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INCIDÊNCIA DE DOENÇAS EM ALFACE (Lactuca sativa L.) IRRIGADA POR ASPERSÃO NA REGIÃO DE ITABAIANA, SERGIPE Paula Maria Silva Passos 1 , Anderson Nascimento do Vasco 2 , Gláucia Barreto Gonçalves 3 , João Basílio Mesquita 4 , Luis Carlos Nogueira 5 1 Engenheira Agrônoma, ex-estagiária da UFS e da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected] . 2 Engenheiro Agrônomo, ex-estagiário da UFS e da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected] . 3 Professora do Departamento de Engenharia Agronômica da UFS, [email protected] . 4 Professor do Departamento de Engenharia Agronômica da UFS, [email protected] . 5 Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected] . Apoio Financeiro: Projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, Instituto GBarbosa, DEG (Banco Alemão). Introdução As hortaliças são altamente sensíveis ao ataque de doenças, especialmente as de origem fúngica e bacteriana [1]. O cultivo de hortaliças é uma atividade agrícola de grande risco, pois além da maior incidência de problemas fitossanitários, as plantas apresentam maior sensibilidade às condições climáticas, entre outros problemas [2]. Via de regra, as doenças da parte aérea são mais favorecidas pelos sistemas de irrigação por aspersão, especialmente em regime de alta freqüência [1]. A produção de hortalçiças no estado de Sergipe depende irrigação. O município de Itabaiana possui dois perímetros irrigados (Jacarecica e Poção da Ribeira) e se destaca nessa atividade agrícola, principalmente em áreas de agricultura familiar [3]. Sua produção destina-se essencialmente às feiras e supermercados de todo estado de Sergipe, além de fornecer alguns produtos para outros estados [4]. Dentre as espécies cultivadas na região, há um predomínio das hortaliças folhosas, com maior produção da alface (Lactuca sativa L.), seguida do coentro (Coriandrum sativum L.), couve (Brassica oleraceae var. Acephala L.) e salsa (Petroselinum crispum Mill.) e algumas hortaliças fruto, como quiabo (Albemoshus esculentus (L.) Moench) e pimenta-de- cheiro (Capsicum baccatum L.). Dados de levantamento em campo permitem avaliar a importância de doenças, como também constituem o trabalho inicial para o desenvolvimento de projetos futuros de controle, epidemiologia, melhoramento e manejo integrado de doenças [5]. A água utilizada na irrigação pode servir de veículo de disseminação de doenças. O escorrimento superficial da água de chuva ou irrigação em uma campo infectado por bactérias patogênicas, por exemplo, pode contaminar fontes de água à jusante da área irrigada, principalmente aquelas superficiais, como tanques, represas, rios e riachos [1]. Este trabalho objetivou relatar os resultados do levantamento das doenças que ocorrem na alface (Lactuca sativa L.) cultivada nos perímetros irrigados de Itabaiana e as relações dessas doenças com as práticas de irrigação adotadas pelos agricultores. Material e Métodos Foram selecionadas 24 propriedades representativas das condições de manejo cultural de hortaliças irrigadas na região produtora de Itabaiana. O levantamento de fitodoenças foi realizado no período de agosto de 2007 a junho de 2009, por meio de visitas técnicas in situ e coleta de amostras de material vegetal para análise laboratorial. Os materiais vegetais supostamente atacados por agentes fitopatogênicos foram coletados em amostras de acordo com [6], e levados para avaliação, em laboratório. Foi realizado o registro fotográfico e feita a descrição da situação do problema observado em campo, visando auxiliar na identificação do organismo patogênico. No laboratório, os materiais com sintomas de doenças passaram por uma triagem para determinar a etiologia da doença. Inicialmente, foi avaliado se a doença era de natureza biótica, ou abiótica, por meio de análises de sintomas e sinais, em microscópio estereoscópico. Em seguida, foi averiguada a natureza fúngica, bacteriana, virótica, nematológica, ou de outras causas, pelo uso de exame direto, isolamento e testes de exsudação. Foram realizados testes de eficiência de irrigação, com a ajuda dos colaboradores do projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, para verificação das condições de aplicação de água dos sistemas de irrigação utilizados. Resultados e Discussão O problema fitossanitário mais frequentemente encontrado na cultura da alface, nas propriedades estudadas, esteve relacionado a manchas foliares circulares, pardacentas com o centro mais claro, sintomas característicos da Cercosporiose, causada por fungo do gênero Cercospora. Segundo [7], a Cercosporiose é uma

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INCIDÊNCIA DE DOENÇAS EM ALFACE (Lactuca sativa L.) IRRIGADA POR ASPERSÃO

NA REGIÃO DE ITABAIANA, SERGIPEPaula Maria Silva Passos1, Anderson Nascimento do Vasco2, Gláucia Barreto Gonçalves3,

João Basílio Mesquita4, Luis Carlos Nogueira5

1 Engenheira Agrônoma, ex-estagiária da UFS e da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected]. 2 Engenheiro Agrônomo, ex-estagiário da UFS e da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected]. 3 Professora do Departamento de Engenharia Agronômica da UFS, [email protected]. 4 Professor do Departamento de Engenharia Agronômica da UFS, [email protected]. 5 Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, [email protected] Financeiro: Projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, Instituto GBarbosa, DEG (Banco Alemão).

