica com decisões conflitantes, como a questionada no vertente mandado de segurança. (…):” (grifei)

Registro, por relevante, que a eminente Senhora Corregedora Nacional de Justiça prestou as informações que lhe foram requisitadas.

Sendo esse o contexto, passo a examinar a postulação cautelar ora deduzida na presente sede mandamental. E, ao fazê-lo, entendo, em juízo

de estrita delibação, acharem-se presentes os requisitos autorizadores da concessão do provimento cautelar ora postulado. É que, como se sabe, a EC nº 45/2004, ao introduzir, no texto da Constituição, o art. 103-B, § 4º, definiu, de modo rígido, a competência

do Conselho Nacional de Justiça, nela incluindo, em seu inciso II, o poder de “apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos

administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário” (grifei). Não se desconhece que o Conselho Nacional de Justiça – embora incluído na estrutura constitucional do Poder Judiciário – qualifica-se

como órgão de caráter eminentemente administrativo, não dispondo de atribuições institucionais que lhe permitam interferir na atividade

jurisdicional dos magistrados e Tribunais. Esse entendimento – que põe em destaque o perfil estritamente administrativo do Conselho Nacional de Justiça e que não lhe reconhece

competência constitucional para intervir, legitimamente, em matéria de índole jurisdicional (SERGIO BERMUDES, “A Reforma do Judiciário pela

Emenda Constitucional nº 45”, p. 19/20, item n. 2, 2005, Forense) – foi bem sintetizado na lição de NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (“Constituição Federal Comentada e Legislação Constitucional”, p. 302, item n. 2, 2006, RT):

“Conselho Nacional de Justiça. Natureza jurídica. O CNJ é órgão do Poder Judiciário (...), mas ‘sem jurisdição’, vale dizer, é órgão

judicial mas não jurisdicional. Órgão administrativo de controle externo do Poder Judiciário e da atividade da Magistratura (...), o CNJ não

tem função jurisdicional, cabendo-lhe fiscalizar a gestão financeira e administrativa do Poder Judiciário e o cumprimento do dever funcional dos juízes (...). Ao CNJ não cabe controlar a ‘função jurisdicional’ do Poder Judiciário e de seus membros, razão por que não

pode rever nem modificar decisão judicial, isto é, não tem competência recursal (...).” (grifei)

Essa orientação doutrinária, por sua vez, fundada no magistério de autores eminentes (UADI LAMMÊGO BULOS, “Curso de Direito

Constitucional”, p. 1.089/1.094, item n. 6.8.1, 2007, Saraiva; NAGIB SLAIBI FILHO, “Reforma da Justiça”, p. 283/284, item n. 3, 2005, Impetus; ERIK FREDERICO GRAMSTRUP, “Conselho Nacional de Justiça e Controle Externo”, “in” “Reforma do Judiciário: primeiros ensaios

críticos sobre a EC n. 45/2004”, coordenação de TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER, LUIZ RODRIGUES WAMBIER, LUIZ MANOEL

GOMES JR., OCTAVIO CAMPOS FISCHER e WILLIAM SANTOS FERREIRA, p. 193/194, item n. 4, 2005, RT; SYLVIO MOTTA e GUSTAVO BARCHET, “Curso de Direito Constitucional”, p. 733, item n. 6.2, 2007, Elsevier; WALBER DE MOURA AGRA, “Curso de Direito

Constitucional”, p. 471/474, item n. 26.18, 2007, Forense), tem o beneplácito da jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou a

propósito da matéria ora em exame (MS 28.174-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – MS 28.611-AgR-MC/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO – MS 28.939-AgR/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, v.g.):

“I. Mandado de segurança contra ato do Conselho Nacional de Justiça: arquivamento de petição que pretendia a anulação de decisão

judicial, por alegado vício processual atribuído aos Ministros do Superior Tribunal de Justiça: indeferimento.

1. Ainda que disponha o art. 103-B, § 6º, da Constituição Federal que ‘junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil’, a ausência destes às sessões do Conselho não importa em nulidade das

mesmas. 2. A dispensa da lavratura do acórdão (RICNJ, art. 103, § 3º), quando mantido o pronunciamento do relator da decisão recorrida

pelo Plenário, não traduz ausência de fundamentação:

II. Conselho Nacional de Justiça: competência restrita ao controle de atuação administrativa e financeira dos órgãos do Poder Judiciário a ele sujeitos.”

