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Instituto Superior Técnico Identificação e controlo de qualidade ao longo da cadeia alimentar Dispositivos e Redes para Sistemas de Logística MEGI Hugo Dias Morais nº 36666

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Instituto Superior Técnico

Identificação e controlo de qualidade ao longo da cadeia alimentar

Dispositivos e Redes para Sistemas de Logística

MEGI

Hugo Dias Morais nº 36666

2

Resumo

Pretende-se com este trabalho identificar as aplicações e impactes de novas tecnologias nos processos de

identificação e controlo de qualidade da indústria agro-alimentar. A primeira tecnologia identificada é a dos

sensores sem fios, que permite monitorizar e registar valores de parâmetros físicos de uma forma automática.

Outra é a tecnologia RFID, que possibilita rastrear automaticamente qualquer produto ao longo da cadeia

alimentar. Finalmente, temos o smart packaging onde a própria embalagem tem funcionalidades adicionais

como indicar por exemplo o nível de frescura do produto. Também no futuro irão aparecer novas

possibilidades de aplicações tecnológicas na indústria agro-alimentar como tags RFID com sensores

integrados, equipamentos para automatizar inspecções e ensaios, e finalmente as chamadas biotecnologias.

3

Índice Resumo...................................................................................................................................................................2 Índice ......................................................................................................................................................................3 1 Introdução ......................................................................................................................................................4 2 Identificação e controlo de qualidade na indústria alimentar.........................................................................4

2.1 Caracterização da indústria alimentar...................................................................................................4 2.2 Ferramentas usadas para rastreabilidade e controlo da qualidade......................................................5

3 Novas tecnologias ao serviço da indústria agro-alimentar ......................................................................... 11 3.1 Sensores sem fios.............................................................................................................................. 11 3.2 Tecnologia RFID ................................................................................................................................ 12 3.3 Smart packaging ................................................................................................................................ 14

4 O futuro das aplicações de novas tecnologias na indústria agro-alimentar ............................................... 15 4.1 Integração RFID com microsensores................................................................................................. 15 4.2 Equipamentos para testes ensaios automatizados ........................................................................... 18 4.3 Análises ADN ..................................................................................................................................... 19

5 Conclusões ................................................................................................................................................. 19 6 Referências bibliográficas........................................................................................................................... 19

4

1 Introdução

Este trabalho desenvolvido no âmbito da cadeira de Dispositivos e Redes para Sistemas de Logística propõe-

se apresentar as alterações e consequentes melhoramentos nos processos de identificação e controlo de

qualidade da indústria agro-alimentar, através de novas tecnologias na área da electrónica, comunicações e

tecnologias de informação.

Numa primeira fase, são apresentados os processos tradicionais de identificação e controlo da qualidade

nesta indústria assim como os requisitos legais e regulamentares aplicáveis.

Numa segunda fase, são identificadas as novas tecnologias recentemente introduzidas nos processos de

identificação e controlo da qualidade da indústria agro-alimentar, assim como o impacte resultante nesta

mesma indústria.

Finalmente, são apresentadas tecnologias que possam também vir a serem utilizadas no mesmo âmbito, num

futuro não tão longínquo quanto pensamos.

2 Identificação e controlo de qualidade na indústria alimentar

A qualidade e a segurança têm sido dois aspectos cada vez mais valorizados pela indústria agro-alimentar.

Assim sendo, tem-se assistido a uma evolução nos seus processos, para garantir a identificação e

rastreabilidade dos produtos alimentares assim como o controlo de qualidade.

2.1 Caracterização da indústria alimentar A indústria agro-alimentar, considerando toda a cadeia: produção animal / vegetal, transformação e

distribuição, é um sector determinante da economia europeia. É uma indústria que engloba um número

considerável de intervenientes e que emprega milhões de pessoas.

A tabela seguinte apresenta, com base em dados do Eurostat [1], os valores acrescidos dos vários sectores

desta indústria, na Europa dos 27 em Portugal.

Explorações agrícolas Sector da transformação

Distribuição, incluíndo

restaurantes,

catering,etc.

