impactos do programa bolsa famÍlia na vida...

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1 Trabalho de Conclusão de Curso IMPACTOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VIDA DOS BENEFICIARIOS DA REGIÃO DO BAIRRO DOM ANTONIO BARBOSA Suélen de Almeida Resumo: O Programa Bolsa Família possibilita que a população pobre tenha condições mínimas de subsistência de vida, proporcionando promoção de renda, saúde e educação. Desta forma, objetivou-se através desta pesquisa acompanhar cinco famílias que possuem seus filhos matriculados na Escola Municipal e no Centro de Educação Infantil, localizados no bairro Dom Antônio Barbosa no município de Campo Grande/MS, de modo a utiliza-las como informantes sobre a atual situação que se encontram, questionando-as sobre os impactos causados pelo Programa Bolsa Família (PBF), por meio de entrevistas semiestruturadas. Palavras-chave: Criança, Contexto Social, Bolsa Família. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo visa fazer uma análise a respeito dos impactos do Programa Bolsa Família (PBF) na vida dos beneficiários – crianças e familiares – residentes no bairro Dom Antônio Barbosa, localizado na região sul de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, destacando a importância do programa para as famílias, bem como seus pontos positivos e negativos, além de ressaltar os condicionantes relativos ao PBF. O bairro Dom Antônio Barbosa é uma região marcada por altos índices de criminalidade, é também um local em que o consumo e a comercialização de drogas é elevado, envolvendo inclusive crianças. Sendo assim, a vulnerabilidade social presente neste bairro é evidente, segundo Chagas (2015) em reportagem no Jornal “MS Notícias” o bairro é um dos mais violentos de Campo Grande, com grande número de famílias inseridas em programas sociais do governo federal. No que tange a educação, fator considerado necessário para a diminuição das desigualdades, existem situações desfavoráveis que não permitem o aproveitamento da atividade do estudo, no bairro existe 01 (uma) escola municipal e 01 (um) e Ceinf – Centro de Educação Infantil, destacamos que fatores como: a entrada muito precoce ao mercado de trabalho, responsabilidades com o lar (cuidar da casa e dos cuidar dos irmãos, exposição a marginalidade), falta de ambiente para estudo e pesquisa livros, computadores, etc.) entre

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1 Trabalho de Conclusão de Curso

IMPACTOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VIDA DOS BENEFICIARIOS

DA REGIÃO DO BAIRRO DOM ANTONIO BARBOSA

Suélen de Almeida

Resumo: O Programa Bolsa Família possibilita que a população pobre tenha condições mínimas de

subsistência de vida, proporcionando promoção de renda, saúde e educação. Desta forma, objetivou-se

através desta pesquisa acompanhar cinco famílias que possuem seus filhos matriculados na Escola

Municipal e no Centro de Educação Infantil, localizados no bairro Dom Antônio Barbosa no município

de Campo Grande/MS, de modo a utiliza-las como informantes sobre a atual situação que se encontram,

questionando-as sobre os impactos causados pelo Programa Bolsa Família (PBF), por meio de

entrevistas semiestruturadas.

Palavras-chave: Criança, Contexto Social, Bolsa Família.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo visa fazer uma análise a respeito dos impactos do Programa Bolsa

Família (PBF) na vida dos beneficiários – crianças e familiares – residentes no bairro Dom

Antônio Barbosa, localizado na região sul de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, destacando

a importância do programa para as famílias, bem como seus pontos positivos e negativos, além

de ressaltar os condicionantes relativos ao PBF.

O bairro Dom Antônio Barbosa é uma região marcada por altos índices de

criminalidade, é também um local em que o consumo e a comercialização de drogas é elevado,

envolvendo inclusive crianças. Sendo assim, a vulnerabilidade social presente neste bairro é

evidente, segundo Chagas (2015) em reportagem no Jornal “MS Notícias” o bairro é um dos

mais violentos de Campo Grande, com grande número de famílias inseridas em programas

sociais do governo federal.

