ideologia e culturas indÍgenas

74
Ideologia e Cultura Indígena na modernidade A história tradicional e a Literatura regional sobre as sociedades indígenas no Brasil JEAN PAULO PEREIRA DE MENEZES

Upload: api-3875228

Post on 07-Jun-2015

1.920 views

Category:

Documents


19 download

DESCRIPTION

Prof. Jean Menezes

TRANSCRIPT

Page 1: Ideologia e Culturas IndÍgenas

Ideologia e Cultura

Indígena na modernidade

A história tradicional e a Literatura regional sobre as sociedades indígenas no Brasil

JEAN PAULO PEREIRA DE MENEZES

Page 2: Ideologia e Culturas IndÍgenas

2

IDEOLOGIA E CULTURA INDÌGENA NA MODERNIDADE

A história tradicional e a literatura regional sobre as sociedades indígenas no Brasil

(SP, GO e MT)

Page 3: Ideologia e Culturas IndÍgenas

3

JEAN PAULO PEREIRA DE MENEZES

Professor de História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva no Estado de São Paulo, com extensão em Arqueologia pela USP, ex-aluno

especial do programa de mestrado em História Social pela Unesp de Assis.

História e Literatura Local e Regional: A história tradicional e a literatura regional sobre as sociedades

indígenas no Brasil

São José do Rio Preto – SP 2005

Page 4: Ideologia e Culturas IndÍgenas

4 Título original: Ideologia e Cultura indígena na Modernidade: a história tradicional e a literatura sobre as sociedades indígenas no Brasil. Copyright©2005

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta

publicação, no todo, ou em parte, constitui violação de direitos autorais

como reza a Lei 9.610/98.

Capa: Chapada dos Guimarães – MT (foto-Jean)

Ficha de catalogação Menezes, Jean Paulo Pereira de, 1976.

Ideologia e Cultura Indígena na modernidade: a história tradicional e a literatura sobre as sociedades indígenas no Brasil. . – Assis: Editora Independente, 2005.

1. Ideologia e cultura. 2. História tradicional. 3. Capitalismo. 4. História cultual. 5. História indígena.

Page 5: Ideologia e Culturas IndÍgenas

5

Dedicações

Dedico este estudo a todas as etnias indígenas e aos meus ex-alunos, de todas as regiões e escolas, pois foram eles que mais contribuíram na formação do professor que hoje existe.

Para minha única e importante filha Letícia, minha eterna Leticinha, aos meus primos-sobrinhos Wesley e Renam, os quais tanto amo e que me fazem lutar com engajamento por um mundo mais justo no qual eles e todos possam viver em paz.

Para Mylena, sem a qual este trabalho não seria jamais possível, pois é graças ao seu apoio e companheirismo nas análises textuais, nos trabalhos de campo (no mato, poeira, perigo, conhecimentos e aventuras), e que nas horas mais difíceis esteve a meu lado, sempre com carinho e atenção.

Aos meus pais, Sueli e Jesus, e irmãos, Rosemeire, Fábio e Janaína, sem os quais não seria um ser existente, que me proporcionaram os estudos, o respeito e a coragem em todos os momentos mais difíceis da minha vida.

Aos meus Professores – da Faculdade de Filosofia de Catanduva, da USP, UNESP de Assis e do Museu de História e Folclore de Olímpia (Maria Miranda) – as secretárias de todas as escolas (que sempre com paciência e educação entendiam o meu desrespeito ao calendário escolar, ajudando-me sempre que parecia impossível), aos amigos, Ricardo De Nadai, Adelson – índio Xavante da aldeia Santíssima Trindade em Mato Grosso - extensivo a toda nação Xavante, Kaingangue e Terena que nos receberam com respeito e atenção, Rafael Tiozão, Douglas e Daiana, Prof. Fernando (Zóio), Manga, Stela e Bruno da UEL, Patrícia da UFSCar, Prof. Fernando Sabella Melancia (meu grande irmão), Profª. Raquel, Prof. Mena, Alexandre Aldo - meu grande professor de cinema brasileiro, Prof°. Samir, Prof. Lázaro, Professores Eliana e Dilmo (grandes mestres), professores Chico, Paulinho, Valdir, Becerra, Maria Lucy, Edis, José Sant’anna, Níminon Suzel Pinheiro e Dominique Tilkin Gallois (NHII-USP), Márcia Angelina Alves (MAE-USP), Fernando Nascimento (meu camarada desde os anos de primário), Profª. Gláucia e todo pessoal do Núcleo de Estudos (NEPES) do PC do B de Rio Preto, João Pama – ex-militante do Movimento Revolucionário em São Paulo no período ditatorial (VPR), aos meus mais recentes amigos que a existência me ofertou – Mônica e Amado – um casal de intelectuais que sempre irá me inspirar a viver, e ainda, a

Page 6: Ideologia e Culturas IndÍgenas

6

Em memória a:

Rafael Luís Fernandes, um irmão e ex-aluno, que sempre, ao seu modo, esteve

ao meu lado, não compartilhando das condenações que os “juizes” da vida

adoram executar com toda unilateralidade e sem qualificações, que redundam

em grandes injustiças .

Page 7: Ideologia e Culturas IndÍgenas

7

Sumário Prefácio...........................................................................65 Notas do Autor................................................................54

Parte I

A questão da Ideologia: 1. A questão da ideologia................................................07 2. Ideologia, cultura e crise cultural na modernidade.......6 3. A ideologia nas sociedades indígenas.........................18

Parte II História e Literatura regional acerca das comunidades indígenas e suas culturas no interior de São Paulo:

4. A história tradicional e a literatura regional em São José do Rio Preto..............9 5. A História de Assis e a produção memorialista no Sudoeste do interior de São Paulo...55 6. A Capital Nacional do Folclore: Olímpia e a produção da história tradicional marginalizadora da cultura indígena.....................................................................78 7. A literatura regional e o tradicionalismo memorialista em outros estados do interior do Brasil...............................................................................................21

Notas finais........................................................................................................27 Referências bibliográficas.....................................................................................28 Bibliografia pesquisada ..............................................................................9 Apêndice.......................................................................................................40 Anexos...........................................................................................................65

Page 8: Ideologia e Culturas IndÍgenas

8

Prefácio

Professor Jean Menezes, sempre o tive como uma pessoa possuidora de

alma de artista desde os tempos em que, na faculdade, também se dedicava à

música. Sensível e dotado de espírito inquieto, preocupado com as mazelas da

política não comprometida com os direitos naturais para todos, dedicou-se à

análise da historiografia tradicional e da literatura regional sobre as sociedades

indígenas no interior do Estado de São Paulo, bem como o impacto observado

sobre essas sociedades que, na atualidade, assistem à desestruturação de sua

cultura original.

Para isso, a partir do embasamento teórico de teor marxista, fez uma análise

da estrutura econômica e social, a partir da criação do Estado, ocasião em que

“desenvolvem-se também as desigualdades econômicas, sociais, marginalização

étnica e política”, especialmente quando o processo se torna nacional e

absolutista, processo este que se perpetua e se justifica, através da valorização do

mito da figura do desbravador, do sertanejo como herói do sertão, em

detrimento do indígena, que vai perdendo seu espaço e oportunidade de

emancipação, mas que, mesmo assim, não abdica de suas manifestações

culturais.

Trata-se, pois, de um trabalho debruçado sobre questões relevantes no que

diz respeito a tais sociedades, fato que torna muito significativa para mim esta

apreciação.

Profª. Neusa Guarnieri Flosi,

Coordenadora do Curso de História do IMES/FAFICA.

Catanduva,

06/07/2005.

Page 9: Ideologia e Culturas IndÍgenas

9

Notas do autor

Era uma vez...Uma estória muito mal divulgada, muito mal

contada e mentirosa que fez com que grandes civilizações

indígenas fossem, infelizmente dizimadas, mal entendidas e

também discriminadas no sistema econômico em que vivemos

até os dias de hoje. Preparamos para os nossos leitores, textos

sobre a questão indígena em nosso país, especialmente sobre a

questão das ideologias, a marginalidade imposta secularmente

pelas produções memorialistas nas páginas da literatura

regional no interior do Estado de São Paulo, passando por

alguns momentos pelos Estados de Goiás, Mato Grosso,

apresentando ao leitor a oportunidade de uma reflexão

comparativa sobre a historia tradicional e regional produzida em

outros ambientes, porém provocando os mesmos efeitos: a

desclassificação da cultura indígena e o étnocídio que ainda é

ocultado por grande parte da literatura regional elitizada.

Não nos preocupamos, neste trabalho de cunho ensaístico,

em realizar uma linguagem textual extremamente acadêmica e

também nem tão didática com especificidade. Esperamos assim,

estar contribuindo para todas as classes de leitores,

independente do grau de intelecção de cada aluno ou professor

e interessados na história das populações indígenas no Brasil.

Page 10: Ideologia e Culturas IndÍgenas

10 O propósito central deste livro é contribuir acerca de uma

melhor compreensão da questão indígena, que venha

proporcionar a reflexão crítica a respeito da abordagem

realizada pela história tradicional1 e regionalista no interior do

Estado de São Paulo sobre a cultura indígena no decorrer do

processo histórico brasileiro, proporcionando uma abordagem

alternativa em relação àquela que nos é imposta durante

séculos pelas classes dominantes.

J.P.P.M

arte I

1 Quando nos reportarmos a coloc ação história tradicional, est aremos nos referindo a históri a oficial, narrada pelas institu ições e produtoras de uma séri e de mitos que falseiam a real idade histórica.

Page 11: Ideologia e Culturas IndÍgenas

11 O universo ideológico:

Page 12: Ideologia e Culturas IndÍgenas

12 1. A questão da Ideologia

Ideologia é uma palavra delicada, pois em cada momento da

História ela foi empregada com uma determinada conotação. No

século XVIII, Napoleão Bonaparte a usou para designar os pensadores

metafísicos do seu tempo e, portanto com uma conotação pejorativa do

termo ideologia. No século XIX, Karl Marx utilizou o termo Ideologia

para conotar o conjunto de idéias das elites dominantes. Um

falseamento da realidade para manter ou conquistar o poder por

aqueles que compunham as partes dominantes ou a dominarem. De

acordo com Marx a realidade é falseada para que todos os

subordinados pensem que tudo vai bem quando na realidade a

verdade está escondida por uma série e pensamentos artificiais,

capazes de envenenar a consciência humana no sentido de roubar-lhes

a percepção do quadro real que o indivíduo compõe. Já no século XX,

um outro pensador, empregou o termo ideologia para designar o

conjunto de idéias da classe subordinada ao capitalismo e a sua elite

empresarial. Nesse momento podemos notar um diferente sentido para

o termo ideologia. Ela seria o conjunto de idéias de uma massa

revolucionária, também já identificada por Marx no século XIX, a classe

do proletariado. Essa classe social seria a única capaz de emancipar-se

do conjunto de idéias falseadas pelos capitalistas e instaurar a

sociedade socialista, em cima de uma ideologia revolucionária, capaz

Page 13: Ideologia e Culturas IndÍgenas

13 de acabar com a alienação e todas as mentiras que a ideologia burguesa

pregara desde o século XVIII.

Bem como podemos observar, a palavra ideologia vem

ganhando diversos significados com o decorrer do processo histórico.

Com esses significados, diversificados de acordo com o contexto que

cada classe social está contida, temos um quadro de dominação.

Tomaremos como princípio o conceito que Karl Marx adotou, pois as

estruturas identificadas por este pensador estão ainda, marcando toda

a complexidade estrutural da economia mundial, ou seja, as bases

denunciadas por Marx ainda não foram superadas, que é a organização

da sociedade capitalista, guiada pela ideologia burguesa de dominação

social, política, cultural e econômica.

No mundo industrial contemporâneo composto por uma

historiografia tradicional a ideologia vem recheada com uma série de

agrados, os quais vão de encontro com os sonhos dos trabalhadores

indígenas ou não, fazendo com que estes acreditem ser possível uma

série de idéias apresentadas pelas classes dominantes. E, é nesse

contexto que surgem uma série de mitos que falseiam a realidade que

não deve ser esclarecida aos dominados para evitar qualquer conflito

direto entre dominados e dominadores. Nesse universo de mentiras e

sonhos, a ideologia burguesa é transmitida aos trabalhadores do

mundo atual, fazendo com que a cristalização do poder nas mãos da

classe burguesa seja a única realidade aceita pelas elites.