Europa dos 27

149.106

188.214

244.455

Portugal

2.460

2.481

3.876

Tabela 1 – Valor acrescido em M€ dos vários sectores da indústria alimentar em 2005

Até há bem pouco tempo, as preocupações europeias com esta indústria era garantir que ela pudesse propôr

e fornecer a todos os cidadãos um gama variada de produtos. A palavra de ordem era quantidade e variedade.

No entanto, devido a por um lado os avanços tecnológicos, e por outro, as preocupações de saúde (decorridas

5

de surtos como o da BSE - Mad Cow Disease), e ambientais, as preocupações têm sido orientadas para a

importância da segurança e qualidade alimentar. Para responder a estas preocupações, a indústria tem vindo

a implementar processos em toda a cadeia para permitir a rastreabilidade dos alimentos desde a produção até

chegar ao consumidor final e também no controlo da qualidade dos mesmos.

As alterações das políticas europeias têm reflectido esta mudança de paradigma para a segurança e

qualidade. As maiores mudanças têm sido ao nível da CAP (Política Agrícola Comum) e de aprovação de

directivas.

A CAP, que anteriormente apoiava através de subsídios a produção agrícola, foi alterada em 2003 para dar

mais ênfase ao controlo da segurança e qualidade alimentar assim como respeito pelo meio ambiente.

Por outro lado, a directiva europeia 178/2002 (General Food Law), com aplicação em Janeiro 2005, com

objectivo de proteger a saúde humana, estabeleceu a base para uma legislação europeia coerente na área

alimentar, definindo requisitos em termos de rastreabilidade, garantias de acesso público por parte do

consumidor final a informação científica imparcial e estabelecendo um sistema de alerta europeu.

Outra directiva,a 852/2004, também com o objectivo de garantir um elevado nível de protecção da vida e

saúde humana, estabeleceu requisitos em termos de higiene alimentar, desde a produção até ao consumidor

fina: registo dos operadores do sector alimentar, análise dos perigos e controlo dos pontos críticos com base

nos princípios HACCP, respeito dos critérios microbiológicos, de temperatura, recolha de amostras e análises,

controlo para evitar contaminações, requisitos de limpeza em todos os processos, manutenção de registos,

etc.

Também nos Estado Unidos está em implementação o chamado NAIS - National Animal Identification System

que tornará obrigatório no próximo dia 1 de janeiro 2009 o registo e identificação de qualquer animal para

abate. O registo será feito numa das várias bases de dados ligadas em rede a nível nacional, e a identificação

recomendada será uma tag RFID [2].

Este aumento de exigência também se verifica noutros países como a China, que provavelmente em

consequência dos acontecimentos recentes, anunciou no passado mês de maio a implementação de um

sistema de identificação electrónico, acessível para consulta ao consumidor final, para a sua indústria ago-

alimentar na província de Fujian [3].

Por outro lado, a introdução na cadeia alimentar de plantas e animais geneticamente alterados também obriga

a controlos mais apertados.

Finalmente, apareceu nos últimos anos um novo tipo de consumidor, preocupado com a composição dos

géneros alimentícios assim como os processos associados de produção e transformação.

Assim, para fazer face a estes requisitos de segurança e qualidade cada vez mais exigentes, a indústria

alimentar tem alterado seus processos, nomeadamente ao nível da identificação e do controlo da qualidade

dos alimentos.

2.2 Ferramentas usadas para rastreabilidade e controlo da qualidade A rastreabilidade dos produtos alimentares tem que ser garantida ao longo de toda a cadeia, desde a

produção, até chegar ao prato do consumidor final. Por outras palavras, deve ser possível identificar, para

cada produto alimentar, todos os passos seguidos no processo que o produziu e levou ao consumidor final. A

informação necessária para garantir esta rastreabilidade, distribuída ao longo de toda a cadeia, tem que

6

abranger, para cada nível dessa mesma cadeia, informação sobre os intervenientes, nome do produto em

processo, número de lote, datas, etc [4].

Figura 1 - Rastreabilidade em toda a cadeia alimentar [5]

As ferramentas usadas para rastreabilidade, em aplicação da directiva 178/2002, são diversas consoante os

países e consoante o tipo de alimento.

