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IDENTIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
COMPORTAMENTAIS NA FORMAÇÃO DE NOVOS LÍDERES
Guilherme Santiago Sousa
RESUMO
Este artigo trata do tema Gestão de Pessoas em uma entidade de classe brasileira,
localizada no estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de identificar e desenvolver
competências comportamentais na formação de novos líderes. Para tanto, foi realizada
uma pesquisa bibliográfica que contemplasse o assunto com literatura focada no tema
e estudo de caso na organização que foi objeto de análise, utilizando dados qualitativos
para analisar as competências comportamentais nos Coordenadores que são
referência na entidade, em virtude dos resultados relevantes que apresentam em seus
setores. A partir disso, constatou-se que as competências e experiências voltadas para
a formação técnica do profissional estão desenvolvidas e atendem o que é demandado.
Em contrapartida, os gestores exercem seu papel de líder de forma parcial e empírica,
carecendo de suporte da área de Gestão de Pessoas, que por sua vez proporcionará
em conjunto com os Diretores, o apoio necessário para viabilizar as ações necessárias.
Palavras-chave: Liderança. Gestão de Pessoas. Competência. Desenvolvimento de
Líderes.
1 INTRODUÇÃO
Face a disputa acirrada no âmbito organizacional, a competitividade exige cada
vez mais dos profissionais que compõem as equipes de trabalho. Em razão desta
realidade, o papel do líder é enaltecido e por sua vez, o gestor é exigido a administrar
sua demanda de trabalho e junto dela, gerir sua equipe de colaboradores. Tarefa essa,
complexa e que os atuais líderes lidam das mais diversas formas, de acordo com suas
Discente do Curso de MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach da La Salle Business School Universidade La Salle matriculado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso. E-mail: [email protected], sob a orientação da Prof. Marina Machado Mottin da Silva.
E-mail: [email protected]. Data de entrega: 11 jul. 2017.
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competências.
A maneira com a qual o líder exerce seu papel junto aos seus subordinados se
torna espelho para o coletivo, de forma que é o referencial para estabelecer o
relacionamento interpessoal no ambiente. A complexidade em saber lidar bem com o
ser humano é reflexo de uma inteligência emocional equilibrada e estabelece a
imparcialidade que é necessária para exercer esse papel.
Além das crenças individuais e os valores presentes em cada pessoa, é
fundamental que as competências comportamentais estejam desenvolvidas no perfil
de um líder. Em contrapartida, as organizações devem subsidiar com orientações
quanto às perspectivas dentro da instituição e de que forma ele deve administrar o
tempo, espaço e pessoas que compartilharão dos objetivos daquela equipe de
trabalho, com os recursos disponíveis para tal finalidade. Assim, este artigo tem como
questão central de investigação compreender: Quais as alternativas necessárias para
identificar e desenvolver competências comportamentais na formação de novos
líderes?
A entidade de classe que foi objeto de estudo para o tema em análise possui
gestores com formação em diversas áreas, entretanto, a grande maioria possui
instrução acadêmica na área jurídica. Dessa forma, este artigo teve como objetivo
geral: Identificar as alternativas necessárias para o desenvolvimento de competências
comportamentais na formação de novos líderes de equipe, e como objetivos
específicos: (a) diagnosticar competências comportamentais que estejam, em
comum, presentes em Coordenadores de referência dentro da instituição, e (b) propor
ações por parte da Gestão de Pessoas a fim de desenvolver as competências básicas
para formação de um líder de sucesso na instituição.
Um talento apenas é desenvolvido se praticado de forma habitual ou instigado
para tanto. Essa máxima estende-se principalmente no campo profissional, onde no
mercado de trabalho observamos que muitos gestores não constroem uma relação
profissional adequada com sua equipe. Por sua vez, torna-se crescente o número de
pessoas que pedem desligamento das empresas com a justificativa de não se adaptar
ao gestor imediato.
Pela percepção dos empresários e grupo de acionistas, por exemplo, objetiva-
se o lucro e sua maximização constante. A tendência é que o relacionamento
interpessoal e suas complexidades fiquem em segundo plano, a fim de primeiramente
atingir metas propostas, o que de fato acontece na prática. O responsável por
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intermediar essa situação na equipe de trabalho é o gestor, que tem o desafio de lidar
com os anseios e expectativas de cada pessoa que integra seu setor dentro da
empresa.
