implantação de um programa de conservação auditiva

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA: ENFOQUE FONOAUDIOLÓGICO ANA LÚCIA RIOS RIBEIRÃO PRETO 2007

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO

    IMPLANTAO DE UM PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA:

    ENFOQUE FONOAUDIOLGICO

    ANA LCIA RIOS

    RIBEIRO PRETO 2007

  • ANA LCIA RIOS

    IMPLANTAO DE UM PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA:

    ENFOQUE FONOAUDIOLGICO

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias Mdicas. rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica Orientadora: Prof. Dra. Geruza Alves da Silva

    Ribeiro Preto 2007

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR

    QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,

    PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    FICHA CATALOGRFICA

    Rios, Ana Lcia Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque

    fonoaudiolgico. Ribeiro Preto, 2007. 133p.: il.; 30cm

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica.

    Orientadora: Silva, Geruza Alves da

    1. Preveno & controle. 2. Sade do trabalhador. 3. Perda auditiva provocada por rudo. 4. Programa de sade ocupacional. 5. Rudo ocupacional.

  • FOLHA DE APROVAO Ana Lcia Rios Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque fonoaudiolgico

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias Mdicas rea de Concentrao: Clnica Mdica Investigao Biomdica

    Aprovado em: _____ / _____ / _____

    BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Geruza Alves da Silva Professora Doutora do Departamento de Clnica Mdica da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Orientadora Assinatura: _____________________________ Profa. Dra. Andra Cintra Lopes Professora Doutora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Everardo Andrade da Costa Professor Doutor Colaborador da Disciplina de Otorrinolaringologia, Cabea e Pescoo e da Ps-Graduao em Sade Coletiva, Faculdade de Cincias Mdicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Jos Antnio Apparecido de Oliveira Professor Titular do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabea e Pescoo da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________ Prof. Dr. Milton Roberto Laprega Professor Doutor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo (USP). Assinatura: _____________________________

  • DEDICATRIA

    A todos aqueles que fazem ou que fizeram algo

    para um ambiente de trabalho mais humano.

  • EM ESPECIAL

    A Profa. Dra. Geruza Alves da Silva, pelo exemplo, pela coragem e orientao. Obrigada

    pelo crdito, prontido, pacincia e ateno em todo o processo de construo desde estudo.

    Meu respeito sempre. Sou muito grata!!!

  • AGRADECIMENTOS

    AGRADEO,

    a DEUS, por iluminar sempre os meus caminhos;

    aos meus pais Rubens e Aparecida, por mostrarem que na vida tudo tem a sua hora

    e que no podemos nos esquecer dos limites de liberdade de cada um;

    aos meus irmos Gilsa Elena e Jos Alberto, pelos exemplos de persistncia;

    ao meu querido Gustavo, por ter me proporcionado uma nova viso de mundo, alm da

    pacincia e apoio a mim dedicados durante essa etapa da minha vida;

    aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao

    em Clnica Mdica, pelo convvio e ensinamentos transmitidos;

    a pessoa do Dr. Clsio de Sousa Soares, representando todos os integrantes

    do SESMT da empresa, pela confiana depositada,

    pela acolhida e pelo acesso aos dados e ambiente estudado;

    a chefia e aos funcionrios da Diviso de Nutrio e Diettica da empresa,

    que humildemente atenderam s solicitaes e permitiram a execuo do estudo;

    a amiga Danielle, pela amizade e disposio sempre constantes.

    A todos que contriburam para a construo deste estudo, MUITO OBRIGADA !!!

  • A coragem de arriscar a metade do sucesso.

    IRMOS GRIMM

  • RESUMO

    RIOS, A. L. Implantao de um Programa de Conservao Auditiva: enfoque fonoaudiolgico. 2007. 133f. Tese (Doutorado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2007. A tecnologia e a modernidade proporcionam, em alguns casos, a ocorrncia de doenas ocupacionais e consequentemente a queda na qualidade de vida da classe trabalhadora causada, muitas vezes, pelo aumento dos nveis de rudo nas indstrias. Com isso a Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR) tem ocupado lugar de destaque entre as doenas ocupacionais. A implantao de um Programa de Conservao Auditiva (PCA) necessria em locais de trabalho onde os nveis de exposio ao rudo estejam acima dos limites de tolerncia. O objetivo do estudo foi propor para a direo de uma empresa a implantao de um Programa de Conservao Auditiva na Diviso de Nutrio e Diettica (DND), rea que apresenta nvel de presso sonora elevado, verificando a eficcia do trabalho dos profissionais atualmente envolvidos e enfocando o papel do fonoaudilogo. Foram analisadas as avaliaes auditivas contidas nos pronturios mdicos de todos os funcionrios da DND realizadas durante o perodo de dezembro de 2004 (ano base) a maro de 2006. Por meio de um questionrio, os dados pessoais e referentes histria clnica e ocupacional dos trabalhadores foram colhidos. Paralelamente aos procedimentos j citados, foram realizadas palestras e/ou mini-cursos aos funcionrios da Diviso sobre os cuidados com a audio, a necessidade e importncia do uso do equipamento de proteo individual, a importncia da realizao dos exames auditivos, alm de esclarecimentos relativos s portarias e normas de sade ocupacional. Participaram do estudo 174 funcionrios da DND com idade variando de 23 a 61 anos (mdia de 43 anos) e predomnio do gnero feminino (93,68%). No ambiente de produo da DND o rudo variou entre menos de 60dB(A) a 88,7dB(A) e as reas mais ruidosas respectivamente so: Seo de Preparo e Coco, Seo de Cozinha e Diettica, Lavagem e Esterilizao e Restaurante I. A maioria dos funcionrios faz uso do protetor auricular com freqncia e participam das capacitaes que a empresa proporciona, porm em 2004, 35,29% apresentaram algum tipo da alterao na acuidade auditiva, sendo que, na sua maioria, a configurao audiomtrica sugestiva de PAIR e quando os exames de 2004 foram comparados com os de 2005, o agravamento da perda auditiva foi de 32%, demonstrando que as medidas de preveno adotadas esto pouco eficazes. Com esses dados conclumos que a implantao de um programa de conservao auditiva com aes sincronizadas entre os que realizam as atividades preventivas, na empresa se faz urgente. Palavras-chave: Preveno & controle. Sade do trabalhador. Perda auditiva provocada por rudo. Programa de sade ocupacional. Rudo ocupacional.

  • ABSTRACT

    RIOS, A. L. Implementation of Hearing Conservation Program: focus audiologyst. 2007. 133f. Tese (Doutorado) University of Medicine at Ribeiro Preto, University of So Paulo, Ribeiro Preto, 2007. The technology and the modernity provide, in some cases, the occurrence of occupational diseases and consequently, a decrease in the health quality of live of the workers, due to increase in the level of noise in the industries. Hence, the Noise-Induced Hearing Loss (NIHL) plays a critical role among the occupational diseases. The implementation of a Hearing Conservation Program (HCP) is necessary in work places where the levels of noise are above the tolerance limits. The aim of this study was to propose, to the manage department of an enterprise, a Hearing Conservation Program to be applied in the Department of Nutrition and Dietary (DND). This department presents high levels of sound pressure and the HCP implementation had the objective of reaching the work efficiency of the workers involved in this section, focusing on the role of the audiologyst. The hearing tests described on the medical records of all workers of the DND, during the period of 2004 (year-base), december to 2006, march, were analyzed. Personal data related to the clinical and occupational history of the workers were collected using a questionary. Simultaneously to the procedures already mentioned, talks and small courses were implemented involving the workers, about hearing cares and medical examinations, the individual protection equipment importance and health laws and normatization. One hundred seventy four (174) DND workers answered the quiz, with ages varying between 23 and 61 years old (an average of 43 years old) and almost all women (93,68%). In the DND installations, the noise varied between less than 60dB(A) and 88,7dB(A) and the noisiest areas are, respectively: preparing and cooking, kitchen and dietary, washing and sterilization and restaurant I. Usually, all workers use an protector headphone and also attend the technical courses provided by the enterprise. However, in 2004, 32,29% presented some kind of hearing alteration and, mostly, the audiologic configuration is suggestive of NIHL. Besides, when the exams of the year of 2004 were compared to the exams of 2005, it was possible to note an increase of 32% in the hearing losses of the workers, showing that the adopted prevention actions are not efficient. Using these data, one can conclude that to implement a hearing conservation program and synchronized actions among the ones who develop prevention activities is urgent.

    Keywords: Prevention & control. Occupational health. Hearing loss noise-induced. Occupational health program. Noise occupational.

  • LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 1 Representao grfica da percentagem de participantes relacionados s sees em que trabalham .........................................................................

    58

    GRFICO 2 Representao grfica da percentagem dos indivduos por funo relacionados s sees em que trabalham ................................................

    58

    GRFICO 3 Representao dos sintomas no auditivos relatados pelos indivduos em percentagem de ocorrncia ................................................................

    61

    GRFICO 4 Representao das queixas relatadas pelos indivduos e a percentagem de ocorrncia ............................................................................................

    62

    GRFICO 5 Representao grfica das queixas manifestadas pelos indivduos durante o uso do protetor auricular e a percentagem de ocorrncia ........

    64

    GRFICO 6 Representao grfica das opinies sobre o questionrio e a percentagem de ocorrncia ......................................................................

    68

    GRFICO 7 Representao grfica do nmero anual de exames realizados nos ltimos anos .............................................................................................

    69

    GRFICO 8 Distribuio percentual da situao auditiva unilateral dos funcionrios em 2004 ...................................................................................................

    71

    GRFICO 9 Distribuio percentual da situao auditiva bilateral dos funcionrios em 2004 ...................................................................................................

    71

    GRFICO 10 Distribuio percentual da situao auditiva unilateral dos funcionrios em 2005 ...................................................................................................

    73

    GRFICO 11 Distribuio percentual da situao auditiva bilateral dos funcionrios em 2005 ...................................................................................................

    73

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva e idade em levantamento dos dados em 2004 ............................................

    55

    TABELA 2 Dados referentes as diferentes situaes de contato com rudo ocupacional ou no e a percentagem de ocorrncia ................................

    56

    TABELA 3 Dados referentes ao emprego atual dos indivduos estudados e a percentagem de ocorrncia ......................................................................

    57

    TABELA 4 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios por tempo de servio relacionado ao ano de 2004 .......

    57

    TABELA 5 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios por seo em 2004 ........................................................

    59

    TABELA 6 Dados referentes aos diferentes tipos e graus de percepes do rudo pelos indivduos e a percentagem de ocorrncia .....................................

