impacto da administraÇÃo intranasal de ocitocina no

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE JULIA HORTA TABOSA DO EGITO IMPACTO DA ADMINISTRAÇÃO INTRANASAL DE OCITOCINA NO COMPORTAMENTO SOCIAL DE EMPATIA À DOR E PERCEPÇÃO DE AMEAÇA São Paulo 2018

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

JULIA HORTA TABOSA DO EGITO

IMPACTO DA ADMINISTRAÇÃO INTRANASAL DE OCITOCINA NO

COMPORTAMENTO SOCIAL DE EMPATIA À DOR E PERCEPÇÃO DE

AMEAÇA

São Paulo 2018

JULIA HORTA TABOSA DO EGITO

IMPACTO DA ADMINISTRAÇÃO INTRANASAL DE OCITOCINA NO

COMPORTAMENTO SOCIAL DE EMPATIA À DOR E PERCEPÇÃO DE

AMEAÇA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para à obtenção do título de Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento.

Orientadora: Prof.a Dr.a Ana Alexandra Caldas Osório Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio

São Paulo 2018

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Ana Lúcia de Moraes Horta Tabosa do Egito e Eryberto Steves

Tabosa do Egito, minha avó Maria de Lourdes Moraes Horta, à minha segunda mãe

Ana Maria da Cruz de Oliveira e ao meu querido namorado Adalto Romualdo pelo

constante apoio e carinho que torna nossa união familiar mais íntima e respeitosa a

cada dia e por me incentivarem a realizar meus sonhos.

À minha orientadora, Prof.a Dra. Ana Alexandra Caldas Osório, agradeço a

confiança, diversas oportunidades e o suporte constante que me permitiram

amadurecer pessoal e profissionalmente. Ao co-orientador deste trabalho, Prof. Dr.

Paulo Sérgio Boggio, que me orientou desde o início de minha trajetória e me ensinou

a ter um rigor científico. A Prof.a Dra. Simone Shamay-Tsoory agradeço pela

experiência de ter frequentado seu laboratório e aprendido tanto com suas orientações

e equipes.

A toda equipe do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social que por anos

trabalhamos juntos e de onde guardo lembranças especiais e significativas amizades.

Em especial, aos alunos Gabrielle Ferreira, Manoela Gonçalves, Ana Cláudia Freire,

Merikmar Lomar, Fernando da Silva Reis, Gabriela Pezzatti, Marianne Cremonesi,

Tiago Cortés, Isabella Quilici, Luiza Mendes e Mayara Barros que me ofereceram

todo o suporte no processo de coleta de dados e que tornaram o dia-a-dia mais leve

diante de tantos desafios e aprendizados. À Samara Dina, que produziu e editou os

estímulos apresentados na tarefa de avaliação explícita de empatia à dor física. À

Ruth Lyra pelo auxílio em diversos momentos críticos desse estudo.

À secretária do programa de Pós-Graduação Dani Gomes que pacientemente

me instruiu e apoiou.

Às Doutoras Olivia Morgan Lapenta e Cláudia Valasek por toda a

disponibilidade e auxílio referente à técnica de Estimulação Magnética Transcraniana.

Ao Prof. Dr. Eder de Carvalho Pincinato, por disponibilizar um espaço no

Laboratório de Análises Clínicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie que

permitiu manter em condições adequadas os materiais das coletas de dados. Ao

Técnico Bruno Silva do Laboratório de Bioquímica, pelo suporte em preparar as

monodoses utilizadas desse estudo. Ao Técnico Murilo Corrêa pelo auxílio logístico

no Laboratório de Análises Clínicas.

Aos técnicos em programação, Rani Amit Bar-On, e em estatística, Michael

Nevat, membros do Social and Affective Neuroscience Laboratory na Universidade

de Haifa (Israel) que me auxiliaram incansavelmente a organizar os dados referentes

aos Potenciais Evocados Motores e a analisar os dados desse projeto.

À minha prima Lorraine Egito, pelas trocas constantes durante essa fase e por

ter me ajudado a tornar mais clara a minha apresentação.

À Prof.a Dra. Miriam Oliveira Ribeiro e ao Prof. Dr. Óscar Gonçalves, pelas

importantes contribuições na etapa de qualificação. Agradeço ainda a todos os

membros da banca pela generosidade da leitura do trabalho final e pelas relevantes

considerações.

Por fim, agradeço a todos os colaboradores de pesquisa que contribuíram para

o desenvolvimento desse trabalho.

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda

por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a

odiar podem ser ensinadas a amar”.

Nelson Mandela

Apoio:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP

- Número do processo do presente estudo: 2016/17242-5 - Estudo vinculado ao processo: 2014/06777-0 (Programa

Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes)

RESUMO

O papel da ocitocina (OT) enquanto promotora indiscriminada de cognição social e

prosocialidade tem sido questionado por resultados que indicam alguns efeitos

antissociais, como inveja e etnocentrismo. Assim, o objetivo do presente trabalho foi

avaliar na mesma amostra o impacto da administração intranasal de OT em

comportamentos pró-sociais como, empatia à dor no outro, e anti-sociais como,

percepção de ameaça. Para incluir a dimensão de pertencimento ao grupo, avaliamos

as respostas de participantes autodeclarados Brancos diante de alvos membros do

endogrupo (Branco) e do exogrupo (Negro). Tratou-se de estudo duplo-cego, placebo-

controlado, randomizado e inter-sujeitos, no qual participaram 107 estudantes

universitários, do sexo masculino, Brancos e destros. No primeiro dia de coleta, foram

verificados os critérios de exclusão e administrados questionários para a avaliação de

empatia e viés racial. No segundo dia de coleta, os participantes auto-administraram

uma das soluções distribuídas de maneira randomizada (OT ou placebo [PL]). Após

uma espera de 40 minutos, foram administradas tarefas computadorizadas de empatia

explícita à dor (avaliação da intensidade de dor percebida durante observação de mãos

Brancas, Negras e Roxas – controle de cor – em situações neutras ou potencialmente

dolorosas) e percepção de ameaça (identificação de homens Brancos e Negros

armados em contextos sociais). No terceiro dia de coleta, os participantes inalaram a

mesma substância e foram submetidos a avaliação de empatia implícita à dor (durante

observação de vídeos de mãos Brancas, Negras e Roxas sendo tocadas por um

cotonete ou penetradas por uma seringa). Durante essa última fase, foram obtidos

registros de potencial evocado motor na mão direita, enquanto a bobina da

Estimulação Magnética Transcraniana era posicionada sobre o córtex motor primário

no hemisfério esquerdo do participante. Quanto à tarefa de percepção de ameaça,

resultados da ANOVA mista revelaram uma interação significativa para Etnia x

Grupo, F(1,105)=5.44, p=.022, η2=.049, indicando que o grupo PL apresentou maior

taxa de Rejeição Correta (abstendo-se de atirar em alvos desarmados) para alvos

Brancos em comparação aos Negros, enquanto as taxas de rejeição correta para alvos

Brancos e Negros foram equivalentes no grupo OT. Assim, a ocitocina reduziu os

falsos alarmes para os alvos Negros via uma melhora da discriminação entre alvos

armados ou não, reduzindo a percepção de ameaça diante do exogrupo. Em relação à

empatia explícita à dor, resultados da ANOVA mista revelaram uma atribuição de dor

de maior intensidade em contextos dolorosos com alvos Negros em comparação aos

alvos Brancos. Implicitamente, os níveis de contágio sensóriomotor diante de alvos

Brancos e Negros foram equivalentes. Em síntese, resultados da nossa amostra

Brasileira apontam para um efeito prosocial da OT durante avaliação de percepção de

ameaça especificamente para o exogrupo, mas nenhum efeito dessa substância nas

avaliações de empatia explícita e implícita modulada por pistas raciais. Em linhas

gerais, as evidências desse estudo estão de acordo com a abordagem interacionista e

ampliam o conhecimento sobre a interação entre pertença ao endo- e exogrupo (em

relação ao grupo étnico) e a presença ou ausência de sinais contextuais de ameaça nos

efeitos da OT na cognição e comportamento social. Estudos futuros devem examinar

se estes resultados são aplicáveis no gênero feminino e em outras sociedades.

Palavras-chave: Ocitocina, Administração Intranasal, Empatia, Percepção de

Ameaça, Viés Racial

ABSTRACT

The role of oxytocin (OT) as an indiscriminate promoter of social cognition and pro-

sociality has come under question due to results indicating antisocial effects, such as

envy or ethnocentrism. Thus, the current study aimed to evaluate in the same sample

the impact of intranasal administration of OT in pro-social behaviors, such as

empathy for pain, and anti-social behaviors, as threat perception. In order to include

the dimension of belonging to the group, we evaluated the responses of self-reported

White participants to members of the ingroup (White) and outgroup (Black). It was a

double-blind placebo-controlled, randomized, and inter-subject study, in which 107

White, right-handed, undergraduate Brazilian males participated. On the first day of

collection, the exclusion criteria were verified and questionnaires were administered

to assess empathy and racial bias. On the second day, participants self-administered

the randomly assigned solution (Groups: OT or placebo [PL]). After a 40-minute

waiting period, computerized tasks of explicit empathy for pain (assessment of pain

intensity perceived during observation of White, Black, Purple – color control – hands

in neutral or potentially painful situations) and threat perception (identification of

White and Black armed men in social contexts) were administered. On the third day

of collection, participants inhaled the same substance and underwent the evaluation of

implicit empathy for pain (assessment of pain intensity perceived during observation

of videos depicting White, Black, Purple hands being touched by a Q-tip or penetrated

by a syringe). During this last phase, records of motor evoked potential in the right

hand were obtained while the Transcranial Magnetic Stimulation coil was positioned

over the primary motor cortex in the participant's left hemisphere. Regarding threat

perception task, results of a Mixed ANOVA revealed a significant Race*Group

interaction, F(1,105)=5.44, p=.022, η2=.049, indicating that the PL group presented

higher Correct Rejection rates (i.e., refraining from shooting unarmed targets) for

White than Black targets, whereas no difference between these targets’ rates was

found in the OT group. Thus, oxytocin reduced false alarms facing Black targets

Via improvement of the discrimination between armed and non-armed targets,

reducing the perceived threat. Regarding explicit empathy for pain, results from a

mixed ANOVA revealed that higher pain intensity was attributed in painful contexts

to Black targets compared to White targets. On the implicit assessment, the levels of

sensory-motor contagion between White and Black targets were the same. In sum,

results from our Brazilian sample point to a prosocial effect of OT on threat

perception specifically for outgroup, but no effect on explicit or implicit empathy

modulated by racial clues. Overall, this study supports the interactionist approach and

offers insights on the interaction between ingroup/outgroup membership (specifically

race) and the presence/absence of contextual threat to expand understanding of the

effects of OT on social cognition and behavior. Future studies could examine whether

these findings apply to female and to other societies as well.

Keywords: Oxytocin, Intranasal administration, Empathy, Threat Perception, Racial Bias.

12

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Modelo interacionista do efeito social da ocitocina em humanos. (Figura retirada da revisão de BARTZ, ZAKI, BOLGER, OCHSNER, 2011; traduzida pela autora da presente pesquisa).

26

Figura 2 - Ilustração dos estímulos utilizados na Tarefa de avaliação das respostas empáticas explícitas durante observação de situações dolorosas ou neutras com mãos Brancas, Negras e Roxas

42

Figura 3 - (A) Desenho experimental com duas condições de sequências possíveis (homem-alvo Negro ou Branco) apresentados durante a Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa (CORRELL et al. (2002); (B) Condições experimentais que foram randomicamente apresentadas: alvo Negro com objeto inócuo / com objeto ameaçador ou alvo Branco com objeto inócuo / com objeto ameaçador

44

Figura 4 - Ilustração dos estímulos apresentados em cada bloco experimental do IAT racial

46

Figura 5 - (A) Desenho experimental da Tarefa de avaliação do contágio sensório-motor ao observar dor no outro e (B) estímulos originais de Avenanti Stimuli, Sirigu & Aglioti (2010)

47

Figura 6 - Da esquerda para a direita: eletrodos utilizados; eletrodos posicionados para registro de FDI; configuração completa de montagem dos eletrodos de EMG, ponto preto corresponde ao “pólo +” (protuberância do músculo-musculaturas alvos) e ponto cinza corresponde ao “pólo –” (articulação - eletrodo de referência); posicionamento da bobina de EMT sobre M1.

49

Figura 7 - (A) Distribuições normais hipotéticas dos resultados com a presença (armas) ou ausência (objeto inócuo) de sinais. Tais distribuições são construídas separadamente entre os alvos Negros e Brancos para a Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa. A linha vertical representa o limiar do critério de decisão do colaborador. Valores acima do limiar indicam resposta de “atirar” no alvo, enquanto que valores a baixo ou iguais ao critério indicam respostas de “não atirar” no alvo; (B) Condições prováveis de respostas em Paradigmas de Detecção de Sinal (figura baseada nas ilustrações do material do curso de Psicologia da Percepção da Universidade do Colorado, ministrada pelo Prof. Lewis O. Harvey)

54

Figura 8 - (a) Taxa de Erro por cada tipo de estímulo no TAPP 58 Figura 9 - Latência de Resposta por cada tipo de estímulo no TAPP 59 Figura 10 - Taxa de Rejeição Correta por cada Grupo no TAPP.

59

Figura 11 - (a) Comparação dos resultados de cBranco, cNegro e d’Branco, d’Negro entre amostras Norte-Americana e Brasileira

60

Figura 12 - (A) Sensibilidade e (B) Critério de Decisão por cada tipo de 61

13

estímulo Figura 13 - Avaliação de explícita de empatia à dor imaginada na própria perspectiva

63

Figura 14 - Avaliação de explícita de empatia à dor percebida na perspectiva do outro

63

Figura 15 - Média da diferença de amplitude entre potencial evocado motor (MEP) das situações de [dor] – [neutra], registro no músculo alvo FDI. (A) Amostra Brasileira (B) Amostra Italiana (resultados extraídos do estudo de AVENANTI et al., 2010). Não foram observados efeitos significativos de inibição sensório-motor para nenhum dos alvos (teste-t para uma amostra contrastando com 0, não indicou contágio sensório-motor nem diante de alvos Negro (p= .109) e nem de Branco (p= .835)

65

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fluxograma do processo de coleta de dados e critérios de exclusão 37

Tabela 2 - Caracterização dos colaboradores por Grupo e comparação por Teste-t para amostras independentes

56

Tabela 3 – Dados brutos da amplitude média dos MEPs (desvio-padrão) em mV, comparando as amostras Brasileira e Italiana

66

15

LISTA DE ABREVIAÇÕES

MAM – Músculo Abdutor do Mínimo (ADM, do inglês Abductor Digiti Minimum)

ATV – Área Tegmentar Ventral

IDB – Inventário de Depressão de Beck (BDI, do inglês Beck Depression Inventory)

DA – Dopamina

EMG – Eletromiógrafo

EMRI – Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal

EMT – Estimulação Magnética Transcraniana

PER – Potencial Evocado Relacionado à Evento (ERP, do inglês Evoked Related Potential)

ETCC – Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua

PID – Primeiro Interósseo Dorsal (FDI, do inglês First Dorsal Interosseous)

IRMF – Imagem de Ressonância Magnética Funcional (fMRI, do inglês Functional Magnetic

Resonance Imaging)

TAI racial – Tarefa de Associação Implícita racial (IAT, do inglês Implicit Association Task)

LM – Limiar Motor

M1 – Córtex Motor Primário

PEM(s) – Potencial Evocado Motor (MEP, do inglês Motor Evoked Potential)

OT – Ocitocina

OTR – Receptor de ocitocina

PL – Placebo

POE – Posição Ótima no Escalpe

SI – Área somatosensorial Primária

SII – Área somatosensorial Secundária

TAPP – Tarefa do Atirador na Primeira Pessoa (FPST, First Person Shooter Task)

UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie

VP – Vasopressina

16

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................................17 2.HIPÓTESES..........................................................................................................................37 3.OBJETIVOS ........................................................................................................................39 4.MÉTODO .............................................................................................................................40 4.1.PARTICIPANTES .............................................................................................................40 4.2.DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS....................................................42

4.2.1. Escalas e Questionários ..............................................................................................42 4.2.1.1. Questionário Sócio-Demográfico e Rastreio dos critérios de exclusão para a administração de ocitocina ................................................................................................42 4.2.1.2. Inventário de Depressão de Beck .........................................................................42 4.2.1.3. Rastreio dos critérios de Exclusão para a aplicação da Estimulação Magnética Transcraniana ....................................................................................................................42 4.2.1.4. Inventário de Lateralidade de Edinburgh .............................................................43 4.2.1.5. Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal ........................................43 4.2.1.6. Escala de Preconceito Flagrante e Sutil ...............................................................43 4.2.1.7. Questionário de Agressividade de Buss-Perry .....................................................44 4.2.1.8. Questionário de experiências com diferentes grupos étnicos ..............................44

4.2.2. Tarefas Computadorizadas (programadas no E-Prime, versão 2.10).........................44 4.2.2.1. Tarefa de avaliação das respostas empáticas explícitas durante observação de situações dolorosas ou neutras...........................................................................................45 4.2.2.2. Tarefa do Atirador na Primeira Pessoa / Dilema do Policial................................46 4.2.2.3. Tarefa de Associação Implícita racial...................................................................48 4.2.2.4. Tarefa de avaliação das respostas implícitas de contágio sensório-motor durante observação de situações dolorosas ou neutras.................................................................. 50

4.2.3. Técnica.........................................................................................................................53 4.2.3.1. Estimulação Magnética Transcraniana.................................................................53

4.2.4. Amostras para inalação...............................................................................................54 4.2.4.1. Solução com Ocitocina sintética (OT) e solução Placebo (PL)...........................54

4.3.PROCEDIMENTO.............................................................................................................54 4.4.ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................56 4.5.ASPECTOS ÉTICOS..........................................................................................................60 5.RESULTADOS......................................................................................................................61 6.DISCUSSÃO.........................................................................................................................73 7.REFERÊNCIAS ....................................................................................................................91

17

1. INTRODUÇÃO

1.1. Origem da ocitocina, formas de medição e administração

A ocitocina (OT) é um nonapeptídeo sintetizado pelo hipotálamo, especificamente nos

núcleos paraventricular e supraóptico, que projetam axônios para partes posteriores da

hipófise (neurohipófise) bem como para outras áreas cerebrais. A partir daí, a OT endógena é

liberada na circulação e atua de duas formas: a) como hormônio, liberado na corrente

sanguínea para afetar a atividade de células em alvos corporais periféricos; ou b) como

neurotransmissor, ou seja, mensageiro químico que modula sinais entre neurônios de distintas

regiões do cérebro. A OT é amplamente conhecida pelo seu papel hormonal quando ela é

liberada na circulação sistêmica em resposta à sucção, durante a lactação, e favorecendo a

estimulação rítmica da musculatura lisa do útero para auxiliar a expulsão do feto, durante o

trabalho de parto (INSEL, YOUNG e WANG, 1997). Ainda, os dendritos dos núcleos

hipotalâmicos liberam o peptídeo diretamente no cérebro, em estruturas onde a OT tem um

papel neuromodulador capaz de regular processos como a cognição social (ASPÉ-SÁNCHEZ

et al., 2016), que envolve o estreitamento de vínculos na relação mãe-bebê (TAYLOR et al.,

1994). Dentre as regiões no cérebro com maior densidade de receptores de OT destaca-se a

amígdala (LOUP et al., 1991; BAUMGARTNER et al., 2008; DELGADO, 2008), estrutura

subcortical altamente envolvida no processamento sócio-emocional, na aprendizagem de

medo e em mecanismos de recompensa (PHELPS e LEDOUX, 2005; KOSCIK e TRANEL,

2011).

Os experimentos sobre os efeitos comportamentais da OT são possíveis a partir de

duas abordagens principais – a avaliação de marcadores endógenos e a administração

exógena. Relativamente à primeira alternativa, a maior parte dos estudos recorreram à análise

da OT plasmática (LANCASTER et al., 2015). Efetivamente, existem evidências que

apontam para a liberação sincronizada do peptídeo de forma central e periférica, em roedores

(WOTJAK et al., 1998; ROSS & YOUNG, 2009), e evidência de correlação positiva entre os

níveis de OT do líquido cefalorraquidiano e do plasma, em humanos (CARSON et al., 2015).

Além disso, os níveis de OT plasmática variam entre os indivíduos e isso parece impactar nos

seus perfis comportamentais, como mostram estudos com amostras clínicas e normativas.

Referente às amostras clínicas, existem evidências preliminares que descrevem níveis

inferiores de OT plasmática em crianças e adultos com autismo, sugerindo um papel causal

das alterações ocitocinérgicas nos problemas apresentados (MODAHL et al., 1998); e maiores

18

concentrações de OT plasmática em pessoas com Síndrome de Williams (SW), sendo que a

medida basal da concentração desse peptídeo nos pacientes com SW foi correlacionada

positivamente com medidas de aproximação social excessiva e negativamente com

comportamentos de adaptação social (DAI et al., 2012). Ainda, observam-se diferentes níveis

plasmáticos de OT em relação a distintos perfis de pacientes com Esquizofrenia, inclusive,

pesquisadores verificaram que níveis menores de OT nesses pacientes estavam associados a

um pior desempenho em tarefas de reconhecimento de emoções faciais (GOLDMAN et al.,

2008). Em relação às amostras com colaboradores saudáveis, Zak, Kurzban e Matzner (2005)

analisaram o plasma de adultos de ambos os sexos e constataram que quando os

colaboradores recebem dinheiro em um jogo econômico, há maior liberação de OT endógena

diante de situações em que eles consideram-se dignos de confiança por parte de outro ser

humano, em comparação ao ganho monetário aleatório e programado por um computador.

Por outro lado, a OT exógena artificialmente sintetizada, pode ser administrado pela

via intravenosa (PIETROWSKY et al., 1996) ou intranasal (SCHULZE et al., 2011).

Atualmente, a maioria das pesquisas têm realizado a administração intranasal de OT em

humanos, uma vez que existem evidências da sua ação neuromodulatória e porque seu manejo

é mais fácil em comparação às demais alternativas (BORN et al., 2002; PETROVIC et al.,

2008; ECKSTEIN et al., 2014). Atualmente, limitações metodológicas impedem os

pesquisadores de aferir ou manipular as concentrações de OT diretamente no cérebro humano

(MCCALL e SINGER, 2012). Porém, há evidências de que a administração intranasal deste

neuropeptídeo (em contraste com a via intravenosa) é capaz de induzir alterações replicáveis

ao nível do comportamento (NABER et al., 2010), e da percepção (THEODORIDOU et al.,

2009), sugerindo a penetração da barreira hematoencefálica. Todavia, destacam-se alguns

efeitos de interferência e viés que podem ocorrer nos experimentos com essa forma de

administração. Para um melhor controle desses vieses nos dados, deve-se ter especial atenção

à necessidade de desenhos experimentais duplo-cegos, à distribuição de gênero dos

colaboradores e tipo de solução placebo selecionada (salina ou solução com os ingredientes

do spray de OT exceto pelo nonapeptídeo) (EISENEGGER et al., 2010). Adiante

apresentaremos em detalhe os principais estudos que recorreram à administração intranasal de

OT para modulação do comportamento social em humanos. Em seguida, passamos a

apresentar dados comparativos que ampararam a área de estudo dos efeitos centrais da OT.

1.2. Estudos com ocitocina em roedores

19

Desde os anos 90 do século XX, diversos estudos com roedores sugerem que a OT

pode gerar efeitos pró-sociais. Inicialmente, observou-se que a OT tem um papel central nos

comportamentos maternos de cuidado da prole (INSEL & YOUNG, 2001; RILLING e

YOUNG, 2014), sendo que roedores com prejuízos na liberação de OT apresentam redução

no comportamento maternal (JIN et al., 2007). Adicionalmente a isso, outros estudos

verificaram uma redução na expressão dos receptores de OT no cérebro de roedores

poligâmicos quando comparados aos monogâmicas (INSEL e SHAPIRO, 1992). Evidências

indicam que em ratos monogâmicos, a OT interage com o sistema dopaminérgico

favorecendo a formação de laços entre os parceiros (NUMAN e YOUNG, 2016). A dopamina

(DA) e OT são neuromoduladores cujos neurônios estão presentes na área tegumentar ventral

(ATV)/substância negra e hipotálamo, respectivamente. Os efeitos sinérgicos dessas

substâncias são de grande interesse para os estudos da área, pois as projeções dos neurônios

de OT e DA direcionam-se para regiões como córtex pré-frontal, núcleo accumbens e estriado

com a finalidade de regular comportamentos sociais e afiliativos (NEUMANN, 2009). Xiao et

al (2017) descreveram os mecanismos básicos subjacentes à interação destes

neurotransmissores, onde a OT parece aumentar diretamente a atividade dos neurônios

dopaminérgicos na ATV e inibir indiretamente, pelo recrutamento de interneurônios

gabaérgicos, os neurônios dopaminérgicos na substância negra. A partir destas regiões, as

projeções dopaminérgicas da ATV seguem para o hipocampo e núcleo accumbens (LOVE,

2014), além do córtex pré-frontal e putâmen, favorecendo comportamentos de interesse social

(GUNAYDIN et al., 2014). Em paralelo, as projeções dopaminérgicas da substância negra

seguem para o córtex pré-frontal e putâmen reduzindo os comportamentos exploratórios

irrelevantes, pelo controle da atividade motora (PATEL et al., 2012).

