indenização danos materiais e morais - inicial

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO SETIMO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA –DF. Processo nº 2006.01.1.109268-3 ANA PAULA PEDROSA HOPF, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, por meio de seu advogado infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em atenção ao r.despacho convolar o pedido contido na inicial para propor, a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS em face da empresa SAINT MORITZ - DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS E SERVIÇOS LTDA (CITROËN), inscrita no CNPJ sob o n.º 00.819.488/0002-64, estabelecida no SIA SUL TRECHO 01, LOTES 290/320, Brasília - DF, pelos seguintes fatos e fundamentos: 1

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Page 1: Indenização Danos Materiais e Morais - Inicial

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO SETIMO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA –DF.

Processo nº 2006.01.1.109268-3

ANA PAULA PEDROSA HOPF, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, por meio de seu advogado infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em atenção ao r.despacho convolar o pedido contido na inicial para propor, a presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MATERIAIS E MORAIS

em face da empresa SAINT MORITZ - DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS E SERVIÇOS LTDA (CITROËN), inscrita no CNPJ sob o n.º 00.819.488/0002-64, estabelecida no SIA SUL TRECHO 01, LOTES 290/320, Brasília - DF, pelos seguintes fatos e fundamentos:

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I - DOS FATOS:

1. Em 21 de dezembro de 2005, mediante compra e venda, a REQUERENTE adquiriu da REQUERIDA o Veículo XSARA PICASSO GLX, ano 2001, modelo 2001, de cor Verde, placa JPH 1850.

2. Conforme consta no contrato de aquisição, foi acordado entre as partes que uma vez consumada a compra, a Empresa Ré forneceria a título de “cortesia”: “uma revisão de 90.000 Km no veículo, duas passagens ida e volta para Paris, lavagem de carpetes e bancos, troca de pneus por semi-novos”. Consumada a compra, a Empresa Ré cumpriu com o acordado exceto no que tange a entrega das passagens aéreas.

3. Ressalte-se que um dos fatores que levou a REQUERENTE a adquirir tal veículo nessa agência, era justamente a PROMOÇÃO promovida pela Ré, onde ofertava duas passagens de ida e volta para Paris a todas as pessoas que adquirissem um veículo Xsara Picasso em uma das concessionárias Citroën. Promoção essa veiculada por meio de anúncios em jornais, revistas e televisão.

4. Apesar de ter pago o que lhe foi exigido, ou seja, cumprido assim a sua parte no contrato de compra e venda do veículo, por diversas vezes a REQUERENTE entrou em contato com a empresa REQUERIDA para que esta pudesse adimplir o restante de suas obrigações, ou seja, a emissão da Carta de Crédito necessária para a expedição das passagens que teria direito.

5. Materializando a cobrança, há uma reclamação formal feita na montadora, protocolo de n.º 72441, que continua em aberto até hoje, tendo em vista que a passagem ainda não foi entregue à REQUERENTE.

6. Vale ressaltar que por inúmeras vezes, via contato telefônico, a REQUERENTE solicitou a expedição das passagens com os funcionários da empresa Saint Moritz, e até a presente data não obteve êxito.

7. A passagem a ser concedida, conforme o Regulamento da Promoção, seria emitida pela empresa VARIG, e, na data de aquisição do veículo a emissão das passagens e a sua utilização por aquela empresa não apresentava problemas. Hoje, no entanto, a situação é bem diversa porque a VARIG não opera mais em tais vôos. As protelações por parte da Ré ao cumprimento da prestação que lhe competia, parece intencional, tendo em vista o fim do prazo para a utilização das passagens segundo o regulamento.

 8. Todos os esforços no sentido de receber amigavelmente o referido crédito da REQUERIDA, foram ineficazes, sendo a REQUERENTE compelida a promover a presente ação de indenização nos termos da lei.