    60

    TABELA 7 Dados referentes ao ambiente de produo e a percentagem de ocorrncia ................................................................................................

    63

    TABELA 8 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios relacionada ao uso de protetor auricular individual .....

    65

    TABELA 9 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da freqncia do uso do protetor auricular por seo de trabalho .............................................

    66

    TABELA 10 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual relacionada informao ........................................

    66

    TABELA 11 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual relacionada ao mtodo de informao .....................

    67

    TABELA 12 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais do uso de protetor auricular individual na comparao dos exames de 2004 e 2005 ............

    67

    TABELA 13 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2004 .........................

    70

    TABELA 14 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2005 .........................

    72

    TABELA 15 Distribuio em nmeros absolutos e percentuais da situao auditiva dos funcionrios quando analisados os exames de 2004 e 2005 .............

    75

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AAOHNS American Academy of Otolaryngology

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AC Antes de Cristo

    ANSI American National Standard Institute

    CA Certificado de Aprovao

    CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    dB DeciBel

    dB(A) DeciBel na escala de atenuao A

    dB(NA) Nvel de audio em deciBel

    DND Diviso de Nutrio e Diettica

    DP Desvio Padro

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    GHE Grupo Homogneo de Exposio

    HCFMRP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto

    Hz Hertz

    INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

    ISO International Standardization Organization

    Leq Nvel Equivalente de Rudo

    LTCAT Laudo Tcnico das Condies Ambientais de Trabalho

    MPL Mudana Permanente de Limiar

    MTb Ministrio do Trabalho

  • MTL Mudana Temporria de Limiar

    n Nmero de indivduos

    NHO Norma de Higiene Ocupacional

    NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health

    NPS Nvel de Presso Sonora

    NR Norma Regulamentadora

    NRR Noise Reduction Rating

    NRRsf Nvel de Reduo de Rudo (subject fit)

    OS Ordem de Servio

    OSHA Occupational Safety and Health Administration

    PA Perda Auditiva

    PAINPSE Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados

    PAIR Perda Auditiva Induzida por Rudo

    PCA Programa de Conservao Auditiva

    PCMSO Programa de Controle Mdico em Sade Ocupacional

    PPRA Programa de Preveno para Riscos Ambientais

    PUC Pontifcia Universidade Catlica

    SESMT Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho

    SSST Secretaria de Sade e Segurana do Trabalho

    USP Universidade de So Paulo

    WHO World Health Organization

  • SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE GRFICOS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APRESENTAO ................................................................................................................

    16

    1 INTRODUO ................................................................................................................

    19

    2 OBJETIVOS ....................................................................................................................

    42

    3 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................

    43

    4 RESULTADOS .................................................................................................................

    54

    5 DISCUSSO ....................................................................................................................

    76

    6 CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................

    93

    REFERNCIAS1 ..................................................................................................................

    95

    ANEXOS .............................................................................................................................

    107

    1 *De acordo com a ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 6023: informao e documentao/referncias e elaborao. Rio de Janeiro, 2002.

  • APRESENTAO

  • APRESENTAO

    16

    Atualmente podemos encontrar vrios modelos de ambientes laborais que podem ser

    desde uma linha de produo moderna, tecnolgica e globalizada at aquela empresa

    rudimentar, sem muitos recursos investidos. Mesmo com a evoluo das relaes do

    trabalhador com o local de trabalho, no houve mudana significante nesse elo, quanto ao

    rudo, que continua sendo um agente fsico muito encontrado nos ambientes de inmeros

    processos produtivos.

    A tecnologia e a modernidade trouxeram, em muitos casos, o aumento das doenas

    ocupacionais e consequentemente a queda na qualidade de vida da classe trabalhadora. Dentre

    todos os fatores ou agentes que se caracterizam como risco para a sade do homem no

    ambiente ocupacional, o rudo aparece como o mais constante e o mais universalmente

    distribudo.

    A empresa, em que foi realizado esse estudo, possui servios isolados de

    administrao, de medicina, de engenharia do trabalho e de fonoaudiologia, que visam

    qualidade de vida do trabalhador, mas essas medidas no so unificadas e ordenadas no

    sentido de cumprir um programa com proposta de prevenir acidentes auditivos, dentro das

    normas trabalhistas e, com isso os efeitos desejados acabam ocorrendo a muito longo prazo.

    O Servio Especializado em Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho

    (SESMT) da empresa composto por: engenheiros e tcnicos de segurana, assistente social,

    educador fsico, mdicos, enfermeiros e tcnicos de enfermagem do trabalho. Os profissionais

    de segurana so os responsveis pelo levantamento do mapa de risco e confeco do

    Programa de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA), um programa obrigatrio por lei. O

    PPRA um documento constitudo pelos resultados obtidos em todo o processo de

    levantamento que identifica por setor/funo o agente encontrado, sua causa/fonte, seus

    efeitos sade e as medidas de controle propostas. Por meio da avaliao ambiental pode-se

  • APRESENTAO

    17

    constatar que o rudo o agente de risco muito incidente na Diviso de Nutrio e Diettica

    (DND) e dessa forma, o controle do rudo torna-se prioridade.

    Na empresa, antes da dcada de 90, no havia muita preocupao com a sade do

    trabalhador e se havia no era manifestada. No aspecto mdico de sade do trabalhador havia

    uma dinmica de atendimentos aos funcionrios, porm quanto realizao de exames

    audiomtricos no havia uma rotina para funcionrios nem para o servio de fonoaudiologia

    da empresa. Em 1998, o Setor de Fonoaudiologia da entidade junto com o SESMT e as

    chefias de cada seo de trabalho se mobilizaram no sentido de promover a realizao dos

    exames auditivos.

    Atualmente, h uma enfermeira do trabalho e um tcnico de enfermagem responsvel

    pela convocao dos funcionrios indicados de todas as reas da empresa para a realizao

    dos exames auditivos peridicos, alm dos admissionais e demissionais, porm ainda h

    problemas para a sistematizao e realizao desses exames devido a grande demanda e da

    ausncia de um servio estruturado para tal finalidade.

    Aps a realizao do exame tambm no h uma sistematizao por parte das

    fonoaudilogas em relatar ao funcionrio o resultado do mesmo, o que fica a cargo do mdico

    do trabalho, mas muitas vezes, o funcionrio comparece consulta mdica e no fica sabendo

    se possui ou no alguma alterao auditiva. O exame anexado ao pronturio do trabalhador

    e, na maioria das vezes, a audiometria realizada sem a posse do exame anterior (nos casos

    de peridico e demissionais) dificultando uma anlise do caso.

    Como ainda no h um Programa de Conservao Auditiva (PCA) institudo na

    empresa, o monitoramento audiomtrico tambm no realizado apesar de as atividades

    relacionadas medio e controle do rudo e proteo auditiva individual serem executadas.

    Para esse monitoramento, os funcionrios devero ter um exame admissional (de referncia) e

  • APRESENTAO

    18

    exames seqenciais (peridicos) realizados semestralmente ou anualmente dependendo de

    cada caso, possibilitando um acompanhamento efetivo da acuidade auditiva e da evoluo da

    alterao auditiva.

    Desde 2004, o SESMT comeou a utilizar para organizar, padronizar e gerenciar seus

    dados um sistema computadorizado que abrange gestes integradas de sade e segurana do

    trabalho. Segundo as especificaes desse sistema, a programao possui vrios dados

    padronizados de forma pr-definida o que proporciona um alto nvel de flexibilidade e

    adequao ao ambiente do cliente. utilizado para a informatizao do ambulatrio mdico e

    da rea de segurana do trabalho, porm no o utilizam para arquivo dos exames nem para o

    gerenciamento audiomtrico at o incio desse estudo.

    A implantao de uma rotina de preveno de alteraes auditivas e de conservao da

    audio de forma permanente e continuada necessria, uma vez que as condies ambientais

    de trabalho e os processos produtivos esto em constante mutao. um trabalho dinmico e

    contnuo a ser realizado dentro da empresa.

  • 1 INTRODUO

  • INTRODUO 19

    Na maioria dos pases industrializados o rudo , muitas vezes, o agente nocivo mais

    presente nos ambientes de trabalho. Sua presena nas atividades de trabalho soma-se sua

    intensa disseminao nos ambientes urbanos e sociais, especialmente nas atividades de lazer

    (ALBERTI, 1998).

    No Brasil, o rudo ocupa a terceira posio entre os agentes causadores de doenas

    ocupacionais (GOMES, 1989) e embora dados histricos apontem a preocupao com seus

    efeitos desde 47 A.C., nas ltimas dcadas, ele se transformou numa das formas de poluio

    que mais atinge a humanidade, trazendo conseqncias muitas vezes irreversveis (MENDES,

    1995).

    A poluio sonora, considerada pela World Health Organization como uma das trs

    prioridades ecolgicas para a prxima dcada, no visvel e a percepo desse problema ,

    muitas vezes, demorada. O agravante que os indivduos que esto expostos a essas

    intensidades sonoras elevadas so jovens, na maioria, que mesmo antes de iniciarem as fases

    produtivas de suas vidas j podem apresentar uma leso auditiva (FRANCO; RUSSO, 2001).

    A exposio freqente a rudo de alta intensidade pode levar o indivduo a diversos

    problemas de sade, entre eles a perda auditiva conhecida como Perda Auditiva Induzida por

    Nveis Elevados de Presso Sonora (PAINPSE) ou popularmente PAIR1 (Perda Auditiva

    Induzida por Rudo) que tambm , por vezes, denominada de Mudana Permanente de

    Limiar, Disacusia Neurossensorial, Disacusia Neurossensorial Ocupacional por Rudo, Surdez

    Ocupacional ou Profissional, Perda Auditiva Profissional ou Ocupacional, Disacusia Auditiva

    Crnica Induzida pelo Rudo, entre outras.

    1 Embora a Portaria no. 19 do Ministrio do Trabalho (BRASIL, 1998b) utiliza a denominao Perda Auditiva Induzida por Nveis Elevados de Presso Sonora (PAINPSE), nesse estudo optamos em usar Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR), devido maior popularidade do termo.

  • INTRODUO 20

    Essa patologia tem ocupado lugar de destaque no rol das doenas ocupacionais,

    suplantada apenas pelas dermatoses de contato. Est tambm em segundo lugar entre as

    doenas mais freqentes do aparelho auditivo, sendo superada apenas pela presbiacusia

    (RABINOWITZ, 2000).