Outro sistema que também regula os comportamentos sociais com a OT é o sistema da

vasopressina (AVP), substância produzida pelos núcleos supraóptico e paraventricular do

hipotálamo. No sistema nervoso central, AVP e OT parecem ter funções antagônicas,

principalmente em relação à regulação amigdalar durante o controle da ansiedade. Enquanto

AVP potencializa a resposta de medo, a OT exerce um efeito ansiolítico. Porém, ainda não é

claro como ocorre o equilíbrio entre a AVP e OT na regulação do sistema dopaminérgico.

Quando a OT liga-se ao receptor de OT (OTR) esta ligação ativa a proteína G a qual

determina modificações em toda a célula. Os receptores da OT e da AVP seguem o caminho

pela via da fosfolipase C (BURBACH et al., 1995), sendo que sua expressão e disponibilidade

geralmente depende do grau de desenvolvimento cerebral do indivíduo. A dessensibilização

ou redução da atividade do segundo mensageiro podem ainda ocasionar uma down-regulation

20

do receptor de OT (SHAW, 1996). Além disso, para explorar a relação causal entre a OT e os

padrões comportamentos, pesquisadores produziram animais com nocaute para a OT (OTKO)

ou para o receptor para OT (OTRKO), sendo que os resultados dessas pesquisas confirmaram

que a OT é fundamental para o comportamento materno, e para os comportamentos sociais

(PEDERSEN et al., 2006).

Quando a professora Peggy Mason estudou com sua equipe os comportamentos de

empatia entre ratos, observaram-se resultados bastante interessantes, os quais em conjunto

revelaram que o comportamento de oferecer ajuda ao outro requer familiaridade com esse

indivíduo (BEN-AMI BARTAL et al., 2014). Essa evidência foi testada com um experimento

onde um rato livre estava na mesma gaiola de um outro rato preso em um pequeno

compartimento. O rato livre, ao observar um outro rato preso, parece ficar ansioso e

estressado porque ele se identifica com as reações advindas dessa situação e costuma

esforçar-se para liberar o rato preso. O diferencial dessas pesquisas envolveu o estudo do

impacto do grau de familiaridade entre os ratos para a promoção da expressão de

comportamentos de ajuda. Assim, os resultados indicam que os ratos livres ajudam ratos

desconhecidos que sejam de sua mesma espécie (provavelmente devido a um viés social que

direciona os ratos a ajudar apenas aqueles de seu próprio grupo) e não ajudam aqueles de uma

espécie diferente. Porém, se o rato livre tiver uma breve convivência significativa ou for

criado com indivíduos de uma espécie diferente da sua de origem, ele ajudará inclusive esses

indivíduos, mesmo que eles não sejam similares. Caso o rato livre nunca tenha convivido com

membros de sua espécie, ele não os ajudará futuramente. Em outras palavras, a familiaridade

entre os ratos parece ser um elemento fundamental para guiar os comportamentos de ajuda

mas, um ambiente social diverso parece permitir que os indivíduos auxiliem uns aos outros,

mesmo que eles sejam diferentes. Curiosamente, ratos livres que receberam ansiolíticos

tiveram uma motivação reduzida para auxiliar qualquer outro rato, provavelmente porque há

um bloqueio do efeito de estresse e de emoções negativas (BEN-AMI BARTAL et al., 2014).

Em suma, os dados disponíveis sugerem que os sistemas ocitocinérgico e

dopaminérgico tendem a controlar-se mutuamente devido à disponibilidade de seus receptores

porém, a maneira como isso acontece não é completamente clara (CHARLET e

GRINEVICH, 2017). Estudos atuais ainda buscam compreender em detalhes a relação entre

as doses e as respostas decorrentes da administração de OT. Além disso, estudos com

indivíduos nocaute para o receptor de OT (OTRKO) apresentam consequências piores em

comparação aos animais com nocaute para a OT, sugerindo que outros ligantes, além da OT,

devem ativar esse receptor. Em linhas gerais, fatores ambientais modulam as via

21

ocitocinérgica. Então OT pode sim contribuir na expressão de comportamentos protetivos ao

endogrupo porém, parece que a exposição a diferentes contextos ambientais devem modular

o sistema ocitocinérgico de modo que respostas positivas socialmente podem ser eliciadas

diante de membros do exogrupo. Até o momento, diversos estudos clínicos de OT intranasal

em pacientes humanos com prejuízos sociais já foram desenvolvidos e parecem promissores.

1.3. Estudos com ocitocina em humanos

A reputação de hormônio do amor que a OT adquiriu em decorrência dos estudos com

humanos foi por muito tempo fortalecida entre o público leigo e científico. É comum em

revistas não científicas uma apresentação simples e entusiasmada sobre o tema. Uma

ilustração é a matéria da Revista Veja Hormônio da felicidade: saiba como estimular seus

efeitos (abril, 2017), que introduz os neurotransmissores que compõem o “quarteto da

felicidade”, são eles: endorfina, serotonina, dopamina e, em destaque, ocitocina. Em linhas

gerais, a matéria apresenta endorfina como a substância que regula as respostas à dor e os

sentimentos de unidade grupal; a serotonina relacionada com os sentimentos de solidão e

sintomatologia depressiva; a dopamina como substância moduladora do prazer; e a ocitocina

relacionada aos comportamentos que favorecem o vínculo social. termina com a

recomendação da exposição a estímulos externos específicos para favorecer reações químicas

que contribuam para a produção e liberação destes neurotransmissores.

No âmbito da pesquisa científica, os efeitos da OT são analisados mais

cuidadosamente e em maior detalhe. Assim, evidências de pesquisas em humanos revelam

que a OT tem um efeito inibidor no núcleo dorsal da rafe, principal região de síntese de

serotonina, e em regiões como a amígdala, ínsula e córtex orbitofrontal, regulando assim a

interação social (MOTTOLESE et al., 2014). Além disso, verifica-se que a OT parece

promover comportamentos e competências sócio-emocionais positivas, como a capacidade de

inferir estados emocionais a partir de faces (DOMES, et al., 2007; DI SIMPLICIO et al.,

2009), a confiança interpessoal (KOSFELD et al., 2005; BAUMGARTNER et al., 2008), a

empatia (HURLEMANN et al., 2010), a fidelidade nas relações amorosas (SCHEELE et al.,

2012), a generosidade e o altruísmo (ZAK, STANTON e AHMADI, 2007; DE DREU et al.,

2010). Estes elementos em conjunto são necessários para o desenvolvimento de

relacionamentos emocionais saudáveis, o que é crucial para a sobrevivência das espécies.

As pesquisas com humanos são relativamente recentes, portanto, ainda são necessários

novos estudos para esclarecemos os mecanismos subjacentes à influência de diferentes

22

contextos e os efeitos de distintos parâmetros de administração da OT nos comportamentos

sociais, como variações no tempo de espera entre a administração de OT e a coleta, dosagem

de OT e o efeito moderador dos níveis de OT endógena em relação à administração de OT

exógena. A maioria dos estudos revelam que a inalação de OT parece estar associada a efeitos

positivos e de melhora de habilidades de cognição social e da prosocialidade (KOSFELD et

al., 2005; DOMES et al., 2007; MARSH et al., 2010; HURLEMANN et al., 2010;

DECLERCK et al., 2010). Porém, a revisão de Bartz, Zaki, Bolger & Ochsner (2011) revelou

que esses efeitos da OT são de magnitude fraca a moderada, e não forte como até então se

acreditava, onde aproximadamente metade dos estudos de prosocialidade não apresentam o

efeito esperado após administração de OT e cerca de 60% dos dados encontrados podem ser

explicados por diferenças individuais e situacionais (ver inclusive revisão de SHAMAY-

TSOORY e ABU-AKE, 2015).

As descobertas controversas acerca dos efeitos da OT desafiam os pesquisadores a

explorar o impacto de diferentes contextos na prosocialidade, considerada anteriormente

como uma resposta indiscriminada. Estudos recentes têm constatado que o tipo de relação que

se estabelece com o outro (considerando o distanciamento/proximidade social) é capaz de

determinar o impacto da OT (STALLEN et al., 2012). É evidente que questões religiosas,

econômicas, étnicas, entre outras, interferem nas relações interpessoais assim como na

identidade grupal, definindo demarcações sociais de quem compõe o nós (endogrupo) e os

outros (exogrupo). Considerando tais diferenças grupais, um estudo conduzido com homens

holandeses (Brancos) verificou que a administração de OT propiciou sentimentos de

preferência a Etnia de origem (etnocentrismo), em detrimento de grupos étnicos distintos (DE

DREU et al., 2011). Por outro lado, um estudo que analisou a medida de potencial evocado

relacionado a evento (ERP, sigla em inglês) junto de uma pequena amostra Asiática, verificou

uma resposta neuronal aumentada do potencial P2 após a visualização de faces com

expressões de dor quando estas pertenciam a indivíduos Asiáticos, em comparação com

Caucasianos (SHENG et al., 2013). Os autores verificaram ainda que a administração

intranasal de OT acentuava este padrão, promovendo um aumento da resposta neuronal

apenas diante de estímulos da mesma Etnia (endogrupo). Além disso, uma interessante meta-

análise de Van IJzendoorn e Bakermans-Kranenburg (2012) observou que a administração

intranasal de OT aumenta a habilidade de reconhecer expressões faciais e eleva a confiança

entre pessoas do endogrupo porém, não do exogrupo.

As controvérsias sustentam-se diante de evidências que reportam inclusive

modulações de emoções negativas advindas da administração desse peptídeo. Ilustrações

23

disso incluem os efeitos anti-sociais reportados como o aumento de comportamentos de inveja

(SHAMAY-TSOORY et al., 2009) e de agressividade (NE’EMAN et al., 2016). Na pesquisa

de Shamay-Tsoory e colaboradores (2009) foi aplicada uma tarefa onde os colaboradores

escolhiam uma entre três possíveis portas que surgiam na tela do computador. Assim, em cada

rodada ou eles ganhavam mais pontos do que o jogador oponente, ou o seu oponentes

ganhava mais pontos do que eles. Após administração de OT, na primeira situação descrita os

colaboradores sinalizaram, por uma escala Likert, sentir maior exaltação/arrogância de terem

recebido mais pontos em comparação ao oponente; enquanto que quando os colaboradores

recebiam menos pontos, eles sinalizavam sentir mais inveja, em comparação ao grupo que

havia recebido para inalação uma substância placebo. No estudo de Ne’eman et al. (2016), os

colaboradores realizavam um jogo monetário em que eles poderiam apresentar um dentre três

tipos de respostas após provocação (e.g. um jogador fictício que retirava pontos do

colaborador): (1) retirar pontos do jogador fictício – resposta agressiva, (2) aumentar os seus

próprio pontos – resposta individualista – e (3) dividir seus pontos com o jogador fictício –

resposta colaborativa. Os resultados revelaram que quem recebeu OT, aumentou a taxa de

respostas agressivas. Ambos autores justificam a ocorrência de modulação de emoções

relacionadas a sentimentos negativos pela OT uma vez que essa substância promove um

aumento atencional do colaborador à saliência dos agentes sociais, resultando em um aumento

de comportamentos anti-sociais, como a inveja e a agressividade em contextos competitivos.

Isso refuta a ideia de que a OT sempre eleva a frequência de comportamentos pró-sociais em

todos os contextos.

Além disso, outros estudos revelam que elevadas concentrações de OT endógena

correlacionam-se com dificuldade de relacionamento (TABAK et al., 2011). Esses resultados

de modulações de emoções negativas foram observados tanto em estudos com ratos, como

com humanos. Por exemplo, Ferris e colaboradores (1992) verificaram que a administração de

OT em ratos aumentou a frequência de comportamentos agressivos relacionados à

preservação de território e da prole. Apesar das evidências descritas acima, ainda são escassos

os estudos sobre os efeitos da OT em relação a diferentes grupos étnicos. Além disso, a

maioria dos estudos citados foram conduzidos nos Estados Unidos e na Europa, o que indica a

necessidade de nova pesquisa em diferentes culturas.

Diante desse panorama, tem crescido o interesse da neurociência social, em

compreender os mecanismos neurobiológicos de funcionamento da OT. Isso porque as

evidências de contribuições da OT em processos de cognição social com modelos animais

(DONALDSON e YOUNG, 2008) e com humanos (HEINRICHS, VON DAWANS,

24

DOMES, 2009), motivam pesquisadores a considerar o potencial terapêutico da OT em

diferentes grupos clínicos com alterações psiquiátricas, como a esquizofrenia (ABU-AKEL et

al, 2014a), e com distúrbios do desenvolvimento, como o autismo (DADDS et al., 2014). Tal

compreensão poderia favorecer consideravelmente intervenções psicoterapêuticas com

pessoas com déficits de empatia, pois em conjunto com essas ações, a OT poderá catalisar

processos de sensibilidade ao outro nas relações interpessoais favorecendo, por exemplo,

componentes envolvidos no compartilhamento de emoções, na flexibilidade mental ou na

auto-regulação. Todavia, o crescente número de pesquisas na área que têm revelado alguns

resultados controversos às descobertas primordiais, nos lembra da necessidade de cautela

quanto a conclusões sobre os efeitos exclusivamente benignos da OT e quanto à possível

implementação individualizada do uso desse neuropeptídeo como agente terapêutico. Quando

Churchland e Winkielman (2012) discutem sobre a improvável possibilidade de que a OT

tenha uma ação tão ampla nos processos de cognição social, eles ainda nos lembram que as

pesquisas aplicadas necessitam de precisão quanto ao seu uso clínico e a descrição dos efeitos

da OT. Pode ser que a OT venha a ser tão versátil quanto outras drogas, tal como a aspirina,

que apenas após décadas de estudo, pode ser aplicada em diferentes doses e frequências para a

promoção de efeitos distintos, que incluem um alívio de uma cefaleia, um potente efeito anti-

inflamatório ou até mesmo, forte inibição na agregação plaquetária. Desta forma, a aspirina

passou a fazer parte do arsenal terapêutico na neuroclínica, reumatologia e na cardiologia,

respectivamente.

1.4. Efeito biológicos da ocitocina

Após administrada a substância, a OT é suficientemente absorvida pela mucosa nasal,

sendo que seu efeito modulatório é estabelecido gradativamente alcançando seu estado de

equilíbrio geralmente após 40 minutos. Além disso, a ação da OT tem um período de latência

estimado de 30-60 minutos. Segundo a bula da OT sintética, dados pré-clínicos não revelam

riscos especiais para humanos baseados em estudos convencionais de dose única de

toxicidade. Considerando as possíveis reações adversas descritas, destacam-se como sintomas

de ocorrência rara: cefaleia, taquicardia e náusea (SYNTOCINON® (ocitocina), Novartis

Biociências SA).

Com o decorrer das pesquisas, diferentes modelos teóricos buscaram explicar os

mecanismos de funcionamento neurobiológico da OT. A maioria dos estudos relatam efeitos

pró-sociais da OT, como a aproximação social, gerando o favorecimento de vínculo

25

interpessoal. Dois mecanismos explicativos que defendem um efeito indiscriminado da OT,

consideram que esta deve promover (a) a redução da ansiedade social (CAMPEBELL et al.,

2010) ou (b) o aumento da motivação afiliadora (MCDONALD E MCDONALD, 2010). A

hipótese da redução da ansiedade como justificativa do efeito social da OT baseia-se, por

exemplo, na evidência de Kirsch et al. (2005) a qual demonstra que a OT é capaz de regular a

reatividade em humanos, por modular a atividade amigdalar diante de situações que geram

medo; e de reduzir a ansiedade social, permitindo que as pessoas tomem riscos que de outra

forma evitariam. Em relação à hipótese da motivação afiliadora, esta embasa-se nas

evidências de que a OT promove comportamentos de confiança e cooperação entre as pessoas

(KOSFELD et al., 2005), devido a um viés positivo generalizado em relação ao estímulo

social. No estudo de Gamer et al. (2010), com ressonância magnética funcional, foi

constatado que a OT diminui a atividade de sub-regiões da amígdala diante de estímulos

negativos e aumenta a atividade diante de estímulos positivos, o que permitiria justificar

ambas as hipóteses acima. Entretanto, tais hipóteses apresentam limitações para a

compreensão de muitos dos dados inconsistentes observados na área.

Outros pesquisadores passaram a questionar essas hipóteses sobre o efeito social

indiscriminado da OT e consideram se após sua inalação, a interação com indivíduos de

distintos grupos gera (c) ativação de recursos atencionais distintos (em função do membro

observado), com o aumento da saliência social de estímulos alvos no contexto (SHAMAY-

TSOORY et al., 2009). Esse modelo propõe que a OT aumenta diversas emoções, não apenas

as emoções positivas. Acredita-se que dessa forma existiria um aumento de reações agressivas

em relação ao exogrupo em contextos ameaçadores (NE’EMAN et al., 2016), além de uma

pré-disposição seletiva a emoções positivas em relação ao endogrupo em contextos

cooperativos. Essa terceira hipótese de alteração do processamento / saliência de um estímulo

social visual foi proposta a partir das evidências de que a OT aumenta a funcionalidade da

amígdala posterior e dos colículos superiores (GAMER et al., 2010) produzindo reflexos no

processamento de estímulos sociais de natureza positiva bem como no direcionamento

atencional.

Esse modelo da Hipótese de Saliência Social baseia-se na interação entre os sistemas

ocitocinérgico e dopaminérgico (DA) diante de pistas sociais externas (SHAMAY-TSOORY

e ABU-AKEL, 2016). Assim, as características pessoais e funções biológicas homeostáticas

determinam a disponibilidade de dopamina tônica, a qual modula o sistema ocitocinérgico

que regula a responsividade do sistema dopaminérgico. A saliência de um estímulo é

inicialmente processada pela amígdala e núcleo accumbens, que em seguida transmitem

26

informação para a ATV, a qual regula a modulação de dopamina. Assim, a amígdala medeia o

processamento de estímulos sociais positivos e negativos, promovendo a integração dos

sistemas em questão e comunicando-se, por projeções aferentes e eferentes, a regiões corticais

e sub-corticais. Toda essa interação descrita favorece a percepção de estímulos sociais e o

redirecionamento atencional (ROSENFELD, LIEBERMAN e JARSKOG, 2011). Os efeitos

comportamentais da OT parecem depender da relevância do estímulo social porém, mais

pesquisas com paradigmas atencionais são necessárias para melhor se entender o papel da OT

no aumento da saliência social.

Por fim, (d) a abordagem interacionista (BARTZ, ZAKI, BOLGER, OCHSNER,

2011) considera que os efeitos da OT são moderados por fatores contextuais e características

individuais e que todos os mecanismos descritos acima de funcionamento da OT podem

acontecer independentemente ou não (Figura 1). Essa última proposta auxilia a compreensão

sobre os efeitos sociais da OT, pois entende o que os estudos apresentam como

inconsistências, como verdadeiras “pistas” de quando a OT favorece a cognição social e o

comportamento pró-social nos indivíduos.

Figura 1 - Modelo interacionista do efeito social da ocitocina em humanos. De acordo com o modelo, a administração exógena (e.g. intranasal) de ocitocina influencia uma série de resultados relacionados à cognição social (e.g. reconhecimento de emoção e empatia) e pró-socialidade (e.g. percepção e comportamentos de confiança) mas esses efeitos da ocitocina são geralmente moderados por características da situação social na qual a ocitocina é administrada e/ou o indivíduo o qual a ocitocina é administrada. Os moderadores situacionais podem incluir dificuldades com as características da tarefa, a valência do estímulo, bem como a familiaridade do oponente, confiabilidade e pertencimento ao endo- em comparação ao exogrupo. Os moderadores da diferença individual podem incluir características comportamentais como proficiência em cognição social, traços de diferenças individuais como apego ansioso; essas diferenças individuais devem refletir uma variação natural no sistema de ocitocina endógeno (e.g. nível de ocitocina plasmático ou polimorfismo do gene receptor da

27

ocitocina). Adicionalmente as variáveis moderadoras, o efeito da ocitocina na cognição social e na prosocialidade provavelmente são mediados por um ou mais de um processo de mecanismo básico; especificamente por: redução da ansiedade social, aumento da motivação social / afiliação e/ou aumento da saliência de pistas sociais. Como indicado pelas linhas pontilhadas que conectam os hipotéticos mecanismos, esses mecanismos podem trabalhar independentemente ou em conjunto para mediar o efeito da ocitocina na cognição social e na prosocialidade. Por exemplo, a ocitocina pode aumentar a saliência de uma pista social reduzindo a ansiedade social e permitindo que pessoas com ansiedade social se atentem às pistas sociais que antes elas provavelmente evitariam. A ocitocina pode inclusive aumentar a saliência de uma pista social pela ativação de motivos afiliativos que devem aumentar a atenção da pessoa a informações sociais no ambiente, trabalhando para promover ou impedir tal objetivo. Finalmente, a ocitocina pode aumentar o direcionamento afiliativo / aproximação social pela diminuição da ansiedade social. (Figura retirada da revisão de BARTZ, ZAKI, BOLGER, OCHSNER, 2011, p. 305; traduzida pela autora da presente pesquisa).

De forma a testar adequadamente os modelos teóricos de funcionamento da OT,

defendemos que será necessário avaliar nos mesmos indivíduos dimensões comportamentais

(a) pró- e (b) anti-social. Assim, no âmbito da presente pesquisa focaremos no estudo do

papel da OT na regulação de comportamentos empáticos (pró-social), bem como seu efeito

em relação a reações emocionais negativas (anti-social), como a detecção de ameaça. Além

disso, no sentido de incluir a dimensão de pertencimento ao grupo, o presente estudo testará

as respostas em relação quer a membros do endogrupo (mesma etnia do participante), como a

membros do exogrupo (etnia distinta). Estamos cientes de que é possível que no Brasil a

divisão proposta entre os grupos étnicos citados (colaboradores Brancos avaliando situações

com alvos Brancos e Negros) não apresente resultados tão distintos entre si, pois a história da

constituição da população Brasileira é marcada pela miscigenação interétnica. Todavia, uma

vez que ainda se observam situações cotidianas de discriminação entre esses grupo étnicos,

nota-se a complexidade dessa relação e faz-se necessário o seu estudo. Então, optamos por

oferecer OT (versus uma solução placebo) aos colaboradores e em seguida replicar tarefas

clássicas na área da neurociência que avaliam esses comportamentos.

Investir na replicabilidade de estudos em neurociência é um desafio porém, uma

prioridade para promover maior confiabilidade dos resultados produzidos no campo científico

e assim, melhor embasar as conclusões da área (BUTTON et al., 2013). A competitividade e a

exigência por elevado nível de publicação dificultam a divulgação de resultados negativos ou

menos inovadores. A contaminação por falsos-positivos na área da neurociência pode ser alta,

como ocorre nas pesquisas biomédicas em que há apenas cerca de 25% de taxa de

replicabilidade (PRINZ, SCHLANGE, ASADULLAH, 2011; BEGLEY e ELLIS, 2012). A

importância da replicação pode ser considerada particularmente crítica na área de estudo do

viés racial, dadas as importantes diferenças que podem existir entre sociedades/regiões (com

distintas composições étnicas), não se podendo assumir que os resultados obtidos em um

contexto serão universais. Além disso, algumas regras sociais tem sido modificadas com o

28

passar dos anos, sendo recentemente promovida uma maior convivência entre indivíduos de

diferentes crenças e grupos étnicos, o que tende a aumentar a representatividade social e o

respeito aos direitos humanos. Esse processo de convivência e respeito favorece a

modificação das associações estereotípicas em relação aos distintos grupos (MIZAEL et al.,

2016) porém, muitas vezes seleciona comportamentos mais sutis de discriminação, os quais

costumam ser mais aceitos socialmente (PETTIGREW e MEERTENS, 1995). Essas

mudanças comportamentais desafiam os estudos a aprimorarem formas de registro das

atitudes que se tem em relação ao outro. Para além do uso de métodos clássicos de avaliação

(como exclusiva aplicação de tarefas comportamentais e questionários), o recurso a métodos

de investigação em neurociência, bastante sensíveis, como ressonância, medidas oculares,

eletroencefalograma, estimulação cerebral, entre outros, permitem avaliar com maior precisão

o processamento de respostas automáticas e controladas, além de demonstrar o envolvimento

de circuitarias neurais específicas dos mais diversos processos cognitivos durante ativação e

controle de um comportamento enviesado.

