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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PRÓ – REITORIA DE ENSINO CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA CYNTHIA WAGNER INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS BIGUAÇU 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PRÓ – REITORIA DE ENSINO

CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

CYNTHIA WAGNER

INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

BIGUAÇU 2006

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CYNTHIA WAGNER

INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia ao curso de Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí.

BIGUAÇU 2006

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CYNTHIA WAGNER

INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no curso de Psicologia. Biguaçu, 05 de Julho de 2006.

Banca Examinadora:

Prof.__________________________________________

Prof. Msc. Mauro José da Rosa – Orientador

Prof. __________________________________________

Profa. Msc. Ana Paula Balbueno Karkotli - Membro

Prof. __________________________________________

Profa. Msc. Hebe Cristina Bastos Régis – Membro

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Dedico este trabalho à minha mãe, Maria de Fátima S. Wagner e

a meu pai Gilberto Wagner pela dedicação, pelas palavras de

conforto nas horas difíceis, incentivos e sugestões que muito me

auxiliaram na produção do mesmo.

Á minha irmã Sabrina, por seu carinho e estímulo, suas

ponderadas críticas e imensa paciência em compreender minhas

dúvidas, sem ela a concretização deste trabalho não teria

acontecido.

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AGRADECIMENTOS

Nesta caminhada não estive sozinha. Em cada etapa tive o privilégio de companhias

que deram a ajuda necessária, o apoio preciso.

A estas pessoas, o meu agradecimento.

Ao orientador e professor Mauro, pelo respeito com que acompanhou esta pesquisa,

me proporcionando as condições necessárias para que ela se desenvolvesse e pela sua

orientação nas horas mais incertas.

Agradeço a Deus, por ter me dado todas as condições necessárias para que eu

chegasse até aqui.

E por fim a Empresa que realizei a pesquisa, que permitiu o meu acesso ao seu

trabalho e as pessoas/funcionários que me confiaram seus depoimentos e que

possibilitaram a realização dessa pesquisa.

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“As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os

inferioriza e o direito de ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza”.

(Boaventura de Sousa Santos).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8 1.2 OBJETIVOS............................................................................................................................ 11 1.2.2 Objetivos específicos:........................................................................................................... 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................ 12 2.1 QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA ..... 12 2.2 O MERCADO DE TRABALHO ............................................................................................ 16 2.3 QUESTÕES LEGAIS ............................................................................................................. 22 2.4 AUTONOMIA ........................................................................................................................ 27 3 METODOLOGIA..................................................................................................................... 31 3.1 SUJEITOS ............................................................................................................................... 32 3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ...................................................................... 33 3.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ................................................................................................. 34 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS............................................................................... 35 4.1 QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA ..... 35 4.2 O MERCADO DE TRABALHO ............................................................................................ 37 4.3 QUESTÕES LEGAIS ............................................................................................................. 41 4.4 AUTONOMIA ........................................................................................................................ 43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS 47 BIBLIOGRAFIA 50 SUGESTÕES DE LEITURA 51 APÈNDICES 52

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RESUMO

WAGNER, Cynthia. INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS ano 2006. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2006.

O objetivo deste trabalho foi de perceber a inclusão no mercado de trabalho para pessoas com necessidades educacionais especiais (P.N.E.E.). Na busca deste objetivo, se estabelece o levantamento e análise das representações sociais que o mercado de trabalho (funcionário/empregador) tem em relação à inclusão da P.N.E.E. na empresa e de que forma tem sido utilizada a legislação criada a partir de 1988 para assegurar o acesso e a permanência do P.N.E.E. ao mercado de trabalho formal. Foi possível perceber que existe um aparato legal que garante a inclusão do P.N.E.E. no mercado de trabalho formal, mas que não é implantado de forma satisfatória. Discute-se ainda o processo de inclusão da P.N.E.E. no mercado de trabalho formal através de pesquisa realizada numa empresa de Supermercado, no município de São José. Os procedimentos metodológicos caracterizam-se pela pesquisa qualitativa exploratória, em que a pesquisadora investiga um problema coletivo, envolvendo participantes através do contato direto com o campo, ou seja, pretendem-se alcançar uma compreensão detalhada dos significados. Os resultados desta pesquisa demonstraram que a P.N.EE. é uma pessoa importante para o mercado de trabalho/empresa, pois permite que estes sejam reconhecidos, aumentando assim, a conscientização necessária ao longo do tempo pela inserção destas no mercado e na sociedade, mas que ainda é relevante discutirmos a respeito desta inclusão. Constatou-se que existe pouca preocupação em explorar os benefícios dos P.N.E.E., bem como desenvolver atividades que sejam úteis para esta demanda. Espera-se que os conhecimentos apresentados nesta pesquisa/trabalho a respeito da P.N.E.E., sejam úteis para que as pessoas (acadêmicos, professores, funcionários da empresa pesquisa, dentre outros) possam utilizá-lo como subsídio para promover um melhor desenvolvimento e inserção desta no mercado de trabalho formal ou informal.

Palavras chaves: inclusão; mercado de trabalho; questões legais; autonomia.

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1 INTRODUÇÃO1

A sociedade hoje está caracterizada por transformações aceleradas em todos os

níveis: econômicos, sociais e políticos. Transformações essas, que são reais e irreversíveis,

afetando profundamente nossa maneira de pensar.

Nessa realidade o mercado de trabalho passa a ser compreendido como parte de

um contexto mais amplo. É uma instituição criada para atender necessidades sociais,

portanto, palco de todas as contradições que permeiam a sociedade. A necessidade de

qualificação, em específico na educação especial, se dá porque o trabalho representa uma

das vias de inclusão social, sendo um fator fundamental para minimizar a estigmatização

sofrida por estes indivíduos.

Neste cenário investiga-se quais são as exigências que o mercado de trabalho

formal oferece em relação ao D.M.2 Para isso, além de pesquisar a legislação relacionada à

formação profissional e a inserção no mercado de trabalho, decidir-se por seguir os

vestígios de como essa prática está acontecendo e como o deficiente lida com a questão de

sua autonomia, vista fundamental neste caso.

Percebe-se do ponto de vista legal, que a partir de 1988 foi promulgado

mecanismos para ampliar os direitos legais das pessoas com deficiência, inclusive o acesso

ao trabalho. Essa nova proposta de sociedade inclusiva por meio do trabalho foi deflagrada

pela Declaração de Salamanca, a qual divulgou entre outros princípios, “o direito de todos

à educação”, independente das diferenças individuais. Cabe ressaltar que as linhas mestras

estabelecidas pela Constituição de 1988 foram regulamentadas pela nova Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9.394/1996, que define educação e habilitação

profissional e tratamento especial a P.N.E.E. e superdotados.

Utilizar-se também da Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o

apoio as P.N.E.E. 3, sua integração social e sobre a Coordenadoria Nacional para

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). Aborda a tutela jurisdicional de

interesses coletivos ou difusos dessas pessoas e as responsabilidades do Ministério Público.

Define como crime, punível com reclusão, obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a

1 Este trabalho tem como foco as pessoas com necessidades educacionais especiais (P.N.E.E.). 2 Onde estiver D.M. lê-se deficiente mental. 3 Onde estiver P.N.E.E. lêem-se pessoas com necessidades educacionais especiais relativo ao deficiente mental.

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qualquer cargo público, por motivos derivados de sua deficiência, bem como lhe negar,

pelo mesmo motivo, emprego ou trabalho.

Vale ressaltar a Lei Federal n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990 que assegura as

P.N.E.E. o direito de se inscreverem em concurso público para provimento de cargos cujas

atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadores, reservando-lhes até

20% do total das vagas oferecidas no concurso (art. 5° § 2°).

Na perspectiva de uma sociedade inclusiva, o trabalho parece contribuir na vida

do P.N.E.E., pois quem trabalha torna-se uma pessoa integral, com limitações, porém com

capacidades; na esfera social, porque facilitará a inter-relação com colegas e uma auto-

realização através do esforço por atingir metas compartilhadas, num plano de igualdade; na

esfera produtiva, com a produção de um bem de consumo ou serviço, permite a eliminação

do preconceito de que as pessoas com deficiência são uma carga social.

Há, então, que se tirar da história a melhor lição, na busca do objetivo comum de

possibilitar às P.N.E.E. sua independência e contribuição ativa para a sociedade em que

vivem, promovendo-se medidas eficazes para a prevenção e reabilitação da deficiência,

garantindo as oportunidades em todas as áreas e a plena participação na sociedade.

Em decorrência das transformações, observa-se a expansão do desemprego, como

movimento de exclusão. Não se pode pensar na questão de forma circunscrita ou

dicotomizada, ela diz respeito a todos os homens. Assim, é necessário entender que, no

mundo contemporâneo, a dificuldade de inserção no trabalho não é um problema exclusivo

das minorias tradicionalmente reconhecidas em condições de exclusão, dentre elas a das

P.N.E.E. É um problema de todo trabalhador. Contudo, se a dificuldade em endereçar as

pessoas com deficiência para o mercado de trabalho formal foi sempre reconhecida, que

dimensões assumem em tempos de desemprego? Será que as pessoas com deficiência

mental seriam empregadas se fossem mais escolarizadas? Para as P.N.E.E., que não

conseguem se estabelecer como trabalhadores, que possibilidades restam? Manter-se numa

marginal? Depender de políticas assistenciais?

Nesta perceptiva é relevante notar que a educação formal deve ser assegurada a

todas as pessoas, inclusive para as pessoas com deficiência. Contudo, apesar do grau de

complexidade acerca desse tema, faz-se necessário que a análise não se encerre nesse

texto, tendo em vista que se trata apenas de uma pequena contribuição. Ele merece e exige

continuidade. Portanto, espera-se com esta pesquisa estar despertando inúmeras atenções

ao tema, para que os alunos e/ou profissionais da área, se tornem questionadores a luz dos

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conhecimentos apurados nesta pesquisa, tornando-se assim de grande valia tanto para a

Instituição (que será pesquisada e explorada), bem como, aos profissionais e estudantes

que trabalham na área.

Ainda que seja uma questão discutida e analisada atualmente a inclusão não se

constitui em uma ação baseada na mera reprodução de situações cotidianas. Priorizar a

inclusão é fundamental. Encarar a inclusão é dar sentido a uma nova forma de olhar. É

bom lembrar que, quando se discute sobre a inclusão prioriza-se P.N.E.E. Partindo desse

pressuposto, observa-se a necessidade de averiguar a posição que as P.N.E.E. ocupam na

sociedade, suas atividades cotidianas, em especial a sua capacidade de desempenhar

tarefas. Sendo assim, tem-se uma visão do contexto em que este está inserido e busca-se

analisar a sua independência e autonomia visando á sua inserção na sociedade.

Tendo em vista estes aspectos, faz-se necessário questionar sobre a inclusão de

P.N.E.E. no mercado de trabalho formal. Para tanto é preciso rever concepções, de modo a

construir práticas psicológicas que valorizem as possibilidades das pessoas com

necessidades educacionais especiais no mercado de trabalho. Compreender este processo é

atuar no sentido de que haja continuidade na conquista do saber e também da inclusão.

Diante de tais referências, vê-se a necessidade de uma pesquisa mais

aprofundada, para que se possa analisar se o caminho da inserção profissional é a melhor

forma de inclusão social.