    No Homem, ao longo dos anos de exposio, os sinais de distrbios fsicos e

    psicolgicos vo se instalando mansamente, principalmente naquele exposto a nveis

    moderados de rudo. Melnick (1985) descreve os efeitos do rudo sobre a audio dividindo-

    os em trs categorias como: trauma acstico, mudana temporria de limiar (MTL) e mudana

    permanente de limiar (MPL) tambm denominada perda auditiva induzida pelo rudo.

    O termo trauma acstico utilizado para descrever o efeito provocado por uma nica e

    sbita exposio a rudo com um pico de energia sonora muito elevada. Nesse caso, o nvel de

    presso sonora que atinge as estruturas da orelha interna excede os seus limites fisiolgicos

    freqentemente produzindo rompimento das estruturas do rgo de Corti (OLIVEIRA, 1997;

    HUNGRIA, 2000).

    A MTL um desvio do limiar auditivo aps uma exposio de algumas horas a nveis

    elevados de presso sonora e tambm dependente do nvel de presso sonora e da durao

    da exposio. Essa queda do limiar tende a retornar gradualmente ao normal depois de

    cessada a exposio. Kryter (1985) refere que a ocorrncia de MTL representa um primeiro

    indcio de potencial risco para a audio. Quanto maior a MTL de um indivduo exposto a

    rudo, maior a sua predisposio em adquirir uma perda auditiva (BURNS; STEAD; PENNY,

    1970; CHERMAK; DENGERINK; DENGERINK, 1984; WARD, 1995).

    A PAIR ou MPL uma doena decorrente do acmulo de exposies a rudo, que so

    repetidas por um perodo de muitos anos. Essa patologia considerada uma perda auditiva

    permanente, muitas vezes superior a 20 deciBels (dB) sobre pelo menos uma freqncia

  • INTRODUO 21

    crtica desde que passadas vrias horas dirias em ambientes de mais de 85dB sem proteo

    (TAY, 1996).

    Seligman et al. (1999) consideram a PAIR a enfermidade profissional de maior

    prevalncia em todo o mundo e Almeida et al. (2000) como uma doena ocupacional de alta

    prevalncia nos pases industrializados, destacando-se como um dos agravos sade do

    trabalhador mais prevalentes nas indstrias brasileiras, embora Ferreira Junior (1998) defenda

    que, os dados de incidncia e prevalncia disponveis em publicaes no so fidedignos, por

    conta do desconhecimento do total de trabalhadores expostos ao risco e da falta de critrios

    adequados ao diagnstico da alterao auditiva. Por outro lado, a ausncia de parmetros para

    a definio legal de incapacidade laborativa e a sub-notificao impedem que se tenha uma

    noo precisa da dimenso social do problema, suscitando a suspeita de que esses nmeros

    possam ser ainda maiores.

    Guerra et al. (2005) destacam que embora a PAIR tenha atingido propores

    praticamente endmicas no meio industrial, estudos cientficos sobre a sua histria natural nos

    trabalhadores brasileiros ainda so escassos, alm da grande impreciso na quantificao do

    nvel de exposio individual ao rudo, observada nas indstrias brasileiras.

    O National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 1998) estimou que

    em 1992, aproximadamente 30 milhes de trabalhadores americanos estavam expostos a rudo

    ocupacional em nveis prejudiciais e que esse nmero aumentou aproximadamente em 30%

    desde 1983 (MELNICK, 1985). Na Europa, a situao no diferente e, se mantivermos essa

    base para clculos, talvez mais de 600 milhes de pessoas em todo o mundo estejam sob o

    risco da perda auditiva por exposio a uma intensidade elevada de presso sonora. Portanto,

    a populao mundial sob o risco de PAIR de aproximadamente 12% (ALBERTI, 1998;

    PRASHER, 1998).

  • INTRODUO 22

    O rudo atualmente faz parte do cotidiano dos indivduos (rudo de trfego e lazer, em

    alguns trabalhos, entre outros) e assim, a PAIR poder ser uma das principais doenas

    crnicas no futuro da humanidade (FIORINI, 2000).

    Para o Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999a), Hungria (2000),

    Morata e Lemasters (1995), Ferreira Jnior (1998), Handar (1998), Brasil, (1998b), Jerger, e

    Jerger (1998) e Rabinowitz (2000) perda auditiva induzida pelo rudo so as alteraes dos

    limiares auditivos, do tipo sensorioneural, decorrentes da exposio ocupacional sistemtica a

    nveis de presso sonora elevada. Essa perda auditiva decorre de leso das clulas sensoriais

    do rgo de Corti na orelha interna. Em geral, bilateral, tendo evoluo lenta, insidiosa,

    irreversvel, diretamente relacionada ao tempo de exposio, aos nveis de presso sonora e a

    suscetibilidade individual. O seu portador geralmente s percebe a dificuldade auditiva

    quando a leso j est em estgio avanado (SAVA, 2005).

    De acordo com Melnick (1985) a perda auditiva induzida por rudo de forma geral

    primeiramente mensurvel na faixa de freqncia de 3000Hz (Hertz) a 6000Hz e a perda

    auditiva em 4000Hz tornou-se a caracterstica principal que estabelece vnculo entre uma

    leso auditiva do tipo sensorioneural e o rudo, como provvel etiologia. O fato de a PAIR

    apresentar configurao semelhante na maioria dos casos, tendo um aspecto de entalhe nas

    freqncias de 3000Hz a 6000Hz, despertou o interesse de muitos pesquisadores ao longo dos

    anos. Jerger e Jerger (1998) comentam que achados histopatolgicos de ossos temporais

    humanos mostram leses situadas a aproximadamente 5 a 15 milmetros da janela oval, o que

    coincide com a regio receptora dos estmulos de 4000Hz a 6000Hz e que a maior

    vulnerabilidade dessa regio pode estar relacionada a caractersticas de ressonncia das

    orelhas externa e mdia, caractersticas mecnicas e anatmicas da cclea ou ao seu

    suprimento sangneo. Henderson e Hamernik (1995) explicam tal vulnerabilidade

  • INTRODUO 23

    demonstrando que o rudo industrial possui um amplo espectro de freqncias. Como a

    freqncia de ressonncia do conduto auditivo externo situa-se ao redor de 3000Hz, ento h

    uma transformao do rudo que entra gerando um reforo nessa freqncia. Como a perda

    o resultado de oitava acima da freqncia de maior estimulao da cclea, segundo os

    autores, essa seria uma explicao mais lgica do que assumir uma fragilidade inerente da

    regio de 4000Hz. Com a evoluo da leso auditiva, o entalhe em 4000Hz tende a

    aprofundar-se e alagar-se em direo s freqncias de 2000Hz e 8000Hz, quando comea a

    afetar seriamente a discriminao de fala (COMIT NACIONAL DE RUDO E

    CONSERVAO AUDITIVA, 1999a; MAY, 2000).

    Segundo Luxon (1998) essa alterao auditiva manifesta-se, primeira e

    predominantemente, nas freqncias de 4000Hz, 6000Hz e 3000Hz, nessa mesma ordem de

    progresso, e com o agravamento da leso estende-se s freqncias de 8000Hz, 2000Hz,

    1000Hz, 500Hz e 250Hz. Raramente o rudo leva a perda auditiva profunda, em geral no

    ultrapassando os 75dB, nas freqncias altas e 40dB, nas freqncias baixas, atingindo seu

    nvel mximo nos primeiros dez a quinze anos de exposio.

    As caractersticas fsicas do agente causal (tipo de espectro de freqncia, nvel de

    presso sonora), tempo/dose de exposio e susceptibilidade individual tambm interferem na

    perda, porm uma vez cessada a exposio ao nvel elevado de presso sonora, no h

    progresso da perda (MAYRINK et al.,1993; ABNT, 1996).

    Os rudos de baixa freqncia produzem menos nocividade que rudos de alta

    freqncia e as alteraes observadas na cclea decorrentes da exposio a rudo so

    provavelmente resultado de leso mecnica, estresses metablicos ou da combinao desses

    dois fatores, alm de alteraes vasculares e inicas que podem lesar as clulas sensoriais

    (WARD, 1973; DUNN, 1987).

  • INTRODUO 24

    Os danos sade dos trabalhadores extrapolam as funes auditivas, atingindo

    tambm os sistemas circulatrio, endcrino, nervoso, digestivo e outras atividades fsicas,

    mentais e sociais prejudicando o processo de comunicao como um todo e contribuindo para

    o aumento do nmero de acidentes de trabalho (COSTA, 1994/1995; SANTOS, 1999;

    HUNGRIA, 2000).

    A exposio simultnea a vrios agentes situao mais comum de ser encontrada nos

    ambientes de trabalho. Morata e Lemasters (1995) afirmam que a mdia de agentes

    simultneos gira em torno de 2,7% e que as alteraes auditivas encontradas nos ambientes

    ocupacionais so muitas vezes atribudas ao rudo, sem maior cuidado na investigao de

    outros fatores.

    A Ordem de Servio (OS) no. 608 (BRASIL, 1998a) destaca os principais fatores de

    risco para perda auditiva relacionada ao trabalho como sendo os ambientais, os metablicos e

    bioqumicos, medicamentosos e genticos. Dentre os fatores ambientais esto os rudos com

    nvel de presso sonora acima dos limites de tolerncia, previstos nos anexos I e II da Norma

    Regulamentadora (NR) no. 15 da Portaria no. 3.214/78. Nos agentes bioqumicos so

    destacados os solventes (tolueno, dissulfeto de carbono), fumos metlicos, gases asfixiantes

    (monxido de carbono); outros agentes fsicos (vibraes, radiao e calor) e agentes

    biolgicos (vrus e bactrias). Nas alteraes do metabolismo esto: as alteraes renais,

    dentre elas a Sndrome de Alport, o Diabetes Mellitus e outras como Sndrome de Alstrom;

    insuficincia adreno-cortical; dislipidemias, hiperlipoproteinemias; doenas que impliquem

    distrbios no metabolismo do clcio e do fsforo; distrbios no metabolismo das protenas;

    hipercoagulao; mucopolissacaridose e disfunes tireoideanas (hiper e hipotireoidismo).

    Nos fatores medicamentosos a OS refere-se ao uso constante de salicilatos, aminoglicosideos,

    derivados de quinino e outros que podem causar alteraes auditivas por ototoxidade; j as

  • INTRODUO 25

    causas genticas esto associadas a histria familiar de surdez.

    O rudo e suas repercusses na sade do homem tm sido objetos de muitos estudos

    (KRYTER, 1985; SANTANA; BARBERINO, 1995; GERGES, 1997; SANTOS, 1999;

    CORRA FILHO et al., 2002; RIOS; SILVA, 2005) e como esse agente fsico um problema

    sentido tanto nos locais de trabalho quanto nas comunidades, necessita-se de uma correta

    avaliao e da adoo de programas de controle com medidas eficazes na sua identificao e

    no seu controle.