(MS 25.879-AgR/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei)

“MANDADO DE SEGURANÇA – MEDIDA LIMINAR DEFERIDA – ATO DO CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA QUE

SUSPENDE A EFICÁCIA DE DECISÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA CONCESSIVA DE MANDADO DE SEGURANÇA – INADMISSIBILIDADE – ATUAÇÃO ‘ULTRA VIRES’ DO CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA, PORQUE EXCEDENTE DOS

ESTRITOS LIMITES DAS ATRIBUIÇÕES MERAMENTE ADMINISTRATIVAS POR ELE TITULARIZADAS – INCOMPETÊNCIA

ABSOLUTA DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, NÃO OBSTANTE ÓRGÃO DE CONTROLE INTERNO DO PODER JUDICIÁRIO, PARA INTERVIR EM PROCESSOS DE NATUREZA JURISDICIONAL – IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO

NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR,

REEXAMINAR E SUSPENDER OS EFEITOS DECORRENTES DE ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL, COMO AQUELE QUE

CONCEDE MANDADO DE SEGURANÇA – PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – MAGISTÉRIO DA

DOUTRINA – RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

– O Conselho Nacional de Justiça, embora integrando a estrutura constitucional do Poder Judiciário como órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura – excluídos, no entanto, do alcance de referida competência, o próprio Supremo

Tribunal Federal e seus Ministros (ADI 3.367/DF) –, qualifica-se como instituição de caráter eminentemente administrativo, não dispondo de

atribuições funcionais que lhe permitam, quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus Conselheiros ou, ainda, do Corregedor Nacional de Justiça, fiscalizar, reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo jurisdicional emanados de

magistrados e Tribunais em geral, razão pela qual mostra-se arbitrária e destituída de legitimidade jurídico-constitucional a deliberação do

Corregedor Nacional de Justiça que, agindo “ultra vires”, paralise a eficácia de decisão que tenha concedido mandado de segurança. Doutrina. Precedentes (MS 28.611-MC-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, v.g.).”

(MS 28.598-MC-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

Vale registrar, por relevante, que essa mesma percepção em torno da matéria – no sentido de que a competência constitucional do Conselho

Nacional de Justiça não compreende nem autoriza a revisão de atos jurisdicionais – foi igualmente revelada, por esta Suprema Corte, quando do julgamento da ADI 3.367/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO, como o evidencia o acórdão plenário que, no ponto ora em análise, está assim

ementado:

“(...) 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Emenda Constitucional nº 45/2004. Poder Judiciário. Conselho Nacional de

Justiça. Instituição e disciplina. Natureza meramente administrativa. Órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da

magistratura. Constitucionalidade reconhecida. Separação e independência dos Poderes. História, significado e alcance concreto do

princípio. Ofensa a cláusula constitucional imutável (cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio, mediante

preservação da função jurisdicional, típica do Judiciário, e das condições materiais do seu exercício imparcial e independente. Precedentes e súmula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretação dos arts. 2º e 60, § 4º, III, da CF. Ação julgada improcedente. Votos vencidos. São

Page 11: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11

constitucionais as normas que, introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, instituem e disciplinam o

Conselho Nacional de Justiça, como órgão administrativo do Poder Judiciário nacional.

....................................................................................................... 4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de controle

da atividade administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa apenas aos órgãos e juízes situados,

hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdicional. Inteligência dos arts. 102, ‘caput’, inc. I, letra ‘r’, e 103-B, § 4º, da CF. (...).”

(RTJ 197/839-840, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei)

Mostra-se importante destacar, ainda, em face da absoluta pertinência que guarda com o caso ora em exame, fragmento do voto que o

eminente Ministro EROS GRAU proferiu no já referido julgamento da ADI 3.367/DF:

“De resto – e este ponto é de fundamental importância – ao Conselho Nacional de Justiça não é atribuída competência nenhuma que

permita a sua interferência na independência funcional do magistrado. Cabe a ele, exclusivamente, o ‘controle da atuação administrativa e

financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes’, nada mais do que isso. Sua presença, como órgão do

Poder Judiciário, no modelo brasileiro de harmonia e equilíbrio entre os poderes, não conformará nem informará – nem mesmo afetará – o

dever-poder de decidir conforme a Constituição e as leis que vincula os membros da magistratura. O controle que exercerá está adstrito ao

plano ‘da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes’. Embora órgão

integrante do Poder Judiciário – razão pela qual desempenha autêntico controle interno – não exerce função jurisdicional.” (grifei)

Assinalo, por oportuno, que também proferi decisões em igual sentido (MS 27.148/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), advertindo que o Conselho Nacional de Justiça – quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus Conselheiros ou da Senhora Corregedora Nacional

de Justiça – não dispõe de competência para intervir em decisões emanadas de magistrados ou de Tribunais, quando impregnadas (como sucede na

espécie) de conteúdo jurisdicional:

“CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). DELIBERAÇÃO NEGATIVA QUE, EMANADA DO CNJ, RECONHECEU A INCOMPETÊNCIA DESSE ÓRGÃO DE CONTROLE INTERNO DO PODER JUDICIÁRIO PARA INTERVIR EM PROCESSOS DE

NATUREZA JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE

QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR E REEXAMINAR ATOS DE

CONTEÚDO JURISDICIONAL. PRECEDENTES DO STF. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. (...).”