1.5. O papel da ocitocina no processo de empatia à dor

Apesar do termo empatia ser amplamente usado, ele costuma ser erroneamente

empregado pois é muitas vezes confundido com conceitos como compaixão, simpatia, teoria

da mente, entre outros (SINGER & DECETY, 2011). De fato, é considerado um “termo

guarda-chuva” que desperta grande interesse em pesquisadores da área da neurociência social,

sendo que mesmo sem uma definição única, denota em linhas gerais a capacidade de um

indivíduo entender o estado mental do outro. Já na década de 80, a habilidade empática era

compreendida como uma experiência vicária e um construto multidimensional que combina

componentes cognitivos e afetivos (DAVIS, 1983) e pesquisas sobre as bases neuronais da

empatia têm contribuído consideravelmente para sua definição (KENNEDY & ADOLPHS,

2012). Simone Shamay-Tsoory, uma importante pesquisadora da área, propôs um modelo que

divide a empatia entre uma dimensão emocional e outra dimensão cognitiva (SHAMY-

TSOORY et al., 2009). A primeira envolve o compartilhamento de emoções entre as pessoas

(experiência do contágio emocional) e a outra dimensão permite o entendimento dos

pensamentos e intenções dos outros a partir do movimento de adotar o ponto de vista alheio

que possibilitar inferências precisas sobre o que se passa com o outro (DECETY &

JACKSON, 2004; SHAMY-TSOORY et al., 2009; ABU-AKEL et al., 2014b). Essa

habilidade tem um papel crucial no processo de interação social humana, permitindo a

29

conexão entre os indivíduos, uma vez que favorece a compreensão da intenção da ação do

outro, de suas emoções, de sentimentos e de pensamentos (SINGER & DECETY, 2011;

DECETY & SVETLOVA, 2012). É possível avaliar a empatia explícita e implicitamente.

Todavia, inúmeras evidências revelam que as respostas explícitas, em relação às medidas

implícitas, são fortemente influenciadas por fatores como desejabilidade social (NETO, 2015)

e que por conta disso, é possível que se verifiquem resultados contrastantes quanto a essas

formas de avaliação.

No modelo neurocientífico de compreensão da empatia de Preston e de Waal (2002),

foi proposto que quando imaginamos ou quando observamos o estado mental de uma outra

pessoa, nosso sistema nervoso automaticamente reage promovendo ativação de redes neurais

semelhantes a circuitaria ativa no observador. Isso foi constatado inclusive em estudos

subsequentes conduzidos com ressonância magnética funcional, em que se verificou uma

ativação compartilhada de redes neuronais específicas durante experiências infligidas em si e

no outro. Na mesma linha, Keysers e colaboradores (2004), por exemplo, observaram uma

ativação do córtex somatossensorial quando os colaboradores eram tocados e quando

observavam o toque feito no outro.

Desde 2004, diversas pesquisas sobre o domínio afetivo da empatia envolvendo o

estudo da dor foram desenvolvidas visando a compreensão de como respondemos de maneira

empática aos outros. A empatia à dor física, por exemplo, é um dos mecanismos mais básicos

e refere-se ao mal-estar subjetivo resultante da exposição à dor do outro (SHAMAY-

TSOORY et al., 2013). Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (2018), dor

é definida como uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a dano

tecidual real ou potencial, que tem uma elevada importância evolutiva para alertar os

indivíduos a interromper ou afastar-se do estímulo causador, promovendo assim sua proteção.

Quanto ao processamento da dor, sabe-se que ele é composto pelas dimensões sensitivo-

discriminativa (percepção e detecção do estímulo nocivo em relação a intensidade,

localização e duração) e afetivo-motivacional (integração da informação dolorosa com a

experiência afetiva que regula as respostas comportamentais e o humor). Esta é uma resposta

complexa em que informações dos neurônios aferentes primários nociceptivos seguem até a

medula espinal onde neurônios de segunda ordem conduzem essas informações para regiões

supra-espinais. Então, as projeções do trato espinotalâmico vão para estruturas do troco

encefálico (tálamo e córtex) para iniciar o processamento das dimensões do estímulo

doloroso. As informações de dor dos núcleos talâmicos seguem para o córtex alcançando

principalmente áreas somatosensoriais primárias (SI) e secundárias (SII). Estas áreas enviam

30

projeções para o córtex parietal posterior que integra elementos do estímulo doloroso com o

contexto em que ele ocorre. Além disso, outras projeções talâmicas seguem para o córtex

insular (regula o processamento de informação do estado interno do corpo) e para o córtex

cingulado anterior (integra respostas afetivas, cognitivas e sociais). Por fim, o córtex pré-

frontal é ativado para promover uma avaliação e planejamento de consequências futuras da

situação vivenciada (OLIVEIRA e SILVA, 2009).

Vários estudos de neuroimagem mostraram que as áreas ativadas pela observação de

dor física alheia se sobrepõem às áreas ativadas durante a própria experiência de dor física

(SINGER et al., 2004; DECETY e LAMM, 2006; DECETY, ECHOLS e CORRELL, 2010;

LAMM, DECETY, & SINGER, 2011). Uma das pesquisas iniciais com uma interessante

proposta metodológica foi conduzida por Singer e colaboradores (2004) onde casais iam ao

laboratório e qualquer um dos dois poderia receber um choque como estímulo doloroso

enquanto que apenas um deles estava num equipamento de neuroimagem para avaliação das

mudanças na ativação de regiões cerebrais. Assim, os autores avaliaram a experiência de dor

em si mesmo e em seu parceiro. Resultados dessa pesquisa revelaram que para ambas as

condições de dor, a codificação desse estímulo gerou uma ativação da mesma circuitaria

cerebral, que envolve essencialmente o córtex insular e cingulado. Estudos de diversas

pesquisas conseguiram observar que regiões posteriores da ínsula estavam envolvidas na

experiência pessoal de dor - representações primárias, e que regiões anteriores eram ativadas

diante da empatia a dor no outro - representações secundárias relacionadas com o afeto

negativo antecipatório em si e no outro (DECETY & LAMM, 2009; SINGER & DECETY,

2011).

Ainda é importante entender sob quais circunstâncias reagimos de maneira empática

com o outro. A resposta empática à dor a nível cerebral é modulada por diversos fatores como

o direcionamento atencional para situação dolorosa (GU & HAHN, 2007), a intensidade do

estímulo doloroso (AVENANTI et al., 2006), a relação afetiva entre as pessoas (SINGER et

al., 2004) e a experiência que se tem com situações dolorosas, como o caso dos médicos em

comparação a não médicos (CHENG et al., 2007). Destacam-se outros estudos que revelam

que apesar da natureza eminentemente automática dos processos empáticos, a empatia à dor

física no outro é inclusive modulada por fatores contextuais, como pistas relativas ao estatuto

de pertença ao grupo social (TARRANT, DAZELEY e COTTOM, 2009). Algumas

ilustrações disso envolvem evidências de que participantes Brancos e Negros apresentam

maior contágio sensório motor ao observar situações dolorosas infligidas em membros do

endogrupo em comparação a membros do exogrupo (AVENANTI, SIRIGU e AGLIOTI,

31

2010) e outros achados que revelam que os participantes foram mais empático à dor em

pessoas que contraíram AIDS por transfusão de sangue em comparação a quem contraiu a

doença por uso de drogas (DECETY, ECHOLS e CORRELL, 2010).

Em relação as pesquisas nessa linha com OT, considera-se que o peptídeo seriam um

facilitador de respostas empáticas afetivas e cognitivas. Assim, é possível que após inalação

de OT os colaboradores fiquem mais sensíveis aos estímulos dolorosos no outro. No estudo

de Shamay-Tsoory et al. (2013), por exemplo, evidências revelaram que a administração de

OT é capaz de promover um aumento na avaliações subjetivas da dor física no outro, mesmo

sendo este um membro do exogrupo. Porém, Bos e colaboradores (2015) verificaram em um

estudo com ressonância, que a OT reduziu a atividade neuronal da circuitaria da dor (ínsula e

regiões sensório-motoras) durante observação de dor física no outro, independentemente da

etnia do alvo observado. Porém, os autores defendem que novas pesquisas ainda precisam ser

conduzidas pois nesse estudo não foram coletadas medidas subjetivas de empatia à dor após a

inalação de OT e a reduzida amostra pode não ter sido suficiente para captar efeitos étnicos.

Ainda não é claro o efeito da OT quando contrastamos os resultados da percepção

dolorosa em si e no outro, pois diferentes pesquisas sócio-endocrinológica demonstram

evidências contrárias. Exemplos disso, são os estudos de Jackson et al. (2006) e Abu-Akel et

al. (2014) em que os autores avaliaram o efeito da OT na percepção empática da dor em si

mesmo vs. na perspectiva do outro com a mesma tarefa experimental. Por um lado, no estudo

Norte-Americano de Jackson et al. (2006) eles convidaram colaboradores Brancos a avaliar a

intensidade de dor sentida em alvos Brancos desconhecidos. Enquanto que, no estudo

conduzido em Israel por Abu-Akel et al. (2014) os autores aplicaram a tarefa de empatia à dor

apresentando antes de cada situação o nome do colaborador (judeu israelita) ou um outro

nome tipicamente judeu israelita. Ao considerarmos diferenciações étnicas, pode-se dizer que

nos dois estudos os colaboradores interagiam com alvos do endogrupo. Porém, no primeiro

estudo ao observar as situações dolorosas os colaboradores sentiam-se mais desconfortáveis

(Jackson et al., 2006) e no segundo estudo, os colaboradores sentiam que o desconforto

gerado no alvo do estímulo observado foi maior do que o seu próprio (Abu-Akel et al., 2014).

Dessa forma, evidencia-se que a OT medeia a definição das barreiras entre si e o outro, mas

novos estudos precisam ser desenvolvidos para esclarecer esse fenômeno.

O efeito das pistas étnicas na observação de um alvo sofrendo estimulação dolorosa,

pode ser implicitamente avaliada com o uso da Estimulação Magnética Transcraniana (EMT).

Essa técnica é um método não invasivo utilizada em diversos tópicos de pesquisa para duas

finalidades (a) a neuromodulação de áreas cerebrais específicas ou (b) a avaliação da

32

fisiologia cortical e vias motoras descendentes. No âmbito do presente trabalho utilizamos

esta técnica para a segunda finalidade descrita, onde acessamos o parâmetro de pulso único de

EMT mais comum, o potenciais evocados motores (MEPs, sigla em inglês). Os MEPs nesse

estudo ocorrem durante a observação de situações dolorosas e neutras infligida em alvos de

diferentes grupos étnicos. Isso foi possível, pois a bobina de EMT produz um campo

magnético ao seu redor que em contato com o crânio induz um potencial de ação no tecido

cerebral subjacente. Essa ativação do córtex motor gera uma resposta de contração observável

no músculo correspondente (BARKER et al., 1985). Como ilustração, podemos destacar o

estudo de Avenanti, Sirigu e Aglioti (2010) que se propõem medir a intensidade das respostas

empáticas durante observação de situação de dor física. Esses autores verificaram um efeito

de supressão motora quando os colaboradores observaram estimulação dolorosa na mão de

membros do seu grupo étnico (endogrupo), e excitação motora quando a mão pertencia a

membros do grupo étnico distinto (exogrupo). O estudo de Azevedo e colaboradores (2012)

expande os achados de Avenanti, Sirigu e Aglioti (2010), pois com a mesma tarefa eles

avaliam os dados de ressonância magnética funcional e de respostas autonômicas diante

observação de dor no outro. Em linhas gerais, verificou-se reatividade empática enviesada

para a própria Etnia, uma vez que foi observada maior dilatação pupilar e ativação da ínsula

anterior quando o estímulo doloroso era infligido a membro do endogrupo em comparação ao

exogrupo.

A proposta do presente estudo envolve a replicação da tarefa desenvolvida por

Avenanti, Sirigu e Aglioti (2010), adicionando a administração de OT, o que possibilitará

importantes contribuições para a testagem dos efeitos comportamentais empáticos seletivos

desse neuropeptídeo em relação a diferentes grupos étnicos. Adicionalmente, o presente

estudo será o primeiro a avaliar o impacto da OT na empatia à dor física na mesma etnia vs.

etnia distinta em uma amostra ocidental.

1.6. O papel da ocitocina no processo de detecção de ameaça

A detecção de ameaça é uma habilidade necessária para a proteção dos indivíduos

pois, os prepara para lutar ou fugir de potenciais perigos. Assim, evidências revelam que

durante as interações sociais existe uma tendência de favorecimento dos membros do

endogrupo em detrimento aos membros do exogrupo (TAJFEL et al, 1971). Provavelmente,

isso ocorre devido a necessidade de segurança que os membros do endogrupo costumam

compartilhar, em contraste com o que ocorre com membros do exogrupo. Pesquisas nas áreas

33

da psicologia social e das neurociências têm permitido identificar como variáveis pessoais

(internas) e sociais (externas) influenciam esse viés perceptivo nas respostas

comportamentais. Assim, estas evidências explicam situações cotidianas, como a formação de

grupos entre os adolescentes, comportamentos protetivos de mães com seus bebês em relação

a potenciais ameaças, a rotina de policiais que devem ser precisos em agir diante de alvos

ameaçadores, entre outras situações. O fato é que, se tomarmos as ações policiais como

exemplo, nota-se que o controle cognitivo necessário em seu dia-a-dia durante sua tomada de

decisão por vezes falha, ocasionando certas injustiças sociais. Sendo que esta falha perceptiva

sustenta-se em tendências pessoais de comportamentos impulsivos ou nos estereótipos étnicos

constituídos sócio, cultural e biologicamente que regulam nossa percepção.

Para tanto, foram desenvolvidas diversas tarefas computadorizadas que permitem

estudar essa temática em contextos laboratoriais. Uma dessas relevantes tarefas é conhecida

como a Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa (TAPP; First-person-shooter-task, FPST na

sigla em inglês) onde os colaboradores observam diferentes cenários, como praça, campo de

futebol e biblioteca, até que em um determinado momento surge na tela um alvo humano

(homem Branco ou Negro, em diferentes posições corporais) segurando um objeto que pode

ser uma arma ou um objeto inócuo (e.g. carteira, celular ou latinha de refrigerante)

(CORRELL et al., 2002). Os colaboradores são instruídos a identificar da maneira mais rápida

possível os homens que seguram armas, e que assim representam uma ameaça social. Os

resultados dessa pesquisa conduzida com frequência nos Estados Unidos, confirmaram o

panorama observado fora dos laboratórios. Assim, os colaboradores – universitários em sua

grande maioria Brancos – foram mais rápidos e precisos em atirar em alvos armados quando

estes eram homens Negros. Ainda, eles foram mais rápidos e precisos em não atirar quando os

alvos eram homens Brancos. Dessa forma, as pesquisas no contexto Norte-Americano,

revelaram uma tendência de uma associação (viés) negativa atribuída aos Negros, como sendo

mais violentos e ameaçadores que os Brancos (CORRELL et al., 2002), sendo observado na

vida real, onde os Negros costumam ser mais abordados e atingidos injustamente por

policiais.

Nessa mesma linha de pesquisa, Payne (2001) desenvolveu a Tarefa de Identificação

de Armas, os resultados desse estudo revelaram que os colaboradores tendem a identificar

erradamente ferramentas como sendo armas com maior frequência quando estas eram

precedidas por faces de homens Negros em comparação às faces de Brancos. O autor ainda

destaca a relevâncias desse dado no cotidiano quando pensamos que os estereótipos negativos

comumente atribuídos aos Negros podem gerar graves injustiças sociais, como testemunhos

34

enviesados, em que a acusação de pessoas Negras como criminosas tende a ser frequente. No

estudo I de Correll, Park, Judd, Wittenbrink (2007) foi testado o impacto do desempenho da

TAPP pela manipulação da associação entre grupo étnico e estereótipo de ameaça via

apresentação de uma matéria de jornal com uma descrição detalhada de um crime. Metade da

amostra desse estudo leu uma matéria onde o criminoso era Negro e a outra metade da

amostra leu a mesma matéria alterando apenas a identidade étnica do criminoso, que dessa

vez era Branco. Os resultados revelaram que a exposição a matéria com um criminoso Negro

aumentou o viés dos colaboradores em atirar em alvos Negros durante a TAPP. Além disso,

os autores verificaram que a prática melhora o desempenho dos universitários na TAPP.

Entretanto, esse efeito positivo não foi observado durante a replicação dessa tarefa, após 48

horas. Tais evidências em conjunto nos fazem pensar nos vieses compartilhados socialmente e

em como podemos modulá-los a longo prazo.

Uma análise minuciosa da identificação de alvos ameaçadores pela Teoria de

Detecção de Sinal (HARVEY, 1992), considera que os processos decisórios de atirar ou não

em um alvo envolvem (a) ser sensível à discriminação de alvos armados ou não

(independentemente da Etnia do alvo) e (b) um limiar dos critérios pessoais que regulam a

predisposição do colaborador em atirar em alguém (CORRELL et al., 2002). Curiosamente,

verifica-se que os colaboradores parecem apresentam menos critérios cognitivos no processo

de decisão de atirar diante de um alvo Negro em comparação a um alvo Branco

(GREENWALD, OAKES, E HOFFMAN, 2003), provavelmente devido aos estereótipos dos

Negros que, de forma automática, costumam ser associadas (no contexto Norte-Americano)

ao conceito de perigo. Assim, tendem a ser mais imediatas as respostas aos estímulos que

confirmam os estereótipos culturalmente vigentes.

Evidentemente, o treinamento de habilidades específicas pode modular o controle das

respostas apresentadas. Desse modo, Correll et al. (2007) compararam o desempenho na

tarefa do TAPP entre (a) amostras de policiais, de um departamento de polícia local e outro

nacional, (b) uma amostra de civis da comunidade em que esses policiais servem e (c)

universitários. Os resultados revelaram que os policiais apresentaram melhor desempenho em

comparação com os civis e universitários, julgando de forma mais rápida e precisa as

respostas de atirar e de não atirar. Porém, todos os grupos amostrais apresentam maior

latência para avaliar alvos que não são comumente associados (ex. Negros não armados e

Brancos armados) em comparação a avaliação de alvos comumente associados (ex. Negros

armados e Brancos não armados) na cultura Norte-Americana. Maiores latências de respostas

sinalizam que nos Estados Unidos a associação implícita entre Branco e Arma é mais fraca

35

em comparação a associação entre Negro e Arma. Diversas pesquisas foram então

desenvolvidas para melhor compreender as variáveis que orientam os colaboradores nos

processos decisórios nesses contextos (CORRELL et al., 2002; PLANT e PERUCHE, 2005).

Assim, nota-se a complexidade desse fenômeno, pois eventuais falhas do controle cognitivo

em regular atitudes preconceituosas ocorrem, apesar do exigente treinamento que os policiais

recebem para discriminar alvos ameaçadores.

Como já referido, o processamento neurobiológico da percepção de ameaça é

inicialmente dependente da amígdala, sendo que vários estudos evidenciaram uma maior

ativação dessa estrutura em resposta à visualização de faces do exogrupo étnico em

comparação a faces de membros do endogrupo (HART et al., 2000; PHELPS et al., 2000).

Dessa forma, essa estrutura cerebral tem um relevante papel em decodificar importantes

informações sociais. A OT é capaz de modular a ativação da amígdala, reduzindo a percepção

de estímulos ameaçadores tais como cenas não-sociais de ameaça (KIRSCH et al., 2005), ou

faces zangadas e com medo (DOMES, HEINRICHS, GLASCHER et al., 2007). Além disso,

Labuschagne et al. (2010) observaram que a OT foi capaz de reduzir a hiperativação

amigdalar em resposta à visualização de faces de medo em pacientes com Transtorno de

Ansiedade Social. Porém, até o momento nenhum estudo foi conduzido com o intuito de

analisar o efeito da OT em uma tarefa que reúna a identificação de estímulos ameaçadores em

contextos com pistas étnicas em uma amostra marcada pela miscigenação interétnica.

Pretendemos, com o presente estudo, contribuir para a clarificação sobre a possível

especificidade dos efeitos pró-endogrupo e/ou anti-exogrupo da OT, analisando o impacto da

sua administração durante o processo de identificação de armas comparando situações com

homens Brancos e Negros.

A escolha por avaliar os efeitos das pistas étnicas nas interações sociais é de grande

relevância para o contexto Brasileiro devido às consequências até hoje vivenciadas do

processo de socialização entre Negros e Brancos. O Brasil foi a última nação americana a

abolir a escravidão que era vigente há quase quatro séculos. Ainda hoje, identificam-se atos

preconceituoso no país porém, as pessoas não costumam assumir tal viés étnico (dados da

pesquisa conduzida pela Abril/MindMinders em 2017). Essa lacuna em relação à

conscientização da discriminação baseada na cor da pele, evidencia a necessidade de falarmos

sobre racismo e, especificamente, sobre como estes gestos apresentam-se diariamente de

forma velada e indireta. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE, 2014), 54% dos respondentes da pesquisa censitária nacional declararam-se pretos ou

pardos. Esse panorama faz do Brasil o segundo país com maior concentração de pessoas

36

Negras no mundo (apenas atrás da Nigéria). Atualmente, a renda média de pretos e pardos

continua aproximadamente metade da renda de Brancos e, além disso, os Negros sofrem com

outras consequências, como a baixa acessibilidade a educação de qualidade e ao ensino

superior, dificuldades no acesso a saneamento básico e maior disponibilidade à trabalhos de

baixa qualificação (segundo IBGE, 2014).

Em 1989 entrou em vigor a Lei do Racismo, a qual prescreve que o racismo é um

crime inafiançável e imprescritível. Todavia, na prática as ações intolerantes para com os

Negros costumam apenas serem enquadradas como crime de injúria racial, sendo que muitas

pessoas pretas e pardas revelam que não denunciam tais atitudes preconceituosas (GAMA,

2017). Esse cenário pode ser justificado pelo fato de que não temos no Brasil distinções

culturais tão evidentes entre Brancos e Negros, nem demarcações territoriais, como existiram

em outros países (por exemplo durante Apartheid na África do Sul). Talvez por isso,

minimizamos os impactos de certas atitudes discriminativas e não priorizamos o cumprimento

de ações afirmativas em relação aos Negros. A elaboração deste trabalho permitirá inclusive

discutir os efeitos atuais decorrentes desse processo histórico de relação entre esses grupos

étnicos, em um panorama atual de incentivo à convivência com as diferenças.

37

2. HIPÓTESES

De acordo com o escopo da literatura, a maioria dos resultados recentes tendem a

confirmar os modelos da Saliência Social dos estímulos e da Abordagem Interacionista como

os mecanismos neurobiológicos mais completos para se compreender os efeitos da OT em

humanos. Considerando isto, a seguir são descritas as hipóteses do presente estudo relativas

aos possíveis efeitos da OT na modulação de (a) respostas empáticas e de (b) percepção de

ameaça, diante dos estímulos étnicos do endogrupo e exogrupo. Vale ressaltar que esse estudo

se trata de um único experimento pois, avaliamos conjuntamente os efeitos pró- e anti-sociais

da OT nos comportamentos sociais em uma mesma amostra. Não é esperado que os grupos

experimentais, OT e PL, diferenciem-se em relação às avaliações explícitas de auto-relato das

competências empáticas, nível de agressividade e viés racial (resultados dos questionários).

Também não é esperado que a inalação de OT module a excitabilidade cortical em relação à

medida de linha de base (registro com EMT). Todavia, espera-se que o desempenho

comportamental dos colaboradores nas tarefas computadorizadas propostas seja:

(a) Quanto aos comportamentos de percepção de ameaça, espera-se diante do endogrupo

um forte perfil pró-social (efeito teto) que não esta sujeito a modulação pela OT.

Ainda, diante do exogrupo a inalação de OT pode alterar mecanismos neurais de

atenção aos estímulos (evidências anteriores que revelam modulação da atividade da

amígdala e colículos superiores) enquanto deve promover uma redução da ansiedade

social, gerando redução do viés racial negativo para com esses alvos.

Ha: aumento da acurácia na identificação de armas diante de alvos do exogrupo após

inalação de OT.