    Oliveira (1996) afirma que devemos pensar a sade como um processo dinmico de

    relao do ser humano com o meio social, capaz de permitir uma integrao satisfatria entre

    os indivduos, alm da simples ausncia de doenas ou enfermidades. A autora relata ainda

    que, como fenmeno social, sade o reflexo direto das condies de vida de uma

    sociedade. Para a promoo e manuteno da sade assim entendida, esto envolvidas as

    estruturas poltico-sociais determinantes desse modo de vida.

    Ferreira (2005) em seu estudo mostra que a relao estabelecida entre o meio e a sade

    do trabalhador vem merecendo destaque das mais variadas comunidades cientficas. Esse fato

    pode ser percebido por meio da interseo entre as reas da fonoaudiologia e do direito,

    promovida pela ocorrncia da perda auditiva induzida por rudo em trabalhadores, associada

    s condies insalubres dos ambientes laborais. Aps a dcada de 1940 a perda auditiva e o

    trauma acstico causados por rudo ocupacional passaram a ser conhecidos como doenas

    adquiridas no ambiente ou por um mtodo especfico de trabalho, caractersticas de certas

    categorias profissionais, portanto passveis de compensaes pelo dano sofrido. O acidente de

    trabalho passou a ser reconhecido a partir da Revoluo Industrial, por conta do aumento da

    produo, do surgimento da mquina e da concentrao dos trabalhadores nas fbricas.

    Salrios, jornadas, condies e ritmo de trabalho foram aumentando por causa da imposio

  • INTRODUO 26

    patronal. Com o desenvolvimento das indstrias aumentou tambm os servios, os acidentes,

    o nmero de pessoas com seqelas, vivas e rfos. Quando o trabalhador era lesionado no

    trabalho ou em outra atividade, perdendo ou reduzindo sua capacidade de produo, ficava

    excludo da sociedade produtiva, sem remunerao, pois no havia proteo do Estado ou

    muturia que garantisse sua sobrevivncia.

    Ainda segundo Ferreira (2005) molstias ocupacionais so doenas de evoluo lenta e

    progressiva, relacionadas ao trabalho, dividindo-se em tecnopatias e mesopatias. As

    tecnopatias (tambm chamadas de doenas profissionais) so inerentes a determinados tipos

    de atividades, estando o seu nexo causal, diretamente relacionado s profisses exercidas e

    previstas em lei. As mesopatias (doenas profissionais atpicas) so causadas pelas condies

    agressivas do ambiente de trabalho, que contriburam para acelerar, deflagrar ou agravar o seu

    estado.

    A Diviso de Preveno da Surdez e Deficincia Auditiva da World Health

    Organization (1980) indica que a perda auditiva ocupacional decorrente da exposio ao

    rudo excessivo o maior problema passvel de preveno da sade pblica do mundo e

    recomenda a execuo de programas governamentais de preveno da perda auditiva induzida

    pelo rudo.

    At a dcada de 90, no Brasil, a sade era um benefcio previdencirio ou um bem de

    servio comprado na forma de assistncia mdica ou, por fim, uma ao de misericrdia

    oferecida aos que no tinha acesso previdncia e nem recursos para pagar assistncia

    privada, prestada por hospitais filantrpicos. As aes de carter coletivo, as ento chamadas

    aes de sade pblica, eram executadas pelo Ministrio da Sade e completamente

    dissociadas da ateno individual, aes essas resumidas a campanhas e programas de carter

  • INTRODUO 27

    predominantemente preventivos, tais como as campanhas de vacinao e os programas sobre

    doenas especficas (BERNARDI; SALDANHA JUNIOR, 2003).

    Nesse contexto, em que as aes individuais de ateno sade eram totalmente

    dissociadas das aes coletivas, o modelo de ateno integral sade do trabalhador inexistia

    como poltica pblica de sade e a nica forma de controle que o Estado exercia sobre as

    empresas era por meio do Ministrio do Trabalho e suas Delegacias Regionais cuja funo era

    de fiscalizao s empresas.

    A sade do trabalhador no Brasil tomou novo rumo, pois, para a compreenso do

    processo sade-doena de um indivduo que anteriormente era includo nos programas de

    ateno sade com uma viso limitada daquele indivduo, passa a ser necessria uma viso

    mais ampla e integral desse processo, considerando-se as questes incidentes sobre o trabalho.

    Paralelamente, a reformulao de algumas legislaes trabalhistas e previdencirias

    geraram a necessidade das empresas investirem mais fortemente no setor sade e segurana a

    partir da segunda metade da dcada de 1990. A entrada da Fonoaudiologia nas empresas e no

    setor pblico de sade nesse momento histrico deu-se pela necessidade que a lei preconizava

    de se testar a audio de todos os trabalhadores expostos a nveis de presso sonora acima dos

    limites de tolerncia, e de novas experincias do setor de sade na vigilncia sanitria e

    epidemiolgica s empresas.

    At os anos 1980 a atuao de fonoaudilogos na rea de sade no trabalho era muito

    limitada. Seu trabalho era caracterizado exclusivamente pela execuo de audiometrias

    (admissionais, peridicas e demissionais), solicitadas pelo mdico do trabalho nas indstrias.

    Os fonoaudilogos no tinham nenhum tipo de vnculo com as indstrias, simplesmente

    transferiam sua vivncia em audiologia clnica, adquirida em seus locais de trabalho, para o

    desenvolvimento dessa nova atividade. A partir de 1986 com a Pontifcia Universidade

  • INTRODUO 28

    Catlica (PUC) e o Programa de Sade do Trabalhador da Zona Norte de So Paulo

    (SANTOS et al., 1989) comeou a insero da Fonoaudiologia em empresas e associaes de

    classe. Foram o pioneirismo e a determinao de alguns profissionais, no momento poltico

    propcio, que possibilitaram a atuao dos fonoaudilogos na rea da sade do trabalhador,

    bem como o estabelecimento e a consolidao desse mercado de trabalho (MORATA;

    CARNICELLI, 1988).

    de especial interesse do direito previdencirio e da Fonoaudiologia buscar meios

    para estabelecer uma ao preventiva que garante condies favorveis de trabalho. A

    promoo da sade nos locais de trabalho evitar nus para empresas, para a Previdncia

    Social e para a sociedade em geral. Faz-se necessrio que o fonoaudilogo atue como

    profissional preventivo, indo alm da mera administrao dos casos de perda auditiva,

    execuo de audiometrias e indicao de aparelhos de amplificao sonora individual. Ele

    deve alargar seus horizontes por meio do conhecimento das leis, ampliando sua direo e sua

    base de atuao para um maior e melhor desempenho profissional (FERREIRA, 2005).

    Com a regulamentao da Portaria no. 19 houve uma contextualizao dos exames

    audiomtricos. Esses passaram a servir como indicadores de sade para medidas preventivas.

    Dessa forma, a demanda do trabalho fonoaudiolgico nas empresas cresceu e assumiu grande

    importncia, pois no bastava mais a realizao pura e simples dos exames. A partir de 1998

    passou a ser necessria a anlise individual e coletiva da situao auditiva dos trabalhadores

    elencando os setores de maior risco para o desenvolvimento de aes que visem reduo dos

    riscos.

    Por ser um profissional com conhecimentos especficos, na rea de audiologia, fsica

    acstica, fisiologia da audio e educao em sade, o fonoaudilogo um profissional que

    tem competncia tcnica para coordenar um Programa de Conservao Auditiva (PCA).

  • INTRODUO 29

    Nesse sentido, h que se abandonar a cultura imposta pela antiga NR-7, de execuo de

    exames desvinculada de qualquer outro objetivo, para um trabalho de consultoria onde as

    aes so articuladas entre si (BERNARDI; SALDANHA JUNIOR, 2003).

    Os audiologistas so profissionais altamente qualificados para assumir posies de

    responsabilidade nos programas de preveno de perda auditiva ocupacional. A superviso

    profissional dos programas de avaliao audiolgica necessria para garantir dados

    confiveis e vlidos para a identificao e interveno precoces. Os programas de avaliao

    auditiva executados indiferentemente, com freqncia no fazem mais do que documentar a

    progresso da perda auditiva induzida por rudo (SIMPSON, 2001).

    No mundo da sade e do trabalho, as coisas so mais complexas. Apesar da crescente

    demanda e necessidade por parte das empresas de possurem consultoria especializada de

    fonoaudilogos para o desenvolvimento de aes de promoo da sade auditiva de seus

    trabalhadores, na prtica o quadro no muito satisfatrio.

    Nos dias de hoje, no h razo tcnica para que a perda auditiva seja o resultado do

    trabalho em ambiente ruidoso, tendo em vista que os programas de preveno da perda

    auditiva so exigidos por lei.

    Existe uma enorme variedade de alternativas tcnicas e/ou cientficas que podem ser

    adotadas a fim de reduzir o rudo. Tecnicamente, a primeira medida de controle definitivo o

    controle na fonte. No sendo possvel, a segunda o controle na trajetria, que implica em

    fazer adaptaes e/ou modificaes no ambiente de trabalho e/ou maquinrio e como terceira

    opo tm o uso do protetor auricular. Esse deve ser usado quando no existem solues

    tcnicas viveis para o controle do rudo na fonte ou na trajetria, situao na qual, o

    equipamento de proteo individual (EPI) do tipo auricular aceito como soluo definitiva,

    de acordo com Giampaoli (2000).

  • INTRODUO 30

    O processo de execuo de qualquer programa parte da realidade de cada empresa, que

    leva em considerao a situao auditiva dos trabalhadores, a equipe tcnica disponvel e o

    recurso financeiro a ser disponibilizado. Enquanto existirem riscos para a audio presentes

    nos processos produtivos, h a necessidade de se buscar sua reduo ou eliminao.

    No Brasil, o trabalho de preveno das doenas ocupacionais e dos acidentes de

    trabalho teve incio em 1943, com a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL,

    1943) e desde ento os cuidados com a audio do trabalhador que atua em ambientes

    ruidosos, intensificado por meio das Normas Regulamentadoras editadas pelo Ministrio do

    Trabalho.

    Com a promulgao da Portaria no. 3.214/78, houve um importante avano no mbito

    da conservao auditiva ocupacional. Essa portaria, por meio da NR-7, torna obrigatria a

    realizao de exames auditivos vinculados aos exames mdicos em trabalhadores cujo

    ambiente de trabalho apresente nveis de presso sonora superiores a 85dB por oito horas de

    exposio. Nessa mesma portaria, a NR-15, nos anexos I e II, estabelece os limites de

    tolerncia para o rudo no pas, definindo critrios para caracterizao da insalubridade por

    exposio a esse agente (BRASIL, 1978a).