Page 14: Ideologia e Culturas IndÍgenas

14 2. Ideologia, cultura e crise cultural na modernidade

A sociedade moderna capitalista passa por um grande período

de transição global. As estruturas capitalistas, promotoras da

modernidade, vêm mostrando as suas rachaduras, incapazes de

solucionar os problemas da fome, da corrupção, da exploração do

trabalho e a subordinação econômica de países dominados pelo

subdesenvolvimento2. Neste quadro é possível observar também a

subordinação cultural entre as sociedades modernas. A Globalização,

com todo o seu discurso do bem-estar e da integração de valores

culturais vêm promovendo uma verdadeira invasão cultural, no caso

brasileiro, iniciada no século XVI com o projeto colonizador português.

Hoje, as minorias étnicas são marginalizadas de todo o processo

de integração nacional, especialmente no Brasil. A participação política

fica reduzida a representações despreparadas e desfocadas do seu

dever original que é o de levar a voz e as idéias dos grupos que

representam. O que observamos é um literal conjunto legislativo que se

limita ao assistencialismo paliativo, o qual não é capaz de solucionar

problemas estruturais.

Em nosso país há uma série de recortes étnicos que vivem em

uma situação complexa. Para melhor entendimento, quero citar aqui,

um outro estudo de caso, o qual se faz o objeto principal deste trabalho.

2 Touraine, Alain. Como sair do Liberalismo? EDUSC, 1999. Tradução de: Comment sortir du libéralime? e: Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Dp&A editora - 5. ed. - Rio de Janeiro, 2001.

Page 15: Ideologia e Culturas IndÍgenas

15 Analisando as organizações indígenas em nosso território e também a

produção historiográfica sobre elas, observamos que o discurso da

modernidade, recheada por uma série de ideologias, está entre os

fatores determinantes na transfiguração cultural entre os nativos das

comunidades remanescentes. Fato este que pudemos observar no

Estado de São Paulo entre os Kaingang e Terena na Comunidade do

Icatu no interior Oeste do estado; entre os Guarani na cidade de

Olímpia (através de vestígios arqueológicos, mal interpretados, pelo

senso comum, dando vida a histórias irreais sobre o povo Guarani), no

centro-norte estado; dos Xavante no Estado do Mato Grosso, na reserva

São Marcos nas Aldeias de Santíssima Trindade, São Marcos, Nossa

senhora da Aparecida e Divina Providência; também entre os Pataxó

(em contato estabelecido com Marcio Santos, índio da reserva de Pau –

Brasil), no sul da Bahia, parente por linhagem direta do índio Galdino

Santos que fora assassinado por jovens que atearam fogo em seu corpo

enquanto dormia em um ponto de ônibus coletivo em Brasília e dos

Tuxucarra-mãe no Xingu. Vamos deter-nos a três etnias nesta

comunicação: a Kaingang, Terena e Xavante, todas pertencentes ao

Tronco lingüístico Macro-jê. Observamos que entre esses jovens, salvo

os Xavantes, há uma crise de identidade cultural violentíssima, no

processo de transfiguração étnica a que estão sujeitos. Problemática

esta que observaremos melhor nos seguintes tópicos que seguem nesta

nossa abordagem sobre a questão indígena no Brasil.

Page 16: Ideologia e Culturas IndÍgenas

16 3. A ideologia nas sociedades Indígenas

As indústrias modernas, produtoras de um universo ideológico

voltado para o consumo, não são existentes única e exclusivamente

para os recortes sociais urbanos. A produção mitológica de idéias é

também abrangente às comunidades indígenas, que, próximas ou

isoladas, são receptoras de um discurso voltado para o consumo e as

idéias de um bem estar preconizada pela modernidade. Nesse

contexto, os sonhos e os desejos nativos são entorpecidos com as

propagandas ideologizadas transmitidas pelos veículos de

comunicação de massas, incluindo ai as produções da literatura

regionalista, divulgadoras, muitas vezes, de preconceitos e estereotipo

acerca das comunidades indígenas. E, com esse quadro, um outro fato

é observado: a crise na transmissão de valores culturais nativos às

gerações presentes, e se mantido como está, estender-se-á também as

gerações futuras.

A cultura nativa, como se referem os Xavante da Reserva São

Marcos, ou ainda, a cultura ancestral como no caso da comunidade do

Icatu, acaba por enfrentar um processo de atualização histórica

marcado pelo mito do processo de integração social que arrasta-se

desde o período colonial brasileiro.

Ao passo que os programas ideologizados chegam nas

comunidades indígenas, os valores religiosos, econômicos, políticos e

de organizações sociais, existe também um choque de valores

Page 17: Ideologia e Culturas IndÍgenas

17 ancestrais nativos. E, históricamente, a religião é um dos maiores

pontos de impacto no processo de aceleração histórica sendo, na

maioria dos casos, propenços a redundam na transfiguração cultual. Os

valores aterritoriais, de acordo com Felipe de Alencastro no texto: O

Aprendizado da Colonização (Economia e Sociedade, p.135), foram

implantados nos séculos XV e XVI pelos portugueses colonizadores. Os

valores religiosos foram determinados pelo cristianismo católico

através da Companhia de Jesus aos nativos. E, nesse processo de

imposição cultural, os valores religiosos da cultura nativa foram

negados às gerações futuras, quando não descartados, julgados como

errôneos ou demoníacos. E com a criação ideológica de um Deus certo,

justo e verdadeiro, fizeram com que os nativos negassem os seus

Deuses a favor da santíssima trindade romana.

Simultaneamente à imposição religiosa estava a exploração

econômica, a subordinação política colonial, a submissão e

marginalidade sócio-cultural do indígena, contexto o qual o elemento

africano também está inserido. Um processo histórico conturbado e

composto por desrespeito sobre os valores étnicos existentes no

território brasileiro. Marcado por uma série de resistências das

classificadas “massas populares”, as quais desmascaram muitos

trabalhos academicos que pairam no ideal de passividade, não sendo

capazes de reconhecer o elemento indígena e negro como sujeitos na

América Portuguesa, e portanto capazes de se organizarem para

lutarem por um objetivo. Agora, se a dúvida é a falta de objetivos em

Page 18: Ideologia e Culturas IndÍgenas

18 comum para tornarem-se um grupo com um ideal a ser reenvindicado,

acreditamos que a necessidade de sobreviver basta como laço ideário

para classificarmos os movimentos de resistencia indígena e

quilombola como existentes e antagônicos a passividade diante da

mostruosidade, que a ferros eram colocados!

Um conflito dialético agressivo, que no decorrer dos séculos se

fez presente e diria que ainda mais agressivonos dias atuais. Essa

problemática pode ser visualizada entre os jovens das comunidades

remanescentes, seja nas regiões Sudeste, Centro-oeste, Nordeste, Norte

e Sul do território nacional brasileiro. O mito da vida moderna na

sociedade de consumo capitalista é um dos muitos projetos ideológicos

que se faz presente nas mentalidades das novas gerações etnicas nas

comunidades indígenas brasileiras. O desejo de possuir as utensílios

industrializadas (“as coisas”,como se referem os Xavante da aldeia de

Santíssima Trindade no Mato Groso) e o sonho de “ter”3, é algo

marcante nesta nova organização social, resultado de todo um projeto

de dominação e assimilação cultural acelerada que intrumentaliza o

discurso do “mundo melhor”, do “ser moderno”, para concretizar os

seus verdadeiros objetivos acerca da política e da economia dos setores

dominadores. A vontade de morar na cidade, a vergonha de ser índio

3 Sobre o sonho de “ter”, em 200 4, quando estabelecemos contat o com a etnia Xavante, conhecemos o senhor Adelson, um Xavante de seus trinta e poucos anos, que nos conduziu pelo caminho entre a cidade de Barr a do Garças até passarmos pelo território Bororo, chegando finalmente a Aldeia de Santíss ima Trindade na Reserva Xavan te S. Marcos. No caminho de aproximadamente 210 km, nos disse ele que gostaria de ter um a criação de avestruzes, pois um parente dele tinha conseguido um ovo desta ave e que agora estava rico porque o valor era bom e ele queria poder criar também.

Page 19: Ideologia e Culturas IndÍgenas

19 (em alguns casos), a estética, o futebol, as vestimentas, a lingüagem, a

religião, o trabalho, o dinheiro e o capital, são “coisas”almejadas e

desejadas pelas novas gerações indígenas constituindo assim a

comunidade indígena moderna, na qual se estabelece o contato com a

estrutura econômica da sociedade capitalista e suas ideologias de

consumo alienado, estabelecendo um vínculo direto com os centros

urbanos, portadores mas mercadorias produzidas, sejam elas materiais

ou não materiais, massivamente ideologizadas pelos veículos de

comunicação- do simples radinho à pilhas à Internet- criando através

de pesquisas mercadológicas o quê e como será inserido no mercado de

consumo, e, aqueles que vendem a sua força de trabalho talves

poderam possuir, diria, possuídos pelos produtos apresentados . E

constatando estes fatos através do trabalho de campo, confeccionamos

uma outra problemática: Seria possível possuir essas mercadorias

apresentadas pelos veículos transmissores de comunicação de massa?

Quais são as probabilidades de um jovem Xavante da Aldeia de

Santíssima Trindade no interior do Estado do Mato Grosso concretizar

essas idéias de consumo? Qual é a probabilidade de não desejarem os

bens de consumo industrializados pelo mundo moderno? Pergunto:

alguém, talves o governo através da FUNAI, realizariam os desejos de

consumo destes jovens indígenas? Não desejando o pessimismo, mas a

questão é muito mais complexa e perigosa, pois não trata-se de

comprar e presentear com chinelos Havaianas uma tribo indígena por

exmplo, o problema maior é desejar a Luana Piovani, a Priscila Fantim

Page 20: Ideologia e Culturas IndÍgenas

20 e a Maria fernanda Candido aparecendo no quintal da sua casa

pedindo um copo de água gelada. Mais complexo ainda, portanto

muito mais problemático é desejar uzar o manequim da Gisele

Bunchen tratando-se um indivíduo morbido que sonha em participar

da novela Malhação fazendo o papel de Nathash ou de Letícia. E para

continuar com a exemplificação simples e didática, imagine um jovem

que não tenha a estética corporal ditada pelos programas televisivos,

como comerciais e telenovelas (...), um jovem que seja gordinho ou bem

magro, que seja afrodescendente ou mameluco (...), que more na favela,

como muitos indígenas estão morando na capital paulista (...), que seja

dependente do salário que a FUNAI as vezes repassa para as famílias

indígenas... imaginou? Então... independente do gêro ser o masculino

ou o femenino, como é que fica a mentalidade deste jovem nesse

moderno mundo, que transborda de coisas, formas e comportamentos

bacanas? É bem possível que esta seja uma situação próxima da sua,

seja nas aldeia indígenas, nas cidades, nas favelas,na zona rural, nas

comunidades ribeirinhas, nas comunidades quilombolas e também nas

comunidades de pescadores litoraneos.