Esse mesmo gestor deve possuir competências comportamentais que
contornem as adversidades, e também o auxilie a administrar os recursos aos quais
tem disponíveis para atingir seus propósitos. Entretanto, aflorar essas competências
nos gestores não é tarefa fácil: é fundamental que ele saiba administrar conflitos,
desenvolver pessoas e organizar sua dinâmica de trabalho.
A manutenção dos líderes de equipes deve estar em pauta nos programas ou
projetos da área de Gestão de Pessoas das instituições. Com a descrição de cargos
e salários ou plano de carreira, por exemplo, a alta cúpula da organização é fomentada
com informações que facilitam a tomada de decisão com embasamento técnico da
área de Gestão de Pessoas. Nesta lógica, torna-se mais fácil identificar os perfis mais
adequados para assumir papel de tamanha importância não só para a empresa, mas
para as pessoas e os grupos aos quais aqueles o gestor interage dentro e fora da
organização.
Essa introdução é seguida do referencial teórico deste artigo, no qual se refere
à Competência, Seleção por Competência, Desenvolvimento de Equipes e Liderança.
Após serão apresentados os procedimentos metodológicos aplicados para a coleta,
análise e dicussão dos dados e por fim, apresenta as considerações finais deste artigo
com as recomendações para estudos futuros sobre este tema.
2 BIBLIOGRAFIA
Para a construção do referencial teórico do artigo, a literatura elencou os
seguintes temas: Competência, e como subtema, Seleção por Competências;
Desenvolvimento de Equipes e Liderança.
2.1 Competência
Para o desenvolvimento da tarefa é essencial que o líder observe as
características comportamentais das pessoas e se elas possuem competência para tal.
Leme (2009, p. 20), conceitua competência como “um agrupamento de conhecimentos,
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habilidades e atitudes correlacionadas, que afeta parte considerável da atividade de
alguém”. Partindo dessa definição, o autor complementa conforme a tabela 1:
Conhecimento Saber
Competência técnica
Habilidade Saber fazer
Atitude Querer fazer Competência comportamental
Tabela 1 – Definição do CHA
Fonte: Leme (2009), p. 20.
O conceito de competência deve ser ampliado, em razão de que administrar
pessoas com enfoque nas competências com o conceito do CHA é insuficiente. A
visão estratégica da empresa deve estar alinhada para expandir esse conceito e
estendê-lo na prática. Leme (2009, p. 22) registra que “temos de complementar o
processo de investigação realizado pela seleção, analisando também a capacidade
de entrega do candidato, a partir dos resultados e complexidade”.
Zarifian (2012, p. 68) contribui que a “a competência é o tomar iniciativa e o
assumir responsabilidade do indivíduo diante de situações profissionais com as quais
ele se depara”. Para o autor, a competência só se manifesta na atividade prática, e em
decorrência desse exercício é que poderão ser avaliadas as competências utilizadas
na referida atividade.
Além de possuir uma boa percepção de seus pontos fortes e fatores a
desenvolver, o indivíduo para obter um melhor desempenho necessita do
acompanhamento de seu gestor para estimular suas competências. Sob esta ótica,
Brito (2017) reflete ainda que a gestão por competência possibilita identificar com mais
clareza o estágio em que um colaborador pode percorrer outras aréas de conhecimento
ou ser merecedor de uma promoção em sua função. Ao transitar nessa fase para liderar
uma equipe, o funcionário deve ser preparado para exercer a função.
Ao refletir sobre o tema, Souza (2011) aborda que além das competências
organizacionais, que são aquelas vinculadas à visão, missão e aos valores da empresa,
existem também as competências da função, que são específicas para cumprimento de
tarefas da respectiva atividade dentro da organização. Após esse levantamento, a
descrição do cargo trata das funções e aponta o perfil desejado para o mesmo, onde aí
então parte-se para a seleção de candidatos.
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Competências são aspectos subjacentes à conduta. Isso signifca que, para termos acesso às competências ,é necessária uma abordagem que traga à tona exatamente aqueles aspectos que estão “por trás” do comportamento. Competências indicam “maneiras de pensar ou agir”, que se generalizam em diferentes situações, e tendem a ser versáteis por um longo período de tempo. Essa questão de estabilidade traz para a discussão o quanto algumas competências são “treináveis ou modificáveis. (NERI 2008, p. 79).