Introdução

As hortaliças são altamente sensíveis ao ataque de doenças, especialmente as de origem fúngica e bacteriana [1]. O cultivo de hortaliças é uma atividade agrícola de grande risco, pois além da maior incidência de problemas fitossanitários, as plantas apresentam maior sensibilidade às condições climáticas, entre outros problemas [2]. Via de regra, as doenças da parte aérea são mais favorecidas pelos sistemas de irrigação por aspersão, especialmente em regime de alta freqüência [1].

A produção de hortalçiças no estado de Sergipe depende irrigação. O município de Itabaiana possui dois perímetros irrigados (Jacarecica e Poção da Ribeira) e se destaca nessa atividade agrícola, principalmente em áreas de agricultura familiar [3]. Sua produção destina-se essencialmente às feiras e supermercados de todo estado de Sergipe, além de fornecer alguns produtos para outros estados [4].

Dentre as espécies cultivadas na região, há um predomínio das hortaliças folhosas, com maior produção da alface (Lactuca sativa L.), seguida do coentro (Coriandrum sativum L.), couve (Brassica oleraceae var. Acephala L.) e salsa (Petroselinum crispum Mill.) e algumas hortaliças fruto, como quiabo (Albemoshus esculentus (L.) Moench) e pimenta-de-cheiro (Capsicum baccatum L.).

Dados de levantamento em campo permitem avaliar a importância de doenças, como também constituem o trabalho inicial para o desenvolvimento de projetos futuros de controle, epidemiologia, melhoramento e manejo integrado de doenças [5].

A água utilizada na irrigação pode servir de veículo de disseminação de doenças. O escorrimento superficial da água de chuva ou irrigação em uma campo infectado por bactérias patogênicas, por exemplo, pode contaminar fontes de água à jusante da área irrigada, principalmente aquelas superficiais, como tanques, represas, rios e riachos [1].

Este trabalho objetivou relatar os resultados do levantamento das doenças que ocorrem na alface (Lactuca sativa L.) cultivada nos perímetros irrigados de Itabaiana e as relações dessas doenças com as práticas de irrigação adotadas pelos agricultores.

Material e Métodos

Foram selecionadas 24 propriedades representativas das condições de manejo cultural de hortaliças irrigadas na região produtora de Itabaiana. O levantamento de fitodoenças foi realizado no período de agosto de 2007 a junho de 2009, por meio de visitas técnicas in situ e coleta de amostras de material vegetal para análise laboratorial.

Os materiais vegetais supostamente atacados por agentes fitopatogênicos foram coletados em amostras de acordo com [6], e levados para avaliação, em laboratório. Foi realizado o registro fotográfico e feita a descrição da situação do problema observado em campo, visando auxiliar na identificação do organismo patogênico.

No laboratório, os materiais com sintomas de doenças passaram por uma triagem para determinar a etiologia da doença. Inicialmente, foi avaliado se a doença era de natureza biótica, ou abiótica, por meio de análises de sintomas e sinais, em microscópio estereoscópico. Em seguida, foi averiguada a natureza fúngica, bacteriana, virótica, nematológica, ou de outras causas, pelo uso de exame direto, isolamento e testes de exsudação.

Foram realizados testes de eficiência de irrigação, com a ajuda dos colaboradores do projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, para verificação das condições de aplicação de água dos sistemas de irrigação utilizados.

Resultados e Discussão

O problema fitossanitário mais frequentemente encontrado na cultura da alface, nas propriedades estudadas, esteve relacionado a manchas foliares circulares, pardacentas com o centro mais claro, sintomas característicos da Cercosporiose, causada por fungo do gênero Cercospora. Segundo [7], a Cercosporiose é uma

doença que não ocasiona a destruição da planta, mas prejudica seu valor comercial. O agente causal, Cercospora longissima (Sacc.) Cuccini, sobrevive nos restos culturais e, por isso, sempre se recomenda eliminá-los.

Verificou-se que a alface plantada em maior escala na região é a cultivar “Saia Veia”, do grupo lisa, também conhecida popularmente como “Orelha de Burro”. Durante o período de observação nas áreas de plantio, foi possível verificar a maior incidência da Cercosporiose em variedades de alface do grupo lisa, seguidas do grupo crespa e, por último, do grupo americana (Figura 1).

