imprensa brasileira - história e crítica do nosso jornalismo

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  • 8/9/2019 Imprensa Brasileira - Histria e crtica do nosso jornalismo.

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    FACULDADES INTEGRADAS RIO BRANCOCOMUNICAO SOCIAL

    JORNALISMO

    RAFAEL ANTONIO DE OLIVEIRA MEIRELES

    IMPRENSA BRASILEIRA

    Histria e crtica do nosso jornalismo

    SO PAULO2006

  • 8/9/2019 Imprensa Brasileira - Histria e crtica do nosso jornalismo.

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    Presidente da Fundao de Rotarianos de So PauloDr. Eduardo de Barros Pimentel

    Direo Geral das Faculdades Integradas Rio Branco

    Prof. Dr. Custdio Pereira

    Diretor Acadmico

    Prof. Dr. Edman Altheman

    Coordenao da Habilitao de Comunicao Social

    Profa. Ms. Maria Ursulina de Moura

    Orientao

    Profa. Clara Corra

    Co-orientaoProfa. Mrcia Mello Costa de Liberal

    O48 Oliveira Meireles, Rafael Antonio deImprensa brasileira: histria e crtica do nosso jornalismo /

    Rafael Antonio de Oliveira Meireles.-2006.

    57 f. : 30 cm.

    Monografia (Concluso de Curso) Habilitao em

    Jornalismo, Curso de Graduao em Comunicao Social,

    Faculdades Integradas Rio Branco, So Paulo, 2006.

    Bibliografia: f. 53-7

    1. Imprensa - Brasil. 2. Comunicao de massa. 3. Publicidade.

    I. Ttulo.

    CDD 302.23

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    RAFAEL ANTONIO DE OLIVEIRA MEIRELES

    IMPRENSA BRASILEIRA

    Histria e crtica do nosso jornalismo

    Monografia apresentada s Faculdades Integradas

    Rio Branco Fundao de Rotarianos de So

    Paulo como parte dos requisitos para a obteno

    do ttulo de Bacharel em Jornalismo.

    Orientador: Clara Corra

    Co-orientador: Mrcia Mello Costa de Liberal

    Aprovado em ____/____/______

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________________________________Prof. Clara Corra Orientador

    Especialista em Comunicao e Marketing

    _________________________________________________________Prof. Maria Alice Carnevalli

    Doutora em Cincias da Comunicao

    _________________________________________________________Prof. Livre-Docente Jos Coelho Sobrinho

    Doutor em Cincias da Comunicao

    So Paulo2006

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    A todos os estudantes de jornalismo que aindaacreditam na possibilidade de fazer a diferena

    com a conquista do diploma bem como noexerccio da profisso.

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    [...]

    Se trago as mos distantes do meu peito

    que h distncia entre inteno e gesto

    E se o meu corao nas mos estreito

    Me assombra a sbita impresso do incesto

    Quando me encontro no calor da luta

    Ostento a aguda empunhadura proaMas o meu peito se desabotoa

    E se a sentena se anuncia bruta

    Mais que depressa a mo cega a executa,

    Pois que seno o corao perdoa.

    [...]

    (Chico Buarque e Ruy Guerra.Fado Tropical.1972-1973)

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, porque ocultaste estas coisas aos sbios e entendidos, e as revelaste aospequeninos.

    Marta Melo, que alm de me dar a luz da vida, deu-me a luz do conhecimento;

    atravessando minha voz com toda sabedoria que este ser iluminado acumulou e

    continua a acumular.

    Ao meu pai, por permitir minha exclusiva dedicao aos estudos.

    A este trabalho, por reformular minha linha de raciocnio tornando-me novamente

    uma criana inserida nas revelaes para as quais despertei.

    A Clara Corra, pelo conhecimento que me emprestou para a execuo deste

    trabalho.

    A Maria Ursulina (Suli), por me receber to carinhosamente nas Faculdades

    Integradas Rio Branco.

    E s Faculdades Integradas Rio Branco, por ter-me aberto as portas para um novo

    caminho acadmico.

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    RESUMO

    A imprensa brasileira nasceu em 1808, assujeitada s vontades da CortePortuguesa. Com a revoluo do Porto, em 1820, encontrou a possibilidade de

    expandir-se. Para tal, necessitou vender-se a anncios publicitrios. Atravs da

    anlise do discurso jornalstico, percebemos que houve uma mudana ideolgica no

    percurso do jornal ao longo do tempo; de assujeitada vontade lusitana, passou a

    assujeitada vontade do mercado. Alm disso sofreu dois grandes confrontos. O

    primeiro, em 1950, quando o rdio e a televiso introduziram a Cultura de Massa no

    Brasil. O segundo, em 1990, com a chegada da internet. Em virtude dainstantaneidade da produo de notcias, estas mdias precisaram e precisam do

    jornal para se legitimarem, pois este um veculo historicamente importante, digno

    de credibilidade e sustentculo da democracia, que mesmo assujeitado, ainda exerce

    o papel de mediador entre a populao, o Estado e o terceiro setor.

    Palavras-chave: imprensa-Brasil; comunicao de massa; publicidade.

    OLIVEIRAMEIRELES,RafaelAntoniode.ImprensaB

    rasileira-Histriaecrticadonossojorna

    lismo.SoPaulo:2006.

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    ABSTRACT

    The Brazilian press was born in 1808, submitted to the wills of the Portuguese Court.With the Revoluo do Porto (Portuguese Port Revolution) in 1820, it found the

    possibility of expand itself. For that, it had to sell itself to the publicitary announcers.

    By utilizing the order of things we can realize an ideological chance in the path of

    the press through time; from de the position of submission to the Portuguese will to

    the submission to the market will. Besides that, it has suffered two great confronts.

    The first, in 1950, when the radio e the television introduced the Mass Culture in

    Brazil. The second, in 1990, with the arrival of internet. Because of the instantlynews production, these medias needed and need the journal for legitimate

    themselves, for this is a vehicle historically important, with credibility and an import

    democracy base, that, even though submitted, still had it role as a mediator among

    the population, the State and the Third Sector.

    Keywords: Brazilian press; mass communication; publicity.

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    SUMRIO

    INTRODUO............................................................................................091 O JORNAL IMPRESSO............................................................................. 11

    1.1 AS VRIAS FASES DA MESMA HISTRIA........................................... 14

    1.2 EM MEMRIA DOS QUE FORAM CALADOS........................................ 20

    2 AS VOZES DA IMPRENSA....................................................................... 24

    2.1 O DILOGO COM O LEITOR.................................................................... 24

    2.2 UMA BUSCA PELA LIBERDADE DE EXPRESSO............................... 28

    3 JORNAL: UM CATLOGO DE PUBLICIDADE.................................. 343.1 UM POUCO DE PAPEL............................................................................... 35

    3.2 A PUBLICIDADE, E POR TRS, A NOTCIA.......................................... 38

    4 PARA QUE JORNAL?............................................................................... 45

    4.1 PODER, LEGITIMAO E INFORMAO............................................. 45

    4.1.1 ANLISE DE DISCURSO........................................................................... 46

    4.2 UM VECULO DE CREDIBILIDADE........................................................ 48

    CONSIDERAES FINAIS...................................................................... 51

    REFERNCIAS........................................................................................... 53

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    INTRODUO

    O jornal impresso o veculo de maior credibilidade no mundo. Porm, vozgeral que necessita de uma reinveno econmica e estrutural para fazer frente era

    da internet, mdia responsvel por um outro tipo de jornalismo, ou seja, pelo

    jornalismo interativo, instantneo e descentralizado.

    Diante disso, podemos inferir dois destinos para o jornal: 1) o jornalismo

    impresso se extinguir em duas dcadas, mais ou menos, vtima da competio

    desestruturada com mdias inovadoras; 2) as mdias modernas no detero a mesma

    credibilidade do jornal impresso em funo do abuso da instantaneidade, sem o

    incremento do gnero interpretativo dos fatos.

    Ao longo de alguns anos como estudante de jornalismo, mais interessado na

    rea acadmica que envolve o curso, constatamos que h um excesso de publicaes

    que tratam da morte da imprensa e outras tantas que defendem uma perenidade. Se

    formos pensar, cotejando os dois destinos possveis da imprensa, podemos dizer que

    o jornal j est legitimado pela prpria histria e como tal jamais perder o seu pblico, muito menos a prpria credibilidade. Quanto credibilidade das mdias

    modernas, possvel perceber, atravs de pesquisa nos jornais da web, a fragilidade

    das informaes, as invencionices de ltima hora e a facilidade para tirar do ar as

    notcias. E mesmo nos blogs de jornalistas conhecidos, que fazem uso do gnero

    interpretativo dos fatos, existe um descompromisso com a verdade.

    Dessas observaes nasceu o nosso tema, que busca expor a perspectiva da

    vulnerabilidade do jornal impresso no Brasil, abordada atravs do resgate histrico,

    da anlise lingstica e funcional do jornal, e de fatores scio-econmicos que

    envolvem este meio.

    Mobilizamos procedimentos metodolgicos pertinentes ao nosso intento que

    resultaram em leituras bibliogrficas e eletrnicas, enfim, uma pesquisa de ordem

    qualitativa.

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    Desta forma podemos informar os objetivos a que nos propusemos, ou seja,

    a) mostrar o papel da imprensa escrita, no Brasil, a partir da perspectiva temporal da

    era da informao; b) descrever os principais problemas enfrentados pela imprensa

    escrita, no Brasil.

    Os pressupostos tericos que sustentam todo o trabalho esto distribudos em

    quatro captulos.

    O primeiro captulo, sob o ttulo Jornal impresso, aborda a histria do jornal

    no Brasil nas diversas fases atribudas por Bahia, Marcondes Filho, Novelli e Sodr,

    alm de refletir sobre a cultura do silncio, imposta pela ditadura, como exemplo

    para lutarmos pela liberdade de expresso.

    No segundo captulo, As vozes da imprensa, utilizamos as concepes

    tericas da Anlise de Discurso de origem francesa para dar respaldo pretenso de

    denunciar o assujeitamento ideolgico do discurso jornalstico.

    No terceiro captulo, Jornal: um catlogo de publicidades, fizemos um

    levantamento dos fatores que provocaram a crise na imprensa brasileira e qual a

    participao das agncias de publicidade neste momento em diante.