Dentre as formas de selecionar candidatos, pode-se optar por recrutamento
externo ou interno. Para Almeida (2009, p. 100), “o ideal é quando a organização utiliza
um esquema de captação misto, isto é, tanto a captação externa como a interna”. Ainda,
contempla que, para cargos iniciais, deve-se explorar a captação externa, e para os
cargos com nível de maior complexidade em que se deve ter uma adaptação à função
e à empresa mais ágil, o recrutamento interno é mais vantajoso - segundo a política e
estrutura de cargos da empresa.
2.1.1 Seleção por Competências
O foco da seleção por competências é identificar no candidato evidências que
diagnostiquem se ele possui ou não determinada competência. Esse processo objetiva
as ações do candidato no seu histórico profissional, buscando compreender seu
posicionamento e atitude perante suas experiências, observa Leme (2009).
O autor contribui que as perguntas na entrevista devem ser abertas, focar em um
passado recente e no seu comportamento. Além das entrevistas, utilizar jogos ou
dinâmicas de grupo favorece na visualização de comportamentos do candidato, e se
estes são desejados para a vaga, o que irá identificar as competências.
“As pessoas apresentam a todo o momento, indicadores de competências
comportamentais através de seus comportamentos diários”, colabora Souza (2011, p.
27). Ao realizar um levantamento dessas competências com os próprios colaboradores
no dia a dia, é extraído um material valioso, que subsidiará as competências
necessárias para determinada função.
A interação entre as atividades e os gestores, deve ser fortalecida pela área de
Recursos Humanos de forma que se obtenha a melhor percepção das competências,
demonstra Berto (2013). Com a participação dos líderes junto ao setor de RH, o
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processo de seleção do candidato se torna democrático, participativo e motivador,
assumindo este departamento, o papel de apoio operacional que é de sua competência.
2.2 Desenvolvimento de Equipes
Equipe pode ser definida como um pequeno número de pessoas com habilidades
que se complementam, e que são empenhadas em um objetivo comum pela qual se
consideram mutuamente responsáveis, conforme Luecke (2010). O trabalho em equipe
possibilita o alcance de melhores resultados, pois o somatório das forças de todos que
a compõem é fundamental, as propostas podem ser oriundas das contribuições de
todos os envolvidos, onde exista uma colaboração de todos.
As empresas por vezes, incorporam sistemas de recompensas que valorizam o
desempenho individual e desfavorece o cooperativismo entre as equipes, o que se torna
natural neste contexto profissional. Face o exposto, Dyer (2011) assegura que as
instituições devem enaltecer de forma mais vantajosa o sistema de recompensas
coletivo que o de individual, além de propiciar uma cultura organizacional que promova
a interação do coletivo e processos integrados, que visam o engajamento de todos os
envolvidos.
Equipes de alto desempenho devem adaptar-se às mudanças para serem
eficazes ao longo do tempo. O autor reflete que nas equipes de alto desempenho, os
integrantes possuem liberdade para expressar suas metas e recursos para atingi-las,
bem como os meios necessários para tanto, observando que esse cenário interfere no
resultado coletivo. A autonomia para tomada de decisões, e principalmente a confiança
necessária para atuar na equipe deve estar presente, de forma que as desavenças ou
desacordos sejam solucionados.
A presença de conflitos é um dos problemas mais comuns encontrados nas
equipes, contribui Dyer (2011). Uma forma mais simples de compreender o conflito é a
violação das expectativas do indivíduo, sendo elas em relação a si mesma, ao líder ou
aos demais membros da equipe. As particularidades em relação aos demais membros
ocorrem na sistemática: o que, quando e como as atividades devem ser feitas.
Os valores presentes em um líder decorrem da confiança, credibilidade e
influência que ele exerce na sua relação com a equipe e também individualmente. Para
Silva et al (2011) o líder deve atender as necessidades da equipe e acompanhar o
desenvolvimento coletivo e individual, fortalecendo a relação e obtendo resultados.
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Quando há entrosamento entre líder e a equipe, o gestor tem influência necessária para
sugerir um objetivo além, ao qual o foco é na progressividade da equipe.