No sector da carne, é necessário um método fiável para identificar os animais, carcaças e cortes ao longo de

toda a cadeia. Deve haver uma identificação inequívoca que garanta uma ligação entre cada ponto de

processamento dessa mesma cadeia. Por exemplo, no caso da carne bovina, já existe o regulamento

1760/2000 que impõe um sistema de identificação e registo que tem que incluir várias informações:

identificação individual do bovino através de uma etiqueta de orelha e de um passaporte ou certificado de

saúde, e registo em base de dados computadorizada. Os dados que caracterizam o histórico do animal devem

ser incluídos no passaporte [6].

7

Figuras 2 e 3 – Etiqueta de orelha e passaporte

Em Portugal, o detentor de um bovino deve proceder à sua identificação com 2 marcas auriculares oficiais

aplicadas uma em cada orelha com o mesmo número de identificação, num prazo máximo de 20 dias a contar

da data de nascimento do bovino. Também deve ser feito o seu registo através do chamado passaporte, do

Registo de Existências e Deslocações (RED) mantido em cada exploração e em cada centro de agrupamento,

e deve se comunicado ao SNIRA (Sistema Nacional de Informação e Registo Animal) para registo em base de

dados nacional informatizada. Também deve ser comunicada qualquer alteração de algum dos elementos

constantes do registo à autoridade competente da área de jurisdição da exploração [7].

Após o abate e corte, cada peça de carne tem que ter associada a seguinte informação: número de referência

que assegura o vínculo entre a carne e o animal, número de aprovação do matadouro, números de aprovação

da sala de desmancha, país de nascença, país(es) de engorda, país de abate, país(es) de corte. Esta

informação pode vir impressa numa folha (o chamado boletim de rastreabilidade) ou associada a uma etiqueta

com por exemplo um típico código de barras correspondente a um GTIN (Global Trade Item Number), com um

código EAN-13: 7 dígitos para a Empresa, 5 como referência do produto, e o último para controlo (a GS1

também propõe o UCC/EAN-18 que pode conter mais informação como data de abate, número da etiqueta da

orelha ou número de aprovação do matadouro).

Este exemplo apresenta um processo típico que permite a rastreabilidade desde a produção até ao

consumidor final.

Nos outros sectores da indústria alimentar, os processos são semelhantes, fica associada ao género

alimentício uma documentação que o identifica inequivocamente ou então, se este já estiver transformado e

embalado para consumo final, terá na embalagem um código de barras EAN-13 com referência do fabricante e

do produto. É claro que estes processos são deficientes em muitos países europeus, como o nosso, em que

muitas vezes o único documento que permite alguma rastreabilidade é a factura. No entanto, é de relembrar

que esta obrigatoriedade de rastreabilidade é muito recente e ainda vai demorar algum tempo até ser aplicada

por todos os operadores da indústria alimentar, incluíndo as explorações agrícolas, muitas delas familiares.

8

Figuras 4,5 e 6 – Produtos frescos embalados e com código de barras

A GS1 propõe lançar em 2010 o novo código, o GS1 Databar (RSS – Reduced Space Symbology) para a área

dos produtos frescos. Este código irá conter a mesma informação mas num menor espaço, que permitirá por

um lado associar um código a um produto tão simples como uma simples laranja ou então fornecer mais

informação, como por exemplo preço, peso, data de validade, país de origem, número de lote, número de

série, etc. O objectivo será uniformizar todo os sistemas de identificação neste sector da indústria [8].

Figuras 7 e 8 – Produtos alimentares com o GS1 Databar (RSS) [8]

De notar que este novo código já está a ser implementado pelo gigante da distribuição Wal-Mart.

Figuras 9 – Maçãs da Wal-Mart com o GS1 Databar (RSS) [8]

No caso de produtos diferenciados, como por exemplo produtos de regiões demarcadas ou com uma

qualidade superior à habitualmente disponível no mercado, a rastreabilidade, por ter uma importância

acrescida, já está assegurada há mais tempo e com uma eficiência também superior.

9

Um bom exemplo é a carne mirandesa, produzida no nordeste transmontano, a 500 m de altitude, numa região

abrangida por 6 concelhos: Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Vinhais, Bragança e Macedo de

Cavaleiros. A Raça Mirandesa possui características genéticas próprias e com um sistema de alimentação

natural, o que dá à carne uma qualidades única.