Uma vez que esse assunto realmente adquiriu a importância que deveria ter, cabe-

nos questionar quais as exigências que o mercado de trabalho formal estabelece para as

P.N.E.E. na busca de um emprego?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1Objetivo Geral •

• Verificar as representações sociais que o mercado de trabalho

(funcionário/empregador) tem em relação à inclusão da P.N.E.E. na empresa.

1.2.2 Objetivos específicos:

• Analisar de que modo à legislação contempla o acesso da P.N.E.E. ao trabalho

formal;

• Verificar como ocorre o processo de inclusão da P.N.E.E. no mercado de trabalho;

• Identificar as competências exigidas da P.N.E.E. para a sua inserção no mercado

de trabalho;

• Investigar se o caminho da profissionalização da P.N.E.E. é a melhor forma de

incluí-lo na sociedade.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

INCLUSÃO: O MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS (P.N.E.E.)

A partir do exame minucioso e atento de leituras sobre o tema Inclusão: o

mercado de trabalho para P.N.E.E. será abordado questões referentes à formação

profissional destas pessoas. Supõe-se que é uma problemática relevante, já que vive-se

num momento histórico em que sociedade se vê desafiada pelo desemprego.

Esta revisão de literatura está didaticamente organizada em quatro eixos: a)

inclusão: perspectiva histórica; b) mercado de trabalho; c) questões legais; d) autonomia.

2.1 QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA

Através dos tempos o termo deficiência vem sendo considerado de diferentes

maneiras, sempre relacionado aos valores sociais, morais, filosóficos, éticos e religiosos,

isto é, relacionadas ao modo pelo qual o homem é visto e considerado nas diferentes

culturas.

Segundo Amaral (1994), na Idade Média acreditou-se que as P.N.E.E. não

poderiam fazer parte da sociedade. A maioria ao nascer, e visto a deficiência, eram vista

como cenários da bruxaria, coisa do inferno ou então eram sacrificadas, mortas. Por muito

tempo esse enigma foi mantido. Há, portanto, inúmeras definições que vem refletindo

sobre as diferentes concepções da deficiência mental.

De acordo com o mesmo autor, há então, uma dificuldade em saber o que é

deficiência mental e conseqüentemente mais difícil ainda dizer quem é o deficiente mental.

No que se refere o que é deficiência mental, o autor enfatiza que este diz respeito a

determinadas características como condições incapacitadoras, que se julga inerente ao

indivíduo, atrelado fundamentalmente em conhecimentos científicos. Quando falar em

quem é o deficiente mental, pode-se identificar as características nos indivíduos como se

tornando eleitos de um prejuízo social.

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A proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS), elaborada em 1972, teve

dois saltos qualitativos: o primeiro refere-se na distinção entre doença e deficiência, sendo

que a última é conseqüência de uma doença. E o outro salto refere-se no conceito de

deficiência em três sub-conceitos: deficiência, incapacidade e desvantagem. Estas

inovações fazem parte da dimensão social da deficiência.

Segundo Amaral (1994), a deficiência refere-se a uma perda ou anormalidade de

estrutura ou função; incapacidade refere-se à restrição de atividades em decorrência de

uma deficiência; desvantagem refere-se à condição social de prejuízo resultante e/ou

incapacidade.

De acordo com o mesmo autor, a doença mental é empregada para designar

distúrbios psiquiátricos ou mentais. Geralmente afetam o funcionamento emocional, social,

intelectual e comportamental. É caracterizada por reações emocionais inadequadas,

distorção da realidade de por conduta socialmente mal direcionada.

Nesta perspectiva, o termo excepcional surge na década de 50, tornando-se

hegemônico nas décadas de 70 e 80. A origem do termo excepcional faz parte de um ciclo

de enfrentamento de preconceitos, historicamente utilizados para identificar determinadas

condições referidas ao déficit intelectual.

Para Bueno (1997, p.31), “a excepcionalidade enquanto conceito,... enquanto

fenômeno social foi construído pela própria ação do homem, estando sempre e

necessariamente carregado de um sentido ideológico”. Sob este ponto de vista verifica-se

que a expressão excepcionalidade está sendo definida em diferentes áreas que vai se

modificando historicamente.

Segundo Bueno (1997), no Brasil, até a década de (cinqüenta) 50, praticamente

não se falava em educação especial, mas na educação de deficientes. A situação da

educação especial no Brasil contribuiu para a manutenção do processo de participação-

exclusão, ou seja, é dentro desse contexto histórico que o termo excepcional passou a ser

utilizado. Foi a partir dessa década que a educação especial sofreu processo mais intenso

de ampliação, que culminou na década de (setenta) 70 com a disposição de um verdadeiro

subsistema educacional, ou seja, a população passou a reivindicar melhores condições de

vida, entre elas o acesso à escola.

Bueno (1999) destaca que a educação especial no Brasil tem como marco a

criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje, Instituto Benjamin Constante) e do

Instituto Surdos-Mudos (hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos- INES). E além

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desses institutos iniciou-se o tratamento de deficientes mentais, no hospital Psiquiátrico da

Bahia (hoje Hospital Juliano Moreira). Nota-se que essas instituições especializadas,

centravam-se em iniciativas isoladas, as quais se incluíam os mais lesados ou aqueles

indivíduos que se distanciavam na norma dita normal, e o deficiente mental refletia a

preocupação com a higiene da população.

Foi nessa época que a educação especial começou a chamar a atenção para as

divergências sociais e para os estudos literários sobre a deficiência mental.

A deficiência mental é conhecida como retardo mental ou deficiência intelectual.

Entende-se que a deficiência mental ocorra antes dos (dezoito) 18 anos de idade, e possui

diferentes etiologias, e que afeta o funcionamento do sistema nervoso central, e de acordo

com o DSM-IV (2002, p. 73), a deficiência mental é caracterizada como:

um funcionamento intelectual significativamente inferior à média (Critério A), acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança (Critério B).

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o total de pessoas com

deficiência está assim distribuído: deficiência mental: 5%; deficiência física: 2%;

deficiência auditiva: 1,5%; deficiência múltipla: 1% e deficiência visual: 0,5% da

população. No Brasil, segundo o censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), estima-se que existem 14,5 milhões de pessoas com algum tipo de

deficiência, ou seja, são pessoas com alguma dificuldade de enxergar, ouvir, locomover-se

ou alguma deficiência física ou mental4.

Esse tratamento centrado na classificação e seleção leva o deficiente mental à

segregação social, tornando-se um não-cidadão, sem direitos nem deveres. É nessa

perspectiva de inclusão e educação para todos, que Mantoan (2002, p. 1) afirma que:

A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes sentidos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos a educação - e assim diz a Constituição.

4 Dados obtidos no site www.ibge.gov.br Acesso no dia 14/10/2005

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Para esta autora a inclusão implica em primeiro lugar, aceitar todas as pessoas

como pessoas, como seres humanos únicos e diferentes entre si. As diferenças individuais

existem entre todos nós e não se justifica classificar grupos de pessoas como sendo

especiais, e segregá-las em instituições ou em outros ambientes de sua vida.

É de grande importância ouvir as pessoas que lidam diretamente com os P.N.E.E.

- seus familiares, amigos, profissionais - pois estes podem apontar as necessidades e

possibilidades destes indivíduos.

De acordo com Nunes et al. (1998, p. 85), “é preciso que familiares e

profissionais os considerem como cidadãos plenos, com direitos e deveres como qualquer

um, a partir de suas possibilidades, que são, como as de qualquer outra pessoa, a priori,

infinitas”. Conhecer o papel da família e dos profissionais, a sua função, é de extrema

importância nos dias atuais, pois esta família começa a receber atenção devida por parte de

educadores, psicólogos, sociólogos e tantos estudiosos que se preocupam pelos

“problemas” da P.N.E.E.

Verifica-se através da história, que o procedimento da sociedade para com os

indivíduos especiais, vem evoluindo a respeito de sua educação e tratamento. Portanto, o

direito a cidadania e a participação da sociedade vem sendo discutido na questão da

inclusão social para as P.N.E.E. Segundo Sassaki (1997), para se incluir todas as

pessoas na sociedade é preciso que essa sociedade seja modificada, ou seja, a sociedade

precisa ser capaz de atender as necessidades de todos os membros, seja através da

educação, da qualificação profissional, na reabilitação, etc. Para que haja esse processo de

inclusão é preciso que a sociedade se transforme, modificando o ambiente físico e a

mentalidade de todas as pessoas, inclusive a da P.N.E.E..

A integração social começa a ser discutida desde a década de (sessenta) 60 e nos

meados da década de (setenta) 70, as questões relatadas ao D.M. estiveram subordinadas

ao âmbito médico e de especialistas. A deficiência era vista no lugar da pessoa. Foi a partir

da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais realizadas em

Salamanca, na Espanha em 1994 que a educação inclusiva começou a se transformar em

proposta formalizadora para as escolas de ensino regular, com o objetivo de combater a

discriminação e promover a integração da P.N.E.E. na sociedade.

A partir da década de (oitenta) 80 que sinalizou o Ano Internacional da Pessoa

Portadora de Deficiência (1981) visando integrar os indivíduos deficientes na sociedade,

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buscando mostrar que a pessoa não é a deficiência. E em 1994, o conceito de inclusão

passou a ser registrado pela UNESCO, a partir da Declaração de Salamanca.

Em vista disso, no Brasil o que regia a prática era o modelo de integração, guiado

pelo princípio de normalização. E foi apenas na década de 90, após a Declaração de

Salamanca, que o discurso da inclusão ganhou espaço na realidade brasileira.

(LANCILLOTTI, 2000).

A educação do sujeito constitui-se em um modelo produzido social e

culturalmente. Ganham destaque a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do

Adolescente, a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional explicitam um direito a educação

garantida a todos.

Toda cultura é permeada pela dimensão ética5. Disso resultam evidências que a

práxis humana não se limita somente me reproduzir à natureza ou a produzir obras e

comportamentos naturais, mas, contudo, cria valores e símbolos. Nele a humanidade

expressa não apenas o que é, mas o que deve ser.

Segundo dados do Censo Escolar de 2003 (MEC)6 o índice de atendimento

inclusivo cresceu, e no Brasil, passou de 24% em 2002 para 28% em 2003, segundo os

dados, um crescimento de 30,6% em apenas um ano.

O que se percebe é que a efetivação de políticas para a educação especial é

destinada às instituições privado-assistenciais, ou seja, a responsabilidade pela educação

das P.N.E.E. deve estar ao encargo do estado mais do que a sociedade civil.

2.2 O MERCADO DE TRABALHO

Nos dias de hoje parece-nos ser fácil falar em mercado de trabalho. Compreende-

se que esse exercício reflexivo, a partir dessa perspectiva, pode trazer a luz sobre o objeto

de estudo aqui proposto, por isso, enfatiza-se a questão fundamental desse projeto, que é a 5 De acordo com Valls (1994), a ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento. Tratando-se de normas de comportamentos, a ética enquanto científica, deveria chamar-se de uma ciência normativa; tratando de costumes, pareceria uma ciência descritiva ou uma ciência do tipo especulativo, que tratasse da questão fundamental da liberdade. O autor enfatiza que há uma outra questão fundamental da ética: os costumes mudam e o que ontem era considerado errado, hoje pode ser aceito. De qualquer maneira, a ética tem também uma função descritiva, pois precisa procurar conhecer, apoiando-se em estudos da Antropologia Cultural e semelhante, os costumes das diferentes épocas e dos diferentes lugares. Portanto falar de ética também significa falar da liberdade. 6 Dados obtidos no site www.ibge.gov.br pelo Ministério da Educação e Cultura.