Os veículos de transmissão ideológica vendem a possibilidade

infinita, veiculam o possível, mas não fornecem meios concretos para

podermos acreditar nas possibilidades criadas pelos ideólogos. O

rádio, os jornais, os livros, revistas e principalmente o cinema e a

televisão, são os grandes transmissores de idéias pouco possíveis de

serem efetivadas na realidade econômica estruturada com o modo de

Page 21: Ideologia e Culturas IndÍgenas

21 produção capitalista. A apresentação de possibilidades falseadas, são

na realidade, projetos de comunicação em massa, muito mais violentos

que o processo da pólvora e da espada do século XVI na América

Portuguesa. Violentos porque não necessitam de sangue para imporem

a causa do dominador. Necessitam da linguagem comunicativa para

dominarem de forma sutil e tenaz milhares de pessoas que

provavélmente redundarão na crise de personalidade, pscológica,

social e cultural, agravando ainda mais o processo de marginalização e

desclassificação que são secularmente impostas a maior parcela da

sociedade brasileira, em nosso estudo, os povos indígenas, que

deveriam ser os donos de todo este território que o sistema capital-

mercantil roubou-lhes a partir da segunda metade do século XVI,

confinando-os posteriormente em verdadeiros campos de concentração

etnica em desfiguração como podemos identificar nos vários estados

deste território invadido por volta so século XV. Como se não bastasse

ainda, a sociedade brasileira acaba por ter que tolerar, por conta de

programas ideologizados, é claro, Senadores da República do Brasil

que defendem abertamente o extermínio das etnias indígenas,

contrapondo-se a homologação das terras indígenas alegando ser terra

de mais para pouca gente. Este porco parlamentar (pena que a TV

Senado não seja um canal aberto, você vê de tudo um pouco por lá; de senador

mal preparado intelectualmente, sem experiencias da vida popular, senador

burro e matuto; como também senadores de verdade, que com idealismo e

fidelidade ao povo cumprem o seu papel, embora eu conheça apenas uma entre

Page 22: Ideologia e Culturas IndÍgenas

22 as mulheres!), representante do povo faminto de esperança em um país

de contrastes deveria questionar a concentração de renda e fundiária

da qual provavelmente é portador, do capital que detem através da

exploração do trabalho alheio e ainda do seu gordo salário o qual

pagamos para que se desempenhe a função de representar o povo

brasileiro.

Page 23: Ideologia e Culturas IndÍgenas

23

Parte II

História e Literatura regional acerca das comunidades indígenas e suas culturas no interior de São Paulo:

Page 24: Ideologia e Culturas IndÍgenas

24

4. A História tradicional e a Literatura regional em São José do Rio Preto

A História tradicional peca em relação a vários fatos, pois

difundi uma idéia elitizada sobre a nossa literatura regional. Há várias

formas de escrever a História e essas formas estão sujeitas às

concepções, valores e crenças daquele que as escreve: o historiador. É

clássico encontrarmos nos livros de histórias regionais a figura do

desbravador, do aventureiro corajoso entre outras colocações a respeito

dos fundadores de uma determinada localidade. Em São José do Rio

Preto e região não é diferente. Somente no findar do século XX, a

historiografia regional passou a dedicar em seus capítulos, tímidos

parágrafos sobre a grande parcela social que fora marginalizada pelos

historiadores tradicionais: os índios. Deve-se levar em conta a

produção da historiografia tradicional com a sua visão unilateral, pois

devido a sua existência é possível refletirmos criticamente sobre a

produção estereotipadas que se difundiu no imaginário popular sobre

as comunidades indígenas. Havia no interior do Estado de São Paulo

uma organização política, social e econômica muito bem

fundamentada na coletividade indígena. Contudo, encontram-se

poucas narrativas a respeito dos hábitos e costumes dos índios e

quando algo é dissertado, aborda-se de uma forma etnocêntrica a

cultura dessas comunidades. Tratava-se de uma exemplar organização,

com um desenvolvimento sustentável invejável até mesmo para os

Page 25: Ideologia e Culturas IndÍgenas

25 teóricos do século XXI. As sociedades indígenas foram dizimadas pelo

processo de ocupação do interior do Estado de São Paulo,

principalmente no final do século XIX e início do XX. Esse genocídio

reflete-se na literatura regional, por meio de uma História tradicional e

conservadora, pois o processo de “atualização histórica”, no qual esses

povos foram engajados, se deu de forma compulsória em um sistema

mais evoluído, "com a perda de sua autonomia ou mesmo com a sua

destruição como identidade étnica" (Ribeiro, 1968).

Com a ocupação das terras do atual Oeste Paulista, as sociedades

nativas viram-se obrigadas a se adequarem ao projeto modernizador

pregado pela economia cafeeira ou migrarem para outras regiões, onde

as terras ainda se encontravam virgens aos olhos dos latifundiários.

Nesse momento (passagem do século XIX para o XX), a produção

historiográfica se fez necessária (mesmo não se tratando de uma

produção necessariamente acadêmica) para legitimar e eternizar os

desbravadores do sertão paulista como verdadeiros heróis, passando a

existir até mesmo historiadores por decretos municipais como é o caso

da cidade paulista de Mirassol. Em contrapartida, o indígena recebe

um tratamento moralista, pois ele é focalizado como um ‘bicho do

mato’, um indivíduo sem cultura e adjetivos do gênero4. A História

tradicional e conservadora ao produzir textos desse padrão cria um

discurso unilateral, gerador de preconceitos e de um etnocentrismo

4 A despeito desta quest ão, ler Valle, Dinorath do. A História de São José do Rio Pr eto, 1969, Biblioteca municipal de Rio Preto, pg - 14 e 18.

Page 26: Ideologia e Culturas IndÍgenas

26 brutal, capaz de transmitir às gerações futuras errôneos saberes a

despeito da existência de um povo violentado pelos interesses da classe

dominante, na qual direta ou indiretamente existe “uma vasta sinfonia

de fraudes" (Bloch, 1949). Na realidade, pouco se produziu sobre os

primeiros habitantes da área conhecida como São José do Rio Preto e

região. Fala-se em estabelecimentos, fazendeiros e suas propriedades e

famílias tradicionais5. Mas onde estão os relatos sobre as famílias

indígenas que tiveram que continuar o longo processo de migração,

fugindo da pólvora e da espada do progresso? Como viveram aquelas

famílias nativas que ficaram e presenciaram o dito progresso

econômico da moderna sociedade capitalista? Seria o bugre o seu

representante mais direto? Verdadeiras protocélulas étnicas que

combinam fragmentos dos dois patrimônios dentro do enquadramento

de dominação (Ribeiro, 1988). Essas e muitas outras questões deixaram

de ser abordadas pelos historiadores do sertão, pois as etnias não

foram consideradas sujeitos de uma realidade a qual pertenceram.

Depoimentos que os tirariam da clandestinidade imposta pela

Literatura regional e tradicional6 . Narrativas que legitimariam aqueles

que defendiam as suas terras e suas famílias e que foram secularizados

5 Tomamos a priori as seguintes p ublicações: Pe. Bracci, Carlos Alberto Arantes. A História d e um povo fiel - 1857-1879 - caput, A capela no arraial de Rio Preto. Valle, Dinorath do. História de São José do Rio Preto,1969. Arantes, Lelé. Dicionário Rio - Pretense, 2001. 6 Tal afirmação tem por base teórica o texto desenvolvido por: Portelli, Alessandro. O massacre de Cicitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 194 4) : mito e política, luto e s enso comum. In: Ferreira, Marieta de Moraes e Amado, Janaína. Usos & abusos da História Oral, pg. 103, ed. Fundação Getúlio Vargas, 1996.

Page 27: Ideologia e Culturas IndÍgenas

27 como arredios e violentos. A sua religião, sua língua e os seus valores

foram apresentados às gerações posteriores, mas por meio de uma

história parcial, que não corresponde à realidade histórica.

Entre as obras analisadas sobre a Literatura regional, foram

encontradas produções que na sua maior composição pertencem à

narrativa elitizada e unilateral. Obras como a de Ariovaldo Correia

“Mirassol, Estruturas e Gravuras” - História - 1983; “Homens e coisas

de Mirassol” 1960; “Notas e Anedotas”, Crônicas, 1979 - que tratam da

questão da existência do município de Mirassol. Esse autor foi

designado, por meio de um decreto-lei, o responsável pela narrativa

que conta a História da cidade. Embora portador de um vasto

conhecimento, a sua produção focaliza os desbravadores do sertão e

seus “feitos heróicos”, ocasionando a produção de mitos na sociedade

envolvente.

No livro, “Mirassol, Estruturas e Gravuras” - História - 1983, o

autor inicia a narração com a chegada dos desbravadores em 1910.

Uma narrativa de inspiração bíblica, tendo a introdução o nome de

Gênesis. Chega ser ingênua a forma de abordar a bondade dos homens

e, embora seja louvável a criatividade do autor ao comparar a criação e

o desenvolvimento do município com a narrativa bíblica, utilizando a

estrutura narrativa da teologia.

Analisamos também outras produções como a de Candido Brasil

Estrêla e Dráusio Medina Estrêla, juntamente com Jesualdo D'Oliveira -

História de Bálsamo, 1970. Nesta produção, os autores preocupam-se

Page 28: Ideologia e Culturas IndÍgenas

28 em fundamentar a produção histórica do seu município citando, sem

necessidade, o episódio do ovo, no qual o navegador Cristóvão

Colombo demonstra sabedoria em equilibrar um ovo em uma mesa.

Narrativa regional esta que se faz muito confusa pela ordem do

narrador e desnecessária quando tenta dissertar sobre a verdade

histórica da América não ter sido "descoberta" por Américo Vespúcio e

sim pelo navegador Colombo. Ignora a localidade e busca na História

da América Espanhola o início da narrativa, da existência de um

município fundado no século XX. Sobre a produção historiográfica de

S. J. do Rio Preto, obras como a de Leonardo Gomes, 1975, focaliza a

produção de uma História tradicional e personalista, não dedicando

capítulo algum aos indígenas, que no caso de Rio Preto, eram presentes

no momento do processo de ocupação geográfica. O livro de Agostinho

Brandiu, “Gente que Ajudou a Fazer Rio Preto” - 1852-1894 - roteiro

histórico do Distrito, Contribuição para o conhecimento de suas raízes,

2002 - trata da origem urbana, enfatizando o fato de não ser objetivo do

livro escrever a História de Rio Preto e sim analisar os fatos. Mesmo

sendo uma obra que se preocupa em não ser a guia mestra da verdade,

não faz significativas referências aos primeiros habitantes da

localidade, sendo que de uma forma indireta, acaba por comungar da

visão unilateral da História tradicional. Outra obra de grande valor

para o desenvolvimento da criticidade da literatura regional é o

trabalho de Dinorath do Valle, “A História de São José do Rio Preto”,

1969. Nesta produção, a autora dedica alguns capítulos aos indígenas,

Page 29: Ideologia e Culturas IndÍgenas

29 mas com uma visão parcial e etnocêntrica, pois fundamenta vários

mitos a respeito do comportamento dos nativos da região. Com a

mesma parcialidade e um movimento que exclui da literatura as

comunidades indígenas, encontramos algumas outras obras, das quais

vale citar o trabalho desenvolvido por Lelé Arantes: “Dicionário Rio –

Pretense”, 2001. Nesta produção há uma referência os nativos

Kaingang, mas limita-se a citar (caingang-coroados), não trazendo nota

alguma na organização do texto. Uma produção predominantemente

elitista, tradicionalista e parcial. Encontram-se nomes e fotos de

personalidades que fizeram história na cidade. Mas falha infinitamente

por não dar destaque equivalente aos marginalizados e excluídos dos

processos político, econômico, social e cultural. Fica bem clara a idéia

econômica da obra, que se funde com a preocupação de perpetuação

histórica das personalidades tradicionais do município de São José do

Rio Preto.

Em menor proporção, encontramos produções críticas e nada

tradicionais, reveladoras de uma produção historiográfica nada

convencional. O trabalho de Alberto Lemos, “História de Araraquara”,

1999 - aborda de uma forma crítica a produção regional tradicional e

dedica um capítulo exclusivo para o debate a respeito da questão

indígena na região. No livro é abordado o fato de ser muito nebulosa a

explicação sobre os primeiros habitantes daquelas paragens. Tema

abordado em muitas outras obras regionalistas e de pouca conclusão

contemplável. Trata também do interesse em socializar o nativo para

Page 30: Ideologia e Culturas IndÍgenas

30 concretizar os desejos da modernidade em expansão no interior do

estado de São Paulo. Outro trabalho de destaque crítico em nossa

pesquisa bibliográfica foi realizado por Reinidolch Caffagni, “Cultura

brasileira _ Contos urbanos, Contos regionalistas”, 1972. Trata-se de

uma coleção de contos regionalistas, da Faculdade de Filosofia Ciências

e Letras de Votuporanga. O livro IV da coleção trata do sertão de forma

áspera como realmente era. Sem fantasias parnasianas, o que não

significa o fim do belo por parte do narrador, mas sim o narrar de

forma realista, com o belo e o áspero convivendo em constantes

conflitos no interior do Estado de São Paulo.