Figura 10 – Raça Mirandesa

Os animais que fornecem a carne mirandesa tem que ser obrigatoriamente de raça mirandesa, e

consequentemente têm que estar inscritos no Livro Genealógico da Raça. Também têm sido

progressivamente identificados através de marcadores genéticos.

O processo de identificação dos vitelos nascidos nas explorações aderentes segue os seguintes passos: são

postas duas etiquetas, uma em cada orelha, também é emitido um passaporte, o vitelo é inscrito no Livro de

Nascimentos dos bovinos de Raça Mirandesa (no prazo máximo de 20 dias), passando a ser registados todos

os movimentos do animal em base de dados.

Figura 11 – Fixação de etiqueta no vitelo

Cada vez que um animal já adulto é inscrito no livro genealógico para adultos, o chamado Secretário Técnico

do Livro Genealógico recolhe uma amostra de tecido do animal que é posteriormente enviado para um

laboratório certificado pelo International Society for Animal Genetics (ISAG) utilizando-se na identificação os

marcadores preconizados pelo International Committee for Animal Recording (ICAR).

10

Figura 12 – marcador 982008 ad Allflex aprovado pelo ICAR

Todas as explorações são controladas por um sistema gerido por técnicos da Associação e pela Organização

Privada de Controlo e Certificação (OPC).

Os movimentos e as mudanças de proprietário são registadas e comunicadas ao Livro Genealógico e ao

SNIRA. De resto, toda a informação relativa aos animais desde o nascimento até aos locais de venda dos

produtos é registada e gerida por bases de dados de quatro entidades: Ministério da Agricultura (Sistema

Nacional de Informação e Registo Animal – SNIRA), OPC , Associação dos Criadores de Bovinos de Raça

Mirandesa (Bovigeste) e a Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa.

Figura 13 - Identificação da carcaça Figura 14 - ecrã da Bovigeste – a base de dados

genéticos da Raça Mirandesa

Todos estes procedimentos garantem a filiação de cada animal assim como a rastreabilidade dos produtos

finais [9].

Figura 15 – Rótulo da DOP carne mirandesa com identificação que permite saber qual o animal

originante do produto

11

Outro vector determinante para garantir e melhorar continuamente os níveis de qualidade cada vez

mais exigentes da indústria agro-alimentar é o chamado controlo de qualidade, que significa controlar todos os

factores que influenciam positivamente ou negativamente a qualidade do produto alimentar, i.e, o seu gosto,

cor, textura e valor nutritivo assim como ausência de substâncias ou micro-organismos nocivos.

Este controlo é realizado na recepção de géneros alimentícios, durante o processo de transformação /

armazenagem / transporte e na inspecção final. Pela directiva 852/2004, este controlo de qualidade assenta

essencialmente na análise dos perigos e controlo dos pontos críticos com base nos princípios HACCP. Este

controlo impõe a monitorização durante o processamento de parâmetros físicos como por exemplo a

temperatura ou pH. A eficácia deste controlo é verificada continuamente através de inspecções visuais assim

como ensaios físicos, químicos ou microbiológicos feitos sobre amostras.

Assim a indústria alimentar utiliza para além do simples inspecção visual feita por um técnico, variadíssimos

equipamentos para monitorização de parâmetros físicos como por exemplo dataloggers de temperatura ou

medidores de pH. Os ensaios são habitualmente realizados em laboratórios acreditados com equipamentos

sofisticados

Datalogger de temperatura HI-148

da Hanna Instruments

Medidor de pH EW-

35634-30 da

Oakton

FoodScan™ Dairy Analyser da Foss que analisa quantidades

de proteinas e gorduras de uma alimento

Figuras 16, 17 e 18 – Exemplos de equipamentos usados para controlo de qualidade ao longo da cadeia alimentar

3 Novas tecnologias ao serviço da indústria agro-alimentar

Para poder fazer face às novas exigências do consumidor final em termos de qualidade e segurança alimentar,

a indústria agro-alimentar tem aplicada ao longo dos últimos anos várias novas tecnologias, sendo

actualmente as mais relevantes as tecnologias dos sensores sem fios, do RFID e o smart packaging.