No que tange a educação, fator considerado necessário para a diminuição das

desigualdades, existem situações desfavoráveis que não permitem o aproveitamento da

atividade do estudo, no bairro existe 01 (uma) escola municipal e 01 (um) e Ceinf – Centro de

Educação Infantil, destacamos que fatores como: a entrada muito precoce ao mercado de

trabalho, responsabilidades com o lar (cuidar da casa e dos cuidar dos irmãos, exposição a

marginalidade), falta de ambiente para estudo e pesquisa livros, computadores, etc.) entre

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2 Trabalho de Conclusão de Curso

outros, distanciam cada vez mais esta população de uma educação de base, como nos coloca

Leite (s.d, p.13):

[...] as condições de vida das crianças e dos(as) jovens pobres no Brasil deixam

à mostra as desigualdades sociais e a falta de concretização de direitos

garantidos por lei, como viver com dignidade ou estudar em uma escola de

qualidade. O que podemos observar é que inúmeras crianças e jovens de

origem popular vivem hoje nos “limites da sobrevivência”, colocando em

descoberto a grave desigualdade social presente em nossa sociedade.

Considerando os aspectos que estão no entorno desta população e a complexidade da

temática abordada, utilizamos a metodologia de cunho qualitativo. Realizamos o

acompanhamento de cinco famílias que tem seus filhos matriculados no Centro de Educação

Infantil – Ceinf e na escola municipal da região, buscamos estabelecer um contato direto com

as famílias estabelecendo uma relação de confiança, com intuito de que elas fossem as

informantes sobre a atual situação em que se encontram. Buscamos ainda, dar voz a esses

sujeitos para que eles evidenciassem os impactos que o PBF causou em suas famílias, e

relatassem tanto os aspectos de contribuição do programa para melhoraria de vida, como alguns

fatores que ainda podem melhorar. Com a finalidade de estabelecer uma escuta atenta dos

sujeitos envolvidos no processo utilizamos entrevistas semiestruturadas que foram gravadas em

áudio e posteriormente transcritas e analisadas.

As desigualdades sociais no local da pesquisa são marcantes, é um bairro desassistido

pelo poder público, onde a população não consegue ter voz ativa diante da sociedade, Pinzane

e Rego (2014, p.7) esclarecem que a exclusão econômica resulta em exclusão social e política,

“visto que os pobres passam a viver à margem da sociedade, com pouca capacidade de se

organizarem para fazer com que suas vozes sejam ouvidas. ”

Segundo os autores, essas exclusões (econômica, social e política) resultam em:

[...] renúncia por parte do Estado a formar cidadãos(ãs), é a desinformação

generalizada, a indiferença política, cívica e, sobretudo, a transformação das

pessoas em alvos fáceis para qualquer tipo de manipulação religiosa,

ideológica, em especial a da demagogia política mais perigosa, deformadora

de qualquer sentido republicano da vida coletiva (PINZANE; REGO, 2014,

p.27).

No entanto, é notável que o Programa Bolsa Família tem acrescido inúmeros benefícios

na vida das famílias atendidas, visto que, tem elevado o nível de escolaridade da população,

diminuído a fome, além de proporcionar a promoção da saúde aos beneficiados.

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3 Trabalho de Conclusão de Curso

Além da contribuição do programa para a redução da desnutrição infantil, a

diminuição da mortalidade infantil foi expressiva entre as famílias

beneficiárias do programa – tanto a mortalidade relacionada à resistência a

doenças infectocontagiosas quanto a relacionada à desnutrição e à diarreia. O

atendimento básico à saúde dos grupos mais vulneráveis foi fortalecido em

consequência das condicionalidades do Bolsa Família, com reflexos

importantes na saúde da gestante e da criança. (CAMPELLO; NERI, 2013,

p.18)

Considerando estes fatores percebemos a necessidade de dar voz às pessoas que

participam do PBF, permitindo que falem a respeito das principais mudanças em suas vidas

após a entrada no programa.

Para participar do Bolsa Família é necessário que o indivíduo se encaixe em alguns

critérios estabelecidos na política do programa, chamados condicionantes, fatores como renda

familiar e acompanhamento na área educacional e de saúde.

A condicionalidade do PBF, da forma como está organizada em todo território

nacional e em articulação com as políticas públicas, com foco nas famílias em

situação de pobreza, tem o grande potencial de articular a preocupação em

torno da desigualdade e, ao mesmo tempo, pautar a questão da equidade para

efetivação de direitos sociais básicos (AGATTE; ANTUNES, 2014, p.48).

