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Página 1 Boletim 552/14 – Ano VI – 30/06/2014 Impacto da aposentadoria na redução de desigualdade diminuiu, mostra estudo Por Flavia Lima | De São Paulo Estudo obtido com exclusividade pelo Valor aquece a discussão sobre a necessidade de se desvincular o salário mínimo dos benefícios da Previdência Social como uma forma de controlar os crescentes gastos públicos. Rodolfo Hoffmann, professor aposentado da Esalq-USP e também do Instituto de Economia da Unicamp mostra no trabalho "Transferências de Renda e Desigualdade" que o impacto de aposentadorias e pensões atreladas ao valor do salário mínimo sobre a queda da desigualdade de renda no Brasil diminuiu substancialmente nos últimos anos. A contribuição dessa parcela da renda para a redução da desigualdade caiu de 50,3%, no período 1995-2003, para 9,9% no período 2003-2012. Segundo Hoffmann, para compreender o fenômeno é preciso considerar que o aumento de uma renda só contribui para reduzir a desigualdade se essa renda for baixa. O estudo foi feito com dados retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de

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Boletim 552/14 – Ano VI – 30/06/2014

Impacto da aposentadoria na redução de desigualdade diminuiu, mostra estudo Por Flavia Lima | De São Paulo Estudo obtido com exclusividade pelo Valor aquece a discussão sobre a necessidade de se desvincular o salário mínimo dos benefícios da Previdência Social como uma forma de controlar os crescentes gastos públicos.

Rodolfo Hoffmann, professor aposentado da Esalq-USP e também do Instituto de Economia da Unicamp mostra no trabalho "Transferências de Renda e Desigualdade" que o impacto de aposentadorias e pensões atreladas ao valor do salário mínimo sobre a queda da desigualdade de renda no Brasil diminuiu substancialmente nos últimos anos. A contribuição dessa parcela da renda para a redução da desigualdade caiu de 50,3%, no período 1995-2003, para 9,9% no período 2003-2012.

Segundo Hoffmann, para compreender o fenômeno é preciso considerar que o aumento de uma renda só contribui para reduzir a desigualdade se essa renda for baixa. O estudo foi feito com dados retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de

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Domicílios (PNAD) de 2012 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009, com base em metodologia que divide em 11 as parcelas de renda que interferem na evolução da desigualdade no Brasil.

De acordo com dados da PNAD e seguindo um modelo estatístico específico, Hoffmann identifica que o valor a partir do qual uma renda deixa de contribuir para a redução da desigualdade situa-se hoje ao redor de R$ 980 (dados de 2012). Dessa forma, um aumento de renda só contribui para reduzir a desigualdade se beneficiar uma pessoa com renda inferior a R$ 980. "De 1995 a 2012, o valor real do salário mínimo aumentou de R$ 302,50 para R$ 622. Logo, o aumento de rendas pessoais iguais ao salário mínimo foi se tornando gradativamente menos efetivo como redutor da desigualdade", explica Hoffmann. Ele ressalta, no entanto, que aumentar o salário mínimo ainda é uma maneira efetiva de reduzir desigualdade, se esse for o único rendimento, por exemplo, de uma família de quatro pessoas.

Segundo Hoffmann, estudioso de assuntos como pobreza, segurança alimentar e desenvolvimento no meio rural, esses números abririam espaço para que as discussões sobre a reforma da Previdência finalmente fossem destravadas. O pesquisador avança sobre um assunto polêmico, especialmente em ano de eleições, ao afirmar ainda que o momento seria propício para uma reforma da Previdência que incluísse a desvinculação do piso de aposentadorias e pensões e também do valor do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo.

Para ele, assim como a grande contribuição da Previdência para a redução da desigualdade no período entre 1995 e 2003 esteve bastante associada ao aumento do número e do valor real das aposentadorias e pensões vinculadas ao salário mínimo, a queda dessa contribuição no período subsequente indica, por sua vez, certa perda de fôlego do efeito do crescimento do valor real do mínimo.