Hoje muitos descendentes dessas gerações injustiçadas

continuam a existir de uma forma marginal. Vivem em pequenas

reservas, que mais se assemelham aos campos de concentração

humana - portadores de uma singularidade - cortejada pelo

sensacionalismo da mídia em cada “abril despedaçado”. Excluídos

politicamente, tratados pela sociedade nacional e pelo governo como

não responsáveis pelos seus atos. É assim que a História deve tratar os

que não possuem metais preciosos? Essa é a justiça que lhes cabe?

Ao desenvolver um estudo bibliográfico do caso, foi observado a

forma pitoresca e o acentuado espírito aventureiro - narrado pela

história tradicional regional - dos desbravadores7 do sertão paulista.

Produções inspiradas até mesmo nas narrativas bíblicas - como o livro

de Gênesis - onde Deus cria o mundo em algumas unidades de dias. 7 Esta questão é muito bem abordada por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, 1930.

Page 31: Ideologia e Culturas IndÍgenas

31 Obras que dissertam sobre as pessoas que fizeram a construção da

história de uma comarca e produções particularistas, que violam com a

sua parcialidade os fatos reais do processo histórico. Encontramos

também algumas obras que analisam a questão indígena de uma forma

acadêmica, fartas em citações de outros estudiosos fundamentando as

suas argumentações sobre a questão indígena em debate. Mas estas

representam uma pequena parcela de um universo tradicionalista,

particularista e conservador na produção literária regional. Mantendo

assim, o imaginário social da figura folclórica pejorativa do elemento

indígena, dificultado o relacionamento cultural entre as etnias

indígenas e os elementos da sociedade nacional envolvente.

Page 32: Ideologia e Culturas IndÍgenas

32 5. A História de Assis e a produção memorialista no Sudoeste do

interior de São Paulo

Durante séculos, as sociedades indígenas foram marginalizadas,

quando não dizimadas etnicamente. O histórico do relacionamento

entre as etnias nativas e a cultura herdada da Europa é marcado por

um constante conflito o qual pouco se preocuparam os memorialistas

que narraram e ainda narram parte do processo histórico. Pudemos

constatar na região Norte e Sudoeste do Estado, uma produção de

memórias históricas que se valiam dos depoimentos das elites

conservadoras dominantes, não dando as comunidades indígenas a

oportunidade e o espaço para narrarem a sua história. Em muitas

cidades da região Norte do Estado de São Paulo, como a de Olímpia,

capital nacional do folclore e a capital dos grandes lagos que é São José

do Rio Preto, a produção da história regional é direcionada para a

pseudoverdade dos desbravadores mineiros que desenvolveram o

sertão paulista, trazendo a modernidade mesmo que tardia, para estas

paragens. Documentos que registraram apenas um lado da História da

antiga província e deste atual Estado.

Na cidade de Assis, localizada na parte Sul do Oeste paulista,

distante do centro Norte do Estado de São Paulo, também pudemos

observar a produção de uma parcela de trabalhos literários e

memoriais, portadores de uma História tradicional e unilateral, onde o

indígena é tratado como um não portador de cultura, feroz e

Page 33: Ideologia e Culturas IndÍgenas

33 responsável pelo retardamento do processo civilizatório em todo

século XIX no vale do Sertão do Paranapanema. Livros de memórias,

que, como nas demais regiões pesquisadas, sedo nos Estados de Goiás,

Mato Grosso e principalmente no de São Paulo, são perpetuadoras de

mitos que desclassificam as culturas indígenas, provocando

generalizações sobre a questão indígena, fazendo que gerações

posteriores dêem continuidade ao etnocentrismo marginalizador de

culturas.

O mito do herói desbravador, aventureiro de coragem singular,

foi identificado em todas as obras de História regional e em Assis,

também encontramos trabalhos comprometidos com a realidade no

processo histórico, onde a questão indígena é tratada com criticidade

em relação aos colonizadores mineiros do século XIX. Trabalhos com

este viés fazem parte da menor parcela da produção literária local e

regional, mas estão presentes, no que tange a unilateralidade da

história tradicional, produzida por memorialistas que são tidos como

“deuses” pela população ideologizada, incapaz de compreender a

crítica construtiva dos trabalhos escritos, que não os desclassifica nem

os nega, e sim, os trata como objeto de análise que objetiva contribuir

para uma melhor compreensão da História, que em nosso trabalho se

direciona as culturas indígenas no Estado de São Paulo.

Em Assis, pesquisamos na biblioteca da Fundação Assisense de

Cultura (FAC), no entro de documentação e arquivo da Unesp e na

biblioteca da Unesp. Em relação a cultura indígena no interior de São

Page 34: Ideologia e Culturas IndÍgenas

34 Paulo, encontramos dados, que no mínimo, colocam em cheque, muitas

das argumentações da contidas em trabalhos de história e literatura

regional em outras localidades, como é o caso da cidade de Olímpia.

Pois muitos escritos dizem que quando os colonizadores de Minas

Gerais chegaram, não existia “bugre” algum por estas paragens. Fato

este totalmente mal analisado pelos autores da história tradicional.

Ao analisar os textos, de diferentes datas, nas mesmas cidades e

até em algumas distantes, como é o caso em relação a Assis,

observamos que as comunidades indígenas estiveram presente na área

invadida pelos colonizadores mineiros durante a maior parte do século

XIX e que só foram perdendo o seu espaço, conforme a invasão

“civilizadora” ia fincando cruzes e demarcando o território roubado

com a pólvora e o facão. Relatos em documentos que na invasão a tão

abordada geada que ocorrera por volta da segunda metade do século

XIX, mas, são documentos que possibilitam interpretar que as

comunidades indígenas que secularmente habitavam o interior do

Estado de São Paulo (na época, Província de São Paulo), não morreram

de frio oi foram embora devido aos efeitos da geada, e sim do impacto

cultural, das guerras e da transfiguração étnica imposta pelos “heróis

do sertão”, que ao meu ver, mais se autoclassificam como assassinos

hipócritas, os quais matavam populações indígenas e depois os

enterravam em cemitérios da igreja católica. Foram covardes,

assassinos, estupradores e ladrões, como já dissera o poeta brasileiro

Renato Russo.

Page 35: Ideologia e Culturas IndÍgenas

35 Acredito ser de grande valia uma apresentação das obras

pesquisadas nesta outra localidade do interior do Estado, assim como

procedemos sobre a História tradicional e a Literatura regional em

outras cidades.

No ano de 2003, com apoio da prefeitura do município, Maria

das Graças e outros autores, publicaram o livro: Assis: cidade fraternal.

Neste trabalho, o primeiro que tive contato, identifica-se um capítulo

especial as etnias indígenas, embora curtíssimo, limitando-se a

identificar os grupos étnicos existentes na região do interior antes da

chegada dos desbravadores, mostrando-se atenta a uma pré-história de

Assis, quase não abordada por outros autores. E, como foi dito

anteriormente, não se rompe com o tradicionalismo das histórias locais,

sendo os autores, incapazes de compreenderem a mancha de sangue

que inundou o Sertão do Paranapanema no século XIX e XX, ou ainda,

possivelmente, não necessariamente incapazes de compreender, depois

de tanto tempo, a realidade histórica sobre a questão indígena, mas sim

por incapacidade de romper com o tradicionalismo marginalizador das

“minorias” socioculturais, que acabou por contribuir na publicação d

livro de autoria válida, mas que como este, não está imune a crítica do

presente e no futuro do tempo.

No primeiro capítulo: As Origens, os autores tratam da questão

indígena, como segue a citação:

“Os primeiros habitantes da região de Assis foram tribos indígenas : os

valentes e temidos coroados; os cayuás, os kaingang, provenientes do Paraguai,

Page 36: Ideologia e Culturas IndÍgenas

36 e os xavantes,também conhecidos pelo nome de otis, vindos do Mato Grosso,

que ocupavam os campos e os cerrados.

A região já era conhecida pelos portugueses da Capitania de São

Vicente e pelos castelhanos do Paraguai, no século XVI, já que eles se

comunicavam pelas velhas trilhas indígenas e pelo rio Paranapanema. No

início do século XVII, os jesuítas castelhanos construíram, às margens do

Paranapanema, ao lado de território do atual Estado do Paraná, aldeias de

índios catequizados, conhecida como as reduções missionárias jesuíticas,

denominadas Santo Inácio e Loreto. As ruínas de tais construções ainda podem

ser vistas em território paulista.”(Pgs. 6 e 7).

Neste capítulo, identificamos uma única análise critica sobre a

questão indígena e o processo de invasão do sertão paulista. Observe

como se encontra:

“Eram nômades, mas hoje, parcialmente dizimados pelo

homem branco, vivem em pequenas aldeias, baseadas na agricultura de subsistência”.

(pg. 7, Box 1) Por ser uma obra tão recente, poderia oferecer para o leitor um

quadro mais realista sobre as comunidades indígenas aldeadas. Muitos

povos indígenas foram extintos, juntamente com sua cultura pelo

colonizador, no Paranapanema, no Tietê, no Rio Grande e Rio Turvo, o

que restou foi uma parcela pequenez de indígenas, com suas culturas

Page 37: Ideologia e Culturas IndÍgenas

37 nativas violentadas, vivendo quem dera de uma agricultura de

subsistência! A sociedade capitalista, com sua ideologia de consumo,

exige muito mais que economia de subsistência, exige venda da força

de trabalho, para sustentar os desejos e vícios de uma sociedade de

consumo.

Já no segundo capítulo: Os Desbravadores; os autores escrevem:

“O território onde hoje se localiza Assis foi esquecido pelos

bandeirantes paulistas. Os desbravadores da região do sertão do

Paranapanema foram os mineiros. Um deles nascido em Pouso Alegre,

foi José Teodoro de Souza que, convidado pelo também mineiro

Coronel Tito Correia de Melo, rico morador de Botucatu, saiu de Pouso

Alegre, MG, com destino a Província de São Paulo, indo em direção a

Mogi Mirim e, em seguida, rua a Botucatu" (pg. 8)

“Teodoro de Souza e seus companheiros chegaram ao Sertão do

Paranapanema depois da promulgação da lei de terra de 1850, que para

combater a instituição das sesmarias, reconhecia como legítima apenas

a propriedade de terras compradas do Estado”. (pg. 8)

No terceiro capítulo, encontramos citações importantes sobre o

período da presença indígena o interior da Província no século XIX.

Observe:

“(...) Assis nogueira, a família e alguns amigos viajaram durante

36 dias em carro de boi, para as terras, que então eram habitadas por

índios. Para evitar o enfrentamento com eles, o grupo permaneceu, até

1898, na fazenda do amigo Machado de Lima.

Com a chegada de muitos posseiros à região, as estradas

começaram a ligar os núcleos povoados e os nativos foram

Page 38: Ideologia e Culturas IndÍgenas

38 desaparecendo da área, sendo mortos em conflitos ou simplesmente

fugindo da chegada do homem branco.

Em 1898, finalmente, o Capitão Assis Nogueira se estabeleceu na

área que havia comprado e construiu uma casa" (pg. 12).

Deste capítulo em diante a questão indígena é praticamente

esquecida e o texto passa a dar, cada vez mais, atenção para o

fenômeno do processo civilizatório e o discurso da modernidade. É

claro que nesse dissertar, os autores fazem apontamentos

valiosíssimos, de personalidades e instituições que contribuíram para o

desenvolvimento tardio da economia de integração ao capitalismo.

Mas acaba por redundar em uma ideologização de uma cidade sem

fraternal, constituindo-se neste aspecto com muitas outras obras da

História do Brasil, que escrevem no inferno e publicam com patrocínio

do diabo, o mundo de Alice no país das maravilhas!