Em resumo o PBF atende pessoas na linha de pobreza e pobreza extrema que segundo

Arroyo (2015, p. 23), são indivíduos “[...] condenados (as) a vidas em situação crítica de

subsistência – sem moradia digna, água, comida, trabalho [...]”, que estão no limite do

sobreviver.

Esta pesquisa foi estruturada em três subitens, no primeiro apresentaremos um breve

histórico PBF e seus condicionantes. Em seguida abordaremos a temática com base na

entrevista realizada, e por fim, apresentaremos algumas considerações acerca do tema.

2 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: SEUS CONDICIONANTES E PENALIDADES

O Programa Bolsa Família foi implementado no ano de 2004. Um programa de

transferência de renda que atende famílias em situação de pobreza ou pobreza extrema, foi

instituído pela Lei 10.836, de janeiro de 2004 e regulamentado pelo Decreto 5.209, de setembro

de 2004. Possui três objetivos básicos:

[...] aliviar a pobreza de forma imediata mediante a transferência direta de

renda; apoiar o desenvolvimento das capacidades da família através da

integração com programas complementares que visam capacitar os adultos

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4 Trabalho de Conclusão de Curso

para sua inserção no mercado de trabalho buscando romper com a situação de

vulnerabilidade financeira; e, contribuir para a redução da reprodução do ciclo

de pobreza [...]. (OLIVEIRA, 2015, p. 13776)

O ciclo vicioso da pobreza consiste em uma série de fatores que levam o indivíduo a

permanecer na pobreza, e por mais que hajam esforços para sair deste contexto de falta de

condições dignas de vida, o indivíduo vê-se preso a ele, isso se dá devido as insuficiências do

Estado que permite que o indivíduo seja excluído política, econômica e socialmente. Mediante

a isto, o Estado institui programas que consintam em propiciar condições mínimas de sustento

na vida do indivíduo, iniciativas essas como o próprio Programa Bolsa Família.

Segundo redação dada pela Lei nº 11.692, de 2008 o programa destina-se a famílias que

em sua composição possuam gestantes, nutrizes (mulheres que amamentam), crianças entre

zero e doze anos, ou adolescentes de até dezessete anos de idade. Essas famílias necessitam

estar enquadradas no percentual de renda familiar mensal per capita que varia de R$ 85,00

(oitenta e cinco reais) até R$ 170,00 (cento e setenta reais) conforme o artigo n.18 do Decreto

nº 8.794, de 2016. Além disso, a família necessita estar cadastrada no Cadastro Único –

CadÚnico, esse, que é um instrumento que permite ao governo conhecer a realidade

socioeconômica de cada família cadastrada.

Estes indivíduos necessitam atender alguns critérios:

Na área educacional:

Matricular crianças e adolescentes de 6 a 15 anos em instituições de ensino regular;

Frequência escolar de 85%; quando ocorrer mudança de escola informar ao setor responsável

pelo PBF.

Na área da saúde:

Para gestantes e nutrizes: Inscrever-se no pré-natal e comparecer as consultas; participar

de atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e

alimentação saudável.

Para responsáveis por crianças menores de 7 anos: Manter atualizado o cartão de vacina

da criança; levar a criança à unidade de saúde para fazer acompanhamento do estado nutricional

e do desenvolvimento e outras ações, conforme calendário mínimo do Ministério da Saúde.

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5 Trabalho de Conclusão de Curso

Caso o cidadão descumpra algum dos condicionantes ele estará sujeito a penalidades,

em primeiro momento a advertência, persistindo o descumprimento, a pessoa recebe a segunda

ocorrência que pode acarretar em:

- Bloqueio do benefício por um mês, no segundo registro de descumprimento;

- Suspensão do benefício por dois meses a partir do terceiro registro de descumprimento,

e, reiteradamente, a partir da ocorrência de novos efeitos no benefício por descumprimento;

- Cancelamento do benefício somente após registro no Sistema de Condicionalidades −

SICON de que a família foi inserida em serviço socioassistencial de acompanhamento familiar

do município.

As condicionalidades são compromissos tanto da família beneficiada, como também do

governo que necessita ofertar serviços públicos de saúde, educação e assistência social, para

que as condicionalidades sejam de fato cumpridas.