    E, finalmente, no quarto captulo, Para que jornal?, tentamos mostrar o

    jornal como um instrumento de credibilidade capaz de legitimar-se bem como de

    legitimar outros meios de comunicao.

    Nas consideraes finais, a partir do arcabouo terico que sustentou a

    pesquisa tecemos algumas consideraes sobre a capacidade do jornal manter-secomo tal, enquanto houver quem por ele pague e obtenha lucro.

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    CAPTULO 1. O JORNAL IMPRESSO

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    A imprensa oficial no Brasil foi instalada na casa de Antnio de Arajo2,

    futuro conde da Barca3 (SODR 1999, p. 19), ou seja, nossos peridicos tiveram

    incio em 10 de setembro de 1808, como resultado de uma confusa fuga de Portugal:

    a vinda da corte de D. Joo VI para o Brasil, na pressa de escapar das tropas

    francesas, trouxe o prelo e a tipografia, mas no uma sustentabilidade para o

    desenvolvimento do jornal.

    Enquanto colnia, o Brasil foi mantido sob a tutela da ignorncia. Nas

    palavras de Moreira de Azevedo via Sodr (1999, p. 18), no convinha a Portugal

    que houvesse civilizao no Brasil. Desejando colocar essa colnia atada ao seu

    domnio, no queria arranc-la das trevas da ignorncia.

    1 Brasil rotrio on-line. Disponvel em : http://www2.brasil-rotario.com.br/revista/materias/rev922/e922_p18.html. Acessado em 2 de outubro de 2006.2 Um ato do Prncipe Regente inaugura a Impresso Rgia, com dois prelos e 28 volumes de materialtipogrfico que Antnio de Arajo, [...] Secretrio de Estrangeiros e da Guerra, trouxe de Portugal nonavio Medusa. Antecessora da Imprensa Oficial, a grfica que funcionava na Rua do Passeio, 44, noCentro do Rio, tinha a finalidade de imprimir com exclusividade os atos normativos eadministrativos (BARBOSA, 2004, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).3 Conde da Barca foi um ttulo criado por D. Maria I, por decreto de 27 de dezembro de 1815 a favor

    de Antnio de Arajo e Azevedo, um importante poltico da poca do Reinado de Dom Joo VI noBrasil Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_da_Barca. Acessado em 2 de outubro de2006.

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    Os primeiros colonizadores lusitanos chegaram como um mal cultural,

    afetando tanto a sade dos ndios, nada imunes s doenas dos recm-chegados,

    quanto a estrutura scio-econmica e tico-cultural. Como se a destruio das bases

    da vida social indgena, a negao de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro4

    no bastassem, os missionrios se incumbiam de doutrinar os ndios conforme os

    dogmas catlicos. Perante essas restries, a religio era o nico assunto amplamente

    difundido e incontestvel.

    Tal era a importncia da Igreja que o primeiro livro publicado por Gutenberg5

    foi a Bblia. E no que foi possvel reproduo de obras, ou seja, de conhecimento e

    cultura, a Igreja instituiu juntamente com o Estado, em Portugal, trs censuras: aEpiscopal, ou do Ordinrio, a da Inquisio, e a Rgia, exercida pelo Desembargo do

    Pao, desde 1576, cuja superioridade firmava-se nas Ordenaes Filipinas, que

    proibiam a impresso de qualquer obra sem primeiro ser vista e examinada pelos

    desembargadores do Pao, depois de vista e aprovada pelos oficiais do Santo Oficio

    da Inquisio. A partir de 1624, os livros dependiam de autoridades reconhecida

    pelo Estado para serem impressos, o que inclua a Igreja, e da Cria romana para

    circularem. Pombal, em 1768, encerrou esse regime, substituindo-o pelo da Real

    Mesa Censria, que vigorou at 1787 (SODR ,1999, p. 9-10).

    Mesmo os holandeses no nordeste, parte mais rica da colnia, no sc XVII

    [...], apesar de lhe terem dado singular desenvolvimento, na rea metropolitana [...],

    no se empenharam em trazer ao seu novo domnio americano a arte tipogrfica

    (idem, p. 16). Alm dos impedimentos oficiais dos portugueses, as condies

    econmica e social da colnia, em razo ao escravismo dominante, no geravam as

    exigncias necessrias instalao da imprensa. Ignorncia justificada pela Igreja emque as pessoas deveriam se contentar com o que tm em vida, pois os males s tero

    cura no reino do cu.

    4 RIBEIRO, 1995, p.30 435 Em 1450, Gutenberg se prope a imprimir a Bblia com um emprstimo de 800 florins de Joo Fste Pedro Schaeffer. Gutenberg precisou de mais dinheiro emprestado. Como garantia, a penhora da

    prpria oficina. Em 1455, Fst executa o crdito; Gutenberg sem como saldar a dvida, perde a oficinasem terminar o servio. Fst e Schaeffer, em 1456, imprimem a Bblia de 42 linhas. (FundaoMuseu da Tecnologia de So Paulo Disponvel, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).

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    Quanto aos brasileiros letrados, no tinham interesse algum em assuntos

    oficiais que serviam apenas para agradar a Coroa. A Gazeta do Rio de Janeiro era

    um dirio e agenda da monarquia europia6. Mesmo o Correio Brasiliense fora

    criticado por no tratar do Brasil dentro de uma tica nacionalista7 (SODR, 1999).

    A Gazeta era noticiosa, sem interesse de conquistar opinies. J o Correio era

    mais doutrinrio que informativo. No entanto, ambos no tinham interesses

    revolucionrios. Por mais que o Correio atacasse a administrao brasileira, possua

    um carter moralizador e no modificador. Ainda assim, a entrada do jornal de

    Hiplito da Costa, no Brasil, fora barrada pela Corte do Rio de Janeiro. J a 27 de

    maro de 1809, o conde de Linhares determinava ao juiz da Alfndega, Jos RibeiroFreire a apreenso do material impresso no exterior por conter calnias contra o

    governo ingls e material ilusrio agente superficiale ignorante. Ou seja, por conter

    assuntos de economia poltica, tema proibido em Portugal8 (SODR 1999).

    Com a revoluo do Porto, em 1820, o Correio Brasiliense passa a circular

    normalmente. Neste momento, notcias comearam a ser produzidas no prprio

    Brasil. Em razo da natureza perecvel da informao jornalstica e a necessidade de

    proximidade com os fatos, Hiplito da Costa j no mais conseguia sustentar um

    jornal feito na Inglaterra sem mencionar a questo financeira.

    O Correio Brasiliense publicou a ltima edio em 1822, enquanto, no Brasil,

    a Gazeta do Rio de Janeiro durou at 1821. Dada a austeridade da Corte, a Gazeta e

    a Idade dOuro do Brasil impressa na Bahia ao gozo lusitano de 1811 a 1823

    foram os nicos jornais brasileiros num perodo de seis anos, entre 1814 e 20. At o

    ano de 1821, o Rio de Janeiro no contava com outra tipografia seno a da ImprensaRgia (BAHIA, 1972, p. 15). .6 Por meio dela s se informava ao pblico, com toda a fidelidade, do estado de sade de todos osprncipes da Europa e, de quando em quando, as suas pginas eram ilustradas com alguns documentosde ofcio, notcias dos dias natalcios, odes e panegricos da famlia reinante. No se manchavam estaspginas com as efervescncias da democracia, nem a exposio de agravos. A julgar-se do Brasil peloseu nico peridico, devia ser considerado um paraso terrestre, onde nunca se tinha expressado um squeixume (ARMITAGE, 1914 apudSODR, 1999).7 Por ser produzido na Inglaterra, sem proximidade direta com os fatos no Brasil.8 Portugal queria evitar que os princpios da Revoluo Francesa prejudicassem a estabilidade dopoder da corte lusitana. A Revoluo Francesa, deu incio Idade Contempornea. Aboliu a servido

    e os direitos feudais na Frana e proclamou os princpios universais de Liberdade, Igualdade eFraternidade [...]. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa. Acessado em 2 de outubro de 2006.

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    1.1 As vrias fases da mesma histria

    A imprensa peridica brasileira foi retardatria. Na Amrica Hispnica, o

    jornalismo teve incio em 1722, enquanto colnia, j no Brasil, s foi possvel

    quando tornou-se Reino Unido a Portugal. Os governantes portugueses [...]

    providenciaram a instalao de prelos e tipografias, ensejando a circulao do

    primeiro jornal em lngua portuguesa na Amrica9.

    Para Sodr (1999), a imprensa est ligada ao capitalismo e seu atraso no

    Brasil relacionado com a ausncia de burguesia. Somente depois da abertura dos

    portos, os jornais se manifestaram. Bahia (1972), apresenta o Dirio dePernambuco10, inaugurado por Antnio Jos de Miranda e depois dirigido por

    Manuel Figueira, como testemunha de trs fases do jornalismo brasileiro: a inicial,

    a da consolidao e a moderna.

    A princpio, podemos dividir a imprensa em duas fases. A imprensa

    artesanal, de Gutenberg, que vivia da opinio dos leitores e buscava servi-la, e a

    imprensa industrial, em que o jornal dispensa, no conjunto, a opinio dos leitores e

    passa a servir aos anunciantes, predominantemente (SODR, 1999).

    Ao falarmos de jornalismo como um todo, segundo Marcondes Filho (2000)

    nossa diviso se estende a quatro fases.

    Oprimeiro jornalismo, de 1789 metade do sculo 19, foi, assim,o da iluminao, tanto o sentido de exposio do obscurismo luz quanto de esclarecimento poltico e ideolgico. O controle dosaber e da informao funcionava como forma de dominao, demanuteno da autoridade e do poder, assim como facilitava asubmisso e a servido [...]. Desmoronado este poder, entra emcolapso igualmente seu monoplio do segredo. A poca burguesainvade o processo: agora tudo deve ser super exposto.11

    Neste perodo, os jornais eram mais literrios e os fins econmicos vo para

    segundo plano. Tinham posicionamento poltico-partidrio alm de doutrinrios.