Assim, na avaliação de Hoffman, a desvinculação de aposentadorias e pensões do mínimo economizaria receitas mais do que suficientes para reforçar outros mecanismos hoje mais eficientes para reduzir a desigualdade, como o Bolsa Família e a educação básica. A preocupação com a manutenção de programas como o Bolsa Família encontra justificativa na pesquisa. No estudo, a contribuição à redução da desigualdade do programa Bolsa Família ao longo de todo o período avaliado (1995 e 2012) segue firme e forte.

A contribuição dessa parcela da renda para a redução da desigualdade no país oscilou de 20%, no período 1995-2003, para 19,2%% no período 2003-2012. O percentual, diz Hoffmann, é extraordinário, especialmente ao se considerar que a participação média do programa na renda total declarada é muito baixa, inferior a 1%.

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Em 1995, no total de renda declarada na Pnad, o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada representavam apenas 0,07%. Em 2003, esse percentual já alcançava 0,65% da renda, chegando a 0,95% em 2012. "O Bolsa Família tem contribuído substancialmente para reduzir a pobreza extrema e seu peso no Orçamento é pequeno. Obviamente deve ser aperfeiçoado, incluindo a preocupação com a criação de portas de saída", afirma o professor.

Já a contribuição do mercado de trabalho aquecido à redução da desigualdade segue significativa. Segundo o pesquisador, o impacto da renda dos empregados para a redução do índice de Gini se manteve mais ou menos estável no período de 1995 a 2012, contribuindo com 48,4% da queda da desigualdade entre 1995 e 2003 e com 45,1% entre 2003 e 2012. O autor do estudo não deixa de ressaltar, contudo, as limitações dos dados sobre renda obtidos em pesquisas domiciliares, em especial a tendência de subdeclaração de rendimentos e eventual omissão de parcelas.

Conta do desemprego ainda não chegou ao ABC

O testador de motores na Mercedes-Benz, Alex Sandro Benati, vai ficar cinco meses em casa,

alterando a rotina da esposa Roseli, e dos filhos, Alexya e Renzo

Por Denise Neumann | De São Bernardo do Campo e Diadema Na última quinta-feira, o metalúrgico Dalvo Pinotti Filho cozinhou carne assada com batatas para o jantar, cardápio pedido pelo filho Mateus, de 10 anos, que desta vez teve a companhia do pai para assistir a todos os jogos da Copa do Mundo. Após 23 anos de Volkswagen, ele aproveitou o Programa de Demissão Voluntária (PDV) e se aposentou aos 49 anos. Enquanto Pinotti cozinhava para a família, Alex Sandro Benati também estava em casa, sem se preocupar em jantar e dormir cedo. Ele integra o grupo de trabalhadores da Mercedes-Benz que está em licença remunerada há dois meses e entra no chamado "lay off" por cinco meses a partir de terça-feira, situação que alterou a rotina da família.

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Dentro dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Pinotti e Benati são dois dos 3.994 metalúrgicos do ABC paulista que passaram a integrar a lista de empregos fechados desde o fim de 2013 nas fábricas de material de transporte das sete cidades que compõem a região.

Embora o percentual de redução seja expressivo - 5,4% do total de empregados no fim do ano passado - e pudesse indicar um quadro de desaceleração da economia na região, a grande maioria dessas vagas não foi efetivamente extinta. Entre os desligados, estão os trabalhadores afastados pelo "lay off" (que entram na estatística de desempregados porque recebem bolsa qualificação) e os novos aposentados. Nas contas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, 2,6 mil metalúrgicos estão afastados temporariamente, enquanto pelos dados do Caged, entre as 4 mil vagas fechadas no setor de material de transporte de janeiro a maio deste ano, 20% equivalem a aposentadorias. No Brasil todo, o percentual de novos aposentados entre os demitidos do setor é de 3,6%

O afastamento pode ser temporário, mas muitos metalúrgicos não escondem a preocupação com o futuro. "Nunca passei por uma situação assim", resume Antônio de Jesus Coimbra, piauiense de Água Branca, que chegou ao ABC em 1988 e logo entrou na Volkswagen. "Minha carteira tem um carimbo dizendo 'suspensão temporária de trabalho', conta ele, lembrando que são "700 colegas nessa situação". Pelo sistema do lay off, ele recebe R$ 1.304 do governo via bolsa de qualificação e a montadora completa o resto do salário.