(b) Quanto aos comportamentos empáticos explícitos, a tendência em apresentar

comportamentos politicamente corretos costuma ser forte em pesquisas que envolvem

contextos de estudo de preconceito racial e esse fator deve sobrepor-se aos modestos

efeito comportamentais modulados pela OT.

Hb1: maior empatia explícita diante de membros do exogrupo.

38

Hb2: ausência de modulação dos comportamentos empáticos explícitos pela OT.

(c) Quanto aos comportamentos empáticos implícitos, evidências anteriores

demonstraram um aumento da empatia afetiva em relação ao endogrupo quando

comparado com o exogrupo e a OT costuma fortalecer esse efeito basal.

Hc: aumento da intensidade do contágio sensório-motor durante a observação de

situações de dor física infligida em membros do endogrupo após inalação de OT.

39

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo do presente trabalho consiste em avaliar a ocorrência de viés racial positivo

(efeito pró-social) e negativo (efeito anti-social) em universitários durante interações sociais

com o endo- e exogrupo e verificar se a administração intranasal de ocitocina é capaz de

modular os efeitos basais.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Explorar a universalidade de fenômenos encontrados a partir da comparação dos

resultados do grupo placebo obtidos nessa pesquisa e das evidências verificadas nas

pesquisas originais de percepção de ameaça (Correll et al., 2002), empatia explícita

(Jackson, Meltzoff, Decety, 2005) e empatia implícita (Avenanti, Sirigu, Aglioti,

2010).

- Analisar os efeitos pró- e anti-sociais modulados pela ocitocina em uma tarefa de

identificação de ameaças entre membros do endogrupo e do exogrupo.

- Analisar modulação das respostas empáticas explícitas pela ocitocina em uma tarefa

para avaliar a intensidade de dor física infligida em membros do endogrupo e do

exogrupo.

- Analisar modulação das respostas empáticas implícitas de contágio sensório-motor

pela ocitocina em uma tarefa de observação de dor física infligida em membros do

endogrupo e do exogrupo.

- Discutir se o padrão de respostas empáticas explícitas e implícitas tem mesma direção

ou direções opostas.

- Discutir de forma integrada os resultados pró- e anti-sociais observados pela

modulação da OT.

40

4. MÉTODO

4.1. PARTICIPANTES

Cento e setenta e cinco estudantes universitários participaram da coleta de dados do

presente estudo. Na Tabela 1 verifica-se o fluxograma do processo de aquisição de dados,

assim como detalhes em relação à exclusão de colaboradores. A amostra final incluída para a

análise reuniu os dados de 128 colaboradores (dimensão previamente determinada com base

numa análise de poder em que d = .05, α = .05; β = .80). Realizamos uma entrevista inicial

guiada pelo Questionário Sócio-Demográfico que desenvolvemos para explorar os critérios de

inclusão estabelecidos como necessários: ausência de doenças psiquiátricas (além de

aplicação do BDI para verificar especificamente sintomatologia depressiva) ou médicas

(incluindo alterações do funcionamento endócrino – avaliação por auto-relato do

colaborador), ausência do uso de medicações que interferissem no sistema nervoso central ou

que interagissem com a ocitocina sintética (verificação das possíveis interações

medicamentosas no site http://www.webmd.com/drugs/2/drug-32789/oxytocin-

bulk/details/list-interaction-medication), não ter consumo de tabaco superior a cinco cigarros

por dia ou fazer uso abusivo de álcool ou drogas.

A homogeneidade da presente amostra envolveu colaboradores homens, destros e

autodeclarados brancos (pela pigmentação de sua pele e pela representatividade dos membros

da família de origem), não tendo sido possível selecionar uma amostra com homogeneidade

étnica visto que os colaboradores não foram avaliados quanto a sua ascendência (e.g. latina,

europeia, americana, entre outras). A amostra foi composta exclusivamente por homens, uma

vez que os níveis endógenos de OT plasmática das mulheres variam ao longo do ciclo

menstrual (ALTEMUS et al., 2001), dificultando o controle de uma das variáveis centrais

deste estudo. Adicionalmente, uma vez que a maioria dos estudos mencionados na seção de

referencial teórico têm amostras totalmente masculinas, nossa escolha por esse grupo facilita

a comparação e discussão dos resultados. No sentido de testar as questões relativas à empatia

em relação ao endogrupo versus exogrupo e por questões de poder estatístico e de

conveniência, foram recrutados apenas indivíduos Branco, desta forma, selecionamos um

grupo étnico homogêneo a partir do qual nos foi permitido fazer inferências mais fiáveis.

Finalmente, recrutamos apenas colaboradores destros uma vez que diferenças de lateralidade

poderiam gerar vieses nos desempenhos das tarefas computadorizadas realizadas e, além

disso, porque na coleta do DIA 3 avaliou-se o contágio sensório-motor nos colaboradores

enquanto eles observavam mãos direitas sendo tocadas por diferentes objetos. Assim, caso

41

incluíssemos colaboradores com diferentes perfis de lateralidade poderíamos ter um fator de

confusão devido à possibilidade de modulação da sua auto-percepção em relação à mão

direita.

Os colaboradores incluídos na análise tinham em média 21.20 anos de idade (DP =

2.65, mín.-máx.: 18-29 anos; Coef. de variação: 12.51 %) e 93.08% cursavam o Ensino

Superior. Sessenta e quatro sujeitos foram alocados (aleatoriamente) ao Grupo que fez a

inalação de ocitocina sintética (OT), e outros sessenta e quatro colaboradores receberam para

inalação uma solução placebo contendo soro fisiológico. Os anúncios de convocação para as

coletas de dados ocorreram via redes sociais, sendo que os colaboradores receberam créditos

escolares pela participação.

Tabela 1 - Fluxograma do processo de coleta de dados e critérios de exclusão

Período de coletas de dados: Dezembro/2016 - Outubro/2017 (~1000 horas de coleta) Total de coletas realizadas: 175 Exclusões: 47 colaboradores (100%) 11 / 23.40% - Passaram mais do que 4 meses entre a coleta dos dias 1 e 2 para a coleta do dia 3 11 / 23.40% - Não quiseram mais participar do estudo 9 / 19.15% - Pontuaram mais do que 18 pontos no BDI 4 / 8.51% - Tomam medicações que interferem no sistema nervoso central 3 / 6.38% - Tiveram muita dificuldade em compreender as tarefas propostas 2 / 4.25% - Possuíam metais no corpo, ex. pino, marca-passo, etc. 2 / 4.25% - Apresentaram grande grau de ansiedade visivelmente (e fumavam mais do que 5 cigarros por dia) 1 / 2.13% - Era canhoto 1 / 2.13% - Usou uma amostra que foi preparada com uma concentração abaixo do necessário 1 / 2.13% - Fez cateterismo 1 / 2.13% - Teve traumatismo craniano há menos de 4 meses

Incluídos para as coletas dos DIAS 1, 2 e 3: 128 colaboradores (64 em cada Grupo) Dados analisados das coletas no DIA 2: • Tarefa de empatia explícita - 110 colaboradores (incluído apenas quem apresentou ±2 DP em relação à média de intensidade dolorosa percebida: OT = 53; PL = 57) • Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa - 107 colaboradores (incluído apenas quem apresentou taxa de omissão < 20%: OT = 50; PL = 57) Coletas de dados do DIA 3 que foram interrompidas: 11 colaboradores (100%) 7 / 63.63% - MEPs não encontrados 4 / 36.36% - Desconforto durante a coleta de dados que impediu continuação Número de colaboradores, com pelo menos 44% dos registros de MEPs adequados para análise (8 MEPs entre os 18 pulsos liberados por categoria de análise): 73 colaboradores (distribuição nos grupos experimentais: OT = 31; PL = 42)

42

4.2. DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS

4.2.1. Escalas e Questionários

4.2.1.1. Questionário Sócio-Demográfico e Rastreio dos critérios de exclusão para a

administração de ocitocina (OT): questionário que possibilitou a caracterização dos

colaboradores, pois nele se questionou a idade, escolaridade, curso universitário realizado,

histórico de doenças e se o sujeito fazia uso de alguma medicação na época da coleta. As

questões do instrumento de rastreio dos critérios de exclusão para a inalação foram

organizadas para o presente trabalho com base nas informações destacadas por outras

pesquisas na área de administração hormonal via nasal, especificamente a ocitocina. Quanto

aos critérios de exclusão para a inalação da OT, buscamos verificar com 15 questões se o

colaborador tinha alergia à ocitocina sintética ou aos excipientes do syntocinon, se cumpriu as

duas horas de jejum necessárias, evitando a ingestão de café e o consumo de cigarros no dia

da coleta, além de evitar o uso de qualquer droga lícita ou ilícita pelos menos 24 horas antes

do momento da coleta de dados. Ainda, perguntamos se o sujeito estava com congestão nasal

por gripe ou alergia e se recentemente havia feito uso de corticóides ou realizou cirurgia de

correção de desvio de septo nos últimos 40 dias.

4.2.1.2. Inventário de Depressão de Beck (BDI, sigla em inglês; BECK et al., (1961); validada

para o português por GORENSTEIN e ANDRADE, 1998): Escala do tipo Likert de quatro

pontos, que contém 21 questões que avaliam a presença e intensidade de sintomatologia

depressiva nos colaboradores. A escala tem uma gradação de 0-63 pontos, sendo que a nota

de corte para definição de sintomas depressivos de nível moderado a severo varia entre os

perfis amostrais e diferentes culturas. Para a amostra Brasileira em geral, pontuações acima de

18 são consideradas clínicas (ver manual em português produzido por Cunha, p.12, 1996).

4.2.1.3. Rastreio dos critérios de Exclusão para a aplicação da Estimulação Magnética

Transcraniana (EMT): Instrumento aplicado pelo pesquisador, com dez perguntas que

rastrearam a existência de critérios de exclusão para a aplicação da EMT, especificamente,

verificou-se a presença de implantes metálicos no corpo, ocorrência de traumatismos

cranianos e histórico de epilepsia ou convulsões. Ainda perguntávamos se os colaboradores já

haviam participado de pesquisas que utilizaram estimulação cerebral, como Estimulação

Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS) ou Estimulação Magnética Transcraniana

43

(EMT). Respostas afirmativas a uma ou mais questões não necessariamente indicavam

contraindicação absoluta aos procedimentos. Apenas quatro colaboradores foram de fato

excluídos devido a presença de implantes metálicos e traumatismos craniano. Porém, os riscos

e benefícios foram cuidadosamente analisados e discutidos caso a caso. Duração estimada de

aplicação de dois minutos.

4.2.1.4. Inventário de Lateralidade de Edinburgh (OLDFIELD, 1971): Instrumento que avalia

a dominância dos colaboradores em atividades específicas. Assim, o colaborador indicou com

qual mão (esquerda ou direita) ou pé ele comumente realiza dez atividades motoras cotidianas

específicas, como escrever, arremessar, escovar os dentes, entre outras. O uso desse

instrumento teve como objetivo controlar possíveis vieses de tempo de reação para

apresentação das respostas durante as tarefas computadorizadas e justificou-se ainda pelo fato

da tarefa de empatia à dor física apresentar estímulos dolorosos sendo aplicados à mão direita.

Desta forma, espera-se que o contágio sensório-motor pela observação desses estímulos seja

mais eficaz em pessoas destras, na medida em que estas observaram estimulação visualmente

congruente com sua mão dominante. A aplicação durou em torno de três minutos.

4.2.1.5. Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal (EMRI; DAVIS (1983):

Instrumento que avalia o perfil empático dos respondentes. No presente projeto utilizou-se a

versão traduzida e adaptada para o Brasil (SAMPAIO et al., 2011), que contém 26 itens

divididos nas seguintes subescalas: Angústia Pessoal – itens 27, 24, 23, 18, 20 e 15 (ex. “Fico

apreensivo em situações emergenciais”); Consideração Empática – itens 3, 5, 6, 10, 12, 13 e

17 (ex. “Costumo me emocionar com as coisas que vejo acontecer aos outros”); Tomada de

Perspectiva – itens 4, 7, 8, 9, 21, 22 (ex. “Tento compreender o argumento dos outros”); e

Fantasia – itens 1, 2, 14, 16, 19, 25, 26 (ex. “Sinto emoções de um personagem de filme como

se fossem minhas próprias emoções”). Os colaboradores indicaram seu grau de concordância

com cada afirmação por meio de uma escala Likert de cinco pontos, a qual variava de 1 =

"não me descreve bem" a 5 = "descreve-me muito bem". Apenas o item 19 apresentou uma

cotação invertida. A aplicação durou aproximadamente cinco minutos.

4.2.1.6. Escala de Preconceito Flagrante e Sutil (PETTIGREW e MEERTENS, 1995; versão

traduzida para o português por GIRÃO, DINA, & OSÓRIO, 2015): A versão em português da

Escala de Preconceito Flagrante e Sutil foi traduzida e adaptada pela nossa equipe de

laboratório porém, esta versão está em processo de validação. A escala avalia duas formas de

44

expressão de preconceito racial, o flagrante (direto) e o sutil (indireto). O instrumento é

composto por 20 enunciados, sendo 10 itens relacionados ao preconceito flagrante (ex. “Os

Negros conseguem empregos que deveriam ser dos Brancos”) e 10 itens ao preconceito sutil

(ex. “Algumas pessoas não se esforçam o suficiente. Se os Negros se esforçassem mais, eles

seriam tão bem sucedidos quanto os Brancos”), sendo que para as respostas utilizou-se a

escala Likert de quatro pontos, a qual variava de 1 = "discorda fortemente" a 5 = "concorda

fortemente". Quanto maior o escore, maior o perfil preconceituoso do colaborador. A

aplicação durou em torno de cinco minutos.

4.2.1.7. Questionário de Agressividade de Buss-Perry (BUSS e PERRY (1992): A versão em

português desse questionário (GOUVEIA et al., 2008) é composta por 26 itens que avaliam

quatro dimensões da agressividade: física – itens 1, 2, 5, 6, 14, 15, 21 e 22 (ex: “Se alguém

me bater, eu bato nele de volta”); verbal – itens 10, 16, 20 e 26 (ex: “Não consigo ficar calado

(a) quando as pessoas discordam de mim”); raiva – itens 3, 8, 11, 12, 13 e 17 (ex: “Alguns

amigos dizem que sou cabeça quente”); e hostilidade – itens 4, 7, 9, 18, 19, 23, 24 e 25 (ex:

“Quando as pessoas são muito gentis, duvido de suas intenções”). Os colaboradores

respondiam utilizando uma escala Likert de cinco pontos que variava de 1 = “Discordo

totalmente” a 5 = “Concordo totalmente” para indicar seu grau de concordância com cada

item. Quanto maior o escore, maior o perfil agressivo do colaborador. O preenchimento dessa

escala durou cerca de cinco minutos.

4.2.1.8. Questionário de experiências com diferentes grupos étnicos: Questionário construído

para o presente estudo com o intuito de avaliar: o grau de contato e intimidade dos

colaboradores com pessoas de diferentes grupos étnicos; os principais estereótipos

relacionados às pessoas Brancas e Negras (de acordo com a opinião do próprio colaborador e

o que ele acredita que a cultura Brasileira tem de referência desses grupos); e avaliação da

existência de preferências explícitas dos colaboradores em relação a esses grupos étnicos.

Instrumento composto por 29 itens, com questões para serem respondidas ora por escalas

Likert, ora por questões abertas. Instrumento em processo de validação sem que tenha sido

estabelecido a priori critérios para nota de corte. Seu preenchimento durou em média 35

minutos.

4.2.2. Tarefas Computadorizadas (programadas no E-Prime, versão 2.10)

45

4.2.2.1. Tarefa de avaliação das respostas empáticas explícitas durante observação de

situações dolorosas ou neutras (Adaptada de JACKSON, MELTZOFF, DECETY, 2005):

Essa tarefa foi baseada na proposta do estudo de Jackson, Meltzoff, Decety (2005) onde são

apresentadas diferentes situações potencialmente dolorosas ou situações neutras sendo que o

colaborador deve avaliar o quanto de dor ele percebe que a pessoa da imagem sentiu em cada

situação. Os estímulos originais não puderam ser usados, pois o presente estudo se propõe

avaliar diferenças nas respostas empáticas em contextos com pistas raciais. Assim, foi

necessária a criação de novos estímulos apenas com mãos. Estas mãos eram de coloração

Branca e Negra. Tirámos fotos de algumas situações equivalentes ao estudo original e criámos

ainda outras situações. Uma mesma situação era apresentada ora com modelos de mãos

Brancas, ora com modelos de mãos Negras, sendo que estas surgiram em ordem randomizada

durante a aplicação da tarefa. Ainda, considerando a proposta do estudo de Avenanti, Sirigu,

Aglioti (2010), que incluiu um controle de cor de mão das situações apresentadas, inserimos

estímulos das mesmas situações, com mãos Roxas. As mãos foram editadas para produzir a

coloração púrpura no programa Adobe Photoshop CC 2016, sendo todas baseadas nas mãos

Negras, assim teríamos uma mão característica de um exogrupo pela sua forma e pela cor.

Foram apresentadas no total 54 imagens (ver exemplos na Figura 2) coloridas digitais (18 de

cada condição Branca, Negra e Roxa, metade delas em situações potencialmente dolorosas e

outra metade nas situações neutras correspondentes), com resolução de 1280x800 píxeis. As

imagens foram tiradas em um ângulo que promovem uma perspectiva em primeira pessoa e

simulam situações do cotidiano (ex. passar roupa, cortar legumes, abrir um armário, etc.).

Foram representados vários tipos de dor (mecânica, térmica e de pressão) e as mãos exibidas

foram de modelos masculinos. Nessa tarefa avalia-se tendência dos colaboradores de

perceberem uma intensidade dolorosa no outro e em si. Para isso, os estímulos permaneciam

na tela por cinco segundos e, em seguida, surgiam duas perguntas, por um segundo e meio

cada, que avaliavam (a) a intensidade da dor que os colaboradores acreditavam que a pessoa

da imagem estava sentindo (foco no outro) e (b) o quanto de desconforto eles mesmos

sentiram ao ver a imagem (foco em si). As respostas a esses estímulos foram dadas

considerando uma escala Likert que variou entre 1 (“sem dor”) a 9 (“pior dor possível”).

Instruções dessa tarefa encontram-se a baixo. A duração média dessa tarefa foi de 15 minutos.

Observe as imagens a seguir com muita atenção. Essas imagens podem mostrar mãos Brancas, Negras e Roxas em situações potencialmente dolorosas ou situações inofensivas. Você deve classificar cada uma das imagens usando a escala a seguir: 1 = sem dor a 9 = pior dor possível. É muito importante que

46

para avaliar essas imagens você se coloque no lugar da pessoa da imagem. Após analisar a imagem por alguns segundos, você deverá responder as seguintes questões sempre nessa ordem:

- Em sua opinião, quanto de dor a pessoa da imagem está sentindo? (1 = sem dor a 9 = pior dor possível)

- Em sua opinião, quanto de sensação dolorosa você sentiu ao ver essa imagem? (1 = sem dor a 9 = pior dor possível) Para essas questões não existem respostas certas ou erradas, mas sim respostas que melhor descrevem o que você sentiu ao ver cada imagem. Seja o mais sincero possível.

Figura 2 - Ilustração dos estímulos utilizados na Tarefa de avaliação das respostas empáticas explícitas durante observação de situações dolorosas ou neutras com mãos Brancas, Negras e Roxas

4.2.2.2. Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa / Dilema do Policial (TAPP; CORRELL et al.,

2002): Nessa tarefa são apresentados 20 estímulos de diferente cenários (ex., praças, frente de

prédios, universidade, etc.) e 80 estímulos com os mesmos cenários onde se encontra um

homem-alvo, que pode ser da Etnia Branco (endogrupo) ou Negro (exogrupo). Cada alvo

apareceu na tela em uma de cinco possíveis posições corporais (ex. em pé de perfil com a mão

ao longo do corpo ou com a mão próxima peito, em pé posicionado lateralmente, agachado

com a mão próxima ao ombro ou com a mão próxima ao joelho) e segurava uma arma ou um

objeto inofensivo (ex. carteira, celular, lata de refrigerante). Em linhas gerais, os

colaboradores simularam estar no papel social de um policial e, então, julgavam se os

homens-alvo que surgiam nos cenários indicavam ameaça social (alvos armados) ou não

(alvos desarmados). Ver detalhes da instrução dessa tarefa abaixo.

De acordo com o desempenho na tarefa eram oferecidas recompensas ou penalidades

em pontos acumulados durante essa atividade. Estas pontuações eram baseadas nas

consequências sociais reais desse tipo de julgamento: indicação correta de não atirar em um

47

alvo desarmado gerava ganho de cinco pontos (rejeição correta), mas indicando atirar perdia-

se 20 pontos (alarme falso); indicação correta de atirar em resposta a um alvo armado

ganhava-se 10 pontos (acerto), mas indicando não atirar perdia-se 40 pontos (erro). Caso os

colaboradores não respondessem, isso resultaria em uma penalidade de 10 pontos. As

respostas poderiam ocorrer até 630 ms a partir da apresentação desses estímulos de cenário

com um homem-alvo. Essa janela de tempo justifica-se uma vez que o foco do estudo é

exatamente reduzir a variabilidade do tempo de reação e aumentar a ocorrência de erros para

então analisar o viés racial dos colaboradores (janela de tempo de resposta definida de acordo

com CORRELL et al., 2002). Ao término do julgamento de cada estímulo, o total de pontos

acumulados a cada rodada apareciam na tela. Para que os colaboradores não se habituassem

ao momento em que surgia o homem-alvo, foi apresentado um número variado de cenários

sem pessoas, antes da tela onde julgava-se o alvo. A sequência completa de telas era

composta pela seguinte ordem: de 1 a 4 cenários sem pessoas (com 500-1000 ms de

apresentação de cada cenário), cenário com o homem-alvo (500-1000 ms); tela com os pontos

acumulados (1000 ms); e ponto de fixação (500 ms) (ver Figura 3).

O número variado de cenários no início das sequências inclusive foi idealizado nessa

tarefa visando aumentar o engajamento dos colaboradores no jogo, pois assim eles não

saberiam a hora exata que apareceria o homem-alvo e aumentavam sua atenção durante todo o

experimento. Na perspectiva do participante, o homem-alvo aparece de repente na tela. A

tarefa programada em E-Prime, assim como os estímulos originais, foram obtidos no site

oficial do Dr. Correll (http://psych.colorado.edu/~jclab/FPST.html). O tempo estimado para

realização dessa tarefa foi de aproximadamente 15 minutos.

Para jogar esse jogo você irá imaginar que é um policial e portanto deverá decidir o mais rápido possível se os homens que surgem no monitor seguram uma Arma ou um Objeto Inofensivo. - Caso o homem da imagem segure uma Arma isso representa uma ameaça social, e você, como policial, precisa atirar nele. Para isso pressione a tecla “D” para ATIRAR. - Caso o homem da imagem segure um Objeto Inofensivo isso não representa uma ameaça social, e você, como policial, NÃO precisa atirar nele. Para isso pressione a tecla “L” para NÃO ATIRAR. O participante dessa pesquisa que tiver o melhor desempenho, ou seja, que julgar de forma mais exata e rápida possível, e acumular o máximo de pontos possível, ganhará um vale FNAC!!! Considerando as penalidades reais e sociais desses tipos de escolha, todas as suas respostas serão pontuadas seguindo os critérios abaixo: a) Atirar em um alvo ameaçador: +10 pontos

48

b) Não atirar em um alvo ameaçador: -40 pontos c) Atirar em um alvo não ameaçador: -20 pontos d) Rejeitar corretamente atirar em um alvo não ameaçador = +5 pontos e) Ser muito lento em apresentar uma resposta diante de um alvo = -10 pontos Você deverá memorizar essas pontuações, pois ao final da tarefa iremos lhe perguntar sobre esses valores de penalidades. É muito importante que você preste atenção à face dos homens que surgirão no monitor, pois ao final dessa tarefa iremos testar também a sua habilidade de reconhecer os alvos. Os colaboradores que responderem mais de 10 vezes de forma muito lenta serão excluídos da análise final.

Figura 3 - (A) Desenho experimental com duas condições de sequências possíveis (homem-alvo Negro ou Branco) apresentados durante a Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa (CORRELL et al. (2002); (B) Condições experimentais que foram randomicamente apresentadas: alvo Negro com objeto inócuo / com objeto ameaçador ou alvo Branco com objeto inócuo / com objeto ameaçador

Ao final desse teste, os colaboradores realizaram uma Tarefa de Reconhecimento de faces dos homens apresentadas na atividade anterior. Sendo-lhe apresentada a seguinte instrução:

Indique quais das faces Negras e Brancas a seguir foram apresentadas no jogo anterior o Dilema do Policial. Ainda você deverá informar o grau de certeza de cada uma de suas respostas de acordo com a escala a seguir: 1 = pouca certeza a 5 = muita certeza.