2.3 Liderança
O papel do líder na equipe é o de direcionar, orientar, capacitar e avaliar o
desenvolvimento para que as metas sejam atingidas. Se este ciclo acontecer da
maneira correta, esse estágio acarretará em uma equipe de alto desempenho,
transformando o papel do líder em facilitador e suas responsabilidades serão
partilhadas com os liderados através do treinamento e possibilitando a tomada de
decisão, promovendo a participação e envolvimento de todos neste processo,
complementam Silva et al. (2011, p. 9).
O sucesso como líder na primeira experiência neste nível hierárquico requer uma
grande transição, para a qual as pessoas não passam por um preparo ideal, muitas
vezes. Charan (2012) expõe que novos gestores acabam por realizar tarefas complexas
ao invés de repassar a um subordinado, a fim de exibir aos seus liderados sua
capacidade e competências.
“Os colaboradores individuais precisam saber o que se espera deles à medida
que percorrem esse primeiro nível de liderança – e precisam entender isso em termos
específicos, e não gerais”, cita Charan (2012, p. 49). O monitoramento durante esse
estágio garante a observação da interação entre os gestores e seus subordinados –
neste campo, uma ferramenta de RH pode ser bem aproveitada: feedback de 360°
graus, onde os liderados podem oferecer insights sobre como os gestores estão lidando
com esse papel.
A relação entre gestor e equipe pode ser mensurada qualitativamente com o
levantamento de informações e feedbacks através da Avaliação de Desempenho.
França (2012, p. 177) contribui que “o objetivo da avaliação de desempenho é
proporcionar o crescimento e o desenvolvimento da pessoa, que fica sabendo como
está se saindo no trabalho”. Assim, a Gestão de Pessoas estará fomentada para uma
tomada de decisão em níveis de salário, bonifacações, demissões ou ainda, plano de
carreira.
Os líderes que oferecem uma direção clara a ser seguida, dão feedback ao longo
do trabalho, instigam a coragem nas pessoas para desenvolvimento de uma alta
performance, bem como expor suas habilidades de inteligência social e emocional.
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Barbieri (2013) contribui também que pesquisas advertem que a inteligência emocional
e a maturidade pessoal são mais importantes do que as competências técnicas, nas
posições de gestão, principalmente nas mais elevadas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Lakatos e Marconi (2010, p. 139), conceituam pesquisa como “procedimento
formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se
constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”.
Andrade (2010) observa que a pesquisa quanto aos seus objetivos poderá ser
caracterizada como exploratória: abre maiores informações a fim de preparar futuras
pesquisas; descritiva: caracterizada por fatos registrados, classificados e interpretados,
com a definição de objetivos a serem estudados (apenas amostragem e descrição dos
fatos); e explicativa: registrar e interpretar os fenômenos.
Quanto ao delineamento da pesquisa, esta foi realizada com a utilização de
Procedimentos técnicos bibliográficos e estudo de caso de entidade de classe, cuja
razão social ficou oculta nesta pesquisa. Segundo Gil (2012, p.50) o delineamento de
uma pesquisa “considera o ambiente em que são coletados os dados, bem como as
formas de controle das variáveis envolvidas”. Com a possibilidade de ter uma visão
mais ampla sobre o objeto de pesquisa, o levantamento de bibliografia auxiliará na
busca por soluções respostas diante das inquietações que serão levantadas no estudo
de caso da população que será observada.
Frente aos objetivos (geral e específicos), a pesquisa desenvolvida neste artigo
teve caráter qualitativo, e seus métodos serão descritivo e explicativo. A pesquisa
explicativa foi utilizada para demonstrar os dados da pesquisa descritiva e estabelecer
as razões e relações dos fatos apurados com a constatação do cenário explorado.
A abordagem qualitativa, Castro (2012) afirma que o campo de estudo é particular
e oportuno. A amostra aleatória e representativa não colabora, nem interessa ao
método qualitativo. A exploração dos dados é permanente e aberta até o final
(respostas, pistas e novas indagações a respeito da entrevista). No entanto, a pesquisa
aberta não é totalmente livre, pois se corre o risco de perder o foco do que está sendo
abordado.
O público-alvo desta pesquisa foram cinco gestores da entidade de classe que
atuam oficialmente como líderes de equipe em cargo de Coordenador(a) e que
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trouxeram expressivos resultados para a instituição, sejam em aspectos financeiros,
administrativos ou que agregaram maior valor a marca da empresa. Em 2007 a entidade
passou por um choque de gestão administrativo e financeiro. O cenário apresentava
um déficit, e atualmente há um superávit nas finanças da organização.