    9 MELO, 2003, p. 29 - 3010 oDirio de Pernambucopassou pelo desenvolvimento grfico dos mais rudimentares s linotipos e

    rotativas. Participou ativamente de embates polticos e nas lutas liberais do povo pernambucano, noImprio e na Repblica. (BAHIA, 1972, p. 26).11 MARCONDES FILHO, 2000, p. 11

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    Com as revolues burguesas, aps 1800, os grandes partidos polticos, inclusive os

    operrios, reivindicam igualmente o poder da imprensa e meios de comunicao

    mais efetivos para a conquista de adeptos, eis o surgimento da esfera pblica

    proletria12, inicialmente na Inglaterra. A imprensa se difundia popularmente e todo

    o romantismo da primeira fase ser substitudo por uma mquina de produo de

    notcias e de lucros com os jornais populares sensacionalistas (MARCONDES

    FILHO, 2000, p. 12-13).

    Osegundo jornal, o jornal como grande empresa capitalista, surgea partir da inovao tecnolgica da metade do sculo 19 nosprocessos de produo de jornal. A transformao tecnolgica irexigir da empresa jornalstica a capacidade financeira de auto-sustentao, pesados pagamentos peridicos para amortizar amodernizao de suas mquinas; ir transformar uma atividadepraticamente livre de pensar e de fazer poltica em uma operaoque precisar vender muito para se autofinanciar (idem, p. 13).

    As tiragens deste momento caracterizado como o da imprensa de massa,

    subiram de 35 para 200 mil. Os jornais se mantm atravs da economia da empresa

    jornalstica e precisam resultar em lucro. A gradual implantao da imprensa como

    negcio, iniciada aps 1830 na Inglaterra, na Frana e nos Estados Unidos, impe-se

    plenamente por volta de 1875 (idem, p. 13-14). O jornalismo se profissionaliza13.

    As manchetes aparecem, dentre outras formas de atrativo para o aumento das vendas,

    e a notcia cede lugar publicidade. A tendncia como se ver at o sculo 20

    a de fazer do jornal progressivamente um amontoado de comunicaes publicitrias

    permeado de notcias (ibidem, p. 14). Somente assim para garantir a

    sustentabilidade do jornal impresso.

    No sculo 20, o desenvolvimento e o crescimento das empresasjornalsticas desembocaram na constituio do terceiro jornalismo,e de monoplios, cuja sobrevivncia s ser ameaada pelasguerras e pelos governos totalitrios do perodo (ibidem).

    12 Novelli resgata o conceito de esfera pblica para interpretar o papel da imprensa nas sociedadescontemporneas por ser importante distingui-la da esfera econmica e do Estado na instituio de umapoltica democrtica. A noo de esfera pbica vai se enquadrar nessa perspectiva justamente na basede sua dupla funo: colher e disseminar informaes, de um lado e, de outro, fornecer um frum paradebate. (Novelli apud MOTTA, 2002, p. 185).13 A reforma do estilo da imprensa brasileira comeou na dcada de 1950 com o Dirio Carioca quefoi um dos mais influentes jornais do Pas e o responsvel pela modernizao tcnica da imprensabrasileira. Introduziu o leadnas matrias, criou o copidesque e lanou o primeiro manual de redao

    jornalstica. O Dirio Carioca foi um jornal tecnicamente revolucionrio, que terminou com o lero-lero das reportagens interminveis em que a estrela era o reprter, e no o assunto (Paulo Francis)(Dirio Carioca.com.br, on-line. Acessado em 02 de outubro de 2006).

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    Como reflexo da modernidade e da necessidade de promoo institucional

    das empresas, desenvolvem-se a comunicao publicitria e as relaes pblicas. O

    jornalismo entra num processo de desintegrao da atividade, seu enfraquecimento,

    sua substituio por processos menos engajados os quais Marcondes Filho (2000, p.

    15) atribui queles que no buscam a verdade, que j no questionam a poltica ou

    os polticos, que j no apostam numa evoluo para uma sociedade mais humana.

    [Tal] transformao ou descaracterizao da atividade [...] tem a ver com a crise da

    cultura ocidental.

    O quanto e ltimo jornalismo, o do fim do sculo 20, ojornalismo da era tecnolgica, um processo que tem seu incio por

    volta dos anos 70. Aqui se acoplam dois processos. Primeiramente,a expanso da indstria da conscincia no plano das estratgias decomunicao e persuaso dentro do noticirio e da informao. ainflao de comunicados e de materiais de imprensa, que passam aser fornecidos aos jornais por agentes empresariais e pblicos(assessorias de imprensa) e que se misturam e se confundem com ainformao jornalstica (vinda da reportagem principalmente),depreciando-a pela overdose. Depois, a substituio do agentehumano jornalista pelos sistemas de comunicao eletrnica, pelasredes, pelas formas interativas de criao, fornecimento e difusode informaes [...], que recolhem material de todos os lados eproduzem notcias (idem, p. 30).

    Para Dines (1986), a mdia internacional sofreu uma crise de identidade

    perante os desafios da tecnologia, da globalizao e do perigoso convvio com o

    entretenimento. Esta crise foi exportada para o Brasil, onde a concentrao,

    combinada descapitalizao da empresa jornalstica, articulam um novo cenrio e

    uma nova pauta para a discusso da misso da imprensa (p. 16).

    Este autor v o processo evolutivo do jornal como uma constante cclica, por

    apresenta a primeira fase da impresso como totalmente plana; depois, quando se

    pretendeu alcanar maior velocidade, adotou-se a rotativa, arredondamento, para

    efeitos de velocidade, do processo industrial (p. 44).

    Quanto a nossa imprensa, no que tinha de especfico, no mudou com a

    passagem do [...] Imprio Repblica. Mudou muito, entretanto, quanto ao

    contedo, quanto ao papel desempenhado. Em termos de diviso, Sodr (1999)

    apresenta, ainda, como a nica repartio acorde com a realidade seria em imprensaartesanal e imprensa industrial por nos ser recente a fase da imprensa industrial.

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    Retomando s trs fases que Bahia (1972) apresenta alm do jornalismo

    contemporneo , afase inicialcorrespondente ao perodo de 1808 a 1880. Momento

    em que o Brasil comeava a usufruir os resultados positivos do esprito

    autonomista, das conspiraes pela liberdade e pela independncia (p. 33).

    A consolidao ocorreu setenta e dois anos passados da instalao do pesado

    material com que se imprimia a Gazeta do Rio de Janeiro [...]. Depois de 1880 e no

    fim do sculo XIX at princpios do sculo XX, a imprensa adquire expresso no

    campo das atividades industriais transio tardia comparada a de outros pases. A

    nossa tipografia, de artesanal, passa a conquistar a posio de indstria grfica de

    definida capacidade econmica

    14

    .

    Nesta fase, muitos jornais efmeros desapareceram e uma imprensa mais

    participante e consciente chamada a ocupar lugar fundamental na vida pblica do

    Pas (idem). entre 1920 e 1930 que surgem alguns dos grandes jornais brasileiros

    dcada em que aparece a radiodifuso. A partir de 1928, rotativas15 mais modernas

    eram instaladas nos principais Estados16, com resultados prximos ao do offset, e em

    1930 inicia a fase moderna, consubstanciando o esprito renovador e a exploso de

    sentimentos populares. Jornais reapareciam com nova disposio e maior empenho

    na defesa dos direitos individuais17.

    Logo nos anos 40, a nossa indstria grfica j era to bem aparelhada quanto

    a dos Estados Unidos, Europa e sia. Contudo, a nossa imprensa no corresponde

    demanda de informao, dentro das expectativas do jornalismo, perante o pblico e a

    sociedade, atingida por naes mais desenvolvidas. Tal desnvel est relacionado ao

    nosso passado histrico atrelado ao desenvolvimento do jornalismo que aindaenfrenta srios problemas, desde a instabilidade poltica busca de modelos de

    desenvolvimento, para a superao de suas deficincias18.

    14 BAHIA, 1972, p. 4515 De exemplo o jornal A TARDE, de Salvador, instalado em 1912 com um impressora plana Marioniconsiderada obsoleta na Europa. Um ano depois incorporada a impressora Koening-Bauer. Em 1920,A TARDE entra na era dos linotipos. Em quatro anos, passam para a Albert. Em 1930, foi trazida arotativa alem Man. Com ela, uma prensa eltrica, uma fundidora automtica e uma fresa eltrica. (ATarde, 15 de outubro de 2002, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).16

    So Paulo; Rio de Janeiro; Minas Gerais; Rio Grande do Sul; Pernambuco (BAHIA, 1972, p. 67).17 idem, p. 6718 ibidem, p. 91

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    A imprensa s tentar uma penetrao nacional, alcanando s massas,

    muito mais tarde, na fase moderna, j no complexo quadro da comunicao que

    comporta os veculos impressos, rdio e a televiso (BAHIA, 1972, p. 68).

    A expanso observada a partir de 1930 se deve a fatoreseconmicos, polticos e culturais. O jornalismo j entrara numafaixa de operao industrial, abandonado a projeo boemia,ativista, idealista da primeira fase. O jornal-mito, identificado coma viso individualista de seu proprietrio, no raro o principalredator e administrador, cede lugar ao jornal-empresa (idem).

    A revoluo de 30 contribuiu para acabar com a marginalizao do processo

    educacional a qual as correntes populares eram submetidas na Repblica Velha. O

    nmero de interessados por informao aumentava de modo que a imprensa noconseguia alcanar ou suprir19 at os anos 50.

    Para Bahia (1972), o jornalismo contemporneo, representa a adaptao do

    jornalismo s necessidades da sociedade brasileira. Bahia refere-se ao novo

    jornalismo surgido com o despertar social, com a mobilizao popular Constituinte,

    a queda da ditadura Vargas, a ascenso das grandes parcelas operrias urbanas, a

    expanso das indstrias de base e assim, o tradicional jornal mais se aproxima do

    povo, passando a ser um intrprete mais eloqente e vigoroso dos anseios populares

    (p. 92).

    na contemporaneidade atribuda ao jornalismo, por Bahia (idem, p. 92) em

    sua poca, que o Brasil ingressa na idade da cultura de massa com uma participao

    que, dos anos 50 em diante, cada vez maior. Isso s foi possvel devido a

    penetrao do rdio e da TV20 na parcela analfabeta da populao, que, em 1970,

    representava 33% dos 80 milhes de brasileiros.