4.2.2.3. Tarefa de Associação Implícita racial (IAT racial, sigla em inglês; GREENWALD et

al., 1998): Essa tarefa avalia as atitudes implícitas de viés racial, pela medida da força de

associação entre Conceitos e Atributos. Os Conceitos – Negro e Branco – são representados

por faces de pessoas dos grupos étnicos Negro e Branco. Os Atributos – Positivo e Negativo –

são representados por palavras de valência positiva e negativa, como felicidade, prazer,

horrível e agonia (Figura 4). Para avaliar a força da associação, calcula-se o d-Score baseado

49

nas respostas e tempo de reação dos colaboradores (GREENWALD, NOSEK, BANAJI,

2003). O d-Score é um valor que varia entre -2 e +2, sendo que valores negativos indicam

uma associação mais forte entre Branco com Atributos Positivos e Negros com atributos

Negativos. A tarefa é composta por cinco blocos; o primeiro bloco serve para avaliar a

capacidade de discriminação dos Conceitos e o segundo bloco a discriminação dos Atributos.

No terceiro bloco, momento de avaliação de associações automáticas comuns, os

colaboradores observavam faces e palavras no centro da tela e era instruídos a classificá-las

de acordo com os Conceitos e Atributos que apareciam agrupados nos cantos superiores da

tela, como Branco - Positivos (à esquerda) e Negros – Negativos (à direita). No quarto bloco a

posição dos Conceitos na tela aparecia de forma invertida em comparação ao bloco 1.

Finalmente, no quinto bloco era o momento de avaliação de associações automáticas

incomuns (similar aos terceiro bloco, exceto pelo fato de que a posição dos Conceitos foram

os mesmos do bloco quatro). Metade dos colaboradores realizaram a tarefa na ordem descrita

acima e o restante da amostra realizou a tarefa com os blocos três e cinco na ordem inversa. A

tarefa durou em torno de 15 minutos. Abaixo seguem as instruções apresentadas nessa tarefa.

Você será apresentado a um conjunto de palavras ou imagens para serem classificados em grupos usando os botões “B” e “N”. Classifique os itens o mais rápido que puder, cometendo o menor número de erros possível. Realizando o teste de forma lenta ou cometendo muito erros, resultará em um valor não interpretável. Bloco 1: Aperte “B” se a foto na tela corresponder a uma face da categoria “Branco” e “N” se a foto corresponder a uma face da categoria “Negro”. Bloco 2: Aperte “B” se a palavra na tela corresponder a uma valência da categoria “Positiva” e “N” se a palavra corresponder a uma valência da categoria “Negativa”. Bloco 3: Aperte “B” se a palavra ou a face na tela corresponder as categorias “Branco” ou “Positiva” e “N” se corresponder as categorias “Negro” ou “Negativa”. Bloco 4: Aperte “B” se a foto na tela corresponder a uma face da categoria “Negro” e “N” se a foto corresponder a uma face da categoria “Branco”.

50

Bloco 5: Aperte “B” se a palavra ou a face na tela corresponder as categorias “Negro” ou “Positiva” e “N” se corresponder as categorias “Branco” ou “Negativa”.

Figura 4 - Ilustração dos estímulos apresentados em cada bloco experimental do IAT racial

4.2.2.4. Tarefa de avaliação das respostas implícitas de contágio sensório-motor durante

observação de situações dolorosas ou neutras (AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010):

Replicamos essa tarefa que consistiu na apresentação inicial de uma cruz de fixação que foi

apresentada por 1 seg., seguida de um entre seis diferentes tipos de vídeos com 1.8 segundos

cada (estímulos originais foram disponibilizados pelo Dr. Alessio Avenanti) e finalizamos

com a apresentação de uma tela cinza por 7.2 seg. Esses vídeos mostravam situações

dolorosas ou neutras, respectivamente: (a) seringas (internamente com líquidos de diferentes

cores: vermelho, amarelo ou marrom) penetrando o primeiro interósseo dorsal (FDI, sigla em

inglês) da mão direita de homens ou (b) cotonete (com cabos de diferentes cores: amarelo,

azul ou branco) tocando esse mesmo músculo da mão direita de homens. Essas mãos

poderiam ser de coloração Branca (endogrupo), Negra (exogrupo) ou Roxa (controle de cor)

(ver Figura 5). As mãos Roxas resultaram da edição em programa gráfico (Photoshop) das

mãos Negras, conforme recomendação do estudo original. Nessa tarefa foram apresentados

seis blocos ordenados de maneira pseudo-randomizada, com 18 vídeos em cada bloco, sendo

que dentro do mesmo bloco mostrava-se apenas um tipo de vídeo (mão Branca-seringa / mão

51

Branca-cotonete / mão Negra-seringa / mão Negra-cotonete / mão Roxa-seringa / mão Roxa-

cotonete). As instruções da tarefa eram:

Mantenha seus braços relaxados durante o experimento e busque movimentar-se o mínimo possível. Assista, com muita atenção, a todos os vídeos a seguir. Ao final da apresentação de todos os vídeos, lhe faremos perguntas sobre o que você observou.

Durante a apresentação dos vídeos, programamos para ocorrer a liberação de um pulso

magnético pelo aparelho de Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) que estava com sua

bobina posicionada sobre a área do córtex motor primário (M1) no hemisfério esquerdo, sobre

a região que corresponde ao controle da mão direita do colaborador. Utilizamos essa técnica

para medir alterações na excitabilidade cortical de representações córtico-espinais corporais

dos colaboradores durante a observação desses vídeos. O pulso poderia surgir a qualquer

momento entre os 200-600 ms antes do fim da apresentação do vídeo para evitar quaisquer

efeitos de priming que pudessem afetar o contágio sensório-motor medido pelo potencial

evocado motor (MEP) dos colaboradores. Ainda, programamos a tarefa de forma que a

distância entre um pulso magnético e outro fosse de 10 seg, uma vez que nosso objetivo não

era produzir uma neuromodulação. Os potenciais motores evocados foram registrados pelo

posicionamento de dois pares de eletrodos de um eletromiógrafo (EMG). O par de eletrodos

que coletava os registros do músculo alvo, nomeadamente o FDI, estava sobre a mesma

musculatura da mão do participante que era estimulada nos vídeos dessa tarefa. Além disso,

para avaliarmos a especificidade da resposta de contágio-sensório motor sobre FDI foi

necessário contrastar esses registros com os dados advindos do posicionamento de outro par

de eletrodos controle em uma musculatura neutra (que não sofria estimulação durante os

vídeos apresentados). Conforme montagem proposta por Avenanti, Sirigu & Aglioti (2010), o

músculo controle selecionado foi o Músculo Abdutor do Mínimo (ADM).

52

Figura 5 - (A) Desenho experimental da Tarefa de avaliação do contágio sensório-motor ao observar dor no outro e (B) estímulos originais de Avenanti Stimuli, Sirigu & Aglioti (2010)

Após a conclusão da Tarefa de avaliação do contágio sensório-motor ao observar dor

no outro solicitamos que os colaboradores respondessem três tipos de perguntas: primeiro

para avaliar, de forma explícita, a intensidade de dor que eles acreditavam que as pessoas dos

vídeos e eles mesmo sentiram durante cada uma das situações apresentas (usando uma escala

que variou de 1 = “nenhuma dor sentida” a 9 = “máximo de dor sentida”); segundo, perguntas

que avaliaram o grau de familiaridade visual e similaridade física entre a mão do colaborador

em relação as mãos dos vídeos (ver detalhes das instruções a baixo); e terceiro, perguntas

sobre as cores dos objetos apresentados nos vídeos, assim como perguntas sobre

características das mãos dos vídeos (definição do gênero e idade estimada) para avaliar o grau

de atenção dos colaboradores na tarefa proposta. A tarefa durou aproximadamente 80

minutos.

Antes de finalizar a tarefa hoje, você deverá observar uma vez mais cada tipo de vídeo da tarefa anterior para responder as seguintes questões: - Em sua opinião, quanto de dor a pessoa do vídeo sentiu em cada situação? (1

= sem nenhum efeito doloroso a 9 = máximo de efeito doloroso imaginado) - Em sua opinião, quanto de dor você sentiu ao ver cada situação? (1 = sem

nenhum efeito doloroso em mim a 9 = máximo de efeito doloroso imaginado) - Em sua opinião, quanto cada estímulo observado é visualmente familiar na

sua própria mão? (1 = inteiramente desconhecida a 9 = inteiramente familiar)

- Em sua opinião, quanto cada estímulo observado é fisicamente similar à sua própria mão? (1 = inteiramente diferente a 9 = inteiramente similar)

53

4.2.3. Técnica

4.2.3.1. Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): No presente estudo, essa técnica foi

utilizada para a mensuração de excitabilidade cortical. O aparelho utilizado é da marca

Magstim Bistim, sendo que o pulso magnético foi realizado utilizando uma bobina em

formato de 8 com 70 mm de diametro. Desenvolvemos um material informativo para o uso

dessa técnica visando a padronização da aplicação em relação aos materiais necessários para

esse tipo de coleta, parâmetros de como encontramos a região cortical de interesse e

referências para o procedimento de extração de dados. Os dados eletromiográficos foram

coletados por pares de eletrodos posicionados no músculo alvo (FDI) e músculo controle

(ADM), conectados ao amplificador de 5 canais Myoquick 1400ME e registrados com o

software SystemPlus.

Realizámos o posicionamento dos dois pares de eletrodos em cada um dos músculos

por uma montagem do tipo protuberância do músculo-articulação (Figura 6), onde o “pólo +”

(protuberância do músculo) e o “pólo –” (articulação) distanciaram-se entre 2-4 cm

(BASHIR, PEREZ, HORVATH, & PASCUAL-LEONE, 2013). Os cabos desses eletrodos

permaneceram entrelaçados entre si durante todas as coletas para que anulassem seus campos

magnéticos, uma vez que eles não eram blindados. Os parâmetros no Sistem Plus incluíram

EMG coletado com uma amostragem de 10kHZ e filtro band-pass de 20Hz-2.5kHz

(AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010). O Myoquick, outro aparelho também utilizado

nesse sistema, possibilitou a amplificação e registro de medidas neurofisiológicas dos

potenciais evocados por EMT. A delimitação do hotspot, região cortical alvo, baseou-se em

Bashir, Perez, Horvath & Pascual-Leone (2013) que demonstraram que a distância

correspondente à FDI e à ADM é mínima, portanto passível de sobreposição. Assim, a

Posição Ótima no Escalpe (POE) no hemisfério esquerdo foi encontrada com a bobina

orientada com uma rotação de ~ 45 graus, no sentido anti-horário, a partir do sulco central.

Buscamos primeiramente determinar o Limiar Motor (LM) em ADM, musculatura que

necessitava de uma potência na EMT ligeiramente maior em comparação ao FDI. O LM foi

obtido considerando a menor intensidade da máquina de EMT na qual pelo menos 5 em 10

pulsos sobre a POE resultavam em um potencial evocado motor (MEP) de 50µV ou maior.

Seguindo os parâmetro do estudo que buscamos replicar, a intensidade do pulso magnético

aplicado durante a Tarefa de avaliação do contágio sensório-motor ao observar dor no outro

foi de 130% do limiar motor de repouso encontrado, para assim obtermos um sinal estável em

ambas musculaturas.

54

Figura 6 - Da esquerda para a direita: eletrodos utilizados; eletrodos posicionados para registro de FDI; configuração completa de montagem dos eletrodos de EMG, ponto preto corresponde ao “pólo +” (protuberância do músculo - musculaturas alvos) e ponto cinza corresponde ao “pólo –” (articulação - eletrodo de referência); posicionamento da bobina de EMT sobre M1.

4.2.4. Amostras para inalação

4.2.4.1. Solução com Ocitocina sintética (OT) e solução Placebo (PL): Os colaboradores

fizeram a autoadministração intranasal de uma dose de 24 UI de OT (três nebulizações, de 4

UI, em cada narina – concentração de OT baseada nos estudos da área referenciados nesse

projeto) ou de uma solução placebo (soro fisiológico), 40 minutos antes do início das tarefas

computadorizadas. Em ambos os grupos os colaboradores receberam a mesma embalagem

porém, no grupo placebo, esta possuía uma solução neutra em que a OT não estava presente.

As soluções foram preparadas em monodose no Laboratório de Bioquímica da Universidade

Presbiteriana Mackenzie (UPM), sendo que o farmacêutico responsável pelo preparo das

amostras foi quem determinou códigos genéricos para caracterizar cada tipo de embalagem

visando preservar o sigilo das amostras utilizadas. Apenas no momento de tabulação e análise

do dados as identificações das amostras foram reveladas.

4.4. PROCEDIMENTO

Assim que os colaboradores chegavam ao Laboratório de Neurociência Social e

Cognitiva da UPM eram recebidos pela equipe de coleta a qual lhes apresentavam uma

descrição completa das etapas do presente estudo, sendo-lhes então solicitada a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esse estudo consiste em um único estudo uma

vez que nosso objetivo foi avaliar efeitos pró- e anti-sociais da OT nos comportamentos

sociais na mesma amostra de colaboradores. A coleta ocorreu em três dias distintos com

duração média de 2h cada encontro, perfazendo cerca de 6h de participação de cada

55

colaborador no estudo (total de aproximadamente 770h de coleta de dados completa, apenas

considerando os participantes incluídos na amostra final). Para isso, no DIA 1 de coleta os

colaboradores preencheram as seguintes escalas e questionários nesta ordem: Questionário

Sócio-Demográfico e Rastreio dos critérios de exclusão para a administração de ocitocina;

Inventário Beck de Depressão; Rastreio dos critérios de Exclusão para a aplicação da

Estimulação Magnética Transcraniana; Inventário de Lateralidade de Edinburgh; Escala

Multidimensional de Reatividade Interpessoal; Escala de Preconceito Flagrante e Sutil;

Questionário de Agressividade de Buss-Perry; e Questionário de experiências com diferentes

grupos étnicos. Os colaboradores permaneciam sozinhos na sala de coleta e o pesquisador

sempre avisava que não avaliaríamos as respostas de uma forma individual, mas sim coletiva,

e que resguardaríamos a identidade do colaborador. Por fim, os colaboradores realizaram,

acompanhados pelo pesquisador, um treino das tarefas computadorizadas, pois no próximo

dia de coleta eles estariam sozinhos em sala e precisariam estar familiarizados com as tarefas

aplicadas.

As coletas de dados dos DIAS 2 e 3 ocorreram com uma distância máxima de 15

semanas (devido à logística de uso do espaço), entre as 12h e 16h, para controle de oscilações

hormonais normais que ocorrem ao longo do dia. Ainda, solicitou-se que os colaboradores

chegassem para a coleta com jejum de duas horas (exceto água), que não fumassem nem

tomassem café no dia da coleta, nem consumissem drogas lícitas ou ilícitas pelo menos 24

horas antes da coleta. Após conferência desses quesitos fundamentais para a devida aplicação

dos procedimentos previstos, os colaboradores fizeram a auto-administração de uma das duas

substâncias selecionadas, ocitocina ou solução placebo. O estudo foi duplo-cego, pois nem os

colaboradores, nem os pesquisadores tinham conhecimento sobre qual substância foi inalada.

Em seguida, eles permaneceram na sala de coleta sozinhos por 40 minutos sem realizar

qualquer atividade (incluindo consultar o celular) para que a OT alcançasse gradativamente

seu estado de equilíbrio, então buscávamos aplicar as tarefas de cada encontro em até 50

minutos, tempo em que ainda se observa seu efeito modulatório no cérebro (BORN et al.

2002). No DIA 2, quando o tempo de espera encerrava-se, um dos pesquisadores retornava à

sala para iniciar as tarefas computadorizadas previstas e saia da sala na sequência. Em uma

ordem randomizada pelo programa, foram apresentadas as seguintes atividades: Tarefa de

percepção explícita de dor no outro e Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa / Dilema do

Policial. No final dessa coleta verificávamos se os colaboradores perceberam alguma

mudança corporal relacionada à inalação da substância recebida e qual foi o seu grau de

ansiedade durante o momento de espera (escala Likert entre 1 = “nada ansioso” a 5 = “muito

56

ansioso”). Antes dos colaboradores irem embora, era oferecido um lanche considerando o

tempo prolongado de jejum e agendávamos o dia da última coleta.

No DIA 3, a coleta era iniciada com a conferência dos quesitos fundamentais para a

nova auto-administração do mesmo tipo de substância inalada no DIA 2 de coleta. Os

colaboradores responderam à Tarefa de Associação Implícita racial e então, o pesquisador

posicionava os eletrodos do eletromiógrafo sobre as musculaturas de interesse da mão direita

dos colaboradores (FDI, alvo e ADM, controle). Além disso, foi realizada a etapa de

neuronavegação para a conferência da representação cortical do primeiro interósseo dorsal

(FDI), considerada a Posição Ótima no Escalpe (POE). A POE foi identificada com o uso da

EMT por meio de pulsos simples e registros da contração muscular por análise

eletromiográfica, sendo que a tarefa seria iniciada quando era possível induzir MEPs no

músculo controle (ADM) com amplitude de pico a pico > 50 µV em ao menos cinco entre dez

aplicações.

A partir disso, conduziu-se a medida de linha de base dos potenciais evocados motores

para registrar a excitabilidade cortical anterior à inalação e realização da tarefa

computadorizada. Em seguida, os colaboradores fizeram a inalação da substância selecionada

e aguardaram 40 minutos na sala de coleta sem realizar qualquer atividade. Após esse tempo,

conduzimos mais uma vez uma medida para avaliar a excitabilidade cortical pós-inalação,

para verificar possíveis impactos da inalação na intensidade de contração muscular sem a

apresentação de nenhum estímulo. Somente após essas etapas, foi aplicada a Tarefa de

avaliação do contágio sensório-motor ao observar dor no outro enquanto mediamos os MEPs

dos colaboradores durante a observação dos vídeos dessa tarefa. Por último, fizemos algumas

perguntas sobre essa tarefa para verificar o grau de atenção do colaborador durante o

experimento; avaliamos possíveis efeitos colaterais relacionados à inalação e verificamos o

grau de ansiedade dos colaboradores durante a espera. Finalmente, apresentamos uma breve

devolutiva (que abarcou uma explicação geral do estudo) e os colaboradores partilharam suas

impressões acerca da experiência conosco. Nesse momento avisamos que posteriormente

enviaríamos por e-mail um resumo dos principais achados do trabalho. Novamente

oferecemos um lanche e entregamos o comprovante de participação na pesquisa para a

validação de créditos escolares.

4.5. ANÁLISE DOS DADOS

57

A análise dos dados foi conduzida com o uso do pacote IBM SPSS Statistics 21.0,

respeitando-se a distribuição dos dados e estabelecendo para todos os testes estatísticos um

erro de α=5%. Quanto aos dados sócio-demográficos, estatística descritiva com valores de

média e desvio-padrão foram calculados para as escalas e questionários preenchidas, além de

terem sido conduzidos Testes-t para amostras independentes para comparar o perfil dos dois

grupos amostrais. Para explorar quais os principais estereótipos atribuídos à pessoas Brancas

e Negras, utilizamos um programa próprio para análise de dados textuais chamado ALCEST.

Assim, essa análise possibilitou um mapeamento dos três estereótipos comumente associados

a cada um desses grupos étnicos pelos colaboradores desse estudo. Teste de Qui-quadrado foi

conduzido para avaliar a efetividade da coleta duplo-cego e portanto averiguar se os

colaboradores identificaram a substância inalada.

Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa. Os valores da latência das respostas corretas

sofreram uma transformação logarítmica para a condução das análises estatísticas porém, nos

gráficos apresentados na seção de resultados, seus valores foram apresentados em

milissegundos para facilitar a compreensão dos dados. Conduziu-se uma ANOVA mista 2

(Etnia: Negro, Branco) x 2 (Objeto: Arma, Não-Arma), com as variáveis dependentes taxa de

erro e latência de resposta corretas, fator entre-sujeito Grupos Experimentais (OT, PL), com

comparação entre médias do tipo LSD. Em todos os testes de diferenças conduzidos nessa e

nas demais tarefas, reportamos as magnitudes dos efeitos – ANOVA mista, ƞ: pequeno a

partir de .02; médio .13 e grande .26 (ESPÍRITO-SANTO & DANIEL, 2018).

Ainda, os dados dessa tarefa foram reorganizados de maneira a nos permitir conduzir

uma análise segundo a Teoria de Detecção de Sinal (HARVEY, 1992). Essa teoria propõem

uma análise em separado dos processos sensoriais e decisórios durante a execução dessa

tarefa. As variáveis analisadas destes processos são conhecidas como sensibilidade (d’) e

critério de decisão (c), as quais são decorrentes de cálculos com as medidas das taxas de

Atirar Corretamente e as taxas de Falsos Alarmes. Harvey (1992) assumiu que a sensibilidade

de discriminar alvos tem distribuições normais (ver Figura 7 para compreensão esquemática

da Teoria de Detecção de Sinais). Dessa forma, o índice de sensibilidade (d’) indica a

capacidade de discriminação de um sinal (no contexto do presente estudo, seriam os estímulos

de indivíduos segurando armas) em relação a ruídos (estímulos de indivíduos segurando

outros objetos que não armas). Assim, quanto melhor a sensibilidade do colaborador, mais

distantes serão as curvas de distribuições. Vale destacar que valores baixos de sensibilidade

produzem elevadas taxas de Falsos Alarmes (atirar em alvos desarmados) e elevadas taxas de

58

Perdas (não atirar em alvos armados). O ponto de encontro entre essas curvas caracteriza uma

limitação perceptiva do colaborador que, nesse momento, não consegue discriminar entre

alvos armados e desarmados. Esse viés perceptivo tem um limiar que varia de acordo com as

características pessoais de cada colaborador. Aqueles que apresentam uma maior

predisposição em atirar em um alvo, apesar dele estar desarmado, terão o critério de decisão

(c) com um menor limiar. Isso produz elevadas taxas de Falsos Alarmes e baixas taxas de

Perdas. Por outro lado, colaboradores com menor predisposição a atirar em alvos terão o

critério de decisão com um maior limiar. Testes-t para amostras independentes foram

conduzidas para comparar as medidas de sensibilidade e critério de decisão entre (a) as

amostras Norte-americanas (estudo original) e Brasileira; e em nosso estudo (b) comparando

as amostras OT e PL. Em todos os testes de diferenças conduzidos nessa e nas demais tarefas,

reportamos as magnitudes dos efeitos – Teste-t, d de Cohen: pequeno, a partir de 0.20, médio

0.50, e grande 0.80 (ESPÍRITO-SANTO & DANIEL, 2018).

Figura 7 – (A) Distribuições normais hipotéticas dos resultados com a presença (armas) ou ausência (objeto

inócuo) de sinais. Tais distribuições são construídas separadamente entre os alvos Negros e Brancos para a

Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa. A linha vertical representa o limiar do critério de decisão do

SENSIBILIDADE

Distribuição de Ruído (Não-Arma)

Probabilidade

Percepção de Ameaça

Distribuição de Sinal (Arma)

CRITÉRIO DE DECISÃO

Não Atirar Atirar

Taxa Atirar Corretamente Taxa Não Atirar

Taxa Falso Alarme Taxa Rejeição Correta

Sinal presente

Sinal ausente

Não Atirar Atirar

A

B

59

colaborador. Valores acima do limiar indicam resposta de “atirar” no alvo, enquanto que valores a baixo ou

iguais ao critério indicam respostas de “não atirar” no alvo; (B) Condições prováveis de respostas em

Paradigmas de Detecção de Sinal (figura baseada nas ilustrações do material do curso de Psicologia da

Percepção da Universidade do Colorado, ministrada pelo Prof. Lewis O. Harvey)

Tarefa de empatia explícita à dor física no outro. ANOVA mista 2 (Perspectiva da dor

percebida: pelo Outro, em Si) x 3 (Cor da mão: Negro, Branco, Roxa) x 2 (Situação:

Dolorosa, Neutra), com a variável dependente intensidade de dor física percebida e fator

inter-sujeitos Grupo (OT, PL).