Observamos que o PBF possui uma política de enfrentamento da pobreza, da

desigualdade e da exclusão social, que exige a corresponsabilidade dos beneficiários, uma vez

que necessitam atender as regras relacionados ao programa, esses critérios que vão além da

geração de renda ocupando as esferas de saúde e educação, fatores extremamente necessários

para o desenvolvimento do indivíduo e para superação das desigualdades.

Concebendo a importância do PBF nas áreas de saúde, de educação e também na

efetivação dos direitos sociais do indivíduo, o programa tem constituído uma importante

estratégia para o combate da pobreza e da fome:

O Programa Bolsa Família tem se afirmado com uma experiência bem-

sucedida devido à sua ampla cobertura e ótima focalização, e também aos

relevantes impactos sobre as condições de vida da população beneficiária.

(CAMPELLO; NERI, 2013, p.23).

Fomentar políticas sociais e programas como o Bolsa família é assegurar condições

mínimas de sobrevivência e dignidade de vida aos beneficiados, é, de alguma forma, permitir a

população pobre ter condições mínimas de subsistência.

Pensando nisto, fomos ouvir as narrativas de algumas famílias beneficiárias, seus

anseios e opiniões sobre o PBF, dando espaço para que elas expusessem sua realidade acerca

de trabalho e renda, estrutura familiar e o emprego do recurso recebido.

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6 Trabalho de Conclusão de Curso

3 A REALIDADE DOS SUJEITOS INCLUSOS NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Esta pesquisa configurou-se como espaço de escuta e divulgação do pensar dos

beneficiários do PBF, através de entrevistas semiestruturadas, gravadas em áudio com

perguntas abertas e fechadas, dando liberdade aos entrevistados para que discorressem sobre

cada tema abordado.

O referencial teórico-metodológico utilizado é o de pesquisa qualitativa, onde busca-se

estudar e elucidar as políticas públicas que permeiam os aspectos sociais dos indivíduos. Além

disso, a pesquisa é um espaço de reflexão e investigação dos elementos estudados, desta forma

destaca-se a fala de Nogueira (2010) em que afirma,

[...] a preocupação não é delimitar, mas ampliar a discussão, levando para o

campo da investigação o sujeito produtor de conhecimento, o sujeito

pesquisado, as diferentes abordagens no processo de pesquisa, o olhar do

pesquisador em busca das insignificâncias e dos fragmentos que por vezes dão

um novo sentido à totalidade” (NOGUEIRA, 2010, p. 56).

Sendo assim, as famílias que participaram desta pesquisa, são indivíduos que foram

atendidos pela pesquisadora quando trabalhava com Agente Comunitária de Saúde, no bairro

Dom Antônio Barbosa. O vínculo da pesquisadora e famílias facilitaram a realização do

presente estudo, conforme orienta Neto (1994, p.55):

Em primeiro lugar, devemos buscar uma aproximação com as pessoas da área

selecionada para o estudo. Essa aproximação pode ser facilitada através do

conhecimento de moradores ou daqueles que mantêm sólidos laços de

intercâmbio com os sujeitos a serem estudados [...] é fundamental

consolidarmos uma relação de respeito efetivo pelas pessoas e pelas suas

manifestações no interior da comunidade pesquisada.

Colaboraram com esta pesquisa 05 (cinco) famílias com diferentes composições

familiares. As entrevistas foram autorizadas pelos participantes e realizadas em suas

residências, buscou-se obter dados mais próximos possíveis ao movimento dos sujeitos em seus

espaços físicos e sociais. As famílias tiveram suas identidades preservadas e sendo identificadas

com nomes fictícios: família 01- Barros; família 02 – Andrade; família 03 – Bandeira; família

04 – Marinho; família 05- Rocha.

A tabela abaixo apresenta alguns dados pessoais das famílias entrevistadas, que

evidenciam as situações em que se encontram nesse momento histórico.

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7 Trabalho de Conclusão de Curso

Família Barros Andrade Bandeira Marinho Rocha

Número de

moradores

04 04 02 04 05

Idade dos

moradores

65

53

14

11

40

29

07

03

52

11

31

23

05

08 meses

34

28

12

09

03

Possui casa

própria?