Coimbra guarda as datas que formam sua preocupação na cabeça: "Saí dia 19 de maio e meu retorno está marcado para 18 de outubro". Casado, com dois filhos - um é motoboy e o outro está na faculdade de marketing e fazendo estágio -, Coimbra está receoso porque sua renda é fundamental para o sustento da família e ainda faltam alguns anos para sua aposentadoria. "Claro que estou tenso, mas não tem como fugir. Eu acredito no sindicato, a empresa é boa, mas a economia está complicada."

Almir Moura, o Grilo, um dos poucos clientes no restaurante Das Meninas

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Do total de desligados de janeiro a maio na indústria de material de transporte do ABC, a grande maioria tem entre 40 e 64 anos, e nessa faixa etária o salário médio varia de R$ 3,8 a 4,6 mil, segundo dados do Caged. Se todos os afastados ficassem realmente desempregados e, portanto, sem renda mensal garantida, a economia da região perderia mensalmente cerca de R$ 13 milhões - ou algo como R$ 170 milhões por ano, sem contar a renda extra obtida por esses trabalhadores a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Como o rendimento mensal de muitos deles foi preservado, a economia da região ainda não sente falta dessa massa salarial.

Em maio, o desemprego recuou na região (de 11,2% para 10,2%, com abertura de 19 mil vagas em serviços e 2 mil no comércio e corte de 5 mil vagas na indústria, segundo a pesquisa domiciliar feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e o Consórcio Intermunicipal do ABC. Se a pesquisa indica uma região ainda em expansão apesar da crise automotiva, pontos de comércio com negócio diretamente associado a alguma empresa já falam em prejuízo.

Na frente da Mercedes-Benz fica a feira da rua Pacaembu, onde feirantes cadastrados na prefeitura vendem sapatos, DVDs, capas para celulares, sapatos, miniaturas de carros e, claro, artigos para a Copa. "No dia do primeiro jogo do Brasil, em 2010, vendi uns R$ 3 mil. Nesse ano, foram R$ 470", reclama José Correia da Silva, 78 anos, que vende mercadorias na porta da montadora desde 1979. Sua colega de feira, a portuguesa Ana Pereira, no Brasil desde 1970, só vendeu duas miniaturas de carro na semana passada, a R$ 15 cada. "Ganhei R$ 10", diz, reclamando do movimento que, se continuar, não cobrirá a taxa mensal de R$ 73 paga para a prefeitura pelo ponto. No lado informal, a apontadora do jogo do bixo, E.C.R, 80 anos, também reclamava da redução nas apostas. "Já cheguei a fazer R$ 3 mil, agora caiu para R$ 500 por mês", contou.

Vizinha à feira, o restaurante "Das Meninas", que oferece buffet livre por R$ 12,99, cortou três dos sete funcionários. "Isso aqui era lotado na hora do almoço", conta Priscila Domingos Santos Souza, que comanda o negócio da família. Em uma das poucas mesas ocupadas, o metalúrgico da área de manutenção da Mercedes, Almir Moura, o Grilo, conta que o clima na fábrica é de "instabilidade", afinal, o lay off veio quando o sindicato interviu para evitar demissões e um novo PDV. Muitos foram chamados ao RH e lhes foi apresentada a conta do benefício extra que receberiam caso aderissem.

"Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer", diz ele. Operário especializado, com salário de R$ 8 mil, ele está fora do lay off e não quis aderir ao último PDV, apesar de 36 anos de carteira assinada. "Preciso de mais quatro anos para fechar a previdência privada", calcula. "O problema, opina, é que as pessoas pensam que quando uma

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empresa com 11 mil funcionários demite 100 pessoas, isso é pouco. Mas e essas 100 pessoas, onde vão achar um bom emprego?"