3.1 Sensores sem fios Até há bem pouco tempo, a monitorização de parâmetros físicos ao longo da cadeia era essencialmente

manual, i.e, era realizada por técnicos de qualidade. Assim, esta monitorização constante implicava alocação

de recursos humanos para estas tarefas, tornando assim o controlo de qualidade dispendioso.

Com a revolução das comunicações sem fios, já é possível a monitorização e registo de parâmetros físicos

como a temperatura ou a humidade relativa ser feita automaticamente com sensores espalhados em pontos

12

críticos que enviam periodicamente os valores obtidos para um computador central através de um protocolo de

comunicação de baixo alcance, como o zigbee. Esta automatização permite reduzir custos e tornar viável um

controlo contínuo dos parâmetros físicos, gerido por um computador central.

Figura 19 – Datalogger de temperatura sem fios RTR-51 da Oregon

3.2 Tecnologia RFID A tecnologia passiva RFID com codificação EPC aparece cada vez mais como solução alternativa à

identificação com código de barras, para garantir a rastreabilidade ao longo de toda a cadeia alimentar, em

todo o tipo de meios ambientes.

A integração dos sistemas de informação ao longo da cadeia produção – transformação – distribuição já

permite tornar os processos mais eficientes, reduzindo custos, nomeadamente os de inventário. No entanto, o

registo e rastreamento dos produtos ao longo da cadeia ainda tem que ser feito manualmente. Com a

tecnologia RFID, usando uma codificação EPC (estabelecida pela EPC Global) para identificar cada produto, é

possível automatizar estas operações, tornando o inventário e rastreamento também automáticos ao longo de

toda a cadeia. As principais vantagens são a redução de custos de pessoal, inventário, roubos, fraudes assim

como de rupturas de stock. Também se pode pensar num futuro próximo em que o consumidor já não terá que

passar por uma caixa de pagamento mas sim por um leitor RFID que irá identificar todos os produtos contidos

no seu carrinho de compras numa questão de segundos [10] .

Figura 20 – tag RFID

Com a integração dos sistemas de informação ao longo da cadeia, os retalhistas obrigam cada vez mais os

seus fornecedores a adoptarem a tecnologia RFID, estabelecendo um número EPC inequívoco para cada item

presente na cadeia. Os gigantes Wal-Mart, Tesco,Metro e Marks&Spencer são exemplos de retalhistas que

estão a integrar as suas cadeias de fornecimento usando essa tecnologia, com a a ajuda de fabricantes com a

Nestlé, Gillette ou Proctel&Gamble.

13

No Estados Unidos o já referido NAIS em fase de implementação também vai levar muitos produtores a

aplicarem tags RFID nos animais para abate, que terão uma codificação de 15 dígitos (3 para o país de

origem, 3 para o produtor e os restantes para identificar o animal) [2].

No entanto, o país pioneiro da aplicação de tags RFID é de facto o canadá que já tem implementado um

sistema nacional de identificação dos animais para abate.

Figura 21 e 22 – bovinos com tags RFID

As tags funcionam a 134 kHz e estão codificadas com 21 dígitos seguindo a ISO 11784. Este código serve de

chave na base de dados nacional The Canadian Cattle Identification Database para poder obter toda a

informação relativa ao respectivo animal [11].

Figura 23 - The Canadian Cattle Identification Database [11]

Assim esta tecnologia está gradualmente a tornar-se a tecnologia de eleição para identificar e rastrear

qualquer produto da cadeia alimentar. No entanto, por causa do custo da tag, ainda está longe de poder ser

aplicada a produtos baratos. Uma solução alternativa será toda a cadeia usar palettes com tags RFID

integradas, que possam ser re-utilizadas. Foram conduzidos no ano passado projectos piloto de palettes com

tags RFID, um no Estados-Unidos através do consórcio The Reusable Pallet & Container Coalition (RPCC),

liderado pela Wal-Mart e, na Holanda, chamado Vers Schakel (cadeia fresca), para transportar legumes [12]. A

conclusão tirada é que as tags necessitam de uma solidez adicional para além da habitual para aguentar as

condições de transporte ao longo de toda a cadeia nos dois sentidos.