Casa cedida

Casa cedida

Casa própria

Casa alugada

Casa própria

Quantos estão

matriculados/

estudam?

02

01

01

01

03

Renda Familiar

R$ 1.500,00

R$ 1000,00

R$ 350,00

R$900,00

R$210,00

(apenas renda do

PBF)

Quantos

possuem renda

fixa?

01

(Seguro

Desemprego)

Nenhum

Nenhum

01

Nenhum

Quantos são

autônomos?

Nenhum

01

01

Nenhum

01

Atividade

desenvolvida no

trabalho

-

Cabelereiro

Babá

Segurança

Passadeira

Diante do exposto nota-se que a maior composição familiar é a dos Rochas, sendo cinco

moradores no total e a menor com apenas dois moradores. Percebe-se que apenas duas famílias

possuem casa própria, duas das famílias entrevistadas possuem casas cedida e uma alugada.

Três dos entrevistados declaram não possuir renda fixa, desenvolvendo atividades autônomas,

na família Barros ocorre um caso de perca do emprego há um mês, a atividade antes

desenvolvida era o plantio de eucalipto.

As famílias entrevistadas que possuem crianças menores de 04 (quatro) anos dizem

possuir dificuldades em conseguir vagas no Ceinf, observa-se que apenas uma delas tem seu

filho matriculado na creche, as outras duas famílias relatam estar na fila de espera para

concretização da vaga.

Compreendemos a importância da Educação Infantil na vida das crianças, na sua

formação cognitiva e no desenvolvimento de suas inúmeras capacidades e deve:

[...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas

de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das

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8 Trabalho de Conclusão de Curso

capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em

uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas

crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural

(BRASIL, 1998, p.23)

Quanto a escolaridade observa-se que apenas as crianças e adolescentes que possuem

idades correspondente a escolaridade obrigatória1, estão matriculados na Escola Municipal

Padre Thomaz Ghirardelli, ou no Ceinf Ramza Bedoglin Domingos. Os adultos das famílias

Barros e Andrade apenas mulheres concluíram o Ensino Médio, enquanto os homens não

concluíram o ensino fundamental. Nas famílias Marinho, Bandeira e Rocha todos os adultos

concluíram o Ensino Médio, salientamos que educar é possibilitar uma amplidão de horizontes

e deve oferecer indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu

desenvolvimento e inserção social (BRASIL, 1998).

Destacamos algumas peculiaridades dos entrevistados, na família Barros são os avós

que criam os netos, desde os três anos de idade. Na família Andrade, a criança de três anos

possui deficiência visual e faz acompanhamento no Instituto Sul Mato Grossense para cegos

Florivaldo Vargas (ISMAC). A família Bandeira, além da renda declarada, afirma que os filhos

ajudam financeiramente a manter a casa, porém, não tem valor fixo e não é todo o mês que ela

obtém esse auxílio. A família Rocha relata estar em um difícil momento, pois o marido que

mantinha o lar, desenvolvendo a atividade de eletricista, teve que fazer uma cirurgia cardíaca e

perdeu a renda, foi neste momento (dois meses atrás) que a esposa recorreu ao Bolsa Família,

e para complementar a renda desenvolve o serviço de passar roupas.

A renda familiar se difere entre uma e outra família, a maior renda declarada é de R$

1500,00 (mil e quinhentos reais) e a menor de R$350,00 (trezentos e cinquenta reais) já

incluindo o benefício do PBF. Nota-se que para participação no PBF algumas rendas

ultrapassariam os critérios do programa, porém os participantes da pesquisa relatam que a renda

declarada é de apenas um dos moradores no caso das famílias Barros, Andrade e Marinho.

Percebe-se que a política de transferência de renda, nestes casos, é importante para estas

famílias, Pinzane e Rego (2014, p.18) declaram,

Isso exige de todos(as) os(as) democratas uma tomada de posição e lutas

políticas voltadas à preservação de importantes conquistas democráticas e

1 A Lei n. 9.394/1996 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, prevê que

educação básica é obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade.