    No por outro motivo que, apesar do esforo dos grandes jornais,nenhum cobre nacionalmente o territrio e poucos ultrapassam amarca dos 150 mil exemplares dirios. Vrias outras causas

    19 em razo das condies particulares do sistema de comunicao internas - desde os correios etelgrafos, as ferrovias e demais meios de transportes, ao telefone. (BAHIA, 1972, p. 68).20 Nesta fase, o jornal impresso atua em conjunto com as outras mdias. Mas com o surgimento dainternet - no final da dcada de 80 com o desenvolvimento da ARPANET (Advanced ResearchProject Agency Network), que teve incio 1969; o Brasil passa a usufruir desta rede mundial j nos

    anos 90 -, e seu desenvolvimento no Brasil, mudanas ocorreram no contexto do jornalismo de talforma que dedicaremos o quarto captulo,Para que jornal?, para abordar a relao do jornal impressocom as outras mdias.

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    dificultam a circulao dos peridicos: deficincia do sistema detransportes; precariedade de comunicaes; excessiva concentraode jornais dirios nas metrpoles; incapacidade econmica; crisesno fornecimento de papel etc.21

    Mesmo as dificuldades econmicas no impediram o aumento da circulao

    deste veculo em todo o mundo. O pblico considera-o cada vez mais indispensvel,

    reiterando em termos de preferncia a importncia do meio impresso na ao sobre a

    opinio.22

    Novelli23 apresenta a imprensa como uma instituio por excelncia da

    esfera pblica [que] atua numa rea de interseco24 entre o setor pblico e o

    privado, portanto, as fases que representam a evoluo da imprensa vodemonstrar a prpria evoluo da esfera pblica, apresentada da seguinte forma:

    Imprensa da informao - fase inicial: surge no sculo XIV conseguinte da

    necessidade de troca de informaes comerciais sobre circulao das

    mercadorias. Desta forma, surge um elo entre indivduos privados [mercado],

    que sustenta a imprensa assim caracterizada por produzir informao perecvel

    de certa realidade, mas sem a acessibilidade - caracterstica da imprensa

    moderna.

    Imprensa de opinio - fase seguinte: de forma literria, os jornais passam a ser

    porta-vozes e condutores da opinio pblica. Sendo um mecanismo de

    publicidade argumentativa dos prprios donos - partidos polticos e escritores -,

    cuja lucratibilidade fica em segundo plano. Movida pelo idealismo, operam na

    falncia, mas resguardam para suas redaes uma espcie de liberdade tpica da

    comunicao das pessoas privadas caracterizadas com o pblico.

    21 BAHIA, 1972, p. 9322 idem, p. 15323 MOTTA (org.), 2002, p. 184-185.24 Segundo Novelli, a burguesia buscava ocupar um espao entre o poder pblico do Estado e o poderprivado do mercado, organizando-se na forma de sociedade civil. Esta organizao deu origem, nosculo XVIII, a esfera pblica burguesa composta por funcionrios do Estado, profissionaisautnomos, grandes proprietrios e produtoras de mercadoria. A ideologia contida nesta esfera, quevisava dominar os mecanismo de produo e troca, cai com a ascenso categoria de classe dosindivduos por ela dominados. Assim, o Estado, nico legtimo no poder, regula os mecanismos detroca entre as pessoas privadas originando assim, as privatizaes bem como a estatizao da

    sociedade. Confunde-se a, o setor pblico como o setor privado, originado uma nova esfera socialintermediria a qual interpreta-se como setores estatizados da sociedade e setores socializados doEstado, ambos apartidrios.

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    Imprensa comercial- fase atual: surge quando o estabelecimento do Estado

    burgus de direito e a legalizao da esfera pblica politicamente ativa libertam

    a imprensa das obrigaes crticas dando a ela a oportunidade de assumir o

    lucro de uma empresa comercial.

    Dentro da caracterizao atual da imprensa, como um tpico

    empreendimento capitalista avanado, que subordina a poltica empresarial a pontos

    de vista da economia de mercado [...] o jornal passa a ser influenciado por interesses

    estranhos aos seus objetivos primeiros (MOTTA (org.), 2002, p. 185).

    A imprensa, segundo Novelli, precisa de uma estrutura pblica e autnoma,

    separada da funo de debate poltico. Para tal, preciso ampliar o acesso dos vriossetores da sociedade civil, pois no h como garantir que a imprensa seja dotada de

    iseno se exclusiva a responsabilidade dos jornalistas para deciso do que entra ou

    no na agenda pblica.

    1.2 Em memria dos que foram calados

    O jornal impresso brasileiro nasceu sufocado pelo Estado e sofreu ao longo

    de sua histria inmeras agresses para que permanecesse calado. Foi um processo

    de manipulao poltica por meio da censura.

    Os governantes sempre sonharam com uma imprensa submissa, que

    funcionasse como um veculo de propaganda institucional. Getlio Vargas contou

    com um jornalista sua disposio: Samuel Wainer. Este criou um jornal, A ltimaHora, cujo nico objetivo era ser favorvel a Getlio.

    O jornal foi criado graas a financiamentos concedidos pelo Bancodo Brasil e participao de alguns grandes empresrios, comoWalter Moreira Salles, Ricardo Jafet e o Conde Matarazzo. Altima Hora ganhou espaos de mercado graas a qualidade deseus jornalistas e a uma linguagem mais moderna que adotou. Issoincomodou duplamente os grandes empresrios de comunicao:pela perda de espaos de mercado e pelas posies polticas que alinha editorial da ltima Hora favorecia.25

    25 O legado de Getlio Vargas, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.

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    Uma imprensa sem liberdade significa um pas sem democracia, mas era isso

    que Getlio desejava. Era isso que o autoritrio D. Pedro I queria, conforme atesta a

    Histria.

    Todavia muitas vozes e conscincias repudiando a cultura do silncio

    cumpriram o dever cvico de informar ao povo o que ocorria nos corredores do poder

    pblico, desde a poca do Brasil imprio. Infelizmente, algumas delas foram

    silenciadas e outras violentadas, conforme podemos observar nos textos 1, 2, 3, e 4.

    TEXTO 1

    24 de outubro de 1975. Sexta-feira tarde. Vladimir Herzog,

    jornalista da TV Cultura, acompanhava a transmisso do telejornal

    Hora da Notcia, antevendo um agradvel final de semana com a

    esposa e os filhos. Ao sair da redao, encontra dois agentes de

    segurana do regime militar. Queriam lev-lo preso.

    Aps interminveis barganhas, Vlado como era chamado peloscolegas de ofcio consegue convencer os homens a no lev-lo

    quela hora, devido a compromissos profissionais. Se compromete

    a comparecer no dia seguinte ao DOI-Codi (Destacamento de

    Operaes e Informaes e Centro de Operaes de Defesa do II

    Exrcito). s 8h, frisa o policial.

    25 de outubro. Oito horas da manh. Vladimir Herzog se apresenta

    no DOI-Codi.

    25 de outubro. Final da tarde. Vladimir Herzog est morto. Motivo:

    Teria assinado confisso declarando-se militante do Partido

    Comunista Brasileiro. Causa mortis: Voluntrio suicdio por

    enforcamento.26

    26 Canal da Imprensa, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.

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    TEXTO 2

    20 de novembro de 1830. Passa das 22h. O mdico e jornalista

    italiano Joo Batista Lbero Badar caminha pelas ruas centrais da

    capital paulista. Dois pistoleiros encapuzados aguardam-no na

    esquina. Ouve-se o som de um revlver. A bala atinge em cheio

    uma artria, rompendo-a. Amigos o socorrem. Levam-no para casa,

    cogitam uma operao. Em vo. O ferimento fatal. Lbero morre

    no dia seguinte.

    Fundador do jornal Observador Constitucional, veculo de ataqueao autoritarismo de dom Pedro I e aos desmandos do ouvidor

    Cndido Japiau, Lbero tornou-se smbolo da luta pela

    nacionalizao do imprio brasileiro. Pouco antes de falecer,

    desabafa: Morre um liberal mas no morre a liberdade. O boato a

    respeito de sua morte tornou-se verdade absoluta: Lbero foi

    assassinado a mando direto do imperador. Um tanto irnico para

    algum que declarou Independncia ou Morte!.27

    TEXTO 3

    24 de maro de 1990. Sbado, 15h30. Seis fiscais da Receita, um

    delegado e dois agentes armados e uniformizados da Polcia

    Federal invadem a sede da Folha de S. Paulo. Exigem ser levados

    presena de Octavio Frias de Oliveira, dono do grupo Folha. A

    penetrao forada encontrava pretexto em eventuais

    irregularidades econmicas. [O governo queria averiguar se a

    empresa cobrava as faturas publicitrias em cruzados novos ou

    cruzeiros.] Por trs estava a represso poltica, um revide s

    matrias negativas candidatura de Fernando Collor.28

    27 idem28 ibidem.

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    TEXTO 4

    Recentemente, o jornal O Globo, (julho/2001) e o semanrio Carta

    Capital(maio/2002) tiveram seu contedo censurado previamente

    obras do presidencivel Anthony Garotinho. No mesmo maio, a

    grande imprensa recebeu ordem judicial, proibindo qualquer

    referncia s denncias de abuso sexual envolvendo juiz do TRT

    paulista. Se veculos como aFolha e ltimo Segundo no

    ousassem se pronunciar, o delato nunca chegaria ao grande

    pblico.29

    Assim a imprensa sabe que dela prpria a responsabilidade de manter estes

    momentos vivos na memria do povo, como uma forma de resistncia ditadura

    imposta aos veculos de informao ou cultura do silncio.

    O resgate dos valores contidos nas figuras de Lbero Badar, de Herzog e

    outros tantos que foram calados, indispensvel para a imprensa mostrar sociedade

    que ela tem um compromisso com a liberdade de expresso. E a nossa imprensa foi

    capaz deste gesto e sobreviveu como o smbolo da liberdade e da democracia.

    29 Ibidem.

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    CAPTULO 2. AS VOZES DA IMPRENSA

    No meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedra

    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas to fatigadas.Nunca me esquecerei que no meio do

    caminhotinha uma pedra

    tinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra.

    Carlos Drummond de Andrade

    O menino custou a comear a falar, e a dificuldade que tinha para

    pronunciar uma frase inteira provocava risos nos adultos [...] ele j beirava os trs

    anos quando os pais entenderam que o menino era gago (MORAIS, 1994, p. 32).