Houveram normatizações administrativas e criação de setores que
proporcionaram serviços inovadores aos clientes, e além disso, profissionalização das
relações de trabalho. Com esta perspectiva, os gestores da área Financeira e de Gestão
de Pessoas destacam-se na organização, sendo estes, setores que agregam aos
resultados da entidade através da edição de normativas que cooperaram para
transformar o diagnóstico desfavorável ao qual se deparavam.
O Tribunal de Ética e Disciplina da entidade é o terceiro do Brasil (2016) em
número de decisões e processos julgados, índice esse que enaltece a importância
deste setor. Outro departamento importante e que foi criado na nova gestão em 2007
foi o Núcleo de Redação da Presidência que avalia e padroniza a forma como a qual o
gabinete do Presidente da entidade se relaciona com demais órgãos e o público em
geral. Por fim, o quinto setor que possui um Coordenador que apresenta resultados
favoráveis e céleres é a Comissão de Seleção e Inscrição, este, justificado em virtude
da demanda de trabalho e quantidade de colaboradores que ali desenvolvem suas
atividades.
Estes Coordenadores explanaram com qual(quais) critério(s) definem quem será
o seu substituto quando necessário. Importante salientar que a substituição
(coordenação interina) ocorre quando o Coordenador está em período de férias ou
quando se ausenta da entidade. Nesse estágio o colaborador que exerce o cargo em
substituição é demandado como se efetivamente fosse o responsável pelo
departamento, e em contrapartida, recebe uma bonificação salarial pelo exercício da
função.
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Foi trabalhado com os cinco Coordenadores selecionados o instrumento que
tinha como meta identificar quais as competências comportamentais que eles
percebiam como essenciais na formação de um Coordenador da entidade de classe –
esta, definida como etapa 01 (um).
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Cada entrevistado teve contato com diversas competências relacionadas ao
perfil de liderança, para que desta forma pudesse eleger quais as mais adequadas na
sua visão, compondo assim, o perfil comportamental de um líder. Importante destacar
que entrevistados poderiam, caso percebessem necessário, citar outras competências
que considerassem importantes, o que não ocorreu em nenhuma das coletas.
Após apuradas as competências identificadas pelos gestores (etapa 01), o
objetivo da etapa 02 (dois) na coleta dos dados visava dimensionar quais ações ou
medidas que a entidade poderia propor então para desenvolver estas competências
escolhidas.
Por fim, na etapa 03 (três) questionou-se para cada gestor o porquê da escolha
do seu substituto atual, bem como os argumentos utilizados que fundamentaram essa
decisão.
4.1 Etapa 01 (um) - Seleção das competências básicas para um Coordenador na
instituição
Dos cinco gestores entrevistados, cada um deveria elencar seis competências e
justificar suas escolhas. Segue o resultado com a frequência:
a) responsabilidade, saber delegar e liderança: citadas em comum por quatro
gestores;
b) saber ouvir e administrar conflitos: citadas em comum por três gestores;
c) relacionamento interpessoal, oferecer feedback e trabalhar sob pressão:
citadas em comum por dois gestores;
d) humildade, reconhecer limites pessoais, saber reconhecer os colaboradores,
sensibilidade política, comunicação assertiva e resiliência: apenas um gestor
citou.
Nota-se que ao elencar as cinco competências mais citadas, é obtido o seguinte
resultado: responsabilidade, saber delegar, liderança, saber ouvir e administrar
conflitos. Segue o gráfico 1:
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Gráfico 1 – Competências comportamentais elencadas pelos Coordenadores
Fonte: o autor (2017).
Observa-se no gráfico que a liderança é uma das competências essenciais que
despontaram na pesquisa, o que evidencia no artigo a colocação de Silva et al. (2011,
p. 9), ao contribuir que o papel do líder na equipe é o de direcionar, orientar, capacitar
e avaliar o desenvolvimento para que as metas sejam atingidas. Ao alcançar tais
objetivos propostos para a equipe, o autor ainda menciona que os valores presentes
em um líder decorrem da confiança, credibilidade e influência que ele exerce na sua
relação com a equipe e também individualmente.