    Em dezembro de 1994, o Ministrio do Trabalho publicou a Portaria no. 24 que aprova

    a nova NR-7, que determina a obrigatoriedade de implantao de um Programa de Controle

    Mdico em Sade Ocupacional (PCMSO). Os objetivos desse programa so prevenir, rastrear

    e diagnosticar precocemente os agravos sade relacionados ao trabalho, baseando-se nos

    riscos existentes no ambiente. A nova NR-7 no mais menciona os limites de tolerncia

    previstos pela NR-15 em seus anexos I e II, exclui a tabela de Fowler, mas no estabelece

    nenhum outro critrio para interpretao das audiometrias (BRASIL, 1994a).

  • INTRODUO 31

    Ainda em dezembro de 1994, o Ministrio do Trabalho publica a Portaria no. 25 da

    Secretaria de Sade e Segurana do Trabalho do Ministrio do Trabalho (SSST/MTb), que

    aprova a NR-9. Essa NR trata das atividades voltadas ao controle de agentes agressivos e da

    obrigatoriedade de implantao do Programa de Preveno para Riscos Ambientais (PPRA)

    nas empresas. O objetivo do PPRA a preservao da sade e da integridade dos

    trabalhadores, por meio da antecipao, avaliao e controles dos riscos ambientais (agentes

    fsicos, qumicos e biolgicos) existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho

    (BRASIL, 1994b).

    Em abril de 1998, instituda a Portaria no. 19 que altera o Quadro II da NR-7, com a

    incluso do Anexo I e determina os parmetros mnimos para a avaliao e o

    acompanhamento da audio de trabalhadores expostos a nveis elevados de rudo atravs de

    exame audiomtrico. Esses parmetros foram regulamentados somente para a exposio

    ocupacional ao rudo, no havendo ainda legislao prpria para a monitorao da audio de

    trabalhadores expostos a rudo e outros agentes agressivos simultaneamente, nem mesmo para

    a exposio isolada aos demais agentes. Alm de definir e caracterizar a PAIR; a portaria

    define tambm os procedimentos bsicos para a realizao dos exames audiomtricos e

    determina que as audiometrias devem estar atreladas ao exame mdico e ser realizadas em

    cabina acstica e audimetro calibrado pela ISO 8253.1/1989, mediante a realizao de

    meatoscopia e do repouso acstico (do trabalhador) superior a 14 horas. Orienta tambm

    quanto interpretao dos resultados dos exames audiomtricos; define critrios para anlise

    de mudana significativa dos limiares auditivos; fornece subsdios que auxiliam no

    diagnstico da perda auditiva induzida por rudo e finalmente, orienta condutas preventivas no

    manejo dos trabalhadores expostos (BRASIL, 1998b).

  • INTRODUO 32

    A Ordem de Servio no. 608 (BRASIL, 1998a) do Instituto Nacional de Seguridade

    Social (INSS) fortaleceu a exigncia legal das empresas conduzirem um programa de

    conservao auditiva parte, integrado como outros programas de gesto de riscos. Essa OS

    composta por duas partes: a Seo I que apresenta contedo relacionado atualizao clnica

    da Perda Auditiva Induzida por Rudo Ocupacional (PAIR Ocupacional) e conta com mais

    dois anexos, o primeiro apresenta o texto do boletim nmero um, do Comit Nacional de

    Rudo e Conservao Auditiva e o anexo II traz as diretrizes bsicas para elaborao de um

    PCA. A Seo II constitui-se da Norma Tcnica propriamente dita, refere-se aos

    procedimentos, metodologia e atribuies para fins de avaliao pericial e concesso de

    benefcios previdencirios por incapacidade, o que compreende as repercusses da doena na

    capacidade laborativa (BRASIL, 1998a).

    Ibaez (1997) e Ferreira Junior (1998) referem que PCA um programa

    interdisciplinar, de carter estritamente de preveno e caracteriza-se como um conjunto de

    medidas coordenadas que tem por objetivo impedir que determinadas condies de trabalho

    provoquem a deteriorao dos limiares auditivos de um grupo de trabalhadores ou estabilize

    as perdas auditivas daqueles trabalhadores que j as possuem.

    Esse programa legalmente exigido em todos os locais de trabalho onde os nveis de

    presso sonora excedam os limites de tolerncia previstos pela NR-15 (BRASIL, 1978b). de

    responsabilidade da empresa e dos profissionais das reas de sade e segurana, executar e

    gerenciar programas que visem no s prevenir, como tambm evitar a progresso da perda

    auditiva do trabalhador exposto a nveis elevados de presso sonora, conforme preconizam as

    normas do Ministrio do Trabalho.

    Melnick (1999) observa que a necessidade de um Programa de Conservao Auditiva

    pode ser determinada pela simples observao do meio ambiente onde os trabalhadores esto

  • INTRODUO 33

    inseridos. O autor cita o Guide for Conservation of Hearing in Noise, uma reviso americana

    realizada em 1988, pelo Subcommittee on Medical Aspects of Noise of the Committee on

    Hearing and Equilibrium of the American Academy of Otolaryngology - Head and Neck

    Surgery, que orienta para as trs condies que indicam a necessidade da instituio do PCA

    em um ambiente:

    - Rudo em intensidade que dificulte a comunicao oral;

    - Presena de efeitos auditivos, como "barulho" na cabea ou nas orelhas, aps a jornada de

    trabalho;

    - Presena de perda auditiva temporria, manifestada pela sensao plenitude auricular,

    aps diversas horas de exposio ao rudo.

    Para Kwitko (1997), Bernardi e Saldanha Junior (2003) os objetivos do PCA so:

    - Melhorar a qualidade de vida do trabalhador evitando a surdez e reduzindo os efeitos

    extra-auditivos causados pela exposio a nveis elevados de presso sonora e outros

    agentes de risco para a audio. Esse objetivo resume todo o carter preventivo que um

    PCA eficaz deve conter. As avaliaes audiolgicas da populao so indicadores

    importantes de sade auditiva, mas s fazem sentido quando so direcionadas para aes

    preventivas;

    - Identificar empregados com patologias de orelhas e audio no relacionadas ao trabalho,

    encaminhando-os para tratamento adequado;

    - Diagnosticar precocemente os casos de perda auditiva ocupacional, estabelecendo

    medidas eficazes, preservando a sade dos trabalhadores;

    - Adequar a empresa s exigncias legais;

    - Reduo do custo de insalubridade com comprovao cientfica;

  • INTRODUO 34

    - Reduo do custo com reclamatrias trabalhistas impetradas por empregados, devido a

    perda auditiva;

    - Reduzir o absentesmo, elevar a moral do empregado e reduzir os efeitos extra-auditivos

    relacionados exposio a elevados nveis de rudo ocupacional.

    As principais atividades desse programa incluem medidas de monitorao do agente e

    da audio. Atividades de apoio: medidas administrativas, de educao e de informao e de

    avaliao de eficcia do programa. Deve ser desenvolvido dentro da empresa por profissionais

    que estejam capacitados e envolvidos com a preveno e a reduo dos acidentes de trabalho.

    O apoio conservao auditiva ajuda na manuteno do estado auditivo do sujeito seja

    ele normal ou portador de uma deficincia dessa funo fisiolgica, que possa ter se iniciado a

    partir da primeira exposio do indivduo a agentes ocupacionais de risco.

    O NIOSH (1996, 1998) trabalha com a definio de Programa de Preveno da Perda

    Auditiva Ocupacional diferenciando os conceitos de conservao e preveno. Conservao

    indicaria a idia de manuteno do padro auditivo a partir da primeira exposio ocupacional

    ao agente agressivo, enquanto preveno implica na adoo de medidas anteriores primeira

    exposio.

    O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999c) rgo interdisciplinar

    constitudo pela Associao Nacional de Medicina do Trabalho, bem como as Sociedades

    Brasileiras de Acstica, de Fonoaudiologia, de Otologia e de Otorrinolaringologia elaborou

    seu boletim nmero seis, que sugere as seguintes diretrizes bsicas para a elaborao de um

    Programa de Conservao Auditiva:

    1. Reconhecimento e avaliao de riscos para a audio.

    2. Gerenciamento audiomtrico.

    3. Medidas de proteo coletiva (de engenharia, administrativas).

  • INTRODUO 35

    4. Medidas de proteo individual.

    5. Educao e motivao.

    6. Gerenciamento dos dados.

    7. Avaliao do programa.

    Fiorini e Nascimento (2001) afirmam que apesar da existncia de vasta literatura

    acerca das principais etapas a serem adotadas e institudas, o PCA deve ser desenvolvido de

    acordo com as caractersticas de cada empresa, considerando-se prioritariamente: a situao

    auditiva dos trabalhadores, a equipe tcnica e recurso financeiro disponveis.

    A implantao de um PCA exige aes interligadas e, dependendo da medida a ser

    implantada, uma maior complexidade da atividade exigida por parte da equipe, um

    cronograma a curto, mdio e longo prazo. Os ajustes e melhorias fazem parte de um processo

    contnuo ao longo do tempo.

    Num PCA o fluxo de informaes deve ser multidirecional entre os profissionais da

    rea mdica e os da rea de engenharia. A interdependncia das atividades implantadas real

    e sua correta valorizao determina o sucesso ou o fracasso do programa (IBAEZ, 1997).

    As medidas devem ser coordenadas, pois isoladamente no apresentam efetividade.

    um programa que previne no s problemas auditivos, mas tambm aqueles de outra natureza.

    Envolve a atuao de uma equipe multidisciplinar (medicina, engenharia do trabalho,

    fonoaudiologia, tcnicos e administrao).

    Segundo Bernardi e Saldanha Junior (2003) o trabalho do fonoaudilogo dentro da

    equipe de sade da empresa :

    - Organizar os exames para subsidiar o diagnstico mdico;

    - Analisar o panorama epidemiolgico de perdas auditivas e estabelecer prioridades para

    projetos de melhorias ambientais;

  • INTRODUO 36

    - Elaborar tabelas de indicao de protetores e controlar o seu uso por parte dos

    trabalhadores;

    - Elaborar campanha de sade auditiva, palestras e treinamentos peridicos para a correta

    utilizao dos protetores e sensibilizao dos trabalhadores para a preveno dos riscos

    para a audio;

    - Veicular constantemente a informao relacionada s aes de preveno das perdas

    auditivas por meio de todos os recursos de mdia disponveis na empresa;

    - Participar juntamente em conjunto com a equipe de engenharia de segurana da

    elaborao de propostas e desenvolvimento de projetos de melhorias ambientais e medidas

    administrativas para a reduo da exposio;

    - Adequar o PCA da empresa a todas as exigncias legais por meio da documentao e

    registro adequado de todas as aes realizadas.