    Este menino Assis Chateaubriand Chat. Um grande nome no jornalismo

    brasileiro e de reconhecida significncia no desenvolvimento das empresas de

    comunicao. Quando criana, gago como a infncia de nossa imprensa, venceu asbarreiras da disfemia e do prprio mundo, de uma forma positiva e revolucionria,

    tornando-se grande.

    A imprensa brasileira tambm venceu imensas barreiras, ora contornando as

    pedras do caminho, ora tropeando nas pedras do caminho, ora gaguejando, ora

    calando-se porque muitas vezes o silenciamento lhe foi imposto, at chegar aos dias

    de hoje, grande, imensa, maior que o prprio Chat, pois nela falam outras vozes que

    tambm fizeram e ainda fazem a diferena no cotidiano de cada brasileiro.

    2.1 O dilogo com o leitor

    Segundo Sodr (1998), preciso, desde logo, compreender e aceitar que a

    imprensa no meio de massa, em nosso pas. Compreendendo imprensa, o jornal e

    a revista, fcil constatar que esses meios no so de uso habitual em parcela

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    numerosa, majoritria mesmo, do nosso povo30. Assim, de acordo com as

    formulaes tericas de Pcheux, podemos dizer que o jornal impresso um

    discurso31 que fornece legitimidade para as notcias que circulam pelas diversas

    mdias. Da legitimidade falaremos com maior profundidade no quarto captulo, pois

    o que nos interessa nesse momento ver a relao estrutural do jornal com a

    sociedade, atravs do sentido polifnico e dialgico constitutivo da linguagem no

    sentido bakhtiniano.

    Entendemos polifonia como um coro de vozes que participam do processo

    dialgico; e dialogismo um princpio constitutivo da linguagem (BARROS;

    FIORIM, 2003) e a condio para o discurso fazer sentido.

    Ojornal impresso no uma nica voz, mas um dilogo entre as vozes dos

    leitores e as vozes dos jornalistas convivendo numa interao social, revelando as

    conscincias independentes e as conscincias eqipolentes. Assim a notcia impressa

    polifnica e dialgica e este princpio que garante a sustentabilidade estrutural do

    jornal. Uma garantia de que a notcia uma anlise de um trabalho de um grupo

    heterogneo de vozes e conscincias.

    Dessa forma, o jornal impresso no Brasil pde e pode influenciar e fazer a

    diferena em cada momento histrico da sociedade informando, noticiando,

    debatendo e fiscalizando preparado em todos os sentidos para atuar conforme os

    prprios objetivos, desde a poca do Imprio. Como exemplo de apropriao

    ideolgica dos jornais como vozes polticas dialogando com a sociedade, oEstado de

    So Paulo que, em 1902, tem Jlio de Mesquita como nico proprietrio e representa

    30 (SODR, 1999, p. IX). Foram necessrios o rdio e a TV para acessar aos analfabetos, porexemplo. Mesmo assim, convencionou-se, por mrito, a utilizao do termo meios de massa paraveculos de comunicao num todo. Eugnio Bucci defende que a tica na comunicao de massano pode ser pensada a partir das mesmas balizas que nos guiam para discutir a tica na imprensa.Como primazia da imprensa, a busca pela verdade factual, da objetividade, da transparncia, daindependncia editorial e do equilbrio. J o conceito de meios de comunicao de massa traz em si,desde a origem, o embaralhamento sistmico entre fato e fico, entre jornalismo e entretenimento,entre interesse pblico, interesses privados e predilees da esfera ntima. Bucci usa imprensa paradesignar a instituio constituda pelos veculos jornalsticos, seus profissionais e seus laos com opblico (BUCCI, on-line. Acessado em 5 de outubro de 2006).31 Discurso, segundo Pcheux, etimologicamente, tem em si a idia de curso, de percurso, de correr

    por, de movimento. O discurso assim palavra em movimento, prtica de linguagem: com o estudo dodiscurso observa-se o homem falando. Da a definio de discurso: o discurso efeito de sentidosentre locutores (ORLANDI, 2002).

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    o grande rgo poltico na capital do Estado que se desenvolve rapidamente [...]; a

    cidade de S. Paulo , agora, centro industrial de grande desenvolvimento, o maior

    parque industrial da Amrica Latina [...] (SODR, 1999, p. 323).

    O que aparentemente representa to somente a voz do nico proprietrio a

    de um grande rgo poltico , estava atravessada por outras vozes, assim como

    qualquer voz que enuncia, pois as palavras no so nossas. Elas significam pela

    histria e pela lngua. O que dito em outro lugar tambm significa nas nossas

    palavras (ORLANDI, 2002, p. 47).

    Alm disso temos que lembrar que o proprietrio de um jornal impresso

    jamais um autor passivo no processo polifnico do discurso jornalstico. Ele um

    autor ativo e o seu ativismo tem um carter dialgico com a sociedade e est

    diretamente vinculado conscincia dos leitores-interlocutores.

    Quem d o tom discursivo da notcia, quem deixa entrever o vis ideolgico

    ou tendencioso do jornal impresso no a voz do dono32, mas o som de uma

    orquestra polifnica regida pelas formaes discursivas33, ideolgicas34 e imaginrias

    que atravessam o discurso jornalstico. Como exemplo, podemos lembrar as vozesdos pasquins panfletos que circulavam na poca do imprio que eram violentas,

    chegando ao nvel da calnia e do insulto pessoal dado o momento histrico

    violento, virulento e intranqilo.

    Seu contedo refletia o ardor das faces em divergncia: direitaconservadora, direita liberal e esquerda liberal (os exaltados) quepublicava os pasquins.

    Liberais e conservadores travavam verdadeira guerra de palavrasutilizando os pasquins que, nos prprios ttulos, demonstram o queeram: O Palhao da Oposio, O Crioulinho, O Burro Magro, oCaolho, entre outros. Pelos ttulos d para sentir que os pasquins

    32 Em outras palavras, o sujeito no livre para dizer o que quer, mas levado, sem que tenhaconscincia disso (e aqui reconhecemos a propriedade do conceito lacaniano de sujeito para a anlisedo discurso), a ocupar seu lugar em determinada formao social e enunciar o que lhe possvel apartir do lugar que ocupa (MUSSALIM, 2004).33 Formaes discursivas so os determinantes do que pode e deve ser dito em um dado lugar scio-histrico determinado. Elas mantm uma relao bsica com a formao ideolgica predominante: ostextos de uma formao discursiva espelham uma mesma formao ideolgica.34

    Formao ideolgica, segundo Fiorin (2003), deve ser entendida como a viso de mundo de umadeterminada classe social, isto , um conjunto de representaes, de idias que revelam a compreensoque uma dada classe tem do mundo.

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    recorriam, com freqncia, ao preconceito de cor e aos apelidosdas pessoas que eram alvo desses panfletos.

    O prprio imperador, D. Pedro I, que antes de voltar a Portugal era

    criticado constantemente pelos pasquins, respondia com artigosinflamados contra seus adversrios. Para isso, utilizava pseudnimos, que refletiam o contedo dos artigos, como: O Inimigo dos Marotos, o Anglo-Manaco, O Derrete Chumbo aCacete, Piolho Viajante, entre outros.

    A partir da metade do sculo XIX, o Imprio se consolida e aimprensa poltica, representada principalmente pelos pasquins,esmorece. a poca da conciliao, com o arrefecimento ou fimdas lutas partidrias.35

    Outro exemplo de polifonia nos jornais impressos est na imprensa escrita

    pelos anarquistas italianos, imigrantes que entraram no Brasil para substituir o

    trabalho dos escravos recm-alforriados36. Estes imigrantes tinham uma postura

    ideolgica heterognea: uns eram apolticos e outros anarquistas ou simpatizantes do

    Anarquismo37.

    Os anarquistas organizaram sindicatos cuja ferramenta bsica ou arma de

    combate era a imprensa escrita. Os jornais cumpriam a funo de conscientizar os

    trabalhadores e as suas famlias sobre a doutrina anarquista, incitando-os liberdade,bem como sobre fatores fundamentais de mobilizao operria e como uma forma de

    resistncia contra a explorao dos empregadores.

    Em sntese, o jornal funcionava como propaganda poltica e um organizador

    social. Era to integrado ao seu pblico leitor que no necessitava de reprteres para

    buscar notcias. Essas chegavam aos montes na redao clandestina dos jornais: eram

    as vozes da sociedade operria imigrante dialogando com o jornal, com a sociedade e

    com o governo.

    35 LOPES, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006.36 A introduo do trabalho europeu nas fazendas de caf foi um processo lento, alcanado pelapertincia de cafeicultores empenhados na soluo de seu maior problema: a falta de mo-de-obra,agravada primeiro pela proibio do trfico e depois pela abolio. As primeiras tentativas [...] provocaram reclamao consulares e escndalos na imprensa europia, a que os brasileiros soespecialmente sensveis (RIBEIRO, 1994, p.399).37 De um modo geral, anarquistas so contra qualquer tipo de ordem hierrquica que no sejalivremente aceita, defendendo tipos de organizaes horizontais e libertrias [...]. O anarquismoenquanto teoria poltica nada tem a ver com o caos ou a baguna [...]. No incio do sculo XX, o

    anarquismo e o anarco-sindicalismo eram tendncias majoritrias entre o operariado, culminando comas grandes greves de 1917, em So Paulo, e 1918-1919, no Rio de Janeiro. Disponvel em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquia. Acessado em 2 de outubro de 2006.

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    At hoje as vozes da sociedade se entrelaam com as vozes do jornal

    impresso dialogando com o que de direito, exigindo afastamento legal de

    presidentes corruptos, denunciando fraudes contra o povo. esta orquestra

    polifnica que d sustentabilidade jurdica nossa condio de cidado, pois ela no

    um meio de comunicao de massa e sim, a nossa prpria voz.

    2.2 Uma busca pela liberdade de expresso

    Nas democracias liberais, a imprensa tem sido chamada de quarto

    poder, um poder alm do Executivo, do Legislativo e do Judicirio,[...] um poder autnomo exercido em nome do povo. [...] Ela tomada, por delegao implcita da sociedade, como instrumentode defesa popular contra as injustias, ilegalidades eilegitimidades.38

    Nas palavras de Melo (2003, p. 144), a imprensa figura na Histria da

    Humanidade como a inovao que alterou profundamente a marcha civilizatria.

    Ela consolidou a cidadania e deu condies para a expresso das sociedades

    democrticas.