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discussão de como o funcionário/empregador de uma rede de supermercado da Grande

Florianópolis está estabelecendo em relação as P.N.E.E. Acerca dessa temática, se sabe

que problemas são defrontados em que a crescente debilidade das instituições modernas é

visível no contexto de exacerbação das contradições que fundam a nossa organização

social, voltada para o lucro e acumulação, porque apesar de se buscar a inclusão no

mercado de trabalho formal, ainda vivencia-se na prática uma sociedade desigual.

A justificativa mais comum é de que, dessa forma, se estaria enfim alcançando a

integração social da pessoa com deficiência. Da leitura de livros o que se depreende, é a

afirmação do objetivo da educação especial, de prestar as pessoas com deficiências,

auditivas, física, mental, múltipla e visual para serem encaminhados ao mercado de

trabalho. Deve-se sublinhar que uma política de mercado de trabalho e de integração social

exige uma transformação na prática das políticas adotadas e implica redefinir a dinâmicas

das relações sociais dentro ou fora do âmbito de trabalho.

Segundo Sassaki (1997) para se conceituar a inclusão social é preciso que a

sociedade se adapte para incluir pessoas com necessidades especiais e que as mesmas se

preparam para assumir seu papel na sociedade. Isso demonstra que o trabalho deixou de ser

para alguns e passa a se tornar direito para todos.

A criação de oportunidades de emprego para P.N.E.E., exige conhecimento e

informação detalhados sobre a capacidade e trabalho dessas pessoas, assim sendo, dos

requisitos físicos e mentais da própria ocupação. São fundamentais de mútua adaptação

para as P.N.E.E. no seu trabalho que este se baseie num modelo de homem e em seu

ambiente de trabalho, por exemplo, identificar as tarefas de trabalho, as condições de sua

execução e os requisitos que o trabalho impõe. Identificar as tarefas a serem executadas, e

que não deve concentrar-se exclusivamente em trabalhos manuais, mas devem ser também

consideradas tarefas de planejamento, de tomada de decisão, de análise e cotejamento de

informações.

O mercado de trabalho oferece hoje muitas portas para as P.N.E.E., mas o que

falta é qualificação profissional. Muitas P.N.E.E. não a têm, e são geralmente

encaminhados por Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs), e/ou escolas

especiais. Afirma Sassaki (1997) que essa situação pode ser chamada de fase de

exclusão7, ou seja, as P.N.E.E. serão excluídas do mercado de trabalho por falta de

7 SAWAIA (2001) insere a exclusão como uma estratégia social, de concentração de riquezas e de controle social para a manutenção do sistema capitalista.

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reabilitação física e profissional, falta de escolaridade, falta de meios de transporte, falta de

apoio das famílias e falta de qualificação para o trabalho.

Para Amaral (1994, p. 131-132),

Na sociedade capitalista o trabalho é visto, essencialmente, como possibilidade de inserção no circuito produção – consumo. Assim, o indivíduo deve produzir e consumir (e pagar tributos pelo seu trabalho e pelos bens adquiridos!) para que possa ser visto como cidadão. Mais do que “ser”, ele deve “fazer”, mais do que “ser” ele deve “ter”(...) este talvez seja o ponto principal, o resgate do papel do trabalho: seu potencial de elemento significativo, seja na auto-realização, seja na configuração da auto-estima, seja na independência econômica, na autonomia, no prazer presente no processo e no produto, na sensação de aceitação e ´pertencimento´ (...) enfim o resgate da visão do trabalho como fonte de satisfação na vida das pessoas com deficiência (...).

A autora apontou para a possibilidade de recuperar o caráter de atividade

essencial do trabalho. Assim, pode-se sublinhar que esse discurso está em favor da

profissionalização da P.N.E.E. para o mercado de trabalho. Não se trata de contestar que o

trabalho desempenha papel central na vida do homem, mas de questionar se é possível

refletir e de julgar na possibilidade de auto-realização ou de integração efetiva de P.N.E.E.

à sociedade, pelo caminho do trabalho. Portanto, a educação e o encaminhamento de

pessoas com deficiências para o mercado de trabalho se dão a partir das demandas do

capital e nos seus limites.

Segundo Cunha (1997), o mercado de trabalho exige alguns requisitos

fundamentais, e a principal dificuldade é que as capacidades de trabalhadores e os

requisitos de ocupação mudam com o tempo e de uma maneira imprevisível. Além disso,

os requisitos de ocupação e capacidades de trabalho estão interligados. Isto é, quando a

ocupação concerne velocidade do trabalho (por exemplo, não-ritmado), tomada de decisão

e plano de trabalho. É muito importante que a direção tenha um conhecimento básico de

processos compensatórios para estimular a desempenhar uma determinada função de

trabalho às P.N.E.E..

O mercado de trabalho exige alguns requisitos fundamentais para ocupar um

determinado cargo, o qual os critérios são adotados conforme determinada empresa e

conforme a especificidade que o cargo exige. A principal dificuldade é que as capacidades

de trabalhadores e os requisitos de ocupação mudam com o tempo e de uma maneira

imprevisível. Além disso, os requisitos de ocupação e capacidades de trabalho estão

interligados. Isto é, quando a ocupação concerne velocidade do trabalho (por exemplo,

não-ritmado), tomada de decisão e plano de trabalho. Neste aspecto o ritmo de trabalho

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depende muito da personalidade da pessoa que o executa só se podem definir os requisitos

mínimos da ocupação a que um trabalhador deve satisfazer.

Desse modo, uma deficiência torna-se apenas um fator secundário se comparado

com todas as capacidades e habilidades remanescentes. Sassaki (1997) prosseguindo no

discurso de que todos têm o mesmo direito de trabalhar, menciona que o percentual de

pessoas deficientes em idade economicamente ativa que estão fora da força de trabalho é

duas vezes superior ao das pessoas sem deficiência. É nessa perspectiva que Sassaki

(1997), impõe os principais fatores internos de uma empresa para facilitar a inclusão do

portador de deficiência.

• Adaptação de locais de trabalho (acesso físico) • Adaptação de aparelhos, máquinas, ferramentas e equipamentos; • Adaptação de procedimentos (fluxo) de trabalho; • Adoção de esquemas flexíveis no horário de trabalho; • Adoção de programas apoiando (treinador de trabalho e outros apoio); • Revisão das políticas de contratação de pessoal. • Revisão das descrições de cargos e das análises ocupacionais etc. • Revisão dos programas de integração de empregados novos; • Revisão dos programas de treinamentos e desenvolvimento de recursos humanos; • Revisão da filosofia da empresa; • Capacitação dos entrevistadores de pessoal; • Criação de empregos a partir de cargos já ocupados; • Realização de seminários internos de sensibilização das chefias; • Cumprimento das recomendações internacionais e da legislação nacional pertinentes ao trabalho; • Adoção do esquema paralelo de trabalho domiciliar competitivo (extensão da empresa); • Adoção de esquemas de prevenção de acidentes e moléstias ocupacionais; • Informatização da empresa; • Participação da empresa em conselhos municipais e estaduais pertinentes ao portador de deficiência; • Aquisição, e/ou facilitação na aquisição, de produtos da tecnologia assistiva que facilitem o desempenho profissional de empregadores com deficiências severas; • Participação da empresa no sistema de colocação em empregos competitivos. (SASSAKI, 1997, p. 66-67)

Ainda, para esse autor, os fatores citados acima beneficiam todos os funcionários,

portadores ou não de deficiência. A inserção do deficiente nas atividades das empresas

representa então um amplo alcance, tornando possíveis as pessoas não deficientes novas

posturas nas relações pessoais, profissionais e, isso se dá na convivência com a diferença e

com a possibilidade de superação que a deficiência pode ensinar. Ainda, esta oportunidade

permite que surja a imagem de competência do deficiente, viabilizando um vasto papel

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modificador de atitudes. Nesse sentido, se propôs uma fundamental mudança no

encaminhamento da questão da deficiência, redirecionando-o para o patamar da

deficiência, da igualdade e da inclusão social.

Na perspectiva de uma sociedade inclusiva, o trabalho contribui na vida do

deficiente, pois quem trabalha torna-se uma pessoa integral, com limitações, porém com

capacidades; na direção social, porque facilitará a inter-relação com colegas e uma auto-

realização através do esforço por atingir metas compartilhadas, num plano de igualdade; na

direção produtiva, com a produção de um bem de consumo de serviço, permite a

eliminação do preconceito de que pessoas com deficiência é um encargo/obrigação social.

Para as empresas, a decisão de admitir força de trabalho está diretamente ligada à

relação custo X benefício, e não há questões de preconceitos de sexo, religião, cor, pessoas

deficientes etc. Sabe-se que toda força de trabalho apta a desempenhar funções

previamente determinadas pelas empresas, dentro de padrões de resultados estabelecidos,

estará concorrendo às vagas disponíveis. As empresas na sua maioria, não são entidades

filantrópicas ou de assistência social e não tem por finalidade criar programas para

readaptação de pessoas com deficiência. Portanto, a questão da reintegração da pessoa

deficiente no mercado de trabalho não é um problema das empresas, mas das entidades

sociais (públicas ou privadas) responsáveis pela formação profissional dessas pessoas. Ao

ser habilitada/reabilitada para o mercado de trabalho, essa força de trabalho pode ou não

ser aceita pelo mercado.

Segundo Carreira (2005), para integrar uma pessoa deficiente no mercado de

trabalho, é necessário mudar o conceito de deficiência. Para o autor, “uma pessoa

portadora de deficiência é aquela capacitada para o trabalho em virtude de um treinamento

especializado, respeitadas as suas limitações físicas, visuais, auditivas ou mentais” (p. 03).

Uma P.N.E.E. pode realizar um trabalho qualquer, desde que respeitado as suas limitações.

Não basta somente profissionalizar a pessoa deficiente nem ao menos redefinir o seu

conceito para garantir a sua inserção no mercado de trabalho. É necessário mudar o

comportamento.

É necessário para haver um resultado positivo na integração da pessoa deficiente

no mercado de trabalho, que as instituições introduzam em seus currículos os conceitos da

pessoa deficiente e o seu papel no mercado de trabalho, a fim de que as pessoas possam

conhecer essa força de trabalho tão importante quanto quaisquer outras. Para haver então

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uma integração da P.N.E.E., é necessário que esta ocupe o mesmo espaço no trabalho das

pessoas não deficientes e não seja segregada, isolada num canto da empresa.

No Brasil, a inclusão vem sendo discutida em pequena escala por algumas

empresas, mesmo sem saberem que estão na realidade adotando uma abordagem inclusiva.