Um outro trabalho, escrito por Leoni Ferreira da Silva, intitulado:

Minha Terra-Assis; o estereótipo indígena e o etnocentrismo se faz

muito presente. Oferecendo ao historia dor do presente uma rica fonte

para pesquisa bibliográfica. Nesta produção o elemento indígena é

citado constantemente, embora seja para taxa-lo e concebe-lo como não

civilizado e perigoso. Como pode ser observado no capítulo, Povoados

extintos e origem de Assis, onde o memorialista demonstra um

saudosismo para com os “heróis do sertão”, registrado com a

publicação do livro em 1979. Observamos a preocupação latente em

abordar o verdadeiro fato histórico, mas o que ocorre é um narrar

Page 39: Ideologia e Culturas IndÍgenas

39 redundante no tradicionalismo memorial, procurando fudamentar-se

em uma documentação escrita, concebendo os documentos como

verdadeiros apenas por terem sido escritos no século XIX, não

questionando, não problematizando a rica fonte documental que

trabalha. Limitando-se a reconhecer a autoridade documental,

refutando análises que diferissem dos escritos constatados nas fontes,

como se o documento fosse irrefutável. Uma abordagem enfatizada

pelo autor que nos convenceu da necessidade de apresentar a citação

total do capitulo como segue, com o nome - Uma prova Incontestável:

“digitar o texto e fazer a crítica...

Um terceiro dos vários trabalhos analisados, este, totalmente

singular aos demais no que tangue a cultura indígena e a questão do

índio no processo de invasão no interior de São Paulo no século XIX,

realizado por Adriano Campanhole, em 1985, sob o título: História da

Fundação de Assis; dedica um capítulo especial a cultura indígena e o

confronto entre estes e os invasores. Neste capítulo: Índios e Brancos

em Guerra, o método de abordagem nos faz recordar do antropólogo

Darcy Ribeiro em O índio e a Civilização, pois Campanhole realiza

uma análise crítica da ocupação do território pelos mineiros na

Província de São Paulo. Contrastando assim, com as demais obras

analisadas por nós, e, ainda a mais instrumentalizada para abordar a

Page 40: Ideologia e Culturas IndÍgenas

40 questão das idéias no universo civilizatório dos mineiros e seu impacto

nas culturas indígenas em todas as regiões que realizamos o

levantamento bibliográfico para este trabalho. Observe algumas

citações do capítulo que nos referimos:

“Já não precisamos agora da nossa imaginação para concluir que

a mata densa foi sendo devastada (...) O índio, embora a custo, cedeu

seu passo ao branco invasor. E não seria demais que se curvasse – como

acontece – à valentia daquela atrevida gente que, além do mais,

aterrorizava os campos e as selvas com o troar irresistível implacável, e

impiedoso de suas armas de fogo.

Seria a morte em massa dos índios (...)

‘Nas matas do Rio Tietê ao Vale do Paranapanema e daí ao

Paraná viviam os índios conhecidos como Coroados que, segundo

parece, não despertaram os interesses dos bandeirantes como mão de

obra escrava, talvez por serem mais aguerridos e pouco numerosos em

relação ao grande número de indivíduos pacíficos que existiam mais a

Oeste ou talvez porque falando língua não incluída no Tronco Tupi e

que só conheciam uma agricultura primitiva, não dessem escravos

adequados ao tipo de trabalho que lhes seria imposto’ ” 8.

Em um subtítulo com o nome – Resistência Indígena - deste

mesmo capítulo, encontramos:

“Teodoro Sampaio fez amplo relato da resistência indígena

contra o branco invasor. A chapada dos Agudos era considerada como

8 Delvair Montagner Melatti. Aspectos da Organização social dos Kaingangs Paulistas, pág. 9. In: Adriano Campanhole – História da Fundação de Assis, pg. 20.

Page 41: Ideologia e Culturas IndÍgenas

41 o ninho da bugrada não submetida. Os silvícolas assaltavam,

assassinavam, e deformavam os cadáveres.

‘O índio – diz o cientista – é de fato a maior dificuldade que

encontra o povoamento do Vale do Paranapanema. Obrigado a fugir

sempre diante do colono invasor, que lhe destrói as matas, que lhes

restringe dia por dia a área das excursões venatórias, o índio, antigo

senhor, reage como pode, mata e rouba à traição e jamais esquece a

vingança como nunca se modera em atrocidades. È já bem longa a lista

dos que pereceram vítimas da ferocidade do índio nestes últimos

quinze anos; famílias inteiras trucidadas, mulheres, meninos, animais

domésticos, tudo perece da maneira mais cruel. O índio é um inimigo

quase inatingível. Uma vez recolhido aos seus esconderijos, raro pode

ser surpreendido. E uma batida feita nas matas mais prejuízo dará aos

atacantes do que aos índios atacados’.9

Narra Nogueira Cobra a luta cruenta dos brancos chefiados pelo

Cel. Francisco Sanches (ou Sancho) de Figueiredo, contra os índios,

varridos por ele das matas da margem direita do Paranapanema e de

grande parte da Bacia do Rio de Peixe. As investidas contra os nativos

tinham o nome de dadas”.10

“Leiamos, de Nogueira cobra, a descrição de uma dessas

violentas sortidas:

‘Depois de longa e penosa caminhada, realizada em silêncio, o

chefe faz sinal de parada, porque o inimigo vem próximo. Dispões sua

9 Teodoro Sampaio, in Comissão Geográfica e Geológica do E. S. Paulo – Vale do Rio Paranapanema – Vol. 4, 1890, págs 21 usque 30. Citação feita por Campanhole, pg. 22 e 23. 10 Leoni Ferreira da Silva, ob. Cit., pág. 265. In: Campanhole,pg. 24.

Page 42: Ideologia e Culturas IndÍgenas

42 gente. As sentinelas e os vigias nas árvores estão atentos. Esperam.

Ouvem-se assobios. O cão enraivece. Não há mais dívida: a hora do

ataque vai soar.

De repente saltam os índios de todos os lados. Como tigres

investem de tacape erguido e atiram flechas, enquanto seu chefe, que

está perto, anima-os e encoraja-os com gestos e com um grito de guerra

parecido com a seguinte interjeição que usamos: upa! upa! upa! ao

mesmo tempo batendo no tronco das árvores com um cacete para dar

ordem de ataque mais vigoroso e sem cessar.

Mas a luta é desigual. O branco usa armas de fogo que o silvícola

não possui. O combate não dura mais de meia hora. As mulheres são

mortas ou aprisionada. Alguns rapaizinhos são levados para a fazenda

de Sancho na situação de semi-escrsavizados’.

Quando os capuchinhos se dirigiam à área para organizar uma

catequese, acompanhados de bugreiros, foram atacados pelos índios.

Os padres, vendo a dificuldade da situação, isto é, a morte inevitável

para todos, gritavam ‘Atirem nos selvagens!’. A missão acabou, desta

forma, transformando-se numa dada.

Em 1911 – diz o mencionado autor – não havia mais índios na

região de Campos Novos”.

Em outros momentos desse mesmo caput, Campanhole

continua a denunciar a destruição das comunidades indígenas e

a transfiguração étnica no interior do Estado de São Paulo.

Observe mais algumas passagens:

Page 43: Ideologia e Culturas IndÍgenas

43 “Com dor e sangue efetivou-se a ocupação do grande vazio

demográfico em que imperavam os índios brabos ou Coroados.

(...). A picadas foram marcadas pelas cruzes, que já não

simbolizavam a piedade cristã, mas sangrentos marcos miliários ou

quilométricos.

(...). Que teria desencadeado a violência entre o conquistador e o

íncola? Seriam os Coroados ou índios brabos agressivos por natureza?

Que fator gerou a luta de vida e morte em que se empenharam, quer no

litoral, quer no interior distante, o nativo e o branco?

(...). Se a luta com o silvícola chegou ao fim com o seu quase

extermínio, não cessaria, porém a batalha pela posse da terra, na qual se

empenhariam por vezes sangrentamente proprietários, posseiros e

grileiros “.

Como podemos analisar, o trabalho de Adriano Campanhole, A

História de Fundação de Assis, foge a regra de abordagem da história

tradicional no interior de São Paulo. Também não se enquadrando,

portanto, na composição da literatura regional que em sua grande

parcela, marginaliza ou simplesmente ignora as etnias indígenas no

interior do Estado de São Paulo. Diferente de outras produções,

Campanhole não a dota a verdade absoluta apresentada pelos

documentos. Ficando assim, longe de um olhar monolítico, que o

permite abordar a questão indígena e compreender a questão indígena

diante do discurso do colonizador que pregava a civilização no sertão

do Vale do Paranapanema. Uma visão que observamos ser muito

Page 44: Ideologia e Culturas IndÍgenas

44 limitada em outros trabalhos, ou ainda, inexistentes e desta forma

sendo incapazes de compreenderem a questão do outro.

O município de Assis passa por um período de nostalgia, para

alguns, onde se comemora o ano 100 acerca da sua fundação, mas

também é importante refletir neste ano centenário sobre a

marginalidade, as omissões e mentiras sobre a cultura indígena que em

toda região da cidade de Assis serviram para justificar o mandonismo

local e regional que sempre existiram em favor das classes dominantes,

sejam coronéis, líderes religiosos ou políticos lacaios que falseiam a

realidade, apresentando um discurso ideológico capaz de iludir e criar

falsas verdades históricas no imaginário social de Assis e nas demais

regiões do atual Estado de São Paulo.

Page 45: Ideologia e Culturas IndÍgenas

45

6. A capital nacional do Folclore: Olímpia e a produção da história tradicional marginalizadorada

cultura indígena

De forma semelhante a Assis a cidade de Olímpia,

localizada na região Norte do interior do Estado de São Paulo,

também presencia a nostalgia do seu primeiro centenário.

Durante estes anos, que perfazem mais de um século, a

história deste município fora contada pelos descendentes dos

desbravadores e dos que foram portadores do poder da

literatura local e regional. Sempre iniciando o seu narrar,

desprezando e ignorando a questão indígena. Nos últimos vinte

e nove anos, foram raros os artigos e qualquer outra publicação

sobre a história local que se preocupasse e reconhece-se a

história destes povos que foram dizimados, ou ainda, como

narra a história tradicional: “foram para outras paragens a

Page 46: Ideologia e Culturas IndÍgenas

46 procura de abrigo”. Em nosso país a narrativa histórica é

impregnada de um tradicionalismo assassino que viola a

realidade histórica das minorias. Possuímos durante muitos

séculos, a herança européia de um método narrativo incapaz de

analisar a cultura sincrética que se fez neste território

nacionalizado por portugueses vindos da ibérica. E, com efeito,

a tradição escrita, salvo raras exceções, manteve-se nas mãos

da classe dominante, que com o seu mandonismo local e

regional ditavam de forma única a “verdade” histórica da região

sob a sua tutela. Nações indígenas que viviam nas terras da

região de Olímpia foram ignoradas em nossos livros de História.

Nações que vieram da África receberam o chicote como presente

dos homens que se diziam senhores de outros homens e

mulheres. Ficando apenas um dia comemorativo, quando muito,

uma semana onde as escolas para cumprirem os conteúdos dos

parâmetros curriculares enfiam goela a baixo em seus alunos

uma história que lhes é estranha, pois raramente lhes ensinam

de forma adequada.

Uma certa vez em uma comunidade indígena próximo ao

rio Tietê, um jovem Kaingang perguntou-me, de forma

exclamativa e indignada: por que a nossa história não é

ensinada nas escolas do branco?!? Na hora não fiquei nada

surpreso com a indagação, pois não era a primeira vez que um

jovem indígena me fazia esta pergunta.

Como qualquer homem em sã consciência, respondi que

Page 47: Ideologia e Culturas IndÍgenas

47 era devido a uma grande injustiça que historicamente se

perpetuou. E ele... Continuou indignado... Retirando-se.