    A liberdade de expresso, sobretudo sobre poltica e questes pblicas o suporte vital de qualquer democracia. Os governosdemocrticos no controlam o contedo da maior parte dosdiscursos escritos ou verbais. Assim, geralmente as democraciastm muitas vozes exprimindo idias e opinies diferentes e atcontrrias.39

    E a liberdade de expresso40, amplamente defendida pelo mass media, que

    38 MOTTA (org.), 2002, p. 1439 Escritrio de Programas Internacionais de Informao, on-line, 28 de maio de 2004. Acessado em16 de outubro de 2006.40 - DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pelaresoluo 217 A (III) da Assemblia Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948. ArtigoXIX - Toda pessoa tem direito liberdade de opinio e expresso; este direito inclui a liberdade de,sem interferncia, ter opinies e de procurar, receber e transmitir informaes e idias por quaisquermeios e independentemente de fronteiras.- LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. CAPTULO I - DA LIBERDADE DEMANIFESTAO DO PENSAMENTO E DA INFORMAO. Art . 1 - livre a manifestao dopensamento e a procura, o recebimento e a difuso de informaes ou idias, por qualquer meio, e semdependncia de censura, respondendo cada um, nos trmos da lei, pelos abusos que cometer.

    - CONVENO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) - (Pacto de San Jos da CostaRica). Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expresso: 1. Toda pessoa tem o direito liberdadede pensamento e de expresso. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir

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    garante a liberdade de imprensa, ou seja, o poder das mdias. No entanto, o valor

    ideolgico, expressivo de uma liberdade, foi vendido no mercado neoliberal, assim

    como Marshall coloca: liberdade de imprensa vira um mito:

    A imprensa perde cada vez mais seu papel precpuo na sociedade.As liberdades de imprensa, de informao e de expresso viramapenas testas-de-ferro para que as empresas miditicas defendamseus interesses econmicos. A liberdade de imprensa d lugar liberdade de publicidade. As pginas dos jornais caminham paraliberalizao total, levando a informao a ser dourada com persuaso ou entretenimento. Esvazia-se o compromisso daimprensa com a defesa dos cidados, do interesse publico, daverdade, do Estado-nao ou do bem-comum. A nova liberdadevira uma liberdade econmica, que privilegia apenas o capital. As

    empresas miditicas lutam, inclusive, para liberalizao total daliberdade de imprensa, permitindo contempornea-mentelicenciosidades capitalistas no condizentes com o papel socialdesempenhado pela linguagem na era do liberalismo moderno. Aliberdade, embora mtica, cria o mito da transliberlizacao: tudopassa a ser livre, menos o que possa afetar ou atingir os interessesempresariais (MARSHALL, 2003, p. 166).

    Alm da liberdade de expresso ser regrada por foras econmicas, a

    influncia poltica no difere para com os meios de comunicao. No governo Lula

    tramitou o anteprojeto para a criao de um Conselho Federal de Jornalismo. Visto

    como um artifcio de censura, o Jornal da Unicamp41 levanta a seguinte questo, com

    as respostas dos professores Roberto Romano e Reginaldo Moraes, do

    IFCH/Unicamp:

    Jornal da Unicamp: Segundo os crticos dessas medidas, o queest por trs do pacote regulador do governo um esforo deapropriao da informao pblica. Ou seja, o governo gostaria decontrolar a qualidade da informao que chega sociedade e, aomesmo tempo, ter acesso livre e privilegiado a informaessigilosas sobre os cidados. Como o senhor analisa essa postura? Osenhor v nisso algum risco ou os crticos esto vendo fantasmas?

    Reginaldo Moraes: As palavras no so inocentes. Apropriao dainformao pblica? Quem se apropria? E quem expropriado? Dequem , hoje, essa informao que se diz pblica? Nesse campo,

    informaes e idias de qualquer natureza, sem consideraes de fronteiras, verbalmente ou porescrito, ou em forma impressa ou artstica, ou por qualquer meio de sua escolha; 5. No se poderestringir o direito de expresso por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de freqncias radioeltricas ou de equipamentos e aparelhos

    usados na difuso de informao, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaoe a circulao de idias e opinies.41Jornal da UNICAMP, edio 263, 23 a 29 de agosto de 2004, on-line. Acesso em 4 de out de 2006.

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    como diz o ditado, manda quem pode, obedece quem tem juzo.Qualquer jornalista que se aventurou a ter alguma idia na cabea e que no correspondesse quela de seu patro sabe do queestamos falando. [...]

    Curiosamente, tambm, sequer notcia breve se registrou sobre ofato de que o Congresso Nacional de Jornalistas, recm-realizadona Paraba, apoiou unanimemente o envio do projeto de lei. TVs,jornales e rdios no deram essa notcia, nem para dizer que essesjornalistas so doidos: melhor no dizer, no mesmo?

    Os crticos no esto vendo fantasmas, no. Eles esto muitolcidos. Esto atirando naquilo que vem. Mas querem quepensemos que atiram em outra coisa. A informao que chega sociedade no chega levada por algum. Algum que querpermanecer na sombra.

    Roberto Romano: [...] As investidas do atual chefe da Casa Civil,do ministro do Trabalho, do ministro encarregado pelaComunicao e, o mais espantoso, do prprio ministro da Justiacontra a imprensa ecoam perfeitamente as palavras emitidas em1985 pelo ento candidato presidncia da Repblica, Luiz IncioLula da Silva, sobre as liberdades: Acho que a liberdadeindividual est subordinada liberdade coletiva. Na medida emque voc cria parmetros aceitos pela coletividade, oindividualismo desaparece. Ou seja, no h razo para a defesa daliberdade individual. O que voc precisa criar mecanismos paraque a grande maioria da comunidade possa participar das decises(Folha de So Paulo, 29/12/1985). As ltimas medidas anunciadas pelo governo so mecanismos supostamente para garantir a palavra sociedade, mas de fato dirigidas para impor tesesfavorveis aos ocupantes ocasionais do governo. Todo umprograma agora implantadosine ira et studio42, numa ideologiaque se corporifica em atos normativos e reguladores [...].

    Quando Lula submete a liberdade individual coletiva, joga dentro de seu

    peculiar vocabulrio presidencial a liberdade de expresso para escanteio. Neste

    caso, cobra a falta, o Marshall McLuhan43, que aponta trs efeitos produzidos pela

    cultura tipogrfica:

    Individualismo libertando os componentes da tribo econvertendo-os em cidados capazes de construir comunidadesautnomas.

    Nacionalismo sedimentando as lnguas escritas, atravs daliteratura, e fomentando o sentimento nacional capaz de gerarEstados independentes

    42

    sem clera nem parcialidade [Segundo Tcito, o modo pelo qual deve ser escrita a histria.](Dicionrio eletrnico Houaiss da lngua portuguesa, 2002, CD-ROM).43apudMelo (2003, p. 144).

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    Esprito de crtica estimulando a reflexo privada, atravs daleitura silenciosa, capaz de produzir sentidos estereotipados queconvergem para a formao da opinio pblica.

    A tentativa de cerceamento do atual governo uma afronta quilo que inerente imprensa. Vista como um instrumento de poder, dada a representatividade

    scio-democrtica, a imprensa se resguarda sob direitos adquiridos e conquistados

    nas lutas contra a represso do governo. Retira-se do Estado o privilgio de fazer

    censura a priori dos impressos, mas cabe-lhe o dever de coibira posteriori os abusos

    cometidos (MELO, 2003, p.145).

    Falamos de censura poltica a qual funde-se e confunde-se com o prprio

    grito de liberdade e autonomia do jornal. Lembramos tambm, do processo histrico

    da imprensa que nos traz a censura presente na dependncia econmica44. Deste

    modo, a imprensa permanece silenciada expresso dos interesses poltico e

    econmico, e direcionada ideologicamente a uma parcela mnima representada pelos

    multiplicadores de opinio o que exclui o restante da sociedade que, embora no

    faa parte do seu grupo de leitores, tambm tm interesses que devem ser

    preservados para o pleno funcionamento da sociedade democrtica.45

    Como exemplo, a manipulao feita pela Folha, [prpria de uma] imprensa

    neoliberal que, segundo Paixo (on-line), ocorreu em detrimento da candidatura da

    oposio nas eleies para a Presidncia de 1989, 1994 e 1998, quando ameaado o

    poder das elites; parte de um processo indicado por Noam Chomski como

    construo de consenso, onde a imprensa, por trs de uma ideologia de

    imparcialidade, se comporta de modo a manter as estruturas dominantes no poder 46.

    44 A imprensa s pode atingir uma produo industrial por meio de anncios, financiamentos externose concesses polticas - o que a torna dependente destes recursos -. Neste caso, manifestaescontrrias aos interesses econmicos so abafadas, descartdas e coibidas.45 Novelli acredita que o jornal nega o papel de quarto poder quando defende o interesse do seu grupode leitores. Ao estabelecer o grupo de leitores como base social, a imprensa deixa de privilegiar asociedade com notcias pertinentes a todos se estas no tem eco entre os leitores do jornal (MOTTA(org.), 2002, p. 194).46 Segundo o jornalista [Bernardo Kucinski], a Folha, ao longo dessas trs eleies, teria projetado eat mesmo criado preconceitos e estigmas contra Lula. Nas eleies de 1989, por exemplo, o jornalcontribuiu para projetar o sentimento de medo contra Lula, ao afirmar, na edio de 15 de dezembrodaquele ano, que as correntes majoritrias do PT tinham a inteno de fazer tudo o que estiver ao seu

    alcance para cercear e se possvel suprimir a liberdade de expresso. O objetivo seria mostrar populao que votar em Lula poderia significar a volta do regime autoritrio (PAIXO, artigo, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006).

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    Sob essa perspectiva, a imprensa s cumpriria fielmente seu papelsocial se mantivesse a independncia do poder estatal e ajudasse aresolver os problemas da sociedade por meio da discusso de todasas suas variveis, ou seja, se mantivesse um posicionamentopluralista, com total liberdade de expresso (MARSHALL, 2003,p. 166).

    No entanto, apesar desse veculo orgnico47 com o poder, a imprensa foi, e

    ainda , igualmente, um dos instrumentos principais da oposio e da resistncia

    poltica em qualquer poca (MOTTA (org.), 2002, p. 14).

    Se ela de fato exerce democraticamente esse quarto poder,representando todos os grupos sociais, uma questo que s oexame de cada circunstncia pode responder.