II - DO DIREITO:

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9. O fato como acima descrito, constitui-se em propaganda enganosa, conforme a jurisprudência abaixo:

PUBLICIDADE - PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA. A publicidade veiculada integra o contrato que vier a ser celebrado, em face do princípio da transparência que integra o conjunto de direitos do consumidor. Quando a propaganda não informa a existência de restrições deve prevalecer em relação ao contrato que as estabelece. Sentença mantida.(20050110802607ACJ, Relator IRAN DE LIMA, Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 10/05/2006, DJ 25/05/2006 p. 169)

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. VEICULAÇÃO DE PROPAGANDA ENGANOSA. MULTA. 1 - Desnecessária a prova REQUERIDA, o julgamento no estado em que se encontra o processo não leva a cerceamento de defesa. 2 - Empresa que veicula publicidade enganosa se sujeita à multa que, aplicada com observância de procedimento regular e devidamente fundamentada a decisão, deve ser mantida.3 - Apelação não provida.(20040110756738APC, Relator JAIR SOARES, 6ª Turma Cível, julgado em 29/08/2005, DJ 29/09/2005 p. 108)

PASSAGENS AÉREAS OFERECIDAS NA PROMOÇÃO PARA COMPRA DO AUTOMÓVEL - AUTORA INDUZIDA A ERRO PELA PROPAGANDA DIVULGADA - DIREITO À CARTA DE CRÉDITO PARA EMISSÃO DAS PASSAGENS REFERENTES AO TRECHO BRASÍLIA/SÃO PAULO/BRASÍLIA - SENTENÇA REFORMADA NESTA PARTE - RECURSO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO. I - Impõe-se o provimento parcial à apelação interposta pela autora, restando parcialmente reformada a r. sentença singular, tão-somente para condenar a ré à entrega de carta de crédito concernente à emissão de duas passagens aéreas relativas ao trecho Brasília/São Paulo/Brasília. II - A propaganda difundida pela ré garante a ida do consumidor à Cidade de Paris sem fazer qualquer alusão no sentido de que o mesmo tenha que custear as passagens referentes ao trecho que vai de Brasília ao local de embarque até àquela Cidade, induzindo o cidadão comum a concluir que

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não teria qualquer despesa com passagens aéreas para chegar àquele destino. III - A autora tem assegurado no art. 6º, inc. III, bem assim no art. 31, ambos do CDC, o direito às especificações corretas de quantidade, características, composição, qualidade e preço acerca dos produtos e serviços que lhe são oferecidos, tendo o fornecedor, de sua parte, o dever de prestar todas as informações necessárias ao cumprimento destas disposições. IV - Não conhecida da apelação da ré, conhecendo-se, de outro lado, do apelo da autora. Sentença em parte reformada. Apelo da autora parcialmente provido.(20010110358254APC, Relator JERONYMO DE SOUZA, 3ª Turma Cível, julgado em 06/05/2004, DJ 29/06/2004 p. 67)

10. Não restam dúvidas de que a lesão sofrida pela REQUERENTE é proveniente do descumprimento das cláusulas estipuladas no referido contrato, por parte da Requerida.

11. Para tal atitude, o artigo 475 do Código Civil resguardou o direito da parte prejudicada pelo inadimplemento contratual pleitear as perdas e danos provenientes do desrespeito ao que foi avençado, conforme se pode verificar:

“Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.”

12. Desta feita, clara está a total procedência da presente ação, eis que se trata de patente descumprimento contratual por parte da REQUERIDA a ensejar a devida reparação nos termos do artigo transcrito.

13. Além da responsabilização da REQUERIDA nos moldes do Código de Defesa do Consumidor, encontramos também no Código Civil de 2002 o disposto no art. 389, que procura tutelar os direitos de quem se viu lesado pelo inadimplemento contratual, atribuindo ao inadimplente a responsabilidade pela reparação dos danos causados pelo não cumprimento de sua obrigação.

“Art. 389. Não cumprida a obrigação responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”

DO DANO MORAL

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14. Um dos motivos que levou a REQUERENTE a adquirir tal carro foi a certeza de que junto com tal aquisição estaria recebendo as passagens. Como o prazo para sua utilização era de um ano, o casal durante este período procurou programar toda a viagem, adquirindo livros sobre a Europa e passando longo períodos de tempo na Internet buscando as melhores opções de hotel, passeios turísticos, etc. para realizar a viagem almejada. Ou seja, o casal criou uma expectativa enorme em torno da viagem, que foi frustrada em razão da empresa REQUERIDA não ter honrado com seu compromisso.