Tarefa de empatia implícita à dor física no outro. Para esta análise das medidas

implícitas de empatia, primeiramente foi necessário o pré-processamento dos dados de

potenciais motores evocados (MEPs) indicativos da intensidade de contágio sensório-motor

dos colaboradores ao observarem os vídeos de situações dolorosas ou neutras. As etapas

compostas nesta fase para cada colaborador envolviam: marcação no Sistem Plus dos pontos

de interesse do MEP, como momento de início (onset) e fim, além dos pontos mais altos e

baixos para determinação da amplitude (2h); extração dos valores referentes a estas

marcações para o Word (1h); e reorganização de dados no Excel (1h). No total, a atividade de

pré-processamento dos dados dos 128 colaboradores que participaram da coleta do dia 3

decorreu em aproximadamente em 512 horas, sendo que dez integrantes da equipe

contribuíram para essa etapa. A partir disso, um técnico, especialista em Tecnologia de

Informação, de uma equipe parceira do Social and Affective Neuroscience Laboratory,

University of Haifa (Israel) e a aluna responsável por esse trabalho desenvolveram um código

de programação no software Python para organizar os dados de MEPs visando as variáveis de

interesse para as análises estatísticas subsequentes. A criação desta linha de programação

demorou 32 dias, permitindo que posteriormente o processamento completo dos dados dos

128 participantes ocorresse em menos do que 1 hora. Dez por cento dos casos foram revistos

após a execução desse processamento para confirmar a inexistência de erros.

As medidas de MEP analisadas foram: (a) percentagem de MEPs salvos por categoria de

estímulos apresentados (assim definimos critérios para a exclusão de participantes nessa

tarefa); (b) latência do MEP (em ms); (c) o momento de início (onset, em ms); e (d) subtração

das amplitudes dos MEPs de situações dolorosas menos as situações neutras (análise do

contágio sensório-motor). Essas informações foram analisadas por ANOVAs mistas para

comparação das medidas de MEPs entre Momentos (com 2 níveis: pré- e pós-inalação) e em

60

seguida, uma análise 3 (Cor da mão: Negro, Branco, Roxa) x 2 (Situação: Dolorosa, Neutra) x

2 (Músculo: FDI, ADM) com Grupo como fator inter-sujeitos (OT, PL). Para avaliarmos

efeitos modulatórios da OT sobre o nível de contágio sensório-motor em FDI conduzimos

primeiramente três Testes-t para uma amostra contrastando os valores médios de cada

categoria de cor de mão com 0 e em seguida uma ANOVA mista com amplitudes dos MEPs

de situações de [dor] – [neutra] diante da observação de mãos Brancas e Negras como

variável dependente e Grupo (OT, PL) como fator inter-sujeitos.

4.6. ASPECTOS ÉTICOS

O estudo foi conduzido de acordo com os requerimentos do Comitê de Ética da

Universidade Presbiteriana Mackenzie e também baseado nas recomendações estabelecidas

na Declaração de Helsinki (1964), conforme emenda em Tóquio (1975), Veneza (1983) e

Hong- Kong (1989). A todos os colaboradores foram apresentados os objetivos e métodos

propostos nesse experimento, sendo que as coletas apenas iniciaram-se após eles terem

assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os colaboradores foram

devidamente avisados que poderiam deixar o estudo a qualquer momento que desejassem sem

necessidade de justificativa e sem lhes causar qualquer prejuízo. Além disso, todas as

informações fornecidas foram estritamente sigilosas, e cada participante foi referenciado por

uma codificação de cinco dígitos (construída a partir da idade do colaborador no DIA 1 de

coleta e a posição deste considerando a ordem de coleta realizada). A coleta de dados do

presente estudo foi completada anteriormente à etapa de Qualificação do Doutorado devido a

extensa dedicação necessária para essa fase e considerando o curto período remanescente de

vigência da bolsa FAPESP. Todavia, nosso respaldo sustentou-se na aprovação pela FAPESP

da proposta metodológica presente e, evidentemente, pela aprovação pelo Comitê de Ética da

Universidade Presbiteriana Mackenzie e pela Plataforma Brasil (CAAE:

25874414.0.0000.0084).

61

5. RESULTADOS

5.1.Caracterização da amostra

Teste-t para amostras independentes não revelou diferenças estatisticamente

significativas entre os grupos em relação as variáveis de caracterização (ver detalhes na

Tabela 2). Os grupos PL e OT apresentaram um padrão de resultados semelhante, em que

observa-se: ausência de sintomas depressivos clinicamente relevantes; maior nível de contato

com pessoas Brancas em comparação a pessoas Negras; automatização da associação entre a

Etnia Branco com atributos positivos e Negro com atributos negativos; durante os 40 minutos

de espera após inalação da substância distribuída, o nível de ansiedade dos colaboradores era

de intensidade média; na avaliação de agressividade, os colaboradores revelaram que diante

de situações ameaçadoras eles têm mais comportamentos hostis e menos comportamentos de

agressividade verbal; na avaliação de empatia os colaboradores pontuaram maior nível de

consideração empática e menor de angústia pessoal; um perfil preconceito mais sutil do que

explicitamente evidente; e estereótipos favorecendo pessoas Brancas em detrimento de

pessoas Negras.

Teste de Qui-quadrado revelou que os colaboradores não diferenciaram o tipo de

substância inalada, χ2(1) = .32, p = .571. Nos dois grupos, a maioria dos colaboradores

indicou ter auto-administrado a substância placebo (69% do grupo PL e 63% do grupo OT).

Ainda, não se observaram diferenças estatisticamente significativas para a ordem de

apresentação dos instrumentos aplicados neste projeto.

62

Tabela 2 - Caracterização dos colaboradores por Grupo e comparação por Teste-t para amostras independentes

PL OT Teste-t

(t)

M (DP) M (DP) Idade 20.79 (2.41) 21.56 (2.81) .12 BDI 6.20 (3.56) 6.32 (4.14) .18 Nível de contato com pessoas Negras 1 4.39 (1.76) 4.10 (1.81) .82 Limiar motor 42.03 (5.67) 42.75 (5.56) .68 IAT racial 2 -.85 (.46) -1.00 (.49) .74 Nível de ansiedade durante espera 3 2.60 (1.24) 2.64 (1.28) -.13 Questionário de Agressividade Total 63.07 (14.25) 61.98 (14.28) .99 Física 16.68 (4.80) 16.60 (5.23) .78 Verbal 11.44 (2.76) 11.15 (3.16) .23 Raiva 13.62 (5.30) 12.96 (4.66) .97 Hostilidade 21.58 (5.26) 21.27 (6.15) .36 Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal

Total 91.99 (13.01) 92.34 (13.48) .15 Tomada de Perspectiva 23.57 (3.19) 23.75 (3.20) .33 Consideração Empática 24.58 (4.13) 25.09 (4.13) .69 Angústia Pessoal 19.58 (5.13) 19.12 (5.33) -.49 Fantasia 24.26 (4.78) 24.50 (4.64) .28

Escala de Preconceito Flagrante e Sutil Total 1.57 (.27) 1.60 (.38) -.42 Preconceito Flagrante 1.36 (.26) 1.37 (.28) -.10 Preconceito Sutil 1.77 (.36) 1.83 (.53) -.53

Classes de palavras Estereótipos mais frequentes

Para o próprio colaborador Pessoas Brancas (1) elitista (2) superior (3) rico (4) trabalhador Pessoas Negras (1) desfavorecidos (2) trabalhador (3) pobre (4) forte

Para a cultura Brasileira na opinião do colaborador

Pessoas Brancas (1) classe média (2) mimado (3) preconceituoso (4) bonito

(5) honesto (6) confiável

Pessoas Negras (1) malandro (2) ladrão (3) pobre (4) bandido (5) forte (6)

trabalhador

1 Nível de contato com pessoas Negras: 1 = contato baixo à 7 = contato alto; 2 Extensão de resultados: - 2 (associação forte entre Branco com Atributo Positivo e Negro com Atributo Negativo) à +2 (Branco com Negativo e Negro com Positivo); 3 Nível de ansiedade durante espera: 1 = nada ansioso à 5 = muito ansioso; (t) nenhum teste-t apresentou efeito estatisticamente significativo.

5.2.Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa (TAPP)

Colaboradores com uma taxa de omissão no TAPP maior do que 20% foram excluídos

da análise. Permaneceram nas análises subsequentes 57 colaboradores no grupo PL e 50

63

colaboradores no grupo OT, sendo suas taxas de omissões de 10.93% (DP=4.85) e 9.60%

(DP=4.52), respectivamente, t(56) = 1.46, p = n.s.

5.2.1.Taxa de Erro

O grupo PL apresentou cerca de 17.28% (DP=10.53) de respostas incorretas e o grupo

OT cerca de 14.54% (DP=10.60), t(56) = 1.34, p = n.s. ANOVA mista para analisar a taxa de

erro, com Etnia (Negro ou Branco) e Objeto (Arma e Não-Arma) como fatores intra-sujeitos,

e Grupo como fator inter-sujeitos revelou efeito principal de Etnia, F(1,105) = 5.17, p = .025,

ηp2 = .047, e Objeto, F(1,105) = 6.57, p = .012, ηp

2 = .059. A taxa de erro foi maior para alvos

Brancos (M = 16.71, DP = 1.11) em comparação aos alvos Negro (M = 15.11, DP = 1.05), e

para Não-Armas (M = 17.21, DP = 1.30) em comparação com Armas (M = 14.61, DP = .96),

respectivamente. A interação Etnia x Objeto também foi significativa, F(1,105) = 6.20, p =

.014, ηp2 = .056. A comparação entre as médias indicou que os colaboradores foram mais

precisos em detectar alvos Negros armados (M = 12.97, DP = 10.50) em comparação com os

demais alvos (Figura 8). Não se verificou nenhum efeito estatisticamente significativo na

interação Etnia x Objeto x Grupo, F(1,105) = .88, p = .351, ηp2 = .008, e nem para Grupo como

fator inter-sujeitos, F(1,105) = 1.79, p = .184, ηp2 = .017.

Figura 8 - (a) Taxa de Erro por cada tipo de estímulo no TAPP. ** p<.05; *** p<.001.

Adicionalmente a essa análise, o padrão das respostas corretas (Atirar Corretamente e

Rejeição Correta) foi explorado utilizando-se ANOVA mista com os mesmos fatores intra-

(Etnia e Objeto) e inter-sujeitos (Grupo). Observou-se que a interação Etnia x Grupo foi

64

significativa, F(1,105) = 5.44, p = .022, ηp2 = .049 (Figura 9). Esse resultado ocorreu uma vez

que os colaboradores do grupo PL apresentaram uma taxa de Rejeição Correta mais elevada

para os alvos Brancos (M = 17.12, DP = 3.67) em comparação com os alvos Negros (M =

15.77, DP = 3.94), enquanto nenhuma diferença entre os Grupos Étnicos foi observada no

grupo OT (Alvos Brancos: M = 17.60, DP = 3.74; Alvos Negros: M = 17.30, DP = 3.74).

Ambos os Grupos exibiram taxas mais elevadas de Atirar Corretamente em alvos Negros em

comparação aos Alvos Brancos (PL: t(56) = 2.33, p < 0.05; OT: t(49) = 5.35, p < 0.001).

Figura 9 - Taxa de Rejeição Correta por cada Grupo no TAPP. * p<.05.

5.2.2.Latência de Resposta

Para a análise da latência de resposta foi conduzida novamente uma ANOVA mista,

com Etnia e Objeto como fatores intra-sujeitos e Grupo como fator inter-sujeitos, sendo que

foi observado efeito principal de Objeto, F(1,105) = 163.13, p < .001, ηp2 = .608, assim os

colaboradores eram mais rápidos em julgar Armas (M = 475.04, DP = 3.10) em comparação a

Não-Armas (M = 523.61, DP = 4.41). Ainda, a interação entre Etnia x Objeto também foi

estatisticamente significativa, F(1,105) = 5.82, p = .018, ηp2 = .053, uma vez que os

colaboradores precisaram de mais tempo para classificar corretamente um alvo Negro

desarmado (M = 526.80, DP = 4.68) em comparação com os demais alvos (Figura 10).

Demais efeitos não foram estatisticamente significativos, inclusive Etnia x Objeto x Grupo,

F(1,105) = .47, p = .496, ηp2 = .004 e Grupo como um fatore inter-sujeitos, F(1,105) = .13, p =

.723, ηp2 = .001.

15

16

17

18

19

Brancos Negros Brancos Negros

PL OT

Taxa

de

Rej

eiçã

o C

orre

ta

*

65

Figura 10 - Latência de Resposta por cada tipo de estímulo no TAPP. * p<.05; *** p<.001.

5.2.3.Análise de Detecção de Sinal

Inicialmente, comparamos os resultados da análise de detecção de sinal entre o estudo

original de Correll (2002) e os resultados do grupo PL da presente pesquisa (ver Figura 11)

para melhor compreender o impacto de diferenças culturais na replicação de tarefas clássicas.

Dessa forma, constatamos uma sensibilidade maior dos colaboradores Norte-Americanos em

comparação aos Brasileiros na discriminação de objetos (d’EUA > d’BR; t(99) = 1.93, p = .045,

d = .39), sem diferença entre os alvos Negros e Brancos. Em relação ao critério de decisão de

atirar, ambas as amostras revelaram critérios positivos, e portanto mais rígidos, diante de

alvos Brancos e critérios negativos, ou seja, mais lenientes, diante de alvos Negros. Assim, as

duas amostras revelaram um viés negativo diante de alvos Negros com taxas maior de falso

alarme, uma vez que decidiram atirar mais em Negros, mesmo quando estes alvos estavam

desarmados. Todavia, vale destacar que a avaliação do tamanho de efeito da diferença entre

cBranco e cNegro foi 2.93 vezes maior na amostra Norte-Americana em comparação aos

resultados na amostra Brasileira.

66

Figura 11 - (a) Comparação dos resultados de cBranco, cNegro e d’Branco, d’Negro entre amostras Norte-Americana e Brasileira. <.10; * p<.05.

Em seguida, os índices de sensibilidade d'Negro e d'Branco foram comparados, por Teste-t

para amostras em pares, para cada um dos Grupos Experimentais de nossa amostra

separadamente (Figura 12A). Essa comparação não revelou diferenças estatisticamente

significativas entre os d’ do grupo PL, t(56) = .27, p = .789, r = .04 (d'Negro: M = 2.08, DP =

1.17; d'Branco: M = 2.04, DP = 1.27), nem entre os d’ do grupo OT, t(49) = 1.66, p = .104, r =

.23 (d'Negro: M = 2.57, DP = 1.44; d'Branco: M = 2.30, DP = 1.25). Entretanto, a comparação,

por Teste-t para amostras independentes, entre os d'Negro dos grupos PL vs. OT revelou uma

diferença marginalmente significativa, t(105) = 1.95, p = .053, sendo que a OT tende a

melhorar a sensibilidade dos voluntários diante de alvos Negros (Figura 10A). Nenhuma

diferença foi encontrada na comparação entre os d'Branco, t(105) = 1.09, n.s. Assim como para

o critério de decisão, os resultados do Teste-t para amostras em pares revelou que cNegro (M = -

.12, SD = .37) foi significativamente menor do que cBranco (M = .02, SD = .36) no grupo PL,

t(56) = -2.32, p = 0.024, r = 0.30, o que replica os resultados originais de Correll et al (2002).

Além disso, essa diferença observada foi reduzida no grupo OT, t(49) = -1.63, p = .109, r =

.23 (cNegro: M = -.10, DP = .32; cBranco : M = .02, DP = .44), como pode ser observado na

67

Figura 10B. A comparação, por Teste-t para amostras independentes, entre os cNegro e cBranco

não revelou diferença significativa entre dos grupos PL vs. OT.

Figura 12 - (A) Sensibilidade (B) Critério de Decisão por cada tipo de estímulo, por substância inalada. <.10; * p<.05.

5.2.4.Tarefa de Reconhecimento Facial

ANOVA mista 2 (Etnia: Negro, Branco) x 2 (Tipo: Velha, Nova) com habilidade de

reconhecimento de faces como variável dependente e Grupo como fator inter-sujeitos revelou

apenas efeito principal de Tipo, F(1,106) = 5.77, p = .018, ηp2 = .052, sendo que os

colaboradores reconheciam melhor as faces vistas anteriormente em comparação às faces

novas. Assim, das quatro faces que já haviam aparecido na TAPP, os colaboradores do grupo

PL identificaram corretamente até três faces em 90% das vezes quando as faces eram de

pessoas Brancas e 87% quando eram de pessoas Negras. Já no grupo OT, os colaboradores

identificaram corretamente até três faces em 94% das vezes quando as faces eram de pessoas

Brancas e 86% quando eram de pessoas Negras.

A

B

68

5.3.Tarefa de avaliação explícita de empatia à dor no outro

Inicialmente conduzimos uma análise exploratória e verificamos que alguns

colaboradores eram outliers apresentando médias de intensidade dolorosa percebida por

estímulo na tarefa adaptada de Jackson (2004) ±2 desvios-padrão. Considerando isso, esses

dados foram excluídos e permaneceram 57 colaboradores no grupo PL e 53 no grupo OT.

ANOVA mista 3 (Cor: Negro, Branco, Roxo) x 2 (Situação: Dor, Neutro) x 2

(Perspectiva: dor percebida no Outro, Em si) foi conduzida com intensidade de dor percebida

como variável dependente e Grupo (OT, PL) como fator inter-sujeitos. Esta análise revelou

efeito principal estatisticamente significativo para Etnia, F(2,216) = 3.53, p = .031, ηp2 = .032,

Situação, F(1,108) = 974.21, p < .001, ηp2 = .900, e Perspectiva, F(1,108) = 22.13, p < .001, ηp

2

= .170, sendo que os colaboradores imaginaram maior intensidade de dor nos contextos com

(a) alvos Negros em comparação aos alvos Roxos (p = .010), (b) em contextos dolorosos em

comparação aos neutros (p < .001) e (c) quando avaliavam a dor percebida no Outro versus a

dor percebida em Si (p < .001). Ainda foram observados efeitos de interação de Etnia x

Situação, F(2,216) = 4.02, p = .019, ηp2 = .036, em que as avaliações da intensidade de dor

sentida em situações dolorosas foram maiores para alvos Negros em comparação a alvos

Roxos (p = .003) e a alvos Brancos (p = .089). Além disso, ainda verificamos efeito

significativo para a interação de Situação x Perspectiva, F(1,108) = 22.20, p < .001, ηp2 = .170,

onde percebia-se maior intensidade de dor sentida em avaliações de situações dolorosas na

perspectiva do outro em comparação a si (p < .001). Importante ainda mencionar que não

observamos nenhum efeito de interação de Grupo, nem como fator inter-sujeito, F(1,108) =

.63, p = .430, ηp2 = .006, o que indica que a OT não modulou a avaliação da intensidade de dor

explícita (ver Figuras 13 e 14).

69

Figura 13 - Avaliação de explícita de empatia à dor percebida na própria perspectiva. Adicionou-se a linha pontilhada para facilitar a inspeção visual dos dados na comparação entre Perspectiva Em si (Figura 13) e no Outro (Figura 14). <.10; * p<.05; *** p<.001.

Figura 14 - Avaliação de explícita de empatia à dor percebida na perspectiva do outro. Adicionou-se a linha pontilhada para facilitar a inspeção visual dos dados na comparação entre Perspectiva Em si (Figura 13) e no Outro (Figura 14). τ <.10; * p<.05; *** p<.001.

5.4.Tarefa de avaliação implícita de empatia à dor no outro

Nessa seção de análise, verificamos grande variabilidade individual nas medidas de

MEPs porém, os testes de homogeneidade foram cumpridos, uma vez que os dados analisados

apresentaram medidas de Assimetria e Curtose dentro do intervalo de ±2. Apenas foram

incluídos os dados dos colaboradores que possuíam pelo menos oito MEPs válidos em todas

as categorias de análise, ou seja, diante de alvos Negros e Brancos nas situações dolorosas e

neutras. Este critério resultou na exclusão dos dados de 43% da amostra (55 colaboradores),

sendo que provavelmente isso possa ter ocorrido devido ao extenso processo de coleta do dia

3 e pelas movimentações corporais dos colaboradores o que impactava nos registros das

70

informações eletromiográficas. A partir disso, foram incluídos nas análises subsequentes

dados de 73 colaboradores (42 do grupo PL e 31 do grupo OT). Então, analisamos se os

Grupos apresentaram diferenças entre si em relação às características básicas dos MEPs

decorrentes dos registros em repouso comparando os momentos Pré- e Pós-inalação da

substância selecionada. Para isso, conduzimos, separadamente por músculos (FDI, ADM),

ANOVAs mistas comparando as variáveis dependentes: momento de início (onset), latência e

amplitude dos MEPs entre esses momentos, sendo Grupo o fator inter-sujeitos destas análises.

Nenhuma destas análises revelou efeito de interação estatisticamente significativa entre

Momento x Grupo, o que revelou ausência de modulação de OT nas medidas de linha de base.

Em seguida, iniciamos as análises relacionadas à tarefa de empatia implícita à dor

propriamente dita, seguindo a estrutura de análise do estudo original de Avenanti et al.

(2010). Uma análise geral desses dados, revelou diferenças significativas do padrão de

respostas entre FDI (músculo alvo) e ADM (músculo controle) durante os blocos críticos

(vídeos de situações dolorosas), F(1,28) = 37.11, p < .001, ηp2 = .570, onde as contrações no

músculo alvo FDI (M = 1.84, DP = .15) foram maiores em comparação às contrações no

músculo controle ADM (M = 1.19, DP = .13). Após esse resultado, foram explorados no

músculo alvo, efeitos relacionados aos vídeos de diferentes categorias que foram

apresentados, assim como o impacto das substâncias administradas nas respostas implícitas de

contração muscular. Dessa forma, ANOVA mista 2 (Cor da mão: Negro, Branco) foi

conduzida para as respostas em FDI da subtração das amplitudes dos MEPs de situações de

[dor] – [neutra] como variável dependente e Grupo (OT, PL) como fator inter-sujeitos. Esta

análise não revelou efeito principal para Cor da mão, F(1,71) = 1.80, p = .184, ηp2 = .025, nem

para Grupo, F(1,71) = .31, p = .581, ηp2 = .004 (ver estatística descritiva na Tabela 3 e ver

comparação entre as respostas das amostras Brasileira e Italiana, quanto aos dados de

contágio sensório-motor na Figura 15).

Para a análise do contágio sensório-motor do colaborador em relação a cada modelo

de mão apresentada na tarefa, três testes-t para uma amostra foram conduzidos separadamente

contrastando os valores médios de cada categoria de cor de mão com 0. Essa análise revelou

que nenhuma das médias das amplitudes de MEP foram estatisticamente significativa de 0,

mão Brancas: t(72)=-.21 , p= .835; Negras: t(72)= 1.62 , p= .109; Roxas: t(72)=-1.19 , p=

.239).

Analisou-se ainda a confiabilidade da mão controle de coloração Roxa com uma

ANOVA mista para comparar se há diferença entre o nível de contágio sensório-motor entre

71

os três tipos de mãos em FDI, sendo Grupo (OT, PL) o fator inter-sujeitos. Esta análise não

revelou nenhum efeito principal nem para Cor da mão, F(2,142) = 1.86, p = .159, ηp2 = .026,

nem para Grupo, F(1,71) = 1.28, p = .262, ηp2 = .018. As mesmas ANOVAs mistas foram

conduzida para as respostas em ADM e não se observou nenhum efeito estatisticamente

significativo.

Uma vez que não observamos diferenças entre os Grupos, consideramos a amostra

completa para as análises de correlação de Pearson entre o IAT e a subtração do contágio

sensório-motor no [endogrupo] - [exogrupo]. Essa análise revelou que o grau de preferência

implícita não parece estar associado ao nível de contágio dos colaboradores, rp = .04, p = .716.

Além disso, a mesma análise de correlação foi conduzida entre o contágio sensório-motor no

endogrupo e a escala de empatia (a EMRI) porém, nenhum efeito significativo foi observado.

Figura 15 – Média da diferença de amplitude entre potencial evocado motor (MEP) das situações de [dor] – [neutra], registro no músculo alvo FDI. (A) Amostra Brasileira (B) Amostra Italiana (resultados extraídos do estudo de AVENANTI et al., 2010). Não foram observados efeitos significativos de inibição sensório-motor para nenhum dos alvos (teste-t para uma amostra contrastando com 0, não indicou contágio sensório-motor nem diante de alvos Negro (p= .109) e nem de Branco (p= .835)). * p<.05.