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9 Trabalho de Conclusão de Curso

sociais duramente conquistadas, como o acesso ao bem-estar, à cultura e à

educação de maneiras universais. Essas considerações servem para salientar a

importância fundamental da formação de solidariedades fortes e laços sociais

consistentes, necessários para garantir grandes transferências de renda; e do

apoio decisivo a medidas legislativas verdadeiramente distributivas,

indispensáveis à construção e à efetivação de direitos.

No PBF a transferência de renda tem por finalidade o alívio imediato da pobreza ligados

a privação de recursos, reduzindo desta forma as gritantes desigualdades sociais.

Questionadas acerca do tempo que recebem o benefício e sobre como a renda é

empregada, as famílias, Barros e Andrade afirmam receber a dois anos e que é aplicada em:

“Coisas pras crianças, um mês compra pra um e no outro pra outro. Compro material escolar e

roupas que usa muito. ” (Barros) [SIC].

A família Andrade afirma que utiliza apenas para alimentação “Eu uso pra comprar

alimentos, é pouco mas a gente junta com mais um pouco e compra, é R$70,00 (setenta reais)

mas ajuda” [SIC].

Em relato a família Marinho declara ter recebido o benefício por dois anos, mas após

começar a trabalhar deixou de receber, contudo, após o nascimento de seu filho, agora com oito

meses, não havendo vaga no Ceinf ela teve que deixar de trabalhar, assim, deu entrada

novamente no Programa e está recebendo o benefício a seis meses. “Eu uso pra comprar leite,

fralda e as coisinhas pras crianças” [SIC].

A família Rocha afirma que é o segundo mês que participa do programa, “eu tenho

usado esse dinheiro para pagar alguma conta de agua ou luz e se sobra eu compro comida pra

casa também, é um dinheiro que tá vindo em boa hora” [SIC].

Quanto a aplicabilidade do recurso obtido observa-se que a subsistência das famílias

entrevistadas tem sido prioridade, se tornando um fator importante para o enfrentamento da

situação da pobreza em que vivem, não obstante o programa integrar-se a uma política de

segurança alimentar e nutricional, além de conferir a estas famílias o direito básico a vida, que

é o dever mais elementar do Estado, conforme afirma Campello (p.21, 2013)

Ao longo dos anos, devido ao seu desenho adequado e à sua contínua expansão

e aprimoramento, o PBF reduziu a pobreza e a desigualdade, promoveu a

inclusão nas políticas públicas de educação e saúde, reduziu a insegurança

alimentar, e fortaleceu a trajetória escolar e a saúde de crianças e adolescentes,

aumentando o compromisso destas políticas com as parcelas mais pobres da

população brasileira.

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10 Trabalho de Conclusão de Curso

Vale ressaltar que antes de estarem inclusas no PBF as famílias se organizavam

financeiramente de diferentes modos. As famílias Barros e Bandeira declaram que antes

recebiam ajuda dos filhos para se manter, as famílias Marinho e Rocha trabalhavam, como já

exposto anteriormente e a família Andrade afirma que antes dependiam unicamente da renda

do marido, que é autônomo.

Elas revelam que o Bolsa Família se torna uma segurança, principalmente para o

sustento dos filhos, uma vez que não estão inseridas mais no mercado de trabalho e necessitam

utilizar o programa, frisamos que essas famílias utilizam o benefício a pouco tempo e entendem

que assim que conquistarem alguma forma de renda fixa e segura deixaram de ser participantes

do PBF.

Quando questionadas quanto as exigências do Programa as famílias relatam não possuir

nenhuma dificuldade em cumpri-las. Barros revela que a cada seis meses tem que ir no Posto

de Saúde para pesar e medir, ela e as crianças. Marinho afirma que é necessário estar com as

vacinas e o preventivo em dia, além de fazer acompanhamento médico de seus filhos.

Bandeira reconhece:

Acaba fazendo a gente cuidar mais da saúde, antes eu não me importava muito

em fazer preventivo, agora todo ano eu faço e as minhas vacinas e da minha

filha sempre estão em dia. [SIC]

Acerca da instituição escolar na qual as crianças estão inseridas, as entrevistadas dizem

não haver nenhuma diferenciação de seus filhos e as outras crianças, a única exigência que a

escola faz é a frequência escolar.

Segundo Campello (2013) as condicionalidades do PBF garantiram às famílias

beneficiárias o acesso a serviços básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social.

