jornalismo de agências e imprensa regional: modelos público e privados em contexto de crise

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Jornalismo de Agências e Imprensa Regional modelos público e privados em contexto de crise Pedro Aguiar doutorando Universidade do Estado do Rio de Janeiro orientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira bolsista FAPERJ

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Page 1: Jornalismo de Agências e Imprensa Regional: modelos público e privados em contexto de crise

Jornalismo de Agênciase Imprensa Regional

modelos público e privados em contexto de crise

Pedro Aguiardoutorando

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

orientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira

bolsista FAPERJ

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resumoO jornalismo de agências de notícias nem sempre é lembrado como um dos campos segmentados para o exercício da profissão. Particularmente no Brasil, essa modalidade carece de um mercado robusto. As agências existentes são divididas entre o modelo público, ligado aos governos federal, estaduais e municipais, e o modelo privado, geralmente submetido a conglomerados de mídia. Em ambos os casos, no entanto, predomina uma preocupação com a distribuição de conteúdo jornalístico para a imprensa regional, fora dos grandes centros, com ou sem fins lucrativos. Em tempos de crise do jornal impresso, de choque do modelo empresarial de jornalismo com a convergência digital e da ruptura constitucional de 2016, que ameaça as poucas conquistas da última década no setor da comunicação pública, o jornalismo de agências no Brasil encontra-se numa encruzilhada entre perecer ou reinventar-se para sobreviver.

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tópicos

1) agências de notícias do governo federal1)AN - Agência Nacional (1937-1979)2)EBN – Empresa Brasileira de Notícias (1979-

1988)3)ABr - Agência Brasil (1990-...)

2) “agências de notícias” dos conglomerados “nacionais”

3) “agências de notícias” dos conglomerados regionais

4) crise do jornal impresso e do modelo empresarial do jornalismo

5) golpe e crise da EBC e da comunicação pública

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agências de notícias do Brasil

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AN EBN ABr 1937-1979

criada por Getúlio Vargas extinta por João Figueiredo

1º diretor:

Licurgo Ramos Costa

1979-1988 criada por João Figueiredo

extinta por José Sarney

1º diretor: Apolônio Sales Filho

1990-... criada por Fernando Collor

1º diretora: Miriam Moura

DPDC (1937-1940) DIP (1940-1945) DNI (1945-1946)

Ministério da Justiça (1946-1967)

Casa Civil (1967-1979)

SECOM (1979-1981) Ministério da Justiça (1981-

1988)

Ministério da Justiça (1990-1995)

SECOM (1995-2007) EBC (2007-...)

divulgação de atos oficiais substituição de material censurado (1937-1945)

cinejornais Hora do Brasil / Voz do Brasil

divulgação de atos oficiais “notícias de interesse público”

A Voz do Brasil (até 1975, com

criação da Radiobrás)

divulgação de atos oficiais (até 2006)

reportagens especiais e

multimídia (a partir de 2006) Regimento de 1956

Estatuto de 1971 Estatuto de 1982 Estatuto da Radiobrás, 1999

Estatuto da EBC, 2008

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agência nacionalCriada para que servisse tanto ao projeto modernista de integração

nacional por meio da circulação doméstica de notícias quanto à difusão dos discursos do regime.

Embora tivesse como elemento visível o boletim A Hora do Brasil, sua produção era relevante para o meio impresso, chegando a jornais de todo o país.

A Agência Nacional estava ligada ao DIP e dominava todos os meios de comunicação. Não por opressão, mas por

superação e com a colaboração agradecida e provada de todos os jornais. (...) Esse diabo não era tão feio como o pintam. (...) No comando da AN dispunha eu de poder e

importância na imprensa. (MARIANO, 2012: 31)

Após o golpe de 1964, a agência passou a ser vista como “órgão oficial de divulgação” – LACOMBE, 1971.

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empresa brasileira de notíciasA nova empresa herdou o dever de produzir noticiários sobre o governo e o programa A Voz do Brasil.

Criada em 1979 pelo Governo João Figueiredo – último do ciclo da ditadura militar –, a EBN sucede a antiga Agência Nacional. Na Nova Republica, além de continuar produzindo a Voz do Brasil, tem prioridade na distribuição de notícias. Em três anos – 1986, 1987 e 1988 – contabiliza quatro presidentes, todos demitidos ou exonerados a pedido, após crises com o Palácio do Planalto (BAHIA, 2009: 280 – nota).

A EBN teve vida curta: em 1988, foi absorvida pela Radiobrás, que passou oficialmente a se chamar Radiobrás – Empresa Brasileira de Comunicação.

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agência brasilCriada em 1990, no governo Collor, dois anos após a extinção da EBN.

Durante sua estada em Moscou, o presidente ficou impressionado com a eficiência da TASS, a agência da União Soviética, que alcança praticamente o mundo todo, fornecendo a interpretação oficial do governo acerca do que acontece no país. Decidido a montar um órgão similar no Brasil, o governo optou pelo modelo da EFE, a agência espanhola (VEJA, 1990: 29).