    E a reside um paradoxo. A imprensa pode ser instrumento dopoder institudo ou um instrumento de resistncia e de oposio aesse poder [que pode pender] para um ou para outro lado,dependendo da situao histrica. [...] O paradoxo revela assim,que no existe imprensa sem insero poltica [desempenhando]igualmente funes econmicas, especialmente comerciais, quandoestimula, por meio dos seus anncios, o consumo de bens. [...](idem, p. 15).

    Marcondes Filho48 (1989 p. 11) diz que o jornalismo ao mesmo tempo a

    voz de outros conglomerados econmicos ou grupos polticos que querem dar s suasopinies subjetivas e particulares o foro de objetividade.

    com este ideal, de publicidade camuflada de notcia, em que a lgica do

    capital e do livre mercado flexibiliza o conceito e o processo do newsmakinge a

    informao transforma-se em um campo de negociao e barganha de interesses

    (MARSHALL, 2003, p. 28).

    A expresso que percebemos agora, segundo Marshall (2003, p. 24), de

    uma transformao generalizada dos padres ticos, estticos e culturais do

    universo da informao, reduzindo aparentemente o jornalismo a uma simples esfera

    de sustentao para interesses eminentemente comerciais.

    Esta liberdade de expresso, que encontramos, nos revela a vulnerabilidade,

    ou mesmo uma crise da imprensa, implicando assim, no que o terico espanhol Jos

    47

    Segundo Motta (2002, p. 13) todo poder poltico, precisa de visibilidade, necessitainstitucionalizar-se como expresso do todo social e, por isso, precisa da imprensa.48apudMarshall, 2003, p. 24

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    Martnez Albertos49, prev: o fim do jornal impresso em 2020, alm do prprio

    jornalismo como linguagem.

    E com o jornalismo pode desaparecer tambm o atual conceitosobre liberdade de imprensa e o respeito religioso pelo direito doscidados e uma informao tecnicamente correta, entre outrosvalores da modernidade.50

    Ento, qual a sada para a crise da imprensa? A indagao de Sodr (1999, p.

    428), respondida pelo porta-voz das agncias estrangeiras de publicidade:

    Mas a no ser que as classes produtoras se compenetrem de que aimprensa o quarto poder dos regimes democrticos, e que sua

    independncia est intimamente ligada compreenso dosanunciantes, que possibilitam sua existncia, a imprensa latino-americana ir perdendo sua liberdade de movimento, e, com ela,seu prestgio perante a opinio pblica. Este o relevante papelesclarecedor que as Agncias de Propaganda precisamdesempenhar junto aos seus clientes, sobretudo perante aqueles queainda no se convenceram do sentido subjetivo da propaganda.51

    49

    Considerado por Marshall como um dos mais severos crticos da imprensa.50 Martnez Albertos, 1997, p.31 apudMARSHALL, 2003, p. 2851 SODR, 1999, p. 428

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    CAPTULO 3. JORNAL: UM CATLOGO DE PUBLICIDADE

    Chegamos crise da imprensa a qual Sodr (1999), ressalta que mesmoestando o desenvolvimento da imprensa no Brasil vinculado ao desenvolvimento do

    pas, h uma certa e pontual influncia estrangeira. A crise do papel, por exemplo,

    que repercutiu no alto preo do papel importado e a extino de subsdios para a

    produo do papel nacional arrasaram a pequena imprensa, reduziram a circulao

    dos jornais nacionais e os entregaram ao controle das agncias estrangeiras de

    publicidade (idem, p. 413). A poltica brasileira, na dcada de 60, arrasou as iluses

    dos jornais pequenos.

    [...] montou-se uma estrutura econmica, social e urbana emfuno de petrleo a 50 centavos de dlar o barril, [...] quando o petrleo passou a 14 dlares o barril (preo mdio no primeirotrimestre de 1974) e o papel de imprensa pula de 171 dlares atonelada (preo em 1971) para 320 dlares, em 1974 (187% dediferena), toda estrutura desaba. a crise (DINES, 1986, p. 32).

    Os grandes jornais continuaram a circular sob a tutela do governo, como por

    exemplo, o Estado de So Paulo investido no papel de verdadeiro catlogo de

    publicidade52 sem obrigatoriedade quantitativa de informao, o pouco que

    informava no tinha qualidade.

    Outro problema que afetou a imprensa nacional foi a dificuldade financeira

    para criar agncias de notcias, o que levou a dependncia dos servios das agncias

    estrangeiras. Alm disso, a telegrafia do pas no era eficiente. A imprensa brasileira

    passou a utilizar o intenso e extenso servio telegrfico pago pela imprensa norte-

    americana. Assim os jornais brasileiros eram influenciados pelos estrangeiros,conforme diz Sodr:

    Em agosto de 1962, o colunista da ltima Hora, Arapu, quemantinha seo em que apareciam crticas humorsticas aosEstados Unidos, seo de pblico numeroso, foi intimado asuprimir tais crticas. Preferiu abandonar o jornal. A carta quedivulgou, ento, triste caracterstica do controle estrangeiro sobrea imprensa brasileira [...] (SODR, 1999, p. 418).

    52 SODR, 1999, p. 415

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    Outras mazelas de ordem econmica desorientaram a imprensa nacional. A

    principal: o baixo salrio que os jornalistas recebiam, enquanto os proprietrios dos

    jornais enriqueciam e as sedes e oficinas eram ampliadas, prdios e mquinas

    comprados , faltava aos jornalistas a prpria voz por meio de uma imprensa com

    fim de divulgar as suas reivindicaes, defender a prpria causa, esclarecer a opinio

    pblica e pedir a solidariedade de outros trabalhadores (ibidem, p. 420).

    No entanto, a imprensa estava ou est53 a servio do capital estrangeiro,

    ou melhor, das agncias estrangeiras de publicidade; do poder pblico (no caso de

    fornecimento de papel, de financiamentos, de isenes de impostos etc.); dos

    prprios proprietrios; e das agncias de notcias estrangeiras.

    A imprensa, realmente, torna-se o contrrio do que era, e particularmente do que deveria ser, na medida em que sedesenvolve, na sociedade capitalista. O jornal menos livre quantomaior como empresa (SODR, 1999, p. 448-449).

    Enfim, falar da crise de imprensa, significa falar que a imprensa, apesar de ter

    nascido da liberdade de expresso, no detm tal liberdade. Vendeu-se para

    sobreviver e ser muito difcil angariar condies financeiras para voltar a ser a voz

    da liberdade.

    3.1 Um pouco de papel

    Percebemos hoje um preo em alta do papel de imprensa e um acentuado

    declnio na produo de papel (tabelas 1 e 2). Produzir aqui chega a custar 20%

    mais do que em certas fbricas na Europa e at 50% mais do que no Chile. Somos

    praticamente dependentes da matria prima estrangeira: o Brasil importa 70% do

    seu consumo de pases como Canad, Frana, Noruega, Holanda e Chile. 54

    Segundo Dines (1986) os elementos que contriburam para transformar a

    carncia latente numa situao de crise so:

    53

    Sendo a moral um reflexo cultural, a Constituio Federativa Brasileira abriu, posteriormente, paraempresas de comunicao possibilidade de terem 30% de participao de capital estrangeiro.54 Instituto Brasileiro de Logstica, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.

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    a) Aumento do consumo mundial [de papel], que passou de 20.530milhes de toneladas em 1970 para 23.124 milhes de toneladasem 1974 (estimado);

    b) Preos no compensadores, provocando o desmantelamento demaquinas de papel de imprensa e o desvio de outras para amanufatura de tipos de papel mais rentveis, notadamente aquelesempregados em embalagem. [...];

    c) Rigoroso inverno de 73 no Canad, impedindo o transporte demadeira pelos rios e lagos, seguidos de uma primavera chuvosaque prejudicou o abate de arvores;

    d) A inflao nos paises desenvolvidos, gerando uma corrida parao aumento dos estoques. J que ento, com os preos baixos e omercado vendedor, poucos se animavam a acumular;

    e) Crise do petrleo, provocando uma escassez e conseqentevalorizao dos meios de transporte;

    f) Controle do meio ambiente (as usinas de papel so grades poluidoras de cursos de gua) tornando impraticveis inmerasfbricas e obrigando o fechamento de 134 pequenos e mdiosestabelecimentos fabris, nos EUA, alm de elevar o custo do papelem 25 dlares/tonelada;

    g) Greve ferroviria no vero de 1973 no Canad, seguida de

    outras no outono, nas prprias fabricas de papel, que at entotrabalhavam com plena capacidade, isto , 24 horas por dia,fornecendo teros da produo mundial de papel de imprensa.55

    A crise dos anos 70 no implicou em providncias para a auto-suficincia na

    produo de papel brasileiro. Havia, contudo, uma fbrica de papel-imprensa, no

    Estado do Paran, a Papis Pisa, com capacidade para abastecer de matria prima os

    principais jornais [...]56. J, em 2005, foram importados 366,5 mil toneladas de

    papel imprensa57. O volume foi 4,7% superior ao do ano anterior. 58 Mesmo com

    subsdios59 nas importaes, o custo do produtojornalavulso alto para boa parte da populao em mdia R$ 70,00 mensais se comprado diariamente. Se assinado,

    estes grandes jornais custam em torno de R$ 40,00 mensais60 aproximadamente R$

    55 DINES, 1986, p. 3356 QUEIROZ,1993 p.1657 segundo levantamento preliminar da Associao Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa)58 Instituto Brasileiro de Logstica, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.59 CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Art. 150. Sem prejuzo deoutras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

    Municpios: III - cobrar tributos: d) livros, jornais, peridicos e o papel destinado a sua impresso.60 Valores obtidos em consulta dos stios eletrnicos da Folha Online e do Estadao.com.br para aassinatura dos respectivos jornais impressos. Acessados em 6 de novembro de 2006.

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    1,50 por dia. Valor trs vezes superior ao que o pblico C e D tem com atrativo, ou

    cinco vezes mais, se comprado avulso por R$ 2,50.