(MS 26.580/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Cabe referir, finalmente, trecho de decisão proferida pelo eminente Ministro CEZAR PELUSO, no exercício da Presidência desta Corte, no

período de férias forenses, no MS 28.537-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, em que também se impugnava deliberação do Conselho Nacional de Justiça:

“3. É evidente a inconstitucionalidade de qualquer decisão do CNJ – ou de interpretação que se dê a decisões do CNJ – que tenda a

controlar, modificar ou inibir a eficácia de decisão jurisdicional, como se dá no caso, onde foram tidas ‘como ineficazes as decisões do

Tribunal de Justiça do Maranhão que garantem a permanência nos Cartórios Extrajudiciais de ocupantes que não estão sob o abrigo das hipóteses explicitadas nos artigos 4º (parágrafo único), 5º (§ 2º) e 8º da Resolução nº 80 do Conselho Nacional de Justiça’ (fls. 54).

As decisões do CNJ de modo algum podem interferir no exercício da função jurisdicional. É que as atribuições do CNJ são de natureza puramente administrativa, disciplinar e financeira, donde não lhe competir, em

nenhuma hipótese, apreciar, cassar ou restringir decisão judicial. Esta Corte, aliás, já deixou claro e assentado que, dentro das atribuições

do Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B, § 4º), não cabe ‘nenhuma competência cujo exercício fosse capaz de interferir no desempenho da função típica do Judiciário, a jurisdicional’ (ADI nº 3.367, de minha relatoria, DJ de 17.03.2006).

Daí vem logo a manifesta inconstitucionalidade do disposto no art. 106 do Regimento Interno do CNJ, que preceitua: ‘As decisões

judiciais que contrariarem as decisões do CNJ não produzirão efeitos em relação a estas, salvo se proferidas pelo Supremo Tribunal Federal’.

Uma coisa é dispor dos meios próprios necessários a garantir a exeqüibilidade das suas decisões, tomadas na seara administrativa e

financeira, cuja competência lhe é constitucionalmente cometida. Nesse sentido, estou em que lhe é permitido exigir o cumprimento imediato de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro órgão que não o Supremo Tribunal Federal, porque, aí, está diante de decisão

visceralmente nula, uma vez editada por órgão absolutamente incompetente (art. 102, I, letra ‘r’, da Constituição da República).

Outra, porém, é expedir, no Regimento Interno, norma que traduza pretensão de atribuir competência jurisdicional e recursal ao

CNJ, ou vedação de exame jurisdicional de alegação de lesão ou ameaça de lesão a direito, em afronta direta ao art. 5º, XXXV, da

Constituição da República.

Assim, írrita, mais do que só na aparência, a decisão do CNJ que reconheceu como ineficazes as decisões do TJMA.” (grifei)

Sendo assim, e sem prejuízo de ulterior reapreciação da matéria, defiro o pedido de medida liminar, em ordem a suspender, cautelarmente, até final julgamento da presente ação de mandado de segurança, os efeitos da decisão proferida pela Senhora Corregedora Nacional de Justiça, nos

autos da Reclamação Disciplinar nº 0000311-93.2015.2.00.0000.

Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão à ilustre autoridade apontada como coatora e, ainda, ao E. Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso.

Publique-se.

Brasília, 30 de abril de 2015.

Ministro CELSO DE MELLO

Relator

*decisão publicada no DJe de 7.5.2015 ** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 1º a 5 de junho de 2015

Page 12: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · RECURSO EXTRAORDINÁRIO Não cabimento de decisão monocrática do relator O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12

CONTRATO DE TRABALHO - Trabalhador - Alteração - Revogação

Lei Complementar nº 150, de 1º.6. 2015 – Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico; altera as Leis no

8.212, de 24.7.1991, no 8.213, de 24.7.1991, e no 11.196, de 21.11.2005; revoga o inciso I do art. 3 º da Lei no 8.009, de

29.3.1990, o art. 36 da Lei no 8.213, de 24.7.1991, a Lei no 5.859, de 11.12.1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei no

9.250, de 26.12.1995; e dá outras providências. Publicada no DOU, n. 103, Seção 1, p. 1-4, em 2.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES 1º a 5 de junho de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

Delegação - Competência - Ato - Representação - Cooperação

Portaria nº 103/STF, de 27.5.2015 – Fica delegada ao Secretário-Geral da Presidência competência para a

prática do ato de, representando o STF, firmar Termo de Cooperação Técnica com o Conselho Nacional de Justiça para

produção de relatório estatístico e jurídico oficial, conforme consta do Processo Administrativo STF nº 356.545.

Publicada no DJE, Edição Extra, n. 103, p. 1, em, 1º.6.2015.

Expediente Forense - Atendimento ao público - Ministro - Posse

Portaria nº 110/STF, de 1º.6.2015 – Comunica que, no dia 16.6.2015, o expediente na Secretaria do Tribunal e de

atendimento ao público externo será das 8 às 13 horas. Publicada no DJE/STF, n. 104, p. 360, em 2.6.2015.

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

[email protected]