Em Santa Catarina, por exemplo, na cidade de Florianópolis o Senac8 (Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial) tem por meta qualificar qualquer pessoa para o mercado de

trabalho. O Senac por sua vez oferece vários cursos profissionalizantes, mas nenhum

especificamente para deficiente mental. Está proposto para o ano seguinte (2006) a

abertura de cursos profissionalizantes para pessoas com deficiência auditiva, como cursos

de libras e para as pessoas com deficiência visual, dito que para a deficiência mental não

será aberto pois necessita-se de profissionais capacitados para essa demanda.

Para Sassaki (1997, p. 65), para uma empresa se formar como uma empresa

inclusiva é preciso que ela:

acredite no valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, implementa adaptações no ambiente físico, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho, treina todos os recursos humanos na questão da inclusão etc.

Outros componentes importantes no cenário da integração da P.N.E.E. no

mercado de trabalho são os meios de transporte, pois, sem eles, a força de trabalho não terá

acesso às empresas.

Carreira (2005) enfatiza que pertence à administração pública fornecer esse tipo

de serviço à população. Para a maioria das P.N.E.E., não há necessidade de qualquer

adaptação desses equipamentos. Mas vale lembrar, que para algumas pessoas deficientes

físicos, porém, há necessidade de algumas adaptações nos meios de transporte, como

plataforma elevatória nos ônibus.

Conquistado o emprego, a outra questão é a integração ou reintegração da pessoa

deficiente no meio social em que ela irá caminhar. Não devemos esperar das empresas que

invistam recursos humanos e financeiros para integrar P.N.E.E. de uma forma sistemática e

8 O SENAC foi criado em 10 de janeiro de 1946, é uma instituição de educação profissional aberta a toda a sociedade. Sua missão é desenvolver pessoas e organizações para o mundo do trabalho, com ações educacionais e disseminando conhecimentos em Comercio de Bens e Serviços. O SENAC preparou mais de 40 milhões de pessoas para o setor de Comércio e Serviços, contribuindo para a valorização do trabalhador por meio de sua capacitação profissional em diversas áreas. O SENAC se faz presente em 1.850 municípios, capacitando para o mundo do trabalho cerca de 1,7 milhões de brasileiros, a cada ano. (disponível em www.senac.br)

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impessoal. O que existe hoje são ações isoladas, provocadas e comandadas por pessoas que

estão atentas a questão social da pessoa deficiente.

A integração significa a inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na

sociedade. Já a inclusão, significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a

pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania.

Desse modo, então, nenhuma instituição pode recusar sem justa causa, o acesso de

P.N.E.E. a instituições, seja essa instituição uma escola, uma empresa. Se o fizer, estará

impedindo de certa forma, o P.N.E.E. na efetiva integração e inclusão na vida em

sociedade, inclusive na inserção do mercado de trabalho competitivo em que vivemos.

Nesse contexto deseja-se conhecer o ambiente em que a empresa opera no que se refere à

utilização de P.N.E.E., e saber se as entidades de formação profissional estão incluídas.

É relevante saber também se as empresas desenvolvem um trabalho integrado de

treinamento em conjunto com entidades de formação profissional, pois para se criar esses

benefícios não é um direito da P.N.E.E., mas uma obrigação legal das empresas e da

administração pública.

Sassaki (1997) demonstra que a Declaração de Salamanca afirma que os jovens

P.N.E.E. devem receber ajuda para fazer uma eficaz transição da escola para a vida adulta

produtiva. Nesse sentido, caberá a escola preparar o aluno para o sucesso profissional e

vida independente; preparar a própria escola para incluir nela o aluno P.N.E.E.. Essas

declarações devem ocorrer em sala de aula, em setores operacionais da escola e na

comunidade.

O propósito nessa pesquisa é o de apreender e debater o discurso teórico que se

estabelece acerca da inserção do P.N.E.E. no mercado de trabalho formal.

2.3 QUESTÕES LEGAIS

Nesta etapa faz-se útil uma breve análise referente à questão da educação e do

trabalho tendo como marco temporal a Constituição Brasileira de 1988, porque foi a partir

daí que houve mudanças significativas no âmbito legal no sentido de assegurar as pessoas

com deficiência o acesso ao mercado de trabalho formal. Foi a partir do estabelecimento na

Constituição que novas leis, decretos e portarias foram promulgados, ampliando os direitos

desta parcela da população.

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Optou-se pela transcrição dos Artigos que tratam as questões do trabalho da

pessoa com deficiência, como subsídios para reflexão do leitor. A Constituição Federativa

do Brasil de 1988 assegura:

Art. 7 São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXXI Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalho portador de deficiência.(...) Art. 37 A admissão Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) VIII A Lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão. (...). Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição a seguridade social e tem por objetivos: IV – A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração a vida comunitária; V – A garantia de um salário mínimo de beneficio mensal a pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei; Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentiva com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2000, p.30).

A Constituição Brasileira de 1988 garante:

as pessoas portadoras de deficiência são asseguradas o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras, para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso (BRASIL, 2000)

Nota-se que a legislação, ao tratar da entrada ao serviço público por meio do

concurso, estabelece como referência um percentual máximo sem prever um mínimo, o

que dá margem a uma grande variabilidade na aplicação da lei.

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A edição do Decreto n° 3.298, em 20 de dezembro de 1999, revelou mudanças

significativas de caráter institucional da condição da pessoa portadora de deficiência no

Brasil. No art. 6° que dá as diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, diz no item III, que é necessário

Incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde, ao trabalho, à assistência social, ao transporte, à habilitação, à cultura, ao esporte e ao lazer. (BRASIL, DECRETO 3.298).

Em relação a esse decreto, o que ocorre é que, embora os direitos dos cidadãos

tenham sido elaborados e proclamados, de fato não o são, postos em prática. Isso evidencia

a discrepância entre a idealização e a efetiva mudança de consciência social.

A V diretriz diz que se deve “ampliar as alternativas de inserção econômica da

P.N.E.E., proporcionando a ela qualificação profissional e incorporação no mercado de

trabalho. (...)”.

No artigo 28 diz:

§2°. As instituições públicas e privadas que ministram educação profissional deverão, obrigatoriamente, oferecer cursos profissionais de nível básico à pessoa portadora de deficiência, condicionando a matricula à sua capacidade de aproveitamento e não o seu nível de escolaridade. §3º. Entende-se por habilitação profissional o processo destinado a propiciar à pessoa portadora de deficiência, em nível formal e sistematizado, aquisição de conhecimentos e habilidades especificamente associadas à determinada profissão ou ocupação. Art. 29. As escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para tender às peculiaridades da pessoa portadora de deficiência, tais como: I – Adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico, equipamento e currículo; II – Capacitação dos recursos humanos: professores, instrutores e profissionais especializados e; III – Adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas, ambientais e de comunicação.

Quando se trata da inserção das P.N.E.E. nas empresas privadas, o art.36 do

mesmo decreto, diz que ele poderá ocorrer de duas formas:

- Colocação competitiva: o portador de deficiência será contratado diretamente

pela empresa;

- Colocação seletiva: a contratação poderá se dar de forma indireta, através da

contratação de seus serviços, mediante a intermediação de entidades beneficentes.

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De nada adianta o desenvolvimento econômico se toda riqueza dele resultante se

concentra nas mãos de uma pequena minoria privilegiada, como tem acontecido no Brasil,

que apresenta um dos mais tristes espetáculos de iniqüidade social.

Mas, se tratando da legislação, e desse quadro, acredita-se que a mesma

sociedade excludente, que mantêm essa estrutura social, política, econômica, cria também

uma reação contrária, que constitui as condições necessárias para sua superação. A

contradição social, educacional, política existe. A dialética está sempre presente na

história. Deve-se promover uma ruptura na representação das pessoas, principalmente as

deficientes, e vê-las com sua história, com seu rosto e seus enigmas, sua diversidade, para

que, com elas a nossa incapacidade de olhar conduza a uma educação de qualidade que há

tanto tempo lhes é negado.

A Lei Federal n° 8.213, de 24 de julho de 1991, no artigo 36, reserva de (dois por

cento) 2% a (cinco por cento) 5% de cargo de trabalho para pessoas portadoras de

deficiência habilitadas e/ou beneficiários reabilitados, em empresas com mais de 100

empregados, nas seguintes proporções:

I – Até 200 empregados 2%

II – De 201 a 500 3%

III – De 501 a 1.000 4%

IV – De 1.001 em diante 5%

Esta lei vai mais longe. Em seu parágrafo 1°, regulamenta que a dispensa de

trabalhar reabilitado ou de deficiente habilitado, ao final do contrato por prazo determinado

de mais (noventa) 90 dias, e a dispensa imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só

poderão ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

Para que haja uma integração de P.N.E.E. é necessário que esta ocupe o mesmo

espaço no trabalho das pessoas “não-deficientes” e não seja segregada, isolada num canto

da empresa.

Tem-se também a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o

apoio as P.N.E.E., sua integração social e sobre a Coordenadoria Nacional para Integração

da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). Aborda a tutela jurisdicional de interesses

coletivos ou difusos dessas pessoas e as responsabilidades do Ministério Público. Define

como crime, punível com reclusão, obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a qualquer

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cargo público, por motivos derivados de sua deficiência, bem como lhe negar, pelo mesmo

motivo, emprego ou trabalho.

Sassaki (1997, p. 69), afirma que as empresas devem conhecer as legislações e

também promover um contrato no processo de trabalho “inserir pessoas na empresa por

estarem capacitadas e não apenas para cumprir leis.”.

Percebe-se, que do ponto de vista legal, a partir de 1988 criaram-se mecanismos

para assegurar que o mercado de trabalho absorvesse as pessoas com deficiência. E esse

mesmo discurso oficial esconde a realidade excludente. Não pode se deixar de mencionar

que essa nova proposta de sociedade inclusiva, por meio do trabalho, foi deflagrada

especialmente pela Declaração de Salamanca, a qual proclamou, entre outros princípios, “o

direito de todos à educação (igualdade de oportunidades) independentes das diferenças

individuais”. Esta Declaração teve como referência a Conferência Mundial sobre a

educação para Todos. Cabe ressaltar as linhas mestras estabelecidas pela Constituição de

1988 foram regulamentadas pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei

n◦9.394/1996, que define educação e habilitação profissional e tratamento especial a

pessoas portadoras de deficiência e superdotados.

Da leitura que se faz da legislação, percebe-se que a educação e, especialmente, a

educação especial tem a finalidade de preparar as P.N.E.E. para o trabalho, sendo que a

vinculadora entre educação e trabalho é decorrente de influências da economia na

educação. Mas é necessário questionar esse objetivo para a educação especial,

principalmente tendo a compreensão do significado do trabalho na sociedade capitalista,

que é conferir ao capital uma aparência humanitária. Nesse sentido, a lógica capitalista do

lucro como um fim, faz com que se invista naquilo que garanta retorno imediato. Tendo

em vista estes aspectos, fica claro que o capitalismo sobrevive da exclusão e de realidades

contraditórias.