    O Expresso, no Rio de Janeiro, vende mais de cem mil exemplares por diaa um custo de R$ 0,50. Segundo a Marplan, as classes C e D [do Rio] tm juntas 5,8

    milhes de consumidores, dos quais apenas 2,6 milhes so leitores de jornais. Por

    meio deste valor acessvel, O Expresso pretende expandir o nmero de leitores. Em

    Braslia, com a mesma proposta, oAqui-DFcusta R$ 0,50 e oAgora-DF,R$ 0,25.61

    Em So Paulo, oDestak distribudo gratuitamente62.

    tabela 1

    Custo de papel de imprensa

    (custo mdio por tonelada) Papel Importado63

    Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005

    US$/ton 625 580 405 425 520 520

    Fonte:200-2004 Samab Cia. Ind. e Comrcio de Papel.64

    2005 - Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior.

    tabela 2

    Papel de Imprensa em 1000 toneladas65

    1999 2000 2001 2002 2003 2004

    Produo 243 266 233 248 163 133

    Importao 379 398 297 250 281 350

    Exportao 22 14 8 3 1 1

    Consumo Aparente 600 650 522 495 443 482

    Consumo per capita (kg) 3.7 3.8 3.0 2.8 2.5 -

    Fonte: Bracelpa

    61 Disponvel em: http://www.anj.org.br/jornalanj/?q=node/700&PHPSESSID=86c8ffc357c9d5e8b3f110536a36335d. Acessado em 6 de novembro de 2006.62 DE Dirio Econmico, 26 de junho de 2006, on-line. Acessado em 6 de novembro de 2006.63 Disponvel em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.64 Papel importado (45g/m2): preo base custo e frete para entrega em porto brasileiro, para

    pagamento em 180 dias a partir do embarque.65 Disponvel em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.

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    3.2 A publicidade, e por trs, a notcia

    A publicidade atuante considervel no sustento dos meios de comunicao.

    De exemplo, os jornais de prestgio do mundo. O New York Times, EUA, tem at

    70% das receitas proveniente de publicidade.Le Fiagro, Frana, eEl Pas, Espanha,

    tm at 50%. As empresas americanas de publicidade gastam, anualmente, cerca de

    dois mil dlares por famlia.

    Marshall (2003) lembra que nem sempre a publicidade foi onipresente.

    Segundo Jurgen Habermas, do sc. XVIII ao XIX existia uma repulsa a partir dos

    simples anncios comerciais. Os reclames eram considerados indecentes66.Ressalta tambm que nos primrdios da imprensa jornalstica, no havia uma

    distino clara sobre os limites do que era publicidade e do que era jornalismo.

    Os primeiro anncios tinham principalmente uma funo informativa, de

    carter noticioso, sem representar significativamente uma fonte de rendimento.

    Somente nos ltimos 30 anos do sc. XIX os rendimentos da venda de espao

    publicitrio tornam-se lentamente a base econmica dos jornais (Marcondes Filho,

    1984, p. 63). No sc. XX as propagandas pagas ocupam de 60% a 65%, em mdia,

    das pginas dos jornais e revistas. Assim, a publicidade torna suportvel os tributos

    fiscais impostos aos peridicos e a ela mesma, a publicidade, permitindo a

    sobrevivncia dos mass media67.

    Graas publicidade, os veculos de comunicao puderam se desenvolver.

    Muitos programas surgiam produzidos diretamente por agncias de publicidade.

    Reprter Esso e Telejornal Pirelli, por exemplo, eram produes integralmentesubsidiadas por empresas anunciantes e formadas por agncias de publicidade.

    Marshall (2003) defende a idia de que no possvel imaginar um jornal

    sem publicidade. Alm da publicidade bancar o jornal, exerce um contraponto aos

    textos noticiosos na forma de boa notcia. O prprio jornal, para sobreviver ps-

    modernidade, depende de satisfazer aos gostos e s opinies, sobretudo ao do poder

    66 Jurgen Habermas, 1984, p. 223 apudMARSHALL, 200367 Eullio Ferrer, 1997, p. 109 apudMARSHALL, 2003

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    econmico, sem ferir, secundariamente, as expectativas dos leitores. Neste caso, o

    jornal ps-moderno privilegia os interesses do universo publicitrio e a linha editorial

    passa a no querer desagradar a ningum e, de preferncia, agradar a todos.

    Em funo da influncia que a publicidade exerce sobre o jornal, Marshall

    admite que as empresas anunciantes so foras econmicas decisivas na

    determinao da natureza, da qualidade e do contedo do produto jornalstico. Neste

    caso, o jornal vendido para as agncias de publicidade antes de s-lo para os

    leitores.

    Neste mundo capitalista, as empresas de comunicao chegam a

    acatar determinaes de empresas quanto ao contedo dosprogramas. Tal manipulao serve para cria um ambiente adequadopara os anncios da empresa patrocinadora68

    Os maiores anunciantes, bem como os gastos com publicidade por veculo de

    comunicao, podem ser verificados nas tabelas 3, 4 e 5. possvel perceber que o

    jornal detm o segundo lugar em investimentos publicitrios, perdendo apenas para a

    televiso. Segundo Milton Correia Junior, o jornal o meio mais consultado por

    pessoas que esto pensando seriamente em efetuar uma compra ou que j se

    decidiram a comprar.69

    tabela 3

    Investimento Publicitrio, por meio (%)70

    JornalRevist

    aTV

    TV porassinatura

    Rdio InternetMdia

    exteriorOutro

    sTotal

    2005 16,3 8,8 59,6 2,3 4,2 1,7 4,7 2,8 100

    2004 16,6 8,3 59,2 2,2 4,3 1,6 2,7 2,9 100

    2003 18,1 9,4 59,1 1,7 4,5 1,5 5,7 - 100

    2002 19,9 9,7 58,7 1,9 4,5 - 4,8 - 100

    2001 21,3 10,5 57,3 1,5 4,7 - 4,3 - 100

    Fonte: Grupo de Mdia So Paulo Mdia Dados e Projeto Inter-Meios

    68 SaderapudHalimi, 1998, p. 8 abudMARSHALL, 200369 Pesquisa feita pelo instituto Ipsos-Marplan, intitulada Quero comprar - A relevncia dos meios deinformao no processo de compra. Jornal que define compra. Agosto de 2003. Disponvel emhttp://www.anj.org.br/index.php?q=node/190&PHPSESSID=4ab6aab9b7f410e97df35f8e64d6ff9d.

    Acessado em 24 de outubro de 2006.70 Disponvel em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.

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    tabela 4

    Investimento Publicitrio no Meio Jornal71

    Ano R$ (000)

    Jornais - 2005 2.601.648

    Jornais - 2004 2.315.316

    Jornais - 2003 2.006.128

    Jornais - 2002 1.918.818

    Jornais - 2001 1.975.049

    Fonte: Projeto Inter-Meios

    tabela 5

    10 maiores setores econmicosMeio Jornal (2005)72

    Setor econmicoInvestimentoem R$ (000)

    Comercio Varejo 4.518.060

    Mercado Imobilirio 1.504.382

    Servios ao Consumidor 1.176.189

    Cultura, Lazer, Esporte e Turismo 1.052.792

    Veculos peas e acessrios 632.710

    Mdia 577.726

    Mercado Financeiro e Seguros 451.056

    Servios Pblicos e Sociais 367.569

    Telecomunicaes 270.438

    Internet 110.759

    Total de investimentos 10.661.681

    Fonte: Ibope Monitor. Considerando tabela, sem descontos.

    A prpria ANJ - Associao Nacional de Jornais, cuja misso de defender

    a liberdade de expresso, do pensamento e da propaganda, o funcionamento sem

    restries da imprensa, observados os princpios de responsabilidade, e lutar pela

    defesa dos direitos humanos, os valores da democracia representativa e a livre

    71 Disponvel em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576

    b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.72 Disponvel em: http://www.anj.org.br/?q=node/173&PHPSESSID=11087365f21fe267cb72d1a4d8d3fc25. Acessado em 24 de outubro de 2006.

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    iniciativa73, vende ojornalaos anunciantes de todas as formas possveis.

    Com estatsticas atrativas para anunciantes; guias de como produzir anuncio

    para impresso em jornal, a militncia pela liberdade de expresso e a divulgao dacredibilidade quesustenta o jornal, a ANJ anuncia com satisfao:

    O meio Jornal brasileiro vem procurando atender antigasreivindicaes do mercado publicitrio, tais como novas frmulasque permitam a veiculao de anncios criativos, simplificao databela de preos, reformulao dos classificados e cadernosdirigidos a pblicos especficos.74

    O resultado pode ser conferido na campanha da Claro Voc vai ter muito

    assunto para falar, que participou do 5 Prmio ANJ de Criao (figura 1).

    Em busca de um sentido para esta pea publicitria, ou discurso, analisaremos

    a cenografia atravs da formao discursiva do anncio da Claro, que por atribuir-se

    a cena(grifo nosso) que sua enunciao ao mesmo tempo produz e pressupe para se

    legitimar. [...] A dixis discursiva75 consiste apenas em um primeiro acesso

    cenografiade uma formao discursiva; esta ltima possui ainda um segundo ponto

    atravs do qual possvel alcan-la; trata-se da dixis fundadora76. Uma formao

    discursiva s pode legitimar-se de forma vlida se utilizar de elementos de uma outra

    dixis (dixis fundadora) , cuja histria ela usa a seu favor.

    Assim, destacamos os diticos indicadores de pessoas no anncio:

    um locutor um conselheiro que conhece as necessidades do consumidor;

    um destinatrio ou alocutrio oconsumidor-alvo do produto marcado pelopronome de tratamento voc;

    o delocutrio que em relao pessoalidade a no-pessoa (ele) emoposio pessoa (eu/tu). No texto em questo, o marcador da no-pessoa oproduto Claro.

    73 Disponvel em: http://www.anj.org.br/?q=node/37&PHPSESSID=6edc16eb2fd9a8c120a9e8adbce7cb20. Acessado em 24 de outubro de 2006.74 Disponvel em: http://www.anj.org.br/?q=node/13&PHPSESSID=bab3f55200284cf9942d8fb20c13efe4. Acessado em 24 de outubro de 2006.75 A deixis( palavra importada do grego antigo, com o significado de ao de mostrar ) umadas formas de conferir ao seu referente a uma seqncia lingstica, situando um enunciado no espao

    e/ou no tempo em relao ao enunciador, ou seja, um marcador indicativo das pessoas do discurso eu, tu, ele, do tempo do discurso agira e do espao determinado pelo discurso aqui.76 MAINGUENEAU, 1997

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