Justamente por essa indignação que muitos desbravadores

mataram centenas de milhares de indígenas na época da

ocupação do interior do Estado de São Paulo. Os “heróis do

sertão” traziam as suas doenças, destruíam as matas para

plantarem, roubavam a terra, as mulheres, traziam a cachaça, o

papel e a cruz, dando aos indígenas uma pseudo lição de

civilização, não levando em consideração a sua cultura, a sua

religião e a sua organização política e social. E neste contexto,

coube aos memorialistas o dissertar de tais desbravadores,

“civilizados e possuidores de cultura”. Será real o que diz os

documentos da história local, seja em Olímpia e em qualquer

outra cidade? Quantos habitantes de Olímpia foram informados

sobre a religião dos Guarani que por lá viveram? Alguém sabe se

existiam casos de homossexualismo entre eles? O que faziam

quando contraiam alguma doença? Como era a sua língua? Será

que pagavam impostos a algum tipo de líder político? Eles

produziam cerâmica, metais ou qualquer tipo de arte? Possuíam

ídolos? Que tipo de roupa usavam? Como escovavam os dentes?

Como faziam as mulheres menstruadas? Andavam deixando

rastros de sangue pela aldeia? Do que brincavam as crianças?

Os pais batiam nelas? Eram proibidos de fazer alguma coisa?

Os jovens se masturbavam? Buscavam o prazer sexual ou

apenas a reprodução? Praticavam esportes? Estudavam? Como

Page 48: Ideologia e Culturas IndÍgenas

48 era tudo isso?

Se o meu caro leitor soube responder a todas estas

perguntas, com certeza é um privilegiado neste universo de

império da literatura tradicional, pois dificilmente encontrarás

as informações nos livros de História da nossa cidade. Não que

neste momento eu escreva para criticar os memorialistas

tradicionalistas do nosso município... Pois faço isso todos os

momentos da minha existência como militante da causa

indígena no Brasil! O governo e nossas escolas (nossas sim,

porque pertencem ao povo!) de Olímpia pouco informam os seus

cidadãos a respeito deste outro lado da História da cidade. O

que o governo do povo faz para ensinar a história local em

nossas escolas? A Escola Silva Melo é uma grande exceção neste

quadro, pois o seu material didático, por exemplo, da quarta

série do ensino fundamental, trabalha com maestria a questão

indígena nacional, fugindo a regra do tradicionalismo

excludente das minorias. Porém, a história municipal não faz

parte das cartilhas de História do Governo Federal, fato muito

bem compreendido por nós, pois a história local dá vida a um

infinito número de programas de conteúdos escolares. Então...

O que o governo de Olímpia pode contribuir? O que poderia

fazer? Acredito que muita coisa, pois a Secretaria da Educação

no município tem o poder de incluir de forma digna a questão

indígena nas salas de aula. Não se trata de fazer um projetinho,

um muralzinho, um painelzinho, ou uma monolítica exposição

Page 49: Ideologia e Culturas IndÍgenas

49 de fotos e quadros. Isso já vem sendo feito desde o período

colonial. Este ensaio propõe a reflexão coletiva e crítica sobre a

marginalidade indígena no interior do Estado de São Paulo.

Com métodos claros e exeqüíveis, que possam contribuir para a

formação do educando, do educador e das sociedades indígenas.

Métodos simples que agucem e despertem na envolvente

sociedade a busca da sua identidade local e o respeito a

diversidade cultural. Que os projetos desenvolvidos sejam

realizados não por obrigação pedagógica como podemos

constatar. Que o professor (infelizmente muito mal remunerado

em nosso país) possa dirigir a proposta aos seus alunos de

forma agradável e coletiva. Bem diferente do quadro constatável

em vários municípios onde o professor recebe uma ordem e

sozinho, tem que se virar para desenvolver determinados

projetos em prazos humanamente impossíveis.

Em que podemos ajudar? Ou fazemos algo... De

preferência em harmonia com as instituições que nos

representam, ou viveremos ingerindo goela baixo a historieta

corrompida e fétida que nos apresentam, a cada apagar de

velas, que mais representam o funeral da História sociocultural

e um constante sepultamento das culturas nativas.

Iniciando com essa problemática é que pretendemos dar

continuidade ao tema proposto acerca das representações das

culturas indígenas na história tradicional e na literatura

Page 50: Ideologia e Culturas IndÍgenas

50 regional, tendo agora as produções memorialistas em Olímpia

como objeto de estudo crítico e construtivo.

Durantes anos morando em Olímpia e ainda, por algum

tempo trabalhando como pesquisador em História indígena no

Museu de História e Folclore Maria Olímpia, pude constatar que

a representação do elemento indígena nas páginas da história

local é eurocentrada, quando existente, e composta por

etnocentrismo. Os trabalhos escritos sobre a história da cidade,

salvo a raras exceções, são mera cópias do que se escreveu nas

décadas de 60 e 70. Nossa pesquisa bibliográfica foi centrada

em alguns trabalhos de grande expressão local, encontrados na

Biblioteca Municipal e na biblioteca do Museu, onde

pesquisamos estes últimos anos. Ao selecionarmos os trabalho

que seriam nossos objetos de estudo historiográficos, levamos

em consideração a sua representação acerca de seus objetivos e

métodos abordados sobre a história de Olímpia.

O primeiro trabalho é o livro: História dos Símbolos do

Município de Olímpia, escrito pelo Professor José Sant’ Anna,

com o apoio da Prefeitura Municipal e publicado em 1995.

Mesmo com o título recordado sobre os símbolos da cidade, o

trabalho também aborda a história da cidade, principalmente

acerca da sua fundação, justificando assim, o nosso interesse

no estudo. Um outro trabalho que nos chamou a atenção foi

escrito pelo professor Rothschild Mathias Neto, intitulado:

História de Olímpia, escrito em 1962; e ainda a Revista de

Page 51: Ideologia e Culturas IndÍgenas

51 História, escrita por José Maria Marangoni. Entre os trabalhos

que constam na Biblioteca Municipal, pesquisamos as seguintes

obras, embora não sejam nossas fontes sobre a questão

indígena, mas que retratam a história de Olímpia ao seu modo:

O tiro de Guerra e Olímpia em Revista. Ano II, 1961. SGT

Lordêlo,tg32, onde apresenta uma história militarizada com

poemas, não tocando em momento algum sobre a cultura

indígena. Alguns aspectos da Paisagem Rural no município de

Olímpia. Ely Goulart Pereira de Araújo. Separata do Boletim

Paulista de Geografia, SP,1950. Este trabalho faz referencia a

questão indígena na região e mantém o discurso tradicionalista

como podemos citar: “Convém acentuar que o índio não

constituiu obstáculo às primeiras penetrações. Quando o

homem branco chegou, vindo do sul, não encontrou mais

nenhuma tribo, embora fossem inúmeros os vestígios de sua

existência. No local da cidade de Olímpia havia uma enorme

taba e até hoje, quando são feitas escavações, encontra-se

restos dessas tribos, talvez de Coroados: vasos funerários,

objetos de cerâmica, armas, esqueletos e ata o forno destinado

ao fabrico de utensílios de barro tem sido descobertos. Acredita-

se que os índios abandonaram o local, seguindo mais para o

Oeste, fugindo aos grandes incêndios, que castigaram a região

após a forte geada de 1870” (pg16).

Como é observável, a história da geada parece ser a grande

redundância na maior parte dos trabalhos escritos sobre o

Page 52: Ideologia e Culturas IndÍgenas

52 processo migratório dos indígenas no interior do Estado de São

Paulo. Sempre a grande geada da segunda metade do século

XIX aparece como a grande responsável pelo desaparecimento

das etnias indígenas. Raramente falam da pólvora e o desejo de

ocupação das terras do sertão paulista!

Na seqüência desta pequena apresentação de trabalhos

encontrados citamos o livro: A História do Distrito de Baguaçu.

Realização: EMEIEF “Washington Junqueira Franco”. 2003.

Projeto Centenário de Olímpia.Embora os autores não citem a

fonte, encontramos uma informação interessante acerca da

presença indígena à época da ocupação do sertão, quando narra

a divisão das famílias pioneiras,vejamos: “ (...) Assim, essa parte

do clã sai de Alberto Moreira e passa por Cafundó, à procura

por Gliciuma (Guaraci), que já era formada, não a encontra e

chega no Capão do Baguaçu, onde encontra muitos coqueiros,

que no Nordeste brasileiro, são chamados de babaçu. Os índios

Tupi, aqui encontrados, chamavam-nos de baguaçu; gostavam

do lugar, água havia em abundancia e aqui ficaram” (pg.8).

Embora um tanto confuso o fragmento de texto citado, ele

nos oferece, no mínimo, o questionamento sobre a não

existência dos indígenas nas terras que hoje são Olímpia e

região. Fato este que abordaremos com mais profundidade

quando analisarmos as nossas maiores referencias

bibliográficas neste estudo.

Page 53: Ideologia e Culturas IndÍgenas

53 Outros trabalhos foram listados e analisados, como: O

Sertão Acabou. José Alvarenga.1998. Ministério da Cultura.

Trata-se de um trabalho de síntese a respeito da história dos

municípios do interior do Estado de São Paulo, onde o autor faz,

na página 226, referência à cidade de Olímpia, tratando-se de

um texto que já se encontra publicado por José Sant’ Anna,

anos antes, o qual não faz referência alguma a questão indígena

ao falar da história de Olímpia. Um outro trabalho, Revista

“Olímpia Querida Olímpia”, dirigida por Luiz Carlos Píton, 1970,

não escreve nada sobre a presença indígena, até mesmo porque

a finalidade da revista não é, na realidade escrever a História e

sim publicar os interesses da fraca elite olimpiense que deseja

ser grande. E, além destes livros e revistas, consultamos as

pastas com recortes de jornais e documentos diversos sobre a

história de Olímpia, sob os números 20.324, que nada consta

sobre a história indígena na região; 08.324, onde encontramos

um caderno especial de domingo, datando de 25 de agosto de

1996, Diário da Região: Indígenas viveram no Cafundó”; 39.324,

que possui processo do Sítio Arqueológico Maranata. Instituto

Brasileiro do Patrimônio Cultural, 9ª coordenadoria Regional –

São Paulo. Arqueóloga Maria Lúcia Branco Pardi (funcionária).

Ainda nesta pasta encontramos novamente, nas folhas 07 e 08,

referencias aos indígenas e a geada de 1870. Encontramos o

mesmo texto que está na história do distrito de Baguaçu, sendo

Page 54: Ideologia e Culturas IndÍgenas

54 este, talvez, a fonte para a argumentação apresentada no livro

do distrito quando narra a presença tupi na região.

Mas como já foi apresentado ao nosso leitor, estes

documentos, sinteticamente apresentados, consistem em a

priori, no levantamento bibliográfico deste nosso trabalho, onde,

por coerência de pesquisa, selecionamos nossas fontes

principais para o desenvolvimento deste ensaio. Procuraremos

agora nos determos aos trabalhos de maiôs destaque sobre a

História de Olímpia, embora todos os livros e revistas em geral

tenham o seu grau de importância histórica, não sendo nosso

objetivo classificar nem um nem outro como superior ou

inferior.

O Trabalho produzido em 1963 pelo professor Rhothschild

Mathias Neto, sob o título: História de Olímpia; é uma das

nossas grandes referências bibliográficas. Iniciaremos por ele,

pois este livro nos subsidia argumentos qualitativos sobre a

história indígena no interior do Estado de São Paulo.

Trata-se de um trabalho de grande valor para entendermos

as história de Olímpia e de boa parte da região do Norte do

Estado. Sem a preocupação de agradar correntes políticas,

diferindo-se assim de uma das grandes características da

história tradicional, o trabalho do professor Rhothschild se faz

por dedicação ao magistério e por suas idéias que

contextualizadas na década de sessenta, são extremamente

inovadora, principalmente quando obta em levantar

Page 55: Ideologia e Culturas IndÍgenas

55 problemáticas ao invés de rasgar elogios pelegos a grupos

políticos que articulavam o apoio ao golpe político e militar que

se concretizaria um ano depois. É claro que em História de

Olímpia Rhothschild, também acaba por contribuir para a

perpetuação do mito do herói do sertão, mas o fato de não ater-

se estritamente a este pondo, torna seu livro uma verdadeira

pérola para o estudo historiográfico local e regional. Para

demonstrar alguns exemplos, citaremos alguns momentos deste

trabalho, que pode nos ajudar a entender algumas contradições

existentes em trabalhos posteriores, vejamos então:

“ Sim, neste remanso selvagem espairava o perigo a cada

passo dos aventureiros que nele se embrenhavam para coloniza-

lo e transforma-lo como o céu e serenidade paz e harmonia”.