Antes, a feira da rua Pacaembu, em São Bernardo, lotava na hora do almoço

Se trabalhadores qualificados já ficam preocupados, os pouco qualificados, com currículo "fraco" e sem experiência, estão ainda mais alertas. Na última sexta-feira, no Centro Público de Emprego e Renda da Prefeitura de Diadema, apesar da queda no sistema Mais Emprego do Ministério do Trabalho - que impedia o acesso à oferta de vagas -, o conferencista Cláudio Ribeiro, 32 anos, esperava por um atendimento. Com histórico de alta rotatividade no emprego, ele ficou três meses na último empresa e está desocupado há um mês.

Ele tem ido aos centros de emprego três vezes por semana à procura de nova chance. "Está bem difícil, tem mais gente procurando", diz, relatando uma experiência que destoa da realidade mostrada pelas pesquisas domiciliares de emprego, que apontam mais pessoas desistindo do mercado de trabalho. No mesmo local, André Pereira voltava ao centro com um diploma de operador de empilhadeira debaixo do braço, esperando ter mais sorte. "Eu vim do interior para o ABC achando que ia ser mais fácil. Aqui terminei o ensino médio, senão nem teria chance. Agora fiz o curso, mas estão pedindo experiência", conta ele, que vive do salário da esposa."

Enquanto Pereira terminou sua primeira qualificação, Alex Sandro Benati se prepara para o quarto curso. Ele é um dos 1,2 mil metalúrgicos que a Mercedes-Benz colocou em lay off e esse é seu segundo afastamento temporário. Há dois anos, ficou na mesma situação e fez curso de eletrônica embarcada pelo Senai. Agora, serão mais 300 horas de treinamento.

Por enquanto, ele está em casa. "Ele acorda de manhã e pergunta o que vai fazer. Aí mando ele passear com a cachorra, comprar alguma coisa, levar as crianças em algum lugar", diz, bem-humorada, a esposa, Roseli Aparecida Frutuozo. "Da primeira vez, fiquei mais preocupada", acrescenta, confiante - como o marido - de que o afastamento será mesmo temporário e não vai virar demissão mais à frente, como temem outros metalúrgicos da região.

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Bastante politizado, Benati não acredita que o país e o setor automotivo estejam em crise. "As empresas estão pressionando para ganhar mais do governo e também porque não querem a reeleição da Dilma", diz ele, em referência à presidente da República. Olhando para a própria experiência, ele lembra que voltou do último lay off e logo estava fazendo horas extras para que a empresa pudesse atender à demanda. "Eu estou calmo porque o governo está preocupado com o trabalhador, está tirando imposto", explica ele. Apesar de reconhecer as medidas tomadas pelo governo, Benati quer que o governo zere os impostos sobre o caminhão. "Ele paga como máquina, mas depois todo ano tem que pagar IPVA, paga pedágio", diz o filho e neto de caminhoneiros, conhecido na fábrica pelo apelido de Bomba.

“Realizei meu sonho de consumo”, diz Dalvo Pinotti Filho, que aproveitou o programa de demissão voluntária e se aposentou após 23 anos na Volkswagen

Se Benati ainda fica perdido dentro de casa - "atrapalhando a rotina", como diz a filha Alexya, que gosta de jogar videogame com a mãe e o irmão Renzo Bernardo- ficar em casa é tudo que Dalvo Pinotti Filho planejava desde 1980. "No meu primeiro dia de carteira assinada, em 1980, comecei a planejar minha aposentadoria", diz ele. Como planejou bem, viu no último PDV da Volkswagen a oportunidade de adiantar um pouco a aposentadoria e sair com uma grana extra - que ficará guardada para o futuro. Como tinha 23 de empresa, saiu com 23 salários extras na demissão. "Apareceu muita gente propondo sociedade. Até para montar uma casa de repouso me convidaram", diz ele.