Marx, dizia em o Capital que o trabalho se apresenta enquanto mercadoria porque

produz valor de uso. Um trecho me parece pertinente para representar o trabalho sob a

ótica capitalista:

o único poder que os junta e leva a um relacionamento é o proveito próprio, a vantagem particular,os seus interesses privados. E justamente porque cada um só cuida de si e nenhum do outro, realizam todos, em decorrência de uma harmonia pré-estabelecida das coisas ou sob auspícios de uma previdência toda esperta, tão somente a obra de sua vantagem mútua, do bem consumo, do interesse geral (...) o antigo possuidor de dinheiro marcha adiante como capitalista, segue-o possuidor de força de trabalho como seu trabalhador; um cheio de importância,

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sorriso satisfeito e ávido por negócios; o outro, tímido, confrafeito, como alguém que leva a sua própria pele para o mercado e agora não tem mais nada a esperar, exceto o curtume. (MARX, 1983, p.145).

A razão diante do capital é que dá o real significado da Lei. Não é só a P.N.E.E.

que tem dificuldades em entrar no mundo do trabalho, mas também, qualquer a pessoa,

como os mais jovens, os mais velhos, os negros e os índios. O que se vê na sociedade atual

é a negação dessa liberdade pública, em nome da liberdade priva dos que dispõe de capital.

Observa-se que ao longo desta pesquisa, a liberdade é uma das questões

relevantes para o estudo da P.N.E.E. Liberdade entendida como exercício histórico, situada

num contexto, numa época, numa cultura, e que está permeada de relações de poder micro

e macro-políticas. Liberdade que supõe condições materiais, políticas, educacionais e

principalmente éticas para se realizar como manifestação de cidadania. Portanto, deve-se

assumir a vida de maneira mais ética, mais livre e mais humana.

2.4 AUTONOMIA

A história da organização da sociedade humana é sinalizada por um processo

contínuo de criação e recriação de categorização das pessoas. Esse processo, por se tratar

de atividades humanas, indica, implicitamente, intenções. Tendo em conta os fatores

econômicos, sociais, culturais e históricos, o ser humano constrói sua identidade nas

relações que estabelece consigo mesmo e com outros seres, ao mesmo tempo em que

transforma a sociedade e por ela é transformado.

Observa-se que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica

as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos

esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na

diversidade, assumindo de um outro modo às diferenças.

Sassaki (1997) discute que autonomia e independência, embora sejam sinônimos

segundo os dicionários, tem significados diferentes para P.N.E.E.. Autonomia é a condição

básica que pertence a um indivíduo sob seu meio físico e social, defendendo ao máximo a

privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. Independência é a capacidade de decidir

sem depender de outras pessoas. Isso significa que o P.N.E.E. pode não ser totalmente

autônomo num certo ambiente físico, mas ao mesmo tempo pode ser independente na

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decisão de pedir ajuda a alguém e na decisão de orientar sobre como prestar essa ajuda.

Portanto em qualquer ambiente (na escola, no trabalho, em casa, etc.), o P.N.E.E. pode agir

com autonomia e independência, simultaneamente.

Freire (1998, p.35), “não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e

que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a

ele algo que fazemos.”. Para o autor “(...) A assunção de nós mesmos não significa a

exclusão dos outros.” (p.46).

Freire, 1998 (p. 60) comenta:

O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História.

O autor enfatiza que ser objeto da história significa sermos sujeitos iguais,

verificar a cultura, a política, não para me adaptar, mas sim para mudar. Não deve haver

discriminação, pois esta prática fere a dignidade do ser humano. Deve-se assumir a

identidade cultural de cada um. O respeito pela autonomia9 é exigida pela ética. Cada um

possui particularidades e pensamentos que não podem ser minimizados ou ridicularizados.

Para Freire, (1998, p. 120) “Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A

autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo

tomadas.”. No que se refere a essa questão, o que realmente importa, é a preocupação por

parte da sociedade e da população de uma forma geral, em dar ao P.N.E.E. o afeto e todo o

respeito que ele necessita para que possa desenvolver todas as suas habilidades.

Em textos de Lane (1996) e Sawaia (1996), por exemplo, nomeiam-se os

substantivos “autonomia” e “auto-organização”, referindo-se ao poder de decisão de um

grupo no contexto comunitário, a organização de “grupos que se tornem conscientes e

aptos a exercer um autocontrole de situações de vida através de atividades cooperativas” e

transformadoras, para o qual é necessário o entendimento das relações de poder que se

constituem no cotidiano e o resgate da subjetividade, (LANE, 1996). Isto parece fazer

alusão ao que em outros casos estaria sendo denominado como autogestão – e incorpora

domínios como subjetividade e relações de poder.

9 Para Freire, (1998, p.121) “A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é

vir a ser. Não ocorre em data marcada.”.

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Guareschi (1997) é mais claro nos seus argumentos. Para ele, todo projeto

empreendido junto com grupos de uma sociedade (seja esta de qualquer classe social,

religião, raça etc.) deve incluir além do diálogo e a partilha de saberes, a garantia de

autonomia das próprias sociedades. Afinal, são eles que lá vivem, e que continuar a viver.

Quem vai por um tempo, para prestar um serviço, para partilhar seu saber, não pode retirar

das sociedades essa prerrogativa fundamental de liberdade10 e autonomia. O autor aponta

que o processo de intervenção deve assegurar a autonomia dos indivíduos para tomar as

decisões. Portanto não se pode pensar no desenvolvimento da autonomia de P.N.E.E. sem

avaliar a comunidade em que esta está inserida participando como agente

influenciador/influenciado. A P.N.E.E. em sua formação de individuo é resultado do desejo

de seus pais, professores, líderes religiosos e políticos, e pela forte influência dos meios de

comunicação. A autonomia assim, está ligada a capacidade e ao desempenho de uma

pessoa agir. A P.N.E.E. que age é uma pessoa capaz de pensar para superar obstáculos,

pois até mesmo encontrar as palavras certas no momento certo exige uma ação do próprio

pensamento.

Uma sociedade, assim, vivenciando suas dificuldades concretas, desenvolve na

sua vivencia, seus significados próprios como sendo um registro de sua memória social.

Mas apesar disto, as regras de ordem estrutural assemelha-se a modelos hegemônicos. Isto

é, há sempre um líder que decide e manda que centralize interesses. Há sempre alguém à

frente que decide ou delibera o que deve estar em pauta para ser decidido.

Participar, por sua vez, parece ser condição para a autonomia. De maneira tal que

a realidade é impressa em cada um diferentemente. Partindo desse pressuposto, observa-se

a necessidade de averiguar a posição que o P.N.E.E. ocupa na sociedade, suas atividades, a

criatividade e a capacidade de desempenhar tarefas. Penso que todo ser humano é dotado

de razão e consciência, lhe permitindo discernir o que é verdadeiramente bom e justo para

sua vida. E é no agir livre, em busca de sua realização, que expressamos o que nos é

próprio e exclusivo, o que constitui nossa dignidade e o sentido para a nossa vida.

Considerando o tempo e o espaço como fatores determinantes quando se trata da

inserção social, cabe a escola ou ao mercado de trabalho favorecer aos P.N.E.E. meios para

que possam se identificar como integrantes de um grupo.

10 Para Freire, (1998, p. 119) “A liberdade amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa

de seus direitos em face da autoridade dos pais, do professor, do Estado”.

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Pode-se dizer que a competitividade e a individualidade cada um por si e Deus

por todos, é uma ideologia de sobrevivência a qual não inclui o social como parte da vida.

Os excluídos não têm chances para competir e almejar pertencer ao grupo privilegiado, por

isso incorporam suas normas e crenças, toleram o desprezo, as injustiças e a

desumanização.

A Psicologia Social tem fundamental importância para nos ajudar a interpretar as

origens, as representações sociais e as relações grupais que compõe a exclusão. Para então,

buscar humanizar cada vez mais a vida, através do respeito à individualidade, das

capacidades humanas, das diferenças físicas, éticas, culturais e psicológicas sem que estas

constituam uma ameaça, mas sim possibilidades de explicar o mundo, porque nenhuma

verdade é absoluta. E assim, pode-se vivenciar o real significado de uma sociedade justa,

democrática e solidária.

O conceito de representação social tem sua origem na Sociologia e na

Antropologia, através de Durkhein e de Lévi-Bruhl, e segundo Jacques (1998) as

representações sociais são teorias sobre saberes populares e do senso comum, e revela-se

como uma teoria dinâmica e reflexiva, e, portanto inacabada, com a finalidade de construir

e interpretar o real.

Nesta perspectiva compreende-se que ainda nos dias atuais a compreensão sobre

P.N.E.E. encontra-se permeada por conceitos arcaicos, predominando ainda o

desconhecimento e o preconceito. E que as representações sociais nos auxilia a ter uma

visão prática e contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.

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3 METODOLOGIA

A realização dessa pesquisa implicou duas etapas. No primeiro momento foi

realizada uma revisão bibliográfica e no segundo momento foi realizada uma pesquisa

qualitativa de campo de caráter exploratório, utilizando a técnica de entrevista com

perguntas semi-estruturadas.

Com o objetivo de verificar quais as exigências que o mercado de trabalho

estabelece para as P.N.E.E., foi decidido realizar uma pesquisa qualitativa de descrição,

para juntar aos dados bibliográficos, pois, apenas os dados bibliográficos nem sempre são

suficientes para dar ao trabalho científico a credibilidade de que se precisa para alcançar os

objetivos.

Entende-se por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na

abordagem da realidade. Por tanto para se realizar qualquer pesquisa deve-se ter claro os

objetivos a serem tomados, partindo do pressuposto de que a pesquisa é uma atividade

básica, tornando-se um benefício para a ciência e para a sociedade na busca de uma

investigação e para a construção da realidade, ela vincula pensamento e ação. Mas para

isso ela precisa ter um método11, pois é impossível criar análises inspiradas sem discutir o

como fazer.

A pesquisa qualitativa surge da matriz da Antropologia e da Sociologia, mas

ganha espaço nos últimos 30 anos na Psicologia, Educação e a Administração de empresas,

pois traduz e expressa o sentido dos fenômenos do mundo social: entre teoria e dados,

entre contexto e ação. A pesquisa qualitativa tem como suporte filosófico a corrente

fenomenológica e a dialética.

De acordo com Chizzotti (2000), a fenomenologia porque imerge no cotidiano a

familiaridade com as coisas sensíveis a que se oculta os fenômenos. É necessário ir além

das manifestações imediatas para atrair e descobrir o sentido do que está necessariamente

na aparência. A dialética também insiste nessa relação dinâmica entre o sujeito e o objeto,

mas se propõe a compreender o sistema de relações que o constrói, o modo exterior do

sujeito, em que traduzem o mundo dos significados.

11 Segundo Demo “método é um instrumento, caminho, procedimento, e por isso nunca vem antes da concepção de realidade. Para se colocar como captar, é mister ter-se idéia do que captar”. (DEMO, 1997, p.24).

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Para Chizzotti (2000, p. 79),

O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo do conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerente e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares de cada sujeito,

portanto, da ênfase nas ciências sociais que não pode ser quantificado, ou seja, trabalha

com o conjunto de todos os significados do sujeito (crenças, valores e atitudes) o que

corresponde a um espaço mais profundo das relações, que não pode ser reduzidos a

condições flexíveis. A pesquisa qualitativa tem como método de trabalho um agrupamento

de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor

compreensão dos fenômenos. Caracteriza-se, por priorizar um ambiente natural como

fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, se preocupa com o

significado que as pessoas dão as coisas e a sua vida, portanto trata-se de um enfoque

indutivo com caráter descritivo.