Foram encontradas plantas atacadas pelo mofo branco, causado pelo fungo Sclerotium rolfsii Sacc. (Figura 2), e por viroses que provocaram encarquilhamento e crescimento anormal das plantas, além de podridões bacterianas. Além das doenças, também foram detectadas plantas atacadas pelo nematóide das galhas Meloidogyne spp.

Pelos testes de eficiência de irrigação, verificou-se que há excesso de aplicação de água, o que implica em maiores gastos com energia elétrica. Verificou-se ainda que a infra-estrutura dos sistemas de irrigação é precária, não permitindo um bom controle das aplicações de água e nem de produtos químicos via água de irrigação, o que poderia contribuir para minorar os problemas fitossanitários.

Quanto ao equipamento de irrigação, verificou-se o uso do sistema de irrigação por mangueiras perfuradas a “laser” e do sistema de irrigação por aspersão convencional, com diferentes alturas de tubos de subida dos aspersores, incluindo adaptações de aspersores utilizados em jardins (Figura 3). Com isso, ocorrem problemas de uniformidade de distribuição de água, empoçamento e escorrimento superfical, que são prejudiciais ao cultivo e ao ambiente.

Conclusões e Recomendações

As doenças detectadas em alface cultivada na região de Itabaiana são, em grande parte, de origem fúngica, as quais são favorecidas por excesso de umidade e altas temperaturas. Muitas das doenças diagnosticadas poderiam ser evitadas com o controle do excesso de irrigação, eliminação de plantas doentes e utilização de sementes e mudas com melhor qualidade. São recomendados cursos de extensão rural de caráter intensivo e contínuo, visando melhorar o nível de treinamento dos agricultores da região.

Agradecimentos

Aos produtores de hortaliças do município de Itabaiana, integrantes do Projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, pela compreensão e gentil colaboração com os trabalhos realizados nas áreas de cultivo.

Referências Bibliográficas

[1] MAROUELLI, W.A. Controle da irrigação como estratégia na prevenção de doenças em hortaliças. A Lavoura. 2004. Disponível em: <http://www.sna.agr.br/artigos/651/HORTICULTURA.pdf. Acesso: 25 out. 2008.

[2] FILGUEIRA, F.A.R. Novo Manual de Olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2. ed. rev. amp. Viçosa: UFV. 2003. 412p.

[3] MELO, A. S.; COSTA, B. C.; BRITO, M. E. B.; AGUIAR NETTO, A. O.; VIÉGAS, P. R. A. Custo e Rentabilidade na Produção de Batata-doce nos Perímetros Irrigados de Itabaiana, Sergipe.Pesquisa Agropecuária Tropical. v. 39, n. 2, p. 119-123, 2009.

[4] SILVA, L.C.S. Olericultura e Trabalho Familiar em Itabaiana-SE. UFS: Aracaju-SE, 2001. (Dissertação, Mestrado, Geografia).

[5] POZZA, E.A.; SOUZA, P.E.; CASTRO, H.A.; POZZA, A.A.A. Freqüência da ocorrência de doenças da parte aérea de plantas na região de Lavras-MG. Comunicação. Revista Ciência e Agrotecnologia. v.23. n.4. 1999. Disponível em: http://www.editora.ufla.br/revista/23_4/art29.pdf. Acesso: 13/04/09.

[6] ALFENAS, A.C.; ZAUZA, E.A.V.; MAFIA, R.G.; ASSIS, T.F. Clonagem e Doenças do Eucalipto. Viçosa: UFV. 2004. 442p.

[7] KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E..A. Manual de Fitopatologia: Doenças das Plantas Cultivadas. 4. ed. São Paulo: Editora Agronômica Ceres LTDA, 2005. v. 2. 663 p. il.

(a) (b) (c)

Figura 1. Sintomas de cercosporiose (C. longissima (Sacc.) Cuccini) em alface lisa, detectados em Itabaiana, Sergipe: (a) Planta severamente infectada, (b) alface crespa e (c) alface americana. (Fotos: Paula Maria Silva Passos).

(a) (b)

Figura 2. Podridão da base em Alface: (a) Sinais e sintomas da doença em campo, estruturas de sobrevivência do fungo Sclerotium rolfsii Sacc.; (b) Cultura pura do fungo Sclerotium rolfsii Sacc. em meio BDA. (Fotos: Paula Maria Silva Passos).

(a) (b)

Figura 3. Sistemas de irrigação utilizados no cultivo de hortaliças no Perímetro Irrigado Ribeira, em Itabaiana, Sergipe: (a) sistema de aspersão convencional e (b) área irrigada por aspersores utilizados em jardim. (Fotos: Flávio Gabriel Bianchini).