Como "ganhou" 12 pinos nas costas e na cervical e trabalhou em área de periculosidade, Pinotti teve direito à aposentadoria especial e tem hoje uma renda mensal de R$ 3,8 mil. Soma a ela três aluguéis - de casinhas construídas com a poupança dos PLRs e do dia a dia - e não sente falta do salário de R$ 4,8 mil que recebia na montadora, embora se ressinta do desligamento do plano de saúde. "Eu realizei meu sonho de consumo, que era ter qualidade de vida e parar de trabalhar", resume Pinotti, lembrando que muitos colegas sentem e pensam diferente. "A mulher de um amigo me disse: ele não pode parar", relata.

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Entre os metalúrgicos do ABC, as razões que levaram à crise do setor são tão discutidas como a Copa do Mundo. Por isso, eles apostam no fim da crise em função da recente negociação do governo com a Argentina e o reforço dos desembolsos do BNDES para o programa de juros subsidiados para compra de caminhões. "Desde o começo do ano, com a crise na Argentina e o corte de produção, já tinha gente preocupada com demissão em massa", conta Caio Cesar de Viveiros, 27 anos, 12 deles dentro da Mercedes. "Mas não vai acontecer"

Soldador, filho de metalúrgico, ele sempre aprendeu a contar com o sindicato. "Nosso sindicato é forte, negociou o lay off quando a empresa quis demitir", orgulha-se. Durante o afastamento, ele pretende, além do curso de qualificação, fazer um preparatório para o Enem e buscar uma vaga da Universidade Federal do ABC.

Destaques Ginástica laboral

A 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) acolheu recurso de um empregado da Bridgestone do Brasil Indústria e Comércio e condenou a empresa a pagar como horas extras 30 minutos diários. A turma aplicou a jurisprudência da Corte no sentido de que o tempo gasto pelo empregado com troca de uniforme e ginástica laboral após o registro de entrada e antes do registro da saída é considerado à disposição do empregador. Demitido sem justa causa após 31 anos de serviço, pediu o pagamento das horas extras, afirmando que iniciava a jornada sempre com 30 minutos antes do início do turno. A jornada antecipada foi anotada nos cartões de ponto por certo período, mas, segundo ele, nos últimos dois anos a empresa proibiu sua anotação. O juízo de primeiro grau negou as horas extras por entender que não ficou comprovado que o trabalhador era obrigado a comparecer 30 minutos antes da jornada. O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP) manteve a sentença pelas mesmas razões, e argumentou que, ainda que uma testemunha tenha confirmado a entrada antecipada, outra disse que esta não era obrigatória, e que a ginástica laboral, praticada dez minutos antes do início da jornada, era facultativa. A decisão foi revertida no TST. Para o relator do recurso do operário, desembargador João Pedro Silvestrin, não importam as atividades realizadas pelo empregado durante os minutos residuais. "Basta que ele esteja submetido à subordinação jurídica da empresa para que se considere tempo de serviço", afirmou.

(Fonte: Valor Econômico dia 30-06-2014).

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Câmara debate emprego doméstico e trabalho escravo Agência Câmara / BRASÍLIA A Comissão Mista de Consolidação das Leis e Regulamentação Constitucional tenta amanhã, mais uma vez, analisar emendas aos projetos que regulamentam direitos de empregados domésticos (PLS 224/2013) e a expropriação de propriedades rurais e urbanas em que se constate a prática de trabalho escravo (PLS 432/2013). Ambos são relatados por Romero Jucá (PMDB-RR). A Emenda Constitucional 72, promulgada em abril de 2013 para ampliar os direitos dos empregados domésticos, ainda precisa de regulamentação em vários pontos, como controle da jornada de trabalho, horas extras, adicional noturno e pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Já aprovado pelo Senado, o projeto de regulamentação recebeu 58 emendas no Plenário da Câmara, todas rejeitadas pelo relator. Por previsão regimental, as emendas devem receber parecer da comissão mista, antes de o projeto voltar para votação na Câmara. Caso os deputados acolham alguma mudança sugerida, o projeto de regulamentação terá de ser votado novamente pelo Senado. Se for aprovado sem alterações, será enviado à presidente da República, para sanção.