Segundo Lakatos (1992), o enfoque indutivo é aquele cuja aproximação dos

fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das

constatações mais particulares as leis e teoria (conexão ascendente).

É de caráter descritivo, pois o pesquisador busca conhecer e interpretar a

realidade, sem nela interferir para modificá-la. E segundo Rudio (2000, p. 56), “a pesquisa

descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-lo,

classificá-los e interpretá-los”. Ou seja, para se alcançar os resultados, a pesquisa deseja

conhecer a natureza, a composição, os processos que o constituem ou nele se realizam. É

também uma forma adequada para poder entender a relação de causa e efeito do fenômeno

e consequentemente chegar a sua verdade e razão.

3.1 SUJEITOS

Esta pesquisa foi realizada com uma amostra de (cinco) 5 pessoas “ditas normais”

que exercem as seguintes funções: Agerato Assistente Administrativo, Bellis fiscal de

caixa, Dahlia encarregada, Sálvia fiscal de caixa e Petúnia operadora de caixa, todos estes

trabalham diretamente com a P.N.E.E. O que configura uma amostragem intencional e não

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probabilística. A amostra intencional é aquela em que o pesquisador através de uma

técnica adequada, consiga escolher uma amostra mais representativa, ou seja, aqueles

funcionários/empregadores que mais se situam no problema de pesquisa. Isso serve para o

pesquisador obter idéias de uma dada situação.

3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

A pesquisa teve como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-

estruturada (apêndice 1), que foi realizada individualmente com a utilização de um

gravador, para estudo do público alvo (empregador/funcionário). Segundo Lakatos, (1992,

p.107) “A entrevista é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica;

proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária”. As perguntas

serviram como um roteiro e foram direcionadas aos empregadores/funcionários com uma

linguagem clara. A entrevista é uma técnica essencial que permite o desenvolvimento de

uma estreita relação entre as pessoas, na qual determinada informação é transmitida de

uma pessoa a outra.

Elegeu-se pela entrevista semi-estruturada porque esta aborda temas complexos

com maior profundidade e veracidade, permite correções, esclarecimentos e adaptações,

essencialmente porque evita o uso de estatísticas. A entrevista como técnica de coleta de

dados oferece várias vantagens, como pode ser utilizada com todas as partes da população:

analfabetos ou alfabetizados; há uma flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou

esclarecer perguntas; oferece oportunidades para o pesquisador avaliar atitudes, reações

condutas, podendo assim ser observado naquilo que diz e como diz etc. Foi necessário ao

realizar as entrevistas um vocabulário adequado por parte do pesquisador e um maior

conhecimento prévio sobre o tema da entrevista. Observou-se a atenção flutuante

(comunicação não verbal), e o pesquisador assumiu uma postura neutra, procurando ser o

mais objetivo possível (captar o real).

Para analisar os dados foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo, pois esta

capta as representações subjetivas do sujeito/participante. De acordo com Chizzotti (2000),

a análise de conteúdo tem por objetivo compreender decisivamente o sentido das

comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas.

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Por meio da pesquisa qualitativa, foi alcançada uma compreensão detalhada dos

significados e características situacionais, fundamentais nas interações interpessoais, e foi

necessário utilizar a pesquisa exploratória porque esta buscou levantar aspectos da

realidade, o aprimoramento das idéias e se aprofundar a fundo no conhecimento a respeito

do universo pesquisado e as características de determinada população, com o

estabelecimento das relações entre as categorias.

Dessa forma foi possível investigar com mais entendimento quais as dificuldades

e barreiras encontradas por essas pessoas, já que são de grande importância para a

realização desta pesquisa.

3.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

As considerações éticas deste estudo estão fundamentadas na Resolução nº. 196,

de 10/10/1996, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi submetido à aprovação da

Comissão de Ética em Pesquisa (CEP), da UNIVALI.

Ainda resta assinalar que esta investigação foi resultado de um momento de

aprendizagem, por isso mesmo, sujeito a ganhos e a dúvidas que fazem parte deste tipo de

processo.

Foi necessário que o processo de coleta e análise de dados fossem dignos de

confiabilidade, tendo em vista assim a credibilidade/competência para a realização da

pesquisa. Fez-se útil para o resultado desta pesquisa que todos os sujeitos pesquisados

fossem participantes ativos nessa pesquisa, pois a partir desses conhecimentos

sistematizados e coletivamente criados se elegerá uma estratégia a fim de lidar com as

ações inadequadas e com soluções de problemas insatisfatórios desses sujeitos.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, com perguntas

fechadas e abertas. Foram entrevistados (cinco) 5 pessoas “ditas normais” que exercem as

seguintes funções, Agerato Assistente Administrativo, Bellis fiscal de caixa, Dahlia

encarregada, Sálvia fiscal de caixa e Petúnia operadora de caixa, todos estes trabalham

diretamente com a P.N.E.E.

Para alcançar todos os objetivos propostos apresentados nesta pesquisa,

inicialmente precisou-se mapear as condições da empresa, de modo a alcançar as respostas

desejadas. Cada etapa de ida ao campo/empresa foi muito importante, pois possibilitou o

contato direto com a realidade da P.N.E.E. em seu ambiente de trabalho. A observação

caracterizou-se pelo contato formal com o campo, onde se pode constatar o caminho da

inclusão do P.N.E.E. na inserção no mercado de trabalho formal. Esse contato e

experiências foram relevantes para o prosseguimento da pesquisa.

Inicia-se a análise de dados retomando as entrevistas realizadas com os

funcionários da empresa, e que segundo Rudio (2000, p. 103) “a interpretação vai consistir

em expressar o verdadeiro significado do material...”.

Os funcionários entrevistados definem a importância da P.N.E.E. no mercado de

trabalho formal. (apêndice 2: quadro demonstrativo).

4.1 QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL: PERSPECTIVA HISTÓRICA

Esta etapa trata-se de uma discussão procurando explicitar a compreensão na

concretude da empresa, o exercício foi o de observar, na vigência das leis e do discurso dos

funcionários integrantes desta pesquisa, como se efetua e se encontra a empresa em relação

aos empregadores P.N.E.E.

Neste sentido, buscaram-se esclarecer o que os funcionários entendem por P.N.E.E.

Quais suas representações a respeito dessa temática. Visto que a Teoria das Representações

Sociais é uma forma sociológica de Psicologia Social, é um fenômeno psicossocial. E

segundo Guareschi (1995) “somente vale a pena estudar uma representação social se ela

estiver relativamente espalhada dentro da cultura em que o estudo é feito.”. Isso significa

dizer que a teoria das representações sociais serve para obter uma compreensão dos

fenômenos coletivos.

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Quando são perguntados aos funcionários sobre o que você entende por P.N.E.E., os

funcionários relataram:

“A pessoa não é assim por que quer, já nasceu assim, eles são assim é por que

eles já nasceram assim, eu posso ser normal porque que eu posso não querer ser normal,

mas eu acho que eles merecem a mesma chance assim né, oportunidade, eu acho que eles

tem capacidade pra fazer o que eles fazem, pra empacotar com certeza isso aí eles fazem

direitinho.”(Petúnia)

“Entendo que eles são pessoas diferentes, tem que ter mais cuidado pra

conversar, tem uns que são agressivos, tem que saber conversar com eles...” (Sálvia)

“Eu entendo que não é opção dela, entendeu. Mas eu acho pra ela é bem difícil,

porque ela não consegue conversar, contar as coisas... É complicado porque nem sempre

a família tem o tempo disponível né, de levantar todo dia de manhã, levar ele pro

emprego... Ela não tem consciência assim boa.” (Dahlia)

A falta de alternativas de atendimento adequadas para a P.N.E.E. pode contribuir

para o afastamento dos funcionários em relação ao P.N.E.E., pois ao terem uma visão

simplista de que os comportamentos inapropriados possam exibir o resultado direto de sua

deficiência.

De acordo com Amaral (1994), o baixo nível de funcionamento e adaptação

social destes indivíduos não provém apenas de fatores internos, mas sobretudo da falta de

comportamentos apropriados no seu repertório, devido ao tipo de sociabilidade e educação

que eles receberam, principalmente a maneira estereotipada como são tratados pelos

demais.

Considerando o tempo e o espaço como fatores determinantes quando se trata da

inserção social, cabe a empresa favorecer aos P.N.E.E. meios para que possam se

identificar como integrantes de um grupo. Do mesmo modo, é preciso que os funcionários

possam entender as relações que os P.N.E.E. estabelecem no meio físico e cultural, além

de reconhecerem e entenderem a diversidade existente num ambiente de trabalho.

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Observou-se que os funcionários têm uma visão padronizada de homem, ou seja,

os funcionários definem padrões normais ou estigmatizados. Assim, uma pessoa é

considerada normal quando atende aos padrões previamente estabelecidos.

Isso fica expresso no relato de Dahlia12:

“...todas as pessoas percebem que ela tem problema né. O cliente, todos né.”

Na aplicação das entrevistas, pude sentir de perto que alguns funcionários

apresentaram dificuldades em responder esta pergunta.

4.2 O MERCADO DE TRABALHO

Outro aspecto abordado é o mercado de trabalho.

Segundo Nunes et al. (1998, pg. 97).

o trabalho é uma das principais vias de normalização e integração social,... uma das tarefas ou metas básicas da educação de jovens e adultos P.N.E.E. é capacitá-lo para exercer uma atividade profissional, e auxiliá-lo em sua inserção no mercado de trabalho, formal ou informal.

É através do trabalho que a P.N.E.E. pode demonstrar suas potencialidades e

competências, e construir uma vida mais independente e autônoma.

As respostas referentes à seleção de pessoal são coerentes com as respostas

referentes ao recrutamento de pessoal, em que as P.N.E.E. concorrem às mesmas vagas e

são submetidos aos mesmos testes de seleção que os outros funcionários.

Quando perguntado para “Agerato” se há seleção de candidatos para a entrada sua

e da P.N.E.E.

“Eles são sim convidados a participar do treinamento também, mas a gente

convida, não exige que eles compartilham desse treinamento. Se eles não acham

necessário realmente participar eles não participam. É isso que a gente deixa bem claro

pra eles.”

12 Serão utilizados pseudônimos (Nomes de Flores) com a finalidade de preservar os sujeitos da entrevista.

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Segundo Nunes et al. (1998, p. 89) “... o indivíduo com deficiência é percebido

como passível de aprender e ser educado”. Isso demonstra que há uma necessidade de

maior conhecimento sobre a deficiência, para então fundamentar a prática profissional.

O setor de Rh (recursos humanos) da empresa não está preparado para se

relacionar com pessoas deficientes no ambiente de trabalho. Pois o que chama a atenção é

que a maior parte, de senão todos, das vagas preenchidas por P.N.E.E. não foram

submetidas a testes de seleção.

Segundo Sassaki, (1997) para promover uma efetivação adequada do P.N.E.E. no

mercado de trabalho é preciso adequar a instituição/empresa ao grupo que se propõe

trabalhar, considerando todas as características dos P.N.E.E., dos funcionários e do

ambiente onde o trabalho vai se efetivar.

