identidade

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Prof. Luciane Lira

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Page 1: Identidade

Prof. Luciane Lira

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A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza

(Mercer, 1990 apud Hall, 2006:9)

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O conceito de identidade é complexo,

multifacetado e, por isso, pode ser pensado a partir de vários ângulos e tem sido objeto de reflexões em vários campos de estudos, como, por

exemplo, na Antropologia, na Psicologia Social, na Sociologia, na Filosofia,

na Psicanálise, etc.

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IDENTIDADEAs identidades não são

qualidadesinerentes às pessoas,

mas construídas por meio das práticas

discursivas específicas

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A noção do “outro”, na interação das práticas discursivas é determinante para a construção do “eu”. Desse modo, o princípio de alteridade torna-se relevante para a constituição do processo identitário, uma vez que, a consciência do “eu” e o do “outro” são percepções complementares, conforme já sinalizava Bakhtin, “a palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros”

(Bakhtin, 1986: 113).

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Sujeito Discursivo:

Constituído na interação discursiva, não é o centro do seu dizer, em sua voz, um

conjunto de outras vozes, heterogêneas, se manifestam. O sujeito é polifônico e é constituído por uma heterogeneidade de

discursos.

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O sujeito do Iluminismo

era pensado como totalmente centrado, unificado, dotado de razão, consciência e

ação; seu centro essencial era a

identidade de uma pessoa e, por isso,

trata-se de uma concepção individualista

e essencialmente masculina de sujeito;

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o sujeito da Modernidade: a partir do século XIX, desenvolve-se uma concepção interativa da identidade e do eu, baseada na complexidade do mundo moderno.

A partir de então, o núcleo interior do sujeito não é autônomo e auto-suficiente, mas formado na relação com outras pessoas, que realizam a mediação dos valores, sentidos e símbolos (a cultura) do mundo em que ele habita. O sujeito ainda tem um centro interior, mas este se modifica no diálogo contínuo com os mundos culturais exteriores.

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o sujeito da Pós-modernidade:

a partir da segunda metade do século XX, o sujeito passa a ser pensado como fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias e não resolvidas.

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As identidades estão em colapso devido a mudanças estruturais e institucionais: o próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático

Não há uma identidade fixa, essencial ou permanente, pois ela é uma celebração móvel, que se transforma continuamente em relação com as formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. Ela é histórica e não biológica, nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. A sensação de unidade é dada por uma "narrativa do eu", uma ilusão. (HALL, 2002, p. 12)

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A pós-Modernidade a que se refere Hall, mencionada por alguns autores por Modernidade Tardia, Alta Modernidade ou Contemporaneidade, corresponde, segundo Anthony Giddens (2002:221), à “presente fase de desenvolvimento das instituições modernas, marcada pela radicalização

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A modernidade, para Giddens, introduziu um dinamismo elementar na vida humana, que veio associado a mudanças nos processos de confiança e nos ambientes de risco que geraram, por sua vez, uma época marcada pela alta ansiedade.

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“O ‘mundo’ em que agora vivemos, assim, é em certos aspectos profundos muito

diferente daquele habitado pelos homens em períodos anteriores da história. É de

muitas maneiras um mundo único, com um quadro de experiência unitário (por

exemplo, em relação aos eixos básicos de tempo e espaço), mas ao mesmo tempo um

mundo que cria novas formas de fragmentação e dispersão.”

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Wilmar do Valle Barbosa sobre os Tempos Pós-Modernos (1985:8 in Lyotard, 2003) considera que “o cenário pós-moderno é essencialmente cibernético-informático e informacional”. O novo cenário é marcado pela heterogeneidade e desfragmentação, em espaços múltiplos, fundidos, disjuntos e combinados, além do enfoque no marginal, cotidiano, desenhado em uma democratização desfragmentada.

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O desenho da grande moldura pós-moderna, segundo o autor, é focado na relação

estabelecida entre o homem e as diferenças e/ou variadas comunidades interpretativas,

o homem e sua relação com os determinismos locais (Gomes, 2007).

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Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa.

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Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos. (...)Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo.(Divã- Martha Medeiros)

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A identidade é um efeito de pertencimento que

tem em sua raiz o paradoxo da

instabilidade: os lugares contemporâneos são permanentemente deslocados pelas

máquinas de informação e, por isso, é impossível fixar-se rigidamente em um território identitário

único.

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Estamos, o tempo todo, submetidos a movimentos de interpretação / reinterpretação que constituem discursivamente as identidades, como diante desta imagem, publicada na primeira página da Folha de S. Paulo. A matriz da imagem materna é o símbolo cristão da Pietá, mas ela foi transfigurada na mãe mulçumana. Nessa transfiguração cruzam-se sentidos imemoriais da maternidade, da religiosidade e da etnia produzindo entre-lugares em que as identidades não podem se acomodar. Elas lutam, no interior dos discursos.

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A Pietá mulçumana da primeira página da Folha de S. Paulo atesta o deslocamento dos marcos divisórios e a composição de um quebra-cabeças imagético que erige a fluidez das identidades.

Além disso, a construção identitária é a montagem de um quebra-cabeças cujo desenho total não conhecemos e no qual faltam peças

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A repetição da matriz imagética cria continuidades e dispersões: nesta propaganda de camisas Arrow, vemos a ressonância da Pietá transferida para a identidade masculina.

Esse “novo pai”, construído a partir da antiga cenografia, repete gestos imemoriais da maternidade, re-instaurando e re-configurando a produção identitária.

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Em nossa época líquido-moderna, o mundo em nossa volta está repartido em fragmentos mal

coordenados, enquanto as nossas existências individuais são fatiadas

numa sucessão de episódios fragilmente conectados.[...]

Conseqüência da instabilidade: todos pertencemos a várias

comunidades e temos, por isso, várias identidades.

As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossas próprias escolhas, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em

nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas.

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‘Liquidez’, ‘fragmentação’ e ‘mescla’ são as palavras de ordem que permeiam esse ambiente pós-moderno que, conforme assinala Bauman (2007), é paradoxalmente marcado pela necessidade de individualidade. Tarefa que por sua vez, é autocontraditória e autofrustante, sendo impossível de realizá-la. Viajando pelas redes da cibernética, a identidade aumenta a atração pelo hibridismo, tornando-se heterogênea, efêmera, volátil, incoerente e eminentemente mutável.

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Por essa razão, o autor constata, que a identidade revela “perigos potencialmente mortais” tanto paraindividualidade quanto para a coletividade. O caminho que leva à identidade torna-se uma“batalha em curso e uma luta interminável entre o desejo de liberdade e a necessidade desegurança”