Em 1997 surgiu o primeiro website da Agência Brasil, quando a distribuição das notícias (antes feita por fax, Telex e BBS) começou a acontecer também pela Internet. A partir de 2000, esta passou a ser a única plataforma de distribuição de conteúdo (SILVA JR., 2002).

No Governo Lula, sob gestão de Eugênio Bucci, a agência passou por modificações, na tentativa de romper com um modus operandi calcificado desde a AN e a EBN. Ele buscou:

“dar a uma empresa pública de comunicação uma direção apartidária, impessoal, para servir à sociedade, atendendo o direito à informação” (BUCCI, 2008: 21)

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praças de correspon-dência da EBC/ABr

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agências de conglomeradoscaracterísticas e lógica comercial:

1) não produzem material original

2) reaproveitam conteúdo (texto e fotos) gerados pelas equipes dos jornais carro-chefe

1) circulam informação internamente entre os próprios veículos do grupo, poupando custos de produção e multiplicando o aproveitamento do conteúdo

2) vendem externamente frações do conteúdo produzido (em proporções variáveis, a depender de diversos fatores como exclusividade da informação jornalística e concorrência, entre outros), capitalizando receita

3) poder reforçado pela convergência e demissões

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agências dos grupos brasileirosQuadro I. Agências de notícias de grupos de mídia brasileiros

Nome Sede Criação Grupo proprietárioDA Press Rio de Janeiro 1931 Diários Associados

Agência JB Rio de Janeiro 1966 CBM (Nelson Tanure)

Agência Estado São Paulo 1970 Grupo OESP (família Mesquita)

Agência O Globo Rio de Janeiro 1974 Infoglobo Comunicações S/A (família Marinho)

FolhaPress São Paulo 1994 Grupo Folha (família Frias)

Agência RBS Porto Alegre 1994 Grupo RBS (família Sirotsky)

Agência O Dia Rio de Janeiro 1998 EJESA/Ongoing

Agência Anhangüera de Notícias

Campinas 2000 Grupo RAC (família Godoy)

Agência Bom Dia Jundiaí/S. Paulo 2006 Cereja Digital

Agência A Tarde Salvador 2007 Grupo A Tarde (família Simões)

Agência Diário do Nordeste *desativada

Fortaleza 2008 Sistema Verdes Mares (família Queiroz)

Agência de Notícias Gazeta do Povo

Curitiba 2009 GRPcom - Rede Paranaense de Comunicação

Agência AG (A Gazeta) Vitória 2010 Rede Gazeta de Comunicações (Carlos Lindenberg)

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20 21

18 11

jornaisassinantesdas agências entre os30 com maior circulação (ANJ, 2015)

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relaçãodedepen-dênciaagências nacionaiseregionais

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circularidade e dependênciacircularidade - reprodução de conteúdos originalmente publicados em outros veículos (jornal regional pode ter notícia sua usada como material de apuração para outro texto de um portal de conglomerado nacional, por sua vez distribuído pela respectiva “agência” a seus clientes, inclusive o próprio jornal que originou a matéria)

“Os movimentos circulares da máquina de produção de notícias, apesar de esporadicamente percebido, são, na maior parte, ocultos da atenção dos produtores de notícias – e de seus clientes” (CZARNIAWSKA, 2011: 193)

dependência - jornais menores não têm sucursais nem estrutura própria de cobertura além do território imediato; sem a assinatura das agências estrangeiras e das “agências” dos conglomerados, a imprensa regional tem severamente limitado seu território de cobertura; reforço que o grande capital nacional de mídia oferece aos detentores do poder local, especialmente quando eles mesmos são (ou se ligam a) empresários de imprensa ou concessionários de radiodifusão; demissões recentes reforçam essa relação

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conclusãoA distribuição gratuita do conteúdo, feita como opção política, sempre foi uma faca de dois gumes para as agências de notícias do Estado brasileiro: se, por um lado, garantia vantagem competitiva junto à imprensa de pequeno e médio porte, que preferia usar o material oficial a pagar pelos serviços das agências privadas, por outro impedia sua sustentabilidade financeira. E este dilema não foi superado até hoje, ainda que a EBC conte com a divisão EBC Serviços, que se apresenta como “a unidade da empresa destinada a prestar serviços remunerados a entidades públicas e privadas, contribuindo para a geração de receitas próprias”.

A busca pela aceitação como “pública” e a simultânea rejeição enfática ao rótulo de “estatal” (seja para sua própria natureza institucional, como agência, seja para o jornalismo que pratica) entram em contradição com o modelo de gestão e de funcionamento da empresa que a abriga, a EBC, e revelam uma preocupação mais cosmética/de imagem externa do que de efetiva estruturação organizacional. A designação da presidência da EBC continua sendo prerrogativa de nomeação pelo presidente da República, e assim, indiretamente, também a coordenação da agência. Assumir-se como órgão do Estado (não necessariamente do governo, embora esteja subordinada ao Poder Executivo em instância federal) não impede a Agência Brasil de praticar jornalismo no interesse público.

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agenciasdenoticiasblog.wordpress.com

Aracaju, setembro de 2016