Como reflexo da cultura da instituição, a questão técnica surgiu com elevada
importância na pesquisa. Os Coordenadores apontam que saber delegar as tarefas é
uma competência básica para um gestor de pessoas, e este por sua vez deve conhecer
sua equipe, cada um com os seus pontos fortes e aqueles a desenvolver, a luz do que
Souza (2011, p. 27) afirmou: “As pessoas apresentam a todo o momento, indicadores
de competências comportamentais através de seus comportamentos diários”. A
contribuição do autor aborda que os líderes devem ficar atentos às atitudes dos
colaboradores no dia a dia, de forma que os Coordenadores também evidenciam que
saber delegar é crucial para administrar uma equipe de trabalho na entidade.
A responsabilidade que o Coordenador deve possuir consta também como
referência na pesquisa, e foi um dos pontos de destaque na contribuição de Zarifian
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(2012, p. 68), “competência é o tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do
indivíduo diante de situações profissionais com as quais ele se depara”. Assumir
responsabilidade é uma característica puramente comportamental, sem vinculação
direta com a questão técnica da tarefa.
Saber ouvir e administrar conflitos são competências comportamentais que
demandam atenção por parte dos Coordenadores na entidade. Diante dessa
complexidade, o autor Barbieri (2013) observa que as pesquisas advertem que a
inteligência emocional e a maturidade pessoal são mais importantes do que as
competências técnicas, nas posições de gestão, principalmente nas mais elevadas,
conforme os resultados e relatos acima. Diante do exposto, é fundamental que o gestor
tenha uma inteligência emocional equilibrada para lidar com as adversidades.
4.2 Etapa 02 (dois) - Sugestões para desenvolver as competências mencionadas
Os gestores deveriam citar quais ações que a entidade poderia promover para
desenvolver as competências que eles mesmos sugeriram como as essenciais para um
bom líder na entidade. Segue o relato de cada gestor:
a) Entrevistada A (Administradora especialista em Gestão de Pessoas e
Liderança Coach): Acredita que cursos e palestras não seriam atrativos para
resolver essa intercorrência de forma permanente. Opinou por formular uma
avaliação de desempenho, trazendo como informação o seguinte exemplo:
“O avaliado atende 70% da competência X, por exemplo”.
b) Entrevistada B (Advogada): proporcionar pequenos cursos na área de
Gestão de Pessoas aos gestores para melhorar a performance daqueles que
não são da área, principalmente, em razão da formação de cada um.
c) Entrevistada C (Advogada): reuniões com Coordenadores ajudarão neste
processo, a exemplo do que vem ocorrendo nos últimos anos. Enalteceu
apoio do setor de RH na reestruturação da sua equipe atual, pois definiu
cargos e atribuições aos seus colegas de setor.
d) Entrevista D (Licenciatura em Letras e Literatura): Treinamentos vivenciais
para desenvolver os gestores e substitutos, principalmente para fortalecer a
empatia e responsabilidade.
e) Entrevistado E (Contador): Cursos específicos para pessoas específicas, de
forma que potencialize os pontos de melhoria em cada um.
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Ao observar as respostas nas entrevistas, dois gestores sugeriram cursos na
área de Gestão de Pessoas. Um deles opinou em reuniões para diálogos alusivos ao
tema, outro em treinamentos vivenciais. Por fim, a administradora com especialização
na área de Gestão de Pessoas sugeriu a formulação de uma avaliação de desempenho
para mensurar a competência que está sendo observada.
Ficou explícita a falta de experiências profissionais e de atuação na área de
Gestão de Pessoas nos Coordenadores, com exceção da Coordenadora que é
Administradora especialista na referida área, tendo em vista a dinâmica do trabalho dos
demais Coordenadores, que é estritamente voltada para a tarefa, o que por sua vez,
desenvolve apenas as competências técnicas. Face ao cenário retratado, é necessário
ressaltar que quando da seleção de um candidato para assumir a gestão de uma
equipe, fica notória a necessidade de identificar no candidato as evidências que
diagnostifiquem se ele possui ou não determinada competência, conforme Leme
(2009).
Para a reposição de um Coordenador na entidade, culturalmente se efetiva no
cargo, aquele colaborador que exerce a substituição. Ou seja, é feita uma seleção
interna na instituição, o que vai de encontro com o que Almeida (2009) contempla, que
"para cargos iniciais deve-se explorar a captação externa, e para os cargos com nível
de maior complexidade em que se deve ter uma adaptação à função e à empresa mais
ágil, o recrutamento interno é mais vantajoso" - segundo a política e estrutura de cargos
da empresa.