(Pg. 2)

Aqui podemos observar o tradicionalismo sobre o processo

civilizatório que marca a grande parcela das produções

memorialista, e continuando:

“Não estou fazendo discurso, nem uma crônica mas sim

procurando meios para glorificar os já citados pioneiros que com

coragem e bravura lutaram sem esmorecimento para dar-nos a

Olímpia de Hoje.

Infelizmente não encontro termos para isso, contudo espero

que estas expressões sirvam de hobjeto para abrilhantar a trilha

do desbravamento”. (pg.02)

Page 56: Ideologia e Culturas IndÍgenas

56 Como é visível a apologia aos desbravadores do sertão

nestas duas citações procuramos o entendimento de tal

discurso. E, uma explicação hipotética levantada se estende aos

demais memorialista que é a formação oficial ditada pelos

projetos pedagógicos escolares pregados pelas autoridades

governamentais, que na realidade nunca se preocuparam com a

política indigenista e muito menos em narrar a história

indígena, porque até mesmo seria o narrar de muito sangue e

atrocidades executadas pelos “anjinhos do progresso e da

civilização moderna!

Mas o que nos chama a tenção no livro em análise é a

preocupação que o torna singular entre os trabalhos realizados

na história de Olímpia. Vejamos alguns momentos:

“Alem de tudo e após tudo, neste lugar outrora localizava a

fazenda Olhos D’ Água com treze mil alqueires de propriedade

de Antônio Joaquim dos Santos, que por volta de 1859 veio para

cá.” (Pg.02)

Nesta citação Rhothschild nos apresenta uma data de

grande valia no que diz respeito ao processo de ocupação do que

hoje é a região de Olímpia. Ele afirma que por volta de 1859 já

estavam na região os mineiros, representado por Antônio

Joaquim dos Santos. Uma datação importante, pois nos ajuda a

entender melhor a contradição existente na história tradicional

acerca das migrações das etnias indígenas da região de Olímpia

no interior do Estado, pois as demais análises, de outras obras

Page 57: Ideologia e Culturas IndÍgenas

57 que afirmam não ter existido contato algum entre indígenas e

colonizadores, apontam datas posteriores para a saída completa

dos indígenas da região, que teria ocorrido após a geada em

1870.

Outro momento importante no trabalho de Rhothschild é a

problemática que levanta a respeito do processo colonizador no

sertão paulista: “ Sabemos lá as dificuldades que teve em cada

dia de sua existência aqui? (...) Se nós, que estamos já agora em

uma cidade civilizada com assistência médica, recursos fáceis

para tudo; temos nossas dificuldades imaginem então naquela

época com a falta de tudo isso. (...) Como se livraram das

febres? que são constantes nos sertões; como conseguiram

víveres? Pois estavam praticamente isolados da civilização; é..

nem é bom pensar; eles superaram tudo, tiveram que superar,

tiveram que sobreviver, para formar e deixar-nos uma cidade

civilizada”. (pg.02).

Além de uma datação importante para a realização de uma

análise critica sobre a desclassificação da história indígena na

história local e regional, Rhothschild nos apresenta uma

preocupação com fatos e possibilidades pouco levantadas na

produção historiográfica de Olímpia. E sobre oque é o nosso

grande objetivo nesta análise, que é a questão indígena, o

trabalho do professor Mathias Neto contribui com abordagens

que corroboram para o entendimento da história que fora

forjada pela classe dominante. Rhothschild Mathias Neto não

Page 58: Ideologia e Culturas IndÍgenas

58 nos apresenta diretamente em História de Olímpia no ano de

1963, uma defesa indigenista ou ainda um texto que procure

abordar a cultura indígena no contexto histórico da ocupação

mineira no interior do Estado de São Paulo no século XIX, mas

proporciona informações que contribuem indiretamente para

uma melhor análise das ideologias dominantes e seu

relacionamento com as cultura indígenas na província de São

Paulo e atualmente no estado constituído após a proclamação

da República em 1889. Vejamos ainda angumas outras citações

que nos fornecem elementos para desbancar a afirmação da

grande geada e o “desaparecimento” dos indígenas nas regiões

invadidas no sertão paulista:

“Todos nós sabemos que o primeiro habitante desta terra

situada ao norte do estado de São Paulo foi o guarani, que

devifo a uma grande geada êste abandonou as margens do

Turvo e foi para as margend do rio Tietê.

Por volta de 1859 veio para região um pioneiro sertanista e

progressivo, Antônio Joaquim dos Santos Juntamente com seus

filhos em número de cindo e com 60 escravos, sua esposa

também o acompanhou chamava-se Maria Ignes de Jesus.(...)”

(pg. 05).

Neste capítulo: Fundação da cidade(pg.04), como

observamos nas citações acima, o autor se preocupa em citar a

existência da etnia Guarani, onde os classifica como os

primeiros habitantes destas terras, e ainda reafirma a tão

Page 59: Ideologia e Culturas IndÍgenas

59 abordada geada que supostamente acabou por forçar as etnias

indígenas a migrarem para outras localidades do Estado.

Reforça ainda a data de 1850, onde a ocupação das terras

teriam se iniciado sob a chefia de um mineiro. E ainda,

apresenta a existência de escravos que acompanhavam os seus

senhores nesta empreitada de invasão das terras da Província

de São Paulo em meados do século XIX, que nos possibilita mais

uma indagação: porque ninguém escreveu sobre esses escravos?

Eles não possuíam uma história???

***

Um outro trabalho, esse de maior popularidade acerca da

história de Olímpia é o escrito por José Maria Marangoni, que

dedica o maior capítulo escrito sobre a questão indígena na

história de Olímpia, mas é também o que mais gastou tinta com

erros sobre a cultura indígena na região de Olímpia, mas que

valeu a ousadia ao abordar algo desconhecido por parte do

autor que mesmo indiretamente contribui de modo quantitativo

sobre o assunto, possibilitando esta e outras críticas

construtivas, como também está este nosso trabalho

historiográfico de cunho ensaístico sobre a história tradicional e

a literatura regional no interior do Estado de São Paulo.

Analisemos então a obra de publicada em ...

Page 60: Ideologia e Culturas IndÍgenas

60 7. A Literatura Regional e o tradicionalismo histórico memorialista

em outros estados do interior do Brasil

Podemos constatar que na produção historiográfica em cidades

históricas no interior do estado de Goiás, o tradicionalismo

marginalizador da questão indígena se faz presente. Na cidade de

Pirenópolis analizamos algumas obras produzidas sobre a História

regional e, o fato não é diferente do qual observamos no interior do

Estado de São Paulo. Pesquisamos parte da bibliografia no IPHAN

(Instituto de Pesquisa Histórica e Artística Nacional), a qual apresenta-

se muito pobre em relação ao número de trabalhos desenvolvidos e

também por se tratar de um instituto histórico, muito mal estruturado

e pouco aparelhado. Os funcionários trabalham desempenhando o

papel apenas burocrático, e limitam-se a nos receber em sua área de

pesquisa documental, sem maiores auxilios. Entre as obras analizadas

Page 61: Ideologia e Culturas IndÍgenas

61 por nós temos: Pirenópoles – coletânea – 1727-2000 – História

Turismo e Curiosodades; Adelmo de Carvalho. O autor é professor de

História e funcionário do IPHAN de Pirenópoles. Nesse trabalho há a

perpetuação da elite local/regional, não dando destaque a questão

indígena, apenas citando a etnia Kaiapó (Caiapó) em seu livro.

Tentamos ganhar a atenção do autor, mas foi inútil. Ao indagarmos

sobre a questão indígena o mesmo se comportou tresloucado e deixou-

nos sozinhos com alguns textos xerocopiados que tratavam da História

local. O trabalho de Adelmo tem o patrocínio do IPHAN e da

prefeitura local, e em Pirenópolis, é referência bibliográfica para

pesquisadores e turistas interessados no assunto. O escritor pareceu-

nos inseguro sobre o que ele próprio produziu, pois quando indagado

sobre as fontes que trabalhou, o mesmo nos informou que todas foram

queimadas em um “acidente” quando a igreja matriz Nossa Senhora

do Rosário ardeu em um incêndio. Não transmitia segurança em

relação a sua própria produção, como se fosse uma coleção de textos

antigos que foram compilados com fins politiqueiros e projeção

pessoal. Não conseguimos observar no autor a preocupação de um

historiador.

Neste mesmo instituto, sob orientação do professor Adelmo,

tivemos contato com o trabalho de Jarbas Jayme, ex- membro do

Instituto Geográfico Brasileiro e Histórico Geográfico de Goiás. Em

Esboço Histórico de Pirenópoles, primeira edição póstuma, 1971,

pudemos constatar uma produção comprometida com a realidade do

Page 62: Ideologia e Culturas IndÍgenas

62 processo histórico regional, como segue as sitações das páginas 24 e 25,

denunciando a ação colonizadora: “ Devastadas e destruídas a ferro e

fogo as aldeias, até então pacíficas e tranqüilas, os silvícolas que

escaparam a fúria dos bandeirantes se iam refugiar nas solidões das

florestas, onde supunham estar a salvo de tão estranhos civilizadores;

mas embalde, que para êsses aventureiros, não havia deveras nem

distâncias, nem obstáculos insuperáveis.

E os que, porventura, procuravam na resistência salvar o direito

do seu lar, das suas terras e da sua liberdade, eram todos os anos

dizimados pelo ferro exterminador dos cabos da conquista ou

reduzidos ao mais execrável cativeiro.

Nunca tantas e tamanhas barbaridades foram cometidas a

sombra da civilização e do direito de catequeze!

Deste modo, muitas aldeias desapareceram, muitas nações

guerreiras foram extintas e, delas apenas restam hoje os nomes por que

eram conhecidas.

É triste, porem, de considerar-se que, até as prêsas feitas nessas

guerras de extermínio, auferise lucro o Estado, mandando vender os

cativos para cobrança dos respectivos quintos e indenização do

tesouro.

Por muito tempo, a conquista do índio não teve por fim a sua

redução ao grêmio da civilização cristã, dos gozos da vida social, muito

embora o direito escrito garantisse ao gentio o exercício de sua

liberdade, a escravidão foi, durante longo período, uma espécie de

Page 63: Ideologia e Culturas IndÍgenas

63 negócio compartilhado pelo governo, autorizado por êle, apesar dos

constantes protestos dos missionários” (Jarbas Jayme).

Como podemos analizar, esta produção foge à regra

tradicionalista e unilateral, pois não preocupa-se em reproduzir heróis

mitológicos no sertão brasileiro. Este trabalho focaliza a questão

indígena com rigor, não deixando de produzir a crítica na produção

regionalista. São encontrados com facilidade, elementos que nos

ajudam a entender a realidade histórica e o projeto de modernidade no

interior do país e o seu impacto sob as sociedades nativas.

Na cidade de Goiás, conhecida regionalmente como Goiás Velho

ou ainda como cidade de Goiás, observamos a produção ideológica de

uma série de mitos. A figura do desbravador, o colonizador, é alvo de

grande êxtase entre a população local. O movimento de penetração

bandeirante tem como principal protagonista a figura do Sertanista

Anhanguera. No que diz respeito a produção historiográfica,

encontramos no IPHAN de Goiás, uma melhor estrutura e um melhor

preparo. Em nossa recepção fomos bem atendidos e o fornecimento de

trabalhos locais foram fartos. Em outra instituição, o Arquivo de Goiás

Velho, observamos a estrutura precária e a vasta produção

documental.

O mito do sertanejo como herói do sertão ganha espaço nas

páginas regionais da história em detrimento da questão indígena, que

pouco ou nada se sabe na região. Os depoimentos fornecidos

resumiam-se em alguns nomes étnicos e narrativas folclóricas.