Trabalho Escravo

No caso do projeto que regulamenta a emenda relativa ao trabalho escravo, o senador Jucá acolheu 29 das 55 emendas sugeridas por senadores. O ponto mais polêmico é o conceito de trabalho escravo para fins da expropriação de imóveis. Jucá opinou pela manutenção da definição original do projeto, que considera para a caracterização do trabalho escravo a submissão a trabalho forçado, sob ameaça de punição, com uso de coação ou restrição da liberdade pessoal. Outros senadores, porém, querem que seja possível caracterizar o trabalho escravo quando verificada "jornada exaustiva" e "condições degradantes", conforme prevê o Código Penal, ao definir o crime de "redução a condição análoga à de escravo". Entre as modificações feitas pelo relator está a retirada da necessidade de trânsito em julgado da ação penal como condição para a ação de expropriação para punir o trabalho escravo. Além disso, o relator aceitou incluir no texto a possibilidade de imóvel registrado em nome de pessoa jurídica ser expropriado. Também em razão do acolhimento de emendas de Plenário, o texto estabelece que os bens apreendidos em decorrência da exploração de trabalho escravo sejam revertidos ao Fundo de

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Amparo ao Trabalhador (FAT). No projeto original, os bens iriam para um fundo específico de combate ao trabalho escravo. Além disso, o relator deixou claro no texto que estão sujeitos à expropriação os imóveis onde houver exploração de trabalho escravo diretamente pelo proprietário. A mudança tem o objetivo de resguardar, por exemplo, o dono de imóvel alugado em que o locatário é o único responsável pela prática. No entanto, a questão ainda deve gerar debate, uma vez que parlamentares temem o uso de "laranjas" para evitar a responsabilização. O texto também foi modificado para prever que o proprietário não poderá alegar desconhecimento da exploração de trabalho escravo por seus representantes, dirigentes ou administradores. O relator também incluiu artigo que proíbe a inscrição de acusados de exploração de trabalho escravo em cadastros públicos sobre o tema antes que a ação transite em julgado. Depois da avaliação das emendas dos senadores, o texto será votado no Plenário do Senado e, se aprovado, seguirá para o exame no Plenário da Câmara. A reunião da comissão mista será às 14h30, na sala 15 da ala Alexandre Costa, no Senado.

Lei da Palmada Entrou em vigor nesta sexta-feira (27) a Lei Menino Bernardo (antes conhecida como Lei da Palmada), que modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente para estabelecer o direito de crianças e adolescentes serem educados sem o uso de castigos físicos ou tratamento cruel por aqueles responsáveis de educá-los ou protegê-los. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a lei (13.010/2014) foi publicada na sexta (27) no Diário Oficial da União. A lei homenageia o garoto gaúcho Bernardo Boldrini, de 11 anos, encontrado morto na cidade de Frederico Westphalen (RS). Segundo a lei, os pais ou responsáveis que usarem castigo físico ou tratamento cruel e degradante contra criança ou adolescente ficam sujeitos a advertência, encaminhamento para programa oficial ou comunitário de proteção à família, tratamento psicológico e cursos de orientação, além de outras sanções. Essas medidas serão aplicadas pelo conselho tutelar da região onde reside a criança. A lei considera castigo físico a ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em sofrimento físico ou lesão. Já o tratamento cruel ou degradante é qualificado como conduta cruel que humilhe, ridicularize ou ameace de maneira grave. O texto aprovado pelo Congresso teve apenas um veto - o trecho que previa multa para agentes públicos e profissionais da saúde, da assistência social ou da educação que deixassem de comunicar às autoridades suspeitas ou casos de maus-tratos contra criança ou adolescente. (Fonte: DCI dia 30-06-2014).

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