4.3 Etapa 03 (três) – O que espera do seu substituto imediato e por que o escolheu
Diante da evolução da pesquisa, os gestores nesta fase posicionaram-se
justificando o porquê da escolha do interino que cobre a sua ausência. Foram
provocados a refletir na interação não somente entre interino e gestor, mas também na
relação com os colegas de equipe, Diretores e demais indivíduos que interagem na sua
dinâmica de trabalho. Segue:
a) Entrevistada A (Administradora especialista em Gestão de Pessoas e
Liderança Coach): Tomada de decisão na escolha baseada na competência.
O interino atende as demandas de forma adequada, compreende a cultura
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da instituição e as relações que envolvem os gestores, colaboradores e
Diretores. Espera que o substituto tenha o conhecimento de todas as
atividades para assumir as responsabilidades.
b) Entrevistada B (Advogada): Tomada de decisão na escolha baseada na
confiança. Espera do seu interino a imparcialidade necessária para
administrar as demandas de trabalho e eventuais conflitos, bem como a
postura adequada para relacionar-se com Diretores e conselheiros. Afirma
que a substituição é feita com comprometimento e responsabilidade.
c) Entrevistada C (Advogada): Tomada de decisão baseada na
responsabilidade. É conhecedora das competências do setor. Espera que
apresente evolução quanto ao seu nível de tolerância com os colegas, no
fato de compreender as limitações de cada um frente ao seu trabalho.
d) Entrevista D (Licenciatura em Letras e Literatura): Tomada de decisão
baseada na confiança. Apresenta o trato necessário para lidar com as
adversidades que surgem, bem como é imparcial quando é necessário.
Possui bom relacionamento interpessoal e sensibilidade política.
e) Entrevistado E (Contador): Tomada de decisão baseada no conhecimento.
Domina as tarefas do setor, bem como apresenta de forma satisfatória possui
bom desenvolvimento das competências que sinalizou anteriormente.
Entretanto, deve melhorar sua performance para desenvolver sua liderança
e administrar conflitos na equipe.
Conforme as respostas acima, as justificativas para escolha na tomada de decisão
foram na maioria, pautadas pela perfeição técnica, de forma genérica, ficando em
segundo plano as competências comportamentais. Competência, responsabilidade e
conhecimento das atribuições foram destacadas por três dos cinco gestores, sendo que
a confiança foi escolhida por dois Coordenadores.
O fator mais presente na contextualização dos Coordenadores interinos é que ele
lidera a equipe geralmente no período de férias, ou seja, uma vez ao ano por trinta ou
vinte dias, e em eventual afastamento do Coordenador. Esse estágio dificilmente
perdura por um tempo maior. Em contrapartida, quando há a necessidade de
substituição efetiva, culturalmente na entidade, o interino assume imediatamente após
a saída do seu Coordenador.
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Neste diagnóstico, fica evidente que o amadurecimento da equipe e a forma com
a qual os membros dela se relacionam, é vital para que esse ciclo de transição de um
gestor para outro seja saudável, de forma que haja o entrosamento entre líder e
liderados, pois o gestor tem influência necessária para sugerir os objetivos da equipe,
conforme abordam Silva et al (2011). Ao observar as atitudes que se esperam dos seus
interinos, os Coordenadores abordam competências comportamentais importantes, que
enaltecem a necessidade de possuírem uma inteligência emocional equilibrada.
Barbieri (2013), neste mesmo campo, contribui que os gestores que realizam o
feedback ao longo do trabalho, instigam a coragem nas pessoas para desenvolvimento
de uma alta performance, bem como expor suas habilidades de inteligência social e
emocional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os frutos da pesquisa em conjunto com o referencial teórico do presente artigo
evidenciaram a relevância do tema Liderança para aqueles que atuam no campo
profissional, bem como em demais atividades em grupo nas quais se exerce o papel de
líder. Dentre as complexidades deste papel, está explicitada nas atitudes do dia a dia a
mais essencial delas: o desenvolvimento da equipe.
Face ao objetivo geral: “Identificar as alternativas necessárias para o
desenvolvimento de competências comportamentais na formação de novos líderes de
equipe”, a possibilidade vislumbrada que vai ao encontro do que o referencial teórico
elucidou de forma técnica e também de acordo com o que a pesquisa apurou para
tangibilizar ações na entidade, é instruir e capacitar os Coordenadores para que possam
avaliar seus interinos no exercício da substituição.