    A equipe multidisciplinar dever identificar e avaliar os locais de riscos atravs do

    mapeamento do rudo, da vibrao, dos agentes qumicos e de outros. Observar a interao

    desses vrios agentes no mesmo local de trabalho.

    A partir do momento em que os agentes de riscos ocupacionais (rudos, produtos

    qumicos, radiaes ionizantes, acidentes como traumatismo cranioenceflico, barotraumas e

    outros) forem avaliados e identificados, os profissionais devero realizar um estudo de

    medidas para o controle dos mesmos e propiciar proteo coletiva ou individual, oferecendo

    acompanhamento e treinamento da utilizao dos equipamentos de segurana (RIBEIRO et

    al., 2002).

    A proteo coletiva a melhor forma de prevenir a perda auditiva induzida por rudo

    (FERREIRA JNIOR, 1998). Porm, segundo o autor, a adequao das doses de exposio

    ao rudo para nveis ideais, requer elaborao de projetos de engenharia acstica, na maioria

  • INTRODUO 37

    das vezes dispendiosa, com impacto evidente na economia da empresa, alm do que podem

    ser complexos e demorados. Sendo assim, o autor desvincula as medidas de proteo coletiva

    do Programa de Conservao Auditiva, que define como uma srie de medidas intermedirias

    que visam prevenir a perda auditiva induzida por rudo, e que so aplicadas enquanto as

    medidas de engenharia esto em curso. Ainda segundo o autor, Programa de Conservao

    Auditiva e proteo coletiva devem seguir paralelamente, at que uma soluo definitiva seja

    adotada. A partir de ento alguns dos procedimentos abaixo descritos, podem ser suspensos

    ou flexibilizados:

    - Reconhecimento do ambiente e descrio da atividade;

    - Quantificao da exposio ao rudo;

    - Adoo de medidas corretivas simples: tcnicas e organizacionais;

    - Seleo de equipamentos de proteo individual: protetor auditivo;

    - Formao e informao dos trabalhadores;

    - Rastreamento audiomtrico peridico;

    - Realocao interna de portadores de PAIR.

    O Comit Nacional de Rudo e Conservao Auditiva (1999b) em seu boletim nmero

    dois traz os requisitos bsicos para a padronizao da avaliao audiolgica do trabalhador

    exposto ao rudo:

    - Repouso auditivo pelo menos de 14 horas;

    - O exame ser realizado por profissional habilitado, fonoaudilogo ou mdico;

    - Para a identificao necessrio um documento com foto do trabalhador;

    - Realizao do histrico clnico-ocupacional;

    - Inspeo do meato acstico externo, antes de se iniciar o exame;

    - Ambiente para a realizao do exame, de acordo com a norma ISO 8253-1;

  • INTRODUO 38

    - Calibrao acstica do audimetro anual;

    - Verificao subjetiva do audimetro, antes da realizao do exame audiomtrico;

    - Instruo do trabalhador acerca dos mtodos adotados e dos objetivos a serem alcanados

    com o exame;

    - Pesquisa dos limiares auditivos nas freqncias de 250Hz, 500Hz, 1000Hz, 2000Hz,

    3000Hz, 4000Hz, 6000Hz e 8000Hz (via area); e de via ssea as freqncias de 500Hz,

    1000Hz, 2000Hz, 3000Hz e 4000Hz, quando necessrio;

    - Pesquisa do limiar de reconhecimento de fala e imitanciometria, conforme o julgamento

    do examinador;

    - A periodicidade dos exames deve ser no mnimo: pr-admissional, seis meses aps, a

    partir de ento anual e no exame demissional;

    - A ficha de registro deve conter, no mnimo: nome, idade, registro geral, a data em que foi

    realizado o exame, nome, assinatura e registro profissional, equipamento utilizado, data da

    ltima calibrao acstica do audimetro, o traado audiomtrico, o tempo de repouso

    auditivo e achados da inspeo visual dos meatos acsticos externos.

    Para o Melnick (1985), NIOSH (1996), Ordem de Servio no. 608 (BRASIL, 1998a) e

    Kwitko (1998) a audiometria o nico meio de identificar a evoluo na audio dos

    trabalhadores expostos ao rudo. Sendo assim instrumento de fundamental importncia para

    a avaliao da eficcia do PCA.

    De acordo com Merluzzi (1981) a recuperao dos limiares auditivos depois de

    cessada a exposio mais rpida nas primeiras horas subseqentes seguindo um andamento

    proporcional ao logaritmo do tempo. Cerca de 50% da recuperao ocorre nas primeiras duas

    horas. A partir de ento, a recuperao segue um padro linear e a melhora de todo o limiar

    perdido pode ocorrer em um tempo to longo quanto catorze horas. Da a importncia de que

  • INTRODUO 39

    a determinao dos limiares audiomtricos de trabalhadores expostos a rudo seja feita no

    mnimo aps catorze horas de repouso auditivo para impedir que tal efeito interfira no

    resultado do exame.

    O acompanhamento da audio dos trabalhadores expostos ao rudo por meio de

    exames audiomtricos um procedimento essencial dentro do PCA. A realizao do teste

    audiomtrico, porm, s assume razo de ser, se for feita a anlise seqencial desses exames,

    ano a ano. Um nico teste, isolado, restringe sua eficincia quele momento especfico.

    Somente o acompanhamento seqencial fornece indicadores precoces de perdas auditivas e

    torna possvel determinar se um trabalhador mantm audio normal, ou se desenvolve ou

    agrava uma perda auditiva. Para Alves (2004) o monitoramento da audio instrumento

    fundamental na anlise da eficcia das aes realizadas dentro do PCA.

    De acordo com Fiorini (1994b) necessrio o estabelecimento de critrios com

    absoluto rigor cientfico para garantir a fidedignidade das avaliaes audiomtricas e o

    controle audiomtrico do trabalhador tem o objetivo de acompanhar a evoluo dos limiares

    auditivos, partindo de uma avaliao audiolgica de referncia. Os propsitos do

    monitoramento auditivo so:

    - Estabelecer o audiograma de referncia de todos os trabalhadores, servindo de base para a

    comparao com exames peridicos;

    - Identificar o quadro audiolgico de todos os trabalhadores, fazendo acompanhamento

    peridico;

    - Identificar os trabalhadores que necessitam de encaminhamento para o mdico

    otorrinolaringologista, a fim de se realizar o diagnstico diferencial ou tratamento de

    problemas de orelha mdia;

    - Conscientizar e alertar os trabalhadores sobre os efeitos do rudo;

  • INTRODUO 40

    - Fornecer o resultado de cada exame ao trabalhador;

    - Contribuir para a implantao e efetividade do PCA.

    Simpson (2001) descreve as condutas a serem adotadas para realizao do

    monitoramento audiomtrico de trabalhadores expostos a rudo ocupacional, principalmente

    na mudana significativa persistente no exame audiomtrico de reteste em 30 dias como:

    - Notificao por escrito ao empregado em 21 dias;

    - O empregado que no utiliza protetor auditivo deve ser adaptado e treinado quanto a

    utilizao e manuteno desse equipamento;

    - O empregado que j utiliza protetor auditivo deve ser treinado novamente quanto a

    utilizao e manuteno desse equipamento, e se necessrio deve ser readaptado a outro

    protetor que lhe oferea maior atenuao;

    - No caso em que se verifique persistncia da mudana significativa dos limiares auditivos

    no reteste, esse audiograma passa a ser considerado de Referncia com o qual os testes

    futuros sero comparados;

    - Os empregados com suspeita de patologia auditiva causada ou agravada pelo uso do

    protetor auditivo devem ser encaminhados para avaliao mdica custa do empregador;

    aqueles com suspeita de patologia auditiva no relacionada com o uso de protetor auditivo

    devem ser informados da necessidade do encaminhamento, mas o empregador no ser

    responsvel pelo custeio desse procedimento.

    Aps todos os levantamentos dos dados, devem ser iniciadas as atividades educativas

    que forneam informaes sobre o funcionamento da audio e as suas patologias, visando

    dar nfase para as perdas auditivas induzidas pelo rudo ocupacional e a importncia do uso

    dos equipamentos de segurana para todos os trabalhadores que esto expostos a rudos

    intensos. Essas informaes podero ser feitas por meio de publicaes (folhetos, revistas,

  • INTRODUO 41

    etc.) e palestras, sempre com uma linguagem simples e objetiva, visando propiciar uma

    melhor conscientizao e educao do trabalhador.

    Inmeros autores concordam que, para preveno de perdas auditivas no trabalho, o

    controle da exposio deve ser sempre a primeira alternativa a ser considerada (NIOSH,

    1996). Entretanto, por dificuldades tcnicas e econmicas, o uso de protetores auriculares

    tornou-se uma medida mundialmente adotada e difundida por ser pouco dispendiosa e de fcil

    acesso (GERGES, 1997; CORREIA, 2000). Muita nfase tem sido dada atenuao que o

    protetor oferece. Contudo, outras qualidades necessrias sua efetividade tm sido

    negligenciadas. Deve-se considerar o tipo de rudo existente, a compatibilidade entre o tipo de

    protetor auricular e demais equipamentos de proteo, conforto e as condies do local de

    trabalho, como temperatura, umidade e presso atmosfrica como refora Fernandes (2005).

    Os profissionais envolvidos devero avaliar a eficcia do programa desenvolvido, a

    partir dos resultados obtidos e da opinio dos trabalhadores. importante ressaltar a grande

    responsabilidade dos profissionais que trabalham com sade e segurana do trabalho na

    implantao de medidas que diminuam as perdas auditivas e que auxiliem as empresas a

    alcanarem esses objetivos, implantando a cultura da preveno e da conservao.

    Este estudo visa a propor para a direo de uma empresa o incio da prtica efetiva da

    conservao auditiva dos funcionrios da Diviso de Nutrio e Diettica (DND) de um

    hospital universitrio de Ribeiro Preto/SP, rea que apresenta nvel de presso sonora

    elevada, verificando a eficcia do trabalho dos profissionais atualmente envolvidos e

    enfocando o papel do fonoaudilogo por meio de um trabalho sintonizado com os recursos

    tcnico e humano disponveis, a fim de produzir conhecimentos interdisciplinares e subsdios

    para reorganizao da assistncia rumo melhoria da qualidade e humanizao do cuidado

    com a sade do trabalhador na empresa.