Page 64: Ideologia e Culturas IndÍgenas

64 No estado do Mato Grosso, pudemos observar a ideologia do

progresso, e de forma avassaladora nas comunidades indígenas. O

discursso da modernidade colocou-se de forma rígida nas

mentalidades e concepções nativas, não ultrapassando o campo das

idéias apenas. Nas cidades de Aragarças (Goiás) e Barra do Garças

(Mato Grosso), é notável a vida urbana e as tecnologias da

modernidade. Já na cidade de General Carneiro à aproximadamente

100 km de Barra do Garças, a modernidade tecnológica limita-se a um

posto de gasolina, bares e algumas dezenas de veículos motorizados.

Mas a ideologia do progresso não limita-se aos centros urbanos, pois a

Reserva Indígena de São Marcos e as suas aldeias também são

portadoras e receptoras da ideologia da modernidade e do progresso

na estrutura capitalista. Esse fato acaba por marginalizar o indivíduo,

tanto na prática como na produção da literatura regional. Fato este que

assemelha-se com o processo de produção da literatura regional e de

uma história tradicionalista no interior do estado de São Paulo. Se no

Centro-Oeste o impacto cutural é acelerado devido aos altos índices

das populações indígenas (mais elevados que São Paulo), no Sudeste a

atualização histórica se faz maior devido ao alto índice tecnológico nas

comunidades com índice populacional reduzido em conparação às

comunidades do Centro-Oeste do país.

Como podemos observar, o processo de atualização histórica se

faz constante e nesse contexto, temos a crise de identidade do sujeito. O

nativo perde-se entre tantos desejos, na ausência de sua etnia nos livros

Page 65: Ideologia e Culturas IndÍgenas

65 de história, no fim da sua língüa, religião e na imposição de outros

métodos de produção econômica. Contribuindo para isso, a literatura

regional perpetuadora, na maioria das vezes, de uma ideologia

dominadora, de uma elite que através da imposição cultural, política e

econômica, dizimou e ainda impacta centenas de seres que já foram

milhões em nosso território, que na realidade os pertencia.

A influência dessas produções é indiscutível, uma vez que as

mesmas acabam por sufocar os excluídos, pois buscam na história

crítica o seu espaço na construção da sua identidade e preservação de

um legado. O particularismo, o tradicionalismo e parcialidade, também

fazem parte do processo de formação da identidade, mas trata-se de

um processo focalizado nas elites dominantes. A contribuição desse

legado literário elitizado é referência para podermos entender as

questões políticas, econômicas e sociais do contexto regionalista. Mas é

também alvo de um olhar crítico no século XX e XXI, que pode

contribuir para um melhor entendimento da formação da identidade

dos grupos sociais, por ser o resultado de pretéritas e presentes

exclusões e particularizações que marcam a luta de classes na

sociedade moderna, envolvendo todas as outras organizações

existentes no interior do Estado de São Paulo.

Analisando o processo histórico, é possível observar que a

manutenção da classe dominante no que diz respeito ao poder das

letras, capaz de ignorar e matar centenas de seres para justificar os seus

objetivos, é perpetuadora e produtora de ideologias, falseadoras de

Page 66: Ideologia e Culturas IndÍgenas

66 uma realidade entorpecida pelo mito11. Permitir a continuidade da

unilateralidade historiográfica, das inverdades e mitos para gerações

presentes é imperdoável. Esperamos que este artigo possa contribuir

com a questão indígena ao apresentar parte12 da realidade ideologizada

produzida por representantes de uma elite, a qual só foi produzida

para garantir a dominação sob as comunidades indígenas e as suas

terras, impropriamente invadidas por falsos heróis colonizadores,

transmissores da marginalidade excludente das etnias destruídas e

ofendidas no decorrer do processo de ocupação no interior brasileiro.

Considerações finais

11 Sobre esse tema indicamos a leitura da Escola de Frankfurt, especialmente de Theodor Adorno, fundador, juntamente com Marx Horkheimer da difusão do termo Indústria Cultural. Adorno e Horkheimer. A dialética do esclarecimento, 1947. 12 Parte, porque seria humanamente impossível abordar todos os aspectos de um fenômeno tão dinâmico e volátil domo é a ideologi a na História Contemporânea, o u ainda, no mundo pós -moderno como classificam alguns pensadores como Foucault.

Page 67: Ideologia e Culturas IndÍgenas

67

Referências Bibliográficas: ADORNO, THEODOR E HORKHEIMER, MARX. A dialética do

esclarecimento,1947. ARANTES, LELÉ. Dicionário Rio - Pretense, 2001. BLOCH, MARC. Apologia da História. Publicado inicialmente

em 1949 por Lucien Febvre com o título: Apologie de L'histoire. Publicado pela editora jorge Zahar, Rio de Janeiro - 2002. Pgs, 99 e 102.

BRACCI, CARLOS ALBERTO ARANTES. A História de um povo fiel - 1857-1879 - caput, A capela no arraial de Rio Preto.

HALL, STUART. A identidade cultural na pós-modernidade. Dp&A editora - 5. ed. - Rio de Janeiro, 2001.

PORTELLI, ALESANDRO. O massacre de Cicitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944) : mito e política, luto e senso comum. In: Ferreira, Marieta de Moraes e Amado, Janaína. Usos & abusos da História Oral, pg. 103, ed. Fundação Getúlio Vargas, 1996.

Page 68: Ideologia e Culturas IndÍgenas

68 RIBEIRO, DARCY. O processo civilizatório. Grandes Nomes do

Pensamento Brasileiro, 2000. Publicação da Folha de São Paulo, sedida pela Cia das Letras. Pgs. 27 e 28.

TOURAINE, ALAIN. Como sair do Liberalismo? EDUSC, 1999. Tradução de: Comment sortir du libéralime?

VALLE, DINORATH DO. A História de São José do Rio Preto, 1969, Biblioteca municipal de Rio Preto, pg - 14 e 18.

11. Bibliografia pesquisada:

CORRÊA, ARIOVALDO. Mirassol, Estruturas e Gravuras - História;

Publicação da Prefeitura Municipal de Mirassol, 1983 _____________ Homens e Coisas de Mirassol, 1960. Publicação

Oficial da Comissão Central Organizadora do Cinqüentenário de Mirassol. _____________ Notas e Anedotas; Crônicas. Editora Soma Ltda. São

Paulo, 1979. ARAÚJO, LOLA LAPA, Minhas Memórias de Neves Paulista , 1992.

Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. História Pessoal. BNOOKS, CLEANTH, E, WIMSATT, WILLIAM K. JR, Crítica

Literária. Lisboa 1971. ( Cap. XXIV - o Método Histórico: Uma Retrospectiva.

BRANDI, AGOSTINHO. São José do Rio Preto - 1852 / 1894. Roteiro Histórico do Distrito, Contribuição para o conhecimento de suas raízes; Ed. Rio -Pretense: 2002.

CAFFAGNI, REINIDOLCH. Cultura Brasileira - Contos Urbanos - Contos Regionalistas. Revista da Série: Arma Secreta n. IV. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Votuporanga, 1972.

CARVALHO, ADELMO DE. Pirenópoles – coletânea – 1727-2000 – História Turismo e Curiosodades.

ESTRÊLA, CANDIDO BRASIL, História de Bálsamo, I Parte (1920-1955) e ESTRÊLA, DRÁUSIO MEDINA E D'OLIVEIRA, JESUALDO, II Parte (1955-1970) - Edição de 1970.

GOMES, LEONARDO, Gente que ajudou a fazer Rio Preto.1975. Editora Gráfica São José.

JAYME, JARBAS.Esboço Histórico de Pirenópoles, primeira edição póstuma, 1971.

LEMOS, ALBERTO. História de Araraquara. Edição do Museu Histórico e Pedagógico Voluntários da Pátria e Prefeitura municipal de

Page 69: Ideologia e Culturas IndÍgenas

69 Araraquara: 1999. Isto é São Paulo! Edições Melhoramentos, I Edição. 99 Flagrantes da Capital Bandeirante. 1981.

VALLE, DINORATH DO. História do Município para Crianças. 1969, Publicada pela Câmara Municipal em Homenagem ao 75 Aniversário do Município.

Page 70: Ideologia e Culturas IndÍgenas

70 Bibliografia específica: 15. Apêndice Dados de Pesquisa: No ano de 2003, quando lecionava a disciplina de História no

ensino fundamental, como professor e historiador, preocupei-me em

desenvolver uma coleta de dados quantitativos para posteriormente

fazer a análise qualitativa sobre a questão indígena na sala de aula,

com o apoio da coordenação escolar da instituição, para podermos

identificar qual era a situação da questão na Cooperativa de Ensino e

Cultura Albert Sabin ( COOPEC) da cidade de São José do Rio Preto no

Interior do Estado de São Paulo, entre os alunos do ensino

fundamental, nas sétimas séries e nas oitavas séries “a” e “b” com

alunos de uma faixa etária de 12 a 14 anos de idade aproximadamente.

Onde elaboramos uma série de 10 perguntas que foram aplicadas

inesperadamente aos alunos em um dia normal de aulas de História do

Brasil como determinava o planejamento escolar de ensino daquele

ano. O objetivo de identificar qual era a situação da questão indígena

Page 71: Ideologia e Culturas IndÍgenas

71 na sala de aula foi despertado após sermos questionados pelas

lideranças indígenas do Posto Indígena do Icatu no Estado de São

Paulo, sobre o porquê da sua História (a indígena) não ser ensinada a

eles quando saiam para estudarem na cidade (referiam-se à cidade

paulista de Braúna), nas escolas dos brancos. Após este acontecimento,

nos preocupamos em saber como nossos alunos encaravam

determinadas questões e situações acerca as sociedade indígena de um

modo geral. E, é importante esclarecer que não nos preocupamos em

desenvolver uma pesquisa quantitativa com o rigor acadêmico de se

exigem nas universidades, e não foi o objetivo principal deste trabalho

identificar os indivíduos por categorias mais amplas como sexo, idade,

intelecção, classe social e condições econômicas. Mesmo assim,

concluímos que as informações obtidas são de grande relevância para

podermos entender a questão indígena sob a ótica da sociedade não

indígena entre os alunos.

A reação das salas e seus alunos sobre a atividade apresentou-se

muito receptiva, até mesmo com bastante euforia. Uma reação coletiva

clássica entre os alunos quando se apresenta uma proposta de ensino

diferente, distanciando-se da pedagogia conservadora das quatro

paredes e quadro negro. Observem abaixo os resultados obtidos

através da atividade proposta aos alunos e os índices identificados

sobre a temática proposta para estes jovens adolescentes de uma escola

cooperativa no centro urbano capitalista:

Page 72: Ideologia e Culturas IndÍgenas

72

a) Quando perguntado se já tiveram algum contato com algum índio as repostas foram:

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%

Alunos

SimNão

b) Quando questionados se acreditavam que os indígenas são atrasados

em relação à vida das pessoas das cidades, obtivemos o seguinte resultado:

0%10%20%30%40%50%60%

Alunos

SimNãoNão sei

b) Quando perguntamos de os índios conservavam a natureza as

repostas foram:

Page 73: Ideologia e Culturas IndÍgenas

73 c) Perguntamos se os indígenas deveriam ser educados de acordo com a

nossa cultura as repostas entre os alunos foram:

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

Alunos

SimNãoNão sei

c) Perguntamos se o governo deveria deixar os índios se extinguirem,

as respostas foram:

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

Alunos

SimNãoNão sei

Page 74: Ideologia e Culturas IndÍgenas

74 d) Outra pergunta foi: o índio deixa de ser indo quando passa a viver

como o homem da cidade? Observe o gráfico:

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Alunos

Sim

Não

As vezes

Nãoresponderam

e) Quando questionados: o índio tem capacidade de se desenvolver

como qual outro ser? Responderam:

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

Alunos

SimNãoAs vezesNão sei

OBS: COMO O LEITO PODE OBSERVAR, ESTE MATERIAL ESTAVA

SENDO PREPARADO PARA PUBLICAÇÃO! (Jean Menezes) Jean Paulo Pereira de Menezes