Agerato segue em seu discurso:

“Porque não é porque tem uma pessoa que não fala, não escuta, que ela não tem

qualificação, pelo contrário, muitas vezes tem muito mias qualificação do que outra

normal. Então eu acho muito importante a empresa ter essa cota, de contratação dos

especiais. Inclusive eu achava até mesmo que não deveria existir, um número X, cada vez

mais especiais que entrassem seriam melhor, na minha opinião, particular”

O processo de seleção e recrutamento para P.N.E.E. deve ser o mesmo adotado para

todas as pessoas e não específico para P.N.E.E. Portanto deve-se utilizar a mão-de-obra da

P.N.E.E. e de outro lado, utilizar a qualificação da mão-de-obra. Ou seja, as vagas

oferecidas pela empresa, podem ser respondidas por todas as pessoas com algum tipo de

deficiência, seja ela, P.N.E.E., deficiência visual, deficiência auditiva. Portanto não é

função da empresa procurar pessoas deficientes para recrutar, mas sim as pessoas

deficientes é que devem procurar as empresas que estão oferecendo vagas, a semelhança de

outras pessoas.

Agerato continua:

“a gente entra em contato com a Fundação Catarinense de Educação Especial,... A

gente pede que seja contratado através de seleção deles,... a quantidade de funcionário a

gente determina pra eles, e a avaliação desse funcionário é feita por eles.”

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O processo de inclusão ocorre a partir de contratação indireta mediante entidade

beneficente, e de acordo com Sassaki (1997) as P.N.E.E. encaminhados por entidades

especializadas são geralmente aquelas que foram preparadas para a vida de trabalho.

Quando foi perguntado sobre se ele (funcionário) recebeu alguma

orientação/capacitação para se relacionar com a P.N.E.E., à resposta de Petúnia foi:

“A menina já é mais debilitada né, já tem mais dificuldade. O menino já é mais

esperto. Quando eu peço uma coisa e eu vejo que ela não entendeu daí eu vou né, não

adianta ela ir e não saber o que fazer né. Só pelo olhar a gente já ver se entendeu ou não.”

Segue seu discurso...

“As vezes eu peço para ela entregar alguma coisa né, nas prateleiras, ela vai

assim... com dificuldades, não sei de ... daí eu não acontece com ela assim né. Não sei se

ela não sabe, mas acho que a pessoa entrou pra fazer aquilo ali, ela acostumou fazer

aquilo ali.”

Já Sálvia relata:

“Pelo menos pra mim, nunca ninguém falou nada.”

Esta pesquisa demonstrou que os funcionários não foram submetidos a quaisquer

tipo de treinamento para se relacionarem com os funcionários com algum tipo de

deficiência.

Um outro dado importante é que a empresa não desenvolve trabalho integrado de

treinamento em conjunto com entidades de formação profissional.

O quadro abaixo expressa as atividades desenvolvidas pelos funcionários com

algum tipo de deficiência (deficiência mental, deficiência visual, deficiência auditiva,

deficiência física) oferecidos pela empresa.

Operador Empacotador Repositor

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E quando perguntado como a empresa avalia o desempenho da P.N.E.E. no trabalho

realizado, Dahlia responde:

“Hoje, por exemplo, o desempenho... como eu tenho duas pessoas, eu vejo que uma é

muito lenta, se fosse pra analisar ela não tem desempenho, o que acho que tem 30%, 40%

no máximo, ela não tem desempenho. Já o Paulo já tem, eu acredito já quase 100%. Não

posso chamar a atenção, porque por mais que eu converso com ela, ela não entende... o

trabalho da Paulinha não é aquele trabalho perfeitinho, ela tem muita dificuldade em

entender as coisas.”

Já Petúnia:

“A gente nem procura chamar a atenção deles por que eles são bem sensíveis, por que se

tiver que chamar atenção principalmente da menina que trabalha aqui ela é bem sensível,

e se chamar atenção eu acho que, eu pelo menos nunca chamei a atenção de nenhum dos

dois, mas acho se chamar, capaz de ela sair chorando e ir embora.”

As respostas são muito relevantes, pois reforçam a falta de informação sobre a

capacidade de força de trabalho da P.N.E.E. Mas por outro lado, afirmam que os demais

funcionários estão preparados para trabalharem, lado a lado, com as pessoas com algum

tipo de deficiência.

Bellis enfatiza:

“Não, me dou bem com eles, se tiver que chamar a atenção eu chamo...”.

“Como se estivessem com pessoas normais, todo mundo conversa com elas.”

Já Dahlia: “É mais uma troca de trabalho e de carinho também, porque a gente sabe que é difícil.”

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Segundo Sassaki, (1997, p. 65):

Uma empresa inclusiva é, então, aquela que acredita no valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, implementa adaptações no ambiente físico, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho, treina todos os recursos humanos na questão da inclusão etc.

A pesquisa demonstrou que a empresa pesquisada não exige uma formação

qualificada para a inserção da P.N.E.E. no mercado de trabalho, pois compete esses

cuidados a entidade beneficente. A empresa não exige nível mínimo de escolaridade,

currículo, nenhum curso específico na área, tempo de serviço, antecedentes de outros

trabalhos, para inserção da P.N.E.E. na empresa.

4.3 QUESTÕES LEGAIS

Neste sentido, buscou-se analisar os efeitos da legislação sobre a empresa em

relação ao P.N.E.E. Notou-se que o movimento é complexo e contraditório, que tem de ser

compreendido de forma mais abrangente.

As opiniões se dividiram nesta etapa. Foi perguntado para cada funcionário

entrevistado porque você acha que a empresa contrata P.N.E.E.?

“É aqui eu acho que têm três que é obrigatório três. Tinha quatro, mas um foi lá

para o Jardim Atlântico.” (Sálvia)

“Eu acho que é contratado baseado numa lei. São obrigado a contratar, fora isso

eu acho que eles não contratariam. Eu acho que é isso, acho que tem que ter uma

porcentagem e dependendo do número de funcionário tem que ter uma porcentagem de

deficiente né. É uma lei, acho que é mais ou menos por isso.” (Petúnia)

“Sei lá, está dando uma chance pra não discriminar.” (Bellis) “Olha, para ser bem sincera, eles contratam eu acho porque é lei né. É pela lei de cotas,

eu acho que é por isso. Porque senão eles não contrataria”. (Dahlia)

As respostas indicam que desconhecem a legislação, a começar pela Lei Federal n◦

8.212, de 24 de julho de 1999, que confere de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento)

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de cargo de trabalho para pessoas portadoras de deficiência habilitadas e/ou beneficiários

reabilitados, em empresas com mais de 100 empregados.

Para esclarecer essa questão é relevante notarmos, como se observa na Lei Federal

sobre os benefícios da Previdência Social e dá outras providências:

Subseção II-da habilidade e da reabilitação profissional. Art.89- A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de deficiências, os meios para a (re) educação e de (re) adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive: Art. 93- A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I até 200 empregados – 2% II de 201 a 500 – 3% III de 501 a 1000 em diante – 5% § 1º. A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. (BRASIL, 2000).

O que se percebe é que do ponto de vista legal, é que esta oferece mecanismos

para assegurar P.N.E.E. no mercado de trabalho formal. Ocorre que, embora os direitos dos

cidadãos tenham sido elaborados e proclamados, de fato não o são, postos em prática. Isso

evidencia a discrepância entre a idealização e a efetiva mudança de consciência social.

Instiga-se que esta oportunidade de inserção da P.N.E.E. no mercado de trabalho

permita que surja a imagem de competência da P.N.E.E., viabilizando um vasto papel

modificador de atitudes. Nesse sentido, percebe-se a partir desta pesquisa, que a empresa

pesquisada não está construindo uma mudança significativa no encaminhamento da

questão da P.N.E.E.no mercado de trabalho, redirecionando-a para o patamar da eficiência,

da igualdade e da inclusão social.

Nesse sentido o discurso da inclusão tem sido feito e debatido no âmbito das

Ciências Humanas e Sociais. O propósito aqui é contextualizá-lo, partindo do princípio de

que a proposta de inclusão só se justifica porque vivemos numa sociedade excludente.

(LANCILLOTTI,2000).

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4.4 AUTONOMIA

Quando se fala em autonomia, é relevante notarmos que este é um processo de

consensos (valores, políticas e princípios), e que este visa priorizar o princípio de inclusão.

Segundo Sassaki (1997, p. 36), “a autonomia é a condição de domínio no ambiente

físico e social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a

exerce”.

Ter autonomia para a P.N.E.E. é ter maior ou menor controle no ambiente físico e

social em que ela necessite freqüentar/executar seu trabalho/objetivo. Cabe então a

sociedade e ao mercado de trabalho eliminar todas as barreiras físicas para que as P.N.E.E.

possam ter acesso aos serviços, lugares, informações e bens necessários ao seu

desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional.

Sálvia relata que:

“Inclusive eu trabalho direto com a menina, aquela que tem problema. As

pessoas assim reclamam bastante, a maioria do pessoal, pra trabalhar com essas pessoas

precisa ter paciência, eu tenho né. Não que eu queira falar mal, mais eu tenho paciência

com essas pessoas, mas nem todas as pessoas tem. Eu trabalho com uma direto. É só que

as meninas meio que... diz como é que tu agüenta, como tu consegue, do jeito que a gente

tem que ter assim uma paciência, mas eu acho que não é nada demais, assim né... eu acho

que cada um tem que ter uma chance. Eles são assim um pouco... a gente fala com eles e

eles não entende a gente, não sei se eles não entendem, ou não querem entender ou pede

para fazer um favor e eles não fazem, pelo menos a menina que trabalha comigo.”

Segundo Freire (1998, p. 60):

O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história.

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Agerato explicita:

“A deficiência dele não impede de ele ser um bom profissional. Basta ele ter força de

vontade, e também ter lá desde a infância um acompanhamento familiar, um incentivo

familiar. Senão não adianta... A qualificação dele pode ser melhor ou igual aquela pessoa

que tem o corpo perfeito.”

Segundo Amaral (1995) enfatiza que a forma como os pais percebem a deficiência

dos filhos e as atitudes que tomam em relação a ele, são decisivas para seu posterior

desenvolvimento e integração social.

Os dados apontaram para a necessidade de se incluir discussões a respeito das

P.N.E.E., pois se notou uma carência de conhecimento básicos (teórico e prático) em

relação a estes indivíduos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sempre que se encerra um trabalho, seja ele grande ou pequeno, procura-se fazer

uma avaliação de tudo aquilo que se previa no início deste. As expectativas, os anseios, as

atitudes. Enfim, tudo o que aconteceria ao logo da caminhada.

No início, põe-se dizer que os objetivos foram alcançados, se não em sua totalidade,

mas ao menos em sua grande maioria, o que revela mudanças no modo de pensar e agir.

Educação, direito de todos. Procurei compreender como o mercado de trabalho está

visualizando a inclusão de pessoas com necessidades educacionais (P.N.E. E), vista esta a

partir da organização predominantemente capitalista em que estamos inseridos. Pois numa

época em que a economia é basicamente financeira, os investimentos diminuem e o

desemprego aumenta. O emprego, então se torna um bem raro. E a educação já não está

sendo um meio tão seguro e tão claro de ascensão social.