Trata-se de uma alternativa relevante e resolutiva, que facilitará na observação
das competências comportamentais que serão ressaltadas, proporcionando um
momento adequado para oferecer retorno sobre a coordenação substituta que foi objeto
de análise. A Gestão de Pessoas auxiliará os gestores para que eles assumam seus
papéis como líderes e avaliem as competências que foram ressaltadas em comum
pelos Coordenadores nos instrumentos de seleção. É uma forma de acompanhar esse
estágio, norteando tanto o gestor atual na forma adequada de dar o feedback de
maneira padronizada dentro da organização, e também fica mais claro para o substituto
ao estar ciente do que dele se espera.
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Quanto aos objetivos específicos (a): diagnosticar competências comportamentais
que estejam, em comum, presentes em Coordenadores de referência dentro da
instituição. Na pesquisa, a etapa 4.1 apurou as cinco competências em comum:
responsabilidade, saber delegar, liderança, saber ouvir e administrar conflitos. Por fim,
o item (b): propor ações por parte da Gestão de Pessoas a fim de desenvolver as
competências básicas para formação de um líder de sucesso na instituição, as ações
necessárias que serão desenvolvidas pela área de Gestão de Pessoas em parceria
com os Diretores, fica embasada na elaboração de uma avaliação de desempenho para
fomentar aos coordenadores ferramentas de trabalho para que avaliem seus
substitutos.
Observou-se que na entidade de classe analisada, existe em parte, um
movimento dos Coordenadores em desenvolver a sua equipe, para que na sua
ausência, ou até mesmo na sua saída, exista um colaborador apto dentro da equipe e
que atue como interino nos momentos de precisão. Devido às tarefas que são
desempenhadas no ambiente laboral, o desenvolvimento das competências técnicas
ganham maior espaço frente às demandas de ordem comportamental. O reflexo dessa
dinâmica é a falta de tempo e escassez de ferramentas que os gestores tem para
acompanhar o entrosamento da equipe e mensurar as expectativas de cada indivíduo.
Face a esse diagnóstico e observando que a Gestão de Pessoas da entidade foi
citada nas entrevistas como um agente de mudança e atuando como contribuinte nesse
processo, e comprovado também no referencial teórico, fica evidente que o
multiplicador desse conhecimento e agente facilitador deve ser competência da área de
Gestão de Pessoas em conjunto com os Diretores da entidade.
Ao prover ferramentas e auxiliar na interpretação dos resultados, a Gestão de
Pessoas poderá multiplicar seu conhecimento junto aos gestores, para que estes
saibam delegar, administrar sua equipe, saber ouvir seus colaboradores e desenvolvê-
los afim de conseguir mensurar seus colaboradores de forma qualitativa e com
embasamento técnico.
Como recomendações para estudos futuros sobre o tema, o aprofundamento
sobre o desenvolvimento de equipes é um foco interessante a ser analisado. Ao
perceber que a instituição carece de avaliações de desempenho no atual momento e
isso acarreta no subdesenvolvimento das equipes, esse amadurecimento ocorrerá de
forma gradual. Por exemplo, em uma avaliação completa, como a de 360°, conforme
Charan (2012) contribuiu, a entidade deverá conscientizar e capacitar seus gestores
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para que todos implementem avaliações deste tipo junto aos seus colaboradores com
enfoque puramente profissional.
BEHAVIORAL COMPETENCES DEVELOPMENT IN THE FORMATION OF NEW
LEADERS
ABSTRACT
This article deals with the topic of People Management in a Brazilian class entity, located
in the state of Rio Grande do Sul. The objective was to identify and develop behavioral
skills in the formation of new leaders. In order to do so, a bibliographic research was
carried out that contemplated the subject with literature focused on the theme and case
study in the organization that was object of analysis, using qualitative data to analyze
the behavioral competences in the Coordinators that are reference in the entity due to
the relevant results that Present in their sectors. From this, it was verified that the
competences and experiences geared to the technical formation of the professional are
developed and meet what is demanded. On the other hand, managers carry out their
role of leader in a partial and empirical way, lacking support from the People
Management area, which in turn will provide, in conjunction with the Directors, the
necessary support to enable the necessary actions.
Keywords: Leadership. People management. Competence. Leadership Development.
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