Um primeiro aspecto é que as condicionalidades do programa exigiram uma

articulação entre as áreas de assistência social, de educação e de saúde em

torno da população beneficiária. Desta maneira, a população vulnerável –

tradicionalmente com maiores dificuldades de acesso aos serviços de

educação e saúde e, sobretudo, de acesso com qualidade – passou a receber

uma atenção especial dos sistemas educacional e de saúde, por meio do

acompanhamento de condicionalidades (CAMPELLO, 2013, p.31).

Por fim foram questionados a respeito dos aspectos que deveriam ser melhorados no

PBF e sobre as expectativas de vida para o futuro, a família Barros coloca: “eu acho que tinha

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11 Trabalho de Conclusão de Curso

que ter mais fiscalização, porque tem muita gente que recebe e não precisa e no futuro eu espero

que eles (netos) tenham um bom emprego. ”

Já a família Andrade afirma: “eu acho que não falta nada no programa, não tenho o que

reclamar, quero que minhas filhas façam faculdade se profissionalizem porque eu não tive

oportunidade e espero que elas tenham” [SIC].

Para a família Bandeira o valor repassado aos sujeitos precisa ser revisto ao relatar que:

“tinha que aumentar (o valor), no futuro eu quero que ela estude e quando chegar a maioridade

tem que trabalhar, né. ”

Marinho também acredita que não falta nada no Programa e espera que os filhos estudem

e façam faculdade. Rocha diz: “tinha que ter fiscalização e tinha que punir quem recebe e não

precisa, porque fica usando o lugar de quem precisa de fato, no futuro eu quero que eles estudem

e tenham uma boa carreira no emprego. ” [SIC]

Analisando as falas das entrevistadas percebemos que apenas uma delas afirma que o

valor recebido deveria ser revisado, duas das participantes ressaltam a necessidade de maior

fiscalização em torno no Programa e as outras duas relatam não precisar de nenhuma mudança

no Bolsa Família.

Com relação a expectativa para o futuro todas manifestam o desejo que as crianças

possuam um bom emprego e ressaltam a importância de uma boa formação profissional para

tanto.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Esta pesquisa possibilitou a proximidade com a realidade vivida pelos beneficiários do

PBF, permitindo um olhar mais abrangente acerca dos fatores sociais que perpassam por cada

família, desmitificando muitos preconceitos arraigados sobre a temática do programa.

Salientamos que a iniciativa do PBF representa um ganho na ascensão das famílias

atendidas, promovendo além da renda, saúde e educação conforme tangem as condicionalidades

estabelecidas.

Durante a realização da entrevista, determinadas famílias demonstraram um certo temor

em participar do diálogo e posteriormente ter seu benefício cancelado, pois no quesito renda

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12 Trabalho de Conclusão de Curso

não se enquadrariam nas exigências do programa, esclarecemos a elas que a mesma seria apenas

parte de uma pesquisa e que seus dados não seriam revelados. Com relação a isso, nota-se que

algumas das entrevistadas evidenciam a necessidade de maior fiscalização em torno do

programa, no entanto elas próprias não se encaixariam neste ponto, uma vez que a renda

familiar excede o valor estipulado pelo programa.

No que tange a utilização do recurso recebido os entrevistados afirmam que é

empregado em suma no sustento da família e/ou aplicado em materiais para os filhos,

aumentando a segurança alimentar e nutricional, fator preponderante na política do programa.

Outro fator que nos chama atenção é preocupação com a formação dos filhos e o

encaminhamento ao mercado de trabalho, nenhum dos entrevistados alegou que futuramente

quer que o filho seja beneficiário do Bolsa Família, pelo contrário, todos querem que os filhos

estudem e possuam uma boa profissão futuramente, opondo-se ao discurso que o PBF forma

apenas vadios e acomodados.

Por fim, ressaltamos que o PBF possibilitou diversos benefícios para vida dos

entrevistados, além da renda, o programa mostra-se como um fator significativo para saúde e

educação dos beneficiários.

No entanto, acreditamos que de fato o programa necessita ser melhor fiscalizado, para

garantir aplicação correta do recurso e sua destinação a famílias que realmente necessitam deste

recurso para a superação da vulnerabilidade.

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