-,60

-,30

,00

,30

Negro Branco

*

A

B

-,60

-,30

,00

,30

Negro Branco

Am

plitu

de d

a di

fere

nça

de M

EP

(dor

-neu

tro)

(mV

)

A

72

Tabela 3 - Dados brutos da amplitude média dos MEPs (desvio-padrão) em mV, comparando as amostras

Brasileira e Italiana

Amostras

Brasileira M(DP)

Italiana M(DP)

FDI

Endogrupo

Dor 1.91 (1.34) 2.22 (1.31)

Neutro 1.93 (1.47) 2.68 (1.83)

Exogrupo

Dor 2.00 (1.28) 2.71 (1.79)

Neutro 1.91 (1.28) 2.55 (1.88)

ADM

Endogrupo

Dor 1.21 (1.06) 1.05 (0.74)

Neutro 0.98 (0.67) 1.21 (1.00)

Exogrupo

Dor 1.03 (0.82) 1.32 (1.10) Neutro 0.99 (0.75) 1.28 (0.98)

73

6. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como principal objetivo avaliar efeitos comportamentais pró- e

anti-sociais pela administração intranasal de ocitocina (versus placebo) durante avaliação da

percepção de empatia à dor no outro e de detecção de ameaça, respectivamente, em contextos

com pistas étnicas, junto a jovens universitários Brancos do sexo masculino. Tanto quanto nos

foi possível apurar, tratou-se do primeiro estudo, realizado com amostra brasileira, que

simultaneamente avaliou eventuais efeitos pró- e anti-sociais da OT. Ainda, esse estudo

permitiu expandir resultados de pesquisas prévias, conduzidas em amostras Norte-Americanas

e Europeias, analisando um contexto de maior interação entre grupos étnicos.

De uma forma global, os resultados obtidos na nossa amostra, indicam que a

administração intranasal de OT não promoveu modulação das respostas empáticas implícitas

e explícitas à dor porém, surpreendentemente a OT reduziu a percepção de ameaça diante de

alvos do exogrupo, via aumento da rejeição correta em atirar diante de Negros desarmados na

TAPP. Esse conjunto de resultados foi observado a partir da administração intranasal de OT

seguida da replicação de tarefas amplamente conhecidas e validadas pela comunidade

científica desenvolvidas por JACKSON, 2004; AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010; e

CORRELL et al., 2002, o que nos permitiu explorar o impacto da OT durante processos de

sensibilização à dor do outro e identificação de estímulos ameaçadores entre membros de

grupos étnicos distintos. Discute-se a seguir a ausência de efeito observável em relação ao

endogrupo e o efeito pró-social específico com o exogrupo promovido pela OT considerando

ainda uma provável mediação de fatores como variabilidade individual e contexto social,

conforme propõe a Abordagem Interacionista.

Em síntese, evidências prévias em animais e em humanos demonstraram que a OT é

igualmente capaz de favorecer, uma ligação emocional e um distanciamento social. Ratas

recém paridas (elevada concentração de OT endógena) cuidam de sua prole, enquanto estão

mais sensíveis a potenciais ameaças externas para seus filhotes (FERRIS et al., 1992; INSEL

& YOUNG, 2001). A administração de OT em humanos, pode promover comportamentos

pró-sociais (LEE et al., 2009) porém, em situações específicas (ex. diante de uma

provocação), esse neuropeptídio pode aumentar a saliência do agente social e favorecer

comportamentos anti-sociais como a agressividade (NE’EMAN et al., 2016). Esses achados

embasaram nossas hipóteses. Todavia, os resultados observados na presente pesquisa

reforçam a complexidade da modulação dos comportamentos pró- e anti-sociais pela OT.

Paralelamente, as principais evidências dos estudos originais replicados nessa pesquisa

74

incluem uma forte associação entre Negros e ameaça (CORRELL et al., 2002 – estudo

Americano) e um menor contágio emocional de Brancos com Negros e vice-versa

(AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010 – estudo Italiano). Isso pode inclusive ter sido

observado porque nestes países há um baixo grau de miscigenação e uma convivência

limitada entre esses grupos étnicos. Considerando dados referente às distribuições

populacionais, por exemplo, vale destacar que o percentual de Negros na população dos

Estados Unidos (EUA) é 13.4% (Census Bureau, 2017), na Itália 15.2% (ISTAT, 2008) e no

Brasil 7.6% (IBGE de 2010). Porém, no Brasil 43.1% da população declara-se pardo. Nos

EUA e Itália não se utiliza a classificação “pardo”. Baseado em tais diferenças contextuais e

culturais, nossa expectativa era de que os resultados basais (grupo PL) das respostas pró- e

anti-sociais sejam diferenciados pela população Brasileira ser de um contexto com maior

interação entre grupos étnicos. Por isso, o impacto da OT poderia ser ainda mais

surpreendente. De fato, a modulação comportamental pela OT não promoveu um

favorecimento específico e indiscriminado para o endogrupo, mas favoreceu uma redução

(moderada) do viés perceptivo de ameaça associado ao exogrupo. Esses resultados são

relevantes para a comunidade científica porque nos permitem compreender melhor o impacto

de diferenças contextuais nos efeitos da OT. Além disso, tais contribuições podem

potencialmente orientar as intervenções terapêuticas com grupos clínicos. A seguir,

discutimos detalhadamente em diferentes sub-sessões os resultados obtidos nas avaliações da

(1) caracterização da amostra, (2) empatia (explícita e implícita) e (3) percepção de ameaça.

6.1. Avaliação da Caracterização da Amostra

Ao avaliar objetivamente atitudes e estereótipos em relação aos grupos étnicos por

escalas de auto-relato, notamos que os participantes revelam um predomínio de

comportamentos preconceituosos sutis e indiretos. Assim, mesmo em contextos

miscigenados, confirma-se que formas indiretas de preconceito (ex. brincadeiras ou uso

depreciativo das palavras “negro” e “preto”) tem sustentado a estratificação entre os grupos

étnicos com tentativas de atribuir desvantagens ao exogrupo, ao invés de comportamentos

discriminatórios explícitos (ex. acesso restrito a espaços sociais, como lugares específicos no

ônibus). Essas evidências são reforçadas quando analisamos os estereótipos atribuídos aos

Brancos e Negros pelos participantes. Nota-se que os participantes consideram, na própria

perspectiva, os Brancos como uma referência social. Enquanto, associam os Negros a uma

condição de desfavorecimento econômico e profissional. Quando os colaboradores indicam os

75

estereótipos reforçados pela cultura Brasileira, nota-se maior pluralidade de associações aos

Brancos, com atribuições de adjetivos positivos (ex. “bonito”, “honesto”, “confiável”) e

negativos (ex. “mimado” e “preconceituoso”). Todavia, nota-se ainda uma restrição

perceptiva em relação aos Negros, os quais são mais fortemente associados com adjetivos

negativos (ex. “malandro”, “ladrão”, “pobre”, “bandido”). É possível que esses padrões

estejam sendo sustentados por mensagens midiáticas e uma convivência ainda limitada entre

esses grupos mesmo no Brasil, em que ainda ocorre uma primazia do favorecimento do grupo

dos Brancos em detrimento de outros grupos étnicos, principalmente dos Negros. Dessa

forma, o processo histórico de maior relacionamento entre os grupos étnicos de Brancos e

Negros no Brasil fortalece, gradualmente, ações afirmativas e ampliação da representatividade

porém, não extinguiu estereótipos negativos relativos a esses grupos.

6.2. Avaliação de Empatia

Era de interesse do escopo desse trabalho analisar se existia uma congruência de

direção e intensidade de resultados entre as medidas empáticas implícitas e explícitas em uma

amostra que é marcada pelo processo de miscigenação. Além disso, estudos sobre o uso da

OT com finalidade terapêutica, geram a necessidade de investigações que comparem os

efeitos da OT nos processos empáticos explícitos e implícitos. Assim, o presente estudo

amplia a discussão sobre respostas empáticas à membros do endo- e exogrupo pois

observamos que independente da substância inalada pelo colaborador, implicitamente, não foi

verificado diferenças de contágio sensório-motor na responsividade aos alvos desses grupos, e

explicitamente, foi observado uma tendência dos colaboradores declararam perceber mais dor

em situações dolorosas quando estas ocorriam em alvos Negros em comparação aos Brancos.

Esse resultado de empatia explícita contradiz evidências atuais de neuroimagem que revelam

aumento da ativação da circuitaria de dor do colaborador apenas quando observamos

situações dolorosas em membros do endogrupo e redução da atividade do cíngulo anterior

diante de membros do exogrupo (XU et al., 2009).

Assim, nossos dados parecem evidenciar uma preocupação dos colaboradores em

explicitar uma postura favorável ao exogrupo. Esse tipo de observação já foi constatado em

antigas pesquisas sobre mudanças de atitudes raciais ao longo do tempo nos Estados Unidos.

Por exemplo, na década de 50, menos da metade dos entrevistados Brancos declararam que

Negros deveriam ter acesso a escolaridade, assim como os Brancos, e na década de 90 essa

porcentagem elevou-se para mais de 90% (SCHUMAN et al., 2001). Apesar dessa postura

76

mais favorável com o exogrupo na década de 90, ainda hoje não se observam grandes

mudanças sociais reais no contexto Norte-Americano. De forma equivalente, este mesmo

cenário é revelado no Brasil quando contrastamos uma aparente progressão social dos Negros

e Pardos com poucas mudanças sociais significativas (GOMES & MARLI, 2018 em Relatos e

Revista do IBGE, pp.15-19). Ilustrações disso estão disponíveis em dados censitários que

revelam uma taxa de analfabetismo em 2016, mais de duas vezes maior para Negros e Pardos

em comparação aos Brancos (PNAD Contínua 2016) e ainda uma maior dificuldade da

população Negra em ascender economicamente no Brasil (PNAD Contínua 2017).

Aparentemente, o padrão de dados que verificamos em nossa pesquisa sugere uma influência

de pressões sociais de que sejam apresentadas respostas “politicamente corretas” (não

discriminatórias) em detrimento das reais crenças. Além disso, durante a aplicação das tarefas

em laboratório fica logo evidente ao colaborador o fenômeno a ser estudado, o que pode

regular seus comportamentos explícitos. Fica em aberto a questão do quanto nossos dados de

empatia explícita podem sinalizar um real declínio do preconceito contra o Negro, pela

observada aproximação das respostas empáticas entre o endo- e exogrupo ou se de fato,

formas abertas de discriminação são cognitivamente controladas por não serem socialmente

aceitas.

Em relação ao efeito da OT sobre medidas explícitas de cooperação entre diferentes

grupos, Ma et al. (2015) publicaram um trabalho o qual evidenciou que a OT gerou um efeito

de aumento da preferência pelo endogrupo em um jogo econômico apenas com participantes

que apresentam um estilo cognitivo intuitivo (que preferem respostas rápidas e gerais) e

redução da preferência pelo endogrupo naqueles com estilo reflexivo (que preferem respostas

lentas e deliberadas). Em contraste a esses achados, em nossa pesquisa não observamos

modulação pela OT da preferência pelo endogrupo, apesar de também termos aplicado uma

tarefa que favorecia a apresentação de respostas resultantes de um controle cognitivo do estilo

reflexivo. Os resultados destoantes entre o estudo de Ma e colaboradores e o nosso podem

estar relacionados as diferenças nos procedimentos aplicados, uma vez que no primeiro

estudo ocorreu uma interação real (tarefa mais ecológica) onde explicitamente 10

participantes reais foram divididos em subgrupos definindo assim quem pertencia ao

endogrupo e ao exogrupo. Já em nosso estudo não estabelecemos subgrupos a priori e a

interação proposta não era real, mas sim por tarefas computadorizadas (previamente

programada pelo pesquisador). Na presente pesquisa, verificamos uma tendência de efeito de

maior sensibilidade dos participantes Brancos ao perceber dor em alvos Negros em

comparação aos alvos Brancos, independente da substância inalada. Assim, esses resultados

77

em conjunto confirmam nossas hipóteses Hb1 de que fatores como desejabilidade social

devem ter conduzidos os colaboradores a revelar maior empatia explícita diante de alvos do

exogrupo e nossa Hb2 a qual previa que a OT não seria capaz de modular as respostas de

empatia explícita porque estas são decorrentes de processamentos deliberados que favorecem

a apresentação de comportamentos socialmente aceitos, ocorrendo uma sobreposição desse

padrão de resposta aos modestos efeitos comportamentais promovidos pela OT.

Quanto à avaliação das respostas de empatia implícita, é importante destacar que esta

foi devidamente conduzida conforme recomendações de pesquisas anteriores (AVENANTI,

SIRIGU, AGLIOTI, 2010). Assim, a liberação dos pulsos de EMT foi programada para

ocorrer entre 200-600 ms antes do fim da apresentação dos estímulos, o que permitiu o

registro de modulações na excitabilidade cortical associada às respostas de contágio sensório-

motor. Isso foi necessário, pois a liberação dos pulsos no início dos estímulos geraria registros

de excitabilidade cortical associados com a ativação do sistema de neurônios espelho devido a

visualização de seringas ou cotonetes em movimento. Ainda, a comparação entre a magnitude

das medidas basais dos MEPs (ex. momento de início, latência e amplitude) registradas em

nosso estudo, em comparação as medidas do estudo original, foram equivalentes e com baixa

variabilidade, o que sinaliza uma utilização adequada da técnica de EMT.

Todavia, foi surpreendente a ausência de um padrão empático diferenciado para os

grupos étnicos observados, bem como a ausência de modulação das respostas empáticas

implícitas pela OT. Vários estudos em neurociência social indicam que a resposta neural de

empatia a dor no outro é modulada por fatores como grupo, sendo que os colaboradores

costumam apresentar modulação dos marcadores biológicos de forma mais favorável em

relação aos membros do endogrupo em comparação aos do exogrupo (XU et al., 2009;

AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010; SHENG et al., 2013). Adicionalmente, de acordo

com evidências que denotam que a OT tem um efeito especialmente positivo na

prosocialidade e cognição social diante de membros do endogrupo, era expectável que a OT

amplificasse o efeito basal descrito de empatia implícita a dor diante do endogrupo, assim

como ocorreu em evidências anteriores de SHENG et al., 2013. Essa resposta empática mais

evidente com o endogrupo diante de estimulação dolorosa foi constatada em um estudo

Chinês de neuroimagem que revelou maior ativação da circuitaria de dor em colaboradores

Asiáticos observando uma perfuração facial por uma seringa em membros de seu próprio

grupo étnico em comparação ao exogrupo (e.g. alvos Caucasianos) (XU et al., 2009). Outro

exemplo seria o estudo Italiano de Avenanti, Sirigu & Aglioti (2010), em que foi verificado

que os participantes Brancos e os Negros, apenas apresentaram contágio sensório-motor

78

durante observação de mãos de modelos do endogrupo sendo perfuradas por seringas e que

essa resposta empática não ocorria diante de membros do exogrupo na mesma situação.

Ainda, efeitos na mesma direção foram posteriormente descritos por Sheng et al. (2013) em

um estudo com EEG que evidenciou modulação das respostas empáticas pela OT com um

fortalecimento do efeito basal de maior amplitude do potencial relacionado a evento P2 ao

observar faces com expressão de dor, exclusivamente para os estímulos do endogrupo. Então,

avançamos com algumas hipóteses explicativas para a ausência de modulação pelo grupo

étnico e pela OT das respostas implícitas observadas em nosso estudo.

Primeiramente, é importante destacar que quando um colaborador observa dor no

outro, é provável que ocorra ativação da mesma circuitaria neuronal de quando a situação

dolorosa é vivenciada pelo colaborador (AVENANTI e AGLIOTI, 2006) e isso promoverá o

compartilhamento dessa experiência com o outro (SINGER & FRITH, 2005), favorecendo a

cognição social humana. Pesquisas descritas a seguir têm utilizado técnicas de neuroimagem

para dissociar os componentes sensórios e afetivos desse processamento de dor no outro. Os

estudos de Morrison et al. (2004), Singer et al. (2004) e Jackson et al. (2005), conduzidos com

fMRI, apontam para uma forte associação entre a observação de situações dolorosas e a

ativação da circuitaria de dor afetiva (que inclui córtex cingulado anterior e ínsula anterior).

Outras evidências ainda apontam para um efeito de menor magnitude quanto ao envolvimento

do córtex somatosensorial primário no processamento de dor (PEYRON et al., 2000).

Bushnell et al. (1999) sugeriu que o significado funcional da reatividade dessa região é uma

sinalização de que existe um aspecto sensório, além do afetivo, no processamento da dor.

Anos depois, Avenanti et al. (2005) e Fecteau et al. (2008) demonstraram que um pulso

simples de EMT sobre M1 é capaz de registrar uma supressão do potencial evocado motor

(MEP) pela observação de uma situação dolorosa no outro (e.g. agulha penetrando uma região

específica da mão). Esse resultado em conjunto com o estudo de Bufalari et al. (2007)

demonstraram o envolvimento de componentes sensório-motores durante o processamento de

empatia à dor. Sabe-se que o processamento de dor é uma resposta subjetiva e complexa

porém, ainda não é claro a universalidade desse efeito de supressão na região somatosensorial

durante observação de dor no outro. Em nosso estudo, por exemplo, obtivermos um

inesperado resultado de ausência do contágio sensório-motor, independente do grupo étnico

que estava sendo observado. Em contraste, Avenanti, Sirigu & Aglioti (2010) verificaram que

além do maior contágio para o endogrupo, registros de condutância da pele indicaram uma

reatividade emocional mais imediata diante do endogrupo em comparação ao exogrupo. Da

mesma forma, a resposta de taxa cardíaca foi reduzida diante de membros do endogrupo em

79

contraste ao exogrupo, indicando maior resposta de orientação em janelas temporais iniciais

(0-4 seg) para os membros do próprio grupo étnico do colaborador. Os registros periféricos

supracitados complementam os achados das medidas centrais de excitabilidade cortical por

adicionarem informações de respostas autonômicas durante a interação com o endo- e

exogrupo. Na presente pesquisa não tivemos a oportunidade de realizar tais registros

periféricos, sendo que provavelmente eles poderiam revelar diferenças entre endo- e exogrupo

que não foram captadas em nossas medidas de excitabilidade cortical. Todavia, vale destacar

que no estudo de Zuo & Han (2013) se verificou que durante o processamento de empatia à

dor, o grupo étnico de pertença não é um determinante intrínseco que promove viés racial,

pois dados de fMRI com Chineses criados em países ocidentais (e.g. Estado Unidos, Londres

e Canadá) e que se declaram Asiáticos, revelaram que eles apresentam reação empáticas

elevadas (níveis semelhantes de ativação neural) diante da observação de situações dolorosas

com alvos Caucasianos e Asiáticos. Então, diferentes estudos (SHENG & HAN, 2012; ZUO

& HAN, 2013), assim como o nosso demonstram que experiências interétnica podem atenuar

o viés racial de empatia à dor.

Alguns estudos verificam uma reatividade empática automática quando observamos

pessoas em situação de dor, mesmo que elas nos sejam desconhecidas (PRESTON e de

WAAL, 2002; DECETY e JACKSON, 2004). Entretanto, pesquisas adicionais apontam que a

intensidade das respostas de incorporação da dor do outro é modulada por variáveis como

similaridade e familiaridade entre o participante e o alvo observado (EBERHARDT, 2005;

XU et al., 2009). Dessa forma, estima-se intuitivamente um padrão de resposta crescente de

contágio sensório-motor, quanto maior for a familiaridade com o membro observado. Assim,

a subtração da amplitude do MEP resultante da observação de situação dolorosa menos da

situação neutra, seria capaz de gerar valores negativos (marcador biológico de contágio

sensório-motor) porém, o valor diante de alvos do exogrupo seria de menor magnitude

(indicação de menor contágio) e o valor diante de alvos do endogrupo de maior magnitude

(indicação de maior contágio). Todavia, Avenanti, Sirigu & Aglioti (2010) curiosamente

demonstraram que ao observar dor no outro há um evidente contágio sensório-motor apenas

se o alvo pertencer ao endogrupo (valor negativo da subtração acima), enquanto há uma

ausência de contágio diante de membros do exogrupo (valor positivo da subtração acima). O

padrão das respostas obtido em nosso estudo, contrapôs-se ao da pesquisa original Italiana

(AVENANTI, SIRIGU, AGLIOTI, 2010), pois em nossa pesquisa os valores da subtração dos

MEPs para o endogrupo e exogrupo não foram estatisticamente diferentes de 0 (zero),

sugerindo ausência de contágio sensório-motor para ambos os grupos. Vale destacar que

80

apesar das médias de subtração dos MEPs para o endogrupo e exogrupo não serem

estatisticamente diferentes entre si (magnitude reduzida em relação ao estudo original),

observamos que estas apresentam a mesma direção do estudo Italiano. Isso refutou nossa Hc

que previa respostas diferenciadas de direção e magnitude entre esses grupos étnicos. Assim,

a marcante diferença na magnitude desses dados em relação aos dados Italianos pode

objetivamente evidenciar o impacto de diferenças culturais resultantes da maior miscigenação

e convivência entre Brancos e Negros no Brasil que aproxima as respostas observadas entre

os membros do endo- e exogrupo.

Hipóteses alternativas podem ser levantadas para compreender esses resultados de

nosso estudo. Uma delas envolve o fato dos participantes poderem ter percebido as situações

dolorosas apresentadas como estímulos de fraca intensidade e com isso observamos um efeito

global de ausência da modulação das respostas implícitas diante dos grupos étnicos. Outra

hipótese é que a evidente redução da reatividade corticoespinal às situações dolorosas com o

endogrupo, em comparação ao estudo original Italiano, ocorreu porque com o decorrer da

tarefa os participantes podem ter antecipado reações de desconforto causado por essas

situações e modificavam seu direcionamento atencional, gerando uma menor reação de

supressão a esses estímulos. Adicionar medidas de registro ocular durante essa tarefa teria nos

auxiliado na confirmação dessas hipóteses, pois isso nos permitiria avaliar as regiões de

fixação do olhar no estímulo apresentado e o nível de engajamento cognitivo relacionado ao

processamento dessa informação pelas medidas de diâmetro pupilar. Paralelamente a essas

considerações, há a possibilidade de que maior supressão diante do endogrupo seja um sinal

de comportamento etnocêntrico porém, parece existir uma atenuação desse perfil na amostra

Brasileira em comparação a Italiana, pela primeira ser mais miscigenada. Isso pode ser

ilustrado pela análise da diferença dos dados brutos da amplitude média dos MEPs de [dor] -

[neutro] para o endogrupo, onde verifica-se um valor para a amostra Italiana 23 vezes maior

do que para a amostra Brasileira.

Além disso, evidências complementares revelam que a inibição corticoespinal da mão

correspondente que sofre uma estimulação dolorosa é acompanhada pela facilitação

corticoespinal da mão oposta como uma estratégia de favorecer comportamentos reativos de

defesa à observação de uma situação de sofrimento, como buscar escapar da situação em

questão (AVENANTI et al., 2009). Ainda, o sistema de ressonância de dor parece ser bastante

sensível às informações sensoriais básicas observadas, como localização e intensidade, pois

não há uma modulação da amplitude dos MEPs registrados no músculo da mão quando o

observador visualiza estimulações no pé ou em um tomate sendo perfurado por uma seringa

81

(AVENANTI et al., 2005). Da mesma forma, no presente estudo verificamos tal modulação

dos MEPs na musculatura alvo, FDI e não na musculatura controle, ADM.

No estudo Italiano, a ausência de contágio apenas ocorreu para membros do exogrupo

e esta foi justificada por uma provável interferência de processos cognitivos de

desumanização diante desse grupo (HASLAM, 2006; FISKE, 2009). Tal processo de

desumanização inicia-se com as dimensões de categorização social que são embasadas na

percepção de traços de proximidade e competência do outro (ex. moradores de rua são

considerados distantes e pouco competentes; enquanto cônjuges são considerados próximos e

muito competentes). Essa categorização pode, por um lado, distanciar as pessoas da

possibilidade de apreciação da mente do outro, ou por outro lado, favorecer o processamento

das experiências internas do outro, como intenções, pensamentos e sentimentos, porque

acreditamos que o outro tem uma mente como nós – mentalização (EPLEY, 2009). Estudos

de ressonância revelam que grupos estigmatizados costumam não modular a ativação de

circuitarias cerebrais específicas como ocorre com membros do endogrupo (AMODIO e

FRITH, 2006; LIEBERMAN, 2007). Assim, quanto mais hostil for o observador em relação a

um grupo social, menor sua capacidade de mentalização sobre o outro (PHELPS et al., 2000;

CIKARA, SAID, EBERHARDT, FISKE, 2009). Esse mesmo processo de desumanização

pode contextualizar o porquê verificamos em nossa amostra que a subtração da amplitude do

MEP resultante da observação de situação dolorosa menos da situação neutra foi positiva

(indicação de ausência de contágio) para o exogrupo. Caso os participantes Brancos

desumanizem os alvos Negros, eles não sentirão empatia ao observar alvos Negras em

situação de dor física, assim, não se observa uma supressão corticoespinal da representação

cerebral da musculatura correspondente nos participantes Brancos. A maior convivência entre

Brancos e Negros no Brasil pode ter sido o fator que reduziu a magnitude desse efeito em

comparação ao estudo Italiano. Portanto, os resultados obtidos no presente estudo sustentam a

ideia de que a ativação de circuitarias neurais envolvidas na cognição social é influenciada

pelo contexto social.