15. A jurisprudência entende que há o dano moral ocasionado por propaganda enganosa, vejamos:

CIVIL. CDC. PROPAGANDA ENGANOSA. EMPRESA DE TELEFONIA. PROMOÇÃO "PLANO INCRÍVEL 500". INDUÇÃO DO CONSUMIDOR EM ERRO. DANO MORAL CARACTERIZADO. SENTENÇA MANTIDA. CONSTITUI PROPAGANDA ENGANOSA POR OMISSÃO (ART. 37, 3º, DO CDC), O ANÚNCIO DE EMPRESA TELEFÔNICA QUE PROMETE, A QUEM ADERIR AO SEU PLANO, A FRANQUIA DE 500 MINUTOS DE CONVERSAÇÃO POR MÊS, SEM FAZER QUALQUER RESSALVA DE QUE, NA VERDADE, DOS 500 MINUTOS, 400 SERIAM DESTINADOS A LIGAÇÕES PARA TELEFONES DA MESMA OPERADORA, E APENAS 100 PARA TELEFONES DE OUTRAS COMPANHIAS. CARACTERIZA-SE O DANO MORAL SE O CONSUMIDOR, INDUZIDO EM ERRO PELA PROPAGANDA, DIANTE DA (APARENTE) VANTAGEM OFERECIDA, RESOLVEU TROCAR DE OPERADORA, TENDO INCLUSIVE PAGO MULTA PARA RESCINDIR O CONTRATO, E VIU FRUSTRADA SUA EXPECTATIVA DE UTILIZAR-SE DE UM SERVIÇO QUE LHE PROPORCIONARIA MAIS VANTAGENS, EM RELAÇÃO AO CONTRATO QUE MANTINHA COM SUA PRESTADORA ANTERIOR. (Classe do Processo : APELAÇÃO CÍVEL NO JUIZADO ESPECIAL 20040410051816ACJ DF; Registro do Acórdão Número : 230431; Órgão Julgador : Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F.;Relator : JESUÍNO RISSATO; Publicação no DJU: 01/12/2005 Pág. : 318)

CDC. DIREITO DO CONSUMIDOR. TELEFONIA CELULAR.

PROMOÇÃO PULA-PULA 2008. CONCESSÃO DE BÔNUS.

DIVULGAÇÃO DE OFERTA. LIMITAÇÃO DA QUAL NÃO

FOI DADA CIÊNCIA AO CONSUMIDOR. ÔNUS DA PROVA.

INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 30, 35, 36 E 46 DO CDC.

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SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. A

Legislação Consumerista equiparou a publicidade à oferta,

disciplinando que uma vez veiculada a comunicação publicitária, o

fornecedor a ela se vincula, segundo a disciplina do art. 30, da Lei

8.078/90. 2. Na hipótese de não cumprimento do que foi prometido, pode o consumidor valer-se da norma prevista no art. 35 do CDC, impondo-se ao fornecedor observar os exatos termos da oferta. 3. Conforme prescreve o art. 36 da Lei

8.078/90, a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o

consumidor, fácil e imediatamente, a identifique com tal. 4. O ônus

da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação

publicitária cabe a quem as veicula. Por isso, o consumidor para ter

direito à promoção lançada na mensagem publicitária, deve,

apenas, comprovar a realização do negócio jurídico e o prejuízo

por ele experimentado pela inadequação entre o produto adquirido

e o que lhe foi prometido. (20051110025118ACJ, Relator

JESUÍNO RISSATO, Segunda Turma Recursal dos Juizados

Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 17/05/2006, DJ

02/06/2006 p. 369)

III - DO PEDIDO:

15. Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

I - A citação da REQUERIDA para, querendo, apresentar defesa, sob pena de serem reputados como verdadeiros os fatos ora alegados;

II – Seja a presente ação julgada procedente, determinando-se o pagamento a REQUERENTE dos valores atualizados do preço de duas passagens, de ida e volta para Paris (que custa aproximadamente 3.240 euros para cada pessoa), ou seja, em torno de R$ 4.850,00 (quatro mil oitocentos e cinqüenta reais por pessoa) nos mesmos moldes do contido no contrato, a título de danos materiais;

III – seja a REQUERIDA condenada a pagar R$ 4.000,00 (quatro mil reais) a título de danos morais;

IV – a inversão do ônus da prova nos termos do Código de Defesa do Consumidor;

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V- Seja a REQUERIDA condenada a pagar as despesas e custas processuais, bem como a sucumbência, no montante de 20%;

16. Protesta-se provar o alegado por todos os meios de provas admitidas pelo Direito.

17. Dá-se o valor da causa em R$ 13.700,00 (treze mil e setecentos reais).

Nestes Termos,Pede Deferimento.

Brasília-DF, 05 de dezembro de 2006.

GERALDO RODRIGUES PRADO JUNIOROAB/DF 20.153

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