  • 2 OBJETIVOS

  • OBJETIVOS

    42

    - Levantar, por meio da medio das intensidades em dB, os locais e os momentos de maior

    gerao de rudo elevado dentro da DND;

    - Identificar, por meio do levantamento dos exames audiomtricos realizados nos

    funcionrios, os locais de trabalho, dentro da DND, de maior incidncia de alterao

    auditiva;

    - Caracterizar o perfil audiolgico de funcionrios em funo do nmero de horas de

    exposio e da intensidade do rudo, atividade exercida e uso de equipamento de proteo

    individual do tipo auricular;

    - Diagnosticar as aes hoje executadas pela administrao, servio especializado em

    engenharia de segurana e medicina do trabalho e fonoaudiologia no local estudado;

    - Informar, orientar e alertar a populao estudada, por meio de trabalhos educativos,

    quanto aos malefcios do trabalho sob rudo excessivo e elevado, quanto aos cuidados

    auditivos necessrios e quanto ao uso de equipamento de proteo individual do tipo

    auricular.

  • 3 MATERIAL E MTODOS

  • MATERIAL E MTODOS

    43

    3.1 TIPO DE ESTUDO

    A partir de levantamento documental retrospectivo baseado em pronturios mdicos

    dos funcionrios localizados no arquivo da empresa estudada foi realizado um estudo de

    natureza exploratria e descritiva, com o intuito de evidenciar os aspectos de sade

    audiolgica da populao alvo, constituindo, portanto, um estudo de reconhecimento

    preliminar da situao sobre a qual se far a proposta de implantao do Programa de

    Conservao Auditiva.

    3.2 CARACTERIZAO DO AMBIENTE DE PRODUO

    A empresa estudada uma entidade autrquica com personalidade jurdica e

    patrimnios prprios, sede e foro na cidade de Ribeiro Preto/SP, com autonomia

    administrativa e financeira. Est vinculada Secretaria do Governo, para fins administrativos

    e associa-se Universidade de So Paulo (USP) para fins de ensino, pesquisa e assistncia, ou

    seja, prestao de servios mdico-hospitalares comunidade.

    Dentre tantos setores de produo e manuteno, a Diviso de Nutrio e Diettica

    (DND) foi escolhida por sugesto da diretoria do SESMT da empresa e por ser uma rea que

    possui trabalhadores expostos a nveis de presso sonora elevada (maior ou igual a 80dB(A) /

    8 horas dirias).

    A DND em questo uma rea tcnica, cientfica, administrativa e que tem como

    atividade, a produo ininterrupta de refeies para os pacientes internados nos leitos dos

    doze andares da entidade, docentes e mdicos residentes da Faculdade de Medicina,

    profissionais de sade, funcionrios de reas especficas, alm das refeies para os filhos de

    funcionrios que ficam na creche.

  • MATERIAL E MTODOS

    44

    Dados oficiais registram que, so confeccionadas diariamente cerca de 8.000 refeies,

    1.000 mamadeiras e 400 dietas enterais, e dessas, 30% so diferenciadas, modificadas e

    individualizadas para cada caso. A seo ainda distribui caf, ch e pes para os funcionrios

    em todos os setores, nos perodos da manh e da tarde em 155 pontos diferentes. Aos

    pacientes, as refeies so divididas em: caf da manh, almoo, complemento da tarde, jantar

    e complemento da noite e aos demais em caf da manh, almoo, jantar e ceia noturna.

    Os funcionrios exercem funes e atividades de acordo com sua locao nas diversas

    sees e subsees que compem o setor, conforme representadas abaixo.

    Servio de Nutrio Servio de Diettica

    Cozinha e Diettica; Diettica em Clnica Mdica;

    Diettica em Clnica Cirrgica; Diettica em Clnica Materno-infantil

    Lactrio; Orientao e Avaliao Diettica;

    Armazenagem; Expediente

    Preparo e Coco; Porcionamento,

    Distribuio e Coleta; Lavagem e Esterilizao;

    Desjejum e Lanches; Restaurantes I e II

    3.3 AVALIAO DO RUDO DO AMBIENTE DE TRABALHO

    No perodo de abril a agosto de 2004, uma equipe especializada realizou avaliaes dos

    riscos ambientais da empresa. Os resultados foram elaborados segundo a legislao vigente

    atual recomendada e agrupados no Laudo Tcnico das Condies Ambientais de Trabalho

    (LTCAT) organizado por Jesus (2004).

    Foram avaliados os nveis de presso sonora dos ambientes de trabalho e determinados

    os nveis equivalentes de rudo (Leq) aos quais os funcionrios ficam expostos no

    desenvolvimento de suas atividades. Para tal, foram utilizados aparelhos devidamente aferidos

    por calibradores dos mesmos fabricantes como o medidor de presso sonora da marca

    Entelbra, modelo ETB-130 operando nos circuitos de resposta lenta e de compensao A e

  • MATERIAL E MTODOS

    45

    os dosimetros de rudo das marcas Simpson, modelo 897 e Instrutherm, modelo DOS/450

    sendo as leituras efetuadas junto ao pavilho auricular dos trabalhadores.

    Os nveis equivalentes de rudo, para um perodo de 8 horas, foram calculados atravs

    da frmula obtida a partir dos padres da norma da American National Standards Institute

    (ANSI) 1.25. As avaliaes levaram em considerao os critrios de referncia para

    incremento de dose (q)1 igual a 3 e 5, com nvel limiar de integrao igual a 80dB(A).

    O rudo de impacto no foi avaliado, pois na empresa no so desenvolvidas

    atividades ou operaes que exponham os trabalhadores a esse tipo de rudo.

    Os dados da avaliao do rudo, assim como os nveis de rudo de cada seo e a dose

    observada nos funcionrios podem ser observados no (ANEXO C).

    3.4 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS NO ESTUDO

    A partir de uma planilha fornecida pelo SESMT e utilizada pelo departamento de

    pessoal (recursos humanos) da empresa, contendo nome, data de nascimento, data de

    admisso, funo/setor de todo o efetivo da rea a ser estudada, procedeu-se a estratificao

    da amostra.

    Primeiramente, foi considerada inclusa no estudo toda a populao da DND e a

    amostra foi constituda de 218 funcionrios que trabalham expostos a rudo nocivo ou no em

    qualquer jornada de trabalho, sem distino de gnero e idade.

    Ao longo do estudo foram excludos os funcionrios que no quiseram participar, pois

    no devolveram o questionrio avaliativo que lhes foi entregue; os que estavam com

    problemas de sade (licena/afastados), os que se aposentaram durante o perodo de

    1 O q uma grandeza acstica relacionando as somas em dB no tempo, portanto, no depende de variaes de clculos devido aos diferentes critrios das legislaes. representativo para uma determinada funo avaliada durante a jornada de trabalho. No Brasil, segundo a NR-15 esse valor igual a 5dB (ARAJO; REGAZZI, 2002).

  • MATERIAL E MTODOS

    46

    realizao do trabalho e os que foram transferidos ou demitidos da Diviso ao longo do

    estudo, totalizando 174 trabalhadores estudados.

    3.5 ASPECTO TICO

    O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa do HCFMRP/USP em 06 de

    dezembro de 2004 sob processo no. 12502/2004 (ANEXO A). Em questionrio que foi entregue

    ao funcionrio, estava em anexo um esclarecimento sobre a realizao da pesquisa na DND

    (ANEXO B) (BRASIL, 1996).

    3.6 PROCEDIMENTOS REALIZADOS

    Foram analisadas as avaliaes auditivas contidas nos pronturios mdicos de todos os

    funcionrios da DND realizadas durante o perodo de dezembro de 2004 (ano base) a maro

    de 2006. Essa anlise visou ao levantamento do perfil auditivo ocupacional obtido no ato da

    admisso, no peridico anual e nos casos de demisso. Quando constatado que algum

    funcionrio no possua algum exame auditivo, o mesmo foi encaminhado para a realizao

    do exame, para que esse se tornasse o de referncia.

    3.6.1 CARACTERSTICAS DA ROTINA DE EXECUO DOS EXAMES AUDITIVOS

    A empresa tem ambulatrio mdico prprio para atendimento ao trabalhador, mas os

    exames auditivos ocupacionais so contratados por uma fundao vinculada a empresa e

    agendados no Setor de Fonoaudiologia da entidade e realizados pelos profissionais do servio.

    Todos os trabalhadores que ficam expostos a nveis de presso sonora (NPS) acima do

    nvel de ao proposto pela NR-9 da Portaria no. 25 do Ministrio do Trabalho (BRASIL,

    1994b) que so 80dB(A) / 8horas ou dose equivalente devem ser submetidos a audiometria,

  • MATERIAL E MTODOS

    47

    pelo menos uma vez a cada ano. Na empresa foi institudo a cerca de dois anos um nvel de

    ao mais seguro e abrangente, sendo esse 75dB(A) / 8horas de trabalho. Segundo a Norma

    de Higiene Ocupacional n. 01 (NHO 01) (FUNDACENTRO, 2001) o nvel de ao um

    valor acima do qual devem ser iniciadas aes preventivas de forma a minimizar a

    probabilidade de que as exposies ao rudo causem prejuzos audio e evitar que o limite

    de exposio seja ultrapassado.

    Para os exames auditivos, os trabalhadores geralmente no esto sob repouso acstico

    de catorze horas no mnimo, (mesmo tendo a obrigatoriedade nos admissionais e serem

    desejveis nos peridicos e demissionais) devido incompatibilidade dos horrios de

    funcionamento do servio de fonoaudiologia e os disponveis pelos funcionrios, mesmo

    assim, nenhum trabalhador precisa faltar ao servio ou mudar sua rotina no local de trabalho

    para submeter-se a avaliao. Esses exames so agendados, muitas vezes, pelo prprio

    funcionrio para facilitar o dia e horrio do agendamento.

    Normalmente, previamente ao momento do exame, no feita a inspeo de meato

    auditivo externo para a verificao de excesso de cera ou presena de corpo estranho, apesar

    de ser obrigatria. Caso haja alguma alterao no exame, o funcionrio orientado a procurar

    o mdico do trabalho e/ou otorrinolaringologista.