No seu estudo, Avenanti e colaboradores (2010) destacam ainda que novas pesquisa

precisam explorar se a ausência de contágio diante o exogrupo ocorreu porque os alvos não

eram familiares ou porque eles eram evidentemente diferentes do endogrupo. Outra

importante observação presente no estudo Italiano original, envolve o fato de ter sido

verificada uma reatividade empática maior para a mão Roxa em comparação a Negra. Em

nosso estudo verificamos novamente a mesma direção de dados, mas uma menor magnitude

desses resultados que não gerou diferenças estatisticamente significativas entre essas

82

condições. Caso as diferenças tivessem alcançado significância, tal revelaria que é possível

existir um contágio sensório-motor com quem não nos é familiar, contanto que a ele não

sejam ativados automaticamente estereótipos negativos (efetivamente, nenhuma categoria

social deve ter sido associada à mão Roxa). Porém, o padrão de resultados que encontramos

foi de equivalência estatística para mãos Brancas, Negras e Roxas, sugerindo que a coloração

da pele não parece ser uma característica com forte impacto nos processos de contágio

sensório motor, na nossa amostra.

Outra contribuição dos estudos de Avenanti, Sirigu & Aglioti (2010) e Sheng et al.

(2013) é a constatação de que a resposta cerebral de empatia à dor é positivamente associada

ao grau de preferência implícita ao endogrupo. Entretanto, no presente estudo não

constatamos correlação significativa entre a medida de contágio sensório-motor com a

preferência étnica implícita (medida pela TAI), nem com a capacidade empática (medida pela

EMRI). Isso aconteceu apesar de verificarmos na Tarefa de Associação Implícita (TAI) uma

maior automatização da associação da categoria “Branco” com atributos positivos e “Negro”

com atributos negativos. Ainda, vale destacar que na avaliação de empatia os participantes

apresentaram maior nível de característica empática cognitiva (elevados escores nas

subescalas de fantasia e tomada de perspectiva) e na avaliação da empatia afetiva, eles apenas

apresentam nível elevado de preocupação empática, mas não de angústia pessoal. Dessa

forma, os participantes parecem estar aptos em colocar-se no lugar do outro, seja para

entender seus pensamentos e sentimentos (tomada de perspectiva), como para identificar-se

imaginativamente com personagens fictícios (fantasia), ainda, motivam-se para ajudar o outro

(preocupação empática) porém, a amostra da presente pesquisa revelou menor nível de

incômodo ou ansiedade pessoal quando estão diante de situações de emergência com o outro

(angústia pessoal). Este último resultado pode complementar a explicação do porque os

colaboradores não apresentaram um evidente contágio sensório-motor, uma vez que relataram

menor desconforto pessoal diante da observação à dor do outro, o que pode gerar

consequências de uma menor tendência a motivação pessoal em ajudar o outro.

Em suma, observamos uma ausência de modulação das medidas empáticas explícita e

implícita entre os grupos étnicos pela OT. Quanto as medidas explícitas, discutimos a

tendência dos participantes Brancos a uma compensação favorável ao exogrupo (no caso,

alvos Negros) que parece estar relacionada as pressões contextuais de apresentação de

respostas socialmente aceitas. Algumas hipóteses ainda foram levantadas sobre a ausência de

modulação das medidas explícitas e implícitas, envolvendo (a) mudança do direcionamento

atencional por uma antecipação do estímulo doloroso ou (b) impacto da elevada

83

miscigenação no Brasil que: pode ter reduzido tendências etnocêntricas a favor do endogrupo

enquanto, pode ter reduzido o efeito de desumanização em relação aos membros do exogrupo,

como descrito em outros estudos. O presente estudo não foi capaz de esclarecer o que mais

contribuiu no processamento de dor no outro. Ainda esses dados sinalizam que estudos que

descrevem o papel da OT como um promotor de efeitos pró-sociais indiscriminados e

universais devem ser ponderados, uma vez que diferentes variáveis inter e intrapessoais nos

modelos de análise parecem esclarecer os efeitos da OT na cognição e comportamento social.

6.2. Avaliação da Percepção de Ameaça

Percepção de ameaça é uma resposta vicária necessária para sobrevivência e

preservação que pode promover comportamentos agressivos com a finalidade de autodefesa.

Na vida cotidiana, esse tipo de percepção embasa diversos conflitos entre grupos sociais

distintos, evidenciados por ações discriminativas, conflitos étnicos, entre outros (BOWLES,

2009). Ameaças reais ou imaginadas podem gerar comportamentos agressivos (reativos ou

proativos) em relação a um exogrupo, o que não deixa de ser uma forma indireta de defesa do

endogrupo (ARROW, 2007). Diversas pesquisas exploram os efeitos modulatórios da OT

sobre a percepção de ameaça e comportamentos agressivos, sendo que até o momento não há

grande consistência em relação aos efeitos biológicos que sustentam os resultados observados.

Assim, o objetivo do presente trabalho foi contribuir para o esclarecimento sobre o impacto

da OT nas respostas de percepção de ameaça em contexto de interação entre grupos étnicos

distintos.

Enfatizaremos nessa discussão diferenças culturais entre os dados das amostras Norte-

Americana (estudo original) e Brasileira durante a Tarefa do Atirador em Primeira Pessoa

(TAAP; CORRELL et al., 2002), para compreender os impactos da OT nos comportamentos

observados. Os principais resultados analisados são: (a) taxa de acurácia e tempo de reação,

(b) taxa de rejeição correta (não atirar em alvos desarmados) e (c) medidas de sensibilidade e

critério de decisão, variáveis da Teoria de Detecção de Sinal. Em linhas gerais, uma análise

do desempenho global na tarefa revelou que os participantes Brancos na amostra Brasileira

apresentam maior precisão na identificação de alvos Negros armados e maior latência de

resposta para classificar alvos Negros desarmados, assim como as amostras Norte-

Americanas (CORRELL, PARK, & WITTERNBRINK et al., 2002; CORRELL, URLAND,

& ITO, 2002; GREENWALD, OAKES, & HOFFMAM, 2003). Esses resultados sinalizam

que os participantes de ambos os contextos parecem ter maior expectativa em deparar-se com

84

um alvo Negro armado do que com um alvo Branco nessa condição. Em outras palavras, há

um viés negativo na decisão de atirar diante de membros do exogrupo dos Negros. Isso

reafirma que o estereótipo racial influencia a percepção de ameaça facilitando as respostas

diante de alvos do tipo estereótipos-congruentes (Brancos não armados e Negros armados),

mas inibindo as respostas para alvos estereótipos-incongruentes (Brancos armados e Negros

não armados). Na Tarefa de Identificação de Armas, que apresenta uma estrutura semelhante

a TAAP, Payne (2006) verificou que com 200 ms a mais para a classificação de objetos (ex.

armas ou objetos inócuos), os participantes já são capazes de apresentar maior controle

cognitivo, regulando consideravelmente a predisposição a identificar armas após a observação

de faces Negras. Outras manipulações experimentais devem favorecer esse tipo de controle

durante a TAAP. Na presente pesquisa, por exemplo, verificamos que após a inalação da OT

ocorreu um aumento do limiar do critério de decisão de atirar diante de alvos Negros via

aumento da taxa de Rejeições Corretas (evitar atirar em alvos desarmados) seletivamente para

o exogrupo. Essa evidência indica que nossa Ha foi confirmada, pois a OT foi capaz de

interferir nos processos decisórios, gerando redução de falsos alarmes diante do exogrupo.

Distintos efeitos biológicos promovidos pela OT podem explicar a redução de falsos

alarmes seletivamente para o exogrupo, como a redução da ansiedade social (CAMPBELL et

al., 2010) ou o aumento da saliência do agente social (SHAMAY-TSOORY et al., 2009). Por

um lado, pesquisas em animais (EBITZ et al., 2013) e humanos (LABUSCHAGNE et al.,

2010) demonstraram que a OT pode ter um efeito ansiolítico e que isso deve ser evidenciado

durante a interação social pela redução da percepção de ameaça social. Respectivamente a

esses estudos, constata-se que a OT ameniza o comportamento de vigilância social em

macacos e reduz a atividade amigdalar diante de faces de raiva em pessoas com ansiedade

social generalizada. Considerando o que observamos na presente pesquisa, esse efeito

ansiolítico poderá ter favorecido comportamentos pró-sociais como redução da percepção de

que Negros desarmados sinalizam ameaça social. A seletividade do efeito da OT para esses

alvos pode estar relacionada ao fato de que eram esses estímulos que mais provocavam

ansiedade social nos participantes existindo, portanto, margem para modulação. Por outro

lado, a Hipótese de Saliência Social (SHAMAY-TSOORY et al., 2009) também pode explicar

esses resultados ao considerar a provável modulação da amígdala e dos colículos superiores

pela OT, que promovem aumento do direcionamento atencional aos agentes sociais. Assim, o

efeito pró-social da OT em relação ao exogrupo poderá assentar em uma maior acurácia na

identificação de ameaça proveniente de indivíduos Negros, por via da redução da taxa de

85

falso alarme, da tendência de melhoria na discriminação de alvos armados e desarmados e da

diminuição da tendência de atirar contra alvos Negro.

Todavia, considerando o exposto, podemos dizer que a Abordagem Interacionista

(BARTZ et al., 2011) é a explicação que melhor descreve os efeitos biológicos produzidos

pela OT em nossa pesquisa pois os possíveis efeitos acima podem ter ocorrido de forma

independente ou em conjunto. Além disso, essa abordagem sinaliza que também se deve

considerar o impacto de elementos moderadores como o contexto (ex. dificuldade com

características da tarefa, uma vez que na TAAP é solicitado um rápido processo decisório

incomum aos participantes) e variabilidades individuais (ex. características comportamentais

como nível de agressividade dos participantes) nos nossos resultados. Assim, na condição

placebo, os participantes podem ter apresentado maior ansiedade social diante de alvos

Negros pelo fato destes serem culturalmente mais associados à ameaça em comparação aos

Brancos e porque os participantes estão cientes das pressões sociais de que não se deve

apresentar comportamentos discriminatórios. Em contraste, para aqueles que inalaram OT,

essa substância pode ter favorecido o aumento da saliência social diante de alvos Negros ao

reduzir a ansiedade social durante a decisão de atirar. Isso deve ter promovido um maior

direcionamento atencional às pistas sociais relevantes, no caso os membros do exogrupo,

gerando provavelmente uma redução da taxa de falsos alarmes.

Então, de forma geral, em nossa amostra verificou-se que a OT modulou

seletivamente – ao invés de indiscriminadamente – uma tendência pró-social de redução da

percepção de ameaça associada ao exogrupo. Outro estudo que apresentou evidências na

mesma direção foi o de Shamay-Tsoory et al. (2013). Nessa pesquisa, os autores observaram

que a OT atenuou o viés empático à dor física de israelitas judeus em relação ao endogrupo,

via um aumento do relato de empatia à dor física em palestinos (exogrupo adversário).

Algumas diferenças entre o estudo de Shamay-Tsoory e o nosso precisam ser sinalizadas em

relação a amostra, estímulos selecionados e design experimental para entendermos em que

medida estes estudos se complementam. Shamay-Tsoory e colaboradores realizaram a

pesquisa com homens (n=37) e mulheres (n=18) em um design intra-sujeitos, enquanto que

nosso estudo envolveu coleta exclusiva com homens (n=107) em um design inter-sujeitos.

Apesar de nossa amostra ter sido maior, não avaliamos efeitos de interação de gênero e

ocitocina em relação a percepção de ameaça, o que se recomenda ser explorado em estudos

futuros. Adicionalmente, esses estudos selecionaram diferentes estímulos de exogrupo, o que

contribui com as discussões sobre diferenciação entre si-outro e distanciamento social na

modulação de nossos vieses perceptivos. Assim, Shamay-Tsoory analisou respostas de

86

empatia à dor em membros de um exogrupo neutro (alvos Europeus) versus um exogrupo

adversário (alvos Palestinos), enquanto que em nosso estudo analisamos respostas de

percepção de ameaça em relação a membros de um exogrupo muito miscigenado com o

endogrupo do participante (alvos Negros).

A modulação comportamental pela OT é um processo complexo, pois observamos um

efeito pró-social seletivo para exogrupo, enquanto outros estudos revelam resultados

diferentes. Certos comportamentos agressivos com o exogrupo diante de uma ameaça real ou

imaginada, podem sugerir uma indireta defesa do endogrupo (ARROW, 2007) e nesse sentido

a OT pode amplificar essa atitude. Por exemplo, no estudo de Shamay-Tsoory et al. (2009)

verificou-se que a OT promoveu inveja quando se perde um jogo e promove um efeito sutil de

exaltação quando se ganha. Já De Dreu et al. (2010) observaram efeitos da OT mais

marcantes com reações divergentes para grupos de pertença distintos. Os autores exploraram

os efeitos da OT em contextos com pistas étnicas (alvos Holandeses vs. Árabes), revelando

que essa substância foi capaz de promover - em um jogo econômico - a coesão do endogrupo,

pelo aumento da confiança e cooperação (maior alocação de recursos financeiros), enquanto

modulou uma agressividade reativa / defensiva diante da ameaça representada pelo exogrupo.

Assim, a OT pareceu promover, em uma amostra de holandeses, o etnocentrismo diante do

endogrupo (DE DREU et al., 2011), favorecendo a unidade do endogrupo com

comportamentos de cooperação, enquanto elevou as tendências anti-sociais em relação aos

membros do exogrupo (DE DREU & KRET 2016). Para além do papel da experiência e

contato com membros de outras raças (acima citado), deve-se ainda considerar o possível

impacto da variabilidade individual (ex. perfil ansioso) para compreendermos os efeitos

promovidos pela OT. Ilustrações disso envolvem pesquisas que indicam que a OT gera

aumento dos comportamentos agressivos em pessoas com baixo nível de ansiedade

(PFUNDMAIR et al., 2018) e promove redução modesta da agressividade em pessoas com

elevado nível de ansiedade (CAMPBELL & HAUSMANN, 2013). Assim, a modulação do

comportamento favorável ao endogrupo pela OT pode não acompanhar uma depreciação do

exogrupo (CHEN et al., 2011). Inclusive se observam estudos recentes que revelam a

promoção de um efeito pró-social de redução do medo social após inalação desse

nonapeptídeo (NEUMANN & SLATTERY, 2016).

Em suma, o efeito pró-social da OT ao endogrupo não parece ser indiscriminado em

todos os contextos (SINGER et al., 2008). A partir disso, as revisões de Jong e Neumann

(2017) e Neumann e Slattery (2016) discutem as expectativas no campo científico de que a

administração da OT sintética possa vir a tornar-se uma intervenção complementar ao

87

tratamento de quadros psiquiátricos caracterizados por comportamentos anti-sociais e de

ansiedade. Considerando a inconsistência dos resultados publicados, são necessários mais

estudos no sentido de esclarecer as oportunidades e limites do uso terapêutico da OT. Uma

contribuição do presente estudo foi demonstrar que a OT é capaz de modular a percepção de

ameaça e os comportamentos agressivos, mas a magnitude e direção desse efeito variam

conforme as pistas raciais.

Finalmente, a análise das variáveis destacadas na Teoria de Detecção de Sinal

proporciona relevantes conclusões. A primeira delas é que os participantes Norte-Americanos

são mais hábeis em discriminar armas em comparação aos Brasileiros. Isso foi demonstrado

na comparação dos dados de sensibilidade entre o estudo original de Correll (2002) e os

resultados do grupo PL na presente pesquisa (d’EUA > d’BR). Essa maior sensibilidade dos

Norte-Americanos poderá estar associada à maior presença de armas de fogo na população

em geral, o que amplia sua experiência com esse tipo de objeto. Porém, devemos também

considerar que a legalidade na aquisição de armas de fogo nos EUA promove uma

normalização do seu uso, o que por sua vez pode favorecer a ocorrência de comportamentos

agressivos no cotidiano (RODRIGUES, JABLONSKI E ASSMAR, 2000), vide a ocorrência

sistemática de tragédias em escolas e espaços públicos. Dessa forma, maior contato com arma

de fogo pode favorecer uma capacidade mais apurada de identificação desse objeto, assim

como revelado em estudos anteriores que policiais apresentam melhor desempenho na TAAP

(com menor viés racial na média) em comparação a universitários e membros da comunidade

em geral (CORRELL et al., 2007; MA & CORRELL, 2011).

A segunda conclusão desse estudo é que participantes Brancos Norte-Americanos e

Brasileiros controlam mais sua decisão de atirar quando estão diante de membros do

endogrupo em relação aos exogrupo. Verificamos isso pois ambas as amostras revelaram

critério de decisão de atirar positivo, ou seja, mais rígido e deliberado, diante de alvos

Brancos e critério de decisão negativo, mais leniente e automático, diante de alvos Negros

(cBranco > cNegro). Os resultados obtidos na nossa amostra indicam que, no Brasil, apesar da

maior convivência entre os grupos étnicos em questão, ainda há certo viés negativo diante de

alvos Negros uma vez que se atira neles mesmo quando estes estão desarmados (falso

alarme). Ainda assim, ressaltamos que a magnitude desse efeito para os Norte-Americanos é

2.93 vezes maior em comparação aos Brasileiros. Alguns elementos precisam ser

considerados para compreendermos tais diferenças culturais em relação ao processo de

decisão de atirar. Interessantes evidências com participantes Brancos Norte-Americanos

revelam que eles são mais sensíveis as manipulações experimentais, como apresentação de

88

estímulos priming de Brancos criminosos, pois isso eleva a tendência deles de atirar em alvos

Brancos na TAAP, o que não acontece com os alvos Negros porque eles comumente são

considerados ameaçadores independente dos estímulos priming apresentados (CORRELL et

al., 2007). Além disso, foi demonstrado anteriormente que quanto menos prototípicos foram

os alvos Brancos (ex. pessoas de cor de pele clara e características faciais típicas de Brancos),

maior é a probabilidade de decisões de atirar nos alvos (MA & CORRELL, 2011).

Transpondo esses achados para o contexto social Brasileiro verificamos que nosso estudo

pode adicionar relevantes contribuições para compreendermos esses complexos fenômenos

em uma amostra com maior miscigenação e convivências entre os grupos étnicos em questão.

Assim, no Brasil tem-se mais contato com pessoas desses grupos étnicos e com pessoas de

famílias interraciais, o que amplia nossa capacidade de sensibilização ao outro e transforma a

valência e intensidade de alguns estereótipos étnicos. Provavelmente por isso, na nossa

amostra de indivíduos Brasileiros a tendência do critério de decisão de atirar em alvos Negros

foi mais próxima do limiar de alvos Brancos e essa tendência foi quase três vezes menor que a

registrada por Correll nos Estados Unidos.

6.3. Limitações e Estratégias Futuras

Apesar dos cuidados metodológicos empregados na condução da presente pesquisa,

alguns aspectos poderão eventualmente limitar as interpretações dos resultados obtidos.

Relativamente ao controle por placebo, vale ressaltar que o grupo PL inalou uma solução

salina e o grupo experimental inalou solução de OT que incluía em sua composição solução

salina, além de outros excipientes (ácido cítrico, clorobutanol, cloreto de sódio, fosfato de

sódio dibásico, glicerol, metilparabeno, propilparabeno, sorbitol e água purificada, conforme

bula ANVISA / Novartis). Esse estudo poderia ter maior validade interna e externa caso a

única diferença entre as amostras inaladas fosse a presença ou ausência da molécula de OT,

conforme realizado em algumas pesquisas (HURLEMANN et al. 2010; COHEN &

SHAMAY-TSOORY, 2017). Entretanto, a solução salina (soro fisiológico) também é

habitualmente utilizada em pesquisas recentes (ECKSTEIN et al., 2014; NE’EMAN et al.

2016) sendo econômica e de fácil acesso. Porém, por ser familiar à maioria das pessoas, não

podemos excluir a possibilidade de os participantes identificarem de qual grupo eles fizeram

parte. Todavia, verificamos que isso não ocasionou um viés em nossa amostra uma vez que os

participantes não foram capazes de discriminar a substância inalada. Ainda, é necessário

destacar que a via de administração intranasal limita o controle da dosagem disponibilizada e

89

a capacidade de absorção da substância. Porém, apesar do provável impacto desses fatores na

modulação pela OT, essa é uma via amplamente empregada e que evidencia efeitos

comportamentais (NABER et al., 2010; THEODORIDOU et al., 2009).

Outra limitação, diz respeito à composição homogênea da nossa amostra – seja em

termos de gênero e grupo étnico (totalidade de homens Brancos), faixa etária (maioria jovens

adultos, entre 18-29 anos), nível socioeconômico (a pesquisa foi conduzida em uma

universidade particular, onde a maioria dos participantes deve ser de nível sócio-econômico

médio e médio-alto) e região de proveniência (totalidade de São Paulo). Assim, os resultados

obtidos não permitem gerar conclusões definitivas sobre os efeitos da OT sobre os

comportamentos de empatia e percepção de ameaça para a população Brasileira. São

necessários estudos adicionais com amostras mais diversificadas. Quanto à avaliação de

empatia implícita, a perda de 43% da amostra pode sinalizar limitações procedimentais desse

estudo durante essa coleta de dados específica. As pesquisas da área não costumam descrever

claramente a taxa de perda amostral dos experimentos que envolvem o uso de EMT e

registros de MEPs. Por isso, se faz necessário estudos futuro que explore limites aceitáveis de

perda amostral com essa técnica para aprimorarmos esse tipo de coleta. Por fim, de acordo

com os objetivos da presente pesquisa optamos por uma testagem com dosagem única,

entretanto, para fim de generalizações dos dados visando intervenções terapêuticas, avaliações

continuadas são fundamentais para oferecer resultados quanto à dependência da modulação

das respostas relativamente à dose administrada.

Na replicação de tarefas clássicas, verificamos que a magnitude dos resultados foi

consideravelmente menor em nossa amostra Brasileira em relação às amostras Norte-

Americana e Italiana. Assim, estudos futuros devem considerar adaptação das tarefas

selecionadas, especialmente quando aplicadas em populações com maior miscigenação, para

investigar efeitos de menor magnitude. Possibilidades de estudos sobre os comportamentos

pró- e anti-sociais devem utilizar estímulos que enfatizem a percepção sensorial da dor (ex.

com o uso de realidade virtual ou com a aplicação de ilusões perceptivas, como a Ilusão da

Mão de Borracha (LIRA et al., 2017) ou desenvolver tarefas mais ecológicas, que podem

gerar resultados mais evidentes oriundos, por exemplo, de interações interpessoais reais.

6.4. Considerações Finais

As habilidades de empatia e percepção de ameaça social são cruciais para favorecer o

vínculo e a proteção. Nesse trabalho, os efeitos da OT nessas habilidades foram avaliados em

90

contextos com pistas raciais, junto a uma amostra proveniente de um contexto com alto

percentual de miscigenação (comparativamente a estudos anteriores). Verificamos que nas

avaliações implícita e explícita, a OT não modulou a empatia à dor apresentada pelos

participantes, independentemente da etnia dos alvos. Por outro lado, os participantes que

inalaram a substância apresentaram redução do viés perceptivo de ameaça social, apenas

diante de membros do exogrupo. Isso indica que, dependendo do contexto analisado, a

inalação da OT sintética pode promover um efeito pró-social específico (ainda que modesto)

na diminuição de ameaça associada a indivíduos do exogrupo. Adicionalmente, foi

interessante verificar que os dados de empatia implícita e percepção de ameaça na amostra

Brasileira apresentaram direção semelhante às amostras Italiana e Norte-Americana porém,

com magnitude menor. Os resultados destacados nessa pesquisa são encorajadores quanto ao

papel de alguns fatores para a redução de comportamentos agressivos diante de membros do

exogrupo – nomeadamente a administração intranasal de OT e a maior convivência entre

membros de diferentes grupos étnicos. Em suma, o presente estudo oferece contribuições para

o crescente número de pesquisas que têm questionado os supostos efeitos universais da OT,

sublinhando a necessidade de contemplar as complexas interações entre variáveis individuais

e sociais na compreensão dos efeitos da substância na cognição e comportamento social

humano.

91

7. REFERÊNCIAS

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