14

Figura 24 – palettes com tags RFID no âmbito do projecto Vers Schakel [12]

A tecnologia também apresenta problemas de interferências nas comunicações em meios ambientes com

muito metal (a frequência de 125kHz parece ser a mais adequada para estes meios), água (ou seja pessoas)

ou fontes de ruído electromagnéticos como por exemplo motores eléctricos. Um exemplo de produto onde a

aplicação de RFID se torna pouco viável é a típica lata de refrigerante, que por ser metálica dificulta em muito

a comunicação entre a tag e o leitor.

Outra limitação é o alcance da tag RFID, tipicamente inferior a 1 metro. Soluções que podem ultrapassar esta

grande limitação são tags de dimensão maiores (já experimentado por várias empresas como a DHL) ou a

funcionar em bandas de frequências mais elevadas para aumentar esse alcance, como a tag da francesa DAG

system que tem um alcance de 10 metros. Também já existem tags RFID baseadas na tecnologia SAW

(Surface Acoustic Wave) que podem ser lidas a distâncias maiores a mais imunes a reduções de sinal por

parte de líquidos ou metais.

Outros problemas, especialmente sentidos pela indústria agro-alimentar são:

- a inexistência no mercado de soluções “out of the box” que possam ser usadas simplesmente, sem nenhuma

configuração prévia;

- a já referida fraca robustez das tags tanto em termos mecânicos como na comunicação;

- a inexistência de um feedback sonoro após a leitura de uma tag;

- a necessidade de formação dos produtores para colocar correctamente as tags, que caso contrário podem

provocar infecções.

Em conclusão, a tecnologia RFID apesar dos vários problemas aqui referidos, entre os quais o custo, vai

permitir uma automatização nos processos de identificação, rastreamento e até nas transacções comerciais,

ao longo de toda a cadeia alimentar, e assim sendo vai certamente transformar a indústria agro-alimentar.

3.3 Smart packaging O conceito de smart packaging aplica-se às embalagens que têm uma ou várias funcionalidades adicionais à

de simplesmente acondicionar o produto alimentar. As funcionalidade podem ir desde a tag RFID para rastrear

o produto até indicadores de frescura do mesmo [13].

15

Figura 25 e 26 – exemplos de smart packaging Outro exemplo é a empresa Long Life Solutions (LLS) que tem trabalhado numa embalagem que garante a

frescura de frutos e legumes, “enganando-os” fazendo crer que ainda não foram colhidos [14].

Finalmente, não será de estranhar daqui a algum tempo existirem embalagens que quando tocadas pelo

consumidor, lhe fazem um check-up instantâneo e lhe dizem que o produto tem muito açúcar e não é

adequado porque ele tem diabetes, ou que por ter ferro, o produto pode ser bom ao consumidor porque tem

falta dele.

4 O futuro das aplicações de novas tecnologias na indústria agro-alimentar

A indústria agro-alimentar vai evoluir nos próximos tempos, no sentido de uma automatização e de um controlo

cada vez maiores, usando para isso novas tecnologias, cada vez mais evoluídas a acessíveis.

4.1 Integração RFID com microsensores Como já foi referido, o controlo de qualidade exige a monitorização de vários parâmetro físicos, como a

temperatura, a humidade relativa ou o pH, o que obriga à utilização de sensores. Ora estes têm evoluido no

sentido da miniaturização e consequentemente de precisarem de menos energia.

16

Heat Flux and Temperature Micro-

sensor (VatellCorporation)

Laser Cut Magneto-elastic Sensor

Array for measuring ph values

(Smallest Sized array is 28 µm x

250µm x 3.5 mm (Ruanet al., 2003)

Integrated Cantilever Chemical Microsensor (Hierlemann

Baltes, 2002)

Figuras 27, 28 e 29 – exemplos de microsensores [15]

Esta miniaturização já torna possível a integração de sensores com tags RFID. Já existem algumas soluções

comerciais, como as apresentadas na tabela seguinte.

Tabela 2 – Soluções comerciais RFID com sensores integrados [15]

17

Tag RFID com sensor de temperatura da Gentag,

Inc.