    3.6.1.1 EXAMES AUDIOMTRICOS: MATERIAIS UTILIZADOS E MTODOS APLICADOS

    As audiometrias tonais limiares foram realizadas por via area, nas freqncias de

    250Hz a 8000Hz em cabina acusticamente tratada segundo padro International Organization

    for Standardization (ISO) 8253.1/1989 para evitar o rudo de fundo e com a utilizao dos

    audimetros devidamente calibrados anualmente das marcas Midimate 622 da Madson, MA-

  • MATERIAL E MTODOS

    48

    41 da Maicon e AD-28 da Interacoustics, com fones TDH 39 e coxim MX 41. Nos casos em

    que os limiares tonais areos eram maiores que 25dB(NA) nas freqncias de 500Hz a

    4000Hz, a via ssea foi pesquisada. A imitanciometria; nesse estudo, no foi abordada.

    No gerenciamento audiomtrico do programa computadorizado utilizado pelo SESMT

    desde 2004 ainda no havia nenhum dado, no aspecto audiolgico e, para facilitar e

    padronizar a anlise dos exames, os dados das audiometrias foram inseridos. Apesar de o

    programa possuir vrias classificaes para os resultados dos exames auditivos, nesse estudo

    foi utilizado apenas o critrio da Portaria no. 19 do anexo A da NR-7 (BRASIL, 1998b) por

    ser a legislao brasileira utilizada no mbito ocupacional. Esse critrio baseia-se nos valores

    das medies nas freqncias 500Hz, 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz e o

    resultado considerou as seguintes interpretaes:

    - Limites Aceitveis: Os limiares auditivos devero ser menores que ou iguais a 25dB(NA),

    em todas as freqncias examinadas;

    - Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados: Os

    limiares auditivos, nas freqncias de 3000Hz e/ou 4000Hz e/ou 6000Hz que apresentarem

    valores acima de 25dB(NA) e mais elevados que nas outras freqncias testadas, estando

    essas comprometidas ou no, tanto no teste da via area quanto da via ssea, em um ou em

    ambos os lados.

    - No Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados: So

    os audiogramas que no se enquadram nas descries contidas em Limites Aceitveis e

    Sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevados;

  • MATERIAL E MTODOS

    49

    - Sugestivo de Desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso

    Sonora Elevados: Os limiares auditivos, em todas as freqncias testadas, devero ser

    menores que ou iguais a 25dB(NA), e juntamente com um dos critrios:

    1) Diferena entre as mdias aritmticas dos limiares no grupo de freqncia de 3000Hz,

    4000Hz e 6000Hz se iguala ou ultrapassa a 10dB(NA);

    2) A piora em pelo menos uma das freqncias de 3000Hz, 4000Hz ou 6000Hz iguala ou

    ultrapassa 15dB(NA);

    - Sugestivo de Agravamento da Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora

    Elevados: Nas freqncias de 3000Hz e/ou 4000Hz e/ou 6000Hz que apresentarem valores

    acima de 25dB(NA) e dentre essas freqncias selecionar o de maior valor, e esse dever ser

    maior que os valores das freqncias de 500Hz, 1000Hz e 2000Hz, juntamente com um dos

    critrios:

    1) Diferena entre as mdias aritmticas dos limiares auditivos no grupo de freqncia de

    500Hz, 1000Hz e 2000Hz ou no grupo de freqncias de 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz iguala

    ou ultrapassa a 10dB(NA);

    2) A piora em pelo menos uma das freqncias de 3000Hz, 4000Hz e 6000Hz iguala ou

    ultrapassa 15dB(NA).

    As perdas auditivas no induzidas por nveis de presso sonora elevados podem ser

    classificadas segundo Lopes-Filho (2005) como:

    - Condutiva Trs condies so essenciais para classificar uma alterao auditiva como de

    natureza condutiva: limiares tonais por via ssea preservados, gap entre limiares de via area

    e de via ssea maior que 10dB e nunca maior que 60dB e discriminao auditiva para a fala

    com resultados em torno de 100%.

  • MATERIAL E MTODOS

    50

    - Sensorioneural Nesse tipo de alterao auditiva encontrado via ssea igual da via

    area, no havendo gap areo-sseo. A discriminao auditiva para a fala quase sempre

    proporcional perda de audio, especialmente na zona da palavra falada.

    - Mista Nesse tipo de alterao auditiva h um componente condutivo associado a um

    sensorioneural. Assim, pode-se encontrar um gap entre via area e via ssea em todas as

    freqncias ou somente em algumas delas. A discriminao auditiva para a fala boa, porm

    prejudicada em relao ao indivduo com audio normal ou com alterao condutiva pela

    presena do componente sensorioneural.

    3.6.2 APLICAO DE QUESTIONRIO INVESTIGATIVO

    Os funcionrios que aceitaram participar do estudo responderam (sem a presena da

    pesquisadora) a um questionrio que foi baseado em Santos et al. (1989) e Rios (2003)

    (ANEXO D).

    Com 40 questes de mltipla escolha foram levantados dados pessoais e referentes

    histria clnica e ocupacional dos trabalhadores como: estado de sade geral, doenas

    anteriores, histrico familiar de deficincia auditiva, queixas relacionadas audio e ao

    equilbrio, hbito de fumar, ingesto de lcool, funo e rotina no trabalho, tempo de

    exposio atual e pregressa a rudo, produtos qumicos e/ou outros agentes nocivos, uso de

    protetor auricular, atitudes frente ao rudo, exposio extra-laboral a rudo entre outros.

    Cada chefe de seo da DND se responsabilizou pela distribuio dos roteiros de

    investigao aos trabalhadores, pela devoluo dos mesmos pesquisadora e pelo controle de

    participantes realizado por meio de uma lista de assinaturas.

  • MATERIAL E MTODOS

    51

    3.6.3 AES PREVENTIVAS E EDUCATIVAS

    Segundo a NR-9, as aes preventivas devem ser iniciadas, quando as exposies

    forem maiores ou iguais ao nvel de ao. Para os funcionrios da empresa expostos ao rudo

    acima do limite de tolerncia, segundo a legislao previdenciria (85dB(A)) contnuo e/ou

    intermitente, a empresa fornece e torna obrigatrio o uso de protetores auditivos, de acordo

    com as seguintes especificaes:

    1) Protetor auditivo do tipo concha, da marca Agena, modelo ATR, com certificado de

    aprovao (CA) n. 269, com Nvel de Reduo de Rudo (subject fit) (NRRsf)2 de 13dB;

    2) Protetor auditivo do tipo plugue de insero, fabricado em borracha, da marca

    Carbografite, modelo GG 38, CA n. 6573, com NRRsf de 9dB;

    3) Protetor auditivo do tipo plugue, fabricado em silicone, da marca Safetyland, modelo 1319,

    CA n. 11509, com NRRsf de 15dB.

    Todos os locais da empresa, onde o rudo est acima dos limites de tolerncia, so

    sinalizados e, mesmo os trabalhadores que no se enquadram na descrio anterior, mas que

    circulam ou mesmo trabalham eventualmente nesses locais, so obrigados a usar o protetor

    auditivo durante sua permanncia nesses ambientes.

    As orientaes quanto ao uso e manuteno dos protetores so realizadas pelos tcnicos

    de segurana e pelas chefias de cada seo e esses fiscalizam o uso durante a jornada de

    2 Trata-se da Norma ANSI S12.6/97 mtodo B que tem o objetivo de fornecer uma aproximao dos limites mximos de atenuao no mundo real que podem ser esperados para grupos de usurios expostos a rudo ocupacional. Isso porque o NRR (Noise Reduction Rating) obtido em laboratrio e que diferem dramaticamente da realidade de campo. Esse mtodo chamado de subjetivo ou de orelha real, pois utiliza nos ensaios indivduos que desconhecem o uso de protetores auriculares e apenas seguem as orientaes de uso das embalagens dos protetores. A sigla que define esse mtodo sf e os desvios padres encontrados nas atenuaes so muito maiores. um mtodo conservador e que oferece maior proteo ao trabalhador e aps a instruo normativa do INSS no. 78, em julho de 2002, o Ministrio do Trabalho instituiu que at dezembro de 2002 todos os protetores auditivos deveriam apresentar resultado NRRsf (ARAJO; REGAZZI, 2002; FANTAZZINI, 2003).

  • MATERIAL E MTODOS

    52

    trabalho. A reposio desse equipamento tambm controlada e documentada pelos

    profissionais do SESMT da empresa.

    Paralelamente aos procedimentos j citados, foram realizadas palestras e/ou mini-

    cursos aos funcionrios da diviso sobre os cuidados com a audio, a necessidade e

    importncia do uso do equipamento de proteo individual, principalmente do tipo auricular,

    a importncia da realizao dos exames auditivos e o porqu de periodicidade, alm de

    esclarecimentos relativos s portarias e normas de sade ocupacional.

    O material didtico utilizado foi variado. Foram elaborados panfletos, cartazes

    informativos e palestras (ANEXO E) com auxlio audiovisual, rico em figuras e sons para

    motivar a participao e melhorar o aproveitamento.

    Primeiramente foi realizada uma palestra piloto para os funcionrios da Diviso de

    Lavanderia com o objetivo de reduzir possveis falhas; na ocasio foram tambm distribudos,

    os panfletos informativos (ANEXO F). Uma vez realizadas as correes no material educativo,

    de abril a maio de 2005 foram promovidas sete palestras na DND com durao mdia de uma

    hora, respeitando a rotina de trabalho do local e o nmero de funcionrios.

    Durante a palestra (ANEXO G) houve significativa participao de todos, com

    perguntas e sugestes para o uso de equipamento de proteo individual. Aps a palestra, os

    funcionrios assinaram uma lista de confirmao de presena e receberam o panfleto

    informativo com os mesmos temas abordados na mesma (ANEXO H).

    Apesar de ter havido um horrio flexvel para a participao nas palestras, muitos

    funcionrios no conseguiram se ajustar aos horrios e perderam as explanaes ao vivo; para

    esses providenciamos a distribuio de panfletos explicativos e a fixao de cartazes

    informativos por toda a DND (ANEXOS I e J) e a leitura desse material foi a nica fonte de

    informao para o grupo.

  • MATERIAL E MTODOS

    53

    4 ANLISE ESTATSTICA

    Com o objetivo de manter a anlise fidedigna situao auditiva dos funcionrios, os

    dados foram estudados e comparados de acordo com o nmero de indivduos e no de orelhas.

    A anlise por orelhas foi realizada apenas em determinadas situaes em que a comparao de

    respostas entre os lados foi importante.

    Os dados foram sumarizados em freqncias absolutas e percentagem de ocorrncia

    admitindo as linhas ou as colunas como subtotais.

  • 4 RESULTADOS

  • RESULTADOS

    54

    Os resultados foram organizados em tabelas e grficos dos valores de todos os

    p