Essa, entre tantas ações, muitas vezes é vista pela instituição como desnecessárias.

E também pela falta de uma política global responsável, coerente com a demanda e as

necessidades atuais, impedindo que ocorram progressos significativos, especialmente

voltados para o atendimento da P.N.E.E.

Ao mesmo tempo não podemos deixar de frisar que uma instituição/empresa deve

contar com o devido apoio e comprometimento dos familiares e da comunidade, para que

junto dos profissionais possam estar auxiliando a P.N.E.E. no seu desenvolvimento global.

Para que isso se efetive, não basta ter claro o papel dos profissionais e ações que

devem permear os mesmos. É necessário mostrar aos políticos e governantes a importância

da inclusão do P.N.E.E. no mercado de trabalho para a sociedade como um todo. Para que

se invista em uma formação de qualidade aos profissionais, bem como a reciclagem

daqueles que já atuam na profissão, tornando-os capazes de responder ao P.N.E.E. todas as

suas necessidades, não importando a etapa e o ambiente em que se encontram.

A inserção do P.N.E.E. nas atividades da empresa representa um amplo alcance,

tornando possível novas posturas nas relações pessoais, profissionais e, isso se dá na

convivência com a diferença e com a possibilidade de superação que a deficiência pode

ensinar. Entende-se que se deve promover uma ruptura na representação das P.N.E.E. e vê-

las com sua história, com seu rosto e seus enigmas, sua diversidade, para que, com elas a

nossa ‘incapacidade’ de olhar conduza a uma educação de qualidade que há tanto tempo

lhes é negado.

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A preparação dos funcionários para receber a P.N.E.E., e um melhor

acompanhamento e supervisão dos profissionais, também fica de recomendação a partir

desta pesquisa, pois entende-se que a constituição do sujeito se dá nas múltiplas interações

com o meio socialmente e culturalmente formado.

Nesse sentido a empresa ou mercado de trabalho como um todo, deve ser

reconhecida como um processo pelo qual o ser humano e a sociedade podem desenvolver

suas potencialidades. O mercado de trabalho tem fundamental importância na promoção do

desenvolvimento social e pessoal da P.N.E.E., pois possibilita mais do que uma

qualificação para o trabalho, tornam-se cidadãos críticos e livres para escolherem o que for

melhor para as suas vidas.

A contribuição deste trabalho para a Psicologia foi mostrar a importância que tem o

mercado de trabalho para P.N.E.E., já que estes pertencem a uma área educacional especial

onde se constitui o alicerce do desenvolvimento humano. Devendo salientar, que disto

depende a P.N.E.E., a realização do seu aprendizado e a construção da sua personalidade.

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REFERÊNCIAS

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Paulo: Memnon, 1997.

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________________ Metodologia cientifica: ciência e conhecimento cientifico, métodos

científicos, teoria, hipóteses e variáveis, metodologia jurídica. 3 ed. São Paulo: Atlas,

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MANTOAN, Maria Teresa Égler. Caminhos pedagógicos da inclusão. 2002. (Educação

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SASSAKI. R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 2. ed. Rio de Janeiro:

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www.apaebrasil.org.br retirado no dia 21 de outubro de 2005.

www.ibge.gov.br retirado no dia 14 de outubro de 2005.

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www.senac.br retirado no dia 25 de setembro de 2005.

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BIBLIOGRAFIA

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GUARESCHI, P. A. Sociologia crítica: alternativa de mudança. EDIPUCRS, 52 ed. Porto

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LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia cientifica / Eva Maria Lakatos, Marina

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SUGESTÕES DE LEITURA

BRASIL, Constituição de 1988: texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com as

alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais n◦ 1/1992 a 30/2000 e Emendas

Constitucionais de Revisão n◦ 1 a 6/1994 – Ed. Atual. Em 2000- Brasília: Senado Federal,

Gabinete do 4º. Secretário, 2000.

LEI, N°8.213, de 24 de julho de 1991- DOU de 14/08/98- (atualizada até julho/2005.

Disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm#t2

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Secretaria de Inspeção do trabalho.

Instrução normativa N°20, de 26 de janeiro de 2001. p. 1 de 2, 2 de 2. Disponível em:

http://www.tem.gov.br/Temas/FiscaTrab/Legislacao/instrucoes/conteudo/in20.asp?Acao...

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 6. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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www.presidencia.gov.br/ccivil_03/Leis/L7853.htm

Projeto de lei que institui o Estatuto do Portador de deficiência. Disponível em:

http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=142&secao_id=106&pag=4

RESOLUÇÃO CNE/CEB N° 2, DE 11DE SETEMBRO de 2001. Disponível em:

http://www.mec.gov.br/cne/pdf/CEB0201.pdf

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APÊNDICE 1

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Entrevista semi-estruturada

Entrevista a um empregado/funcionário da empresa

Dados de identificação:

Nome da empresa.

Qual seu nome?

Sexo.

Qual seu cargo?

1- Que atividades você desempenha no seu cargo?

2- Você gosta do que faz?

3- Como você desempenha seu trabalho?

4- Que habilidade envolve a execução de seu cargo?

5- Na sua opinião o que a P.N.E.E. desempenha dentro da instituição?

6- Você acha que ela (P.N.E.E.) realiza as tarefas propostas pelo cargo?

7- Você acha que a P.N.E.E. tem um cargo fixo?

8- Houve seleção de candidatos para a entrada sua e da P.N.E.E.?

9- Qual é o nível de exigência imposto para a contratação da P.N.E.E.?

10- Porque você acha que a empresa contrata P.N.E.?

11- A contratação da P.N.E.E. está relacionada com a lei de cotas?

12- A empresa oferece ou tem curso de capacitação profissional?

13- O processo de recrutamento, seleção e treinamento são o mesmo para todos?

14- Para você quais as dificuldades em se contratar mão de obra de P.N.E. no mercado

de trabalho formal?

15- Como é visto a inclusão da P.N.E.E. no mercado de trabalho formal nessa

instituição?

16- O perfil profissional da P.N.E.E. corresponde ao perfil do cargo da empresa?

17- Qual é o comportamento dos funcionários em geral no relacionamento com o

P.N.E.E.?

18- Você, ou os outros funcionários, receberam algumas orientações/capacitações para

se relacionarem com a P.N.E.E.?

19- Como a empresa avalia o desempenho da P.N.E. no trabalho realizado?

20- Como é o relacionamento com os demais funcionários?

21- O que você entende por P.N.E.E.?

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APÊNDICE 2

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Quadro demonstrativo dos resultados das entrevistas com os empregadores/funcionários da

empresa

ENTREVIS

TADOS

O QUE ENTENDE POR P.N.E.E.

EXIGÊNCIA IMPOSTA PARA A CONTRATAÇÃO DA P.N.E.E.

POR QUE VOCÊ ACHA QUE A EMPRESA CONTRATA P.N.E.E.

COMO É VISTA A INCLUSÃO DA P.N.E.E. NA EMPRESA

EM SÍNTESE

AGERATO

24 anos

Cargo: Assistente Administra tivo

“Existem deficientes com muita capacidade de exercer qualquer função dentro da empresa do que uma pessoa que tem o corpo perfeito. A deficiência dele não impede de ele ser um bom profissional.”

“A contratação dos especiais...o que a gente faz... a gente entra em contato com a Fundação Catarinense de Educação Especial... Então a quantidade de funcionário a gente determina pra eles, e a avaliação desse funcionário é feita por eles.”

“Existe uma cota, a lei de cotas de especiais, que são 5% encima do total de... aliais 2% encima do quadro total de funcionário de cada loja”.

“Não tem nenhuma reclamação dos especiais, inclusive eu acho que a empresa acaba fazendo a parte social, que é um ponto pra empresa com certeza.”

Considera que a P.N.E.E. pode realizar um trabalho dentro da empresa; Reconhece a Lei e os direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais; Cabe a entidade beneficente preparar a P.N.E.E. para o mercado de trabalho.

BELLIS

31 anos

Cargo: Fiscal de Caixa

“A gente nem procura chamar a atenção deles por que eles são bem sensíveis, e se chamar atenção eu acho que, capaz de ela sair chorando e ir embora. Se for pra pedir alguma coisa e vê que ela não quer fazer ela fica brava, mas fora isso...”

“Essa eu não sei de responder.”

“...é contratado baseado numa lei. São obrigado a contratar, fora isso eu acho que eles não contratariam... tem que ter uma porcentagem e dependendo do número de funcionário tem que ter uma porcentagem de deficiente.”

“Agora vejo que é normal. Eu vejo um pouco de gozação em relação a eles de certos funcionários, brincadeiras sem graças coisas assim. Agora não vejo mais isso, mas teve um tempo que havia, essa brincadeiras acho que diminuiu porque os deficientes diminuíram, só tem dois, mas antes tinha mais, e via um pouco de deboche, eles ficavam até bravos.”

Entende que a P.N.E.E. está limitada em desempenhar algumas atividades dentro da empresa.

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DAHLIA

47 ANOS

Cargo: Encarregada

“Eu entendo que não é opção dela...mas eu acho pra ela é bem difícil, porque ela não consegue conversar, contar as coisas... é complicado porque nem sempre a família tem o tempo disponível...”

“Eu não sei te responder diretamente. É como eu te falei, essa contratação é feita diretamente com a fundação.”

“... eu acho porque é lei. É pela lei de cotas, eu acho que é por isso. Porque senão eles não contratariam.”

“Eu acho que eles tratam de uma forma bem legal, todos tratam ele muito bem, com respeito. Pelo menos nós aqui dentro da empresa não tem problema nenhum. Acho que ninguém tem preconceito nenhum, não. Todos trabalham tranqüilo.”

A P.N.E.E. é vista como limitada mentalmente, o que pode interferir no convívio social; Falta de informação sobre o perfil profissional da P.N.E.E; Acredita que não haja preconceito em relação a P.N.E.E. dentro da empresa.

SÁLVIA

22 anos

Cargo: Fiscal de Caixa

“Entendo que eles são pessoas diferentes, tem que ter mais cuidado pra conversar, tem uns que são agressivos, tem que saber conversar com eles...”

“Não sei dizer.”

“Sei lá, está dando uma chance pra não discriminar.”

“Eles enxergam normal, como se fosse qualquer pessoa normal”

Desconhece a Legislação, a começar pela Lei 8.212, de 24 de julho de 1991.

PETÚNIA

37 anos

Cargo: Operadora de Caixa

“A pessoa não é assim por que quer, já nasceu assim, mas eu acho que eles merecem a mesma chance, eu acho que eles tem capacidade pra fazer o que eles fazem, pra empacotar com certeza isso aí eles fazem direitinho.”

“A entrada do deficiente eu não sei como é, como eles fazem, entendeu. Eu não sei se eles entram junto com os outros ou se é separado, daí a gente não sabe.”

“Eu pra mim é obrigatório. Por isso que eles contratam”

“Eles tratam tudo igual, é tudo igual, pelo menos aqui nunca....”

Acredita que a P.N.E.E. está preparada para trabalhar lado a lado com os outros funcionários; Entende que a P.N.E.E. deva se alocar no mercado de trabalho, mas que o cargo deva competir as suas limitações.