Tag RFID com sensor de temperatura da Evidencia

LLP

Figuras 30 e 31 – exemplos de tags RFID com sensores integrados

Alguns fabricantes aparecem com tags ditos integrados com sensores de temperatura mas que não passam

de simples dataloggers, como é o caso do Easy2log tag da Caen RFID (o próprio preço:32€ demonstra que

não se trata de uma tag).

Figura 32 - Easy2log RFID tag com sensor de temperatura

Também existem vários projectos de investigação nesta área da integração de tags RFID com sensores,

nomeadamente para desenvolver tags flexíveis.

Figura 33 - Tag flexível com sensores [15]

18

Um projecto actualmente a decorrer a nível europeu, o chamado GoodFood Project que tem por objectivo

desenvolver uma tag com múltiplos sensores e comunicação RFID. O primeiro protótipo consistiu num

microcontrolador de baixo consumo para controlar os sensores e a comunicação, alguns componentes

passivos, o analog front-end baseado em lógica programável CPLD, e uma bateria em formato de filme. Os

sensores seriam soluções comerciais para a luz, temperatura ou humidade e do tipo MOX para indicação de

presença de gases.

Figura 34 – Protótipo desenvolvido no âmbito do projecto GoodFood [16]

O passo seguinte deste projecto seria integrar todas as funções num simples ASIC:

sensores+controlo+comunicação [16] [17].

4.2 Equipamentos para testes ensaios automatizados Existem cada vez mais soluções que permitem automatizar os testes e ensaios para garantir a qualidade dos

produtos alimentares.

Por exemplo, já estão em investigação sistemas de visão, como o apresentado na figura seguinte, que

permitirão num futuro próximo fazer a chamada “inspecção visual” de uma forma automática, reduzindo a taxa

de erros e tornando o processo menos dispendioso e mais eficiente.

Figuras 35, 36 e 37 – fotografias e apresentação dos componentes do sistema de visão VisionQ-Lab da

VisionQ Ltda. [18]

Quanto aos ensaios físicos, químicos e micro-biológicos, estes são habitualmente realizados seguindo um

procedimento moroso e complexo sobre algumas amostras. Ora estão a aparecer cada vez mais na indústria

19

equipamentos que permitem ensaiar os alimentos de uma forma simples e automatizada. Assim já será

possível num futuro próximo, em vez de serem esporádicos e morosos, os ensaios fazerem parte do processo

de teste/inspecção e serem feitos sobre todos os produtos.

Figura 38 – Modelo Tempo que indica presença de determinados micro-organismos- bioMérieux, Inc.

4.3 Análises ADN Também já estão em implementação métodos de rastreabilidade com base em comparação do ADNs, com o

patenteado pela Biopsytec: antes do abate, uma amostra de tecido é retirada do animal, ao qual é posto uma

etiqueta de orelha, garantindo uma ligação inequívoca entre a amostra e o animal. Posteriormente pode ser

retirada uma amostra de qualquer peça do carne supostamente proveniente desse mesmo animal e

comparada com a amostra original deste para comprovar a origem. Também na biotecnologia, existem

desenvolvimentos na área dos biosensores que possam detectar doenças nos animais ou alterações na

qualidade de um produto. Estes biosensores terão certamente um grande impacte, mas a mais longo prazo, no

controlo da qualidade na indústria agro-alimentar.

5 Conclusões

A identificação e o controlo de qualidade estão a ser continuamente aperfeiçoados através da aplicações de

novas tecnologias como os sensores sem fios, o RFID e o smart packaging. Vamos assistir no futuro à

miniaturização e integração de sensores com identificadores assim como a automatização de testes e ensaios.

Também a biotecnologia está a começar a ter aplicabilidade na indústria agro-alimentar, com as análises ADN

e futuramente os biosensores. Assim a indústria agro-alimentar está a transformar e melhorar os seus

processos, através das novas tecnologias, respondendo às exigências cada vez elevadas dos consumidores

para os produtos alimentares serem seguros e de elevada qualidade.

6 Referências bibliográficas

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[2]: Electronic Identification and National Animal Identification System Updates - John Evans and Victor Velez -

California Department of Food and Agriculture, Sacramento, CA

20

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[14]: Saving the planet: it's in the bag PACKAGING: FOOD - Sunday Herald, The, Feb 11, 2007 by Antony

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